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CIRCULAR TÉCNICA

Nº38 / 2018

Setembro de 2018
Publicação periódica
de difusão cientí-
fica e tecnológica
editada pelo Instituto
Mato-grossense do
Algodão (IMAmt) e
dirigida a profissio-
nais envolvidos com
o cultivo e beneficia-
mento do algodão.

Diretor executivo
Álvaro Salles

Contato
www.imamt.com.br

Email
publicacoesimamt@
imamt.org.br

Tiragem
2000

Visão geral parcela de ensaio manejada com herbicidas (dessecação / pré-emergente) x testemunha
auxiliar na cultura do algodão. (Foto: Edson Andrade Junior)

Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)


em Mato Grosso: resistência a herbicidas
inibidores da ACCase e indicação
(1) Pesquisador do
Instituto Mato-
de sítios de ação alternativos
-Grossense do
Algodão, Prima- Edson R. de Andrade Junior1, Anderson Luis Cavenaghi2, Sebastião Carneiro Guimarães3,
vera do Leste-MT.
Email: edsonju- Leonardo Bitencourt Scoz4
nior@imamt.org.br

(2) Professor do O capim-pé-de-galinha (Eleusine indica (L.) Unidos até a Argentina; e, no Brasil, em qua-
UNIVAG - Centro Gaertn) é uma planta diploide, monocoti- se todo o território. Tem sido relatada como
Universitário, Vár-
zea Grande – MT. ledônea da família Poaceae (Gramineae), planta daninha em mais de 60 países e mais
Email: alcavena- anual, cespitosa, ereta ou semiprostrada, de 50 culturas, sendo hospedeira de diversos
ghi@uol.com.br com aproximadamente 30-70 cm de altura, agentes patogênicos que também atacam
(3) Professor da autógama, com ciclo fotossintético do tipo plantas cultivadas, como Helminthosporium
Universidade C4 e reprodução via sementes, com produ- spp., Meloidogyne incognita, Rotylenchus re-
Federal de Mato ção média de 40 mil sementes por planta. niformis e Pratylenchus pratensis.
Grosso, Cuiabá,
MT. É citada como nativa da África e regiões Pouco exigente em relação ao tipo de solo,
temperadas e tropicais da Ásia, mas encon- tolera ampla faixa de pH, mostra-se competiti-
(4) Instituto Ma-
to-Grossense do
trada em praticamente todas as regiões tro- va principalmente em solos pobres e apresen-
Algodão, Rondo- picais, subtropicais e temperadas do mun- ta bom desenvolvimento em solos compacta-
nopolis, MT. do. Nas Américas, ocorre desde os Estados dos (servindo como indicador dessa situação).
O estado de Mato Grosso possui cerca da ammonium-glufosinate, o qual não tem
de 250 produtores de algodão, que na sa- boa ação sobre a espécie. Porém, nos últi-
fra 2017/2018 cultivaram 795 mil hectares, mos anos, houve aumento das reclamações
e entre outros problemas vêm enfrentando por falta de controle por parte desses herbi-
aumento de áreas com resistência de plantas cidas. Embora as cultivares de algodão, soja
daninhas a herbicidas. Entre as espécies de e milho resistentes ao glyphosate possam
plantas daninhas mais frequentes em lavou- ser alternativa para o manejo do capim-
ras anuais, a importância do capim-pé-de-ga- -pé-de-galinha, já há biótipos dessa planta
linha aumentou nos últimos anos em função daninha resistentes a glyphosate em vários
de falhas constantes na eficácia de controle países, inclusive no Brasil. Assim, pesquisas
com herbicidas inibidores da ACCase, o que são necessárias como suporte às ações de
tem resultado em infestações intensas em prevenção, identificação e manejo de bió-
áreas de cultivos de soja, algodão e milho. tipos de E. indica resistentes a herbicidas
Os herbicidas inibidores da ACCase têm inibidores da ACCase na cultura algodoeira,
sido amplamente utilizados para controlar sob pena de comprometimento da lucrati-
E. indica na maioria das áreas com cultiva- vidade, e até mesmo de inviabilização do
res convencionais ou resistentes ao herbici- cultivo em áreas altamente infestadas.

Figura 1.
Capim-pé-de-
-galinha, planta
adulta. (Foto:
Edson Andrade
Junior)

Figura 2.
Detalhe inflo-
rescência de
capim-pé-de-
-galinha. (Foto:
Edson Andrade
Junior)
SITUAÇÃO E RESISTÊNCIA DE e UFMT, iniciaram um projeto de monitoramento no
CAPIM-PÉ-DE-GALINHA EM MATO GROSSO qual foram realizadas coletas de amostras de semen-
tes de plantas daninhas nessas áreas entre os anos de
Com base no histórico e no grande número de re- 2012 e 2016. Essas coletas ocorreram em todos os nú-
clamações de falhas de controle de diferentes espécies cleos de produção de algodão de Mato Grosso, uma
de plantas daninhas nas áreas algodoeiras do Estado vez que reclamações de falhas foram provenientes de
de Mato Grosso, o IMAmt, em parceira com a UNIVAG diversos municípios do Estado (Figura 3).

Figura 3. Núcleos de produção algodoeira do Estado de Mato Grosso (Ampa, 2017).

Dentre as espécies coletadas, o capim-pé-de-gali- mentes maduras de 20-30 plantas sadias, as quais fo-
nha chamou atenção pela dificuldade de controle re- ram acondicionadas em sacos de papel devidamente
latada pelas propriedades visitadas. etiquetados, e depois transportados para o Campo
Desta forma, as amostras foram coletadas em áreas Experimental do IMAmt, localizado no município de
nas quais as plantas de capim-pé-de-galinha haviam Primavera do Leste, Mato Grosso.
sobrevivido a pelo menos uma aplicação de tratamen- Após limpeza, essas amostras foram armazenadas
to com herbicida contendo inibidores da ACCase, ten- em ambiente seco e temperatura ambiente (25-30°C)
do sido descartada a hipótese de falhas de controle até o uso. Na Tabela 1 encontra-se o número de pontos
por outras causas. Em cada área foram coletadas se- de coleta das amostras, separadas por região e ano.
Tabela 1. Número de amostras de capim-pé-de-galinha com suspeita de resistência a herbicidas
inibidores da ACCase, coletadas de 2012 a 2016, nos núcleos de produção algodoeira de Mato
Grosso.

Número de amostras coletadas por núcleo de produção algodoeira

Ano de Centro- Médio-


Sul Centro Norte Noroeste Total
coleta -Leste -Norte

2012 8 13 12 - - - 33

2013 - - - 23 14 16 53

2014 6 7 6 6 5 11 41

2015 7 11 4 5 9 12 48

2016 11 11 10 12 8 5 57

Total 32 42 32 46 36 44 232

Para o teste de resistência foi adotado o realizada aos 21 DAA os biótipos foram clas-
delineamento experimental em blocos ao sificados em:
acaso, com quatro repetições, sendo a uni-
dade experimental formada por um vaso • Suscetíveis: quando controlados (nota
plástico contendo 5 kg de solo de barranco, média igual ou superior a 80%) por am-
sem contaminantes, e de cinco a oito semen- bas as doses do ingrediente ativo inibi-
tes. Cada amostra e um biótipo reconheci- dor da ACCase
damente suscetível foram submetidos a seis
tratamentos: testemunha (sem aplicação); • Intermediários: quando controlados
dose recomendada dos dois herbicidas em apenas pela dose dobrada do ingredien-
avaliação; dose dobrada dos dois herbicidas te inibidor da ACCase
em avaliação e um tratamento-padrão com • Resistentes: quando não controlados
eficácia comprovada sobre a espécie, mas (nota média inferior a 80%) pelas duas
com sítio de ação distinto da ACCase. doses do ingrediente ativo inibidor da
Os tratamentos herbicidas foram aplica- ACCase
dos quando as plantas possuíam 1-2 perfi-
lhos; os ingredientes ativos avaliados foram
clethodim e tepraloxydim (ambos do grupo Na Figura 4 encontra-se a porcentagem
dos herbicidas inibidores da ACCase) nas das amostras de capim-pé-de-galinha coleta-
doses de 108g e 104g do i.a./ha (dose reco- das em áreas algodoeiras de Mato Grosso nos
mendada) e nas doses de 216g e 208g do i.a./ anos de 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016, clas-
ha (dose dobrada); o produto-padrão de ou- sificadas como resistentes, intermediárias e
tro sítio de ação foi o glyphosate (herbicidas suscetíveis aos herbicidas clethodim e tepra-
do grupo dos inibidores da EPSPS), na dose loxydim. Ressalta-se que as amostras foram
de 720g do e.a./ha. Os inibidores de ACCa- coletadas em áreas com histórico de falhas
se utilizados foram escolhidos por serem os no controle de capim-pé-de-galinha com
mais utilizados pelos produtores de algodão herbicidas inibidores da ACCase e, por isso,
na época do início das coletas. As avaliações não representam toda a população da espé-
de controle foram realizadas aos 14 e 21 dias cie nas áreas algodoeiras de Mato Grosso. To-
após a aplicação dos tratamentos (DAA), atri- dos os biótipos classificados como resistentes
buindo notas de 0 (nenhum sintoma) a 100 ao herbicida clethodim o foram também ao
(morte das plantas). Com base na avaliação tepraloxydim.
Figura 4. Porcentagem de biótipos de capim-pé-de-galinha (E. indica) provenientes de áreas algodoeiras de Mato
Grosso classificadas como resistentes, intermediárias e suscetíveis a clethodim e tepraloxydim coletadas nos anos de
2012, 2013, 2014, 2015 e 2016.

Nos dois primeiros anos do monitoramento, 2012 e O aumento da porcentagem de amostras resisten-
2013, houve predominância de amostras de capim-pé- tes nos anos de 2014, 2015 e 2016, quando compara-
-de-galinha suscetíveis (72,8% e 53%, respectivamen- do aos dois primeiros anos do projeto, deve-se pos-
te), ou seja, que em condições de casa-de-vegetação sivelmente à divulgação dos primeiros resultados do
foram controladas pela dose de bula do clethodim e projeto, realizados em 2012 e 2013, em que tanto as
do tepraloxydim. Como essas amostras foram coleta- reclamações de controle de capim-pé-de-galinha por
das em áreas com reclamação de não funcionamento parte dos produtores quanto a seleção de áreas para
desses herbicidas, atribui-se esse não controle a cam- coleta das amostras passaram a ser mais criteriosas,
po a outros fatores, como uso de subdoses, baixa qua- diminuindo assim o número de amostras com falsas
lidade da aplicação e condições inadequadas no mo- suspeitas de resistência.
mento da aplicação, como temperatura elevada, baixa De acordo com a Figura 5, quando analisados os
umidade relativa do ar e planta daninha sob estresse resultados das amostras por núcleo de produção al-
hídrico ou fora do estádio de desenvolvimento reco- godoeira, verificou-se comportamento similar entre
mendado. regiões, demonstrando que a resistência do capim-
No ano seguinte, em 2014, o percentual de amos- -pé-de-galinha aos herbicidas inibidores da ACCase
tras de capim-pé-de-galinha resistentes passou a ser de está presente em todas as áreas de produção algo-
68,3%, padrão que se manteve nos anos de 2015 e 2016, doeira de Mato Grosso. Em 2004 já havia sido cole-
demonstrando que áreas algodoeiras significativas, que tado um biótipo de capim-pé-de-galinha resistente
são as mesmas em que se produz soja, seja em rotação aos herbicidas inibidores da ACCase em Mato Grosso
ou sucessão, possuem populações de capim-pé-de-ga- (Vidal et al., 2006; Osuna et al., 2012), no município de
linha resistentes aos inibidores da ACCase. Lucas do Rio Verde.
Figura 5.
Porcentagem As falhas de controle observadas a cam- o não uso de herbicidas de pré-emergência,
média de bióti- po podem ocorrer tanto com os biótipos grupo que tem ingredientes ativos eficientes
pos de capim-
resistentes como com aqueles classificados no controle de capim-pé-de-galinha e pos-
-pé-de-galinha
(E. indica) por como intermediários. Isso porque os produ- suem sítios de ação diferentes dos inibidores
núcleo de tores normalmente não aplicam o dobro da da ACCase (graminicidas), podendo também
produção algo- dose dos produtos, e também porque, em ser alternativa ao herbicida glyphosate (ini-
doeira de Mato casa-de-vegetação, de modo geral, as plantas bidores da EPSPs).
Grosso classi-
daninhas são controladas por doses mais bai- Todos os biótipos avaliados foram contro-
ficadas como
resistentes, xas que a dose de rótulo, devido às melhores lados pelo tratamento-padrão glyphosate,
intermediárias condições para o funcionamento do produto sendo tal informação importante, uma vez
e suscetíveis como estádio de desenvolvimento adequa- que esse ingrediente ativo é uma das princi-
a clethodim e do, melhor status fisiológico e maior intercep- pais alternativas, assim como os herbicidas
tepraloxydim,
tação da calda herbicida (plantas sem sobre- de pré-emergência, no manejo de área com
coletadas nos
anos de 2012 a cobertura – efeito guarda-chuva). biótipos de E. indica resistentes aos herbici-
2016. A distribuição dessas populações resis- das inibidores da ACCase.
tentes/intermediárias por todas as regiões A continuidade de trabalhos de localiza-
algodoeiras do Estado (Figura 6) é um fato ção e confirmação de casos de resistência de
complicador, porque dificulta medidas de plantas daninhas a herbicidas é importante
contenção, além de favorecer o processo de para reduzir a expansão do problema e para
dispersão. Essa seleção normalmente ocorre conscientizar os produtores da necessidade
pelo uso contínuo de herbicidas com mes- de rotação de herbicidas com diferentes sí-
mo sítio de ação, e no caso dos herbicidas tios de ação, o que é atualmente realizado de
inibidores da ACCase há agravantes, porque modo a atender a demanda dos GTAs (Grupo
são utilizados nas culturas da soja e do algo- Técnico do Algodão) das áreas algodoeiras de
dão, principalmente neste último, uma vez Mato Grosso.
que, até o ano de 2014, essa era a única op- No ano de 2017 foi relatado o primei-
ção para aplicação em pós-emergência no ro caso de E. indica resistente ao herbicida
controle de gramíneas. Outro ponto é a falta glyphosate no estado do Paraná (Takano et
de rotação de sítios de ação, principalmente al., 2017) e de resistência múltipla a glypho-
Figura 6. Municípios produtores de algodão no estado de Mato Grosso, agrupados por núcleos de produção (diferentes
cores) e indicação das localidades (pontos vermelhos) onde foram identificados biótipos de capim-pé-de-galinha resisten-
tes aos inibidores da ACCase.

sate e inibidores da ACCase em Mato Grosso (Interna- no mercado para as culturas de soja, milho e algodão.
tional Survey of Herbicide Resistant Weeds, 2017). Na Malásia, foi relatada em 2014 a existência de bióti-
Ações urgentes por parte dos órgãos de defesa po com resistência múltipla aos herbicidas glufosina-
vegetal, pesquisa, extensão e entidades de classe (as- te, glyphosate, paraquat e aos inibidores da ACCase
sociações de produtores) são necessárias para conter (Jalaludin et al., 2014).
a expansão desses biótipos de capim-pé-de-galinha O aumento constante das áreas com capim-pé-
com resistência múltipla a glyphosate e inibidores -de-galinha resistente aos herbicidas inibidores da
da ACCase, como as que foram tomadas logo após a ACCase (resistência simples ou cruzada) e a possibi-
confirmação da existência de Amaranthus palmeri em lidade de evolução para a resistência múltipla para
Mato Grosso, em 2015 (INDEAMT, 2015). até quatro diferentes sítios de ação de herbicidas
A existência de biótipos de capim-pé-de-galinha são preocupantes, pois ameaçam o uso do herbicida
resistentes aos inibidores da ACCase é motivo de mais utilizado no mundo (glyphosate), assim como
grande preocupação, pois os herbicidas com esse sí- suas alternativas (ammonium-glufosinate, paraquat
tio de ação são muito importantes no controle dessa e inibidores da ACCase), restando poucas opções de
espécie em várias culturas. No mundo, além desse sí- controle para o produtor.
tio de ação (inibidores da ACCase), já foram relatados Vale ressaltar que a alternativa utilizada pelos pro-
biótipos de E. indica resistentes aos sítios inibidores da dutores de Mato Grosso para controlar capim-pé-de-
EPSPS (glyphosate), da GS (ammonium-glufosinate), -galinha resistentes a inibidores da ACCase é o herbi-
do fotossistema I (paraquat) e da formação de micro- cida glyphosate, o que aumenta a pressão de seleção
túbulos (trifluralin), e, em caso de resistência múltipla, para este herbicida, podendo diminuir o tempo de
o manejo químico torna-se extremamente difícil, mes- surgimento de resistência múltipla para estes dois
mo nas variedades resistentes a herbicidas disponíveis sítios de ação.
GENOTIPAGEM DE BIÓTIPOS DE biologia molecular do IMAmt, onde realizou-
E. indica RESISTENTES E SUSCETÍVEIS -se a extração do DNA genômico.
AOS HERBICIDAS INIBIDORES DA ACCase Após a obtenção do DNA, foi realizada
reação em cadeia da polimerase (PCR) para
Foram selecionadas 13 amostras de ca- amplificar as regiões de domínio CT que es-
pim-pé-de-galinha previamente classificadas tão envolvidas com a sensibilidade a herbici-
como resistentes e outras 13 previamente das ACCase. Nesse processo, foi empregado
classificadas como suscetíveis provenientes um par de iniciadores, distribuídos ao longo
de sete municípios de diferentes núcleos da região nucleotídica de interesse em rea-
de produção de algodão do Estado de Mato ções de HRM, o que gerou boa amplificação
Grosso: Sapezal, Campo Novo do Parecis, Sor- e possibilitou a obtenção de polimorfismo
riso, Lucas do Rio Verde, Campo Verde, Prima- informativo entre os biótipos R e S, quando
vera do Leste e Alto Garças. analisado por meio de HRM, gerando perfis
Após a coleta (três folhas por amostra), as distintos entre amostras resistentes e susce-
amostras foram enviadas ao laboratório de tíveis (Figura 7).

Figura 7.
Curva de melting
Em seguida, os pares de iniciadores infor- ocorreu a troca de uma adenina por uma
gerada pelo mativos, ou seja, que indicaram haver poli- guanina (A/G) na 332ª posição da região am-
iniciador ACC3. morfismos exclusivos de indivíduos com o plificada (Figura 8).
R - resistente; S mesmo biótipo (R e S), foram selecionados Esse SNP traduz-se na troca de um ácido
- suscetível. para sequenciamento, com intuito de confir- aspártico (Asp) por uma glicina (Gly) na po-
mar e caracterizar a presença de tal polimor- sição 116 da região amplificada, que corres-
fismo através do sequenciamento de DNA. ponde à posição 2078 da enzima acetil-coA
Posteriormente, foi realizada uma vali- carboxilase, ou seja, possivelmente muda a
dação com 40 amostras previamente ca- conformação do sítio ativo da ACCase, re-
tegorizadas da metodologia de PCR para sultando em sua inespecificidade de ligação
diferenciação de amostras de E. indica resis- ao inibidor e, consequentemente, conferin-
tentes e suscetíveis aos herbicidas inibido- do o fenótipo de resistência. Essa mutação
res da ACCase. foi encontrada exclusivamente em plantas
Após o sequenciamento, o polimorfismo resistentes, coletadas em diferentes regiões
foi confirmado, sendo caracterizado como do Estado.
uma mutação de base única (SNP), em que Resultado semelhante foi encontrado por
Figura 8. Sequenciamento das amostras 1, 11 e 7 (resistentes) e das amostras 19 e 23 (suscetíveis). Alteração na sequên-
cia nucleotídica é evidenciada por uma troca na posição 332, indicada pelos nucleotídeos A e G.

Osuna et al. (2012), com amostras da região de Lu- HERBICIDAS PARA MANEJO DE CAPIM-PÉ-DE-
cas do Rio Verde, MT, onde, procurando identificar a -GALINHA RESISTENTE A INIBIDORES DA ACCASE
causa da resistência de plantas de capim-pé-de-gali-
nha aos herbicidas inibidores ACCase, detectou uma Num programa de manejo é imperativo que a seme-
mutação dentro do tripleto para asparagina, na po- adura ocorra em área livre de plantas daninhas, e para
sição do aminoácido 2078, que resultou no tripleto isso pode ser necessário que a dessecação seja feita em
para glicina. A mesma mutação tem sido relatada em mais de uma operação (dessecação sequencial), geral-
outras gramíneas com resistência a herbicidas inibi- mente mais frequente quando as plantas daninhas es-
dores da ACCase. tão em estádios mais avançados de desenvolvimento.
Dessa forma, pode-se aferir que a mutação encon- O uso de tratamentos herbicidas de pré-emergên-
trada neste trabalho está associada à resistência de ca- cia de grande eficácia é altamente indicado para eli-
pim-pé-de-galinha aos herbicidas inibidores ACCase. minar as plântulas que iriam se estabelecer no início
Os resultados obtidos permitiram o desenvolvi- do ciclo, melhorando as condições para o desempe-
mento de um marcador molecular (ACC3) como fer- nho dos tratamentos de pós-emergência, os quais
ramenta para estudos de monitoramento da resis- poderão ser utilizados mais tarde, sobre população
tência de E. indica. de plantas em menor densidade, e também em es-
tádio de desenvolvimento mais favorável. raquat e glufosinate-ammonium. É impor-
Além disso, o tratamento em pré-emergên- tante destacar que glufosinate-ammonium
cia elimina ou reduz a emergência nas linhas não funcionam muito bem quando o capim-
de semeadura, onde as plantas ficam mais -pé-de-galinha está com grande desenvolvi-
protegidas da calda dos herbicidas de pós- mento vegetativo. Para uso em associação há
-emergência, e são importantes fontes de também contribuição de outros ingredientes
sítios de ação para incluir no programa de ativos como flumioxazin e diuron.
manejo da resistência. Alguns desses produtos podem apresen-
Os tratamentos de pós-emergência de- tar fitotoxicidade à cultura que será implan-
vem também possuir alta eficácia, e a falha tada, devendo-se respeitar o tempo mínimo
em seus resultados implica a necessidade da entre a aplicação e a semeadura.
complementação com capina ou aplicação
em jato-dirigido (cultura do algodão). 4 Uma relação de herbicidas com ação
sobre capim-pé-de-galinha, e sítios de
ÁREAS COM RESISTÊNCIA A ação diferentes da ACCase, é apresentada
HERBICIDAS INIBIDORES DA ACCASE nas Tabelas 2, 3 e 4, respectivamente para
as culturas de soja, algodão e milho, base-
Deve-se considerar na dessecação o uso ado nos dados do agrofit e das bulas dos
de outras moléculas como o glyphosate, pa- produtos.

Tabela 2. Ingredientes ativos para a cultura da soja.

Produtos para uso em pré-emergência da cultura da soja e das plantas daninhas

Produto
Sítio de Ação Observação
(Ingrediente Ativo)
Inibidor da formação de microtúbulos
Trifluralin
(Grupo K1)
Inibidor da biossíntese de carotenoides
Clomazone
(Grupo F4)
Inibidor da mitose (Grupo K3): inibe a
S-metolachlor formação de ácidos graxos de cadeia
muito longa
Sulfentrazone Inibidor da PPO ou Protox (Grupo E)
Produto em fase de registro
Inibidor da mitose (Grupo K3): inibe a
para a cultura e alvo.
Pyroxasulfone formação de ácidos graxos de cadeia
Aplicar 7 dias antes da semea-
muito longa
dura da cultura
Produtos para uso em pós-emergência da cultura da soja e das plantas daninhas
Produto
Sítio de Ação Observação
(Ingrediente Ativo)
Em variedades de soja
Glyphosate Inibidor EPSP sintase (Grupo G)
Roundup Ready
Glufosinato de Em variedades de
Inibidor da glutamina sintetase (Grupo H)
Amônio soja Liberty Link
Tabela 3. Ingredientes ativos para a cultura do algodão.

Produtos para uso em pré-emergência da cultura do algodão e das plantas daninhas

Trifluralin Inibidor da formação de microtúbulos (Grupo K1)


Inibidor da fotossíntese no fotossistema II, no
Prometryn
sítio A (Grupo C1)
Antes do plantio, as sementes de
algodão devem ser tratadas com
Inibidor da biossíntese de carotenoides -DOXP
Clomazone “safener”, que funcionam como
sintase (Grupo F4)
protetor e conferem seletividade
ao produto para a cultura
Melhor seletividade a cultura
Inibidor da mitose (Grupo K3): inibe a formação
S-metolachlor quando aplicado no estádio de
de ácidos graxos de cadeia muito longa
“orelha de onça” da cultura
Inibidor da fotossíntese no fotossistema II,
Diuron
no sítio A (Grupo C3)
Produtos para uso em pós-emergência da cultura do algodão e das plantas daninhas
Em variedades de algodão resis-
Glufosinato de Amônio Inibidor da glutamina sintetase (Grupo H) tentes: Liberty Link (LL) ou Glytol
Liberty Link (GL / GLT)
Inibidor da fotossíntese no fotossistema II, no sítio A Aplicado em jato dirigido na
Diuron
(Grupo C3) entrelinha da cultura
Em variedades de algodão
Glyphosate Inibidor EPSP sintase (Grupo G) resistentes: Roundup Ready Flex
(B2RF / RF)

Tabela 4. Ingredientes ativos para a cultura do milho.

Produtos para uso em pré-emergência da cultura do milho e das plantas daninhas

Inibidor da fotossíntese no fotossistema II, no


Atrazine
sítio A (Grupo C1)
Inibidor da mitose (Grupo K3): inibe a formação
S-metolachlor
de ácidos graxos de cadeia muito longa
Inibidor da mitose (Grupo K3): inibe a formação Produto em fase de registro para
Pyroxasulfone
de ácidos graxos de cadeia muito longa a cultura e alvo.
Produtos para uso em pós-emergência da cultura do milho e das plantas daninhas
Em variedades de milho resis-
Glyphosate Inibidor EPSP sintase (Grupo G)
tentes
Em variedades de milho resis-
Glufosinato de Amônio Inibidor da glutamina sintetase (Grupo H)
tentes

ÁREAS COM RESISTÊNCIA A HERBICIDAS INIBIDORES DA ACCASE


E A GLYPHOSATE (HERBICIDAS INIBIDORES DA EPSPS)

Deve-se considerar, para as três culturas, todos os ingredientes ativos citados anteriormente, exceto o glyphosate.
Visão geral parcela testemunha na cultura do milho. Visão geral parcela de ensaio manejada com herbicidas pré-emergente na
(Foto: Edson Andrade Junior) cultura do milho. (Foto: Edson Andrade Junior)

Visão geral
parcela de en-
saio manejada
com herbicidas
(dessecação /
pré-emergente)
x testemunha
auxiliar na
cultura da soja.
(Foto: Edson
Andrade Junior)

Detalhe par-
cela de ensaio
manejada com
herbicidas pré-
-emergente) x
testemunha au-
xiliar na cultura
da soja. (Foto:
Edson Andrade
Junior)

Lavoura de algodão infestada com capim-pé-de-galinha, com resistência


a herbicidas inibidores da ACCase. (Foto: Edson Andrade Junior)

REALIZAÇÃO PARCERIA APOIO FINANCEIRO

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