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Estudo fitoquímico, análise


farmacognóstica e ensaio toxicológico
das cascas da Dalbergia monetaria
Linnaeus f. (1782)

Thayná Oliveira Corrêa Líbio José Tapajós Mota


UNIFAP GEA

Patrick de Castro Cantuária Antônio Carlos Freitas Souza


IEPA IEPA

Elizabeth Viana Moraes da Costa Pablo de Castro Cantuária


UNIFAP ALAP

Ana Luzia Ferreira Farias Juliana Eveline dos Santos Farias


UEAP IFAP

José Policarpo Miranda Júnior Sheylla Susan Moreira da Silva de


AMBIEX Almeida
UNIFAP

10.37885/210303483
RESUMO

A espécie vegetal Dalbergia monetaria L. f. pertence à família Fabaceae, uma das maiores
famílias de angiospermas, e possui ampla distribuição por diversos países. No Brasil,
esta espécie é popularmente conhecida como Verônica, suas folhas e cascas são am-
plamente empregadas na medicina tradicional, na forma de chás ou banho de asseio,
para tratamento de distúrbios gastrointestinais, anemias e diarreias. Objetivo: avaliar o
perfil fitoquímico, físico-químico e a toxicidade frente à Artemia salina (Linnaeus, 1758)
do extrato bruto etanólico das cascas do caule da espécie D. monetaria. Métodos: reali-
zou-se a prospecção fitoquímica do extrato bruto etanólico de acordo com a metodologia
descrita por Barbosa et al. (2004) e a análise físico-química foi realizada seguindo os
procedimento do Instituto Adolfo Lutz (2008) e por métodos encontrados na Farmacopeia
Brasileira (2010). Para o ensaio toxicológico seguiu-se a metodologia de Araújo, Cunha
e Vezenziani (2010) e Lobo et al. (2010). Resultados: as análises fitoquímicas de-
tectaram açúcares redutores, saponinas, fenóis e taninos. Em relação aos parâmetros
físico-químicos apresentou pH de 5,35, possivelmente pela presença de substâncias
ácidas. O teor de umidade foi de 6,81% e está relacionada a pouca quantidade de água
presente, fator indispensável para não ocorrência de desenvolvimento de microrganismo
ou degradação enzimática. O teor de cinzas apresentou valor de 5,65% e está dentro do
limite recomendado. Conclusão: a análise fitoquímica confirmou, em partes, a utilização
da espécie para fins terapêuticos. Os parâmetros físico-químicos adotados mostraram
que a espécie encontra-se livre de agentes decompositores e o ensaio toxicológico de-
monstrou a baixa toxicidade do extrato.

Palavras-chave: Artemia salina L, Plantas medicinais, Triagem fitoquímica, Verônica.

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INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta uma das maiores diversidades de espécies de plantas do planeta


(SILVA, 2014). Essa variedade exerce um maior acesso ao desenvolvimento e atualização
de fármacos propostos a terapia de inúmeras patologias (FIRMO, 2014). Pensando na im-
portância do potencial terapêutico das plantas medicinais, seus estudos e pesquisas são
de grande valia para a compreensão de suas atividades farmacológicas e propriedades
toxicológicas (ARRAIS, 2014).
O gênero Dalbergia Linnaeus f. (1782) possui distribuição em diversos países e centros
de diversidade na América Central e do Sul, África, Madagascar e Ásia (VATANPARAST
et al., 2013). Conta com cerca de 500 espécies, das quais 39 espécies foram catalogadas
no Brasil até o momento. As espécies deste gênero crescem em diversos habitats, incluindo
florestas úmidas e secas, savanas, dunas costeiras e afloramentos rochosos e contêm uma
variedade de formas de vida lenhosas, incluindo árvores, arbustos eretos ou escandentes
e lianas. Essa diversidade de ecologia e formas de vida pode ter contribuído para a capaci-
dade das espécies de Dalbergia de colonizar com sucesso e, assim, expandir sua área de
distribuição (VATANPARAST et al., 2013).
As espécies vegetais do gênero Dalbergia possuem estípulas foliáceas geralmente pe-
quenas e caducas. Folhas normalmente imparipinadas e raramente unifolioladas. Apresenta
inflorescência paniculada, às vezes grande, com pequenas folhas mescladas. Flores papi-
lionadas, bilateralmente simétricas, geralmente pequenas e numerosas e frequentemente
perfumadas. Os frutos são legumes samaroides, oblongos a oblongo-elípticos, membraná-
ceos para submembranáceos e com venação reticulada proeminente sobre toda a super-
fície ou, ainda, com nervuras em vez difusa (FILLARDI; LIMA; CARDOSO, 2021; SENA,
2018). Em relação à composição química, metabólitos como isoflavonoides, neoflavonoides,
glicosídeos, quinonas, furanos, esteroides e outros compostos diversos, têm sido isolados
de espécies do gênero Dalbergia (SAHA et al., 2013).
A espécie vegetal Dalbergia monetaria Linnaeus f. (1782) é pertencente à família
Fabaceae Lindl. (1836), a terceira maior família dentro das angiospermas, caracteriza-se por
ser um arbusto ou liana robusta, com folhas compostas de 3 a 5 folíolos ovais, acuminados,
concolores. Possui flores brancas dispostas em racemos paniculados e frutos do tipo vagem
glabra. Peciólulo com cutícula estriada, plano de secção transversal circular e contorno regu-
lar, epiderme foliolar e peciolular com tricomas tectores lanceolados, ausência de cera epicu-
ticular na face abaxial da epiderme foliolar e margem foliolar acuminada (COTA, 1999; SENA,
2018). Esta planta possui distribuição por países como Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba,
República Dominicana, Guiana Francesa, Guatemala, Guadalupe, Haiti, Honduras, Jamaica,
México, Panamá, Peru, Porto Rico, Suriname e Venezuela (SAHA et al., 2013). No Brasil,
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esta espécie é popularmente conhecida como Verônica e ocorre naturalmente nos estados
da região Amazônica (COTA, 1999). Na literatura é relatada a presença de metabólitos
secundários na casca e nas sementes de D. monetaria, dentre estes compostos tem-se iso-
flavonoides e taninos, como as proantocianidinas. Também já foram isolados desta espécie
vegetal, (VASUDEVA et al., 2009; SAHA et al., 2013; GOIS et al., 2016).
Na Medina tradicional é relatado o uso das cascas de D. monetaria no tratamento de
diarreia, anemia, desordens gástricas e desintoxicação hepática. Ainda, é empregada no
tratamento de corrimento vaginal, na regulação do ciclo menstrual e também na recupera-
ção da musculatura vaginal pós-parto (COTA, 1999; GOIS et al., 2016). As folhas e cascas
também são utilizadas para tratar inflamações, vômitos e ferimentos, na forma de chás ou
banho de asseio (FREITAS; FERNANDES, 2006). Quanto às atividades biológicas, já tem
relatos na literatura de certa atividade antiulcerogênica no extrato aquoso liofilizado das
cascas de D. monetaria (SOUZA BRITO; COTA; NUNES, 1997) e atividade imunomodu-
ladora, de compostos Isoflavonoides, isolados das cascas desta espécie (KAWAGUCHI
et al., 1998). Em outro estudo, o extrato acetato de etila das folhas da D. monetaria mostrou
potencial antioxidante (CAVALCANTE, 2011).

OBJETIVO

Avaliar o perfil fitoquímico, físico-químico e a toxicidade frente à Artemia salina do


extrato bruto etanólico das cascas do caule da espécie D. monetaria L. f.

MÉTODOS

Coleta do material vegetal

As cascas da espécie D. monetaria foram coletadas no Polo da Fazendinha, distrito


da cidade de Macapá, no estado do Amapá. Em seguida, o material vegetal foi transportado
para o Laboratório de Farmacognosia e Fitoquímica da Universidade Federal do Amapá -
UNIFAP, instalado no campus Marco Zero.

Obtenção do extrato bruto etanólico

A casca do caule da espécie foi separada para secagem a temperatura ambiente e tritu-
rado em moinho de facas no Laboratório de Bioprospecção e Absorção Atômica da UNIFAP.
Após a secagem e pulverização, o material botânico foi colocado em balão de fundo redondo
com etanol 96ºGL na proporção 1:2 (m/v), compreendendo um período de extração durante

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quatro dias até o esgotamento do vegetal. Posteriormente, o extrato obtido foi concentrado
em rotaevaporador sob pressão reduzida e acondicionado em erlenmeyer no dessecador.

Análises físico-químicas

Os parâmetros físico-químicos adotados nesta pesquisa foram: pH, resíduos por inci-
neração (cinzas) e umidade. Seguiram-se os procedimentos do Instituto Adolfo Lutz (2008)
e os métodos descritos na Farmacopeia Brasileira (2010).
Na determinação de pH, 10g de amostra vegetal foram pesadas em um béquer e adi-
cionou-se 100 mL de água destilada. A mistura foi então agitada e em seguida realizou-se a
análise do pH utilizando o equipamento pHmetro, previamente calibrado. Para padronização
do pHmetro foram realizadas leituras das soluções tampões com pH 4,0 e 7,0.
Para obtenção do teor de cinzas, 3 g de material vegetal foi levado e transferido para um
cadinho de porcelana, previamente calcinado a 450°C em um forno mufla. Após o resfriamen-
to, o recipiente foi pesado. O material vegetal foi submetido à incineração e foi posteriormente
resfriado em Aaron por 30 min e pesado em uma balança analítica. Este procedimento foi
realizado em triplicata e então foi realizado o cálculo usando a seguinte equação:

N = Massa de cinzas (g)


P = Massa da amostra (g)
A determinação do teor de umidade foi realizada em triplicata. Foram pesados 2g da
amostra vegetal e transferidos para um cadinho de porcelana, previamente pesado. O material
foi aquecido por 3 horas e em seguida resfriado em dessecador. Após alcançar a tempera-
tura ambiente, pesou-se novamente. Este procedimento foi repetido até o peso se manter
constante. Ao final, foi obtida a média do teor de umidade do material, conforme a equação:

N = perda de massa(g)
P = quantidade de amostra(g)

Estudo fitoquímico

Foi realizado o screening fitoquímico do extrato obtido com a utilização de reveladores


específicos segundo metodologia proposta por Barbosa et al. (2004), para Ácidos orgânicos,

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açúcares redutores, saponinas, polissacarídeos, fenóis e taninos, flavonoides, alcaloides,
purinas, esteroides e triterpenos, depsídios e depsidonas, antraquinonas e catequinas.

Ensaio de toxicidade frente à Artemia salina L.

O ensaio de toxicidade frente à Artemia salina Linneaus (1758) foi baseado na técnica
de Araújo, Cunha e Veneziani isoflavonoides, neoflavonoides, glicosídeos, quinonas, fura-
nos, esteroides (2010) e Lobo et al., (2010) com algumas modificações. Inicialmente, foram
preparados 250 mL da solução sal marinho sintético (35,5 g/L) para incubação de 25 mg de
ovos de A. salina, no qual foram expostas à luz artificial em período de 24 h para eclosão
das lavas (metanáupilos), em seguida os metanáupilos foram separados e colocados em
ambiente escuro por período de 24h. A solução mãe foi preparada contendo 62,5 mg do ex-
trato bruto das cascas do caule de D. monetaria, 28 mL da solução de sal marinho sintético
e 2 mL de Dimetilsufoxido (DMSO) para facilitar a solubilização do mesmo.
Posteriormente, ao término do período em escuro os mesmos foram selecionados e
divididos em 7 grupos com 10 indivíduos em cada tubo de ensaio, a cada grupo foi adicio-
nada uma alíquota retirada da solução mãe (3000 µL a 100 µL) no qual o volume foi com-
pletado para 5 mL com a solução de sal marinho sintético. As soluções finais apresentaram
as seguintes concentrações variando de 1250 µg/mL a 1 µg/mL, dessa forma os grupos
foram designados de acordo com sua respectiva concentração e todos os testes foram
realizados em triplicatas.

RESULTADOS

Análise fitoquímica

A análise fitoquímica preliminar do extrato etanólico das cascas do caule da D. mo-


netaria revelou a presença dos seguintes metabólitos secundários: açúcares redutores,
saponinas, fenóis e taninos. Os resultados podem ser observados na Tabela 1.

Tabela 1. Resultado preliminar da análise fitoquímica do extrato etanólico das cascas de D. monetaria.

Metabólitos secundários Resultados


Ácidos orgânicos -
Açúcares redutores +
Alcaloides -
Depsídeos e Depsidonas -
Esteroides e Triterpenoides -
Fenóis e Taninos +
Flavonoides -
Polissacarídeos -
Purinas -

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Metabólitos secundários Resultados
Saponinas +
Legenda: (+) presente (-) ausente.

Análises físico-químicas

Os valores determinados nas análises físico-químicas da casca do caule de D. mone-


taria estão expressos na Tabela 2.

Tabela 2. Caracterização físico-química da casca do caule de D. monetaria.

Parâmetros Resultados

pH 5,35

Umidade (% m/m) 6,81

Cinzas (% m/m) 5,65

Ensaio de toxicidade frente à Artemia salina

Para o teste de toxicidade frente à A. salina do extrato bruto das cascas do caule
de D. monetaria foi realizado o cálculo de CL50 e este apresentou valor de 4034,23µg/
mL. A comparação entre a mortalidade e as concentrações no extrato para as diluições,
está expresso no Gráfico 1.

Gráfico 1. Resultado do teste de toxicidade do extrato bruto das cascas de D. monetaria frente à larva A. salina.

DISCUSSÃO

A análise fitoquímica demonstrou a presença de açúcares redutores. Os açúcares


redutores são utilizados como agregantes de sabor, na indústria alimentícia e são úteis na
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confecção de bebidas através da fermentação fúngica da sacarose e doces, proporcionan-
do sabor, odor e coloração diferentes aos mesmos (OETTERER, 2006). A atividade anti-
-inflamatória dassaponinas é conhecida pelas espécies Aesculus hippocastanum Loudon.
(castanheira-da-índia) e Glycyrrhiza glabra Linnaeus (alcaçuz). Nas espécies Glycyrrhiza
glabra L. e Gymnema sylvestre (Retz) pode-se encontrar atividade antiviral desses com-
postos (SCHENKEL; GOSMANN; ATHAYDE, 2007). Além destas propriedades, também
são descritas na literatura outras atividades biológicas associadas às Saponinas, como a
atividade antioxidante, anti-helmíntica e antiedematogênica (SCHENKEL, 2007). Diante dis-
so, a presença destas classes de metabólitos secundários vem corroborar, em parte, com
o uso da planta pela população.
Outro metabólito secundário que teve resultado positivo neste estudo foram os
Taninos. A utilização de plantas medicinais ricas em Taninos é aplicada na medicina tradi-
cional na terapia de distúrbios estomacais, como gastrite e úlcera, distúrbios renais e em
processos inflamatórios (SANTOS, 2007). Sobre a atividade farmacológica dos Taninos
acredita-se que deva ser correspondente as propriedades de: 1) complexação com íons
metálicos (ferro, manganês, vanádio, cobre, alumínio, cálcio, entre outros); 2) atividade
antioxidante e sequestradora de radicais livres e 3) habilidade de complexar com outras
moléculas incluindo macromoléculas tais como proteínas e polissacarídeos (SANTOS, 2007).
A produção de uma camada protetora (complexo tanino-proteína e/ou polissacarídeo)
na derme ou mucosa lesada é uma característica dos Taninos no tratamento de feridas,
queimaduras e inflamações, ajudando assim, no progresso curativo espontâneo com a re-
generação do epitélio e formação dos vasos (SANTOS, 2007). Em um estudo realizado em
ratos, o extrato aquoso liofilizado de D. monetaria demonstrou potencial antiulcerogênico já
registrado na literatura, e ainda com base em estudos anteriores que identificaram a presença
de proantocianidinas nesta espécie vegetal, sendo estes compostos fenólicos inibidores da
enzima histidina descarboxilase. O mecanismo envolvido na redução de lesões ulcerativas
pode estar relacionado à propriedade desses compostos de inibir a produção de histamina
(SOUZA BRITO; COTA; NUNES, 1997). Dessa maneira, a presença de Taninos nesta es-
pécie, pode justificar em partes, o uso medicinal das cascas de D. monetaria, na forma de
chá, no tratamento de distúrbios gástricos e como agente anti-inflamatório.
Além disso, a atividade antioxidante tem sido descrita em alguns ácidos fenólicos
(CARVALHO; GOSMANN; SCHENKEL, 2007). Isso se deve especialmente à propriedade
redutora e estrutura química dessas substâncias, uma vez que ambas as características
possuem uma função significativa na neutralização ou sequestro de radicais livres e quela-
ção de metais de transição, operando tanto no período inicial como no desenvolvimento do

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processo oxidativo (SOUSA, 2007). Assim, o potencial antioxidante desta planta descrito na
literatura, pode estar associado à presença desses compostos.
O pH é um importante parâmetro físico-químico, pois ele é um indicador de possíveis
mudanças químicas no vegetal, distingue quais substâncias serão obtidas, de acordo com
a polaridade e caráter químico do composto e atesta se o ácido pode ser prejudicial para os
microrganismos (LONGHINI et al, 2007).
A análise físico-química apresentou um valor de pH de 5,35 para o extrato etanólico
das cascas de D. monetaria, este resultado caracteriza a presença de substâncias potencial-
mente ácidas. A presença dos metabólitos secundários ácidos como os Fenóis e Saponinas
espumídicas na espécie ou ainda, a ausência de compostos básicos como os Alcaloides,
podem justificar o caráter ácido deste extrato.
O teste de cinzas tem como objetivo indicar o conteúdo de impurezas inorgânicas pre-
sente na matéria orgânica (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2010). Essas impurezas podem
ser representadas pelos elementos magnésio, cálcio e ferro. Grandes quantidades de cinzas,
em alguns casos derivadas do ambiente, podem indicar alteração ou poluição (VERDAM,
2014). Neste experimento o teor de cinzas do material vegetal foi de 5,65%. O limite reco-
mendado de acordo com a Farmacopeia Brasileira (2010) é de 15%. Portanto, o material
vegetal está em conformidade com o requisito e provavelmente apresenta baixa quantidade
de impurezas inorgânicas.
O surgimento de microrganismos e hidrólise nos componentes do extrato pode ser
ocasionado devido à umidade excessiva (VERDAM, 2014). O limite máximo proposto de
umidade para drogas vegetais é de 14% (RAMOS; RODRIGUES; ALMEIDA, 2014). O extrato
das cascas de D. monetaria apresentou resultado de 6,81%. Sendo assim, o teor de umidade
encontrado permite prever que o material botânico esteja protegido de ataques por microrga-
nismos e ações enzimáticas que resultam na transformação de suas propriedades naturais.
Muitos testes toxicológicos de extratos de plantas desenvolvidos com A. salina são
encontrados na literatura, devido a sua velocidade de realização e acessibilidade (ARAÚJO;
CUNHA; VENEZIANI, 2010). O Gráfico 1 demonstra a mortalidade em função das concen-
trações de extrato para as diluições do extrato de D. monetaria obtidas no presente estudo.
Segundo o teste de toxicidade do extrato bruto, a espécie D. monetaria apresenta baixa
toxicidade, pois a CL50 calculada foi de 4034,23µg/mL. Estatisticamente o valor F (1,3686)
é bastante significativo, assim, a taxa de mortalidade aumenta com a diminuição na deter-
minação do valor da CL50. Portanto, o extrato desta planta é considerado atóxico. Uma vez
que, para os extratos de plantas serem conceituados como atóxicos, a relação estabelecida
entre a mortalidade e CL50 apresentada pelo extrato sobre as lavas de A. salina deve ser
superior a 1000µg/mL (RAMOS; RODRIGUES; ALMEIDA, 2014).
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Este experimento mostrou-se correspondente a outras atividades biológicas, como
antitumorais e ação contra Trypanosoma cruzi, as quais possuem alta toxicidade para A. sa-
lina (LIMA, 2014). Logo, o extrato de D. monetaria apresenta esse potencial. Ainda, este
experimento é considerado importante para o conhecimento toxicológico de possíveis ati-
vidades biológicas.

CONCLUSÃO

De acordo com os resultados apresentados neste estudo, a análise fitoquímica demons-


trou resultados positivos para açúcares redutores, fenóis, taninos e saponinas. A presença
desses metabólitos secundários, que possuem atividades biológicas descritas na literatura,
possivelmente está associada ao uso medicinal da espécie D. monetaria pela população.
Ainda, os parâmetros físico-químicos analisados demonstraram que o material vegetal não
sofre degradação por agentes decompositores. Acerca do ensaio toxicológico realizado para
o extrato das cascas da espécie D. monetaria, este é considerado de baixa toxicidade, o
que corrobora com o uso da população como banho de asseio e o uso do chá. Diante disso,
a espécie estudada apresenta potencial para fins medicinais e é consistente com seu uso
pela medicina popular. Porém, sugerem-se mais estudos e experimentos in vivo e in vitro,
a fim de elucidar as atividades farmacológicas desta planta.

AGRADECIMENTOS

Agradecimento pela concessão da Bolsa pelo Programa de Educação Tutorial (SESu/


MEC/ FNDE), ao curso de Farmácia, da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) para
com o Laboratório de Farmacognosia e Fitoquímica, coordenado pela Dr. Sheylla Susan
Moreira. Ao Laboratório de Bioprospecção e Absorção Atômica da UNIFAP. Ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à
Pesquisa do Amapá (FAPEAP) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES).

FINANCIAMENTO

Secretária de Ensino Superior (SESu) do Ministério da Educação (MEC), bolsa do


Programa de Educação Tutorial (PET).

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Plantas Medicinais do Estado do Amapá: dos relatos da população à pesquisa científica

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