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NOTA CIENTÍFICA

Determinação de Compostos
Fenólicos Totais em Barbatimão
[Stryphnodendron adstringens (Mart) Coville]
Flávia Moreira de Macedo1, Gustavo Tavares Martins2, Cíntia Sorandra Oliveira Mendes1,
Cláudia Maria Silva1, Cinthia Gracielly Rodrigues2 e Dario Alves de Oliveira3

Introdução com o esqueleto carbônico C6C0-2C6, metabólitos com o


esqueleto C6C3C6, quinonas, benzofenonas e substâncias
O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil em
afins, alcalóides, terpenos e fenóis mascarados [10].
extensão [1], abrangendo cerca de 22% do território
Dentre os representantes fenólicos, destacam-se as
nacional, distribuído continuamente nos Estados de
xantonas, cumarinas, ácidos fenólicos, isoflavonóides,
Goiás, Tocantins, Distrito Federal, Bahia, Minas Gerais,
taninos e flavonóides.
São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso,
O Stryphnodendron adstringens (Mart) Coville ou
Rondônia, Maranhão, Piauí e Ceará. Além dessas áreas
Stryphnodendron barbatiman Mart – Leguminosae
há presença de manchas de cerrado no Amapá,
(Mimosoideae) conhecida popularmente como barba-de-
Amazonas, Pará e Roraima [2].
timão, barbatimão, borãozinho-roxo, casca-da-
Este bioma apresenta um complexo vegetacional de
virgindade, Uabatimô é uma espécie típica do Cerrado e
grande heterogeneidade [2,3], sendo a formação savânica
Campo Cerrado de ocorrência nos Estados de Minas
com maior diversidade vegetal do mundo, especialmente
Gerais, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso,
quando se consideram as espécies lenhosas [1].
Mato Grosso do Sul, Tocantins e São Paulo [11].
Inúmeras espécies vegetais vêm sendo empregadas por
O S. adstringens é uma espécie ainda pouco estudada,
grande parte da população mundial como fonte de
particularmente no que concerne aos constituintes
recursos terapêuticos [4]. Todavia, pouco mais de uma
químicos e biológicos. Sabe-se, no entanto, que é
centena de plantas, em um universo de cerca de 250.000
utilizada popularmente em casos de afecções
espécies, é aproveitada na obtenção de princípios ativos
escorbúticas, gonorréia, hérnia, feridas hemorrágicas e
puros para tratamento de doenças [5].
diarréias. Essa planta apresenta propriedades cicatrizante
A proposição terapêutica correlata a plantas
e adstringente [12], hemostática, paralisante das
medicinais fundamenta-se principalmente na presença de
hemoptises e hemorragias uterinas. A casca cozida é
uma vasta classe de constituintes químicos, denominados
anti-séptica [12,13,14], usada para combater a gastrite e
metabólitos secundários; muitos dos quais estão
dores de garganta [15]. A casca do caule combate úlcera,
intimamente associados aos mecanismos de
inflamações e hemorróidas [16]. Além disso, há indícios
sobrevivência e de defesa da planta. Essas substâncias
de que as sementes sejam tóxicas [17], causando mortes
têm sido particularmente utilizadas no tratamento
em larvas de abelhas no período de floração.
diversas enfermidades relacionadas aos sistemas nervoso
O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de
e cardiovascular, infecções por microorganismos,
Biotecnologia do Centro de Ciências Biológicas e da
distúrbios metabólicos e de origem imunológica e
Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros com o
inflamatória, bem como no combate ao câncer [6].
objetivo de avaliar quantitativamente o teor de compostos
Dos compostos químicos isolados de vegetais, os que
fenólicos totais por espectrofotometria de ultravioleta (UV),
apresentam maior potencial farmacológico são aqueles
em folha, casca e caule de S. adstringens.
que possuem um grupamento fenólico [7]. Os fenóis de
origem vegetal apresentam grande número e variedade,
sendo representados em quase todas as classes de Material e métodos
metabólitos secundários [8]. Conforme a classificação de O material vegetal foi composto por folha, caule e
Waterman & Mole [9], os fenóis estão estabelecidos em casca de S. adstringens coletados no município de
fenóis simples (com um único anel aromático), Montes Claros/MG no período de julho de 2006. As
metabólitos baseados no esqueleto C6C3, metabólitos amostras foram secas em estufa 37ºC±2 por 72 horas. A

_________________
1. Estudante de graduação em Ciências Biológicas, Bolsista de Iniciação Científica – UNIMONTES, Laboratório de Biotecnologia, Universidade
Estadual de Montes Claros. Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, Av. Ruy Braga s/n, prédio 6, Vila Mauricéia, Montes Claros, MG, CEP
39.401-089. E-mail: flavia@virtualnorte.com.br.
2. Estudante de mestrado em Ciências Biológicas, Laboratório de Biotecnologia, Universidade Estadual de Montes Claros. Campus Universitário
Professor Darcy Ribeiro, Av. Ruy Braga s/n, prédio 6, Vila Mauricéia, Montes Claros, MG, CEP 39.401-089.
3. Professor Adjunto do Departamento de Biologia Geral, Laboratório de Biotecnologia, Universidade Estadual de Montes Claros. Campus
Universitário Professor Darcy Ribeiro, Av. Ruy Braga s/n, prédio 6, Vila Mauricéia, Montes Claros, MG, CEP 39.401-089.
Apoio financeiro: Universidade Estadual de Montes Claros.

Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 1164-1165, jul. 2007


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moagem foi efetuada em moinho tipo willey. O material composition and processing. Journal of Agriculture and Food
Chemistry. 48:4581-4589.
desidratado e moído foi acondicionado em sacos de
[8] SMITH, P.M. 1976. The chemotaxonomy of plants. Edward
papel e conservado em freezer a temperatura de -20ºC. A Arnold (Publishers) Limited.: London. 313p.
extração de compostos fenólicos totais foi efetuada por [9] WATERMAN, P.G. & MOLE, S. 1994. Analysis of phenolic
percolação a quente de 4 g de amostra em plant metabolites. Oxford: Blackwell Scientific Publications.
aproximadamente 800 mL de água destilada por 30 238p.
[10] SANTOS, M.D. & BLATT, C.T.T. 1998. [online] Teor de
minutos. Os extratos foram submetidos à filtração a flavonóides e fenóis totais em folhas de Pyrostegia venusta Miers.
vácuo em papel de filtro tipo Whatman número 1 e de mata e de cerrado. Rev. bras. Bot., São Paulo, 21(2).
completados subsequentemente para 1L. A curva de Homepage: http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&
calibração para a quantificação de compostos fenólicos pid=S0100-84041998000200004&lng=pt&nrm= iso.
[11] ALMEIDA, S.P.; PROENÇA, C.E.B.; SANO, S.M. & RIBEIRO,
totais com rutina equivalente foi concebida mediante J.F. 1998. Cerrado: Espécies vegetais úteis. Planaltina,
leituras espectrofotométricas em comprimento de onda EMBRAPA-CEPAC. 468p.
de 260 nm de absorbância de solução padrão de rutina [12] CORRÊA, M.P. 1926. Dicionário das plantas úteis do Brasil e
em concentrações de 0,001 a 0,01 mg/mL. das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional. V.1.
[13] BRANDÃO, M. 1992. Plantas produtoras de tanino nos cerrados
mineiros. Informe Agropecuário. Belo Horizonte, v.16, n.173,
Resultados e Discussão p.33-35.
[14] SIQUEIRA, J.C. 1981. Utilização popular das plantas de
As concentrações dos compostos fenólicos totais, Cerrado. São Paulo, Loyola. 60p.
previamente determinadas por meio da equação linear [15] HIRSCHMANN, G.S. & ARIAS, A.R. 1990. A survey of
baseada na curva de calibração Absorbância = 30,283 medicinal plants of Minas Gerais, Brazil. Journal of
(Concentração) – 0,0015, R2 = 0,99, revelaram 13,96%, Ethnopharmacology, Limerick, v.29, p.159-172.
[16] BARROS, M.A.G. 1982. Flora medicinal do Distrito Federal.
11,47 % e 2,35% para as amostras de folha, casca, e Brasil Florestal, Brasília, v.12, n.50, p.35-45.
caule, respectivamente. [17] PERREIRA, C.A. 1985. Aspectos clínicos, laboratoriais e
Os resultados das análises desenvolvidas em folha, anatomo-histopatológicos na intoxicação experimental pela fava
casca e caule de S. adstringens evidenciaram que a folha do “barbatimão” (Stryphnodendron barbatimão Mart.) em
bovinos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia,
apresenta maior teor de compostos fenólicos seguidos de Belo Horizonte, v.37, n.3, p.286-289.
casca e caule. Os valores encontrados demonstram que as
folha de S. adstringens podem ser utilizadas como
matéria prima para extração de compostos fenólicos
principalmente, no que se refere aos flavonóides e
taninos. A folha poderia ser utilizada principalmente no
período próximo a deciduidade, fase em que
provavelmente não causaria prejuízos ao processo
fotossintético da planta. A alocação prioritária observada
desses compostos para folha, condiz com a suposta
tendência da planta na defesa vegetal de porções mais
acometidas por herbivoria e patogenicidade. Finalmente,
a concepção de conhecimentos inerente à espécie avoca
por si mesmo a possibilidade de um dimensionamento
extrativista harmônico alicerçado em um programa local
efetivamente sustentável.

Referências
[1] GUARIM NETO, G. & MORAIS, G.M. 2003. Recursos
medicinais de espécies do Cerrado de Mato Grosso: um estudo
bibliográfico. Acta bot. bras. 17(4):561-584.
[2] IORIS, E. (coord.) 1999. Plantas medicinais do cerrado:
perspectivas comunitárias para a saúde, o meio ambiente e o
desenvolvimento sustentável. Mineiros, Fundação Integrada
Municipal de Ensino Superior – Projeto Centro Comunitário de
Plantas Medicinais. 260p.
[3] RIBEIRO, J. F. & WALTER, B. M. T. 1998. Fitofisionomias do
Bioma Cerrado. In: S. M. SANO, S.M. & Almeida, S.P. (eds.).
Cerrado: ambiente e flora. Embrapa Cerrados, Planaltina. p.87-
166.
[4] DI STASI, L.C. Plantas medicinais: arte e ciência. 1ª ed., Editora
UNESP, 1996, 229p.
[5] PINTO, A.C.; SILVA, D.H.S.; BOLZANI, V.S.; LOPES, N.P. &
EPIFANIO, R.A. 2002. Produtos Naturais: Atualidade, Desafios e
Perspectivas. Quim. Nova. 25(Supl. 1):45-61.
[6] SHU Y. 1998. Recent natural products based drug development:
A pharmaceutical industry perspective. J. Nat. Prod. 61(8): 1053–
1071.
[7] GIL, M.I.; TOMAS-BARBERAN, F.A.; HIESS-PIERCE, B.;
HOLEROFT, D.M. & KADER, A.A. 2000. Antioxidant activity
of pomegranate juice and its relationship with phenolic

Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 1164-1165, jul. 2007

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