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Resumo
Introdução
A etnobotânica pode ser definida como a ciência que estuda as interações das
populações humanas com o mundo vegetal (Amorozo, 1996) além de investigar a
dinâmica natural dessas interações. Toda sociedade humana acumula um acervo de
informações sobre o ambiente que a cerca, que vai lhe possibilitar interagir com ele para
prover suas necessidades de sobrevivência. No entanto a desagregação dos sistemas de
vida tradicionais que acompanha a devastação do ambiente e a intrusão de novos
1
Graduando do curso de Ciências Biológicas - Universidade Federal de Mato Grosso, Campus
Universitário do Araguaia;
elementos culturais, ameaçam diretamente um acervo de conhecimentos empíricos e um
patrimônio genético de valor inestimável para as futuras gerações (Amorozo & Gély,
1988).
Estudos fitoterápicos baseados no conhecimento tradicional têm merecido cada
vez maior atenção devido a gama de informações e esclarecimentos que fornecem à
ciência contemporânea. A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de 80% da
população mundial depende de plantas para o cuidado com a saúde, relatam ainda, que
85% da medicina tradicional envolvem o uso de plantas medicinais, seus extratos
vegetais e seus princípios ativos (IUCN 1993). Estima-se que o mercado atual de
medicina tradicional movimenta 60 milhões de dólares nos EUA. Há portanto um
número crescente de pessoas interessadas no conhecimento de plantas medicinais,
inclusive pela consciência dos males causados pelo excesso de quimioterápicos
causados no combate as doenças. Remédios à base de herbáceos que se destinam a
doenças pouco entendidas pela medicina moderna – tais como: câncer, viroses, doenças
que comprometam o sistema imunológico, entre outras – tornaram-se atrativos para o
consumidor (Sheldon et al., 1997). Um outro fator de destaque na crescente procura da
fitoterapia, é a vigente carência de recursos dos órgãos públicos de saúde e os
incessantes aumentos de preços dos medicamentos industrializados (Parente & Rosa
2001).
As feiras livres são um manancial, praticamente inexplorado, de investigações
etnobotânicas que podem fornecer informações da maior importância para o
conhecimento da diversidade, manejo e universo cultural de populações marginalizadas
(Maioli-Azevedo & Fonseca-Kruel, 2007). Ao se estudar a medicina popular, deve-se
enfatizar a necessidade de se estudar simultaneamente a pessoa que possui os
conhecimentos, bem como o ambiente em que essas práticas são espontaneamente
aceitas (Savastano & Di Stasi, 1996). A mesclagem destes conhecimentos acaba sendo
um fator enriquecedor da formação da identidade local. Portanto, é possível dar um
indicativo de que a diversidade dos produtos tem sua explicação nas diferentes culturas
que transitam na região.
Portanto o presente estudo teve como objetivos, identificar as plantas
medicinais vendidas em feiras livres e casas de produtos naturais do Município de Barra
do Garças, MT; verificar as suas respectivas indicações terapêuticas, confirmar a
existência ou não de artigos científicos que comprovem toxidade e analisar a
importância relativa destas espécies vendidas, valorizando o conhecimento empírico
agregado aos erveiros.
Materiais e Métodos
Resultados e Discussão
Tabela 1 Espécies úteis indicadas pelos erveiros das feiras livres e casas de produtos naturais do Município de Barra do Garças, MT,
ordenadas por ordem alfabética de famílias botânicas (Comércio: 1 – Feira de Barra do Garças, 2 – Barraca ao lado da Caixa Economica,
3 – Pró Saúde, 4 – Cerrado Casa de Produtos Naturais; Parte da planta utilizada: Fo - folha, Fl - flor, Fr - fruto, Se - semente, Ca –
caule/casca, Ra - raiz, Pt - planta toda; Hábito: arb – arbóreo, arbs – arbustivo, sub – subarbustivo e herb – herbáceo; Formas de uso: In –
infusão, De – decocção, Ch – Chá, Ga – garrafada, Ma – maceração, Ms – mastigação, Ol – óleo, Co - compressa; *espécie nativa).
Fabaceae Hymenaea stigonocarpa Jatobá-do- 1, 4 Fo, Ca, Se In, De, Expectorante, Arb
Mart. ex Hayne* cerrado Ch vermífugo
Lythraceae Lafoensia pacari A.St.-Hil.* Didal 1, 2, 3 Ca, Ra De, Ma Ulceras, gastrites Arb
Do total das espécies identificadas, apenas 66% são nativas e 34% são exóticas,
espontâneas ou cultivadas. Em nosso levantamento, observamos várias espécies da flora
local, sendo que os de maior destaque foram: Pterodon emarginatus Vogel, Miconia
albicans (Sw.) Triana, Heteropterys aphrodisiaca Machado., Lafoensia pacari A.St.-
Hil., Quassia amara L. e o Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne. Todas são espécies
características do Cerrado que envolve Barra do Garças e região. Estas espécies vem
recebendo muita atenção não só em nível local, como também em outras regiões
tropicais devido a bioatividade e ao alto valor terapêutico que as envolve (Berger et al.,
1998; Velozo et al., 1999).
De forma geral, a maioria das plantas medicinais comercializadas em Barra do
Garlas são usados no tratamento de inflamações ou infecções diversas (54%), cólicas
diversas (23%) dores nas articulações (9%), diabetes (8%) e intoxicações (6%). De
acordo com os comerciantes, os clientes do sexo feminino procuram produtos ligados à
cura de inflamações uterinas, vaginais ou ovarianas enquanto os clientes do sexo
masculino procuram com mais frequência os produtos indicados para tratamento de
cálculos renais ou biliares. Para o usuário de pouca idade (crianças), os produtos mais
procurados são para o tratamento de problemas no aparelho respiratório.
Ao comparar as espécies obtidas a partir deste levantamento, com a Lista de
Espécies Ameaçadas do IBAMA (2008), observou-se que não há espécies em perigo ou
ameaçadas de extinção. Isso indica que todas as espécies listadas ainda estão em um
bom “status” de conservação.
Segundo Matos (1989) dentre os principais riscos no uso de plantas medicinais
estão: o uso descuidado de plantas tóxicas, a utilização de plantas que contenham
substâncias tóxicas de ação retardada, o uso de plantas mofadas por terem sido mal
preparadas e mantidas em recipientes e locais impróprios e o uso de plantas indicadas
ou adquiridas erradamente. Nestes casos tanto a conservação e preparo do material,
quanto a certeza de que realmente é a espécie correta, só podem ser garantidas com base
no conhecimento do raizeiro que pode ser um simples vendedor ou um especialista no
assunto, cuja formação representa a cultura tradicional passada de geração a geração.
Inúmeras plantas utilizadas na medicina popular apresentam substâncias consideradas
tóxicas, portanto estas plantas precisam ser manuseadas e utilizadas com o máximo
cuidado. Na área estudada foram listadas como medicinais várias espécies consideradas
tóxicas:
- Estudos realizados com a espécie Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers. relataram
um quadro de intoxicação caracterizado por depressão, incoordenação motora,
opistótono, tremores e convulsões (MCKENZIE et al., 1987). Williams & Smith (1984)
observaram um quadro semelhante a este em galinhas.
- Para a espécie Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville, Almeida et al.
(2017) observaram degeneração hepática no grupo de animais que receberam 800mg/kg
tanto no estudo da toxicidade aguda quanto crônica, que pode indicar algum grau de
toxicidade de S. adstringens nessa concentração. Considerando o amplo uso de S.
adstringens como fitoterápico para humanos e animais, atenção deve ser dispensada
para ingestão em altas doses mediante os efeitos tóxicos observados neste estudo.
- Pereira et al. (2017) realizaram testes de citotoxicidade com a espécie
Lafoensia pacari A.St.-Hil., e mostraram que os extratos da folha e do caule diminuem
o índice mitótico das células sendo considerados citotóxicos nas três concentrações
testadas. Em relação à genotoxicidade, os testes mostraram que não houve aumento na
frequência de aberrações cromossômicas. Contudo, houve um aumento de células
binucleadas. Dessa forma, apesar das propriedades medicinais da planta L. pacari a
concentração usada na medicina popular pode causar danos à saúde.
- O potencial toxicológico utilizando o cálice do Hibiscus sabdariffa L,
conduzidos com ratos, ficou evidenciado que quando utilizado em doses elevadas
podem ser tóxicos, além de causar problemas ao sistema reprodutor masculino,
reduzindo a sua fertilidade, e problemas no fígado dos animais (ANJOS et al., 2017).
- Segundo estudos feitos por Nascimento (2011), foi constatado que a espécie
Miconia albicans (Sw.) Triana possui grande capacidade de absorver o alumínio
presente no solo do Cerrado, onde geralmente é encontrada na natureza. Portanto, acaba
por ser uma planta tóxica visto que o alumínio é um metal pesado e nosso corpo não o
absorve corretamente.
Conclusões
Referências Bibliográficas
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