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Tomate para Mesa 1

Irrigação localizada
proporciona aumento de produtividade
O produtor Ivao Okubo possui 400 hectares plantados com
tomate em sua propriedade, no município de Araguari, no Vale do
Paranaíba (MG). Okubo, que trabalha com tomate desde 1960, prevê para
o ano de 2003 o plantio de 4 milhões de pés de tomate em
sua propriedade, relatando uma diminuição de 30% em relação ao
ano passado. Segundo o produtor, esta redução se deve à dificuldade de
mão-de-obra e ao ataque da mosca-branca, uma praga que vem onerando
os custos de produção de tomate em toda a região.

IA - Qual a área plantada com tomate para jamento em minha propriedade, há


mesa em sua propriedade e a produ- cerca de 5 anos, ainda não havia um
tividade alcançada? estudo muito aprofundado sobre esse
Ivao Okubo - Para o ano de 2003 está sistema para a cultura do tomate.
previsto o plantio de 4 milhões de pés de
tomate em 400 hectares de área. A produ- IA - Quais as vantagens e desvanta-
tividade varia de acordo com a época de gens na utilização desse siste-
plantio: no período chuvoso a queda de ma de irrigação? senhor obteve algum tipo de apoio ou
produção chega a ser de até 50%, sendo Ivao Okubo - A grande vantagem está orientação (associações, sindicatos,
que no ano passado a média foi de 320 na economia de água que pode chegar a instituições públicas ou privadas)?
caixas de 25 quilos em cada mil pés de to- 70% em relação ao método convencional. Ivao Okubo - Nunca obtive qualquer
mate. A desvantagem está no alto custo para a apoio.
implantação de um projeto como esse.
IA - O que levou o senhor a utilizar a irri- IA - Que ganhos o senhor obteve com a uti-
gação localizada em sua lavoura de IA - A manutenção desse sistema de irri- lização da irrigação localizada? Hou-
tomate? gação exige maiores cuidados, como ve redução de custos?
Ivao Okubo - O sistema de irrigação disponibilidade de insumos, aparato Ivao Okubo - O maior ganho está no
por gotejamento foi implantado na lavoura tecnológico, monitoramento e mão-de- aumento da produtividade. Mas não há
de tomate na área total, devido ao consu- obra adequados? redução de custos nesse sistema, pois é
mo excessivo de água no sistema tradi- Ivao Okubo - Para a manutenção des- muito importante fazer a fertirrigação e o
cional. se sistema de irrigação é necessário ter insumo utilizado para esse fim é todo im-
alguns cuidados, como fazer uma limpe- portado. Portanto, muito caro. Com isso, o
IA - Quais foram as dificuldades encon- za a cada quinze dias, abrindo o final dos ganho com a produtividade acaba sendo
tradas na implantação do sistema de tubos gotejadores. No caso de utilização de anulado com o aumento de custos gerado
irrigação? fertirrigação devem-se usar somente fer- pelo insumo.
Ivao Okubo - No início, a dificuldade tilizantes especiais, muito solúveis, para
maior foi acertar a quantidade de água a não ter o problema de entupimento dos IA - Qual a importância da água como
ser utilizada na irrigação. Era preciso ava- gotejadores. insumo na produção de tomate para
liar quantos litros de água seriam necessá- mesa?
rios por planta ou em que o espaço de tem- IA - Considerando a preocupação com a Ivao Okubo - A água é de suma impor-
po precisaria fazer a irrigação para manter preservação dos recursos naturais, tância para o tomate, pois são necessários
a umidade correta do solo. Quando foi im- para a implantação desse projeto que de 3 a 5 litros por dia em cada planta para
plantado o sistema de irrigação por gote- racionaliza a utilização da água, o um bom desenvolvimento.
Por Vânia Lacerda
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.1-3, 2003
2 Tomate para Mesa

Irrigação do tomate garante economia


através do uso racional da água
O engenheiro agrônomo

João Batista Neves Primo é formado pela

Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com

mestrado em Cafeicultura pela Universidade

Federal de Lavras (Ufla). Possui cursos de

especialização em Irrigação Localizada em Israel,

Kibbutz de Hazzerig (1998), e especialização

em Irrigação Localizada e Subterrânea,

na Austrália.

IA - Qual a importância da água como faz o controle correto desta água. Há atual- balhe com esses equipamentos, o correto
insumo na produção de tomate para mente métodos que são mundialmente será colocar água na cultura de acordo com
mesa? comprovados, como o uso de tensiômetros o estádio de desenvolvimento em que se

João Batista - Basicamente a água é para saber como está a umidade em di- encontra a planta. A necessidade de água
o insumo de maior importância para uma versos perfis de solo, isto é, quando de- para a cultura do tomate é uma lâmina
alta produtividade, quem não fizer inves- vemos colocar água, e também o uso de diária de 5 mm, cerca de 150 mm mensal,
timentos nesta área certamente estará fo- tanques classe A para saber quanto de água isto para a cultura em estádio adulto. No
ra do mercado rapidamente. Entretanto, está sendo evaporado no meio ambiente, início, quando ele é plantado, a necessidade
é necessário manter o controle da água ou seja, a quantidade de água que deve ser de água é bem menor, por isso a aplicação
através da irrigação, para obter um produ- aplicada no solo. Estes processos são sim- deverá ser menos da metade da lâmina de
to diferenciado com alto valor de merca- ples, porém poucos produtores os adotam, água indicada. À medida que o tomateiro
do. por acharem complicados, mas o custo/ começa a desenvolver, vai-se aumentando
benefício é muito bom, ocasiona economia o volume de água, de acordo com o cresci-
IA - Quais as soluções para equacionar os tanto de água quanto de energia elétrica mento da planta.
problemas relacionados com o eleva- ou de combustão.
do consumo de água na cultura do to- IA - Quais são as vantagens e desvanta-

mate? IA - Estes dois mecanismos garantem o gens na utilização da irrigação loca-

uso racional da água na lavoura de lizada?


João Batista - A cultura do tomateiro
é muito exigente de água, pois o seu pro- tomate? João Batista - A irrigação localizada é
duto, o tomate, é composto basicamente João Batista - O tensiômetro e o tan- sem dúvida uma ferramenta que o produ-
de mais de 90% de água, tornando-se mui- que classe A seriam os principais meca- tor deverá ter como um diferencial para se
to difícil utilizar pouca água nesta cultu- nismos para o uso racional de água na cul- obter alta produtividade. Mas esta ferra-
ra. Acontece que o produtor de tomate não tura do tomate. Caso o produtor não tra- menta tem uma grande desvantagem que

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Tomate para Mesa 3

é o custo inicial da aquisição do material. mo é feita toda a adubação juntamen- minha opinião, necessitam de maior valo-
Atualmente, o custo para aquisição desse te e direto na água, o custo com a rização.
material para um hectare de tomate gira adubação praticamente desaparece.
em torno de R$ 10 mil. Entretanto, este Como a água é aplicada diretamente IA - Quais as perspectivas de crescimento
equipamento poderá ser usado em mais no tomateiro, não criamos um micro- das lavouras de tomate dentro do sis-
de um plantio, pois, dependendo do ma- clima para o surgimento de micror- tema de irrigação localizada?
nuseio, a durabilidade será de mais de ganismos como fungos e bactérias
João Batista - O crescimento é enorme
cinco anos. prejudiciais à cultura. Sendo assim,
e, por isso, o plantio de tomate deve ser feito
o uso de defensivos agrícolas será
As vantagens são tantas que enfatizo através deste sistema. O produtor que não
muito menor, baixando também o
apenas as mais importantes: trabalhar dessa forma correrá vários riscos
custo geral da produção do tomate.
desnecessários que, hoje, dentro da agricul-
. alta produtividade - como se aplica água
tura empresarial, não são mais permitidos.
no momento certo e na hora certa, a IA - Quais as principais dificuldades en-

planta não sofre estresse hídrico (fal- frentadas no mercado de irrigação? IA - Qual o custo para a implantação de
ta d’água), com isso o desenvolvimen- João Batista - A principal dificuldade um projeto de irrigação por goteja-
to dela é maior. Também com o uso no mercado de irrigação é a falta de finan- mento?

Como a água é aplicada diretamente no tomateiro,


não criamos um microclima para o surgimento de microrganismos
como fungos e bactérias prejudiciais à cultura.

de fertilizantes diretamente na raiz ciamentos governamentais para pequenos João Batista - O custo varia muito de
(fertirrigação), a absorção é maior e médios produtores a juros baixos. A maio- área para área, vai depender de alguns
sem ocorrer desperdício. Com uma ria dos produtores de tomate encontra-se dados do projeto como desnível, distân-
aplicação uniforme você consegue descapitalizada e faz seus compromissos cia, espaçamento de plantio, entre outros.
ter um estande homogêneo, sem fa- com base na sua produção. Tem 120 dias Basicamente 1,0 ha de tomate irrigado
lhas, e, no conjunto, ter plantas bem de prazo e paga, por isso, juros altíssimos e por gotejamento gira em torno de US$
nutridas e produtividade certa. abusivos. 3.200,00.

. economia - como a irrigação locali-


zada não molha locais que não têm IA - Como sistema racional do uso da água IA - Esta tecnologia é aplicável a todos os

necessidade, aplica-se água apenas na agricultura, a irrigação localizada tipos de solo e terrenos?

na planta do tomateiro, isso gera recebe algum tipo de apoio através de João Batista - Sim, é aplicável em to-
uma economia de água muito gran- financiamentos ou da pesquisa? dos os tipos de solo e terrenos. O certo é
de. Conseqüentemente, a necessi- João Batista - Sim, mas muito pouco. sempre fazer o projeto de irrigação com o
dade de potência para se levar esta A cultura do tomate é normalmente pra- planialtimétrico, projetando primeiro no
água também será bem menor, com ticada por pequenos produtores e estes papel para depois fazer a implantação de
isto uma área grande é irrigada com necessitam de mais apoio, pois eles empre- maneira correta. Esta tecnologia tem um
baixa potência. Outro fator de eco- gam muitas pessoas, criam um comércio certo custo, mas é garantia de produtivi-
nomia é com a mão-de-obra, pois co- ativo nos centros de vendas (Ceasa), e, na dade.
Por Vânia Lacerda
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.1-3, 2003
Tomate para Mesa 5

ISSN 0100-3364
INPI: 1231/0650500

COMISSÃO EDITORIAL
Baldonedo Arthur Napoleão
Luis Carlos Gomes Guerra
Carlos Alberto Naves Carneiro
Artur Fernandes Gonçalves Filho
Tomate para mesa
Sanzio Mollica Vidigal
Marlene A. Ribeiro Gomide
Edson Marques da Silva
requer qualidade
EDITOR
Vania Lacerda
A cultura do tomate, no ano de 2001, ocupou mundialmente
COORDENAÇÃO TÉCNICA
Maria Helena Tabim Mascarenhas uma área superior a 3,7 milhões de hectares. Do total de mais de 100

AUTORIA DOS ARTIGOS milhões de toneladas de tomate produzido no mundo, estima-se que
Ailton Reis, Andréia Cristina Silva, Antônio Carlos de Ávila, Antonio
Roger Mazzei, Bolivar Morroni de Paiva, Carlos Alberto Lopes, Celso 72,5% correspondam a tomate para mesa. O comércio internacional
Luiz Moretti, Derly José Henriques da Silva, Fabiano Ricardo Brunele
Caliman, Fernando Antonio Souza de Aragão, Francisco Affonso Ferreira, deste produto movimentou, em 2000, cerca de US$3 bilhões.
Francisco Lopes Cançado Júnior, Hermínia Emília Prieto Martinez,
Humberto Sebastião Alves, Jacimar Luis de Souza, Júlio César de Souza, A produtividade brasileira em 2001, acima de 54 mil toneladas
Leonardo de Britto Giordano, Leonardo Silva Boiteux, Lino Roberto
Ferreira, Maria Aparecida Nogueira Sediyama, Maria Letícia Líbero por hectare, só ficou abaixo da apresentada pelos Estados Unidos e
Estanislau, Nozomu Makishima, Osmar Alves Carrijo, Paulo Cezar Rezende
Fontes, Paulo Rebelles Reis, Paulo Roberto Gomes Pereira, Tadeu Graciolli pela Espanha. No plano nacional, Minas Gerais tornou-se o segundo
Guimarães e Waldemar Pires de Camargo Filho
maior produtor de tomate para mesa no ano de 2001, sendo que esta
REVISÃO LINGÜÍSTICA E GRÁFICA
Rosely A. Ribeiro Battista Pereira cultura encontra-se presente em todo o Estado.
Cibele Pereira da Silva (auxiliar)
Fonte de nutrientes, emprego e renda, a cultura do tomate
NORMALIZAÇÃO
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira tem participação expressiva no agronegócio brasileiro e deve atender
PRODUÇÃO E ARTE
às exigências de qualidade do mercado. O consumo de produtos livres
Programação visual: Alexandre Maurício Santos
Diagramação/formatação: Rosangela Maria Mota Ennes de resíduos de agrotóxicos, especialmente o tomate, tão fartamente
e Maria Alice Vieira
utilizado no Brasil, é um anseio da população. Além disso, a competi-
Foto da capa: Erasmo Pereira
tividade do mercado globalizado também impõe a necessidade da
IMPRESSÃO
Multicromo Editora Ltda. qualidade, valorizando a padronização, a classificação, o processa-
Telefone: (31) 3222-8438

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mento e a embalagem dos produtos. Os diversos atores envolvidos na
Assessoria de Marketing
Ângelo Alberto (estagiário) produção e comercialização de tomates para mesa necessitam conhecer
Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova
Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 - Belo Horizonte-MG os diferentes fatores que possibilitam a inserção dos frutos no mercado
Telefax: (31) 3488-8468
consumidor com a melhor qualidade possível.
Copyright © - EPAMIG - 1977
É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios,
Dada a importância econômica, social e alimentar da toma-
sem autorização escrita do editor. Todos os direitos são
reservados à EPAMIG.
ticultura para mesa, tanto para o estado de Minas Gerais quanto para

o Brasil, a EPAMIG apresenta, nesta edição do Informe Agropecuário,


Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - .-
Belo Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
v.: il. informações e alternativas tecnológicas na busca de aumento da

Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatística. - produtividade, qualidade e competitividade do produto.


v.1, n.1 - (abr.1975).
ISSN 0100-3364

1. Agropecuária - Periódico. 2. Agricultura - Aspecto Baldonedo Arthur Napoleão


Econômico - Periódico. I. EPAMIG.
Presidente da EPAMIG
CDD 630.5

ASSINATURAS: Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC/EPAMIG)


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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.5, 2003


Nesta Edição
O tomate é um dos produtos hortícolas mais consumidos em todo o mundo, tanto
in natura, quanto industrializado. Sua ampla utilização deve-se, principalmente, às suas
qualidades organolépticas e ao alto teor de vitamina C.
Minas Gerais é o segundo maior produtor nacional de tomate, e embora a produtivi-
dade média mineira seja superior à nacional, existem alguns problemas que merecem
atenção especial como o uso excessivo de agrotóxicos, o grande consumo de água - recurso
finito -, a utilização inadequada da adubação mineral e o excesso de perdas pós-colheita.
Tais problemas são, atualmente, incompatíveis com a sustentabilidade do meio ambiente,
a conservação dos recursos hídricos, o controle e a competitividade do processo produtivo,
levando técnicos e produtores a buscar sistemas de produção de tomate para mesa que
sejam economicamente viáveis, mais produtivos, que assegurem a qualidade do produto e
que também proporcionem vantagens e benefícios ao meio ambiente.
Nesta edição são apresentados aspectos econômicos e ambientais, com abordagens sobre o aproveitamento de nicho
de mercado, através da produção orgânica de tomate para mesa, e o uso racional da água na cultura, por meio da irrigação
por gotejamento.
Maria Helena Tabim Mascarenhas

Sumário
Aspectos econômicos da produção e comercialização do tomate para mesa
Francisco Lopes Cançado Júnior, Waldemar Pires de Camargo Filho, Maria Letícia Líbero Estanislau, Bolivar Morroni de Paiva, Antonio
Roger Mazzei e Humberto Sebastião Alves ............................................................................................................................................... 7

Práticas culturais adequadas ao tomateiro


Maria Aparecida Nogueira Sediyama, Paulo Cezar Rezende Fontes e Derly José Henriques da Silva ...................................................... 19

Nutrição mineral do tomate para mesa


Paulo Cezar Rezende Fontes e Paulo Roberto Gomes Pereira .................................................................................................................... 27
Programa de adubação mineral do tomateiro para mesa, no solo e em hidroponia
Paulo Cezar Rezende Fontes e Hermínia Emília Prieto Martinez ............................................................................................................... 35

Melhoramento genético do tomateiro


Leonardo de Britto Giordano, Fernando Antonio Souza de Aragão e Leonardo Silva Boiteux .................................................................... 43

Manejo da irrigação na cultura do tomate para mesa com ênfase em fertirrigação e gotejamento
Tadeu Graciolli Guimarães e Paulo Cezar Rezende Fontes ....................................................................................................................... 58

Principais doenças do tomate para mesa causadas por fungos, bactérias e vírus
Carlos Alberto Lopes, Ailton Reis e Antônio Carlos de Ávila ...................................................................................................................... 66

Principais pragas do tomate para mesa: bioecologia, dano e controle


Júlio César de Souza e Paulo Rebelles Reis ............................................................................................................................................... 79

Manejo integrado de plantas daninhas


Andréia Cristina Silva, Lino Roberto Ferreira e Francisco Affonso Ferreira ................................................................................................ 93

Cultivo do tomateiro em casa de vegetação


Osmar Alves Carrijo e Nozomu Makishima .............................................................................................................................................. 98

Tomateiro para mesa em sistema orgânico


Jacimar Luis de Souza ............................................................................................................................................................................... 108

Manuseio pós-colheita de tomates


Celso Luiz Moretti ..................................................................................................................................................................................... 121

Tomate para mesa: colheita, classificação e embalagem


Fabiano Ricardo Brunele Caliman, Derly José Henriques da Silva e Maria Aparecida Nogueira Sediyama .............................................. 128

Informe Agropecuário Belo Horizonte v. 24 n. 219 p. 1-136 2003

O Informe Agropecuário é indexado nas


Bases de Dados: CAB INTERNATIONAL e AGRIS.
Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas para conveniência do leitor,
não havendo preferências, por parte da EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos técnicos seguiu a
nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.
Tomate para Mesa 7

Aspectos econômicos da produção e comercialização


do tomate para mesa
Francisco Lopes Cançado Júnior 1
Waldemar Pires de Camargo Filho 2
Maria Letícia Líbero Estanislau 3
Bolivar Morroni de Paiva 4
Antonio Roger Mazzei 5
Humberto Sebastião Alves 6

Resumo - A produção brasileira de tomate, na última década, apresentou modificações


significativas, principalmente no tocante aos principais Estados produtores. No final de
1999 o estado de Goiás assumiu a liderança da produção nacional, superando São Paulo,
que até então apresentava-se na primeira posição. Minas Gerais tornou-se o segundo
produtor nacional no ano de 2001, com produção e rendimento ligeiramente superiores
aos apresentados pelo estado de São Paulo. Especificamente quanto ao tomate para mesa,
São Paulo é o principal produtor seguido de Minas Gerais. A cultura do tomate para mesa
encontra-se presente em todo o estado de Minas Gerais, entretanto, as regiões maiores
produtoras situam-se nas proximidades de grandes centros urbanos, como a região Central,
e nas regiões do Triângulo Mineiro, Zona da Mata e Sul de Minas.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Economia agrícola; Cadeia produtiva; Variação
estacional.

INTRODUÇÃO re na forma de moita. Por essa razão, o to- apareceu no Nordeste brasileiro em 1989, se-
O tomateiro, Lycopersicon esculentum mate para o consumo in natura é cultivado gundo relato de pesquisadores da Embrapa
Mill., é a segunda hortaliça cultivada no com tutoramento (estaqueado ou envara- Hortaliças. Apesar da ampla divulgação, dos
mundo, sendo sua quantidade produzida do), enquanto que o tomate para o consumo procedimentos adequados ao controle des-
superada apenas pela batata. É originário industrial é cultivado sem tutoramento sa praga realizados em meados da década
da Cordilheira dos Andes e a planta po- (rasteiro). Em conseqüência dessa especifi- de 90, a população da mosca-branca recru-
de ser tanto de crescimento determinado cidade, as variedades de tomate são melho- desceu em São Paulo, Goiás e Minas Gerais,
(variedades anãs) como indeterminado, radas visando o local e a forma de cultivo e no início deste século.
podendo atingir 2,5 m de altura. A espécie sua finalidade para o consumo. A praga transmite um vírus que pode
cultivada é uma planta herbácea, de caule A tomaticultura no Brasil, na década de exterminar o tomateiro, dependendo do
mole e flexível, não suportando o peso dos 90, sofreu com o ataque da mosca-branca período em que o vetor contaminado venha
frutos na vertical. A planta ao natural ocor- (Bemisia argentifolii e B. tabaci), praga que a sugar a planta, posto que o vírus fica um

1
Economista, M.Sc. Economia Rural, Pesq. EPAMIG-DPAD, Caixa Postal 515, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico:
francisco@epamig.br
2
Engo Agro, M. Sc.Economia Agrária, Pesq. IEA, Av. Miguel Stéfano, 3900, CEP 04301-903 São Paulo-SP. Correio eletrônico: camargofilho@iea.sp.gov.br
3
Economista, D.Sc. Economia Aplicada, Pesq. EPAMIG-DPAD, Caixa Postal 515, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico:
leticia@epamig.br
4
Adm. Empresas, M.Sc. Extensão Rural, Pesq. EPAMIG-DPAD, Caixa Postal 515, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico:
bolivar@epamig.br
5
Economista, Pesq. IEA, Av. Miguel Stéfano, 3900, CEP 04301-903 São Paulo-SP. Correio eletrônico: mazzei@iea.sp.gov.br
6
Economista, Assist. Técn. IEA, Av. Miguel Stéfano, 3900, CEP 04301-903 São Paulo-SP. Correio eletrônico: hsalves@iea.sp.gov.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003


8 Tomate para Mesa

período incubado. Assim, as ações inte- QUADRO 1 - Área cultivada, produção e produtividade da cultura do tomate, 2001
gradas em um programa para combater o Área cultivada Produção Produtividade
inseto são fundamentais para o sucesso, País
(ha) (t) (kg/ha)
principalmente porque a cultura é concen-
China 779.703 20.135.040 25.824
trada em determinadas regiões e o cultivo
do tomate para mesa dura cerca de cinco EUA 164.000 10.250.000 62.500
meses, sendo dois meses com colheita. Índia 500.000 8.500.000 17.000
Turquia 160.000 6.800.000 42.500
PANORAMA INTERNACIONAL Egito 185.102 6.579.910 35.547

A cultura do tomate ocupou, mundial- Itália 123.224 6.334.460 51.406


mente, uma área superior a 3,7 milhões de Espanha 63.000 3.785.400 60.086
hectares e atingiu uma produção de 100,26 Brasil 55.624 3.028.281 54.442
milhões de toneladas e uma produtividade República Islâmica do Irã 110.000 3.000.000 27.273
de 26.770 kg/ha (FAO, 2002b). Os maiores México 74.666 2.158.745 28.912
produtores mundiais são a China, Estados
Grécia 38.655 2.045.000 52.904
Unidos, Índia, Turquia e Egito. Segundo
Camargo Filho e Mazzei (2002), estima-se Outros 1.491.255 27.642.510 18.536
que o tomate para mesa corresponda a Mundo 3.745.229 100.259.346 26.770
72,5% do total produzido no mundo. FONTE: FAO (2002b).
No Quadro 1 são apresentados os prin-
cipais países produtores, dentre os quais
o Brasil, que ocupou, em 2001, a oitava po- QUADRO 2 - Valor e quantidade exportados de tomates, frescos ou refrigerados – Brasil, 1999-2001
sição, com 3% da produção mundial. A pri- São Paulo Minas Gerais Brasil
meira colocação é ocupada pela China, que Ano
é responsável por cerca de um quinto da US$ 1.000 Quantidade US$ 1.000 Quantidade US$ 1.000 Quantidade
produção mundial e da área cultivada. Em (FOB) (1.000 kg) (FOB) (1.000 kg) (FOB) (1.000 kg)
segundo lugar destaca-se a produção dos 1999 1.978 8.531 801 3.649 12.432 54.957
Estados Unidos, que representa cerca de
2000 1.623 6.900 372 1.700 5.167 21.475
10% do total mundial; o país destacou-se,
sobretudo, por apresentar a maior produ- 2001 1.982 7.316 185 476 3.129 11.702
(1)
tividade, aproximadamente 63 toneladas Participação
por hectare, ao passo que o rendimento (%) 63,3 62,5 5,9 4,1 100,0 100,0
médio de todos os países produtores foi FONTE: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2002).
de cerca de 27 toneladas por hectare. (1) Participação percentual dos Estados em relação ao Brasil em 2001.
Verifica-se, portanto, através do Qua-
dro 1, que o Brasil destaca-se em termos de
produtividade, pois só ficou abaixo das
brasileira. O estado de São Paulo, principal PANORAMA NACIONAL
apresentadas pelos Estados Unidos e Espa-
nha em 2001. exportador brasileiro com 63% do valor e A produção brasileira de tomate cres-
O comércio internacional de tomates da quantidade exportados, não sofreu este ceu, entre os anos de 1992 e 2001, cerca de
para mesa movimentou no ano de 2000 cer- efeito. Mas como pode ser visto, a exporta- 42%. Na última década, a distribuição da
ca de US$ 3 bilhões, entretanto as exporta- ção mineira do produto teve desempenho produção ainda apresentou modificações
ções brasileiras de tomates frescos ou refri- semelhante à do Brasil, com queda de 77% significativas, principalmente no tocante
gerados representaram, neste mesmo ano, referente ao valor comercializado e 87% aos principais Estados produtores. No final
apenas 0,2% das exportações mundiais sobre o volume comercializado. de 1999, o estado de Goiás assumiu a lide-
(FAO, 2002a). Segundo dados do Ministério do De- rança da produção nacional, superando São
No Quadro 2 estão demonstrados os senvolvimento, Indústria e Comércio Exte- Paulo, que até então apresentava-se na pri-
valores e a quantidade exportada de toma- rior (2002), a Argentina, principal parceiro meira posição.
tes frescos ou refrigerados nos anos de brasileiro no Mercosul, é também o prin- Segundo dados do IBGE (2002), o esta-
1999 a 2001. Houve uma queda de 75% cipal importador do tomate brasileiro com do de Minas Gerais tornou-se o segundo
no valor, e 79% na quantidade exportada 95% do total exportado. produtor nacional de tomate no ano de 2001,
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003
Tomate para Mesa 9

com produção e rendimento ligeiramente inferência de que o comportamento da pro- Quanto à produção mineira, deve-se
superiores aos apresentados por São Paulo dução e do rendimento desse Estado deve destacar que, do total produzido no Estado
(Quadro 3). ter sido positivamente influenciado pela em 2001, cerca de 53% representam tomate
Através do Quadro 3 pode-se verificar instalação de indústrias processadoras do para mesa, cuja área colhida corresponde a
que a produtividade do estado de Goiás, produto, assim como ocorreu em Minas Ge- aproximadamente 63% do total, o que indi-
no ano de 2001, foi cerca de 15% superior rais na primeira metade da década (MINAS ca uma participação superior, em termos de
à de Minas Gerais, o que pode conduzir à GERAIS, 1995). área e produção, em relação ao tomate des-

QUADRO 3 - Área e produção – nacional e dos principais Estados produtores de tomate – no período 1992-2001

Goiás Minas Gerais São Paulo Bahia Rio de Janeiro Brasil


Ano
Área Produção Área Produção Área Produção Área Produção Área Produção Área Produção
(ha) (t) (ha) (t) (ha) (t) (ha) (t) (ha) (t) (ha) (t)

1992 3.791 169.190 5.759 257.433 15.100 740.200 6.630 211.312 3.442 177.209 52.210 2.141.345

1993 4.454 218.912 6.264 297.239 14.420 742.280 7.298 246.993 3.468 180.855 53.734 2.348.798

1994 5.451 271.565 6.274 297.568 18.080 883.480 7.506 250.332 3.434 179.270 61.939 2.688.570
1995 4.653 237.002 6.492 330.392 16.930 839.820 7.176 228.496 3.375 178.254 62.054 2.715.016

1996 5.228 273.031 11.925 292.167 15.080 832.080 7.882 238.701 3.228 168.377 70.916 2.647.427

1997 6.780 391.091 9.238 395.762 14.280 642.300 8.979 273.183 3.243 192.154 65.052 2.717.965
1998 5.568 331.823 11.761 541.323 12.210 654.780 9.147 271.402 3.576 202.699 60.529 2.692.015

1999 10.677 759.009 12.157 654.193 12.810 731.630 8.376 242.100 3.252 180.470 64.776 3.242.656

2000 10.196 712.448 9.682 532.380 11.480 709.060 5.145 170.653 3.362 193.368 56.002 2.982.840
2001 10.274 721.525 10.245 626.580 10.290 625.630 5.526 195.275 3.342 197.398 56.259 3.042.705

FONTE: IBGE (2002).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003


10 Tomate para Mesa

tinado para indústria. A superioridade do A produção e a área cultivada com to- mate para mesa encontra-se presente em
tomate para mesa foi registrada desde 1998, mate para mesa em Minas Gerais repre- todo o estado de Minas Gerais, entretanto,
quando os levantamentos do IBGE pas- sentaram, respectivamente, cerca de 53% as regiões maiores produtoras situam-se
saram a discriminar os dois tipos de desti- e 63%, dos totais atingidos pela cultura nas proximidades de grandes centros urba-
no do produto. Segundo dados do IBGE no ano de 2001. Como pode ser observa- nos, como na região Central e nas regiões
(2002?), a produção do tomate para mesa do no Quadro 5 e Gráfico 1, houve uma do Triângulo Mineiro, Zona da Mata e Sul
era cerca de 17% superior à do tomate para evolução negativa da área entre os anos de Minas.
a indústria, enquanto a superioridade da de 1998 e 2001. Nesse período a área com A região do Triângulo Mineiro é a prin-
área estava em torno de 63%. tomate para mesa recuou 13%, ao passo cipal região produtora de tomate para mesa
Através dos dados citados anterior- que a produção experimentou um cresci- do Estado com, aproximadamente, um quin-
mente percebe-se que, embora o percentual mento de 12% e a produtividade saltou de to da área cultivada e 27% da quantidade
da área ocupada pelo tomate para mesa 39.431 kg/ha para 50.801 kg/ha, num incre- produzida. No entanto, a região Central de-
tenha permanecido inalterado, a participa- mento de aproximadamente 29%. Tais resul- tém a maior concentração de área plantada,
ção deste tipo de produto na produção to- tados indicam um grande salto tecnológi- com cerca de um terço da área e, aproxima-
tal cresceu significativamente, o que pode co para a cultura, nesse pequeno intervalo damente, um quarto da produção (Fig. 1 e
indicar que a cultura vem recebendo aten- de tempo. Quadro 6).
ção especial dos produtores, com maiores Em termos de municípios, no ano de
Deve-se destacar que a cultura do to-
investimentos para o crescimento da pro- 2001 destacaram-se Araguari, principal
dutividade. produtor do Estado, e Indianópolis, com
QUADRO 5 - Área, produção e rendimento do
19% e 5% da produção estadual, respec-
PANORAMA EM MINAS GERAIS tomate para mesa em Minas Ge-
tivamente. Na região Central, os maiores
rais, 1998-2001
A área cultivada com a cultura do to- municípios produtores são Barbacena com
Área Produção Rendimento
mate em Minas Gerais apresentou um cres- Ano 3%, Carandaí 3%, e Mateus Leme 2% da
(ha) (t) (kg/ha)
cimento de 78% no período compreendi- produção total do Estado. Os municípios
do entre 1992 e 2001. A quantidade produ- 1998 7.441 293.405 39.431 de Itacarambi e Salinas, na região Norte
zida e o rendimento da cultura cresceram, 1999 7.120 322.496 45.294 de Minas, também se despontam como
respectivamente, 143% e 37%, demons- grandes produtores, contribuindo com
2000 6.644 328.168 49.393
trando que o incremento apresentado não 3% e 2%, respectivamente, do total de to-
se deveu apenas ao crescimento da área, 2001 6.490 329.700 50.801 mate para mesa produzido no Estado em
mas também a fatores tecnológicos (Qua- FONTE: IBGE (2002?). 2001.
dro 4).

QUADRO 4 - Área, produção e rendimento da cul-


tura do tomate em Minas Gerais,
1992-2001
Área Produção Rendimento
Ano
(ha) (t) (kg/ha)

1992 5.759 257.487 44.710

1993 6.264 297.239 47.452

1994 6.274 297.568 47.429

1995 6.492 330.392 50.892

1996 6.071 306.718 50.522

1997 7.610 375.542 49.348

1998 11.659 543.928 46.653

1999 12.174 655.026 53.805

2000 9.682 532.380 54.987

2001 10.245 626.580 61.160 Gráfico 1 - Área e produção do tomate para mesa em Minas Gerais, 1998-2001
FONTE: LSPA (1992 a 1997), IBGE (2002?). FONTE: IBGE (2002?).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003


Tomate para Mesa 11

Regiões de Planejamento:
I Central

II Mata

III Sul de Minas


IV Triângulo

V Alto Paranaíba

VI Centro-Oeste de Minas
VII Noroeste de Minas

VIII Norte de Minas

IX Jequitinhonha / Mucuri
X Rio Doce

Figura 1 - Distribuição percentual da área cultivada com tomate para mesa em Minas Gerais, 2002
FONTE: IBGE (2002?).

QUADRO 6 - Principais regiões produtoras de tomate para mesa no estado de Minas Gerais, 1998 a 2002

1998 1999 2000 2001 2002


Região
Produti- Produti- Produti- Produti- Produti-
Área Produção Área Produção Área Produção Área Produção Área Produção
vidade vidade vidade vidade vidade
(ha) (t) (ha) (t) (ha) (t) (ha) (t) (ha) (t)
(kg/ha) (kg/ha) (kg/ha) (kg/ha) (kg/ha)
Central 2.612 90.649 34.705 2.276 99.014 43.504 2.072 90.818 43.831 1.918 89.932 46.888 1.832 88.683 48.408

Mata 725 32.792 45.230 743 35.080 47.214 637 31.839 49.983 669 35.193 52.605 662 34.379 51.932

Sul de Minas 748 34.215 45.742 618 27.795 44.976 636 28.093 44.171 622 29.269 47.056 599 28.720 47.947

Triângulo 1.002 55.053 54.943 1.161 71.482 61.569 1.259 87.982 69.882 1.322 87.389 66.104 1.319 92.191 69.895

Alto
Paranaíba 163 5.165 31.687 225 8.580 38.133 259 14.100 54.440 220 10.560 48.000 227 10.921 48.110

Centro-Oeste
de Minas 653 24.690 37.810 718 29.005 40.397 650 22.573 34.728 541 22.575 41.728 536 25.162 46.944

Noroeste de
Minas 21 810 38.571 12 600 50.000 8 400 50.000 27 1.090 40.370 12 579 48.250

Norte de
Minas 615 24.664 40.104 493 20.141 40.854 521 21.753 41.752 576 26.387 45.811 590 26.972 45.715
Jequitinho-
nha / Mucuri 60 2.120 35.333 73 2.432 33.315 68 2.090 30.735 69 1.836 26.609 70 2.193 31.329

Rio Doce 842 23.234 27.594 801 28.417 35.477 634 28.518 44.981 526 25.470 48.422 649 31.903 49.157

Minas Gerais 7.441 293.392 39.429 7.120 322.496 45.294 6.644 328.168 49.393 6.490 329.700 50.801 6.496 341.703 52.602
FONTE: IBGE (2002?).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003


12 Tomate para Mesa

PANORAMA EM SÃO PAULO da produção de tomate para o consumo CADEIA PRODUTIVA


in natura, o que torna o Estado principal E RECURSOS FINANCEIROS
Calendário de cultivo
produtor de cultivo de tomate para mesa A partir de meados da década de 60, o
em São Paulo
(Quadro 7). governo brasileiro iniciou a construção de
Historicamente devido a fatores climá- As regiões de produção de tomate in- entrepostos para a comercialização de horti-
ticos, agronômicos e econômicos, o estado dustrial situam-se ao Norte e Nordeste do granjeiros. Inicialmente, as cidades de São
de São Paulo possui concentração de culti- Estado, enquanto a produção de tomate Paulo (SP) e Recife (PE) receberam a insta-
vo de tomate para mesa em alguns Escri- para mesa ocorre nas regiões de altitudes lação das Centrais Estaduais de Abaste-
tórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) das Serras do Mar e Mantiqueira e no pla- cimento S.A. (Ceasas).
da região serrana e do planalto, sendo 68% nalto (Fig. 2). No estado de São Paulo foi criada a
Companhia de Entrepostos e Armazéns
QUADRO 7 - Área e produção de tomate para mesa no estado de São Paulo, 1990-2001 Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp),
Produti- Produti-
que integrava administração de armazéns
Área Produção Área Produção para grãos e cereais com os entrepostos
Ano vidade Ano vidade
( ha ) (t) ( ha ) (t) para a comercialização de frutas e hortali-
( t/ha ) ( t/ha )
ças. Assim, a Ceasa São Paulo tornou-se o
1990 6.505 47.500 281.500 1996 10.580 62.382 660.000
Entreposto Terminal de São Paulo (ETSP).
1991 8.100 44.900 363.800 1997 10.176 51.786 527.000 A Centrais de Abastecimento de Minas
1992 8.280 51.630 427.500 1998 9.851 54.156 533.487 Gerais S.A. (Ceasa-MG), fundada em 1971,
1993 10.260 55.348 567.800 1999 8.700 55.120 479.540 é responsável por promover o abastecimen-
to, oferecendo a infra-estrutura necessá-
1994 11.700 51.966 608.000 2000 7.537 58.000 437.172
ria para que produtores rurais e empresas
1995 11.850 50.538 598.870 2001 7.883 56.620 446.356 atacadistas possam comercializar produtos
FONTE: Instituto de Economia Agrícola/Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (IEA/CATI). alimentícios (cereais, industrializados e

Figura 2 - Distribuição geográfica da área cultivada com tomate nos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs), estado de São Pau-
lo, 2000
FONTE: Instituto de Economia Agrícola/Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (IEA/CATI).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003


Tomate para Mesa 13

principalmente hortigranjeiros), e outros A Figura 3 mostra a distribuição do to- fato fez com que os entrepostos perdessem
complementares, nas seis unidades de ata- mate na cadeia produtiva. Na comercializa- importância no abastecimento.
cado que a empresa administra diretamen- ção, os principais agentes são os atacadis- De acordo com dados da Frutifatos (2002),
te. Estes mercados estão instalados em tas dos entrepostos. Em São Paulo, todos em 1999, nos supermercados do estado de
Contagem (Região Metropolitana de Belo os entrepostos (Ceasas), à exceção dos entre- São Paulo, o setor de frutas, legumes e ver-
Horizonte) e no interior do Estado (Uberlân- postos de Campinas e de Santo André, são duras distribuiu 1,13 milhão de toneladas,
dia, Uberaba, Juiz de Fora, Governador Vala- estabelecimentos gerenciados pela Ceagesp. sendo que as hortaliças responderam por
dares e Caratinga). Assim, o modus operandi nos entrepostos 37% deste total. As olerícolas mais impor-
Em meados da década de 80, o Brasil segue as normas do ETSP- Ceagesp para tantes foram batata, tomate e cenoura, par-
contava com mais de 40 entrepostos nas gerenciamento dos preços e quantidades ticipando com dois terços do grupo (vale
principais cidades e capitais de Estado. No entradas, com pequenas alterações regio- lembrar que alho e cebola não foram incluí-
período 1983-1984, foram comercializadas nalmente, pois pode existir alguma adapta- dos nesse item).
872.246 toneladas de tomate por ano em ção para melhor funcionamento. O tomate para mesa é o principal legu-
todas as Ceasas brasileiras. O estado de Em razão da importância majoritária do me em quantidade consumida in natura
São Paulo foi responsável pelo envio de ETSP-Ceagesp no abastecimento de hor- em domicílios, restaurantes e lanchonetes.
cerca de 54,6% do volume negociado em taliças e frutas foi criado um programa pa- A cadeia produtiva no Brasil movimenta,
nível nacional (CAMARGO; CAMARGO ra padronização no Centro de Qualidade no mercado varejista, cerca de R$ 900 mi-
FILHO, 1996). Em 1999, no ETSP-Ceagesp, em Horticultura. Para o tomate, por ser um lhões por ano. Deste total, o setor produ-
foram comercializadas 2,444 milhões de legume fruto, cuja maturação continua pós- tivo gasta cerca de R$ 320 milhões em insu-
toneladas de hortigranjeiros. As frutas colheita, é fundamental a avaliação dos mos, mão-de-obra, máquinas e serviços na
participaram com 54,4% desse volume, os aspectos externos, principalmente colora- produção.
legumes e as verduras com 33%, a batata e ção, para indicar qualidade na classificação.
a cebola com 9,5% e as flores com 1,5%. O ETSP-Ceagesp, por ser o maior entre-
COMERCIALIZAÇÃO E PREÇOS
A Ceasa-MG coordena importante se- posto de hortaliças da América do Sul, fun-
tor de geração de renda e emprego na eco- ciona como bolsa de mercadorias em que A variação estacional de preços é uma
nomia mineira. Isto porque só o grupo de os preços e quantidades negociadas va- constante no mercado de hortaliças, em
hortigranjeiros, com safra de 4,97 milhões riam conforme a época do ano que, junta- razão das estações do ano que influenciam
de toneladas em 1999, movimentou cerca mente com a procedência dos produtos na quantidade produzida e no custo de
de R$ 3,98 bilhões e empregou 855 mil pes- que também é variável, servem como pa- produção, afetando a quantidade ofertada.
soas na lavoura e no comércio dentro do râmetros e indicadores de tendências no Por outro lado, a quantidade demandada
Estado. Os hortigranjeiros representaram Mercosul. varia devido às estações e hábitos de con-
a metade do volume de produtos comercia- Após meados da década de 90, os su- sumo (festa de Natal, Ano Novo e Páscoa).
lizados na Unidade de Contagem. Nas de- permercadistas deram prioridade ao abaste- Em conseqüência dessas variações, os pre-
mais Unidades do interior, esta participa- cimento de frutas e hortaliças compran- ços de tomate e de legumes são maiores no
ção chega a 90%. do diretamente na região de produção. Este outono.

Figura 3 - Canais de comercialização do tomate para mesa, agentes e quantidades por segmento no Brasil

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003


14 Tomate para Mesa

Quantidade comercializada po Santa Cruz representou cerca de 92,5% Cruz apresentou um crescimento de apenas
e preços em Minas Gerais do total comercializado desse produto em 3,4% ao ano.
Volume comercializado na 2001. No ano de 2001, foram comercializadas,
Ceasa-MG No período de 1992 a 2001, a média anual aproximadamente, 10 mil toneladas de toma-
Os Quadros 8 e 9 apresentam os vo- comercializada de tomate nas Unidades da te do grupo Salada e 127 mil toneladas de
lumes comercializados de tomates dos Ceasa-MG manteve-se ao redor de 118 mil tomate do grupo Santa Cruz nas cinco Uni-
grupos Salada e Santa Cruz nas cinco Uni- toneladas. No entanto, o crescimento veri- dades da Ceasa-MG. A quantidade oferta-
dades da Ceasa em Minas Gerais, respec- ficado pelo tomate do grupo Salada, no pe- da dos dois grupos pela Unidade Grande
tivamente. Como pode ser observado, o ríodo citado, foi de aproximadamente 13% Belo Horizonte representou 70,7% de to-
volume comercializado de tomate do gru- ao ano, enquanto o tomate do grupo Santa do o volume comercializado. Nesse mesmo

QUADRO 8 - Quantidade de tomate do grupo Salada comercializada nas Unidades da Ceasa-MG (em quilogramas), 1992-2001
Unidades da Ceasa-MG

Ano Governador Total


Caratinga Grande BH Juiz de Fora Uberaba Uberlândia
Valadares

1992 35.985 _ 2.149.718 21.724 80.375 1.183.734 3.471.536


1993 48.100 1.380 2.095.016 52.376 71.075 1.566.565 3.834.512

1994 56.200 11.063 2.569.622 37.536 97.377 1.392.508 4.164.306

1995 35.325 18.149 3.101.758 35.880 200.300 1.978.211 5.369.623


1996 48.750 39.901 3.603.314 62.179 277.925 2.293.502 6.325.571

1997 13.675 269.904 4.110.062 38.272 363.015 3.215.406 8.010.334

1998 3.535 1.291 4.628.250 35.385 726.575 4.505.718 9.900.754


1999 2.850 _ 5.150.156 10.450 499.550 5.951.802 11.614.808

2000 _ _ 5.521.758 19.275 589.775 4.629.657 10.760.465

2001 _ _ 6.016.274 12.761 444.700 3.911.829 10.385.564

FONTE: Ceasa-MG. Departamento Técnico. Seção de Informação de Mercado.

QUADRO 9 - Quantidade de tomate do grupo Santa Cruz comercializada nas Unidades da Ceasa-MG (em quilogramas), 1992-2001
Unidades da Ceasa-MG

Ano Governador Total


Caratinga Grande BH Juiz de Fora Uberaba Uberlândia
Valadares

1992 7.115.606 3.431.758 60.474.691 6.348.466 1.603.225 14.752.663 93.726.409

1993 7.347.925 3.153.909 63.517.443 5.682.956 1.873.500 15.559.407 97.135.140


1994 5.972.250 3.619.341 68.247.494 6.362.880 2.661.100 15.127.843 101.990.908

1995 6.484.382 4.173.096 64.951.078 7.059.164 3.361.100 18.465.246 104.494.066

1996 5.369.895 4.302.489 66.419.418 6.216.899 3.689.225 18.856.976 104.854.902


1997 5.663.205 3.915.657 78.834.514 6.618.020 3.975.372 18.052.403 117.059.171

1998 5.883.306 4.212.492 77.434.918 6.435.598 4.295.140 18.339.122 116.600.576

1999 8.255.165 3.784.294 81.254.048 6.355.756 3.304.682 22.379.547 125.333.492


2000 7.231.155 4.211.984 86.128.910 6.848.772 2.977.361 20.678.651 128.076.833

2001 5.640.108 4.619.016 91.314.206 4.258.418 2.428.178 18.933.246 127.193.172

FONTE: Ceasa-MG. Departamento Técnico. Seção de Informação de Mercado.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003


Tomate para Mesa 15

ano, no que se refere ao tomate do grupo Preços praticados na Ceasa-MG Santa Cruz apresentou uma tendência de-
Salada, na Unidade Grande Belo Horizonte, Os preços do tomate do grupo Salada clinante de preços ao longo do período
foi comercializado cerca de 58%. apresentaram leve tendência ascendente analisado, ao contrário do tomate do gru-
Do total de tomate comercializado nas ao longo do período de 1992 a 2001, ao po Salada, que apresentou tendência po-
Unidades da Ceasa-MG no período de 1997 contrário do ocorrido com o tomate do gru- sitiva.
a 2001, 94,4% foram provenientes de muni- po Santa Cruz, que apresentou uma ten- Os maiores preços de tomate do grupo
cípios mineiros. Outros Estados que mos- dência descendente. Salada ocorreram nos anos de 1995 e 1996
traram participação, ainda que pouco signi- Nos Quadros 11, 12 e Gráfico 2 são apre- devido à grande demanda proporciona-
ficativa, foram Espírito Santo, Goiás e São sentados os preços médios praticados nas da pela estabilização econômica em decor-
Paulo com 2,5%, 1,4% e 1,1%, respectiva- Unidades da Ceasa-MG, no período de 1992 rência do Plano Real. O comportamento de
mente (Quadro 10). a 2001. Verifica-se que o tomate do grupo preços apresentado pelo tomate do grupo

QUADRO 10 - Volume e procedência do tomate comercializado nas Unidades(1) da Ceasa-MG (em quilogramas), 1997-2001

Estados 1997 1998 1999 2000 2001

Bahia 19.800 13.200 4.400 3.520


Distrito Federal 75.449 12.980

Espírito Santo 3.777.506 4.503.624 2.650.657 2.719.825 3.269.334

Goiás 963.862 1.476.250 1.261.834 1.334.307 2.047.360


Minas Gerais 117.013.697 118.740.288 130.079.168 131.631.778 130.269.473

Paraná 77.996 48.242 31.496 5.470 91.564

Rio de Janeiro 44.230 27.642 143.352 160.826 439.173


Rio Grande do Sul 54.230 50.978 74.076 1.380

Santa Catarina 509.470 591.750 901.991 264.176 242.210

São Paulo 2.533.265 1.044.756 1.805.726 2.716.516 1.201.742


Mato Grosso 4.600

Total 125.069.505 126.501.330 136.948.300 138.837.298 137.578.736

FONTE: Ceasa-MG. Departamento Técnico. Seção de Informação de Mercado.


(1) Caratinga, Governador Valadares, Grande BH, Juiz de Fora, Uberaba e Uberlândia.

QUADRO 11 - Preços médios mensais de tomate do grupo Salada praticados nas Unidades da Ceasa-MG (ago./2002 = 100), 1992-2001

Ano Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Média

1992 1,17 0,86 0,83 0,77 0,61 0,58 0,66 0,75 0,60 0,45 0,44 0,46 0,68
1993 0,92 1,52 1,34 1,63 1,20 1,30 0,94 0,76 0,65 0,68 0,86 1,21 1,08
1994 1,15 0,75 0,53 0,32 0,18 0,32 0,84 1,58 1,97 1,74 1,62 1,50 1,04
1995 1,41 1,95 1,54 1,46 1,52 1,14 1,14 1,03 0,81 0,96 0,91 1,30 1,26
1996 1,56 1,73 1,86 1,68 1,15 0,96 0,83 0,95 0,79 1,01 1,41 1,25 1,27
1997 1,43 1,59 1,69 1,53 1,06 0,89 0,77 0,89 0,74 0,95 1,31 1,16 1,17
1998 1,44 1,40 1,29 1,48 1,35 1,24 0,97 0,62 0,69 0,70 0,81 0,98 1,08
1999 1,22 1,06 1,03 1,13 1,24 0,86 0,79 0,99 0,84 0,81 1,15 0,74 0,99
2000 0,85 1,29 0,44 1,56 1,29 0,73 0,49 0,50 0,54 0,79 0,71 0,76 0,83
2001 0,93 1,13 1,07 1,17 1,15 0,81 0,79 0,64 0,53 0,64 0,76 0,72 0,86
FONTE: Ceasa-MG. Departamento Técnico. Seção de Informação de Mercado.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003


16 Tomate para Mesa

QUADRO 12 - Preços médios mensais de tomate do grupo Santa Cruz praticados nas Unidades da Ceasa-MG (ago./2002 = 100), 1992-2001

Ano Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Média

1992 0,92 0,84 0,82 0,75 0,59 0,56 0,65 0,75 0,59 0,44 0,42 0,44 0,65
1993 0,45 0,81 0,61 0,92 0,73 0,90 0,61 0,47 0,28 0,29 0,50 0,75 0,61
1994 0,60 0,38 0,25 0,16 0,08 0,14 0,51 1,33 1,65 1,23 0,74 0,56 0,64
1995 0,54 0,57 0,87 1,44 1,17 0,93 0,35 0,30 0,37 0,31 0,44 0,66 0,66
1996 0,71 0,88 0,68 0,58 0,77 0,82 0,72 0,67 0,51 0,51 0,52 0,50 0,66
1997 0,58 0,80 0,96 0,90 0,51 0,36 0,31 0,53 0,41 0,60 0,70 0,84 0,63
1998 0,85 0,73 0,80 1,13 1,05 0,87 0,65 0,35 0,35 0,38 0,43 0,44 0,67
1999 0,61 0,45 0,38 0,47 0,72 0,67 0,69 0,92 0,60 0,68 0,67 0,49 0,61
2000 0,52 0,79 0,95 0,88 0,44 0,26 0,24 0,26 0,35 0,53 0,54 0,38 0,51
2001 0,57 0,54 0,46 0,63 0,64 0,53 0,51 0,39 0,24 0,24 0,32 0,49 0,46
FONTE: Ceasa-MG. Departamento Técnico. Seção de Informação de Mercado.

Ceasa-MG, no período de 1992 a 2001, de-


monstra que, de janeiro a maio, os preços
foram superiores à média anual, em decor-
rência da escassez de oferta do produto no
mercado. O maior valor corresponde ao mês
de fevereiro, situando-se em um patamar
de 34% superior à media anual, enquanto
a quantidade média comercializada obser-
vada neste mês correspondeu a volume
41% inferior à quantidade média anual. En-
tre os meses de junho a novembro, período
em que ocorre maior oferta do produto no
mercado, os preços caem, atingindo em se-
tembro um nível 20% inferior à média anual,
e a quantidade comercializada apresenta
Grupo Salada Grupo Santa Cruz Tendência de preços 46% à média anual (Gráfico 3).
Pode-se observar, também no Gráfi-
Gráfico 2 - Preços médios anuais de tomates dos grupos Salada e Santa Cruz praticados co 3, que a amplitude de variação do índi-
nas Unidades da Ceasa-MG (ago./2002 =100), 1992-2001 ce estacional do tomate do grupo Salada,
ou seja, a diferença entre o maior e o me-
nor índice foi de 53,8 pontos para o preço
Santa Cruz não obteve grandes oscilações Sazonalidade e e 87,6 pontos para a quantidade comercia-
no período, indicando que maiores quanti- variação estacional de preços lizada.
dades de ofertas do produto foram respon- A análise sazonal dos preços e a quan- Com relação ao tomate do grupo Santa
sáveis pela tendência de queda apresenta- tidade comercializada foram efetuadas se- Cruz, observa-se que a amplitude de varia-
da (Gráfico 2). paradamente para cada variedade, pois a ção do índice estacional foi de 37,8 pon-
Como pode ser observado através do quantidade comercializada do tomate do tos para o preço e 20,4 pontos para a quan-
Gráfico 2, o tomate do grupo Salada apre- grupo Santa Cruz, que representa cerca de tidade comercializada, ou seja, a oferta
sentou preços, em média, cerca de 68% 93% do total, mascararia os índices de pre- desse produto apresentou maior estabi-
maiores que os do tomate do grupo Santa ços do tomate do grupo Salada. O método lidade quando comparada ao tomate do
Cruz, ao longo dos dez anos analisados utilizado para calcular o padrão estacional grupo Salada, que variou cerca de 88 pon-
(1992-2001), conseqüência da menor ofer- é o da média móvel geométrica. tos.
ta daquele produto em relação ao Santa O comportamento sazonal dos preços A variação estacional dos preços do
Cruz. do tomate do grupo Salada praticados na tomate do grupo Santa Cruz, conforme
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003
Tomate para Mesa 17

mencionado, apresentou flutuações de pre- maior índice de quantidade ofertada (109,3) se o tomate do grupo Salada, porque cer-
ços menos significativas que do grupo Sa- e o menor índice de preços (86,7). ca de 84% do total de tomate negociado
lada, fato esse comprovado pela maior esta- pertence a esta categoria. Os municípios
bilidade na quantidade ofertada durante Preços e estacionalidade no paulistas abastecem o ETSP-Ceagesp com
o ano. Conforme pode ser observado no ETSP-Ceagesp cerca de 75% do total comercializado, que
Gráfico 4, os preços nos meses de janeiro a Em 2001, o setor produtivo em São Pau- foi de 244.840 toneladas em 1997. No pe-
maio apresentam índices superiores à mé- lo movimentou cerca de R$ 25 milhões no ríodo 1990-1997, a quantidade comercia-
dia anual. Em abril o preço médio atingiu o cultivo de tomate para mesa. A região do lizada no entreposto diminuiu em 10,3% e
mais elevado índice (24 pontos) acima da planalto produz de abril a dezembro com em 2001 a quantidade negociada foi 0,84%
média anual. A partir de junho o índice de pico no trimestre maio-julho. No entanto, superior à de 1997, ou seja, oscila em torno
preço mantém-se em patamar inferior ao da no trimestre janeiro-março ocorre a entres- de 245 mil toneladas por ano. Assim, o valor
média, coincidindo com a maior oferta do safra, período para eliminar plantas hospe- negociado com tomate no ETSP-Ceagesp
produto. No mês de setembro, ocorre o deiras e suspensão de plantio. Escolheu- foi de R$ 110 milhões por ano.
A organização das safras, visando o
combate à mosca-branca, é uma oportu-
nidade para realizar previsão de preços e
evitar excesso de produção, ocorrência fre-
qüente no período 1994-2001.
Nos meses de março e abril, os preços
servem de indicadores aos tomaticultores
para decisão de quanto irão plantar. No
entanto, devido à menor ocorrência de
geadas e evolução nos tratos culturais, o
cultivo desorganizou-se no Estado.
Ao final da década de 90, além da expan-
são da produção no Planalto Paulista ocor-
reu maior participação de outros Estados
do Sul, Centro-Oeste e Sudeste no abas-
tecimento de São Paulo. Os preços foram
Índice de quantidade Índice de preços maiores no trimestre abril-junho, mas ocor-
reu pico de preços em outubro em anos
Gráfico 3 - Variação estacional anual dos preços e quantidade de tomate do grupo
alternados.
Salada comercializada nas Unidades da Ceasa-MG, 1992-2001
Os maiores preços de tomate ocorreram
de março a maio, devido à redução da
quantidade ofertada, em razão do verão na
época do plantio, o que dificulta a condu-
ção da cultura, e ao aumento da demanda,
devido à estação mais fria na época da co-
lheita.
No entanto, ao analisar a variação bi-
anual de preços, observa-se que, no pe-
ríodo 1994-2001, nos anos com final ímpar,
os preços foram maiores de março a maio,
com um pico em agosto, enquanto nos
anos pares os preços foram estáveis, indi-
cando excesso da quantidade ofertada, além
do que a média de preços foi menor (Grá-
Índice de quantidade Índice de preços
fico 5). Contudo, no ano seguinte, houve
aumento do plantio para a colheita no tri-
Gráfico 4 - Variação estacional anual dos preços e quantidade de tomate do grupo mestre março a maio, baixando os preços e
Santa Cruz comercializada nas Unidades da Ceasa-MG, 1992-2001 caindo em círculo vicioso.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003


18 Tomate para Mesa

Ano ímpar
Ano par

Índice irregular Média mensal Índice de preço

Gráfico 5 - Variação estacional bianual dos preços de tomate no ETSP - Ceagesp, 1994-2001
FONTE: Boletim Mensal da Ceagesp (1994/2001).

REFERÊNCIAS <http://www.fao.org>. Acesso em: 2 set. 2002a. LSPA MINAS GERAIS. [Belo Horizonte]: IBGE.
Consultados os resultados finais dos anos de 1992
BOLETIM MENSAL DA CEAGESP. São Paulo: _______. Agriculture production: tomatoes
a 1997.
CEAGESP, 1994/2001. production. Rome, 2002. Disponível em: <http:/
/www.fao.org>. Acesso em: 2 set. 2002b. MINAS GERAIS. Secretaria de Estado da Agricul-
CAMARGO, A.M.P. de; CAMARGO FILHO, W.P.
tura, Pecuária e Abastecimento. Cenário futuro
de. Comportamento dos preços de olerícolas nos FRUTIFATOS. Informações da Fruticultura Irri-
para a cadeia produtiva de olerícolas em Minas
mercados atacadistas e fluxo de produção regio- gada, Brasília: Ministério da Integração Nacional,
Gerais. In: _______. Cenário futuro do negócio
nal no Brasil, 1977-83. In: IEA. Relatório de v.2, n.2, jun. 2002.
agrícola de Minas Gerais. Belo Horizonte,
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CAMARGO FILHO, W.P. de; MAZZEI, A.R. Belo Horizonte, [2002?]. 1 CD-ROM.
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO,
Produção de tomate: sustentabilidade e preços.
_______. Quantidade produzida, valor da pro- INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR.
Informações Econômicas, São Paulo, v.32, n.8,
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FAO. Agriculture & food trade: value exports Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. desenvolvimento.gov.br>. Acesso em: 1 set.
of tomatoes. Rome, 2002. Disponível em: Acesso em: 4 set. 2002. 2002.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.7-18, 2003


Tomate para Mesa 19

Práticas culturais adequadas ao tomateiro


Maria Aparecida Nogueira Sediyama 1
Paulo Cezar Rezende Fontes 2
Derly José Henriques da Silva 3

Resumo - Para a produção ideal de tomate seria necessário evitar que a cultura sofresse
estresse. Isto é impossível, pois há fatores estressantes presentes, bióticos e abióticos.
Algumas das práticas culturais que visam eliminar ou diminuir os efeitos destes fatores
sobre a cultura do tomateiro são: clima (uma das práticas culturais mais importantes, pois
refletirá nas demais); cultivares; mudas; local de plantio; espaçamento; tutoramento;
desbrota; amarrio; rotação de culturas e adubação verde.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Muda; Substrato; Rotação de cultura.

INTRODUÇÃO CLIMA a luminosidade são importantes na matu-


Nos últimos anos, a tomaticultura bra- O tomateiro é cultivado em quase todas ração dos frutos. A faixa de temperatura
sileira vem-se expandindo e modernizando, as regiões do mundo. No Brasil, ele é plan- ótima para promover a síntese do pigmento
com melhoria na produtividade, qualidade tado na maioria das regiões, onde não ocor- licopeno, responsável pela cor vermelho-
e regularidade do produto ofertado, para rem excessos de umidade relativa, de chu- intensa dos frutos, é de 24oC-28oC. Tempe-
atender às exigências do mercado consu- va e de temperatura. A cultura adapta-se raturas maiores que 30oC inibem a forma-
midor. Os produtores de tomate buscam melhor ao clima tropical de altitude ou ao ção de licopeno, favorecendo a síntese de
novas tecnologias e ambientes mais favo- clima temperado, seco e com alta lumino- carotenóides, que conferem a cor amarelo-
ráveis à cultura. sidade. Em temperatura de 18oC a 25oC, a alaranjada aos frutos, tornando-os de valor
O tomateiro adapta-se às condições de germinação das sementes de tomate é oti- comercial depreciado (MELO, 1993).
clima da maioria das regiões brasileiras, mizada e a emergência das plântulas é mais É mais fácil produzir tomate em época
desde que não apresentem excesso de chu- rápida. À medida que se afasta da faixa de baixa precipitação e em regiões com tem-
vas, temperaturas e umidade relativa, nem térmica ótima, a germinação é retardada, peraturas amenas, que contribuem para
falta de luminosidade. O uso de práticas isto é em temperatura próxima de 5oC ou de melhor desenvolvimento do tomateiro e
culturais adequadas, aliadas às necessi- 40oC há inibição da germinação e da emer- interrompem o ciclo de proliferação das
dades da cultivar ou do híbrido utilizado, gência (MELO,1993). doenças, pragas e plantas invasoras, além
permite a exploração do potencial produ- Temperaturas médias noturnas de 18oC de reduzir agentes bióticos indesejáveis.
tivo e contribui para a obtenção de fru- e diurnas próximas de 25oC são considera- No outono-inverno, as temperaturas são
tos de melhor qualidade. Dentre os fatores das ideais para a cultura do tomateiro. Tem- propícias para a cultura, com o suprimento
que determinam a produção do tomateiro peraturas acima de 35ºC, principalmente adequado de água no solo, assegurado
destacam-se: o clima, as cultivares, os híbri- noturna, afetam, de forma marcante, o pega- pela irrigação, o que torna o custo de pro-
dos melhores e mais bem adaptados, a pro- mento e a maturação ótima dos frutos. O dução menor, porém os preços são menos
dução de mudas adequadas, os métodos efeito de temperaturas adversas que afetam compensadores.
de plantio e a rotação de culturas. Este arti- o pegamento dos frutos é, quase sempre, No período chuvoso (primavera-verão),
go tem como objetivo informar sobre as verificado nos plantios de verão do Nor- com temperatura e umidade elevadas, ocor-
principais técnicas culturais, visando à deste, sobretudo no vale do São Francisco rem mais problemas fitossanitários, maior
melhoria da produtividade e da qualidade e no Sul, nos plantios de inverno e no iní- necessidade de pulverizações e tratos cul-
de frutos. cio da primavera. A temperatura e também turais, o que aumenta o custo de produção,

1
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Vila Gianetti, 46, Caixa Postal 216, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: marians@epamig.ufv.br
2
Engo Agro, Ph.D., Prof. Tit. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: pacerefo@ufv.br
3
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: derly@ufv.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.19-25, 2003


20 Tomate para Mesa

além de provocar menor produtividade e a) por meio da seleção de alelos favo- cultivar ou híbrido deve reunir o maior nú-
baixa qualidade de frutos. Plantios nessa ráveis para maior firmeza do pericar- mero possível de características desejáveis
época proporcionam os melhores preços po, como exemplos: ‘Débora VFN’, como: produzir frutos de tamanho, sabor
do tomate. ‘Débora Plus’, ‘Débora Max’, ‘Dia- e conformação desejados pelo mercado,
Com a crescente demanda, a necessi- na’, ‘Monalisa’, ‘Séculus’, ‘Cronos’; apresentar resistência a doenças e ao trans-
dade de aumentar o suprimento do mercado porte, além de vida mais longa após a co-
b) pela utilização de mutantes de amadu-
e buscar preços mais compensadores, lheita. Entretanto, o preço das sementes
recimento com genes rin (ripening
muitos produtores tentam produzir toma- precisa ser compatível com a renda gerada
inhibitor ou inibidor de amadure-
te durante todo o ano. No Brasil, pode-se pela cultura.
cimento), nor (nor ripening ou não
dizer que todos os dias alguém planta to- Os tomaticultores devem estar atentos
amadurecimento) ou alc (alcobaça),
mate. Alguns produtores estão empregan- aos lançamentos das novas cultivares ou
como as cultivares: ‘Carmen’, ‘Raisa’,
do tecnologia mais sofisticada e cultivo em híbridos, bem como aos testes e informa-
‘Graziela’, ‘Neta’, entre outras;
ambientes protegidos, hidropônicos e em ções, quanto a manejo específico e adap-
substratos, para garantir a produção prin- c) por meio de técnicas de biotecno- tação, fornecidos pelas firmas produtoras
cipalmente na época em que há excesso de logia molecular, com a produção de de sementes. Além disso, sempre é opor-
chuva (primavera-verão nas Regiões Su- transgênicos homozigotos de orien- tuno consultar técnicos da região e trocar
deste e Centro-Oeste) ou temperatura baixa tação antisense, que interferem na informações com produtores que já tenham
(inverno, na Região Sul). produção de etileno e na produção utilizado o material.
e atividade de enzimas envolvidas
CULTIVARES no processo de amadurecimento dos PRODUÇÃO DE MUDAS
frutos de tomateiro. No Brasil, não
O tomateiro apresenta grande capacida- há registros da utilização de cultiva- Em algumas regiões, encontram-se pro-
de de adaptação e responde bem a seleções res transgênicas de tomate. Além da dutores especializados na produção de
localizadas. Assim, reveste-se de grande conservação pós-colheita, as culti- mudas e, muitas vezes, é mais econômico
importância, a escolha de cultivar mais bem vares Longa Vida propiciam plantas adquirir a muda pronta ao invés de se inves-
adaptada às condições ambientais da re- vigorosas e resistentes a doenças tir em materiais, casa de vegetação e mão-
gião onde será instalada a cultura (MELO, foliares, com colheitas de frutos de-obra necessários para a própria pro-
1993). Contudo, não são encontradas infor- graúdos, vermelhos e de boa aceita- dução.
mações que relacionem genótipos mais ção comercial. Tanto na compra de mudas quanto na
adaptados com as condições particulares compra de sementes, o produtor deve to-
dos produtores de determinada região. Novos híbridos de tomates são lança- mar alguns cuidados importantes. No caso
Para produção de tomate para mesa, são dos no mercado brasileiro para o cultivo de sementes, estas devem ser adquiridas
utilizadas cultivares do grupo Santa Cruz em ambiente protegido. São: ‘Donador’ (do de fornecedores idôneos, dando-se prefe-
(‘Santa Clara’, ‘Concorde’, ‘Jumbo’, ‘Cláu- grupo Caqui Extra-firme); ‘XPH 14016’ (do rência à embalagem fechada, na qual pode-
dia’, entre outras), do grupo Salada (‘Bru- grupo Caqui Longa Vida) e ‘XPH 8450’ se verificar o material genético, o poder
na’, ‘Carmen’, ‘Gisele’, ‘Séculus’), do grupo (novo segmento do mercado ‘Santa Clara’, germinativo e o prazo de validade. No caso
Caqui (‘Humboldt’, ‘Master’, ‘Momota- com frutos redondos, ombro liso, cicatriz de mudas, o produtor deve estar atento à
ro’), do grupo Italiano (‘Andréa’). No gru- peduncular muito pequena e perfeito fecha- cultivar ou ao híbrido desejado, ao desen-
po Santa Cruz, a cultivar ‘Santa Clara’ é uma mento estilar). As principais características volvimento, à qualidade e ao estado sani-
das disponíveis, tendo dominado o mer- desses híbridos são plantas vigorosas e tário delas.
cado há mais de 15 anos. Apresenta alto resistentes às principais doenças, e frutos Hoje, a tendência nas empresas produ-
potencial produtivo e maior peso médio de de cor vermelho-intensa, excelentes no sa- toras de sementes de hortaliças é a produ-
frutos, o que lhe garante grande aceitação bor, na conservação pós-colheita, na pro- ção de plantas híbridas, mais caras e que
no mercado. dutividade e na uniformidade. oneram o custo de produção. Cada semen-
Na década de 90, houve introdução de As firmas produtoras de sementes sem- te deve produzir uma muda, portanto o
híbridos Long Shelf Life (LSL) ou Longa pre lançam cultivares e híbridos mais pro- produtor deve tomar os devidos cuidados
Vida de prateleira, cuja principal caracte- dutivos, resistentes às principais doenças, na produção dessas mudas.
rística é a longa conservação pós-colheita. de melhor qualidade nutricional e conser- Para a germinação das sementes de to-
Segundo Della Vecchia e Koch (2000), há vação pós-colheita. É tarefa difícil a reco- mate, a temperatura deve estar entre 18oC
três metodologias que permitem a obtenção mendação de novas cultivares, pelo grande e 29oC e a umidade do solo a aproxima-
de cultivares Longa Vida: número existente. De modo geral, uma boa damente 80% da capacidade de campo.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.19-25, 2003
Tomate para Mesa 21

O excesso ou a escassez de água é preju- b) preparar o substrato, misturando ter- Após a confecção e enchimento dos
dicial à germinação e ao crescimento das ra de barranco ou de subsolo, ester- copinhos, estes são organizados próximos
plântulas. Além da adequação dos fatores co curtido na proporção de 1:1 e adu- uns aos outros, em viveiro, o que propicia
ambientais, importantes na germinação das bo mineral; sua acomodação. Em seguida, é feito o se-
sementes, as mudas de tomate devem ser meio, colocando-se uma a três sementes no
c) peneirar o substrato sobre a área de-
produzidas com o mínimo possível de con- centro do copinho. Se a semente apresen-
marcada. O substrato poderá ser de-
tato manual, contato com insetos, e com o tar alta qualidade ou custar caro, o produtor
sinfectado após a mistura;
mínimo de lesões nas raízes, para evitar a deve colocar uma por recipiente, visando
transmissão de doenças causadas, prin- d) adicionar água à mistura e amassar reduzir o custo, a operação de desbaste e
cipalmente, por vírus tomato mosaic virus com enxada, até que se consiga uma as injúrias ao sistema radicular. Para faci-
(TMV) e bactérias. Portanto, é altamente consistência pastosa. Essa massa é litar as primeiras irrigações e evitar a desi-
desejável que as mudas sejam produzi- distribuída, uniformemente, na área dratação do substrato, é conveniente cobrir
das em ambiente protegido. A produção demarcada com altura de 5 cm e nive- os copinhos com palha seca até o início da
pode ser com o uso da técnica de sementei- lada com régua de madeira. A massa emergência. A irrigação é mantida uma a
ras, barrela (CARVALHO; GUIMARÃES, é cortada com faca ou facão, no sen- duas vezes ao dia com regador de crivo
1991?), copinho de jornal ou bandeja de tido longitudinal e transversal do fino ou com microaspersores. Deve-se ficar
isopor. canteiro, formando pequenos blo- atento ao volume de água e à freqüência
Pelo fato de não haver rompimento de cos de 5 x 5 cm. No centro de cada das irrigações, para evitar o ressecamento
raízes, por ocasião do transplante, a pro- bloco, é feita uma pequena cova ou do substrato ou o excesso de umidade, que
dução de mudas em recipientes, em relação orifício, onde serão colocadas de duas prejudicam a germinação e a emergência
à sementeira, diminui a incidência de várias a três sementes. das plântulas.
doenças, principalmente bacterianas e fún- Se necessário, quando as mudas apre-
Após a semeadura, o canteiro é coberto
gicas, e aumenta o índice de pegamento a sentarem duas folhas definitivas, faz-se o
com uma camada fina de esterco curtido e
campo, que se aproxima de 100%. Além desbaste cortando as plantas indesejáveis
peneirado e depois com uma camada de
disso, a produção de mudas em recipien- e deixando uma ou duas mudas em cada
capim seco. A irrigação é feita duas vezes
tes permite melhor aproveitamento das
ao dia sobre o capim até iniciar a emergên- copinho ou barrela. Uma boa seleção de
sementes, que podem ser de alto custo,
cia, quando se retira o capim e permanece a mudas assegura o desenvolvimento inicial
proporcionando maior número de mudas
irrigação diária. As mudas são transplan- da planta o que contribui diretamente para
por grama de semente utilizada. A escolha
tadas com 4 a 6 folhas definitivas, o que o sucesso da cultura.
da técnica vai depender das condições do
ocorre com aproximadamente 20 a 25 dias Na produção de mudas em solo, barrela
produtor.
da semeadura. Os pequenos blocos, com ou copinho de jornal, a sementeira deve
as mudas prontas, são deslocados do can- ser localizada, de preferência, no centro do
Produção de mudas
teiro com um facão ou pá reta e transpor- terreno arado e cercada com tela antiafí-
em barrela e em copinhos
tados para o local de plantio. Para produzir deos, com altura mínima de 2 m, para evitar
de jornal
cem mudas são necessários: 6 latas (20 L) infestação de vetores de viroses.
O método de produção de mudas cha-
de terra de barranco ou subsolo; 4 latas
mado barrela é utilizado por pequenos e Produção de mudas
(20 L) de esterco de curral; 6 kg de adubo
médios produtores de tomate, em algumas em bandeja
mineral; 7 m de bambu ou madeira roliça;
regiões, por apresentar menor custo, pro- A produção de mudas em bandejas ou
água suficiente para formar a pasta; 2 fei-
dução no próprio local de instalação da cul- em canteiros móveis, suspensos, é uma
xes de capim seco ou sapé (CARVALHO;
tura, utilização de insumos da propriedade técnica relativamente nova, que origina
GUIMARÃES, 1991?).
rural, precocidade de produção e alta qua- plantas de alta qualidade e reduz o tempo
Para a produção de mudas em copinhos,
lidade de mudas. Nesse sistema de pro- de produção. Esta técnica exige o uso de
é necessária a confecção deles com papel
dução de mudas, o produtor cumpre dife-
de jornal. Uma tira de jornal medindo 12 cm casa de vegetação com proteção à entrada
rentes etapas.
de largura e 40 a 60 cm de comprimento é de insetos vetores de vírus. As mudas ficam
Para produção de mil mudas, deve-se:
enrolada em um “enchedor”, feito com ca- protegidas contra o clima adverso como
a) limpar e nivelar uma área de 1 m de no de PVC, que auxilia na colocação do chuva, granizo, ventos frios e fortes e gea-
largura por 2,5 m de comprimento, e substrato no copinho que comporta cerca das.
cercar o leito com bambu ou madei- de 170 cm3 de substrato (FONTES; SILVA, Apesar de custo fixo mais alto, a pro-
ra roliça; 2002). dução de mudas em bandejas pode permitir
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a redução do custo de produção pelo me- As bandejas podem ser usadas várias de 70% de terra e 30% de cama de aviário,
lhor aproveitamento das sementes. Isso vezes ao ano, desde que convenientemente proporcionando mudas de maior altura,
porque, em ambiente desprotegido, há o esterilizadas. Assim, antes da reutilização, número de folhas e espessura de caule.
efeito negativo de fatores climáticos desfa- fazer a lavagem e a desinfecção com hipo- No preparo de substrato para copinhos
voráveis, perdas por desbaste e outros fa- clorito de sódio (água sanitária a 2%-3%), de jornal, podem ser utilizados diversos
tores. Enquanto em sementeira gastam-se emergindo-as nesta solução por 15 minutos tipos de misturas. Por exemplo, solo oriun-
aproximadamente 300 g de sementes para a e, em seguida, secá-las ao sol. do de perfil profundo, com esterco de gado
produção de mudas suficientes para plantar curtido, na proporção de 2:1. Em cada mil
um hectare, na produção de mudas em ban- Substrato para produção litros da mistura, são acrescentados 7 kg
dejas gastam-se 80 a 100 g. Para produção de mudas de calcário e 3 kg de nutrientes correspon-
de mudas de tomate, são mais comumente Substrato é uma mistura de materiais dentes à fórmula 2-20-2 (FONTES; SILVA,
utilizadas as bandejas de isopor com 128 inerte e orgânico, normalmente enriquecido 2002). Existem outras fórmulas de subs-
células. Cada célula tem 3,5 cm de largura, com nutrientes minerais, para permitir que tratos para produção de mudas em copinho
6,2 cm de altura e 34,6 cm3 de volume. a planta se forme forte e sadia. Na escolha de jornal. Segundo Fontes e Silva (2002),
No preenchimento das bandejas, utilizam- do substrato, deve-se levar em conside- pode-se utilizar o seguinte substrato: 60 L
se substrato comercial ou preparado à base ração a capacidade de retenção de nutrien- de solo de barranco, 10 L de areia, 20 L de
de vermiculita, fertilizantes, principalmen- tes e umidade, boa aeração, baixa resistên- esterco de curral curtido, 700 g de calcário
te à base de fósforo e potássio, e material cia à penetração das raízes e boa resistên- dolomítico e 300 g do adubo 2–20–2. Na
orgânico, como esterco bovino curtido. cia à perda de estrutura (SILVA JÚNIOR; produção de substrato para bandejas de
Nesse caso, para evitar a ocorrência de doen- VISCONTI, 1991). Um aspecto importante isopor, é importante acrescentar de 10% a
ças, pragas e plantas daninhas, recomenda- é a estrutura, determinada pelo tamanho 20% de material inerte, vermiculita ou casca
se o expurgo do esterco. A vermiculita fa- e a disposição das partículas do solo e do de arroz carbonizada, para melhorar suas
vorece a retenção de água e melhora a material orgânico, e a porosidade do subs- características.
germinação. Antes do preenchimento das trato. Vários são os substratos utilizados Quando preparado na propriedade, o
bandejas, o substrato é levemente umede- na produção de mudas, e diferentes ma- substrato deve ser desinfetado 15 dias antes
cido, para não sair pelo fundo da bandeja. teriais, em diferentes proporções, podem do preenchimento dos copinhos ou ban-
Após o preenchimento, com cuidado para ser combinados. No Brasil, de acordo com dejas, para evitar o aparecimento de doen-
não compactar o substrato, faz-se o semeio Borne (1999), é largamente utilizada a com- ças e plantas daninhas. A desinfestação
com auxílio de um semeador, para centrali- binação de solo e esterco curtido de animais pode ser obtida, principalmente, com apli-
zar a semeadura, padronizando-se a pro- ou outra fonte de matéria orgânica, que atua cação de agentes físicos e químicos. O pro-
fundidade de colocação das sementes. Em como reservatório de nutrientes e influen- cesso químico apresenta limitações quanto
seguida, as bandejas são molhadas e empi- cia positivamente a capacidade de troca do à segurança, custos, resíduos e fitotoxici-
lhadas, para manter a umidade no substrato solo. Atualmente, existem diferentes firmas dade. No processo físico, podem-se utilizar
e favorecer a germinação. produtoras de substratos para a produção diferentes métodos para obtenção de calor,
Ao iniciar a emergência, as bandejas de mudas de tomate. Entretanto, o produtor necessários à esterilização. Na autoclave,
devem ser mantidas em suportes apropria- deve avaliar o custo de aquisição e a quali- o substrato deve ser submetido à tempera-
dos, de madeira ou alumínio, à altura de dade de um substrato pronto e comparar tura entre 100oC e 120oC por quatro horas;
0,8 a 1 m do chão, o que facilita o arejamen- com o custo de produção do seu próprio ao utilizar-se a resistência elétrica é preci-
to, a poda das raízes pelo ar e a menor con- substrato. so construir uma caixa reforçada de madei-
taminação por pragas e doenças. A irriga- Para que ocorra rápido e vigoroso cres- ra, dotada de resistência elétrica, sendo o
ção é normalmente feita por microasper- cimento das raízes, o substrato deve reunir substrato mantido nesta caixa por 8 a 10
são, umedecendo-se as mudas três a quatro diferentes características, tais como: boa horas, em temperatura de 120oC, e retirado
vezes ao dia com pouca intensidade. Poste- aeração, boa capacidade de armazenamen- após o resfriamento. A desvantagem desses
riormente, a irrigação é reduzida para uma to de água, baixa resistência à penetração dois sistemas é o alto custo (MAKISHIMA;
ou duas vezes ao dia, para melhor adap- das raízes e boa resistência à perda de CARRIJO, 1998).
tação das mudas às condições de campo. estrutura. De acordo com Silva Júnior e O método físico mais econômico e
O produtor deve ficar atento ao desenvolvi- Visconti (1991), a adição de cama de aviário seguro para a esterilização de substrato é a
mento das mudas. Se necessário, adubar, à terra favoreceu o desenvolvimento das solarização ou pasteurização solar, com
principalmente com nitrogênio (N) e po- mudas de tomate, e a melhor combinação utilização de plástico (polietileno) e radia-
tássio (K). ocorreu quando o substrato era composto ção solar, que é gratuita e pode ser usada
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em diversas épocas do ano, além da não- 30% restantes deverão ser incorporados de profundidade e 30 a 40 cm de largura. O
utilização de produtos considerados tóxi- superficialmente, antes da gradagem. plantio deve ser feito utilizando-se uma
cos ou, ainda, biocidas. Este método visa Os plantios devem ser feitos preferen- muda por cova. O tomateiro na sua forma
o controle de patógenos, pragas e plantas cialmente em solos não cultivados anterior- natural apresenta desenvolvimento rastei-
daninhas por meio da elevação da tempe- mente com tomate e distantes de planta- ro, uma vez que o caule não suporta o peso
ratura, obtida a partir da energia solar, com ções de fumo e hortaliças da mesma famí- acrescido de folhas e frutos, necessitando
a aplicação de cobertura plástica fina e trans- lia como: batata, pimentão, jiló e berinjela. ser tutorado, para que os frutos de tomate
parente sobre o solo úmido. Ghini et al. O cultivo continuado de uma mesma espé- para mesa não se desenvolvam em contato
(1992) testaram a eficiência de um coletor cie vegetal pode aumentar a incidência de com o solo.
de energia solar, com superfície absorve- doenças e pragas, já que os agentes trans- Para as cultivares e híbridos do grupo
dora de chapa galvanizada ou chapa de missores permanecem nos restos de cultu- Santa Cruz, o sistema tradicional de tu-
alumínio, no controle de Sclerotium rolfsii, ras. Assim, é recomendável a rotação de cul- toramento, utilizando-se a “cerca cruzada”
Rhizoctonia solani, Verticillium sp., turas, arranquio e queimada ou enterrio de ou o “V invertido”, com altura de 2,20 m e
Meloidogyne arenaria e Cyperus rotundus tomateiros velhos, fora da área de plantio. espaçamento de 1,0 x 0,5 m, ainda é o mais
(tiririca). O modelo utilizado foi eficiente na utilizado. Em cada cova, planta-se uma
obtenção de faixas de temperaturas neces- ESPAÇAMENTO DE PLANTIO muda que será conduzida com uma ou duas
sárias ao tratamento térmico de substrato E TUTORAMENTO hastes ou caules. Há casos de ser planta-
para produção de mudas e houve inativa- das duas mudas por cova, sendo condu-
As mudas são transplantadas, quando
ção completa desses organismos e dos tu- zidas com uma haste cada. Neste sistema
apresentarem de quatro a seis folhas defi-
bérculos de tiririca, misturados com o subs- de cerca cruzada, há formação de uma
nitivas, sem estiolamento, e estiverem bem
trato no coletor solar. De acordo com estes câmara úmida e aquecida sob o V invertido,
desenvolvidas e enraizadas. O espaça-
autores, a exposição do substrato a 50oC que pode favorecer o desenvolvimento de
mento vai depender das características da
por 20 minutos levou à inativação dos fungos, além de dificultar as pulverizações
cultivar ou do híbrido utilizado, do sistema
escleródios de S. rolfsii. Para Verticillium para controle das doenças e pragas.
de condução da planta e também da época
sp., observaram-se comportamentos dife- Assim, foi desenvolvido um sistema
do ano. Para tomate do grupo Santa Cruz,
rentes entre os isolados, quanto à sensi- alternativo de tutoramento em ziguezague,
o espaçamento mais utilizado é 1 m entre-
bilidade térmica. De modo geral, a elimina- onde as mudas são plantadas no espaça-
linhas e 0,5 a 0,6 m entre plantas, para con-
ção foi completa com cinco horas a tempe- mento de 1 m entre fileiras e de 1 m na linha
dução com duas hastes e para plantios de
raturas superiores a 50oC. Para assegurar a de plantio, com duas plantas por cova. Para
inverno e verão, respectivamente. No gru-
eliminação de patógenos e a morte de formar o ziguezague nas fileiras, o plantio
po Salada, utiliza-se 1,20 m entrelinhas e
estruturas reprodutivas no substrato, Ghini em uma das filas de cada par deve começar
0,6 a 0,7 m entre plantas, para plantios de
et al. (1992) recomendam de dois a quatro a 0,50 m antes da outra. As taquaras são
inverno e verão, respectivamente. Um dos
dias de tratamento, com radiação plena. fincadas juntas e logo à frente das duas
fatores de maior influência no desenvolvi-
mento das plantas e na produtividade é a plantas, amarradas duas a duas no arame,
ESCOLHA DO LOCAL uma de uma fila com a outra da fila do par.
densidade de plantio, ou seja, a população
DE PLANTIO As plantas são amarradas, uma por taqua-
de plantas por área. O espaçamento ade-
Os terrenos utilizados para receber as quado entre plantas e linhas é importante ra e conduzidas com uma ou duas hastes.
mudas devem ser facilmente irrigados, com para otimização do uso da área e prevenção O desencontro das covas das filas pares
boa drenagem e possuir água de boa qua- de doenças. Quando se eleva o número de obtido no tutoramento ziguezague oferece
lidade. Solo argiloso, excessivamente úmi- plantas por unidade de área, tem-se acrés- boa ventilação e impede a formação de tú-
do, com pouca aeração, deve ser evitado, cimo na produtividade e, até certo ponto, nel fechado, facilitando a insolação, que
pois favorece o desenvolvimento de doen- não prejudica o tamanho dos frutos. Con- será máxima, se o alinhamento for no sen-
ças. A escolha do local deve ser feita com tudo, população acima daquela conside- tido norte-sul (REBELO, 1997). A boa inso-
antecedência, para que seja efetuada a aná- rada adequada provoca sombreamento das lação e a eficiente ventilação, conseguidas
lise do solo, verificada a necessidade de folhas, menor disponibilidade de luz, maior neste sistema, promovem rápido enxuga-
calagem e feito o preparo adequado da área. umidade, menor ventilação e tamanho de mento de toda a planta, o que dificulta a
Cerca de 70% da quantidade recomenda- frutos, além de as plantas ficarem mais germinação de esporos dos patógenos e
da de calcário deve ser aplicada na área e sujeitas ao ataque de doenças. facilita a polinização. O sistema de tuto-
incorporada com aradura profunda, mínima Definido o espaçamento, fazem-se os ramento ziguezague facilita a execução dos
de 20 cm, 90 dias antes do transplante. Os sulcos com 0,5% de desnível, 15 a 20 cm tratos culturais, aumenta a produtividade
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24 Tomate para Mesa

do trabalhador e diminui o custo de pro- de nylon aos dois arames, no mesmo espa- semanalmente ou a cada 15 dias dependen-
dução. O estaqueamento do tomateiro deve çamento do tomateiro. De tempos em tem- do da taxa de crescimento da planta. O amar-
ser feito com varas de bambus novas ou pos, cada tomateiro será “girado” em volta rio pode ser feito com fibra natural ou com
varas que não sejam provenientes de cul- do fitilho. Dependendo da época do ano e fitilho de plástico.
turas com problemas bacterianos. do peso dos frutos, pode haver rompimento
Alternativamente ao método da cerca do fitilho, se não for de boa qualidade. ROTAÇÃO DE CULTURAS
cruzada, onde o tomateiro é conduzido Para híbridos de crescimento determi- E ADUBAÇÃO VERDE
inclinado em relação ao solo, pode ser usa- nado e semideterminado, normalmente
A rotação de culturas, evitando a repe-
do o tutoramento vertical (FONTES et al., conduzidos com mais de uma haste por
tição da mesma cultura em um mesmo lu-
1987). No sistema proposto, este tutora- planta, o sistema de arames paralelos é mui-
gar, visa prevenir a concentração de pató-
mento do tomateiro é combinado com a to aceito. Fios de arame são passados no
genos, pragas, plantas daninhas, bem
poda drástica do caule após o terceiro ca- sentido do comprimento da linha de plan-
como a preservação da fertilidade do solo
cho e com o dobro de plantas por unidade tio, paralelos, distantes cerca de 30 cm um
e a produtividade das culturas. Normal-
de área, diferente do que é feito no modo do outro até a altura desejada (normalmente
mente, é recomendada a utilização de cul-
tradicional. Tal combinação proporciona 1,50 a 1,60 m de altura). As plantas são con-
turas de raiz profunda, seguida de uma de
maior população de plantas por hectare e, duzidas nesses arames até a parte superior
raiz superficial. Para que a rotação melhore
normalmente, maior precocidade de produ- do sistema (MORAES, 1997).
as características do solo, deve haver plan-
ção, menor gasto de defensivos e redução tas destinadas à cobertura vegetal do so-
de mão-de-obra, em relação ao modo tradi- DESBROTA E AMARRIO
lo, cultivada em condições solteiras ou em
cional. Silva et al. (1997), trabalhando com A desbrota é uma prática indispensável consórcio com culturas comerciais (CHAVES;
a cultivar Santa Clara, verificaram que no para os produtores de tomate estaqueado. CALEGARI, 2001). Na escolha da cobertu-
sistema tutorado modificado, ou seja, tuto- Ela consiste na retirada dos brotos laterais, ra vegetal do solo, além da produção de
ramento vertical com uso de calda viçosa, no início do desenvolvimento. Para culti- grande quantidade de biomassa, deve-se
preventivamente, a cada 15 dias e sendo vares de crescimento indeterminado, são dar preferência a plantas fixadoras de nitro-
feita a poda apical acima do 7o cacho, houve deixados um ou dois caules (hastes) por gênio, a plantas que não sejam hospedeiras
maior precocidade de produção de frutos planta. Nesse caso, são deixadas a haste de nematóides e não apresentem efeito
grandes e maior controle de Alternaria principal e aquela imediatamente abaixo alelopáticos para as culturas comerciais. Em
solani, em relação ao tutoramento tradicio- do primeiro cacho. Para cultivares de cres- locais onde já se cultivou tomate ou outras
nal, com menor número de pulverizações cimento determinado, para produção de plantas da família Solanaceae, a rotação é
com fungicidas tradicionais, sendo, por- frutos para mesa, são deixados até quatro feita com as da família das gramíneas, como
tanto, mais apropriado do ponto de vista caules por planta. Para tomate do grupo milho, arroz, sorgo, por um período de dois
ambiental. Salada ou Caqui adota-se uma variação no anos, visando reduzir a quantidade de
Além do tutoramento vertical com bam- número de hastes, visando melhoria na patógenos do solo. As gramíneas de baixo
bu, existe o método de tutoramento vertical qualidade dos frutos e nos tratos culturais. porte, que cobrem o solo, são eficientes na
com fitilho que consiste em fincar um Entretanto, esta variação vai depender do recuperação da estrutura do solo.
mourão de 15 a 20 cm de diâmetro e 2,30 m manejo específico daquele híbrido forne- A adubação verde caminha próxima à
de comprimento no solo, na profundidade cido pela empresa responsável pelas se- rotação de culturas e também visa à melho-
de 40 cm, a intervalos de 4 a 5 m, ao longo mentes (MORAES, 1997). ria da capacidade produtiva do solo. Assim,
da linha de plantio. São esticados dois fios A poda apical, também chamada de espécies vegetais como aveia preta, tremo-
de arame nesses mourões. No topo, coloca- capação, é feita aproximadamente 60 dias ço e leguminosas incorporadas ao solo no
se arame no 12 e, a 5 cm do solo, arame no 14. após o plantio, ou quando as plantas apre- início da floração melhoram sua fertilidade,
Na extremidade de cada fileira, deve-se co- sentarem o número desejado de cachos/plan- pois as folhas contêm nutrientes, princi-
locar uma estaca reforçada, espia, no ângu- ta. Tanto na desbrota quanto na poda, não palmente o nitrogênio. As leguminosas de-
lo de 45º, para escorar o mourão. A cada se deve utilizar ferramenta. Estas são feitas vem ser utilizadas para a adubação verde
duas ou três plantas, deve-se colocar uma manualmente, à distância de 2 cm da haste porque fixam nitrogênio, e a incorporação
estaca de bambu para sustentar o arame principal da planta. ao solo no início da floração evita que se
superior, evitando-se sua curvatura acen- Concomitantemente às podas laterais torne fibrosa. Adubos verdes consomem
tuada. Na Universidade Federal de Viçosa ou desbrotas, o tomaticultor deve amarrar carbono existente no solo, com isto contri-
(UFV), tem-se usado bambu ao invés do o tomateiro ao tutor de bambu e/ou enrolá- buem pouco para o aumento do teor de ma-
arame superior. Deve-se amarrar o fitilho lo ao fitilho. Os amarrios podem ser feitos téria orgânica do solo (PRIMAVESI, 1990).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.19-25, 2003
Tomate para Mesa 25

Patógeno, que ataca a parte aérea de CHAVES, J.C.D.; CALEGARI, A. Adubação verde MELO, P.C.T. de. Efeitos adversos de fatores
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zida pelo plantio por um ou dois anos de tomates no sistema NFT (técnica do fluxo laminar
DELLA VECCHIA, P.T.; KOCH, P.S. Tomates
culturas pertencentes à espécie ou família longa vida: o que são, como foram desenvolvi- de nutrientes). Jundiai: DISQ, 1997. 141p.
não hospedeira daquele patógeno. Como dos? Horticultura Brasileira, Brasília, v.18,
exemplo, citam-se aqueles que atacam a PRIMAVESI, A. Manejo ecológico do solo: a
n.1, p.3-4, mar. 2000.
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parte aérea das plantas, que não formam
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n.194, p.355-365, jul./ago. 1987.
planejamento no momento de implantar a
SILVA, D.J.H. da; SEDIYAMA, M.A.N.; MATA,
lavoura de tomate e não simplesmente mu- _______; SILVA, D.J.H. Produção de toma- A.C. da; ROCHA, D.M. da; PICANÇO, M.C.
dar de culturas. Esta prática pode conduzir te de mesa. Viçosa, MG: Aprenda Fácil, 2002. Produção de frutos de tomateiro (Lycopersicon
a diversificação das atividades na proprie- 193p. esculentum Mill) em quatro sistemas de cultivo.
dade, podendo ser culturas anuais de explo- Revista Ceres, Viçosa, MG, v.44, n.252, p.129-
GHINI, R.; BETTIOL, W.; ARMOND, G.;
ração econômica na região ou pastagem. 141, mar./abr. 1997.
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CARVALHO, S.P. de; GUIMARÃES, A.M. MAKISHIMA, N.; CARRIJO, O.A. Cultivo pro-
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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.19-25, 2003


Recuperação de Áreas Degradadas Gado de Leite Agricultura Alternativa
Nº210 - R$ 12,00 Nº211 - R$ 12,00 Nº212 - R$ 12,00

Produção Integrada de Frutas Café Orgânico Produção e Certificação de Cachaça Artesanal de Minas
Nº213 - R$ 12,00 Nº214/215 - R$ 15,00 Mudas de Plantas Frutíferas Nº217 - R$ 12,00
Nº216 - R$ 12,00

Cultura da Cebola
Nº218 - R$ 12,00
Tomate para Mesa 27

Nutrição mineral do tomate para mesa


Paulo Cezar Rezende Fontes 1
Paulo Roberto Gomes Pereira 2

Resumo - São apresentadas informações sobre os nutrientes minerais, que enfocam formas
e mecanismos de absorção e de transporte, funções, interações, sintomas de deficiências,
quantidades acumuladas na planta, composição mineral da folha, qualidade dos frutos do
tomateiro e características edafoclimáticas e da planta que influenciam a absorção e o
transporte do nutriente. Essas informações são raramente apresentadas em textos de
nutrição mineral, sendo importantes no diagnóstico do estado nutricional, na interpretação
da análise foliar e na otimização do fornecimento de nutrientes ao tomateiro.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Nutrientes; Minerais; Absorção; Transporte;
Qualidade dos frutos.

INTRODUÇÃO nutrientes existentes na semente. Poste- são promovida pela diferença do potencial
O objetivo da agricultura é otimizar a riormente, a planta passa a depender dos químico entre a solução do solo e a super-
interação entre os fatores que influenciam nutrientes existentes no substrato. São fície da raiz. Por exemplo, o fósforo está
o crescimento, desenvolvimento e compo- pouco comuns estudos relacionando o esta- normalmente presente em baixa concen-
do nutricional das mudas com a perfor- tração na solução do solo, devido à adsor-
sição das plantas. Tais fatores são água,
mance do tomateiro no campo (DUFAULT, ção às cargas positivas no complexo de
luz, CO2, temperatura, genótipo e nutrien-
1998). A quantidade de cada nutriente troca. Neste caso, o volume de água que
tes. Dentre estes, a adição de nutrientes
requerida para o metabolismo é obtida da chega à raiz transporta pequena quanti-
assume grande importância para a maioria
solução do solo pelas raízes do tomateiro. dade de fósforo, dependendo, assim, da
dos solos brasileiros que são de baixa fer-
Os nutrientes são transportados, nas for- difusão para a chegada do íon até a raiz.
tilidade natural. Para otimizar a nutrição da
mas iônica ou complexada, até a superfície Entretanto, na cultura do tomate, onde se
planta e melhorar a qualidade nutricional do
da raiz por fluxo de massa (ele é arrastado adiciona localizadamente grande dose de
produto para a saúde humana (GRUSAK;
pela massa de água que flui a favor de um fertilizante fosfatado solúvel em água, que
DELLAPENNA, 1999), é preciso conhecer
gradiente de potencial hídrico promovido ultrapassa a capacidade máxima de adsor-
o comportamento dos nutrientes no solo,
pela transpiração), por difusão (movimento são de P daquele volume de solo, o fluxo
as principais formas químicas que são absor-
a curta distância promovido pelo gradiente da massa de água contendo maior concen-
vidas e transportadas no xilema e floema e
de potencial químico) e, pouco significati- tração de P passa a ser importante mecanis-
as funções na planta. Também, é importan-
vamente, por interceptação radicular (con- mo. Assim, em condições de alta concen-
te saber como as características do solo,
tato ao acaso e direto da raiz com o íon). tração dos nutrientes na solução do solo,
planta e ambiente determinam a composição
O que determina a importância da difusão como normalmente ocorre em solos com
mineral da folha e do fruto, características ou do fluxo em massa para o transporte tomateiro, o fluxo de massa é o mecanismo
fundamentais no diagnóstico do estado solo/raiz é a concentração do nutriente na predominante para o transporte do íon até
nutricional da planta e na avaliação da solução do solo. a raiz.
qualidade organoléptica do fruto. Quando a concentração do nutriente A intensidade de chegada dos íons à
na solução do solo é baixa, determinada superfície da raiz dependerá da remoção
TRANSPORTE DOS NUTRIENTES em parte pela capacidade de troca catiônica pela planta (absorção) e da capacidade do
NO SOLO ATÉ A RAIZ (CTC), capacidade de troca aniônica (CTA) solo em suprir o nutriente à solução do
Para o desenvolvimento do embrião e e teor de água no solo, o contato do íon solo. As principais características do solo
das primeiras raízes, o tomateiro utiliza os com a superfície da raiz depende da difu- que determinam diretamente a capacidade

1
Engo Agro, Ph.D., Prof. Tit. UFV – Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: pacerefo@ufv.br
2
Engo Agro, D.S., Prof. Adj. UFV – Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: ppereira@ufv.br

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de suprir nutrientes às plantas são: fator MOVIMENTAÇÃO DO ÍON aquaporins para água e canais ou carrea-
intensidade (concentração do íon na solu- NA PLANTA doras para nutrientes.
ção do solo), fator quantidade (ligado ao (ABSORÇÃO E TRANSPORTE) O transporte do nutriente pela mem-
complexo de troca) e a relação entre estes, Os processos inter e intracelular envol- brana pode ser passivo, ou seja, por sim-
denominado fator capacidade (FONTES; vidos e a translocação a longa distância ples difusão a favor de um gradiente de
BARBER, 1984). A compactação do solo dos nutrientes, nas formas iônica, com- potencial eletroquímico ou ativo, se for na
prejudica a difusão de nutrientes e o cresci- plexada ou quelatizada, no xilema e floema, direção do menor para o maior potencial
mento radicular do tomateiro (FONTES et não serão detalhados. Após o contato com eletroquímico. O gradiente de potencial ele-
al., 1984). Solos compactados, por imple- a superfície da raiz, o nutriente deve ser troquímico é formado, principalmente, pelo
mentos ou por excesso de fertilizantes que absorvido (penetrar na membrana plas- gradiente de potencial elétrico ou também
promovem a dispersão das partículas e mática), chegar ao citoplasma e ser trans- chamado potencial de membrana (diferença
aumentam a densidade, podem respon- portado, pelo xilema, da raiz à parte aérea entre cargas positivas e negativas) e pelo
der positivamente à adição de P, mesmo (transporte de longa distância), onde exer- gradiente de potencial químico (diferença
quando a análise indica alto teor. cerão suas funções. Em termos práticos, o de atividade química) entre as partes interna
As características anatomorfológicas e conhecimento sobre o transporte no xilema e externa da molécula do nutriente. A difu-
fisiológicas da raiz (arquitetura, densidade pode facilitar o diagnóstico por testes rápi- são pode ser diretamente pela bicamada
de superfície, quantidade de pêlos absor- dos. O conhecimento sobre a remobiliza- de fosfolipídeos, se a molécula for apolar
ventes), presença de organismos em inte- ção no floema ajuda a definir o padrão de (H3BO3), ou por canais hidrofílicos, forma-
ração mutualística, volume de solo explo- ocorrência de sintomas de deficiências dos dos por proteínas integrais transmembra-
rado influenciam a chegada de nutrientes à nutrientes na planta, auxiliando no diagnós- nas, se for polar (K+). Neste caso, a veloci-
raiz, mesmo em solo contendo baixos teores tico nutricional. dade de absorção aumenta linearmente com
como no caso da maioria dos micronutrien- Inicialmente, o nutriente movimenta-se o aumento da concentração externa e a se-
tes. Ademais, as plantas possuem estraté- até o xilema seguindo dois possíveis cami- letividade é promovida pelo diâmetro, tipo
gias para modificar o ambiente da rizosfera, nhos: apoplasto e simplasto. O apoplasto e densidade de carga do canal formado pela
como por exemplo, a solubilização dos nu- é formado pelo espaço externo à membrana proteína.
trientes da fase sólida e associação com citoplasmática e o simplasto é um contínuo O transporte ativo é promovido, normal-
microrganismos. Com certeza, outras carac- formado pela parte interna à membrana, mente, por proteínas carreadoras, ou seja,
terísticas afetam o transporte do nutriente interconectado por estruturas denomina- proteínas integrais que alteram sua confor-
até a raiz, porém, de maneira indireta, pro- das plasmodesmos. No apoplasto, o movi- mação para promover o transporte cuja
porcionando maior ou menor crescimento mento iônico é influenciado por cargas velocidade segue a cinética de Michaelis-
da planta e, conseqüentemente, remoção negativas originadas da dissociação de Menten, ocorrendo saturação. O transporte
diferenciada do nutriente da solução do grupos carboxílicos do ácido poligalactu- ativo pode ser primário, como ocorre com
solo. Com alta concentração na solução do rônico da parede celular, de aminoácidos o transporte de H+ ou Ca++ para o exterior
solo, há aumento na absorção do nutriente, das proteínas extrínsecas à membrana, entre da membrana, promovido respectivamente
e aumentam-se também o efluxo e a concen- outros compostos que somados consti- por H-ATPase ou Ca-ATPase que modi-
tração do nutriente nos vacúolos, na ten- tuem a CTC radicular (soma de cargas nega- ficam a conformação após a fosforilação
tativa de a planta manter constante a con- tivas no apoplasto do córtex). O movimento pelo ATP. O transporte ativo secundário
centração citoplasmática. Assim, a planta de água e íons no apoplasto é limitado pe- ocorre com a mudança na conformação da
adapta, precisamente, a absorção em res- la estria de Caspary, que é formada pela proteína promovida pela maior concen-
posta à demanda e ao fornecimento do deposição de substâncias hidrofóbicas na tração de H+ no lado externo da membrana,
nutriente, utilizando mecanismos de carrea- parede celular da endoderme. A partir da devido à H-ATPase e à conseqüente liga-
dores, finamente sintonizados. barreira hidrofóbica, a água e os nutrientes ção desses H+ e do íon à proteína carreado-
As características físicas, químicas e devem ser absorvidos, ou seja, devem ultra- ra, com a liberação dos dois íons no lado
biológicas do solo, juntamente com o pro- passar a membrana citoplasmática das interno da célula. Este, também chama-
grama de fertilização adotado na cultura, células que exercem função seletiva. A do simporte, é a forma de transporte dos
definem a concentração total e a compo- membrana é formada por uma bicamada de ânions sulfato, fosfato e nitrato, com a
sição da solução do solo que serão respon- fosfolipídeos ou por sulfolipídeos, com estequiometria do número de prótons para
sáveis pela interação entre os nutrientes proteínas integrais transmembranas ou cada ânion, sendo variável.
no solo, conforme assunto abordado no extrínsecas. O transporte de água e nutri- A absorção desbalanceada entre cá-
item: Interação entre nutrientes, deste arti- entes pela membrana dá-se principalmente tions e ânions, por exemplo NH4+ e NO3--,
go. por meio de proteínas integrais, sendo resulta na alteração do pH, devido a meca-
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nismos da célula para ajustar as cargas. segue a corrente transpiratória. Durante o quando a UR e a disponibilidade de água
Com a maior absorção de NH4+, a célula transporte no xilema, as cargas negativas no solo estão baixas, as folhas mais velhas
libera H+, reduzindo o pH. Com a maior existentes na superfície dos vasos promo- e os tecidos de maior capacidade transpi-
absorção de NO3--, ocorre maior consu- vem alteração da composição da solução ratória receberão mais água e, assim, mais
mo de prótons do exterior e a célula libera ascendente. Por esta razão, a análise da nutrientes que estão no xilema, podendo
CO3-- que também consome prótons, ele- seiva do xilema deve ser feita sempre na ocorrer inclusive toxidez, se a disponibi-
vando o pH externo. Em condição de baixa mesma altura do caule da planta. O órgão lidade deste nutriente no solo for alta, e
disponibilidade de NO3--, o Cl-- assume de maior transpiração receberá a maior deficiências em outros órgãos ou tecidos
função importante no balanço de carga na proporção de nutrientes vindos pelo xile- se a disponibilidade for baixa.
planta (WHITE; BROADLEY, 2001). No ma, podendo atender à demanda ou causar Recentemente, tem sido questionada a
solo, a concentração de NH4+ é menor que toxidez se o suprimento for muito maior que real importância da transpiração como pré-
a de N03--. Ambas as formas são absorvi- o necessário. O íon é liberado no apoplasto requisito para o transporte de nutrientes da
das pelo tomateiro. Porém, a absorção de do órgão, ocorrendo a reabsorção, ou seja, raiz para a parte aérea da planta (TANNER;
NH4+ é menos afetada por baixa temperatu- o transporte pela membrana da mesma BEEVERS, 2001). Entretanto, em condições
ra, apesar de haver variações genotípicas forma que ocorre nas raízes. de alta disponibilidade de determinados
(SMART; BLOOM, 1991). O transporte do nutriente na planta nutrientes, a ocorrência de toxidez nas fo-
Normalmente, as plantas acumulam ocorre por meio de dois mecanismos: lhas de maior transpiração continua refor-
grande quantidade de nutrientes durante a a) pressão de raiz; çando a importância da transpiração para
fase vegetativa, principalmente K e N, que b) gradiente do potencial de água entre o transporte a longa distância na planta.
é remobilizada, mais tarde, para os órgãos a solução do solo, as células da raiz, Quando a UR está alta, próximo à saturação,
reprodutivos. Para a incorporação do N em o xilema e a atmosfera. há decréscimo até paralisação da transpi-
compostos orgânicos, é necessário haver A pressão de raiz ocorre, devido à con- ração e intensificação da pressão radicular
esqueletos carbônicos. Limitação de car- centração dos íons inorgânicos nos vasos que é responsável pela gutação e envio de
boidratos na raiz provoca decréscimo na do xilema ser maior (menor potencial osmó- nutrientes para os órgãos ou tecidos com
absorção de NH4+ pela falta de esqueleto tico) que na solução do solo, mas menor baixa capacidade transpiratória, como os
de carbono para a biossíntese de aminoáci- que no citoplasma ou no vacúolo. frutos.
dos. Há indicação que o suprimento de açú- A absorção e o transporte de nutrientes A pressão radicular é importante prin-
car (glicose e sacarose) à raiz aumenta tanto podem ser influenciados por diversas ca- cipalmente para nutrientes pouco móveis
a absorção de NH4+, como a expressão dos racterísticas morfológicas, anatômicas e no floema, como o Ca. Outros exemplos de
genes da família AMT1, indicando que a químicas das raízes e da parte aérea da plan- fatores que influenciam a absorção e a dis-
presença de açúcar (carboidrato) pode re- ta. Por exemplo, a superfície de absorção, tribuição dos nutrientes nas plantas são a
gular a expressão de genes envolvidos no que é determinada pelo diâmetro, compri- intensidade dos ventos, que determina a
transporte de NH4+ (DOBOSZ et al., 2001) mento e número de raízes inclusive dos pê- retirada de moléculas de água que evapo-
e codificadores de proteínas envolvidas na los radiculares. A mais ativa absorção iôni- ram da câmara subestomática das folhas, a
fotossíntese, respiração e metabolismo do ca ocorre na região de extensão e diferen- incidência direta de luz solar que aquece
nitrogênio. Diversos genes (NRT1, NRT2, ciação celular próximo à coifa e nos pêlos as folhas, entre outros. Enfim, todos os
MEP1, AMT1, por exemplo) codificado- radiculares que contribuem com até 70% fatores que influenciam o crescimento e o
res de proteínas carregadoras de NH4+ e de da superfície de absorção, importante espe- desenvolvimento influenciam a demanda
NO3-- têm sido isolados em diferentes espé- cialmente para íons de baixa concentração de nutrientes pelas plantas e, conseqüen-
cies. A absorção na membrana é controlada na solução do solo como o fosfato e os mi- temente, a absorção e o transporte.
por genes responsáveis pela síntese das cronutrientes Zn, Cu e Mn. As caracterís- Para preencher as funções, os íons de-
proteínas envolvidas no processo (ORSEL ticas que influenciam diretamente a transpi- vem ser mantidos em apropriadas concen-
et al., 2002). ração da planta como área foliar, pilosidade, trações nas diversas partes da planta sendo
O íon no simplasto pode atender à de- arquitetura da planta e ângulo de inserção conhecidos como homeostase iônica. Tal
manda metabólica da célula no citoplas- da folha, que determinam a exposição direta regulação ocorre em vários comparti-
ma ou ser armazenado no vacúolo ou à luz solar e a ventos, também influenciam mentos da célula. A homeostase em nível
movimentar-se de célula a célula, passan- a absorção e o transporte de nutrientes. celular e de folha está relacionada com a
do de um citosol para outro por meio dos As principais características ambientais atividade de transporte por complicado sis-
plasmodesmos até serem liberados nas que influenciam a absorção e o transporte tema de membranas (plasmalema e tono-
células do xilema. Nestas, o íon é arrastado de nutrientes são água, umidade relativa plasto), carreadores e bomba de H+, cujas
para a parte aérea pela massa de água que (UR), luz, temperatura e vento. Por exemplo, atividades são específicas para cada íon e,
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quase sempre, controladas pela concen- do ar. Os demais nutrientes, N, P, S, B, Cl, palmente a densidade e a taxa de infiltração
tração do próprio íon. No citoplasma (pool Mo, K, Mg, Ca, Mn, Zn, Fe, Cu, Ni são de água. A absorção de moléculas orgâni-
metabólico), os níveis quase constantes dos obtidos da solução do solo, sendo os sete cas e a possibilidade de haver grupamentos
nutrientes são mantidos por um “fundo de últimos absorvidos na forma de íons metá- funcionais nos ácidos húmicos, presentes
reserva” extracelular, adsorvidos no espa- licos e os demais na forma de óxidos, exceto na matéria orgânica, similares a auxinas,
ço apoplástico das células epidérmias e cor- o Cl e o NH4 (Quadro 1). Possivelmente, como recentemente proposto, são muito
ticais da raiz ou acumulados nos vacúolos outros elementos serão descobertos, de- pouco estudados.
(pool não-metabólico). Tais reservas são vido ao avanço na metodologia analítica Cada nutriente desempenha funções
constituídas em período de não deficiência. (WELCH, 1995). bioquímicas ou biofísicas específicas na cé-
A distribuição interna dos nutrientes de- A premissa que as culturas absorvem lula (Quadro 1), sendo que a ausência de
sempenha papel crítico na regulação de vá- somente o N inorgânico liberado da matéria um deles dificulta o metabolismo e impede
rios aspectos do desenvolvimento da plan- orgânica não está totalmente aceita. Há a planta de completar o ciclo. As funções
ta que é, usualmente, atribuída a fatores resultados que indicam haver absorção do podem ser:
hormonais (MCINTYRE, 2001). Tal hipó- N orgânico diretamente da solução do solo
a) estrutural (EST), o nutriente faz par-
tese precisa ser mais estudada. por espécies como a cenoura. Nesse caso,
te de alguma molécula que participa
Pequenas modificações nas condições o N orgânico penetra na parede celular
da estrutura da planta como proteínas,
edafoclimáticas não são capazes de provo- talvez por invaginações da plasmalema e
ácidos nucléicos, membrana etc.;
car variações sensíveis nas concentrações move-se para os vacúolos onde é hidroli-
dos nutrientes na planta, pois mecanismos sado (MATSUMOTO et al., 2000). A maio- b) osmótica (OSM) ou osmorregula-
de retroalimentação permitem ao tomateiro ria dos estudos baseia-se na premissa que dora ou reguladora de turgor das cé-
responder de modo homeostático às peque- a matéria orgânica pode fornecer apenas lulas, o nutriente no vacúolo reduz
nas flutuações. Havendo deficiência, os nutrientes inorgânicos ou melhorar determi- o potencial hídrico da célula e o com-
nutrientes (quase todos) são translocados nadas propriedades físicas do solo, princi- ponente osmótico, influenciando,
das folhas velhas para as novas. Na fase
reprodutiva, caso haja deficiência, a plan-
QUADRO 1 - Forma química absorvida e transportada no xilema, mobilidade no floema, principais
ta buscará os nutrientes necessários aos
funções e concentrações ótimas dos nutrientes na folha do tomateiro
frutos e às sementes nas reservas existen-
Teores
tes na raiz, caule e folha. Tais nutrientes Forma
Nutri- Forma Mobilidade Principais adequados
são transportados via xilema ou floema. Em transportada
ente absorvida no floema funções nas folhas(1)
caso de escassez, limitando sensivelmente no xilema
(A)
a absorção do nutriente, surgirão os sin-
tomas, visuais ou não, de deficiência nu- N NO3--, NH4+ NO3--, aminoácidos Alta EST; OSM 3,70 - 4,00
tricional. P H2PO4 --
H2PO4-- Alta EST; CFE 0,55 - 0,50
Detalhes sobre absorção e transporte K K +
K +
Alta OSM; CFE 5,80 - 4,80
de íons na planta podem ser encontrados
++ ++
Ca Ca Ca Baixa EST; CFE; BLC 1,50 - 1,80
em Welch (1995), Marschner (1995), Taiz;
Zeiger (1991), Dannel et al. (2002), Orsel et Mg Mg++ Mg++ Alta EST; BLC; CFE 0,70 - 0,70
al. (2002), Schjoerring et al. (2002), Berry S SO4= SO4= Intermediária EST 0,50 - 0,50
(2002).
B H3BO3 H3BO3 Baixa EST 25
++ ++
Zn Zn Zn-compl. ou Zn Intermediária CFE 50
FORMAS ABSORVIDAS, FUNÇÕES
++ ++
E COMPOSIÇÃO MINERAL Mn Mn Mn Baixa CFE 70

As formas químicas que os nutrientes Mo MoO4= MoO4= Alta CFE 0,6


são absorvidos independem se originadas Cu Cu++ Cu++ Baixa CFE 5
de fertilizante industrial ou de decompo- Fe Fe-Quel. ou Fe ++
Fe-complexado Intermediária CFE 70
sição da matéria orgânica. O conhecimento -- --
Cl Cl Cl Alta OSM ?
das formas químicas absorvidas pelas
++ ++
plantas é importante, pois pode definir as Ni Ni Ni Intermediária CFE ?
fontes de fertilizantes a serem utilizadas. FONTE: (A) Dados básicos: Fontes e Silva (2002).
As plantas obtêm os elementos essenciais NOTA: EST - Estrutural; OSM - Osmótica; CFE - Cofator enzimático; BLC - Balanço de cargas.
C do CO2 atmosférico e H e O da água e (1) Folhas adjacentes ao 20 e 30 cachos, respectivamente, amostrados nos seus florescimentos.

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Tomate para Mesa 31

assim, vários processos, como aber- na planta, ou o metabolismo, ou as funções de Ca e K; Mn reduz a absorção de Cu e
tura de estômatos, movimentos nás- de um nutriente são influenciadas por outro Fe. A absorção de NO3 em maior proporção
ticos etc.; nutriente, podendo ou não resultar em alte- que outros cátions pode elevar o pH da ri-
c) cofator enzimático (CFE), o nutrien- ração no crescimento. As interações podem zosfera e, assim, alterar a disponibilidade
te influencia a atividade de alguma ocorrer devido a ligações químicas entre de outros nutrientes. Os cátions podem
enzima da planta ao participar do seu os nutrientes, promovendo complexação aumentar a absorção de ânions por inter-
sítio ativo, ou promover mudança na ou precipitação (ocorre entre íons com pro- ferirem na dupla camada difusa existente
sua conformação ou ao transportar priedades químicas muito diferentes), ou próximo às cargas negativas no apoplasto.
elétrons; devido a competições entre íons com tama- O excesso de um cátion adsorvido nas car-
d) balanço de cargas (BLC), o nutriente nho, carga, geometria e configuração ele- gas negativas do apoplasto pode reduzir o
permanece na forma iônica na célula; trônica similares por sítios de adsorção acesso de outro cátion ao sítio de absorção
(óxidos e argilas no solo e no apoplasto do na membrana.
e) comunicador ou regulador celular
tecido), absorção (influxo e efluxo), trans- Um íon pode interferir com a regulação
(CMC), o nutriente sinaliza ou regula
porte (dentro do xilema e floema) e funções da absorção de outro. Por exemplo, a absor-
várias atividades celulares.
(sítios ativos). Algumas interações possí- ção de um cátion em excesso pode reduzir
A composição mineral, representada veis são particularmente importantes para a absorção de outros, devido à redução no
pelos níveis críticos ou apropriados na a cultura do tomate, considerando as altas potencial de membrana. O Cl interfere com
matéria seca de folhas (Quadro 1), é útil no doses de fertilizantes que são adicionadas, o mecanismo de regulação da absorção do
diagnóstico do estado nutricional do to- podendo levar à deficiência de alguns ou NO3, reduzindo a sua absorção. A deficiên-
mateiro, tema detalhado por Fontes (2001). toxidez de outros nutrientes. cia de Zn pode desregular a absorção de
As plantas desenvolveram diversos meca- A interação no solo ocorre devido a P, levando à toxidez deste, se a disponibi-
nismos para controlar a obtenção, absor-
reações químicas entre nutrientes que pro- lidade for alta. Dentro da planta, pode ocor-
ção, partição e acúmulo de nutrientes, ainda
movem a precipitação, ou devido às modi- rer precipitação, impedindo a distribuição,
não completamente entendidos e variáveis
ficações químicas no solo que influenciam como por exemplo, excesso de P que pro-
de acordo com a espécie, órgão e membrana
a disponibilidade de outro nutriente. Por move deficiência de Zn e Fe. O Si reduz a
da célula. Atualmente, sabe-se que certos
exemplo, a calagem reduz a adsorção de P, toxidez de Mn e melhora a distribuição na
processos são coordenados em nível da
S e Mo. Entretanto, excesso de calcário folha, evitando a precipitação do Mn, que
planta como um todo, via comunicação
pode promover a precipitação de fosfato causaria pontos necróticos. A redução do
raiz – parte aérea (GRUSAK et al., 1999,
ou sulfato de cálcio ou a redução na dispo- NO3 depende de Mo como cofator da enzi-
STITT et al., 2002). Sinais originados na
nibilidade dos micronutrientes Fe, Cu, ma nitrato redutase. A retranslocação de
raiz podem indicar à parte aérea um alerta
sobre a flutuação na concentração de nutri- Mn e Zn, devido à elevação do pH do solo; Zn e Cu, via floema, é menor quando a planta
entes na solução do solo; sinais na direção também pode afetar a atividade microbioló- está adequadamente nutrida de N, pois
inversa garantem o funcionamento integra- gica e, assim, a disponibilidade de N e B, estes nutrientes estão ligados a proteínas
do da raiz com a demanda nutricional da principalmente. Alta dose de P aplicada no que não são hidrolisadas, quando a planta
parte aérea (FORDE, 2002). O papel de sinais solo pode reduzir a toxidez de Al e aumentar não está deficiente em N.
da parte aérea na regulação da expressão a disponibilidade de Mo, mas também re- As interações entre nutrientes são com-
gênica na raiz já foi mostrado para diversos duz a absorção de Zn, Cu e Fe, devido à plexas, ainda pouco entendidas, e podem
nutrientes como N, P, F e S. Os sinais precipitação destes. ter diferentes magnitudes em condições de
existentes entre raiz – parte aérea são sis- Na planta, um íon pode afetar a absor- solo e de solução nutritiva. O entendimento
têmicos e conhecidos como sinalização a ção de outro por competir, aumentar ou delas torna-se muito mais complexo, devido
longa distância. Acredita-se que estejam reduzir o acesso ao sítio de absorção na às interações entre os nutrientes serem
envolvidos açúcares e citocininas, embora membrana; pode afetar o mecanismo de influenciadas pela interação com diversos
ainda falte muito conhecimento para isto, regulação da absorção na raiz; pode alterar outros fatores como água, luz, temperatura,
principalmente no entendimento quanti- o metabolismo da planta como um todo, genótipo, práticas culturais. Mesmo assim,
tativo dos processos e como eles são regu- afetando a absorção, a distribuição ou a as interações mais conhecidas devem ser
lados (LAWLOR, 2002). função na planta. Embora a absorção (trans- consideradas ao serem diagnosticadas as
porte pela membrana) na raiz seja íon- causas de problemas nutricionais e otimi-
INTERAÇÃO ENTRE NUTRIENTES específica, quando em alta concentração, zado o programa de adubação do tomatei-
A interação entre nutrientes ocorre quan- determinado íon pode inibir a absorção de ro. Detalhes podem ser encontrados em
do a absorção, ou o transporte no solo ou outro. Por exemplo, NH4 reduz a absorção Marschner (1995), entre outros.
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32 Tomate para Mesa

SINTOMAS VISUAIS DE a) ferro: acentuada redução no cresci- tomateiro foram realizados dois experi-
DEFICIÊNCIA NO TOMATEIRO, mento da planta; clorose intensa mentos na Universidade Federal de Viçosa
EM SOLUÇÃO iniciando-se nos folíolos das folhas (UFV) (FAYAD et al., 2002). O primeiro, com
Os principais sintomas de deficiência mais novas, com posterior necro- a cultivar Santa Clara, cultivada a campo,
mineral em tomateiro na fase vegetativa, se; no período de março a julho, conduzida
em solução nutritiva, são: b) boro: redução no crescimento; te- no sistema de cerca cruzada, com duas has-
cidos quebradiços; folhas novas tes e sete cachos por planta. A irrigação
a) nitrogênio: leva ao crescimento re- foi por sulco, sendo o ciclo de 120 dias
duzido da planta que apresenta aspec- pequenas com clorose internerval,
progredindo para necrose, torcidas, pós-transplantio. Foram obtidos 406,3 e
to raquítico; pequeno intervalo entre 207 g.planta-1, para os valores máximos dos
deformadas e enroladas para dentro;
o pecíolo e o caule; folhas pequenas, pesos das matérias secas total e do fru-
necrose e morte do ponto de cresci-
verde-claras e clorose generaliza- to; a produção total de fruto maduro foi
mento; entrenós curtos; floração
da das folhas mais velhas e, poste- 94,8 t.ha -1 e a produção comercial foi
reduzida;
riormente, da planta toda. Nervuras 88,6 t.ha-1.
arroxeadas, principalmente na parte c) zinco: clorose internerval e enrola- O segundo experimento foi realizado em
abaxial da folha; mento das folhas jovens; estufa plástica, no período de abril a setem-
b) fósforo: leva ao crescimento redu- d) manganês: crescimento reduzido da bro, com o híbrido ‘EF-50’, conduzido
zido da planta; o caule fica delgado; planta; clorose internerval das folhas verticalmente, mantendo-se oito cachos
as folhas menores, pouco flexíveis e jovens; por planta. A irrigação foi por gotejamento,
curvam-se para baixo; as folhas mais e) cloro: clorose das folhas novas e sendo o ciclo de 135 dias pós-transplantio.
velhas apresentam coloração verde- tecidos macios, flácidos e pouco Foram obtidos 397,9 e 269,5 g.planta-1, para
intensa na face adaxial e púrpura na túrgidos. os maiores valores dos pesos da matéria
face abaxial; seca total e do fruto; a produção total de
Descrição de sintomas de deficiência fruto maduro foi 115,4 t.ha-1 e a produção
c) potássio: restrição no crescimento da mineral em tomateiro pode ser encontrada comercial foi 109,0 t.ha-1. Em ambos os
planta e folhas pequenas; clorose em Adams (1986), Jones Junior (1998), entre experimentos, o padrão de absorção de
seguida de necrose das margens dos outros. nutrientes (Quadro 2) seguiu o acúmulo de
folíolos das folhas mais velhas, cami- matéria seca pelas plantas.
nhando para a parte central da folha QUANTIDADES ACUMULADAS DE No experimento de campo, com a cultivar
e para as folhas mais novas; pontua- NUTRIENTES PELO TOMATEIRO de crescimento indeterminado, a ordem
ções necróticas internervurais; Os teores e os conteúdos de nutrientes decrescente de acúmulo de nutrientes na
d) cálcio: margens e ápices de folhas no tomateiro variam com o crescimento e o parte aérea foi: K, N, Ca, S, P, Mg, Cu, Mn,
velhas escurecidas, menos expandi- desenvolvimento da cultura, sendo o seu Fe e Zn, alcançando os valores máximos
das e encarquilhadas; ponto de cres- conhecimento importante para decisões de 360, 206, 202, 49, 32, 29 kg.ha-1 e 3.415,
cimento danificado ou morto; tecidos sobre a aplicação racional de fertilizantes. 2.173, 1.967 e 500 g.ha-1, respectivamente.
macios e flácidos; morte da ponta A quantidade de nutrientes absorvidos pe- Verificou-se maior quantidade de N, P e K
de raízes; lo tomateiro depende de fatores bióticos e nos frutos e Ca, Mg, S, Zn, Cu, Mn e Fe
abióticos, como temperaturas do ar e do na parte vegetativa (Quadro 2). Com o início
e) magnésio: as margens dos folíolos solo, luminosidade e umidade relativa da frutificação, intensificou-se a quanti-
das folhas velhas tornam-se cloró- (PAPADOPOULOS, 1991), época de plan- dade absorvida de todos os nutrientes. As
ticas; em seguida a clorose expande- tio, genótipo, concentração de nutrientes porcentagens de absorção de N e K, ele-
se para o tecido internerval das fo- no solo (FONTES; WILCOX, 1984, CAS- mentos mais acumulados pela planta e,
lhas velhas e, posteriormente, para TILLA PRADOS, 1995) e local de plantio usualmente, aplicados parceladamente em
as folhas mais novas; os folíolos po- (FAYAD et al., 2002). Esses e outros fato- cobertura, foram maiores no período entre
dem enrolar-se para cima; res, como espaçamento, fertirrigação, con- 36 e 72 dias após o transplante, quando
f) enxofre: folhas mais novas verde- dução das plantas, presentes de forma atingiram 74,8% e 80,6% das quantidades
claras, tornando-se amarelas finas e diferenciada nos sistemas de cultivo, pro- de N e de K, respectivamente, absorvidos
menos desenvolvidas, progredindo porcionam diferentes ciclo da cultura e durante todo o ciclo da cultura.
para as mais velhas. produção de matéria seca, refletindo na Com a cultivar de crescimento deter-
quantidade de nutrientes absorvidos pelo minado, o acúmulo de nutrientes na parte
Os sintomas mais comuns de deficiên- tomateiro. Com o objetivo de quantificar a aérea do tomateiro decresceu na seguinte
cia de micronutrientes são: quantidade de nutrientes absorvidos pelo ordem: K, N, Ca, S, Mg, P, Mn, Fe; Cu e
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Tomate para Mesa 33

QUADRO 2 - Quantidade de nutrientes na parte aérea e nos frutos do tomateiro e taxa diária máxima quantidade produzida. Às vezes, ambas
de absorção (TDMA) de nutrientes, cultivares Santa Clara e EF-50 dependem das mesmas combinações de
Acúmulo máximo Acúmulo máximo no fruto TDMA genótipos, condições edafoclimáticas, prá-
(mg/planta) (mg/planta) (mg/planta/dia) ticas culturais e disponibilidade de nutrien-
Nutriente
tes, outras vezes não. Em experimentos na
‘Santa Clara’ ‘EF-50’ ‘Santa Clara’ ‘EF-50’ ‘Santa Clara’ ‘EF-50’
UFV, a aplicação de N não afetou o teor de
N 10.288 9.582 5.656 6.709 198,52 142,69 sólidos solúveis e o pH dos frutos, mas
P 1.622 1.377 869 959 32,11 11,60 aumentou a produção (FERREIRA, 2001).
A aplicação de K aumentou a produção
K 17.994 11.995 10.001 9.645 310,00 187,37
de frutos/área e os teores de NO3 e K neles,
Ca 10.124 8.845 494 386 151,00 74,00
porém, não afetou o teor de matéria seca e
Mg 1.463 1.829 307 372 23,00 15,00 os teores de P, S, Mg, licopeno, caroteno
S 2.437 2.238 494 512 58,99 27,55 e sólido solúvel total (Brix) dos frutos
Zn 25 30 5 7 0,39 0,50 (SAMPAIO, 1996, FONTES et al., 2000,
SAMPAIO; FONTES, 2000).
Cu 171 74 4 3 4,44 0,82
Na matéria seca dos frutos, há 7%-8%
Fe 98,36 96 22,59 61 0,78 1,87
de minerais, sendo que K (teor de 4,0%),
Mn 108,66 147 3,74 4 1,78 1,90 N (2,5%) e P (0,4%) representam cerca de
FONTE: Dados básicos: Fayad et al. (2002). 94% deles. A composição mineral dos fru-
tos pode ser alterada por diversos fatores,
tais como cultivar, produtividade, partição
Zn, alcançando os valores de 264; 211; NUTRIENTES E QUALIDADE de matéria seca para os frutos, disponibi-
195; 49; 40; 30 kg.ha-1; 3.200, 2.100, 1.600 e DOS FRUTOS lidade dos minerais no meio. Quase sempre,
700 g.ha-1, respectivamente. Do total, os Práticas culturais e cultivares são, ain- frutos de plantas em solução nutritiva têm
frutos armazenaram 70% do N e do P, 80% da, selecionadas para permitir maior pro- maiores concentrações de K, P, Ca e Mg
do K, 4% do Ca, 20% do Mg e 23% do S. dutividade, tamanho e beleza dos frutos que os frutos de plantas em solo. Em pe-
Dos micronutrientes analisados, o Fe foi o de tomate (coloração vermelha uniforme ríodo de rápido crescimento da planta pode
que mais acumulou-se nos frutos, seguido e ausência de manchas, rachaduras, po- faltar Ca na extremidade apical do fruto mais
pelo Zn, Mn e Cu, totalizando 63%, 25%, dridão apical e pontuações douradas). En- distal da inflorescência e aparecer sinto-
3% e 3,5% do total absorvido pela planta, tretanto, a busca por produtos diferen- ma de podridão apical.
respectivamente. O valor da taxa diária de ciados, em qualidade, pode modificar tal Os minerais podem ter efeitos siner-
absorção foi crescente até os 67, 68, 52, 70 procedimento. Assim, alguns aspectos de gísticos ou antagônicos (interações) ou
e 64 dias, para o N, K, S, Zn e Fe, para qualidade (organolépticos e nutracêuticos) não, terem efeito sobre cada característica
depois decrescer. começam, timidamente, a ser valorizados. determinante da quantidade/qualidade dos
De modo geral, a máxima absorção Algumas características organolépticas, frutos. Por exemplo, há citação de haver ou
diária dos macronutrientes coincide com o fáceis de ser determinadas, são: relação não efeito da adição de K sobre os teores
período inicial da frutificação. Nesse pe- entre os teores de acidez titulável e açúcar; de açúcar e de matéria seca do fruto; a dis-
ríodo ocorre força mobilizadora de nutri- teor de sólidos solúveis; porcentagem de ponibilidade de K pode correlacionar po-
entes e assimilados, devido ao aumento da suco; textura de pericarpo entre as princi- sitivamente com acidez, teores de ácido
atividade metabólica, associada à atividade pais. Tais características indicam o flavor cítrico, açúcar, matéria seca e licopeno nos
hormonal e à divisão e crescimento celular. e a agradabilidade do fruto (DORAIS; frutos (DORAIS; PAPADOPOULOS, 2001).
Para o P, Ca e Mg, os valores das taxas PAPADOPOULOS, 2001). Há outras carac- Em solução, a incidência de manchas inter-
foram constantes durante todo o ensaio. terísticas como matéria seca, nitrato, lico- nas e externas no fruto maduro de tomate
As porcentagens de absorção de N e K peno, caroteno, vitamina C que podem ser decresceu com o aumento do fornecimento
foram maiores no período entre 35 e 91 dias, usadas como diferencial no fruto ofertado. de K (DORAIS; PAPADOPOULOS, 2001),
quando atingiram 73,5% do N e 75% do O teor (valor relativo) de determinada fato não comum de ser observado no solo.
K absorvidos durante o ciclo da cultura. característica do fruto é bom na visão do Pode haver efeito de alta disponibilidade
O conhecimento das necessidades de consumidor, e a alta produção de frutos de N sobre a cor do fruto. A concentração
nutrientes, em função da idade da planta (quantidade) é boa na visão do produtor. de sólidos solúveis pode atrasar a matu-
auxilia na indicação da quantidade e época A análise apenas do teor pode ser masca- ração, aumentar a acidez e interferir na
de aplicação dos adubos de cobertura. rada pela “diluição” proporcionada pela absorção de Ca, causando maior incidência

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34 Tomate para Mesa

de podridão apical. Assim, devido às inte- tos da densidade aparente e os níveis de fósforo ORSEL, M.; FILLEUR, S.; FRAISIER, V.;
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Tomate para Mesa 35

Programa de adubação mineral do tomateiro para mesa,


no solo e em hidroponia
Paulo Cezar Rezende Fontes 1
Hermínia Emília Prieto Martinez 2

Resumo - A adubação necessita ser entendida como um subsistema de amplo e com-


plexo sistema, em que diversos fatores interagem, proporcionando as produções quantita-
tiva e qualitativa de tomate. Desde que o ambiente tenha potencial de produção, os
demais fatores controláveis necessitam estar adequadamente supridos para não se
tornarem limitantes, permitindo a manifestação do efeito do programa de adubação. Um
adequado programa de fertilização permite benefícios a diversos segmentos da sociedade,
derivando-se a preocupação em estabelecer sustentabilidade ambiental e econômica. O
programa de adubação busca responder às questões: por quê? quanto? com o que? quando?
e como fertilizar? Nos últimos anos, principalmente nas culturas de grãos, em consonância
com os princípios da agricultura de precisão, esforços, técnicas e equipamentos estão
sendo direcionados para responder também à indagação: onde? Qualquer programa de
adubação deve ser entendido como referencial que necessita ser ajustado para cada situação
específica. A tal procedimento chamamos sintonia fina da recomendação, que seria
agricultura de precisão, com um viés social, se alicerçada não somente em critérios que
utilizam informações locais do solo e da planta, mas também da disponibilidade de recursos
e valores do produtor. Agrônomos devem ser capazes de orientar os produtores nessa
tarefa.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Nutrientes; Fertilização; Cultivo protegido.

INTRODUÇÃO grama para a cultura tradicional tem sido safras em períodos definidos, maior homo-
É necessário entender que a adubação publicado em diversos países (HANLON; geneidade na tecnologia de produção, com
do tomateiro faz parte de um sistema que HOCHMUTH, 1992) e Estados brasilei- associações organizadas e atuantes de pro-
precisa estar adequadamente “engenha- ros, dentre os quais São Paulo (TRANI et dutores de tomate e que dedicam maiores
do”, para haver produção econômica e sus- al., 1996), Paraná (SILVA, 1997), Santa Ca- recursos à pesquisa, dispondo de grande
tentabilidade ambiental do produto dese- tarina (EPAGRI, 1997) e Minas Gerais volume de informações publicadas, a sin-
jado pelo mercado (FONTES, 2002), tanto (FILGUEIRA et al., 1999). Qualquer que seja, tonia fina do programa de adubação de-
em hidroponia como no solo (cultivo tra- deve ser entendido como um referencial pende, em grande parte, do produtor.
dicional em solo não protegido). Com base que precisa ser ajustado para cada local,
isto é, responder: onde? (FONTES, 2002). POR QUE REALIZAR O PAT?
em conceitos, princípios, análises, premis-
sas, experiência, tradição, enfim, conheci- O ajuste ou sintonia fina pode ser chama- Os principais objetivos do PAT são for-
mento, técnicos têm procurado respon- do manejo preciso da adubação (MPA). necer os nutrientes limitantes ao tomatei-
der as perguntas: por quê, como, quanto, Diversos procedimentos têm sido usa- ro, reduzir os riscos da atividade, propiciar
quando e com o que adubar. A resposta a dos para transformar recomendações ge- maior eficiência no uso da área, da água,
tais perguntas é chamado Programa de rais em mais específicas. Mesmo nos paí- dos demais insumos e da mão-de-obra,
Adubação do Tomateiro (PAT). Este Pro- ses de reduzida extensão territorial, com além de propiciar maior produtividade,

1
Engo Agro, Ph.D., Prof. Tit. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: pacerefo@ufv.br
2
Enga Agra, D.S., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: herminia@ufv.br

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36 Tomate para Mesa

produto de melhor qualidade e maior lucro cação dos fertilizantes na cultura do toma- tampão, ou seja, nesse meio de cultivo não
ao tomaticultor. teiro em hidroponia e no campo, de modo há, como no solo, liberação de nutrientes
tradicional, via sólida, embora possa ser da fase sólida para a solução, à medida
CRITÉRIOS NORTEADORES feita via água de irrigação (BAR-YOSEF, em que estes são absorvidos. Isso implica
DO PAT 1999), principalmente em ambiente pro- na necessidade de ter concentrações muito
tegido (FONTES; GUIMARÃES, 1999). mais altas de nutrientes na solução nutritiva
Os principais critérios norteadores do
que na solução do solo, ou, alternativa-
PAT são:
HIDROPONIA mente, de injeção contínua dos nutrientes
a) perpetuar tradições; ao meio líquido, à medida em que são
A hidroponia é uma das técnicas de cul-
b) seguir modelos de outras regiões; tivo que tem-se expandido dentro do ambi- absorvidos. Por outro lado, as raízes banha-
ente protegido. O cultivo hidropônico do das pela solução nutritiva apresentam
c) seguir modelos matemáticos que
tomateiro pode ser realizado em solução limites de tolerância à pressão osmótica
envolvam o sistema de suporte de
nutritiva ou em solução mais substratos, gerada pela alta concentração de sais. A
decisão;
havendo peculiaridades de manejo de acor- pressão osmótica das soluções nutritivas,
d) utilizar tabelas generalistas de reco- do com o substrato escolhido. De toda for- em geral, situa-se entre -0,7 e -1,2 atm. Plan-
mendações; ma, para que o fornecimento de nutrientes tas jovens são mais sensíveis a potenciais
e) usar derivados de experimentos possa ser feito por meio de uma solução osmóticos muito negativos, por essa razão,
realizados em outros locais consi- nutritiva, é necessário empregar substratos na fase de produção de mudas, é comum
derando tanto a relação produção quimicamente inertes, tais como areia, cas- empregar soluções nutritivas diluídas à
máxima x dose quanto a produção calho, argila expandida, lã mineral, entre metade, ou mesmo à quarta parte.
econômica; outros. Para o cultivo em solução, em geral, A proporção entre nutrientes presentes
usa-se a técnica do fluxo laminar de nutri- numa dada formulação de solução nutritiva
f) usar derivados de experimentos rea-
entes (NFT). O cultivo em substratos de tem por base as relações molares entre eles,
lizados in situ considerando a rela- granulometria entre 12 e 30 mm de diâmetro, observadas nos tecidos de plantas produ-
ção dose x produção; que resulta em alta macroporosidade, dá tivas da espécie ou variedade que se queira
g) usar derivados de experimentos rea- bons resultados, quando se usa a subirri- cultivar. Quando as relações molares pre-
lizados in situ considerando a pro- gação, e o cultivo em substratos com gra- sentes nos tecidos variam muito com a fase
dução econômica. nulometria entre 3 e 6 mm de diâmetro requer de desenvolvimento, as soluções nutritivas
a irrigação por gotejamento, aproximando- devem ser ajustadas ao longo do desenvol-
Os dois últimos critérios podem ser con-
se muito da fertirrigação. vimento das plantas. Para o tomateiro, tanto
siderados os mais apropriados, pois per-
Em linhas gerais, a fisiologia da planta a fase de crescimento vegetativo quanto a
mitem responder com mais eficácia onde
não se altera mudando-se a técnica de cul- fase de frutificação requerem relações K:N
aplicar o PAT.
tivo. Sendo assim, suas exigências nutricio- diferentes, sendo necessário usar formu-
Há diversos pontos que necessitam ser
nais permanecem as mesmas. Entretanto, lações diferentes para essas duas fases.
considerados no programa de adubação
há diferenças quanto à velocidade de cres- Dessa forma, o manejo da solução nutri-
das culturas, os quais foram apresenta-
cimento, interações dos nutrientes com o tiva inclui seu preparo, manutenção e re-
dos em Fontes e Guimarães (1999), Fontes
meio de cultivo e eficiência de recuperação novação.
(1999a, 2002). No presente texto, busca-se
dos nutrientes aplicados, em cada siste-
responder objetivamente as questões: com
ma de cultivo, bem como peculiaridades Preparo da solução
o que, quando, como e quanto adubar o to-
inerentes ao uso de soluções nutritivas.
mateiro no tocante à aplicação de macro e Bons resultados foram obtidos no De-
Aspectos do manejo de nutrientes em hi-
micronutrientes, entendendo que calcário partamento de Fitotecnia da Universidade
droponia foram mostrados por Martinez et
e matéria orgânica são importantes no solo Federal de Viçosa (UFV), para o cultivo do
al. (1997), Martinez (1999), Moraes e Furlani
para a cultura tradicional. híbrido ‘Carmem’, com solução com 8; 2;
(1999), Schwarz et al. (2001), Dorais et al.
O tomate pode ser produzido em dois 4; 2; 1; e 1 μmol.L-1 de N, P, K, Ca, Mg e S e
(2001).
ambientes, sendo o primeiro no campo, mais 35; 12; 21; 4; 0,9; e 0,7μmol.L-1 de Fe, Mn,
significativo em termos de volume de pro- Solução nutritiva B, Zn, Cu e Mo, respectivamente para a
dução, e o segundo, em ambiente protegi- Uma das diferenças mais importantes fase de crescimento vegetativo e, 12; 3;
do. Em ambos, o meio mais usado é o solo. entre o solo e a solução nutritiva reside no 8,6; 3; 1,5; e 1,5 μmol.L-1 de N, P, K, Ca,
No presente artigo será referenciada a apli- fato de esta não apresentar capacidade Mg e S e 59; 12; 31; 4; 1,3; e 0,7 μmol.L-1 de

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Tomate para Mesa 37

Fe, Mn, B, Zn, Cu e Mo, respectivamente forma de quelato. Para preparar o Fe que- A concentração de nutrientes na solu-
para a fase de frutificação. O Quadro 1 latizado, diluem-se, separadamente, em ção tem sido avaliada indiretamente pela
apresenta as quantidades de adubos ne- 500 mL de água o cloreto férrico e o EDTA- condutividade elétrica (CE), usada para
cessárias ao preparo dessas soluções. Para dissódico, misturando-se, em seguida, as indicar a necessidade de reposição. É obtida
cada solução, os sais aparecem subdivi- duas soluções. Usa-se então 1 L de solução por meio de condutivímetro, restaurando-
didos em dois conjuntos, A e B. Essa sub- de Fe quelatizado por m3 de solução nutri- se a condutividade inicial, sempre que a
divisão é necessária, caso se opte pelo uso tiva. A solução de Fe-EDTA pode ser con- CE decresça o valor limite preestabelecido.
de soluções concentradas. centrada quatro vezes, usando-se, nesse Devido à CE fornecer de maneira indireta
No preparo das soluções, os fertilizan- caso, 250 mL da solução concentrada para apenas o somatório de íons dissolvidos, a
tes que contêm macronutrientes devem ser cada m3 de solução nutritiva. Em seguida, reposição dos nutrientes em proporções
pesados e diluídos um a um no tanque, que completa-se o volume do reservatório, ho- iguais às da solução inicial pode levar a
já deve conter água até, aproximadamente, mogeneíza-se a solução e, se necessário, acúmulos e desbalanços. Por isso, as solu-
dois terços de sua capacidade. Posterior- corrige-se o pH com ácido clorídrico ou ções monitoradas pela CE devem ser com-
mente, adicionam-se os micronutrientes na hidróxido de sódio para a faixa de 5,5 a pletamente renovadas a cada dois ou três
forma de solução concentrada e, finalmen- 6,5. meses.
te, a solução de ferro quelatizado. O forne- A variação do pH, decorrente da absor-
cimento dos micronutrientes na forma de Manutenção e ção, pode ser expressiva em sistemas hidro-
soluções concentradas é mais prático. Nes- renovação das soluções pônicos, especialmente em período de cres-
se caso, multiplicam-se por cinco as quan- Como nos cultivos hidropônicos o meio cimento intenso da cultura, devendo-se
tidades indicadas no Quadro 1. Diluem-se de cultivo não tem capacidade tampão, ajustá-lo com ácido ou base, ao menos uma
essas quantidades em 1 L de água, tomando- ocorrem grandes alterações do ambien- vez por dia, para a faixa compreendida entre
se 200 mL dessa solução concentrada por te radicular em curto período. Por isso, é 5,5 e 6,5. Há no mercado potenciômetros
m3 de solução a ser preparada. Devido à necessário monitorar a solução nutritiva portáteis destinados a esse fim.
baixa solubilidade dos sais de Fe, relacio- continuamente, corrigindo-se sempre que
nada com o pH das soluções nutritivas, necessário o volume de água, o pH e a Uso de soluções concentradas
este elemento tem que ser fornecido na concentração de nutrientes. O uso de soluções concentradas facili-
ta o manejo manual e possibilita o manejo
automático das soluções nutritivas, uma
QUADRO 1 - Conjuntos de fontes de nutrientes (g/5 L) componentes das soluções concentradas (A vez que é mais fácil manusear os fertilizan-
e B), para o preparo de soluções nutritivas utilizadas nas fases de vegetação e de frutifica- tes na forma líquida que na forma sólida.
ção do tomateiro Devem ser usadas ao menos duas soluções
Fase de vegetação Fase de frutificação concentradas (A e B), para compor uma
Fonte formulação, já que o Ca e o P em altas con-
A B A B
centrações reagem dando origem a fosfatos
KH2PO4 272,00 _ 408,70 _ bicálcicos e tricálcicos de baixa solubilidade
MgSO4 246,40 _ _ 369,60
ou mesmo insolúveis. O mesmo ocorre em
relação ao Ca e ao S, que podem precipitar-
KNO3 213,60 _ 596,98 _
se como sulfato de cálcio. Uma vez prepa-
Ca(NO3)2 _ 421,00 _ 631,58 radas as soluções concentradas, sempre
NaNO3 _ 144,90 _ _ que a condutividade elétrica da solução
nutritiva cair a um valor limite, previamente
FeCl3 9,60 _ 15,92 _
estabelecido, adiciona-se um volume ade-
Na2- EDTA 13,24 _ 20,00 _ quado das soluções A e B para restabelecê-
MnSO4 _ 2,03 _ 2,03 la. Em sistemas automatizados, a solução
nutritiva poderá ter sua composição mo-
H3BO3 _ 1,30 _ 1,91
nitorada e determinada por eletrodos ou
ZnSO4 _ 1,31 _ 1,30 sensores de condutividade elétrica. Nes-
Na2MoO4 _ 0,18 _ 0,18 se caso, as leituras serão periodicamente
enviadas a um microcomputador, acionan-
CuSO4 _ 0,18 _ 0,18
do programas para efetuar o cálculo dos
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38 Tomate para Mesa

volumes das soluções A e B necessários to monoamônico é uma das poucas fontes crescimento do fruto. De qualquer modo,
para a reposição dos nutrientes consu- de fósforo com preço baixo e boa solubi- em hidroponia raramente ocorre insuficiên-
midos pelas plantas, e injetar os volumes lidade. Há que considerar, entretanto, que cia de Ca no meio de cultivo e considera-se
calculados no tanque de solução nutriti- a tolerância ao NH4+ varia entre espécies e que a desordem é devida mais a condições
va. Há citações que o desenvolvimento e a mesmo entre cultivares de uma mesma que afetam a distribuição de Ca para o fruto,
produção das plantas cultivadas em hidro- espécie. De modo geral, a proporção de que a sua absorção. Há decréscimo na vas-
ponia são tão melhores quanto menor a NH4+ nas soluções nutritivas situa-se na cularização do fruto da porção proximal para
variação nas concentrações de nutrientes faixa de 10% a 20% do N total. No entanto, a distal, acarretando a menor concentração
da solução nutritiva durante o ciclo de cul- para soluções nutritivas destinadas ao de Ca no tecido placental distal do fruto.
tivo. cultivo do tomateiro deve-se evitar o uso Quando o fruto inicia a rápida expansão,
No Departamento de Fitotecnia da UFV de NH4+, pois a presença desse íon é um cerca de duas semanas após a antese, a
foram desenvolvidas e testadas soluções dos fatores envolvidos com a ocorrência concentração média de Ca no fruto está em
concentradas para o preparo de soluções de podridão-estilar. seu mínimo e, nesse estádio, é mais comum
de cultivo de tomate, que podem ser usadas Relações K/N inadequadas prejudicam a incidência de fundo-preto ou podridão-
na proporção de 5 L/m3 (Quadro 1). Para a o cultivo hidropônico de hortaliças de apical.
reposição, o volume a ser empregado va- frutos. Nas soluções nutritivas básicas Fatores que afetam a absorção e o trans-
riará com o volume do reservatório e com a essas relações, em geral, estão entre 0,4 e porte de Ca pelas plantas e suas funções
redução observada na CE, em relação à CE 0,6. Com o aparecimento dos frutos, para específicas no metabolismo estão envol-
inicial. Para um tanque de 1 m3 que apre- algumas espécies, como o tomateiro, a taxa vidos e/ou agravam a manifestação des-
sente uma redução de 10% na CE inicial de crescimento declina por causa de seu se distúrbio. Em cultivos hidropônicos, a
adicionar-se-ão, por exemplo, 500 mL das enchimento. Isso resulta em decréscimo na absorção de Ca pode ser limitada por baixas
soluções concentradas A e B. absorção de N, mas não na de K, aumen- temperaturas radiculares, por altos níveis
Para as soluções A, recomenda-se tando, assim, a relação K/N. No tomateiro, de cátions competidores como NH4+, K+ e
preparar inicialmente o ferro quelatizado, o acúmulo de K e N segue uma relação de Mg+2 e por estresse hídrico. Os cátions que
dissolvendo-se o cloreto férrico e o EDTA- 1,2:1,0 até o pegamento dos frutos, pas- competem com a absorção do Ca afetam a
dissódico separadamente em 1,2 L de água, sando então a ser de 2,5:1. O teor elevado qualidade dos frutos, estando a efetividade
misturando a seguir. Acrescenta-se, logo de K nessa fase é importante para o ama- em reduzir o teor de Ca foliar e em aumentar
após, o fosfato monopotássico, depois o durecimento uniforme e a qualidade, resul- a incidência de fundo-preto na seguinte
cloreto de potássio, o sulfato de magnésio tando em frutos com elevada acidez confe- ordem: NH4+ > K+ > Mg++ > Na+.
e o nitrato de potássio, um a um, conforme rida por ácidos orgânicos e alto teor de Quanto ao estresse hídrico, este pode
a exigência, e completa-se o volume até a sólidos solúveis, que estão diretamente ser devido à baixa umidade e/ou salinidade
marca de 5 L. ligados ao sabor. Por essa razão, o cultivo no substrato, que muitas vezes é provocada
Para o preparo das soluções B, dissolve- hidropônico do tomate exige que se empre- para melhorar a qualidade dos frutos. O teor
se inicialmente o ácido bórico em 2,5 L de gue uma solução para a fase de crescimento de matéria seca dos frutos aumenta, quan-
água e, a seguir, os demais micronutrientes vegetativo e outra para a fase de frutifi- do a CE está em torno de 10 mS/cm, muito
um a um. Acrescentam-se o nitrato de cação. embora o número e o tamanho dos frutos
cálcio, nitrato de sódio, nitrato de potássio, sejam reduzidos. Em cultivos sem subs-
cloreto de potássio, cloreto de cálcio e o Podridão-apical ou estilar trato, podem ocorrer também problemas de
sulfato de magnésio, um a um, conforme a Adams (1994), Ho e Adams (1995) con- salinidade decorrentes da maior absorção
exigência, dissolvendo-os totalmente, e sideram que esta podridão é causada por de água que de íons, ou devidos à quali-
completa-se o volume até a marca de 5 L. deficiência de Ca localizada na parte dis- dade da água usada no preparo das solu-
Empregam-se 5 L de cada uma dessas tal do fruto. No entanto, estudos recentes ções nutritivas, especialmente em sistemas
soluções concentradas para o preparo de indicam que frutos com essa desordem apre- NFT, em que um fino filme de solução cir-
1 m3 de solução nutritiva. sentaram distribuição de Ca similar à de cula continuamente.
frutos normais, sugerindo que a podridão- O transporte do Ca via xilema e a sua
Relações NH 4+/NO 3-- e K/N estilar seja uma desordem metabólica, alocação preferencial em folhas são também
Em cultivos sem solo, é comum empre- que se expressa sob condições de estresse afetados por condições ambientais. Com o
gar certa proporção de N na forma amo- (NONAMI et al., 1995, SAURE, 2001), aumento da incidência de luz, a temperatu-
niacal, o que resulta em soluções nutritivas sendo a ocorrência determinada pelas con- ra do ar aumenta e a umidade relativa (UR)
mais tamponadas. Por outro lado, o fosfa- dições ambientais durante a fase de rápido reduz. A redução na UR, por sua vez, esti-
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Tomate para Mesa 39

mula a transpiração e favorece a alocação tamento de cada fonte, já que elas têm inte- zar a fertirrigação, o reservatório de nutri-
preferencial do Ca em folhas. Recomenda- ração específica com o solo, provocando entes no solo é menor havendo a neces-
se o aumento da UR do ar durante o dia e salinidade, alterando o pH, propiciando sidade de aplicação mais freqüente do
sua redução durante a noite para minimi- íons acompanhantes, entre outras. fertilizante.
zar a ocorrência de fundo-preto. O aumento No PAT com adubos químicos, as fontes Geralmente, toda a dose dos micronutri-
da UR durante o dia diminui a transpiração mais solúveis dos macronutrientes são as entes, grande parte ou toda a quantidade
e a atividade de dreno das folhas, promo- preferidas, destacando-se: uréia, sulfato de fósforo e porções (10% a 40%) do N e
vendo maior aporte de Ca aos frutos. Sua de amônio, nitrato de cálcio, superfosfatos do K, é adicionada ao sulco, imediatamen-
redução durante a noite estimula a transpi- simples e triplo, mono e diamônio fosfato, te antes do transplante das mudas, funcio-
ração cuticular noturna em folhas jovens, cloreto de potássio e nitrato de potássio. nando como uma solução de arranque. As
e impede o amarelecimento de suas pon- O enxofre é adicionado, normalmente, como adicionais quantidades de N e K são feitas
tas, causado por deficiência localizada de íon acompanhante do superfosfato e/ou em diversas parcelas, dependendo do ciclo
Ca. do sulfato de amônio. Porém, ao ser utiliza- do tomateiro. Normalmente, são realizadas
Também estão associados à ocorrência da a fórmula concentrada de fertilizante é aplicações semanais (fertirrigação) ou a ca-
de podridão-estilar o tamanho e o número necessário adicionar adubo contendo enxo- da duas semanas (adubo sólido em cober-
de frutos, sua velocidade de crescimento e fre. Pela calagem são fornecidos Ca e parte tura).
a suscetibilidade da cultivar. A prevenção do Mg que pode ser complementada com
consiste no uso de cultivares menos sus- sulfato de magnésio. No caso dos micro- Como adubar?
cetíveis, suprimento de Ca e manejo ade- nutrientes, há disponibilidade das fontes Qual o local, modo e via
quado das condições ambientais. Esta últi- inorgânicas (óxidos e sulfatos de Cu e Zn, mais adequados?
ma com duas finalidades, o desvio de Ca bórax, ácido bórico, molibdato de sódio ou Normalmente, os fertilizantes sólidos
de folhas para frutos e o controle da velo- amônio), dos quelatos orgânicos ou sinté- (macro e micronutrientes) são aplicados em
cidade de crescimento destes. ticos (principalmente EDTA) e as fritas (si- sulcos, de forma localizada, por ocasião
licatos) ou FTE. Nas condições brasileiras, do transplante das mudas. Podem ser apli-
O PAT NA não é comum aplicar Fe e Mn ao tomateiro. cados com adubadora tracionada mecani-
TOMATICULTURA TRADICIONAL Informações sobre fertilizantes usados no camente ou por animal, sendo colocados,
Brasil podem ser encontrados em Vitti et al. normalmente, abaixo e ao lado das mudas.
Com o que adubar? (1994), Ribeiro et al. (1999). Também, no caso de áreas pequenas, os
Quais as fontes utilizadas? fertilizantes podem ser aplicados manual-
Dos elementos existentes, apenas C, Quando adubar? mente, no sulco, antes do transplante, sen-
H, O, N, P, K, Ca, Mg, S, Cu, Zn, B, Mo, Partes dos fertilizantes são colocadas no do misturados com a matéria orgânica e com
Mn, Fe, Ni, Cl são considerados essenciais. momento do transplante das mudas e com- o solo.
Os três primeiros estão disponíveis no meio plementadas por aplicações ao longo do ci- Em cobertura, a primeira aplicação de
ambiente. Os demais são fornecidos pelo clo da cultura. O parcelamento é justificado N e K (quando oportuno, o restante do
solo, por contaminantes da água e do cal- pela possibilidade de altas concentrações fósforo) deve ser feita em pequenos sulcos,
cário e por fertilizantes orgânicos e/ou mi- de N e K aumentarem, pelo menos momenta- de 5 cm de profundidade, distantes 15 cm
nerais. Para o fornecimento dos nutrientes neamente, a concentração salina da solu- do caule, feitos em um ou dois lados da
essenciais há inúmeros materiais dispo- ção do solo (FONTES, 2002), que pode ser planta, acompanhando a fileira de plantio.
níveis em várias formulações, solubilida- danosa às mudas recém-transplantadas. Após a aplicação, o sulco é coberto com so-
des, preços e eficácias. Pouco disponíveis Além disso, N e K são possíveis de ser lixi- lo. As demais coberturas deverão ser feitas
no Brasil, há fertilizantes que recebem viados, principalmente em solos arenosos da mesma maneira. Na adubação em cober-
revestimento, ou aditivos, ou condiciona- ou arrastados da área por precipitações tura, é comum aplicar o fertilizante na super-
dores, ou inibidores da nitrificação. Tais intensas ou irrigação mal executada. O con- fície do solo, ao lado da planta e incorporá-
materiais são usados com objetivos especí- trole acurado da disponibilidade de nutri- lo com o cultivador. Aplicações parceladas
ficos de não permitir a absorção de umidade entes em curto período não tem sido motivo permitem aplicar grande quantidade de N e
e empedramento, ou tornar os grânulos de preocupação dos produtores de tomate. de K ao tomateiro sem o perigo do efeito
esféricos, ou permitir a liberação lenta do Talvez, porque os nutrientes possam ficar salino e da possibilidade de perda por ação
nitrogênio. Recentemente, foram introdu- disponíveis por vários dias após a aplica- da chuva, tornando-os disponíveis durante
zidos no mercado os fertilizantes organo- ção, devido à grande quantidade aplicada dias ou semanas até nova aplicação.
minerais. É necessário conhecer o compor- e ao volume de solo fertilizado. Ao se utili- Acredita-se que, brevemente, estará ge-
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neralizada a aplicação dos fertilizantes no cipalmente para o nitrogênio. Esse é o nu- ces de N no solo, visando utilizá-los na
tomateiro, principalmente N e K, via água triente que mais freqüentemente modula determinação da quantidade de fertilizante
de irrigação, por gotejamento. O tema apli- a produtividade das hortaliças em solos nitrogenado a ser aplicada ao tomateiro.
cação de fertilizantes via irrigação por gote- já cultivados não somente pela escassez, Com base nos teores de argila e de fós-
jamento pode ser encontrado em Fontes e mas pela alta quantidade demandada e pe- foro e considerando os critérios de inter-
Guimarães (1999), Fontes (2002), Fontes e lo papel fundamental na síntese de proteí- pretação de análise do solo que são espe-
Silva (2002). nas e como regulador da expressão gênica cíficos para as hortaliças (ALVAREZ V.;
(MCINTYRE, 2001). RIBEIRO, 1999, FONTES, 1999b), sugerem-
Quanto aplicar? Diferentes doses de fertilizante aplica- se as doses de fósforo constantes no Qua-
Combinando-se determinadas carac- das em diferentes culturas, ao longo do dro 2. Para o K são sugeridas 450, 300, 230,
terísticas do solo, tratos culturais, cultu- tempo, proporcionam diferentes níveis do 150 e 80 kg/ha de K2O, para solos com teores
ra antecessora, conhecimento disponível nutriente no solo e, quanto maior o teor no muito baixo, baixo, médio, bom e muito bom
sobre os mecanismos de suprimento de solo, menor a probabilidade de resposta à de K, respectivamente (FONTES, 2002).
nutrientes pelo solo, absorção pelas plan- aplicação desse nutriente. Estudos rela- No Brasil, a dose de N tem sido definida de
tas, lixiviação, adsorção, nitrificação, mine- cionando o teor disponível do nutriente no maneira empírica, com base na experiência
ralização, denitrificação, entre outros, têm solo e a produção de tomate não têm sido dos produtores ou, raramente, em relações
sido estabelecidos modelos matemáticos, freqüentes. São escassos os estudos de derivadas de doses aplicadas de nitrogê-
determinísticos ou empíricos, possíveis de calibração das doses recomendadas. Mais nio e produtividade comercial de frutos. Os
ser usados no estabelecimento da quan- comuns são aqueles que relacionam doses produtores quase sempre têm a tendên-
tidade de nutriente a aplicar. Há vários cia de aplicar excesso de N, ignorando a
do nutriente com a produtividade da cul-
modelos em que são combinadas algumas possível contribuição do solo. É possível
tura, sem considerar o teor do nutriente no
características da planta e do solo. São úteis encontrar produtores de tomate utilizan-
solo, ou então considerando-o nulo. Adi-
em pesquisa, na sistematização do conhe- do doses de N mineral que variam de 70 a
cionalmente, os custos do fertilizante e da
cimento, mas quase sempre são utilizados 600 kg.ha-1, normalmente associadas à apli-
aplicação deveriam ser considerados, embo-
por poucos produtores, de outros países. cação de elevadas quantidades de matéria
ra, normalmente, sejam baixos em relação ao
No Brasil usa-se menos ainda. orgânica. Em muitos casos, as variações
valor da produção (dose ótima econômica).
Apesar das tentativas de desenvolvi- nas doses poderiam ser devidas aos crité-
A dose adequada de fertilizante pode
mento de modelos, buscando-se a mais rios utilizados para defini-las, às cultivares
ser definida em função, principalmente, da
apropriada recomendação da quantidade utilizadas, ao regime pluviométrico, ao mo-
produtividade esperada (N) e da quanti-
de fertilizante a ser aplicada em cobertura, do de aplicação do fertilizante, à quantida-
dade dos nutrientes existentes no solo (P,
principalmente de nitrogênio, tal fato so- de de matéria orgânica adicionada ao solo,
mente será possível, quando houver meto- K, calagem e, às vezes, os micronutrientes).
à cultura antecessora, ao teor original de
dologia eficaz, simples e possível de ser O componente principal da recomendação
realizada em tempo real, usando a planta de adubação com base na análise do solo é
a existência de apropriado nível crítico. Esse QUADRO 2 - Dose de P2O5(1), em função dos teo-
como indicadora. Ao invés de empírica, a
pode ser conceituado como o teor do nutri- res de argila e de fósforo no solo
decisão de aplicar o fertilizante em cober-
ente no solo capaz de permitir a produção Teor de argila no solo
tura seria mais apropriada se fosse calcada
ótima econômica da cultura. Infelizmente, (%)
em alguma característica da planta, indica- Teor
dora da necessidade de N e K. Há traba- o preciso valor do nível crítico difere pelas 0a 15 a 35 a 60 a
de P
lhos buscando a definição de algum índi- interações entre os nutrientes, a forma su- 15 35 60 100
no solo
ce que possa ser útil na decisão de adubar prida às plantas, o pH, a quantidade de Dose de P2O5
em cobertura como os de Sampaio (1996), matéria orgânica adicionada, o íon acom- (kg/ha)
Guimarães (1998), Guimarães et al. (1998, panhante e o sistema de produção utiliza- Muito baixo 400 500 550 600
1999), Ronchi et al. (2001), Matthaus e Gysi do. Apesar de diversos problemas ainda
Baixo 200 250 275 300
(2001), Ferreira (2001). Detalhes sobre o te- existentes, os resultados da análise do solo
Médio 100 125 135 150
ma podem ser encontrados em Fontes (2001). podem ser utilizados no estabelecimento
Ao procedimento de decidir quando/ das doses referenciais de calcário, fósforo Bom 50 62 68 75
quanto aplicar de fertilizante, com base em e potássio, podendo ser usados, com mais Muito bom 0 0 0 0
indicativos da planta, chamamos “critério restrições, para os micronutrientes. Há pri- FONTE: Fontes e Silva (2002).
da planta”. O nosso grupo tem direcionado mórdios de trabalhos na UFV (FERREIRA, (1) Além da adição de 30 t/ha de esterco bovino
esforços de pesquisas nessa direção, prin- 2001) tentando apropriar critérios ou índi- curtido.

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Tomate para Mesa 41

N no solo, ao potencial de produção da Quase todos os Estados brasileiros alicerçada em critérios que utilizam infor-
cultura no sistema de produção utilizado, construíram as suas tabelas de recomen- mação local do solo, da planta, da dispo-
dentre outros. No Quadro 3, encontra-se dação da quantidade de adubação. Apesar nibilidade de recursos e do produtor. Isto
uma sugestão de doses de N. de úteis, a recomendação constante nessas seria agricultura de precisão, com um viés
tabelas é geral para as diversas situações, social. Agrônomos devem orientar os pro-
sendo assumido igual aproveitamento dos dutores nesta tarefa.
QUADRO 3 - Dose de N (kg/ha) a ser aplicada
fertilizantes pelas diferentes espécies e não
ao tomateiro(1), em função da efi-
tendo sido consideradas as peculiaridades O PAT NA PRODUÇÃO DAS MUDAS
ciência, considerando que a cultura
dos variados sistemas de produção de cada O tema é pouco estudado, mas os con-
será conduzida com sete cachos(2)
hortaliça, as quais podem acarretar diferen- ceitos apresentados para a cultura no cam-
Eficiência do uso
tes perdas e eficiência de utilização do nutri- po devem nortear o programa de adubação
do N(3)
ente. A utilização dos fertilizantes em quan- das mudas. Deve ser salientado que o vo-
Baixa Média Alta tidade acima da indicada nas tabelas é o lume de solo/substrato disponível para a
procedimento mais comum. É, em parte, jus- rizosfera é pequeno e retém pouco volume
Quantidade de N
(kg/ha)(2)
tificável pela insegurança, pelo baixo preço de água, facilitando a salinização do subs-
do fertilizante relativo ao preço das horta- trato, principalmente na presença de doses
480 360 240 liças, pela não preocupação com a polui- altas de fertilizantes nitrogenados e potás-
FONTE: Dados básicos: Fontes e Silva (2002).
ção ambiental e pela inexistência de crité- sicos. O índice salino da solução saturada
(1) Além da adição de 30 t/ha de esterco bovino rios simples, diretos e confiáveis de utilizar do substrato é medido por condutivíme-
curtido. (2) Adicionar 20 kg/ha de N e 30 de K2O, a planta como indicadora da necessidade tro, não devendo ultrapassar a 2,0 dSm-1
quinzenalmente, se o ciclo for estendido. (3) Bai- de adubar. (HUANG; NELSON, 2001).
xa eficiência: combinação de terreno arenoso; nú- Alternativamente ao critério da quanti- Também, sabe-se pouco sobre a necessi-
mero reduzido de parcelamentos; época chuvosa dade, tem sido utilizado o critério da con- dade de manejar diferentemente o PAT na
do ano; terreno inclinado; solo com baixo teor de centração, para recomendar quanto aplicar produção da muda em diferentes épocas
matéria orgânica; adição de material palhoso com de fertilizante em meios que não o solo, em
baixo teor de N, principalmente de gramíneas;
do ano. Na Flórida, mudas de tomate produ-
hidroponia. Qualquer que seja o procedi- zidas no final do verão devem receber me-
excesso de água na irrigação; aplicação de adubo
mento utilizado na recomendação da quan- nos N que as produzidas no período de inver-
sólido na superfície do solo; irrigação por sulco;
tidade de fertilizante, a dose aplicada tem que no (VAVRINA et al., 1998). É possivel que
desbrotas tardias; luminosidade deficiente; plantio
muito adensado; sistema radicular limitado por assegurar o potencial de produção econô- o mesmo procedimento valha para o Brasil.
qualquer tipo de estresse (compactação, salinidade, mica da cultura e ser suficiente para disponi-
doenças, baixa disponibilidade de nutrientes). bilizar quantidades mínimas do nutriente, a REFERÊNCIAS
fim de não haver perdas por residual, fixa-
ADAMS, P. Nutrition of greenhouse vegetables
ção, lixiviação, arraste, evaporação, entre
in NFT and hydroponic systems. Acta Horti-
Para os solos não adubados com micro- outras, evitando-se a poluição ambiental e
culturae, The Hague, n.361, p.245-257, 1994.
nutrientes nos últimos três a quatro anos maximizando os lucros.
ou solos arenosos, com baixo teor de maté- Finalmente, é imperioso que a recomen- ALVAREZ V., V.H.; RIBEIRO, A.C. Calagem. In:
ria orgânica, podem ser aplicados no sulco dação da quantidade de adubo seja utiliza- RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ
10 kg.ha-1 de sulfato de cobre, sulfato de da como referencial. É difícil imaginar que V., V.H. (Ed.). Recomendação para o uso de
zinco, bórax, além de 500 g.ha-1 de molibda- o universo de variações existentes em todo corretivos e fertilizantes em Minas Gerais:
to de sódio. Caso ocorram sintomas, pode- 5a aproximação. Viçosa, MG: Comissão de Fer-
o processo produtivo estará contemplado
tilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999.
se tentar minimizar o efeito negativo da de- nas recomendações ou nos critérios adota-
p.43-60.
ficiência com pulverizações foliares. É pos- dos. Precisaria ser feita em cada proprie-
sível utilizar os sais mencionados, na dose dade, em gleba homogênea, a sintonia fina BAR-YOSEF, B. Advances in fertigation. Advances
correspondente a 1/10 da quantidade reco- da recomendação ou o ajuste local, sinôni- in Agronomy, New York, v.65, p.1-77, 1999.
mendada para aplicação no sulco, deven- mos do refinamento das informações obti- CASTELLANE, P.D.; SOUZA, A.F.; MESQUI-
do ser diluída em, no mínimo, 400 L.ha-1 de das por pesquisadores em situação especí- TA FILHO, M.V. de. Culturas olerícolas. In:
água. Informações sobre adubação de hor- fica. Adequando-se procedimentos, não- FERREIRA, M.E.; CRUZ, M.C.P. da. (Ed.).
taliças podem ser encontradas em Castella- cabíveis no texto, após certo período, pode- Micronutrientes na agricultura. Piracicaba:
ne et al. (1991), Trani et al. (1996), Ferreira se ter informações que permitirão otimizar POTAFOS, 1991. p.549-584. Simpósio sobre
et al. (1993), Fontes (2002), dentre outras. ou realizar a sintonia fina da recomendação, Micronutrientes na Agricultura, Jaboticabal, 1988.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.35-42, 2003


42 Tomate para Mesa

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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.35-42, 2003


Tomate para Mesa 43

Melhoramento genético do tomateiro


Leonardo de Britto Giordano 1
Fernando Antonio Souza de Aragão 2
Leonardo Silva Boiteux 3

Resumo - O tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.), é uma das hortaliças mais estu-
dadas do ponto de vista genético e citogenético. Essa espécie, devido à sua importância
econômica e alimentar, encontra-se presente nos programas de melhoramento das prin-
cipais instituições de pesquisa e companhias de sementes de hortaliças. Em 2001, o
faturamento das empresas que comercializaram sementes de hortaliças no Brasil foi de
aproximadamente US$ 32 milhões, sendo a venda de sementes de tomate responsável por
31% desse total. O treinamento de pesquisadores e técnicos em melhoramento e produção
de sementes de tomate poderá ser um agente catalisador da produção nacional, diminuindo
a dependência de sementes importadas.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Genética molecular; Fitogenética; Germo-
plasma.

INTRODUÇÃO teiro foi inicialmente descrito por Linnaeus de barreiras no cruzamento com acessos
A tecnologia de produção de sementes como Solanum lycopersicon. Em 1754, Miller de L. esculentum. O complexo esculentum
híbridas de tomate vem-se desenvolvendo estabeleceu o gênero Lycopersicon, clas- abrange sete espécies: L. esculentum Mill.;
de maneira bastante acentuada, incorpo- sificando o tomateiro como Lycopersicon L. cheesmani Riley; L. pimpinellifolium
rando os avanços de programas de melho- lycopersicum (L.). Finalmente, no 14o Con- (Jusl.) Miller; L. chmielewskii Rick, Kes.,
ramento conduzidos por instituições pú- gresso Internacional de Botânica, realiza- Fob. & Holle; L. parviflorum Rick, Kes.,
blicas e privadas no mundo. A utilização do em 1987, em Berlim, foi confirmado o bi- Forb. & Holle ; L. hirsutum Humb. & Bonpl.
de sementes híbridas de tomate no Brasil e nômio Lycopersicon esculentum Miller e L. pennellii (Corr.) D´Arcy. Dentro desse
no mundo cresceu de maneira acentuada, (WARNOCK, 1988). O gênero Lycopersicon grupo, L. esculentum e L. pimpinellifolium
principalmente nas últimas duas décadas, apresenta um número relativamente pe- cruzam-se com facilidade, independente-
tornando uma das atividades mais lucrati- queno de espécies com as formas cultiva- mente da espécie utilizada como genitor
vas das companhias produtoras de semen- das pertencendo a L. esculentum Mill. e L. feminino. Entretanto, incompatibilidade
tes. O objetivo do presente artigo é levar esculentum var. cerasiforme (Dun.) Gray. unilateral poderá ser observada nos cruza-
ao conhecimento dos leitores a tecnologia Um total de nove espécies foi reconheci- mentos quando as espécies L. hirsutum,
envolvida no melhoramento e na produção do dentro do gênero (RICK, 1976, 1979, L. parviflorum e L. chmielewskii são
de sementes híbridas de tomate. WARNOCK, 1988) (Quadro 1). Essas espé- utilizadas como genitores femininos e L.
cies podem ser agrupadas em dois com- esculentum como genitor masculino.
TAXONOMIA plexos, de acordo com o grau de facilidade L. chilense Dun. e L. peruvianum (L.)
O tomateiro é uma planta dicotiledônea de cruzamento natural com L. esculentum. Miller pertencem ao complexo peruvianum,
do gênero Lycopersicon pertencente à fa- As espécies pertencentes ao complexo ocorrendo grandes barreiras nos cruzamen-
mília Solanaceae. Esta é uma família botâni- esculentum cruzam facilmente com L. tos dessas duas espécies com as demais
ca extremamente diversificada que engloba esculentum, enquanto espécies do com- espécies do gênero Lycopersicon. Nos cru-
cerca de 90 gêneros e 2.600 espécies. O toma- plexo peruvianum apresentam uma série zamentos L. esculentum x L. chilense e L.

1
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: giordano@cnph.embrapa.br
2
Engo Agro, M.Sc., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: aragao@cnph.embrapa.br
3
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: boiteux@cnph.embrapa.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.43-57, 2003


44 Tomate para Mesa

QUADRO 1 - Espécies de Lycopersicon reconhecidas pelo 14o Congresso Internacional de Botânica esculentum x L. peruvianum, o endos-
(1987), com suas subdivisões e ano de caracterização perma não se desenvolve ocorrendo abor-
tamento do embrião quando a espécie L.
Espécies Subtáxon Ano
esculentum é utilizada como genitor femi-
Complexo esculentum nino. Essas barreiras podem ser superadas
L. esculentum Mill. var. esculentum 1754 por meio de técnicas de cultura in vitro.
var. cerasiforme (Dun.) Gray 1768 Entretanto, quando L. esculentum é utili-
L. pimpinellifolium (Jusl.) Mill. 1886 zada como genitor masculino, observa-
se, em ambos os cruzamentos, a ocorrência
L. cheesmanii Riley f. cheesmanii 1925
de incompatibilidade unilateral. Conse-
f. minor (F.Hook.) Mull. 1940
qüentemente, em cruzamentos interespe-
L. hirsutum Humb. E Bonpl. f. hirsutum 1816 cíficos de L. esculentum com espécies sil-
f. glabratum Mull. 1940 vestres, é mais recomendável que se utilize
L. pennellii var. pennelli 1981 L. esculentum como genitor feminino.
var. puberulum (Coor.) D’ Arcy 1981 Todos os membros do gênero Lycoper-
sicon têm flores perfeitas. L. esculentum,
L. chmielewskii Rick, Kes., Fob. & Holle 1976
L. cheesmanii e L. parviflorum apresentam
L. parviflorum Rick, Kes., Fob. & Holle 1976
estruturas florais e mecanismo de repro-
Complexo peruvianum
dução tipicamente de autógamas. Determi-
nadas populações de L. pimpinellifolium
L. peruvianum (L.) Mill. var. peruvianum 1768
podem apresentar plantas com caracterís-
var. himifusum Mull. 1940
ticas de autogamia ou de alogamia. Algu-
L. chilense Dun. 1952 mas outras espécies, como L. chmielewskii,
FONTE: Warnock (1988). são tipicamente alógamas. As espécies

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.43-57, 2003


Tomate para Mesa 45

L. pennellii, L. hirsutum, L. chilense e L. Estas espécies podem ser identificadas Os parentes mais próximos do toma-
peruvianum apresentam, por sua vez, me- por meio da utilização de uma chave dicotô- teiro estão presentes no gênero Solanum,
canismos de auto-incompatibilidade que mica simplificada proposta por Rick et al. tendo sido obtidos híbridos, usualmente
favorecem a polinização cruzada. (1990), como segue: estéreis, entre L. esculentum e Solanum
lycopersicoides (STEVENS; RICK, 1986).
O gênero Lycopersicon possui número
haplóide (n) de cromossomos igual a 12.
1. Interior do fruto maduro com coloração vermelha; sementes ≥ 1,5 mm.
Os cromossomos do tomateiro apresentam
1.1. Diâmetro do fruto ≥ 1,5 cm; margem foliar normalmente serrilhada. pouca diferença morfológica quando com-
1.1.1. Diâmetro do fruto ≥ 3,0 cm; frutos com dois ou mais lóculos ............... parados com os cromossomos de outras
espécies correlatas (TAYLOR, 1986). A simi-
......................................................................................... L. esculentum
laridade da estrutura física dos cromosso-
1.1.2. Diâmetro do fruto entre 1,5 e 2,5 cm; frutos com dois lóculos .............. mos e do genoma ultrapassa o nível de gê-
.............................................................. L. esculentum var. cerasiforme nero. A conservação do repertório gênico
e da localização física dos genes (sintenia)
1.2. Diâmetro do fruto menor que 1,5 cm, normalmente em torno de 1 cm; margem foi observada após o desenvolvimento de
foliar geralmente ondulada ou inteira ............................................................. mapas genético-moleculares do tomateiro,
do pimentão (Capsicum annuum L.) e da
.......................................................................................... L. pimpinellifolium
batata (Solanum tuberosum L.) (PILLEN et
2. Interior do fruto amarelo ou laranja; sementes ≤ 1,0 mm ....................................... al., 1996). Essa similaridade estrutural per-
mite o pareamento cromossômico durante
......................................................................................................... L. cheesmanii
a meiose e a produção de progênies de hí-
3. Interior do fruto maduro com coloração verde ou esbranquiçada; sementes de bridos experimentais intergenéricos, entre
tamanhos variáveis. tomate e batata, via fusão de protoplas-
tos.
3.1. Simpódio com três folhas ...............................................................................
....................................................................................................... L. hirsutum RELAÇÕES FILOGENÉTICAS
EM LYCOPERSICON spp.
3.2. Simpódio com duas folhas.
Técnicas moleculares têm sido utiliza-
3.2.1. Inflorescências com brácteas pequenas ou ausentes.
das como ferramentas no estabelecimen-
a. Flores pequenas (diâmetro da corola ≤ 1,5 cm); sementes ≤ 1,0 mm .... to das relações filogenéticas no gênero
.................................................................................... L. parviflorum Lycopersicon. Alguns dos resultados
b. Flores grandes (corola com diâmetro ≥ 2,0 cm); sementes ≥ 1,5mm .... alcançados têm apresentado divergências
em relação aos dados taxonômicos obtidos
.................................................................................. L. chmielewskii
com base nas características morfológi-
3.2.2. Inflorescência com brácteas grandes. cas e nas relações de cruzamentos entre as
distintas espécies. Trabalho realizado por
a. Anteras unidas formando um tubo, deiscência por meio de aberturas
Palmer e Zamir (1982), utilizando-se ácido
laterais. desoxirribonucléico (DNA) dos cloroplas-
i. Plantas eretas; pedúnculos ≥ 15 cm; flores abundantes; tubo de tos classificou L. chmielewskii como uma
anteras reto ................................................................................... espécie próxima a L. peruvianum, enquan-
to que dados obtidos por meio das relações
..................................................................................... L. chilense
de cruzamentos indicavam uma maior di-
ii. Plantas decumbentes; pedúnculos < 15 cm; flores menos abun- vergência entre essas duas espécies (RICK,
dantes; tubo de anteras geralmente curvado distalmente ........... 1979). Miller e Tanksley (1990) estudaram as
.............................................................................. L. peruvianum relações filogenéticas e as variações genéti-
cas do gênero Lycopersicon via análise de
b. Anteras livres, poricidas ...................................................................
restriction fragment lenght polymorphism
.......................................................................................... L. pennelli (RFLP) de DNA nuclear clivado com diver-
sas enzimas de restrição. Dendrogramas
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.43-57, 2003
46 Tomate para Mesa

gerados foram consistentes com as classi- de melhoramento genético de tomateiro, poradas às modernas cultivares de toma-
ficações previamente realizadas, utilizando- visando a introgressão de genes que con- te, tanto para consumo fresco, como para
se dados morfológicos e capacidade de cru- ferem resistência a pragas e doenças, melho- o processamento industrial. Genes maiores
zamento entre as espécies. Os dendrogra- ria da qualidade dos frutos e tolerância a dominantes controlam resistência de pelo
mas das diferentes espécies revelaram duas estresses abióticos. No Quadro 2, encontram- menos doze diferentes doenças que poten-
grandes dicotomias de importância taxo- se relacionadas oito diferentes espécies de cialmente limitam a produção da cultura.
nômica no gênero Lycopersicon: colora- Lycopersicon e algumas das principais con- As características monogênica e domi-
ção de frutos (verde vs. vermelho) e reação tribuições e potencialidades de cada uma nante desses genes facilitam o desenvol-
quanto à compatibilidade de cruzamento para os programas de melhoramento ge- vimento de híbridos F1 com resistência a
(autocompatível vs. auto-incompatível). nético de tomate. doenças. A seguir é apresentada uma re-
Microssatélites constituem uma fer- lação de alguns genes maiores, empre-
ramenta bastante útil nos estudos visan- GENES DE IMPORTÂNCIA PARA gados com mais freqüência em programas
do estabelecer relações entre as diferentes O MELHORAMENTO GENÉTICO de melhoramento genético e uma breve
espécies do gênero Lycopersicon. As carac- Numerosas características de heranças descrição de seus fenótipos e/ou tipos de
terísticas desses marcadores permitem que simples ou monogênicas têm sido incor- ações gênicas.
um razoável número de informações gené-
ticas (polimorfismos) possa ser obtido em
termos de espécie e entre cultivares de uma QUADRO 2 - Principais contribuições, potencialidades genéticas de cada espécie do gênero Lycopersicon
para programas de melhoramento genético do tomateiro
mesma espécie. Recentemente, foi desenvol-
vido um banco de dados para cerca de 500 Espécie Principais resistências/
cultivares de L. esculentum caracterizadas (mecanismo de reprodução) Tolerâncias e características
via microssatélites (BREDEMEIJER et al.,
L. peruvianum (AI) Alternaria solani, Fulvia fulva (Cladosporium fulvum), Fusarium
2002). Utilizando-se esta metodologia, o gê-
spp., Pyrenochaeta lycopersici, Septoria lycopersici, Ralstonia
nero Lycopersicon foi dividido em dois gru-
solanacearum, Erysiphe cichoracearum, Tobamovirus, Tospovirus,
pos. Um grupo maior englobou as espécies
autocompatíveis, L. pimpinellifolium, L. Geminivirus, Meloidogyne spp.
cheesmanii, L. esculentum, L. parviflorum
e L. chmielewskii. Dentro desse grupo, as L. pimpinellifolium (AC/AF) Fusarium spp., Stemphylium spp., Pseudomonas syringae pv.
espécies com frutos vermelhos (L. pimpi- tomato, R. solanacearum, Corynebacterium michiganense, F.
nellifolium, L. cheesmanii e L. esculentum) fulva, Geminivirus, precocidade, altos teores de ácido ascórbico
foram separadas das espécies com frutos
verdes (L. parviflorum e L. chmielewskii).
L. cheesmani (AC/A) Fonte do gene j-2, tolerância à salinidade
Outro grupo maior foi formado pelas espé-
cies autocompatíveis (L. peruvianum e L.
chilense) (ALVARES et al., 2001). L. parviflorum (AC/A) Precocidade, altos teores de açúcares
Portanto, a avaliação das relações entre as
espécies do gênero Lycopersicon utilizando- L. chmielewskii (AC/AF) Altos teores de açúcares e ácido ascórbico
se microssatélites e RFLP indica resultados
muito próximos dos obtidos por meio das
L. pennellii (AI) Tolerância à seca, resistência à Xanthomonas vesicatoria, resis-
relações de cruzamentos, apresentando uma
tência à mosca-branca (Bemisia argentifolii ) e à traça-do-toma-
divisão principal entre as espécies auto-
teiro (Tuta absoluta)
incompatíveis e autocompatíveis, esta últi-
ma acrescida das espécies L. hirsutum e L.
pennelli (RICK, 1979). L. hirsutum (AC/AF/AI) Resistência a insetos, P. syringae pv. tomato, Meloidogyne spp.,
S. lycopersici, P. lycopersici, Oidium lycopersicum, Leveilulla
USO DO GERMOPLASMA
taurica, Tobamovirus, tolerância ao frio
DE LYCOPERSICON NO
MELHORAMENTO GENÉTICO
L. chilense (AI) Tobamovirus, Geminivirus
Diferentes espécies do gênero Lycoper-
sicon vêm sendo utilizadas em programas NOTA: AI - Auto-incompatível; AF - Alógamo facultativo; AC - Autocompatível; A - Autógamo.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.43-57, 2003


Tomate para Mesa 47

a) hábito de crescimento nor maturação muito retardada dos fru- Cf Cf1 até Cf9: resistência a algumas
tos: no estado heterozigoto, os fru- raças de Fulvia fulva (Cladosporium
br braquítico: internódios curtos, com-
tos têm maturação retardada, mas fulvum). Os alelos Cf-2 (DIXON et
pactando a arquitetura das plan-
podem atingir boa coloração verme- al., 1996), Cf-4 (THOMAS et al.,
tas;
lha (comercialmente aceitável); 1997) e Cf -9 (JONES et al., 1994) já
c folha batata: bom marcador ge- foram isolados;
nético; og c old gold crimson: aumenta o teor
de licopeno em detrimento do β- I I1, I2 e I3: resistência às raças 1, 2
d dwarf: tipo de planta anã, extre- caroteno e intensifica a coloracão e 3 de Fusarium oxysporum f.sp.
mamente compacta. Fonte: cv. Tiny vermelha dos frutos, mas prejudica lycopersici, respectivamente. O seg-
Tim; suas qualidades nutricionais. Este mento genômico, portando o gene
gene é uma variante alélica do ge- I2, já foi clonado e isolado (ORI et
p folha batateira;
al., 1997);
ne B (RONEN et al., 2000);
j 1 e j2 Jointless: condiciona ausência da ca-
Mi resistência a nematóides (Meloi-
mada de abscisão no pedúnculo do t frutos amarelos (cor de tangerina)
dogyne incognita, M. javanica e
fruto (fazendo com que este não se devido ao acúmulo de zeta-caroteno
M. arenaria) e resistência a algumas
destaque por ocasião da colheita), e pró-licopeno. Este gene codifica
populações do afídeo Macrosiphum
uma importante característica para uma enzima do tipo isomerase ne-
euphorbiae. Este gene foi introgre-
colheita mecanizada; cessária para a produção de beta-
dido de L. peruvianum e já se en-
sp self-pruning ou autopoda: condi- caroteno e xantofilas em tomate contra clonado e isolado (ROSSI et
ciona hábito de crescimento deter- (ISSACSON et al., 2002); al., 1998, VOS et al., 1998);
minado, permitindo colheitas mais u amadurecimento uniforme, isto é, Lv resistência a uma das espécies
concentradas. É o gene que carac- ausência de ombro verde nos fru- de fungo causadores do oídio (L.
teriza o típico tomateiro rasteiro; tos; taurica). Este gene foi introgredi-
y frutos com aparência cor-de-rosa do de L. chilense;
b) características do fruto
quando maduros, devido ao fato Ol-1 resistência a Oidium lycopersicum.
alc maior conservação dos frutos em de possuírem película incolor, como Gene introgredido de L. hirsutum;
pós-colheita. Fonte: cv. Alcobaça, se vê em alguns híbridos japoneses
condiciona menor velocidade de Ph Ph1 e Ph2: resistência a raças de
multiloculares. O alelo dominante Phytophtora infestans, essa resis-
amadurecimento do fruto; condiciona a película pigmentada, tência não é defesa suficiente con-
B alto teor de β-caroteno, propiciando proporcionando a cor vermelha dos tra o fungo quando as condições
a cor amarela dos frutos. Este gene frutos maduros; forem amplamente favoráveis ao
foi recentemente clonado e codifica patógeno;
uma enzima do tipo epsilon-ciclase c) mecanismos de reprodução
Pto resistência a P. syringae pv. tomato,
do licopeno. O gene B é uma varian- pat-2 condiciona partenocarpia. Fonte: este foi o primeiro gene de resis-
te alélica do gene ogc (RONEN et cv. Severianin; tência a ser isolado em tomateiro
al., 2000);
ms ms1 até ms44: macho-esterilidade ge- (MARTIN et al., 1993). O outro gene
b k beaked: fruto com um bico na ci- nética; não tem sido usada em esca- geneticamente ligado ao Pto (deno-
catriz estilar; minado Prf) é necessário para con-
la comercial;
ferir completa resistência à bactéria
del fruto de coloração amarela devido
d) resistência a doenças (SALMERON et al., 1996). Outro
ao acúmulo de delta-caroteno;
gene ligado ao Pto é o gene Fen
hp high pigment (alto teor de pigmen- Asc-1 resistência à Alternaria alternata que confere sensibilidade ao inseti-
tos): aumenta o teor de β-caroteno f.sp. lycopersici. Este gene já foi clo- cida Fenthion (SALMERON et al.,
e de licopeno nos frutos maduros nado e isolado (BRANDWAGT et 1996). Ensaios com este inseticida
intensificando a coloração verme- al., 2000); têm sido empregados com sucesso
lha. Apresenta características dele- como um método de seleção indireta
Bs-4 gene introgredido de L. pennellii
térias devido a problemas na síntese para resistência a esta bactéria;
que confere resistência a diversas
de giberelinas;
variantes da bactéria Xanthomonas py-1 resistência ao fungo Pyrenochaeta
Lc fruto bilocular, parcialmente domi- vesicatoria (BALLVORA et al., lycopersici introgredido de L. peru-
nante; 2001ab); vianum (DOGANLAR et al., 1998);

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48 Tomate para Mesa

rt gene recessivo que controla resis- to ao pulgão-da-batata (Macrosiphum O desenvolvimento de cultivares com
tência à risca-do-tomateiro causado euphorbiae) em tomateiro. A resistência resistência a determinadas doenças tam-
por isolados de potyvírus (NAGAI, ao M. euphorbiae em tomateiro pode indi- bém pode ser dificultado pela natureza
1993). Foi introgredido de L. pimpi- retamente reduzir a incidência de alguns mais complexa da resistência. A resistên-
nelifolium PI 126410 e incorporado potyvírus transmitidos por este pulgão cia do tomateiro à mancha-bacteriana
na cultivar Ângela; (ROSSI, et al., 1998). (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria),
Se resistência à Septoria lycopersici, Alguns alelos existentes em tomateiro por exemplo, é controlada quantitativa-
introgredido de L. hirsutum (PI são utilizados só na condição heterozigo- mente (4-8 genes) (SILVA LOBO et al.,2000).
126445); ta, pois, em condição homozigota, influen- Da mesma forma, diversos genes em dis-
ciam de maneira negativa algumas caracte- tintos cromossomos governam a resistên-
Sm resistência a espécies de Stemphy-
lium (S. solani e S. lycopersici); rísticas da cultivar. Os alelos que afetam o cia ao fungo Alternaria solani (FOOLAD
amadurecimento dos frutos de tomate (rin, et al., 2002), à bactéria R. solanacearum
Sw-5 resistência a Tospovirus. Este gene nor e alc) são exemplos práticos deste (MOHAMED et al., 1997, WANG et al.,
foi introgredido de L. peruvianum comportamento, sendo somente emprega- 2000) e resistência a insetos em L. pennelli,
e apresenta um amplo espectro de dos comercialmente em cultivares híbri- esta última mediada por teores de acil-
ação contra distintas espécies de
das F1 (DELLA VECCHIA; KOCH, 2000). açúcares e densidade de tricomas tipo IV
Tospovirus que infectam tomateiro
Nesta condição heterozigota, estes alelos (BLAUTH et al., 1998).
no Brasil (BOITEUX; GIORDANO,
aumentam de três a cinco vezes a vida pós-
1993). O gene Sw-5 já se encontra
colheita dos frutos, em comparação com MÉTODOS DE MELHORAMENTO
clonado e isolado (BROMMON-
as cultivares tradicionalmente usadas no
SCHENKEL et al., 2000); Durante o processo de melhoramen-
mercado (ex: ‘Santa Clara’).
Tm Tm, Tm-2 e Tm-2a: resistência a to do tomateiro, devem-se considerar as
Tobamovirus; existem vários pató- demandas dos produtores, comerciantes,
CONTROLE DE CARACTERÍSTICAS
tipos (raças) com genes de resistên- indústrias e, principalmente, consumidores.
QUANTITATIVAS
cia específicos para cada um deles; Um programa de melhoramento deve apre-
A expressão de qualquer gene pode ser sentar uma estrutura flexível, permitindo
Ty-1 resistência parcial a Begomovirus
afetada pela ação de outros genes presen- ajustes de acordo com as mudanças de ten-
(Tomato yellow leaf curl virus);
tes (epistasia) e pela sua interação com o dências de mercado. O conhecimento da
Ve resistência à murcha de Verticillium ambiente. Os genes listados anteriormente cadeia produtiva do tomate é fundamen-
dahlie raça 1. Este gene já se encon- governam características de herança sim- tal na determinação do ideotipo e permite
tra clonado e isolado (KAWCHUK ples, havendo, contudo, outras muito impor- antever demandas futuras.
et al., 2001). tantes, como produtividade por exemplo, Tendo disponibilidade de recursos e obje-
Trabalhos conduzidos na Embrapa Hor- governadas por muitos genes, grandemen- tivos definidos, o melhorista deve escolher
taliças permitiram a caracterização de um te influenciadas pelo ambiente e de difícil os genitores que serão usados nos cruza-
novo lócus de resistência a geminivírus. mensuração. Conseqüentemente, os ga- mentos visando o desenvolvimento de uma
Este lócus condiciona um amplo espectro nhos genéticos de características quantita- nova cultivar. Esta etapa é crucial em um
de resistência contra distintas espécies tivas são geralmente menores. Para produ- programa de melhoramento, pois sem bons
de geminivírus com genoma bipartido que tividade, ganhos médios de 1,5% e de 0,4% genitores não é possível obter progênies
vem ocorrendo no Brasil. Estudos genéti- ao ano foram observados em programas de qualidade. Geralmente, um desses geni-
cos indicaram que esta resistência apre- de melhoramento de tomate, respectiva- tores é a base do programa (elite) e o outro
senta controle recessivo (GIORDANO et mente, na Califórnia e em Israel (GRAN- é capaz de gerar variabilidade adicional (su-
al., 2001). Este lócus já vem sendo incor- DILLO et al., 1999). Estes mesmos pesqui- plementar). Esta variabilidade pode estar
porado em diversas linhagens de tomateiro sadores observaram ganhos genéticos relacionada com a resistência a doenças,
para consumo in natura e para processa- ainda menores para a característica teor de com o maior teor de brix, fruto de colora-
mento industrial (BOITEUX et al., 2001). sólido solúveis (brix), devido à caracte- ção vermelha mais intensa, com a produti-
Podem-se observar situações em que um rística poligênica do caráter e à correlação vidade etc. Em muitos casos é necessário
mesmo gene está associado a duas resis- negativa deste caráter com a produtivida- recorrer à hibridação interespecífica para
tências diferentes (efeito pleiotrópico), co- de. Aumentos não significativos no brix obtenção desta variabilidade (GIORDANO;
mo no caso do gene Mi. A presença deste foram observados na Califórnia, enquan- SILVA, 1999). Entretanto, o germoplasma
lócus confere tanto resistência ao nematói- to que em Israel estes aumentos foram de suplementar, com algumas características
de-das-galhas (Meloidogyne spp.), quan- 0,53% ao ano. de interesse agronômico, apresenta, quase
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Tomate para Mesa 49

sempre, limitações em relação a outros ca- O genitor que participa apenas do primeiro o processo de seleção requer a destruição
racteres. Assim, o programa adotado deve cruzamento (B) é denominado doador ou da planta (GUIMARÃES; MOREIRA,
evitar a incorporação dessas características não-recorrente, enquanto que o utilizado em 1999). Esta seleção de genótipos superio-
indesejáveis no germoplasma principal. todos os cruzamentos é conhecido como res por meio de marcadores moleculares,
O mecanismo predominante de repro- genitor recorrente (A). O princípio do retro- seleção assistida, pode ser adotada como
dução (autogamia) e a herança genética da cruzamento é a recuperação do genoma ferramenta adicional em qualquer método
característica a ser explorada são importan- do genitor recorrente mantendo-se ape- de melhoramento, independente da cultura
tes na escolha do método de melhoramento. nas os genes de interesse do genitor não- (FERREIRA; GRATAPAGLIA, 1996).
Existem vários métodos de melhoramento recorrente. O sistema apresentado é ado-
aplicados às plantas autógamas que podem tado para o caso de caracteres com herança Descendente de semente única
ser adotados no desenvolvimento de uma dominante. Por outro lado, nos casos de Conhecido como single seed descent
cultivar de tomateiro. Estes métodos são: herança recessiva, é necessária uma gera- (SSD), consiste no aumento da homozi-
introdução de germoplasma; seleção mas- ção de autofecundação entre os cruzamen- gose, sem seleção, à medida que se avan-
sal; método da população; seleção de plan- tos recorrentes. Esta autofecundação pos- çam as gerações. Neste método, as sele-
tas individuais; seleção recorrente, descen- sibilita a identificação de genótipos, com ções normalmente só são efetuadas após a
dente de uma única semente; genealógico; os genes recessivos em homozigose, os obtenção de linhagens avançadas.
retrocruzamentos; dentre outros (FERH, quais serão cruzados com o genitor recor- No caso do tomate, após o cruzamento
1987, ALLARD, 1971, POEHLMAN, 1987). rente (BORÉM, 1997). entre os genitores, são plantadas em tor-
Em adição aos métodos de melhoramento, Quando o número de genes envolvidos no de dez plantas da geração F1, visando à
a seleção de plantas individuais com teste no controle genético da característica em colheita de sementes F2. A partir da geração
de progênie tem sido mais uma ferramenta questão for elevado, é necessária a mani- F2, coleta-se aleatoriamente uma semente
utilizada pelos melhoristas de tomate, na pulação de grandes populações, tornando- de cada planta (400 a 500 plantas). Essas
seleção de plantas superiores. O teste de se mais complexa a transferência dessas sementes são agrupadas para formação da
progênie consiste no plantio individual das características quantitativas. Nesse caso, geração F3, mantendo-se aproximadamente
progênies oriundas dessas plantas selecio- pode-se utilizar uma modificação do mé- o mesmo número de plantas da geração F2.
nadas, possibilitando a comprovação ou todo, adicionando-se duas ou três gera- Da população F3, é colhida aleatoriamente
não de sua superioridade e uniformidade ções de autofecundações entre cada cru- uma semente de cada planta para formação
(ALLARD, 1971). zamento recorrente. As autofecundações da população F4 e assim sucessivamente,
Existem vários métodos de melhora- aumentam o grau de homozigose e conse- até que se atinja um nível satisfatório de
mento, ou combinações entre eles, dispo- qüentemente auxiliam na fixação dos genes homozigosidade (F6 ou F7). Todo esse pro-
níveis para ser utilizados de acordo com as na população. Esta metodologia é conhe- cesso de avanço de gerações, sem seleção,
características de cada programa. A seguir cida por inbred backcross line system poderá ser feito fora do ambiente para o
é apresentada uma descrição sucinta ape- (IBLS) (OWENS et al., 1985). qual está-se desenvolvendo a cultivar. Após
nas de alguns dos métodos mais utilizados A utilização de marcadores moleculares esta etapa, as linhagens serão avaliadas
no melhoramento do tomateiro. aumenta a eficiência dos retrocruzamentos, por meio de testes de progênie nas respec-
permitindo o monitoramento da presença, tivas regiões de produção. Posteriormente,
Retrocruzamentos ou não, de genes de interesse em indiví- realizam-se os procedimentos comuns aos
Considerado como complementar aos duos geneticamente mais próximos ao métodos de melhoramento, envolvendo
métodos clássicos de melhoramento, é em- genitor recorrente. Além disso, permite o avaliações finais dos genótipos selecio-
pregado em cruzamentos divergentes com monitoramento da incorporação de seg- nados.
o intuito de incorporar e fixar um ou poucos mentos cromossomais, ligados ao gene de Uma das principais características do
genes em uma variedade que já apresenta interesse, minimizando a possibilidade de SSD é a dissociação entre as fases de aumen-
outras características agronômicas supe- uma eventual incorporação de alelos do ge- to da homozigose e de seleção (BORÉM,
riores. A cultivar de tomate ‘Viradoro’, para noma do parental doador, cuja performance 1997). No caso do tomate, este método per-
processamento industrial, é um bom exem- seja inferior para outras características de mite o avanço de até três gerações por ano.
plo do uso deste método. Essa cultivar foi interesse (linkage drag). O uso de marca-
desenvolvida pela incorporação da resis- dores moleculares apresenta grande impor- Genealógico
tência a Tospovirus (gene Sw-5) na cultivar tância na seleção de genótipos superiores, Plantas F1, obtidas por meio de cruza-
IPA-5 (GIORDANO et al., 2000). principalmente quando se trabalha com dois mentos entre os genitores (germoplasma
O retrocruzamento envolve uma série de ou mais genes, ou quando o fenótipo é de elite) são autofecundadas para formação
cruzamentos recorrentes: {[(A x B) x A] x A}... determinação complexa ou, ainda, quando da próxima geração (F2). A partir desta etapa,
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50 Tomate para Mesa

as gerações são conduzidas sob condições mento, sendo fortes candidatos a uma individual e/ou conjunta. Os blocos casua-
de cultivo, porém com um espaçamento nova cultivar. lizados permitem a estimação de parâmetros
maior para possibilitar a avaliação indivi- A natureza genética das características genéticos por meio de diferentes modelos
dual das plantas. As plantas fenotipica- avaliadas também direciona e dimensiona estatísticos.
mente superiores são selecionadas e cada o desenho experimental a ser utilizado. De- Quando a avaliação for realizada so-
uma dará origem a uma família na geração senhos experimentais menos sofisticados mente em um ambiente (local), sem repe-
subseqüente. Este procedimento de seleção atendem perfeitamente às exigências de tição nos anos subseqüentes (análise indi-
é repetido até que o nível homozigose de- caracteres com herança monogênica ou até vidual), o desenho de blocos casualizados
sejado seja obtido (geração F6). oligogênicos (qualitativa). Como exemplos é explicado por meio do seguinte modelo
A estrutura de famílias adotada no mé- podem-se citar a resistência a Tospovirus biométrico:
todo genealógico permite a seleção tanto (gene Sw-5) e a arquitetura da planta (gene
Yij = μ + gi + bj + εij
de indivíduos superiores dentro de famílias sp.). À medida que mais genes são envol-
(modelo I)
(nas primeiras gerações) quanto das pró- vidos na determinação de uma caracte-
prias famílias (em gerações avançadas). To- rística (herança poligênica/quantitativa),
Por outro lado, se a avaliação em blocos
das as gerações sob processo de seleção desenhos experimentais mais complexos
casualizados for realizada em dois ou mais
devem ser conduzidas em região e época de são necessários para estimar com maior
ambientes ou em dois ou mais anos, o
plantio representativas do ambiente onde precisão o efeito ambiental. Características
modelo biométrico será:
será plantada a nova cultivar. O método com herança quantitativa, como resistên-
genealógico fundamenta-se na otimização cia a mancha-bacteriana e produção, são Yijk = μ + (b/a)jk + gi + aj + gaij + εijk
dos procedimentos de seleção com base mais influenciadas pelas ações do meio (modelo II)
nos sucessivos testes de progênie e no ambiente.
conhecimento da genealogia dos indiví- Vários são os desenhos experimentais Finalmente, quando a avaliação for fei-
duos selecionados. Portanto, após ser que podem ser utilizados em um programa ta em dois ou mais ambientes e em dois ou
atingido o grau satisfatório de homozigo- de melhoramento, tais como: inteiramente mais anos, o modelo adotado será:
sidade, linhagens que apresentem ancestral ao acaso; blocos casualizados; látice; qua-
Yijk = μ + (B/A)/Ljkm + Gi + Aj + Lk +GAij +
comum, uma ou duas gerações anteriores, drado latino; fatorial; parcelas subdivididas
GLik + ALjk + GALijk + εijkm
podem ser consideradas geneticamente se- e hierárquico. Modificações dos desenhos
(modelo III)
melhantes, e deverá ser eleita somente uma experimentais como blocos incompletos,
para avaliações futuras (BORÉM, 1997). látice triplo ou a utilização de testemunhas As fontes de variação, com seus respec-
adicionais ou intercalares poderão ser ado- tivos graus de liberdade, relacionadas com
DESENHOS EXPERIMENTAIS tadas para atender situações específicas. esses três modelos, estão descritas no Qua-
Desenhos mais complexos exigem aná- dro 3, de acordo com Cruz e Regazzi (1994).
A avaliação dos genótipos de tomate lises estatísticas mais sofisticadas, difi- As esperanças dos quadrados médios
(geração, linhas, famílias, populações) é ne- cultando a determinação dos parâmetros de cada fonte de variação nos diferentes
cessária ao longo de todo o programa de genéticos necessários à tomada de decisão modelos apresentados para blocos casua-
melhoramento. Nas fases iniciais, desenhos durante o processo de seleção de genóti- lizados permitem a estimação dos seguin-
experimentais mais simples (análise de pos superiores. Blocos completos casuali- tes parâmetros genéticos: componentes de
variância individual) são suficientes no zados são os desenhos experimentais mais variância e covariância (fenotípico, genotí-
auxílio à seleção dos genótipos superiores. utilizados pelos melhoristas de tomate de- pico e ambiental), herdabilidade (senso
A análise de variância individual envolve vido à facilidade na instalação dos experi- estrito e amplo), coeficientes de variação
um experimento não repetido ao longo dos mentos e na análise dos dados. (genético e experimental) e correlações (fe-
anos e em apenas um ambiente (local). A seguir são detalhadas as análises de notípica, genotípica e de ambiente) entre
Entretanto, nas fases de observação e vali- blocos completos casualizados e de gru- todos os pares de caracteres estudados.
dação de genótipos avançados, é neces- pos de experimentos.
sária uma avaliação (experimento) em dife- Grupos de experimentos
rentes ambientes ao longo de dois ou três Blocos completos A análise de grupos de experimentos é
anos. Essa avaliação requer uma análise casualizados bastante apropriada para ensaios do tipo
de variância conjunta dos experimentos. Os Este desenho experimental fundamenta- Ensaio Nacional de Tomate, em que são
genótipos avançados, geralmente em nú- se na homogeneidade dentro, e heteroge- avaliados genótipos avançados e cultiva-
mero reduzido, já ultrapassaram todas as neidade entre os blocos delineados, permi- res novas ou já estabelecidas no mercado
fases de seleção do programa de melhora- tindo a realização de análises de variância em diferentes regiões brasileiras. Este de-
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Tomate para Mesa 51

QUADRO 3 - Quadro de ANOVA para análise de um experimento de avaliação de genótipos em blocos completos casualizados

Modelo I Modelo II Modelo III

FV GL FV GL FV GL

Bloco b-1 Bloco/Ambiente a (b -1) (Bloco/Ambiente)/Local al (b -1)

Genótipo g-1 Genótipo (G) g -1 Genótipo (G) g -1


(1)
Resíduo (b - 1)(g - 1) Ambiente (A) a-1 Ano (A) a -1
................................................................
GxA (g - 1)(a - 1) Local (L) L -1
Total gb - 1
Resíduo ga (b - 1) GxA (g - 1)(a - 1)
.............................................................................
GxL (g - 1)(L -1)
Total gab - 1
AxL (a - 1)(L -1)

GxAxL (g - 1)(a - 1) (L -1)


Resíduo al (g-1)(b -1)
..............................................................................................
Total galb - 1

(1) Quando só há um ambiente avaliado em dois ou mais anos, o quadro de ANOVA é o mesmo, apenas substituindo o efeito de Ambiente (ou Local) pelo
efeito de Anos.

senho caracteriza-se pela condução de dois A planilha de dados obtidos em ensaios Os valores Zijk e Yijk referem-se à mesma
ou mais ensaios (experimentos) contendo conduzidos com tratamentos comuns e não variável. Essa distinção deve-se à represen-
vários genótipos, mas com apenas poucas comuns está representada no Quadro 4. tação dos valores das testemunhas e dos
cultivares referenciais ou padrões em co-
mum. O ideal é que cultivares que dominam
QUADRO 4 - Valores mensurados em famílias e testemunhas avaliadas em vários ensaios(1)
o mercado sejam utilizadas como genótipos
comuns (testemunhas). Desse modo, cada Experimento Experimento Experimento
Trata-
...
ensaio é composto por um grupo de genó- 1 2 e
tipos comuns e um grupo de tratamentos mentos
R1 ... Rr R1 ... Rr R1 ... Rr
(cultivares e/ou linhagens) não comuns.
Neste desenho experimental, realiza-se aná- F1 Y 111 Y 1r1
lise individual e agrupada dos ensaios. A ... ... ...
análise conjunta envolve os tratamentos F g1 Y g 111 Y g1r1
comuns juntamente com os não comuns, ......................................................................................................................................
permitindo a comparação entre quaisquer
F’ 1 Y 1’12 Y 1’r2
genótipos, mesmo que oriundos de distin-
... ... ...
tos ensaios.
F’ g2 Y g2’12 Y g2’r2
Em que:
b : número de blocos dentro de cada ......................................................................................................................................
ensaio;
... ...
......................................................................................................................................
e : número de ensaios; F”1 Y 1”1e Y1”re
t : número de testemunhas (trata- ... ...
mentos comuns); F”ge Y g2”1e Y g2”re
G = g1 + g2 + ... + ge: número total de ......................................................................................................................................
genótipos (tratamentos não co- T1 Z 111 Z 1r1 Z 112 Z 1r2 Z 11e Z 1re
muns);
... ... ... ... ... ... ...
g k : número de genótipos avaliados
Tt Z t11 Z tr1 Z t12 Z tr2 Z t1e Z tre
no ensaio k;
Gk = gk + t: número de tratamentos (1) Quadro fornecido pelo Prof. Cosme Damião Cruz, do Departamento de Biologia Geral da Universi-
avaliados no ensaio k. dade Federal de Viçosa (UFV).

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52 Tomate para Mesa

genótipos na análise agrupada, pois os TeEjk : efeito da interação entre trata- Gi : efeito do i-ésimo genótipo, num
efeitos considerados na determinação de mento comum e o ensaio (ambi- ensaio k;
cada observação são diferenciados. ente); Bj : efeito do j-ésimo bloco, num en-
De maneira geral, na análise agrupada, ε ijk : erro aleatório. saio k;
consideram-se duas fontes de variações em
relação a tratamentos. A primeira diz res- Dentro de cada experimento, o desenho ε ijk : erro aleatório, num ensaio k.
peito a genótipos (ou famílias), em que cada de blocos completos casualizados pode As fontes de variação para análises
grupo ocorre em um determinado ensaio, ser utilizado. Desse modo, os parâmetros individual e agrupada são apresentadas
não sendo possível quantificar a interação genéticos estimados pela metodologia de no Quadro 5. O Programa Genes, da Univer-
destes com os ambientes. A segunda refere- blocos também podem ser estimados pela sidade Federal de Viçosa (UFV), permite
se aos genótipos comuns (testemunhas), análise de grupos de experimentos. Portan- efetuar este tipo de análise (CRUZ, 2001).
que são avaliados em sistema fatorial, quan- to, além de possibilitar a comparação de
tificando-se a variação entre eles e aque- um genótipo com outros genótipos avalia-
MÉTODO DE PRODUÇÃO DE
la devido à interação com os ambientes. O dos em regiões diferentes, esse desenho
SEMENTES HÍBRIDAS
contraste entre testemunhas e genótipos também permite a realização da análise
individual (por experimento). Nessas aná- As linhagens avançadas, obtidas pelos
também é avaliado na análise, juntamente
lises consideram-se as testemunhas e o diferentes métodos de melhoramento, de-
com as fontes de variação inerentes aos
grupo de genótipos de cada experimento, verão ser finalmente avaliadas utilizando-
ambientes, caracterizados pelos efeitos de
cujas observações são descritas confor- se delineamentos experimentais adequados
blocos e de resíduo.
me modelo a seguir: com o intuito de se eleger as novas cultiva-
A seguir, será descrito o esquema de
Yij(k) = μ + Gi + Bj + εij(k) , para cada res. Nesta fase podem ser realizados testes
análise agrupada proposto por Cruz (2001),
ensaio k, em que: de Capacidade Geral de Combinação (CGC)
o qual tem a vantagem de fornecer infor-
e Capacidade Específica de Combinação
mações sobre o contraste entre as médias Yijk : valor no i-ésimo genótipo j-ésima (CEC), para a identificação das melhores
de genótipos e testemunhas nos ambientes, repetição, para um particular en- linhagens e combinações de linhagens
bem como a interação entre testemunhas e saio k; visando à seleção de híbridos comerciais
ambientes. Porém, neste esquema, a soma
μ : média geral do ensaio; com características agronômicas superiores.
de quadrados de genótipos/ensaio não é
ajustada, de forma que o componente de
QUADRO 5 - Quadro de ANOVA da análise individual de um ensaio e da análise conjunta dos vários
variância genético estimado é a média obti- ensaios (análise agrupada), nas quais são avaliados tratamentos comuns e não comuns do
da em cada ensaio. Recomenda-se fazer o experimento(1)
ajuste da média a partir das informações
Análise individual (ensaio k) Análise agrupada
das testemunhas, caso seja necessária a
identificação dos materiais genéticos su- FV GL FV GL
periores entre o genótipos avaliados. Se a
Blocos r -1 Blocos/Ensaios (r - 1)e
seleção é estratificada, em cada ambiente,
Tratamentos(2) G-1 Ensaios (E) e-1
essa correção é dispensável. Este esquema
Famílias (F) g-1 Testemunhas (Te) t-1
adota o seguinte modelo biométrico:
Testemunhas (Te) t -1 E x Te (t - 1)(e - 1)
Zijk = μ + Tei + Bj(k) + Ek + TeEjk + εijk
F x Te 1 Genótipos (G)/Ensaio
io e

em que: Resíduo (r - 1)(G - 1) ∑g


k =1
k −e

Zijk : valor no i-ésimo tratamento co-


mum, na j-ésima repetição do Total rG - 1 (Te x G)/E e
⎛ e ⎞
ensaio k; Resíduo (r − 1)⎜ ∑ g k + et + e ⎟
μ : média geral do ensaio; ⎝ k =1 ⎠

Tei : efeito da i-ésima testemunha Total ⎛ e



(tratamento comum); ⎜ ret + r ∑ gk ⎟ − 1
⎝ k =1 ⎠
Bj(k) : efeito do j-ésimo bloco dentro (1) Adaptação do Quadro fornecido pelo Prof. Cosme Damião Cruz, do Departamento de Biologia
do k-ésimo ensaio; Geral da Universidade Federal de Viçosa (UFV). (2) Sendo G = g + t, o número total de tratamentos,
Ek : efeito do k-ésimo ensaio; incluindo as famílias e as testemunhas.

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Tomate para Mesa 53

Os desenhos experimentais descritos na Emasculação da flor de cruzamento, a data e o nome da pessoa


seção anterior, aplicam-se na avaliação de A emasculação da flor consiste na re- responsável pela polinização. As flores
CGC e CEC. moção dos estames (antera e filete) dos bo- não-polinizadas são removidas, para evi-
Teoricamente, a autogamia implica na tões florais do genitor feminino, antes da tar mistura de frutos resultantes de auto-
obtenção de baixos níveis de heterose, o liberação dos grãos de pólen das anteras fecundação com os obtidos a partir de cru-
que indica pouca vantagem do híbrido F1 (Fig. 1). A emasculação tem início 30 a 40 zamentos.
em relação à média dos pais. Entretanto, dias após o transplante das mudas. Os bo-
Coleta do pólen
apesar de o tomateiro ser uma planta autó- tões florais deverão ser emasculados um
gama, observa-se, nas últimas décadas, a dois dias antes da antese para evitar auto- A produção de pólen poderá ser influ-
uma grande expansão no uso de sementes fecundação. Neste estádio, as sépalas co- enciada pelo estado nutricional da plan-
ta (HOWLET, 1936), por temperaturas altas
híbridas, devido à maior facilidade de com- meçam a separar-se, as pétalas apresentam-
(40°C) e por baixas (10°C). O pólen pode
binar um número maior de atributos em um se com coloração verde-esbranquiçada e
permanecer viável por várias semanas,
único genótipo e à maior agregação de va- o estigma encontra-se receptivo. As pin-
quando armazenado em ambientes com bai-
lores à semente (GEORGIEV, 1991). ças e as tesouras, bem como as mãos dos
xa umidade relativa do ar. A retirada do pó-
A hibridação do tomateiro, visando à responsáveis pela polinização, deverão ser
len deverá ser feita de flores completamente
produção de sementes híbridas comerciais, lavadas com álcool 95% para evitar con-
abertas, colhidas no genitor masculino, com
contempla as etapas de emasculação, co- taminação com pólen estranho. Devem-
o auxílio de pequenos vibradores manuais
leta do pólen, polinização, produção dos se utilizar as três primeiras flores de cada
movidos a pilhas, sendo o grão de pólen
frutos, colheita dos frutos, extração das cacho, pois, a partir da quarta flor, observa-
depositado em pequenos depósitos de mais
sementes, secagem das sementes, embala- se redução no pegamento de frutos (BAR-
fácil manuseio. Pólen recém-colhido garan-
gem e armazenamento das sementes. RONS; LUCAS, 1942). A remoção dos esta-
te um melhor pegamento de fruto. Poderá
Nos programas de melhoramento de mes é feita com o auxílio de uma pinça ou,
ser armazenado por dois a três dias em um
tomate, os cruzamentos são realizados em simplesmente, com os dedos médio e po-
refrigerador comum. Entretanto, o pólen po-
ambiente protegido, utilizando-se telados legar, tomando o cuidado de não danificar
de permanecer viável por várias semanas
ou casas de vegetação. Para facilitar o ma- o estilete nem o estigma. Com um pouco de
quando armazenado em ambientes com bai-
nuseio, as plantas são conduzidas com experiência é possível remover o cone de
xa umidade relativa do ar e baixa tempera-
estacas. As técnicas comumente usadas estames e a corola em uma só operação. tura. Caso o armazenamento seja feito em
durante o processo de hibridação artificial Alguns melhoristas preferem remover ape- dissecador, com temperatura de 0°C a 5°C,
do tomateiro foram desenvolvidas e des- nas o cone das anteras deixando o cálice, a o pólen poderá permanecer viável por um
critas por Barrons e Lucas (1942) e por Rick corola e o pistilo. As flores polinizadas são período de até seis meses (MCGUIRE, 1952).
(1980). identificadas por uma etiqueta com o tipo Utilizando-se técnicas de liofilização, o
pólen poderá ser armazenado por pelo me-
nos dois anos. Entretanto, deve-se ter sem-
pre em mente que as melhores taxas de fer-
tilização são obtidas com pólen recém-
coletado.

Polinização
A polinização (Fig. 2) poderá ser feita
imediatamente após o processo de emas-
culação e durante todo o dia, com igual efi-
ciência, evitando, entretanto, polinizações
ao final da tarde (DEMPSEY; BOYNTON,
1962). Quando as hibridações são feitas
em casa de vegetação, não é necessária a
proteção das flores recém-polinizadas com
sacos de papel, pois, nestas condições, a
possibilidade de contaminação com pólen
indesejável é baixa, principalmente quando
Figura 1 - Flores recém-polinizadas se remove as pétalas juntamente com o co-
NOTA: Flor emasculada em destaque. ne de anteras.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.43-57, 2003
54 Tomate para Mesa

dos em vasos com 5 L de solo produzem, tação da mistura contendo o líquido pla-
em média, de 6 a 8 frutos com sementes centário e as sementes. A remoção poderá
híbridas por planta. Plantas cultivadas ser efetuada por meio de fermentação na-
diretamente no solo produzem em média tural ou por processos químicos. Para pe-
10 a 12 frutos por planta. quenas quantidades de sementes, normal-
mente utiliza-se a fermentação natural. O lí-
Colheita dos frutos quido placentário e as sementes, separadas
Os frutos resultantes do cruzamento do restante da polpa, são colocados para
são colhidos 40 a 50 dias após a poliniza- fermentar em vasilhames plásticos por um
ção. Deve-se colher de preferência frutos período de 24 a 48 horas. Quanto maior a
completamente maduros. Neste estádio, temperatura do ambiente, menor deve ser a
Figura 2 - Polinização de flor emasculada
de tomateiro
as sementes estarão totalmente desenvol- duração da fermentação. Se a temperatu-
vidas. Caso tenha sido realizada a colhei- ra for superior a 25°C, apenas um dia de
ta de frutos não completamente maduros, fermentação é suficiente. Temperaturas
Produção dos frutos colocá-los em local seco e frio por 4-5 dias. mais elevadas e períodos mais prolonga-
A taxa de pegamento de frutos no pro- Utilizar contentores plásticos para o arma- dos de fermentação, por exemplo três dias,
cesso de hibridação artificial é de aproxima- zenamento dos frutos. prejudicam a qualidade das sementes. Na
damente 70%, dependendo da posição da presença de temperaturas superiores a 25°C,
flor no cacho (BARRONS; LUCAS, 1942), Extração das sementes apenas um dia de fermentação natural é
do estado nutricional da planta, da tempera- Nos programas de melhoramento de suficiente. Duas a três vezes ao dia, devem-
tura e da umidade do ar. Temperatura entre tomate, trabalha-se normalmente com pe- se revolver as sementes para melhorar o
22°C e 28°C e umidade na faixa de 70% a quenas quantidades de sementes, sendo processo de fermentação e minimizar o de-
85% favorecem a hibridação artificial (KAUL, a extração feita manualmente. Neste caso, senvolvimento de fungos principalmente
1991). Nas condições do Brasil Central, têm- os frutos de um mesmo cruzamento po- na superfície. Após a fermentação, lavar
se obtido em média 72% de pegamento de derão ser colocados em um saco plástico imediatamente as sementes em água cor-
fruto, quando se utilizam telados cobertos procedendo-se o esmagamento dos mes- rente, mexendo-as para que pedaços mais
(Fig. 3). O número de frutos obtidos por mos. Para remoção da sarcotesta, que é a leves de polpa, placenta e pele comecem a
planta irá depender do genótipo utilizado capa gelatinosa (mucilagem) que envolve flutuar, permanecendo as sementes no fun-
como genitor feminino. Tomateiros cultiva- as sementes, torna-se necessária a fermen- do dos vasilhames plásticos e facilitando a
separação delas. Esta operação deverá ser
repetida algumas vezes até que a mucila-
gem e o restante da polpa sejam completa-
mente removidos, permanecendo apenas as
sementes no fundo do vasilhame. A extra-
ção da mucilagem poderá ser feita utilizando-
se processos químicos. Neste caso, o suco
contendo as sementes e o líquido placen-
tário é tratado com ácido clorídrico comer-
cial a 36%, diluído em água (1:2) na pro-
porção de 30 mL da solução para 400 mL
do suco (NASCIMENTO, 2000). O suco
deverá ser agitado à medida que o ácido
estiver sendo adicionado. Continuar agi-
tando durante 30 minutos, para remoção
completa da mucilagem, procedendo-se
imediatamente a lavagem das sementes.

Rendimento de sementes
O rendimento de sementes híbridas por
planta é bastante variável e depende, prin-
Figura 3 - Visão geral de um telado de produção de sementes híbridas de tomate cipalmente, do genitor feminino utilizado.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.43-57, 2003
Tomate para Mesa 55

Colhendo-se em média 10 a 12 frutos, ou simplificadas podem ser empregadas para some landing at the tomato Bs4 locus. Molecular
seja, em torno de 1,7 a 2,0 kg de frutos por seleção não-destrutiva de plantas com re- Genetics and Genomics, v.266, p.639-645,
planta, estima-se em 2,0 a 2,5 gramas de sistência para múltiplas doenças simulta- 2001b.
sementes híbridas por planta. neamente. BARRONS, K.C.; LUCAS, C.E. The produ-
Em relação aos patógenos do tomatei- cion of first-generation hybrid tomato seed for
Secagem e armazenamento ro, as técnicas biomoleculares têm permi- commercial planting. Proceedings of the
das sementes tido: American Society for Horticultural Science,
Após a lavagem, as sementes poderão Beltsville, v.40, p.395-404, 1942.
a) melhor caracterização da variabilida-
ser colocadas em pequenas bandejas com
de genética e do perfil de virulência BLAUTH, S. L.; CHURCHILL, G .A.;
fundo de tela plástica. A secagem poderá
desses patógenos; MUTSCHLER, M.A. Identification of quantitative
ser acelerada utilizando-se uma centrífuga
trait loci associated with acylsugar accumulation
para remover o excesso de umidade exis- b) detecção precisa e em larga escala
using intraspecific populations of the wild toma-
tente na superfície da semente. No caso de da maioria dos patógenos de impor-
to, Lycopersicon pennellii. Theoretical and
programas de melhoramento, em que a tância econômica.
Applied Genetics, New York, v.96, p.458-467,
quantidade de semente processada é sem-
Essas técnicas de detecção estão sen- 1998.
pre pequena, as sementes provenientes de
do usadas em pesquisas básicas, tais como
cada cruzamento poderão ser embaladas BOITEUX, L.S.; GIORDANO, L.B. Genetic basis
estudos de herança e investigações sobre
em pequenos sacos de tecido permeável, of resistance against two Tospovirus species in
os mecanismos de resistência (ex.: imu-
devidamente identificados, procedendo-se tomato (Lycopersicon esculentum). Euphytica,
nidade x tolerância) fornecendo aos me- Wageningen, v.71, p.151-154, 1993.
em seguida a centrifugação.
lhoristas de tomate uma maior segurança
no processo de seleção de fontes de resis- _______; INOUE-NAGATA, A.K.; GIORDANO,
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58 Tomate para Mesa

Manejo da irrigação na cultura do tomate para mesa


com ênfase em fertirrigação e gotejamento
Tadeu Graciolli Guimarães 1
Paulo Cezar Rezende Fontes 2

Resumo - No cultivo do tomateiro para mesa, o manejo da irrigação por gotejamento é


ferramenta necessária para se atingir usos racionais de água e fertilizantes, controle do
processo produtivo, produtividade elevada e competitividade. Serão descritas aqui as
principais características e particularidades de projetos de irrigação por gotejamento para
tomate para mesa, com ênfase nos principais métodos para manejo de água e de nutrien-
tes fertirrigados por gotejamento no Brasil, como uso de tanque classe A e tensiometria,
associando-se informações de crescimento e extração de nutrientes nas fases fenológicas
da cultura para o estabelecimento de programas de fertirrigação.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Água; Nutrição mineral; Monitoramento; Tan-
que classe A; Tensiômetro.

INTRODUÇÃO imenso desafio enfrentado pela humani- envenenam-na e, inquietantemente, mu-


A água é um recurso fundamental para dade para resolver a difícil equação cresci- dam os ciclos hidrológicos, indiferen-
a manutenção e a reprodução da vida em mento econômico e populacional, abaste- tes às conseqüências: muita gente,
nosso planeta. É um componente integran- cimento de água, agricultura, poluição e pouca água, água nos lugares errados
te da riqueza de um país ou uma região, e conservação dos recursos hídricos. e em quantidades erradas. A população
participa de todos os processos produti- “O problema com a água - e existe humana está crescendo explosivamen-
vos e geradores de riquezas como um input um problema com a água - é que não se te, mas a demanda por água está cres-
imprescindível, porém cada vez mais escas- está produzindo mais água. Não se está cendo duas vezes mais rápido.”
so e valioso (SEGURA, 1995). produzindo menos, observe, mas tam- Como qualquer cultura olerícola, o cul-
Sendo o fator que mais afeta a produti- bém não se está produzindo mais - hoje tivo do tomate para mesa (Lycopersicon
vidade das plantas cultivadas, a agricultura existe a mesma quantidade de água esculentum Mill.) caracteriza-se pelo uso
é, de longe, a maior usuária de água, repre- no planeta que existia na pré-história. intensivo de água e fertilizantes, uma vez
sentando em média 69% da demanda, con- As pessoas, no entanto, estão fazendo que os aportes de água e de nutrientes são
tra 23% da indústria e 8% do abastecimento mais - muito mais, muitíssimo mais do componentes fundamentais para a obten-
humano. Em países em desenvolvimento, que é ecologicamente sensato - e to- ção de elevadas produtividades de frutos
o uso no setor agrícola chega a atingir 80%, das estas pessoas são absolutamente de qualidade comercial, seja em cultivos
em parte devido à predominância de técni- dependentes da água para viver, para realizados a campo, seja em cultivos rea-
cas ineficientes de irrigação (AZEVEDO et seu sustento, para se alimentar e, cada lizados em ambiente protegido, em solo,
al., 2000). vez mais, para suas indústrias. Os se- substratos inertes e hidroponia. Apesar
O texto a seguir, extraído de Água - Co- res humanos podem viver um mês sem de apresentarem boa eficiência na irriga-
mo o uso deste precioso recurso natural comida, mas morrerão em menos de uma ção do tomateiro, os métodos de irrigação
poderá acarretar a mais séria crise do semana sem água. Os seres humanos por sulcos, aspersão convencional e pivô
século XXI (VILLIERS, 2002), sumariza o consomem água, desperdiçam-na, central apresentam alguns inconvenientes

1
Engo Agro, D.Sc. Gerente de Produção Montesa Agropecuária, Comercialização, Exportação e Importação Ltda, Rua Nicolson Pacheco, 645,
CEP 38670-000 Serra do Salitre- MG. Correio eletrônico: tadeu.montesa@uol.com.br
2
Engo Agro, Ph.D., Prof. Tit. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: pacerefo@ufv.br

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Tomate para Mesa 59

como aplicação excessiva e desperdício aplicação da lâmina diária em vários parce- utilizar é governada pelo equilíbrio entre
de água, maior consumo de energia, maior lamentos. Em cultivos protegidos de horta- custo e durabilidade, uma vez que, quanto
necessidade de mão-de-obra, lixiviação e liças em substratos inertes, já são realizados mais espessa a parede, maiores são o custo
lavagem superficial de nutrientes que re- mais de 50 pulsos de irrigação por dia, com e o potencial de vida útil. A disponibilida-
duzem a eficiência das fertilizações, molha- notável economia de água e aumento de de e o custo da mão-de-obra para o recolhi-
mento da parte aérea e lavagem dos defen- produtividade. mento das mangueiras também influem,
sivos (GUIMARÃES, 2002). Tais conse- Manejos adequados de água e nutrien- caso este processo não seja realizado meca-
qüências são, hoje, incompatíveis com a tes começam por um projeto hidráulico bem nizadamente. Geralmente, a durabilidade
conservação dos recursos hídricos, com a delineado, no qual são associadas infor- esperada das mangueiras delgadas é de
sustentabilidade do meio ambiente, e com mações hidráulicas e fitotécnicas, caracte- quatro safras, enquanto que 12 safras é a
o controle e a competitividade do proces- rísticas físico-químicas do solo e da água, durabilidade esperada para as de paredes
so produtivo, conduzindo técnicos e pro- bem como topografia do terreno e compo- grossas, contanto que se façam os trata-
dutores a buscar sistemas de produção de nentes climáticos, de forma que permita mentos de manutenção (limpeza com ácido
tomate para mesa que sejam economica- a adoção de práticas de irrigação e fertili- e cloração) e se adotem práticas de recolhi-
mente viáveis, mais produtivos e competi- zação ajustadas às exigências da cultura mento, transporte e armazenagem adequa-
tivos, e que também contemplem vantagens (GUIMARÃES, 2002). das, conforme preconizadas pelos fabri-
e benefícios de natureza ambiental. Como Os espaçamentos entre gotejadores, cantes.
resposta a esse desafio, destaca-se a irri- adotados para a instalação de um tomatal Decisão importante também está re-
gação por gotejamento e as tecnologias a comercial, variam em função da cultivar e lacionada com o espaçamento e com a va-
ela associadas, as quais são discutidas de seu hábito de crescimento, local, ambi- zão dos gotejadores, uma vez que estes
neste artigo. ente, época de cultivo, dentre outros. Ge- são fatores determinantes da taxa de apli-
ralmente, em projetos comerciais irrigados cação de água do projeto, do desempenho
PROJETOS DE IRRIGAÇÃO POR por gotejamento, transplantam-se as mu- da cultura e do custo final. Podem ser uti-
GOTEJAMENTO PARA PRODUÇÃO das nos espaçamentos de 1,4 a 1,5 m entre lizados gotejadores com vazões entre 1,0 e
DO TOMATE PARA MESA fileiras e 0,50 a 0,75 m entre covas, com 2,0 L/hora, em espaçamentos que variam
O sistema de irrigação por gotejamento uma planta por cova. Cada linha de plan- entre 0,20 e 0,75 m, os quais, associados
é, notadamente, aquele que apresenta a tas recebe uma linha lateral de irrigação (re- aos espaçamentos entre plantas de tomate,
maior eficiência na aplicação de água, per- lação 1:1), sistema este comumente chama- resultariam nas relações gotejadores por
mitindo que se atinjam elevados níveis de do linhas simples. planta apresentadas no Quadro 1.
precisão, uniformidade e controle no forne- As mangueiras utilizadas enquadram-
cimento de água e nutrientes. Ao conjunto se em três classes, dependendo da espes- Volume de solo molhado e
sura da parede: delgadas (0,1 mm - 0,4 mm), desenvolvimento radicular
dos métodos de irrigação por gotejamento
e por microaspersão, denomina-se irriga- médias (0,4 mm - 0,8 mm) e grossas (0,8 mm Os valores em destaque no Quadro 1
ção localizada, que pode ser definida como -1,2 mm). A decisão final sobre qual tipo são aqueles mais indicados econômica e
um conjunto de técnicas empregadas para
a aplicação de água de forma localizada, QUADRO 1 - Número de gotejadores por planta obtido com as combinações entre espaçamentos
em pequenas lâminas e em alta freqüência, das plantas de tomate na linha de plantio e espaçamentos entre gotejadores nas man-
visando construir e manter níveis ótimos gueiras
de umidade. Por isso, a irrigação localizada Espaçamentos entre gotejadores
também é denominada irrigação de alta (m)
Espaçamentos
freqüência, pois, devido ao fato de se va- entre plantas
ler de sistemas fixos e que permanecem no 0,20 0,25 0,30 0,40 0,50 0,75
(m)
talhão cultivado durante todo o ciclo, per- Gotejadores por planta
mite adotar turnos de rega menores que os
0,30 1,50 1,20 1,00 0,75 0,60 0,40
empregados nos outros métodos, irrigando-
se até diariamente (CASTAÑER, 2000). Em 0,40 2,00 1,60 1,33 1,00 0,67 0,53
situações especiais, como cultivos realiza- 0,50 2,50 2,00 1,67 1,25 1,00 0,67
dos em solos arenosos, em ambientes pro- 0,60 3,00 2,40 2,00 1,50 1,20 0,80
tegidos e/ou em substratos inertes, pode-
0,75 3,75 3,00 2,50 1,88 1,50 1,00
se adotar a irrigação por pulsos, que é a

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60 Tomate para Mesa

agronomicamente, ou seja, deve-se buscar no perfil do solo (BRANDÃO et al., 2000). apresenta menor volume de raízes quando
a relação entre 1,5 e 2,5 gotejadores para Assim, geralmente, solos de textura are- irrigado por gotejamento do que quando
cada planta, visando formar faixa úmida nosa apresentam elevadas condutividade irrigado por aspersão (BAR-YOSEF et al.,
contínua (Fig. 1), e, assim, garantir supri- hidráulica e taxa de infiltração, enquanto 1980), devido, provavelmente, ao menor
mento adequado de água, sem promover que os de textura argilosa apresentam me- volume de solo umedecido. Porém, uma
percolação desta para além da zona explo- nores valores (SILVA; KATO, 1997). Porém, vez que o suprimento de água e nutrientes
rada pelas raízes, proporcionando bom solos intemperizados como os de cerrado, é otimizado, o tomateiro apresenta maior
volume de solo molhado e fertilizado para com elevados teores de óxidos de Fe e Al, densidade de raízes na zona úmida criada
o crescimento radicular. apresentam estrutura bastante desenvolvi- pelo gotejamento, permitindo grande explo-
O padrão de distribuição de água no so- da, com agregados estáveis que lhes confe- ração do solo umedecido, fertilizado e are-
lo e as dimensões da faixa úmida são infor- rem elevadas taxas de infiltração e, também, jado, sendo um dos fatores que contribuem
mações muito importantes, devendo ser menor capacidade de retenção de umidade. para o aumento de produtividade do toma-
observados e mensurados in situ (Fig. 1). Nesses casos, o tomateiro beneficia-se pela teiro sob gotejamento, assim como ocorre
A instalação de baterias de tensiômetros, adoção de turnos de rega e lâminas me- em outros cultivos.
em distâncias crescentes dos gotejadores nores, práticas de manejo similares às reco- Nos 45-50 dias iniciais do ciclo (trans-
e em várias profundidades, também pode mendadas para solos arenosos. plantio até o final do período vegetativo/iní-
ser utilizada nas avaliações das dimensões Após a infiltração, a água é armazenada cio do florescimento), o sistema radicu-
da faixa úmida, permitindo, inclusive, que no solo, sendo expressa em milímetros de lar do tomateiro explora os primeiros 25 cm
se conheça a conformação tridimensional água retida por centímetro de solo. Àquela do perfil do solo. Com o início da frutifi-
desta. fração passível de ser absorvida pelas cul- cação, o crescimento radicular acentua-se,
Em cultivos comerciais de tomate para turas, denomina-se água disponível para explorando efetivamente os 40 cm super-
mesa irrigados por gotejamento, o volume os cultivos, sendo seu limite superior de- ficiais, com praticamente 90%-95% das raí-
de solo umedecido atinge entre 30% e 40% nominado capacidade de campo, enquan- zes funcionais concentradas nesse perfil
do volume total do solo (PAPADOPOULUS, to que o limite inferior é chamado ponto de (OLIVEIRA et al., 1996, MAROUELLI et al.,
2002), muito embora o transporte de água murcha permanente. Os diferentes tipos de 2001). Dessa forma, o manejo de água em
por capilaridade umedeça volume maior. solo apresentam valores distintos quanto cada fase deve contemplar o umedecimen-
A textura, a estrutura e o teor de maté- à capacidade de retenção de água, sendo to do solo até a profundidade de maior con-
ria orgânica são as características do solo esses valores condicionados pela textu- centração das raízes. Uma prática recomen-
que mais influenciam sua condutivida- ra, estrutura e teor de matéria orgânica do dada é fazer observações in loco, por meio
de hidráulica, pois são estas que determi- solo. de trincheiras abertas no campo, tanto
nam a quantidade de macroporos presente Pesquisas mostram que o tomateiro nas linhas das plantas quanto na região

Foto: Tadeu Graciolli

A B
Figura 1- Faixa úmida
NOTA: A - Formação de faixa úmida em projetos de irrigação por gotejamento, em solo com 55% de argila, após lâmina de 25 mm.
Gotejadores de 1,6 L/h de vazão, espaçados em 50 cm; mangueira instalada a 5 cm de profundidade; B - Cultivo de tomate
para mesa em solo com 26% de argila. Gotejadores de 1,6 L/h de vazão, espaçados em 30 cm.

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Tomate para Mesa 61

circunvizinha, em direção ao centro das na sementeira e 25 a 30 dias no local estimativa de evapotranspiração dos culti-
ruas, visando identificar as dimensões da definitivo; vos, é um método indireto, com ampla uti-
zona úmida e o padrão de crescimento e de b) fase 2 - reprodutiva (floração e fru- lização mundial, e seu uso tem-se intensi-
exploração radicular. tificação): início da produção de ca- ficado no Brasil. Trata-se de um tanque
chos florais, com posterior formação cilíndrico de 121 cm de diâmetro e 25,5 cm
MANEJANDO A FERTIRRIGAÇÃO e enchimento simultâneo de vários de altura, com fundo plano, totalmente
POR GOTEJAMENTO constituído por aço galvanizado. Este deve
cachos de frutos. Intensificação nas
Manejo de água com tanque taxas de crescimento e absorção de ser instalado próximo à cultura, sobre um
classe A e tensiômetros nutrientes e água, com pico máximo estrado de 10 cm de altura, e ser preenchido
O primeiro passo para realizar o manejo em torno dos 70-80 dias de idade. Du- com água até 5 cm da sua borda superior.
da fertirrigação por gotejamento é conhe- ração aproximada de 40 a 50 dias; A água evaporada diariamente é mensura-
cer a taxa de aplicação de água do projeto, da com auxílio de um parafuso micrométri-
c) fase 3 - maturação (colheita): ma-
ou seja, qual é a lâmina aplicada em função turação e colheita seqüencial dos fru- co de gancho, com precisão de 0,02 mm
do tempo de funcionamento, conforme a tos. Diminuição das necessidades (VOLPE; CHURATA-MASCA, 1988).
fórmula: hídricas e nutricionais. A duração Os valores correspondentes à água eva-
depende da longevidade das plan- porada no tanque (ECA), mensurados e
T.A. = Q x D-1 x d-1 expressos em mm/dia, fornecem uma me-
tas, variando em função da forma de
em que: condução, do trato fitossanitário, do dida do efeito integrado da radiação, vento,
número de cachos por planta, dentre temperatura e umidade. Estes são corrigi-
T.A. = Taxa de aplicação de água (mm/h);
outros fatores. Em média, perdura dos, visando reduzir interferências e imper-
Q = vazão do gotejador (L/h); feições do método, ao serem multiplicados
por 25-45 dias.
D = espaçamento entre mangueiras (m); pelo coeficiente de tanque (Kp), o qual é
A primeira irrigação deve ser realizada
d = espaçamento entre gotejadores na dependente da velocidade do vento, da
antes do transplantio, e a lâmina aplicada
mangueira (m). umidade relativa do ar e das condições de
deve ser suficiente para promover total ume-
exposição do tanque, obtendo-se, assim, a
Tomemos por exemplo, um projeto de decimento do perfil do solo, pelo menos até
evapotranspiração do cultivo de referência
irrigação por gotejamento para tomate para 40 cm de profundidade. Geralmente, situa-
(ETo), em mm/dia, conforme consta na equa-
mesa, conduzido no espaçamento de 1,5 m se entre 25 e 50 mm, dependendo do estado
ção a seguir:
entre fileiras e 0,60 m entre plantas, no sis- inicial de umidade do solo. Recomenda-se
tema de linhas simples. As mangueiras uti- que seja aplicada, preferencialmente, em
Eto = Kp . ECA
lizadas, também espaçadas (D) em 1,5 m, pos- vários parcelamentos para permitir, também,
suem gotejadores de vazão (Q) de 1,2 L/h, boa movimentação lateral da umidade. Por
ocasião do transplantio, deve-se proceder A Eto é a quantidade de água evapo-
espaçados em 0,30 m (d). Desse modo, o
à instalação de tensiômetros, de forma que transpirada de uma superfície totalmente
presente projeto possuiria a taxa de apli-
se possa monitorar a umidade do solo coberta por vegetação rasteira (geralmente
cação de 2,67 mm/h. O segundo passo,
desde o início do ciclo da cultura. A tensio- gramíneas verdes com 8 a 15 cm de altura),
conhecendo-se as fases fenológicas da cul-
metria, associada ao uso do tanque classe em fase de crescimento ativo, sem restri-
tura e suas durações, consiste em determi-
A, representa atualmente as ferramentas ções de umidade e com bordadura adequa-
nar as exigências hídricas e nutricionais em
mais acessíveis, de fácil entendimento e da (MAROUELLI et al., 1996). Os valores
cada fase. O tomateiro apresenta três fases
aplicação, para se manejar a irrigação em do Kp devem ser obtidos para cada região,
distintas de desenvolvimento, descritas di-
sistemas de gotejamento no Brasil, sendo e caso estes não se encontrem disponíveis,
daticamente a seguir, as quais geralmente
por isso, enfocadas a seguir. poderão ser utilizados aqueles recomen-
se sobrepõem e, por isso, apresentam dura-
O método do tanque classe A está re- dados pela Food and Agriculture Organiza-
ções bastante variáveis em função de inú-
lacionado com a tomada de decisão quanto tion of the United Nations (FAO) e relacio-
meros fatores.
à lâmina d'água a ser aplicada à cultura, nados em Volpe e Churata-Masca (1988),
a) fase 1 - vegetativa: fase de cresci- enquanto que a utilização da tensiometria Marouelli et al. (1996).
mento pouco intenso. Deve-se dar contempla informações relacionadas com Os valores estimados para a Eto devem
ênfase à formação de sistema radi- o momento de se iniciar a irrigação, com o ser multiplicados pelos coeficientes de cul-
cular vigoroso. Pouca demanda por movimento de água no perfil do solo e com tura (Kc) relativos a cada uma das fases
nutrientes e água. Duração aproxi- o consumo de água pela cultura. de desenvolvimento da cultura cultivada,
mada de 45-50 dias, sendo 20 dias A utilização do tanque classe A, para a obtendo-se, assim, a evapotranspiração
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62 Tomate para Mesa

máxima da cultura (ETM), em mm/dia, con- lâminas d'água para o tomateiro e outras tanto o consumo de água pelas plantas,
forme se segue: hortaliças. quanto a perda por drenagem. Em solos
O manejo da irrigação do tomateiro pe- pesados, os tensiômetros deverão ser ins-
ETM = Eto . Kc
lo uso de tensiometria é relativamente sim- talados a 20-25 cm da linha das plantas e
Doorenbos e Kassam (1979) propõem ples, sendo hoje o método mais utilizado, em solos leves a 10-15 cm. De preferência,
subdividir o ciclo do tomateiro em quatro embora não forneça, diretamente, a lâmina a instalação deverá ser realizada simultânea
fases de desenvolvimento, respectivamen- d'água a ser aplicada. O funcionamento do ou imediatamente após o transplantio das
te transplantio, crescimento vegetativo, tensiômetro baseia-se na troca da umidade mudas, promovendo-se contato íntimo do
floração/frutificação e colheita, adotando contida no tensiômetro e no solo, ou seja, solo com a cápsula porosa. Para o tomatei-
valores de Kc correspondentes a 0,4-0,5 com a redução da água disponível no solo, ro, as baterias de tensiômetros deverão ser
(fase 1); 0,7-0,8 (fase 2); 1,05-1,25 (fase 3) e devido ao consumo pela cultura, cria-se um compostas por, no mínimo, dois tensiôme-
0,6-0,65 (fase 4). Tais índices representam fluxo de água do interior do corpo do ten- tros, sendo o primeiro instalado na profun-
propostas que devem ser adaptadas para siômetro para o solo, sendo a força de suc- didade de maior concentração do sistema
cada situação, adotando-se as devidas mo- ção mensurada na forma de pressão. A me- radicular (15 a 20 cm) e o segundo instala-
dificações de manejo. A transição de uma dição da força de sucção pode ser realizada do imediatamente abaixo da profundidade
fase para outra não deve ser realizada de por um relógio, por uma coluna de mercúrio máxima de aplicação de água (40 a 50 cm).
forma brusca, modificando-se radicalmente ou por um leitor digital que transforma os Assim, as leituras fornecidas pelo tensiô-
o aporte de água para a cultura, devendo valores da tensão em impulsos elétricos, metro mais superficial representam o con-
os valores de Kc ser mudados semanal sendo expressa em Bar. Um Bar correspon- sumo de água pela cultura, balizando a
ou quinzenalmente, adotando-se valores de a uma atmosfera, sendo a escala dos decisão do momento ideal de iniciar as
intermediários como, por exemplo, 0,6 na tensiômetros representada em centibares irrigações, enquanto que o mais profundo
transição entre as fases 1 e 2, bem como 0,9 (a centésima parte de um Bar). Os tensiô- indicaria a ocorrência, ou não, de aplicação
entre as fases 2 e 3. metros apresentam três componentes bá- excessiva de água, para além da zona explo-
Em situações nas quais não se dispõe sicos: um corpo, composto por um tubo de rada pelas raízes, permitindo-se manejar a
de tanque classe A, podem-se adotar os PVC rígido de tamanho variável, conectado lâmina d'água aplicada. Em solos mais le-
valores de ETM propostos por Marouelli hermeticamente a uma cápsula de argila ves, a instalação deverá ser mais superficial,
et al. (2001), obtidos em função da umida- porosa, e um medidor de tensão. atingindo no máximo 40 cm, enquanto que
de relativa e da temperatura média do ar. O uso de tensiômetros para o contro- em solos mais pesados o tensiômetro mais
No cálculo desses valores, esses autores le da irrigação somente será eficiente se a profundo deverá atingir 60 cm.
já incorporaram os respectivos valores de instalação contemplar localização correta Situação ideal é aquela na qual as bate-
Kc para cada uma das fases, podendo estes em relação às plantas e aos gotejadores, rias são compostas por três ou mais tensiô-
ser utilizados diretamente para manejar as em profundidades que permitam estimar metros (Fig. 2), que permitem acompanhar

A B
Figura 2 - Baterias de tensiômetro
NOTA: Figura 2A - Bateria composta por quatro tensiômetros instalados em cultivo de tomate para mesa irrigado por gotejamento;
Figura 2B - Conjunto de três baterias de tensiômetros instalados em três profundidades (20, 40 e 60 cm) para determinação da
capacidade de campo.

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Tomate para Mesa 63

a evolução da exploração das diferentes É a principal tecnologia associada à irriga- Os acúmulos de nutrientes e de matéria
camadas do perfil do solo pelas raízes com ção localizada, permitindo aplicação de seca são crescentes durante o ciclo do to-
o avanço do ciclo da cultura. As leituras nutrientes em qualquer fase da cultura, em mateiro (TAPIA; GUTIERREZ, 1997, FAYAD,
dos tensiômetros devem ser realizadas pela alta freqüência, trazendo inúmeras vanta- 1998). No início do desenvolvimento (fa-
manhã, e ser devidamente registradas e gens de ordens agronômica, ambiental e se 1), o consumo de nutrientes é bastante
avaliadas. Para se obter os valores das ten- econômica (GUIMARÃES, 2002). baixo, intensificando-se com o florescimen-
sões relacionados com a capacidade de As informações mais importantes pa- to e o enchimento de frutos (fase 2), com
campo, em cada profundidade, recomenda- ra se definir um programa de fertirrigação taxas máximas de absorção e crescimento
se conduzir um teste na área de cultivo, são as relacionadas com as curvas de cres- em torno dos 70-80 dias e decrescendo pos-
representado na Figura 2B. Basicamen- cimento e de absorção de nutrientes nas teriormente (fase 3). Este padrão pode ser
te, este consta da instalação de baterias de diferentes fases fenológicas do tomateiro. observado nos dados presentes no Qua-
tensiômetros em uma bacia, nas mesmas O sucesso de qualquer programa de manejo dro 2, no qual são destacadas as semanas
profundidades que serão instaladas no cam- da fertilização está condicionado ao estabe- nas quais as taxas de extração de nutrientes
po, devendo-se aplicar água suficiente para lecimento de um plano de manejo de água atingem seus maiores valores.
saturar o solo. A bacia deve ser coberta eficaz, de forma que restrições ou excessos Precedendo o transplantio, aplica-se
com polietileno negro para evitar penetra- hídricos não limitem o potencial tecnoló- calcário em área total visando atingir 70%-
ção de água de chuvas e reduzir as perdas gico da fertirrigação e o potencial produtivo 80% de saturação em bases, utilizando-se
de água por evaporação. O teste deve ser da cultura. No estabelecimento desse pro- preferencialmente calcário dolomítico. Nos
iniciado pela manhã, fazendo-se leituras de grama, devem-se considerar os aportes de sulcos de transplantio das mudas, são apli-
tensão de água no solo em intervalos regu- nutrientes advindos da calagem e das adu- cadas as adubações químicas e orgânicas,
lares de 1 ou 2 horas. Inicialmente, as lei- bações de plantio (química e orgânica) e constando de 30 t/ha de esterco de bovi-
turas deverão ser próximas de zero, indican- foliar, bem como a textura do solo e o aporte nos ou 8 t/ha de cama de aviário, e os nutri-
do excesso de água. Com a drenagem do de água pelas chuvas. entes P, K, Mg, S, Zn, B e Mo. As doses
excesso de água, as leituras aumentarão,
até que se estabilizem um determinado va-
lor, correspondente à tensão de água no QUADRO 2 - Absorção de N, P, K, Ca e Mg pelo tomateiro da cv. Carmen, em relação ao con-
solo na capacidade de campo. No teste re- teúdo total absorvido durante o ciclo e proposta de parcelamento de nutrientes via
presentado na Figura 2, os valores obtidos fertirrigação
foram os seguintes: 20 cm = -0,11 cbar; Nutrientes
40 cm = -0,13 cbar e 60 cm = -0,15 cbar. (%) Parcelamento
Dias
Deverá ser permitido à cultura utilizar (%)
N P K Ca Mg
parte da água disponível, até que se proce-
7 4,4 4,1 3,3 4,1 5,6 4
da à reposição da água evapotranspirada.
Nas condições de cultivo no solo em ques- 14 1,7 1,8 1,6 1,4 1,9 4

tão (solo de cerrado com 55% de argila), 21 2,2 2,5 2,3 1,9 2,5 4
procedia-se nova irrigação somente quan- 28 2,9 3,5 3,2 2,5 3,2 4
do o tensiômetro instalado a 20 cm atingia 35 3,9 4,7 4,5 3,3 4,1 6
tensões entre -0,18 e -0,20 cbar, faixa que 42 4,9 6,0 6,0 4,2 5,1 6
se encontra dentro daquela recomendada 49 6,0 7,5 7,7 5,2 6,1 8
por Carrijo et al. (1999) para solos argilosos 56 7,3 8,8 9,2 6,3 7,2 8
(-0,15 a -0,20). Esses autores ainda reco- 63 8,2 9,7 10,3 7,4 8,0 10
mendam utilizar, para solos de textura mé-
70 9,0 10,0 10,6 8,3 8,6 10
dia, a faixa entre -0,10 e -0,15 cbar e, pa-
77 9,3 9,6 10,1 8,9 8,7 10
ra solos de textura arenosa, entre -0,05 e
84 9,0 8,6 8,9 9,2 8,5 8
-0,10 cbar.
91 8,3 7,2 7,3 9,0 7,9 8
Crescimento, extração 98 7,3 5,7 5,6 8,4 7,0 6
de nutrientes e fertirrigação 105 6,2 4,4 4,2 7,5 6,0 4
Fertirrigação é a tecnologia que trata 112 5,0 3,3 3,0 6,4 5,0 –
da aplicação de fertilizantes nos cultivos, 119 4,4 2,7 2,3 6,0 4,5 –
utilizando a água de irrigação como veículo. FONTE: Dados básicos: Fayad et al. (2000).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.58-65, 2003


64 Tomate para Mesa

de P2O5 e K2O são obtidas em função de (30-45); K2O (50-100); Ca (20-40); Mg ções em condições experimentais e comer-
seus teores trocáveis e da textura do solo, (5-10) e S (5-30). As doses semanais de- ciais brasileiras tem possibilitado a subs-
situando-se entre 300 e 1.200 kg/ha de P2O5 vem ser parceladas em pelo menos duas tituição daquelas provenientes de outros
e 200 a 800 kg/ha de K2O (FILGUEIRA aplicações em solos mais pesados, e quatro países, que nem sempre funcionam nas
et al., 1999). Os nutrientes Mg, S, B, Zn, Cu aplicações em solos leves. É muito impor- condições de cultivo no Brasil. Para isso,
e Mo podem ser aplicados utilizando-se tante realizar a injeção das soluções de fer- cada vez mais é preciso associar conheci-
200 kg/ha de sulfato de magnésio, 5 kg/ha tilizantes no momento adequado, durante mentos relacionados com os princípios da
de bórax, 5 kg/ha de sulfato de zinco e o transcurso da irrigação. Tomando-se co- irrigação por gotejamento, solos, fisiologia
0,5 kg/ha de molibdato de amônio. As adu- mo exemplo o projeto citado no item: Mane- e nutrição mineral da cultura do tomatei-
bações nitrogenadas devem fornecer 180 jo de água com tanque classe A e tensiô- ro, com postura investigativa e ousadia de
kg/ha de N na presença de matéria orgânica, metros, (T.A. = 2,67 mm/hora), para se apli- técnicos e produtores.
ou 240 kg/ha caso esta não seja aplicada car lâmina d'água de 6 mm/dia, o tempo
(FONTES; GUIMARÃES, 1999). Se o pro- de irrigação seria de 2 horas e 15 minutos. AGRADECIMENTO
grama de fertirrigação contemplar a aplica- Neste caso, a fertirrigação deverá ter início Aos engenheiros agrônomos que cola-
ção de P, recomenda-se aplicar dois terços a partir de 1 hora de irrigação, e ser finali- boraram na discussão e no fornecimento
dessa dose no sulco e o restante via fertirri- zada entre 15 e 30 minutos antes do término de informações: Wilson Goto e Vitor Hugo
gação, enquanto que, para N e K, deve-se da irrigação (para permitir a lavagem das (SQM Brasil Ltda.); Leonardo Mendonça
aplicar entre 10%-20% da dose total no mangueiras), restando, assim, entre 45 e e Rephael Solkoviak (Netafim Brasil);
sulco e o restante via fertirrigação, seguindo- 60 minutos para a injeção. Tal procedimen- Roberto Tavares e José Ricardo Beckers
se o parcelamento proposto no Quadro 3 to visa aplicar os nutrientes na camada (System Gotas); Eduardo Shigemori e Gil
ou aquele proposto por Fontes e Guimarães mais superficial do solo (0-20 cm), deixando Simões (Hydro Fertilizantes Ltda.).
(1999). para as irrigações subseqüentes, sem ferti-
Na produção do tomateiro para mesa lizantes, a incumbência de transportá-los REFERÊNCIAS
em plantios comerciais no Brasil, seja em em profundidade. O sucesso nesta opera-
cultivo protegido ou a campo aberto, as ção pode ser checado por meio do uso de AZEVEDO, L.G.T.de; BALTAR, A.M.; FREITAS,
fontes simples de nutrientes mais utilizadas P. A experiência internacional. In: THAME, A.C.
extratores de solução do solo, instalados
têm sido os nitratos de amônio (32% de N), de M. (Org.). A cobrança pelo uso da água.
nas mesmas profundidades dos tensiôme-
de cálcio (15,5% N e 19% Ca), de potássio São Paulo: IQUAL, 2000. p.19-27.
tros, observando-se as mudanças ocorri-
(13,5% N e 45% K2O) e de magnésio (11%
das na condutividade elétrica das amostras BAR-YOSEF, B.; STAMMERS, C.; SAGIV, B.
N; 9% Mg); MAP purificado (11% N; 60% Growth of trickle-irrigated tomato as related
retiradas antes e depois da aplicação dos
P2O5) e os sulfatos de magnésio (9% Mg) e to rooting volume and uptake of N and water.
fertilizantes.
de potássio (50% K2O). Em alguns casos, Agronomy Journal, Madison, v.72, n.5, p.815-
têm-se utilizado o cloreto de potássio bran- 822, Sept./Oct. 1980.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
co (60% de K2O) e a uréia (43%-45% N),
As produtividades alcançadas no cul- BRANDÃO, V. dos S.; PRUSKI, F.F.; SILVA, D.D.
devido ao baixo custo e à disponibilida-
tivo do tomateiro para mesa com irrigação da. Infiltração da água no solo. Viçosa, MG:
de no mercado. O uso do KCl não é reco-
por gotejamento, da ordem de 450-600 cai- UFV, 2000. 99p.
mendado devido aos elevados teores de
Cl (47%), enquanto que a uréia é facilmente xas de 23 kg por mil plantas, ultrapassam CARRIJO, O.A.; MAROUELLI, W.A.; SILVA,
lixiviável no perfil do solo, devendo ter seu aquelas obtidas com os sistemas tradicio- H.R. da. Manejo da água do solo na produção de
uso em escala mais restrita. Como fonte de nais de irrigação, as quais se situam em tor- hortaliças em cultivo protegido. Informe Agro-
P, tem sido utilizado também o ácido fos- no de 300-350 caixas de 23 kg por mil plan- pecuário, Belo Horizonte, v.20, n.200/201, p.45-
fórico (52% P2O5) com a dupla finalidade tas. O aporte controlado e em alta freqüên- 51, set./dez. 1999.
de fornecer P e de eliminar depósitos de cia de água e nutrientes são os diferenciais CASTAÑER, M.A. Riego por goteo em cí-
origem inorgânica presentes no interior das trazidos pela irrigação por gotejamento, pos- tricos. Madrid: Mundi-Prensa, 2000.140p.
mangueiras e dos gotejadores. sibilitando que se atinjam altos níveis de
De modo geral, planos de manejo de precisão, uniformidade e controle no forne- DOORENBOS, J.; KASSAM, A. H. Yield
response do water. Roma: FAO, 1979. 193p.
fertirrigação para o cultivo do tomateiro, cimento desses insumos, resultando em
(FAO. Irrigation and Drainage Paper, 33).
utilizando fontes de nutrientes tanto sim- uso racional e economia, menor contami-
ples quanto compostas, resultam nas apli- nação do ambiente, alocação eficiente da FAYAD, J.A. Absorção de nutrientes, cresci-
cações das seguintes dosagens de nu- mão-de-obra e maior competitividade no mento e produção do tomateiro cultivado em
trientes em g/planta: N (30-55); P 2O5 processo produtivo. A geração de informa- condições de campo e estufa. 1998. 81f. Tese

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.58-65, 2003


Tomate para Mesa 65

(Mestrado) - Universidade Federal de Viçosa, MG, v.20, n.2, 2002. Resumos do 42o Congresso Bra- pecuária, 2002. v.2, p.9-69.
1998. sileiro de Olericultura e 11o Congresso Latino-
SEGURA, M. El água para riego em regiones semi-
Americano de Horticultura.
_______; MONDARDO, M.; OLIVEIRA, S.O. de. áridas - déficit, infradotación, eficácia y pro-
Absorção de nutrientes, crescimento e pro- MAROUELLI, W.A.; SILVA, W.L.C.; SILVA, ductividad: una aproximación. In: ZAPATA, M.;
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plantio direto. Florianópolis: EPAGRI, 2000. qualidade da água, aspectos do sistema, e método Madrid: Mundi-Prensa, 1995. p.13-42.
14p. (EPAGRI. Boletim Técnico, 2). prático de manejo. Brasília: Embrapa Hortaliças/
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FILGUEIRA, F.A.R.; OBEID, P.C.; MORAIS, H.J. superficial na condutividade hidráulica saturada
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OLIVEIRA, M. do R.G.; CALADO, A.M.; pattern of dry weight, nitrogen, phosphorus and
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66 Tomate para Mesa

Principais doenças do tomate para mesa


causadas por fungos, bactérias e vírus
Carlos Alberto Lopes 1
Ailton Reis 2
Antônio Carlos de Ávila 3

Resumo - O tomateiro é afetado por um grande número de doenças, merecendo espe-


cial atenção aquelas que provocam maiores perdas ou as que exigem a aplicação de gran-
des volumes de agrotóxicos para o controle. Esses insumos têm sido uma grande ameaça
a uma agricultura saudável e sustentável, por oferecer riscos de contaminação em
aplicadores e consumidores, além da deterioração do ambiente. Controlar as doenças do
tomateiro, em culturas com número superior a cem plantas não é tarefa fácil. Exige trei-
namento na identificação correta do agente causador da doença, conhecimento das estra-
tégias disponíveis para o controle e, mais que tudo, coordenação dessas estratégias, de
uma forma integrada, levando-se em conta que todas as etapas do sistema de produção
afetam a incidência e a severidade de uma ou mais doenças.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Doenças bacterianas; Doenças fúngicas; Viroses.

INTRODUÇÃO desenvolvimento, como deficiência ou DOENÇAS CAUSADAS POR


excesso de nutrientes, falta ou excesso de BACTÉRIAS
A cultura do tomate, Lycopersicon
esculentum Mill., está sujeita ao ataque de água no solo, fitotoxidez de agrotóxicos As doenças bacterianas têm sido um
ou outro agente poluidor, falta de lumino- grande desafio para a tomaticultura há mui-
mais de uma centena de doenças. Felizmen-
sidade etc. O diagnóstico correto da doen- tos anos. A dificuldade de controle dessas
te, nem todas elas podem ocorrer ao mes-
ça, levando-se em conta o patógeno envol- doenças deve-se basicamente à rápida mul-
mo tempo, ficando normalmente restritas a
vido, a cultivar ou híbrido utilizado e as tiplicação desse grupo de patógenos, à sua
um pequeno conjunto que varia na depen-
condições ambientais na época de cultivo, eficiente disseminação pela água de chu-
dência de uma combinação de fatores. A
é fundamental para que se promova o con- va ou de irrigação, e aos poucos produtos
presença de um agente causador (patóge-
trole eficaz da doença. As medidas de con- químicos capazes de oferecer proteção
no), a sensibilidade da cultivar e as condi-
trole, tomadas preferencialmente de forma eficiente e duradoura. Assim, o controle
ções ambientais é que determinarão se uma preventiva e dentro da filosofia de manejo integrado, com base em adoção de medidas
doença irá ou não se desenvolver no toma- integrado, resultam na menor dependência culturais que desfavoreçam a introdução,
tal, e a intensidade em que ocorrerá, em uma do uso de agrotóxicos, com menores riscos a multiplicação e a disseminação dos pató-
situação específica. para o aplicador e para o consumidor, além genos, torna-se de grande importância no
As doenças podem ser transmissíveis de preservar melhor o meio ambiente. controle de bacterioses do tomateiro.
ou não-transmissíveis. As transmissíveis Neste artigo, são tratados aspectos re-
são causadas por bactérias, fungos, nema- lativos às principais doenças do tomateiro, Pinta-bacteriana
tóides e vírus. As não-transmissíveis, tam- relatando-se, de forma concisa, as causas, (Pseudomonas syringae
bém conhecidas como distúrbios fisioló- os sintomas e as medidas recomendadas pv. tomato)
gicos, são provocadas pela exposição da para o controle, em cada grupo de patóge- A pinta-bacteriana também é conhe-
planta a condições desfavoráveis ao seu nos. cida por mancha-bacteriana-pequena ou

1
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: clopes@cnph.embrapa.br
2
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: ailton@cnph.embrapa.br
3
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: avila@cnph.embrapa.br

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Tomate para Mesa 67

pústula-bacteriana. Ocorre em condições as espécies e as técnicas de identificação O patógeno é transmitido pelas sementes,
de temperaturas amenas (abaixo de 24oC) sejam mais bem estabelecidas. A mancha- provocando epidemias mais severas em tem-
e alta umidade relativa. É primeiramente bacteriana ocorre com maior freqüência e peraturas amenas (abaixo de 25oC), presen-
observada nas folhas mais velhas, na forma intensidade durante o verão, pois é favo- ça de chuvas e alta umidade relativa. A plan-
de pequenas manchas necróticas, normal- recida por temperaturas elevadas (acima ta é afetada de forma sistêmica ou local.
mente circundadas por um halo amarelo de 25oC) e alta umidade relativa. Nas folhas, Na infecção sistêmica, o patógeno penetra
(Fig. 1). Esses sintomas podem ser confun- provoca manchas necróticas, inicialmente pelas raízes ou por ferimentos superficiais
didos com os da mancha-bacteriana, a não encharcadas, que podem coalescer, levan- e transloca-se para outras partes da planta.
ser nos frutos, onde a pinta-bacteriana do à queima, com maior concentração de Nesse caso, causa murcha total ou parcial
caracteriza-se por apresentar pontuações necrose nas bordas foliares (Fig. 3). Pode da planta e escurecimento vascular, com
negras, superficiais e brilhantes (Fig. 2). O ser facilmente confundida com a pinta- reflexo na queima das folhas iniciando nas
ataque durante a floração pode provocar bacteriana, mas provoca nos frutos lesões bordas (Fig. 5) , a partir da base da planta.
intensa queda de flores. A doença é trans- maiores, mais claras e mais profundas que A bactéria é transmitida com muita eficiên-
mitida pelas sementes. as desta última (Fig. 4). O patógeno é trans- cia durante o manuseio das plantas, o amar-
mitido pelas sementes. rio e a desbrota, sendo comum o padrão de
Mancha-bacteriana distribuição da doença em linhas. A infec-
(Xanthomonas campestris Cancro-bacteriano ção localizada, normalmente disseminada
pv. vesicatoria) (Clavibacter michiganensis pela água de irrigação ou de chuva, é super-
Embora a mancha-bacteriana seja cau- subsp. michiganensis) ficial e caracteriza-se por pequenos can-
sada por um complexo de espécies do gê- O cancro-bacteriano é uma doença de cros cor de palha, facilmente observáveis
nero Xanthomonas, optou-se por adotar o ocorrência esporádica, porém capaz de pro- nos pedúnculos, e manchas do tipo olho-
nome mais conhecido do patógeno, até que vocar severos danos às lavouras afetadas. de-perdiz nos frutos (Fig. 6).
Foto: Carlos Lopes

Foto: Carlos Lopes


Figura 1 - Pinta-bacteriana em folha Figura 2 - Pinta-bacteriana em fruto
Foto: Carlos Lopes

Foto: Carlos Lopes

Figura 3 - Mancha-bacteriana em folha Figura 4 - Mancha-bacteriana em fruto


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68 Tomate para Mesa
Foto: Carlos Lopes

Foto: Carlos Lopes


Figura 5 - Cancro-bacteriano em folha Figura 6 - Cancro-bacteriano em fruto

Murcha-bacteriana apresentam escurecimento vascular na ba- 90%. São causadas por espécies do gêne-
(Ralstonia solanacearum) se do caule (Fig. 8) e exsudação de um pus ro Erwinia, presentes na maioria dos solos
A murcha-bacteriana é uma doença que bacteriano quando se faz o “teste do copo”. brasileiros. Para que a doença se estabe-
está associada a solos úmidos e a altas Não é transmitida pela semente, mas pela leça, é necessário que o tecido da planta
temperaturas, sendo mais problemática água e por implementos e máquinas conta- apresente ferimento. No talo-oco, a bacté-
no verão e em regiões de clima quente, on- minados. ria penetra através de ferimento no caule,
de chega a ser limitante à tomaticultura. comum após a desbrota, e destrói a medu-
A bactéria é nativa em muitos solos brasi- Talo-oco e
podridão-mole-dos-frutos la, provocando murcha e morte da planta
leiros e é de difícil controle, pois pode per-
(Erwinia spp.) (Fig. 9). O caule fica escurecido e se rom-
manecer por vários anos no solo, associada
Ambas as doenças são mais problemá- pe sob leve pressão dos dedos. No ataque
a um grande número de espécies de plan-
ticas em cultivos conduzidos sob tempe- aos frutos, a bactéria penetra através de
tas hospedeiras, cultivadas ou daninhas.
ratura acima de 25oC e umidade acima de furos provocados por insetos, daí a impor-
O sintoma principal é a murcha da planta,
de cima para baixo, normalmente a partir do tância de controlar as traças e as brocas
início da floração (Fig. 7). Plantas murchas (Fig. 10).
Foto: Carlos Lopes
Foto: Carlos Lopes

Foto: Carlos Lopes

Figura 8 - Murcha-bacteriana, escureci-


Figura 7 - Murcha-bacteriana em planta mento vascular Figura 9 - Talo-oco em caule
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.66-78, 2003
Tomate para Mesa 69

solo menos afetados pelo controle quími-


co, devem ser enfatizadas as práticas de
controle integrado.

Requeima
(Phytophthora infestans)
A requeima é a principal doença do to-
mateiro, responsável por grande volume
de fungicidas aplicados na agricultura.
Desenvolve-se com grande rapidez, prin-
Foto: Carlos Lopes

cipalmente se ocorrer temperaturas amenas


com alta umidade relativa. Os sintomas
da doença nas folhas constituem-se em
manchas encharcadas, grandes e escuras
(Fig. 11). Na face inferior da lesão, sob alta
Figura 10 - Talo-oco, podridão de fruto
umidade, observa-se um mofo esbranqui-
çado, formado por estruturas do fungo.
O controle das doenças bacterianas de- da parte aérea da planta, para as quais exis- Em caules jovens, a lesão é escura e seca
pende da adoção de uma série de medidas, tem dezenas de fungicidas recomendados (Fig. 12), o que torna o tecido quebradiço.
resumidas no Quadro 1. Para o controle quí- para o controle. Embora existam vários fun- Nos frutos, a podridão é dura, de colora-
mico, os produtos registrados encontram- gicidas modernos que apresentam alta ção marrom-escura (Fig. 13). Epidemias
se no Quadro 2. eficiência, o controle químico deve ser também podem ocorrer em regiões secas
realizado com cautela a fim de evitar a falha ou em épocas relativamente quentes, desde
DOENÇAS CAUSADAS no controle, colocar em risco a saúde de que a temperatura média do ar permaneça
POR FUNGOS consumidores e de aplicadores, além de entre 14oC e 22oC, durante os períodos em
A maior parte das doenças do tomatei- deteriorar o ambiente. O controle químico que a umidade relativa estiver acima de
ro é de origem fúngica. As mais conheci- deve, portanto, ser uma das formas, e não 90%, ou haja molhamento foliar acima de
das são aquelas associadas à destruição a única forma de controle. Para fungos de nove horas por dia.

QUADRO 1 - Eficiência relativa das principais medidas de controle de doenças bacterianas em tomateiro

Doença
Medida de controle Pinta- Mancha- Cancro- Murcha- Podridão-
bacteriana bacteriana bacteriano bacteriana mole

Plantar sementes de boa qualidade e/ou tratadas +++ +++ +++ - -

Plantar cultivar resistente +++ + + - -

Evitar o plantio próximo a lavouras velhas de tomate +++ +++ ++ + +

Evitar excesso de nitrogênio (usar adubação equilibrada) ++ ++ + + ++

Evitar ferimentos na planta (mecânicos, insetos) + + + ++ ++

Reduzir o volume de água e/ou melhorar a drenagem do terreno +++ +++ +++ +++ +++
(1)
Pulverizar com fungicidas cúpricos ou antibióticos + + + - +

Eliminar plantas doentes - - - + -

Plantar em área nova ou fazer rotação de cultura + + ++ +++ +

NOTA: +++ alta eficiência; ++ eficiência intermediária; + baixa eficiência; - eficiência muito baixa ou nenhuma.
(1) A eficiência do controle químico é proporcional ao grau de ataque da doença por ocasião da aplicação, sendo mais efetiva quando são feitas pulverizações
preventivas, em associação com outras medidas de controle.

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70 Tomate para Mesa

QUADRO 2 - Alguns princípios ativos e produtos comerciais indicados para o controle de doenças

Doenças Patógenos Princípio ativo Nomes comerciais


Mancha-de-estenfílio Stemphylim spp. Benomil Benlate
Clorotalonil Bravonil, Daconil, Dacostar, Funginil, lsatalonil, Vanox
Cúpricos Cobre sandoz, Cobox, Coprantol, Cuprodil, Cupravit, Cuprozeb,
Dacobre, Fuguran, Garant, Oxicloreto, Reconil, Recop, Vitagran
Mancozeb Dithane, Manzate, Mancozan, Frumizeb, Persist

Mofo-cinzento Botrytis cinerea Benomil Benlate


Mancozeb Dithane, Manzate, Mancozan, Frumizeb, Persist
Tiofanato metílico Cercobin, Cerconil, Fungiscan, Metiltiofan, Tiofanil

Pinta-preta Alternaria solani Azoxystrobin Amistar


Bromuconazole Condor
Calda bordalesa Bordamil, Mildex
Captan Captan, Orthocide
Clorotalonil Bravonil, Daconil, Dacostar, Funginil, lsatalonil, Vanox
Cúpricos Cobre sandoz, Cobox, Coprantol, Cuprodil, Cupravit, Cuprozeb,
Dacobre, Fuguran, Garant, Oxicloreto, Reconil, Recop, Vitagran
Difeconazole Score
Famoxadone Midas, Equation
Iprodione Rovral
Kresoxim-metyl Stroby
Mancozeb Dithane, Manzate, Mancozan, Frumizeb, Persist
Maneb Maneb
Procloraz Sportak
Procymidone Sialex, Sumilex
Pyraclostrobin Comet
Tebuconazole Folicur
Tetraconazole Domark
Ziram Fungitox, Rodisan

Requeima Phytophthora infestans Benalaxyl Galbem-M


Calda bordalesa Bordamil, Mildex
Clorotalonil Bravonil, Daconil, Dacostar, Funginil, lsatalonil, Vanox
Cúpricos Cobre sandoz, Cobox, Coprantol, Cuprodil, Cupravit, Cuprozeb,
Dacobre, Fuguran, Garant, Oxicloreto, Reconil, Recop, Vitagran
Cymoxamil Curzate M + Zinco, Curzat BR, Equation
Dimethomorph Forum
Fluazinam Frowncide
Iprovalicarb Positron Dua (Iprovalicarb + Propineb)
Kresoxim-metyl Stroby
Mancozeb Dithane, Manzate, Mancozan, Frumizeb, Persist
Maneb Maneb
Metalaxyl Ridomil Gold, Folio Gold
Propamocarb Previcur, Tattoo C
Zoxamide Stimo

Septoriose Septoria lycopersici Azoxystrobin Amistar


Benomil Benlate
Clorotalonil Bravonil, Daconil, Dacostar, Funginil, lsatalonil, Vanox
Cúpricos Cobre sandoz, Cobox, Coprantol, Cuprodil, Cupravit, Cuprozeb,
Dacobre, Fuguran, Garant, Oxicloreto, Reconil, Recop, Vitagran
Iprodione Rovral
Kresoxim-metyl Stroby
Mancozeb Dithane, Manzate, Mancozan, Frumizeb, Persist
Tiofanato metílico Cercobin, Cerconil, Fungiscan, Metiltiofan, Tiofanil
FONTE: Agrofit (2002).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.66-78, 2003


Tomate para Mesa 71
Foto: Carlos Lopes

Figura 11 - Requeima em folha

Foto: Jorge Roland


Figura 13 - Requeima em fruto
Foto: Carlos Lopes

Figura 12 - Requeima em caule

Controle aérea do tomateiro. Ocorre em praticamente


todos os locais onde se plantam tomate, e
a) evitar irrigação freqüente;
é favorecida por temperatura e umidade
b) evitar plantio em local frio e úmido,
Foto: Carlos Lopes

elevadas. A doença afeta toda a parte aérea


sujeito a neblina e orvalho;
da planta, mas chama atenção pela “quei-
c) pulverizar preventivamente com fun- ma” que provoca na “saia” da planta. Na
gicidas (Quadro 2), com base em infor- folha, provoca manchas arredondadas escu-
mações climáticas locais, de prefe- ras, geralmente circundadas por um halo
rência por orientação de um sistema amarelado, com anéis concêntricos (Fig. 14). Figura 14 - Pinta-preta na folha
de previsão. O ataque severo provoca desfolha acen-
tuada e pode expor o fruto à queima de sol. mida, grande, circular, quase sempre pró-
Pinta-preta Também é comum o aparecimento de lesões xima ao pedúnculo, coberta por um mofo
(Alternaria solani) escuras nas hastes, com anéis concêntri- preto (Fig. 16). O fungo sobrevive em restos
Depois da requeima, a pinta-preta cos em forma de elipse (Fig. 15). Nos frutos culturais e infecta outras hortaliças como
constitui-se na principal doença da parte afetados, verifica-se uma podridão depri- batata, pimentão e berinjela, podendo ainda

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.66-78, 2003


72 Tomate para Mesa

e) efetuar uma correta adubação nitro- Mancha-de-estenfílio


genada. (Stemphylium spp.)
A mancha-de-estenfílio constitui-se nu-
Septoriose ma doença de menor importância, uma vez
(Septoria lycopersici) que muitas cultivares comerciais possuem
A septoriose caracteriza-se pela pre- resistência a ela. Os sintomas da doença
sença de manchas foliares pequenas, cir- limitam-se às folhas e caracterizam-se pela
culares, esbranquiçadas, com pontuações presença de manchas pequenas, escuras
negras (picnídios) no centro da lesão. Os e angulares, muitas vezes apresentando
sintomas aparecem inicialmente nas folhas rachaduras no centro das lesões. Os sin-
mais velhas. Ataques severos causam tam- tomas começam a surgir nas folhas mais
bém lesões nas hastes, pedúnculo e cálice, jovens, ao contrário do que ocorre com as
mas não nos frutos (Fig. 17). A incidência manchas causadas por Alternaria solani
é mais séria nos cultivos feitos durante o e por Septoria lycopersici. O ataque seve-
período quente (25oC a 30oC) e chuvoso do ro provoca intensa queima de folhas, devi-
Foto: Jorge Roland

ano, porém ataques severos podem ocor- do à coalescência das lesões (Fig. 18). As
rer também no período seco, caso a irri- espécies de Stemphylium que podem estar
gação seja exagerada. O fungo sobrevive mais comumente associadas à doença no
nos restos culturais do tomateiro e é trans- Brasil são o S. solani e o S. lycopersici. Tem-
Figura 15 - Pinta-preta em caule mitido através das sementes. Várias sola- peratura elevada (acima de 25oC), umida-
náceas são hospedeiras alternativas deste de alta e desbalanceamento nutricional fa-
fungo, dentre elas a batata e a berinjela. vorecem o ataque do fungo. O patógeno é
transmitido pela semente.
Controle
a) pulverizar preventivamente com os Controle
fungicidas registrados (Quadro 2); a) plantar cultivares resistentes;
b) fazer rotação de cultura com gramí- b) não deixar que ocorra desequilíbrio
Foto: Carlos Lopes

neas; nutricional na planta;


c) incorporar os restos culturais imedia- c) incorporar os restos culturais imedia-
tamente após a última colheita; tamente após o fim da última colheita;
d) fazer manejo da irrigação, em espe- d) fazer pulverizações preventivas com
Figura 16 - Pinta-preta em fruto cial quando for por aspersão, evitan- fungicidas registrados, quando fo-
do irrigações excessivas em períodos rem utilizadas cultivares suscetíveis
mais quentes. (Quadro 2).
infectar invasoras como o juá-de-capote.
A doença é transmitida por sementes. Não
existem cultivares comerciais de tomate
com alta resistência à pinta-preta.

Controle
a) pulverizar preventivamente com fun-
gicidas registrados (Quadro 2), den-
tro de um programa de controle inte-
grado de doenças;
b) incorporar os restos culturais imedia-
Foto: Carlos Lopes

tamente após a última colheita;


c) fazer rotação de cultura de preferên-
cia com gramíneas;
d) evitar irrigações freqüentes, princi-
palmente se for por aspersão; Figura 17 - Septoriose em folha

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.66-78, 2003


Tomate para Mesa 73

Controle raturas médias são comumente elevadas.


a) plantar cultivares resistentes; O fungo sobrevive no solo por muitos anos
através de microescleródios e infecta mais
b) evitar o plantio em áreas sabidamen-
de 200 hospedeiras. A disseminação da
te infestadas pelo fungo e/ou por ne-
doença ocorre principalmente através de
matóides patogênicos ao tomateiro;
mudas produzidas em solos infestados
c) fazer rotação de cultura, de preferên- pelo fungo. A doença também é dissemi-
cia com gramíneas. nada planta a planta, através da água de
irrigação.
Murcha-de-verticílio
(Verticillium dahliae)
Controle
A murcha-de-verticílio é também uma
a) plantar cultivares resistentes;
doença pouco freqüente devido ao uso de
cultivares resistentes. O sintoma inicial des- b) fazer rotação da cultura, de preferên-
ta doença é a murcha parcial da planta nas cia com gramíneas.
Foto: Carlos Lopes

horas mais quentes do dia. As folhas mais


velhas tornam-se amareladas e com necro- Oídio (Oidium lycopersici/
se nas bordas, em forma de “V” (Fig. 20). Oidiopsis taurica)
As plantas afetadas apresentam redução Oídio é uma doença pouco freqüen-
de crescimento e têm o sistema radicular te no tomateiro, mas que tem crescido em
Figura 18 - Mancha-de-estenfílio em folha
atrofiado. Cortando-se o caule na região importância nos plantios em ambiente pro-
do colo, verifica-se necrose vascular, po- tegido. O mesmo nome corresponde a duas
Murcha-de-fusário rém não tão intensa quanto a causada por doenças causadas por dois fungos distin-
(Fusarium oxysporum F. oxysporum f.sp. lycopersici. A doença tos, que também apresentam sintomas di-
f. sp. lycopersici) ocorre com maior intensidade em regiões ferentes.
A murcha-de-fusário é hoje considera- de solos neutros ou alcalinos e com tem- O oídio causado por Oidium lycopersici
da secundária, pelo fato de existir cultivares peraturas amenas (em torno de 20oC). No apresenta, como sintoma mais comum, le-
com alto nível de resistência a esta doença. entanto, já foi relatada a sua ocorrência sões cobertas por um crescimento esbran-
Em plantas suscetíveis, o sintoma principal no estado de Pernambuco, onde as tempe- quiçado, que constitui-se de micélios, co-
é a murcha das folhas superiores, principal-
mente nas horas mais quentes do dia. As
folhas mais velhas tornam-se amareladas e
é comum observar murcha ou amareleci-
mento de apenas um lado da planta ou da
folha (Fig. 19). Os frutos não se desenvol-
vem. Amadurecem ainda pequenos e a
produção é reduzida. Ao se cortar o caule
próximo às raízes, verifica-se escurecimen-
to do sistema vascular. Temperatura alta
(em torno de 28oC) e solos arenosos com
pH baixo (inferior a 5,5) são mais favoráveis
à doença. O ataque de nematóides aumen-
ta a severidade da doença em função dos
ferimentos causados nas raízes, que servem
de porta de entrada para o patógeno. O fun-
go sobrevive no solo por muitos anos, prin-
Foto: Carlos Lopes
Foto: Carlos Lopes

cipalmente através de clamidósporos, que


são estruturas de resistência do fungo. A
doença dissemina-se através de sementes,
mudas infectadas, implementos agrícolas
e água de irrigação. Figura 19 - Murcha-de-fusário Figura 20 - Murcha-de-verticílio em folhas

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.66-78, 2003


74 Tomate para Mesa

nidióforos e conídios do fungo (Fig. 21). problema em estufas, se houver acúmulo d) pulverizar preventivamente com fun-
Esse crescimento esbranquiçado (mofo) ocor- de umidade em alguma parte, como por gicidas (Quadro 2).
re tanto na face inferior (abaxial) como su- exemplo um furo na cobertura, que deixa
perior (adaxial) das folhas. Com o tempo, passar água de chuva. À primeira vista, os Mancha-de-corinéspora
as áreas afetadas vão amarelecendo e, em sintomas da doença nas folhas de toma- (Corynespora cassiicola)
seguida, necrosando. teiro podem ser confundidos com aqueles A mancha-de-corinéspora é uma doen-
Já o oídio causado por Oidiopsis taurica causados pela requeima. Inicia-se com uma ça da parte aérea do tomateiro, muito impor-
(Leveillula taurica) caracteriza-se pela pre- lesão foliar encharcada, que evolui para uma tante na Região Norte, mas praticamente
sença de lesões amarelas na superfície ada- queima (Fig. 23). Entretanto, ao invés de ausente nas outras regiões produtoras do
xial das folhas com um mofo branco na face um mofo branco na parte abaxial da folha, Brasil. Os sintomas da doença podem ser
inferior dessas lesões, constituído de coni- o que se observa é a presença de um mofo confundidos com os da pinta-preta. Nas
dióforos e conídios do fungo (Fig. 22). As cinzento nas duas faces da lesão. Os frutos folhas de plantas afetadas, observam-se
áreas afetadas podem-se transformar em le- atacados apodrecem rapidamente, podendo manchas necróticas circundadas por um
sões necróticas com o tempo. apresentar rachaduras e mofo cinzento nos halo clorótico, que podem ser diferencia-
As duas doenças são favorecidas em locais das lesões. O fungo é muito oportu- das daquelas causadas por A. solani, devi-
condições de alta temperatura e ausência nista e, se encontrar uma ferida aberta no do à ausência de anéis concêntricos. Sinto-
de chuvas e podem ocorrer simultaneamen- caule, que pode ser causada pela desbrota mas em ramos e pecíolos são amarronzados
te numa mesma cultura. No Brasil, não exis- ou abscisão de uma folha, pode provocar e alongados. Nos frutos, são observadas
tem produtos comerciais registrados para lesão e até colapso do caule, com morte de lesões circulares, marrons e com um cen-
estas doenças do tomateiro. As cultivares toda a parte da planta acima dessa lesão. tro mais claro, que podem rachar. Pulveriza-
comerciais apresentam diferença de sus- ções feitas para o controle de outras doen-
Controle ças fúngicas também são eficientes para o
cetibilidade ao patógeno, mas não se co-
nhecem variedades altamente resistentes a) evitar o acúmulo de umidade na es- controle da mancha-de-corinéspora.
a uma ou outra doença. tufa;
Podridões de raízes e frutos
Mofo-cinzento b) tratar os ferimentos da desbrota com e tombamento de mudas
(Botrytis cinerea) fungicidas cúpricos;
Muitos fungos de solos podem causar
O mofo-cinzento é uma doença muito c) incrementar a quantidade de cálcio podridões de raízes, de frutos e tombamen-
rara no campo, mas pode tornar-se um disponível para as plantas; to de pré e pós-emergência em tomateiro.
Foto: Jorge Roland

Foto: Jorge Roland

Foto: Carlos Lopes

Figura 21 - Oídio (Oidium sp.) em folha Figura 22 - Oídio (Oidiopsis taurica) em folha Figura 23 - Mofo-cinzento em folha

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.66-78, 2003


Tomate para Mesa 75

Entre eles podemos destacar Pythium spp., após um verão muito quente, que permite
Phytophthora spp., Rhizoctonia solani, um alto incremento na população do tripes
Fusarium spp., Sclerotinia sclerotiorum vetor, associado à presença do vírus em
e Sclerotium rolfsii. Alguns desses pató- várias culturas e plantas daninhas vizinhas
genos podem ser muito importantes em ao campo.
tomate industrial, ao menos em algumas Os sintomas causados por tospovírus
situações em que as condições sejam fa- em tomate variam de acordo com a cultivar,
voráveis à doença. Entretanto, em cultivos idade da planta, temperatura e espécie de

Foto: Antônio Ávila


de tomate para mesa, eles são menos impor- tospovírus envolvida. Os sintomas mais
tantes. comuns no tomate são arroxeamento ou
bronzeamento das folhas, ponteiro atro-
DOENÇAS CAUSADAS fiado e virado para baixo (vira-cabeça), re-
POR VÍRUS dução geral no porte da planta e lesões ne- Figura 25 - Vira-cabeça em frutos
cróticas nas hastes e folhas, que podem
Vira-cabeça do tomateiro
levar à morte da planta (Fig. 24). Os frutos,
O vira-cabeça do tomateiro é uma enfer- b) controlar adequadamente as plantas
midade registrada no Brasil desde a década daninhas e eliminar os restos cultu-
de 30, sendo causada por várias espécies rais são importantes medidas para
de vírus na família Bunyaviridae, gênero eliminar fontes de vírus no local do
Tospovirus. Dentre as relatadas no Brasil, novo plantio;
infectam o tomateiro: tomato spotted wilt
c) utilizar inseticidas somente na fase
virus (TSWV), tomato chlorotic spot virus
inicial da cultura (sementeira) e até
(TCSV), groundnut ring spot virus (GRSV)
30 dias após o transplantio para o
e chrysanthemum stem necrosis virus (CSNV).
campo. Em plantio direto, proteger a
Esses vírus apresentam um amplo círculo
planta com pulverizações semanais
de hospedeiros abrangendo cerca de cem
até a floração;
famílias botânicas e mais de mil espécies
botânicas, a sua grande maioria nas famí- d) utilizar variedades com resistência
lias Solanaceae e Compositae. (relação disponível em catálogos de
Os tospovírus são transmitidos na na- companhias de sementes);
tureza exclusivamente por tripes de maneira e) não efetuar novos plantios ao lado
circulativa/propagativa, isto é, o vírus tam- de campos de tomate abandonados ou
Foto: Antônio Ávila

bém se multiplica no vetor. Uma particula- com alta incidência de vira-cabeça.


ridade do tripes vetor é que ele só se tor-
na virulífero e apto a transmitir o vírus por Mosaico-do-fumo e
toda a sua vida, se foi infectado durante o mosaico-do-tomateiro
estádio larval. A literatura descreve pelo O mosaico-do-fumo e mosaico-
Figura 24 - Vira-cabeça em planta
menos seis espécies de tripes vetores de do-tomateiro são doenças causadas por
tospovírus, mas, em tomate, duas têm gran- tobamovirus e duas espécies de vírus
de importância: Frankliniella shultzei e quando verdes, apresentam lesões escu- destacam-se em condições brasileiras:
F. occidentalis. A prevalência de espécies ras irregulares, deprimidas e secas. Quan- tobacco mosaic virus e tomato mosaic
de tospovírus é variável de região para re- do maduros, apresentam lesões anelares virus. Geralmente, é bastante comum as
gião, em virtude de as diferentes espécies concêntricas de fácil identificação (Fig. 25). plantas permanecerem assintomáticas, mas
de tripes transmitirem as de tospovírus com Freqüentemente ocorrem infecções mistas quando mostram sintomas, observam-se
distintas eficiências. de tospovírus com geminivírus. mosaico, rugosidade, amarelecimento e
As perdas causadas por tospovírus são crescimento reduzido da planta. Nos frutos,
muito variáveis, mas podem ser totais. Em Controle normalmente não se observam sintomas.
geral, quanto mais precocemente as plantas a) produzir mudas em viveiro à prova Outros vírus que infectam o tomate também
de tomate são infectadas, maior a redução de tripes e em local isolado de cam- podem induzir sintomatologia semelhante
na produtividade. As epidemias de tos- pos cultivados com plantas hospe- aos tobamovírus.
povírus são cíclicas e geralmente ocorrem deiras; Na natureza, esses vírus não têm vetor
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.66-78, 2003
76 Tomate para Mesa

natural e são transmitidos somente através estaqueado, os produtores referem a esses c) não efetuar novos plantios ao lado
de contato mecânico entre plantas, mãos sintomas como “pinheirinho” (Fig. 26). de campos de tomate abandonados
de operários (principalmente fumantes), Nesse estádio, é bastante fácil a identifi- ou com alta incidência de risca-do-
operações na cultura, instrumentos cortan- cação do vírus, mas é importante lembrar tomateiro;
tes e implementos utilizados durante os que infecções mistas com geminivírus e
d) utilizar variedades com resistência
tratos culturais. Uma importante fonte de tospovírus ocorrem com freqüência.
(relação disponível em catálogos de
transmissão é através de semente contami-
companhias de sementes).
nada por esses vírus. A eficiência de trans-
missão é muito alta podendo chegar a até A utilização de inseticidas não tem
100% de infestação. Os tobamovírus apre- nenhum efeito preventivo contra a virose,
sentam um amplo círculo de hospedeiros, pois trata-se de transmissão não persis-
mas a maioria das espécies suscetíveis estão tente.
na família Solanaceae. Restos de cultura
contaminados com o vírus, mesmo secos, Topo-amarelo e
podem infectar por vários anos. amarelo-baixeiro

Controle Os vírus causadores das enfermidades


topo-amarelo e amarelo-baixeiro estão clas-
a) utilizar sementes com sanidade com-
sificados no grupo Luteovirus, e o agente
provada;
causal da doença é um variante do vírus-
b) fazer o tratamento preventivo das do-enrolamento-da-folha da batata, potato
sementes em solução contendo 10% leaf roll virus. Esta doença apresenta uma
de fosfato trisódico (Na3PO4), por importância regional e nos últimos anos

Foto: Antônio Ávila


15 minutos, ou com uma solução não tem sido um problema na maioria das
0,6 N de ácido clorídrico por 3 horas regiões produtoras de tomate envarado ou
em locais com alta incidência de to- indústria. Quando a infecção ocorre mais
bamovírus; no final do ciclo da cultura, as perdas são
c) manter sempre limpas as mãos, ins- Figura 26 - Risca-do-tomateiro em folha desprezíveis. Os sintomas de topo-amarelo
trumentos e implementos, lavando- caracterizam-se pela presença de folíolos
os com sabão ou detergente, após ca- pequenos com bordas amareladas e enro-
A transmissão deste vírus dá-se princi-
da operação, e nunca fumar durante ladas para cima, na região superior da plan-
palmente por pulgões alados de forma não
o manuseio das mudas; ta, assemelhando-se a pequenas colhe-
persistente. Nesse caso, o pulgão é capaz
d) não efetuar novos plantios de toma- de adquirir e transmitir o vírus em poucos res. Esses sintomas podem ser facilmente
te no mesmo local onde houve alta segundos, sem período de latência. Se o confundidos com aqueles provocados por
incidência de tobamovírus; pulgão se alimentar em outra planta infecta- geminivírus. As plantas com amarelo-
e) utilizar variedades resistentes (rela- da, ele perderá a capacidade de transmitir o baixeiro apresentam as folhas inferiores
ção disponível em catálogos de com- vírus após algumas poucas picadas de pro- geralmente amareladas e cloróticas, como
panhias de sementes). va. Não há relato da transmissão deste vírus acontece quando atacadas por crinivírus,
pela semente. sugerindo tratar-se de deficiência mineral.
Risca-do-tomateiro (Fig. 27). Estes sintomas podem ser confun-
Controle didos com os causados por crinivírus em
A risca-do-tomateiro trata-se de uma
a) produzir mudas em viveiro à prova tomate.
estirpe do vírus Y da batata, potato vírus Y
de pulgões e em local isolado de cam- Os dois variantes do vírus são trans-
(PVY), que ocorre também em outras so-
pos cultivados com plantas hospe- mitidos por pulgão de forma persistente.
lanáceas cultivadas ou daninhas. Este vírus
deiras; Isso significa que, uma vez adquirido o ví-
apresenta importância regional, e uma vez
a planta infectada no estádio inicial de de- b) controlar adequadamente as plantas rus, o pulgão passa a transmiti-lo por to-
senvolvimento, a perda é total. A sintoma- daninhas e eliminar os restos cultu- da a vida. Nesse caso, o pulgão necessita
tologia pode variar desde mosaico até necro- rais são importantes medidas para alimentar-se por períodos mais longos
se generalizada das nervuras de folhas e eliminar fontes de vírus no local do (minutos a horas), passando por um pe-
hastes que torcem para baixo. Em tomate novo plantio; ríodo de latência também de horas.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.66-78, 2003
Tomate para Mesa 77

Pelo menos sete novas espécies de


begomovírus foram completas ou par-
cialmente caracterizadas no Brasil, sen-
do elas: tomato mottle leaf curl virus
(TMoLCV), tomato crinkle virus (ToCV),
tomato chlorotic mottle virus (TCMV),
tomato severe mosaic virus (TSMV),
tomato infectious yellows virus (TIYV),
tomato chlorotic vein virus (TCVV) e
tomato rugose mosaic virus (TRMV).
A maioria dessas espécies, muito pro-
Foto: Carlos Lopes

vavelmente, foi transferida pelo biotipo


B de espécies daninhas para o tomateiro.
A médio prazo, espera-se que algumas espé-
cies venham a prevalecer, como por exem-
plo o TCMV no estado de Minas Gerais.
Figura 27 - Topo-amarelo do tomateiro
Embora sejam encontradas plantas com sin-
tomas semelhantes ao tomato yellow leaf
Controle biotipo, de difícil controle, apresenta uma curl virus, descrito como um importante
a) produzir mudas em viveiro à prova alta mobilidade e taxa de multiplicação, além begomovírus no Hemisfério Norte, essa
de pulgão e em local isolado de cam- de um amplo círculo de hospedeiros que espécie ainda não foi detectada no Brasil.
pos cultivados com plantas hospe- inclui o tomate e dezenas de espécies de A grande maioria das espécies causa sinto-
deiras; plantas daninhas. Essa situação favoreceu matologia muito semelhante, sendo neces-
o aparecimento de grandes epidemias cau- sários testes em laboratório para identi-
b) controlar adequadamente as plantas
sadas por geminivírus, facilitada pelo fato ficação geral ou específica desses vírus.
daninhas e eliminar os restos cultu-
de as cultivares utilizadas no país não apre- As plantas infectadas geralmente apresen-
rais são importantes medidas para
sentarem resistência ao vírus. Perdas con- tam clorose das nervuras, iniciando-se na
eliminar fontes de vírus no local do
sideráveis, até mesmo totais, ocorrem com base do limbo foliar, mosaico-amarelo ou
novo plantio;
freqüência quando a infecção acontece no mosqueado-clorótico, redução do tamanho
c) utilizar inseticidas somente na fase início do ciclo da cultura. No presente, epi- dos folíolos que se apresentam enrugados
inicial da cultura (sementeira) e até demias de geminiviroses têm sido obser- (Fig. 28) ou com os bordos voltados para
30 dias após o transplantio para o vadas em praticamente todos os Estados cima na forma de colher. Quando a infecção
campo. Em plantio direto, deve-se brasileiros que cultivam o tomate. acontece no início do ciclo da planta, ocor-
proteger a planta com pulverizações
semanais até a floração;
d) não efetuar novos plantios ao lado
de campos de tomate abandonados ou
com alta incidência dessas viroses.

Geminiviroses
As geminiviroses que ocorrem no to-
mateiro no Brasil estão classificadas na fa-
mília Geminiviridae, gênero Begomovirus.
No Brasil, a primeira ocorrência de gemini-
vírus em tomate, transmitido pela mosca-
branca (Bemisia tabaci), foi na década de
Foto: Antonio Ávila

70 (tomato golden mosaic virus). Esse qua-


dro mudou drasticamente na última dé-
cada com a introdução de um variante de
B. tabaci denominado “biotipo B”, também
referido como B. argentifolli. Esse novo Figura 28 - Geminivírus em folhas de tomateiro

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.66-78, 2003


78 Tomate para Mesa

re paralisação do crescimento. Freqüente- gens faz com que o cultivo orgânico dessa and their control. New York: Ronald Press,
mente, observam-se infecções mistas com hortaliça seja muito difícil. Existem tenta- 1960. 693p.
tospovírus e potyvírus. tivas de cultivo dessa hortaliça que alcan- DIXON, G.R. Vegetable crop diseases. West-
çaram sucesso, utilizando produtos natu- port: AVI, 1981. 404p.
Controle
rais para controle de pragas e doenças.
a) produzir mudas em viveiro à prova Naturalmente, a observância das práticas INFORME AGROPECUÁRIO. Doenças de horta-
de mosca-branca e em local isolado culturais de controle fitossanitário é essen- liças 3. Belo Horizonte: EPAMIG, v.18, n.184,
de campos cultivados com plantas cial e condicionadora do sucesso da ati- 1996.
hospedeiras; vidade. Dentre elas destacam-se a época JONES, J.B.; JONES, J.P.; STALL, R.E.; ZITTER,
b) controlar adequadamente as plantas de plantio, o isolamento de cultivos mais T.A. (Ed.). Compendium of tomato diseases.
daninhas e eliminar os restos cultu- antigos de tomate e a rotação de culturas. St. Paul: APS Press, 1991. 73p.
rais para evitar fontes de vírus no A qualidade dos frutos e a produtividade
LOPES, C.A.; QUEZADO-SOARES, A.M.
local do novo plantio; ainda têm sido inferiores ao do cultivo con-
Doenças bacterianas das hortaliças: diag-
c) utilizar variedades com resistência vencional, porém com compensação nos nose e controle. Brasília: EMBRAPA-CNPH/
(relação disponível em catálogos de preços obtidos. Uma das limitações ao cul- EMBRAPA-SPI, 1997. 70p.
companhias de sementes); tivo orgânico é a falta de cultivares adapta-
das ao sistema, principalmente com re- _______; SANTOS, J.R.M. dos. Doenças do to-
d) não efetuar novos plantios ao lado sistência às principais doenças da parte mateiro. Brasília: EMBRAPA-CNPH/EMBRAPA-
de campos de tomate abandonados aérea. SPI, 1994. 61p.
ou com alta incidência de gemini-
UNIVERSIDADE DA CALIFORNIA. Integrated
viroses;
pest management for tomatoes. Berkeley,
REFERÊNCIA
e) utilizar inseticidas de diferentes prin- 1982. 104p. (University of California. Publi-
cípios ativos (carbamatos, fosfora- AGROFIT. Controle de pragas e doenças. Bra- cation, 3274).
dos, piretróides), de óleos e deter- sília, 2002. Disponível em: <http://masrv60.agri-
WALKER, J.C. Diseases of vegetables crops.
gentes neutros, e adotar técnicas de cultura.gov.br/agrofit>. Acesso em: 2002.
New York: McGraw-Hill, 1952. 529p.
manejo integrado da praga (MIP).
ZAMBOLIM, L.; VALE, F.X.R.; COSTA, H.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CONTROLE DAS Controle integrado das doenças das horta-
DOENÇAS DO TOMATEIRO BLANCARD, D. Maladies de la tomate. Mont- liças. Viçosa, MG: UFV, 1997. 122p.
EM CULTIVO ORGÂNICO favet: INRA - Station de Pathologie Vegetale,
_______; _______; _______. (Ed.). Controle
1988. 212p.
A vulnerabilidade do tomateiro a um de doenças de plantas. Viçosa, MG, UFV, 2000.
grande número de doenças de várias ori- CHUPP, C.; SHERF, A.F. Vegetable diseases v.1, 444p.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.66-78, 2003


Tomate para Mesa 79

Principais pragas do tomate para mesa:


bioecologia, dano e controle
Júlio César de Souza 1
Paulo Rebelles Reis 2

Resumo - As principais pragas do tomate para mesa, nos aspectos de descrição e notas
bionômicas, dano e controle, são classificadas como sugadoras e transmissoras de viroses
(pulgões, tripes e moscas-brancas), minadoras (moscas-minadoras, traça-do-tomateiro
e traça-da-batatinha), broqueadoras de frutos (broca-pequena, broca-grande e traça-do-
tomateiro) e outras como ácaros (ácaro-do-bronzeado, ácaro-rajado e ácaro-vermelho
do tomateiro). Inseticidas modernos, como os neonicotinóides, fisiológicos e outros, são
seletivos aos inimigos naturais das pragas e de baixa toxicidade ao homem e ao meio
ambiente. Portanto, recomenda-se fazer o controle das principais pragas do tomateiro de
maneira racional, através da associação de dois ou mais métodos, denominado manejo
integrado, favorecendo sempre que possível o controle biológico natural.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Inseto; Mosca; Tripes; Pulgão; Traça; Broca;
Ácaro.

INTRODUÇÃO vermelho e ácaro-do-bronzeado também se sexuadamente e as fêmeas são ovíparas.


Como acontece com todas as culturas atacam os frutos. Cada fêmea oviposita em média 150 ovos,
exploradas pelo homem, também o toma- Assim, torna-se importante que os to- que são colocados na face inferior da fo-
teiro, Lycopersicon esculentum Mill. (So- maticultores conheçam bem essas pragas lha. Sua fixação na folha dá-se através de
lanaceae), é infestado por pragas, tanto em e busquem controlá-las com eficiência, a um curto pedúnculo. As ninfas eclodidas,
lavouras destinadas à produção de tomate fim de evitar prejuízos indesejáveis. de primeiro estádio, são móveis e apresen-
para mesa (tutorado), como para indústria tam o corpo de formato ovalado e compri-
(rasteiro), inclusive em cultivos protegidos INSETOS VETORES DE VIROSES mido dorso-ventralmente, parecendo co-
(estufas). Moscas-brancas chonilha. Depois de selecionarem um local
O tomateiro é infestado por uma série para se fixarem definitivamente, introduzem
Bemisia tabaci (Gennadius, 1889)
de pragas, algumas principais e outras se- o estilete na folha e começam a sugar seiva.
Bemisia tabaci biótipo B (= Bemisia
cundárias. Dentre as pragas principais, Aí permanecem durante quatro estádios
argentifolii Bellows & Perring, 1994)
existem aquelas vetoras de viroses e que ninfais, após os quais emergem os adultos
Hemiptera, Sternorrhyncha: Aleyrodidae
são sugadoras, como os pulgões, tripes e (SANTINI, 1997). Yokoyama (1995) afirma
mosca-branca; outras são minadoras de Descrição e notas bionômicas que o ciclo de vida da mosca-branca B.
folhas como as moscas-minadoras, traça- Adultos das moscas-brancas são inse- tabaci em feijoeiro, Phaseolus vulgaris L.,
do-tomateiro e traça-da-batatinha, essas tos pequenos, com 1 mm de comprimento, varia de acordo com a temperatura e a plan-
duas últimas podem, além de minar as quatro asas membranosas recobertas por ta hospedeira e pode ser dividido em: ovo
folhas, também atacar os frutos, causan- uma pulverulência branca. Assemelham-se (3 a 4 dias), ninfas (12 dias) e adulto (18
do grandes prejuízos. A broca-pequena, a a pequenas moscas brancas, daí o seu no- dias). Segundo esse autor, em condição de
broca-grande e outras pragas igualmente me vulgar. Com as asas distendidas, medem clima tropical, o número de gerações desta
importantes, como o ácaro-rajado, ácaro- de 2 a 3 mm de envergadura. Reproduzem- praga pode variar de 11 a 15 por ano.

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM-EcoCentro, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: juliocesar@epamig.ufla.br
2
Engo Agro,D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM-EcoCentro, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: paulo.rebelles@epamig.ufla.br

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80 Tomate para Mesa

As espécies B. tabaci e B. tabaci bióti- culturas de tomate, brócolis, berinjela e b) controle químico
po B (= Bemisia argentifolii) são morfo- abóbora, sempre associadas ao prateamen- Deve ser preventivo, porém, quando
logicamente iguais, mas a segunda adapta- to das folhas. necessário, deve ser feito em infestações
se a um grande número de espécies vegetais Em tomateiro, Santini (1997) menciona já instaladas. O controle preventivo con-
hospedeiras e apresenta alta resistência aos que as moscas-brancas produzem danos siste em duas aplicações de inseticidas
inseticidas. A primeira espécie normalmen- diretos pela sucção de seiva, com conse- em pulverização, imidacloprid (Confidor
te ocorre em baixas populações, e está asso- qüente indução do amadurecimento irregu- 700 GrDA) (30 mL/100 L de água) ou thia-
ciada com plantas daninhas e cultivadas, às lar dos frutos, prejudicando sua qualidade methoxam (Actara 250 WG) (16-20 g/100 L
quais transmitem viroses, como o mosaico- comercial e favorecendo, pelas suas fezes de água). Uma aplicação é feita nas mudas
dourado no feijoeiro (LOURENÇÃO; NAGAI, líquidas como substrato, o aparecimento na sementeira e seu complemento no cam-
1994). Devido ao crescimento populacio- do fungo da fumagina, fungo de revesti- po (esguicho e pulverização). A aplicação
nal considerável da praga, notadamente em mento que se nutre de excreções açuca- do inseticida neonicotinóide imidacloprid
hortaliças e ornamentais no estado de São radas de certos insetos (pulgões, cocho- (Confidor 700 GrDA), na dosagem de 200 a
Paulo, a partir do verão de 1990/1991, Melo nilhas e moscas-brancas). Esse fungo 300 g do produto comercial por hectare, na
(1992 apud FRANÇA et al.,1996) alertou prejudica a fotossíntese e a respiração das forma de esguicho (10 a 15 mL/planta), deve
para a presença de um novo biótipo de plantas atacadas. ser feita após o transplantio das mudas pa-
mosca-branca no país, possivelmente intro- Como vetores de viroses, as moscas- ra o local definitivo (SANTINI, 1997). Sen-
brancas provocam indiretamente prejuízos do o imidacloprid sistêmico, será absorvi-
duzido da Europa ou Estados Unidos, pela
ainda maiores, mesmo quando presentes do pelas raízes das plantas e irá para toda a
importação de plantas ornamentais. Silveira
em baixas populações. parte aérea, prevenindo o ataque das moscas-
(1997) menciona que B. argentifolii ataca
Em Minas Gerais ocorreram altas po- brancas. Também o inseticida neonicoti-
mais de 500 espécies de plantas comerciais
pulações de B. argentifolii em novembro nóide thiamethoxam (Actara 250 WG), na
e daninhas como guanxuma, corda-de-viola
de 1997, em plantas de batata cultivadas dosagem de 200 g do produto comercial
e serralha-verdadeira. Lourenção e Nagai
em vasos, em estufas do Departamento de por hectare, na mesma modalidade de apli-
(1994) citam outras plantas daninhas, como
Biologia da Universidade Federal de Lavras cação, proporciona um excelente controle
o picão-preto, juá-de-capote, amendoim-
(Ufla). Naquela ocasião, na página inferior desses insetos. A aplicação na forma de
bravo e datura, como hospedeiros preferen-
das folhas, foi observada a presença de esguicho praticamente garante o controle
ciais dessa espécie. A partir daí, disseminou-
nuvens de adultos e grande quantidade de das moscas-brancas durante todo o ciclo
se para Minas Gerais e outros Estados do
ninfas sugando seiva, sem ocorrer trans- do tomateiro. Contudo, se ocorrer algum
Brasil, como Paraná, Mato Grosso do Sul, ataque tardio, devem-se aplicar os inseti-
missão de viroses. O controle químico foi
Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Rio de cidas em duas pulverizações, alternando-
realizado com sucesso, sem prejuízos cau-
Janeiro, Bahia, Pernambuco, Ceará e Rio os.
sados pelo inseto.
Grande do Norte (SILVEIRA, 1997). Deve- Para o controle em infestações já insta-
se mencionar que a espécie B. tabaci é uma Controle
ladas, constatadas pela presença de moscas-
praga muito importante no Brasil há muitos São apresentadas algumas medidas de brancas na página inferior das folhas,
anos, e o biótipo B é de ocorrência recente, controle para evitar os prejuízos causados realizar duas pulverizações: a primeira pa-
há aproximadamente 12 anos. Uma corren- pelas moscas-brancas em tomateiro para ra matar os adultos e ninfas já presentes, e
te de taxonomistas considera o biótipo B mesa, aplicáveis também para tomateiros a segunda, sete dias após, para matar pos-
como uma espécie distinta, B. argentifolii, cultivados em estufas (cultivo protegido), síveis adultos que emergiram de ninfas não
sendo aceitas as duas definições até o mo- industrial (rasteiro) e para o controle dos mortas pelo inseticida na primeira pulve-
mento. pulgões e tripes: rização.
Dano a) controle cultural
Pulgões
Assim como os pulgões ou afídeos, as - produção de mudas em locais pro-
Myzus persicae (Sulzer, 1776)
moscas-brancas são insetos sugadores, tegidos com telas à prova de inse-
Macrosiphum euphorbiae (Thomas, 1878)
que causam prejuízos diretos por sugar a tos;
Hemiptera, Sternorrhyncha: Aphididae
seiva e depauperar as plantas sugadas, e - rotação de culturas com espécies
indiretos por serem transmissores de doen- vegetais não-hospedeiras; M. persicae
ças de vírus. - eliminação de plantas hospedeiras Descrição e notas bionômicas
Lourenção e Nagai (1994) verificaram ao redor das sementeiras e das la- Os adultos apresentam coloração verde-
infestações severas de B. argentifolii em vouras no campo. clara e medem 2 mm de comprimento. As
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Tomate para Mesa 81

colônias são formadas por adultos e ninfas sentam, no dorso da região posterior do bucal raspador-sugador, e é sugador de
ápteros, que se instalam na página inferior abdome, um par de sifúnculos alongados, seiva (GALLO et al., 2002). Em tomateiro,
das folhas, nos brotos terminais e ao longo maiores do que os apresentados pela espé- ocorrem as espécies polífagas F. schultzei
do caule. A reprodução é partenogenéti- cie M. persicae. Assim, os sifúnculos alon- e T. palmi. Plantas como o algodoeiro, amen-
ca, não necessitando de macho. Todos os gados são uma característica importante doim, alface, batata, berinjela, crisântemo,
descendentes são fêmeas (partenogênese para sua identificação. dália e fumo, além de outras como plantas
telítoca) e vivem de 15 a 30 dias. Na repro- A reprodução desta espécie de pulgão daninhas, são atacadas por F. schultzei
dução, as fêmeas não botam ovos, já colo- e a formação de suas colônias são iguais (SILVA et al.,1968).
cam ninfas, fenômeno chamado vivipari- aos da espécie M. persicae, já descrita ante-
dade. Geram até dez novos indivíduos por riormente. Frankliniella schultzei
dia, todos fêmeas ápteras, que, em clima Os adultos são insetos pequenos e ala-
quente e seco, tornam-se adultas e passam Dano causado pelos pulgões
dos, de corpo alongado, e medem no má-
a reproduzir-se em dois a três dias. Em plan- Os pulgões causam prejuízos diretos e
ximo 3 mm de comprimento. Sua coloração
tas com alta população, ocorrem alguns indiretos ao tomateiro e outros hospedei-
nessa fase é marrom-escura, quase preta.
pulgões com asas que irão procurar novas ros. Os prejuízos diretos são causados pe-
Apresentam os segmentos do abdome bem
plantas, disseminando-se assim por toda a la sucção de seiva de modo ininterrupto, já
distintos e visíveis. As formas jovens, sem
lavoura em duas a três semanas. Esses pul- que são insetos sugadores; e os indiretos,
asas, são de coloração amarelada. Vivem
gões alados, com 2 mm de comprimento, pela transmissão de viroses às plantas ata-
abrigados no interior de flores, nos botões
apresentam dois pares de asas transparen- cadas, principalmente pelas formas aladas
florais e nos brotos ou na página inferior
tes, tendo a cabeça, antenas e tórax pretos, no seu deslocamento pelo vôo entre plan-
tas, o que não ocorre com as formas ápte- de folhas novas ou velhas, formando co-
e o abdome verde-amarelado.
ras. lônias e alimentando-se exclusivamente de
A infestação inicia-se com as fêmeas
Atacam as folhas e ramos novos, su- seiva. São ovíparos, colocam os ovos nas
aladas vindas de outras plantas hospedei-
gando a seiva. Em conseqüência, produ- folhas. Após alguns dias, aparecem as for-
ras pelo vento. Essas fêmeas passam a
zem o engruvinhamento e enrolamento das mas jovens.
reproduzir-se por partenogênese, até com-
pletar sua longevidade, quando morrem. folhas. O excesso de seiva, que são suas Dano
A partir daí, o aumento de pulgões da colô- fezes líquidas, açucaradas (honeydew),
Os adultos de F. schultzei, ao se alimen-
nia será garantido pelas ninfas ápteras, caem na parte aérea dos tomateiros ataca-
tarem da seiva de plantas doentes, conta-
após se transformarem em adultos também dos, em locais abaixo de suas colônias, pro-
minam-se pelo vírus do vira-cabeça do to-
ápteros. Para isso, as ninfas aumentam de piciando um substrato para o desenvolvi-
mateiro, e ao serem levados pelo vento para
tamanho pela ecdise, descartando o velho mento do fungo da fumagina, Capnodium
mudas em sementeiras e para lavouras de
tegumento (exúvia) de cor branca. Assim, sp., de micélio preto e revestimento que
tomate já implantadas sugam as plantas
numa colônia de pulgões há muito tempo prejudica a fotossíntese e a respiração das
sadias e inoculam a doença. Dentro da pró-
instalada, as exúvias podem ser facilmente plantas. Além dos danos diretos, os pul-
pria sementeira e em tomateiros no campo,
observadas entre os indivíduos. Os pul- gões são vetores de importantes doenças
podem transmitir a doença pela própria lo-
gões podem ser facilmente reconhecidos de vírus, tais como vírus Y, topo-amarelo,
comoção e ao sugarem plantas sadias. O
por apresentarem um par de apêndices vi- e amarelo-baixeiro (BARBOSA, 1984,
mesmo ocorre com as ninfas ápteras. Por-
síveis no dorso da extremidade do abdome, GALLO et al., 2002).
tanto, para que o tripes possa transmitir e
chamados sifúnculos. Atacam, além do to-
Controle dos pulgões inocular a doença em plantas sadias, é indis-
mateiro, solanáceas como berinjela, batata,
As medidas de controle para os pulgões pensável que esteja com o vírus em sua
pimentão, pimentas etc., outras culturas
são as recomendadas para o controle das boca.
e também plantas daninhas como maria-
moscas-brancas, descrito anteriormente. As plantas atacadas apresentam de iní-
pretinha, juá, jurubeba etc.
cio folhas bronzeadas e, posteriormente,
Tripes caule com estrias negras e frutos com man-
M. euphorbiae
Frankliniella schultzei Trybom, 1920
chas amarelas, culminando com o curva-
Descrição e notas bionômicas mento das extremidades dos ponteiros.
Thrips palmi Karmy, 1925
Os adultos alados medem de 3 a 4 mm Thysanoptera: Thripidae
Os prejuízos são dos mais sérios e po-
de comprimento, apresentam coloração ver- dem, de acordo com a infestação e a época
de, sendo a cabeça e o tórax amarelados, com Descrição e notas bionômicas do ano, dizimar toda a plantação, como já
as antenas escuras. Suas formas ápteras O tripes é um inseto pequeno, que apre- foi observado no município de Lavras, no
são maiores (GALLO et al., 2002). Apre- senta dois pares de asas franjadas, aparelho Sul de Minas, em março de 1995.
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Essa espécie de tripes foi observada no início da infestação, no caule (próximo plantios. A queima dos restos culturais é
também em alta infestação, atacando plan- às gemas de crescimento ou sobre elas), a melhor maneira para destruí-los. Plan-
tios de alface americana, em março de 2001, nas flores (pétalas e ovários em desenvol- tas daninhas da família das solanáceas e
na região de Boa Esperança, Sul de Minas, vimento) e na superfície dos frutos. Enfim, outras possíveis hospedeiras do tripes F.
transmitindo virose logo após o transplan- pode-se localizar em toda a parte aérea schultzei, que nascem espontaneamente
tio, o que resultou em prejuízos totais, já da planta. No Sul de Minas, em março de nas proximidades de sementeiras e dos to-
que as mudas, no local definitivo, não se 2001, técnicos do Ministério da Agricultu- matais, devem ser eliminadas.
desenvolveram. ra, Pecuária e Abastecimento (Mapa), do No tomatal, todas as plantas doentes
Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) infectadas pelo vira-cabeça devem ser arran-
Thrips palmi e pesquisadores do Centro Tecnológico do cadas, retiradas da área e destruídas, opera-
É um tripes de recente ocorrência no Sul de Minas (CTSM) da EPAMIG, consta- ção chamada roguing. Antes do arranquio,
Brasil, encontrado inicialmente em 1993, taram a ocorrência de T. palmi em brotos devem ser pulverizadas com inseticidas.
no estado de São Paulo, atacando berinje- de plantas de batata, com a presença de
b) controle químico
la, pimentão, crisântemo e batata. Foi intro- sintomas de prateamento, sem transmis-
O controle químico deve ser preventivo,
duzido no Brasil através de vasos com a são de viroses. Esse mesmo tripes já havia
iniciando-se na sementeira (bandejas ou
planta ornamental poinsétia (Euphorbia- sido constatado em batata e pimentão na
canteiros), para evitar a ocorrência do
ceae), importados dos Estados Unidos mesma região, com relação ao controle, em
tripes no tomatal. Recomendam-se duas
(TRIPS..., 1995). A partir daí, disseminou- março de 1998.
aplicações dos inseticidas thiamethoxam,
se para outros Estados como Minas Ge- Os primeiros sintomas nas plantas ata-
imidacloprid ou acetamiprid (Quadro 1) em
rais. cadas são cicatrizes prateadas na lâmina
pulverização. A primeira, logo após a emis-
Os adultos são insetos de tamanho re- foliar, especialmente ao longo das nervuras.
são das folhas definitivas, e a segunda, antes
As plantas severamente infestadas apre-
duzido, aproximadamente 1 mm de compri- do transplantio. Nas pulverizações, deve-
sentam folhas com aparência prateada,
mento, com asas muito estreitas e rodeadas se procurar alternar os produtos e realizar
ponteiros e folhas com nanismo e frutos
de franjas. Possuem o corpo de cor amarelo- uma perfeita cobertura das plantas, inclu-
deformados com cicatrizes.
clara, com cerdas grossas e pretas. Os ovos sive na face inferior das folhas e ramos. O
são postos pelas fêmeas dentro da epider- Controle dos Tripes ideal é usar produtos seletivos e de baixa
me do vegetal, são esbranquiçados e têm toxicidade, procurando-se preservar pos-
As principais formas de controle, que
formato de rim. As ninfas dos primeiros síveis inimigos naturais destas e de outras
devem ser empregadas em conjunto, para
estádios são ápteras e muito ativas, de co- melhor eficiência são: pragas e garantir a saúde do aplicador.
loração esbranquiçada, que em seguida Após o transplantio das mudas para o
adquirem a cor amarelada, definitiva. A fase a) controle cultural local definitivo, aplicar o inseticida neonico-
de pupa ocorre no solo, do qual emergem Restos de tomatais anteriormente culti- tinóide imidacloprid (Confidor 700 GrDA),
os adultos, que voltam à parte aérea da plan- vados devem ser destruídos para que não na forma de esguicho, na dosagem de 200
ta a fim de se alimentarem de seiva (TRIPS..., sirvam de foco de infestação para novos a 300 g de produto comercial por hectare
1995, SANTINI, 1997).
Dano QUADRO 1 - Alguns produtos registrados para uso no controle do tripes, Frankliniella schultzei, em
T. palmi é uma espécie polífaga, com tomateiro

um grande número de plantas hospedeiras: Nome Classificação


Formu- Firma
solanáceas (batata, berinjela, pimentão e lação Toxico- Ambien- registrante
Comercial Técnico
fumo); cucurbitáceas (melão e pepino); le- lógica tal
guminosas (feijão, soja e trevo-branco); e Actara 250 WG Thiamethoxam WG III III Syngenta
outras (crisântemo, dália, batata-doce, algo-
Mospilan Acetamiprid SP III II Iharabras S.A.
dão etc.) (SOUZA; REIS, 1999). Pode tam-
bém ocorrer e atacar numerosas plantas da- Saurus Acetamiprid SP III II Aventis CropScience
ninhas e silvestres. Confidor Imidacloprid GrDA IV III Bayer S.A.
Reproduz-se rapidamente, podendo FONTE: Agrofit (2002).
causar grandes danos às culturas. Tanto NOTA: Classificação toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamen-
os adultos quanto as ninfas alimentam-se te tóxico; IV - Pouco tóxico. Classificação ambiental: I - Altamente perigoso; II - Muito
em grupos (colônias) na página inferior das perigoso; III - Perigoso; IV - Pouco perigoso.
folhas. Situam-se ao longo das nervuras, Formulação: WG = GrDA - Grânulos dispersíveis em água; SP = PS - Pó solúvel.

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Tomate para Mesa 83

ou 10 a 15 mL/planta, como recomendado comum, couve-flor, repolho, algodão, quia- rênquima. Quando completamente desen-
para o controle das moscas-brancas. Sen- bo, antúrio, crisântemo, alface etc., e tam- volvidas, medem 6 mm de comprimento.
do sistêmico, o imidacloprid será absorvido bém inúmeras plantas daninhas como a Suas minas são estreitas e serpentiformes,
pelas raízes das plantas ou mudas trans- falsa-serralha, serralha-mansa, serralha- típicas desses insetos. Após a fase larval,
plantadas e irá para toda a parte aérea, pre- brava, hortelã, maria-pretinha, picão-preto, que dura de 4 a 17 dias, abandonam a folha,
venindo o ataque das moscas-brancas. picão-branco etc. Comprovadamente cau- caem no solo onde penetram a pouca pro-
Também o inseticida sistêmico neonico- sam prejuízos em plantações de tomate, fundidade, e se transformam em pupa, de
tinóide thiamethoxam (Actara 250 WG), feijão, pepino, melancia, crisântemo, couve- coloração marrom e formato de pequeno
na dosagem de 200 g/ha do produto comer- comum, batata e algumas espécies ornamen- barril com 4 mm de comprimento (Fig. 2).
cial, na mesma modalidade de aplicação, tais da família Compositae cultivadas em
proporciona um excelente controle do tri- vasos.
pes. A aplicação na forma de esguicho Os adultos das moscas-minadoras,
praticamente garante o controle do tripes Liriomyza spp., são mosquinhas de colo-
durante todo o ciclo do tomateiro. Contu- ração escura, com manchas laterais ama-
do, se ocorrer algum ataque tardio, aplicar reladas, inclusive no escutelo (dorso do
imidacloprid ou thiamethoxam em única pul- tórax). Medem de 1,5 a 2 mm de comprimen-
verização. Se for detectada alguma infes- to. Apresentam um par de asas translúci-
tação de tripes já instalada, como pelo T. das e o corpo revestido de cerdas escuras
palmi, por exemplo, sem que tenham sido (Fig. 1). São facilmente visíveis sobre as
observados sintomas de virose, comum
nesta espécie, realizar uma pulverização
com imidacloprid ou thiamethoxam.
Figura 2 - Larvas e pupas da mosca-
minadora
INSETOS MINADORES
NOTA: As larvas minam as folhas.
Moscas-minadoras
Liriomyza huidobrensis Blanchard, 1926 Podem também empupar em folhas caídas
Liriomyza sativa Blanchard, 1938 no chão. Após aproximadamente nove dias,
Liriomyza trifolii (Burgess, 1879) emerge o adulto. No campo, com o passar
Liriomyza spp. do tempo, as gerações tornam-se sobre-
Diptera: Agromyzidae postas, podendo-se encontrar, ao mesmo
tempo, larvas, pupas e adultos.
Descrição e notas bionômicas Figura 1 - Adulto da mosca-minadora
No mundo existe um complexo de espé- Dano
cies de moscas-minadoras pertencente Os prejuízos que as moscas-minadoras
ao gênero Liriomyza, que infesta inúme- folhas das plantas hospedeiras. Alimentam- causam às culturas, inclusive a do toma-
ros vegetais cultivados e plantas daninhas, se do exsudado extravasado das células, teiro, são provocados pelas larvas ao se
causando prejuízos econômicos (SOUZA; resultante das picadas de alimentação fei- alimentarem e minarem as folhas das plan-
REIS, 1999). tas pelas fêmeas com seu ovipositor, na tas, e pelas picadas de alimentação feitas
Nos Estados Unidos, por exemplo, a página superior das folhas, facilmente vi- pelo ovipositor das fêmeas adultas. Essas
mosca-minadora L. trifolii é a principal pra- síveis. Seu ciclo passa pelas fases de ovo, picadas, em grande número, conferem um
ga da cultura do crisântemo. No estado da larva, pupa e adulta. As mosquinhas fê- péssimo aspecto visual às plantas, como
Califórnia, estimou-se em 93 milhões de dó- meas fecundadas colocam um ovo por por exemplo em crisântemo, planta orna-
lares os prejuízos causados no período de picada, dentro do tecido da folha, na pá- mental.
1981 a 1985 (NEWMAN; PARRELLA, 1986 gina inferior. Os ovos medem 0,2 mm por A ocorrência de altas populações de
apud PARRELLA, 1987). 0,13 mm, são elípticos, de coloração branco- larvas minando as folhas dos hospedeiros
No Brasil, também infestam inúmeras leitosa e transparente. Após alguns dias, resultará em uma drástica redução de sua
plantas cultivadas, podendo-se citar o to- nascem as larvinhas ápodes, cilíndricas, de área foliar, comprometendo o seu desenvol-
mate, feijão, feijão-vagem, abóbora, melan- coloração branco-hialina no início e depois vimento e a sua produtividade, além de as
cia, pepino, beterraba, espinafre, fumo, pi- amarelada, que minam as folhas das plantas minas serem portas de entrada para pató-
mentão, dália, girassol, maracujá, couve- hospedeiras, vivendo dentro delas, no pa- genos.

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As maiores infestações das moscas- uma placa quitinosa estreita


minadoras ocorrem no período seco do de coloração marrom-clara
ano, ocasião em que o controle deve ser no dorso do primeiro segmen-
realizado. O ataque inicia-se pelas folhas to torácico. A fase de lagar-
baixeiras e vão evoluindo para as folhas ta dura aproximadamente 14
superiores. dias. Após esse período, em-
Controle pupa dentro de um casulo
de seda nas próprias folhas
O controle das moscas-minadoras
do tomateiro. Depois da fa-
resume-se no controle químico, através da
se pupal ou de crisálida, que
aplicação de inseticidas em pulverização,
Figura 3 - Adultos da traça-do-tomateiro, Tuta absoluta dura aproximadamente oito
ao ser observadas as primeiras minas nas
dias, emerge o adulto. Seu ci-
folhas. Embora muitos inseticidas estejam
eclosão, passam a cor alaranjada. Dos ovos, clo evolutivo é de 26 a 30 dias. No campo,
registrados para o controle das moscas-
eclodem as lagartinhas mastigadoras, de numa infestação já instalada, as gerações
minadoras, recomenda-se o uso de cyro-
coloração verde-rosada e que passam a são sobrepostas, podendo-se encontrar,
mazine (Trigard 750 PM) (120 g/ha) ou
atacar e a alimentar-se de toda a parte aérea ao mesmo tempo, todas as suas fases. A dis-
abamectin (Vertimec 18 CE) (75 mL/100L de
do tomateiro (broto apical, folhas, caules, seminação da traça é feita pelo vento, trans-
água). Se a opção for pelo abamectin, aplicá-
botões florais, flores e frutos). Possuem três portando adultos a curtas e longas dis-
lo em mistura com óleo mineral ou vegetal
pares de pernas torácicas e cinco pares tâncias; pelo próprio vôo entre lavouras
emulsionável a 0,25% (250 mL de óleo para
de falsas pernas abdominais, para se loco- próximas e também através de frutos ata-
cada 100 L de água). Adicionar o abamectin
moverem rapidamente (Fig. 4). O ataque cados contendo lagartas, quando da comer-
ao óleo emulsionável em pré-mistura, e
nos tomatais inicia-se nos brotos terminais cialização, ocasião em que elas transformam-
agitar por três minutos antes de adicioná-
das plantas. À medida que as lagartinhas se em crisálidas e, posteriormente, em adul-
los no tanque do pulverizador.
vão-se alimentando, aumentam de tama- tos nos locais de destino final do produto.
nho. Completamente desenvolvidas, me- A disseminação também pode-se dar atra-
Traça-do-tomateiro
dem 7 mm de comprimento, apresentando vés de crisálidas encerradas em casulos na
Tuta absoluta (Meyrick, 1917)
Lepidoptera: Gelechiidae
A traça-do-tomateiro é uma das prin-
cipais pragas do tomateiro em qualquer sis-
tema de cultivo, podendo causar prejuízo
total à lavoura. Foi constatada pela primeira
vez no Brasil, em 1980, em Jaboticabal (SP).
A partir daí, o inseto disseminou-se para
todas as regiões produtoras dessa solaná-
cea (BARBOSA, 1984, SOUZA; REIS, 1992,
2000, SOUZA et al., 1983).
O inseto sofre metamorfose completa, A B
passando pelas fases de ovo, lagarta, cri-
sálida e adulta. Os adultos, de ambos os
sexos, são pequenas mariposas de hábi-
tos crepusculares-noturnos. Medem 11 mm
de envergadura e apresentam cor cinza-
prateada (Fig. 3). Durante o dia, ao se tocar
na folhagem dos tomateiros, os adultos
fazem vôo curto e rapidamente se escon-
dem. A função deles é só reprodutiva. Os
adultos fêmeas, após serem copulados, C
colocam ovos na parte aérea dos tomatei- Figura 4 - Ovos e lagartas da traça-do-tomateiro
ros, de preferência nas folhas. Inicialmen- NOTA: A - Detalhes de um ovo em tamanho natural na folha; B - Dois ovos ampliados;
te são de coloração amarela e, próximo da C - Lagartas da traça-do-tomateiro.

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Tomate para Mesa 85

própria caixaria, oriundas de lagartas pre- folhas (Fig.6), atacam os botões florais rapidamente. Tomatais novos implantados
sentes em frutos atacados e comercializa- (ovário) e os frutos, em qualquer estádio próximos a tomatais antigos, já em final de
dos, que também se transformarão em adul- de crescimento (Fig.7), resultando na queda colheita, podem ser intensamente ataca-
tos. desses. Os frutinhos pequenos atacados dos. Ocorrem todos os anos, grandes ou
também caem, só restando o engaço. Aque- médias infestações. As maiores infestações
Dano les frutos que conseguem atingir a ma- foram observadas nos anos de 1982, 1989,
Inicialmente as lagartinhas perfuram turação apresentam perfurações e galerias, 1992 e 1999, ocasiões em que chegaram a
os brotos terminais dos tomateiros, inter- junto à região do cálice, causadas também causar prejuízos totais.
rompendo o crescimento em altura, provo- pelas lagartas, perdendo o valor comercial.
cando o superbrotamento lateral e pre- Geralmente o maior ataque ocorre no
judicando a produção de frutos (Fig. 5). período seco do ano, de maio-junho a outu-
As lagartas também minam totalmente as bro, ocasião em que a sua infestação evolui

Figura 5 - Linhas de tomateiros com e sem ataque da traça-do-tomateiro


NOTA: À direita, linha de tomateiros com porte reduzido, com superbrotamento, resultado
do ataque das lagartas da traça-do-tomateiro no broto terminal. À esquerda,
tomateiros em porte normal, sem ataque do inseto – outubro 1990.

Figura 7 - Frutos em diversos estádios de


crescimento perfurados por la-
gartas da traça-do-tomateiro,
Figura 6 - Aspecto de um folíolo da folha de tomateiro minado por lagarta da traça-do- principalmente na região do
tomateiro cálice

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Controle c) controle químico


Existem diversos métodos de controle Com base nos resultados de inúme-
para a traça-do-tomateiro, e os comumen- ros experimentos realizados, Reis e Souza
te utilizados são o cultural, o biológico e o (1998), Souza e Reis (2000) recomendam
químico (SOUZA; REIS, 2000): como padrão a pulverização de abamectin
18 CE (100 mL/100 L de água), que apresenta
a) controle cultural ação de profundidade nas partes aplicadas
Consiste na destruição dos restos cul- do vegetal, em mistura com óleo mineral ou
turais e lavouras, no final da colheita co- vegetal emulsionável a 1% (um litro de óleo
mercial de frutos, através da aplicação de emulsionável para cada 100 L de água), em
um herbicida de contato para secar toda a pré-mistura. Ou seja, adicionar o abamectin
parte aérea dos tomateiros, com posterior Figura 8 - Vespa de Protonectarina sp. ao óleo emulsionável e agitar por três minu-
arranquio e enleiramento das plantas já se- predando lagartas da traça-do- tos antes de despejá-los na água, quando
cas. A seguir, usa-se o fogo para destruir tomateiro em folha atacada do preparo da calda inseticida. Outro inse-
todo esse material enleirado. O arranquio ticida muito eficiente e lançado recentemen-
das plantas do tomateiro, no final da colhei- te no mercado é o chlorfenapyr. Esses dois
ta, a retirada das estufas e a queima de todo épocas e devido à atuação de seus inimigos produtos devem ser alternados com aplica-
o material retirado devem ser práticas ro- naturais. Já no período seco, com as con- ções de inseticidas fisiológicos inibidores
tineiras em cultivos protegidos. O controle dições climáticas favoráveis para redução da síntese de quitina (teflubenzuron e lufe-
cultural, ao reduzir a população da traça, inclusive do seu ciclo, o controle biológi- nuron) e o fisiológico acelerador de ecdise
pode trazer como conseqüência um menor co não é suficiente. Daí a necessidade de methoxyfenozide. Todos esses inseticidas
número de pulverizações para o seu contro- complementá-lo através de pulverizações recomendados estão relacionados no Qua-
le, o que é significativo. com inseticidas. Por isso, no controle quí- dro 2.
O tomaticultor deve destruir todas as mico da traça, deve-se optar sempre por No campo, o controle deve ser inicia-
lavouras já colhidas e jamais implantar inseticidas mais eficientes e seletivos aos do com abamectin ou chlorfenapyr ao ser
outras próximas daquelas abandonadas e seus inimigos naturais, já que a aplicação observados 4% de ponteiros atacados
não destruídas. Do contrário, o controle de produtos de largo espectro poderá agra- e/ou 10% de folíolos atacados com lagar-
da traça será difícil e oneroso, já que exigi- var a situação, resultando no aumento de tas vivas (MALTA, 1999). Outros traba-
rá um grande número de pulverizações. infestação e em um controle totalmente lhos indicam que o controle seja iniciado
ineficaz. com infestações superiores, como o de
b) controle biológico
O controle biológico é feito por vespas
predadoras, que são encontradas natu- QUADRO 2 - Alguns produtos registrados para uso no controle da traça-do-tomateiro, Tuta absoluta

ralmente em grande número, voando e Nome Classificação


Formu- Firma
pousando em tomateiros nas lavouras, Toxico- Ambien-
Comercial Técnico lação registrante
procurando lagartas da traça para delas se lógica tal
alimentarem. As vespas predadoras pro-
Alsystin 250 PM Triflumuron WP IV III Bayer S.A.
curam as minas nas folhas, e, dependendo
dos seus hábitos, rasgam a epiderme supe- Intrepid 240 SC Methoxyfenozide SC IV III Rohm and Haas
rior ou inferior, de onde retiram e comem as Match CE Lufenuron (1)
EC IV II Syngenta
lagartas (Fig. 8). Também são encontradas
Nomolt 150 Teflubenzuron SC IV II Basf S.A.
nas lavouras insetos diminutos, denomi-
nados microhimenópteros, que parasitam Pirate Chlorfenapyr SC III II Basf S.A.
lagartas da traça. Vertimec 18 CE Abamectin (1)
EC III III Syngenta
O controle biológico natural é impor-
FONTE: Agrofit (2002).
tante, mas não é suficiente para dispensar NOTA: Classificação toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamen-
outras modalidades de controle dessa pra- te tóxico; IV - Pouco tóxico. Classificação ambiental: I - Altamente perigoso; II - Muito
ga. Em determinadas épocas do ano, a po- perigoso; III - Perigoso; IV - Pouco perigoso.
pulação da traça mantém-se baixa, em fun- Formulação: WP = PM - Pó molhável; SC - Suspensão concentrada; EC = CE - Concentrado emulsionável.
ção do clima não tão favorável, naquelas (1) Essa formulação, em mistura com água, forma emulsão leitosa (branca).

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Tomate para Mesa 87

Gravena et al. (1998), que recomendam que da. A placa quitinosa no dorso do primeiro sendo as anteriores dotadas de manchas
o controle da traça deve ser iniciado quando segmento é larga, de coloração marrom- cor de tijolo, e as posteriores de pequenas
for constatado 25% de ponteiros atacados, escura no todo, o que a distingue das la- manchas esparsas marrons (Fig. 9). Após
25% de folhas baixeiras infestadas e 5% de gartas da traça-do-tomateiro. Também
pencas infestadas, com frutos do tamanho apresenta três pares de pernas torácicas e
de uma bola de gude infestados (observa- cinco pares de falsas pernas abdominais
ção visual). para locomoção.
As amostragens devem ser feitas em
cada talhão de 2 mil covas. As pulveri- Dano
zações seguintes devem ser semanais, As lagartas da traça-da-batatinha ata-
alternando-se o abamectin ou chlorfenapyr cam preferencialmente os frutos em está-
com inseticidas fisiológicos, como já men- dios próximos à maturação, fazendo galerias
cionado. na região de inserção do pedúnculo, ou se
Se um tomatal apresenta infestação de alojando sob a cutícula do fruto. Eventual-
traça, por descuido do produtor, já acima mente atacam a folhagem do tomateiro,
do índice, o controle deve ser iniciado com alojando-se em “minas” ou construindo ga- Figura 9 - Adultos da broca-pequena-do-
duas pulverizações com intervalo de cinco lerias em plantas no início de desenvolvi- fruto, Neoleucinodes elegantalis
dias com abamectin e/ou chlorfenapyr, e mento, o que causa uma espécie de tomba-
as demais, semanalmente, com a mesma mento (BARBOSA, 1984). Comparativa-
o acasalamento, a fêmea coloca os ovos
alternância dos inseticidas fisiológicos. mente, as lagartas da traça-do-tomateiro
nos frutos bem pequenos, em formação,
Na sementeira, deve-se fazer duas pul- são mais vorazes, pois atacam toda a par-
junto ao cálice (sépalas), em número de
verizações preventivas: a primeira aos 20 te aérea do tomateiro, em qualquer estádio
três por fruto, em média. Depois de três
a 30 dias após a semeadura, e a segunda, de desenvolvimento, sendo comum suas
dias, nascem as lagartinhas de coloração
antes do transplantio, utilizando-se aba- infestações.
rosada, que procuram penetrar no fruto
mectin e/ou chlorfenapyr.
Em cultivos protegidos (estufas), a traça- Controle através da sua película, abrindo um orifí-
O controle da traça-da-batatinha deve cio quase imperceptível, que se cicatriza
do-tomateiro também ocorre e pode explo-
ser feito somente com os inseticidas pa- com o desenvolvimento do fruto, ficando
dir, já que nessas condições seu ciclo é re-
drões abamectin e chlorfenapyr em pulve- um sinal de entrada. Essa característica de
duzido em conseqüência das maiores tem-
rização, ambos recomendados anterior- ataque é muito importante em relação ao
peraturas internas observadas. Nesse caso,
mente para o controle da traça-do-tomateiro. controle (BARBOSA, 1984, GALLO et al.,
o controle do inseto deve ser feito prefe-
2002).
rencialmente com os inseticidas abamectin
INSETOS BROQUEADORES À medida que vão-se alimentando no
e/ou chlorfenapyr.
DE FRUTOS interior do fruto atacado, as lagartas aumen-
Traça-da-batatinha tam de tamanho. Permanecem no interior
Phthorimaea operculella (Zeller, 1873) Traça-do-tomateiro do fruto por 30 dias, em média, saindo já
Lepidoptera: Gelechiidae Tuta absoluta (Meyrick, 1917) desenvolvidas e em fase de amadurecimen-
Lepidoptera: Gelechiidae to, para empupar no solo. Completamen-
Descrição e notas bionômicas te desenvolvidas, medem de 11 a 13 mm de
A traça-do-tomateiro já foi relatada com
É uma espécie muito semelhante à traça- comprimento (Fig. 10). Abandonam o fruto
detalhes no item Insetos Minadores deste
do-tomateiro. Os adultos da traça-da-bata- artigo. por um orifício de saída individual bem
tinha são pequenas mariposas de colo- visível, de diâmetro correspondente ao
ração cinza-prateada, com 10 a 12 mm de Broca-pequena-do-fruto corpo (Fig. 11). Depois de sair do fruto,
envergadura e cerca de 5 mm de compri- transformam-se em pupa nas folhas bai-
Neoleucinodes elegantalis (Guenée, 1854)
mento. Suas lagartas são maiores e mais xeiras, ou em detritos em torno das plan-
Lepidoptera: Crambidae
volumosas em diâmetro do que as da traça- tas, confeccionando um delicado casulo
do-tomateiro, medindo 12 mm de compri- Descrição e notas bionômicas de seda. Após 17 dias, emergem os adul-
mento, quando completamente desenvol- O adulto da broca-pequena-do-fruto, tos, que iniciam um novo ciclo. Segundo
vidas. Apresentam coloração variável em N. elegantalis, é uma pequena mariposa Barbosa (1984), no estado de São Paulo, o
tons amarelado, rosado ou esverdeado. com cerca de 25 mm de envergadura, co- maior ataque ocorre nos plantios realiza-
Inicialmente sua coloração é esbranquiça- loração geral branca, asas transparentes, dos em janeiro e fevereiro, que entram em
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88 Tomate para Mesa

quando 5% dos frutos amostrados apre-


sentarem sinais de entrada de lagartinhas
ou 1% apresentar sinais de saída da broca.
Segundo estes autores, a amostragem con-
siste em examinar de 250 a 500 frutos/ha
(50 a 100 frutos por ponto de amostragem).
Pelos valores apresentados, sugere-se cin-
co pontos/ha, onde os frutos devem ser
coletados aleatoriamente nos primeiros
cachos, em diversos tomateiros.
O controle químico consiste em pul-
verizações semanais, com aplicação de inse-
ticidas piretróides (Quadro 3) ou fisioló-
Figura 10 - Tomate atacado pela broca- Figura 11 - Orifícios circulares de saída de
gicos (triflumuron e lufenuron) (Quadro 2)
pequena-do-fruto lagartas da broca-pequena,
ou abamectin (100 a 200 mL/100 L de água,
NOTA: Fruto cortado longitudinalmente pa- após alimentarem-se e destruir
sem a mistura de óleo emulsionável) (REIS;
ra mostrar a lagarta e seus danos. o interior do fruto
SOUZA, 1996), a escolha do produto a ser
utilizado irá depender da cotação do toma-
colheita no período que precede o inverno mente, visando matar lagartinhas recém- te no mercado. As pulverizações devem
(maio a julho). Na tomaticultura de Mi- eclodidas dos ovos, antes de penetrarem visar somente os cachos.
nas Gerais, a broca-pequena ocorre em fru- nos frutos, pois uma vez dentro destes, não Finalmente, se o tomaticultor não optar
tos praticamente na mesma época, ou seja, serão atingidas e mortas pelos inseticidas pelas amostragens de frutos, o controle quí-
de abril a julho, em plantios realizados ante- aplicados. Gonçalves et al. (1997) recomen- mico deve ser iniciado quando 80% das flo-
riormente. Por isso, o controle da praga deve dam o início de controle da broca-pequena res dos primeiros cachos estiverem abertas.
ser feito preventivamente, após as floradas,
para evitar que as lagartas desenvolvam- QUADRO 3 - Alguns produtos registrados para uso no controle da broca-pequena, Neoleucinodes
se posteriormente nos frutos. elegantalis, em tomateiro

Dano Nome Classificação


Formu- Firma
Os prejuízos causados pelas lagartas lação Toxico- Ambien- registrante
Comercial Técnico
da broca-pequena são consideráveis. O lógica tal
(1)
ataque pode reduzir em até 45% a produ- Ambush 500 CE Permethrin EC II - Syngenta
ção de tomate, pela destruição e apodre- Baytroid CE Cyfluthrin (1)
EC III II Basf
cimento dos frutos (GONÇALVES et al., Brigade 25 CE Bifenthrin (1)
EC II II FMC
1997).
Bulldock 125 SC Betacyfluthrin SC II I Bayer S.A.
Deve-se mencionar que, naqueles fru-
(1)
tos que apresentam orifícios de saída de Commanche 200 CE Cypermethrin EC III II FMC
(1)
lagartas da broca-pequena, ocorre inter- Corsair 500 CE Permethrin EC II - Aventis
namente infestação secundária de larvas Danimen 300 CE Fenpropathrin (1)
EC I II Sumitomo
de moscas causando apodrecimento. Tam- Meothrin 300 Fenpropathrin (1)
EC I II Sumitomo
bém é comum os consumidores adquirirem (1)
Pounce 384 CE Permethrin EC II II FMC
tomates sem orifícios de saída de lagarta, (1)
Sherpa 200 Cypermethrin EC II - Aventis
aparentemente sadios, orifícios esses que
(1)
surgem posteriormente, resultando no des- Talcord 200 CE Permethrin EC II II Basf
(1)
carte para o consumo para mesa, já que Turbo Betacyfluthrin EC III II Bayer
esses frutos apresentam polpa totalmente FONTE: Agrofit (2002).
destruída e sabor modificado. NOTA: Classificação toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamen-
te tóxico; IV - Pouco tóxico. Classificação ambiental: I - Altamente perigoso; II - Muito
Controle perigoso; III - Perigoso; IV - Pouco perigoso.
O controle da broca-pequena do fruto, Formulação: EC = CE - Concentrado emulsionável; SC - Suspensão concentrada.
de maneira geral, deve se feito preventiva- (1) Essa formulação, em mistura com água, forma emulsão leitosa (branca).

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Broca-grande-do-fruto onde faz uma espécie de célula ou câmara das pelos inseticidas.
Helicoverpa zea (Boddie, 1850) com uma galeria de saída para a superfície Gonçalves et al. (1997) recomendam o
Lepidoptera: Noctuidae da terra, para posterior emergência do adul- controle da broca-grande quando 1% dos
to, passando em seguida a pupa. O período frutos se apresentarem danificados pelas
Descrição e notas bionômicas
pupal é de 14 dias, de acordo com a variação lagartas. Segundo esses autores, a amos-
A broca-grande-do-fruto, Helicoverpa
de temperatura. O adulto emerge e sai pela tragem consiste em examinar de 250 a
zea, é a mesma espécie que ataca as espi-
galeria preparada anteriormente pela lagarta. 500 frutos/ha (50 a 100 frutos por ponto de
gas de milho. O adulto é uma mariposa que
amostragem). Pelos valores apresentados,
mede de 30 a 40 mm de envergadura, pos- Dano
sugerem-se cinco pontos de amostra-
sui asas anteriores de coloração cinza- Os danos causados pela lagarta-da-
gem/ha, onde os tomates devem ser cole-
esverdeada e as posteriores esbranquiça- espiga do milho ou pela broca-grande-do-
tados aleatoriamente em diversos tomatei-
das com manchas escuras (GALLO et al., fruto são consideráveis, já que ocorrem em
ros. Observações visuais nos cachos aju-
2002) (Fig.12). grandes populações, com mais de uma la-
dam o tomaticultor a constatar a ocorrência
garta por fruto. Os frutos atacados mos-
da praga e a necessidade ou não das amos-
tram perfurações, ficando com aspecto ruim.
tragens de frutos.
As perfurações irregulares são facilmente
Os inseticidas recomendados para o con-
vistas externamente.
trole da broca-grande-do-fruto encontram-
Apesar de a lagarta-da-espiga ocorrer
se no Quadro 4.
em todas as lavouras de milho, principal-
O ensacamento de pencas de frutos du-
mente na safra de verão, que é a maior, e
rante o desenvolvimento, visando o contro-
pela grande área cultivada por essa gra-
le de pragas broqueadoras e a redução de
mínea, seu ataque em tomateiro não é mui-
resíduos de produtos fitossanitários nos
to comum. Parece que a lagarta-da-espiga
Figura 12 - Adultos da broca-grande-do- frutos foi estudado por Jordão e Nakano
fruto, Helicoverpa zea
ocorre em tomateiro após a falta de espigas
(2002), tendo sido constatada redução no
de milho com grãos leitosos, no campo. Daí,
devido à falta de alimento e à grande popu- ataque das lagartas N. elegantalis e H. zea,
A fêmea adulta oviposita em qualquer broca-pequena e broca-grande, respectiva-
lação de adultos, opta por atacar o toma-
parte da planta, geralmente nas folhas e mente. Porém, para o controle de T. absoluta,
teiro. O ataque em tomateiro não é comum,
frutos, ao anoitecer. Durante o dia, as mari- traça-do-tomateiro, é necessária a associa-
pois essa solanácea é menos preferida em
posas não voam e não são vistas no toma- ção com o controle químico nas épocas de
relação ao milho. No Sul de Minas, por exem-
tal, já que se encontram abrigadas. Os ovos maior infestação. Os frutos não ensacados
plo, praticamente não se observa ataque
são de forma hemisférica e apresentam sa- possuíam quantidade de produto fitos-
da lagarta-da-espiga em tomate, mesmo
liências laterais. Medem cerca de 1 mm de sanitário seis vezes superior ao máximo
com uma grande área plantada com mi-
diâmetro, são de coloração branca no início tolerado, e os frutos ensacados apresenta-
lho na região. No entanto, no município de
e, posteriormente, próximo à eclosão das vam quantidade três vezes inferior a esse
Janaúba, no Norte de Minas, é uma praga
lagartinhas, tornam-se marrons. Após três limite. Segundo esses autores, este método
importante, podendo causar prejuízos aos
a cinco dias da postura, dá-se a eclosão, requer maior investimento econômico, que
frutos de até 45%, segundo informações
surgindo as lagartinhas de cor branca, com atinge um mercado diferencial, com preços
de tomaticultores. Nas regiões do Alto Pa-
a cabeça marrom. Iniciam sua alimentação mais elevados.
ranaíba e Triângulo Mineiro, onde o toma-
raspando as folhas ou a pele dos frutos e
teiro é muito cultivado, esporadicamente
em seguida penetram no interior, destruin- essa praga pode ocorrer, requerendo con- OUTRAS PRAGAS
do a polpa e inutilizando-os. A lagarta, à me- trole químico. São apresentadas outras pragas de impor-
dida que vai-se alimentando, aumenta de
Controle tância para o tomateiro e que não se enqua-
tamanho. Completamente desenvolvida,
dram nos demais subitens já apresentados.
mede cerca de 50 mm de comprimento e tem Para evitar prejuízos causados pela
coloração variável entre verde, marrom e escu- broca-grande, é importante que o produtor Ácaro-do-bronzeado
ra, com listras longitudinais bem visíveis. inspecione sempre o tomatal, procuran- Aculops lycopersici (Massee, 1937)
Após o período larval, que tem duração do constatá-la. O controle deve ser feito Acari: Eriophyidae
de 13 a 25 dias, a lagarta abandona o fru- no início da infestação, quando as lagartas
to para se transformar em pupa no solo. ainda estão pequenas, causando prejuízos Descrição e notas bionômicas
Cai e penetra no solo a uma profundidade ainda insignificantes. Além disso, as lagar- O ácaro adulto mede cerca de 0,2 mm
de 4 a 22 cm, de acordo com a consistência, tas pequenas são mais facilmente destruí- de comprimento por 0,05 mm de largura e,
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.79-92, 2003
90 Tomate para Mesa

QUADRO 4 - Alguns produtos registrados para uso no controle da broca-grande, Helicoverpa zea, em de frutos.
tomateiro
Controle
Nome Classificação
Formu- Firma São apresentadas as principais formas
lação Toxico- Ambien- registrante de controle, as quais devem ser emprega-
Comercial Técnico
lógica tal
das em conjunto para melhor eficiência:
Alsystin 250 PM Triflumuron WP IV III Bayer S.A.
Bac-Control PM Bacillus thuringiensis (1)
EC III II Vectocontrol a) controle biológico

Baytroid CE Cyfluthrin (1)


EC III II Basf Ácaros predadores, pertencentes às fa-
Bulldock 125 SC Betacyfluthrin SC II I Bayer S.A.
mílias Phytoseiidae e Tydeidae, estão fre-
(1)
qüentemente associados ao ácaro-praga e
Carbaryl 480 SC Carbaryl EC II - Fersol
devem ser preservados na cultura do toma-
Cefanol Acephate SP III - Sipcam Agro S.A. te. Há relatos, em plantios protegidos, do
Dimilin Triflubenzuron WP III - Uniroyal uso da espécie Phytoseiulus persimilis
Dipel PM Bacillus thuringiensis WP IV IV Sumitomo Athias-Henriot, 1957 (Phytoseiidae) con-
Sevin 850 PM Carbaryl WP II - Aventis trolando o ácaro-do-bronzeado. No Bra-
sil, a espécie Euseius concordis (Chant,
FONTE: Agrofit (2002).
1959) foi relatada predando o ácaro-praga
NOTA: Classificação toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamen-
te tóxico; IV - Pouco tóxico. Classificação ambiental: I - Altamente perigoso; II - Muito
(MORAES; LIMA, 1983).
perigoso; III - Perigoso; IV - Pouco perigoso.
b) controle cultural
Formulação: WP = PM - Pó molhável; EC = CE - Concentrado emulsionável; SC - Suspen-
são concentrada; SP = PS - Pó solúvel. Resíduos de tomatais anteriormente
(1) Essa formulação, em mistura com água, forma emulsão leitosa (branca). cultivados devem ser destruídos para que
não sirvam de foco de infestação para no-
vos cultivos. Solanáceas que nascem espon-
por ser tão pequeno, recebe o nome vul- (bronzeados). Se não controlado a tempo, taneamente próximas ao tomatal também
gar de microácaro. Apresenta coloração a planta seca e morre (KEIFER et al., 1982). devem ser eliminadas.
creme e formato vermiforme, ou forma de Os danos são causados pela alimentação
torpedo, diferentemente de ácaros de outras do ácaro que perfura as células da epider- c) controle químico
famílias comumente encontrados em plan- me para se alimentar do conteúdo celular. Ao serem observados os primeiros
tas. Após a eclosão, a ninfa passa por dois Segundo Oliveira et al. (1982), pode pro- sintomas, devem ser tomadas medidas de
estádios antes de passar à fase adulta. O vocar perdas entre 11% e 65% na produção controle. Os produtos (Quadro 5) devem
ciclo, de ovo a adulto, é de apenas uma se-
mana.
É de distribuição cosmopolita e está QUADRO 5 - Alguns produtos registrados para uso no controle do ácaro-do-bronzeado, Aculops
lycopersici, em tomateiro
presente na maioria das áreas onde as so-
lanáceas são cultivadas (JEPPSON et al., Nome Classificação
Formu- Firma
1975), pois a maior parte dos hospedeiros lação Toxico- Ambien- registrante
Comercial Técnico
de A. lycopersici pertencem à família So- lógica tal
lanaceae, tais como tomate, batatinha, be- Pirate Chlorfenapyr SC III II Basf S.A.
rinjela, fumo etc.
Sulficamp Enxofre WP IV - Sipcam Agro S.A.
Dano Tedion 80 Tetradifon (1)
EC III - Hokko do Brasil
Inicialmente o ácaro-do-bronzeado pro- Thiovit Enxofre WP IV IV Syngenta
voca prateamento da face inferior das folhas Vertimec 18 CE Abamectin (1)
EC III III Syngenta
baixeiras da planta. Posteriormente, essas
FONTE: Agrofit (2002).
folhas adquirem coloração bronzeada, se-
NOTA: Classificação toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamen-
cam e morrem. As hastes da parte baixa da te tóxico; IV - Pouco tóxico. Classificação ambiental: I - Altamente perigoso; II - Muito
planta também apresentam-se bronzeadas. perigoso; III - Perigoso; IV - Pouco perigoso.
Infestações severas podem afetar os fru- Formulação: SC - Suspensão concentrada; WP = PM - Pó molhável; EC = CE - Concentrado
tos, ficando, aqueles ainda não desenvol- emulsionável.
vidos, com a casca áspera e avermelhados (1) Essa formulação, em mistura com água, forma emulsão leitosa (branca).

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Tomate para Mesa 91

ser aplicados com uma perfeita cobertu- a) controle biológico A rotação de produtos com princípios ati-
ra, inclusive a parte inferior das folhas e Os artrópodes predadores são impor- vos diferentes evita que o ácaro adquira
ramos, com freqüência semanal. O ideal é o tantes reguladores de populações de áca- resistência a eles (Quadro 6).
uso de produtos seletivos, indicados pelos ros da família Tetranychidae. Portanto, de-
d) controle genético
fabricantes, preservando os ácaros pre- vem ser preservados nos tomatais e, se
dadores. Resistência varietal - folíolos de toma-
possível, multiplicados. Entre os preda-
teiros com alto teor do aleloquímico 2-tride-
dores, são considerados muito eficientes
Ácaro-rajado canona, associado a tricomas glandula-
os ácaros pertencentes à família Phyto-
Tetranychus urticae res, mostram-se mais resistentes ao ácaro,
Koch, 1836 seiidae, gêneros Amblyseius, Phytoseiulus
por serem repelentes a ele (ARAGÃO et
Acari: Tetranychidae e Euseius, entre outros. Dos insetos pre-
al., 2002).
dadores de ácaros, merecem destaque as
Descrição e
joaninhas do gênero Stethorus (Coleopte- Ácaro-vermelho-do-
notas bionômicas
ra), os percevejos do gênero Orius (Hemip- tomateiro
O ácaro-rajado tem esse nome por tera), tripes e larvas de crisopídeos. Nos
Tetranychus evansi Baker & Pritchard, 1960
freqüentemente apresentar quatro man- Estados Unidos e Europa, diversas firmas
Acari: Tetranychidae
chas grandes e escuras no corpo verde- produzem e comercializam predadores para
amarelado. A fêmea adulta apresenta o uso no controle biológico de ácaros, prin- Descrição e notas bionômicas
corpo ovalado, com cerca de 0,5 mm de cipalmente em cultivos protegidos. É uma espécie de ácaro semelhante ao
comprimento. O macho é menor que a fê- ácaro-rajado, difere por apresentar colo-
mea, mede cerca de 0,3 mm de comprimen- b) controle cultural
ração vermelha e por produzir muito mais
to, e apresenta o corpo elíptico com a extre- Após o término da safra, os tomatei- teia.
midade posterior mais afilada. O ácaro- ros devem ser destruídos, assim como as
rajado vive na página inferior das folhas, plantas invasoras próximas da área cul- Dano
formando colônias protegidas por teias pro- tivada, que também são hospedeiras de Causa os mesmos danos do ácaro-
duzidas por ele mesmo. É mais abundante ácaros. rajado.
nas épocas secas do ano.
c) controle químico Controle
Pode apresentar uma forma averme-
Pulveriza-se a folhagem, procurando Semelhante ao controle do ácaro-rajado
lhada, e neste caso recebe, por parte de
atingir a página inferior dos folíolos. Pre- (Quadro 7). Somente o controle biológico
alguns pesquisadores, o nome científico
ferencialmente, devem ser utilizados pro- é dificultado pela maior quantidade de teia
Tetranychus cinnabarinus (Boisduval,
dutos seletivos aos ácaros predadores. produzida pelo ácaro.
1867) que para outros é sinonímia de T.
urticae.
É uma espécie altamente polífaga, que QUADRO 6 - Alguns produtos registrados para uso no controle do ácaro-rajado, Tetranychus urticae,
ataca mais de 200 espécies de plantas, cul- em tomateiro
tivadas ou selvagens. Nome Classificação
Formu- Firma
Dano lação Toxico- Ambien- registrante
Comercial Técnico
lógica tal
As células atacadas pelo ácaro para Abamectin Nortox Abamectin (1)
EC III III Nortox S.A.
alimentação tornam-se pontos cloróticos
Microsulfan 800 PM Enxofre WP IV IV Enro Industrial Ltda.
e, por apresentar elevada população, cau-
Pirate Chlorfenapyr SC III II Basf S.A.
sam redução da fotossíntese. Pode ocor-
(1)
rer queda de folhas em ataques mais inten- Tedion 80 Tetradifon EC III - Hokko do Brasil
(1)
sos. Plantas novas são mais sensíveis ao Vertimec 18 CE Abamectin EC III III Syngenta
ataque. O desfolhamento leva à diminui- FONTE: Agrofit (2002).
ção do número e tamanho de frutos. NOTA: Classificação toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamen-
te tóxico; IV - Pouco tóxico. Classificação ambiental: I - Altamente perigoso; II - Muito
Controle perigoso; III - Perigoso; IV - Pouco perigoso.
São apresentadas as principais formas Formulação: EC = CE - Concentrado emulsionável; WP = PM - Pó molhável; SC - Suspen-
de controle, que devem ser empregadas em são concentrada.
conjunto para melhor eficiência: (1) Essa formulação, em mistura com água, forma emulsão leitosa (branca).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.79-92, 2003


92 Tomate para Mesa

QUADRO 7 - Alguns produtos registrados para uso no controle do ácaro-vermelho-do-tomateiro, VELHO, D.; SPONCHIADO, O.J. Danos quan-
Tetranychus evansi titativos causados pelo microácaro Aculops
lycopersici (Massee, 1937) em cultura de toma-
Nome Classificação
Formu- Firma teiro. Ecossistema, Espirito Santo do Pinhal,
lação Toxico- Ambien- registrante v.7, n.1, p.14-18, set. 1982.
Comercial Técnico
lógica tal
PARRELLA, M.P. Biology of Liriomyza. Annual
Orthene 750 BR Acephate SP IV III Sipcam Agro S.A.
Review of Entomology, Palo Alto, v.32, p.201-
Sulficamp Enxofre WP IV - Sipcam Agro S.A. 224, 1987.
(1)
Tedion 80 Tetradifon EC III - Hokko do Brasil
REIS, P.R.; SOUZA, J.C. de. Controle da broca-
Thiovit Enxofre WP IV IV Syngenta pequena, Neoleucinodes elegantalis (Guenée)
FONTE: Agrofit (2002). (Lepidoptera: Pyralidae), com inseticidas fisioló-
NOTA: Classificação toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamen- gicos, em tomateiro estaqueado. Anais da Socie-
te tóxico; IV - Pouco tóxico. Classificação ambiental: I - Altamente perigoso; II - Muito dade Entomológica do Brasil, Jaboticabal, v.25,
perigoso; III - Perigoso; IV - Pouco perigoso. n.1, p.65-69, 1996.
Formulação: SP = PS - Pó solúvel; WP = PM - Pó molhável; EC = CE - Concentrado
emulsionável. _______; _______. Controle químico de Tuta
(1) Essa formulação, em mistura com água, forma emulsão leitosa (branca). absoluta (Meyrick) em tomateiro estaqueado.
Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.22, n.1,
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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.79-92, 2003


Tomate para Mesa 93

Manejo integrado de plantas daninhas


Andréia Cristina Silva 1
Lino Roberto Ferreira 2
Francisco Affonso Ferreira 3

Resumo - A interferência exercida pelas plantas daninhas na cultura do tomate determina


grandes perdas no rendimento e na qualidade dos frutos, mas o seu controle acarreta
gastos que oneram consideravelmente o custo de produção da cultura, tornando essencial
a adoção de critérios técnicos. Nesse sentido, é de grande importância o manejo integrado
de plantas daninhas, que preconiza o uso de práticas culturais, físicas, mecânicas, biológi-
cas e químicas, contribuindo para melhor qualidade dos frutos e redução do impacto sobre
o meio ambiente. O manejo integrado começa pela adoção de medidas preventivas que
impeçam a introdução e a disseminação de espécies-problema, seguido pelo emprego
de práticas culturais que dêem vantagem competitiva ao tomateiro, como o sistema de
transplante de mudas, a redução de espaçamento, o uso de variedades adaptadas e com-
petitivas, a adubação localizada, a cobertura morta, assim como a rotação de culturas.
Como complemento, deve-se optar pela combinação de outros métodos de controle, em
que o uso de herbicidas, sem dúvida, tem seu papel importante em situações específicas.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Erva daninha; Planta invasora; Controle inte-
grado.

INTRODUÇÃO se essencial o manejo integrado de plantas ficas. Stall e Payan (2002) verificaram que a
daninhas, reduzindo o impacto negativo interferência da tiririca (Cyperus rotundus)
Em olericultura, de modo geral, o mane-
dessas plantas sobre a cultura, assim como reduziu drasticamente a produção de frutos
jo das plantas daninhas diferencia-se do
da agricultura sobre o meio ambiente. de tamanho médio (98%), grande (52%) e
normalmente utilizado nas grandes cultu-
ras. As práticas culturais são mais artificiais, extra grande (43%). Sanders et al. (1981)
INTERFERÊNCIA observaram maior peso de frutos por quilo-
envolvendo grande distúrbio no solo, como
DAS PLANTAS DANINHAS NA grama de nitrogênio, fósforo e potássio
aradura, gradagem, enxada rotativa e baixo
CULTURA DO TOMATEIRO assimilado em plantas cultivadas nas par-
nível de estresse com uso de adubações
química e orgânica, irrigações freqüentes e A interferência exercida pelas plantas celas capinadas, em relação às parcelas
abundantes, o que facilita a ocorrência de daninhas afeta o crescimento e o desenvol- infestadas com plantas daninhas.
elevadas populações de plantas daninhas vimento do tomateiro, reduzindo o tama- O período crítico de controle de plan-
na área (PITELLI, 1984, PEREIRA, 1987). nho, o peso e o número de frutos (QASEM, tas daninhas na cultura do tomate varia,
A interferência exercida pelas plantas 1992). Em termos de produtividade foram segundo alguns autores, de 21 a 35 dias
daninhas na cultura do tomateiro determi- registrados decréscimos de 53% (WILLIAM; (WILLIAM; WARREN, 1975), 24 a 36 dias
na grandes perdas na produção. No entan- WARREN, 1975), 60% (FRIESEN, 1979), (FRIESEN, 1979) e 28 a 35 dias (WEAVER
to, um modelo único de manejo de plantas 75% (QASEM, 1992, NORRIS et al., 2001), et al., 1983, QASEM, 1992) após o trans-
daninhas não é suficiente na maioria das 80% (NGOUAJIO et al., 2001) e 99% plante; ou 5-6 a 7-9 semanas após a semea-
situações, devendo-se optar por uma com- (MONACO et al., 1981), embora esses va- dura direta (WEAVER; TAN, 1987). No
binação de métodos de controle, tornando- lores sejam resultado de condições especí- entanto, torna-se imprudente a extrapolação

1
Doutoranda, Correio eletrônico: andréia@vicosa.ufv.br
2
D.S., Prof. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: lroberto@ufv.br
3
D.S., Prof. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: faffonso@ufv.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.93-97, 2003


94 Tomate para Mesa

desses resultados para outros locais, onde na cultura, bem como o das técnicas usadas trole cultural, que é basicamente o emprego
as condições edafoclimáticas e cultivares sobre o meio ambiente (BEWICK, 1994). de todos os princípios da competição para
são diferentes. Mais amplamente, o manejo integrado pode dar vantagem competitiva à cultura em re-
Indiretamente, algumas espécies atuam ser conceituado como um sistema de pro- lação à planta daninha (ZIMDAHL, 1993).
como hospedeiras alternativas de doen- dução que incorpora o equilíbrio de práti- Segundo Qasem (1992), a severidade dos
ças como Alternaria solani (pinta-preta), cas culturais, mecânicas, físicas, biológicas efeitos de Amaranthus spp. em reduzir a
Septoria lycopersici (mancha-de-septória), e químicas, resultando na otimização da produtividade da cultura do tomateiro está
Stemphylium solani (mancha-de-esten- produtividade da cultura, aumentando ou associada com a vantagem competitiva
fílio), Botrytis cinerea (mofo-cinzento), mantendo o potencial produtivo do solo desta espécie, devido ao seu rápido cres-
Verticillium albo-atrum (murcha-de-verti- (COLWELL, 1986). cimento inicial.
cillium) (VALE et al., 2000); de bactérias, Os efeitos da associação entre comu-
como Clavibacter michiganensis (cancro- MEDIDAS PREVENTIVAS nidade infestante e cultura podem ser incre-
bacteriano), Xanthomonas campestris mentados ou minimizados por algumas
O manejo de plantas daninhas inicia-se
(mancha-bacteriana), Ralstonia solanacea- práticas culturais. Qualquer prática adota-
com medidas preventivas que impeçam a
rum (murcha-bacteriana), Pseudomonas da no manejo da cultura, como escolha da
introdução e/ou a disseminação de espécies-
syringae (pinta-bacteriana) (LOPES; variedade, época de plantio, estande, apli-
problema na área, como uso de sementes cação de fertilizantes, entre outros, que
QUEZADO-SOARES, 2000), nematóides de elevada pureza e vigor, limpeza de equi-
dos gêneros Meloidogyne e Pratylenchus favoreça o aumento da cobertura do solo
pamentos de preparo do solo e utilização pela cultura e o volume do solo ocupado
(CAMPOS, 2000); e viroses, como vira- de esterco fermentado e com procedência
cabeça do tomateiro, mosaico do tomatei- pela raiz, auxiliará a cultura na competi-
segura, sem propágulos de tiririca (VICTÓ- ção com as plantas daninhas (ALDRICH,
ro, mosaico do vírus Y, topo-amarelo do RIA FILHO, 2000). A escolha das áreas para
tomateiro e mosaico-dourado do tomatei- 1984).
o cultivo de hortaliças é muito importan-
ro (FAJARDO et al., 2000). Plantas dani- te, devendo-se evitar áreas infestadas com Adubação
nhas, pragas e patógenos interagem entre plantas perenes de propagação vegetativa,
si e com a cultura, portanto, devem ser Práticas culturais, como fertilização do
como a tiririca. Para o controle dessas plan-
investigados como membros de uma comu- solo a lanço, influenciam não somente o
tas, recomenda-se a aplicação de herbicidas
nidade inter-relacionada (BOTTENBERG crescimento da cultura, mas o crescimento
sistêmicos não residuais, em pós-emergên- das plantas daninhas. Geralmente a coloca-
et al., 1997). cia, antes da preparação final do solo. Em
Algumas espécies de plantas daninhas ção do adubo junto ao sulco de semeadura
caso de áreas intensivamente infestadas aumenta o potencial competitivo da cultura
ainda liberam substâncias químicas no solo, com plantas daninhas anuais, o atraso no (PITELLI, 1985). Santos et al. (1997), estu-
que contribuem para maior interferência plantio, após o preparo do solo, permitirá a dando a interação competitiva entre a tiririca
sobre as culturas. Castro et al. (1983) verifica- germinação antecipada das sementes des- e o tomateiro, recomendam estratégias de
ram que tubérculos de Cyperus rotundus, tas plantas. Assim, as operações de semea- controle cultural como sistemas mais efi-
rizomas de Sorghum halepense e raízes de dura ou transplante devem ser efetuadas cientes de adubação. A adubação acima
Canavalia ensiformis possuem substân- após o controle das plantas daninhas por do nível ótimo recomendado para a cultura
cias inibitórias à germinação do tomatei- meio do uso de mistura de herbicidas de do tomateiro em convivência com a tiririca
ro do grupo Santa Cruz; também extratos ação de contato e residual (PEREIRA, 1987). tornou a planta daninha mais competitiva;
de folhas de Brassica napus e raízes de
entretanto, a adubação abaixo do ótimo re-
Cynodon dactylon inibiram a germinação. MEDIDAS CULTURAIS duziu a capacidade competitiva da cultura
O grau de interferência das plantas da- (STALL; PAYAN, 2002). Dessa forma, a
IMPORTÂNCIA DO
ninhas sobre a cultura depende de carac- adubação equilibrada na cultura do toma-
MANEJO INTEGRADO DE
terísticas ligadas tanto à comunidade infes- teiro é uma prática muito importante no ma-
PLANTAS DANINHAS
tante (espécies presentes, densidade, distri- nejo das plantas daninhas.
Se a permanência da planta daninha buição), quanto à cultura (variedade, espa-
no campo traz prejuízos à produção, o seu çamento, densidade), sendo essa interação Cultivares
controle acarreta gastos que oneram con- modificada pelas características do ambien- Danos provocados por doenças e inse-
sideravelmente o custo de produção da cul- te, principalmente solo, clima e manejo do tos, ou cultura com estande não competi-
tura. Nesse sentido, torna-se essencial o sistema agrícola, e, finalmente, pela duração tivo, reduzem o poder de sombreamento
manejo integrado, o qual utiliza todas as do período em que a cultura convive com da cultura e a capacidade de retardar o cres-
estratégias de controle disponíveis para as plantas daninhas (BLEASDALE, 1960). cimento das plantas daninhas (CRAFTS,
reduzir o impacto negativo dessas plantas Dessa forma, torna-se importante o con- 1975). No entanto, quando as cultivares
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.93-97, 2003
Tomate para Mesa 95

têm maior capacidade em manter maior ta- são de cultivos em relação à dinâmica de a eficiência das medidas empregadas no
xa de expansão da área foliar, proporcio- plantas daninhas sob pivô central, verifi- controle das plantas daninhas (PITELLI,
nam vantagem em relação à planta daninha caram que as seqüências com as culturas 1985). A densidade de plantio do tomateiro
(NGOUAJIO et al., 2001). do tomateiro, trigo e milho foram as mais altera a relação entre a perda de produti-
eficientes na redução do banco de semen- vidade e a densidade de plantas daninhas
Rotação de culturas tes do solo, possivelmente devido à ação na cultura semeada diretamente. Segundo
A rotação de culturas é outra prática eficiente dos herbicidas usados no controle Weaver et al. (1987), a cultura que se desen-
importante no manejo de plantas daninhas das plantas daninhas. Em outro estudo com volve em rua dupla (45.000 e 33.300 plan-
na cultura do tomateiro. Sabe-se que algu- tomate para processamento, Pereira et al. tas/ha) tem maiores produtividades e me-
mas espécies associam-se a certas culturas (1995) constataram que os menores valores nor peso seco de Solanum spp., compa-
mais que a outras. A rotação de culturas do total de plantas daninhas na área de rada à de rua simples (12.500 a 22.500 plan-
promove modificação das práticas cultu- cultivo foram obtidos pelas seqüências tas/ha); no entanto, a produtividade do
rais, afetando, conseqüentemente, a popu- tomate-milho-tomate-milho-tomate-milho- tomateiro declinou-se com o aumento da
lação de plantas daninhas. A boa rotação tomate e tomate-milho-trigo-milho-trigo- densidade da planta daninha em todas as
inclui culturas que reduzem o número de milho-tomate; e os maiores valores, pelas densidades populacionais da cultura.
indivíduos de espécies-problema para a seqüências feijão-milho-feijão-milho-aveia- Além da densidade, a distribuição das
cultura seguinte (ZIMDAHL, 1993). Her- milho-aveia e aveia-milho-aveia-milho- plantas daninhas no campo influencia o grau
bicidas seletivos normalmente são inócuos tomate-milho-tomate. de competição. Norris et al. (2001) verifica-
às espécies fisiologicamente próximas ram que Echinochloa crus-galli distribuí-
àquelas cultivadas, e estas espécies teori- Sistema de plantio da de forma mais agregada na área de culti-
camente são as mais competitivas, fenô- O sistema de plantio empregado tam- vo aumentou a competição intra-específica;
meno bastante flagrante em locais onde bém exerce grande influência na susceti- ao mesmo tempo, a competição interespe-
ocorre o cultivo intensivo de apenas uma bilidade das culturas à competição pelas cífica sentida pelo tomateiro diminuiu.
espécie comercial durante anos sucessivos. plantas daninhas. Admite-se que, para uma
Em países como Estados Unidos, Canadá mesma espécie ou cultivar, o sistema de Cobertura morta
e França tem sido difícil controlar Solanum transplante torna a cultura menos depen- A utilização de cobertura morta, ou
spp. com herbicidas seletivos em culturas dente do controle da vegetação infestante mulching, na cultura do tomateiro também
solanáceas como o tomateiro, devido ao que o sistema de semeadura direta (PITELLI, é uma prática que impede a proliferação de
semelhante hábito de crescimento e fisiolo- 1984). A cultura do tomate proveniente de plantas daninhas, tornando desnecessária
gia (WEAVER et al., 1987). A escolha corre- semeadura direta é mais sensível à compe- a utilização de herbicidas. Quando dispo-
ta do tipo de cultura a ser incluído na rota- tição com plantas daninhas, em relação à níveis na propriedade, diversos materiais
ção, quando o controle químico de plantas transplantada (WEAVER et al., 1987). O de- inertes podem ser utilizados como cobertu-
daninhas é o principal objetivo, deve recair senvolvimento mais lento, na fase inicial ra morta (acículas de pinos, casca de arroz,
sobre plantas cujas características culturais de crescimento da cultura do tomate semea- palha, casca de arroz carbonizada etc.),
e hábito de crescimento sejam bastante do diretamente, faz com que este seja supri- substituindo plenamente o plástico. Na
contrastantes (LORENZI, 2000). A rotação mido rapidamente por plantas daninhas região de Pacaraima, RR, em área de pro-
de culturas (não-solanáceas) durante três de folhas largas (MONACO et al., 1981). A dução comercial de tomate, o tratamento
a cinco anos, pelo menos, é uma medida de utilização do transplante de mudas aumenta com casca de arroz, como cobertura morta,
controle fitossanitário eficiente na cultura a tolerância da cultura do tomate em relação não diferiu dos tratamentos com herbici-
do tomateiro, proporcionando redução das à competição com as plantas daninhas, uma da ou da parcela capinada, e seu uso, logo
fontes de inóculo de fitopatógenos, insetos- vez que a produção de mudas é feita em após o transplante da cultura, numa cama-
pragas vetores de viroses, nematóides e sementeiras e, por ocasião do transplante, a da superficial de 2 cm, dispensa a neces-
plantas invasoras. Uma boa alternativa é muda já possui sistema radicular e área foliar sidade de capinas mecânicas ou o uso de
plantar tomate em rotação com poáceas mais desenvolvidos (WEAVER et al., 1992). herbicidas (LUZ; MEDEIROS,1997). Se-
(gramíneas), especialmente com capins gundo Castellane et al. (1993), o uso de
utilizados em pastagens, numa rotação Espaçamento mulching com filme de polietileno negro
longa; outra opção é a rotação com cana- O espaçamento é outro fator funda- (0,03 cm de espessura) proporciona maior
de-açúcar durante cinco anos e, finalmente, mental na determinação da capacidade produção de tomate, comparado ao solo
com cereais (milho, sorgo, trigo, aveia, competitiva da cultura; menores espaça- descoberto, causando elevação da tempe-
centeio ou cevada). mentos favorecem o sombreamento de ratura do solo, com bom controle de plan-
Pereira et al. (1999), estudando a suces- maneira mais rápida do solo, aumentando tas daninhas, exceto tiririca.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.93-97, 2003


96 Tomate para Mesa

A cobertura do solo que antecede a cul- dade de plantas daninhas, durante períodos ra ou após esta, antes da emergência das
tura do tomateiro, utilizando centeio (Secale chuvosos, ou mesmo sob irrigações, onde plantas. Quando a cultura é proveniente
cereale) dessecado com glyphosate, fun- os métodos mecânicos são impraticáveis de transplante, os herbicidas devem ser
ciona como barreira física e química na su- e, muitas vezes ineficientes, uma vez que aplicados antes ou até dez dias depois des-
pressão das plantas daninhas, eliminando transplantam as plantas daninhas de um sa operação, quando as mudas já recupe-
a necessidade da aplicação de herbicidas lugar para o outro da área cultivada, a utili- raram a turgescência (LESSI; SILVA, 1992).
por ocasião do transplante. Embora depen- zação de herbicidas apresenta-se como um A aplicação dos herbicidas deve seguir
dendo de fatores como local e pressão de dos métodos mais eficientes de controle metodologia diferente daquela usada para
plantas daninhas, medidas de controle dessas plantas (PEREIRA, 1987). inseticida e fungicida. Enquanto a dose do
durante o cultivo ainda são necessárias pa- Existe limitação de herbicidas regis- herbicida é recomendada pela área a ser
ra ótima produção e qualidade dos frutos trados para o manejo de plantas daninhas tratada, as doses de inseticidas e fungici-
(SMEDA; WELLER, 1996). na cultura do tomate, principalmente para das são recomendadas em g ou L/100 L de
espécies daninhas dicotiledôneas. O metri- água, com pulverização até o ponto de pré-
CONTROLE MECÂNICO buzin é o único herbicida usado no controle escorrimento. Para evitar problemas de toxi-
O controle mecânico de plantas dani- de dicotiledôneas na cultura, com fraco cidade e/ou poluição ambiental, é impor-
nhas na cultura do tomate, é realizado com desempenho sobre espécies solanáceas. tante a calibração do pulverizador antes da
enxada ou cultivador. No entanto, em gran- Nesse caso, a rotação de culturas passa a aplicação do herbicida, determinando o vo-
des áreas, essa prática torna-se inviável ser medida obrigatória para o controle des- lume de calda gasto por área. Em seguida,
(LESSI; SILVA, 1992) e inconveniente, pe- sas espécies. determina-se a quantidade de herbicida a
lo fato de prejudicar as raízes superficiais Os herbicidas registrados para a cultura ser colocada no tanque de pulverização.
do tomateiro (LESSI; SILVA, 1992, PEREI- do tomate estão apresentados no Quadro 1. Na implantação do controle químico, o
RA, 1987), não eliminar as plantas daninhas Embora o flazasulfuron seja seletivo pa- uso de herbicidas deve ser racional e reali-
nas fileiras (PEREIRA, 1987), expor o solo ra a cultura e apresente bons resultados zado por pessoas que possuem conhe-
à erosão e perda de umidade e estimular a no controle da tiririca, esse herbicida não cimento suficiente para adoção dessa prá-
germinação de sementes (ZIMDAHL, 1993). está mais sendo recomendado para a cul- tica. Os produtos devem ser escolhidos
Entretanto, a passagem do implemento tura do tomate, devido a possíveis proble- tendo em vista a seletividade, a eficiência,
quebra a crosta superficial deixada no so- mas na sucessão de outras culturas numa a segurança e a economia, seguindo as re-
lo pela última irrigação, facilitando a irriga- mesma área, o que é muito comum na explo- comendações técnicas. É imprescindível
ção por infiltração. ração comercial de olericultura. a supervisão constante de um profissio-
Quando é realizada a semeadura do nal capacitado, que desenvolva um pro-
CONTROLE QUÍMICO tomateiro no local definitivo, os herbicidas grama de controle para cada situação espe-
Em extensas áreas com alta agressivi- devem ser aplicados antes da semeadu- cífica.

QUADRO 1 - Nomes comum e comercial e doses dos herbicidas registrados para a cultura do tomate
Dose
Nome Nome i.a.
(L ha-1 ou Observações
comum comercial (kg ha-1)
kg ha-1)
Clethodim Select 240 CE 0,35 - 0,45 0,084 - 0,108 Controle de gramíneas em pós-emergência

Fluazifop-p-butil Fusilade 125 0,75 - 2,0 0,09 - 0,25 Controle de gramíneas em pós-emergência

Metribuzin Sencor 480 1,0 0,48 Controle de dicotiledôneas e algumas gramíneas. Aplica-se após a semeadura
em pré-emergência das plantas daninhas e do tomate ou até dez dias após o
transplante

Trifluralin Treflan 445 g.L-1 1,2 - 2,4 0,53 - 1,07 Controle de gramíneas anuais, algumas perenes provenientes de sementes e
Tritac 480 g.L-1 1,5 - 2,0 0,67 - 0,89 poucas dicotiledôneas. Aplica-se em pré-plantio incorporado

Premerlin 600 3,0 - 4,0 1,8 - 2,4 Aplica-se em pré-emergência, no caso de semeadura direta.

FONTE: Dados básicos: Rodrigues e Almeida (1998).


NOTA: i.a. - ingrediente ativo.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.93-97, 2003


Tomate para Mesa 97

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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.93-97, 2003


98 Tomate para Mesa

Cultivo do tomateiro em casa de vegetação


Osmar Alves Carrijo 1
Nozomu Makishima 2

Resumo - O cultivo protegido, embora demande investimentos na construção das casas


de vegetação, assegura estabilidade de produção, qualidade do produto e aumento na
produtividade devido, principalmente, à ampliação do período da produção. As cultivares
a ser plantadas neste sistema de produção são aquelas que proporcionam o maior retorno
econômico. Dessa forma, as cultivares do grupo Salada, Longa Vida ou não, tipos Italiano,
Cereja e em pencas são as normalmente escolhidas pelos produtores. O cultivo do toma-
teiro em casa de vegetação pode ser no solo ou em substratos, utilizando diversos tipos de
contentores. Em qualquer um dos dois, o sistema de irrigação preferencial é o goteja-
mento com fertirrigação para suprir as necessidades de nutrientes ao longo do ciclo da
cultura. O tutoramento das plantas é feito na vertical, com uma haste por planta.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Cultivo protegido; Fertirrigação; Tratos cul-
turais.

INTRODUÇÃO forma, buscam-se regularizar as ofertas nas condições ideais para que ocorra uma boa
épocas de safra e entressafra. polinização e, assim, uma alta taxa de pe-
Com o desenvolvimento das indústrias
Com o cultivo protegido consegue-se gamento dos frutos. Temperaturas muito
de filmes de plástico e telas de nylon, hou-
prolongar o período da colheita do toma- elevadas favorecem o aparecimento de
ve um incremento significativo da agricul-
teiro, proporcionando maiores produtivi- anomalias nos frutos como lóculo aberto,
tura protegida, principalmente no cultivo
dades. Assim, as cultivares de tomate tipo rachaduras, frutos ocos e a maturação irre-
de hortaliças, flores, plantas ornamentais,
Longa Vida produzem acima de 10 kg/plan- gular.
fruteiras e na produção de mudas. Com esses
ta, e as cultivares do grupo Cereja cerca de Alta umidade relativa do ar no interior
materiais tornou-se possível a construção
5 kg/planta. das casas de vegetação favorece o apare-
de diferentes estruturas de proteção. As cimento de doenças e provoca menor de-
Este trabalho apresenta o manejo da
mais simples servem de cobertura para senvolvimento das plantas, resultado da
cultura, da irrigação e fertirrigação do to-
reduzir os efeitos danosos de chuvas, gra- menor absorção de água e nutrientes. Baixa
mateiro cultivado em casa de vegetação.
nizo, ventos ou ataque de insetos. As mais umidade relativa do ar e ocorrência de altas
complexas (casas de vegetação) podem ser temperaturas provocam o aumento da trans-
dotadas de acessórios e equipamentos que EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS DO
piração, fechamento dos estômatos, redu-
permitem o manejo do microclima interno TOMATEIRO E CULTIVARES
ção da taxa de transpiração e abortamento
para o controle da temperatura, lumino- O tomateiro pode ser cultivado desde das flores, devido a uma polinização defi-
sidade e fotoperíodo. o nível do mar até aproximadamente 2 mil ciente (LOPES; STRIPARI, 1998). Assim, a
Nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil, metros de altitude. A planta é bastante tole- umidade relativa do ar no interior das casas
no período de inverno, o tomateiro é culti- rante a uma ampla variação de temperatura. de vegetação deve ser mantida entre 50%
vado em casas de vegetação quando pre- No entanto, temperaturas médias notur- e 70%, para redução dos problemas fitossa-
dominam baixas temperaturas, e no verão, nas em torno de 18oC e diurnas próximas nitários e aumento da produtividade.
para proteção contra as chuvas. Nas de- de 25oC são consideradas ideais. No culti- O tomateiro é considerado indiferente ao
mais regiões, o cultivo protegido visa à pro- vo do tomateiro em ambientes protegidos, fotoperíodo. No entanto, baixa intensida-
teção das plantas contra as chuvas. Dessa a temperatura deve ser mantida próxima das de luminosa pode reduzir a produtividade.

1
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: carrijo@cnph.embrapa.br
2
Engo Agro, M.Sc., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: nozomu@cnph.embrapa.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.98-107, 2003


Tomate para Mesa 99

A cobertura plástica reduz a luminosidade a) frutos com forma, tamanho, colo- c) tipo Cereja: fruto com 1 a 2 cm de
em 20% a 40% e, em locais com baixa ra- ração, resistência à rachadura, ao diâmetro e peso médio de 15 a 20
diação, pode representar um problema em lóculo aberto e boa conservação pós- gramas/fruto (Quadro 3).
potencial. O teor natural de CO2 do ar é colheita, fatores que conferem quali-
Há uma tendência de aumento de plan-
considerado suficiente para uma boa pro- dade e aparência atrativa, possibi-
tio de cultivares de tomate para ser colhidos
dutividade da cultura do tomateiro. Entre- litando com isto maiores facilidades
com a penca (‘cluster’). São geralmente
tanto, em ambientes completamente fe- de comercialização e obtenção de
tomates do grupo Salada ou Saladinha e
chados e com controle total da atmosfera melhores preços;
por ser colhidos em penca, as cultivares
interna, o enriquecimento com CO2 favo-
b) plantas com resistência às doenças, devem possuir maturação uniforme. A prá-
rece a produção.
principalmente dos fitopatógenos tica de colheita em penca aumenta sensi-
Para o cultivo do tomateiro, podem ser
do solo, e hábito de crescimento se- velmente o tempo de prateleira, ou seja, o
utilizados diferentes modelos de casas de
mideterminado ou indeterminado. tempo após a colheita em que esses toma-
vegetação. As mais utilizadas no Centro-
Oeste e Sudeste do Brasil são as com teto As principais cultivares de tomate atual- tes permanecem com boa qualidade para o
em arco, ou capela com lanternins, e mais mente cultivadas no Brasil são agrupadas em: consumo, mantendo-se inclusive o aroma
recentemente o teto convectivo, tanto em característico dos frutos. Outra novidade
a) tipo Santa Cruz: fruto com 2 a 3 ló- no mercado de tomate para mesa é o tipo
arco quanto em capela.
culos e formato oblongo, e peso mé- Italiano, cujo fruto é comprido e tem geral-
O objetivo principal de conduzir uma
dio de 120 a 200 gramas/fruto (Qua- mente de 7 a 10 cm de comprimento e de 3
cultura sob proteção é conseguir colhei-
dro 1); a 5 de diâmetro.
tas nas épocas em que as cotações dos
produtos são mais elevadas, devido à me- b) tipo Salada ou Caqui: fruto pluri- Em cultivo protegido, deve-se dar pre-
nor oferta do produto no mercado. Essa locular, formato redondo achatado e ferência às cultivares que conseguem me-
menor oferta é conseqüência da maior peso médio de 200 a 300 gramas/fruto lhores cotações como as do tipo Cereja,
dificuldade de se produzir em locais ou (Quadro 2); Italiano e Salada.
épocas cujas condições climáticas são des-
favoráveis para o cultivo pelo sistema con-
vencional, ou seja, a céu aberto. QUADRO 1 - Principais cultivares de tomate do grupo Santa Cruz - Embrapa Hortaliças, 2002
Para a escolha da época de plantio, devem- Fruto Planta
se tomar por base as análises das variações Cultivar ou
Empresa
híbrido
estacionais de preços nos mercados em que Peso Tipo Crescimento Resistência
se pretende comercializar a produção. De
Bônus 200 _ I V1-F1-F2-N-S-Mb Topseed
modo geral, no Brasil, as variações nas co-
tações indicam uma tendência de acentua- Débora Max 140/160 LV I V1-F1-F2-N Sakata

da elevação de preços nos meses de feve- Débora Plus 130/140 LV I V1-F1-F2-N Sakata
reiro a maio, queda de junho a setembro, li- Delta _ _ I F1-F2- V1-N Hortec
geira elevação até novembro e certa estabi-
Jumbo 140 _ I F1-V-S-Cb-M Horticeres
lização em dezembro e janeiro. Essa variação
de preços é caracterizada pela redução da Kada 100 _ I V-F Isla-Hortec
oferta durante o verão, que normalmente é Kombat 160/180 _ _ F1- V1-N Hortec
quente e chuvoso, e durante o inverno quan- Rio Grande 100 _ _ F2- V1 Isla-Hortec
do ocorre o abaixamento das temperaturas
Santa Clara 180 _ I F1-V1-S Isla
afetando o desenvolvimento e a frutifi-
cação. Santa Clara 160/180 _ I F1-F2-V1-S-N-Mb-Pb Petoseed
Essas situações indicam que, nas Re- Santa Clara 130 _ I F1-V1-S-Y-M Horticeres
giões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, a cultu-
Santa Clara M _ _ _ _ Hortec
ra deve ser instalada de tal modo que as
colheitas possam ser iniciadas em março Santa Clara VF2000 150/180 _ I F1- V1 Sakata
ou em setembro. FONTE: Catálogos da Sakata, Horticeres, Hortec, Petoseed e Isla.
Para escolha da cultivar, devem-se levar NOTA: I - Indeterminado; F - Fusarium; M - Vírus-do-mosaico; Cb - Cancro-bacteriano; Mb - Mancha-
em consideração as seguintes caracterís- bacteriana; LV - Longa Vida; V - Verticilium; N - Nematóide; Y - Vírus Y; S - Stemphylium;
ticas: Pb - Pinta-bacteriana.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.98-107, 2003


100 Tomate para Mesa

QUADRO 2 - Principais cultivares de tomate do grupo Salada - Embrapa Hortaliças, 2002 orgânica e os fertilizantes químicos de plan-
Fruto Planta tio, recomendados pela análise do solo, de-
Cultivar ou
Empresa vem ser aplicados e incorporados a 20-
híbrido
Peso Tipo Crescimento Resistência 25 cm de profundidade. Deve ser preferido
Accord 400 LV I V-F1-F2-M-N Hortec
o cultivo mínimo dentro das casas de ve-
getação. Quando necessária a aração, esta
Carmen 180/220 LV I V-F1-F2-M Sakata
deve ser profunda (25-30 cm), seguida de
Colorado 300 _ I V-F1-M-S-Cb Horticeres destorroamento.
Cronos 180/200 LV I V-F1-F2-M Topseed O pH deve ser ajustado para 6,0 a 6,5
Densus _ _ _ _ Horticeres
e saturação de bases para 80%. Em solos
com níveis médios de matéria orgânica,
Diana 180/220 LV I V-F1-M Sakata
aplicar 3 kg/m2 de esterco curtido de gado
Duradoro 250 LV I V-F1-Vc-S Embrapa ou 1 kg/m2 de esterco curtido de galinha.
Eros 200/250 LV D V-F1-F2-M-N-S-A Petoseed Aumentar as quantidades para solos com
níveis mais baixos de matéria orgânica ou
Facundo 200/220 EF I V-F1-F2-M-Fr-S-Vc
para solos infestados com nematóides.
Gisele 280/350 LV I V-F1-M Sakata
A adubação básica de plantio deve ser a
Grace 250 LV I V-F1-F2-M Sakama recomendada pela análise do solo. Apli-
Jane 250 LV I V-F1-F2-M-Vc Sakama car, no plantio, 40% a 60% do total de
P recomendado, e no mínimo 100 g/m2 como
Madrila _ LV I V-F1-F2-M-N Sakama
termofosfato enriquecido com micronu-
Marmande 180 _ _ _ Isla trientes.
Monalisa 180/220 LV I V-F1-M Sakata
Cultivo sem solo
Razan 230/250 _ I V-F1-F2-M-N Petoseed
O cultivo sem o uso do solo é aquele em
Rocio 200/260 EF I V-F1-F2-M-N-S-Fr Sygenta que o sistema radicular da planta desenvolve-
Saladete _ _ I V-F1-F2-M-N Sakama se em um meio sólido ou líquido, confinado
Saladinha Plus 160/200 LV I V-F1-N Sakata em um espaço limitado e aerado fora do
solo. Ele pode ser realizado em substrato
FONTE: Catálogos da Hortec, Horticeres, Isla, Sygenta/Rogers, Sakama, Sakata, Petoseed e Topseed.
ou em hidroponia. O cultivo sem solo sur-
NOTA: A - Alternaria; F - Fusarium; M - Vírus-do-mosaico; V - Verticilium; Fr - Fusarium radicii;
giu pela necessidade de transportar plan-
LV - Longa Vida; I - Indeterminado; Cb - Cancro-bacteriano; N - Nematóide; S - Stemphylium;
tas de um local para outro, principalmente
Vc - Vira-cabeça; EF - Extra-firme; D - Determinado.
ornamentais, ou por problemas do solo
como a salinização, fungos e bactérias no-
civos, por desequilíbrio dos nutrientes, ou
SISTEMAS DE CULTIVO realizada periodicamente, para a verificação pela necessidade de uso intensivo da área
A cultura do tomateiro em casa de ve- da necessidade de correção da acidez, ava- protegida. Este tipo de cultivo está sendo
getação pode ser realizada no solo ou em liação dos níveis de matéria orgânica, da utilizado para plantas ornamentais em va-
sistemas fora do solo. No sistema fora do fertilidade do solo e do manejo da fertirri- sos e também para a produção de horta-
solo, pode ser utilizado o substrato enri- gação. liças.
quecido com nutrientes ou pelo sistema Para o preparo do solo, é comum o le- O cultivo em substrato é o desenvol-
hidropônico com ou sem substrato . vantamento de canteiros principalmente vimento de plantas de interesse econômico
quando se usa a cobertura do solo mulching. em material quimicamente ativo com ca-
Cultivo em solo Nesse caso, os canteiros devem ser levan- pacidade de troca iônica, em que parte ou
Para o cultivo no solo é essencial que tados com 60 cm de largura e 20 cm de altura, todos os nutrientes são fornecidos pelo
se escolha uma área com solo de boa textu- deixando um espaçamento de 40 cm entre substrato. Este sistema produtivo tem a
ra e estrutura, e que não tenha sido culti- eles. finalidade básica de produzir com quali-
vado com solanáceas nos últimos anos. Se Havendo necessidade de correção da dade, no mais curto período, com menores
ele já estiver infestado com patógenos de acidez, metade da quantidade do calcário custos e sem causar impacto negativo no
solo, escolher outra área, pois eles são de deve ser aplicada antes da aração e a outra meio ambiente. Substrato pode ser concei-
difícil controle. A análise do solo deve ser metade antes do destorroamento. A matéria tuado como todo material sólido, que não
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.98-107, 2003
Tomate para Mesa 101

QUADRO 3 - Principais cultivares de tomate do grupo Cereja, tipo Pencas e tipo Italiano - Embrapa químicas alteradas com o tempo, reque-
Hortaliças, 2002 rendo ajustes no fornecimento de água e
Fruto Planta nutrientes, que normalmente é feito com
Cultivar ou
Empresa fertirrigação.
híbrido Crescimento
Peso Tipo Resistência
Hidropônico é o cultivo em água mais
Tipo Cereja nutrientes, ou o cultivo em material sólido
Chipano _ _ _ _ Isla inerte mais nutrientes. Pode também ser
Pepe 15 _ _ F1-M Takii
considerado hidropônico, o cultivo de plan-
tas em material sólido orgânico com pe-
Red Sugar 20 Penca I V-F2-M Sakama
quena troca catiônica (material de difícil
Red Taste _ Penca I V-F2-M Sakama decomposição), em que todos os nutrientes
Renata Drc 18 Penca I V-F2-M Sakama são providos através de solução nutritiva.
Super Sweet 100 15 _ I F1-V Sygenta O cultivo hidropônico pode ser feito com
Mountain Belle 20/35 _ D F1-V Sygenta ou sem substrato, onde o fornecimento de
toda a água e todos os nutrientes será com
Sweet Gold 15/25 Amarelo I F1-V-M Sakata
o uso de solução nutritiva. Quando se usa
Sweet Milion 15/25 Vermelho I F1-V-M Sakata
o substrato para também armazenar e dis-
ponibilizar nutrientes para a planta, deve-
Tipo Pencas
se utilizar de 10 a 20 L/planta e, no cultivo
Clarion 130/140 _ _ F1-F2-M-C-S-Fr Sygenta hidropônico em substrato, de 5 a 10 L/plan-
Clotilde 130/140 _ _ V- F1-F2-M-C-S-Fr Sygenta ta. O substrato deve estar contido em um
Cronos 180/200 LV I V-F1-F2-M Topseed saco plástico (bisnaga ou slab), ou em um
vaso de plástico, ou em um sulco ou ca-
Tradiro 125/150 Vermelho I V-F2-M-S-Pt DeRuiter
nal aberto no solo e revestido com filme de
Tipo Italiano
plástico.
Os substratos mais usados no sistema
Andrea 120/140 LV I V-F1-N Sakata
hidropônico são areia, lã de rocha e perlita,
Gina 160/180 _ I _ Topseed mas podem ser usados também substratos
(1)
San Vito 110 _ I V-F1-F2-N-S-Pt Embrapa orgânicos parcialmente inertes como fibra
FONTE: Catálogo da DeRuiter, Embrapa, Sakama, Sakata , Sunseeds, Sygenta/Rogers e Topseed. de coco e casca de arroz parcialmente carbo-
NOTA: F - Fusarium; M - Vírus-do-mosaico; Pt - Pseudomonas tomato; Fr - Fusarium root rot; nizada. O sistema nutrient film technique
I - Indeterminado; S - Stemphylium; N - Nematóide; V - Verticilium; C- Cladosporium; (NFT), para o cultivo do tomateiro, requer
D - Determinado; LV - Longa Vida.
uma maior especialização do usuário.
(1) Híbrido experimental da Embrapa Hortaliças.
Mudas e transplantio
solo, sintético ou residual, mineral ou orgâ- a) ser inerte, não reagir com os fertili- Qualquer que seja o sistema de produ-
nico, puro ou em mistura, que, colocado zantes ou sais que serão utilizados ção, no solo ou fora do solo, é mais prática
em um contentor, dê o suporte e permita o como fonte de nutrientes; e recomendável a produção de mudas em
desenvolvimento do sistema radicular da bandejas de isopor, com 128 células e 6 cm
b) ter alta porosidade (ótimo ≥ 85%) de altura, ou de plásticos. O substrato a ser
planta.
para facilitar a aeração e a circulação usado também pode ser adquirido e já vem
No Brasil são utilizados principalmen-
da água ou da solução nutritiva e o esterilizado. Podem-se também adquirir mu-
te os substratos orgânicos (à base de cas-
crescimento das raízes; das prontas. Já existem diversas firmas
ca de madeira e turfa, pó de serra, casca de
arroz, fibra de coco etc.), em uma porcen- c) ser de fácil aquisição e baixo custo; especializadas nas diferentes regiões pro-
tagem menor, são também utilizados os dutoras.
d) não estar contaminado com micro-
inorgânicos (areia, vermiculita etc.) ou mis- Para a preparação do substrato para
organismos nocivos ou fitopatogê-
to, enriquecido com fertilizantes. Os subs- a produção de mudas na propriedade,
nicos.
tratos servem como suporte físico, reser- misturam-se três carrinhos de terra vegetal
vatório de água e de nutrientes. Os substratos orgânicos não satisfa- com um carrinho de casca de arroz parcial-
O substrato ideal deve ter as seguintes zem plenamente todas as condições cita- mente carbonizada e um terço de carrinho
características: das, pois têm suas características físicas e de esterco de galinha. Adicionam-se de 400
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.98-107, 2003
102 Tomate para Mesa

a 500 g de adubo fórmula 4-30-16 e a mes- O tutoramento é feito na vertical, colo- o tempo de irrigação e o intervalo entre
ma quantidade de calcário dolomítico fino. cando-se um arame grosso, bem esticado, elas.
Adicionam-se ainda 160 a 200 g de termo- a 2,20-2,50 m de altura, no sentido da li- Para o controle das irrigações em plan-
fosfato enriquecido com micronutrientes. nha das plantas. Para sustentar as plantas tio no solo, usam-se tensiômetros para
Mistura-se tudo cuidadosamente, para que pode-se: medir a força com que a água está retida
fique uniforme. pelo solo (MAROUELLI et al., 1996). Usan-
a) colocar uma estaca de madeira ou
Apesar de todo o cuidado na escolha do tensiômetros, as irrigações devem ser
bambu junto a cada planta, fixando
da terra ou de outros materiais a ser usados, realizadas com as tensões próximas à ca-
uma ponta no solo ou piso da casa
é recomendável fazer a esterilização do pacidade de campo. Para solos de textura
de vegetação e a outra ponta no ara-
substrato, para evitar o risco de doenças grossa (arenosos), irrigar quando o tensiô-
me. A haste do tomateiro deverá ser
nas mudas. A esterilização pode ser feita metro indicar tensões entre 5 e 10 kPa (0,05
amarrada na estaca à medida que for
com vapor d´água, utilizando-se uma auto- a 0,10 bar), para solos de textura média
crescendo;
clave, ou com o calor produzido por uma (franco-argiloso ou franco-arenoso) entre
resistência elétrica. b) amarrar um fitilho, barbante ou cor- 10 a 15 kPa (0,1 a 0,15 bar) e para solos de
Da emergência até atingir o tamanho dão no arame e a outra ponta na textura fina (argilosos) entre 15 e 20 kPa
ideal para transplante, as mudas devem haste do tomateiro entre a segunda (0,15 a 0,2 bar). É recomendável a instala-
receber os tratos culturais necessários, prin- e terceira folha, é o sistema mais usa- ção de quatro tensiômetros por casa de ve-
cipalmente irrigação e controle fitossani- do atualmente. A haste vai sendo getação. No início da cultura, dois tensiô-
tário. As mudas devem ser transplantadas enrolada no fitilho à medida que for metros devem ser instalados a 10 cm e dois
com quatro a cinco folhas definitivas. Para crescendo. Este sistema permite o re- a 20 cm de profundidade e quando em ple-
o transplante no solo, as mudas devem ser baixamento da haste da planta assim no desenvolvimento a 15 cm e a 30 cm de
colocadas no centro do canteiro, previamen- que ela for crescendo e que os frutos profundidade.
te umedecido, na mesma profundidade em forem sendo colhidos, obtendo-se Para o cálculo do tempo de irrigação
que se encontrava na bandeja ou copinho. com isto um prolongamento do pe- com o uso de tensiômetros, pode-se usar
Após o transplante, fazer uma ligeira com- ríodo de colheita. Com esta opera- a seguinte equação:
pactação da terra em torno da muda para ção, a parte inferior da haste, onde
melhorar o contato da terra com as raízes. 600 (Ls - Li) . Ds . Z . dg . dL . Am
já se fez a desfolha e a colheita de Ti =
Para o transplante em substrato, deve- todos os frutos da mesma penca, fica Efi . Qg
se abrir um espaço do tamanho do torrão apoiada no solo, enquanto a parte em que:
que contém a muda e também fazer uma superior fica na vertical.
ligeira compactação. Tanto para o trans- Ti = tempo de irrigação em minutos;
plante no solo quanto em substrato, deve- A irrigação, tanto no cultivo no solo
Ls = limite superior de umidade gravimétri-
se fazer uma irrigação leve, logo após o quanto em substrato, deve ser por gote-
ca (decimal), que é a máxima umidade
transplante, para permitir um melhor assen- jamento. A primeira deve ser feita logo após
que não causa problema de aeração
tamento do solo ou do substrato ao redor o transplante, com o propósito de facilitar
e pode ser obtida de uma curva carac-
das raízes. o pegamento das mudas, e as demais para
terística de umidade do solo (umidade
O espaçamento a ser utilizado é variá- manter o nível adequado de umidade du-
a 3 kPa para solos arenosos, a 5 kPa
vel, dependendo principalmente da arqui- rante todo o ciclo da planta.
para solos francos e a 10 kPa para so-
tetura da planta e do sistema de condução. O excesso de irrigação provoca o cresci-
los argilosos);
De modo geral, e para tomateiro de cresci- mento excessivo da planta, o retardamento
mento indeterminado e semi-determinado, da maturação dos frutos, remove os nutri- Li = limite inferior de umidade gravimétri-
pode-se usar um espaçamento de 1,0 m entes solúveis, principalmente N e K, para ca, ou seja, é a umidade correspon-
entre fileiras e 0,30 a 0,5 m entre plantas, fora do alcance do sistema radicular, induz dente à tensão de umidade quando
para condução com uma haste, e 0,50 a a queda das flores, favorece a ocorrência se pretende reiniciar as irrigações, já
0,60 m entre plantas, para condução com de doenças de solo e distúrbios fisioló- mencionadas anteriormente;
duas hastes. gicos, aumenta os gastos com energia e o Ds = densidade do solo em g/cm3;
desgaste do sistema de irrigação.
MANEJO DA CULTURA As irrigações podem ser facilmente Z = profundidade do perfil de solo a ser
irrigado (profundidade do sistema
Vários tratos culturais são executados automatizadas com o uso de temporizador
radicular) em cm;
para proporcionar melhores condições ao (irrigation controler) e válvulas solenói-
desenvolvimento das plantas. des. O temporizador controla, entre outros, dg = distância entre os gotejadores em m;
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.98-107, 2003
Tomate para Mesa 103

dL = espaçamento entre as linhas de gote- No cultivo em substrato, a irrigação é O uso do tensiômetro não é muito reco-
jadores em m; também realizada por gotejamento ou por mendável quando se cultiva em substrato
pulsos e, neste caso, o manejo da irrigação tipo perlita, pois pode não ocorrer um bom
Am = fração de área molhada (decimal);
é mais complicado. Dependendo do subs- contato entre a cápsula porosa do tensiô-
Qg = a vazão do gotejador em L/h; trato, podem-se usar sensores de umidade metro e o substrato, condição necessária
Efi = eficiência da irrigação por goteja- tipo tensiômetro, ou com base na taxa de para um bom funcionamento desse equipa-
mento em decimal, que é variável, lixiviação, ou com base em pesagens dos mento.
mas na maioria dos sistemas bem recipientes com as plantas e leituras da con- As adubações suplementares no toma-
dimensionados possui um valor en- dutividade elétrica do efluente drenado. teiro, cultivado no solo ou em substrato,
tre 0,90 e 0,95. No caso de se usar sensor de umidade, devem ser realizadas preferencialmente
permite-se a variação da tensão dentro da através da fertirrigação, onde se dissolvem
A fração de área molhada pode ser cal- faixa de umidade facilmente disponível, ou os adubos na água de irrigação. Neste caso,
culada por Am = W / dL, em que: W é a lar- seja, da capacidade do contêiner até 5 kPa. as fontes de nutrientes devem ser comple-
gura da faixa ou diâmetro molhado a 10 cm A capacidade do contêiner é definida como tamente solúveis. Diversas formulações de
de profundidade que deve ser determinada a quantidade de água que permanece no adubos NPK, sólidos ou líquidos, estão
localmente (KELLER; BLIESNER, 1990). contentor após a drenagem e anterior à eva- disponíveis no mercado para uso através
Como orientação, a maioria dos solos agrí- poração, de modo geral, tensões de 1 kPa. da água de irrigação.
colas W tem o valor de 0,30 m para so- O manejo da irrigação pode também ser Fontes de nitrogênio, potássio e fós-
los arenosos, 0,60 m para solos francos e com base no volume de efluente drenado, foro podem ser adquiridas separadamente,
0,90 m para solos argilosos. ou seja, na taxa de lixiviação. Neste caso, observando a compatibilidade entre os
ajustar o tempo de irrigação e conseqüente- fertilizantes. Deve ser evitada a mistura de
Exemplo de cálculo usando o tensiô- mente o volume de solução nutritiva a apli- adubos fosfatados com os que contenham
metro car para que ocorra cerca de 30% de lixivia- principalmente cálcio e magnésio em sua
PROBLEMA: deseja-se irrigar uma cultu- ção. Recomenda-se esta drenagem para composição, pois pode haver formação e
ra de tomate em plena produção den- garantir a aplicação de uma quantidade precipitação de compostos insolúveis que
tro de uma casa de vegetação. O solo é correta de água, possibilitar a retirada do podem entupir os gotejadores. Por exem-
franco-arenoso e, para este tipo de solo, excesso de nutrientes e evitar a salinização plo, não se deve aplicar, ao mesmo tempo,
Ls = 0,40 para uma tensão de 5 kPa; do sistema. Esta prática, aliada ao monito- ácido fosfórico e nitrato de cálcio.
Li = 0,36 para uma tensão de 10 kPa; ramento da condutividade elétrica (CE) do As principais fontes de adubo nitro-
Ds = 1,2 g/cm3 e a profundidade do sis- efluente drenado é bastante usada e é um genado para uso em cultivo protegido são
tema radicular é de 30 cm. O tubo gote- método simples e rápido para o manejo da o nitrato de cálcio (7% N), o nitrato de po-
jador tem vazão de 2,0 L/h por emissor, irrigação e controle de sais nos substratos. tássio (13% N) e a uréia (45% N). As fontes
o espaçamento entre gotejadores é de Entretanto, tem a desvantagem das altas de potássio mais usadas são o nitrato de
0,3 m e entrelinhas de 1,1 m, e a eficiên- perdas de solução nutritiva, se ela não for potássio (36,5% K), o sulfato de potássio
cia de irrigação é de 0,9 (90%). Calcular reaproveitada. (43% K) e o fosfato monopotássico (28%
o tempo de irrigação para repor a quan- No método da pesagem, é determinada K). O cloreto de potássio (50% K) deve ser
tidade de água evapotranspirada no pe- a massa de um contentor com o substrato usado com certos cuidados, devido à pre-
ríodo. e a planta. Para isso, coloca-se todo o con- sença do íon cloreto que pode, em altas con-
SOLUÇÃO: para solo franco-arenoso, junto de contentor mais planta sobre uma centrações, ser tóxico às plantas e provocar
a largura da faixa molhada (W) é de balança disposta no meio do cultivo, em a salinização do solo. Todo o nitrogênio e
0,60 m: um local e planta representativa. É um mé- potássio podem ser aplicados em fertirri-
todo caro, mas relativamente preciso pa- gação, seguindo o esquema do Quadro 4.
Am = W / dL = 0,60/1,1 = 0,55
ra se determinar a quantidade de água a No entanto, para o plantio em solo podem-
e o tempo de irrigação será: aplicar. se aplicar 20% dos totais de N e K em pré-
O uso de temporizador (timer) e válvu- plantio.
600 x (0,40 - 0,36) x 1,2 x 30 x 0,3 x 1 x 0,55
Ti = las solenóides controlam e automatizam as O fósforo pode também ser aplicado
0,9 x 2 irrigações. Existem também sistemas com- através da fertirrigação se a água não for
RESPOSTA: então, deve-se irrigar por 79 pletamente automatizados, dotados de sen- alcalina. Fertirrigando com P e usando água
minutos sempre que o tensiômetro sores de umidade ou mesmo equipamentos salobra, ocorrem precipitações de sais no
indicar uma tensão de 10 kPa. que calculam a evapotranspiração (ETc) em interior das tubulações e o entupimento
tempo real, controlados por computador. dos gotejadores. As principais fontes de
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.98-107, 2003
104 Tomate para Mesa

QUADRO 4 - Absorção média de nutrientes pela


cultura de tomate em casa de Exemplo de cálculo da quantidade de NPK
vegetação, para diferentes períodos
de desenvolvimento PROBLEMA: deseja-se aplicar NPK no plantio e em fertirrigações de dois em dois
Gramas por planta dias, em uma cultura de tomateiro com 102 dias de idade. A casa de vegetação pos-
Período % do P
por dia sui dimensões de 8 x 50 m (400 m2). O espaçamento usado é de 1,0 m entrelinhas
(dias após total
plantio) N K por dia e 0,50 m entre plantas, com 96 plantas por linha, com um total de 768 plantas.

1-10 0,043 0,087 0,154 A análise química do solo recomenda a aplicação total de 250 kg/ha de P2O5.

11-20 0,049 0,174 0,154 Sessenta por cento deste total serão aplicados na adubação de plantio. Os outros
40% serão aplicados em fertirrigação, utilizando o fosfato monopotássico (KH2PO4).
21-30 0,060 0,152 0,154
A fonte de nitrogênio será o nitrato de amônia, enquanto a fonte de potássio será,
31-40 0,087 0,152 0,308
além do fosfato monopotássico, o nitrato de potássio.
41-50 0,109 0,239 0,615
51-60 0,109 0,239 0,923
SOLUÇÃO: para iniciar os cálculos de fertirrigação, começa-se com os que possuem
61-70 0,109 0,261 0,694
menor número de possibilidades, como o Ca. No presente caso, começar com o P,
71-80 0,109 0,174 0,535
por apresentar apenas uma opção.
81-90 0,065 0,261 0,462
a) fertirrigação com fósforo
91-100 0,065 0,200 0,154
- fonte: fosfato monopotássico (MKP) com 23% de P ou 53% de P2O5
101-110 0,043 0,150 0,154
- quantidade = 40% de 250 kg/ha = 100 kg/ha de P2O5
111-120 0,043 0,150 0,154
121-130 0,065 0,100 0,308
10.000 m2 ⇒ 100 kg/ha de P2O5
400 m2 ⇒ Z
131-150 0,065 0,100 0,538
Z = 4,0 kg de P2O5 ou 4.000 g de P2O5
151-180 0,174 0,165 0,769
181-220 0,087 0,130 0,462
A necessidade diária de P2O5 por planta com 102 dias de idade é 1,56%
Total 450 kg ha-1 818 kg ha-1 100 % do P total por dia (Quadro 4). A necessidade de P2O5 para dois dias é:
FONTE: Dados básicos: Bar-Yosef (1999). P2O5 = 4.000 g de P2O5 x 0,0156 g/dia x 2 dias
NOTA: Rendimento esperado 19,5 kg m-2.
P2O5 = 124,8 g de P2O5

adubo fosfatado que podem ser usadas são - cálculo da quantidade de fosfato monopotássico
o ácido fosfórico (% P variável), o fosfa-
100 g de MKP ⇒ 53 g de P2O5
to monopotássico (MKP-23% P), o MAP
P g de MKP ⇒ 124,8 g de P2O5
(61% P) e o DAP (53% P). Dependendo do
tipo de solo, pode ocorrer maior ou menor P = 235 g de fosfato monopotássico/estufa/2 dias
retenção de fósforo. Portanto, é recomen-
dável fazer a adubação fosfatada, tendo por b) fertirrigação com potássio
base a análise química do solo. Devem-se
- fonte: fosfato monopotássico (28% K) e nitrato de potássio (36,5% K). Quan-
aplicar 20% a 60% da quantidade total de
P recomendada pela análise do solo, como tidade de K fornecida por 378 g de fosfato monopotássico
adubação básica, a lanço sobre o canteiro 100 g de MKP ⇒ 28 g de K
e incorporada antes do plantio. A fonte
378 g de MKP ⇒ X g de K
para a adubação básica pode ser o super-
X = 65,8 g de K
fosfato simples ou o termofosfato enrique-
cido com micronutrientes. O restante pode
ser aplicado através da água de irrigação, - necessidade de K = 0,464 g por planta por dia
conforme a necessidade da cultura (Qua- (Quadro 4)
dro 4).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.98-107, 2003


Tomate para Mesa 105

Para cultivos em substratos, todos os


- quantidade total de K necessária para 768 plantas em dois dias nutrientes, inclusive os micronutrientes,
são fornecidos para a planta através da fer-
K = 768 plantas x 0,464 g/planta/dia x 2 dias = 712,7 g de K tirrigação. A melhor maneira para se fazer a
adubação em substrato é através de so-
- quantidade de K a ser fornecida pelo nitrato de potássio que é a diferença lução nutritiva que pode ser injetada no
sistema toda vez que se fizer a irrigação.
entre a necessidade e a quantidade fornecida pelo MKP
Neste caso, é necessário um sistema inje-
712,7 g (total) – 65,8 g (MKP) = 646,9 g de K tor proporcional de solução nutritiva. Nos
Quadros 5 e 6, são apresentadas algumas
formulações de solução nutritiva para o
- cálculo do nitrato de potássio
cultivo do tomateiro. O Quadro 5 apresenta
100 g de nitrato de K ⇒ 36,5 g de K dois tipos de misturas A e B, que não devem
Y g de nitrato de K ⇒ 646,9 g de K ser misturadas, mas injetadas diretamente
na água de irrigação. Elas não devem ser
Y = 1.772 g de nitrato de potássio/estufa/2 dias
misturadas para evitar a formação de sais
que podem precipitar e obstruir os gote-
c) fertirrigação com nitrogênio jadores. A mistura A contém também uma
solução de micronutrientes que é prepara-
- fonte: nitrato de potássio (13% N) e nitrato de amônia (33,5% N)
da seguindo-se o esquema do Quadro 6.
- necessidade: 0,275 g N por planta por dia (Quadro 4) Ocorrendo deficiência de cálcio, deve
ser identificada a causa para eliminá-la, e
- quantidade de N fornecida por 1.586 g de nitrato de potássio fazer aplicações corretivas, via foliar, de uma
100 g de nitrato de K ⇒ 13 g de N solução de cloreto de cálcio a 1,5%. No ca-
1.772 g de nitrato de K ⇒ X g de N
so de deficiência de magnésio, aplicar, via
foliar, sulfato de magnésio a 0,5%.
X = 230,4 g de N
A deficiência de outros nutrientes pode
ocorrer, principalmente micronutrientes
- quantidade total de N necessária para 768 plantas em dois dias como boro e zinco que são preventivamente
controlados por aplicações de termofos-
N = 768 plantas x 0,275 g/planta/dia x 2 dias = 422,4 g de N fato com esses elementos, ou a adição de
20 kg/ha de bórax e de sulfato de zinco na
adubação de plantio. As soluções nutri-
- quantidade de N a ser fornecida pelo nitrato de amônia, é a diferença entre tivas contêm esses e outros micronutri-
a necessidade e a quantidade fornecida pelo nitrato de potássio entes, portanto as deficiências não devem
ocorrer quando se usa fertirrigação com
422,4 g (total) – 230,4 g (nitrato K) = 192 g de N
solução nutritiva. Sintomas de deficiências
dos principais nutrientes e seu controle
- cálculo do nitrato de amônia podem ser encontrados em Makishima e
Miranda (1992).
100 g de nitrato de amônia ⇒ 33,5 g de N
Y g de nitrato de amônia ⇒ 192 g de N Monitoramento das plantas
e do ambiente
Y = 573 g de nitrato de amônia/estufa/2 dias
Deve ser feito o monitoramento diário
das plantas, para detectar possíveis ocorrên-
RESPOSTA: desta maneira, aos 102 dias de idade, fazer a fertirrigação com 235 g de cias de insetos-pragas, doenças, deficiên-
fosfato monopotássico, 1.772 g de nitrato de potássio e 573 g de nitrato de amônia. cias nutricionais ou fisiológicas, tomando-
Estes cálculos devem ser realizados para cada evento de fertirrigação, utilizando como se as medidas corretivas necessárias.
referência o Quadro 4. Pelo menos em uma das casas de vege-
tação, devem ser instalados um termôme-
tro de máxima e mínima e um higrômetro
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.98-107, 2003
106 Tomate para Mesa

QUADRO 5 - Solução nutritiva concentrada(1) para o tomate cultivado em substrato ou em hidro- eliminação de brotos muito grandes cau-
ponia sa ferimentos profundos e extensos, por
Transplante 1o ao 2o 2o ao 3o 3o ao 5o 5o cacho onde podem penetrar patógenos, princi-
Fertilizante
ao 1o cacho cacho cacho cacho ao final palmente de origem bacteriana. Para a des-
Mistura A - quantidades para
brota, o operário deve procurar segurar
100 litros da solução final
apenas o broto a ser removido, torcendo-o
para que se desprenda da planta. Desta
Fosfato monopotássico 2.200 g 2.200 g 2.200 g 2.200 g 2.200 g
maneira, evita-se a transmissão de doenças,
Nitrato de potássio 1.600 g 1.600 g 2.000 g 2.000 g 3.200 g principalmente viroses, de uma planta pa-
Sulfato de magnésio 4.000 g 4.000 g 4.000 g 4.800 g 4.800 g ra outra.
Cloreto de potássio 0 0 400 g 400 g 400 g As folhas localizadas abaixo das pen-
cas colhidas devem ser removidas para
Solução de micronutrientes 1L 1L 1L 1L 1L
diminuir riscos de incidência de insetos-
Mistura B - quantidades para pragas e doenças, e permitir melhor aeração
100 litros da solução final da parte inferior das plantas. As folhas de-
vem ser eliminadas ao começar o processo
Nitrato de cálcio 3.000 g 4.200 g 5.100 g 6.300 g 6.300 g
de senescência, ou quando todos os frutos
Ferro quelatizado (6%) 470 g 470 g 470 g 470 g 470 g da penca imediatamente superior já tive-
FONTE: Hochmuth (1995). rem sido colhidos. As folhas eliminadas
(1) Injetar na proporção de 1:100. devem ser removidas e queimadas ou enter-
radas.
Quando se cultiva no solo, todas as
QUADRO 6 - Quantidade de fertilizantes para pre- se água sobre o teto da casa de vegetação. plantas daninhas devem ser eliminadas ma-
parar dez litros da solução concen- Em caso de baixas temperaturas, devem-se nualmente, à medida que forem surgindo
trada de micronutrientes(1) fechar as laterais para manter o ar aquecido, na área de cultivo. Cobertura do solo com
Quantidade ou mesmo promover o aquecimento artifi- plástico (mulch) é realizada colocando-se
Fertilizantes (g /10 L de cial da casa de vegetação. um filme de plástico preto ou de dupla cor,
solução) Baixa umidade relativa do ar no interior preto de um lado e branco do outro, de 0,30
Sulfato de manganês (25% Mn) 320 das casas de vegetação, se não excessiva, micras, próprio para uso como mulch. No
Solubor (20% B) ou 350 é condição desejável para a condução da caso de plástico de dupla cor, o lado preto
cultura de tomateiro, pois diminui a incidên- deve ficar voltado para baixo. O solo pode
Bórax (11% B) 640
cia de doenças. A própria transpiração das ser coberto antes ou logo após o transplan-
Sulfato de cobre (25% Cu) 70 plantas promove o aumento da umidade te. O mulch evita a evaporação da água
Sulfato de zinco (23% Zn) 80 do ar no interior das casas de vegetação e, do solo e o aparecimento de plantas inva-
Molibdato de sódio (39% Mo) 13 se necessário, a nebulização ou a aspersão soras.
são práticas que aumentam a umidade do A eliminação do excesso de frutos de-
FONTE: Hochmuth (1995).
ar. Alta umidade relativa do ar é de contro- ve ser feita somente para as cultivares do
(1) Solução de micronutrientes a ser usada na mis-
le bem mais difícil, principalmente quando grupo Salada ou Caqui, deixando-se três a
tura A da solução do Quadro 5.
associada com alta temperatura, pois os quatro frutos por cacho. Devem-se eliminar
desumidificadores não são eficientes e têm os frutos defeituosos e menos desenvol-
para monitorar, respectivamente, as varia- custos bastante elevados. vidos. Nos últimos cachos, deve-se deixar
ções das temperaturas e a umidade relativa um menor número de frutos, isto é, dois ou
do ar. Outros tratos culturais três frutos por cacho.
Em caso de elevação da temperatura, Os brotos devem ser removidos para Não se recomenda a capação ou des-
eliminar o ar interno aquecido abrindo-se que a planta cresça com maior vigor e pro- ponte, que é a retirada do broto terminal da
as laterais para promover uma melhor ven- duza frutos maiores. Para conduzir a planta haste principal. Um tomateiro bem nutri-
tilação, ou usando nebulizadores, ou dimi- com duas hastes principais, deixar o bro- do e sadio pode chegar até a 40a penca. A
nuindo a radiação no interior das estufas, to do terceiro entrenó e retirar os demais à capação só é recomendável quando o ata-
colocando uma cobertura de tela plástica medida que forem crescendo. que de pragas e doenças atingir níveis de
preta ou aluminizada, ou ainda aspergindo- A desbrota não deve ser tardia, pois a danos econômicos.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.98-107, 2003


Tomate para Mesa 107

Colheita e preparo do produto a classificação do tomate para comerciali- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


Aos 80 a 100 dias do transplante, os pri- zação no mercado interno são fixadas pelo ALLEN, R.A.; SMITH, M.; PRUIT, W.O.;
meiros frutos poderão estar em condições Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas- PEREIRA, L.S. Modifications to FAO crop
de ser colhidos. O ponto de colheita, nos tecimento (Mapa), e são as mesmas para coefficient approach. In: INTERNATIONAL
tomates dos grupos Santa Cruz e Salada, é exportação para os países do Mercosul. CONFERENCE ON EVAPOTRANSPIRATION
reconhecido pela mudança da cor no ápice Terminada a colheita, os restos cultu- AND IRRIGATION SCHEDULING, 1996, San
rais devem ser eliminados e os materiais a Antonio. Proceedings... San Antonio: ASAE/
do fruto e pelo aspecto gelatinoso da pla-
ser reaproveitados (estacas, arames etc.) IA/ICID, 1996. p.124-132.
centa que envolve as sementes. A colhei-
ta deve ser feita antes que o fruto esteja com- devem ser desinfetados e desinfestados BAR-YOSEF, B. Advances in fertigation. In:
pletamente maduro. Para os tomates do tipo antes da reutilização. Para isso, pode ser SPARKS, D.L. Advances in agronomy. New
Extra-firme e Longa Vida, o produtor deverá usada uma solução com hipoclorito a 1%. York: Academic Press, 1999. p.1-65. (Advances
consultar as companhias de sementes ou Possíveis danos na estrutura devem ser in Agronomy, 65).
as companhias fornecedoras de insumos a sanados. Caso o filme de plástico ou a te-
CARRIJO, O.A.; OLIVEIRA, C.A. da S. Irrigação
respeito do ponto ideal de colheita de cada la estejam danificados, devem ser substi-
de hortaliças em solos cultivados sob proteção
cultivar. tuídos ou restaurados. Caso o filme esteja
de plástico. Brasília: Embrapa Hortaliças, 1997.
Para colher, deve-se usar um avental intacto, porém sujo, proceder uma boa la- 19p. (Embrapa Hortaliças. Circular Técnica, 10).
de pano para colocar os frutos. Para o trans- vagem.
No caso do cultivo no solo, fazer rota- CASTELANE, P.D.; ARAÚJO, J.A.C. de. Cultivo
porte dos frutos, da casa de vegetação até
sem solo: hidroponia. Jaboticabal: UNESP, 1995.
o galpão de seleção e embalagem, os fru- ção com espécies de outra família como por
43p.
tos colhidos no avental devem ser coloca- exemplo leguminosas, brássicas, gramíneas
dos com cuidado, em caixas de madeira ou etc. Evitar a rotação com pepino, que é mui- JONES JUNIOR, J.B. Hydroponics: practical
engradados de plástico. O transporte das to suscetível a nematóides, fungos e bacté- guide for the soilless grower. Boca Raton: St. Lucie,
rias que atacam também o tomateiro. 1997. 230p.
caixas e/ou engradados deve ser feito com
cuidado, para evitar impactos ou atritos dos No caso de cultivo em substrato e para LOPES, M.C.; STRIPARI, P.C. A cultura do
frutos. sua reutilização, proceder a redução da sali- tomateiro. In: GOTO, R.; TIVELLI, S.W. (Org.).
No galpão, os frutos deverão ser colo- nidade com uma lavagem com água pura. Produção de hortaliças em ambiente prote-
cados em um tabuleiro, de preferência forra- Caso tenha havido contaminação, substi- gido: condições tropicais. São Paulo: UNESP,
do com pano, para ser limpos, seleciona- tuir o substrato ou fazer uma desinfecção 1998. p.257-304.
dos, classificados e embalados. A limpeza com solução de hipoclorito a 1% e logo após
OLIVEIRA, C.A.S.; CARRIJO, O.A.; SILVA, H.
deve ser feita com pano, ou até mesmo la- uma rigorosa lavagem com água pura. Os R. Irrigação em ambiente protegido. In: FORO
vando para eliminar a sujeira que possa substratos orgânicos e mistos devem ser INTERNACIONAL DE CULTIVO PROTEGI-
estar aderida aos frutos. A seleção é feita preferencialmente esterilizados com calor DO, 1997, Botucatu. Anais... Botucatu: UNESP/
eliminando-se os frutos com defeitos, ou (> 80oC) ou brometo de metila. SOB/FAPESP, 1997. p.96-128.
seja, sem qualidade para comercialização, REIS, N.V.B. Produção de hortaliças com o
deformados, com danos mecânicos ou cau- REFERÊNCIAS
uso de agrofilmes. Brasília: EMBRAPA-CNPH,
sados por insetos ou doenças, fora do está- HOCHMUTH, G. Florida greenhouse vegetable 1994. 17p. Apostila técnica.
dio correto de maturação ou impróprios production handbook. Florida: University of
SILVA, J.B.C. da; GIORDANO, L. de B.; BOITEUX,
para o consumo. Uma vez selecionados, Florida, 1995. 98p. (University of Florida. Cir-
L.S.; LOPES, C.A.; FRANÇA, F.H.; SANTOS,
faz-se a classificação por tamanho, estádio cular, SP-48).
J.R.M. dos; FURUMOTO, O.; FONTES, R.R.;
de maturação ou coloração. O acondicio- MAROUELLI, W.A.; NASCIMENTO, W.M.;
KELLER, J.; BLIESNER, R.D. Sprinkle and
namento é feito em caixa de madeira tipo K, trickle irrigation. New York: N. Reinhold, 1990. SILVA, W.L.C.; PEREIRA, W. Cultivo do to-
de papelão ou de plástico. O tomate do gru- 652p. mate (Lycopersicon esculentum Mill.) para
po Cereja deve ser embalado em caixas de industrialização. Brasília: EMBRAPA-CNPH,
papelão de baixa altura para evitar o amas- MAKISHIMA, N.; MIRANDA, J.E.C. de. (Ed.). 1994. 33p. (EMBRAPA-CNPH. Instruções Téc-
samento ou em bandejas de isopor reco- Cultivo de tomate (Lycopersicon esculentum nicas, 12).
Mill.). Brasília: EMBRAPA-CNPH, 1992. 24p.
bertas por filme plástico ou ainda em caixas SILVA, W.L.C.; MAROUELLI, W.A. Manejo da
(EMBRAPA-CNPH. Instruções Técnicas, 11).
de plástico com capacidade para 500 gra- irrigação em hortaliças no campo e em ambientes
mas. MAROUELLI, W.A.; SILVA, W.L. de C. e; SILVA, protegidos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
A identificação do produto contido nas H.R. da. Manejo da irrigação em hortali- ENGENHARIA AGRÍCOLA, 27., 1998, Poços
caixas e do produtor é feita com carimbo ças. 5.ed. rev. e ampl. Brasília, EMBRAPA-CNPH/ de Caldas. Anais... Poços de Caldas: Sociedade Bra-
ou rótulo na embalagem. As normas para EMBRAPA-SPI, 1996. 72p. sileira de Engenharia Agrícola, 1998. p.311-348.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.98-107, 2003


108 Tomate para Mesa

Tomateiro para mesa em


sistema orgânico
Jacimar Luis de Souza 1

Resumo - No campo da alimentação, certamente um dos maiores desejos da sociedade


brasileira é consumir tomates sem resíduos de agrotóxicos, principalmente pela quantidade
ingerida e pela forma de consumo in natura desta hortaliça em nossa dieta diária. Para o
cultivo do tomate orgânico para mesa, é necessário seguir os princípios e as técnicas de pro-
dução, no âmbito da agricultura orgânica, atentando para aspectos como o manejo orgânico
específico da cultura do tomateiro, as alternativas tecnológicas quanto a cultivares, preparo
do solo, adubação orgânica, biofertilização suplementar, tratos culturais adaptados ao
sistema, controle alternativo de pragas e doenças, colheita e rendimento, além da avaliação
e desempenho econômico da cultura. As tecnologias e os resultados apresentados, ao con-
trário do pensamento da maioria dos técnicos e agricultores do Brasil, indicam plena viabi-
lidade técnica, e especialmente econômica, da produção desta importante espécie, em sistema
orgânico de produção.
Palavras-chave: Agricultura orgânica; Tomate orgânico; Lycopersicon esculentum; Adu-
bação orgânica; Composto; Biofertilizante.

INTRODUÇÃO O AGROECOSSISTEMA de existir, quando a colheita é o enfoque prin-


ORGÂNICO cipal, perturbações em qualquer equilíbrio
A produção de alimentos orgânicos não
que se tenha estabelecido, assim o sistema
significa apenas a substituição de insumos Princípios gerais
sintéticos por insumos orgânicos no mane- só pode ser mantido se a interferência exter-
da agricultura orgânica
jo dos cultivos que se pretende fazer. Repre- na com trabalho e insumos for mantida
Construção do agroecossistema (ALTIERI,1989, GLIESSMAN, 2000).
senta muito mais que isso. Subentende-se
produtivo e conversão O desafio de criar agroecossistemas
cumprir requisitos no âmbito dos direitos
trabalhistas, do estatuto da criança e do Ecossistema é um sistema funcional sustentáveis é o de alcançar características
adolescente, dos princípios e das técnicas de relações entre organismos vivos e seu semelhantes às de ecossistemas naturais,
de produção e, em algumas situações, da ambiente, delimitado arbitrariamente, man- mantendo uma produção a ser colhida. Um
certificação dos produtos, para alcance de tendo um equilíbrio dinâmico e estável no agroecossistema que incorpore as qualida-
credibilidade no mercado. espaço e no tempo. A manipulação e a alte- des de ecossistemas naturais de estabili-
Neste trabalho, serão enfocados alguns ração humanas dos ecossistemas, com o dade, equilíbrio e produtividade, assegura-
desses aspectos citados, especialmente pa- propósito de estabelecer uma produção rá melhor a manutenção do equilíbrio dinâ-
ra o alcance de um bom planejamento técni- agrícola, tornam os agroecossistemas mui- mico necessário para estabelecer uma base
co do sistema produtivo, apresentando as to diferentes dos ecossistemas naturais, ecológica de sustentabilidade, principal-
etapas necessárias para se chegar à pro- ao mesmo tempo que conservam proces- mente quando se pensa na produção de
dução orgânica do tomate para mesa, de sos, estruturas e características semelhan- um determinado produto, como o tomate
forma sustentável e eficaz, sem perder a tes. Os agroecossistemas, comparados aos para mesa no presente caso. Isso pressu-
idéia da inserção da cultura no contexto ecossistemas naturais, têm muito menos põe que o referido cultivo deva ser realiza-
geral da agricultura orgânica. diversidades funcional e estrutural, além do dentro de um processo rotacionado com

1
Engo Agro, M.Sc., Doutorando, Pesq. INCAPER-CRDR-Centro Serrano, CEP 29375-000 Venda Nova do Imigrante-ES. Correio eletrônico:
crdrcserrano@incaper.es.gov.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.108-120, 2003


Tomate para Mesa 109

outras espécies e/ou que o ambiente, onde dade produtiva, evitando modificá- iniciando-se pelas áreas mais apropria-
será inserido, conte com um grau de diver- la para satisfazer as necessidades das, num processo crescente. Essa etapa
sificação que garanta o mínimo de estabili- das culturas e animais; ou fase do processo contempla pelo
dade ecológica. Caso contrário, estaríamos i) enfatizar a conservação do solo, menos três dimensões principais: edu-
fazendo uma produção com substituição água, energia e recursos biológicos; cativa, biológica e normativa.
de insumos sintéticos para insumos orgâni- Por fim, considerar que o processo
cos apenas – e não uma agricultura orgâ- j) incorporar a idéia de sustentabi-
deve ser conduzido segundo uma se-
nica. lidade a longo prazo no desenho e
qüência lógica e explícita, isto é, um
Gliessman (2000) propõe os seguintes manejo geral do agroecossistema.
projeto de conversão. Este projeto basi-
princípios orientadores para a conversão O processo de conversão pode ser camente constitui-se de um diagnós-
de propriedades agrícolas a sistemas agro- complexo, exigindo mudanças nas práticas tico de toda a propriedade, levantando
ecológicos: de campo, na gestão da unidade de pro- todos os recursos disponíveis, além das
a) mover-se de um manejo de nutrien- dução agrícola em seu dia-a-dia, no pla- relações sociais e comerciais que esta
tes, cujo fluxo passa através do sis- nejamento, marketing e filosofia. Esses mantém, assim como a ocupação da
tema, para um manejo que se baseie princípios podem servir como linhas área e o seu respectivo rendimento físi-
na reciclagem de nutrientes, como mestras orientadoras no processo geral de co e econômico.
uma crescente dependência em rela- transformação. Neste diagnóstico, são identificadas
ção a processos naturais, tais como Entretanto, muito antes das questões as principais dificuldades ou entraves,
a fixação biológica do nitrogênio e relativas ao agroecossistema, situa-se o assim como o potencial da propriedade.
as relações com micorrizas; homem contido nele. Nessa direção, Pereira Nesta fase, são identificadas as necessi-
(2000) discute a conversão do homem e o dades do agricultor, incluindo a sua
b) usar fontes renováveis de energia,
período de transição da propriedade, acres- capacitação. O projeto deve incluir um
em lugar das não-renováveis;
centando-nos substancial contribuição, cronograma e um fluxograma entre as
c) eliminar o uso de insumos sintéticos relatada a seguir. atividades, estabelecendo-se metas
não-renováveis, oriundos de fora claras e viáveis.
“A prática da agroecologia é um
da unidade produtiva, que podem O aspecto comercial é também
processo que passa por um estilo de vi-
potencialmente causar danos ao extremamente importante neste pro-
da, isto é, transformar, transformando-
ambiente ou à saúde dos produto- cesso. Um projeto bem-feito não poderá
se. Como processo, passa por várias di-
res, assalariados agrícolas ou con- prescindir desta fase ou etapa. Os ca-
mensões ou etapas importantes. Uma
sumidores; nais de comercialização devem ser
delas refere-se à conversão ou período
d) quando for necessário, adicionar ma- de transição, que vem a ser aquele pe- previamente identificados e definidos.
teriais ao sistema, usando aqueles ríodo variável que é preciso para a pro- A certificação é também necessária
que ocorrem naturalmente, em subs- priedade passar do modelo conven- para assegurar direitos aos agricultores
tituição aos insumos sintéticos ma- cional ao sistema agroecológico ou de um produto diferenciado. A área ou
nufaturados; orgânico, ou seja, constituir-se num propriedade estará convertida quando

e) manejar pragas, doenças e ervas agroecossistema. tiver cumprido os prazos e prescrições

adventícias, em vez de controlá-las; Por conversão, entende-se um pro- previstos nas normas, assim, estarão
cesso gradual e crescente de desenvol- habilitados a receber o selo de qua-
f) restabelecer as relações biológicas lidade”.
vimento interativo na propriedade até
que podem ocorrer naturalmente na
chegar a um agroecossistema. Este pro-
unidade produtiva, em vez de reduzi- Diversificação e
cesso está orientado para a transfor-
las ou simplificá-las; equilíbrio ecológico
mação do conjunto da unidade produti-
g) estabelecer combinações mais apro- va, gradativamente, até que se cumpra A monocultura representa um dos maio-
priadas entre padrões de cultivo e o por completo o todo. Só após transposta res problemas do modelo agrícola prati-
potencial produtivo e as limitações essa fase, isto é, cumprido o conjunto de cado atualmente, porque não existindo
físicas da paisagem agrícola; requisitos para a produção orgânica, diversificação de espécies numa determi-
h) usar uma estratégia de adaptação do atendendo as normas observadas pelas nada área, as pragas e doenças ocorrem de
potencial biológico e genético das entidades certificadoras, é que se po- forma mais intensa sobre a cultura, por ser
espécies de plantas agrícolas e ani- de obter o selo orgânico. A transição de- a única espécie vegetal presente no local.
mais às condições ecológicas da uni- ve ser feita a partir de pequenas glebas, O monocultivo torna o sistema de produ-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.108-120, 2003


110 Tomate para Mesa

ção mais instável e sujeito às adversidades interesse comercial ou não, recomendando Para completar o estabelecimento de
do meio. que se opte por espécies locais, adaptadas um desejável nível de diversidade genéti-
O equilíbrio biológico, bem como o às condições edafoclimáticas da região. ca, a adoção de um sistema de produção
equilíbrio ambiental e o econômico de gran- Como exemplo, em áreas marginais às gle- com culturas diversificadas, de interesse
des regiões não podem ser mantidos com bas de produção e nas bordas de riachos, comercial, também é fundamental. Para tan-
as monoculturas. A diversificação de cul- pode-se proceder o plantio de espécies to, recomenda-se que se adote um plano
turas é o ponto-chave para a manutenção como: goiaba, ingá, pitanga, araçaúna, de uso do solo de forma mais sustentável
da fertilidade dos sistemas, para o controle biribá, nêspera, abacate, calabura, jame- possível, procedendo o planejamento dos
de pragas e doenças e para a estabilidade lão, amora, uva japonesa, dentre outras. plantios, visando permitir o descanso (pou-
econômica regional. Nesse aspecto, choca- Além disso, é fundamental também sio) e a revitalização dos solos, no máximo
se frontalmente com a idéia de especia- proceder o manejo da vegetação espontâ- de dois em dois anos, através do plantio
lização agrícola, freqüentemente levada ao nea. Este manejo pode ser realizado de três solteiro ou misto, de leguminosas (ex: mu-
extremo nas monoculturas regionais. His- formas, visando permitir a conservação cuna preta, crotalária, lablabe) e gramíneas
toricamente, as monoculturas regionais natural da vegetação do próprio local, con- (ex: milho, aveia preta), fato que promoverá
apenas têm sido viáveis com doses cres- forme abaixo: fixação biológica de nitrogênio e estrutu-
centes de agroquímicos ou com a incor- a) manter áreas de refúgio, fora da área ração do solo, respectivamente.
poração de novas terras em substituição cultivada para interesse comercial, Na natureza existe uma forte inter-
àquelas já exauridas (KHATOUNIAN, inclusive áreas com alagamento na- relação biológica entre insetos, ácaros, ne-
2001). tural, visando preservar ao máximo matóides, fungos, bactérias, vírus e outros
Reforçando o tema, Gliessman (2000) os aspectos naturais estabelecidos macro e microrganismos, a qual é respon-
relata que a monocultura é uma excrescência pelo ecossistema local ao longo de sável pelo equilíbrio do sistema, podendo-
natural de uma abordagem industrial da anos; se citar como exemplos: pulgões (praga)
agricultura e suas técnicas casam-se bem controlados por joaninhas (predador);
b) não utilizar intensivamente o solo,
com a agricultura de base agroquímica, ácaros (praga) controlados por ácaros-
procedendo o planejamento de faixas
tendendo a favorecer o cultivo intensivo predadores; lagarta-da-soja (praga) con-
de cultivo, intercaladas com faixas
do solo, a aplicação de fertilizantes inor- trolada por baculovírus (parasita); micror-
de vegetação espontânea, chamadas
gânicos, a irrigação, o controle químico de ganismos antagonistas presentes em com-
de corredores de refúgio. Para divi-
pragas e as variedades especializadas de postos orgânicos, inibindo o desenvolvi-
são dos talhões de plantios, deixar
plantas com estreita base genética que as mento de fungos de solo como Fusarium,
corredores de 2,0 a 4,0 m de largura,
tornam extremamente suscetíveis em ter- entre tantos outros.
para abrigar a fauna local;
mos fitossanitários. A relação com os agro-
tóxicos é particularmente forte; vastos cul- c) proceder o controle parcial da vege- Teoria da trofobiose
tivos da mesma planta são mais suscetíveis tação ocorrente dentro das áreas Através da Trofobiose aprendemos que
a ataques devastadores de pragas especí- cultivadas, aplicando a técnica de todo ser vivo só sobrevive se houver ali-
ficas e requerem proteção química. capinas em faixas para culturas com mento adequado e disponível para ele. A
Sistemas de produção diversificados maiores espaçamentos nas entre- planta ou parte dela só será atacada por um
são mais estáveis, porque dificultam a linhas e manutenção da vegetação inseto, ácaro, nematóide ou microrganis-
multiplicação excessiva de determinada entre os canteiros para culturas cul- mos (fungos e bactérias), quando tiver na
praga e doença e permitem que haja um tivadas por esse sistema de plantio, sua seiva, o alimento que eles precisam, prin-
melhor equilíbrio ecológico no sistema de como alfaces, cenoura, alho, dentre cipalmente aminoácidos (CHABOUSSOU,
produção, através da multiplicação de ini- outras. 1987).
migos naturais e outros organismos be- Esses três aspectos anteriores serão os O tratamento inadequado de uma plan-
néficos. responsáveis pela maior estabilidade do ta, especialmente com substâncias de alta
Assim, uma propriedade orgânica fun- sistema produtivo e representarão uma di- solubilidade, conduz a uma elevação exces-
damentalmente tem que se preocupar em minuição expressiva de problemas com siva de aminoácidos livres. Portanto, um
buscar primariamente diversificar a paisa- pragas e doenças, tão comuns em sistemas vegetal saudável, equilibrado, dificilmente
gem geral, de forma que restabeleça a cadeia desequilibrados ecologicamente. Vale lem- será atacado por pragas e doenças.
alimentar entre todos os seres vivos, desde brar que o não cumprimento desses prin- A explicação técnica do processo
microrganismos até animais maiores e pás- cípios tem sido uma das maiores falhas em baseia-se em fatores ligados à síntese de
saros. Para tanto, faz-se necessário compor propriedades rurais, mesmo orgânicas, em proteínas (proteossíntese) ou à decompo-
uma diversidade de espécies vegetais, de franca atividade no Brasil. sição delas (proteólise). O metabolismo

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.108-120, 2003


Tomate para Mesa 111

acelerado pelos adubos de alta solubili- dro 1 oferece importantes informações e e as técnicas para implantação de
dade, ou qualquer outra desordem que indicativos para as causas da degradação quebra-ventos podem ser verifica-
interfira nos processos de proteossínte- do solo, e deve servir de base para a conver- das em Gliessman (2000);
se ou proteólise, elevará a quantidade de são do manejo convencional para o agro-
b) emprego do plantio direto, sempre
aminoácidos livres na seiva vegetal, ser- ecológico.
que possível, utilizando-se dos se-
vindo de alimento para alguns insetos e Diante do exposto e com base em infor-
guintes equipamentos:
microrganismos. mações de Popia (2000), Rowe (2000), Souza
Insetos, nematóides, ácaros, fungos, (2002), podemos recomendar os seguintes - rolo-faca: para acamar espécies de
bactérias e vírus são organismos que pos- procedimentos aplicáveis à olericultura cobertura. Existem modelos de tra-
suem uma pequena variedade de enzimas orgânica, dentre os quais, muitos se apli- ção animal, microtrator e tratores;
(responsáveis pela formação de proteínas), cam ao cultivo orgânico do tomate: - rolo-disco: usado para acamar espé-
o que reduz sua possibilidade de digerir a) uso de barreiras de árvores e/ou ar- cies que apresentam maior difi-
moléculas complexas como as proteínas, bustos como quebra-ventos, visan- culdade de acamamento, como a
necessitando do seu desdobramento em do melhorar o microclima, aumentar mucuna, devido ao seu hábito de
moléculas mais simples como os amino- a produtividade e diminuir a erosão crescimento;
ácidos. eólica. A descrição dos princípios - triturador: implemento acoplado ao
Existem vários fatores que interferem
na resistência das plantas, pois interferem QUADRO 1 - Grau de interferência negativa das causas da degradação do solo na fertilidade química,
no seu metabolismo, podendo aumentar ou física e biológica
diminuir a sua resistência:
Fertilidade do solo
a) fatores que melhoram a resistência: Causas da degradação do solo
espécie ou variedade adaptada ao Química Física Biológica
local de cultivo; solo; adubos orgâ- Devastação das florestas *** *** ***
nicos; adubos minerais de baixa so- Arado *** *** ***
lubilidade e defensivos naturais;
Grade *** *** ***
b) fatores que diminuem a resistência: Rotativa *** *** ***
idade da planta; solo; luminosidade;
Tráfego de máquinas *** *** ***
umidade; tratos culturais; adubos
Erosão *** *** ***
minerais de alta solubilidade e agro-
tóxicos. Falta de cobertura do solo *** *** ***

Portanto, conhecendo-se todos esses Compactação *** *** ***

fatores citados, o agricultor deve adequar Adubos químicos muito solúveis ** *** ***
o seu sistema de produção e empregar prá- Variedades de alta resposta ** * ***
ticas recomendadas para sistemas orgâni- Calcário em excesso ** * **
cos, que certamente conduzirão à obtenção
Monocultura ** * ***
do desejado equilíbrio nutricional e meta-
Práticas de esterilização do solo * * ***
bólico nas suas culturas comerciais.
Queimadas ** * **
Manejo, conservação e
Baixo fornecimento de matéria orgânica *** *** ***
fertilização do solo
Doenças e pragas * * *
Para o cultivo orgânico de hortaliças, o
Agrotóxicos * * ***
solo é usado de forma mais intensiva, com-
parado a outras atividades agrícolas, pois Ventos *** *** ***
existem espécies que exigem um preparo Problemas de clima * * *
mais refinado que resultam em melhores Mau uso da irrigação ** * *
rendimentos comerciais, como o uso de ara-
Modelo econômico produtivista *** *** ***
do e enxada rotativa, que ocasionam a pul-
Crédito agrícola (insumos) *** *** ***
verização da camada superficial do solo e a
compactação subsuperficial. Perdas de nutrientes *** * **
De acordo com Werner (2000), o Qua- NOTA: Grau de interferência negativa: * = Pouco; ** = Médio; *** = Muito.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.108-120, 2003


112 Tomate para Mesa

microtrator, igual a um triturador de Kiehl (1985). Ela exerce importantes efeitos derá gerar aproximadamente 177 t de com-
grãos, sendo indicado para espé- benéficos sobre as propriedades do solo, posto. Isso permite adubar 6 ha de área em
cies mais fibrosas (sorgo, milho, nas propriedades físicas, químicas, físico- cultivo orgânico de hortaliças, que tenham
milheto, crotalárias); químicas e biológicas, contribuindo subs- um consumo médio de 30 t/ha de composto
- roçadeira: existem modelos para mi- tancialmente para o crescimento e o desen- úmido por ciclo.
crotrator e trator, podendo ser utili- volvimento das plantas. Porém, estercos gerados na proprie-
zados para adubos verdes menos O correto manejo de solos em sistemas dade ou originados de fontes conhecidas
fibrosos ou com muita rama (ex: orgânicos de produção é uma das ativida- (que apresentem qualidade comprovada
mucuna) e ervas espontâneas. des prioritárias e vitais, uma vez que o solo por análise) podem ser utilizados direta-
deve ser considerado não apenas como mente como adubo orgânico, sem sofrer o
Também já existem vários modelos de suporte de plantas ou reservatório de nu- processo de compostagem, conforme algu-
kits de plantio direto/cultivo mínimo, com trientes, mas como um organismo vivo e mas orientações de Popia et al. (2000).
maior ou menor grau de sofisticação, de- um sistema complexo que abriga uma di- Adubações orgânicas devem ser reali-
pendendo do fabricante e do objetivo do versidade de fauna e flora indispensável zadas de forma adequada para não pro-
kit, fabricados na forma de semeadeiras- para a sustentabilidade do agroecossiste- vocar excessos de nutrientes no solo, espe-
adubadeiras para plantio direto/cultivo ma. cialmente quanto ao aporte de fósforo e
mínimo, movidas a tração animal ou micro- Existem diversos tipos de adubos orgâ- cálcio em áreas de cultivo intensivo de hor-
trator, que podem ser adaptadas para a nicos, de origem animal, vegetal e agro- taliças, quando se conjuga o uso de ester-
semeadura de algumas espécies olerícolas industrial, recomendados para utilização no cos e fosfato natural.
ou adubos verdes em sistema orgânico. cultivo orgânico de hortaliças. De manei- Dados obtidos pelo Instituto Capixaba
Para esse sistema de plantio, recomenda- ra geral, deve-se atentar para a origem e a de Pesquisa, Assistência Técnica e Exten-
se: qualidade desses adubos. Em se tratan- são Rural (Incaper) (SOUZA, 2000), nos
a) utilizar o sistema de preparo tradicio- do daqueles oriundos de fontes externas à três primeiros anos de manejo orgânico em
nal, com aração e gradagem, o míni- propriedade ou de sistemas convencionais cultivo de hortaliças, registraram elevações
mo possível de forma racional e a de criação (no caso dos estercos de origem muito rápidas de fósforo e cálcio em so-
enxada rotativa apenas em caso de animal), a atenção deve ser redobrada, pois los trabalhados com compostagem à ba-
extrema necessidade, limitando-a muitos deles podem apresentar contami- se de esterco de aviário, enriquecida com
apenas para culturas que necessitam nação por resíduos químicos, antibióticos 6 kg/m3 de fosfato de araxá no momento da
de encanteiramento; e outras substâncias de uso proibido pelas confecção da pilha.
normas técnicas de produção. De posse dessas informações, pode-
b) empregar diretamente o preparo
Por este motivo, atualmente, recomendam- se afirmar que o uso do calcário e do fosfato
manual para hortaliças de espaça-
se empregar sistemas de compostagem no natural, em manejo orgânico intensivo do
mentos maiores, plantadas em covas
processo produtivo, a fim de promover a solo, deve ser realizado (dependendo da
ou sulcos, ou utilizar equipamentos
higienização da matéria orgânica e obter análise do solo) apenas no início da implan-
como sulcador ou enxada com dois
um produto parcialmente mineralizado, de tação do sistema orgânico e/ou durante a
jogos de facas, cultivando apenas a
maior eficácia na nutrição das plantas em fase de conversão do sistema convencional
linha de plantio;
sistemas orgânicos de produção de horta- para o orgânico, uma vez que a própria ci-
c) proceder a rotação de culturas, en- liças. Se bem planejado, um pátio de com- clagem de matéria orgânica, nos anos sub-
volvendo espécies que exigem sis- postagem de apenas 315 m2 (21 m x 15 m), seqüentes, será suficiente para fornecer
temas de preparo de solo diferentes, pode comportar a montagem de 7 medas todos os nutrientes e manter o pH do solo
intercalando espécies de preparo no formato trapezoidal a cada quatro me- numa faixa ideal para o bom desenvolvi-
intensivo com espécies de plantio ses, com as seguintes dimensões: 15 m de mento das plantas.
direto; comprimento, 1,5 m de altura, 2,0 m de lar-
gura inferior e 1,0 m de largura superior Manejo do sistema orgânico
d) usar o subsolador em áreas subme-
tidas a cultivos intensivos, em inter- (volume inicial por meda = 33,75 m3). Isso Como se pode observar nas conside-
valos médios de dois a três anos. significa que poderemos montar 21 medas rações anteriores, o manejo recomendado
por ano, com um volume total de 708,75 m3 para sistemas orgânicos compreende téc-
Reciclagem de anuais. Sabendo-se que o rendimento mé- nicas que conduzem à estabilidade do
matéria orgânica dio de composto orgânico é de 250 kg do agroecossistema, ao uso equilibrado do
A matéria orgânica é um dos compo- produto pronto (50% umidade) para cada solo, ao fornecimento ordenado de nutri-
nentes vitais do ciclo da vida, descrito por m3 inicialmente empilhado, este pátio po- entes e à manutenção de uma fertilidade

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Tomate para Mesa 113

real e duradoura no tempo. Assim, podem- Após dez anos de manejo orgânico (1990 a caracterizam-se pelos frutos alongados, de
se condensar tais procedimentos nas se- 1999), os níveis médios de fósforo elevaram- superfície irregular.
guintes práticas: se até 390% (de 46,0 para 225,6 ppm) e os No grupo Santa Cruz, podem ser em-
a) preparo mecânico com mínimo impac- níveis médios de potássio elevaram-se em pregadas cultivares comerciais ou optar por
to na estrutura, lembrando que existe até 92% (de 144,0 para 276 ppm), podendo materiais regionais, como as cultivares
uma resposta diferenciada das espé- ser considerados plenamente suficientes ‘Roquesso’, ‘Bocaina’ e ‘Coração de Boi’,
cies ao emprego da aração, gradagem para atender às necessidades nutricionais de maior adaptabilidade ao sistema e maior
e da enxada rotativa; da maioria das culturas. Observaram-se resistência a doenças.
acréscimos significativos nos teores de No grupo Saladinha, existem diversos
b) aplicação de adubos orgânicos, na
cálcio e magnésio, uma vez que o Ca evoluiu materiais comerciais, do tipo Longa Vida,
forma de estercos animais, compos-
linearmente de 3,2 para 6,6 Cmol/dm3 e o que podem ser uma boa alternativa pela
tos orgânicos ou outra fonte reco-
Mg de 0,78 para 1,48 Cmol/dm3. Como elevada conservação na pós-colheita. Por
mendada pelas normas técnicas de
reflexo das elevações nos teores das bases serem híbridos, a desvantagem desses
produção;
K, Ca e Mg, a Saturação por Bases dos materiais é a impossibilidade de multipli-
c) uso da adubação verde com legumi- solos apresentou progressão linear até o cação de sementes, tornando obrigatória
nosas (fixação biológica de nitrogê- 7o ano, elevando-se de 61% para 82%. a compra e encarecendo o custo de pro-
nio) e com gramíneas (melhoria na dução.
estrutura física); MANEJO ORGÂNICO No grupo Cereja, existem muitas va-
d) emprego de cobertura morta em si- DO TOMATEIRO PARA MESA riedades regionais, de formato arredondado
tuações de necessidade de proteção O manejo orgânico do tomate para me- ou alongado. Geralmente são materiais com
do solo ou favorecimento do desen- sa será apresentado por área de conheci- boa tolerância a doenças foliares e, princi-
volvimento de plantas, também mento, detalhando as características gerais palmente, boa resistência ao ataque de pra-
observando que nem todas as espé- da cultura e as técnicas de manejo recomen- gas e incidência de patógenos nos frutos.
cies respondem positivamente ou dadas. Demais informações poderão ser Também existem híbridos comerciais, com
oferecem um retorno econômico que obtidas em Souza (1998, 1999), Cultivo... maior potencial produtivo, porém mais sen-
viabilize o uso dessa prática; (1999, 2001). síveis a enfermidades.
e) manejo de ervas espontâneas, como Vale ressaltar que uma recomendação
forma de proteção do solo e ciclagem Cultivares, clima extremamente importante é verificar a acei-
de nutrientes, além da preservação e época de plantio tação do consumidor de tomates orgânicos
do equilíbrio biológico na área de Por ser uma espécie suscetível a um gran- quanto ao sabor e aos padrões comerciais
produção; de número de pragas e doenças, o cultivo exigidos. O clima fresco e seco e a alta lumi-
orgânico do tomate pode exigir cuidados nosidade favorecem a cultura do tomate.
f) utilização de adubações suplemen-
extras, em comparação com outras culturas A faixa de temperatura ideal para o cultivo
tares com biofertilizantes líquidos
mais resistentes. O primeiro cuidado refere- é de 20oC a 25oC durante o dia e 11oC a 18oC
via solo ou via foliar, em caso de ne-
se à escolha de variedades e cultivares a noite. A temperatura noturna deve ser
cessidade;
adaptadas às condições locais e ao siste- sempre menor que a diurna, pelo menos
g) adubações auxiliares com adubos ma de plantio que será adotado - a céu 6oC. Temperaturas acima de 35oC, diurnas e
minerais de baixa solubilidade para noturnas, prejudicam a frutificação, com
aberto ou em estufa.
a correção temporária de deficiências, queda acentuada de flores e frutos novos.
A escolha da cultivar a ser plantada
a exemplo de fosfatos de rochas. Temperaturas muito baixas também pre-
é um dos pontos básicos no sistema de
Essas práticas, em conjunto, têm de- cultivo orgânico. Devem ser escolhidas as judicam a planta, reduzindo seu cresci-
monstrado uma elevada eficiência, con- cultivares mais rústicas e com maior re- mento.
duzindo a um bom desempenho técnico e sistência a pragas e doenças. Além disso, O excesso de chuva é outro fator do
econômico de cultivos orgânicos, reflexo é muito importante que se observe a prefe- clima que tem efeito negativo na cultu-
da manutenção e melhoria da fertilidade dos rência dos consumidores. ra, pois favorece a proliferação de fungos
solos, conforme destaca um trabalho reali- Atualmente podem-se utilizar tomates e bactérias, que reduzem a parte aérea e,
zado por Souza (2000). Nesse estudo, o mo- dos grupos Santa Cruz, Saladinha e Cere- por conseqüência, diminuem a produção.
nitoramento das características químicas ja, que são os mais fáceis de comercializar. De modo geral, em regiões altas, com
revelou uma melhoria generalizada na fer- O mercado tem apresentado boa aceita- altitudes superiores a 800 m, o plantio deve
tilidade dos solos sob manejo orgânico. ção de tomates do grupo Italiano, que ser realizado de agosto a fevereiro. Já em

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localidades baixas e quentes, sob altitudes ser transplantadas mais cedo que pelo 20 a 25 dias no sistema de bandejas. Nos
inferiores a 400 m, a época favorável ao sistema de copos. dias anteriores ao plantio, é preciso redu-
cultivo do tomate é de fevereiro a julho. Para usar o composto orgânico, primei- zir a irrigação, e, na véspera do plantio, é
O uso de estufas possibilita o cultivo ro é preciso peneirá-lo, para separar as preciso suspender a água, para tornar as
do tomate fora de época, viabilizando o partículas maiores ainda não decompostas, mudas mais resistentes.
plantio durante todo o ano em regiões altas. usando-se assim a fração mais mineraliza-
O plástico usado na cobertura permite mo- da, de pronto uso para as plântulas. Depois, Preparo do solo e adubação
dificar o ambiente, de forma que venha a misture um pouco de água, para que fique O primeiro passo para se iniciar um
torná-lo mais favorável para as plantas, ligeiramente úmido. Ao usar os copos plás- sistema orgânico de produção é a realização
protege contra as chuvas excessivas e de ticos, deve-se fazer um furo no fundo com da análise do solo. Se houver necessidade
grande número de organismos que causam um ferro quente, de diâmetro mínimo de de aplicar calcário no solo, é preciso que
problemas fitossanitários. Por causa des- 2 cm. Em seguida, coloque o composto nos seja feito com cerca de dois a três meses de
sas vantagens, as estufas têm sido cada copos, compactando levemente. antecedência, para que possa reagir. Para a
vez mais usadas. Mas o manejo orgânico As mudas devem ser produzidas em suplementação de fósforo, recomenda-se
da cultura dentro da estufa requer expe- uma estufa, com cobertura plástica e tela aplicar fosfato natural, a lanço, em toda a
riência do produtor no cultivo fora da es- nas laterais, para evitar a entrada de inse- superfície do solo, na base de 500 kg/ha,
tufa. tos. A estufa protege contra as chuvas, di- seis meses antes do plantio. Pode-se tam-
minui a ocorrência de pragas e doenças, bém utilizar o fosfato de rocha nas pilhas
Formação das mudas forma mudas mais uniformes e em menos de composto orgânico, na base de 3 kg/m3,
A qualidade das mudas afeta profun- tempo. no momento da montagem. Assim, teremos
damente o desenvolvimento da cultura no Os recipientes devem ser colocados so- o fosfato pré-solubilizado e o composto
campo. Por isso, a etapa de formação das bre bancadas, com cerca de 80 cm de altura. orgânico enriquecido, a ser empregado na
mudas é muito importante no processo de Dessa forma, as mudas não têm contato adubação das covas.
produção. com o solo, a umidade à sua volta é menor Na adubação orgânica de plantio, pode-
Para o tomate, a semeadura em recipi- e o trabalho fica mais confortável, além de se empregar composto orgânico ou ester-
entes é o melhor método, trazendo vanta- permitir a poda aérea das raízes. co bovino (20 t/ha), esterco de aviário (10
gens como a produção de mudas de boa São semeadas duas sementes de to- t/ha) ou outro material orgânico disponível,
qualidade, a redução do risco de conta- mate por copo. A sanidade das sementes atentando-se para a sua composição mine-
minação por patógenos do solo, o menor é muito importante, por isso, você deve ral, origem e estado de decomposição.
gasto de sementes e a redução do ciclo da adquiri-las de firmas idôneas ou pode pro- O sistema de preparo de solo é depen-
cultura. duzir suas próprias sementes, fazendo se- dente das condições locais. No cultivo
O recipiente mais indicado para mudas leção das melhores plantas de sua lavoura. orgânico, sempre que possível, evita-se o
de tomate é o copinho de jornal, com 10 cm Depois de germinadas, procede-se o uso de equipamentos pesados e de enxa-
de comprimento por 6 cm de diâmetro. Es- desbaste, retirando a planta mais fraca, das rotativas no preparo do solo, para re-
se copinho pode ser substituído pelo co- deixando apenas uma por recipiente. duzir a compactação.
po plástico descartável de 200 cc. O substrato deve ser mantido úmido, Havendo necessidade, pode-se utili-
Como substrato, pode-se empregar o porém, sem encharcar. O sistema de irriga- zar a aração ou o preparo com subsolador,
composto orgânico puro, associado a um ção mais indicado é a microaspersão ou quando se têm excesso de ervas persis-
recipiente maior, como os copos, para que nebulização aérea. Também pode ser usa- tentes ou terrenos compactados, respecti-
as mudas tenham os nutrientes na quan- da a irrigação com mangueira, de forma vamente. Em seguida realiza-se a gradagem
tidade que necessitam, uma vez que este criteriosa, empregando-se um crivo fino. para uniformizar o solo.
material não contém minerais adicionais, Recomenda-se irrigar mais vezes ao dia, Se as condições permitirem, recomenda-
como alguns substratos comerciais. Lembre- com menor quantidade de água de cada se optar pelo preparo manual do solo, pro-
se: “o tamanho das células das bandejas vez. Dependendo da temperatura e da umi- cedendo-se a capina em linha, onde serão
foram idealizadas para substratos organo- dade do ar, você pode irrigar de uma até abertas as covas, mantendo-se uma faixa
minerais, disponíveis no mercado”. três vezes ao dia. de vegetação nativa nas entrelinhas, na
Outra opção é a utilização de substratos As mudas estarão no ponto para ser fase inicial da cultura, até o momento da
prontos, próprios para cultivo orgânico, transplantadas quando tiverem de 4 a 5 fo- amontoa.
sendo possível a formação das mudas em lhas definitivas, cerca de 30 dias após a se- Também é recomendável realizar o plan-
bandejas de isopor, devendo, neste caso, meadura, para o sistema de copos, ou de tio direto sobre palhadas de vegetação ou
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de adubos verdes previamente roçados e No dia seguinte ao plantio, é preciso plantas, que consiste em chegar terra junto
mantidos como cobertura morta do terre- iniciar a irrigação. Daí em diante o solo de- ao pé. A amontoa estimula o crescimento
no. ve ser mantido com um nível adequado de de raízes, aumentando a absorção de água
água, úmido mas sem estar encharcado. e nutrientes. Após esta fase, também pode
Plantio e espaçamento O sistema de aspersão é contra-indicado ser empregada a cobertura morta com pa-
O plantio pode ser feito em sulcos ou porque molha as folhas e umedece o ambi- lhas.
covas, com 20 centímetros de profundi- ente em torno das plantas, o que favorece
Amontoa
dade, para comportar adequadamente a o aparecimento de doenças, como a re-
matéria orgânica. queima. Assim, a melhor opção é o gote- É uma operação muito importante em
O espaçamento recomendado é de 1,20 m jamento ou microaspersão, que molham plantios de tomate, realizados em covas.
nas entrelinhas e 40 cm entre plantas. A di- apenas o solo em torno da planta. Dessa Constitui-se do chegamento de terra nas
reção ideal das linhas é no sentido norte- forma, o tipo de irrigação é um bom aliado linhas de plantio, deslocando-se a terra da
sul e também no sentido do vento domi- na prevenção de problemas fitossanitá- entrelinha para próximo às plantas. Deve
nante. Esse espaçamento mais largo entre rios. A freqüência de irrigações é variável ser realizada logo após a adubação em co-
as linhas, associado ao direcionamento re- conforme o tipo de solo e o clima. bertura.
comendado, permite diminuir a umidade A altura da amontoa deve ser de, no
Cobertura morta mínimo, 20 cm de altura, permitindo preser-
dentro da lavoura, reduzindo significati-
vamente a multiplicação excessiva de uma A cobertura com palha retém água no var a qualidade do adubo orgânico usado
série de doenças. solo, diminui o crescimento de plantas inva- na cobertura, concentrar nutrientes na zona
soras, reduz o impacto da chuva e evita de raiz, propiciar a emissão de raízes adven-
A adubação de plantio pode ser fei-
que o solo se aqueça excessivamente, além tícias e, ainda, melhorar a sustentação das
ta com composto orgânico, na base de 10
de fornecer nutrientes, após a decomposi- plantas do tomateiro. Esses fatores, em
t/ha (peso seco), ou seja, cerca de meio
ção do material. Recomenda-se optar por conjunto, permitem uma maior absorção de
quilo de composto por cova, o que equivale
materiais de pequena granulometria ou nutrientes e elevam a produtividade.
a 1,2 quilo por metro linear de sulco.
triturados, para não elevar a umidade junto
Em estufas, o tomate é usualmente plan- Tutoramento e amarrio
às plantas novas, o que favorece a incidên-
tado em leiras, em função da necessida- O tutoramento do tomateiro, que pro-
cia de doenças precocemente.
de do emprego da cobertura plástica para duz frutos para consumo in natura, é ne-
Pode-se empregar também a lona plás-
manutenção da umidade, a qual não permi- cessário porque suas hastes são herbáceas
tica preta, que possibilita as vantagens em
te a realização de amontoa normalmente e flexíveis. Ele pode ser feito com taquara
comum com a palha e ainda permite redu-
empregada na cultura, por ocasião da pri- ou bambu, com arame e com fitas. O obje-
zir as perdas de nitrogênio por lixiviação e
meira capina. tivo é manter a planta ereta e afastada do
volatilização, tornando esse nutriente mais
No momento do plantio, é preciso fazer solo. O fundamental é que este tutoramen-
disponível para as culturas, além de não
uma seleção das mudas, descartando aque- to seja vertical, evitando-se a cerca cruza-
elevar a umidade relativa do ar junto ao
las mais fracas. As covas devem ser irriga- da, pois assim temos um bom arejamento
solo.
das com mangueira imediatamente antes de dentro do plantio, diminuindo a umidade
se transplantar as mudas, de forma que a Capina
relativa e reduzindo problemas com do-
primeira irrigação do campo será feita ape- No sistema orgânico, recomenda-se a enças.
nas no dia seguinte, quando as mudas capina em faixas, mantendo limpa a área O amarrio acompanha o tutoramento.
estarão eretas, com suas folhas distantes junto às plantas, para não haver competi- A planta deve começar a ser amarrada no
do solo. ção das ervas com a cultura. No meio das tutor quando tiver 30 cm de altura. À medi-
linhas, deve ser deixada uma estreita faixa
Manejo da cultura da que a planta cresce, é preciso fazer no-
de mato, com cerca de 40 cm de largura.
vos amarrios. Para isso, podem ser usadas
Irrigação Essa vegetação espontânea é importante
fibras naturais ou sintéticas existentes no
Neste sistema, tem-se verificado, em ní- para manter o equilíbrio ecológico de inse-
mercado. Com as fibras, é melhor fazer um
vel de propriedades orgânicas, que o mane- tos.
amarrio na forma de 8, para evitar atrito das
jo da água de irrigação será de vital impor- Com o uso da cobertura morta nas li-
hastes com o tutor.
tância para o sucesso do plantio. Excesso nhas de plantio, o trabalho de capina é fa-
de água neste sistema pode proporcionar cilitado, pois há redução no crescimento Adubação em cobertura
multiplicação excessiva de patógenos, que das invasoras. Caso não seja utilizada co- A adubação em cobertura visa, princi-
prejudicarão o bom desenvolvimento das bertura morta, por ocasião da primeira palmente, o fornecimento de nitrogênio,
plantas. capina do tomate, é feita a amontoa das que não se mantém no sistema por muito
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tempo, tornando necessária uma reposição água, fazendo uma pré-mistura. Após da planta e consomem nutrientes que po-
ou ciclagem constante. homogeneizada esta solução, acres- deriam ser conduzidos para a formação dos
A adubação em cobertura pode ser feita centar a mamona (ou resíduo similar) frutos.
com composto orgânico, esterco de aves, e a cinza vegetal, agitando até nova A obtenção de frutos de boa qualidade
biofertilizante líquido, biofertilizante Super- homogeneização. Completar com água e maiores e a maior sanidade do cultivo
magro ou chorume de composto. até o volume total do recipiente. Para são alguns benefícios conseguidos com a
A recomendação de composto orgâni- evitar mau cheiro, advindo da fermen- poda.
co é de 5 t/ha, o que dá 185 g/planta de pe- tação anaeróbica, esta solução deve ser Os brotos devem ser cortados quando
so seco. O esterco de galinha pode ser usa- agitada durante um tempo mínimo de ainda estão bem pequenos, para que não
do na base de 3 t/ha, ou seja, 150 g/planta. 5 minutos, no mínimo 3 vezes ao dia. haja muita perda de nutrientes pela plan-
Esses adubos orgânicos devem ser colo- Após 10 dias de fermentação, pode- ta.
cados junto ao pé da planta, e depois incor- se iniciar a retirada da parte líquida A capação consiste na poda da haste
porados superficialmente, o que pode ser (procedendo um peneiramento fino principal após a emissão de um certo nú-
feito no momento da capina. e/ou coando), sempre após uma pré- mero de cachos. Esta prática limita o núme-
Uma alternativa, que tem-se revelado agitação, para aplicação nas culturas ro de frutos que se quer colher e diminui
muito eficiente, é a utilização de bioferti- de interesse. o ciclo da planta. Assim, a quantidade de
lizantes líquidos via solo, preparados espe- Em função da grande quantidade frutos produzidos é menor, mas eles serão
de partículas em suspensão e da massa maiores e de boa qualidade.
cificamente para a cultura, utilizando-se
resultante no fundo do recipiente, após A capação permite, também, reduzir os
materiais orgânicos ricos em nitrogênio e
o uso desse primeiro preparado, pode- problemas fitossanitários, pela redução do
potássio, como farelos de soja e cacau, tor-
se acrescentar novamente 500 L de água ciclo vegetativo e pela não emissão de fo-
ta de mamona, cinza vegetal, dentre outros.
nesses mesmos ingredientes, agitar lhas novas, uma vez que as folhas já esta-
Neste caso, fazer aplicações semanais a
vigorosamente, e reutilizar esse novo belecidas estarão protegidas por caldas e
partir dos 30 dias até a fase de frutificação,
preparado com bons resultados. Entre- extratos protetores.
na base de 200 mL por planta. O resumo do
tanto, não se recomenda reutilizar mais Em sistemas orgânicos, recomenda-se
preparo desse biofertilizante está descrito
de uma vez a mistura, pois a concen- proceder a capação da haste principal após
a seguir:
tração dos nutrientes já estará reduzida. a emissão do 3o ao 6o cacho, dependendo
Preparo do biofertilizante líquido Nas recomendações de uso de bio- do vigor e do estado fitossanitário da cul-
enriquecido fertilizante líquido enriquecido, di- tura. É necessário deixar, no mínimo, um
ferentemente dos biofertilizantes bovi- par de folhas acima do último cacho man-
Componentes para um recipiente de tido na planta. Em outras palavras, em plan-
no e Supermagro, a aplicação deve ser
1.000 litros: tas manejadas com quatro cachos, a poda
realizada via solo, na zona de raiz, late-
composto orgânico ou ralmente às plantas, como uma aduba- deve ser realizada imediatamente abaixo do
esterco bovino curtido ....... 100 kg ção líquida em cobertura. Esta prepa- 5o cacho.
mamona triturada ração rende aproximadamente 500 L
Pragas e doenças
(folhas, talos, bagas e de solução líquida para pronto uso. A
malha de filtragem dependerá do sis- As técnicas normalmente utilizadas na
hastes tenras) ..................... 100 kg
tema de aplicação que será adotado. agricultura orgânica, objetivando o equilí-
cinza vegetal ...................... 20 a 30 kg brio ecológico do sistema, são capazes de
A aplicação pode ser realizada manual-
água .................................... 700 L mente (com regador), por bombea- prevenir o aparecimento e a proliferação
mento ou em redes de fertirrigação. de grande parte de doenças e pragas. Den-
Obs: A mamona triturada pode ser tre estas, podemos citar: a escolha de varie-
Neste último caso, a filtragem deve ser
substituída por outro resíduo vegetal, dades resistentes; o manejo correto do so-
bem-feita para evitar entupimentos.
na mesma quantidade, ou resíduos agro- lo; a adubação orgânica, com fornecimento
industriais (torta de mamona, farelo Desbrota e capação equilibrado de nutrientes para as plantas;
de cacau etc., em quantidade menor: A desbrota ou poda de brotações con- o manejo correto das plantas nativas; a irri-
50 kg). siste em eliminar todos os brotos que saem gação bem-feita e o uso de rotação e con-
Em um recipiente com capacidade das axilas das plantas, deixando apenas sorciação de culturas.
volumétrica de 1.000 L, acrescenta-se uma haste em cada planta, para um bom Muitas vezes, os insetos, ácaros, vírus
o ingrediente da base orgânica (com- aproveitamento do adubo orgânico. Os bro- e bactérias estão presentes na lavoura, mas
posto ou esterco bovino) e 500 L de tos laterais diminuem o vigor vegetativo não chegam a comprometer a produção, por
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isso, não há necessidade de usar técnicas (mariposas), sem proceder a captura, pois secar e proceder a embalagem.
de controle. Mas alguns são persistentes muitos inimigos naturais poderiam ser eli- Em plantios a céu aberto, o rendimento
e podem causar danos econômicos se não minados junto com as pragas. A aplicação da cultura em sistemas orgânicos em nível
forem controlados, em especial a traça ou de extrato pirolenhoso tem sido um auxiliar de agricultores tem variado de 30 a 40 t/ha,
broca-do-ponteiro (Tuta absoluta) e a re- importante na redução de ataque de pragas conforme estudo realizado pelo Incaper
queima ou mela (Phytophthora infestans), à cultura. (SOUZA, 2002), que obteve uma produ-
especialmente em regiões de altitude. A utilização de Bacillus thuringiensis, tividade média de 34.545 kg de frutos co-
A requeima tem sido um dos principais semanalmente e de forma preventiva, tam- merciais por hectare, nestas condições, ao
problemas fitossanitários do tomate culti- bém é uma medida fundamental para o con- longo de oito anos (Quadro 2).
vado organicamente. Para o controle, é indi- trole das pragas-chave que atacam a cul- Em plantios orgânicos, realizados em
cada a aplicação de calda bordalesa a 1% tura do tomateiro. ambiente protegido, o desenvolvimento ve-
(SOUZA, 1997), semanalmente, a partir dos A armadilha de cor pode ser utilizada getativo, a sanidade e o nível de produti-
20 a 30 dias do plantio. Ao aplicar a calda, para redução da população de insetos. A vidade da cultura podem ser melhorados
deve-se fazer a cobertura total das folhas, cor amarela atrai insetos como brasileirinho significativamente. A produtividade comer-
aplicando na face superior e na inferior, (Diabrotica), mosca-branca, dentre outros. cial de frutos, obtida nessas condições, tem
evitando-se o excesso. É necessário aplicar A cor azul é adequada para a atração de variado de 50 a 60 t/ha, em nível de proprie-
de forma que a calda não escorra e que as tripes. Existem firmas que já comercializam dade de agricultores orgânicos. Tendo em
folhas não fiquem azuladas. Com a aplica- fitas adesivas, apropriadas para esta fina- vista as características dessa espécie, esses
ção excessiva, além de desperdiçar a calda, lidade. Uma forma artesanal de promover a níveis de rendimentos podem ser conside-
a planta será intoxicada. atração e a captura, consiste em uma chapa rados satisfatórios, dentro dos princípios
Outras caldas e os biofertilizantes tam- de 20 x 30 cm, pintada da cor desejada e da produção orgânica de alimentos. Con-
bém são eficientes para o controle de pra- disposta em ângulo de 45o. Coberta com siderando ainda o sobrepreço obtido por
gas e doenças no tomate, como a calda goma colante ou com graxa bem grossa, este produto no mercado orgânico, a ren-
sulfocálcica, que pode ser usada para o retém os insetos que pousarem nela. tabilidade da cultura tem sido extremamen-
controle de ácaro e tripes. Esses e demais métodos alternativos te favorável (Fig. 1).
Uma alternativa interessante para o de controle de pragas e doenças podem
controle do tripes, que transmite viroses ser verificados em Abreu Júnior (1998), Custo de produção
para o tomate, especialmente o vírus do Burg e Mayer (1999). Para a composição de custos do culti-
vira-cabeça, é a utilização de extrato de pri- Outras medidas fitossanitárias impor- vo orgânico do tomateiro, adotou-se o ren-
mavera (Bouganville), duas vezes por se- tantes para o tomate são a utilização de dimento médio do cultivo a céu aberto
mana a partir de 30 dias até o início da sementes sadias e a erradicação de plantas (34.545 t/ha), de forma que subentende-
frutificação. O preparo do extrato é feito atacadas por vírus. As plantas doentes se uma rentabilidade ainda mais expressiva
triturando, em liquidificador, 1 L de folhas devem ser arrancadas, retiradas da área e em cultivos protegidos, que podem atingir
maduras em 1 L de água. Este extrato é di- queimadas. 50 a 60 t/ha. O preço de venda considerado
luído em 20 L (a 5%), e deve ser aplicado foi de R$ 1,00/kg, que tem sido o valor pra-
logo após o preparo. Colheita e rendimento ticado para a entrega a granel a empresas
O biofertilizante líquido e o Superma- Os frutos são colhidos assim que ini- que procedem a embalagem e a venda do
gro, pulverizados nas folhas, fornecem nu- ciam o processo de amadurecimento, quan- produto ao consumidor final – motivo pelo
trientes e melhoram o equilíbrio nutricional do estão amarelados ou rosados. Para mer- qual não se considerou gastos com emba-
das plantas, aumentando a resistência aos cados mais próximos, os frutos podem ser lagem e frete.
insetos e ajudando no controle de doen- colhidos num estádio de maturação mais A venda direta pelo agricultor, que arca
ças (VAIRO DOS SANTOS,1992, APTA, adiantado, mas quando ainda estiverem com custos de embalagem e frete até o mer-
1997). bem firmes. O tempo gasto do transplantio cado, é sem dúvida a melhor opção, elevan-
Para a redução do problema com pragas, ao início da colheita varia de 60 a 70 dias, do a lucratividade, uma vez que o produto
principalmente a broca do ponteiro e as bro- dependendo da variedade. pode atingir uma média de R$ 3,00/kg.
cas pequena e grande do fruto, recomenda- Para a limpeza dos frutos de tomate, Nas condições preestabelecidas, o total
se o uso da armadilha luminosa, instalada que apresentam resíduos externos de calda de despesas para produção de 1 ha de to-
a uma distância mínima de 50 m da área de bordalesa, proceder a imersão dos frutos, mate em sistema orgânico foi de R$ 6.362,00,
cultivo de tomate. A armadilha é usada so- por 5 minutos, em solução de ácido acético encerrando um custo unitário de R$ 0,18/kg
mente para atrair os adultos desses insetos (vinagre), na concentração de 2%. Deixar (Quadro 3). Esses custos estão muito abaixo
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.108-120, 2003
118 Tomate para Mesa

QUADRO 2 - Dados fenológicos e de produção da cultura do tomate em sistema de cultivo orgânico

Frutos comerciais Requeima Frutos Frutos


Produção
com com Ciclo
Cultivos Ano total Produtivi- Peso Diâmetro Folhas Frutos (%)
brocas defeito (dias)
(kg/ha) dade médio médio (notas)
(%) (%)
(kg/ha) (g) (cm)
Tomate 1 1992/1993 48.672 48.072 120 6,5 4 3,6 2,7 1,7 127
Tomate 2 1993/1994 57.256 51.641 94 5,7 1 1,4 9,7 0,9 121
Tomate 3 1994/1995 29.588 26.050 79 5,4 6 1,5 2,1 0,0 126
Tomate 4 1994/1995 32.924 31.321 97 5,8 3 0,0 6,3 0,3 111
Tomate 5 1995/1996 45.120 43.153 121 6,1 5 2,0 2,3 5,5 127
Tomate 6 1996/1997 73.614 32.527 93 5,3 4 6,1 _ _ 99
Tomate 7 1997/1998 43.254 26.694 _ 5,9 3,5 7,3 3,5 1,9 130
Tomate 8 1999 46.968 33.560 94 5,5 _ 0,7 7,3 _ 95
Tomate 9 1999/2000 26.996 17.890 94 5,9 1 0,8 36,6 _ 127

Média _ 44.932 34.545 99 5,8 3,4 2,6 8,8 1,7 118


FONTE: Souza (2002).

Figura 1 - Produção orgânica de tomate


NOTA: Estufa, na propriedade do sr. Martim Uhlig, mostrando excelente vigor e sanidade das plantas - Santa Maria de Jetibá-ES.

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Tomate para Mesa 119

de sistemas convencionais, que, pelo ele- A receita bruta esperada foi de R$ cínio rápido, sem considerar o custo de im-
vado aporte de insumos, aumentam a 34.545,00, o que conduz a uma rentabili- plantação de uma estufa, para uma produti-
produtividade, mas a custos médios de dade extremamente favorável de 5,4 reais vidade de 60 t/ha, a rentabilidade poderia
R$ 14 mil por hectare. para cada real investido. Fazendo um racio- chegar a 9,4 para 1,0 (Quadro 4).

QUADRO 3 - Indicadores físicos e financeiros da cultura do tomate (1 ha) em sistema orgânico de produção
Quanti- Valor Quanti- Valor
Discriminação % Discriminação %
dade (R$) dade (R$)
Despesas Despesas
Semente (g) 250 50,00 1 Serviços mecânicos (h/t) 6 180,00 3
Composto (t) 30 690,00 10 Embalagem (ud) _ _ _
Esterco (t) _ _ _ Frete (ud) _ _ _
Outros insumos _ 512,00 8 Total de despesas _ 6.362,00 100
Mão-de-obra (d/H) 493 4.930,00 78 Custo por kg 34.545 0,18 _
FONTE: Souza (2002).
NOTA: d/H - dia/Homem; h/t - hora/trator; ud - unidade.

QUADRO 4 - Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de tomate em sistema orgânico de produção


Valor Quanti- Valor Valor Quanti- Valor
Especificação Unidade unitário total Especificação Unidade unitário total
dade dade
(R$) (R$) (R$) (R$)
Insumos Serviços
Composto orgânico t 23,00 30 690,00 Adubação em cobertura d/H 10,00 8 80,00
Calcário t 44,00 _ _
Amontoa d/H 10,00 12 120,00
Esterco de galinha t 80,00 _ _
Capinas d/H 10,00 10 100,00
Semente g 0,20 250 50,00
Aplicação de calda
Biofertilizante enri- bordalesa d/H 10,00 32 320,00
quecido (8 vezes) L 0,006 32.000 192,00 Pulverizações d/H 10,00 24 240,00
Dipel (8 vezes) kg 40,00 2,6 104,00 Irrigações d/H 10,00 30 300,00

Calda bordalesa Colheitas d/H 10,00 100 1.000,00

(8 pulverizações) L 0,027 8.000 216,00 Amarrio, desbrota e


capação d/H 10,00 105 1.050,00
Serviços
Classificação/Emba-
Sementeira d/H 10,00 2 20,00
lagem d/H 10,00 50 500,00
Aração e gradagem h/t 30,00 6 180,00
Transporte interno d/H 10,00 15 150,00
Aplicação de calcário d/H 10,00 _ _
Preparo de solo (covas) d/H 10,00 12 120,00 Outros
Distribuição de composto d/H 10,00 12 120,00 Embalagem _ _ _ _
Distribuição de esterco d/H 10,00 _ _ Frete _ _ _ _
Plantio d/H 10,00 20 200,00
Total de custos _ _ _ 6.362,00
Estaqueamento d/H 10,00 45 450,00

Aplicação de bio- Produção orgânica


fertilizante líquido d/H 10,00 16 160,00 esperada kg 1,00 34.545 34.545,00

FONTE: Souza (2002).


NOTA: d/H - dia/Homem; h/t - hora/trator.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.108-120, 2003


120 Tomate para Mesa

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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.108-120, 2003


Tomate para Mesa 121

Manuseio pós-colheita de tomates


Celso Luiz Moretti 1

Resumo - O manuseio pós-colheita é uma das principais etapas da cadeia produtiva de


tomates. Desde a colheita, uma série de cuidados deve ser tomada visando preservar a
qualidade dos frutos. Fatores como ponto de colheita, seleção, classificação, embalagem,
resfriamento rápido, controle do amadurecimento, armazenamento refrigerado e trans-
porte, dentre outros, influenciam decisivamente na qualidade do produto que será co-
mercializado. Adicionalmente, conhecimentos acerca do comportamento fisiológico e de
alterações físicas e químicas, que ocorrem nos frutos em função do manuseio, e de fatores
bióticos e abióticos são importantes à medida que possibilitam prolongar a vida útil dos
frutos.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Colheita; Embalagem; Armazenamento;
Estresses mecânicos; Resfriamento.

INTRODUÇÃO Quanto ao padrão respiratório, o toma- PONTO DE COLHEITA


O presente artigo aborda as diversas te é classificado como climatérico, isto é,
Considerações gerais
etapas do manuseio pós-colheita de toma- apresenta, durante uma fase distinta de
A determinação do ponto de colheita
tes que visam à manutenção das qualida- desenvolvimento, elevação significativa
do tomate para mesa depende, de maneira
des química, física e visual do fruto. Da de- na evolução de gás carbônico e etileno. A
geral, da distância até o mercado consu-
terminação do ponto de colheita, passando intensidade e a duração do climatérico res-
midor e do tempo que o fruto tem que ser
por práticas como seleção, classificação, piratório são funções da espécie em estu-
armazenado até chegar ao destino final.
embalagem, resfriamento rápido, controle do e, em tomate, as taxas de respiração
Todavia, estudos têm demonstrado que o
do amadurecimento e armazenamento re- variam de acordo com a temperatura e as
tomate colhido maduro tem sabor e aro-
frigerado, até a comercialização, todas as condições da atmosfera de armazenamen-
ma superior ao tomate colhido em estádios
pessoas envolvidas nesse processo neces- to (WILLS et al., 1998) (Quadro 1).
de amadurecimento anterior (MAUL et al.,
sitam conhecer os diversos fatores que 1998).
possibilitam a inserção do tomate no mer- QUADRO 1 - Taxa respiratória de tomate ma-
cado consumidor com a melhor qualidade duro em função da temperatura e Estádios de
possível. da atmosfera de armazenamento amadurecimento
Em função de ser um fruto climaté-
Taxa respiratória
ASPECTOS FISIOLÓGICOS: rico, a colheita do tomate pode ser feita
Temperatura (mg CO2 .kg-1.h-1)
ATIVIDADE RESPIRATÓRIA E quando ele atinge a maturidade fisiológica.
(°C)
PRODUÇÃO DE ETILENO No ar (A)
Em 3% O2 Neste ponto, denominado verde-maduro,
O tomate produz quantidades modera- (1)
10 13-16 6 os frutos possuem coloração verde, tan-
das de etileno durante o desenvolvimento, to externa quanto internamente. À medida
15 16-28 _
variando entre 1 e 10 μL de C2H4.kg-1.h-1, que o fruto amadurece, diversas alterações
a 20°C (KADER, 2002). A exposição a re- 20 28-41 12 fisiológicas, bioquímicas e visuais ocor-
duzidas quantidades de etileno é suficien- 25 35-51 _ rem, sendo a mais marcante a mudança
te para iniciar o amadurecimento e outros FONTE: Dados básicos: (A) Robinson et al.
de coloração da casca e dos tecidos inter-
processos metabólicos, uma vez que o fru- (1975). nos (Fig. 1). Os diferentes estádios de ama-
to é sensível à aplicação desse hormônio (1) Armazenamento a 10°C recomendado somen- durecimento são caracterizados no Qua-
(REID, 2002). te para tomate maduro. dro 2.

1
Engo Agro, Dr., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: celso@cnph.embrapa.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.121-127, 2003


122 Tomate para Mesa

A B C

Foto: Embrapa Hortaliças


D E F

Figura 1 - Estádios de amadurecimento do tomate ‘Carmen’


NOTA: A - Verde-maduro; B - Verde-rosado; C - Rosa-esverdeado; D - Róseo; E - Vermelho-claro; F - Vermelho.

QUADRO 2 - Estádios de amadurecimento de tomates para mesa


Estádio de
amadurecimento(A) Características do fruto(1)

Verde-maduro 100% da superfície possui coloração verde, com tonalidade que varia de verde-clara a escura. Frutos com maturidade
fisiológica completa apresentam o tecido locular com coloração predominantemente esverdeada e consistência gelati-
nosa.

Verde-rosado Entre 0% e 10% da superfície do fruto possui coloração avermelhada ou amarelada, de acordo com a cultivar/híbrido
analisado. Observa-se claramente que ocorre uma pequena mudança de coloração, de verde para avermelhada, na
extremidade estilar (distal) do fruto. O tecido locular apresenta coloração avermelhado-clara e consistência gelatinosa.

Rosa-esverdeado Entre 10% e 30% da superfície do fruto possui coloração avermelhada, rósea ou amarelada, ou combinação destas, de
acordo com a cultivar/híbrido analisado. O tecido locular apresenta coloração avermelhado-intensa e consistência
gelatinosa.

Róseo Entre 30% e 60% da superfície do fruto possui coloração avermelhada ou rósea, de acordo com a cultivar/híbrido
analisado. O tecido locular apresenta coloração avermelhado-intensa e consistência gelatinosa.

Vermelho-claro Entre 60% e 90% da superfície do fruto, não mais do que 90% da soma de todas as áreas superficiais, possui coloração
róseo-avermelhada ou vermelha, de acordo com a cultivar/híbrido analisado. O pericarpo interno radial dos frutos
apresenta pontos de coloração amarela distribuídos ao acaso. O tecido locular apresenta coloração vermelho-intensa e
consistência gelatinosa.

Vermelho Mais de 90% da superfície do fruto, na soma de todas as áreas superficiais, possui coloração vermelho-intensa. O tecido
locular apresenta coloração vermelho-intensa e consistência gelatinosa. Em estádios mais avançados, o tecido locular
apresenta sinais de liquefação.

FONTE: Dados básicos: (A) Estados Unidos (1991).


(1) Para a maioria dos frutos existentes no mercado nacional, o desenvolvimento da coloração rósea e avermelhada ocorre da extremidade estilar (distal) pa-
ra a região estilar (proximal).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.121-127, 2003


Tomate para Mesa 123

Apesar de existir tabelas internacionais enrugamento, devido à perda de água, e sem pecíficos de higiene para cada equipamen-
que descrevem os diferentes estádios de sinais de ataque por patógenos ou insetos, to/contentor.
amadurecimento do tomate, bem como es- além de possuírem coloração característica Após a colheita, os frutos devem ser
forços feitos por órgãos públicos brasilei- da cultivar/híbrido e do estádio de amadure- levados o mais rápido possível para a casa
ros para padronizar esse aspecto, os produ- cimento em que o fruto está sendo colhido. de embalagem onde serão selecionados, la-
tores e embaladores utilizam basicamente Adicionalmente, os frutos não devem vados, classificados e embalados (Fig. 3).
quatro classificações: verde, pintado, colo- possuir sinais de desordens fisiológicas,
rido e maduro (Fig. 2). A classificação ver- como escaldadura pelo sol e fundo-preto, Qualidade da água de
de corresponde ao estádio verde-maduro, dentre outros. Ainda neste artigo serão tra- lavagem
apresentado anteriormente. O fruto pinta- tados alguns dos problemas mencionados A qualidade da água de lavagem depen-
do abrange os estádios verde-rosado e anteriormente e sua relação com a qualida- derá da etapa da operação. Como exemplo,
rosa-esverdeado. O tomate colorido cor- de dos frutos. a água limpa será empregada para os está-
responde aos estádios róseo e vermelho- dios iniciais de lavagem, enquanto a água
claro e o fruto maduro é classificado como Colheita, seleção, utilizada para o enxágüe final deverá ser de
estádio de amadurecimento vermelho, de classificação e embalagem qualidade potável. Adicionalmente, para
acordo com o Quadro 2. A colheita de tomates deve ser feita em assegurar uma melhor qualidade dos fru-
horários com temperatura mais amena, pre- tos, devem ser observados os seguintes
Características visuais ferencialmente pela manhã. As caixas e passos:
desejáveis equipamentos de colheita que entrarem em a) a temperatura da água utilizada na
No momento da colheita, deve ser dada contato com os frutos devem ser feitos de pós-colheita deve ser controlada e
preferência aos tomates que estejam firmes, material atóxico, e construídos de tal forma monitorada, quando apropriado;
sem sinais aparentes de danos mecânicos que assegurem ser limpos e desinfetados. b) caso seja utilizada água reciclada, a
(cortes, rachaduras, furos, abrasões), sem Devem ser descritos os procedimentos es- qualidade deve ser monitorada de tal
forma que não comprometa a quali-
dade dos frutos;
c) a última lavagem, ou enxágüe, reali-
zada com água de qualidade potável,
tem o objetivo de retirar resíduos de
A desinfetantes utilizados anteriormen-
te, exceção feita nos casos em que
esses resíduos são necessários para
prevenir a ocorrência e a proliferação
de patógenos.

B Na lavagem dos frutos, podem ser ado-


tados dois sistemas: uso de aspersores
(chuveiros) ou imersão dos frutos em tan-
ques de água. Em ambos os casos, a água
deve possuir concentração de cloro ativo
da ordem de 150 mg.L-1, a fim de eliminar a
C presença de qualquer microrganismo que
possa ser patogênico ao ser humano. No
caso da imersão dos frutos em tanques, a
Foto: Embrapa Hortaliças

temperatura da água deve ser ligeiramen-


te superior à do fruto, pois, caso contrário,
há risco de entrada de água pela cicatriz do
D
pedúnculo, o que, além de bloquear as tro-
cas gasosas, pode provocar a inoculação
de patógenos eventualmente presentes na
Figura 2 - Estádios de amadurecimento do tomate ‘Carmen’ comumente utilizado pe- água. Após a lavagem, os frutos passam
los produtores por um rápido processo de secagem por
NOTA: A - Verde; B - Pintado; C - Colorido; D - Maduro. meio da aspersão de ar (Fig 4).
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124 Tomate para Mesa

de acordo com o destino final. É prática co-


mum a utilização de embalagens plásticas
para frutos que se destinam a mercados
mais próximos à casa de embalagem, pois
sua utilização implica, forçosamente, no re-
torno da caixa, na maioria das vezes vazia.
Para mercados mais distantes, é mais co-
mumente utilizada a caixa feita de papelão
ondulado, que não retorna posteriormente
à casa de embalagem.
Foto: Embrapa Hortaliças

Atualmente existem diferentes modelos


de caixas plásticas e de papelão utilizados
no mercado. A escolha deve ser com base
em critérios como: resistência mecânica, nú-
mero de camadas de frutos acomodados
em cada caixa (número excessivo acarreta
Figura 3 - Tomates no interior de uma casa de embalagem em injúria devido à compressão nos frutos),
NOTA: Processo de seleção e classificação de tomates de acordo com o calibre, a colo- presença de cantos vivos (possibilidade
ração da casca e a massa do fruto. de ocorrência de danos mecânicos de cor-
te ou de abrasão), facilidade de manuseio,
auto-exposição (ir diretamente da casa de
embalagem para a gôndola do supermer-
cado), facilidade de higienização (para
caixas plásticas) e aberturas que permitam
a troca de calor com o ambiente, detalhe
importante para a realização de resfriamen-
to rápido, dentre outros fatores.
A utilização de caixas de madeira deve
ser evitada, uma vez que, geralmente pos-
suem superfície abrasiva, dimensões ina-
Foto: Embrapa Hortaliças

dequadas para o transporte de tomates,


bem como permitem o acúmulo de micror-
ganismos fitopatogênicos, que servem de
inóculo primário para futuras infecções.

RESFRIAMENTO RÁPIDO
Figura 4 - Tomates no interior de uma casa de embalagem Após a embalagem, os frutos devem ser
NOTA: Processo de secagem de tomate com ar forçado para posterior embalagem. resfriados o mais rápido possível, tendo-
se em vista que, em média, a cada 10°C de
Seleção e classificação Tem-se tornado cada vez mais comum, o elevação de temperatura de armazenamen-
A seleção de frutos visa retirar aqueles uso de máquinas classificadoras de toma- to de um produto, a taxa de deterioração
com danos mecânicos aparentes, lesões tes. Os modelos mais sofisticados, dotados aumenta de duas a três vezes.
ocasionadas por insetos, doenças ou outro de fotocélulas, permitem a classificação, A principal preocupação, em qualquer
fator que possa redundar na redução da além do peso e do calibre, pela coloração processo de resfriamento rápido, reside
qualidade final dos frutos. externa da casca, de acordo com as atuais na determinação do tempo necessário para
Na etapa subseqüente, os frutos são exigências do mercado. que o produto atinja a temperatura de res-
classificados de acordo com parâmetros friamento completo. Assim, parâmetros co-
preestabelecidos pelo comprador. Assim, EMBALAGEM mo “tempo de meio resfriamento” e “tempo
a classificação baseia-se na coloração da Após a classificação, os frutos são em- de 7/8 de resfriamento” devem ser calcula-
casca, peso e diâmetro (calibre) dos frutos. balados em caixas plásticas ou de papelão dos. O tempo de meio resfriamento corres-
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Tomate para Mesa 125

ponde ao tempo necessário para se resfriar trado comprovada capacidade em atrasar o fruto. Tomates no estádio de amadure-
o produto até a temperatura média entre a o amadurecimento e a senescência de di- cimento verde-maduro devem ser armaze-
inicial e a temperatura do meio de resfria- versas frutas, hortaliças e flores, através nados entre 10°C e 13°C e UR entre 90% e
mento (CORTEZ et al., 2002). De maneira da inibição da ação do etileno (REID, 2002). 95%, o que propicia vida de prateleira de
prática, se uma carga de tomates a 30°C, Diversos estudos conduzidos no laborató- duas a cinco semanas. Por outro lado, toma-
colocada numa câmara a 10°C, demora rio de pós-colheita da Embrapa Hortaliças tes maduros devem ser armazenados entre
8 horas para chegar a 15°C, levará outras têm demonstrado a efetividade do produto 8°C e 10°C e UR variando entre 85% e 90%,
8 horas para atingir 7,5°C, e assim por em atrasar o amadurecimento de tomate. propiciando de uma a três semanas de vi-
diante. O tomate ‘Santa Clara’, tratado com da útil para os frutos (CANTWELL, 2002).
Para o resfriamento rápido de tomates, 1.000 μL.L-1 de 1-MCP por 12 horas a 22°C O armazenamento de tomates com predo-
recomenda-se que os frutos sejam resfria- (UR 85%-90%) e posteriormente armazena- minância de coloração vermelha a 10°C
dos até a temperatura de 20°C, caso plane- do a 22±1°C (UR 85% - 90%) por 17 dias, resultou em frutos com sabor e aroma infe-
je o amadurecimento com aplicação de eti- apresentou firmeza 88% superior que à tes- riores, quando comparados a frutos arma-
leno, ou até 12°C para armazenamento e temunha, ao final do período de armazena- zenados a 13°C (MAUL et al., 2000).
transporte posterior. A demora nesta eta- mento. A relação matemática a*/b*, um
pa pode redundar em perda de água, com- indicador da coloração da casca do toma- INJÚRIA PELO FRIO
prometendo a qualidade final dos frutos te, foi 38% menor em frutos tratados com O tomate é sensível à injúria pelo frio,
(CANTWELL & KASMIRE, 2002). 1.000 μL.L-1 do que na testemunha. O to- uma desordem fisiológica que afeta a qua-
mate ‘Santa Clara’ tratado com 250, 500 e lidade dos frutos. A temperatura de arma-
AMADURECIMENTO 1.000 μL.L-1 de 1-MCP teve retardamen- zenamento dependerá, sobretudo, do está-
COM APLICAÇÃO DE ETILENO
to do amadurecimento da ordem de 8 a dio de amadurecimento do tomate. Os
O tomate pode ter o amadurecimento 11, 11 a 13 e 15 a 17 dias, respectivamente sintomas visuais de injúria por frio incluem
acelerado com aplicação de etileno. Os fru- (MORETTI et al., 2001). o aparecimento de pequenas pintas de co-
tos amadurecem satisfatoriamente em tem- Em estudos realizados com tomates em loração escurecida na casca dos frutos,
peraturas entre 12,5°C e 25°C e umidade diferentes estádios de amadurecimento, amadurecimento desuniforme e aumento
relativa (UR) elevada. Quanto mais elevada Araújo et al. (2002) sugerem que o tomate de suscetibilidade a doenças. O escureci-
a temperatura, mais rápido será o amadure- ‘Santa Clara’ seja preferencialmente trata- mento está provavelmente relacionado com
cimento, até certos limites. Temperaturas do com 1.000 μL.L-1 de 1-MCP no estádio a ação da enzima polifenoloxidase sobre
acima de 30°C causam inibição do desen- verde-rosado, à temperatura de 22°C, para compostos fenólicos, liberados do vacúolo
volvimento da cor vermelha em tomates obter a máxima extensão de vida de prate- por ocasião da ocorrência da injúria (WILLS
(síntese de licopeno), em função do blo- leira do fruto. et al., 1998). O tomate ‘Santa Clara’ apre-
queio da síntese de etileno. Em outra série de estudos, Moretti et sentou nítidos sintomas de injúria por frio,
Geralmente, o tomate no estádio verde- al. (2002b) avaliaram a eficiência do 1-MCP quando armazenado a 5oC por sete dias.
maduro é colocado à temperatura de 20°C quando aplicado por diferentes intervalos Tais sintomas tornaram-se mais severos à
(UR em torno de 90%) e sofre tratamento de tempo. O tomate ‘Santa Clara’ foi trata- medida que aumentou-se o tempo de arma-
com 100 μL.L-1 de etileno, de maneira con- do em câmaras herméticas com 1-MCP zenamento para 14 e 21 dias (MOURA,
tínua, por até três dias. Tomates no estádio (1.000 μL.L-1) por 0, 3, 6 e 12 horas e arma- 1999).
de desenvolvimento verde-rosado ou pos- zenado (22±1°C/90-95 UR). O desenvol-
terior (Quadro 2) não necessitam ser sub- vimento da coloração vermelha foi mais DESORDENS FISIOLÓGICAS
metidos ao tratamento com etileno, pois o retardado e a firmeza foi maior em frutos As principais desordens fisiológicas
próprio fruto já produz quantidade sufi- tratados com 1-MCP por 12 horas. O fruto do tomate são:
ciente desse hormônio para induzir o ama- apresentou atraso de até 12 dias no amadu- a) amadurecimento desuniforme: de-
durecimento (CANTWELL; KASMIRE, recimento, em comparação à testemunha, sordem caracterizada pelo apareci-
2002). quando tratado com 1-MCP por 12 horas. mento ao acaso de áreas verdes ou
verde-amareladas sobre a superfície
CONTROLE DO CONDIÇÕES ÓTIMAS DE de frutos vermelhos. Aparentemente
AMADURECIMENTO COM EMPREGO ARMAZENAMENTO
esta desordem está relacionada com
DE 1-METILCICLOPROPENO
As condições ótimas de armazenamen- a disponibilidade de potássio ou ni-
O 1-metilciclopropeno (1-MCP) é um to de tomate dependem, sobretudo, do está- trogênio inorgânico no solo. Áreas
composto análogo do etileno que tem mos- dio de amadurecimento em que se encontra dos frutos que apresentam sintomas
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.121-127, 2003
126 Tomate para Mesa

desta desordem possuem menores estresses mecânicos variados de compres- ocorrência de contaminação cruzada, que
teores de ácidos orgânicos, sólidos são, impacto, abrasão e corte que contri- é caracterizada pela contaminação de frutos
solúveis totais e amido (MORETTI buem para a redução da qualidade final do sadios com inóculos presentes em caixas
et al., 2000); fruto. Os estresses mecânicos provocam infectadas ou mesmo na água de lavagem.
aumento da evolução de etileno e da ativi- A prevenção deste problema pode ser feita
b) queimadura por sol: desordem asso-
dade respiratória, degradação de ácidos através de um programa regular de limpeza
ciada com a excessiva exposição do
orgânicos e pigmentos clorofílicos, acele- e sanitização das instalações e dos utensí-
fruto à luz solar durante o seu de-
ração da síntese, revelação de pigmentos lios de embalagem e de seleção dos frutos,
senvolvimento, causando ruptura
carotenóides e alterações na composição durante a colheita, embalagem e demais
na síntese de licopeno. Como re-
de compostos voláteis que determinam o operações de beneficiamento.
sultado, observa-se o aparecimento
aroma e o sabor do tomate (HONÓRIO; As principais doenças pós-colheita em
de áreas amareladas no tecido afeta-
MORETTI, 2002). tomates são classificadas em bacterianas,
do, que permanecem durante o pro-
Dentre os estresses mecânicos, des- fúngicas e virais. As principais doenças
cesso de amadurecimento;
taca-se a injúria interna de impacto que, bacterianas são as podridões moles causa-
c) podridão estilar: mais conhecida co- visualmente, caracteriza-se pelo aspecto das por Bacillus spp., Erwinia carotovora
mo fundo-preto, é uma desordem turvo e pela coloração amarela no tecido spp., Pseudomonas spp., e Xanthomonas
causada por deficiência mineral. O locular do tomate maduro. Tais mudanças campestris (CONN et al., 1995, BARTZ et
desenvolvimento do fundo-preto são causadas pela alteração no curso nor- al., 1995). As doenças fúngicas mais co-
ocorre em função da deficiência de mal do amadurecimento dos frutos após a muns são mofo-preto (Alternaria solani e
cálcio, quer seja por sua distribuição ocorrência do estresse de impacto. Alternaria alternata), podridão-de-rizopus
insatisfatória no solo, quer seja por Diversos estudos demonstraram que (Rhizopus stolonifer, R. oryzae), antracnose
condições de crescimento que redu- tomates com injúria interna de impacto (Colletrotrichum spp.) e podridão-azeda
zem a translocação deste íon no fru- apresentavam alterações significativas nos (Geotrichum spp.), dentre outras (LOPES;
to. A sintomatologia típica inicia-se níveis de acidez titulável total, extravaza- SANTOS, 1994). A principal doença viral é
com a presença de pequenas regiões mento de eletrólitos, carotenóides totais, o vira-cabeça do tomateiro (tomato spotted
escurecidas na região estilar (distal) vitamina C total, atividade enzimática, con- wilt virus) que induz o amadurecimento de
do fruto, enquanto este ainda apre- sistência (MORETTI et al., 1998), sabor e aspecto mosqueado no fruto (JONES et al.,
senta coloração verde. À medida que aroma (MORETTI; SARGENT, 2000) e na 1991, SNOWDEN, 1992).
a mancha aumenta de tamanho, os concentração de compostos voláteis cha-
tecidos afetados apresentam desi- ves do fruto (MORETTI et al., 2002a). CONSIDERAÇÕES SOBRE A
dratação pronunciada, assumindo COMERCIALIZAÇÃO DE TOMATES
coloração marrom escurecida. A ocor- PATOLOGIA PÓS-COLHEITA
O tomate é normalmente comercializado
rência desta desordem aumenta con-
O tomate está sujeito ao ataque de di- em bancas de supermercados ou feiras li-
sideravelmente quando os níveis de
versos patógenos durante o período pós- vres, dispostos a granel, em pilhas, sem
cálcio no solo estão abaixo de 0,08%.
colheita. Geralmente, as principais doenças separação por estádios de amadurecimen-
Eventualmente, microrganismos se-
pós-colheita desenvolvem-se a partir de fe- to.
cundários colonizam o tecido enfra-
rimentos superficiais ou mesmo durante a Em algumas lojas localizadas em regiões
quecido (MORETTI et al., 2000);
fase de amadurecimento, quando ocorrem de maior poder aquisitivo, os frutos são
d) amadurecimento irregular: esta de- amolecimento da polpa dos frutos e degra- separados por coloração, calibre (tamanho)
sordem, que é caracterizada pelo ama- dação de compostos da parede celular, fa- e, muitas vezes, selecionados e colocados
durecimento irregular e pelo surgi- cilitando a colonização do tecido. em bandejas, envoltas com filme de PVC
mento de tecidos internos esbran- A intensidade de ocorrência de doen- esticável, com quatro a seis unidades, práti-
quiçados, tem sido associada com ças na fase pós-colheita é diretamente pro- cas que agregam valor ao produto. É cada
o ataque de mosca-branca (Bemisia porcional ao período decorrido da colheita vez mais comum a utilização de embalagens
argentifolii) em tomate (HANIF- até o consumo do produto, bem como das de plástico rígido - polietileno tereftalato
KHAN, et al., 1997). condições reinantes nesta fase (LOPES; (PET) - para a comercialização de tomates
SANTOS, 1994). do grupo Cereja e do grupo Cluster (em
ESTRESSES MECÂNICOS penca).
Em casas de embalagem que utilizam
Durante as diferentes etapas do manu- água reciclada ou mesmo embalagens plás- O manuseio dos frutos deve ser feito
seio pós-colheita, o tomate é submetido a ticas sem a devida assepsia, é comum a com cuidado, evitando-se jogar as caixas

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.121-127, 2003


Tomate para Mesa 127

de um lado para outro, bem como obser- Embrapa Agroindústria de Alimentos, 2002. _______; SARGENT, S.A. Alteração de sabor e
vando as faixas de temperatura de armaze- p.231-270. aroma em tomates causada por impacto. Scientia
namento mencionadas neste artigo. Outro Agricola, Piracicaba, v.57, n.3, p.385-388, jul./
HANIF-KHAN, S.; BULLOCK, R.C.; STOFELLA,
ponto importante diz respeito à compati- set. 2000.
P. J.; POWELL, C. A.; BRECHT, J. K.;
bilidade entre produtos durante o trans- MCAUSLANE, H.J.; YOKOMI, R.K. Possible _______; _______; HUBER, D.J.; CALBO, A.G.;
porte e o armazenamento. Assim, não é involvement of altered gibberellin metabolism in PUSCHMANN, R. Chemical composition and
recomendável armazenar ou transportar the induction of tomato irregular ripening in dwarf physical properties of pericarp, locule and pla-
frutas e hortaliças que produzem grandes cherry tomato by silverleaf whitefly. Journal cental tissues of tomatoes with internal bruising.
quantidades de etileno com outras que são of Plant Growth Regulation, Berlin, v.16, n.4, Journal of the American Society for Horti-
sensíveis a este hormônio. O armazena- p.245-251, 1997. cultural Science, Mount Vernon, v.123, n.4,
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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.121-127, 2003


128 Tomate para Mesa

Tomate para mesa:


colheita, classificação e embalagem
Fabiano Ricardo Brunele Caliman 1
Derly José Henriques da Silva 2
Maria Aparecida Nogueira Sediyama 3

Resumo - O mercado varejista, em função da exigência dos consumidores, tem dado


preferência a alimentos de melhor aparência e valor nutricional. A manutenção dessa
qualidade depende, em grande parte, dos cuidados na colheita, classificação e embala-
gem dos produtos. O ponto de colheita é fundamental para a qualidade, devendo-se
evitar colheita de frutos imaturos e em estádio avançado de maturação. Além disso, é
necessário que se estabeleçam padrões de classificação, o que também facilita o processo
de comercialização. Finalmente, a utilização de embalagens adequadas, que realmente
ofereçam proteção ao produto, é fundamental para a preservação da qualidade. Desta
forma, estariam sendo oferecidos ao consumidor produtos de boa qualidade, satisfazendo
seus anseios, além de geração de renda e qualidade de vida ao homem do campo.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum; Qualidade do fruto; Custo de produção; Co-
mercialização.

INTRODUÇÃO forçado, classificados, embalados e envia- ticas organolépticas e nutricionais do to-


A população tem preferido e exigido ali- dos ao seu destino. Esses artifícios visam mate têm chamado a atenção do consumi-
mentos de melhor qualidade para sua ali- conquistar a confiança e a fidelidade do dor, que passa a preferir alimentos mais
mentação. Produtores e atacadistas vêem consumidor no momento da aquisição dos saborosos e que contribuam para a manu-
a necessidade constante de fornecer ali- produtos. tenção da saúde do seu corpo.
mentos de elevado padrão para atender aos Neste artigo serão descritos alguns O sabor de frutos de tomate é atribuído
anseios do consumidor cada vez mais aspectos de qualidade, conceitos e a nor- principalmente aos compostos aromáticos,
atento aos seus direitos. A competitividade matização de classificação de frutos de to- açúcares e ácidos (GRIERSON; KADER,
do mercado globalizado também impõe a mateiro, com o objetivo de fornecer base 1986), sendo uma sensação complexa que
necessidade da qualidade, valorizando-se para padronização do comércio brasileiro, envolve a percepção dos compostos res-
a padronização, classificação, processa- sendo útil também para o Mercosul. ponsáveis pelo gosto e aroma do fruto.
mento e embalagem dos produtos. Jones Junior (1998) classifica o sabor de
QUALIDADE DO FRUTO frutos de tomateiro, com base no teor de
Para o tomate, atacadistas e atravessa-
dores estão investindo em equipamentos A qualidade dos frutos do tomateiro açúcares e na acidez, em: apropriados (alta
para melhorar a qualidade do produto. O para consumo in natura é determinada pela acidez e alto teor de açúcares); ácidos (alta
aspecto visual tem forte apelo ao consumi- aparência (cor, tamanho, forma e presença acidez e baixo teor de açúcares); suave
dor no momento da escolha dos produtos de desordens fisiológicas), firmeza, textura, (baixa acidez e alto teor de açúcares); insí-
que serão levados para casa. Desta forma, teor de matéria seca e propriedades orga- pidos (baixa acidez e baixo teor de açúca-
são utilizadas máquinas que separam os nolépticas (sabor) e nutricionais (DORAIS res).
frutos com defeito, sendo os demais esco- et al., 2001). O valor nutricional dos frutos do to-
vados, lavados, secos por correntes de ar Além do aspecto visual, as caracterís- mateiro torna-os um alimento de grande

1
Engo Agro,Pós-Graduando em Fitotecnia, UFV, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: frcaliman@yahoo.com.br
2
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: derly@ufv.br
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Vila Gianetti, 46, Caixa Postal 216, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: marians@epamig.ufv.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.128-136, 2003


Tomate para Mesa 129

importância para a dieta humana. É a prin- Nos Estados Unidos, a colheita dos fru- do produto. Os padrões servem como refe-
cipal fonte de licopeno, possuindo também tos do tomateiro é realizada quando estes rência ou modelo para que se possa avaliar
consideráveis teores de β-caroteno, vita- ainda encontram-se verdes, sendo então o grau de semelhança ou de afastamento
mina C e minerais como potássio e selê- selecionados, transportados e amadureci- em relação aos outros exemplares do mesmo
nio (DAVIES; HOBSON, 1981, DORAIS et dos com etileno ao chegar no destino final. produto.
al., 2001). A atividade antioxidante desses No entanto, nesse sistema, é comum a co- Por classificação entende-se a compara-
compostos confere-lhes capacidade para lheita de frutos imaturos fisiologicamente, ção do produto com os padrões preestabe-
proteger o organismo humano, capturan- o que compromete o amadurecimento e a lecidos (LUENGO et al., 1999). O julgamento
do radicais livres formados em excesso, os qualidade final. Segundo Kader et al. (1977), obtido dessa comparação é que permite fa-
quais podem desencadear reações que le- frutos colhidos verdes e amadurecidos fo- zer o enquadramento do produto em grupo,
vam ao desenvolvimento de diversas doen- ra da planta não têm a mesma cor e sabor classe e tipo, tornando possível uma inter-
ças (RAO; AGARWAL, 1999). de frutos cuja maturação tenha ocorrido pretação única. O produto classificado é
Há evidências de que o consumo de to- na planta, que são os preferidos pelos con- aquele separado por tamanho, cor e quali-
mate decresce o risco de doenças cardio- sumidores. dade, de modo que obtenham lotes homo-
vasculares, catarata, câncer do trato diges- Para a comercialização de tomate em gêneos e caracterizados de maneira clara e
tivo etc., fato este atribuído principalmente bandejas ou para consumo imediato, a co- mensurável.
à presença de β-caroteno, vitamina C, po- lheita dos frutos pode ser realizada quando
A classificação padronizada do tomate
tássio e selênio (FRANCESCHI et al., 1994, estes atingirem o estádio de cor vermelha
unifica a linguagem do mercado, isto é,
ASCHERIO et al., 1996, FRUSCIANTE (FONTES; SILVA, 2002). No entanto, toma-
produtores, atacadistas, varejistas e consu-
et al., 2000, LEE; KADER, 2000, FENG; tes vermelhos são perecíveis e sensíveis a
midores devem ter os mesmos padrões para
MACGREGOR, 2001). danos, exigindo maior cuidado durante o
determinar a qualidade do produto (Fig. 1).
Como atributos de qualidade dos fru- processo de comercialização.
A seleção, classificação e embalagem
tos destinados à indústria, têm-se a ma- O tomate destinado ao processamento
do tomate para mesa são normatizadas pe-
turação fisiológica, coloração vermelho- deve ser colhido com coloração vermelho-
la Portaria no 553 (BRASIL, 1995) do Minis-
intensa e uniforme, ausência do pedúnculo intensa e uniforme (GIORDANO et al.,
tério da Agricultura, do Abastecimento e
e outras impurezas, ausência de danos me- 2000). Neste estádio, para a maioria das cul-
da Reforma Agrária (Mara).
cânicos, fisiológicos e de pragas e doenças tivares tem-se o máximo acúmulo de açú-
(GIORDANO et al., 2000). cares (principalmente glicose e frutose), os
quais representam, em média, 65% dos só- Normas de identificação,
COLHEITA lidos solúveis (oBrix), sendo os principais qualidade, acondicionamento,
responsáveis pela consistência do produ- embalagem e apresentação
Decorrem-se, normalmente, cerca de 50 to processado, bem como pelo rendimento do tomate de acordo com a
a 65 dias do início do florescimento à matu- industrial, principalmente quando o obje- Portaria n o 553 do Mara
ração, e, dependendo da época do ano e tivo é a desidratação e/ou concentração
da cultivar, a colheita inicia-se aos 85 a 125 1.0 - OBJETIVO
da polpa (CARVALHO, 1980, DAVIES;
dias após o semeio (FONTES; SILVA, 2002). HOBSON, 1981). Esta Norma tem por objetivo definir as
O ponto de colheita é um dos fatores características de identidade, qualidade,
que definem a vida pós-colheita e o proces- CLASSIFICAÇÃO acondicionamento, embalagem e apresen-
so de amadurecimento dos frutos do toma- tação do tomate destinado ao consumo
teiro, interferindo diretamente na qualida- Produtos agrícolas são caracterizados in natura, a ser comercializado entre os
de do produto que chega ao consumidor por uma série de atributos qualitativos e países membros do Mercosul, bem como
(MOURA et al., 1999). quantitativos. Os quantitativos referem-se no mercado interno. Esta Norma não se
A colheita de tomate para mesa ge- ao tamanho e ao peso. Os qualitativos dizem aplica ao consumo industrial.
ralmente é realizada quando os frutos respeito à forma, turgidez, coloração natu-
encontram-se no estádio de verde maduro ral, grau de maturação, sinais de danos me- 2.0 - DEFINIÇÕES
ou verde-cana. A maior resistência a danos cânicos, fisiológicos, de pragas, presença 2.1 - Tomate
mecânicos proporciona maior período de de resíduos de produtos químicos e sujeira É o produto pertencente à espécie
conservação pós-colheita, característica (CEAGESP, 2003). Lycopersicon esculentum Mill.
desejável, já que o transporte da lavoura No processo de classificação de pro-
até o mercado consumidor geralmente é dutos agrícolas, é necessário que se criem 2.2 - Defeitos graves
realizado sob condições desfavoráveis de padrões, que são modelos estabelecidos Podridão, passado, queimado, dano por
conservação. em função dos limites dados aos atributos geada e podridão apical.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.128-136, 2003


130 Tomate para Mesa

qualquer que seja sua origem. Considera-


se defeito quando a parte afetada supera
10% (dez por cento) da superfície do fru-
to.

2.3.3 - Ocado
Fruto que apresenta vazios, em função
do mau desenvolvimento do conteúdo
locular.

2.3.4 - Deformado
Alteração da forma característica da
variedade ou cultivar.

2.3.5 - Imaturo
Fruto que não alcançou o estádio de ma-
turação ideal ou comercial, ou seja, quando
ainda não é visível o início de amareleci-
mento na região apical do fruto.

3.0 - CLASSIFICAÇÃO

3.1 - O tomate será classificado em:


Grupos: de acordo com o formato do
fruto.
Subgrupos: de acordo com a coloração
do fruto.
Classes ou calibres: de acordo com o
tamanho do fruto.
Tipos ou graus de seleção ou cate-
gorias: de acordo com a qualidade do fru-
to.
Figura 1 - Classificação de frutos de tomate em grupos, cores e calibres
FONTE: Brasil (1995). 3.1.1 - Grupos
De acordo com o formato do fruto, o to-
2.2.1 - Podridão tência e zonas necrosadas provocadas pela mate será classificado em 2 (dois) grupos:
Dano patológico e/ou fisiológico que ação da geada. Oblongo: quando o diâmetro longitu-
implique em qualquer grau de decompo- dinal for maior que o transversal.
2.2.5 - Podridão Apical
sição, desintegração ou fermentação dos Redondo: quando o diâmetro longitu-
tecidos. Dano fisiológico caracterizado por ne- dinal for menor ou igual ao transversal.
crose seca na região apical do fruto. Con-
2.2.2 - Passado sidera-se defeito quando a lesão superar 1 3.1.2 - Subgrupos
Fruto que apresenta um avançado está- cm2 (um centímetro quadrado). De acordo com a coloração do fruto,
dio de maturação ou senescência, carac- em função do seu estádio de maturação, o
terizado principalmente pela perda de fir- 2.3 - Defeitos Leves tomate será classificado em 5 (cinco) sub-
meza. Dano, mancha, ocado, deformado e grupos:
imaturo. a) verde maduro: quando se evidencia
2.2.3 - Queimado
2.3.1 - Dano o início de amarelecimento na região
Fruto que apresenta zona de cor mar-
Lesão de origem mecânica, fisiológica apical do fruto;
rom, provocada pela ação do sol, atingindo
ou causada por pragas. b) pintado (de vez): quando as cores
a polpa.
amarela, rosa ou vermelha encontram-
2.2.4 - Dano por Geada 2.3.2 - Mancha se entre 10 (dez) e 30 (trinta) por cen-
Fruto que apresenta perda de consis- Alteração na coloração normal do fruto, to da superfície do fruto;

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.128-136, 2003


Tomate para Mesa 131

c) rosado: quando 30% a 60% do fruto 3.1.3.1.1 - Tolera-se a mistura de toma- não nas transações comerciais entre os
encontra-se vermelho; tes pertencentes a classes diferentes, des- países membros do Mercosul ou nas impor-
d) vermelho: quando o fruto apresenta de que a somatória das unidades não tações de outros países, onde será obser-
entre 60% e 90% da sua superfície supere a 10% (dez por cento) e pertençam vado o estabelecido na alínea 3.1.6.2.
vermelha; e à classe imediatamente superior e ou infe-
3.1.8 - Não se autorizará o rebeneficia-
rior. O número de embalagens, que superar
e) vermelho maduro: quando mais de mento e/ou reclassificação dos lotes de to-
a tolerância para mistura de classes, não
90% da superfície do fruto encontra- mates que apresentarem índices de podri-
poderá exceder a 20% (vinte por cento)
se vermelha. dões acima de 10% (dez por cento).
das unidades amostradas.
3.1.9 - Será “Desclassificado” e proibi-
3.1.2.1 - Permite-se numa mesma em- 3.1.4 - Tipos ou graus de seleção ou
da a comercialização de todo tomate que
balagem até três colorações consecutivas. categorias: de acordo com os índices de
apresentar uma ou mais das características
ocorrência de defeitos na amostra, o toma-
3.1.2.2 - Admite-se até 20% (vinte por abaixo discriminadas:
te será classificado nos tipos ou categorias
cento) de embalagens que excedam as três a) resíduos de substâncias nocivas à
estabelecidos na Tabela III.
colorações consecutivas. saúde acima dos limites de tolerân-
3.1.5 - Requisitos gerais cia admitidos no âmbito do Mer-
3.2.3 - Classes ou Calibres
Os tomates deverão apresentar as ca- cosul.
De acordo com o maior diâmetro trans-
racterísticas da cultivar bem definidas, se- b) mau estado de conservação, sabor e/
versal do fruto, o “Tomate oblongo” será
rem sãos, inteiros, limpos e livres de umi- ou odor estranho ao produto.
classificado em 3 (três) classes, conforme
dade externa anormal.
Tabela I.
4.0 - EMBALAGENS
3.1.6 - O lote de tomate que não atender
Tabela I aos requisitos previstos nesta Norma será Os tomates deverão ser acondicionados
classificado como “Fora do Padrão”, poden- em embalagens novas, limpas, secas e que
CLASSES MAIOR DIÂMETRO
do ser: não transmitam odor ou sabor estranhos ao
OU TRANSVERSAL DO FRUTO
produto, devendo conter até 22 (vinte e
CALIBRES (mm) 3.1.6.1 - Comercializado como tal, des-
dois) quilogramas de tomates, exceção feita
Grande Maior que 60 de que perfeitamente identificado em lo-
àquelas destinadas ao acondicionamento
cal de destaque e de fácil visualização.
Médio Maior que 50 até 60 do tomate Cereja que deverão ter capaci-
Pequeno Maior que 40 até 50 3.1.6.2 - Rebeneficiado, desdobrado, re- dade para até 4 (quatro) quilogramas.
composto, reembalado, reetiquetado e re-
4.1 - Adimite-se até 8% (oito por cento)
classificado, para efeito de enquadramento
a mais e 2% (dois por cento) a menos do
3.1.3.1 - O “Tomate redondo” com exce- na Norma.
peso indicado.
ção do Lycopersicon esculentum, varie- 3.1.7 - O disposto no item 3.1.6.1, aplica- Permite-se até 20% (vinte por cento)
dade ceraciforme (cereja), de acordo com se única e exclusivamente à comercia- de embalagens que superem a tolerância
o maior diâmetro transversal do fruto, será lização do tomate no mercado interno, e estabelecida para peso.
classificado em 4 (quatro) classes conforme
o estabelecido na Tabela II.
Tabela III
Limites máximos de defeitos por tipo, expressos em porcentagem de unidades da amostra
Tabela II
TOTAL
CLASSES MAIOR DIÂMETRO DEFEITOS GRAVES
DE DEFEITOS
OU TRANSVERSAL DO FRUTO
Tipos Dano Podri-
CALIBRES (mm) Podri- Queima-
Passado por dão Leves Graves
Gigante Maior que 100 dão apical do
geada
Grande Maior que 80 até 100 Extra 0 1 1 1 1 2 5
Médio Maior que 65 até 80
Categoria I ou
Pequeno Maior que 50 até 65 Especial ou
Nota: Em ambos os Grupos, a diferença en- Selecionado 1 3 2 1 2 4 10
tre o diâmetro do maior fruto e o menor não
Categoria II ou
poderá exceder a 15 mm, em cada embala-
Comercial 2 5 4 2 3 7 15
gem.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.128-136, 2003


132 Tomate para Mesa

5.0 - MARCAÇÃO OU ROTULAGEM 6.0 - ACONDICIONAMENTO E contadas a partir do término da análise de


As embalagens deverão ser rotuladas TRANSPORTE amostra. E, neste caso, procede-se uma
ou etiquetadas, em lugar de fácil visuali- 6.1 - Os tomates deverão ser embalados nova amostragem e análise.
zação, contendo no mínimo as seguintes em locais cobertos, secos, limpos, ventila- 7.1.5 - Especificamente, para o mercado
informações: dos, com dimensões de acordo com os vo- interno, e em se tratando da comercializa-
- nome do produto lumes a serem acondicionados e de fácil ção do tomate no varejo, quando embalado,
- nome da cultivar higienização, a fim de evitar efeitos preju- independentemente do peso ou tamanho
- grupo (*) diciais à qualidade e conservação dos mes- do volume, a tomada de amostra no lote
- classe ou calibre (*) mos. dar-se-á também de acordo com a Tabela
- tipos ou categoria (*) IV desta Norma, e todos os volumes amos-
6.2 - O transporte deve assegurar uma
- peso líquido (*) trados serão analisados. E, neste caso, o
conservação adequada ao produto.
- nome e domicílio do importador (*), cálculo dos percentuais de defeitos porven-
(**) 7.0 - AMOSTRAGEM tura encontrados será efetuado através da
- nome e domicílio do embalador (*), A tomada da amostra do lote será feita relação entre peso dos frutos com defeitos
(**) de acordo com o Regulamento do Mercosul e peso dos frutos amostrados.
- nome e domicílio do exportador (*), específico para amostragem. No entanto, 7.1.6 – Também, exclusivamente para
(**) até que este seja definido, a amostragem o mercado interno, quando se tratar de pro-
- país de origem será feita de acordo com o estabelecido na duto a granel, comercializado no varejo,
- zona de produção Tabela IV. retira-se 100 (cem) frutos ao acaso, para
- data do acondicionamento (*), (**) constituir a amostra de trabalho. Quando
(*) Admite-se o uso do carimbo ou eti- TABELA IV o lote for inferior a 100 (cem) frutos, o pró-
quetas auto-adesivas para indicar prio lote constituir-se-á na amostra a ser
Número de Número mínimo
essas informações. analisada. E, neste caso, a determinação
unidades que de unidades
(**) Optativo, de acordo com os regula- dos percentuais de defeitos será feita pelo
compõem o lote a retirar
mentos de cada país. número de frutos.
1 a 10 1 unidade
5.1 - Em se tratando de produto nacional 8.0 - CERTIFICADO DE
11 a 100 2 unidades
para a comercialização no mercado inter- CLASSIFICAÇÃO
101 a 300 4 unidades
no, as informações obrigatórias serão as O Certificado de Classificação, quando
seguintes: 301 a 500 5 unidades solicitado, será emitido pelo Órgão Oficial
- identificação do responsável pelo pro- 501 a 10.000 1% do lote de Classificação, devidamente credencia-
duto (nome, razão social e endereço); mais de 10.000 raiz quadrada do nú- do pelo Ministério da Agricultura, do Abas-
- número do registro do estabelecimen- mero de unidades do tecimento e da Reforma Agrária, de acordo
to no Ministério da Agricultura, do lote com a legislação específica, devendo cons-
Abastecimento e da Reforma Agrá- tar neste todos os dados da classificação.
ria; 8.1 - Os dados relativos à classificação,
7.1 - Obtenção da Amostra de Trabalho
- origem do produto; constantes do Certificado terão validade
7.1.1 - No caso de obter um número de
- grupo; apenas para a data da emissão do mesmo.
unidades entre 1 e 4, homogeneíza-se o con-
- classe;
teúdo das embalagens e extrai-se 100 (cem) 9.0 - FRAUDE
- tipo;
frutos ao acaso para constituírem-se na amos- Será considerada fraude toda alteração
- peso líquido; e tra a ser analisada. dolosa de qualquer ordem ou natureza pra-
- data do acondicionamento. ticada na classificação, na embalagem, no
7.1.2 - Para 5 ou mais unidades, retira-
se no mínimo 30 (trinta) frutos de cada, os acondicionamento, no transporte, bem
5.1.1 - Na comercialização feita no va-
quais serão homogeneizados, donde serão como nos documentos de qualidade do pro-
rejo e a granel, o produto exposto deverá
extraídos 100 (cem) frutos para análise. duto, conforme legislação específica.
ser identificado em lugar de destaque e de
fácil visualização, contendo no mínimo as 7.1.3 - O restante dos frutos será devol- 10.0 - DISPOSIÇÕES GERAIS
seguintes informações: vido ao interessado, inclusive a amostra
É de competência exclusiva do Órgão
- identificação do responsável pelo pro- de trabalho, quando solicitada.
Técnico do Ministério da Agricultura, do
duto; 7.1.4 - O interessado terá direito de con- Abastecimento e da Reforma Agrária,
- classe; e testar o resultado da classificação, num resolver os casos omissos porventura
- tipo. prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas, surgidos na aplicação desta Norma.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.128-136, 2003


Tomate para Mesa 133

A classificação do tomate para indús-


tria tolera a presença de frutos com defeito
dentro dos limites estabelecidos pela Por-
taria no 278 (BRASIL, 1989), do Ministério
da Agricultura e do Abastecimento (Qua-
dro 1).

QUADRO 1 - Classificação do tomate para pro-


cessamento industrial
Exigência Tolerância
Tipo mínima máxima de
de frutos bons defeitos graves
(%) (%)
Especial 50 0 a 10

Standard 40 10 a 20
Utilizável I 40 20 a 25

Utilizável II 40 25 a 30

Utilizável III 40 30 a 35
Utilizável IV 40 35 a 40
FONTE: Brasil (1989).

Segundo essa Portaria, são classifica-


dos como defeitos graves: fruto verde (mais
de 50% da superfície verde), bichado ou
brocado, mofado, desintegrado e pequeno
(diâmetro horizontal ≤ 15 mm); e como de-
feitos gerais: fruto descolorido (coloração
amarela), com rachadura superficial ou
Figura 2 - Classificação de frutos de tomate com defeitos
lesionado, murcho, com coloração preta e
FONTE: Brasil (1995).
com pedúnculo (Fig. 2 e Quadro 2).

QUADRO 2 - Limites de tolerância de defeitos graves e leves para cada categoria de qualidade, segundo
EMBALAGEM
a classificação
Manter a qualidade dos frutos é tare- Classificação
Defeitos graves
fa que exige cuidados desde a colheita até
(%) Extra Categoria I Categoria II Categoria III
o consumidor final. A conservação dessa
(1)
qualidade exige uma embalagem que ofe- Podridão 0 1 2 20
reça proteção, boa apresentação, informa- Passado 1 3 5 20
ções sobre o produto, racionalização do Dano por geada 1 2 4 20
transporte e armazenagem, que seja reci- Podridão apical 1 1 2 20
clável e que tenha baixo custo. Os tomates Queimado 1 2 3 20
devem ser acondicionados em embalagens Dano profundo 1 2 3 20
novas, paletizáveis, limpas, secas e que não
transmitam sabor ou odor estranho aos fru- Total graves 2 4 7 20
tos, pesando até 22 kg de produto. A emba- Total leves 5 10 15 100
lagem deve ser desenvolvida de modo que Total geral 5 10 15 100
ela se adapte ao produto e não o produto à FONTE: Ceasa-MG (2003).
caixa. (1) Acima de 10% de podridão, o tomate não poderá ser reclassificado.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.128-136, 2003


134 Tomate para Mesa

A grande maioria do comércio de hor- cados e que podem pagar mais pelo pro- forme apresentado no Quadro 1 e Figura 1.
taliças é realizado em embalagens não adap- duto.
tadas à sua devida finalidade. No Brasil, a No Brasil, é crescente o uso de bandejas COMERCIALIZAÇÃO
embalagem mais utilizada é a caixa ‘K’ de e caixas especiais de papelão para atender Do produtor ao consumidor final, o
madeira com até 22 kg de produto. Sua su- às redes de alimentação rápida (fast-foods), tomate passa, no mínimo, por duas etapas
perfície áspera e acabamento grosseiro oca- lojas de conveniência e, em alguns casos, de comercialização. Raramente seu comér-
sionam consideráveis perdas no período supermercados, no segmento de tomate do cio é realizado diretamente entre produtor
compreendido entre a embalagem e o con- grupo Cereja e do grupo Salada. e consumidor. A cadeia de comercialização
sumo final. Para o mercado do tomate do grupo Ce- do tomate segue o fluxo: produtor → ataca-
Honório e Abrahão (1999) destacam a reja, não há padronização para classificação dista → varejista → consumidor, podendo
importância da embalagem respeitar as ca- e embalagem. No entanto, é comum a comer- ainda haver comercialização entre ataca-
racterísticas do produto que nela será acon- cialização em bandejas semelhantes às uti- distas, aumentando a intermediação.
dicionado. Além disso, deve oferecer re- lizadas para morango in natura. Alguns A flutuação nos preços pagos ao pro-
sistência mecânica que facilitará todo o mercados utilizam cestas com 3 a 4 kg de dutor é função da oferta do produto e da
processo de transporte e ter ainda configu- frutos (FONTES; SILVA, 2002). capacidade do mercado em absorver esse
ração interna que não seja agressiva ao volume (FILGUEIRA, 2000). Geralmente os
produto como frestas bem dimensionadas, ROTULAGEM melhores preços são conseguidos nos me-
ângulos internos adequados e não retos, As embalagens deverão ser rotuladas ses de abril e maio (FONTES; SILVA, 2002).
sem rugosidade excessiva etc. ou etiquetadas em lugar de fácil visualiza- Nessa época (primavera-verão), os plantios
Injúrias físicas, provocadas por impac- ção e de difícil remoção, permitindo a iden- enfrentam condições climáticas desfavo-
tos ou compressão, são as principais cau- tificação do produto e do produtor, ajudan- ráveis, resultando em menor produção e
sadoras de perdas na comercialização. do a tomada de decisão do consumidor na oferta do tomate. Ao contrário, nos plan-
A Embrapa Hortaliças lançou no ano hora da compra dos seus produtos. tios de outono-inverno, as condições cli-
de 1999 a caixa ‘K’ de plástico rígido. Essa As informações básicas que devem máticas são favoráveis resultando em maior
embalagem comporta menor número de fru- constar no rótulo, em se tratando de pro- oferta do produto nos meses de julho a
tos, possui superfície lisa e dispositivos duto nacional para comercialização no mer- outubro, com tendência de menores pre-
de encaixe para empilhamento. Não é tam- cado interno, são as seguintes: ços.
pada e, por dentro, tem os cantos arredon- O cultivo do tomate em ambiente prote-
a) identificação do responsável pelo pro-
dados para manter íntegra a superfície dos gido pode proporcionar produção nas épo-
duto (nome, razão social e endereço);
frutos. Comporta cerca de 13 kg de frutos, cas em que as condições ambientais são
apresentando a vantagem de ser retornável, b) número do registro do estabelecimen- desfavoráveis e os preços são melhores.
o que reduz o custo de embalagem. Apesar to no Ministério da Agricultura, No entanto, requer maior investimento e
das vantagens, sua adoção ainda apre- Pecuária e Abastecimento (Mapa); conhecimento técnico que os cultivos tra-
senta resistência por parte dos produtores c) origem do produto; dicionais.
e comerciantes em função do elevado cus- d) grupo;
to de aquisição, agregando custo para o CUSTO DE PRODUÇÃO
e) classe; DO TOMATE
produtor que nem sempre é repassado ao
consumidor. f) tipo; A cultura do tomateiro apresenta alto
Também são utilizadas caixas de pape- g) peso líquido; risco em função da sensibilidade das plan-
lão ondulado, que são higiênicas, descar- h) data do acondicionamento. tas às condições ambientais adversas. Além
táveis e podem ser reaproveitadas pela No comércio varejista e a granel, o pro- disso, necessita de considerável investi-
indústria de papel e papelão. duto exposto deverá ser identificado em mento em função da demanda de mão-de-
No mercado europeu, cerca de 20% a lugar de destaque e fácil visualização, con- obra e de insumos de elevado valor comer-
40% da produção de tomate em casa de ve- tendo no mínimo as seguintes informações: cial. É necessário, portanto, planejar mi-
getação tem sido colhida e comercializada nuciosamente a implantação desta cultura
a) identificação do responsável pelo
na forma de pencas, e na América do Norte para o sucesso do empreendimento. Desta
produto;
esse valor atinge 10% da produção total em forma, está apresentado no Quadro 3, o
b) classe; custo de produção de um hectare de toma-
casa de vegetação (DORAIS et al., 2001).
Essa pode ser uma boa opção de agrega- c) tipo. teiro, com o objetivo de oferecer subsídios
ção de valor ao produto que, neste tipo de As normas de rotulagem detalhadas técnicos e econômicos à produção de to-
embalagem, visa mercados mais sofisti- são estabelecidas pela Portaria no 553, con- mate.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.128-136, 2003
Tomate para Mesa 135

QUADRO 3 - Coeficientes técnicos e custo de produção (US$/ha) de 1,0 ha de tomateiro estaqueado - São Paulo, 2000

2.500 cx 24 kg.ha-1 2.500 cx 24 kg.ha-1


Descrição Especificação Quanti- Descrição Especificação Quanti-
Valor Valor
dade dade
A - Operações B - Operações manuais
Preparo do solo Tratos culturais
Aração (2x) h/m Tp 61 cv. 4x2 + Adubação básica d/H 1,00 8,11
arado de disco 3x28’’ 4,00 35,84 Adubação de esterco d/H 0,50 4,05
Desbrota d/H 20,00 162,16
Gradeação (2x) h/m Tp 61 cv. 4x2 +
Adubação em cobertura d/H 20,00 162,16
grade niveladora 1,00 8,98
Pulverização d/H 20,00 162,16
Subsolagem h/m Tp 61 cv. 4x2 + Capinas manuais d/H 30,00 243,24
subsolador 1 haste 1,00 8,75
Colheita
Calagem h/m Tp 61 cv. 4x2 +
Colheita e classificação d/H 50,00 405,41
distribuidor de
calcário 2.3 m3 1,00 9,70 Irrigação
Irrigações d/H 20,00 162,16
Sulcamento h/m Tp 61 cv. 4x2 +
sulcador de 1 linha 2,00 17,50 Subtotal B 1.801,22
Tratos culturais C - Insumos
Adubação básica h/m Tp 61 cv. 4x2 + Fertilizantes/Corretivos
cultivador/adubador 3,00 27,18 Corretivos US$/t 5,00 48,56
Aplicação de esterco h/m Tp 61 cv. + Fertilizante plantio US$/t 8,55 695,29
esparramador de esterco 2,00 21,40 Fertilizante cobertura US$/t 1,25 274,33
Adubação em cobertura h/m Tp 61 cv. 4x2 +
Sementes/Material de
carreta 4 t 0,50 4,41
plantio
Pulverização h/m Tp 61 cv. 4x2 + Sementes/Mudas US$/t 0,01 108,00
pulverizador de barras Outros materiais
12 m de capacidade 11,20 106,96 para plantio US$/dz./unti./kg 2.100 3.335,49
Colheita
Defensivos agrícolas
Colheita e classificação h/m Tp 61 cv. 4x2 +
Fungicidas US$/kg/L 33,00 404,15
carreta 4 t 25,00 220,25
Herbicidas US$/L 3,00 49,46
Irrigação
Inseticidas US$/L 11,00 172,04
Irrigações Equipamento de
Outros prod. químicos US$/L 6,00 13,56
irrigação 1,00 102,79
Subtotal A 536,75 Subtotal C 5.100,96

B - Operações manuais D - Administração


Viveiro Arrendamento US$/ha 1,00 162,16
Semeadura/bandeja Assistência técnica % Subtotal (A+B+C) 1,5% 111,99
128 células d/H 1,25 10,14 Contabilidade/Escritório % Subtotal (A+B+C) 1,0% 74,66
Desbaste d/H 1,90 15,41 Viagens % Subtotal (A+B+C) 2,5% 186,65
Irrigação d/H 2,50 20,27 Impostos/Taxas % Receita 2,9% 274,32

Preparo do solo Subtotal D 809,78


Calagem d/H 1,00 8,11 Custo total (US$/ha) 8.275,71
Plantio Custo total (US$/cx 24 kg) 3,31
Transplantio d/H 4,00 32,43 Receita (US$/ha) 9.459
Estaqueamento d/H 20,00 162,16 Resultado (US$/ha) 1.183,75
Amontoa d/H 10,00 81,08 Margem sobre a venda 12,5%
Amarração d/H 20,00 162,16 Região de referência SP
FONTE: Agrianual (2001).
NOTA: h/m Tp 61 cv. - hora/máquina de trator de pneu com potência de 61 cavalos; d/H - dia/Homem.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.24, n.219, p.128-136, 2003


136 Tomate para Mesa

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