Você está na página 1de 13

CULTURA DO PEQUIZEIRO

ORIGEM
O fruto do pequizeiro apresenta gosto inconfundível, tendo seu nome ligado às suas
características botânicas, e etimologicamente ligado à língua tupi: py = casca e qui = espinho.
O pequizeiro distribui-se por quase 2.000 municípios. Estima-se que cerca de 40.000
coletores sobrevivam do extrativismo de seus frutos (KERR et al., 2007), representando uma
importante atividade econômica geradora de renda e emprego (FERNANDES et al., 2004;
SILVA; MEDEIROS FILHO, 2006).
Segundo Lorenzi (2002) o pequi é o fruto do pequizeiro (Caryocar brasiliensis),
árvore que possuir grande valor econômico a mais abundante dentre as nativas do cerrado.
No Brasil, sua distribuição geográfica se estende pelas cinco regiões do país,
ocorrendo nos estados da Bahia, Maranhão, Ceará, Pará, Piauí, Tocantins, Distrito Federal,
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo
(BRASIL, 2012a). O pequizeiro tem ocorrência natural no cerradão distrófico e mesotrófico,
cerrado denso, cerrado stricto sensu e cerrado ralo. Essas formações do Cerrado estão
tipicamente em solos de baixa fertilidade natural, profundos e bem drenados, em regiões de
muita luminosidade, com estação seca bem definida, sob clima tropical. Além do bioma
cerrado, o pequizeiro ocorre também nos biomas mata atlântica e pantanal, em regiões de
clima subtropical, porém com menor frequência de indivíduos (CARVALHO, 2008; VIEIRA;
CAMILLO; CORADIN, 2018).

IMPORTÂNCIA ECONOMIA, SOCIAL E NUTRICIONAL

O pequizeiro apresenta um dos maiores potenciais de produção, quando comparado a


outras frutíferas nativas, economicamente, viáveis para o Cerrado (NAVES et al., 2010). O
interesse por esta frutífera se deve à utilidade da madeira, doóleo (frutos e sementes), da casca
e da polpa (usadas como material tintorial), das flores e sementes (farmacopéia popular) e dos
frutos (culinária regional), os quais contribuem para o suprimento de parte das exigências
nutricionais da população, principalmente em vitaminas A e E, além de minerais, como o

fósforo, ferro e cobre. O pequi é fonte de fibra. O consumo da polpa melhora os quadros
de constipação, cólicas e desconfortos gastrointestinais, a importância do pequi na redução
dos radicais livres, formadores de doenças crônicas, inflamatórias e até o no tratamento do
câncer. (VERA et al., 2005, OLIVEIRA et al., 2008).
As frutas nativas na região Centro-Oeste, assim como o pequizeiro se revestem de
grande importância social, sendo utilizadas tradicionalmente pela população local. Contudo,
estas espécies ainda não fazem parte do agronegócio brasileiro, devido a fatores
socioculturais, a exploração extrativista e desconhecimento de sua qualidade para utilização
(AGOSTINI-COSTA et al., 2010). O pequi consumido no país é advindo majoritariamente de
produção extrativista e o cultivo desta espécie é ainda incipiente, pela falta de manutenção de
programas de pesquisa em todo segmento de produção, dentre outros fatores (NAVES,
NASCIMENTO E SOUZA, 2010).
A exploração de frutos do Cerrado é importante para a renda familiar da comunidade
rural, ela pode representar até 57% da renda anual do trabalhador, o que corresponde a 500
reais por safra. No caso de Goiás a renda obtida com a venda do pequi corresponde de 2 a
80% da renda do agricultor familiar (GOMES, 2000; OLIVEIRA, 2006).
O pequi, além de prover serviços ecossistêmicos, faz parte das tradições e cultura da
população rural, utilizado na culinária e também como um fruto compropriedades medicinais
(BRASIL, 2016; BRASIL, 2019). Por esses motivos é considerada uma árvore protegida, o
que garante que a mesma não seja cortada e nemcomercializada, conforme a Portaria n.
54/1987 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBDF), hoje Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) (BRASIL, 2016). No Estado de Goiás, a aprovação
do Projeto de Lei n 1519/2016 tornou o pequizeiro árvore símbolo do cerrado. Assim, torna-
se necessária o manejo sustentável do pequizeiro, o que possibilitaria o seu uso como produto
florestal não- madeireiro (PFNM).

CLASSIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO BOTANICA


O pequizeiro é uma espécie arbórea, pertencente à família Caryocaraceae, da ordem
Theales (Rizobolácea), composta de 25 espécies reunidas em dois gêneros, Caryocar e
Anthodiscus.
Etimologicamente, pequi se origina da palavra tupi ―pyqui‖, significando casca
espinhosa, devido a característica espinhosa do endocarpo (ALMEIDA & SILVA, 1994).
É uma planta perene, que pode ser classificada como frutífera ou oleaginosa,
semidecídua, heliófita, seletiva xerófita, constituindo-se uma característica do Cerrado
brasileiro. Ocorre geralmente em agrupamentos mais ou menos densos, tanto em formações
primárias como secundárias e pioneiras (LORENZI, 2000).
O pequizeiro pode crescer até 15 m de altura. O tronco apresenta circunferência de 2 a
3 metros, a casca é escura e os galhos são longos, grossos e um pouco inclinados. Sua madeira
é de cor amarelo pardo, sendo de grande utilidade na construção de dormentes, esteios de
currais e mourões. A copa é larga e os galhos estendem-se pela lateral. As folhas são
compostas, trifoliadas, opostas, limbo oval, base aguda e obtusa no folíolo central e desigual
nos folíolos laterais, verdes e brilhantes, com ausência de pelos e de glândulas. Suas laterais
são serreadas, denteadas ou crenadas (ALMEIDA & SILVA, 1994).
Já a sua flor tem coloração variando de esverdeada a branca e de tamanho variável,
seus frutos podem conter de uma a duas sementes e em casos mais raros contendo até quatro
sementes (CARVALHO, 2009).
O fruto do pequi é tipo drupóide, globosa verde, composta por pericarpo (casca)
acinzentado ou verde-amarelado, mesocarpo (polpa) amareloclaro, carnoso, aromático e rico
em tanino, endocarpo (envoltório do caroço) rígido e lenhoso por fora, recoberto por uma
camada de espinhos finos e rígidos com 2 a 5 mm de comprimento. As sementes são
oleaginosas de cor branca (amêndoa) e se apresentam em forma de um pequeno rim, em
quantidade de duas a três por fruto. (ALMEIDA & SILVA, 1994).
Em cada planta pode-se encontrar de 500 a dois mil frutos. Eles apresentam de seis a
14 cm de comprimento por seis a dez cm de diâmetro. O peso por unidade varia de 100 a 300
gramas. As sementes variam de um a quatro por fruto (ALMEIDA & SILVA, 1994).
O longo período de juvenilidade da planta em que o início da produção se dá aos seis
ou sete anos de idade é um dos problemas a serem superados para o cultivo desta espécie,
problema este que pode ser superado a partir de técnicas de propagação (BERNARDES;
SOARES; MANTOVANI, 2008) e manejo, como o uso de irrigação e adubação.
O pequizeiro floresce durante os meses de agosto a novembro, com os frutos iniciando
a maturação em meados de novembro, podendo ser encontrados até início de fevereiro
(ALMEIDA et al., 1998; LORENZI, 2000).

VARIEDADES

O gêneroCaryocar, segundo Franco et al. (2004) possui 16 espécies, das quais, 12 são
encontradas no território brasileiro. A espécie de maior presença no Cerrado do Planalto
Central é C. brasilienseCamb., dividida em duas subespécies: C. brasiliensesubsp.
Brasiliense, de porte arbóreo e com ampla distribuição, e C. brasiliensesubsp. Intermedium,
de porte arbustivo, com ocorrência restrita a algumas partes desse ecossistema (SILVA et al.,
2001)
Diversas espécies do gênero Caryocarsão conhecidas popularmente pelos nomes de
pequi, piqui, piqui-docerrado, amêndoa-de-espinho, grão-de-cavalo, pequiá. A espécie de
maior incidência no Brasil é o Camb, porém C. villosum, C. coriaceum, C. barbinerve, C.
crenatum e C. edulis também são encontradas no país(HERINGER, 1962; ALMEIDA &
SILVA, 1994; ARAÚJO, 1995; MACEDO, 2005).

PROPAGAÇÃO

As mudas podem ser propagadas por via sexuada (Bernardes et al., 2008; Naves et al.,
2010) ou assexuada (Pereira et al., 2002; Pereira et al., 2006), porém existe o predomínio do
plantio por sementes.
As sementes do pequizeiro apresentam taxa e velocidade de emergência reduzida que
dificultam a propagação em viveiros, aumentando o custo de produção das mudas e,
principalmente, prejudica o planejamento dos plantios definitivos (SILVA e LEONEL, 2017).
Em condições normais, os pequizeiros, quando oriundos de propagação sexuada
(sementes), entram em produção de cinco a dez anos após o plantio no campo, dependendo
das condições ambientais e dos tratos culturais recebidos (Naves et al., 2010). O cultivo do
pequizeiro exige técnicas adequadas de propagação, para assim obter uma produção
sustentável e com mudas de qualidade, possibilitando assim uma padronização comercial
(PEREIRA et al., 2002).
Através da propagação via sexuada Guimarães et al (2019) afirmam que a propagação
do pequi por estaquia é viável, desde que mantidas as folhas e que se obtenha estacas de
plantas jovens. PEREIRA et al (2002) avaliaram diferentes técnicas de enxertia para produção
de mudas, obtendo 60% de índice de pegamento por garfagem lateral à inglesa simples e 90%
por borbulhia de placa sem lenho e com janela aberta.

EXIGENCIAS CLIMATICAS

O pequizeiro possui grande destaque, pois se caracteriza pela sua adaptabilidade às


condições edafoclimáticas do Cerrado e pela alta concentração de óleo nos seus frutos
(ANTUNES et al., 2006).
E devido à sua origem no cerrado, o pequizeiro é mais bem adaptado a regiões com
pouca chuva ou pouca irrigação. Sua produção é sempre maior em períodos mais secos e, por
esta razão, a variedade do cerrado também pode ser cultivada em outras regiões com clima
semelhante e pequenos períodos de chuva (OLIVEIRA, 2008).

SOLO

O pequizeiro ocorre em todos os tipos de solos do Cerrado, mostrando preferência por


solos profundos, sílico argilosos e bem drenados, com teores nutricionais mais baixos e altos
níveis de alumínio tóxico (Naves, 1999). Possui estratégias de sobrevivência que lhe confere
grande habilidade de estabelecimento e de desenvolvimento em ambientes extremamente
pobres em nutrientes de solo e com elevado teor de alumínio tóxico, apresentando, nestas
condições, teores nutricionais foliares próximos aos considerados adequados para muitas
frutíferas cultivadas (Naves, 1999; Santana e Naves, 2003; Rosa, 2004). Possivelmente, ele
não tenha preferência por estes ambientes, mas nestas condições inadequadas e estressantes,
para a maioria das plantas cultivadas, ele consegue competir melhor com as outras espécies
vegetais arbóreas do Cerrado (Naves, 1999; Naves et al., 2010).
Mesmo ocorrendo em todas as classes de solo, tende a apresentar maior densidade de
plantas, quando associado a algum tipo de impedimento superficial do solo (Litossolos), ou
mesmo à presença de pedras, cascalhos ou de concreções, porém com plantas de porte e
diâmetros de caule menores (Naves et al., 2010).

NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO

São necessários estudos sobre podas de produção, adubação e irrigação em plantas


adultas; em plantas jovens de pequizeiro não houve resposta diferencial à irrigação, em um
pomar estabelecido na Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (ALVES
JÚNIOR et al., 2013).

IMPLEMENTAÇÃO DA CULTURA

Ao se decidir plantar muda de pequizeiro em qualquer ambiente, é necessário primeiro


verificar se na área há regeneração de plantas novas, pois é mais barato e eficiente criar
condições para o desenvolvimento destas do que o plantio de mudas (Naves et al., 2010).
Estabelecer pomares que privilegiem a ação do sol sobre as plantas, embora não
existindo trabalhos conclusivos sobre o assunto deve- -se optar por colocar as plantas em
espaçamentos mais abertos, de 80 m2 a 120 m2
O plantio deve ser realizado de preferência no início da estação chuvosa, de outubro a
dezembro; recomenda-se a utilização de covas de formato cúbico com 40 cm de aresta e uma
adubação básica de 250 g de superfosfato simples, por cova; no momento do plantio, não
quebrar o torrão de substrato que suporta a muda e proceder uma rega da cova logo após o
plantio; proteger a área da entrada de herbívoros e controlar, com rigor, formigas cortadeiras,
mantendo-se o pomar sob permanente observação; aplicar os demais cuidados necessários à
condução de frutíferas cultivadas em sua fase inicial de desenvolvimento; na primeira estação
seca subsequente ao plantio, de maio a setembro, érecomendável que se pratique uma rega
localizada das mudas pelo menos uma vez a cada 15 dias (Alves Júnior et al., 2013).

TRATOS CULTURAIS

Apesar das informações relativas ao plantio e aos tratos culturais do pequizeiro serem
ainda incipientes, vale ressaltar algumas recomendações em relação à condução das plantas
nativas no ambiente de ocorrência bem como para a implantação de pequenos pomares.
Plantas nativas: a) Melhorar as condições para conservação da diversidade de tipos de
pequizeiro a campo, incluindo o manejo adequado de unidades de conservação públicas e
privado, para permitir a propagação natural das populações; b) nas áreas manejadas para
coleta de frutos, manter uma cobertura de espécies arbóreas em cerca de 50%, permitindo a
adequada insolação das plantas para garantir uma boa produção (Santana e Naves, 2003;
Rosa, 2004; Ferreira et al., 2015),

INSETOS-PRAGAS

A maioria das plantas de pequizeiro sofre intenso ataque por insetos que causam danos
aos troncos, folhas, flores e frutos, limitando e comprometendo sua produção. Existem várias
informações sobre insetos associados ao pequizeiro em condições naturais (Naves et al.,
2010).
A broca dos frutos do pequizeiro Carmentasp. (Lepidoptera: Sesiidae) é uma séria
praga, pois a lagarta penetra no fruto até a semente, alimentando-se do embrião, tornando os
frutos imprestáveis para o consumo. Os frutos mais atacados são os mais jovens, sendo mais
comum encontrar uma só lagarta em seu interior (Lopes et al., 2003).
As formigas cortadeiras constituem uma importante praga do pequizeiro, podendo
atacar as plantas no campo e mudas em viveiros (Macedo, 2005). Ferreira (2007) observou
grande quantidade de pequizeiros totalmente desfolhados decorrente do ataque de formigas e
identificou diversas espécies de formigas forrageadoras, Camponotussp, Cephalotessp,
Pachycondylavillosa, Pseudomyrmexsp, Tapinomasp e Zacryptocerussp, interagindo com a
planta do pequizeiro.

DOENÇAS E PLANTAS DANINHAS

Silva et al. (2001) relatam algumas das principais doenças do pequizeiro:


Podridão de raízes de mudas: é uma doença causada pelo
fungo Cylindrocladiumclavatum, que ataca as raízes das mudas, apodrecendo-as e causando-
lhes a morte ou retardando consideravelmente seu desenvolvimento. Os primeiros sinais da
presença desse fungo são inicialmente caracterizados pelo mau desenvolvimento das mudas,
seguindo de amarelecimento e queda da folhagem. Os sintomas são caracterizados pela
presença de lesões escuras no coleto (região entre o caule e as raízes que fica no nível do
solo), seguidas de apodrecimento das raízes e morte da muda.
Como forma preventiva de controle, recomenda-se o uso de sacos de polietileno
perfurados lateralmente e no fundo, evitando-se o acúmulo de água. Deve-se evitar regas em
excesso e sombreamento das mudas.
Mal-do-cipó: causada pelos fungos Ceroteliumgiacomettii e Phomopsis sp., é uma
doença muito comum em pequizeiros adultos da Região Centro-Oeste, podendo ocorrer
também em mudas no viveiro. Até o momento, é a mais grave doença do pequizeiro.
Os sintomas em mudas são inicialmente caracterizados por um estiolamento ou
alongamento das mudas, deformações e lesões nos ramos tenros e nas folhas mais novas.
Posteriormente, as mudas secam ou param de crescer.
Em pequizeiros adultos, inicialmente, ocorre um alongamento dos internódios
(entrenós do caule) e estiolamento dos ramos mais novos, fazendo com que estes se tornem
muito flexíveis, retorcidos e adquirindo aspecto de cipó. Em alguns casos, podem ocorrer
dilatações nas extremidades (ponta dos ramos mais novos) e escurecimento da casca dos
ramos.
As folhas mais novas tornam-se encarquilhadas, com tamanho reduzido e, na maioria
das vezes, apresentam numerosas lesões escuras com até 3 mm de diâmetro que podem
coalescer (aderir por crescimento), provocando o escurecimento total ou parcial da folha.
Com o tempo, a partir dos ramos estiolados, inicia-se o secamento que pode atingir a planta
inteira, provocando a morte.
Como medidas de prevenção, recomenda-se evitar a coleta de sementes ou garfos
(pontas de galhos para enxertia) de pequizeiros com essa doença. Caso a doença apareça no
viveiro, eliminar as mudas com sintomas e, no caso de plantas adultas, recomenda-se podar e
queimar todos os galhos afetados pela doença. Nos ferimentos provocados pela poda, deve-se
pincelar uma pasta composta de 4 kg de cal hidratada e 1 kg de sulfato de cobre, diluídos em
6 litros de água.
Morte descendente: causada pelo fungo Botryodiplodiatheobromae, essa doença tem
sido observada com frequência em pequizeiros adultos. Os sintomas iniciam pelo secamento
dos ramos mais novos, nos quais as folhas permanecem secas e retidas por até 3 meses.
Posteriormente, a doença atinge os galhos, culminando com a morte da planta. Nos galhos e
ramos mais novos, podem ser observadas rachaduras profundas e lesões escuras. Sob a casca
de ramos, galhos ou troncos afetados pode ser observado um tecido escuro e necrosado (em
decomposição), que progride no sentido da copa para a base da planta.
Como medida de controle, recomenda-se cortar e queimar os galhos secos e, sobre os
cortes ou ferimentos, aplicar uma pasta composta por 1 kg de sulfato de cobre e 4 kg de cal
hidratada, diluídos em 6 litros de água.
Podridão dos frutos: essa doença é associada à presença dos
fungos Botryodiplodiatheobromae e Phomopsis, e provoca a podridão de frutos de pequizeiro
antes e após a colheita. Inicialmente, lesões escuras deprimidas podem surgir na casca ou na
região do pedúnculo dos frutos. A partir dessas lesões, surge uma podridão mole e escura, que
pode atingir toda a casca do fruto e o endocarpo, tornando-o escuro e com gosto amargo.

COLHEITA

A principal forma de exploração do pequi, bem como de diversas outras espécies


autóctones do Cerrado, é o extrativismo. A coleta se dá em reservas de uso sustentável, como
Reservas Extrativistas – Resex, Reservas de Uso Sustentável – RDS e Florestas Nacionais –
Flona ou Estaduais, além de propriedades pertencentes aos próprios extrativistas ou a terceiros
(OLIVEIRA; SCARIOT, 2010; VIEIRA; CAMILLO; CORADIN, 2018).
Para garantir a sustentabilidade da atividade, a coleta do pequi deve seguir
recomendações de boas práticas, como não retirar frutos ainda na planta-mãe, uma vez que
estes são inadequados para o consumo e representam, portanto, fonte de perda; não danificar a
plantamãe e aquelas ao redor que garantem o equilíbrio ecológico; realizar a coleta apenas dos
frutos inteiros e sadios, em não totalidade, uma vez que constituem reserva natural, essencial
para alimentação de animais e reprodução da planta. A coleta indiscriminada, com
procedimentos inadequados, pode ser nociva para a produtividade e diversidade natural dos
pequizeiros (CARRAZA; ÁVILA, 2010).

BENEFECIAMENTO

Durante o período da colheita são apanhados diariamente os frutos que caem ao solo,
sendo ensacados e colocados em pontos de embarque para serem transportados por caminhão,
se possível no mesmo dia (FERREIRA, 2007).
Os frutos destinados à indústria, muitas vezes percorrem distâncias menores que, em
sua maioria, estão localizadas próximas às regiões de produção. Um dos gargalos da produção
sustentada de frutos oriundos de plantas nativas de pequi é justamente a coleta de frutos
indiscriminada, comprometendo a renovação das populações de plantas e sobrevivência de
muitos animais silvestres (FERREIRA, 2007).

CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA

A qualidade de um alimento, embora entenda-se que envolve um conjunto de


propriedades que configurem a apreciação deste, é de difícil definição, uma vez que varia com
o tipo de produto, com a sua finalidade e com o público-alvo. Deve-se considerar atributos
químicos, físicos e sensoriais, relacionados de maneira objetiva e subjetiva, ao se analisar a
qualidade de um produto. Características de aparência, o que inclui tamanho, forma e cor;
textura; sabor e aroma, ou flavor; ausência de defeitos e valor nutritivo são os principais
atributos de qualidade exigidos pelo consumidor (BEZERRA, 2003).
O pequi parece se adequar à classificação de fruto não climatérico, uma vez que a
coleta na árvore – “pequi de vara” - implica na obtenção de frutos de menor qualidade, tendo
em vista que antes da queda natural os frutos ainda não concluíram o processo de maturação.
Assim como os demais frutos dessa classe, a colheita só deve ser realizada quando
apresentarem características adequadas ao consumo (OLIVEIRA et al, 2006; BRON;
JACOMINO, 2007).
Em virtude das modificações físicas, químicas e nutricionais indesejáveis a que o fruto
colhido está sujeito, a intensidade das atividades fisiológicas pós-colheita tem papel
determinante na longevidade do produto durante o armazenamento (CHITARRA M.;
CHITARRA, A., 2005).
KADER (2002) afirma que a taxa de deterioração dos produtos na pós-colheita é
proporcional à taxa respiratória e estabelece uma classificação de frutas e hortaliças, baseada
na respiração. RODRIGUES et al (2009) observaram na ocasião da colheita, após a queda
natural dos frutos de pequi, uma taxa respiratória de 67,01 mL.CO2.kg-1 .h-1 ,
correspondente à classificação “extremamente alta” de Kader. Dessa forma, o controle da
respiração é necessário para a manutenção da qualidade e para o prolongamento da vida de
prateleira do pequi.

COMERCIALIZAÇÃO

Normalmente, o período entre a coleta dos frutos no chão e o transporte até as centrais
de abastecimento, demora de dois a três dias e são vendidos em locais abertos, beira de
estrada (FERREIRA, 2007).
Após a colheita dos frutos, o aproveitamento alimentar do pequi, seu uso de maior
destaque, compreende uma extensa lista de receitas da culinária regional, em que se aproveita
não só a polpa, como também o óleo e as amêndoas nas preparações; a exemplos, arroz e
carnes com pequi, farofas, molhos, doces e licores. É um alimento difundido em especial no
Centro-Oeste, compondo pratos típicos e, em geral, de grande aceitação (CARVALHO, 2008;
ALMEIDA, 1998).
A partir da polpa também é extraído o óleo de pequi, utilizado na culinária e na
produção de sabão com potencial para lubrificantes e biocombustível. A castanha ou amêndoa
é consumida em farofas ou doces in natura ou torrada (SANTOS et al., 2013).
O fruto pode ser utilizado na alimentação de animais domésticos, é palatável para
ovinos, suínos e bovinos, os quais se alimentam também das folhas. É fonte de alimento em
especial para animais silvestres, como veados, araras e cutias, sendo o marsupial
Didelphisalbiventris e o corvídeo Cyanocoraxcristatellus os principais vetores de dispersão
dos frutos e sementes (CARVALHO, 2008; ALMEIDA; SILVA, 1994).
Na medicina popular regional, é disseminada a utilização do óleo do pequi para tratar
doenças do aparelho respiratório, como bronquite e gripes (ALMEIDA; SILVA, 1994).
Pesquisas com óleo da polpa de pequi em experimentos com animais têm apresentado efeitos
antioxidante, anti-inflamatório, cardioprotetor, hepatoprotetor e anticarcinogênico
(NASCIMENTO-SILVA; NAVES, 2019).
Recentemente, estudos realizados por Antunes et al. (2006) apontam ainda o óleo do
pequi como adequado para a produção de biodiesel.

AGOSTINI-COSTA, T. S.; SILVA, D. B.; VIEIRA, R. F.; SANO, S. M.; FERREIRA, F. R.


Espécies de maior relevância para a região Centro-Oeste. In. VIEIRA, R. F.; AGOSTINI-
COSTA, T. S.; SILVA, D. B.; SANO, S. M.; FERREIRA, F. R. (Ed.). Frutas nativas da
região Centro-Oeste do Brasil. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2010. p. 15-30.

ALMEIDA, S. P.; SILVA, J. A. Piqui e buriti: importância alimentar à população dos


cerrados. Brasília: Documentos, p.1-38. 1994. 2.

ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBEIRO, J. F. Cerrado: espécies


vegetais úteis. Planaltina: EMPRAPA-CEPAC. 1998.

ANTUNES, E. C; ZUPPA NETO, T. O; ANTONIOSI FILHO, N. R.; CASTRO, S. S;


Utilização do pequi (Caryocar brasiliense Camb) como espécie recuperadora de ambientes
degradados no cerrado e fornecedora de matéria prima para a produção de biodiesel. In: I
Congresso da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel, Brasília, 2006

ARAÚJO, F. D. A review of Caryocar brasiliense (Caryocaraceae): an economically valuable


of central Brazilian cerrados. Economy Botany, Bronx. v. 49, n. 1, p.40-48, 1995.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Plano Nacional de Fortalecimento das Comunidades


Extrativistas e Ribeirinhas – PLANAFE: 2017-2019. Ministério do Meio Ambiente,
Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável – Brasília, DF: MMA, 2017.
111p

BEZERRA, V. S. Pós-colheita de frutos. 1. ed. Macapá: Embrapa Amapá, 2003. 26p.


CARVALHO, P. E. R. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília, DF: Embrapa Informação
Tecnológica; Colombo: Embrapa Florestas, v. 3, 2008.

CARVALHO, P. E. R. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília, DF: Embrapa Informação


Tecnológica; Colombo: Embrapa Florestas, v. 3, 2008.

CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutas e hortaliças: fisiologia e


manuseio. 2 ed. rev. e ampl. Lavras: UFLA, 2005. 785p.

GOMES, C. J. Extrativismo e biodiversidade: o caso da fava d’anta. Ciência Hoje. Rio de


Janeiro, v 27, p. 66-69, 2000.

GUIMARÃES, R. N. Propagação vegetativa do pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.) por


estaquia. 2017. 74 p. Tese (Doutorado em Agronomia: Produção Vegetal) – Escola de
Agronomia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.

HERINGER, E. P. Pequizeiro (Caryocar brasiliense Cambess). In: REUNIÃO ANUAL DA


SOCIEDADE BOTÂNICA DO BRASIL. Instituto Agronômico de Minas Gerais. Belo
Horizonte, p. 113-118, 1962.

KADER, A. A. Posthavest biology and technology: an overview. In: ______. Posthavest


technology of horticultural crops. 3. ed. California: University of California, 2002. p. 435-
461.

KERR, W. E.; SILVA, F. R.; TCHUCARRAMAE, B. Pequi (Caryocar brasiliense Camb.):


informações preliminares sobre um pequi sem espinhosno caroço. Revista Brasileira de
Fruticultura, Jaboticabal, v. 29, n. 1, p. 169-171, 2007.
LORENZI, H.; Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas
nativas do Brasil. 2. ed. Nova Odessa; 2002.

MACEDO, J. F. Pequi: do plantio à mesa. Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas


Gerais, Boletim Técnico. Belo Horizonte, p. 44, 2005.
NASCIMENTO-SILVA, N. R. R. do.; NAVES, M. M. V. Potential of whole pequi (Caryocar
spp.) fruit – pulp, almond, oil, and shell – as a medicinal food. Journal of Medicinal Food, v.
22, n. 9, 2019.

NAVES, R. V. Espécies frutíferas nativas dos cerrados de Goiás: caracterização e influências


do clima e dos solos. 1999. 206 f. Tese (Doutorado em Agronomia)-Escola de Agronomia,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 1999.

NAVES, R. V.; NASCIMENTO, J. L.; SOUZA, E. R. B. Pequi. Jaboticabal: Funep, 2010. 37


p. (Série frutas nativas 10).

OLIVEIRA, W. L. de; SCARIOT, A. Boas práticas de manejo para o extrativismo sustentável


do pequi. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2010. 84

OLIVEIRA, M. E. B. et al; Aspectos agronômicos e de qualidade do pequi. Fortaleza:


Embrapa Agroindústria. [S.I: s.n.], Tropical, 2008. 32 p

OLIVEIRA, E. Exploração de espécies nativas como uma estratégia de sustentabilidade


socioambiental - o caso do pequi (Caryocar brasiliense Camb.) em Goiás. Tese de doutorado,
Universidade de Brasília, UNB CDS, p. 294, 2006.

PEREIRA, A. V. et al. Avaliação de métodos de enxertia em mudas de pequizeiro. Boletim de


pesquisa e desenvolvimento 51. Planaltina-DF, Embrapa Cerrados, 2002.

SILVA, E. C.; LEONEL, L. V. Avaliação da germinação de sementes de pequizeiro


(Caryocar brasiliense Camb.) submetidas em diferentes concentrações de ácido giberélico.
Cultura Agronômica, v.26, n.2, p.217-223, 2017

Você também pode gostar