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Termos para indexação: Bioma Cerrado; cerrado sentido restrito; fitossociologia; mata
Introdução
O bioma cerrado, originalmente, representava aproximadamente dois milhões de
quilômetros quadrados, ocupando cerca de 23% do território nacional, estando a maior parte
concentrada na região Centro-Oeste e abrangendo parte das regiões Nordeste, Norte e Sudeste
(Alho e Martins, 1995). De acordo com Coutinho (1978), o cerrado apresenta fisionomias que
vão desde o campo limpo, em que predomina o componente herbáceo, até o cerradão, em que
o componente arbóreo é predominante. O cerradão apresenta dossel predominantemente
contínuo e cobertura arbórea que pode oscilar de 50 a 90%, com altura média do estrato
arbóreo entre 8 e 15 m (Ribeiro e Walter, 1998). A flora do cerradão consiste de uma
composição de espécies comuns do cerrado sentido restrito, de espécies de mata de galeria e
de espécies de floresta estacional semidecidual (Felfili, 2001).
Trabalhos florísticos e fitossociológicos, geralmente realizados em remanescentes de
vegetação natural, seja em formações florestais ou savânicas, vêm contribuindo para o
aumento de informações sobre o cerrado brasileiro e abrindo campos para novas pesquisas
com diversos enfoques (Siqueira et al., 2006). Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi a
análise fitossociológica de uma área de cerradão na Estação Ecológica do Panga, localizada
no município de Uberlândia, MG. Procurou-se avaliar o status original da vegetação,
contribuindo, assim, para seu conhecimento e para a formação de um banco de informações
que permitirá avaliar a dinâmica da comunidade.
Material e Métodos
O estudo foi realizado em uma área de cerradão na Estação Ecológica do Panga – EEP,
localizada a 30 km ao sul da sede do município de Uberlândia, MG (19º 09’ 20’’ a 19º 11’
10’’S e 48º 23’ 20’’ a 48º 24’ 35’’ W).
Para o levantamento da vegetação foram alocadas sistematicamente 40 parcelas de 10 ×
10 m (0,4 ha) distribuídas em oito transectos paralelos entre si, com comprimento variável de
acordo com os limites do cerradão com a floresta estacional semidecidual e o cerrado sentido
restrito. Em 1997, foram amostrados todos os indivíduos arbóreos e arbustivos com
circunferência à altura do peito (CAP) maior ou igual a 15 cm, cerca de 4,8 cm de diâmetro à
altura do peito (DAP). Material testemunho de todas as espécies foram coletados e
depositados no herbário HUFU, da Universidade Federal de Uberlândia. A classificação das
famílias foi feita de acordo com o Angiosperm Phylogeny Group II (APG II) (Souza e
Lorenzi, 2005).
Os parâmetros fitossociológicos e os índices de diversidade de Shannon (H') e
equabilidade (J') foram calculados usando o programa FITOPAC (Shepherd, 1995). As
espécies foram classificadas quanto ao hábito (arbustivo ou arbóreo) e habitat de ocorrência
(cerrado e/ou mata) de acordo com Mendonça et al. (1998).
Resultados e Discussão
Foram amostrados 927 indivíduos pertencentes a 97 espécies e 75 gêneros, distribuídos
em 41 famílias. Fabaceae, com 15 espécies, foi a família de maior riqueza, seguida de
Vochysiaceae, Rubiaceae e Myrtaceae, com cinco espécies cada. Essas famílias são citadas
entre as mais importantes em número de espécies em cerradões do Estado de Minas Gerais
(Costa e Araújo, 2001; Siqueira et al., 2006).
A análise da estrutura fitossociológica mostrou que a densidade absoluta foi de 2317
indivíduos.ha-1 e a área basal de 22,54 m2.ha-1, sendo estes valores maiores do que os
verificados em outras áreas de cerradão (Tabela 1). O índice de Shannon (H’) mostrou que a
diversidade em espécies foi de 3,81 nats.ind-1, dentro dos valores encontrados em outras áreas
de cerradão (Tabela 1). O valor de equabilidade para a área de cerradão (J = 0,83) indica que
há uma distribuição menos desigual de indivíduos por espécie.
Tabela 1. Estudos fitossociológicos em diferentes localidades e seus respectivos parâmetros
calculados para o cerradão. ÁREA = área amostral (ha), NI = número de indivíduos.ha-1,
N.sp. = número de espécies, H’ = índice de diversidade de Shannon, J = índice de
equabilidade de Pielou, G = área basal (m2.ha-1).
Nesse levantamento foi verificado elevado número de gêneros, sendo o mais rico Qualea,
com quatro espécies, seguido de Aspidosperma, Myrcia, Ocotea e Terminalia com três
espécies cada. As espécies mais importantes foram Qualea grandiflora, Vochysia tucanorum,
Matayba guianensis, Tapirira guianensis, Machaerium acutifolium, Luehea grandiflora e
Styrax camporum (Tabela 2). Elas totalizaram 36,72% do IVI, 36,58% da densidade relativa e
44,97% da dominância relativa.
C/ M
5% Cerrado
C/ M
Mata 29%
35%
32% Cerrado
63%
Mata
36%
Figura 1. Habitat de ocorrência das espécies arbustivas (a) e arbóreas (b) da comunidade de
cerradão na Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG. C/M = cerrado e mata.
Conclusões
Os resultados observados para a comunidade arbóreo-arbustiva de cerradão na Reserva do
Panga estão dentro dos valores encontrados em outras áreas de cerradão estudadas. A maioria
das espécies apresentou o hábito arbóreo, ocorrendo um predomínio de espécies que são
encontradas tanto em mata quanto cerrado sentido restrito. Entre as espécies arbustivas houve
maior proporção de espécies de cerrado sentido restrito.
Referências Bibliográficas
ALHO, C.J.R; MARTINS, E. De grão em grão, o Cerrado perde espaço. Cerrado –
Impacto do processo de ocupação. Brasília: WWF, 1995. 67p.
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FELFILI, J.M. Principais fisionomias do Espigão Mestre do São Francisco. In: FELFILI,
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RIBEIRO, J.F.; WALTER, B.M.T. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In: SANO, S.M;
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SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botânica Sistemática. Ed. Plantarum, Nova Odessa, São
Paulo, 2005.