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FARMACOGNOSIA

APLICADA

João Fhilype Andrade Souto Maior


Jaborandi
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever a farmacologia e a toxicologia de espécies do gênero


Pilocarpus.
„„ Identificar a fitoquímica e as atividades farmacológicas presentes no
gênero Pilocarpus.
„„ Reconhecer os usos farmacológicos e cosméticos de compostos
extraídos de plantas do gênero Pilocarpus.

Introdução
O Brasil é um dos países com a maior biodiversidade do planeta, com-
portando cerca de 20% de todas as espécies vegetais, distribuídas em
diferentes biomas, como Amazônia, Caatinga, Cerrado e Pantanal. Apesar
de as plantas serem o grupo de seres vivos mais bem estudado no Brasil,
muitas delas ainda continuam desconhecidas sob o ponto de vista cien-
tífico. Apenas 5% de sua vasta diversidade foi investigada sob o ponto de
vista farmacológico. Diante dessa estimativa, podemos dizer que ainda
existe um grande potencial para a pesquisa fitoquímica e a descoberta
de novos compostos bioativos relevantes e úteis como matéria-prima
para o desenvolvimento de novos fármacos de elevado valor econômico
e social para a população.
Neste capítulo você vai estudar uma das principais espécies de uso
medicinal no Brasil, conhecida como jaborandi (Pilocarpus spp.). Também
vai conhecer alguns de seus principais compostos bioativos (metabólitos
especializados), sua relação com as principais rotas biossintéticas e a
importância de cada um deles para o setor médico e farmacêutico.
2 Jaborandi

1 Pilocarpus
Na variada e valiosa biodiversidade do Brasil, podemos encontrar inúmeras
espécies vegetais de uso medicinal, entre as quais merece destaque o jaborandi
(Pilocarpus spp.), um arbusto de médio porte (3 a 7,5m de altura) e bastante
ramificado, pertencente à família das Rutáceas (PINHEIRO, 2002; SAWAYA
et al., 2010; SANTOS; MORENO, 2004).
Em geral, os exemplares dessa espécie são bem distribuídos em quase todo
o território brasileiro, principalmente nas regiões Norte e Nordeste (veja o
Quadro 1, mais adiante), e apresentam folhas compostas e folíolos coriáceos,
de forma lanceolada. Suas flores são pequenas e dispostas em racimos com-
pactos, como pode ser visto na Figura 1. Os frutos são dispostos em cachos
brancos contidos em cápsulas de córtex acinzentado e liso (PINHEIRO, 2002).

Figura 1. (a) Folhetos terminais de P. microphyllus. (b) P. microphyllus colhidas com tesouras
de poda.
Fonte: Lima et al. (2017, documento on-line).

Algumas plantas de outras famílias já foram classificadas sob o nome


jaborandi, principalmente aquelas que possuem propriedades fisiológicas
semelhantes, como Piper (Piperaceae), Verbena (Verbenaceae) e Herpestis
(Scrophulariaceae), inclusive algumas espécies de Rutáceas (Esenbeckia,
Zanthoxylum e Monnieria) (PINHEIRO, 2002).
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Várias espécies de Pilocarpus são popularmente conhecidas no Brasil como “jaborandi”,


cujo nome vem da língua tupi-guarani (yaborã-di), que significa “planta que faz babar”.
Já o nome do gênero, Pilocarpus, deve-se, provavelmente, ao formato dos seus meri-
carpos, já que “pilos” significa “chapéu de feltro” em grego e “carpos” significa “fruta”.
O gênero Pilocarpus tem 17 espécies e 14 delas são encontradas no território brasileiro,
majoritariamente na parte oriental do país, onde se concentra a maior diversidade
genética dessas espécies vegetais (SAWAYA et al., 2010; SANTOS; MORENO, 2004).

Quadro 1. Distribuição geográfica de algumas espécies de Pilocarpus

Espécies Localização

Pilocarpus alatus C. J. Jo- Pará e Mato Grosso


seph ex Skorupa

Pilocarpus carajaensis Skorupa Pará

Pilocarpus giganteus Engler Bahia, Espírito Santo, Minas Ge-


rais, Rio de Janeiro e São Paulo

Pilocarpus grandiflorus Engler Alagoas, Bahia e Espírito Santo

Pilocarpus jaborandi Holmes Ceará e Pernambuco

Pilocarpus microphyllus Maranhão, Mato Grosso, Pará e Piauí


Stapf ex Wardleworth

Pilocarpus pauciflorus St. Hilaire Paraná, Santa Catarina, Rio de Ja-


neiro e São Paulo)

Pilocarpus pennatifolius Lemmaire Bahia, Goiás, Mato Grosso and Mato Grosso
do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo

Pilocarpus peruvianus Acre, Rondônia e Mato Grosso


(Macbride) Kaastra

Pilocarpus riedelianus Engler Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Pa-


raíba e Pernambuco

Pilocarpus spicatus St. Hilaire Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo

Pilocarpus sulcatus Skorupa Bahia e Minas Gerais

Pilocarpus trachyllophus Holmes Bahia, Ceará, Minas Gerais e Piauí


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As propriedades farmacológicas dessas plantas começaram a ser estudadas


apenas em 1873, com base no uso tradicional do jaborandi por índios brasileiros
como potente estimulante do sistema secretor (atividades sialagoga, diurética
e diaforética). Desde então, infusões de folhas de “jaborandi” têm sido usadas
para o tratamento de febres, estomatites, bronquites, gota, psoríase, doenças
renais e várias outras doenças (SANTOS; MORENO, 2004).
Com o avançar das pesquisas, sabe-se hoje que todas as espécies de Pilo-
carpus possuem pilocarpina, um alcaloide imidazol cuja ação farmacológica é
usada atualmente em colírios para o tratamento do glaucoma, alguns procedi-
mentos cirúrgicos oftalmológicos e também para a estimulação das glândulas
sudoríparas e lacrimais. Em 1994 a pilocarpina foi aprovada pela Food and Drug
Administration (FDA), o órgão do governo dos Estados Unidos que controla
alimentos e medicamento, para o tratamento de xerostomia (boca seca) em
pacientes com câncer, após quimioterapia. Esse alcaloide também tem sido útil
para o tratamento da queda de cabelo, seborreia e caspa (PINHEIRO, 2002).
Os efeitos adversos da pilocarpina são típicos da estimulação colinérgica. Os
mais comuns incluem diaforese, diarreia, cólicas intestinais, náuseas/vômitos,
sensação de aperto na bexiga, dificuldade de acomodação visual e hipotensão.
No entanto, esses efeitos adversos têm pouca importância na administração
tópica para uso oftálmico (HILAL-DANDAN; BRUNTON, 2014).
A pilocarpina é um agonista muscarínico (não seletivo) e, por isso, não é
comumente usada por via oral. Intoxicações causadas pela ingestão de plantas
contendo pilocarpina se caracterizam, principalmente, pela exacerbação dos
seus efeitos parassimpatomiméticos: salivação excessiva, lacrimejamento,
náuseas, vômitos, cefaleia, transtornos visuais, cólicas abdominais, diarreia,
bradicardia, broncoespasmo, hipotensão, podendo causar até a morte. Para
reverter tais intoxicações recomenda-se a administração parenteral de atropina
e medidas de suporte das funções respiratória e cardiovascular (HILAL-
-DANDAN; BRUNTON, 2014).
Acompanhe na Figura 2 a estrutura química da pilocarpina e da
epiisopiloturina.
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Figura 2. Estrutura química da pilocarpina (1) e da epiisopiloturina (2), ambas alcaloides


imidazol presentes em espécies Pilocarpus.
Fonte: Pinheiro (2002, documento on-line).

A epiisopiloturina é outro alcaloide presente em P. microphyllus que tem


despertado grande interesse dos pesquisadores. Esse alcaloide tem se mostrado
promissor no combate à esquistossomose, além de apresentar atividades anti-
-inflamatória e analgésica. A epiisopiloturina também pode ser obtida a partir
dos resíduos (biomassa) da produção industrial de pilocarpina, agregando mais
valor econômico e ambiental à exploração comercial dos recursos naturais
(LIMA et al., 2017).
Entretanto, entre todas as espécies de Pilocarpus, apenas a Pilocarpus
microphyllus Stapf ex Holmes e a Pilocarpus jaborandi Holmes têm importân-
cia econômica, já que têm uma elevada concentração de pilocarpina em suas
folhas e apresentam uma ampla distribuição geográfica. Ambas as espécies
de Pilocarpus têm sido, durante as últimas décadas, as espécies comerciais
mais importantes da flora brasileira, sendo os Estados do Maranhão e do Piauí
os maiores produtores de folhas de jaborandi do Brasil, produzindo cerca de
95% de toda a produção nacional (PINHEIRO, 2002; LIMA et al., 2017).

Além de alcaloides, vários outros metabólitos secundários foram encontrados em


espécies de Pilocarpus, como cumarinas, flavonoides, hidrocarbonetos, triterpenos e
óleos voláteis (PINHEIRO, 2002).
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A distribuição geográfica do Pilocarpus é um aspecto importante, já que


suas folhas usadas na extração de pilocarpina eram obtidas, até a alguns anos
atrás, exclusivamente de plantas nativas que crescem na natureza, e a sua
coleta intensiva fez com que algumas espécies fossem incluídas em uma lista
de plantas brasileiras ameaçadas de extinção em 2008 (PINHEIRO, 2002;
LIMA et al., 2017). Muito antes disso, porém, a maior interessada na compra
de folhas e produção de pilocarpina no Brasil, a companhia farmacêutica alemã
Merck, previu que o estoque de natural de folhas de Pilocarpus poderia acabar
e decidiu iniciar um processo de domesticação (cultivo) de espécie nativa de
jaborandi no Maranhão a partir de 1969 (PINHEIRO, 2002).
Atualmente, uma fazenda da Sourcetech Química, localizada no Maranhão,
cultiva o jaborandi (Pilocarpus microphyllus) em uma área de 465 hectares. Já
os processos de extração, isolamento, purificação e embalagem da pilocarpina
são realizados na unidade industrial da Sourcetech, localizada no Estado de
São Paulo. Atualmente, o Brasil ainda é o único fornecedor dessa matéria-
-prima para a indústria farmacêutica internacional, exportando toneladas de
cloridrato e nitrato de pilocarpina todos os anos. (SOURCETECH, c2020;
LIMA et al., 2017).

O jaborandi foi apresentado à medicina ocidental pela primeira vez em 1873, quando
o médico Symphrônio Coutinho levou uma folha como amostra para a Europa. Pouco
tempo depois, em 1875, seu alcaloide principal, a pilocarpina, foi isolado. Curiosamente,
o seu efeito oftalmológico foi uma descoberta secundária — foi seu uso entre os índios
brasileiros para causar suor intenso e salivação o que de fato despertou o interesse
dos médicos (PINHEIRO, 2002).

2 Biossíntese da pilocarpina
Apesar de todos os alcaloides apresentarem aminoácidos na sua biossín-
tese, a variedade estrutural dessa classe é enorme. Já foram descritos milha-
res de estruturas químicas diferentes para alcaloides isolados de vegetais.
Essa diversidade estrutural está diretamente associada às unidades precursoras
de aminoácidos e à via biossintética. Por exemplo, entre os aminoácidos precur-
sores, destacam-se a fenilalanina, a tirosina, o triptofano, a lisina e a ornitina.
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Com relação à biossíntese da pilocarpina, alguns pesquisadores têm suge-


rido que, provavelmente, ela e outros alcaloides análogos (imidazol) presentes
nas plantas são derivados da histidina, e que átomos de carbono adicionais
viriam do acetato e treonina. Tal teoria se deve à semelhança dessa estrutura
de aminoácidos e do anel imidazol (SAWAYA et al., 2010).
Diferentes abordagens já foram testadas para estudar a rota biossintética
da pilocarpina, ilustrada na Figura 3, como, por exemplo, aumentar o teor de
alcaloides em mudas de diferentes espécies, em calos ou em culturas de células
em suspensão. Um estudo utilizou aminoácidos (treonina e histidina) marcados
(radioativos) com a finalidade de elucidar a biossíntese de pilocarpina em calos
obtidos do pedúnculo foliar. De acordo com Sawaya et al. (2010), nesse caso,
após os períodos de incubação (12, 24 e 48 horas), a pilocarpina foi extraída e
analisada em cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) acoplada a um
ultravioleta (UV) com detectores radioativos. Como resultado, a pilocarpina
foi detectada em todos os períodos de incubação analisados, sugerindo que
ambos os aminoácidos podem estar envolvidos na biossíntese de pilocarpina.

Figura 3. Provável rota biossintética da pilocarpina a partir de histidina e átomos de carbono


adicionais de acetil-coA e treonina.
Fonte: Sawaya et al. (2010, documento on-line).
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3 Metabólitos secundários de Pilocarpus

Alcaloides
A maioria dos alcaloides isolados do gênero Pilocarpus é do tipo imidazólico,
cujo grupo imidazol acredita-se que seja derivado da histidina, um de seus
precursores biossintéticos. Outros alcaloides não imidazol também foram
encontrados neste gênero (SAWAYA et al., 2010). Veja na Figura 4 a lista e a
estrutura química dos alcaloides imidazólicos extraídos de Pilocarpus.
Ao longo dos anos, alguns pesquisadores tentaram sintetizar alguns desses
alcaloides, porém os rendimentos finais eram muito baixos e comercialmente
inviáveis. Por isso, as folhas de espécies de Pilocarpus continuam sendo a
principal fonte de pilocarpina. A pilocarpina e outros alcaloides semelhantes
foram isolados de várias espécies de Pilocarpus, porém, apesar da semelhança
estrutural, como já abordamos, apenas a pilocarpina possui atividade no
sistema nervoso central (SNC), com ação colinérgica direta sobre o sistema
parassimpático (bexiga, glândulas lacrimais, sudoríferas e salivares). Segundo
Sawaya et al. (2010), também é bastante utilizada no tratamento do glaucoma
e da xerostomia em pacientes submetidos à radioterapia.
Já o seu isômero, a isopilocarpina, em geral está presente nas espécies de
Pilocarpus apenas em concentrações muito baixas. Além disso, não apresenta
qualquer atividade farmacológica com potencial terapêutico (SAWAYA et
al., 2010).
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Figura 4. Estruturas químicas de alcaloides imidazólicos extraídos de espécies de


Pilocarpus: A. pilocarpina, B. isopilocarpina, C. pilosina, D. isopilosina, E. epiisopilosina,
F. epipilosina, G. piloturina, H. epiisopiloturina, I. pilosinina, J. desidropilosinina, K. pi-
locarpidina, L. isopilocarpidina, M. 13-nor-7(11)desidropilocarpina, N. anidropilosina,
O. 4,6-desidro-1,2,4,5-tetra-hidro-2,5-dioxopilocarpina, P. 3-(3-metil-3H-imidazol-4-ilmetil)-
1-fenil-but-3-en-1-ona, Q. 3-hidroximetil-4-(3-metil-3H-imidazol-4-il)-1-fenil-butan-1-ona, R.
3-benzoil-4-(3-metil-3H-imidazol-4-ilmetil)-di-hidro-furan-2-ona.
Fonte: Sawaya et al. (2010, documento on-line).
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Cumarinas
As cumarinas são metabólitos secundários biossintetizados a partir do ácido
p-cumárico, um derivado da fenilalanina. Além das cumarinas simples, como
a escopoletina, nas espécies Pilocarpus também são encontradas pirano- ou
furanocumarinas (chalepina e bergaptina) ou com uma estrutura angular
(alo-xantoxiletol e 3-metoxi-angelicina), como você pode ver na Figura 5.
A eficácia de infusões de jaborandi no tratamento de doenças de pele
(psoríase e vitiligo) pode estar relacionada a essa classe de produtos naturais.
Algumas cumarinas também apresentaram bons resultados como antioxidante
e contra a doença de Chagas. Já as cumarinas sintéticas derivadas da seselina
exibem atividade potencial contra o HIV (SAWAYA et al., 2010).

Figura 5. Estruturas químicas de cumarinas extraídas de espécies de Pilocarpus: (1) escopo-


letina, (2) chalepina, (3) bergaptina, (4) alo-xantoxiletol, (5) 3-metoxi-angelicina e (6) seselina.
Fonte: Sawaya et al. (2010, documento on-line).

Flavonoides
Os flavonoides representam um dos grupos mais importantes de metabólitos
secundários e, como as cumarinas, também são biossintetizados a partir da
fenilalanina. Entre outras as atividades atribuídas aos flavonoides, merecem
destaque a ação antioxidante, analgésica, sedativa e anti-inflamatória.
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A ação antioxidante dos flavonoides se deve à capacidade de reduzir e


eliminar radicais livres, cuja presença no organismo está associada ao de-
senvolvimento de Alzheimer. Assim, os flavonoides podem ser considerados
drogas promissoras no tratamento dessa doença (SAWAYA et al., 2010). Veja
na Figura 6 a estrutura química de alguns flavonoides extraídos de Pilocarpus.

Figura 6. Estruturas químicas de alguns flavonoides extraídos de espécies de Pilocarpus: (1)


hesperidina, (2) patuletina-3-O-β-rutinosídeo e (3) axilarina; (4) radical D-rutinosil.
Fonte: Sawaya et al. (2010, documento on-line).

A hesperidina foi isolada de P. trachyllophus, que apresenta várias ativi-


dades farmacológicas, entre elas atividades anti-inflamatória, bactericida,
fungicida, antiviral, abortiva, analgésica e antipirética (SAWAYA et al., 2010).

Terpenos
Vários estudos apontam a presença de terpenos nas espécies de Pilocarpus,
principalmente óleos voláteis. Os terpenos são biossintetizados a partir de
isopentenil difosfato, pela via do mevalonato, que dá origem a mono-(C10),
sesqui-(C15), di-(C20) e triterpenos (C30). Nas plantas, os terpenos desem-
penham papel fundamental na atração de polinizadores, garantindo a repro-
dução dos vegetais. Eles também apresentam uma variedade de atividades
biológicas, como inseticida, antimicrobiano e antisséptico (SAWAYA et al.,
2010). Acompanhe a estrutura química de alguns terpenoides extraídos de
Pilocarpus na Figura 7.
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Figura 7. Estruturas químicas de alguns terpenoides extraídos de espécies de Pilocarpus:


(1) limoneno (monoterpeno), (2) cubenol (sesquiterpeno), (3) β-amirina (triterpeno).
Fonte: Sawaya et al. (2010, documento on-line).

Os óleos essenciais das espécies P. spicatus e P. gradiflorus exibiram


atividade bactericida contra Bacillus subtilis, Salmonella typhimurium, Esche-
richia coli e Pseudomonas aeruginosa. O limoneno, óleo essencial também
encontrado em P. jaborandi, é bastante usado pela indústria farmacêutica e
de alimentos. Já o triterpeno acetato de β-amirina obtido de P. trachyllophus
mostrou uma alta atividade citostática contra células de HEp-2 (SAWAYA et
al., 2010).

Outras moléculas isoladas de Pilocarpus


Além de alcaloides, cumarinas, flavonoides e terpenos, existem compostos
menores que podem ocorrer em algumas espécies de Pilocarpus, como lig-
nanas, hidrocarbonetos, amidas, ácidos carboxílicos, ésteres e derivados de
cetonas (SAWAYA et al., 2010).
A lignina lirioresinol B, por exemplo, isolada de P. grandiflorus, apresentou
atividade antichagásica. A amida pelitorina foi encontrada em P. trachyllophus
e é amplamente conhecida como inseticida. Um hidrocarboneto aromático
foi detectado apenas em P. jaborandi, e essa substância é considerada um
importante marcador para as espécies (SAWAYA et al., 2010). A Figura 8
mostra a estrutura química desses compostos.
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Figura 8. Estruturas químicas de uma lignina, (1) lirioresinol B, e de uma amida, (2) pelitorina,
extraídas de espécies de Pilocarpus.
Fonte: Sawaya et al. (2010, documento on-line).

O uso medicinal de plantas por povos antigos e comunidades nativas


permitiu que muitos pesquisadores descobrissem uma grande variedade de
substâncias ativas (fármacos) de importância inestimável para a humanidade.
Ao considerarmos a variedade de metabólitos isolados de Pilocarpus, podemos
concluir que essas espécies representam um vasto campo de pesquisa a ser
explorado.

HILAL-DANDAN, R.; BRUNTON, L. L. Manual de Farmacologia e Terapêutica de Goodman


& Gilman. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
LIMA, D. F. et al. Seasonal change in main alkaloids of jaborandi (Pilocarpus microphyllus
Stapf ex Wardleworth), an economically important species from the Brazilian flora. PLoS
ONE, v. 12, nº. 2, p. 1–19, fev. 2017. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/
article/file?id=10.1371/journal.pone.0170281&type=printable. Acesso em: 27 fev. 2020.
PINHEIRO, C. U. B. Extrativismo, cultivo e privatização do jaborandi (Pilocarpus micro-
phyllus Stapf ex Holm.; Rutaceae) no Maranhão, Brasil. Acta Bot. Bras., v. 16, nº. 2, abr.
2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
-33062002000200002&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 27 fev. 2020.
14 Jaborandi

SANTOS, A. P.; MORENO, P. R. H. Pilocarpus spp.: revisão sobre sua constituição química
e atividades biológicas. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 40, nº. 2, p.115-137,
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d=S1516-93322004000200002. Acesso em: 27 fev. 2020.
SAWAYA, A. C. H. F. et al. Pilocarpine and Related Alkaloids in Pilocarpus Vahl (Rutaceae).
In: CASSIANO, N. M. (ed.). Alkaloids: properties, applications and pharmacological effects
(biochemistry research trends). New York: Nova Science Publishers, 2010. p. 63–80.
SOURCETECH. Pilocarpina. c2020. Disponível em: https://www.sourcetech.com.br/
pilocarpina/#. Acesso em: 27 fev. 2020.

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