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PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS PELA COMUNIDADE DE PONTA PORÃ-MS

Zefa Valdivina Pereira1, Rosilda Mara Mussury1, Aparecida Barbosa de Almeida1, Adriana
M. Mestriner Felipe de Melo2 (1Universidade Federal da Grande Dourados, UFGD, Rod.
Dourados - Itahum, Km 12, Dourados, MS. e-mail:zefap@ufgd.edu.br;
2
mara.mussury@ufgd.edu.br; Centro Universitário da Grande Dourados,UNIGRAN, Rua
Balbina de Matos, 2121, 79824.090, Jardim Universitário, Dourados, MS. e-mail:
mestriner@unigran.br )

Termos para indexação: etnofarmacologia, cultivo, uso popular, etnobotânica

Introdução
O uso de plantas medicinais é prática constante pela população. Entretanto, na região
Centro-oeste ainda são escassos os registros populares de muitas espécies medicinais. No
Mato Grosso do Sul, os estudos realizados por Schardong e Cervi (2000) descreveram os
conhecimentos etnobotânicos das plantas comercializadas na comunidade São Benedito, em
Campo Grande (MS). Já Bueno et al. (2005) verificaram o uso das plantas mais utilizadas pela
comunidade indígena de Caarapó (MS).
Outra forma, bastante usual, de uso de plantas medicinais são aquelas comercializadas
por vendedores ambulantes. Conforme relato realizado por Nunes et al. (2003) na cidade de
Campo Grande (MS) inúmeras espécies são consumidas especialmente na forma de chás, no
entanto, a qualidade do produto comercializado ainda é tema para muitas discussões.
O objetivo do presente trabalho foi realizar inquérito sobre o conhecimento e a
utilização das plantas medicinais pela comunidade residente no Bairro Jardim Aeroporto em
Ponta Porã, MS, registrando dados relacionados ao preparo, uso e suas finalidades
terapêuticas, bem como as famílias e espécies vegetais utilizadas.

Material e Métodos
A cidade de Ponta Porã, está localizada a Oeste do Estado de Mato Grosso do Sul, na
região Centro-Oeste do país e faz divisa com a cidade de Pedro Juan Caballero (PY).
O local escolhido para a pesquisa foi o Bairro Jardim Aeroporto, localizado na região
sul da cidade, abrangendo aproximadamente 55% dos moradores e também por se tratar de
uma região beneficiada pela área florestal do quartel militar 11 RC MEC, sendo um dos
motivos impulsores para o cultivo das plantas medicinais. O Bairro Jardim Aeroporto
apresenta habitações simples de casas de madeira e alvenaria, sendo a pesquisa efetuada nas
regiões ribeirinhas. As residências visitadas foram escolhidas de forma aleatória, conforme a
disponibilidade dos entrevistados sendo realizada no período de julho a outubro de 2006. As
plantas foram citadas pelas mulheres que utilizavam e cultivavam os espécimes vegetais em
suas residências, seguindo o método de “listagem livre” (Baruffi, 2004). Em cada entrevista
foram solicitadas informações pessoais do participante da pesquisa, bem como os aspectos de
interesse de plantas conforme roteiro contido no formulário de entrevista, previamente
validado (Quadro 1).
O material vegetal relatado durante a entrevista foi coletado, seguindo técnicas usuais,
e identificado mediante literatura especializada, consulta a especialistas e comparação com o
acervo do Herbário da Cidade Universitária de Dourados (DDMS).

Quadro 1: Formulário de entrevista aplicado à comunidade do Bairro Jardim Aeroporto, na


cidade de Ponta Porã, MS, em 2006.

Data: ____/____/_____
Nome do Entrevistado: Sexo: ( ) masc. ( ) fem
Endereço:
Escolaridade: Faixa etária:
Fonte de Renda: Total da Renda da Família:
Utiliza plantas medicinais: ( ) sim ( ) não
Plantas Nome Uso Modo de Parte Como
medicinais popular Medicinal preparo utilizada Obtém
que utiliza

Para informações sobre seus nomes populares e o potencial terapêutico das espécies
listadas foram utilizadas diversas fontes, dentre elas: Camargos et al. (2001); Lorenzi e Matos
(2002); Farias et al. (2002); Durigan et al. (2004). A apresentação das espécies, considerou-se
a classificação de Cronquist (1981), com exceção das famílias Caesalpiniaceae, Fabaceae e
Mimosaceae, que foram tratadas como subfamílias de Leguminosae. As atualizações
taxonômicas foram realizadas mediante consulta ao índice de espécies do Royal Botanic
Gardens - KEW (1993) e a grafia dos autores seguiu a padronização recomentada por Brumitt
e Powell (1992).

Resultados e Discussão
Foram entrevistadas 300 mulheres e com relação à faixa etária verificou-se que a
grande maioria, cerca de 60%, possuía entre 30 a 40 anos, 22% estavam na faixa de 20 a 30
anos, 10% com menos de 20 anos e 8% de 40 a 50 anos. Segundo Lima (2000) pessoas a
partir de 30 anos estão mais dispostas a conversar e fornecer informações sobre plantas
medicinais, enquanto as mais jovens preferem medicações industrializadas e mostram-se
incrédulas no “poder de cura das plantas medicinais”.
No que diz respeito ao grau de escolaridade, percebeu-se que grande parte das
mulheres entrevistadas (90%) havia concluído apenas o Ensino Fundamental. Dados como
esses reforçam que a utilização de plantas medicinais atinge menor parcela de usuários com
maior nível de escolaridade.
As plantas utilizadas pelas mulheres do Jardim Aeroporto são cultivadas em áreas
próximas das residências e compõem cerca de 30 espécies, 28 gêneros e 17 famílias. Dentre
as famílias que apresentaram maior número de espécies citadas pode-se citar Lamiaceae (7),
Asteraceae (4), Leguminosae (4) e Rutaceae (2). Essas mesmas famílias, com exceção de
Leguminosae, foram citadas por Medeiros et al. (2004) como as que apresentaram maior
número de espécies medicinais utilizadas pelos sitiantes da Reserva Rio das Pedras,
Mangaratiba-RJ. As famílias Lamiaceae e Asteraceae ocupam as primeiras posições nos
levantamentos realizados na região Sul do Brasil (Marodin, 2002), enquanto a primeira
também foi citada como uma das mais representativas para a área urbana de Bandeirantes, no
interior do Paraná (Fuck et al., 2005). Segundo Morales et al. (1996), as plantas que compõem
a família Lamiaceae são plantas ricas em óleos essenciais, muito utilizadas em indústrias para
produção de fármacos, perfumes e cosméticos (Morales et al., 1996).
Em outros levantamentos, a maior utilização medicinal está concentrada às espécies de
Asteraceae e/ou Fabaceae. Alves et al. (2007), em trabalho realizado com raizeiros de
Campina Grande-PB, observaram que as espécies mais utilizadas para fins medicinais
pertenciam a 17 famílias botânicas, sendo a família Fabaceae a mais representativa, seguida
por Anacardiaceae e Euphorbiaceae. Enquanto Costa (2002) registrou 55 famílias botânicas
utilizadas por curandeiros em Iporanga-SP, dentre elas Asteraceae, Lamiaceae, Myrtaceae e
Solanaceae.

As plantas mais utilizadas no local pesquisado foram a carqueja, a hortelã e a babosa. A


parte vegetal mais utilizada na preparação popular de plantas medicinais foi a folha, seguida
por raiz, pétalas e planta inteira. Resultados semelhantes também foram observados nos
trabalhos de Kubo (1997), Dias (1999), Grams (1999), Souza (2000), Lima (2000) e Fuck et
al. (2005). Corroborando com os dados apresentados, Costa (2002), Faria (1998) e Oliveira et
al. (2005), verificaram também, predominância no uso de folha para fins medicinais, na
população de Iporanga, SP, Juscimeira e Rondonópolis, MT e no Norte Fluminense, RJ
respectivamente, principalmente para o preparo de “chás” e “xaropes”. Segundo Castellani
(1999) as partes tenras das plantas, como folhas, botões e flores, são as mais ricas em
componentes voláteis, aromas delicados e princípios ativos que se degradam pela ação
combinada da água e do calor prolongado.
Outro dado interessante é o uso “in natura” no tereré, bebida típica da região, como
forma de prevenção de doenças. A forma de preparo parece ser semelhante aos resultados
encontrados por Castellani (1999) e Fuck et al. (2005), predominando, na maioria das vezes, o
preparo na forma de “chá” por infusões, seguidos por maceração e emplastro.
Com relação às indicações terapêuticas, há casos em que essas se referem aos
diferentes usos como: sintoma de determinada doença (dor de cabeça, dor de barriga, febre,
cólica e infecção) e não a doença propriamente dita; em outros, a própria doença é alvo da
indicação (gripe e pressão alta). Algumas indicações dizem respeito aos efeitos esperados com
a utilização do remédio, como no caso das menções para depurativo, calmante e vermífugo.
Existem ainda, aquelas nas quais os órgãos que se pretende atingir com o tratamento
(garganta, rins, intestino, estômago, olhos, entre outros) são lembrados. Este elenco de itens
revela, por conseqüência, não haver discriminação entre sintomas e doenças pelos
entrevistados, concordando com os resultados descritos nas pesquisas de Kubo (1997), Grams
(1999) e Lima (2000).

Conclusões
Os medicamentos à base de plantas medicinais podem ser considerados como recursos
auxiliares na recuperação do estado geral de “saúde”. Entretanto, os profissionais da área da
saúde devem alertar a população para seu uso correto e racional. Isso porque essas
preparações obtidas de plantas medicinais podem intervir (inativando ou potencializando) na
ação farmacológica de fármacos quando utilizados concomitantemente. Desta forma, os
profissionais, especialmente, aqueles em contato direto com a população, precisam esclarecer
a população quanto ao emprego seguro e correto das plantas medicinais.

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