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Seminário
“Nematoides na cultura da Soja”
Turma: TP3
Disciplina: Nematologia
Jaboticabal – SP
INDICE
SUMÁRIO
1. Introdução 3
2. Informações do Produtor 4
3. Nematoides 5
4. Manejo 9
5. Referências Bibliográficas 20
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Introdução
A soja (Glycine max (L.) Merrill) é uma das mais importantes culturas na economia
mundial. Seus grãos são muito usados pela agroindústria (produção de óleo vegetal e
rações para alimentação animal), indústria química e de alimentos. Recentemente, vem
crescendo também o uso como fonte alternativa de biocombustível (COSTA NETO &
ROSSI, 2000).
Embora no Brasil, a soja apresente uma grande área plantada e considerada o principal
produto da agricultura da brasileira, a soja teve origem no continente da Asia, onde sua
disseminação ocorreu por meio de navegações, assim saindo do Oriente e chegando ao
Ocidente.
No Brasil, o primeiro relato sobre o surgimento da soja através de seu cultivo é de 1882,
no estado da Bahia (BLACK, 2000). Em seguida, foi levada por imigrantes japoneses
para São Paulo, e somente, em 1914, a soja foi introduzida no estado do Rio Grande do
Sul, sendo este por fim, o lugar onde as variedades trazidas dos Estados Unidos, melhor
se adaptaram às condições edafoclimáticas, principalmente em relação ao fotoperíodo
(BONETTI, 1981).
Com o estabelecimento de programa genéticos da soja no Brasil, fez com que a cultura
alcançasse regiões onde as temperaturas são elevadas, o desenvolvimento de cultivares
adaptáveis a essas regiões que possibilitou esse feito.
A produção brasileira de soja, apresentou grande avanço, com aplicação de técnicas de
manejo avançada e também aumento da área semeada tornou possível o aumento da
produtividade da cultura no país.
A produtividade média das lavouras brasileiras passou de 1.369,4 kg.ha-1 na safra
1985/86 para 2.927,0 kg.ha-1 na safra 2009/10, o que correspondeu um aumento de
114,77%. No mesmo período, a área cultivada evolui de 9,6 milhões para 23,6 milhões
hectares na safra 2009/10, o que representou um crescimento de 145,83%
(LAZZAROTTO & HIRAKURI, 2010).
A implantação do manejo integrado de pragas, foi outro grande fator que contribuiu
para a expansão da soja no Brasil, controlando os principais insetos causadores de danos
econômicos na cultura. Como outras culturas, a soja enfrenta vários tipos de problemas
fitossanitário que podem fazer causar a redução da produtividade, como a qualidade
final do produto. Atualmente, os problemas mais comuns da soja são, a ferrugem-
asiática, o mofo-branco, a qualidade fisiológica e sanitária das sementes produzidas e os
nematoides.
Esse trabalho tem como foco os problemas causados por nematoide na soja. Associados
a cultura da soja existem mais de 100 espécies de nematoides, com cerca de 50 gêneros,
isso ao redor do Mundo.
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Com o aumento da produção da soja, fez com que agricultores de formas errônea,
intensificasse a monocultura, junto com adoção de práticas inadequadas de manejo,
ações que como consequência, gerou aumento dos níveis de danos causados por
nematoides, nos últimos anos. Até então, a principal preocupação do agricultor/produtor
de soja era com relação ao nematoide-de-cisto (H. glycines). Atualmente, a preocupação
tem aumentado, em vista, de encontrar mais espécies de nematoides presentes nas
lavouras de soja pelo país.
Na produção de soja no Brasil, as espécies que causam os maiores danos são
Meloidogyne javanica, M. incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e
Rotylenchulus reniformis (FERRAZ, 2001).
Ao decorrer desse trabalho, será apresentado o estudo de caso realizado sobre
problemas com nematoides, enfrentado pelo agricultor/produtor de soja.
Informações do Produtor
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O primeiro passo foi a realização de coletas na qual é a etapa de maior importância
que busca demonstrar a situação real do campo por meio da representação da área
através do processo de amostragem. Para isso veio um Engenheiro Agrônomo na
época que representava uma empresa de produtos biológicos no qual se ofereceu
para realizar a coleta na área na qual não foi realizada na reboleira em si mas sim
nas bordaduras, ou seja, local onde os nematoides estavam mais presentes
ocasionando danos. A coleta realizada foi de solo e de raízes nas quais foi coletada
as amostras de solo na região da rizosfera e nas raízes das plantas, essas amostras
foram homogeneizadas e formadas uma amostra composta por talhão. Foram
coletados 1 litro de solo e 100 gramas de raízes. Após a coleta, as amostras foram
encaminhadas para 2 laboratórios (um laboratório próprio e para o laboratório da
UNESP Botucatu onde no qual as amostras foram analisadas por uma especialista
em nematoides.) aumentando assim a confiabilidade dessas análises.
Após o resultado das análises nematológicas, ou seja, análises de fundamental
importância para um bom diagnóstico e escolha das melhores medidas de controle,
foram identificadas duas espécies de nematoides na área. As espécies de nematoides
identificadas foram: Meloidogyne incognita (nematoide de galha) com um nível
populacional de alta populacional e o Pratylenchus (nematoide das lesões
radiculares) com um nível de média população.
Introdução
Características
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Possuem um estilete para injetar secreções e ingerir nutrientes a partir das células
hospedeiras da planta. As fêmeas são esbranquiçadas, brilhantes, globosas e o tamanho
pode variar de 0,5 mm a mais de 2 mm. São incapazes de se locomover, vivendo como
parasitas. Os machos têm corpos tubulares, alongados, de diâmetro praticamente
constante ao longo do comprimento, afilando-se de maneira gradual nas extremidades.
A forma roliça e alongada do corpo é adequada ao movimento serpentiforme de
locomoção, por ondulação transversal. Geralmente o comprimento do corpo é de 500
µm por 15 µm de largura.
Ciclo de Vida
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Sintomas e Danos
Introdução
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Características
Ciclo de vida
Sintomas e Danos
Os danos por Pratylenchus spp. às raízes das plantas hospedeiras são causados
por três tipos de ações: mecânicas - (devido à migração típica do nematoide no interior
do córtex radicular); tóxicas - (devido a injeção no citoplasma de secreções esofagianas
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nas células parasitadas); e espoliativas - (retirada do conteúdo citoplasmático
modificado pelo nematoide das células atacadas (Ferraz, 2006). Os sintomas causados
estão associados a podridões e necroses do sistema radicular das plantas parasitadas,
tendo como resultado a redução das radicelas chegando até a perda das raízes
pivotantes. Na parte aérea podem ser observadas nas estações secas, clorose e
murchamento, seguidos de perda na produção. Em casos de infecção mais severa pode
ocorrer a desfolha total (Campos, 1999).
O fato da planta ser acometida por mais de um tipo de doença acarreta em
grandes implicações na quantificação e diagnóstico dos danos, e na escolha da estratégia
de controle que estará diretamente ligada ao nível das doenças na cultura (Johnson et al.,
1986). A interação entre os patógenos, depende do inóculo inicial dos patógenos, das
culturas e das cultivares em questão (Tu e Ford, 1971; Sikora e Carter, 1987; Weischer,
1993), mas também depende da combinação planta-patógeno e das condições climáticas
(Campbell, 1990), e principalmente da temperatura (Reyes e Chadha, 1972). A presença
de dois ou mais patógenos em uma mesma hospedeira é comum em muitos sistemas de
produção (Kranz e Jörg, 1989). A interação destes patógenos podem ocorrer pelo fato
de os nematoides provocarem feridas em suas hospedeiras que se tornam porta de
entrada para parasitas oportunistas como fungos e bactérias, ou ao modificar a rizosfera
facilitando o crescimento de outros patógenos, ou até mesmo por induzir alterações
fisiológicas na hospedeira provocando uma "quebra da resistência" a certos patógenos
(Bergeson, 1971).
Os sintomas são inespecíficos e podem ser facilmente despercebidos ou
confundidos com sintomas causados por outros patógenos, deficiências nutricionais ou
estresse hídrico. Plantas de soja atacadas apresentam a sua parte aérea clorótica,
sintomas de murcha durante os dias quentes, com recuperação à noite, vagens pequenas
e mal granadas. Esses sintomas dão aparência de irregularidade, podendo aparecer em
reboleiras ou em grandes extensões. Também pode ocorrer nanismo na planta, menor
número de brotações e subdesenvolvimento. Como esta espécie de nematoide abre
portas e destrói tecidos das raízes, causando rompimento superficial e destruição
interna, pode predispor a infecções secundárias de fungos e bactérias. Os efeitos de P.
Brachyurus sobre o crescimento e, consequentemente, sobre a produção vegetal, são
resultantes de desordem e mal funcionamento dos processos de crescimento de raízes e
exploração do solo para obtenção de água e nutrientes.
Para o controle da população de nematoides, foi e vem sendo realizado na área, a prática
de rotação de culturas, que no geral não são hospedeiras de ambos os nematoides. As
culturas escolhidas para a rotação foram a Crotalária, tanto a spectabilis quanto a
ochroleuca, e o milheto, os quais apresentam um baixo fator de reprodução (menor que
1) em relação aos nematoides.
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Ademais, ainda na tentativa de reduzir o efeito danoso provocado pelos nematoides,
tem-se usado na área, cultivares de soja resistentes que apresentam baixo fator de
reprodução dos nematoides, sendo que no caso em análise, a que a presentou melhores
resultados foi o cultivar BRS 7380 RR da Embrapa. Além do cultivar BRS 7380 RR,
foram utilizados outros materiais, como a 96Y90 da PIONEER, porém os resultados
não foram tão satisfatórios quanto aos do cultivar da Embrapa.
Além dessas práticas já citadas, outras serão também comentadas posteriormente.
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não sobrevivem, perecendo prematuramente sem deixar sobreviventes. Autores, como
Wang et al. (2002) e vários outros, já observaram que M. incognita não se multiplica em
C. spectabilis e ochroleuca, sendo estas, espécies não hospedeiras do parasita com
capacidade de supressão do nematoide no solo.
De uma maneira geral, ambas as espécies de crotalaria usadas (spectabilis e ochroleuca),
reduzem tanto a população de P.brachyurus quanto de M.incógnita. Porém em relação
ao milheto, a situação não é a mesma, pois essa cultura pode se mostrar resistente a P.
brachyurus, porém é favorável a M. incognita. Assim, a prática mais indicada é o
consórcio das duas culturas, por exemplo, o milheto é uma planta hospedeira de M.
incognita (comportamento da maioria das cultivares) e C. spectabilis, uma não
hospedeira. Os exemplares do nematoide que infectarem as raízes de milheto irão se
reproduzir, e os que infectarem as de C. spectabilis, não. Portanto, o efeito do consórcio
no manejo desse nematoide não será tão ruim como uma cultura solteira de milheto,
nem tão bom como em uma solteira de C. spectabilis.
Debiasi et al., (2016), estudando o comportamento de plantas na entressafra concluiu
que o cultivo da C. spectabilis na entressafra, solteira ou consorciada com o milheto
reduz a população e os danos causados por P. brachyurus à soja. No caso em questão
onde a área também é prejudicada por M. incógnita a opção escolhida foi o consórcio de
milheto com crotalaria.
Uma questão interessante é que algumas espécies do gênero crotalaria, como a
Crotalaria pallida, produzem uma proteína denominada CpPRI, inibidora da papaína,
importante enzima alcaloide relacionada à digestão, agindo contra a proteinase digestiva
de M. incognita, adentrando e difundindo por todo o corpo de J2 em poucas horas
(testes in vitro) (ANDRADE et al.,2010), podendo assim, contribuir na explicação da
efetividade da cultura contra o gênero Meloidogyne. Assim uma outra alternativa seria o
uso da Crotalaria pallida.
É importante considerar que fatores relacionando a textura do solo conferindo partículas
maiores ou menores também contribuem para o aumento populacional dos nematoides.
Os solos com características arenosos (< 15% argila) são aqueles nos quais o manejo de
nematoides precisa ser mais intensivo, pois é ambiente altamente favorável ao
nematoide das lesões, além de desfavorável à planta, principalmente pela rápida
degradação da matéria orgânica e a baixa disponibilidade de água entre poros,
favorecendo o aumento a predisposição ao parasitismo dos nematoides (Rocha et al.,
2006), como é o caso da área que estamos tratando.
Como alternativa, além das culturas que já estão sendo utilizadas, poderia ser adotado o
plantio de Crotalaria breviflora ou a Aveia preta, visando o controle de P. brachyurus.
Em relação a M. incognita, algumas alternativas seriam também a já citada Crotalaria
breviflora, pallida, braquiárias e Azevém, as quais reduzem a quantidade de nematoides
de galha no solo pelo fato de serem plantas não hospedeiras.
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Cultivares resistentes
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cultivada desde a década de 60 e onde os nematoides do gênero Meloidogyne ocorriam
com frequência. Quando a população do nematoide está em densidade muito elevada,
mesmo as cultivares resistentes têm sua produtividade reduzida, e, neste caso, deve-se
realizar previamente a rotação de culturas com outras espécies de plantas resistentes,
para então utilizar as cultivares de soja resistentes ao nematoide (Silva, 2001).
Em relação ao Pratylenchus brachyurus, o uso de cultivares resistentes seria o método
ideal de manejo, uma vez que é eficiente na redução populacional do nematoide, bem
como não aumenta o custo de produção, já que a própria semente é a ferramenta de
manejo e não há a necessidade de adaptação de maquinário agrícola dentro da lavoura.
Entretanto, para P. brachyurus, até o momento não foram encontradas fontes de
resistência nas principais culturas agrícolas, como soja, milho e algodão. Para a soja,
existem algumas cultivares consideradas moderadamente resistentes ou, como são
conhecidas mais popularmente, com baixo fator de reprodução.
Diante dessa questão, optou-se pela utilização da cultivar BRS 7380 RR, cultivar
lançada em 2015 pela Embrapa em parceria com a Fundação Cerrados, o Programa de
Melhoramento Genético da Soja conseguiu nesse material desenvolvido pela Embrapa
em parceria com a Fundação Cerrados, reunir resistências a nematoides e alta
produtividade. Essa cultivar, além de ser resistente ao herbicida glifosato (RR)
apresenta resistência a seis raças do nematoide de cisto (Heterodera glycines) – as raças
3, 4, 6,9, 10 e 14, e aos dois nematoides formadores de galhas (Meloidogyne incognita e
o Meloidogyne javanica). Também apresenta baixo fator de reprodução ao nematoide
das lesões radiculares, o Pratylenchus spp. Assim os resultados obtidos com uso dessa
cultivar resistente foram positivos, com a diminuição tanto de M. incógnita tanto de P.
brachyurus na área em questão, o que possibilitou um aumento na produtividade após a
adoção te tal cultivar.
Além da cultivar BRS 7380 RR, outros materiais comerciais também foram utilizados
na ocasião, como por exemplo o 96Y90 da PIONEER, o qual é mais recomendado para
o nematoide do Cisto da Soja raça 14. Desse modo o uso desse cultivar não se mostrou
positivo.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, o controle químico é uma medida que vem sendo adotada para
minimizar os danos causados pelos nematoides das plantas cultivadas, porém devido ao
impacto ambiental, desenvolvimento da resistência dos nematoides aos nematicidas e
alto custo desta medida de controle tornam-se necessário estudar alternativas de
controle, a fim de reduzir os prejuízos causados (FERRAZ; SANTOS, 1995). Outra
barreira dos químicos é a dificuldade dos nematicidas em atingir o alvo com êxito, em
que nem sempre a aplicação desses produtos proporciona controle eficiente dos
nematoides.
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Numa busca por novos incrementos de produtividade e novos padrões de
sustentabilidade exigidos pela sociedade e desejados pelos agricultores foi criada uma
técnica em que se reúne várias formas de controle juntas.
Essa técnica criada que está sendo utilizada atualmente se chama MIN (Manejo
Integrado de Nematoides), em que visa evitar a resistência das pragas, melhorando a
eficiência do controle; preservando os inimigos naturais na área; ajudando na
manutenção do ambiente de produção, reduzindo as chances de contaminação
ambiental; e melhorando a eficácia de intervenções de controle, permitindo, inclusive,
redução dos custos.
As técnicas utilizadas pelo MIN são, evitar entrada e disseminação de
nematoides; alqueivar, escarificar e subsolar o solo; manejo do solo; rotação de culturas;
resistência genética; controle químico; e controle biológico.
A associação de nematicidas químicos e biológicos em uma mesma aplicação
tem sido bastante empregada nos dias atuais. No entanto, para que essa junção de
ferramentas não prejudique a performance dos produtos, é de fundamental importância
compreender a compatibilidade desses produtos, uma vez que dependendo da
combinação de produtos químicos com biológicos pode ocorrer a inibição do
desenvolvimento e inviabilidade de ação desses fungos.
Por outro lado, os biológicos podem aumentar a eficiência dos agroquímicos
como também estender sua vida ao reduzir a pressão de seleção de pragas e doenças
resistentes aos defensivos químicos. Assim, o manejo integrado demonstra claro
equilíbrio, trazendo solução tanto para o produtor quanto para a sociedade.
Ainda em fase de pesquisa, diversos resultados têm demonstrado o aumento da
eficiência nutricional, o equilíbrio fisiológico das plantas e do manejo de pragas e
doenças pela combinação entre químicos e biológicos, além dos vários relatos positivos
de agricultores que estão utilizando essa técnica.
Vários organismos que ocorrem naturalmente no solo são considerados inimigos
naturais dos nematoides, tais como fungos nematófagos e rizobactérias. Há uma
tendência para utilizar o produto químico e biológico nematicida, quando compatível;
caso contrário, o químico é aplicado na semente e o biológico no sulco da sementeira.
Esta estratégia é muito interessante, uma vez que o nematicida químico dará esse efeito
de choque/proteção inicial ao reduzir a infecção inicial da raiz. No entanto, tem um
curto período de ação. Já o biológico é inicialmente mais lento, uma vez que é um
microrganismo vivo. Consequentemente, atuará ao longo de todo o ciclo de cultivo e
pode mesmo permanecer no solo, com utilização sucessiva e contínua, e fazer o solo
reequilibrar novamente em relação a problemas com nematódeos.
Com isso, é importante enfatizar que, embora haja muitos argumentos contrários
ao uso do controle químico com produtos nematicidas, ligados tanto à economicidade
do método quanto principalmente aos aspectos de contaminação do solo com seus
resíduos tóxicos, o emprego de tal técnica foi e continuará sendo recurso ao qual o
agricultor por vezes irá recorrer. Isso porque, aplicados de forma correta e em situações
para as quais a sua recomendação encontra boa justificativa, os nematicidas, ainda que
não erradiquem os fitonematoides da área tratada, causam-lhes reduções populacionais
14
por período de tempo suficiente a que as culturas, em particular as anuais, tenham bom
crescimento inicial e possam depois se mostrar bem produtivas.
Portanto, o ideal não será que o emprego desse tipo de controle seja
simplesmente abolido, mas que se restrinja com o passar do tempo, à medida que outros
eficientes instrumentos alternativos sejam disponibilizados ao produtor rural e ele possa
de fato elaborar para a sua propriedade um programa de MIN ecologicamente
sustentável e economicamente viável.
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1.2.2 Cropstar
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Para que o produtor possa usufruir de todos os benefícios da utilização de um
agente de controle biológico como aliado no manejo de nematoides, é necessária a
adoção de uma série de ferramentas complementares de manejo, de modo a criar
condições favoráveis para que o microrganismo seja efetivo. Um agente de controle
biológico aplicado em solo extremamente pobre, degradado, sob condições climáticas
adversas, como veranicos, provavelmente não conseguirá atuar de maneira adequada no
controle de nematoides. O aumento da matéria orgânica no solo é essencial para o
sucesso do agente microbiano; a rotação de culturas e/ou a utilização de plantas de
cobertura vegetal auxiliam não só no aumento ou manutenção dos níveis de matéria
orgânica no solo, como também promovem um microclima bastante favorável para que
o controle biológico tenha efetividade.
Na produção dos nematicidas microbiológicos é necessário profundo
conhecimento sobre ciclos de vida dos inimigos naturais, em especial seus mecanismos
reprodutivos, e as muitas influências as quais estão sujeitos vivendo no solo. É
necessário também técnicas para criação massal in vivo ou in vitro e de formulações que
permitam a sobrevivência do organismo durante meses sem perda de infectividade
(tempo de prateleira) e se revelem economicamente viáveis.
Além disso tem os elevados custos envolvidos nos estudos de avaliação da
eficiência e da segurança de aplicação dos produtos, além de seus demorados processos
de registro junto aos órgãos governamentais, pois no Brasil os bionematicidas são
incluídos na modalidade de “agrotóxicos e afins”, sendo necessário ensaios a campo em
diferentes locais para teste de eficácia.
Tais dificuldades, técnicas e econômicas, devem ser suficientes para explicar a
razão de relativamente poucos produtos biológicos para o manejo de fitonematoides
estarem hoje disponíveis em vista da ampla diversidade de organismos já estudados.
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O Purpureocillium lilacinum são fungos saprofíticos, logo, independem da
presença de ovos de nematoides no solo para a sua sobrevivência, crescendo
satisfatoriamente em matéria orgânica. Devido a essa característica, se estabelecem mais
facilmente no solo, quando comparados com os fungos predadores. Parasitam
rapidamente ovos e fêmeas de nematoides, destruindo de uma só vez grande quantidade
de indivíduos
Já o Trichoderma spp., embora seu principal modo de controle de nematóides
seja a produção de compostos tóxicos, há vários relatos de parasitismo de ovos de
fitonematoides por esse gênero de fungo (SPIEGEL & CHET, 1998; SHARON et al.,
2001; EAPEN et al., 2005)
O Bacillus spp. possui antagonismo por meio da produção de enzimas líticas,
indução de resistência sistêmica, antibiose e redução de estresse oxidativo (Kloepper et
al., 2004; Zhou et al., 2017), além disso eles também promovem o crescimento vegetal.
Outra característica importante dessas bactérias é a capacidade de formarem
endósporos, estruturas de resistência, formadas a partir da célula bacteriana, que confere
proteção das bactérias às condições extremas, tais como, temperatura elevada,
dessecação e contato com moléculas químicas, permitindo assim a sobrevivência da
bactéria por vários meses, até que encontre condições ambientais favoráveis (Lanna-
Filho et al., 2010; Abd-Elgawad e Askary 2018). Essa é uma característica de grande
relevância na produção de bioprodutos, já que esses produtos são normalmente
utilizados em conjunto com outros defensivos químicos, bem como expostos ao sol
durante longos períodos até sua aplicação.
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nutrientes pode comprometer o crescimento inicial das culturas agrícolas e,
consequentemente, reduzir seu desenvolvimento e produtividade em até 90 %,
dependendo da espécie daninha e cultura afetada.
O manejo destas espécies é realizado basicamente de forma química, pela
utilização de herbicidas. Porém, o uso repetido por vários anos de um ou poucos
mecanismos de ação herbicida selecionou, em diversas espécies de plantas daninhas, a
resistência a um ou mais herbicidas, dificultando o controle, aumentando os custos de
manejo e reduzindo o potencial produtivo dos cultivos comerciais.
Somado a isso, as plantas daninhas vêm ganhando importância pelos seus efeitos
negativos indiretos, quando servem como hospedeiras alternativas de pragas e doenças
de relevância aos cultivos agrícolas e florestais. Dentre os patógenos hospedados por
plantas daninhas e de grande importância agrícola, destacam-se várias espécies de
nematoides fitoparasistas, especialmente dos gêneros Meloidogyne sp. e Pratylenchus
sp., conhecidos popularmente por nematoides-das-galhas e das lesões, respectivamente.
A questão de resistência a herbicidas é ainda mais preocupante quando as
plantas daninhas agregam o agravante de serem hospedeiras e multiplicadoras de
fitonematoides. Entretanto, o controle de plantas daninhas, além de reduzir os prejuízos
aos cultivos agrícolas provocados por competição, torna-se de vital importância para
reduzir os danos e prejuízos causados por fitonematoides.
Esse fato é decorrente da necessidade deste patógeno ter um hospedeiro vivo
para sobreviver e multiplicar-se, sendo que a ausência de plantas daninhas reduz a
capacidade dos mesmos em permanecer no solo por muitos anos. Nesse contexto, o
conhecimento da ocorrência e distribuição de plantas daninhas hospedeiras de
fitonematoides em áreas agrícolas, em conjunto com a determinação do hábito polífago
dos nematoides, tornam-se ferramentas importantes para delimitar estratégias de manejo
desses dois graves problemas da agricultura atual.
É importante ressaltar que o manejo de fitonematoides é um processo trabalhoso
em tempo e recursos, e, dependerá de esforço contínuo para reduzir sua população em
níveis que não gerem perdas significativas nas culturas de interesse econômico. A
estratégia de manejo deverá estar baseada em uso de cultivares tolerantes, rotações de
culturas com plantas com baixo fator de reprodução, uso de nematicidas químicos e
biológicos, e contínuo monitoramento e controle de plantas daninhas, especialmente nos
períodos em que os cultivos não estão presentes, tornando estas a única fonte de
alimento para os fitonematoides. Deste modo, o manejo integrado de nematoides está
atrelado ao manejo de plantas daninhas hospedeiras desses parasitas, devendo ser
planejado de forma conjunta, contínua e persistente para alcançar resultados
significativos.
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Referências Bibliográficas
20
BELLÉ, C. et al. Meloidogyne species associated with weeds in Rio Grande do Sul.
Planta Daninha, v. 37, p. 1-6, 2018.
BELLÉ, C. et al. Reproduction of Pratylenchus zeae on weeds. Planta Daninha, v. 35, n.
2, p. 1-8, 2017.
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