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175 - novembro - 2012

Departamento de Publicações
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Disponível no site, em Publicações

Capuchinha (Tropaeolum majus L.)1

Marinalva Woods Pedrosa2


Maira Christina Marques da Fonseca3
Luana Sabrine Silva4
Thávilla Trindade Silvério5

INTRODUÇÃO de diversidade primária a região que vai da Pata-


gônia Argentina ao Sul do México, passando pelo
A procura e o interesse do consumidor por Brasil, Peru e Colômbia (COMBA et al., 1999; JOLY,
novidades na área de alimentos estão aumen- 1991; PINTÃO; PAIS; COLY, 1995). A espécie per-
tando a cada dia, o que, consequentemente, in- tence à família Tropaeoleceae, sendo conhecida
fluencia o mercado das hortaliças destinadas ao popularmente como: capuchinha, chaguinha, cha-
consumo in natura (JUNQUEIRA; LUENGO, 2000). gas, papagaios, flor-de-sangue, agrião-do-México,
Tal tendência deve-se ao fato de a população va- flor-de-chagas, espora-de-galo, agrião-grande-
lorizar alimentos que promovam uma melhor qua- do-Peru (CORRÊA, 1984; FONT QUER, 1993;
lidade de vida, proporcionando, assim, benefícios DEMATTI; COAN,1999).
à saúde. Dentre esses alimentos de grande po- É uma planta herbácea de caule retorcido,
tencial nutricional, destacam-se as hortaliças não longo e carnoso. As folhas são arredondadas, de
convencionais. coloração verde-azulada, presas pelo centro das
Tais hortaliças estão presentes em determina- partes inferiores dos talos (pecíolos). As flores são
das localidades ou regiões e, em algum momento, vistosas, afuniladas, isoladas ao longo do pedún-
foram largamente consumidas, mas pela mudança culo, apresentam várias colorações, que variam do
nos hábitos alimentares, foram esquecidas e perde- amarelo-claro até o vermelho-escuro (Fig. 1). Pode
ram seu espaço no mercado para outras hortaliças apresentar, ainda, flores variegadas, por exemplo,
(PEDROSA, 2011). de amarelo e de vermelho. Também observam-se
A capuchinha (Tropaeolum majus L.) é uma diferenças entre variedades nas folhas, na colora-
hortaliça não convencional que tem como centros ção e no tamanho.

1
Circular Técnica produzida pela EPAMIG Centro-Oeste. Tel.: (31) 3773-1980. Correio eletrônico: ctco@epamig.br
2
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste / Bolsista FAPEMIG, CEP 35715-000 Prudente de Morais-MG. Correio
eletrônico: marinalva@epamig.br
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG Zona da Mata / Bolsista FAPEMIG, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
maira@epamig.br
4
Graduanda Engenharia de Alimentos UFSJ, Bolsista FAPEMIG/EPAMIG Centro-Oeste, CEP 35715-000 Prudente de
Morais-MG. Correio eletrônico: luanasje07@yahoo.com.br
5
Enga Agra, Bolsista CNPq/EPAMIG Centro-Oeste, CEP 35715-000 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico:
thavillasilverio@gmail.com
Capuchinha (Tropaeolum majus L.) 2

Fotos: Marinalva Woods Pedrosa


Figura 1 - Diversidade de coloração de flores e folhas da capuchinha

PROPAGAÇÃO E CULTIVO termediária do caule (Fig. 2).

A propagação pode ser feita via sementes, A colheita das folhas e flores da capuchinha é
divisão de touceira ou estaquia. Neste último mé- realizada 50 dias após o plantio, podendo ser esten-
todo propagativo, recomenda-se utilizar a parte in- dida até os 100 dias (BRASIL, 2010).

A
Fotos: Marinalva Woods Pedrosa

B C
Figura 2 - Propagação da capuchinha
NOTA: A - Propagação por estacas; B - Por sementes; C - Mudas de capuchinha prontas.

EPAMIG. Circular Técnica, n.175, nov. 2012


Capuchinha (Tropaeolum majus L.) 3

A espécie é de fácil cultivo, alastra-se com faci- Na medicina popular


lidade, adapta-se a todos os tipos de clima e floresce
Dentre as indicações medicinais, a capu-
durante quase todo o ano (Fig. 3). chinha é citada como antiespasmódica, antiescor-
Desenvolve-se melhor, quando o plantio é feito bútica, antisséptica, estimulante do bulbo capilar,
em épocas quentes do ano e em solos ricos em ma- expectorante, desinfectante das vias urinárias, di-
téria orgânica. A capuchinha apresenta crescimento gestiva e dermatológica; algumas espécies do gê-
rápido, multiplica-se espontaneamente e tem hábito nero também são usadas como anticoncepcionais
trepador (CORRÊA, 1984). (JOHNS et al., 1982; FONT QUER, 1993, LORENZI;
É recomendada como planta companheira MATOS, 2002). As folhas apresentam grande
para o cultivo com outras espécies, pela sua ca- quantidade de vitamina C, aliviam os sintomas de
racterística de atrair lepidópteros, repelir pulgões resfriados (DEMATTI; COAN, 1999), e os frutos,
e besouros e melhorar o crescimento de outras maduros e secos, constituem um bom purgativo
plantas como rabanete, repolho, tomate e pepino (CORRÊA, 1984).
(BRASIL, 2010). Diversos compostos de importante aplica-
ção terapêutica já foram isolados da capuchinha,
entre estes, óleo essencial, mirosina (enzima),
açúcares (glicose e frutose), pigmentos, resi-
nas, pectinas, vitamina C, sais minerais e algu-
mas substâncias antibióticas (CORRÊA, 1984;
GOODWIN; MERCER, 1983). Zanetti (2001)
verificou a presença de grupos químicos, tais
como cardioativos, antracenosídeos e saponinas,
além de isolar de caules e folhas e determinar
estruturalmente os metabólitos isotiocianato de
benzila, sitosterol glicosilado (esteroide) e a iso-
quercetina (flavonoide).

Na alimentação

Como hortaliça, a capuchinha tem toda a par-


Fotos: Marinalva Woods Pedrosa

te aérea comestível, incluindo caule, folhas, flores,


botões florais e frutos verdes. Estes últimos são por
vezes, comparados a alcaparras, quando em conser-
va com vinagre.
As folhas e flores possuem sabor acre e pi-
cante, semelhante ao do agrião, além do alto valor
nutritivo, sendo particularmente rica em enxofre
Figura 3 - Canteiros de capuchinha em plena floração
(BOORHEM, 1999). As flores podem ser servidas
ao natural ou enfeitar saladas. Além de contribuí-
UTILIZAÇÃO rem para a beleza do prato culinário, conferem-lhe
um sabor delicioso e refrescante, quando em com-
É amplamente utilizada como planta medici- binação com legumes, rúcula e alface (BRASIL,
nal, consorciada ou não com outras culturas e como 2010).
corante natural, hortaliça não convencional, orna- Suas folhas são ricas em vitamina C, sais mi-
mental, e também usada na apicultura comercial nerais e carotenoides. As flores são fonte de luteína,
(ORTIZ DE BOADA; COGUA, 1989). que está relacionada com a prevenção de doenças
A capuchinha é uma alternativa para produto- como a catarata e a degeneração macular, principal
res de hortaliças que buscam diversificar a produção causa de cegueira entre os idosos.
e também para aqueles interessados no cultivo de Desta forma, a capuchinha pode ser conside-
plantas medicinais e flores comestíveis. rada uma hortaliça bastante nutritiva.

EPAMIG. Circular Técnica, n.175, nov. 2012


Capuchinha (Tropaeolum majus L.) 4

Como planta ornamental BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e


Abastecimento. Manual de hortaliças não-
A capuchinha é amplamente cultivada nas Re-
convencionais. Brasília, 2010. 52p.
giões Sul e Sudeste do País, para fins ornamentais
(PANIZZA, 1998), podendo ser consorciada ou não COMBA, L. et al. Garden flowers: insect visits and
com outras culturas. the floral reward of horticulturally: modified variants.
Annals of Botany, Cambridge, v.83, n.1, p.73-86,
1999.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CORRÊA, M.P. Dicionário das plantas úteis do
Apesar da facilidade de cultivo e da diversida- Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro:
de de uso, a capuchinha ainda é pouco conhecida, IBDF, 1984. v.1, p. 669-674.
principalmente como hortaliça.
DEMATTI, M.E.S.P.; COAN, R.M. Jardins com
Desta forma, visando resgatar as chamadas
plantas medicinais. Jaboticabal: FUNEP, 1999. 65p.
hortaliças não convencionais e sendo a capuchi-
nha uma dessas espécies, têm sido realizados tra- FONT QUER, P. Plantas medicinales: el dioscórides
balhos de divulgação e esclarecimentos aos con- renovado. Barcelona: Labor, 1993. Tomo 2, p.251-637.
sumidores e produtores. Para tanto, foram criados GOODWIN, T. W.; MERCER, E. I. Introduction to
bancos ativos de hortaliças não convencionais, plant biochemistry. 2. ed. Oxford: Pergamon, 1983.
para manutenção dessas espécies, acompanha- p.234-275.
dos de palestras, dias de campo e distribuição de
JOHNS, T. et al. Anti-reproductive and other medicinal
materiais propagativos e didáticos a associações e
effects of Tropaeolum tuberosum L. Journal of
instituições interessadas.
Ethnopharmacology, Lausanne, v.5, n.2, p.149-161,
1982.
RECEITA
JOLY, A. B. Botânica: introdução à taxonomia
vegetal. 10. ed. São Paulo: Nacional, 1991. 577p.

Salada JUNQUEIRA, A.H.; LUENGO, R.F.A. Mercados


diferenciados de hortaliças. Horticultura Brasileira,
1 pé de alface
Brasília, v. 18, n. 2, p. 95-99, jul. 2000.
½ molho de rúcula
½ molho de azedinha LORENZI, H.; MATOS, F.J. de A. Plantas medicinais
1 prato de folhas de espinafre no Brasil: nativas e exóticas cultivadas. Nova
1 e ½ xícara de tomates cereja picados ao meio Odessa: Instituto Plantarum, 2002. 512p.
Flores de capuchinha inteiras PEDROSA, M.W. et al. Hortaliças não
½ xícara de damasco picado convencionais. Belo Horizonte: EPAMIG, 2011. 6p.
½ xícara de uvas passas
PINTÃO, A. M.; PAIS, M. S. S.; COLY, H. In vitro
Molho de suco de limão, azeite e sal.
antitumor activity of benzyl isothyocianate: a natu-
ral product from Tropaeolum majus. Planta Medica,
Modo de preparo Stuttgart, v.61, p.233-236, 1995.

Lavar e secar as folhas das verduras, em se- ORTIZ DE BOADA, D.; COGUA, J. Reconocimiento
guida, rasgá-las em tamanhos médios. de granos de polen de algunas plantas melíferas en
Montar a salada intercalando folhas rasgadas la sabana de Bogotá. Agronomia Colombiana, v.6,
com tomate, damasco e uvas passas. p.52-63, 1989.
Decorar com flores de capuchinha. PANIZZA, S. Plantas que curam (cheiro de mato).
Servir com molho de suco de limão.
15 ed. São Paulo: IBRASA, 1998. 279 p.

REFERÊNCIAS ZANETTI, G. D. Troapeolum majus L.: morfo-


histologia, fitoquímica, ação antimicrobiana e
BOORHEM, R.L. et al. Segredos e virtudes das toxicidade. 2001. 93 f. Dissertação (Mestrado em
plantas medicinais. Rio de Janeiro: Reader’s Ciência e Tecnologia Farmacêutica) - Universidade
Digest, 1999. 416p. Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2001.

EPAMIG. Circular Técnica, n.175, nov. 2012

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