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10.37885/210303483
RESUMO
A espécie vegetal Dalbergia monetaria L. f. pertence à família Fabaceae, uma das maiores
famílias de angiospermas, e possui ampla distribuição por diversos países. No Brasil,
esta espécie é popularmente conhecida como Verônica, suas folhas e cascas são am-
plamente empregadas na medicina tradicional, na forma de chás ou banho de asseio,
para tratamento de distúrbios gastrointestinais, anemias e diarreias. Objetivo: avaliar o
perfil fitoquímico, físico-químico e a toxicidade frente à Artemia salina (Linnaeus, 1758)
do extrato bruto etanólico das cascas do caule da espécie D. monetaria. Métodos: reali-
zou-se a prospecção fitoquímica do extrato bruto etanólico de acordo com a metodologia
descrita por Barbosa et al. (2004) e a análise físico-química foi realizada seguindo os
procedimento do Instituto Adolfo Lutz (2008) e por métodos encontrados na Farmacopeia
Brasileira (2010). Para o ensaio toxicológico seguiu-se a metodologia de Araújo, Cunha
e Vezenziani (2010) e Lobo et al. (2010). Resultados: as análises fitoquímicas de-
tectaram açúcares redutores, saponinas, fenóis e taninos. Em relação aos parâmetros
físico-químicos apresentou pH de 5,35, possivelmente pela presença de substâncias
ácidas. O teor de umidade foi de 6,81% e está relacionada a pouca quantidade de água
presente, fator indispensável para não ocorrência de desenvolvimento de microrganismo
ou degradação enzimática. O teor de cinzas apresentou valor de 5,65% e está dentro do
limite recomendado. Conclusão: a análise fitoquímica confirmou, em partes, a utilização
da espécie para fins terapêuticos. Os parâmetros físico-químicos adotados mostraram
que a espécie encontra-se livre de agentes decompositores e o ensaio toxicológico de-
monstrou a baixa toxicidade do extrato.
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Plantas Medicinais do Estado do Amapá: dos relatos da população à pesquisa científica
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
MÉTODOS
A casca do caule da espécie foi separada para secagem a temperatura ambiente e tritu-
rado em moinho de facas no Laboratório de Bioprospecção e Absorção Atômica da UNIFAP.
Após a secagem e pulverização, o material botânico foi colocado em balão de fundo redondo
com etanol 96ºGL na proporção 1:2 (m/v), compreendendo um período de extração durante
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quatro dias até o esgotamento do vegetal. Posteriormente, o extrato obtido foi concentrado
em rotaevaporador sob pressão reduzida e acondicionado em erlenmeyer no dessecador.
Análises físico-químicas
Os parâmetros físico-químicos adotados nesta pesquisa foram: pH, resíduos por inci-
neração (cinzas) e umidade. Seguiram-se os procedimentos do Instituto Adolfo Lutz (2008)
e os métodos descritos na Farmacopeia Brasileira (2010).
Na determinação de pH, 10g de amostra vegetal foram pesadas em um béquer e adi-
cionou-se 100 mL de água destilada. A mistura foi então agitada e em seguida realizou-se a
análise do pH utilizando o equipamento pHmetro, previamente calibrado. Para padronização
do pHmetro foram realizadas leituras das soluções tampões com pH 4,0 e 7,0.
Para obtenção do teor de cinzas, 3 g de material vegetal foi levado e transferido para um
cadinho de porcelana, previamente calcinado a 450°C em um forno mufla. Após o resfriamen-
to, o recipiente foi pesado. O material vegetal foi submetido à incineração e foi posteriormente
resfriado em Aaron por 30 min e pesado em uma balança analítica. Este procedimento foi
realizado em triplicata e então foi realizado o cálculo usando a seguinte equação:
N = perda de massa(g)
P = quantidade de amostra(g)
Estudo fitoquímico
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açúcares redutores, saponinas, polissacarídeos, fenóis e taninos, flavonoides, alcaloides,
purinas, esteroides e triterpenos, depsídios e depsidonas, antraquinonas e catequinas.
O ensaio de toxicidade frente à Artemia salina Linneaus (1758) foi baseado na técnica
de Araújo, Cunha e Veneziani isoflavonoides, neoflavonoides, glicosídeos, quinonas, fura-
nos, esteroides (2010) e Lobo et al., (2010) com algumas modificações. Inicialmente, foram
preparados 250 mL da solução sal marinho sintético (35,5 g/L) para incubação de 25 mg de
ovos de A. salina, no qual foram expostas à luz artificial em período de 24 h para eclosão
das lavas (metanáupilos), em seguida os metanáupilos foram separados e colocados em
ambiente escuro por período de 24h. A solução mãe foi preparada contendo 62,5 mg do ex-
trato bruto das cascas do caule de D. monetaria, 28 mL da solução de sal marinho sintético
e 2 mL de Dimetilsufoxido (DMSO) para facilitar a solubilização do mesmo.
Posteriormente, ao término do período em escuro os mesmos foram selecionados e
divididos em 7 grupos com 10 indivíduos em cada tubo de ensaio, a cada grupo foi adicio-
nada uma alíquota retirada da solução mãe (3000 µL a 100 µL) no qual o volume foi com-
pletado para 5 mL com a solução de sal marinho sintético. As soluções finais apresentaram
as seguintes concentrações variando de 1250 µg/mL a 1 µg/mL, dessa forma os grupos
foram designados de acordo com sua respectiva concentração e todos os testes foram
realizados em triplicatas.
RESULTADOS
Análise fitoquímica
Tabela 1. Resultado preliminar da análise fitoquímica do extrato etanólico das cascas de D. monetaria.
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Metabólitos secundários Resultados
Saponinas +
Legenda: (+) presente (-) ausente.
Análises físico-químicas
Parâmetros Resultados
pH 5,35
Para o teste de toxicidade frente à A. salina do extrato bruto das cascas do caule
de D. monetaria foi realizado o cálculo de CL50 e este apresentou valor de 4034,23µg/
mL. A comparação entre a mortalidade e as concentrações no extrato para as diluições,
está expresso no Gráfico 1.
Gráfico 1. Resultado do teste de toxicidade do extrato bruto das cascas de D. monetaria frente à larva A. salina.
DISCUSSÃO
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processo oxidativo (SOUSA, 2007). Assim, o potencial antioxidante desta planta descrito na
literatura, pode estar associado à presença desses compostos.
O pH é um importante parâmetro físico-químico, pois ele é um indicador de possíveis
mudanças químicas no vegetal, distingue quais substâncias serão obtidas, de acordo com
a polaridade e caráter químico do composto e atesta se o ácido pode ser prejudicial para os
microrganismos (LONGHINI et al, 2007).
A análise físico-química apresentou um valor de pH de 5,35 para o extrato etanólico
das cascas de D. monetaria, este resultado caracteriza a presença de substâncias potencial-
mente ácidas. A presença dos metabólitos secundários ácidos como os Fenóis e Saponinas
espumídicas na espécie ou ainda, a ausência de compostos básicos como os Alcaloides,
podem justificar o caráter ácido deste extrato.
O teste de cinzas tem como objetivo indicar o conteúdo de impurezas inorgânicas pre-
sente na matéria orgânica (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2010). Essas impurezas podem
ser representadas pelos elementos magnésio, cálcio e ferro. Grandes quantidades de cinzas,
em alguns casos derivadas do ambiente, podem indicar alteração ou poluição (VERDAM,
2014). Neste experimento o teor de cinzas do material vegetal foi de 5,65%. O limite reco-
mendado de acordo com a Farmacopeia Brasileira (2010) é de 15%. Portanto, o material
vegetal está em conformidade com o requisito e provavelmente apresenta baixa quantidade
de impurezas inorgânicas.
O surgimento de microrganismos e hidrólise nos componentes do extrato pode ser
ocasionado devido à umidade excessiva (VERDAM, 2014). O limite máximo proposto de
umidade para drogas vegetais é de 14% (RAMOS; RODRIGUES; ALMEIDA, 2014). O extrato
das cascas de D. monetaria apresentou resultado de 6,81%. Sendo assim, o teor de umidade
encontrado permite prever que o material botânico esteja protegido de ataques por microrga-
nismos e ações enzimáticas que resultam na transformação de suas propriedades naturais.
Muitos testes toxicológicos de extratos de plantas desenvolvidos com A. salina são
encontrados na literatura, devido a sua velocidade de realização e acessibilidade (ARAÚJO;
CUNHA; VENEZIANI, 2010). O Gráfico 1 demonstra a mortalidade em função das concen-
trações de extrato para as diluições do extrato de D. monetaria obtidas no presente estudo.
Segundo o teste de toxicidade do extrato bruto, a espécie D. monetaria apresenta baixa
toxicidade, pois a CL50 calculada foi de 4034,23µg/mL. Estatisticamente o valor F (1,3686)
é bastante significativo, assim, a taxa de mortalidade aumenta com a diminuição na deter-
minação do valor da CL50. Portanto, o extrato desta planta é considerado atóxico. Uma vez
que, para os extratos de plantas serem conceituados como atóxicos, a relação estabelecida
entre a mortalidade e CL50 apresentada pelo extrato sobre as lavas de A. salina deve ser
superior a 1000µg/mL (RAMOS; RODRIGUES; ALMEIDA, 2014).
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Este experimento mostrou-se correspondente a outras atividades biológicas, como
antitumorais e ação contra Trypanosoma cruzi, as quais possuem alta toxicidade para A. sa-
lina (LIMA, 2014). Logo, o extrato de D. monetaria apresenta esse potencial. Ainda, este
experimento é considerado importante para o conhecimento toxicológico de possíveis ati-
vidades biológicas.
CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
FINANCIAMENTO
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