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Dicas de manejo do Informativo Horticultura &

Abastecimento
Prezados colegas, Lajeado, RS - Ano 5. n° 08, dez. de 2019. 13 p.

O último informativo de 2019, elaborado a muitas mãos, destaca em termos de


síntese a compreensão que se teve dos temas abordados no “I Seminário Regional de
Moranguicultura da Serra Gaúcha”, realizado em outubro na comunidade de Santo
Antônio, em Gramado/RS. Os trabalhos deste dia iniciaram com abordagem do ATR Ênio
Todeschini, que caracterizou o panorama deste cultivo no RS, indicando a mudança
vivenciada no sistema produtivo, seu potencial e desafios ante aos 520 ha de cultivo, 85%
dos quais em substrato. Na sequência, as palestras versaram sobre manejo nutricional do
morango, com foco na fitossanidade e na identificação e manejo de pragas e inimigos
naturais do morangueiro. Tendo como local a propriedade da Família de Claudir e Azilse
Perosa, na tarde desse dia realizou-se uma tarde de campo com apresentação de cinco
estações compostas por: 1) monitoramento de pragas; 2) polinização com abelhas
sem ferrão; 3) controle físico de pragas; 4) ambiência na produção de morango; e 5)
janelas de produção com atuais opções de mudas. Boa leitura!

Pragas e seus inimigos naturais no morangueiro: identificação e manejo1


Anna Cristina Xavier – ERNS I - Agropec. – E.M. de Bom Princípio – Emater/RS-Ascar

No contexto atual, onde se buscam alimentos limpos e seguros, o uso de


ferramentas que preconizem o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e de Doenças (MID)
passa a ser uma obrigação para o técnico que assiste o produtor rural.
Entre os fundamentos do MIP/MID, que podem tirar de vez o morango da lista dos
vegetais campeões no uso irregular de agrotóxicos, está o cuidado com o Intervalo de
Segurança (IS) entre a aplicação de agrotóxicos e a colheita. A informação está na bula e
deve ser clara para o agricultor. Contudo, há uma série de questionamentos que vem junto
com esse tema, como se há diferença do IS para um morango produzido em ambiente
protegido ou com aplicação via fertirrigação, esses pontos ainda não foram respondidos,
pois a pesquisa e as exigências nas liberações de agrotóxicos não acompanharam a
evolução que houve na cultura do morango.

1
Texto construído com base na palestra da Prof. Maria Aparecida Cassilha Zawadneak (UFPR), no I Seminário Regional
de Moranguicultura da Serra Gaúcha, em 24 de outubro de 2019, Gramado – RS.
Contudo, um dos problemas relacionados ao agrotóxico no morango ainda é o alto
número de produtos não recomendados para cultura, gargalo que pode ser superado
com a consulta ao site Agrofit (http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons), onde é
possível ver os agrotóxicos registrados para a praga na cultura de interesse.
Para além da recomendação correta, é importante observar a rotação de grupos
químicos na aplicação de
agrotóxicos, pois cada grupo
tem uma forma de atuação, e
se um organismo resiste a
essa forma de atuação,
PARA SABER:
poderá criar uma população resistente. Usando como
Além do GRUPO 6, existem outros grupos exemplo a nossa principal praga, o Ácaro-Rajado
químicos registrados para o controle de ácaro (Tetranychus urticae), se para o controle do mesmo for
no morango:
-GRUPO 3A (Piretróide): Atua sobre o sistema usado um produto a base de Avermectina (Grupo 6),
nervoso/muscular modulando os canais de este grupo tem ação sobre o sistema nervoso/
sódio;
-GRUPO 12C (Sulfito de aquila): Atua sobre a muscular, modulando os canais de cloro.
respiração celular inibindo ATP da
mitocôndria; Contudo, se após a aplicação, 10% da
-GRUPO 13 (Análogo de Pirazol: Atua sobre a
população de ácaro for resistente a essa forma de
respiração celular desacoplando a da
fosforilação oxidativa, ação, a mesma sobreviverá, e se a próxima aplicação
-GRUPO 21A (Pirazol, Piridazinona): Atua
for feita com outro produto também do Grupo 6
sobre a respiração celular inibindo a cadeia de
(existem outros 10 produtos do mesmo grupo
transporte de elétrons na mitocôndria;
-GRUPO MODO DE AÇÃO DESCONHECIDO
(Tetranortriterpenóide). registrados para Ácaro-Rajado no morango), os
mesmos não irão morrer, crescerão e irão se
reproduzir e ter descendentes também resistentes.
Para além do uso de agrotóxicos sintéticos há uma série de Inimigos Naturais, que
podem estar disponíveis no ambiente naturalmente e controlarem as pragas do morango.
Os principais insetos que fazem esse tipo de controle no morango são:
 Joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae) – Larvas e adultos alimentam-se de insetos
muito pequenos, como pulgões, cochonilhas e ácaros;
 Parasitóides de Pulgões (Lysiphlebus testaceipes - Hymenoptera: Braconidae):
parasita todos os estágios dos pulgões, exceto o ovo.
 Larva da Mosca-das-Flores (Diptera: Syrphidae): as larvas da mosca-das-flores se
alimentam dos ácaros, cochonilhas e pulgões. Podendo comer de 100 a 900
pulgões durante essa fase. A mosca adulta não é predadora, se alimenta de néctar
e pólen das flores.
 Bicho-Lixeiro (Chrysoperla carnea - Neuroptera: Chrysopidae): Também são as
larvas que predam as pragas, podendo chegar a consumir de 100 a 600 pulgões
nesta fase. Predam também ovos, lagartas, cochonilhas, ácaros e outros insetos
pequenos e tegumento facilmente perfurável.

Contudo, há também a possibilidade de introduzir agentes biológicos no ambiente, que


podem ser obtidos através de produtos comerciais. Uma das formas de consultar os
biodefensivos registrados no Brasil, é através do site ABCBio
(https://www.abcbio.org.br/biodefensivos-registrados/), onde sua recomendação está
baseada apenas na praga alvo, indicando o nome do ativo biológico e do produto
comercial. Por exemplo, pensando em controle de Ácaro-Rajado (Tetranychus urticae),
temos as seguintes opções na consulta:
 Neoseiulus californicus – Ácaro Predador: Produtos Comerciais: Califorce (TopBio),
Spical (Koppert), Neomip (Promip) e Neomip Max (Promip).
 Phytoseiulus macropilis – Ácaro Predador: Produtos Comerciais: Celta (Koppert) e
Macromip Max (Promip).
Principais Pragas e seu manejo:
 Ácaro-Rajado (Tetranychus urticae): Essa praga tem baixa mobilidade no campo e
geralmente é levada por insetos, animais e humanos; o ciclo da praga dura de 6 a 15 dias,
em temperaturas entre 21ºC e 30ºC. Consegue ser facilmente controlado com ácaro-
predador, desde que a infestação esteja em seu estágio inicial.
Avaliação Semanal: o número de ácaros nos folíolos, em um folíolo a cada 10m de
substrato, se o número encontrado for igual ou maior que 5, marcar o ponto com uma
estaca, e depois soltar o ácaro predador.
Manejo da Ambiência: o ácaro é favorecido por ambientes secos e ambientes com alta
concentração de açúcares (EC alta). Sendo assim, fazer um manejo de umidade com
bailarinas (dentro ou fora da estufa), ou rega ajuda a diminuir a população de ácaros, do
mesmo modo, diminuindo a condutividade elétrica.
Compatibilidade de Produtos: pode-se controlar muito bem a praga apenas com inimigos
naturais, contudo há de se ter um cuidado com quais produtos podem ser usados em
conjunto com o ácaro predador após a soltura desses. Para isso já existem aplicativos para
Smartphone que indicam se um produto pode ou não ser usado após a soltura deles, como
o Koppert Compatibilidade ou o Promip Compatibilidade.
 Ácaro-do-Enfezamento (Phytonemus pallidus): São ácaros muito pequenos
(~0,3cm) de cor clara, o ciclo de ovo a adulto varia de 10 a 14 dias. Ele evita luz do sol e
abriga-se na parte central da planta, nas folhas não abertas entre os pecíolos, na base das
pétalas, na face interna das sépalas ou na pilosidade dos frutos imaturos.
-Flor-Preta: Seus danos podem ser confundidos com Antracnose (Colletotrichum
acutatum), pois ambos deixam o miolo da flor com cor escura e morta, contudo a diferença
é que a Antracnose deixa todo o conjunto floral com danos, já o ácaro apenas o miolo, e as
sépalas continuam verdes.
-Controle do Ácaro-do-Enfezamento: As medidas de controle desse ácaro são muito
semelhantes ao do Ácaro-Rajado, controlando o teor de nitrogênio, fazendo manejo da
água e introduzindo ácaros predadores. Para além disso é importante retirar da lavoura as
flores mortas e plantas velhas infestadas.

 Pulgões
o Pulgão Amarelo (Chaetosiphon fragaefolli): Esses pulgões medem entre 1,3 a
1,8mm, tem cor amarelada e o corpo recoberto com setas claviformes, geralmente
estão na face abaxial das folhas.
o Pulgão Preto (Aphis forbesi): Também medem de 1,3 a 1,8mm, tem coloração
preta, contudo inicial sua colonização pela coroa e se estendem pelo pecíolo.
Danos de Pulgões: Os pulgões sugam a seiva das plantas de morango, fazendo com que
se tenha uma diminuição no tamanho e na produção; também favorecem o aparecimento
de fumagina.
Controle de Pulgões: Nos quatro instares que a ninfa de pulgão passa é predada por
Joaninhas, Sirfídeos e Crisopídeos, também são parasitadas por vespinhas. Na fase adulta
armadilhas coloridas e plantas atrativas auxiliam no controle. Outro controle eficiente é o
uso de fungos entomopatogênicos, como Beauveria bassiana.

 Lagarta-da-coroa (Duponchelia fovealis): As lagartas se alimentam de folhas novas,


passam por 5 instares e quando totalmente desenvolvidas, medem 2 cm a 3 cm de
comprimento, sua cor varia de branco-creme a marrom-claro.
-Controle de Duponchelia: As
estratégias de controle passam
pela liberação de vespas
parasitoides na fase de ovo, uso
de inseticidas a base de Bacillus
thuringiensis na fase larval,
predadores na fase de pupa e
armadilhas luminosas na fase
adulta. Conforme esquema ao
lado:

 Mosca-do-cogumelo (Bradysia sp.): também conhecida como Fungus Gnats, as


larvas dessa mosca têm corpo liso, semitransparente, revelando o conteúdo do trato
digestivo e a cabeça preta. Alimentam-se, preferencialmente, de matéria orgânica, algas e
fungos e raízes e, ocasionalmente, de hastes e folhas. Elas têm se tornado praga,
causando grandes perdas econômicas, principalmente por causa do dano direto que
causam às raízes, mas também por deixar as plantas mais vulneráveis a doenças Pythium
e Fusarium.

-Controle de Bradysia: As estratégias de controle passam pela utilização de um substrato


de qualidade, podendo ser feita captura maçal através de armadilhas cromotrópicas
adesivas, e a liberação inundativa de ácaros-predadores, logo após o plantio das mudas,
quando a densidade populacional da praga ainda é baixa, liberação de 200 ácaros
predadores/m2, nessa densidade o mesmo consegue controlar a praga, que a come
quando a mesma está em estágio de pupa.

2
Manejo Nutricional do morangueiro com foco em fitossanidade
Carolina Tessele – ERNS I – Agropec. – E.M. de Feliz – Emater/RS-Ascar

Com o cultivo do morangueiro em substrato, representando mais de 80%, o manejo


nutricional nessa condição pode ser facilmente alterado. A migração para o cultivo em
substrato foi impulsionada pelo controle de pragas e doenças ser mais eficiente em
ambiente protegido, principalmente em relação às doenças de solo.
Um manejo nutricional satisfatório favorece as plantas. O que podemos fazer no
manejo nutricional para obtermos uma maior resistência a pragas e doenças?
Luciano Ilha propõem três estratégias básicas:
1ª) Manejo Dinâmico:
Nos programas fixos de manejo nutricional não são consideradas as alterações ambientais
de temperatura e luminosidade, que interferem no metabolismo das
plantas, consequentemente, no consumo de nutrientes. Para o manejo
dinâmico é necessário conhecer os fertilizantes utilizados – com foco nos
minerais disponibilizados para as plantas.
Monitorar! Palavra chave para o sucesso na produção em substrato do
morangueiro. O monitoramento da condutividade elétrica (CE) do
drenado permite a migração do manejo fixo para o manejo dinâmico.

2
Texto construído com base na palestra do Engº. Agrº Luciano L. Ilha, no I Seminário Regional de Moranguicultura da
Serra Gaúcha, em 24 de outubro de 2019, Gramado – RS.
Somado a isso, considerar as condições do ambiente, as climáticas e o estádio de
desenvolvimento da planta.
A solução nutritiva deve ser escolhida com base no valor de pH do substrato,
portanto, não existe uma solução única.
Para a aferição da CE recomenda-se coletar as primeiras gotas do drenado,
medindo o valor do EC determinando a adubação do dia. Ressaltando que as substâncias
não salinas, como a ureia e substâncias orgânicas, não serão medidas e também podem
queimar as raízes.
Manejo do drenado: entre 1,2 e 1,5 não entrar com adubação, abaixo de 1,2 adubar. A
adubação será realizada sempre com base no consumo de nutrientes pelas plantas. A
salinização na zona das raízes reduz a capacidade de absorção de nutrientes pelas raízes,
resultando no efeito de seca!
Os frutos serão mais doces quando a disponibilidade de água for menor devido a
concentração dos solutos. Portanto, é possível aumentar a “doçura” dos frutos com o
controle da CE (elevação).

As altas concentrações de sal na solução do solo favorecem alguns patógenos, outras são
beneficiados pela baixa CE.

Oídio, Tripes, Ácaros.

Antracnose, Rizoctonia, Bactérias.

Uma medida de controle para a antracnose, que é favorecida pela baixa CE e


excesso de água, é elevar momentaneamente a CE para 1.8. Já para oídio, o excesso de
adubação favorece o patógeno, recomenda-se baixar a condutividade, principalmente, à
noite. Para o controle do pulgão recomendam-se as mesmas medidas de controle do oídio.
Para o controle do ácaro, que é favorecido por períodos de baixa umidade, recomenda-se
reduzir o CE, evitando o efeito de “seca”.
2ª) Redução do N amoniacal:

Excesso de nitrogênio está relacionado à redução da firmeza dos frutos e à maior


incidência de podridões (antracnose, botrytis, phytophthora).
Uma das medidas de controle é alterar a quantidade de N na solução nutritiva,
principalmente de origem amoniacal. Com a fotossíntese reduzida, menor será a demanda
de N: pouca luz (nublado), temperatura elevada (40ºC) associada com baixa umidade,
inibe o sistema fotossintético. Como o N não esta sendo usado, causará danos nas
plantas.
Para reduzir a oferta de N amoniacal, que supri grande demanda da planta, recomenda-se
suprimi-lo da solução nutritiva quando o tempo estiver nublado ou temperaturas muito
elevadas, associado a baixa umidade relativa do ar. Na solução da Emater, a retirada
resultará na redução de 15% de N.

Imagens caracterizando distinção entre disponibilidade luminosa em dois ambientes

3ª) Aumento do Potássio:


Há redução dos teores de potássio nas plantas em períodos nublados e/ou
chuvosos, e recomenda-se aumentar a adubação via foliar desse mineral. Pode-se aplicar,
preventivamente, com base na previsão do tempo. A falta de potássio influência a
ocorrência de diversas doenças: “Falta de potássio” resulta em mais doença!
Como o potássio, o cálcio e o magnésio são nutrientes que competem entre si na absorção
pelas raízes (cátions), recomenda-se a aplicação via foliar. Aplicação via foliar recomenda-
se de 3 a 5g/ L de sulfato de potássio.

Monitoramento prático de pragas3


Mateus Monteavaro – ERNS I – Agropec. – E.M. de Feliz – Emater/RS-Ascar

A estação 1 apresentou ferramentas disponíveis para a ação fundamental de


monitoramento da unidade de produção de morango, sem a qual não é possível ter-se
manejo satisfatório de pragas e doenças. Uma prática simples que requer disciplina e
metodologia para inspeção semanal. As ferramentas são simples: lupa de 20 x de
aumento, armadilha luminosa, armadilha com atrativo alimentar, armadilhas cromotrópicas
amarela a azul, entre outras.

3
Texto construído com base na estação 1 apresentada pelo pesquisador da Embrapa Régis Sivori e Engª. Agrº Janete
Basso Costa - Emater/RS-Ascar, no I Seminário Regional de Moranguicultura da Serra Gaúcha, em 24 /10/2019. ,
Gramado – RS.
Para compor o nível de ocorrência, sugere-se amostrar entre 10 a 20 plantas
espaçadas a cada 10 m, contando-se a presença de praga ou doença nos folíolos,
anotando-se em caderno de campo adequado. Sugere-se também adotar sistema de
marcação com estacas de cor brancas, amarelas e vermelhas, para localizar pontos a
considerar na tomada de decisão. Por exemplo, no caso de ácaro numa infestação de até
5 indivíduos por folíolo sugere colocar uma bandeira branca, de 6 a 10 coloca se uma
bandeira amarela e se houver mais de 10 uma vermelha. Com isso se consegue saber
onde está ocorrendo o maior foco e também qual o método de combate a ser utilizado. No
caso de muito infestado não adiantará colocar ácaro predador e sim uma intervenção
química. E com esse monitoramento se saberá qual a melhor decisão a ser tomada. No
caso de baixa infestação se coloca o ácaro predador se espalhando para outras áreas. E
se usar ácaro predador em grande infestação não ocorrerá sucesso e o agricultor poderá
dizer que esse método não funciona, mas o que ocorreu foi a tomada de decisão
equivocada. Abaixo exemplo de caderno de campo.
Ocorrência de pragas ou doenças
Data Parcela Doença Nível de Observação
nº. ou praga ocorrência (%)
Geral Reboleira

Com base nesta leitura, têm-se condições de optar pela melhor forma de
intervenção possível sempre que necessário, como no exemplo abaixo proposto para
monitoramento e manejo de pragas por Souza e Zawadneak (2018), disponível no link
https://ass669-my.sharepoint.com/:b:/g/personal/lauro_emater_tche_br/EcjJm_Ny9OBBpitNUOtSUA4B2fFeThM7F8Zdw0csufvnKQ?e=bvt2G4
Não há como avançar em MIP e MID, sem monitoramento, sem este olhar
sistemático sobre o ambiente de produção e sua interface com as condições ambientais.
Associando essa prática com a correta seleção das alternativas possíveis, aponta-se para
outro contexto de eficiência e de produção de morango enquanto alimento seguro.

Polinização de abelhas sem ferrão 4


Alexandre Sobierayski Matusiak – ERNS I – Agropec. – E.M. de Bom Princípio – Emater/RS-Ascar

O morangueiro, de maneira geral, possui flores monoicas, ou


B seja, órgão masculino (estames) e feminino (pistilos) na mesma flor.
A A
Algumas cultivares possuem flores unissexuadas masculinas ou
femininas. Observando a figura 1, os estames
(A) podem ser longos ou curtos e ficam ao
Figura 1: Flor do morangueiro. redor do receptáculo floral (B), onde estão
localizados os pistilos, estes em grande
número. Por apresentar essa segregação entre os órgãos
masculinos e femininos na flor e, em algumas cultivares,
proporcionarem amadurecimento dos órgãos reprodutores em
momentos distintos, torna a autopolinização ineficiente.
A polinização cruzada através dos insetos (polinização
entomofílica 80%), assim como do vento (anemofilica) são as
principais formas de fecundação dos pistilos que irão formar os
aquênios, que são os verdadeiros frutos. O morango na verdade é
um pseudofruto (ou infrutescência) formado pelo crescimento do
receptáculo foral, formando a parte carnosa do morango, por
consequência da liberação hormonal (auxina) do crescimento dos Figura 2: Morfologia do fruto do
aquênios (figura 2). Aqueles pistilos que não são fecundados, não morangueiro.
desenvolvem os aquênios e por consequência podem gerar frutos deformados. Com isso,
uma polinização ineficiente, seja ela por falta de agentes polinizadores (ventos ou insetos),
temperaturas abaixo de 12ºC ou a cima de 30ºC, problemas sanitários, entre outros,
podem gerar malformação dos frutos e, por consequência perdas na qualidade e produção.
A deformação de frutos causada pela polinização ineficiente é
identificada pelo não crescimento dos aquênios, que são visivelmente
menores quando comparados aos que foram fecundados, como se
pode observar na figura 4. Contudo, a malformação dos frutos pode
ocorrer por outros motivos como: danos causados
por tripes, percevejo ou deficiência de boro. A
deficiência nutricional de Boro (B) gera problemas
Figura 4: Polinização ineficiente.
na polinização e por consequência frutos
malformados, o que difere dos outros casos, onde as folhas também
apresentam sintomas (figura 3). Figura 3: Deficiência de Boro.

4
Texto construído com base na estação 2 apresentada pelo meliponicultor Orlando Morschel e Engº. Agrº. Rafael Hoss_
_Emater/RS_Ascar , no I Seminário Regional de Moranguicultura da Serra Gaúcha, em 24 /10/2019 , Gramado – RS.
Já os danos causados por tripes e percevejo, os aquênios
podem estar bem formados más, mesmo assim os frutos podem
apresentar deformações. A deformação de frutos por muito
tempo atribuiu-se ao ataque de tripes (Frankliniella occidentalis),
más hoje se sabe que os sintomas causados pela alimentação
dos tripes ocasionam um bronzeamento (tom amarronzado) na
Figura 5: Ataque por tripes. região do cálice (conjunto das sépalas) e no fruto ao redor dos
aquênios (figura 5).
Já o percevejo sim, ao alimentar-se dos frutos causam
grande deformação do morango e, como observado na figura 6,
apresentam os aquênios desenvolvidos.
Para se mensurar se está acontecendo algum problema na
polinização dá para fazer uma amostragem com as flores Figura 6: Ataque por percevejo.
primárias que são maiores e normalmente podem apresentar
deficiência na polinização. Coleta-se 50 frutos no meio da estufa (não das bordas), se 10
frutos (20%) apresentarem deficiência na polinização, entrar com uma medida para corrigir
isso.
Uma medida é observar a frequência de abelhas nas flores. A abelha Apis melifera é
encontrada nas flores do morangueiro por ser a abelha mais comumente criada pelos
produtores em geral, porém ela não é considerada tão eficiente na polinização do
morango. Essa ineficiência se dá por a flor do morango não ser tão atrativa para ela, ou
seja, se tiver uma outra florada em outro locar ela poderá não ir no morangueiro. Também,
pelo seu tamanho e comportamento da abelha, a abelha Apis m. não faz uma polinização
perfeita. Já as abelhas nativas sem ferrão (possuem um ferrão atrofiado) possuem uma
maior eficiência na polinização, pois visitam as flores de morango e percorrem toda a flor
com uma maior dedicação.
A localização das colmeias é fundamental no sucesso da polinização e deve ser em
um lugar fresco e sombreado, não colocar dentro das estufas, pois dentro estufa aumenta
muito a temperatura. Abrigá-las próximo às vegetações nativas e não de lavouras onde
são utilizados agrotóxicos. Tem muitas vantagens de criar abelhas: Polinização, tirar mel
(Jataí mais de 1kg por ano), mais consciência na hora de aplicar agrotóxicos e além de
uma renda extra com a venda de enxames. Recomenda-se a capturar enxames da
natureza com isca de garrafa pet, com atrativo (feito de com cera e própolis de abelhas,
diluído em álcool de cereais), revestidos com jornal e lona preta (para isolar do calor e
deixar escura) e abrigar em locais firmes e sombreados. As abelhas sem ferrão de maneira
geral têm área de voo muito inferior quando comparado a Apis m., com isso recomenda-se
utilizar as colmeias bem próximas as estufas para se fazer polinização focada e localizada
nos morangos. A abelha Jataí pode sobrevoar uma distância de 400 a 500 metros. Já a
abelha Plebeia nigriceps, conhecida como Mirim, chega somente a 50 metros. Então essa
última recomenda-se utilizar duas colmeias por estufa, uma em cada ponta.
A manutenção de plantas espontâneas ao redor das estufas e até mesmo dentro,
são de extrema importância para complementar a alimentação das abelhas, mantendo-as
saudáveis, não influenciando em geral na polinização. Porém, algumas espécies como o
nabo forrageiro são muito atrativas e devem ser manejadas antes do seu florescimento. De
maneira geral, quanto maior a diversidade de abelhas e insetos, melhor será a polinização
e melhor será a qualidade dos morangos.
Controle físico de pragas5
Luísa Leupolt Campos– ERNS I - Agropec. – E.M. de Montenegro – Emater/RS-Ascar
Fotos: Anna Cristina Xavier

Nesta estação, foram expostas alternativas de controles para algumas das pragas
mais comuns do morangueiro, como moscas, tripes e pulgões.
Reiterou-se que as estratégias de combate às pragas devem ser pensadas como
parte de um conjunto de práticas que integram o MIP – manejo integrado de pragas. O MIP
objetiva preservar e incrementar os fatores de mortalidade natural, através do uso
integrado dos métodos de controle selecionados com base em parâmetros econômicos,
ecológicos e sociológicos. Para isso, são necessárias três ações: diagnose, tomada de
decisão e seleção dos métodos de controle. O foco foi nos controles físicos, com
armadilhas e iscas.
Armadilhas para captura massal de insetos
Nesse tipo de armadilha, os insetos são atraídos pela cor. Existem armadilhas
comerciais – já prontas –, mas há a possibilidade de fazer na propriedade, com garrafas,
tinta à óleo e cola entomológica. As armadilhas devem ser instaladas a 30 cm da copa das
plantas.
O mesmo tipo de armadilha pode servir para monitorar ou controlar. O que muda é a
quantidade de garrafas ou painéis. Para monitoramento, 1 garrafa ou painel para cada
250m2 (em estufas, distribuir nas laterais). Para controle (captura massal), 1 garrafa ou
painel para cada 30m2. As armadilhas devem ser trocadas quando a cola perder o efeito ou
estiver cheia de insetos. Normalmente no verão a troca ocorre a cada 15 dias e no inverno
a cada 30 dias.
Importante salientar que é necessário ter objetivos claros quando se quer controlar
uma praga, pois cada cor atrai um grupo de insetos.
Cor amarela: Mosca branca, pulgão, cigarrinha, vaquinha, mosca minadora, besouros e
outros.
Cor Azul: Tripes.
Cor Branca: Mosca doméstica.

Armadilhas feitas com garrafa pet, cola Armadilhas comerciais, prontas.


entomológica e tinta.

5
Texto construído com base na estação 3 apresentada pelos Engº. Agrº. Henrique Queiroz e Gustavo Ayres-Ascar, no I
Seminário Regional de Moranguicultura da Serra Gaúcha, em 24 /10/2019, Gramado – RS.
Iscas tóxicas
As iscas tóxicas têm como objetivo atrair o inseto com a utilização de algum
produto que seja tóxico a ele. Na estação, um exemplo do uso de sabugo de milho foi
apresentado. Os sabugos são colocados a 15 cm da base das sacolas, impregnados por
um inseticida registrado para a cultura e misturado com um atrativo (vinho ou vinagre, por
exemplo). Bons resultados estão sendo obtidos com Success 0,02 CB, na diluição
recomendada. É preciso renovar a impregnação a cada 5 dias. Densidade das iscas: de
400/ha ou uma para cada 25m².

Iscas tóxicas de sabugo de milho com inseticida + atrativo e garrafinhas com isca atrativa

Armadilhas “caça-moscas”
Essa armadilha serve para monitoramento e controle massal e é uma das maneiras
mais eficientes de se controlar a mosca Drosophila Suzukii. Consiste em garrafas pet
penduradas com atrativos dentro. Um dos atrativos mais eficientes é o preparado com
fermento biológico: 20g de fermento biológico, 50g de açúcar, 1L de água. As garrafinhas
devem conter de 5 a 7 furos não muito grandes e suspensas nas bancadas. 80% das
garrafinhas devem estar abaixo das bancadas, que é o local de maior presença de mosca.
Utilizar 1 garrafinha para cada 25 m2.

Armadilha luminosa
Esta armadilha serve para captura de
Duponchelia fovealis (Lepidoptera: Crambidae). Esta
lagarta fica dentro da coroa da planta e por isso o uso de
inseticidas não é muito eficiente. A luminosidade vai atrair a
mariposa, impedindo-a de ovipositar nas plantas.
Importante não colocar essa armadilha dentro da estufa,
pois vai atrair o inseto para dentro do sistema produtivo. O
correto é instalar a mais ou menos 20 metros de distância
da estufa. É possível fazer essa armadilha utilizando uma
bacia com sabão neutro e água e acima, uma lâmpada
com luz negra. Mas também há modelo pronto, como na
foto abaixo.
Ambiência na produção de morangos6
Pedro A. Veit – ERNS I – Agropec. – E.M. São José do Sul – Emater/RS-Ascar.

Ambiência se refere ao ambiente onde a estufa está


inserida e como as condições do ambiente interferem na
produção. A estufa pode ser um ambiente estressante para
o morango, por isso, é importante planejar e manejar o
ambiente para melhorar a produção tanto em quantidade
como em qualidade.
A melhor orientação das estufas é a orientação
Norte e Sul porque nesta orientação as plantas pagam sol
da manhã e da tarde. Nestes períodos há predominância de
raios infravermelhos que são responsáveis por estimular a
fotossíntese.
Outro aspecto importante observar é que no período
de menos luz (inverno) as plantas deveriam ter mais folhas
para garantir uma maior área para fotossíntese e por isso é
muito importante manter o filme plástico da estufa limpo para
garantir uma boa iluminação. Já no período de mais luz
(verão) o agricultor pode utilizar algumas técnicas de manejo
que auxiliam na diminuição da temperatura dentro da estufa
evitando os picos de temperaturas. Deve-se evitar a
utilização de sombrite porque ele faz sombra e já está comprovado que este
sombreamento é prejudicial para os morangos. Uma alternativa é a utilização de tela
Aluminet, no lugar do sombrite, durante as 9h às 15h (período de maior exposição aos
raios ultravioletas).
Também pode se utilizar aspersores em cima do plástico da estufa para fazer uma
“chuva artificial”, diminuindo a temperatura dentro da estufa. A frequência deste
molhamento deve ser feita com base em registros e observação. A ideia central é evitar os
picos de temperatura elevada durante as horas mais quentes do dia. Existem relatos que
os picos de temperatura acima de 32°C favorecem a multiplicação de ácaros, por exemplo.
Outro aspecto muito importante é a biodiversidade de
plantas embaixo das bancadas. O agricultor pode introduzir
espécies de plantas que sirvam de abrigo para espécies de
ácaros predadores como Flor de mel, tansagem e mil em rama
ou introduzir plantas que atraiam os polinizadores do morango.
Fora da estufa em locais próximos o agricultor pode fazer ilhas
de refúgio dos inimigos naturais utilizando estas espécies, que
servem de abrigo
para espécies de
ácaros predadores.

Ambiente demonstrando
microaspersão
6
Texto construído com base na estação 4 apresentada pelos Engº. Agrº. Luciano Ilha – Emater/RS-Ascar e por
externa da Serra
Alexandre Meneguzzo, Secretário de Agricultura de Gramado, no I Seminário Regional de Moranguicultura
Gaúcha, em 24 /10/2019, Gramado – RS.
Janela de produção com atuais opções de mudas 7
Lauro E. Bernardi – ERNS II – ATRs Sistema de Produção Vegetal da Emater/RS-Ascar - Regional Lajeado

Heitor destacou que nas últimas duas décadas foram introduzidas mudas
importadas da Patagônia, Argentina, que estabeleceram um novo nível de qualidade nas
plantas. Elas ficam até 22 meses no campo, com produções nunca antes pensadas,
podendo alcançar até 2,5 kg por planta nesse período. Essa muda é fornecida no final de
abril/início de maio, em se tratando de mudas de dia curto, como a Benícia, Camino Real e
Fronteras, ou durante o mês de junho, quando nos referimos às variedades de dia neutro,
como San Andréas, Albion, Aromas e Monterrey.

Mas o produtor de muitas regiões sempre falou em se ter uma muda de qualidade
mais cedo. E para ocupar esse espaço, a Maxxi Mudas está trazendo essas mudas da
cidade de Segóvia, Espanha, e os resultados têm sido muito satisfatórios, desde que
ajustado manejo desse material diferenciado, como por exemplo; “deixar o 1º cacho para
dar uma matada no excesso de vigor”. Naturalmente este material vai vegetar por 90 a 120
dias para depois retomar produção. No outro extremo estão as mudas nacionais que
possuem pouca reserva, “arrancando fraca, com demora em iniciar picos de produção”. O
quadro abaixo apresentado nesta estação sintetiza estas diferenças, bem como indica
meses de disponibilidade de mudas importadas de distintas regiões pela Maxxi Mudas.
MUDA FRIGO MUDA PARC. FRESCA MUDA FRESCA
ORIGEM Segóvia _Espanha Patagônia-Argentina Brasil
ESTADO DORMÊNCIA Dormente –Sem metabolismo Pouco metabolismo Metabolismo muita
Mais de 600 horas abaixo de Entre 200 - 400 horas abaixo
EXPOSIÇÃO AO FRIO Nenhuma hora fria
7ºC de 7ºC
45 dias – 1º cacho; trava 4 - 5
INÍCIO FRUTIFICÇÃO 50 a 70dias depois do plantio ?
meses depois
Picos de produção _ Depende
CICLO DE PRODUÇÃO Estabilidade ?
da variedade
DISPONIBILIDADE Fevereiro-Abril Maio-junho ?

Evidenciou-se ainda nesta estação a cultivar


Monterrey, que é de dia neutro, florescimento um
pouco mais intenso que Albion e com padrão de
produção similar. Planta vigorosa, de forma mais
ereta, com inflorescências sobressaindo-se à planta,
necessitando um espaçamento um pouco maior do
que o utilizado para Albion. Material que vem sendo
avaliado e se expandindo devido ser muito
reflorescente, com boa capacidade para produzir no
verão, quando os dias são mais quentes e longos. Na região da Serra Gaúcha, produz
bem nos meses de fevereiro a maio.

7
Texto construído com base na estação 5 apresentada pelos Engº. Agrº. Heitor Pagnan da Maxxi Mudas de Feliz, no I
Seminário Regional de Moranguicultura da Serra Gaúcha, em 24 /10/2019, Gramado – RS.

Organização do Informativo Horticultura & Abastecimento 07/2019 a cargo de Lauro E. Bernardi -ERNS II – ATR Sistema de Produção Vegetal da
Emater/RS-Ascar Regional Lajeado, com a colaboração das equipes municipais de Feliz, Bom Princípio, Montenegro e São José do Sul. Formatação
final Ivanice S. Belmonte, Assistente Administrativa I, Regional Lajeado,

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