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Pesq. Vet. Bras.

38(5):835-839, maio 2018


DOI: 10.1590/1678-5150-PVB-5408

Vet 2578 pvb-5408 LD

Plantas tóxicas para ruminantes e equídeos do estado


de Sergipe1
Eduardo M. Nascimento2*, Rosane M.T. Medeiros2 e Franklin Riet-Correa2,3
ABSTRACT.- Nascimento E.M., Medeiros R.M.T. & Riet-Correa F. 2018. [Toxic plants for
ruminants and equidae in the state of Sergipe, Brazil.] Plantas tóxicas para ruminantes
e equídeos do estado de Sergipe. Pesquisa Veterinária Brasileira 38(5):835-839. Laboratório
de Patologia Animal, Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária, Centro de Saúde e
Tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina Grande, Avenida Universitária s/n, Patos,
PB 58700-970, Brazil. E-mail: eduardoaquario@hotmail.com
In a survey on toxic plants for ruminants and equidae conducted in 2015 and 2016 in the
state of Sergipe, farms from16 municipalities of different microregions (litoral, agreste and
sertão) were visited. Thirty two farmers and 10 veterinarians were interviewed about the
occurrence of known toxic plants in the state of Sergipe and poisoning by plants previously
unknown. According to the survey, Amorimia spp., Crotalaria retusa, Ipomoea asarifolia,
Palicourea aeneofusca and Poiretia punctata are important causes of death on livestock
in the region. Sporadic poisonings by Ipomoea carnea subsp. fistulosa, Mimosa tenuiflora,
Pannisetum purpureum and Manihot esculenta were also registered. Some farmers reported
poisoning by Ziziphus joazeiro and Citrus spp., which had not been reported previously as toxic.
INDEX TERMS: Poisonous plants, ruminants, equidae, plant poisoning, toxic plants, Sergipe, Brazil,
toxicoses.

RESUMO.- Em um levantamento feito nos anos de 2015 e 2016 no TERMOS DE INDEXAÇÃO: Plantas tóxicas, ruminantes, equídeos,
estado de Sergipe, com o objetivo de conhecer as plantas tóxicas intoxicação por plantas, Sergipe, toxicoses.
para ruminantes e equídeos, foram visitadas propriedades
rurais em 16 municípios, englobando as mesorregiões do INTRODUÇÃO
litoral, agreste e sertão. Para isso foram realizadas entrevistas a No Brasil, foram descritas cerca de 130 espécies de plantas
32 produtores e 10 a médicos veterinários da região. De acordo tóxicas (Tokarnia et al. 2012), responsáveis por perdas
com o levantamento, Amorimia spp., Crotalaria retusa, econômicas significativas para os produtores rurais, que vão
Ipomoea asarifolia, Palicourea aeneofusca e Poiretia punctata desde gastos com a construção de cercas para isolamento de
são responsáveis por mortes de animais gerando prejuízos áreas, diminuição do ganho ou perda de peso, menores taxas
consideráveis aos produtores. Surtos esporádicos de intoxicações reprodutivas, abortos e morte de animais (Riet-Correa & Medeiros
por Ipomoea carnea subsp. fistulosa, Mimosa tenuiflora, 2001, Pessoa et al. 2013).
O estudo de plantas tóxicas em estados com poucas
Pannisetum purpureum e Manihot esculenta também foram pesquisas na área é de fundamental importância para
relatados. Alguns produtores relataram surtos isolados de conhecer as intoxicações e diminuir as perdas econômicas.
intoxicações por Ziziphus joazeiro e citrus sp, plantas não Um exemplo marcante é o estado da Paraíba, que após a
conhecidas anteriormente como tóxicas. implantação de um grupo de pesquisa em plantas tóxicas
passou de 8 para 21 plantas conhecidas como tóxicas para
Recebido em 4 de maio de 2017.
1
animais de produção (Riet-Correa et al. 2006a).
Aceito para publicação em 25 de maio de 2017. Mesmo com o extensivo estudo e vasta literatura
Pesquisa de doutorado com apoio CNPq.
relacionada às plantas tóxicas do Brasil (Riet-Correa et al.
2
Laboratório de Patologia Animal, Unidade Acadêmica de Medicina
Veterinária, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Universidade Federal de
2009, Tokarnia et al. 2012), ainda há carência de informações
Campina Grande, (UFCG), Av. Universitária s/n, Patos, PB 58700-970, Brasil. relacionadas à frequência de intoxicações causadas por plantas
*Autor para correspondencia: eduardoaquario@hotmail.com em algumas regiões do país (Tokarnia et al. 2012, Pessoa et al.
3
Nationa Institute for Agricultural Research, INIA La Estanzuela, CP 70.000, 2013). Conhecendo-se a epidemiologia e ocorrência das
Colonia, Uruguay. intoxicações, medidas de controle podem ser tomadas evitando

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ou minimizando problemas. Pelo fato de não haver estudos Plantas que produtores relataram como sendo tóxicas
que mensurem os problemas causados por plantas tóxicas Brachiaria decumbens (Capim braquiária). Capim
no estado de Sergipe, objetiva-se com esse trabalho relatar difusamente difundido no estado, onde trinta e um dos
a ocorrência das plantas tóxicas conhecidas que ocorrem no entrevistados relataram problemas relacionados a lesões
estado de Sergipe e relatar novos casos em que plantas são cutâneas. Pelo fato de ser um capim bastante utilizado no
apontadas como causadoras dos problemas. estado, a informação da sua toxicidade também é bastante
divulgada, principalmente para ovinos. Os relatos são
MATERIAL E MÉTODOS principalmente em animais que possuem a pele com áreas
despigmentadas. Um criador do município de Tobias Barreto,
O trabalho foi realizado em 16 municípios do estado de Sergipe
relatou que de 6 ovinos da raça White Dopper, comprados
(Fig.1) abrangendo as três mesorregiões do estado: litoral, agreste
no oeste da Bahia, 4 animais apresentaram problemas de
e sertão. Na mesorregião do sertão foram visitados os municípios de
descamação da pele na face e dorso após 3 meses de serem
Poço Redondo, Porto da Folha, Carira e Nossa Senhora de Aparecida;
introduzidos na pastagem de B. decumbens. As outras duas
na mesorregião do agreste os municípios de Tobias Barreto, Lagarto,
espécies B. brizantha, B. humidicola também são mencionadas
Itabaiana, Nossa senhora das Dores e Aquidabã; na mesorregião do
como tóxicas e provocam as mesmas lesões.
litoral os municípios de Japoatã, Japaratuba, São Cristóvão, Estância,
Ipomoea asarifolia (Salsa). Vinte e seis produtores
Arauá e Itabaianinha.
reconheceram a planta como tóxica, e tinham presenciado
Os municípios foram escolhidos de acordo com as localizações
intoxicações em ovinos, caprinos e bovinos. Os quadros são
dentro de cada mesorregião do estado, para ter uma maior abrangência
parecidos em todas as espécies. Na época de estiagem quando
territorial e também de acordo com a sua importância na produção há diminuição da disponibilidade de forragem, os animas
agropecuária do estado. Foram feitas visitas em 2 propriedades por após se alimentarem da planta apresentam sinais de tremores
município totalizando 32 propriedades que possuem como principal musculares, andar cambaleante, incoordenação e episódios
fonte de renda a pecuária, entre os anos de 2015 e 2016. O protocolo de quedas, que evoluem para decúbito permanente e morrem.
da entrevista constou na entrega de formulários semelhantes aos Amorimia spp. (Tingui). Planta comumente conhecida
empregados por Silva et al. (2006). Os três formulários foram pelos produtores como “erva”; dezessete pessoas relacionaram
aplicados a todos os entrevistados durante visita às propriedades. a planta com quadros de morte súbita associada ao exercício.
Além dos produtores foram entrevistados veterinários que realizam Os animais normalmente são encontrados mortos próximos
atendimentos nos municípios. Ao todo foram entrevistados 32 produtores a arbustos da planta e quando vivos demonstram relutância a
e 10 Médicos Veterinários. Uma cartilha (Riet-Correa et al. 2011a) foi se movimentar, quando forçados a se locomover rapidamente
utilizada como material ilustrativo aos entrevistados para facilitar o podem morrer. Ocorreram 13 relatos em bovinos e 4 em ovinos.
reconhecimento das plantas tóxicas. As plantas que não estavam na Ipomoea carnea subsp. fistulosa (Algodão-bravo).
lista da entrevista, que os produtores mencionaram como tóxicas, Dez produtores relataram problemas de intoxicação pela
foram mencionadas separadamente. planta em suas propriedades. Dois relataram que os animais
começaram a comer a planta na época de estiagem. Após as
RESULTADOS chuvas e o aumento da disponibilidade de forragem, poucos
Os entrevistados mencionaram 20 plantas tóxicas. Foram animais continuam comendo a planta com menor intensidade,
relatados, também, casos suspeitos de intoxicações por plantas sempre retornando a área onde ocorria a planta.
que não estavam na lista descrita no questionário. Aspidosperma pyrifolium (Pereiro). Dez produtores
associaram abortos em pequenos ruminantesà ingestão tanto
das folhas secas da planta caídas ao chão quanto, das folhas
verdes. A maioria dos casos ocorreu na época de estiagem,
quando as folhas caem e os animais tem acesso a uma quantidade
considerável das mesmas. Em uma propriedade no município
de Nossa Senhora das Dores, os abortos da criação de ovinos,
geraram uma perda de 50% dos nascimentos no ano de 2014,
ano que a disponibilidade de pastagem foi prejudicada pela
estiagem e os animais tiveram muito tempo pastando numa
área com grande quantidade da planta.
Manihot esculenta (Macaxeira). Nove entrevistados
relataram problemas relacionados à macaxeira. Um perdeu
4 bovinos que se alimentaram das cascas e partes da raiz da
planta desprezadas por um restaurante. Os pedaços foram
ofertados diretamente ao cocho no dia após a colheita e
processamento. Um produtor relatou um caso em um caprino
após a ingestão do resíduo líquido (manipueira) resultante
do beneficiamento da mandioca. Todos os animais, ao se
alimentar de partes da planta, das cascas e do líquido da
planta morreram rapidamente após a ingestão.
Pennisetum purpureum (Capim elefante). Oito
Fig.1. Mapa geográfico do estado de Sergipe mostrando as divisões produtores relataram problemas com essa espécie de capim.
das mesorregiões e municípios visitados marcados por símbolos. Dois afirmaram que equinos alimentados com capim triturado

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na forrageira, desenvolveram cólica por compactação. Segundo de Aquidabã relataram problemas. Um informou que, após a
os produtores o capim estava muito seco, passado do ponto derrubada de uma árvore, 3 ovinos se alimentaram das folhas
de corte, ou a forrageira estava desregulada cortando pedaços da planta e desenvolveram um quadro agudo de timpanismo
muito pequenos. Um produtor relatou a morte de duas vacas e dois morreram.
leiteiras que foram alimentadas com o capim na fase inicial Prosopis juliflora (Algarroba). Trinta e nove dos quarenta e
de crescimento. O capim foi retirado de um plantio após uma dois entrevistados informaram que sempre notaram os animais
adubação com esterco de ovino e era irrigado com a água alimentando-se das vagens que caem ao chão. Afirmaram
decorrente da lavagem da sala de ordenha e curral. ainda que reconhecem a as vagens da planta são tóxicas, e que
Poiretia punctata (Pela bucho). Foi relatada por oito sua utilização no cocho para a alimentação animal deve ser
produtores como responsável de causar mortes em ovinos e controlada, não se chegando a um consenso de quantidade e
bovinos. Um dos produtores relatou um surto em 2015 com tempo de administração. Somente 2 entrevistados relataram
a morte de 4 ovinos de um lote de 16 animais em fase final problemas. Um suspeitou de que as vagens da algarroba
de engorda que tinham sido recentemente transferidos para causaram problemas em ovinos. Outro produtor relatou que
um piquete com áreas sombreadas próximo ao rio. Somente após fornecer vagens de algarroba por 4 meses a uma vaca,
depois da morte dos animais foi feita uma investigação no no período de estiagem, notou que a mesma apresentou
piquete constatando-se a presença de P. punctata. Todos os problema de mastigação, deglutição, atrofia de musculatura
animais foram encontrados mortos e sem apresentar nenhum da mandíbula e perda de peso progressiva
sinal clínico nos dias anteriores. Na necropsia observou-se Panicum maximum (Capim mombaça). Dois produtores
carcaça distendida por gás e epitélio ruminal descamando relataram que esse capim foi o responsável por causar
facilmente, o que da o nome popular de “pela bucho” essas problemas digestivos em bovinos. Um relatou que 2 animais
lesões são características de autólise. Frequentemente os morreram por intoxicação causada pelo capim. O lote era
animais morrem subitamente e só são vistos horas após a morte. constituído por 17 vacas, da raça girolando, todas em lactação.
A toxicidade de esta planta foi testada experimentalmente Os animais eram criados em piquetes rotacionados do
reproduzindo-se sinais clínicos semelhantes aos descritos capim e suplementados uma vez ao dia com ração comercial
pelos produtores (Nascimento et al. 2014). balanceada para bovinos a 1% de peso vivo. Um piquete que
Palicourea aeneofusca (Erva de rato). É conhecida ficava ao lado do curral recebeu toda a drenagem e material
popularmente na região com “erva verdadeira”. Seis produtores do curral após um curto período chuvoso durante a estação
relataram morte súbita associada ao exercício em bovinos.
seca, obtendo um crescimento superior os outros piquetes,
O diagnóstico presuntivo foi pela observação de partes da
superando o crescimento de 2 cm por dia. Dois animais
planta consumidas e a ausência de lesões macroscópicas.
desse lote ultrapassaram a cerca que isolava os piquetes e
Todos os relatos foram descritos na mesorregião do litoral.
invadiram o piquete que apresentava essa forragem verde
Mimosa tenuiflora (Jurema preta). A planta é suspeita
e viçosa, os animais só foram notados que tinham invadido
de ter causado malformações em caprinos e ovinos no estado.
o piquete 1 hora e meia após a soltura do lote no piquete
Seis entrevistados observaram que animais que pastavam
em áreas com a planta em quantidade abundante, tiveram correto. Os animais já foram encontrados em decúbito lateral,
nascimento de animais com malformações. Um produtor com timpanismo acentuado morrendo antes do atendimento
relatou que dois animais morreram com problemas no parto, veterinário, certa de 2 horas após a observação dos sinais
por não conseguir expulsar os fetos malformados. clínicos. Outro produtor relatou que 4 animais ficaram doentes
Crotalaria retusa (Guiz de cascavel). Cinco entrevistados e 2 morreram. Os sinais digestivos foram de timpanismo
afirmaram ter casos suspeitos de intoxicação por C. retusa. e diarreia e as mortes aconteceram em questão de horas.
Todos os casos foram relacionados a equinos que tinham Os dois produtores possuíam áreas adubadas e irrigadas,
pastejado áreas infestadas da planta por períodos entre onde estavam fechadas e os animais invadiram o cercado e
30 e 50 dias. Clinicamente apresentaram emagrecimento, tiveram acesso ao capim que ainda estava em rebrota.
alterações na marcha, ascite e sinais nervosos. Anadenanthera colubrina (Angico preto). Vinte e nove
Cnidoscolus quercifolius (Favela). Três produtores entrevistados relataram a ocorrência da planta, porém,
relataram problemas com a planta. Um relatou problema com a somente um produtor no município de Lagarto, associou a
planta recém-colhida e triturada em máquina forrageira junto planta a um surto de intoxicação que ocorreu quando uma
com capim elefante (Pennisetum purpureum) que foi ofertada árvore foi podada e os galhos ficaram ao chão. Um caprino,
para 4 vacas leiteiras criadas confinadas, ocasionando a morte que estava sendo criado sozinho, como animal de estimação,
de 2 animais. Outros 2 produtores foram aconselhados por isolado do rebanho, após ingerir às folhas da planta apresentou
um prático a cortar e reservar a planta à sombra por 3 dias, tremores, convulsão e morte rápida. Muitos entrevistados não
pois fazendo isso, a planta iria perder a toxicidade. A planta reconheceram A. colubrina como planta tóxica, e afirmaram
após esse manejo foi adicionada a palha de milho e ofertado que a casca da árvore é usada na medicina alternativa humana.
no cocho, com o intuito de enriquecer nutricionalmente o Nerium oleander (Espirradeira). Trinta e cinco entrevistados
volumoso do rebanho. Mesmo com o manejo aconselhado responderam que conheciam a planta e por ser uma planta
foram relatados problemas e perdas de ovinos. ornamental não observaram casos de intoxicação em suas
Enterolobium contortisiliquum (Orelha de macaco). propriedades. Somente um veterinário relatou que após
Três proprietários relacionaram a planta a problemas digestivos a poda das árvores realizada pela prefeitura no município
em bovinos associados com a presença de inúmeras sementes de Japaratuba, quatro animais que pastejavam nos lixões
nas fezes. Os animais apresentaram um quadro de diarreia que da cidade, tiveram acesso a espirradeira e morreram no
perdurou entre 2 e 4 dias. Dois proprietários do município mesmo dia que a planta foi despejada no lixão. Na necropsia

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observaram-se lesões hemorrágicas em diversos órgãos e a intoxicação por Amorimia septentrionalis (Tokarnia et al. 2012)
presença da planta no rumem dos animais. e a intoxicação por nitritos e nitratos (Medeiros et al. 2003).
Tephrosia cinerea (Falso anil). Um veterinário responsabilizou As plantas relacionadas com morte súbita pelos
a planta por um surto no município de Aquidabã, no que 4 entrevistados foram Amorimia spp., Palicourea aeneofusca e
ovinos morreram com sinais de apatia e distensão abdominal. Poiretia punctata. As duas primeiras possuem como principio
Na necropsia de um dos animais observou uma marcada tóxico o monofluoracetato e causam grandes perdas aos
ascite e lesões hepáticas (fibrose). Na propriedade havia uma produtores por morte de animais (Tokarnia et al. 2012). Porém,
área próximaa ao rio com uma grande quantidade da planta. o diagnóstico confirmatório quase sempre é epidemiológico,
Produtores relataram duas plantas (Ziziphus joazeiro e associando a presença da planta e a ocorrência de morte
Citrus sp.) como responsáveis como tóxica, porém não há súbita de animais associadas ao exercício, fazendo com que
comprovação científica de intoxicações. quase nunca o veterinário seja chamado para confirmação
Ziziphus joazeiro (Juazerio). Um produtor relatou do diagnóstico. Amorimia septentrionalis é a planta mais
que no município de Poço Redondo, na época de estiagem importante para o nordeste (Tokarnia et al. 2012). Poiretia
o rebanho com 21 caprinos, jovens e adultos de ambos os punctata demonstrou ser uma planta que causa morte
sexos, criados semi-extensivamente, eram soltos pela manhã súbita em bovinos e ovinos na mesorregião do litoral. Os
e recolhidos ao aprisco no fim do dia. Ao serem transferidos animais frequentemente são achados mortos na pastagem
para uma pastagem com várias árvores de juazeiro em época e com moderado grau de autólise (Nascimento et al. 2014)
de frutificação, 2 animais jovens adoeceram pela ingestão semelhante ao descritos pelos produtores neste trabalho.
dos frutos maduros que estavam no chão. Os dois animais Em relação à Crotalaria retusa, todos os produtores
após o dia de pastejo na área, não retornaram para o aprisco relacionaram intoxicações somente em equinos. Porém a
ao fim da tarde observou-se os animais na pastagem, um intoxicação pode ocorrer não só em equinos, mas também
animal com leve timpanismo, salivação, relutância em se em ovinos e bovinos (Nobre et al. 2005).
locomover demonstrando desconforto abdominal e apatia que E relação ao problema ocorrido por causa do Panicum maximum,
após tratamento obteve melhora. Outro animal apresentou quadros de intoxicações semelhantes foram relatados em
timpanismo acentuado, decúbito esternal, ausência de fezes, equinos causando cólica, após a transferência de animais
relutância a se movimentar, salivação e apatia mesmo após para pastagem composta por esse capim (Schons et al. 2012).
tratamento não se obteve melhora, morrendo no dia seguinte Em bovinos, quadros caracterizados por timpanismo agudo
ao aparecimento dos sinais clínicos. Na necropsia observou-se espumoso, são característicos de plantas que provocam
uma grande quantidade de sementes da planta compactando fermentação excessiva, sendo pobres em fibra, com altos teores
os pré-estômagos. de carboidratos solúveis e proteína. Geralmente são plantas
Citrus sp. (Laranja). A casca de laranja é um subproduto de crescimento rápido e em brotação e ainda apresentam
das usinas de beneficiamento muito comum utilizado na alto teor de água (Dirksen et al. 1993, Jones et al. 1997).
alimentação de bovinos confinados no estado. Um produtor No Brasil casos de timpanismo espumoso foram relatados em
no município de Lagarto, relatou que 4 bovinos invadiram a bovinos semiconfinados em pastagens de Trifolium pratense
área onde se armazenava o produto. Após ingerir as cascas (Dalto et al. 2009).
apresentaram leve timpanismo, diminuição da ruminação e Produtores relatam que a casca da laranja deve passar por
perda de equilíbrio, se recuperando entre 8 e 12 horas após um processo de descanso antes de ser consumida. Deve-se
a retirada dos animais dessa área. espalhar a poupa numa área ventilada e esperar 2 dias
para o fornecimento para o gado. Sinais semelhantes aos
DISCUSSÃO mencionados por produtores na intoxicação por poupa de
Algumas plantas que alteram funcionamento hepático foram laranja foram descritos na intoxicação por etanol produzido
citadas pelos produtores. O capim Brachiaria foi a planta mais pela fermentação de Anacardium occidentale (pseudo-fruto do
relacionada a intoxicações afetando preferencialmente ovinos. cajueiro) quando bovinos naturalmente se alimentaram dos
Dentre as espécies os bovinos são mais resistentes que os ovinos pseudo-frutos fermentados (Soto-Blanco & Ribeiro Filho 2007)
e em relação à idade os animais jovens são mais susceptíveis Muitos produtores mencionaram casos de intoxicação,
(Souza et al. 2010, Riet-Correa et al. 2011b). A introdução de relacionando os achados epidemiológicos e clínicos. Este
animais em pastagens de Brachiaria spp. deve ser gradativa trabalho aporta informação relevante sobre ocorrência das
e com avaliação constante dos animais. Acredita-se que os intoxicações por plantas no estado de Sergipe, o que permite
ovinos criados em pastagens de Brachiaria spp. podem ser recomendar medidas de profilaxia e controle das intoxicações.
mais resistentes as intoxicações do que os criados em outras
pastagens (Aniz 2008, Castro et al. 2011). REFERÊNCIAS
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Nas intoxicações os entrevistados relataram que os animais Aniz A.C.M. 2008. Efeito da adaptação ao consumo de Brachiaria decumbens
só se intoxicaram acidentalmente, ao ter acesso às folhas e a existência de resistência ou susceptibilidade individual em ovinos à
da planta e ao subproduto da mandioca. Estas condições já intoxicação. Monografia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
foram relatadas anteriormente (Riet-Correa et al. 2006b). Para Campo Grande. 31p.
confirmação do diagnóstico deve-se utilizar o teste do papel Castro M.B., Santos Junior H.L., Mustafa V.S., Gracindo C.V., Moscardini
picrosódico (Amorim et al. 2005). Deve-se fazer o diagnóstico A.C.R., Louvandini H., Paludo G.R., Borges J.R.J., Haraguchi M., Ferreira
diferencial com intoxicações por outras plantas, incluindo a M.B. & Riet-Correa F. 2011. Brachiaria spp. poisoning in sheep in Brazil:

Pesq. Vet. Bras. 38(5):835-839, maio 2018


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experimental and epidemiological findings, p.110-117. In: Riet-Correa F., Riet-Correa F., Bezerra C.W.C. & Medeiros R.M.T. 2011a. Plantas Tóxicas do
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