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Interbio v.2 n.

2 2008 - ISSN 1981-3775 12

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DE AMOSTRAS DE ERVA-MATE


(Ilex paraguariensis) COMERCIALIZADAS EM DOURADOS, MS.

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DE AMOSTRAS DE ERVA-MATE (Ilex


paraguariensis) COMERCIALIZADAS EM DOURADOS, MS.

RENOVATTO, Yndilla Pedroso1; AGOSTINI, Juliana da2

Resumo
A erva mate (Ilex paraguariensis) é uma planta muito utilizada para o preparo de bebidas como o mate frio,
conhecido por tereré e mate quente conhecido por chimarrão. É importante que estes produtos sejam avaliados, haja
vista que um dos contaminantes mais freqüentes de plantas e produtos desidratados sejam os fungos, agentes
causadores de várias intoxicações. O objetivo deste trabalho foi submeter cinco amostras de erva de tererê e cinco de
chimarrão comercializadas na região de Dourados MS a análises físico-químicas e microbiológicas. Para as análises
microbiológicas procedeu-se a contagens de bolores e leveduras e bactérias aeróbias mesófilas totais utilizando o
método de contagem padrão em placas. Os fungos isolados foram identificados por meio da avaliação de suas
características macroscópicas e microscópicas. As análises físico-químicas consistiram na determinação do teor de
umidade utilizando o método de perda por dessecação e cinzas por incineração da amostra. Quanto aos parâmetros
físico-químicos (umidade e cinzas), todas as amostras estiveram dentro dos limites normais. A contagem de bactérias
aeróbias mesófilas demonstrou que 40% das amostras de erva para tereré apresentaram valores acima dos limites.
Apesar das contagens de bolores e leveduras estarem normais, alguns fungos foram isolados. As leveduras e bolores
como Aspergillus niger e Alternaria sp foram identificados em 100, 40 e 60% das amostras de erva para chimarrão,
respectivamente e Alternaria sp, Penicillium sp, Aspergillus niger, Aspergillus flavus e leveduras foram identificados
em 20, 40, 100, 20 e 100% das amostras de erva para tereré, respectivamente. No geral, pode-se verificar que as
amostras de ervas destinadas ao consumo de tereré apresentaram maiores índices de contaminação, bem como uma
maior variedade de fungos.
Palavras-Chave: Contaminação, análise microbiológica, bebida natural

Abstract
The Yerba mate (Ilex paraguariensis) is a very useful plant for the preparation of beverages like cold mate tea, called
tereré, and hot mate tea, called chimarrão. This products are produced in a manual way, thus, it is common that the
physicochemical and microbiological quality of them are questionable. It is important that these products are
evaluated, considering that one of the most frequent contaminants of plants and dehydrated products are the fungi.
The presence of these microorganisms in the foods in too large numbers is preoccupying, once some molds produce
mycotoxins, that can be consumed by humans or animals causing intoxication pictures. The aim of this study was to
submit five samples of tererê herb and five of chimarrão herb, marketed in the area of Dourados-MS, to
physiochemical and microbiological analyses. For the microbiological analyses, molds, yeasts and aerobic total
mesophile bacteria were counted using the standard counting method in plates. The isolated fungi were identified
through the evaluation of their macroscopic and microscopic characteristics. The physiochemical analyses consisted
in the determination of moisture degree applying loss on drying (LOD) method and ashes using the incineration of
the sample. All of the researched samples were inside of the normal limits in the physiochemical parameters
(moisture and ashes). The counting of aerobic mesophile bacteria demonstrated that 40% of the tereré herb samples
presented values above the allowed limits. In spite of the acceptable levels of molds and yeasts for all the samples,
some fungi were isolated. Yeasts, Aspergillus niger and Alternaria sp were identified in 100, 40 and 60% of the
chimarrão herb samples, respectively, and Alternaria sp, Penicillium sp, Aspergillus niger, Aspergillus flavus and
yeasts were identified in 20, 40, 100, 20 and 100% of the tereré herb samples respectively. In general, it can be
verified that the tereré herbs samples presented larger contamination rates, as well as a larger variety of fungi.
Key-Words: Contamination, microbiological analysis , natural beverage
___________________________
1
Biomédica formada no Centro Universitário da Grande Dourados-Unigran/MS.
2
Prof. Msc. em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Londrina-PR. Professora da Faculdade de
Ciências Biológicas e da Saúde no Centro Universitário da Grande Dourados – Unigran/MS. Rua Balbina de Matos
2121, CEP 79824-910. Dourados MS. juagostini@yahoo.com.br.

RENOVATTO, Yndilla Pedroso; AGOSTINI, Juliana da


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Introdução favorecem a proliferação de fungos nos


produtos agrícolas, determinando altos teores
A erva-mate (Ilex paraguariensis St. de micotoxinas nos alimentos provenientes
Hil.) compõe um dos sistemas de exploração dessas regiões (MIDIO; MARTINS, 2000).
agroflorestais mais antigos e característicos da As micotoxinas podem provocar micotoxicose
Região Sul do Brasil. Essa planta ocorre na aguda, que resulta em danos aos rins ou
região subtropical da América do Sul sendo fígado; crônica, resultando em câncer de
nativa do Paraguai oriental, Brasil meridional fígado; mutagênica, causando danos no DNA e
e Argentina (KUSSLER et al., 2004). teratogênica, causando câncer em crianças ao
A produção brasileira anual está em nascer (FORSYTHE, 2002).
torno de 206.000t, sendo os principais estados Como os esporos se propagam pelo ar,
produtores, Paraná, Santa Catarina, Rio estes possuem enorme capacidade de se
Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. O maior depositarem em superfícies expostas ao ar.
consumidor é o Estado do Rio Grande do Sul, Contudo a principal preocupação é que a Ilex
representando cerca de 50 – 60% da paraguariensis é armazenada em grandes
comercialização no país, no entanto, essa quantidades após sua colheita em depósitos
cultura muito vem se expandindo, chegando a como armazéns, barracões, gerando um habitat
estados do norte com consumo significativo. propício para o crescimento de diversos
Atualmente, atingindo o mercado europeu, microorganismos. Deste modo podem
onde é utilizado como infusão (HENRICHS; ocasionar prejuízos à saúde de trabalhadores
MALAVOLTA, 2001). das indústrias de erva-mate, bem como de
A erva-mate, consumida como chá ou consumidores dos produtos (DARINI et al.,
chimarrão, tererê, pode ser muito mais que 2003).
uma bebida agradável e estimulante. Pouco se sabe, porém, sobre o
Infelizmente, pouco se estuda sua crescimento de fungos, teor de umidade e
potencialidade, pois os principais países pureza da erva-mate e quais benefícios e/ou
envolvidos com o seu consumo são poucos, malefícios podem causar a saúde humana. O
entre esses estão a Rússia e Índia. crescimento de microorganismos poderá advir
Há controvérsias quanto aos benefícios e do manuseio, processo, armazenamento ou do
malefícios da erva-mate, por ser uma bebida consumo inadequado da erva. É importante
comumente ingerida com água fervente, relata- que se façam estudos em relação à pureza e
se a ocorrência de câncer de orofaringe, por qualidade microbiológica dos produtos
outro lado é um excelente tônico que auxilia comercializados a base da erva-mate. Sendo
na digestão entre outros benefícios assim, o objetivo deste trabalho foi submeter
(FAGUNDES,1980; DIETZ et al., 1998). cinco amostras de erva de tereré e cinco de
Plantas em geral contêm grande chimarrão comercializadas na região de
quantidade e diversidade de fungos e bactérias Dourados MS a análises físico-químicas e
que fazem parte de sua própria microbiota microbiológicas para verificar a qualidade
natural, podem advir do solo ou serem destes produtos.
contaminadas durante o processamento e
manipulação. As condições de manejo, Materiais e Métodos
secagem e armazenamento podem influenciar
no desenvolvimento de microrganismos Matéria prima
viáveis que aumentam o grau de contaminação
do produto (WHO, 1998) As amostras de ervas foram obtidas nos
As condições climáticas dos países meses de julho e agosto de 2005 no comércio
tropicais (temperatura e umidade elevadas) de Dourados e região no qual foi composta por
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10 amostras provenientes de diferentes A contagem padrão em placas de


produtores, sendo 05 amostras destinadas ao bactérias heterotróficas mesófilas foi realizada
consumo de tereré e 05 amostras destinadas ao utilizando Agar Contagem Padrão de acordo
consumo de chimarrão. As amostras foram com técnica descrita por Silva et al. (2001).
coletadas de forma uniforme de acordo com as Com as diluições (10 -1,10-2, 10-3, 10 -4) da
regras gerais de amostragem do Instituto amostra preparada anteriormente distribuiu-se
Adolfo Lutz (1985), de forma a garantir uma 1,0mL de cada diluição no centro de placas de
boa representatividade do conjunto. Petri estéreis adicionando-se cerca de 15mL de
Agar Padrão para Contagem fundido e
Determinação de umidade e cinzas resfriado a 45°C até que o mesmo se
solidificou na placa de Petri. A incubação foi
O teor de umidade foi determinado feita a 36°C por 48 horas.
segundo a metodologia do Instituto Adolfo
Lutz (1985) pela perda por dessecação Isolamento de bolores e leveduras
utilizando estufa regulada a 105°C. O teor de
cinzas ou resíduo mineral fixo foi determinado Para a contagem de bolores e leveduras
segundo a metodologia do Instituto Adolfo foi necessário incubar as amostras a 24°C por
Lutz (1985), utilizando incineração da matéria 5 dias. O meio de Ágar Dextrose Batata
orgânica em mufla regulada a 550°C. (ADB) foi fundido em banho-maria e resfriado
em torno de 45°C e foi adicionada a solução
Preparação das amostras para analises de ácido tartárico de forma a reduzir o pH para
microbiológicas 3,5. Então, transferiu-se 1,0mL das diluições
10-1,10 -2 , 10 -3, 10 -4 da amostra para as placas
Todas as etapas de preparo das amostras de Petri estéreis e verteu-se em cada uma delas
foram feitas com utensílios sanitizados com cerca de 15mL do meio de ADB acidificado.
álcool 70%. Uma porção representativa de 25g O inóculo foi misturado com o meio,
da amostra previamente moída em moinho aguardou-se a solidificação, inverteu-se as
analítico foi homogeneizada em liquidificador placas que foram incubadas a 24°C por 5 dias
com 225 mL de solução salina (0,85%) (SILVA et al., 2001).
peptonada (0,1%) estéril a fim de obter a
diluição 10-1. Posteriormente, 1 mL desta Contagem das colônias
diluição foi colocado num erlenmeyer
contendo 9 mL de solução salina peptonada, Após a incubação procedeu-se à leitura
obtendo-se a diluição 10-2 e tal procedimento das placas que continham de 30 a 300
foi repetido para obtenção das diluições 10-3 e colônias, sendo que eram consideradas
10-4. Após a homogeneização das diluições foi positivas as placas que apresentavam colônias
realizada a semeadura das amostras, pelo bem diferenciadas considerando o resultado
método de Pour plate que consiste na expresso como estimativo. A ausência de
distribuição da diluição na placa estéril vazia e crescimento na diluição 10-1 foi expressa como
posterior adição do meio de cultura fundido a abaixo de 300 UFC/g. As leituras acima de
45º C. Para as técnicas de semeaduras foi 300 colônias na maior diluição foram
realizada a assepsia da câmara do fluxo expressas como maior que 3 x 106 UFC/g e
laminar; as placas foram identificadas com o nas leituras entre 30 e 300 colônias os
nome da amostra, data da confecção e diluição resultados foram expressos multiplicando-se o
(SILVA et al., 2001). valor encontrado, pelo fator de diluição
correspondente (SILVA et al., 2001).
Isolamento de bactérias mesófilas
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Técnica de microcultivo para identificação Tabela 1 - Teor de umidade e cinzas em


dos fungos amostras de erva mate destinadas ao consumo
de chimarrão e Tereré.
A identificação dos fungos foi realizada Marcas % de umidade % de cinzas
com base no aspecto macroscópico (LACAZ Média ± desvio Média ± desvio
et al.,1991) e microscópico das colônias padrão padrão
juntamente com a elaboração do microcultivo C1 4.64 ± 0.29 5.71 ± 0.12
que é a cultura em lâminas (RIDDELL, 1950).
C2 9,57 ± 0,03 6.38 ± 0.13
O microcultivo foi efetuado repassando-se,
para pequenas porções de Ágar Dextrose
C3 4,92 ±0,28 5.96 ± 0.18
Batata, amostras das diferentes estruturas C4 8,27 ± 0.23 5.57 ± 0.11
fúngicas que apresentaram crescimento. Ele C5 7,54 ± 0.18 5.31 ± 0.25
foi mantido em câmara úmida por T1 5,85 ± 0.20 6.37 ± 0.10
aproximadamente 72 horas em temperatura T2 5,90 ± 0.38 5.91 ± 0.20
ambiente e transcorrido o período foi T3 6,14 ± 0.03 6.03 ± 0.19
adicionado 1ml de formol a 10% por uma T4 8,19 ± 0.36 5.67 ± 0.23
hora. Em seguida as estruturas foram fixadas T5 6,47 ± 0.10 5.83 ± 0.20
com álcool a 95%, A coloração foi efetuada Chimarrão (C1 a C5) e Tereré (T1 a T5).
com uma gota de lactofenol e as lâminas foram
vedadas com esmalte. Posteriormente, Com relação a análise do resíduo
procedeu-se a verificação das estruturas no mineral fixo ou cinzas verificou-se que a
microscópio óptico com óleo de imersão. média dos teores encontrado foi de 5.78% e o
desvio padrão de 0,40 para as ervas de
Resultados e Discussão chimarrão e média de 5,96% e o desvio padrão
de 0,26 para amostras de tererê (Tabela 1).
Análises de umidade e cinzas De acordo com a Portaria n. 234
(BRASIL, 1998) os resultados obtidos com as
A partir dos dados obtidos, verificou-se amostras de erva-mate destinadas ao consumo
que a média da umidade para chimarrão foi de de chimarrão e tererê estão dentro do limite
6,98% e o desvio padrão de 2,14 e para as máximo permitido de 7%. A determinação do
amostras destinadas ao consumo de tererê, teor de cinzas permite a verificação de
observou-se que a média da umidade foi de impurezas inorgânicas, que mesmo após a
6.51% e o desvio padrão de 0,97 (Tabela 1). incineração permanecem no produto, podendo
Conforme a Portaria n. 234 (BRASIL, causar contaminação (FARIAS, 2003).
1998) e Resolução RDC n. 302 (BRASIL,
2002), os resultados obtidos de umidade das Análises microbiológicas
amostras de chimarrão e tererê encontram-se
dentro do limite máximo permitido de 10%. Os resultados das análises
Esse parâmetro é muito importante porque o microbiológicas fornecem informações sobre a
excesso de umidade no produto pode acarretar qualidade da matéria-prima empregada, as
degradação de constituintes químicos, além de condições de preparo do produto e a
possibilitar o crescimento de deficiência do método de preservação
microorganismos, como fungos e bactérias (PELCZAR et al., 1997).
(FARIAS, 2003). Neste caso, todas as Na tabela 2 tem-se os resultados obtidos
amostras encontram-se dentro dos limites através da determinação da contagem de
exigidos pela legislação. bactérias mesófilas aeróbias totais e bolores

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leveduras em amostras de erva-mate De acordo com a OMS a tolerabilidade


destinadas ao consumo de chimarrão e tererê. de fungos para o chimarrão, planta consumida
Os produtos naturais podem conter como infusão, é de 10 5/g (WHO, 1998). Todas
grande número de bactérias provenientes do as amostras analisadas encontram-se dentro
solo, pertencentes à flora natural ou como das normas estabelecidas segundo este critério.
contaminantes durante o manejo, secagem e Para plantas usadas para o consumo de tereré,
armazenamento do produto. Estabelece-se, que a OMS preconiza o limite de 103/g do
para plantas que serão submetidas a tratamento alimento.
térmico, como água fervente no caso do
chimarrão, a tolerabilidade de Tabela 2 – Contagem de microorganismos em
microorganismos aeróbios é de 107 UFC/g amostras de erva mate destinadas ao consumo
(WHO, 1998). A maioria dos alimentos, cujas de chimarrão e Tereré .
características organolépticas são alteradas Marcas Bactérias Bolores e
devido ao crescimento bacteriano, apresenta aeróbias totais leveduras
índices superiores a 106 UFC/g do alimento (UFC/g) (UFC/g)
(FRANCO et al., 2003). Portanto os resultados C1 5,0 x 10 2
<300
obtidos bactérias aeróbias mesófilas totais C2 1,7 x 10 4
<300
encontram-se dentro dos valores permitidos, o C3 4 x 102 <300
que não acarretará prejuízos à saúde dos
C4 <300 <300
consumidores. No que se refere às amostras
C5 8,6 x 10 3 <300
destinadas ao consumo do tererê, produto
T1 2,3 x 10 4 <300
consumido com água fria, os valores
T2 2,5 x 10 5 5x102
determinados pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) para microorganismos aeróbios T3 4,0 x 10 4 <300
são de 105 UFC/g do produto (WHO, 1998). T4 3,0 x 10 5 5,1 x 102
Sendo assim, as amostras T2 e T4 encontram- T5 1,6 x 10 3 <300
se próximas ao limiar permitido de Chimarrão (C1 a C5) e Tereré (T1 a T5); UFC –
Unidade Formadora de Colônia.
contaminação, enquanto que as demais
amostras encontram-se dentro dos limites
Bugno et al. (2005) avaliaram o grau
permitidos.
de contaminação microbiana de várias drogas
Os resultados obtidos para a
vegetais e incluiu uma amostra de erva mate.
determinação do crescimento de bolores e
Foram verificados nos produtos avaliados
leveduras em amostras destinadas ao consumo
vários tipos de contaminações bactérias
de chimarrão e tererê foram na maioria das
potencialmente patogênicas e os autores
amostras menores que 300UFC/g, salvo as
destacaram que a amostra de erva-mate
amostras T2 e T4 que apresentaram contagens
apresentou contagens superiores a 10 3
superiores. Essa contagem é necessária para
bactérias/g. Entretanto, Santos (2004)
indicar a deterioração do alimento e verificar
verificou que as contagens microbiológicas
se as normas de higiene durante a manipulação
para erva-mate permaneceram abaixo dos
e armazenamento do produto estão sendo
limites máximos estabelecidos pela legislação
respeitadas. O resultado encontrado nas
brasileira e OMS. Independentemente da
amostras de tererê pode ser devido ao
embalagem (três tipos) e tempo de
armazenamento adequado do produto, não
armazenamento (30 a 180 dias) as contagens
propiciando umidade e temperaturas
foram negativas coliformes a 45° C (< 3) e
favoráveis ao crescimento deste tipo de
Salmonella em 25 g (ausência). Para bactérias
microorganismo.
mesófilas, bolores e leveduras e coliformes a

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35ºC as contagens máximas verificadas foram (ESMELINDRO et al., 2002). Com a


de 7,8 x 10³ UFC/g e 6,0 x 10² UFC/g e 23 utilização desta metodologia de preparo,
NMP/g respectivamente. muitas estruturas fúngicas, principalmente
Os dados aqui apresentados vegetativas, provavelmente sejam inativadas,
demonstraram que contagens microbiológicas, tornando o material livre de muitos
tanto para bactérias aeróbias mesófilas totais e microrganismos.
bolores e leveduras foram superiores nas ervas As etapas de envase ou e escolha da
destinadas ao consumo de tererê. Isso pode ser embalagem devem ser rigorosas para que não
explicado pelo tipo de processo tecnológico haja a contaminação e condição de
envolvido na fabricação dos produtos. Para a proliferação futura caso as normas de
fabricação da erva para chimarrão, por armazenamento não sejam obedecidas.
exemplo, são necessárias três etapas, o sapeco,
secagem e cancheamento. As duas primeiras Identificação dos fungos
envolvem aquecimento do produto, no
“sapeco” a erva-mate é submetida ao De acordo com a identificação dos
aquecimento, que varia dos 400º C na entrada fungos nas amostras, verificou-se que para as
e 65º C na saída, que dura oito minutos e na destinadas ao consumo de chimarrão, houve o
“secagem”, a temperatura varia de 90 a 110º C crescimento de Leveduras em 100% amostras,
durante 3h para o secador de esteira e 30 Alternaria sp. em 60% e Aspergillus niger em
minutos para o secador rotativo. 40% (Figura 1).
Percentual das amostras (%)

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Leveduras Alternaria sp. Aspergillus niger
Fungos isolados
Figura 1 - Porcentagem de fungos isolados em amostras destinadas ao consumo de chimarrão.

Nas análises feitas com amostras multiplicação de Alternaria sp. e Aspergillus


destinadas ao consumo de tererê, houve o flavus (Figura 2). Essa diferença entre as
crescimento de cinco tipos de fungos Em porcentagens e o tipo de fungo encontrado em
100% das amostras observou-se o crescimento amostras destinadas ao consumo de mate-
de leveduras, assim como o crescimento de quente e mate-frio, pode ser devido às
Aspergillus niger; em 40% Penicillium sp. e diferenças no processo de industrialização do
em 20% das amostras analisadas ocorreu a produto e na forma como é consumido, pois o

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chimarrão é consumido com adição de água colônias analisadas respectivamente. O mesmo


sob alta temperatura e o tererê é consumido estudo revelou que as amostras de erva-mate
com água fria (FAGUNDES, 1997; BRASIL, em embalagens metalizadas apresentaram
1998). Em um trabalho realizado por Bernardi contaminações por fungos filamentosos
et al. (2005) para identificar fungos superiores às embalagens de papel bem como,
filamentosos em erva mate para chimarrão foi as amostras compostas por pura-folha
verificado que os fungos do gênero Aspergillus apresentaram número de fungos filamentosos
e Penicillium foram os mais encontrados nos superiores às amostras de erva-mate moída.
produtos, representando 70,59 e 55,88% das
Percentual das amostras (%)

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Leveduras Aspergillus Penicillium sp. Alternaria sp. Aspergillus
niger flavus
Fungos isolados

Figura 2 - Porcentagem de fungos isolados em amostras destinadas ao consumo de tererê.

O gênero Aspergillus spp. são produtores


de micotoxinas Aflatoxina e Ocratoxina A, o Conclusões
gênero Penicillium spp. produz Ocratoxina A,
enquanto que não existe correlação entre a A produção da erva-mate para consumo
produção desse metabólito com o gênero de tererê e chimarrão consiste em meios
Alternaria sp.. Devido a essa produção de rústicos, muitas vezes, sem a preocupação com
metabólitos, o controle da proliferação destes os métodos higiênicos adequados, estando o
microorganismos no produto é muito produto em contato com solo e outros tipos de
importante (FRANCO; LANDGRAF, 2000). contaminantes. Mesmo sob estas condições de
Ainda com relação a estes fungos, Meronuck produção e armazenamento arcaicos, através
(1997) apud Ribeiro et al. (2003) destacam das análises realizadas observou-se que estes
que espécies de Aspergillus podem crescer produtos encontram-se dentro das normas
com menor teor de água, seguindo-se, após a estabelecidas pelos órgãos competentes, não
contaminação, por Penicillium, com uma apresentando contaminação significativa.
umidade mais elevada, inclusive, desenvolvida Entretanto, a erva-mate apresentou
em função da atividade metabólica dos crescimento microbiano, principalmente de
primeiros invasores. fungos que pode deteriorar o produto se as
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