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Revista de Biologia e Ciências da Terra

ISSN: 1519-5228
revbiocieter@yahoo.com.br
Universidade Estadual da Paraíba
Brasil

Queiroz Cámara, Júnior; Sousa, Adalberto Hipólito de; Vasconcelos, Welber Eustáquio de; da Silveira
Maia, Paulo Hiran; Almeida, José Cezario de; Maracajá Borges, Patrício
Estudos de meliponíneos, com ênfase a Melípona subnitida D. no município de Jandaíra, RN
Revista de Biologia e Ciências da Terra, vol. 4, núm. 1, primer semestre, 2004, p. 0
Universidade Estadual da Paraíba
Paraíba, Brasil

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REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228

Volume 4 - Número 1 - 1º Semestre 2004

Estudos de meliponíneos, com ênfase a Melípona subnitida D. no


município de Jandaíra, RN

Júnior Queiroz Cámara1; Adalberto Hipólito de Sousa2; Welber Eustáquio de Vasconcelos3; Romenique da
Silva Freitas4; Paulo Hiran da Silveira Maia5; José Cezario de Almeida6 ; Patrício Borges Maracajá7

RESUMO

Realizou-se um estudo preliminar sobre a situação atual da produção de mel da abelha


jandaíra e a participação da comunidade nas atividades da meliponicultura no município
de Jandaíra-RN, foram aplicados questionários para obter o levantamento dos dados
acerca dos criadores e dos coletores de enxames da abelha Jandaira e das plantas em
floração ou não. A pesquisa foi dimensionada a 22 meliponicultores e coletores, dos quais
12 são somente meliponicultores e 10 além de meliponicultores são coletores,
abrangendo toda a área do município. Os dados coletados foram dispostos em
percentagem.

1 - INTRODUÇÃO

O Brasil é rico em espécies de abelhas sociais nativas, conhecidas como abelhas


indígenas sem ferrão, ou meliponíneos. Sua criação racional (a meliponicultura),
desenvolve-se principalmente no nordeste brasileiro, onde as abelhas jandaíra são
manejadas há bastante tempo com técnicas já consagradas popularmente.

A abelha jandaíra (M. subnitida D.) é um meliponíneo típico do sertão. A sua criação por
ser de fácil manejo, pode ser realizada por mulheres e crianças. Essa atividade humana
contribui para a conservação das abelhas e de seus hábitats; com isso, sendo
considerada sustentável, pois inclui a restauração ambiental através da preservação e
plantio de árvores que servem de locais de nidificação, além da atuação das abelhas na
polinização da flora nativa. Tendo como principais produtos de interesse comercial: o mel
que é apreciado pelas populações nativas, é de alto valor comercial e de ótima qualidade
(sabor, cheiro, cor, nutricional, terapêutico, etc.) e os enxames, pela sua venda no tronco
ou em cortiços.

A criação dessas abelhas e a sua exploração racional podem contribuir para a


preservação das espécies e dar ao meliponicultor oportunidade de obter mel. Esta
atividade vem sendo desenvolvida há bastante tempo em diversas regiões do país,
especialmente no Norte e Nordeste, havendo meliponicultores que possuem grande
número de colméias de uma única espécie, como é o caso da tiúba (Melípona
compressipes Fabricius) no Maranhão ou a jandaíra (Melipona subnitida Ducke) no Ceará
e Rio Grande do Norte. Existem, ainda, muitos meliponicultores que criam abelhas
indígenas como passatempo, explorando o mel apenas esporadicamente (CAMPOS,
2003).
As abelhas brasileiras sem ferrão são responsáveis, conforme o ecossistema, por 40 a
90% da polinização das árvores nativas. As 60 a 10% restantes são polinizadas pelas
abelhas solitárias, borboletas, coleópteros, morcegos, aves, alguns mamíferos, água,
vento, e, recentemente, pelas abelhas africanizadas. O interesse pela criação de abelhas
sem ferrão é justificado na maioria dos casos pelo uso nutricional e terapêutico do mel e
pelo fato da sua comercialização promover um aumento da renda familiar, além da
atividade servir como fonte de lazer. Do ponto de vista biológico, a criação de abelhas
também é importante porque esses insetos, ao coletarem pólen e néctar de flor em flor,
promovem a polinização e, conseqüentemente, asseguram a perpetuação de milhares de
plantas nativas e das exóticas cultivadas ( Kerr et. al., 1996).

No Brasil muitas espécies de abelhas indígenas sem ferrão, estão seriamente ameaçadas
de extinção em conseqüência das alterações de seus ambientes, causados
principalmente pelo desmatamento, uso indiscriminado de agrotóxico e pela ação
predatória de meleiros ( Kerr et. al., 1996).

Diante desta destruição acelerada das matas é imprescindível a elaboração de programas


de conservação. Se houver um firme objetivo de preservar e restaurar as árvores nativas
brasileiras, faz-se necessário preocupar-nos seriamente com a polinização de suas flores.
Estudos sobre biologia das abelhas polinizadoras, manejo e especialmente reprodução
controlada e divisão de suas colônias se tornam informações essenciais para quaisquer
medidas a serem adotadas em tais programas de conservação ( Kerr et. al., 1996).

É nosso dever termos por meta preservar estas abelhas, que apesar de pequenas, tão
inteligentes e úteis; evitando assim, a sua extinção, e colhendo seu magnífico mel, para
que as gerações futuras tenham a oportunidade de apreciar-las; que “eles” tão somente
necessitam de casa cômoda para morar, defesa contra seus inimigos e manejo correto.

Diante do exposto, objetivou-se neste trabalho realizar estudos preliminares sobre a


situação atual da meliponicultura, bem como a participação da comunidade nesta
atividade no município de Jandaíra/RN.

2 - REVISÃO DE LITERATURA

Para KERR et al (1996), As abelhas sem ferrão nativas do Brasil pertencem à


superfamília Apoidea que é subdividida em 8 famílias: Colletidae, Andrenidae, Oxaeidae,
Halictidae, Melittidae, Megachilidae, Anthophoridae e Apidae. Os Apidae se subdividem
em quatro subfamílias: Apinae, Meliponinae, Bombinae e Euglossinae. Os Meliponinae,
por sua vez, se dividem em duas tribos: Meliponini e Trigonini.

Para SAKAGAMI (1982) citado por CAMPOS (1983), a tribo Meliponini possui um único
gênero, Melipona com mais ou menos 20 espécies, enquanto a tribo Trigonini possui, na
região neotropical, dez gêneros num total de mais ou menos 120 espécies.

Segundo KERR et al (1996), as características morfológicas gerais dos meliponíneos são


aquelas geralmente descritas para os demais insetos e artrópodes em geral. Nestes
animais, membros e apêndices segmentados e articulados são necessários devido ao
rígido exoesqueleto constituído principalmente de quitina, uma substância flexível, mas
praticamente indigerível, semelhante à celulose. A quitina forma a carapaça que envolve o
corpo do animal.
Conforme KERR et al (1996), a classificação zoológica completa destas abelhas é a
seguinte:

Reino Animália
Filo Arthropoda
Classe Insecta
Ordem Hymenoptera
Subordem Aprocrita
Superfamília Apoidea
Família Apidae
Subfamília Meliponinae
Tribos Meliponini e Trigonini

Segundo KERR et al (1996), Quando a tiúba vai coletar néctar, a abelha estende sua
língua formando um canal sugador de líquido açucarado. Assim o néctar vai para direto
ao papo de mel ou estômago de néctar, onde permanece até chegar à colméia. Depois,
este néctar é entregue a abelhas receptoras e colocado em potes onde será desidratado
até atingir a concentração de açúcar aproximada de 70%. O néctar é desidratado por
ventilação, ou seja, a operária desidratadora, que tem néctar no papo de mel o traz
novamente à língua expondo-o frente a uma corrente de ar feita por movimentação de
asas de outras operárias; assim que a gotinha se esfria suga-a para dentro por poucos
segundos e a traz novamente; esse movimento de vai e vem da língua ou papo, expondo
e engolindo a gota de néctar faz evaporar a água até chegar à concentração ideal de
açúcar.

O ninho de abelhas indígenas se apresenta de forma variada, porém, sempre bastante


diferente do ninho de A. melífera Linnaeus. As células são construídas de cerume, uma
mistura de cera e resina vegetal e todo alimento consumido pela larva é colocado na
célula antes da postura da rainha. Após a ovoposição, a célula e fechada com cerume
pelas operárias. As células podem estar agrupadas, formando favos horizontais, regulares
ou irregulares, ou em cachos (quando as células não estão agrupadas em favos, mais
unidas entre si por pequenos pilares de cerume, estando cada célula isolada das demais).
Somente uma espécie africana Dactylurina staudingeri Gribodoi, possui favos verticais
(CAMPOS, 1983).

O tamanho do ninho é também bastante variado, tanto no que se refere ao seu volume,
quanto ao número de indivíduos. Algumas espécies como Melipona quadrifasciata
Lepeletier constroem ninhos com menos de 500 abelhas, enquanto Trigona spinipes
Fabricius constrói ninhos que chegam a ter mais de 100.000 abelhas. Leurotrigona
muelleri Friese constrói seu ninho em cavidades algumas vezes, com menos de 100 cm3,
enquanto são comuns nunhos com volume de mais de 10.000 cm3 em outras espécies
(CAMPOS, 1983). O ninho de grande parte das espécies de abelhas indígenas é
construído em oco de árvores, bambus e outras plantas. Muitas dessas espécies utilizam-
se, ocasionalmente, de outras cavidades naturais ou artificiais principalmente em
barrancos, paredes e muros onde é comum encontrarem-se ninhos de abelhas indígenas
nas cidades (CAMPOS, 1983).

A entrada típica está situada no centro da raias convergentes de barro. Dá passagem só a


uma abelha de cada vez. Os favos de cria que vi eram horizontais. Não apresenta células
reais. Têm invólucro de cerume, envolvendo os favos de cria. O batume contém muito
barro e pouca própolis, não sendo constituído de geoprópolis (NOGUEIRA-NETO, 1970).
Para se atrair enxames, utilizam-se caixas de madeira. No seu interior coloca-se um
pouco de cerume e resina, retirados de colônias de abelhas indígenas. Usam-se, também,
caixas nas quais estiveram instaladas colônias dessas abelhas, que foram transferidas e
que ainda contêm restos da colônia original. Estas caixas devem estar bem fechadas e
possuir uma abertura por onde as abelhas possam penetrar. Devem ser colocadas em
locais protegidos, onde existam colônias naturais, que possam enxamear. Devem ser
periodicamente inspecionadas, retirando colônias de formigas e outros animais que
possam aí haver se instalado (CAMPOS, 2003).

Caso ocorra enxameação, é preciso lembrar que as abelhas indígenas, diferentemente da


Apis, transportam da colônia materna todos os alimentos necessários para seu
estabelecimento e só depois que a nova colméia está razoavelmente construída, é que a
rainha jovem para aí se dirige, acompanhada de muitas operárias. O vínculo com a
colônia materna se mantém, algumas vezes, por muitas semanas. Por essa razão, não se
deve transportar para novo local colônia recém-enxameada (CAMPOS, 2003).

Para a divisão, retiram-se favos com cria velha (pupas e abelhas prestes a emergir),
devendo-se usar, para isso, colônias fortes, com bastante cria. Se a colônia for de uma
Melipona (mandaçaia, manduri, uruçu, jandaíra, tujuba, tiúba, etc), espécies que se
caracterizam por serem relativamente grandes e construírem a entrada do ninho com
barro, formando uma estrutura raiada, não há necessidade de se preocupar com célula
real, pois estas abelhas não as constroem, estando a cria, que dará origem às rainhas,
distribuída pelo favo, em células iguais àquelas de onde nascem as operárias e machos.
Se a colônia for de uma espécie da tribo Trigonini (jataí, iraí, mandaguari, tubiba, timirim,
mirim, mirim preguiça, moça-branca, etc), é necessário que , nos favos, exista uma ou
mais células reais, de preferência prestes a emergir. Esta célula real é facilmente
reconhecida por ser maior que as células das quais emergirão operárias e machos
(CAMPOS, 2003).

Além dos favos, retiram-se, também, cerume e potes de alimento com mel e pólen das
colméias que estão sendo divididas, cuidando-se para não danifica-los. Com esses
elementos monta-se a nova colméia, tomando-se todos os cuidados na transferência para
outra caixa. A nova colméia deve receber abelhas jovens, reconhecidas pela sua cor clara
e por não voarem. Após a montagem da nova colônia, esta deve ser colocada no local
onde se encontrava a antiga que deve ser transportada para outro lugar. Este cuidado
visa suprir a nova colônia com abelhas campeiras. A nova colônia deve estar bem
protegida contra o ataque de formigas, pois nesta fase o enxame ainda está
desorganizado (CAMPOS, 2003).

Na formação de uma nova colônia podem ser utilizados elementos de mais de uma
colônia da mesma espécie, tomando-se o cuidado para não misturar abelhas adultas de
mais de uma colméia, pois isto acarretaria luta e, consequentemente, a morte de muitas
delas. A divisão de colônias deve ser realizada em época na qual as abelhas estejam
trabalhando intensamente, e deve ser realizada pela manhã, em dia quente e só deve
envolver colônias fortes nas quais existam bastante alimento e favos de cria (CAMPOS,
2003).

Para capturar colônias na natureza, o criador pode levar, para seu meliponário, galhos ou
troncos onde existam colônias, devendo, para isso, corta-los com cuidado para não atingir
o ninho e fechar as extremidades do oco, caso fiquem expostas. Antes de cortar é
importante fechar a entrada da colméia com tela ou algodão para impedir que muitas
tronco ou galho contendo o ninho deve ser deixado com a entrada aberta, o mais próximo
possível de onde se encontrava originalmente, para que as abelhas retornem a ele. À
noitinha, quando todas as abelhas estiverem recolhidas, a entrada deve ser fechada com
tela e então a colônia pode ser transportada com cuidado para o meliponário, devendo o
tronco ser colocado na mesma posição em que se encontrava. A tela da entrada deve,
então, ser retirada. Durante o transporte, choques violentos devem ser evitados
(CAMPOS, 2003).

Segundo KERR et al (1996), a divisão geral do trabalho realizado pelas operárias de


meliponíneos se modifica de acordo com suas idades e com as necessidades da colônia.
Nas primeiras horas de nascimento as abelhas realizam a limpeza corporal, mas a maior
parte do tempo permanecem imóveis sobre os favos de cria. Nos próximos dias as
operárias manipulam cera raspando as células; um mesmo grupo constrói células de cria,
participa no processo de postura e aprovisiona os alvéolos de cria. A partir do 14o dia são
lixeiras internas e após o 25o dia são guardas, receptoras de néctar, desidratadoras de
néctar, ventilam a colméia e saem para o campo em busca de pólen, néctar, barro, resina
e, raramente, água. Dentro do ninho as operárias estão continuamente construindo novas
células de cria, formando favos horizontais ou, dependendo da espécie, em cachos. A
rainha e os machos não tomam parte deste processo. A rainha, além de sua função
reprodutiva, também mantém a coesão da colônia, por meio de atos ritualizados com as
operárias e pela liberação de feromônios. A principal função dos machos de
meliponíneos, em praticamente todas as espécies estudadas, é de copular com as
rainhas jovens; em algumas espécies os machos produzem cera e trabalham com ela e,
em algumas espécies, também podem desidratar o néctar. Os meliponíneos produzem
cera nos tergitos abdominais (nas costas), enquanto que as Apis produzem nos esternitos
(barriga).

Um dado interessante obtido por WALDSCHMIDT (1995), é que a abelha-guarda, além de


sua função de proteção para não permitir a entrada de inimigos é, também, extremamente
importante para não permitir que as abelhas jovens (que ainda não possuem musculatura
adequada) saiam da colméia e morram por não conseguirem voar. Esta pesquisadora
também observou em Melípona quadrifasciata que ocorre uma flexibilidade
comportamental, ou seja, mesmo seguindo uma divisão etária de trabalho, na ausência de
operárias de qualquer idade, as outras retornam estas atividades e assim completam o
quadro de trabalho a ser realizado na colônia.

Segundo NOGUEIRA-NETO (1970) a verdadeira jandaira vive no Nordeste. Na Amazônia


há diversas outras abelhas denominadas jandaira. Provavelmente essa designação é
devida à influência dos emigrantes nordestinos. No interior de Alagoas, é chamada de
urucu.

De acordo com KERR et al (1996), Os povos pré-colombianos já conheciam as abelhas


sem ferrão e as domesticaram, dando-lhes os nomes que ainda hoje persistem na cultura
popular brasileira: jataí, uruçu, tiúba, mombuca, irapuá, tataíra, jandaíra, guarupu, manduri
e tantas outras. A utilização de nomes vulgares varia de região para região, dificultando a
identificação das espécies e sua classificação científica.

Desde logo verifica-se que os nomes vulgares de abelhas , por sua imprecisão, não
oferecem base sólida para o entendimento comum entre pessoas de um país tão grande
e variado como o Brasil. Cada Estado ou grupos de Estados tem tradições, costumes,
história, clima, topografia, solos, fauna, flora, etc. que lhes são próprios, ou neles
que é internacional. Não somente as pessoas que falam determinada língua, mas todos
os povos do mundo entendem a mesma coisa, quando se escreve A. melífera Linnaeus,
seja no Brasil, na Rússia, na Suécia, na China, no Canadá, etc. (NOGUEIRA-NETO,
1970).

A subfamília Meliponinae tem centenas de espécies espalhadas por várias regiões do


mundo. Este elevado número contrasta com as apenas oito espécies nos Apinae,
subfamília à qual pertence à abelha A. melífera Linnaeus. Os atuais meliponíneos
formam um grupo mais isolado e mais especializado, cujos indivíduos dependem mais
das características climáticas e florísticas da suas respectivas regiões de origem, que os
relativamente menos exigentes Apinae. A favor desta hipótese está o fato que das mais
de 300 espécies de meliponíneos conhecidas, pelo menos 100 estão em perigo de
extinção devido à destruição de seu habitat pelo homem (KERR et al, 1996).

Na América, quando da chegada dos descobridores, não havia A. melífera Linnaeus, a


abelha atualmente mais utilizada para produção de mel. Havia, entretanto, muitas
espécies de abelhas sociais nativas, conhecidas por abelhas indígenas sem ferrão, pois
possuem o ferrão atrofiado, não sendo capaz de picar (as únicas abelhas sociais nativas
do Brasil que possuem ferrão desenvolvido são do gênero Bombus, conhecidas
popularmente por Mamangavas) (CAMPOS, 1983).

De acordo com BRUENING (1990), para não ser extinta a nossa Melipona Nordestina,
chamada Jandaíra, necessita urgentemente de nossa ajuda inteligente e decidida. No
caso, ajudar é não atrapalhar. Como? Muito simples. 1) Preservar a região, polígono das
secas, Nordeste semi-árido do Brasil. 2) Não esquecer que dentro da casa grande do
Nordeste elas preferem o sertão, a caatinga, não o agreste nem litoral. O sertão é a casa
social da Jandaíra. É ali que ela se sente em casa e trabalha. 3) Cada família precisa de
sua casa particular: não se contenta com o continental nem com o social. E a casa
individual das Jandaíras são as árvores, ou antes os troncos verdes, de preferência
imburana e catingueira. Ora, o sertão já está desmatado, não é reflorestado e nem
replantado e dentro de alguns anos será puro e estéril deserto. As abelhas não acham
casa para morar.... Como irão trabalhar? Em prolongadas estiagens as Jandaíras só
encontram alimento em árvores de grande porte, refratárias à seca, já que possuem
reserva d´água nas raízes. Tais árvores prestam simultaneamente de moradia e alimento
às abelhas. São indispensáveis pois, para a sobrevivência dos meliponíneos. Mas não só
as abelhas precisam das árvores - as árvores também precisam das abelhas.

O domínio morfo-climático e fito-geográfico das caatingas apresentam vegetação xerófila,


que ocorre na região semi-árida tropical do Nordeste do Brasil. Essa região constitui um
dos três núcleos de aridez da América do Sul e o único afastado da zona de influência
dos Andes (AB'SABER, 1980). Para SARMIENTO (1975), a caatinga é a mais dissimilar
dentre as floras das regiões áridas da América do Sul, particularidade atribuída ao seu
isolamento geográfico.

Para SILVEIRA & CAMPOS (1995) é bem distinto o conjunto de plantas visitadas pelas
abelhas nos diferentes tipos vegetacionais, mesmo quando se consideram as áreas de
uma mesma vegetação. Estes autores revelaram que a caatinga foi o domínio mais
isolado, comparativamente ao do cerrado, dos Planaltos da Araucária e Mata Atlântica.
VIANA (1999) atribuiu à caatinga baixa similaridade entre localidades, ao verificar
variação expressiva da fauna de abelhas.
Diversos fatores em escala regional e local podem ser responsáveis pela variação na
composição florística associada à comunidades de abelhas mas a heterogeneidade dos
hábitats pode ser um importante aspecto que favorece a coexistência entre espécies de
abelhas. A heterogeneidade permitiria a permanente variação espacial, tornando os
hábitats menos agregados, o que pode reduzir a oportunidade de as espécies interagirem
(RICKLEFTS & SCHLUTER 1993).

O regime semi-árido, que inclui a caatinga, exibe vegetação com diferenças sazonais de
florescimento, uma estação chuvosa com alta diversidade de espécies floríferas, em
contraste com a estação seca. A variação na disponibilidade de recursos gera um padrão
sazonal, de intenso forrageamento pelas abelhas na estação chuvosa seguido de queda
significativa na seca (MARTINS, 1994; AGUIAR et al. 1995; VIANA et al. 1997).

As plantas e as abelhas vêm evoluindo e adaptando-se mutuamente desde o cretáceo,


entre 60 e 100 milhões de anos atrás. Este relacionamento benéfico, que persiste até os
dias de hoje, levou a uma interação tal que as abelhas dependem das flores como suas
principal fonte de alimentos – néctar e pólen – e muitas espécies vegetais dependem
inteiramente das abelhas como agentes polinizadores (GIORGINI E GUSMAN, 1972 &
MARTIN, 1979).

Segundo BRUENING (1990), no livro “A Abelha Jandaira” da Coleção Mossoroense existe


uma listagem das principais plantas (flores) visitadas pelas jandaíras.

O primeiro registro histórico da localidade, vem de Anfilóquio Câmara, que em 1941, já


dava por certo a existência de um lugar com um distrito policial e um certo nível
econômico conhecido por Poço Jandaíra. Antes disso, Nestor Lima teria feito um balanço
da região, pelo qual foram encontrados 103 pontos de concentração populacional:
povoados, arruados, fazendas e vilas, sem, contudo citar Jandaíra (IDEMA, 1999).

O povoado de Jandaíra teria nascido como fazenda de criação e posteriormente se


transformado em área de produção algodoeira, ao redor da serra do Lombo ou serra
Verde, à margem esquerda do rio Ceará Mirim. O poço do local, com o nome de Jandaíra,
evidência a influência das chamadas aguadas permanentes na formação de núcleos
comunitários (IDEMA, 1999).

O povoado apresentava um ritmo de crescimento razoável, e, em dezembro de 1958 foi


elevado à condição de vila. Depois de cinco anos, em 27 de dezembro de 1963, através
da Lei nº 3.036, Jandaíra conquistou sua emancipação política, desmembrando-se de
Lajes e tornando-se um novo município do Rio Grande do Norte (IDEMA, 1999).

A produção de mel de abelha Jandaíra - foi outro motivo para que a localidade tivesse
essa denominação, considerando que alem disso, todos os anos, aquela área tem
elevada quantidade desse produto, sem exploração organizada ou sistemática, enquanto
os caçadores é que fazem a coleta artesanal dentro dos matos, ainda de modo bastante
impróprio, ou sem a tecnologia moderna (IDEMA, 1999).

O Município de Jandaira tem uma extensão territorial de 428,3 km². Localiza-se a uma
altitude média de 110 metros acima do nível do mar, situando-se numa posição
geográfica determinada pelo paralelo de 5º 21’ 23”de Latitude Sul e 36º 07’ 41” de
longitude Oeste, com uma Distância em Relação à Capital: 117 km pela malha rodoviária
(BR 406) e 108 Km em linha reta; Fazendo limites com: Caiçara do Norte e Galinhos ao
Oeste. O clima é árido, com Precipitação pluviométrica anual: média 498,1 mm. A
vegetação é de caráter mais seco, com abundância de cactácea e plantas de porte mais
baixo e espalhadas (IDEMA, 1999).

3 - MATERIAL E MÉTODOS

Os trabalhos foram realizados no Município de Jandaira no Estado do Rio Grande do


Norte, na Microrregião do IBGE: Baixa Verde, Zona Homogênea do Planejamento: Litoral
Norte.

O período da pesquisa compreendeu os meses de setembro a novembro do ano de 2003.


A pesquisa foi dimensionada a 22 meliponicultores e coletores, dos quais 12 são somente
meliponicultores e 10 além de meliponicultores são coletores, abrangendo toda a área do
município.

Os trabalhos foram desenvolvidos em locais reconhecidos pelos meliponicultores e


coletores de abelha jandaíra, abrangendo todo o município. A ordem de amostragem de
locais e setores de coletas foi de acordo com identificação da presença ou da extração de
enxames. Foram entrevistados os meliponicultores que moram e criam a abelha tanto na
área urbana, como na rural.

Foram coletadas partes de plantas em floração indicadas pelos meliponicultores e


coletores como visitadas pelas abelhas, e colocadas num herbário, que em seguida
deveriam ser enviadas para identificação.

Estudos Realizados

a) Localização fito-geográfica

- Contato com os vendedores de enxames para saber a procedência e locais


de retiradas, assim como a localização destes em campo;
- Observação sobre as plantas vizinhas (Elaboração de herbário, Identificação
e Marcação da área com o GPS);
- Estudar todas as áreas do município.

b) Estudo das espécies de meliponíneos existentes

- Coleta de insetos por caixas, envio para taxonomia e mapeamento de


espécies de acordo com sua origem.

c) Diagnóstico da cadeia produtiva da Jandaira no município

- Aplicação de questionários, e entrevistas com meliponicultores e coletores e


visita a meliponários.

Obs: Na coleta dos dados utilizou-se questionários para obter o levantamento


dos dados acerca dos criadores e dos coletores de enxames da abelha
Jandaira.
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

As espécies abelhas indígenas criadas pelos meliponicultores do município de Jandaira


são: rajada (Melipona asilvae Moure), amarela (Frieseomelita doederlini Friese), moça
branca (Tetragona varia Lepeletier), cupira (Partamona cupira Smith), mosquito (Plebeia
mosquito Smith), e jandaíra (M. subnitida D.), destacando-se como o principal
meliponíneo de importância sócio-econômica e cultura do nosso município..

Observou-se que 55% dos meliponários são constituídos somente de abelhas jandaira (M.
subnitida D.), e os outros 45% corresponde as demais espécies encontradas, mais a
jandaira (M. subnitida D.), como demonstra o gráfico 01.

% dos
meliponários

60%
40%
55%
45%
20%
0%
Espécies de abelhas
Jandaira Jandaira e demais espécies encontradas
Gráfico 01 - Composição dos meliponários em Jandaira-RN.

Sendo que, as duas espécies (jandaira e a rajada) foram consideradas mais viáveis para
fins lucrativos, por ter maior ocorrência na região e se adaptam melhor às condições
adversas do meio e mais promissoras quando multiplicadas, facilmente comercializadas
juntamente com seus produtos.

Das seis espécies de meliponíneos encontradas no município de Jandaíra, todas foram


observadas por LORENZON et al. (2003) em um estudo realizado na Serra da Capivara
/PI.

A florada é um dos fatores limitantes para o processo de produção e qualidade do mel. De


acordo com as informações obtidas pelos meliponicultores, foram listadas 47 espécies
vegetais visitadas por meliponíneos.
LORENZON et al. (2003), listaram 58 espécies vegetais visitadas por meliponíneos na
Serra da Capivara/PI.
VILELA, S. L. O. & PEREIRA, F. M. (2002), listaram algumas espécies vegetais de
importância apícola no Nordeste e o período de floração (seco e chuvoso).

A seguir estão relacionadas as principais espécies vegetais nativas e exóticas, citadas


pelos meliponicultores do município, e que são utilizadas pelas abelhas sem ferrão, na
busca pelo néctar, pólen, alojamento e ninho.
•Nativas

Ameixa, Ameixa-brava (Ximenia americana L.), Angico (Anadenanthera colubrina


var. cebil ( Griseb. ) v. Reis), Aroeira-preta (Myracrodruon urundeuva Allem.),
Azeitona-preta (Syzygium jambolanum DC.), Cabeça-de-velho (Borreria spp.,
Mitracarpus spp.), Cajueiro (Anacardium occidentale L.), Catanduva (Piptadenia
moniliformis Benth.), Catingueira (Caesalpínia bracteosa Tul.), Cirigüela (Spondias
purpúrea L.), Coqueiro (Cocos nucifera L.), Cumaru (Amburana cearensis ( Fr.
Allem. ) A. C. Sm.), Espinheirinho (Pithecellobium dulce Benth.), Favela
(Cnidoscolus phyllacanthus ( Muell. Arg. ) Pax. & K. Hoffm.), Feijão-bravo (Capparis
flexuosa ( L. ) L.), , Gurdião (Cayaponia tayuya Cogn.), Imburana (Commiphora
leptophloeos ( Mart. ) J. B. Gillett), Jitirana-branca (Merremia aegyptia ( L. ) Urb.),
Juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), Jucá (Caesalpinia ferrea Mart.), Jurema-branca,
Jurema-sarjadeira (Mimosa sp.), Jurema-preta (Mimosa hostilis Benth.), Jureminha,
Jurema-d’água (Desmanthus virgatus (L.) Willd.), Malva (Sida sp.), Malva-preta
(Herissantia sp., Waltheria indica L.), Maniçoba (Manihot glaziovii Muell. Arg.),
Marmeleiro-preto (Croton sonderianus Muell. Arg.), Mata-pasto (Senna spp.),
Mofumbo (Combretum leprosum Mart.), Mulungu (Erythrina velutina Willd.), Pereiro
(Aspidosperma pyrifolium Mart.), Pinhão-bravo (Jatropha mollisma Baill.), Pitomba
(Talisia esculenta Radlk.), Quixabeira (Sideroxylon obtusifolium ( Roem. & Schult. )
T. D. Penn.), Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda), Urtiga-branca (Cnidoscolus
urens ( L. ) Arthur), velame (Croton sp.).

•Exóticas

Acerola (Malpighia emarginata DC.), Algaroba (Prosopis juliflora DC.), Bananeira


(Musa spp.), Espinheiro (Pithecellobium diversifolium Benth.), Goiabeira (Psidium
guajava L.), Incenso (Vitex agnus-castus L.), Leucena (Leucaena leucocephala (
Lam. ) de Wit.), Laranjeira (Citrus aurantium L.), Limoeiro (Citrus limon ( L. )
Burm.f.), Mangueira (Mangifera indica L.), Mamoeiro (Carica papaya L.), Pinhão-
roxo (Jatropha gossypiifolia L.), Romã (Punica granatum L.).

De acordo com os meliponicultores e coletores, as plantas que a abelha jandaira utiliza


para nidificação, apresentando-se em ordem de preferência: Imburana (Commiphora
leptophloeos ( Mart. ) J. B. Gillett) - 100%, Catingueira (Caesalpinia bracteosa Tul.) - 90%,
Aroeira-preta (Myracrodruon urundeuva Allem.) - 90%, Pereiro (Aspidosperma pyrifolium
Mart.) - 40%, Burra-leiteira (Euphorbia brasiliensis Lam.) - (30%), Angico (Anadenanthera
colubrina var. cebil ( Griseb. ) v. Reis) - 10%, Jucá (Caesalpinia ferrea Mart.) - 10%,
Favela (Cnidoscolus phyllacanthus ( Muell. Arg. ) Pax. & K. Hoffm.) - 10%, Jurema-Preta
(Mimosa hostilis Benth) - 10%. Segundo os meliponicultores, as abelhas nidificam nestas
plantas de baixa freqüência (%) é por falta de opção no local. Veja no gráfico 02.
100%
90% Imburana
100% Catingueira
90%
80% Aroeira-preta
70% Pereiro
% dos 60% 40% Burra-leiteira
meliponicul- 50% 30%
40% Angico
tores 30% 10%
Jucá
20%
10% Favela
0% Jurema-preta
Espécies vegetais

Gráfico 02 – Preferência de nidificação da jandaira em algumas espécies vegetais.

Fato idêntico pode ser observado em NOGUEIRA-NETO (1970), que diz que no sertão do
Seridó - RN, os sertanejos “mais curiosos” “sabem de cor as madeiras que se apresentam
mais freqüentemente ocadas – a imburana, a catingueira e o cumarú – morada natural
das nossas abelhas silvestres. E a literatura oral comprova essa preferência: “xique-xique
é pau de espinho, imburana é pau de abelha” ( LAMARTINE DE FARIA & LAMARTINE:
1964:190).

Pessoas Envolvidas por Família na Meliponicultura e Renda Familiar

Os dados obtidos na pesquisa indicam que cada família ocupa, em média, 1,7 pessoas
envolvidas na atividade. Verificou-se que 50% dos entrevistados disseram que apenas
uma pessoa está envolvida com atividade, enquanto que 22,73 e 27,27% correspondem a
duas e três pessoas que estão envolvidas respectivamente. Ver gráfico 03.

50%

27,27%
50% 22,73%
40%
% dos
30%
meliponicu
20%
l-tores
10%
0%
Número de pessoas

1 pessoa 2 pessoas 3 pessoas

Gráfico 03 – N° mínimo de pessoas por família envolvida na atividade.


De acordo com VILELA & PEREIRA (2002) na apicultura do estado do Rio Grande de
Norte, a média de pessoas envolvidas na atividade é superior ao número de pessoas (2,6
pessoas/família) na meliponicultura. Isso mostra que no manejo de meliponíneos não
necessita de uma grande quantidade de pessoas como se observa em outras atividades
agrícolas desenvolvidas na região, como no cultivo do melão.

De acordo com os meliponicultores entrevistados, 59,09% deles tem uma renda familiar
de 200,00 a 500, 00 reais; enquanto que 31,82% correspondem a uma renda de mais de
1.000 reais, e apenas 9,09% tem uma renda de 500 a 1.000 reais. Como mostra o gráfico
04.

59,09%

31,82%
60,00%
% dos 40,00%
meliponicul-
tores 20,00% 9,09%

0,00%
Renda familiar (em reais)

De 200 a 500 R$ De 500 a 1000 R$ Acima de 1000R$


Gráfico 04 – Renda familiar dos meliponicultores.

De acordo com o IBGE (2002), metade dos trabalhadores brasileiros ganha até dois
mínimos - metade da população ocupada do Brasil tem rendimento (médio mensal de
todos os trabalhos) de ½ a 2 salários mínimos. No Nordeste eles são 60,0%, sendo que
16,2% da população ocupada ganham até ½ salário mínimo. Quanto ao rendimento
médio mensal familiar per capita, 34,1% dos que recebem até ½ salário mínimo são por
conta-própria e 31,2% são empregados sem carteira de trabalho assinada. A seguir estão
os com carteira de trabalho assinada (17,5%) e os trabalhadores domésticos (14%).
Quase não há militares e estatutários ou empregadores com tal rendimento.

Verificou-se que 13,64% dos meliponicultores entrevistados a principal renda familiar


provém da meliponicultura. Para outros 22,73% a maior parte da renda provém de
aposentadoria e pensão, 18,18% do extrativismo e da atividade agropecuária, 9,09%
provém do comércio, 9,09% de órgãos públicos, 27,27% é originária principalmente de
atividades diversas. Veja como demonstra o gráfico 05.
27,27%
22,73%
30,00% 18,18%
25,00%
% dos 20,00%
meliponicul- 15,00%
tores 9,09%
10,00% 13,64%
5,00%
0,00%
Origem da renda

Meliponicultura
Aposentadoria/pensão
Extrativismo/agropecuária
Comércio
Gráfico 05 – Principal origem da renda familiar dos meliponicultores.

Comparando a renda dos meliponicultores do município de Jandaíra com a renda média


dos apicultores do estado do Rio Grande do Norte observa-se quanto é importante a
atividade no município. VILELA & PEREIRA (2002), afirmam que a renda da família dos
apicultores do estado do Rio Grande do Norte é 33,7% originária principalmente da
agropecuária. Para outros 25,1%, a maior parte da renda provém de salário regular.
Somente para 9,6% a renda provém da apicultura. Os demais retiram seus rendimentos
em fontes diversas.

Do ponto de vista do nível de escolaridade, observou-se que 15% dos meliponicultores


são analfabetos, 60% têm o primeiro grau menor incompleto, 10% tem o primeiro grau
maior completo, outros 10% têm o segundo grau completo e 5% dos meliponicultores se
enquadram na categoria de nível superior incompleto. Ver demonstração no gráfico 06.

60%

60%
50%
% dos 40%
meliponicul- 30% 10% 10%
tores 5%
20% 15% 0%
0%
10%
0%
Níveis de escolaridade

Analfabetos Primeiro grau menor incompleto


Primeiro grau maior completo Segundo grau completo
Superior incompleto Outros

Gráfico 06 – Níveis de escolaridade dos meliponicultores de Jandaira-RN.


Dados semelhantes são encontrados na apicultura do estado, onde 16,6% são
analfabetos, 19,8% cursou até o segundo grau completo, 4,8% com curso superior
incompleto e 9,6% com curso superior completo (VILELA & PEREIRA, 2002).

Dos meliponicultores entrevistados, 40% afirmaram já terem participado ou recebido


algum tipo de treinamento, sendo que para 15% o treinamento foi apenas teórico e para
25% o treinamento foi teórico e prático. Para outros 60% dos meliponicultores não
participaram de nenhum tipo de treinamento, só aprendendo manejar com a prática e com
ajuda de outras pessoas experientes no assunto. Esses dados, até certo ponto não são
muito positivos, tendo em vista que a maioria dos meliponicultores informou não terem
recebido nenhum tipo de treinamento ou informação técnica sobre meliponicultura; e os
que tiveram, pode não ser suficiente, pois não se sabe o conteúdo dos treinamentos
oferecidos. Ver gráfico 07.

60%

100% 25%
15%
% dos
meliponicul- 50%
tores
0%
Tipo de treinamento
Não Sim, apenas teórico Sim, teórico e prático
Gráfico 07 – Experiência e Tipos de treinamentos recebidos pelos meliponicultores.

Comparando esses dados com os obtidos por VILELA & PEREIRA (2002), observa-se os
apicultores do Rio Grande do Norte possuem um nível de capacitação mais elevado que o
nível de capacitação dos meliponicultores. Este quadro deve-se ao fato de haver uma
maior quantidade de entidades ou órgãos especializados nesta atividade.

Verificou-se que 35% dos meliponicultores dispõem de 1 a 25 cortiços em seus


meliponários. Outros 25%, e número idêntico, 25%, dispõem respectivamente de 26 a 50
e 51 a 75 cortiços. Para outros 5%, dispõem de 76 a 100, e para 10% dos entrevistados a
quantidade de cortiços é acima de 100. Ver demonstração no gráfico 08.

35%
25%
40%

% dos 30% 10%


meliponicul- 20%
tores
10%
5%
0%
Cortiços por meliponário

1 a 25 cortiços
26 a 50 cortiços
51 a 75 cortiços
i
Gráfico 08 – Número de cortiços por meliponário.
Números correspondentes foi recomendado por KERR et al (1996), que diz o seguinte:
para que seu meliponário tenha sucesso e durabilidade é imprescindível que tenha flora
apícola e abrigue no mínimo 44 colônias de uma mesma espécie. Este número de
colônias é importante devido ao sistema de determinação de sexo e de acasalamento dos
meliponíneos. E segundo alguns meliponicultores entrevistados, disseram que o número
máximo de colônias por meliponário deve ser de 60, pois números superiores vêm a
diminuir a produtividade dos cortiços e até a perda de algumas colônias; isso, devido à
mata rala, ter poucas plantas em floração e conseqüentemente, a falta de alimentação
para as abelhas, isso devido o grande contingente de abelhas em uma só local.

Conforme os resultados obtidos em relação à localização do meliponário, pode-se


constatar que: 40,74% dos entrevistados responderam que as abelhas se encontram em
casa (no quintal) em área urbana. Outros 33,33% responderam que elas se localizam em
casa (no beiral) em área urbana. Para 18,52% elas se localizam na fazenda (no
meliponário); e somente 7,41% disseram estarem dispostos no beiral da sede da fazenda
ou armazéns. Veja exemplo no gráfico 09.

40,74%
33,33%
60,00%
18,52%
% dos 40,00% 7,41%
meliponicul-
20,00%
tores
0,00%
Localização

Em casa (no quintal), área urbana


Em casa (no beiral), área urbana
Na fazenda (no meliponário)
Na fazenda (no beiral da casa)

Gráfico 09 – Localização dos cortiços ou meliponário dos meliponicultores.

KERR et al (1996), Sugeri que as colméias fiquem em uma varanda ou galpão, sobre
prateleiras. As caixas podem ser instaladas em cavaletes individuais, galhos de árvores
ou dependuradas nas varandas das casas.

Material e Medidas dos Cortiços

Dentre as pessoas entrevistadas, 73,07% tem a umburana como madeira utilizada na


construção dos cortiços. Para 26,93% além da umburana, utilizam outros tipos de
madeira, tais como: pinho (com 19,23%), cajueiro (com 3,85%) e pinho com folha de
alcatex na base do cortiço (3,85%). Apesar de utilizarem o pinho na confecção de cortiço,
eles afirmaram que não é uma madeira boa, pois é de fácil dilatação e contração. Como
demonstra no gráfico 10.
73,07%

26,93%
100,00%
% dos
meliponicul- 50,00%
tores
0,00%
Madeira utilizada

Umburana Umburana, Pinho, Cajueiro e folha de alcatex


Gráfico 10 – Tipos de madeira utilizada pelos meliponicultores de Jandaira-RN, na confecção dos cortiços.

As madeiras mais utilizadas, no estado de São Paulo, para fabricação de cortiços para a
jandaíra, segundo NOGUEIRA-NETO (1970), a qualidade da madeira também deve ser
ponderada. ... em São Paulo vendem-se cedro (Cedrela fissilis Vell.) e pinho brasileiro
(Araucária angustifólia (Bert.) O. Ktze.) próprios para trabalhos de carpintaria. Em Angola,
PORTUGAL ARAUJO (1957-B: 516), afirmou que as melhores madeiras para fabricação
de colméias são os mognos, a Silveira (Diospyros mespiliformis Hochst), a tacula, etc.

Com relação às medidas das caixas ou cortiços observou-se que 60% dos cortiços tinham
como medida 10cm x 11cm x 80cm de largura, altura e comprimento, respectivamente,
25% utilizavam 10 cm x 12 cm x 90 cm, 10% utilizavam 10 cm x 15 cm x 80 cm e 5%, 15
cm x 15 cm x 80 cm. Veja exemplo no gráfico 11.

60%

60% 25%
10%
% dos 40% 5%
meliponic
ul-tores 20%
0%
Medidas dos cortiços
10cm x 11cm x 80cm
10cm x 12cm x 90cm
10cm x 15cm x 80cm
Gráfico 11 – Medidas mais utilizadas pelos meliponicultores nos cortiços.

Conforme NOGUEIRA-NETO (1970), o tamanho do cortiço para jandaira, as medidas


internas do caixote: 38 cm de comprimento, 17 cm de largura, 24 cm de altura, com
capacidade total de 15.504 cm³. Já Para KERR et al (1996), o tipo de colméia precisa ser
analisado com cuidado para cada espécie a ser criada, pois entre os meliponíneos há
uma grande variabilidade de tamanho, comportamento e adaptabilidade ao ambiente. O
volume da colméia é o fator mais relevante. Procuramos sempre medidas equivalentes ao
dobro do volume ocupado, em média, pela espécie na natureza, não esquecendo que
algumas têm desenvolvimento diferenciado em regiões distintas. Por exemplo, a
mandaçaia (M. quadrifasciata Lepeleitier) no interior de São Paulo e de Minas Gerais
ocupa um volume de 10 litros e no litoral e Espírito Santo pode chegar a 25 litros. Para
jandaira (M.subnitida D.) uma colméia com 15 litros é ideal e para a jataí (Tetragonisca
angustula Latreille) podemos usar uma colméia de 8 litros.

De acordo com os dados obtidos, através dos coletores, 100% disseram que o tamanho
do ninho varia de 25 a 30 cm. Enquanto que o tamanho do local onde fica o mel
(melgueira), 100% responderam que varia de 50 a 70 cm.

Produtividade dos Cortiços

De acordo com dados obtidos durante a pesquisa, pode-se verificar que 26,32% dos
meliponicultores afirmam terem coletado de 1,1 à 2 litros como produtividade máxima num
cortiço durante todo o ano. Outros 42,10% disseram terem extraído de 2,1 à 3 litros. Para
10,53% obtiveram de 3,1 à 4 litros. E somente 21,05% conseguiram tirar acima de 4 litros,
os quais alegam ter sido num ano muito bom inverno ou período chuvoso e ter ocorrido
uma boa florada. Ver exemplo no gráfico 12.

42,10%

50,00%
21,05%
40,00%
% dos 26,32%
meliponicul- 30,00%
tores 20,00%
10,00%
10,53%
0,00%
Produtividade (Litro/cortiço)

1,1 a 2 litros 2,1 a 3,0 litros


3,1 a 4,0 litros Acima de 4,0 litros

Gráfico 12 – produtividade dos cortiços anualmente.

De acordo com BRUENING (1990), citado por NOGUEIRA-NETO (1970), esta abelha
produz de um a dois litros por colônia, anualmente, vendidos a um preço de três a seis
vezes superior ao da A. melífera Linnaeus.

Distribuição da Abelha Jandaira no Município

Mediante os dados obtidos acerca da localização (posição geográfica) da abelha Jandira


no município, pode-se verificar que: segundo relatos dos meliponicultores e coletores elas
se encontram em todo o município, mas onde ela mais se encontra é ao sudoeste,
tomando como base à sede do município, pelo fato de nesta região encontrar-se muita
umburana, outras plantas nectaríferas e poliníferas, e com altitude mais elevada.

De acordo com NOGUEIRA-NETO (1970), como acontece com todos os animais, as


colônias de abelhas indígenas sem ferrão são mais comuns em alguns lugares que em
outros. Isso, naturalmente, depende de diversos fatores, entre os quais a flora
meliponícola é um dos mais importantes.

5 - CONCLUSÕES

- As abelhas encontradas com maior freqüência e as mais lucrativas no município de


Jandaira-RN são: Jandaíra e a Rajada.

- A florada é um dos fatores limitantes para que se tenha uma boa produção, tanto
em qualidade, como em quantidade de mel. Tomando por base as informações
obtidas pelos meliponicultores, foram listadas 47 espécies vegetais visitadas por
meliponíneos.

- As meliponeas representam uma boa fonte de renda para os meliponicultores e


coletores dessas abelhas no município de Jandaira-RN. Tendo uma ocupação na
atividade de uma pessoa em 50% dos casos, embora sem indicado de duas a três
pessoas.

- Tomando com base o nível de capacitação dos meliponicultores do município,


verificou-se que apenas 15% deles são analfabetos, no entanto, observa-se que o
restante tem plena capacidade de receber algum treinamento técnico na área.
Tendo em vista que apenas 40% dos meliponicultores já receberam algum tipo de
treinamento.

- A maioria dos meliponicultores, ou seja, 65% deles dispõe acima de 25 cortiços por
meliponário. Tendo 73,33% deles criando jandaira em casa (área urbana) no
quintal ou no beiral da casa.

- Para confecção dos cortiços, 73,07% dos meliponicultores utilizam a umburana


como madeira principal. Tendo 60% dos cortiços com a medida 10cm x 11cm x
80cm. Com isso, não existindo uma total padronização das caixas de meliponeas
no município.

- A produtividade máxima anualmente segundo 73,68% dos meliponicultores,


disseram terem coletado acima de 2 litros de mel.

- A maioria dos criadores de abelha meliponeas do município, não as tem como


atividade principal.

- A abelha jandaira está distribuída em toda a área do município, mas ela se


apresenta em maior quantidade numa área ao sudoeste da sede do município,
devido à mata apresentar uma grande quantidade de umburana entre outras
plantas visitadas por elas.

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[1] Eng. Agrônomo – Escola Superior de Agricultura de Mossoró – ESAM


[2, 4] Graduandos do Curso de Agronomia - Escola Superior de Agricultura de Mossoró – ESAM –
adalbertohipolito@bol.com.br
[3] Mestrando em Fitotecnia – Escola Superior de Agricultura de Mossoró – ESAM - welber@esam.br
[5]Graduando em Agronomia – Universidade Federal do Ceará - UFC
[6] Doutorando em Ciências Biológicas – Universidade Federal de Pernambuco –UFPE -
cezarioja@bol.com.br
[7] Prof. Dr. Dep. De Fitossanidade - Escola Superior de Agricultura de Mossoró – ESAM - patricio@esam.br

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