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10.37885/210805895
RESUMO
O jenipapo é uma fruta exótica nativa da região amazônica, mas também pode ser en-
contrada em outras regiões tropicais e subtropicais na América Latina. Tradicionalmente
o jenipapo pode ser usado de várias formas: fresco, em preparações (compotas, doces
cristalizados e sorvete) e bebidas (especialmente licores, sucos, vinho e aguardente). O je-
nipapo quando não está maduro é amplamente utilizado por vários grupos indígenas
brasileiros para obter um pigmento azul, expondo o interior dos frutos ao ar. Na medicina
popular, essa fruta possui propriedades promotoras de saúde. Os principais compostos
presentes no jenipapo são os iridóides, que são monoterpenóides e são encontrados
na família Rubiaceae. Estudos in vitro e in vivo tem demonstrado que estes compos-
tos possuem efeito neuroprotetivo, anti-inflamatório, imunomodulador, hepatoprotetivo,
cardioprotetivo, anticancer, antioxidante, hipoglicêmico, colerético, antiespasmódico e
purgativo. Em recente pesquisa ficou comprovada a biodisponibilidade de iridoides pre-
sentes no jenipapo e seu potencial efeito em humanos. As frutas exóticas, consumidas
na Amazônia estão ganhando popularidade no mercado devido ao seu valor nutritivo
e terapêutico. Tendo em vista o potencial desta fruta para mais estudos que possam
estabelecer suas propriedades funcionais, o objetivo desta revisão narrativa é fornecer
informações completas sobre a botânica, o mercado, a composição, os compostos bioa-
tivos presentes nessa fruta e as propriedades biológica do jenipapo.
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Ciência e Tecnologia de Alimentos: pesquisa e práticas contemporâneas - Volume 2
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
Descrição Botânica
Figura 1. Jenipapo (Genipa americana L.) fruto (baga) inteiro e cortado ao meio.
A fruta madura é coletada no solo após cair da árvore. Segundo Figueiredo et al.
(FIGUEIREDO et al., 1986), o rendimento da polpa de jenipapo é de 73,81% e segundo
Hamacek et al. (HAMACEK et al., 2013) 48%. Esse rendimento está relacionado a fatores
como colheita, maturação do fruto, se é fresco ou coletado há alguns dias, origem, caracte-
rísticas genéticas, condições de transporte e como o fruto é despolpado.
As árvores são de porte médio e podem apresentar de 6 a 8 m de altura por 4 a 6 m do
diâmetro da copa, com flores brancas ou amareladas suavemente aromáticas. Na Amazônia
brasileira, o período de floração ocorre em novembro quase na mesma época que a frutifi-
cação que se estende de novembro a fevereiro. As árvores começam a dar frutos quando
têm cerca de 6 a 8 anos, e cada uma pode produzir de 200 a 1000 frutos. Em solos de baixa
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fertilidade em Belém (Pará), a produção de plantas com oito anos de idade chega a 18 kg
por planta. Em 100 árvores por hectare por ano, a produção chega a 1,8 toneladas. A pro-
dução é distribuída em todos os meses do ano, concentrando-se nos meses de dezembro
e janeiro (ORWA et al., 2009; REVILLA, 2002).
O jenipapo é encontrado principalmente na parte ‘várzea’ da floresta amazônica, que
fica próxima a rios e é inundada anualmente por vários meses. Também se estende para
a zona de transição floresta aberta/savana. Na maioria dos lugares, é restrito às terras bai-
xas. É comum em florestas secundárias em locais abandonados pela agricultura itinerante.
Embora razoavelmente representado nesses tipos de vegetação, sua presença é um pouco
dispersa, exceto onde plantada (ORWA et al., 2009). Cresce em solos com boa drena-
gem, bem como em solos de matas ciliares periodicamente inundadas por águas límpidas.
Desenvolve-se em zonas com precipitação pluviométrica entre 1.500 e 4.500 mm/ano ou
mais e com temperaturas médias entre 22 e 30 ° C (VILLACHICA et al., 1996).
Os frutos verdes fornecem suco amarelo que escurece gradativamente até ficar azulado
e quase preto, muito utilizado pelos nativos em suas pinturas ou para tingir os cabelos e o
corpo (VILLACHICA et al., 1996). O jenipapo maduro pode ser utilizado de diversas formas:
in natura, geleias, doces, sorvetes, bebidas como licores, sucos, refrescantes, xarope, geni-
papada, vinho e conhaque. Além disso, pode ser utilizado como fruta medicinal para tratar
doenças, sendo considerado afrodisíaco em alguns locais (BENTES et al., 2015; BENTES;
MERCADANTE, 2014; CONCEIÇÃO et al., 2011).
Mercado
A comercialização da fruta em feiras livres na Amazônia brasileira pode ser feita por
unidade ou kg. Na época da colheita, o quilo custa cerca de cinco reais, mas fora de época
chega a 15 reais. As frutas maduras devem ser vendidas (e usadas) até uma semana de-
vido à deterioração, para aumentar a vida útil as frutas devem ser mantidas sob refrigera-
ção. Sob refrigeração, os frutos podem ser conservados por aproximadamente seis meses
(REVILLA, 2002).
METODOLOGIA
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As pesquisas de literatura foram realizadas no período de 2017 a agosto de 2021, um
período específico de publicação não foi selecionado pois o objetivo foi agregar o maior
número de informações possíveis. Foram incluídos artigos disponíveis em texto completo
nos idiomas português, inglês ou espanhol, revisão de literatura, estudos in vitro e in vivo.
Foram excluídos trabalhos cujo objetivo era apenas a investigação do pigmento azul formado
após a exposição da polpa do fruto verde ao ar.
Um refinamento dos trabalhos foi realizado tendo como finalidade a avaliação da coe-
rência e congruência metodológica, a credibilidade, confiabilidade dos resultados, e a re-
levância dos achados. A partir da leitura dos resumos e avaliação crítica os trabalhos que
atendiam aos objetivos desta revisão, foram selecionados e lidos na integra aqueles consi-
derados relevantes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Composição
Característica físico-química
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Macronutrientes
Micronutrientes
Existem poucos dados sobre o perfil mineral do jenipapo. Três autores relacionaram
a concentração de cálcio, ferro e fósforo e tiveram resultados diferentes para cada mineral
(Tabela 3). Souza et al. (DE SOUZA et al., 2012) encontraram 92,55 mg/100g de potássio, o
que corresponde a 1,97% da Ingestão Diária Recomendada (RDI), e 8,17 mg/100g de mag-
nésio, o que corresponde a 2,04% do RDI. As vitaminas do complexo B na polpa do jenipapo
são tiamina (0,30 - 0,04 mg/100g), riboflavina (0,33 - 0,04 mg/100g) e niacina (0,54 - 0,50
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mg/100g) (Tabela I-3). O jenipapo pode corresponder a 17 - 8,5% da tiamina, 37 - 18,5% da
riboflavina e 5,2 - 3,4% da niacina da ingestão diária para o adulto. De acordo com Souza
et al. (DE SOUZA et al., 2012), o nível de vitamina C no jenipapo pode ser considerado baixo
(<30 mg/100g), mas Morton (MORTON, 1987) relacionou 33,0 mg/100g de ácido ascórbico
em frutos de jenipapo do Brasil. Por existir uma diferença entre os resultados, o jenipapo
não pode ser considerado uma fonte dessa vitamina.
Micronutriente Villachica Morton Figueiredo et al., Hansen et Silva et Souza et Pacheco et Porto et
mg/100 g 1996 1987 1986 al., 2008 al., 2009 al., 2012 al., 2014 al., 2014
Fibras dietéticas
Tabela 4.Conteúdo de fibra do jenipapo (Genipa americana L.) por diferentes autores.
Compostos bioativos
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Outros compostos que já foram relatados no jenipapo saõ: genipina, ácido genípico,
ácido genipínico, ácido geniposídico, geniposídeo, genamesídeo A, genamesídeo B, gena-
mesídeo C, genamesídeo D, genipina-gentiobiosídeo, gardenosídeo, gardendiol, shanzhiside,
éster metílico desacetilasperulosídico, genipacetal, genipaol, genipamida, ácido cafeoilge-
niposídico, ácido p-coumaroilgenipossídico, feruloil gardosídeo, escandosídeo metil éster,
gardosídeo, ácido cafeoilquínico, ácido dicafeoilquínico, p-cumaroilgenipina gentiobiosídeo.
(ONO et al., 2005, 2007). O teor total de iridóides no jenipapo maduro é baixo (0,25 ± 0,00
mg/g de polpa seca) quando comparado ao de frutos verdes (128,07 ± 1,09 mg/g de polpa
seca) (BENTES; MERCADANTE, 2014).
Dentre os metabólitos identificados em urina humana após o consumo do suco de jeni-
papo estão duas classes principais, os iridóides e aos ácidos hidroxicinâmicos, que possuem
atividade biológica conhecida. Dickson et al., (DICKSON et al., 2018, 2020) identificaram
como iridoides o ácido genípico, ácido genípico glucuronídeo, ácido genípico isômero 14-ácido
desoxigenipínico, ácido 11-desoxigenipínico, ácido 3 (4) -desidrogenípico, isômero do ácido
11-desoxigenípico, ácido 12-desmetilado-8-hidroxigenipínico, 3 ( Ácido 7) -desidrogenipínico,
isômero do ácido 3 (4) -desidrogenipínico, isômero do ácido 3 (7) -desidrogenipínico, ácido
8-hidroxigênico e hidroximetil-ciclopenta [c] furan-1,3-diol. Este estudo relatou pela primeira
vez a biodisponibilidade desses iridoides.
Considerando as propriedades farmacológica dos iridoides presentes no jenipapo as-
sim como seu conteúdo de compostos bioativos ainda não identificados em outras frutas e
a existência de biomarcadores de consumo, o jenipapo se torna de grande interesse para
pesquisa e desenvolvimento.
Capacidade antioxidante
Atividade antibiótica
A pesquisa por compostos naturais com atividade antibiótica tem como objetivo ex-
plorar uma alternativa para o tratamento de patógenos, principalmente com resistência aos
antibióticos sintéticos já existentes. A ingestão de frutas e vegetais com atividade antibió-
tica pode prevenir o desenvolvimento de problemas de saúde gerados por microrganis-
mos e suas toxinas.
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Dois iridóides do fruto do jenipapo (ácido genípico e ácido genipínico) foram descritos
pela primeira vez como antibióticos monoterpenos ciclopentanóides isolados de Genipa
americana L. capazes de inibir o crescimento in vitro de uma ampla variedade de bactérias
Gram-negativas e Gram-positivas, um fungo (Trichophyton menrugruphytes), uma alga
(Chlorella uulguris) e um protozoário (Tetruhymena gelleii). A suposição de que o jenipapo
teria atividade antibiótica foi motivada pela observação da resistência do fruto ao apodreci-
mento (TALLENT, 1964).
Antitumoral
Atividade antiproliferativa
Finco e Graeve (ABADIO FINCO; BÖSER; GRAEVE, 2013) testaram os efeitos anti-
proliferativos de extratos de jenipapo (Genipa americana) usando quatro ensaios diferentes:
MTT (3- (4,5-dimetil-tiazol-2- il) -2,5-brometo de difeniltetrazólio), MUH (4-metilumbeliferil
heptanoato), azul de metileno e azul de tripano. Eles escolheram células HepG2 (linha de
células de câncer de fígado humano) para o teste, uma vez que essa linha de células é um
excelente modelo para abordar o metabolismo das células do fígado. O extrato fenólico
da fruta de genipapo inibiu significativamente a proliferação de células HepG2 de maneira
dose-dependente em todos os ensaios realizados.
Foi investigado o efeito do extrato etanólico da fruta G. americana sobre os mecanis-
mos de proliferação e diferenciação celular da placenta utilizando células BeWo em modelo
in vitro. Trata-se de mecanismos fusogênicos para estudar a diferenciação trofoblástica,
e as células BeWo são células endócrinas trofoblásticas humanas (CONCEIÇÃO et al., 549
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2011). Os resultados mostraram que o extrato da fruta de jenipapo não foi tóxico para as
células BeWo em concentrações de 1000 µg/mL ou menos, não teve um efeito direto na
diferenciação das células BeWo através da liberação de gonadotrofina coriônica humana ou
formação sincicial. No entanto, o extrato da fruta G. americana influencia a via de sinalização
celular e a inibição da proliferação celular semelhante ao trofoblasto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diferentes metodologias utilizadas para analisar o jenipapo não nos permite fazer
uma comparação fidedigna de sua composição entre os resultados obtidos. Alguns estu-
dos apontam o jenipapo como uma boa fonte de compostos bioativos. No entanto, o que
mais chama a tenção são os resultados recentes que mostram que os iridóides presentes
no jenipapo são biodisponíveis. Ou seja, há um grande potencial desta fruta na atividade
biológica e propriedade farmacológica que merece atenção e o desenvolvimento de mais
estudos. Portanto conclui-se que o jenipapo é uma fruta exótica com nutrientes e compostos
bioativos de interesse para a saúde humana que merece fazer parte do consumo cotidiano
das pessoas e ser mais explorada para conhecer seus benefícios.
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