Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
O gênero Inga pertence à família Fabaceae, subfamília Mimosoideae, tribo Ingeae, e compreende cerca de 300
espécies, cujo nome deriva da terminologia indígena angá ou ingá , que na realidade significa tem semente
envolvida . Este gênero apresenta potencial econômico no reflorestamento, fitoterapia, produção de energia e na
alimentação. Muitas espécies deste gênero são usadas por tribos da Amazônia para o tratamento de diversas
doenças. O metabolismo secundário deste gênero atesta para a presença de substâncias fenólicas pertencentes à
classe dos flavonoides, antocianinas, taninos, ácidos fenólicos, substâncias terpênicas como saponinas, triterpenos,
fitoesteroides, nitrogenados como derivados de L-tirosina, prolina e ácidos pipecólicos, os quais são considerados
marcadores quimiotaxônomicos do gênero. Estudos farmacológicos mostram importantes propriedades biológicas
de grande interesse farmacêutico e agronômico para espécies deste gênero, com destaque para sua atividade
antioxidante, inseticida, antiparasitária, antimicrobiana, aleloquímica, antifúngica e antitumoral. Portanto, este
trabalho de revisão tem como principal objetivo mostrar as principais bioatividades relatadas para as espécies do
gênero, a diversidade química do seu metabolismo secundário e a relevância quimiotaxonômica das substâncias
nitrogenadas no gênero Inga.
Palavras-chave: ácidos pipecólicos, quimiodiversidade, atividade farmacológica, quimiotaxonomia.
* Universidade Estadual Paulista, Departamento de Análises Clínicas, CEP 14801-970, Araraquara-SP, Brasil.
nerilsonmarques@gmail.com
** Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Departamento de Química, CEP 86036-370, Londrina-PR, Brasil.
felipe_laporta@yahoo.com.br ou felipelaporta@utfpr.edu.br
DOI: 10.21577/1984-6835.20180035
1. Introdução
2. O gênero Inga
3. Etnofarmacologia e bioatividade
4. Quimiodiversidade do gênero Inga
5. Quimiossistemática do gênero Inga
6. Conclusão
sistemático sobre este gênero. Esse trabalho em regiões que se alagam com grande
visa justamente suprir esta deficiência, de facilidade. Os frutos em forma de vagem, por
modo a contribuir com a literatura, sua vez, são comestíveis e possuem muitas
proporcionando um direcionamento para sementes que estão envoltas por uma polpa
futuros estudos. Assim, no presente trabalho branca flocosa e adocicada, sendo muito
de revisão o nosso foco será dedicado ao apreciada pelas populações da região
estudo da quimiodiversidade, bioatividade e Amazônica.9
quimiossistemática do gênero Inga.
Inga constitui-se um dos mais importantes
gêneros na Amazônia, devido ao seu
potencial como recurso em sistemas
2. O gênero Inga agroflorestais, recuperação de áreas
degradadas e comercialização dos seus
frutos. Abundante em diversos ambientes,
O gênero Inga Mill., é exclusivamente ocorre comumente em florestas secundárias
neotropical, pertencente à família Fabaceae, ou em florestas de várzea. Muitas espécies
subfamília Mimosoideae e tribo Ingae com deste gênero são árvores pequenas, porém,
sete principais áreas fitogeográficas de crescem rapidamente e mostram uma alta
distribuição, tendo como principais centros produtividade, contribuindo com a fertilidade
de diversidade do gênero: o litoral e o dos solos.10 Na figura 1 são apresentados
interior do Brasil, o sudeste da América alguns detalhes gerais das flores, folhas e dos
Central bem como a região oeste da América frutos de uma espécie de Inga.
do Sul.6
Em consequência da ampla variabilidade
A terminologia Inga deriva do vulgar morfológica de espécies deste gênero, em
indígena (tupi), angá = ingá, que significa geral, persiste uma divergência taxonômica
que possui semente envolvida .7 considerável. No entanto, a presença dos
Particularmente, os tegumentos ( casca da derivados de ácidos pipecólicos, presentes
semente) destas espécies parecem estar em cerca de 47 espécies de Inga, constitui
aderidos inseparavelmente ao endocarpo. Os uma característica relativamente constante e
cotilédones (primeiras folhas que surgem dos sua diversidade química os tornam
embriões) são protegidos contra o sol através particularmente útil para a resolução de
das antocianinas e predação através dos diversos problemas taxonômicos nesse
taninos.8 Diversas espécies são comumente gênero.11
encontradas nas margens de rios e lagos, ou
Figura 1. Detalhe das flores, folhas e frutos de uma espécie de Inga. Fonte: Adaptado de
Tropicos (2016)12
3
1 2
4 5
20 21
27 28
35
39
40 41
42 43
44 45
6 16
Pennington, T. G.; The genus Inga: botany. Calderon, L. A.; Leite, J. S. R. A.; Bloch, C.
Richmond: Royal Botanic Gardens, 1997. 844 Serine protease inhibitors from Amazon
p. ISBN 1900347121 Leguminosae seeds: purification and
7 preliminary characterization of two
Rodriguez, J. B. A Botanica: nomenclatura
chymotrypsin inhibitors from Inga umbratica.
indígena e seringueiras. Rio de Janeiro:
Protein and Peptide Letters 2001, 8, 485.
Jardim Botânico do Rio de Janeiro: IBAMA,
[CrossRef]
1992, 94p. ISBN BCM: 195.072.02
17
8 Lokvam, J.; Kursar, T. A. Divergence in
Roth, I.; Stratification of a tropical forest as
structure and activity of phenolic defenses in
seen in dispersal types, Boston: Springer
young leaves of two co-occurring Inga
Netherlands, 1987, 324p. [CrossRef]
species. Journal of Chemical Ecology 2005,
9
Lorenzi, H.; Árvores Brasileiras: manual de 31, 1109. [CrossRef]
identificação e cultivo de plantas arbóreas 18
Pompeu, D. R.; Karin, H. R.; Monteiro, M.;
nativas do Brasil. Nova Odessa: Editora
Tinti, S. V.; Carvalho, J. E. Capacidade
Plantarum 1998. p. 169. ISBN
antioxidante e triagem farmacológica de
13:9788586714412
extratos brutos de folhas de Byrsonima
10
Shanley, P.; Medina, G. Frutíferas e plantas crassifolia e de Inga edulis. Acta Amazônica
úteis na vida amazônica. Belém: Imazon, 2012, 42, 165. [CrossRef]
2005. 231 pp. ISBN 9786028693127 19
Cruz, M. F. S. J.; Pereira, G. M.; Ribeiro, M.
11
Morton, T. C. Chemotaxonomic significance G.; Silva, A. M.; Tinoco, L. W.; Silva, B. P.;
of hydroxylatedpipecolic acids in Central Parente, J. P. Ingasaponin, a complex
American Inga (Fabaceae: Mimosoideae: triterpenoid saponin with immunological
Ingeae). Biochemical Systematics and Ecology adjuvant activity from Inga laurina.
1998, 26, 379. [CrossRef] Carbohydrate Research 2016, 420, 23.
12
Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. [CrossRef]
20
29 Jun 2016. [Link] Furtado, F. B.; Aquino, F. J. T.; Nascimento,
13
Silva, E. M.; Rogez, H.; Larondelle, Y. E. A.; Martins, C. M.; Morais, S. A. L.; Chang,
Optimization of extraction of phenolics from R. Seasonal variation of the chemical
Inga edulis leaves using response surface composition and antimicrobial and cytotoxic
methodology. Separation and purification activities of the essential oils from Inga
technology 2007, 55, 381. [CrossRef] laurina (Sw.) Willd. Molecules 2014, 19, 4560.
[CrossRef]
14
Vivot, E.; Muñoz, J. D.; Cruañesa, M. C.; 21
Cruañesa, M. J.; Tapiab, A.; Hirschmann, G. S.; Gobbo-Neto L.; Lopes. N. P. Plantas
Martínez, E.; Di Sapio, O.; Gattuso, M. medicinais: fatores de influência no conteúdo
Inhibitory activity of xanthine-oxidase and de metabólitos secundários. Química Nova
superoxide scavenger properties of Inga 2007, 30, 374. [CrossRef]
22
verna subsp. affinis. Its morphological and Koptur, S. Alternative defenses against
micrographic characteristics. Journal of herbivores in Inga (Fabaceae Mimosoideae)
Ethnopharmacology 2001,76, 65. [CrossRef] over na elevational gradient. Ecology 1985,
15
Sousa, C. M.; Silva, H. R.; Vieira-Jr., G. M.; 66, 1639. [CrossRef]
23
Ayres, M. C. C.; Costa, C. L. S.; Araújo, D. S.; Correa, S. M. V.; Conserva, L. M.; Maia, J.
Cavalcante, L. C. D.; Barros, E. D. S.; Araújo, P. G. S. Constituents of roots of Inga
B. M.; Brandão, M. S.; Chaves, M. H. Fenóis edulis var. parviflora. Fitoterapia 1995, 66,
totais e atividade antioxidante de cinco 379. [CrossRef]
plantas medicinais. Química Nova 2007, 30, 24
Dias, A. L. S.; Souza, J. N. S.; Rogez, H.
351. [CrossRef]
Enriquecimento de compostos fenólicos de
folhas de Inga edulis por extração em fase
472 Rev. Virtual Quim. |Vol 10| |No. 3| |459-473|
Lima, N. M. et al.
32
sólida: quantificação de seus compostos Alvarez, J. C.; Serrano, R. P.; Ospina, L. F.;
majoritários e avaliação da capacidade Torres, L. A. A. Actividad biológica de lãs
antioxidante. Química Nova 2010, 33, 38. saponinas de La corteza de Inga marginata
[CrossRef] Willd. Revista Colombiana de Ciências
25 Químico-Farmacêuticas 1998, 27, 17.
Tchuenmogne, A. M. T.; Donfack, E. V.;
[CrossRef]
Kongue, M. D. T.; Lenta, B. N.; Ngouela, S.;
33
Tsamo, E.; Sidhu, N.; Dittrich, B.; Laatsch, H. Kursar, T. A.; Dexter, K. G.; Lokvam, J. R.;
Ingacamerounol, a new flavonol and other Pennington, T.; Richardson, J. A.; Weber, M.
chemical constituents from leaves and stem G.; Murakami, E. T.; Drake, C.; Mcgregor, R.;
bark of Inga edulis Mart. Bulletin Korean Coley, P. D. The evolution of antiherbivore
Chemical Society 2013, 34, 3859. [CrossRef] defenses and their contribution to species
26 coexistence in the tropical tree genus Inga.
Lokvam, J.; Kursar, T. A. Divergence in
Proceedings of the National Academy of
structure and activity of phenolic defenses in
Sciences of the United States of America
young leaves of two co-occurring Inga
2009, 106, 18073. [CrossRef]
species. Journal of Chemical Ecology 2005,
34
31, 1109. [CrossRef] Morton, T. C.; Zektzer, A. S.; Rife, J. P.;
27 Romeo, J. T. Trans-4-methoxypipecolic acid,
Lokvam, J.; Coley, P. D.; Kursar, T. A.
an amino acid from Inga paterno.
Cynnamoylglucosides of catechin and
Phytochemistry 1991, 30, 2397. [CrossRef]
dimericprocyanidins from young leaves of
35
Inga umbellifera (Fabaceae). Phytochemistry Morton, T. C. Chemotaxonomic significance
2004, 65, 351. [CrossRef] of hydroxylatedpipecolic acids in Central
28 American Inga (Fabaceae: Mimosoideae:
Matsubara, S.; Morosinotto, T.; Osmond,
Ingeae). Biochemical Systematics and Ecology
B.; Bassi, R. Short- and long-term operation of
1998, 26, 379. [CrossRef]
the lutein-epoxide cycle in light-harvesting
36
antenna complexes. Plant Physiology 2007, Stevenson, P. C.; Kite, G. C.; Simmonds, M.
144, 926. [CrossRef] S. J. Pipecolic acid methyl esters as artefacts
29 from the ion-exchange chromatography of
Lokvam, J.; Clausen, T. P.; Grapov, D.;
Inga punctata foliar extracts. Journal of
Coley, P. D.; Kursar, T. A. Galloyldepsides of
Chromatography A 1997, 766, 267. [CrossRef]
tyrosine from young leaves of Inga laurina.
37
Journal of Natural Products 2007, 70, 134. Morton, T. C., Romeo, J. T. Preliminary
[CrossRef] chemical investigations of Costa Rican Inga
30 species based on nonprotein amino acids.
Milton, K.; Jenness, R. Ascorbic acid
Bulletin of the International Group for the
content of neotropical plant parts avaliable
Study of the Mimosoideae 1990, 18, 112.
to wilds monkeys and bats. Experentia 1987,
[CrossRef]
43, 339. [CrossRef]
38
31 Marlier, M., Darsdenne, G., Casimir, J.
Lima, N. M. Bioprospecção em espécies de
2S,4R-carboxy-2-acetylamino-4-piperidine
Inga (Mimosoideae). 2016. 177 p. Tese
dans les fuelles de Calliandra
(Doutorado em Química) - Instituto de
haematocephala. Phytochemistry 1979, 18,
Química, Universidade Estadual Paulista,
479. [CrossRef]
Araraquara. [Link]