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PRODUÇÃO DE MUDAS

Profa.Adriana Graciela Desiré Zecca

INTRODUÇÃO

O estudo da propagação de plantas apresenta três aspectos. Em primeiro


lugar, em operações tais como a enxertia ou a preparação de estacas, exige o
conhecimento de certas manipulações e de e habilidades técnicas que requerem
certa experiência e tempo para se adquirir. Este aspecto pode ser considerado
como ‘a arte da propagação’.

Em segundo lugar, para se ter êxito na propagação, se necessita o


conhecimento da estrutura e dos mecanismos de crescimento das plantas. Isto se
pode dizer que constitui a ‘ciência da propagação’. O propagador pode adquirir
parte desta informação de maneira empírica ao trabalhar com as próprias plantas,
mas deve ser completada com cursos formais de botânica, horticultura, genética e
fisiologia vegetal. Esse conhecimento ajuda ao propagador a compreender o
porque das coisas que faz, a executá-las melhor e a solucionar problemas
inesperados.

Um terceiro requisito para ser ter êxito na propagação de plantas, é


conhecer as diversas classes delas e os vários métodos com que podem
propagar-se. Em grande parte, o método utilizado deve ser adequado à classe de
planta que se propaga e às condições em que se realiza.

A propagação de plantas é uma ocupação fundamental da humanidade.


Provavelmente a civilização se iniciou quando o homem antigo aprendeu a semear
e cultivar certos tipos de plantas que satisfaziam suas necessidades nutritivas e as
dos seus animais. Na medida que avançou a civilização, ele foi acrescentando à
diversidade de plantas outros cultivos, não só alimentícios, mas também aqueles
que lhe proporcionavam flores, medicinas, lazer e ornamentação.

O melhoramento das plantas na época atual foi precedido por um grande


progresso na seleção das mesmas. Nossas plantas cultivadas se originaram
principalmente por três métodos gerais. Primeiro, algumas foram selecionadas

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diretamente de espécies silvestres, mas, sob o cuidado do Homem, evoluíram a
‘tipos’ que diferiam completamente dos seus ancestrais silvestres; como exemplo
deste grupo podem citar-se o tomate, a cevada e o arroz. Segundo, outras se
originaram por hibridação entre espécies, acompanhadas de mudanças no
número de cromossomos, estas plantas se conhecem somente em formas
cultivadas e não se encontram tipos silvestres. Neste grupo se encontram o milho,
o trigo, o fumo, a pereira e a ameixeira. Terceiro, aparece outro grupo de plantas
cujas formas raras diferem das demais da sua espécie e as quais, embora
inadaptadas a um ambiente natural são úteis ao Homem; entre elas estão o
repolho, os brócolis, a couve-de-Bruxelas.

Entretanto, este progresso no melhoramento de plantas teria carecido de


importância ao menos que, simultaneamente, se dispusera de métodos para
manter em cultivo as formas melhoradas, o qual originou um processo de
invenção e descobrimento de técnicas para propagação de plantas. A maior parte
das plantas cultivadas se perderiam ou reverteriam a formas menos desejáveis, ao
menos que se propagassem em condições controladas capazes de preservar as
suas características. Através do tempo, na medida que se tem disposto de novos
tipos de plantas, se desenvolveram técnicas para mantê-las e reciprocamente,
conforme se avançou nos métodos de propagação, tem aumentado a quantidade
de plantas disponíveis para cultivo.

A seguir, se enumera os métodos gerais de propagação de plantas. Muitos


destes, embora não a maioria, antecedem à historia registrada. Não é mera
coincidência que algumas das plantas frutíferas mais antigas – videira, oliveira e
figueira – sejam também, as mais fáceis de propagar por meio de estacas
lenhosas. Para cultivar a maioria das outras plantas frutíferas, deveram-se
aprender técnicas de enxertia. O invento de casas de vegetação, no século XIX,
fez possível conseguir o enraizamento de estacas herbáceas. Mais recentemente,
o descobrimento de sustâncias químicas e a propagação sob nebulização, têm
revolucionado muitos procedimentos de viveiro. Em forma semelhante, o cultivo de
plantas para semente tem evoluído pela descoberta dos princípios genéticos
conducentes à produção de semente híbrida.

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ESQUEMA DE MÉTODOS DE PROPAGAÇÃO DE PLANTAS COM
EXEMPLOS TÍPICOS

I. Sexuada.

A. Propagação por semente (plantas anuais, bianuais e muitas perenes).


Algumas sementes requerem tratamento pré-germinativo (como estratificação ou
escarificaçao), enquanto que outras germinam de imediato quando colocadas no
médio adequado.

II. Assexuada (vegetativo)

A. Propagação por embriões apomícticos (citros).

B. Propagação por estolões (morangueiro).

C. Propagação por filhotes (framboesa).

D. Mergulhia

(1) Simples de ponta (framboesa)

(2) Simples (Madressilva – Lonisera sp.)

(3) De trincheira (macieira, pereira, nogueira).

(4) De cepa (macieira, pereira).

(5) Contínua chinesa / Contínua serpenteada (para plantas com


ramos longos e flexíveis (trepadeiras ornamentais – Wisteria sp. (Glicínia),
Clematis sp., videira).

(6) Alporquia [aérea] (Fícus elastica, Fícus auriculata, pessegueiro).

E. Separação

(1) Bulbos (jacinto, lírio, narciso, tulipa)

(2) Cormos (gladíolo, crocus)

F. Divisão

(1) Rizomas (Canna sp., íris)

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(2) Filhotes (abacaxi, sempre-viva - Helichrysum macrantha -, datil)

(3) Tubérculos (batata)

(4) Raízes tuberosas (dália, batata-doce)

(5) Coroas (flox, morangueiro)

G. Propagação por estaquia

(1) Estacas de raiz (framboesa, amora-preta)

(2) Estacas de caule

(a) Lenhosas (figueira, videira, marmeleiro, roseira, forsitia)

(b) Semilenhosas (limoeiro, oliveira, camélia, acebo)

(c) Semiherbáceas (lilás, forsitia, weigela)

(d) Herbáceas (gerânio, coleus, crisântemo)

(3) Estacas de folha (Begonia rex, Bryophyllum, Sansevieria, violeta


africana)

(4) Estacas de gemas foliares (hortência)

H. Enxertia de garfagem

(1) Enxertia de raiz

(a) Fenda simples, fenda dupla ou inglês complicado


(macieira, pereira)

(2) Enxertia de garfagem

(a) Inglês (nogueira)

(b) Fenda (camélia)

(c) Lateral ou de fenda lateral (plantas sempre verdes de folha


angosta)

(3) Enxertia de copa ou aéreo

(a) De fenda (diversas árvores frutíferas)

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(b) De coroa (diversas árvores frutíferas)

(c) De casca (diversas árvores frutíferas)

(d) Lateral ou de fenda lateral (diversas árvores frutíferas)

(e) Fenda dupla ou inglês complicado (diversas árvores


frutíferas)

(f) De aproximação (manga)

I. Enxertia de gema

(1) Enxertia em T (roseiras, frutíferas de caroço, pomaceas)

(2) De placa ou escudo (nogueira-pecã, caquizeiro, goiabeira)

(3) Em anel (nogueira-pecã, caquizeiro, goiabeira)

(4) Em I (nogueira-pecã)

(5) De gema com lenho (videira, caquizeiro)

J. Micropropagação

TIPOS BÁSICOS DE PROPAGAÇÃO

Antes de serem abordados os métodos de propagação propriamente ditos, é


pertinente fazer algumas considerações sobre o ciclo de vida da espécie que se
deseja propagar.

O ciclo de vida de uma planta que produz sementes pode ser dividido em duas
grandes fases: vegetativa e reprodutiva. Estas fases são compostas pelas
seguintes etapas: a) germinação da semente; b) crescimento vegetativo; c)
indução da floração; d) iniciação e desenvolvimento da flor; e) floração
(desenvolvimento dos gametófitos masculinos e feminino, crescimento a abertura
da flor, polinização e fertilização); f) desenvolvimento do fruto e da semente; e g)
maturação do fruto e disseminação da semente. No ESQUEMA 1, são
demonstrados estes ciclos.

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Esquema 1: Ciclo de vida de uma planta.

Quando uma planta é produzida por outro método de propagação, tal como a
estaquia, a enxertia, a mergulhia e a micropropagação, o desenvolvimento segue,
em geral, a mesma seqüência daquela planta obtida por semente, descartando-se
a etapa da germinação, embora a duração do período vegetativo, via de regra,
seja menor. Esta menor duração da fase vegetativa, quando da reprodução
assexuada, deve-se à utilização de material colhido em partes da planta matriz
que já ultrapassaram a fase juvenil. Uma planta em fase de juvenilidade tende a
não responder aos estímulos indutores do florescimento, sejam eles internos
(fitohormônios) ou externos (temperatura, fotoperíodo, umidade do solo, entre
outros).

Os métodos de propagação de plantas podem ser divididos em dois grupos: a)


sexuada ou sexual; e b) assexuada, assexual, agâmica, clonal ou vegetativa.

A propagação por sementes é sexuada, exceto em casos de apomixia. Em


geral, pode esperar-se que na reprodução por semente se tenha alguma variação

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nas plântulas. Formam-se novas plantas que diferem em características dos seus
progenitores.

Por outra parte, os diversos métodos vegetativos são assexuados. Quando se


utilizam, se elimina durante a propagação a variação genética e, geralmente,
numa população de plântulas é possível duplicar a qualquer individuo em
particular. A multiplicação assexuada de uma planta se pode continuar por centos
de anos e compreende milhares de indivíduos.

É importante que o propagador compreenda a diferença fundamental entre os


dois tipos de propagação; que se possam utilizar, ou não, estes (ou ambos),
determina que certa classe de plantas possa ser mantida por propagação. Se as
características especificas de certa classe de plantas, se perdem durante o
processo de propagação, obviamente, o método não tem sucesso. As
características de uma planta determinada dependem da combinação particular de
genes presentes nos cromossomos de suas células e seu conjunto forma o
genótipo da planta. O genótipo, em combinação com o meio, produz uma planta
de certo aspecto exterior –fenótipo-. A função de qualquer técnica de propagação
de plantas é preservar um genótipo determinado, por médios sexuados ou
assexuados.

Propagação Assexuada

A propagação assexuada ou vegetativa é possível porque a divisão celular


(mitose – Fig.1) ocorre durante o crescimento (Fig.2) e a regeneração. A
característica principal da mitose é que, na maioria dos casos, os cromossomos
individuais se dividem longitudinalmente em partes idênticas e cada uma das
células filhas, com algumas exceções, apresenta as características da planta-mãe.
A mitose é o processo básico do crescimento vegetativo normal, da regeneração e
da cicatrização de injúrias, que tornam possíveis as práticas de propagação
vegetativa.

De modo geral, espécies frutíferas que se propagam assexuadamente são


altamente heterozigotas e segregam amplamente quando se reproduzem por via

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sexuada. Assim sendo, a propagação assexuada é imprescindível em casos em
que há interesse em manter a identidade do genótipo, ou seja, obter-se um
número infinito de plantas com a mesma constituição genética a partir de um único
indivíduo.

A propagação assexuada baseia-se em dois fundamentos: a


totipotencialidade das células somáticas: capacidade de cada célula conter
toda a informação genética para gerar um novo indivíduo e a capacidade de
regeneração dos tecidos vegetais. Desta forma, tomando-se uma estaca
caulinar (segmento de ramo), é possível, sob condições adequadas, obter raízes
adventícias, folhas, caules e novos ramos, originando assim uma nova planta. No
caso da enxertia, uma pequena porção de tecido de uma planta contendo uma
gema é introduzida sobre uma outra planta. Esta gema irá brotar, originando uma
nova parte aérea para a planta utilizada como porta-enxerto. Dentre os métodos
de propagação vegetativa de plantas, pode-se citar os seguintes: estaquia,
enxertia, mergulhia, cultura de tecidos ou micropropagação e uso de estruturas
especializadas.

Figura 1: Fases da mitose.

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Figura 2: Locais da planta onde ocorre a mitose.

A propagação assexuada é especialmente útil, então, para manter a


constituição genética de um clone ao longo das gerações. O clone é definido por
Hartmann et al (1990) como sendo "O material geneticamente uniforme derivado
de um só indivíduo e que se propaga de modo exclusivo por meios vegetativos
como estacas, divisões ou enxertos". Para Allard (1971), clone é um "Grupo de
organismos que descendem por mitoses de um antecessor comum". Como o
fenótipo de um indivíduo é resultante da interação do genótipo com o ambiente,
plantas de um mesmo clone podem ter diferentes aspectos, em função do clima,
solo e manejo das plantas.

Um dos problemas sérios apresentados pela propagação vegetativa é o


chamado "envelhecimento dos clones", fenômeno causado pelo acúmulo de
diversos tipos de vírus responsáveis pela perda de vigor e da produtividade dos

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clones. Algumas das soluções que podem ser apontadas neste caso são o cultivo
de meristemas, a termoterapia, podas drásticas na planta-matriz, a fim de
estimular a produção contínua de brotações juvenis para propagações
subseqüentes, entre outros, bem como o uso associado deste métodos. Um meio
de preservar o clone e eliminar um vírus é proporcionado pelo cultivo de plântulas
apomíticas, como tem sido usado em Citrus para obtenção de plântulas nucelares
que são a base de novas estirpes, "livres de vírus", de variedades antigas que se
encontram fortemente afetadas por viroses. Os clones, uma vez testados e
aprovados, podem ser mantidos em jardins clonais, que seriam a fonte de material
vegetativo para uso subseqüente, sem a necessidade de coletar propágulos de
indivíduos mais idosos e o conseqüente risco de transmissão de doenças. Esses
jardins clonais devem ser mantidos em condições que impeçam a contaminação e
que permitam esclarecer qualquer mudança em relação ao tipo original.

Qualquer mutação individual ou mudança cromossômica é um evento


relativamente raro, mas como no crescimento vegetativo de um clone efetuam-se
milhares de divisões celulares e, se o clone é propagado por algum tempo, há
certa probabilidade de que ocorra algum tipo de mudança espontânea.

A propagação vegetativa, em grande escala, dos indivíduos superiores,


proporciona vantagens no manejo das culturas, em função da uniformidade dos
tratos culturais requeridos e da qualidade da matéria-prima produzida.

Com a propagação vegetativa, a boa combinação de caracteres genéticos,


apresentada por certos indivíduos, pode ser perpetuada, obtendo-se plantios mais
uniformes, mais produtivos, mais precoces e com melhor qualidade dos produtos
obtidos. Porém, por originar plantações geneticamente uniformes, a propagação
assexuada pode acarretar elevada sensibilidade de toda uma área a um fator
biótico ou abiótico.

Assim como na propagação sexuada, a escolha das matrizes é fundamental


para o sucesso da propagação e para a qualidade da muda. As plantas matrizes
devem ser obtidas em órgãos oficiais de pesquisa (EMBRAPA, Órgãos Estaduais,
Universidades, dentre outros) ou em empresas idôneas, ou ainda, caso haja

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tecnologia adequada, no próprio viveiro. Materiais importados devem ser
submetidos à quarentena, atividade de responsabilidade do Ministério da
Agricultura e órgãos de pesquisa a ele vinculados. Após obtido, o material deve
ser testado (caso isso não tenha sido feito previamente), para verificar se não está
contaminado por pragas ou doenças, principalmente viroses. A verificação da
ocorrência de virose em uma planta matriz pode ser realizada através de três
técnicas: a) indexação através de inoculação mecânica sobre plantas herbáceas;
b) indexação através de enxertia em plantas indicadoras e c) indexação através de
testes serológicos, como o teste de ELISA (Enzyme Linked Immunoabsorbant
Assay).

A obtenção de material livre de doenças pode ser feita através de termoterapia


(por imersão em água quente ou com tratamento com ar quente a 35-43ºC por um
tempo variável entre 10 minutos a 32 dias, dependendo da virose). A cultura de
meristemas in vitro é outra técnica de larga utilização, sendo que os meristemas
podem ser extraídos de plantas submetidas à termoterapia. A microenxertia é
outra técnica bastante eficiente, na qual se utiliza um meristema como enxerto (ou
cavaleiro) sobre uma plântula, sob condições in vitro.

Principais vantagens desvantagens da propagação assexuada.

VANTAGENS DESVANTAGENS

1. perpetuação de caracteres agronômicos 1. transmissão de doenças

2. redução da fase juvenil 2. risco de mutação das gemas

3. obtenção de plantas uniformes 3. risco de danos generalizados na área


de produção
4. combinação de clones na enxertia

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I. Propagação Sexuada

A propagação sexuada, realizada através de sementes, envolve a união do


gameta masculino, (contido no grão de pólen) com o gameta feminino (contido no
óvulo), para formar a semente (Figuras 4 e 5). Exceção deve ser feita no caso da
apomixia, na qual ocorre o desenvolvimento de embriões oriundos da nucela,
idênticos à planta-mãe.

A propagação sexuada envolve a divisão celular através de meiose, quando da


formação dos gametas masculinos e femininos (Figura 3). Disso decorrem
diversos fenômenos associados com este tipo de divisão, tais como a segregação
genética, a permuta genética e o aumento da variabilidade genotípica e fenotípica.
Por esta razão, este tipo de propagação gera descendentes não exatamente
idênticos à planta que lhes deu origem – o que é bastante útil no melhoramento
genético. Em contraste, a propagação assexuada envolve apenas a ocorrência de
sucessivas mitoses, pois requer apenas tecido somático (composto de qualquer
célula, exceto os gametas). Por essa razão, a propagação assexuada não
acarreta segregação genética, o que garante a transmissão com fidelidade de
todos os caracteres da planta-matriz. Por isto, os métodos de propagação
assexuada são preferidos na propagação comercial de espécies frutíferas.

A semente é o meio mais comum de propagação das plantas autopolinizadas,


sendo, ainda, largamente usada para muitas de polinização cruzada. É, muitas
vezes, o único método de propagação possível ou viável. Além de ser um método
conveniente para a conservação das plantas, por um determinado período, as
sementes podem ser um meio de propagação menos dispendioso que a
propagação vegetativa.

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Fig.3: Esquema da meiose.

A propagação vegetativa, por sua vez, possibilita a multiplicação de plantas


que não produzem sementes botânicas viáveis ou que não produzem quantidade
suficiente de sementes ou que não as produzem absolutamente, tais como a
laranja "Washington Navel" (Bahia) e a uva "Thompson Seedless", acelerando,
ainda, a produção de mudas daquelas espécies que apresentam sementes com
dormência.

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Figura 4: Diagrama que representa o ciclo sexual das Gimnospermas (Araucaria), mostrando a
meiose e a fertilização.

A propagação por sementes se utiliza para multiplicar mais espécies e


cultivares do que qualquer outro método. As plantas anuais e as bianuais devem
reproduzir-se por sementes e compreendem a todos os grãos, a maioria das
olerícolas e uma grande parte de plantas ornamentais. As perenes herbáceas e
lenhosas também podem ser obtidas de semente, sem descartar os métodos
vegetativos que se considerem adequados.

Em horticultura a propagação por sementes tem as seguintes finalidades: a)


preparar porta-enxertos ou cavalos para enxertar clones selecionados de plantas
frutíferas ou ornamentais; b) criar novas cultivares; e c) formar mudas de espécies
que suportam bem a propagação sexuada conservando suas características. Para
algumas espécies frutíferas, a propagação sexuada é ainda útil nos seguintes

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casos: a) obtenção de clones nucelares (ou cultivares revigoradas), o que é
comum em espécies cítricas; b) obtenção de plantas homozigotas e c) propagação
de plantas que não podem ser multiplicadas por outro meio. A principal
desvantagem da propagação por sementes, além da segregação genética nas
plantas heterozigotas, provocando dissociação de caracteres, é o longo período
exigido por algumas plantas para atingir a maturidade, embora haja algumas
exceções, como é o caso do maracujazeiro, cujo período improdutivo é
semelhante entre plantas oriundas de propagação sexuada e assexuada.

Figura 5: Diagrama que representa o ciclo sexual das Angiospermas, mostrando a meiose e a
fertilização.

Uma das características da propagação por sementes é a variação que pode


existir dentro de um grupo de plântulas. Na natureza esta propriedade é
importante, uma vez que torna possível a adaptação contínua de uma
determinada espécie ao meio; em cada geração aqueles indivíduos que estejam

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melhor adaptados a esse ambiente tendem a sobreviver e a produzir a geração
seguinte.

A propagação por sementes é um método para se produzir plantas "livres de


moléstias". Tem sido observado que vírus, nematóides e outros parasitas
deletérios, são comumente expurgados pela linha reprodutiva próxima à meiose
ou pela meiose, e que, no entanto, são transmitidos e continuam a acumular em
indivíduos de um clone propagado vegetativamente. As sementes podem ser
usadas como um filtro para as viroses, pois estas não se transmitem pela semente
botânica, com algumas exceções.

Botanicamente, a semente das angiospermas é um óvulo maduro, encerrado


dentro do ovário ou do fruto. As sementes e os frutos de diversas espécies variam
grandemente em aspecto, tamanho, forma, situação e estrutura do embrião e,
presença de tecidos de armazenamento (Figura 6).

Figura 6: Diferentes sementes

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Do ponto de vista do manejo da semente, não sempre é possível separá-la do
fruto, já que às vezes formam uma unidade. Nesses casos, o fruto mesmo se trata
como ‘semente’, como ocorre com o milho e o trigo.

Vantagens e desvantagens da propagação sexuada.

VANTAGENS DESVANTAGENS

1. maior longevidade 1. dissociação dos caracteres

2. desenvolvimento vigoroso 2. inicio de frutificação tardia

3. obtenção de novas variedades 3. porte elevado

4. clones novos 4. produção irregular (cor, características

5. perpetuação da espécie por organolépticas e tamanho dos frutos)


bancos de germoplasma 5. produto não padronizado

6. sistema radicular mais profundo 6. esterilidade


e vigoroso 7. presença de espinhos (em algumas variedades)
7. menor custo 8. heterogeneidade entre plantas (porte, arquitetura,
fenologia)

Apomixia

Em algumas espécies os embriões não são resultados da meiose e fertilização,


mas de certos processos assexuados. O fenômeno pelo qual ocorre um processo
reprodutivo assexuado em lugar do sistema reprodutivo normal de divisão
reducional e fertilização é conhecido como apomixis. As mudas reproduzidas
nessa forma se chamam apomíticas. Aquelas plantas que produzem somente
embriões apomícticos, são conhecidas como apomíticas obrigatórias e as que
produzem embriões tanto sexuados como apomícticos são designadas como
apomíticas facultativas.

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Os Tipos de apomixia são:

(1) Apomixia recorrente: um saco embrionário (gametófito feminino) se


desenvolve da célula mãe do ovo (ou de alguma célula adjacente, desintegrando-
se a célula mãe do ovo), mas não ocorre meiose completa. Em conseqüência, o
ovo tem o número diplóide de cromossomos, o mesmo que a planta mãe. O
embrião se desenvolve diretamente do núcleo do ovo sem fertilização. Sabe-se
que estes processos ocorrem em algumas espécies de Crepis, Taraxacum, Poa e
Allium, sem estímulo da polinização. Em outras, como por exemplo, em certas
espécies de Rubus, Malus, e algumas espécies de Poa, a polinização é
necessária para estimular o desenvolvimento do embrião ou para produzir
endosperma viável.

(2) Embrionia adventícia: também conhecida como embrionia nucelar ou


germinação nucelar. Neste tipo de apomixia os embriões se originam de uma
célula ou de um grupo de células, bem da nucela (geralmente) ou dos
integumentos, como mostrado na Figura 8. Difere da apomixia recorrente em que
esses embriões se desenvolvem fora do saco embrionário e em adição ao
embrião sexuado. Em algumas plantas, em Citrus e Mangifera, por exemplo, a
fertilização ocorre normalmente desenvolvendo-se um embrião sexuado e vários
apomiticos. Em outras, por exemplo, em algumas espécies de Opuntia, os
embriões se desenvolvem em forma espontânea e aparentemente sem necessitar
de polinização ou fertilização.

(3) Apomixia não recorrente: neste caso, o embrião se origina diretamente do


núcleo do ovo, sem fertilização. Como o ovo é haplóide, o embrião resultante
também é. Este caso é raro e principalmente de interesse genético. Não se
apresenta em forma consistente em alguma espécie particular de plantas, como
ocorre com as duas acima descritas.

(4) Apomixia vegetativa: em alguns casos, na inflorescência se produzem


gemas vegetativas ou bulbilhos no lugar das flores. Isto ocorre em Poa bulbosa, e
algumas espécies de Allium, Agave e de gramíneas.

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Figura 7: Desenvolvimento de embriões nucelares em Citrus.

Poliembrionia:

O fenômeno pelo qual existem dois ou mais embriões numa semente se chama
poliembrionia. Pode ser resultado de várias causas. A embrionia nucelar, como
descrita para Citrus, é uma causa. O desenvolvimento ocasional de mais de um
núcleo no saco embrionário (em adição ao núcleo da oosfera) é outra. A divisão
do proembrião durante os primeiros estágios do desenvolvimento é de ocorrência
comum nas coníferas e leva à produção de embriões múltiplos.

Significado da apomixia

A apomixia ocorre na natureza em muitas famílias de plantas. Geralmente,


estão incluídas as poliplóides ou híbridas complexas. O significado da apomixia é
duplo: proporciona um meio de assegurar uniformidade em propagação por
sementes, já que, qualquer cultivar apomítico é na realidade um tipo de clone.
Muitas espécies e cultivares produzem plântulas apomíticas que se utilizam como
porta-enxertos. Essas plântulas invariavelmente são uniformes e vigorosas, em

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contraste com as ocasionais plântulas híbridas, mais fracas e variáveis, que
também podem ocorrer. Malus toringoides e Malus sikkimensis são espécies de
macieira apomíticas quando se autopolinizam, entretanto, se ocorre polinização
cruzada produzem grandes proporções de sementes híbridas. Algumas espécies
de gramíneas são apomíticas facultativas. Por exemplo, entre as plantas de grama
azul de Kentucky (Poa pratensis) se encontram tanto indivíduos apomiticos como
de reprodução sexuada; num estudo encontro-se que 85% das plantas eram
produzidas por apomixia. Algumas gramíneas forrageiras, como Andropogon,
Paspalum notatum e Bouteloa curtipendula, são exemplos de cultivares
apomíticas.

Um segundo significado da apomixia reside em que muitas doenças viróticas


não são transmitidas por semente. Por tanto, cultivando plantas apomíticas tem-se
um meio para rejuvenescer clones velhos que estão muito infetados por vírus.
Este procedimento tem sido usado mais amplamente no melhoramento de
cultivares de Citrus. Essas plântulas nucelares estão em estado juvenil e são
muito vigorosas e espinhentas e, não são adequadas para usos horticolas até que
cheguem ao estado adulto.

Produção de semente geneticamente pura

Dispor de uma boa semente é de grande importância para o propagador. Na


produção de qualquer cultura, o custo da semente geralmente é baixo comparado
com outros custos de produção e, no entanto, nenhum fator isolado é de tanta
importância na determinação do sucesso da operação.

Tipos de polinização

O desenvolvimento da semente pode resultar de: (a) autopolinização (pólen da


mesma flor, da mesma planta ou do mesmo clone, (b) polinização cruzada (pólen
de uma planta diferente ou de um clone diferente) ou (c) apomixia. Em algumas
plantas pode ocorrer tanto autopolinização quanto polinização cruzada, em alguns

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casos, a produção da semente é em parte sexuada e em parte apomítica. Quando
se cultivam plantas para semente é importante saber qual desses processos
predomina.

Plantas autógamas (autopolinização)

Autopolinização seguida de autofertilização é uma condição natural em


algumas espécies devido a sua estrutura floral. Por exemplo, as partes
reprodutivas da flor de Phaseolus estão completamente encerradas dentro das
pétalas. Algumas plantas são altamente autopolinizadas, como Hordeum, Avena,
Triticum, Oryza, Pisum, Phaseolus, Linum.

As plantas cultivadas importantes deste grupo geralmente podem ser


preservadas propagando-as por semente com pouca dificuldade, ainda quando se
cultivem muito perto de outras variedades muito afins. Normalmente, nelas a
polinização cruzada é menor a 4 %.

A possibilidade de se poderem preservar essas variedades mediante


propagação por semente se deve ao fato de que são em grande parte
homozigotas. Com a autopolinização, a descendência de plantas homozigotas é
também homozigota e herda as características da planta mãe. Com a
autofecundação continuada, em cada geração aumenta na metade a proporção de
plantas homozigotas e a de heterozigóticas se reduz na mesma proporção. Seis a
dez gerações após, os descendentes do progenitor original haverão segregado em
grupos de líneas que conservam suas características particulares.

Os descendentes de uma planta homozigota individual constituem uma línea


pura.

Algumas cultivares sintéticas são produzidas cruzando-se líneas puras,


algumas culturas de flores como Petunia e Viola são populações F2 de tais
misturas.

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Plantas de polinização cruzada

A maioria das espécies de plantas é de polinização cruzada. Algumas destas


espécies, de importância econômica, são as beterrabas, cucurbitáceas, couves e
plantas afins (Brassica), a maior parte das olerícolas das quais se utiliza a raiz,
muitas plantas com flores ornamentais, a maioria dos arbustos e das árvores
frutíferas, florestais e de sombra.

Embora em algumas plantas é possível tanto a autopolinização quanto a


polinização cruzada, em outras se apresentam condições que impedem
completamente a autopolinização, isto acontece nas plantas dióicas (Ilex). Outro
mecanismo que promove a polinização cruzada é a incompatibilidade sexual,
algumas plantas, tais como Lilium, Petunia, amêndoa (Prunus dulcis), macieira
(Malus), e ameixeira (Prunus), têm alelos de incompatibilidade que impedem o
crescimento do tubo polínico no estilo de uma planta com o mesmo genótipo. Isto
significa que para produzir sementes, devem ser plantadas combinações de
cultivares.

Produção de sementes de variedades híbridas

Nos últimos anos as variedades híbridas converteram-se numa categoria de


plantas cultivadas de importância crescente. Essas variedades são produzidas
pelo crescimento repetido de duas ou mais líneas progenitoras que são mantidas
por semente (como líneas autofecundadas), ou assexuadamente como clones.
Para produzir a semente híbrida comercial, as líneas progenitoras devem cultivar-
se lado a lado, de maneira que possa acontecer entre elas a polinização cruzada.
A semente produzida (descendência F1) é a que se utiliza no cultivo comercial. O
cruzamento deve repetir-se cada vez que se produz a semente.

A hibridação de duas líneas se conhece como cruzamento simples.


Combinando dois cruzamentos simples se produz um cruzamento duplo, que é o
caso das variedades híbridas de milho. As plantas de espécies monóicas (flores
masculinas e femininas em plantas diferentes) se adaptam facilmente à produção
de sementes híbridas. Para produzir semente de milho híbrido, as líneas paternas

22
se semeiam em sulcos, um sulco macho por três sulcos fêmea. Não se deixa que
os sulcos fêmea produzam pólen, isto se consegue retirando as flores masculinas
ou usando plantas com esterilidade masculina (introdução de um gene de
esterilidade).

Às vezes se pratica a polinização manual para produzir semente de


progenitores especialmente seletos.

23
Cultivares transgênicas

O termo cultivares transgênicas, organismos geneticamente modificados,


se aplica àquelas cultivares cujo genoma foi transformado por transferência de
genes como DNA recombinante, ou foram alteradas por alguma técnica de
engenharia genética, tal como tecnologia anti-senso.

O trabalho do propagador não é criar as cultivares, mas multiplicá-las e manter


suas qualidades especiais durante a propagação. A tecnologia do DNA
recombinante foi introduzida extensivamente em importantes culturas como milho,
soja, algodão, batata, mamão, tomate, entre outras.

Fontes de sementes para perenes lenhosas

A maioria das árvores e arbustos são heterozigóticas e de polinização cruzada,


tendo uma considerável potencialidade de variabilidade genética. Entretanto, há
motivos importantes para a propagação por sementes. As plantas lenhosas
propagadas a partir de semente se utilizam para jardinagem, paisagismo, porta-
enxertos (frutíferas e ornamentais) e reflorestamento.

Por origem da semente entende-se a localidade climatológica e geográfica


específica onde esta é obtida. A fonte geográfica original da semente é indicada
como sua procedência.

Um princípio importante acerca da origem da semente é usar semente local


sempre que for possível, a não ser que uma pesquisa adequada tenha
demonstrado que outra fonte é melhor. Para escolha de sementes para plantas
lenhosas de fontes naturais, por exemplo:

1) Somente deve usar-se semente com localidade de origem conhecida ou


material de viveiro proveniente dessa semente;

2) Em todos os lotes se devem exigir os seguintes dados do vendedor: (a)


número do lote, (b) ano de colheita da semente, (c) origem da semente e
(e) prova de descendência.

24
3) Deve-se usar semente local sempre que possa se dispor de populações
locais. Por ‘semente local’ entende-se semente proveniente de uma área
exposta a influências climáticas semelhantes e esta pode, em geral, que
fique dentro 160 km da semeadura e dentro dos 300 m de altura
geográfica.

4) Quando não se dispõe de semente local, se deve usar semente de uma


região que tenha, tão aproximadamente como for possível as mesmas
características climáticas, tais como duração da estação de crescimento,
freqüência de estiagens de verão e latitude.

A seleção de locais de origem é de grande importância na cultura em viveiro de


coníferas e de espécies de madeira dura, podendo a semente de diversos lugares
mostrar grandes diferenças.

Seleção de árvores para semente

Em árvores florestais há boa evidência de que a qualidade da árvore


sementeira individual é um bom índice da qualidade dos seus descendentes. Para
muitas características, tais como forma do caule, habito de ramificação, velocidade
de crescimento, resistência às doenças e insetos, presença de defeitos
superficiais e certas qualidades da madeira, pode ser efetivo selecionar para
essas, nas árvores progenitoras.

As árvores selecionadas de fenótipo superior são chamadas árvores ‘plus’ e


não se cortam para madeira. Essas plantas são muito valiosas e podem ser
multiplicadas e mantidas como um clone em um horto para sementes.

Um outro aspecto na seleção de uma fonte de sementes é a avaliação das


características das árvores que rodeiam aos indivíduos escolhidos, já que sendo a
maior parte das espécies arbóreas lenhosas de polinização cruzada, com a
seleção das polenizantes, pode-se obter semente de melhor qualidade. Esse tipo
de polinização faz também que seja indesejável coletar sementes de plantas
isoladas ou daquelas que crescem perto de outras espécies afins, como pode

25
ocorrer num arboretum. A polinização com tipos indesejados pode anular o valor
potencial de uma fonte específica de sementes por produzir uma variabilidade
excessiva e não predecível. Por exemplo, antes da Primeira Guerra Mundial, se
produziam plântulas da pereira ‘Old French’ de sementes obtidas na Europa, de
árvores de Pyrus communis, nas quais se apresentava uma grande variabilidade
devido à hibridação com Pyrus nivalis. As plantas obtidas dessas fontes
resultaram num grupo heterogêneo, de muitas espécies e híbridos.

O procedimento mais aconselhável é coletar sementes de grupos de plantas


que tenham as características desejadas e que se desenvolvam em populações
puras. As plantas assim obtidas, embora não homozigotas, é mais provável que
reproduzam as características das árvores paternas.

Pode-se ter controle tanto da semente como da fonte de pólen obtendo a


semente de árvores de variedades clonais cultivadas em hortos nos que se têm
uma disposição conhecida para a polinização. Esse procedimento tem se usado
muito na produção de sementes de porta-enxertos para árvores frutíferas. Por
exemplo, para obter mudas de tipo verdadeiro Pyrus communis, a semente se
pode obter de plantas “Winter Nelis’, cultivadas dispersas em pomares de pereira
‘Bartlett’ (‘Williams Bom Cretien).

Prova da descendência

O verdadeiro valor genético de uma fonte de sementes somente pode ser


estabelecido por médio da prova da descendência. Semeia-se uma amostra
representativa de sementes e os indivíduos resultantes se cultivam em condições
de prova. As árvores produtoras de semente que têm genótipo superior
comprovado numa prova da descendência, são chamados pelos florestais, árvores
‘elite’.

26
Procedimentos para a seleção de sementes de plantas lenhosas

Zonas de coleta de sementes: é aquela que em que as árvores são


prometedoras como fonte potencial de semente, mas não tem sido provada sua
descendência. Deve ser uma população pura de árvores uniformes,
suficientemente grande para assegurar uma polinização cruzada adequada e deve
ser separada de plantas com características indesejáveis. Estas áreas não se
manejam ou tratam especificamente para produção de sementes.

Zonas de produção de sementes: abrange uma região específica que


compreende um grupo de árvores que foram separadas permanentemente como
fonte de sementes. Utiliza-se principalmente com árvores florestais, mas pode ser
usado em qualquer negocio de sementes de plantas lenhosas.

As árvores fora de tipo ou aquelas que não alcançam as normas mínimas são
eliminadas. Podem-se também remover outras árvores ou arbustos que possam
interferir com as operações. Ao redor da zona deve se estabelecer uma faixa de
isolamento não menor a 120m. A descendência das árvores produtoras de
sementes pode ou não haver sido provada antes da implantação da área.

Hortos para sementes: são hortos ou plantações estabelecidas


especificamente para produção de semente, usando para isto árvores sementeiras
de qualidade e origem aceitáveis e de preferência aquelas das quais foi provada a
sua descendência. Estes hortos são usados direta ou indiretamente para produzir
sementes de porta-enxertos de árvores frutíferas.

Produção de semente híbrida:

Na cultura de algumas árvores se utiliza semente híbrida F 1. Essas sementes


são obtidas por cruzamentos dentro da mesma espécie ou interespecíficos. A
hibridação dos genitores pode conseguir-se por diferentes formas: (a) polinização
manual, na Coréia foram produzidos desta maneira híbridos de Pinus rigida x
P.taeda, (b) em hortos para sementes plantando intercaladamente os genitores,
na Europa, nesses hortos foram produzidos híbridos de Larix decidua x L.
leptolepsis, (c) outro método se ilustra com a produção de semente híbrida da
nogueira “Paradox”, esta semente se obtém coletando-a de indivíduos da nogueira

27
preta do norte da Califórnia (Juglans hindsii) onde se sabe que á cruzamento
natural com o pólen da nogueira inglesa (Juglans regia) vizinha. As árvores que
servem para obter semente se identificam por médio da prova de descendência.
As plântulas individuais de ‘Paradox’ são identificadas no viveiro pelo seu vigor e
características das folhas, essas árvores F1, são utilizadas como porta-enxertos ou
paisagismo.

Estabelecimentos industrializadores de frutas

As sementes de muitas espécies frutíferas, utilizadas para produzir porta-


enxertos, obtêm-se como subproduto das indústrias de frutas, como fábricas de
compotas, fábricas de sidra, secaderos de frutas, etc.

Produção comercial de sementes

A produção comercial de sementes é uma industria grande e especializada e o


sucesso dos seus esforços é de vital interesse para o propagador de plantas. A
industria comercial de sementes produz sementes de cereais, forrageiras,
hortaliças e de flores anuais, bianuais e algumas perenes.

A semente comercial se produz principalmente em regiões onde as condições


ambientais são propicias. Por exemplo, grande parte das sementes de hortaliças e
de flores é produzida em regiões algo limitadas que são em especial adequadas
para isto, porém cujo clima não necessariamente corresponde às localidades onde
depois irão ser cultivadas as plantas. A escassez de umidade e ausência de
chuvas de verão são condições desejáveis para culturas que devem sercar-se
para sua colheita. Por outra parte, um clima demasiado seco pode ser indesejável
para algumas plantas, já que pode ocasionar desgrananamento prematuro das
vagens e rachado da semente na colheita.

As condições de escassa umidade relativa do ar facilitam o controle de


doenças fúngicas e bacterianas.

28
O isolamento adequado das plantas de polinização cruzada também é de
importância e este fator pode determinar a seleção das áreas produtoras de
sementes.

Processo de germinação

As sementes apresentam três partes distintas: nas plantas monocotiledôneas a


semente apresenta o cotilédone, a plúmula (epicótilo) e uma miniatura de raiz, ao
passo que nas dicotiledôneas há os cotilédones, o hipocótilo (radícula ou raiz
primária) e o epicótilo. Portanto, no caso de sementes, há primórdios de raiz e de
parte aérea. Raízes que não se originam da radícula do embrião ou da raiz
principal, por ela formada, são denominadas adventícias. A raiz tem origem na
radícula do embrião da semente (raiz principal) ou sua origem pode ser endógena
(raízes secundárias ou laterais e a maioria das adventícias).

Quando a semente se separa da planta mãe, está quiescente, isto é, não


mostra signos externos de atividade dentro dela. A retomada do crescimento ativo
do embrião, que resulta na quebra dos tegumentos da semente e na emergência
de uma nova plântula capaz de existência independente se conhece como
germinação.

Para que a germinação possa ocorrer, devem completar-se três condições: 1)


a semente deve ser viável (embrião vivo e capaz de germinar); 2) na semente, as
condições internas devem ser favoráveis para a germinação (deve ter
desaparecido qualquer barreira física ou química); 3) a semente deve estar
exposta a condições ambientais favoráveis (água, temperatura, O 2, às vezes luz).

O processo de germinação compreende uma complexa seqüência de


mudanças bioquímicas, morfológicas e fisiológicas, nos quais podem ser
reconhecidos certos estádios: o primeiro estádio inicia com a embebição de água
pela semente seca, o amolecimento dos seus tegumentos secos e hidratação do
protoplasto. Este processo é em grande parte físico e ocorre ainda em sementes
inviáveis. O segundo estádio começa com o inicio da atividade celular e inclui a
aparição de enzimas específicas e aumento na taxa respiratória. Um terceiro

29
estádio é a digestão enzimática dos complexos materiais de reserva insolúveis, a
formas solúveis que são translocadas às zonas de crescimento ativo. Um quarto
estádio é a assimilação dessas substâncias nas regiões meristemáticas
proporcionando energia para o crescimento. No quinto estádio, a plântula cresce
pelo processo ordinário de divisão. A plântula depende das reservas da semente
até o momento em que as folhas possam funcionar em forma adequada a
fotossíntese.

O crescimento inicial da plântula segue dois padrões. No tipo de germinação


epígina, o hipocótilo se alonga e eleva os cotilédones sobre o substrato. No outro
tipo, germinação hipógina, o alongamento do hipocótilo não eleva os cotilédones e
somente emerge o epicótilo.

Figura 8: a) Germinação epígina e, b) germinação hipógina

30
Viabilidade das sementes

Um lote de sementes viáveis é essencial para ser êxito na propagação.


Entretanto, a diferença entre semente viva e semente morta não necessariamente
é bem marcada e, esta última freqüentemente, se caracteriza por necrose ou
lesões em áreas localizadas. A viabilidade é representada pela percentagem de
germinação. A germinação deve ser rápida e o crescimento das plântulas
vigoroso. Isto é, a vitalidade da semente, ou força germinativa e, pode ser
representada pela velocidade de germinação. A diminuição na viabilidade e
vitalidade da semente pode ser resultado do seu desenvolvimento incompleto na
planta, lesões durante a colheita, processamento e manejo inadequados ou do
envelhecimento.

Figura 9: Representação gráfica da vitalidade das sementes (T 50)

31
Controle da germinação

Geralmente, enquanto o fruto estiver fixado à planta mãe, as suas sementes


não germinam. A maturação das sementes implica no desenvolvimento de
mecanismos internos que funcionam para regular a época de germinação, de
modo que, coincida com períodos em que as condições ambientais possam
favorecer a sobrevivência das plântulas. Durante a maturação, a maior parte das
sementes perde umidade até um nível inferior ao requerido para a germinação. As
sementes podem permanecer nesse estado seco por muito tempo. Se o embrião
está quiescente e não há um impedimento para a germinação, a semente pode
germinar imediatamente após ter absorvido água suficiente e desde que se
encontre nas condições apropriadas de temperatura e areação. Por outra parte, a
maioria das sementes recém coletadas têm mecanismos adicionais que impedem
a germinação ainda em condições favoráveis.

Dormência de sementes

É o fenômeno pelo qual sementes, mesmo sendo viáveis e tendo as condições


ambientais favoráveis à germinação, não germinam. Difere da quiescência, que é
um estado de repouso em que a semente sendo viável há condições ambientais
que impedem a germinação – com a retirada destes elementos supressores
(água, luz, temperatura e etc.), a germinação ocorre. É um mecanismo de
sobrevivência, pois pode retardar a germinação, de modo que ela não ocorra
quando as condições para estabelecimento das plântulas sejam limitantes. Além
disso, a dormência permite a distribuição das sementes germinadas ao longo do
tempo, favorecendo a sobrevivência. É um processo controlado por fatores
genéticos, que definem a síntese de inibidores da germinação ou de outras
barreiras para que a germinação ocorra.

Embora seja útil na natureza como meio para sobrevivência, na propagação


comercial a dormência é, freqüentemente indesejável, uma vez que são
desejáveis uma germinação rápida e uniforme das sementes. Assim, busca-se
superar a dormência, através de diferentes técnicas.

32
Há diversas classificações para a dormência. Em uma delas são definidos dois
tipos: a) dormência primária (que se manifesta ainda durante a maturação da
semente) e b) dormência secundária (quando as sementes são induzidas a entrar
em dormência devido a condições ambientais desfavoráveis, tais como elevadas
temperaturas e falta de oxigênio).

Hartmann et al. (1990) definem três tipos de dormência:

a) Dormência devida aos envoltórios da semente, que pode ser devido à


impermeabilidade do tegumento à água ou às trocas gasosas (dormência física), à
imposição de resistência mecânica à expansão do embrião (dormência mecânica)
ou à presença de substâncias inibidoras da germinação – fenóis, cumarinas, ácido
abscísico – nos tegumentos ou mesmo no fruto (dormência química); diversas
famílias de plantas têm espécies com sementes de envoltórios duros como as
Leguminosas, Malváceas, Geraniáceas, Quenopodiáceas, Convolvuláceas, e
Solanáceas. Na maioria das sementes, uma vez que absorveram água, a pressão
do embrião em expansão durante a germinação é suficiente para romper os
envoltórios, entretanto, algumas apresentam envoltórios tão duros que impedem
mecanicamente a expansão do embrião, em oliveira, por exemplo, pessegueiro,
ou Carya sp. a semente está rodeada por um endocarpo grosso, ósseo e
indeiscente ou deiscente, que é mecanicamente duro e impermeável à água; essa
resistência diminui marcadamente com o armazenamento úmido e cálido, desde
que o médio não seja esterilizado.

b) Dormência morfológica, que pode ocorrer quando o embrião é pouco


mais que um pró-embrião, envolvido pelo endosperma (embrião rudimentar) ou
quando, na maturação do fruto, o embrião encontra-se em fase intermediária de
desenvolvimento (embrião não-desenvolvido ou imaturo); há muito tempo, os
propagadores sabem que as sementes úmidas de certas árvores e arbustos de
clima temperado, que amadurecem seus frutos em outono, devem ficar expostas
no solo a baixas temperaturas durante o inverno para poder germinar na
primavera, nessas condições as sementes latentes efetuam a pós-maturação.

33
Essa exigência levou à prática chamada de estratificação. Como exemplo podem
citar-se as sementes de macieira, pereira, pessegueiro, entre outras.

c) Dormência interna, que pode ser dividida em: dormência fisiológica, que
ocorre devido a mecanismos internos de inibição e que tende a desaparecer com
o armazenamento a seco das sementes; dormência interna intermediária,
característica de coníferas e induzida pelos envoltórios ou tecidos de
armazenamento de semente; dormência do embrião, quando o embrião, mesmo
separado da semente tem difícil germinação, e dormência do epicótilo.

Esta classe de dormência esta controlada por um equilíbrio entre substâncias


inibidoras (ácido abscísico) e promotoras (giberelinas) do crescimento de
ocorrência natural, que interagem com fatores ambientais como a temperatura e
provavelmente a provisão de O2. Exemplos: pessegueiro, Fraxinus, Betula.

Alguns outros inibidores da germinação foram identificados como substâncias


químicas específicas: etileno (dos frutos maduros), ácido cianídrico, amônia
(semente da beterraba), óleos essenciais, ácidos orgânicos não saturados,
alcalóides, cumarinas, etc. Durante o desenvolvimento da semente e do fruto se
acumulam muitas substancias químicas diferentes no fruto, nos tegumentos e no
embrião. Na maioria dos frutos carnosos, ou seus sucos, inibem fortemente a
germinação, como em citros, cucurbitáceas, frutos de caroço, maças, pêras, uvas
e tomates, de maneira semelhante em frutos secos como em Triticum, Brassica, e
outros. Sem dúvida, essas substâncias têm um papel biológico importante
impedindo a germinação prematura, estando a semente ainda na planta mãe.

Por exemplo, os inibidores das sementes são importantes na ecologia de


certas plantas de deserto. Essas substâncias se apresentam como medidores
químicos da chuva, desde que é necessária uma chuva abundante (que assegura
a sobrevivência das plântulas) para lixiviar uma quantidade adequada do inibidor,
permitindo assim a germinação, uma chuva ligeira não é suficiente.

Há diversas técnicas para quebra ou superação da dormência. O uso de


uma ou outra técnica varia com o tipo de dormência, com a sua eficiência e com o
seu rendimento. Entre eles estes tratamentos, podem ser citados:

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a) Escarificação, quando o tegumento é danificado, de forma a facilitar a
entrada de água e a expansão do embrião. Deve-se tomar cuidados para evitar
que o tratamento venha a danificar também o embrião. A escarificação pode ser
feita através de duas técnicas: escarificação mecânica (leguminosas de sementes
pequenas, algumas árvores), esfregando-se as sementes contra superfícies
abrasivas – lixa, pedra, areia, e escarificação ácida, normalmente com uso de
ácido sulfúrico. O tempo de escarificação dependerá essencialmente da
espessura e resistência física do tegumento;

b) Imersão em água quente, quando a semente é submetida a um tratamento


com água a 65-85ºC durante 5 a 10 minutos (beterraba, abetos);

c) Lavagem em água corrente, bastante útil quando a dormência é


provocada pela presença de substâncias inibidoras. A lavagem em água corrente,
neste caso, permite a remoção parcial destes inibidores, facilitando a germinação.

d) Estratificação, um dos métodos mais empregados em espécies frutíferas,


no qual a manutenção das sementes em ambiente úmido e, normalmente, frio,
estimula a diminuição do teor de inibidores e a síntese de promotores da
germinação. Para a estratificação, são alternadas camadas de areia, solo ou
vermiculita com camadas de sementes. Em condições de clima mais frio, a
estratificação pode ser realizada em temperatura ambiente, enquanto que, em
climas mais quentes, pode ser realizada em refrigerador ou câmara frigorífica. O
procedimento exige temperaturas baixas (0 a 10 ºC), umidade e ar por algum
tempo. O tempo necessário para completar a pós-maturação depende do tipo de
semente, para a maioria varia entre 1 e 4 meses.

e) Embebição da semente, técnica pela qual a semente fica imersa em água


por um período variável em função da permeabilidade do seu tegumento,
facilitando a germinação.

f) Tratamento com fitorreguladores, especialmente sendo utilizado o


tratamento com giberelinas, que ativam enzimas hidrolíticas e aceleram o
processo de germinação.

35
Fatores que afetam a germinação das sementes

A germinação das sementes é afetada por fatores internos e externos. Como


fatores internos, podem ser citados a dormência, a qualidade fisiológica da
semente (caracterizada pelo vigor e viabilidade da semente) e o potencial de
germinação da espécie. Como fatores externos podem ser apontados, a
disponibilidade de água (na semente e no substrato de germinação), luz,
disponibilidade de gases (principalmente oxigênio, uma vez que a germinação
requer alta atividade respiratória) e temperatura.

ASPECTOS TÉCNICOS DA PROPAGAÇÃO SEXUADA

A propagação sexuada é, via de regra, mais simples e de menor custo que a


propagação vegetativa. Entretanto, deverão ser dispensados cuidados especiais
em alguns aspectos, enfocados a seguir:

Seleção das plantas matrizes: a planta fornecedora das sementes deverá


possuir todas as característica da espécie ou cultivar, ser vigorosa, produtiva, em
bom estado fitossanitário e apresentar boa qualidade dos frutos e da semente.
Conforme a situação é viável manter-se um bloco de matrizes, às quais são
dispensados os tratos culturais para manter a planta em boa condição de
crescimento vegetativo e produção;

Seleção dos frutos: devem ser selecionados frutos maduros e sadios, uma
vez que frutos atacados por microorganismos podem resultar no ataque de
doenças às plântulas.

Extração e manejo das sementes: as sementes devem ser extraídas com o


máximo cuidado, para não serem danificadas. Como normalmente, em fruticultura,
se trabalha com frutos carnosos, pode-se adotar dois sistemas de obtenção da
semente; extração da semente, seguida de lavagem em peneira, para retirada de
partes aderidas, e posterior secagem ou retirada parcial da polpa e amontoa das
sementes, seguida de uma leve fermentação, a qual virá a auxiliar a retirada da
polpa aderida. Pode-se proceder, após a extração das sementes, uma seleção,

36
visando conferir às plantas na sementeira o máximo de uniformidade. Esta
seleção pode ser feita com base no tamanho ou peso, podendo-se dividir o total
de sementes em lotes, que serão semeados separadamente. Embora seja
recomendável que o intervalo entre a extração e a semeadura seja o menor
possível, em certas situações pode ser necessário o armazenamento das
sementes. Para tanto, utilizam-se, normalmente, condições de baixa temperatura
e baixa umidade. A viabilidade das sementes após o armazenamento é resultante
das condições em que o armazenamento foi efetuado, da viabilidade inicial da
semente e da taxa de deterioração da semente durante o armazenamento, que é
função do potencial genético de armazenamento.

Produção de mudas em ambientes protegidos

A produção de mudas em algum tipo de abrigo é um método importante na


propagação de plantas. As sementes são semeadas num médio de germinação
especial e as mudas são transferidas para vasos, camas especiais, sacos
plásticos, etc., e depois transplantadas a seu lugar definitivo. A semeadura pode
também ser feita diretamente em vasos ou outros recipientes.

Quando as condições à intempérie são desfavoráveis, se usa esta técnica para


iniciar a produção de mudas, que depois serão transplantadas na intempérie. Usa-
se extensamente para produção antecipada de olerícolas, para cultivar plantas
que de outra maneira não se adaptam a uma região com primavera curta, para
produzir plantas para paisagismo, também pode utilizar-se para a produção de
árvores e arbustos.

Semear em ambiente protegido para cultivo na intempérie pode permitir ao


propagador obter maiores percentagens de germinação, já que pode controlar as
condições ambientais e diminuir perdas por doenças, insetos e outras condições
adversas. Para obter esses benefícios são necessárias certas facilidades e mais
mão-de-obra do que na semeadura direta. Também exige uma atenção mais
cuidadosa aos detalhes e, certo grau de habilidade e experiência. Levando-se
tudo isso em consideração, o cultivo de mudas em ambiente protegido é mais caro

37
que a semeadura direta e, só se justifica com material valioso ou sementes caras,
quando as mudas são difíceis de à intempérie sob condições extremas ou para
obter os benefícios de uma produção antecipada.

Instalações

A necessidade de instalações depende de diversos fatores e deve considerar a


máxima eficiência no uso das mesmas, economicidade para construção e
facilidade no manejo para produção das mudas. O grau de sofisticação das
instalações depende da interação entre fatores como a espécie a ser propagada,
quantidade de mudas a serem produzidas e o poder aquisitivo do viveirista. As
principais instalações necessárias no viveiro são:

a) Escritório, onde são armazenadas todas as informações referentes à


produção de mudas, bem como onde são centralizadas as operações de
comercialização, contratação de mão-de-obra e comunicação com clientes e
outros viveiristas.

b) Depósito para equipamentos e ferramentas, onde são guardados


ferramentas e equipamentos tais como implementos para preparo do solo,
pulverizadores, distribuidores de fertilizantes, betoneira (para mistura de
substratos), recipientes, estufa de secagem, máquinas de beneficiamento de
sementes, máquinas de enxertia, câmaras frias ou geladeiras para
armazenamento de sementes, entre outros.

c) Depósito para produtos químicos.

d) Telado, que é estrutura, de madeira ou metal, coberta com tela de


sombreamento, conhecida popularmente como Sombrite. O telado é útil nas
seguintes situações: manutenção de plantas matrizes isentas de viroses,
aclimatação de mudas e produção de mudas que exigem sombreamento inicial.
As telas podem apresentar diferentes graus de sombreamento, sendo importante
considerar que, quando maior o grau de sombreamento, maior ocorrência de
estiolamento das mudas que permanecerem por longo tempo no telado e, por

38
conseqüência, maior a facilidade das mudas morrerem quando da sua
transferência para o pomar. O tipo de tela mais utilizado é o que permite um
sombreamento de 50%. O telado pode ter diferentes dimensões, podendo ser
permanente ou temporário. O telado pode ser ou não dotado de sistema de
irrigação por nebulização.

Figura 10: Telado

39
FIGURA 11: Estufa com tela antofídeos.

e) Estufa, também conhecida como casa de vegetação, é uma estrutura


parcial ou completamente fechada, com estrutura de madeira ou metal (alumínio,
aço ou ferro galvanizado), coberta, em geral com plástico especial para esta
finalidade. A estufa pode ainda ser coberta de vidro ou fibra de vidro, porém isto
acarreta maior custo, A grande vantagem do uso de estufas em viveiros é a
possibilidade de controle ambiental de modo a maximizar a produção de mudas,
reduzindo o tempo necessário para a propagação e permitindo que as mudas
possam ser produzidas em mais épocas do ano. Normalmente, as estufas
possuem sistemas de nebulização intermitente, o que mantém elevada a umidade
relativa do ar, permitindo a propagação através de estacas com folhas (técnica
que, em certas espécies, viabiliza a propagação através de estaquia). A elevada
umidade do ar e a elevada temperatura aumentam a velocidade decrescimento
das plantas. As estufas podem ser construídas pelo próprio viveirista ou adquiridas
de empresas especializadas na construção das mesmas. Além do sistema de
nebulização, as estufas podem ser dotadas de sistemas automatizados para
aquecimento do substrato, diminuição da temperatura, controle do fotoperíodo,
entre outros. Entre os problemas relacionados com o uso de estufas, podem ser

40
citados os seguintes: aumento da dependência da planta em relação ao homem,
elevado custo de implantação, aumento da sensibilidade e ocorrência de doenças
e dificuldades na aclimatação.

O enraizamento de estacas de muitas espécies, especialmente através de


estacas semilenhosas e herbáceas é muito difícil se não for adotado um controle
ambiental, principalmente em relação a três pontos: a) manter alta umidade
relativa do ar com uma baixa demanda evaporativa, de modo que transpiração das
estacas seja minimizada e haja um mínimo de perda de água; b) manutenção de
temperatura adequada para estimular o metabolismo na base das mesmas e
suficientemente amena na parte aérea para reduzir a transpiração e c) manter a
irradiação dentro de um limite suficiente para ocasionar elevada atividade
fotossintética, sem, no entanto, causar aumento excessivo de temperatura nas
folhas. As estufas têm esta finalidade de controle ambiental. Quanto mais
controladas as condições de propagação, maiores as chances de sucesso,
especialmente naquelas espécies de difícil propagação. Um dos problemas a
serem enfrentados em estufas nas condições brasileiras é o aumento excessivo
de temperatura, o que implica no uso de mecanismos de resfriamento do ar. Na
literatura, há citações de que, temperaturas ao redor de 35-40ºC limitam o
crescimento das raízes da maioria das espécies lenhosas. Por isso, é
fundamental, além de uma boa ventilação, um bom sistema de resfriamento e
sombreamento. Mesmo que a luz seja favorável à atividade fotossintética das
mudas, alta luminosidade não parece ser a condição mais favorável. Filmes de
polietileno mais modernos estão disponíveis no mercado com alguns aditivos, tais
como acetato de vinil, alumínio e silicatos de magnésio, os quais aumentam a
opacidade do plástico às ondas longas (infravermelho), favorecendo o
enraizamento.

41
Figura 12: Estufas climatizadas

42
f) Estufins, que são, na verdade, pequenas estufas, com maior versatilidade,
menor custo e menor tamanho. Os estufins são construídos, normalmente, em
madeira e com cobertura de polietileno e podem ser utilizados tanto para a
produção de mudas através de sementes quanto através de estacas
semilenhosas.

g) Ripados, os quais também têm a finalidade de proporcionar


sombreamento, podendo substituir os telados. São construções simples,
relativamente duráveis, baratas e fáceis de construir, apresentando como
inconveniente o fato de que o sombreamento não é completamente uniforme.

SUBSTRATOS E RECIPIENTES

Entende-se por substrato qualquer material que é usado com a finalidade de


servir de base para o desenvolvimento de uma planta até a sua transferência para
o viveiro ou para a área de produção, podendo ser compreendido não apenas
como suporte físico, mas também como fornecedor de nutrientes para a muda em
formação. Em geral, o termo 'substrato' refere-se a materiais dispostos em
recipientes, mas pode incluir também o solo da sementeira ou do viveiro, onde
muitas vezes se dá o desenvolvimento inicial da muda. As características mais
adequadas para uso como substrato são semelhantes para materiais em
recipientes ou para o solo em sementeira ou viveiro.

O substrato é um dos muitos fatores que condicionam o sucesso na


propagação de plantas. Na opção por um determinado material como substrato,
objetiva-se otimizar as condições ambientais para o desenvolvimento da planta em
uma ou mais etapas da propagação. Se utilizado um material adequado e as
demais condições também forem satisfeitas, o desenvolvimento da muda será
satisfatório, tendo-se como resultado a obtenção de uma planta com capacidade
de expressar futuramente o potencial produtivo da cultivar. Por outro lado, o uso
de materiais inadequados, além da sua ineficiência nos métodos de propagação,

43
originará plantas com problemas de desenvolvimento e com reflexos negativos
sobre a futura produção.

Inúmeros materiais podem ser usados como substratos na produção de


mudas. A escolha do substrato, ou mistura de substratos, mais adequada para
uma determinada situação é função da técnica de propagação, da espécie (e, em
alguns casos, da cultivar), das características do substrato, do custo e da
facilidade de obtenção de cada material. Podem estar incluídos desde materiais
que permitam a germinação das sementes e o posterior desenvolvimento dos
'seedlings', até outros que possibilitem o enraizamento de estacas e o
desenvolvimento das raízes adventícias, bem como materiais que proporcionem
condições adequadas para a aclimatização de plantas propagadas através de
técnicas de micropropagação. Em linha gerais, um bom substrato é aquele que: a)
é firme e denso o suficiente para manter a estrutura de propagação em condições
até a germinação ou enraizamento; b) não encolhe ou expande com a variação da
umidade; c) retém água em quantidade suficiente; d) é suficientemente poroso
para permitir a drenagem da água e a aeração; e) está livre de invasoras,
nematóides ou outros patógenos; f) não apresenta um nível excessivo de
salinidade e g) permite a esterilização por vapor.

Substratos para Sementes

Na propagação por sementes, o substrato tem a finalidade de proporcionar


condições adequadas à germinação e/ou desenvolvimento inicial da muda.
Conforme a técnica de propagação adotada, pode-se dispor de um mesmo
material durante todo o período de formação da muda, bem como se utilizar
materiais diferentes em cada fase (até a germinação, da germinação até a
repicagem e da repicagem, ao enviveiramento). É a técnica de propagação que
indicará qual o substrato mais indicado para cada situação. Um bom substrato é
aquele que objetiva proporcionar condições adequadas à germinação e/ou
surgimento e/ou desenvolvimento do sistema radicular da muda em formação.

44
Características do Substrato

Considerando que, tanto a germinação quanto o desenvolvimento das mudas


requer água, oxigênio e suporte físico, o bom substrato deve:

a) Proporcionar um adequado equilíbrio entre a umidade e a aeração. Para


tanto, deve ter boa capacidade de drenagem da água, mas retendo suficiente teor
de umidade que garante água suficiente para a embebição da semente e para o
metabolismo da muda. O fornecimento de oxigênio ao embrião pode ser limitado
pelo substrato, em função de sua má drenagem e da baixa taxa de difusão do
oxigênio na água;

b) Proporcionar ambiente escuro, em virtude de muitas espécies serem


fotoblásticas negativas e das raízes serem fototrópicas negativas;

c) Boa capacidade de suporte físico da muda, bem como aderência às raízes,


fato especialmente importante na repicagem da muda para o viveiro ou pomar;

d) Conter nutrientes essenciais para o desenvolvimento sadio da planta. No


caso de se utilizar um substrato apenas para a germinação, a presença de
nutrientes não é necessária, podendo-se apenas lançar mão de materiais inertes,
pois a germinação ocorre às custas da reserva da semente. Entretanto, tão logo
as raízes passem a ser funcionais, os nutrientes devem estar presentes;

e) Estar isento de inóculo de patógenos ou saprófitos, os quais podem


prejudicar a germinação e o desenvolvimento das mudas. A presença de
patógenos pode provocar a ocorrência de "dumping-off", que ocasiona desde um
baixo índice de sobrevivência das plantas na repicagem até a morte das plântulas
logo após sua emergência;

f) Estar isento de propágulos (sementes ou estruturas vegetativas) de


invasoras, especialmente no caso de a muda oriunda deste processo ser
comercializada ou levada ao campo com torrão.

Além disso, um bom substrato deve ser de baixa densidade e deve ter uma
composição química e física equilibrada, elevada CTC, boa capacidade de

45
aeração e drenagem, boa coesão entre as partículas e adequada aderência junto
às raízes. Podem ser úteis, na avaliação de um substrato, parâmetros físicos tais
como a porosidade total, densidade, proporção do tamanho de partículas, espaços
com ar e água, condutividade hidráulica saturada e insaturada.

Utilização

A germinação das sementes pode acontecer em qualquer material que


proporcione reserva de água suficiente para a germinação, como, por exemplo,
papel-toalha, areia, serragem e outros. Entretanto, na produção comercial de
mudas, o uso destes materiais é bastante restrito, sendo os mesmos mais
utilizados em testes de germinação. Cuidados especiais devem ser dispensados
quando do uso de serragem, pois, em estado fresco, pode liberar toxinas
prejudiciais às sementes e à plântula. No caso de se utilizar materiais inertes, é
convenientes fazer a transferência para um meio com nutrientes tão logo ocorra a
emergência.

Inúmeros materiais são citados na literatura como adequados para a


germinação e/ou desenvolvimento de plantas propagadas por sementes. Na
Tabela são apresentadas algumas características de materiais que podem ser
utilizados como substratos na propagação por sementes.

Em diversos trabalhos, os latossolos foram utilizados como substratos para a


germinação e o crescimento inicial de mudas de citros. Entretanto, alguns autores
concluem que o latossolo vermelho escuro como substrato não deve ser
recomendado na produção de porta-enxertos de limoeiro "Cravo" em citropotes,
devido à compactação e alta retenção de umidade.

46
A associação de materiais, especialmente em mistura com o solo, permite
melhor as condições para desenvolvimento das mudas. Assim, a grande maioria
dos trabalhos com substratos na fase de desenvolvimento de mudas inclui
misturas de solo(s), vermiculita e materiais orgânicos na etapa de
desenvolvimento das mesmas. É aconselhado misturar-se ao solo materiais como
areia e materiais orgânicos, como forma de melhorar a textura e propiciar
melhores condições para o desenvolvimento das mudas. Em misturas, o solo e a
turfa participam como retentores de umidade e nutrientes e a areia, serragem ou
casca de arroz, como condicionadores físicos. A mistura com materiais orgânicos

47
beneficia as condições físicas do substrato e fornece nutrientes, favorecendo o
desenvolvimento das raízes e da planta como um todo.

Considerando o solo como substrato em uma sementeira, é importante


observar os seguintes aspectos: a) a sementeira deve estar localizada fora da
área de produção e não deve ser usada por mais de dois anos consecutivos,
como forma de diminuir o potencial de inóculo de patógenos; b) deve haver uma
pequena declividade, pela exposição à luz e boa disponibilidade de água para
irrigação; c) é conveniente que se utilizem solos com textura média; d) com a
finalidade de se evitar problemas com patógenos ou invasoras, pode ser efetuada
a esterilização do substrato. Esta pode ser feita com uso de brometo de metila,
fosfina, fungicidas ou ainda com uso de calor (105ºC por 30 minutos); e) deve ser
prevista uma rotação de culturas antes da implantação de sementeira,
especialmente se na mesma área foram cultivadas espécies perenes; f) o
suprimento de água deve ser adequado, devido à necessidade para a germinação
e à sensibilidade das plântulas de déficit hídrico; g) o pH do solo deve ser ajustado
com corretivos para o nível adequado para a espécie a ser propagada; h) quando
do suprimento de nutrientes, devem ser tomados cuidados com o excesso de
adubação, especialmente nitrogenada. O excesso de sais inibe a germinação,
além do que o desequilíbrio nutricional pode favorecer a ocorrência de doenças. O
manejo da adubação depende essencialmente do tempo de permanência da muda
na sementeira.

Mesmo que um substrato possa não reunir todas estas qualidades, deve-se
selecionar aquele que reúne o maior número de vantagens, pois isto está
estreitamente relacionado com a eficiência do sistema de propagação e da
viabilidade de uso de recipientes. Assim, a escolha do recipiente deve considerar
as qualidades de cada material, o método de propagação e os efeitos que ele
proporciona sobre o crescimento da muda.

Recipientes

Entende-se por recipiente todo e qualquer material destinado a acondicionar o


substrato durante a produção de mudas. O uso de recipientes tem acompanhado

48
a evolução tecnológica dos sistemas de propagação, pois são ferramentas
indispensáveis na produção intensiva de mudas. Na medida em que se avança na
pesquisa de substrato para a propagação, os recipientes assumem cada vez mais
importância. Embora, em diversos casos a produção de mudas diretamente no
viveiro, dispensando o uso de recipientes, possa ser mais econômica, cada vez
mais a produção de mudas embaladas vem sendo adotada. Mesmo nesses casos,
os recipientes podem tomar parte em alguma das etapas da propagação. É o caso
de mudas cítricas – o porta-enxerto pode ser inicialmente desenvolvido em tubetes
ou bandejas e após, as mudas são transferidas para o viveiro, onde são mantidas
até a comercialização. Em outras situações, toda a produção da muda pode ser
feita em um ou mais recipientes.

A adoção de recipientes na produção de mudas apresenta, como principais


vantagens:

a) Quando associado ao uso de telados ou estufas, permite o cultivo sob


quaisquer condições climáticas, o que permite cumprir-se rigorosamente um
cronograma de produção;

b) Redução da utilização de tratores e carretas na área de viveiro;

c) Redução do tempo necessário para a produção das mudas (em mudas


cítricas, no sistema de sementeira, são necessários 18 a 24 meses para produção
das mudas, enquanto que, com uso de bandejas ou tubetes, são necessários 12 a
15 meses);

d) Redução da competição entre as mudas;

e) Redução da área necessária de viveiro;

f) Proteção do sistema radicular contra danos mecânicos e desidratação;

g) Proteção da muda contra doenças e pragas de solo, além de facilitar,


quando necessário, a prática da esterilização do substrato;

h) Aumento da facilidade no transporte das mudas;

i) Redução do estresse no momento do transplante.

49
Três aspectos são essenciais quando da produção de mudas em
recipientes:

a) Manutenção da umidade, especialmente em recipientes com pequena


capacidade de acondicionamento de substrato;

b) Adubação, pois o substrato pode facilmente ser esgotado quanto à


disponibilidade de nutrientes;

c) Limitação ao desenvolvimento radicular, aspecto que deve ser


constantemente observado, de modo que o recipiente não venha a ser uma
barreira para as raízes, a ponto de prejudicar o crescimento da muda.

É conveniente que um bom recipiente apresente as seguintes


características:

* Ter boa resistência para suportar a pressão devida ao peso do substrato e da


planta.

* Permitir que a planta tenha um rápido desenvolvimento inicial.

* Acondicionar o volume adequado de substrato.

* Possuir bom sistema de drenagem.

* Possibilitar boa retenção da umidade.

* Permitir boa retenção do substrato.

* Ter durabilidade a ponto de resistir durante todo o processo de produção da


muda.

* Ser de fácil manejo quando da transferência (leveza e resistência).

* Ter baixo custo de aquisição.

* Ser reutilizável ou construído com material facilmente reciclável.

50
Tipos de Recipientes

Vários são os recipientes utilizados na produção de mudas. Entre estes, podem


ser citados: sacos plásticos, tubetes, citropotes, bandejas plásticas ou de isopor,
caixas de madeira ou metal, vasos plásticos, entre outros. A seguir, serão
descritas alguns dos principais recipiente utilizados na propagação comercial:

Figura 13: diferentes tipos de recipientes

Sacos plásticos: são recipientes que podem apresentar as mais diferentes


dimensões, tais como 8 cm (diâmetro) x 12 cm (altura) e 12 x 20 cm.
Normalmente, apresentam coloração preta ou escura para impedir o
desenvolvimento de algas e invasoras dentro do recipiente e proporcionar
melhores condições de desenvolvimento para as raízes. São perfurados na sua
base para a drenagem da água. Apresentam a vantagem de serem muito
versáteis, adaptando-se a uma grande variedade de situações, além de terem
baixo custo de aquisição, serem reutilizáveis e serem de fácil manejo. Porém, se o
plástico for de pouca espessura, facilmente rompem devido ao peso do substrato
ou ao crescimento das raízes e não permitem a sua reutilização por várias vezes.

51
Além disso, se as perfurações devem estar localizadas próximo à base da
embalagem, caso contrário, não permitem um bom escoamento da água em
excesso, prejudicando o crescimento da muda. É importante atentar-se para a
qualidade do plástico, além do número e posição das perfurações no momento da
aquisição.

Figura 14: Sacos plásticos.

Tubetes: são recipientes de formato cônico, construídos em plástico rígido e


de cor escura. Internamente, apresentam estrias que impedem o enovelamento
das raízes. Podem acondicionar diferentes volumes de substrato. Para o uso dos
tubetes, é necessário um sistema de suporte, que pode ser uma bandeja de
isopor, de plástico ou metal, bem como uma bancada com fios de arame
distanciados de forma a possibilitar a colocação dos tubetes. Assim, os tubetes
ficam suspensos, de modo que a sua base fique exposta ao ar, proporcionando a
denominada "poda pelo vento" das raízes. Apresentam a vantagem de serem
reutilizáveis por muitas vezes, além de permitir a produção de um grande número
de mudas por unidade de área. Por serem unidades independentes, os tubetes
permitem a seleção das mudas com a embalagem. Por reterem um pequeno
volume de substrato, requerem que se retire a muda tão logo as raízes ocupem

52
todo o substrato – por isso, são úteis para a primeira etapa da propagação, além
de necessitarem de irrigações periódicas, visto que o substrato facilmente se
resseca. Dependendo do substrato, o tubete pode não reter o mesmo, que é
perdido pelo orifício na base.

Figura 15: tubetes

Bandejas: podem ser confeccionadas em plástico, normalmente apresentando


um espaço único e contínuo para acondicionamento do substrato, bem como
podem ser feitas de poliestireno expandido (isopor), constituídas de um número
variável de células, nas quais é feita a produção da muda. As células apresentam
forma piramidal invertida, com capacidade de até 120 cm 3 de substrato por célula.
Na base, a célula apresenta um orifício para escoamento da água. As bandejas
podem ser reutilizadas por diversas vezes. Assim como o tubete, as bandejas são
úteis na primeira etapa da propagação, pois acondicionam pequeno volume de
substrato. Preferencialmente, as bandejas devem ficar suspensas, permitindo a
"poda pelo vento". A durabilidade da bandeja está em função do ambiente onde é
feita a propagação e do cuidado no manuseio das mesmas. Para uma dada
espécie, em sistemas tradicionais de propagação (viveiros), podem ser produzidas
cerca de 25 a 30.000 mudas/ha, enquanto com uso de bandejas, podem ser
produzidas cerca de 200.000 mudas/ha.

53
Figura 16: estaquia em bandejas plásticas

Figura 17: mudas em bandejas de isopor.

Citropotes: também conhecidos como "containers", apresentam esta


denominação, por terem sido desenvolvidos e difundidos para a produção de
mudas cítricas. São confeccionados em plástico preto rígido e acondicionam

54
grande volume de substrato, de modo a permitir que a muda seja mantida neste
recipiente desde a repicagem da muda (produzida em tubetes ou bandejas) até a
comercialização e apresentam diversas vantagens, dentre as quais a facilidade de
manuseio da muda, a possibilidade de produção de mudas numa mesma área
durante vários anos (desde que o substrato seja oriundo de local isento de
patógenos), bem como permitindo o plantio da muda no pomar sem danos ao
sistema radicular. Uma das principais limitações ao uso do citropote é o levado
custo.

Figura 18: Citropotes

Na propagação por sementes, são comumente utilizados os sacos plásticos, as


bandejas e os tubetes, já na propagação por estacas, é mais comum o uso de
sacos plásticos, embora ensaios feitos com bandejas e tubetes tenham, até o
momento, proporcionado resultados bastante promissores.

55
Semeadura direta

Preparo da sementeira ou substrato: a semeadura pode ser realizada em


sementeiras (canteiros) ou em substrato acondicionado em recipientes. Em ambos
os casos, deve-se preparar o leito para germinação de forma que sejam
conferidas condições de umidade, drenagem (aeração) e contato com a semente
(especialmente se a semente for muito pequena). Além disso, é conveniente o uso
de materiais orgânicos ou adubação mineral adicionados ao substrato, bem como
a correção do pH do solo, visando um rápido crescimento inicial da muda. Em
algumas situações, quando a plântula é muito sensível às pragas e patógenos ou
há grande infestação destes organismos no solo ou substrato, pode ser feito o
tratamento de desinfestação, com uso de fumigantes (brometo de metila, ou
fosfina), fungicidas ou calor (105ºC durante 30 minutos). É recomendável que a
sementeira esteja localizada em área com pequena declividade, bem exposta ao
sol, afastada do pomar e com boa disponibilidade de água para irrigação. A área
também deverá estar livre de invasoras como grama-seda (Cynodon dactylon) e
tiririca (Cyperus rotundus).

O solo deve ser, preferencialmente, de textura média, bem drenado e bem


estruturado. A área da sementeira deve ser utilizada por, no máximo dois anos,
sendo após utilizada para rotação de culturas.

Semeadura e cuidados iniciais com as plântulas: a semeadura pode ser


feita a lanço ou em linha, sendo que a semeadura em linha facilita grandemente
os tratos culturais.

A época é determinada pelas necessidades de temperatura para a germinação.


As culturas de estação fria são semeadas no inicio da primavera, quando as
temperaturas são baixas e, do mesmo modo, as sementes que requerem altas
temperaturas não se semeiam até que o solo tenha se aquecido. A época também
se fixa de acordo com a época em que se deseja a colheita.

Um dos problemas da semeadura a campo é determinar a densidade


necessária para obter a população de plantas desejada, uma vez esta

56
determinada, se pode calcular a densidade de semeadura requerida si se conhece
a percentagem de germinação, a percentagem de pureza e o número de
sementes por unidade de peso:

Kg (ou g) de semente necessária = Número de plantas desejado por unidade de superfície

por unidade de superfície Número de sementes por Kg (g) x % germinação x % pureza

O valor obtido é o número mínimo de sementes que se deve utilizar, sendo


aconselhável aumentar a densidade para compensar as perdas que ocorrem no
canteiro.

As sementes de muitas árvores caducifólias são semeadas diretamente em


sulcos de viveiro. Este procedimento é utilizado para produzir porta-enxertos de
frutíferas caducifólias quando as plantas irão ser enxertadas no mesmo local; o
espaçamento entre os sulcos deve ser de aproximadamente 1,20m e as sementes
no sulco espaçadas entre 8 a 10 cm.

A profundidade da semeadura depende do tamanho da semente, a condição


do leito de germinação e das condições ambientais na época de semear.
Semeando demasiado profundo, pode falhar a germinação porque a plântula não
consegue sair por haver esgotado suas reservas. Ademais, em profundidades
maiores pode haver pouca aeração. A profundidade adequada está relacionada
com a provisão de umidade. Uma semeadura muito superficial deixa a semente
nas camadas superiores do solo onde estão expostas a secar-se. Em solos
arenosos leves, ou durante períodos de tempo cálido, uma semeadura mais
profunda é melhor, enquanto que, em solos mais pesados e durante períodos de
tempo frio e nublado, é possível semear mais superficialmente. Uma regra geral é
semear a uma profundidade igual a 3 ou 4 vezes seu tamanho, assegurando-se
de que essa profundidade fique dentro da camada úmida do canteiro.

Um dos maiores cuidados após a semeadura é quanto à manutenção de


umidade do solo, o que pode ser feito com uso de irrigações periódicas e da

57
cobertura com palha ou outro material. Esta prática visa, além de manter a
umidade, controlar a incidência de invasoras. Outro cuidado essencial é quanto à
incidência de pragas e doenças, principalmente do "damping-off" (causado
principalmente por fungos dos gêneros Pythium, Rhizoctonia e Phytophthora).
Estas doenças são favorecidas pela elevada densidade de plântulas, alta umidade
na sementeira, bem com pela grande sensibilidade das plântulas aos patógenos.
Para tanto, é necessário o constante monitoramento e controle das pragas e
patógenos, normalmente com uso de defensivos. O controle de invasoras é
essencial nesta fase, podendo ser feito manualmente ou com uso de herbicidas.

Figura 19: Semeadura direta em sementeira.

Seleção e repicagem das mudas: tão logo as plântulas tenham atingido um


tamanho mínimo que suporte a repicagem, são transferidas para o viveiro, aonde
irão se desenvolver até a enxertia e/ou a comercialização. No momento da
repicagem, é feita uma seleção das mudas. Isto favorece a uniformidade no
viveiro, com reflexos positivos tanto no manejo da muda, quanto na enxertia e na
comercialização. Em alguns casos, esta repicagem não é realizada. Em

58
pessegueiro, por exemplo, pode ser feita a semeadura direta no local onde
posteriormente será feita a enxertia. Em outras situações, devido à elevada
sensibilidade das plantas ao estresse da repicagem, a semeadura pode ser feita
em uma embalagem (saco plástico de dimensões grandes), com posterior enxertia
estando a muda nesta embalagem. Esta técnica é adotada em abacateiro.

Em geral, a semeadura direta é mais econômica, pois não é necessário o uso


de instalações especiais e não implica o manejo individual das mudas. Em muitas
espécies de plantas é o único médio satisfatório a utilizar. É o método standard
nas plantas de grandes culturas e muitas olerícolas comerciais. A menor

Figura 20: Semeadura direta em linha.

percentagem de germinação geralmente obtida, pode ser compensada


aumentando a densidade de semeadura e o raleio posterior. Este procedimento é
factível quando o custo da semente não é um fator de importância. A semeadura
direta produz um crescimento continuo e rápido, sem o retardamento associado ao
transplante. O tempo total entre semeadura e colheita é menor que nos outros

59
métodos. Algumas plantas como milho, feijão, pepino, vagem, ervilha, melancia,
cenoura, almeirão e rabanete não toleram o transplante e quase sempre são
semeadas diretamente no campo. Já beterraba, brócolis, repolho, couve-flor,
alface, tomate, morango e chicória são tolerantes. E outras como salsão, berinjela,
cebola e pimentão, necessitam certo cuidado. Esta classificação refere-se ao
transplante de mudas de raízes nuas. O comportamento das plantas pode mudar
completamente quando formadas em recipientes, ou transplantadas com torrão.

II. PROPAGAÇÃO ASSEXUADA

ESTAQUIA

A estaquia é um dos mais importantes processos de propagação vegetativa. O


termo "estaca" refere-se a qualquer parte destacada da planta-mãe, capaz de
regenerar um planta nova e completa. Baseia-se na propriedade que os diversos
órgãos vegetais apresentam, geralmente, de, mesmo quando fragmentado
convenientemente, serem susceptíveis de regenerar ou criar os órgãos ou partes
que lhes faltam para constituírem plantas completas.

Para espécies lenhosas, entre os métodos de propagação vegetativa, a


estaquia é, ainda, a técnica de maior viabilidade econômica para o
estabelecimento de plantios clonais, pois permite, a um custo menor, a
multiplicação de genótipos selecionados, em um curto período de tempo.

Em fruticultura, silvicultura e floricultura o emprego de estacas é bastante


difundido, pois várias espécies têm sua multiplicação baseada na estaquia.

A propagação vegetativa tornar-se-á comum para muitas espécies


comercialmente importantes dentro dos próximos anos e a tecnologia de
enraizamento de estacas continuará a ser o procedimento mais econômico para a
propagação em grande escala.

60
As estacas podem ser retiradas tanto da parte aérea quanto da parte
subterrânea da planta original. Quando retirada da parte aérea ela pode ser
herbácea ou lenhosa ao passo que as estacas radiculares são lenhosas. Existem
três tipos básicos de estacas: foliar, radicular e caulinar. Em fruticultura,
praticamente não se utilizam estacas foliares, sendo seu uso mais freqüente na
propagação de plantas ornamentais.

As estacas radiculares são pouco comuns e de pouco uso, podendo ser


usadas em cerejeira, goiabeira, caquizeiro, framboeseira, amoreira-preta, fruta-
pão, nogueiras e várias outras espécies. As estacas de raiz nem sempre
reproduzem fielmente as características da planta matriz, o que é uma das
principais vantagens da propagação vegetativa (Hartmann et al., 1990). Segundo
os mesmos autores, em plantas que apresentam quimeras periclinais, onde as
células das camadas externas têm uma constituição genética diferente daquela
dos tecidos internos, o desenvolvimento de uma nova planta por estaca radicular
resulta em uma planta que difere da planta original.

A. Estacas foliares

Um grande número de espécies de plantas tanto monocotiledôneas quanto


dicotiledôneas, podem iniciar-se com estacas de folha. Embora nessas estacas a
origem das novas brotações e das novas raízes é bastante diversa, em geral
podem ser agrupadas naquelas que se desenvolvem de meristemas primários ou
de meristemas secundários, sendo este último tipo o mais freqüente.

A.1. Estacas de folha com meristemas primários: na figura são mostradas


folhas separadas de Bryophyllum (Kalanchoe) com pequenas mudas que saem da
margem da folha. Essas mudinhas se originam dos chamados ‘embriões foliares’
formados nos períodos muito iniciais do desenvolvimento da folha, de um grupo de
células da margem da mesma. Na medida em que a folha se expande, o embrião
foliar se desenvolve até que consiste de duas folhas rudimentares e um ‘pé’ que
se estende até uma nervura. Quando a folha amadurece, no embrião foliar cessa
a divisão celular e fica latente. Se a folha se separa e coloca em contato com um

61
meio de enraizamento úmido, as plantas jovens abrem caminho rapidamente
através da epiderme foliar formando raízes, após varias semanas formam-se
muitas plantas independentes, morrendo a folha original. Assim, pois, as novas
plantas se desenvolvem dos meristemas primários latentes que não alcançaram
características maturas.

Figura 21: Estacas foliares Bryophyllum spp.

62
A.2.Estacas de folha com meristemas secundários: nas estacas de folhas
de algumas plantas, como Begonia rex, Sedum, violeta africana (Saintpaulia),
Sansevieria, Crassula e lírios (Lilium), se desenvolvem novas mudas de
meristemas secundários que se originam de células maduras na base do limbo da
folha ou do pecíolo.

Estacas foliares Crassulaceae Estacas foliares de Begonia rex

Figura 22: Estacas foliares

Em Lilium, o primórdio da gema se origina nas células parenquimáticas do lado


superior da escama do bulbo, enquanto que o primórdio da raiz se origina de
células parenquimáticas localizadas justamente embaixo do primórdio da gema.

Na violeta africana aparecem novos brotos e novas raízes pela formação de


novas células meristemáticas a partir de células maduras nas folhas.

Em varias espécies, como Ipomea batatas, Peperomia e Sedum, as raízes e


caules novos das estacas foliares surgem no tecido de calo que se desenvolve na
superfície cortada, devido à atividade dos meristemas secundários.

Nas folhas, as iniciais adventícias da raiz se formam com muita maior


facilidade que as gemas adventícias. Em algumas plantas como Fícus elastica e a
camélia, a estaca deve incluir uma porção de caule velho com uma gema axilar,

63
porque embora se possam desenvolver raízes adventícias na base do pecíolo,
não é provável que se forme um caule adventício.

Estacas de raiz

Nas estacas de raiz se devem produzir caules e, em alguns casos, raízes


adventícias. Em muitas plantas as gemas adventícias se formam facilmente sobre
raízes intactas, especialmente quando são feridas. Nas raízes jovens, essas
gemas se podem originar no periciclo, perto do câmbio vascular; nas raízes
velhas, as gemas podem originar-se exogenamente no felogênio.

Nos troços de raiz, a iniciação de gemas é estimulada com aplicação de


citocininas, por outra parte, as auxinas, inibem a formação de brotações nas
estacas de raiz.

A regeneração de plantas novas a partir de estacas de raiz se efetua em


diversas formas, dependendo da espécie. O tipo mais comum é no qual as
estacas de raiz produzem primeiro um caule adventício, aparecendo depois as
raízes, freqüentemente da base do novo caule e não da estaca original de raiz.
Algumas espécies que podem se propagar por estacas de raiz são: Malus sp.,
Morus sp., Pyrus calleryana, Robinia hispida (acácia rosa), Robinia pseudoacacia
(acácia falsa), entre outras.

Figura 23. Estaquia de raiz em amora-preta

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Estacas caulinares

O método mais difundido e de uso mais comum na propagação vegetativa por


enraizamento é a estaca de ramos ou estaca caulinar.

As estacas caulinares classificam-se em função do grau de lignificação do


caule em:

A. Herbáceas. Nas estacas herbáceas o enraizamento tende a ser mais fácil,


mas exige maior controlo ambiental. Estas estacas são preparadas a partir de
caules herbáceos, com cerca de 7 a 10 cm, frequentemente com folhas. O
enraizamento requer elevada humidade relativa. Sob condições adequadas, o
enraizamento tende a ser rápido, com elevadas percentagem de sucesso. A
utilização de promotores do enraizamento não é indispensável, mas melhora a
uniformidade da distribuição das raízes. Exemplos de plantas ornamentais
propagadas por estacas herbáceas: Coleus, crisântemo, craveiro, gerânio.

B. Semi-herbáceas. Estacas preparadas a partir da rebentação nova de


espécies arbóreo-arbustivas de folha caduca ou persistente. As estacas semi-
herbáceas são colhidas na primavera, normalmente preparadas com 7 a 10 cm de
comprimento, contendo pelo menos 2 nós e folhas. Deve-se evitar utilizar as
partes dos ramos muito herbáceas e em crescimento activo e preferir material já
um pouco atempado, mas que mantenha a sua flexibilidade. Se as folhas forem
excessivamente grandes, deve.se cortar a meio, para reduzir a superfície de
transpiração. Enraízam mais facilmente do que estacas mais atempadas, mas
requerem mais atenção e melhor controlo ambiental. Respondem bem à utilização
de promotores de enraizamento. Beneficiem da utilização de aquecimento do
substrato (23 a 27 ºC), mantendo-se o ar a uma temperatura inferior (cerca de 21
ºC). Exemplos de plantas ornamentais propagadas por estacas semi-herbáceas:
Magnolia, Forsythia, Pyracantha.

C. Semi-lenhosas. As estacas semi-lenhosas são preparadas a partir de


espécies lenhosas de folha persistente (excepto coníferas) ou de material de
espécies de folha caduca desde que colhido no verão. As estacas são preparadas
com 7 a 15 cm de comprimento, com folhas. Necessitam de sistemas de mist e

65
beneficiam do aquecimento basal. Exemplos de plantas ornamentais propagadas
por estacas semi-lenhosas: Camélia, azevinho, Fuchsia, Erica.

D. Lenhosas. As estacas lenhosas são menos perecíveis do que as anteriores,


pelo que exigem menos cuidados na sua preparação e não exigem controle
ambiental durante o enraizamento. Utilizam-se na propagação de espécies
lenhosas de folha caduca. Nas espécies de folha caduca, as estacas colhem-se
entre a queda da folha e a rebentação primaveril e prepara-se a partir de madeira
do crescimento da estação anterior. Deve-se descartar a ponta dos ramos,
normalmente pobre em reservas, e preferir a parte central e basal. As estacas
lenhosas variam muito em comprimento, podendo ir de 10 a 70 cm. Exemplos de
plantas ornamentais propagadas por estacas lenhosas diversas árvores e
arbustos ornamentais, choupo, Salix, porta-enxertos de roseira.

As estacas caulinares lenhosas podem ainda ser:

Simples

Com talão

Em cruzeta

A estaca simples é a mais freqüente e dá bons resultados na maioria dos


casos. Em alguns casos o enraizamento é favorecido pela presença de um talão
(pequena porção de madeira velha) ou de uma cruzeta (secção do caule de
madeira mais velha).

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Figura 23. Estacas caulinares lenhosas simples de videira

O desenvolvimento anatômico das raízes nas estacas

Para compreender a origem das raízes adventícias é necessário ter


conhecimento da estrutura interna do caule. Na figura são mostradas secções

Figura 24: Origem das raízes adventícias.

transversais de um caule herbáceo e de um lenhoso, indicando-se os principais


tecidos.

O processo de desenvolvimento das raízes adventícias nas estacas caulinares


pode ser dividido em três fases: a) formação de grupos de células meristemáticas

67
(as iniciais da raiz); b) diferenciação desses grupos de células em primórdios de
raiz reconhecíveis; e c) desenvolvimento e emergência das novas raízes, incluindo
a ruptura de outros tecidos do caule e a formação de conexões vasculares com os
tecidos condutores da estaca. Neste tipo de estacas, as raízes adventícias se
originam e desenvolvem vizinhas e para o exterior do cilindro central do tecido
vascular (câmbio e células muito jovens do floema). Ao emergir do caule, a raiz
adventícia geralmente já tem diferenciados uma coifa e os sistemas de tecidos
normais da raiz, bem como uma conexão vascular completa com o caule do qual
se originou.

Em algumas plantas, a formação de raízes é precedida pelo aparecimento de


um calo na base das estacas. Segundo alguns autores, a presença de calos
possui relação com a formação das raízes e, neste caso, o calo serve para indicar
que as condições são adequadas para o enraizamento, pois suas exigências são
similares. Normalmente o calo surge a partir da atividade cambial, havendo, no
entanto, a participação de outros tecidos, como parênquima cortical e felogênio,
parênquima floemático e xilemático, raios medulares e medula. Com freqüência,
as primeiras raízes aparecem através do calo, levando à suposição de que a
formação do calo é essencial para o enraizamento, no entanto, a formação do calo
e a formação de raízes são independentes. Os primórdios radiculares têm origem
endógena, originando-se de tecidos do floema, dos raios medulares, do câmbio,
de gemas e traços foliares, de calos internos, de calos externos, de lenticelas, de
canais resiníferos, de córtex e em alguns casos raros onde tecidos maduros
novamente tornam-se meristemáticos, ou seja, a origem da raiz adventícia é
variável entre as espécies e entre as situações, não podendo ser generalizada.

Evidências existem de que o enraizamento de estacas é controlado


geneticamente, no entanto, ainda não foi determinado se os efeitos genéticos são
diretos, correlacionados ou regulatórios, nem como eles se manifestam
bioquimicamente e fisiologicamente.

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Ao selecionar o material para a coleta e preparação de estacas deve-se
considerar: a) condição fisiológica da planta-mãe; b) idade da planta-mãe; c) tipo
de estaca; d) época do ano; e) posição na copa; e f) estádio de maturação.

1. Condição fisiológica da planta mãe

Há muitas evidencias indicando que a nutrição da planta mãe exerce uma forte
influencia sobre o desenvolvimento das raízes e brotações nas estacas delas
tomadas. Kraus e Kraybill (1918) observaram faz muito tempo, fazendo estacas de
tomateiro, que as plantas com caules amarelados, ricos em carboidratos mas
pobres em nitrogênio, produziam muitas raízes, enquanto que aquelas de caules
verdes, com boa provisão de carboidratos porém mais ricos em nitrogênio,
produziam menos raízes. Os caules verdes, suculentos, muito pobres em
carboidratos e ricos em nitrogênio, apodreceram sem produzir raiz.

Um método para escolher o material para estacas que tenha alto teor de
amido, é a prova de iodo. Os extremos recém cortados de um molho de estacas
se submergem por um minuto em solução de 0,2% de iodo, em iodeto de potássio.
As estacas com maior conteúdo de amido se tingem de cor mais escura. Isto
permite fazer uma classificação das estacas em ricas, medianas e pobres em
carboidratos. Em provas com videira, 63% das estacas ricas em carboidratos
enraizou, 35% das medianas e somente 17% das pobres produziram raízes.

Num outro trabalho, foi observado que estacas de videira provenientes de


plantas fertilizadas com zinco, enraizaram em maior percentagem e com melhor
qualidade do que aquelas tomadas de plantas não tratadas. Isto se deveria ao
aumento na produção de auxina natural que resulta do incremento no nível de
triptofano (precursor da auxina) que se encontra nas plantas tratadas (o zinco é
necessário para a síntese e triptofano). De fato, aplicação de triptofano sintético
aumenta o enraizamento de videira.

As plantas matrizes devem mostrar crescimento vegetativo ativo e não devem


ter entrado em floração para terem alta capacidade geradora.

Nas plantas mãe, o equilíbrio de baixo teor de nitrogênio e elevado de


carboidratos, pode ser conseguido de diversas maneiras:

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(a) Reduzir a provisão de nitrogênio às plantas matrizes, isto reduz o
crescimento dos ramos e permite a acumulação de carboidratos.

(b) Qualquer tipo de restrição das raízes das matrizes reduz o crescimento
vegetativo excessivo e favorece a acumulação de carboidratos.

As plantas propagadas por sementes possuem raiz principal ou pivotante e


raízes secundárias ou laterais. Ao utilizar a estaquia, as plantas produzidas não
possuem raiz pivotante, apenas raízes adventícias.

Na maioria das plantas, a formação das ocorre depois de feita a estaquia. As


raízes laterais emergem da raiz principal e seu meristema é comparável aquele do
ápice da raiz principal. Os processos anatômicos que ocorrem na iniciação de
raízes adventícias são fundamentalmente semelhantes para todas as espécies
examinadas, e são semelhantes àqueles que ocorrem na formação de raízes
laterais. A organização da estrutura de raízes adventícias e sua seqüência de
desenvolvimento é semelhante, em todos os aspectos, àquela das raízes
verdadeiras.

O tempo em que se desenvolvem as iniciais da raiz, depois de colocar as


estacas no leito de propagação, é variável. Num estudo, as iniciais foram
observadas com microscópio pela primeira vez depois de três dias em crisântemo,
depois de cinco dias em cravo e em roseira, depois de sete dias. No crisântemo,
aos 10 dias emergiram raízes visíveis, mas no cravo e na roseira necessitaram
três semanas para aparecer.

Em algumas plantas, as iniciais das raízes adventícias se formam durante os


primeiros períodos de desenvolvimento do caule intacto e já estão presentes
quando se cortam as estacas. As estruturas deste tipo são chamadas iniciais de
raiz pré-formadas e geralmente permanecem dormentes até cortadas as estacas
e colocadas em condições ambientais favoráveis para seu desenvolvimento
posterior e emergência dos primórdios como raízes adventícias. Essas estruturas
pré-formadas se apresentam em vários gêneros de plantas que enraízam com

70
facilidade, como o salgueiro (Salix), o álamo (Populus), o jasmim (Jazminum) e a
cidreira (Citrus medica).

É importante propiciar condições que permitam um maior desenvolvimento das


raízes adventícias, para favorecer a sobrevivência e o desenvolvimento da muda
após o enraizamento. Neste sentido, dentre outras medidas, podem ser
inoculadas micorrizas que ajudam na formação de um maior sistema radicular.

FITORREGULADORES
Os fitohormônios são substâncias orgânicas que ocorrem naturalmente nas
diferentes partes das plantas em proporções baixíssimas que são translocadas
dos locais de síntese para o local de ação, influenciando o crescimento e
desenvolvimento das plantas. Desde a descoberta dos fitohormônios (década de
20), iniciaram-se trabalhos no sentido de procurar regular o comportamento das
plantas, passando então a serem utilizados os fitorreguladores ou reguladores do
crescimento, que são os análogos dos fitohormônios.

a) Auxinas: têm efeito na promoção da expansão celular, estão envolvidas em


atividades fisiológicas tão diversas como o crescimento do caule, inibição de
gemas laterais, abscisão de folhas e frutos, desenvolvimento dos frutos, ativação
das células do câmbio, e muitas outras.

As principais auxinas utilizadas na propagação são o AIA ou IAA (ácido


indolacético, a auxina natural) e as seguintes auxinas sintéticas: AIB (ácido
indolbutírico), ANA (ácido naflalenacético), 2,4-D (ácido 2,4-diclorofenoxiacético),
entre outros.

A auxina de presença natural é sintetizada principalmente nas gemas apicais e


nas folhas jovens. De maneira normal, se move através da planta do ápice para a
base. Entretanto, a aplicação de quantidades grandes de auxina sintética no
material vegetal por médios artificiais tais como a imersão da base das estacas,
resulta em certa translocação para acima, principalmente pelo xilema.

O conhecimento acumulado da fisiologia das auxinas tem se traduzido em


diversas aplicações práticas, uma das quais é promover a iniciação das raízes nas

71
estacas. Parece que a base fisiológica da iniciação das raízes adventícias pode
residir no nível de auxina presente nos tecidos ou no equilíbrio entre a auxina e
certos outros constituintes da planta.

b) Giberelinas: seu efeito é promover a elongação celular e a ativação de


enzimas hidrolíticas. São utilizadas para promover o crescimento em extensão dos
ramos (para o pré-condicionamento de plantas matrizes) e quebra de dormência
de sementes e de gemas. A principal giberelina usada na propagação é o GA3
(ácido giberélico).

As giberelinas parecem não serem necessárias para a iniciação de raízes


adventícias em estacas de caule. Pelo contrario, as provas realizadas em diversas
espécies mostram inibição do enraizamento. Têm-se provas de que há um efeito
local direto que impede a divisão inicial de células envolvidas na transformação de
tecidos maduros do caule à condição meristemática. Também, é possível que o
efeito inibitório das giberelinas no enraizamento seja causado por estimulo do
crescimento vegetativo, que concorre com a iniciação da raiz.

c) Citocininas: seu efeito é promover a multiplicação celular na presença de


auxinas. Podem ser usadas para facilitar a propagação através de estacas de raiz
e promover a quebra dormência de gemas. As principais citocininas usadas em
propagação são a cinetina, o BAP (benzilaminopurina) e o TDZ (thidiazuron, uma
substância de ação semelhante à citocinina).

Fitorreguladores no Enraizamento de Estacas

Dentre os fitorreguladores, em relação ao enraizamento, sabe-se que as


auxinas (AIA) são os principais responsáveis por esse fenômeno e, de modo geral,
as suas quantidades nos diferentes órgãos das plantas são muito variáveis,
estando relacionadas a fatores tais como:

a) Idade fisiológica da planta e do órgão;

b) Condições ambientais – nas plantas de clima temperado, os maiores níveis


de AIA ocorrem no verão;

72
c) Partes da planta – a concentração do AIA é maior nas regiões de
crescimento ativo e muito baixa em tecidos já diferenciados.

Assim, com o objetivo de se conseguir estacas enraizadas em qualquer época


do ano, deve-se lançar mão das auxinas sintéticas.

Após ter-se confirmado que o AIA promovia o enraizamento (Thimann e Went


1934-1935) as pesquisas continuaram, inclusive usando produtos com estrutura
similar e não similar à auxina na promoção do enraizamento. Assim, em 1935,
Zimmerman e Hitchcock anunciaram a descoberta de uma auxina sintética, o
ácido indolbutírico (AIB ou IBA) e o ácido naftaleno-acético (ANA e NAA). Em
1942, surgiram outras substâncias classificadas também como auxinas, com ação
no enraizamento e que mais tarde seriam usadas como herbicidas, ácido 2,4
diclorofenoxiacético (2,4-D) e ácido 2.45-triclorofenoxiacético (2,4.5-T).

Em 1933, foi descoberta a participação do etileno no enraizamento. O que


poderia ocorrer é que a auxina promovia a síntese de etileno, que por sua vez,
promovia o enraizamento.

Assim, enquanto o AIB e o ANA permanecem como os principais produtos


utilizados para o enraizamento, as pesquisas continuam buscando outros
compostos. Em 1979, surgiram os ésteres do AIA e do AIR e do AIB. Em 1982,
surgiram 2 ésteres (P – IBA – fenil indol – 3 – butirato e o P – ITB – Fenil indol – 3
tio butirato) e uma amida (NP – IBA N-fenil indotil – 3 butiramida). Esses
compostos foram considerados como mais eficientes que o AIB, principalmente
por terem uma toxicidade menor ao tecido vegetal que o AIB. Entretanto, mais
pesquisas serão necessárias sobre a influência desses compostos no
enraizamento.

A seguir, estão relacionados os efeitos benéficos do tratamento:

a) Aumento da percentagem de estacas que formam raízes; b) Aceleração da


iniciação radicular; c) Aumento do número e da qualidade de raízes produzidas
por estaca; d) Aumento da uniformidade de enraizamento.

73
Co-fatores do Enraizamento: os efeitos de folhas e gemas

O fisiologista alemão Sachs (1882) postulou a existência de uma substância


especifica formadora de raízes que era elaborada nas folhas e que se translocava
para abaixo até a base do caule, onde estimulava a formação de raízes. Nos
estudos realizados por Went (1934) sobre a atividade de diversas substâncias
como formadoras de raízes em ervilha, é significativo que para a formação de
raízes fosse essencial que a estaca tivesse pelo menos uma gema. Uma estaca
sem gemas não forma raízes ainda quando tratada com auxinas. Isto indica a
presença de um outro fator distinto da auxina, presumivelmente produzido pela
gema, necessário para a formação de raízes. Em 1933, Bouillenne e Went,
encontraram em cotilédones, folhas e gemas, substâncias que estimularam o
enraizamento e as chamaram de ‘rizocalinas’.

74
Outros experimentos têm mostrado que a quantidade de certa substância de
presença natural, formadora de raízes e diferente da auxina, é essencial para a
iniciação de raízes, e pode ser abundante em algumas plantas e escassa ou ainda
ausente em outras. Foram tratadas com auxinas estacas de macieira e de limoeiro
(Ciampi e Gellini,1938) e após analisar grupos de ambas, se encontrou que havia
pouca diferença na quantidade de auxina recuperada, mas nenhuma estaca de
macieira enraizou, entanto que as de limoeiro sim. Supôs-se que as estacas de
macieira careciam de certas substâncias internas não identificadas (‘rizocalinas’),
necessárias para a formação de raízes; por outra parte, pensou-se que as estacas
de limoeiro tinham essa substância em abundância.

Nas estacas de porta-enxertos de videira, enxertadas em mesa, são retiradas


as gemas para impedir brotações posteriores. O enraizamento ocorre, mas com
maiores dificuldades. Em estacas feitas de ramos com iniciais da raiz pré-
formadas, parece que a presença ou ausência de gemas tem pouca influencia no
desenvolvimento das raízes.

Bouillene-Walrand (1955) propôs que a ‘rizocalina’ pode ser considerada como


um complexo de três componentes: (1) um fator específico, translocado das folhas
e caracterizado quimicamente como orto-dihidroxifenol (2) um fator não especifico
(auxina) que é translocado e se encontra em concentrações biologicamente
baixas; e (3) uma enzima específica que se encontra nas células de determinados
tecidos (periciclo, floema, câmbio) que talvez seja do tipo polifenol-oxidase.
Propôs ainda, que o orto-dihidroxifenol reage com a auxina sempre que está
presente a enzima, dando origem ao complexo ‘rizocalina’. Pensa-se que as
auxinas aplicadas, em altas concentrações, atuam como aceleradoras da
respiração celular e da mitose. A ‘rizocalina’ pode ser considerada como um passo
na cadeia de reações que termina na diferenciação de tecidos e finalmente na
organização de uma estrutura radicular.

Hess (1963) mediante analise do espectro UV e espectrografia infravermelha,


indicou que esse fator de enraizamento era uma estrutura complexa de alto peso

75
molecular e possivelmente um produto de condensação entre a auxina e uma
substância fenólica produzida pelas gemas.

Um complexo indol-fenólico dessa natureza pode reagir na base da estaca com


uma enzima específica, iniciando a divisão celular e conduzindo à formação de
raízes na maneira seguinte:

Co-fator + Auxina Complexo divisão Iniciais das

fenólico (endógena fenol-auxínico celular raízes adventícias

(das gemas) ou aplicada)

Enzima

Parece claro que a auxina é talvez só uma das várias substâncias requeridas
para a iniciação da raiz. Há outros fatores necessários, tanto hormonais como
nutricionais. Em qualquer caso, parece certo que as folhas ou as gemas, ou
ambas, são a fonte dessas substâncias. Hoje, se sabe que essas substâncias
incluem retardantes do crescimento, poliamianas, jasmonatos, brassinoesteróis,
fenóis e salicicatos.

As plantas podem ser divididas em três grupos em relação aos


compostos estimuladores do enraizamento: (a) Aquelas nas que os ramos
proporcionam todas as substâncias naturais, incluindo a auxina, necessárias para
a iniciação das raízes. Quando as estacas são preparadas e colocadas nas
condições ambientais adequadas, ocorre rapidamente a formação de raízes. (b)
Aquelas em que os fatores de existência natural estão presentes, mas a auxina é
limitante. Com a aplicação de auxina, aumenta o enraizamento. (c) Aquelas que
carecem de um ou mais fatores internos, embora a auxina natural possa ou não
estar presente em abundancia. Com a aplicação exógena de auxina se obtém
pouca ou nenhuma resposta, devido à ausência de outros fatores de presença
natural (Plantas recalcitrantes).

Inibidores endógenos do Enraizamento

Pode ser que as estacas de algumas plantas difíceis de enraizar não cheguem
a formar raízes com facilidade devido à presença de inibidores químicos de

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presença natural. As estacas de Vitis verlandieri, que enraízam com dificuldade,
têm alto conteúdo de substâncias inibidoras (ABA, Giberelinas); lixiviando as
estacas com água pode se aumentar a quantidade e qualidade de raízes.

APLICAÇÃO DOS FITORREGULADORES: pode ser feita através de vários


métodos, dos quais os mais importantes são:

1. Aplicação na forma de pó

Este método consiste em imergir as estacas (1-2 cm da porção basal) no pó


contendo auxina. Nesta forma, há várias formulações comerciais tais como:
Hormex (Amchem), Rootone (Amchem), Hormodin (Merck & Co) e Seradix (May &
Bayer).

A mistura auxina – pó pode ser feita pelo próprio usuário, devendo ter-se
cuidado com sua homogeneização. Uma formulação, muitas vezes, pode conter
mais de uma auxina e também, um fungicida. O tratamento com fungicida protege
a estaca e o próprio sistema radicular recém-formado de ataques de fungos,
aumentando a sua sobrevivência e a qualidade da muda. Alguns autores têm
recomendado a adição de sacarose nestas formulações.

Para uma aplicação mais efetiva do pó, é aconselhável umidificar um pouco a


base das estacas, de modo a facilitar a aderência na base das estacas. Após o
tratamento, deve-se dar uma leve batida da estaca para remover o excesso de pó
e imediatamente plantá-la. O plantio deve ser realizado com cuidado para não tirar
o pó aderido na estaca.

77
Figura 25: Aplicação de auxinas em forma de pó.

As vantagens do uso do pó são: a) facilidade de encontrar as formulações


comerciais; b) simplicidade e facilidade de aplicação e c) durabilidade longa da
mistura.

As desvantagens do uso desta formulação são: a) desuniformidade de


aplicação do produto – tratar menos estacas é melhor; b) alto custo do produto,
principalmente para tratamento de grandes quantidades de estacas.

O preparo da formulação em pó é feito da seguinte maneira:

Supondo o preparo de 500 g da mistura a 2000 ppm. Utilizariam 1,0g de AIB


puro, complementando com talco industrial até completar 500g.

Procedimento:

1 ppm = 1mg/Kg

2000 ppm = 2000 mg/kg

Isto significa que: em 1kg de talco – 2000 mg de AIB

78
0,5 kg de talco – x g de AIB

x = 1000 mg de AIB ou seja 1,0 g de AIB

Assim 1,0 g de AIB em 500 g de talco

Após a colocação das substâncias (talco e AIB), acrescenta-se álcool etílico ou


acetona em quantidade suficiente para formar uma pasta (para melhorar a
homogeneização), mistura-se com um bastão de vidro até completar a
homogeneização e leva-se à estufa a 40ºC para evaporar o solvente.

2. Aplicação na forma de solução diluída:

Esta técnica consiste na imersão da porção basal das estacas (1-3 cm) na
solução de uma ou mais auxinas em diferentes tempos de imersão (2-24 horas).
Considera-se solução diluída aquela cuja concentração do fitorregulador vai até
200 ppm. Na utilização de soluções diluídas deve-se realizar o tratamento das
estacas em local sombreado (para que a evaporação da água seja reduzida e
para evitar a perda de água das estacas).

Figura 26: Aplicação de auxinas em forma de solução.

O uso de soluções diluídas apresenta a vantagem de proporcionar


uniformidade de tratamento das estacas e baixo risco fitotóxico.

79
A desvantagem é que a solução perde sua atividade em pouco tempo.

O preparo da formulação em solução diluída é feito da seguinte maneira:

No preparo de 500 ml de uma solução contendo 100 ppm de AIB dissolve-se


50 mg de AIB em 10 ml de álcool e completa-se o volume para 500 ml de água
destilada.

1 ppm – 1mg/l

100 ppm – x

x = 100 mg/l

1,0l de solução – 100 mg de AIB

0,5l de solução – x

x = 50 mg = 0,05 g de AIB puro

A dissolução do AIB também pode ser feita em um pequeno volume de uma


base, como o Na OH, ou em álcool etílico.

3. Aplicação na forma de solução concentrada:

Este é o método de imersão da base da estaca (1-3 cm) de forma muito rápida
(1-5 segundos) em concentrações de solução auxínica que variam de 200 até
10000 ppm. A exposição acima de 5 segundos pode ocasionar efeito fitotóxico
como inibição de gemas, amarelecimento, queda de folhas e até morte de
estacas.

A vantagem desse método é a possibilidade do uso da solução por várias


vezes e de se ter influência pequena do ambiente, além de manter a solução
guardada sem perder seu efeito. Para guardá-la, deve-se conservá-la em
recipiente escuro hermeticamente fechado.

A desvantagem é o perigo da fitotoxicidade, devido à sua concentração do


fitorregulador.

80
O preparo da solução concentrada é feito de forma semelhante ao da solução
diluída.

Outros métodos de tratamentos também podem ser utilizados:

Aplicação de palitos impregnados com auxina

Uso da auxina em lanolina

Uso da auxina dissolvida em gel de amido

Aplicação da auxina na forma de vácuo.

Há diversos fatores que influenciam a resposta às auxinas no enraizamento


de estacas, podendo os mesmos ser divididos em fatores diretos e indiretos.

1. Fatores diretos

Dentro desses fatores diretos, os principais referem-se à eficácia e ao tipo de


formulação. Nesse sentido, tem sido observado, por exemplo, que o AIB é mais
eficiente que o ANA. Com respeito à formulação, considera-se a forma química da
auxina (sal ou ácido) e o seu preparo (talco ou solução). Atualmente, tem sido
observada uma superioridade das auxinas na forma de sais em relação à forma de
ácido. De igual modo, tem-se preferido soluções concentradas em relação às
formas em pó. Esta superioridade das soluções concentradas usando álcool como
solvente deve-se ao aumento da absorção da auxina. Tem sido evidenciado que o
uso de solventes orgânicos, tais como álcool, acetona, etanol e metanol, auxilia no
estímulo do enraizamento.

2. Fatores indiretos

Dos vários fatores que influenciam o enraizamento, o ferimento e o


aquecimento basal das estacas têm influenciado o efeito da auxina em estacas de
muitas espécies.

O ferimento e a auxina relaciona-se ao aumento da exposição das células dos


tecidos que iniciam as raízes com o estímulo da auxina.

81
O aquecimento tem sido visto como um dos fatores que aumentam a resposta
a auxina. O aquecimento mantém a temperatura do meio de enraizamento numa
faixa de 18-24ºC. O calor associado à auxina estimula o enraizamento por
aumentar a taxa dos processos metabólicos, associados com o enraizamento, que
são mediados pela auxina.

Podas severas da planta matriz, anelamento e estiolamento de ramos ou da


planta inteira são fatores que podem incrementar o efeito da auxina no
enraizamento de estacas.

Podem ser ainda utilizados, na promoção do enraizamento, aplicações de


inibidores da síntese de giberelinas, uma vez que um menor teor de giberelinas
favorece a formação de raízes. Neste sentido, têm sido testados o Paclobutrazol e
o SADH. Aplicações de etileno na planta matriz parecem incrementar o
enraizamento das estacas.

Substratos para Enraizamento de Estacas

O substrato é um dos fatores de maior influência no enraizamento,


especialmente naquelas espécies com maior dificuldade de formação de raízes. O
substrato não apenas afeta o percentual de estacas enraizadas como também a
qualidade do sistema radicular da muda. Destina-se a sustentar as estacas
durante o período de enraizamento, mantendo sua base em um ambiente úmido,
escuro e suficientemente arejado. Em um sentido mais restrito, o substrato deve
garantir as condições adequadas apenas para o enraizamento das estacas. Numa
abordagem mais ampla, porém, é conveniente que algumas condições sejam
oferecidas para que haja o desenvolvimento inicial das raízes adventícias, tais
como o fornecimento de nutrientes e o uso de materiais orgânicos, os quais
podem favorecer o desenvolvimento radicular e, por conseqüência, o pegamento e
desenvolvimento no viveiro ou no campo.

82
Características do Substrato

O substrato mais adequado varia conforme a espécie, podendo-se, entretanto,


afirmar que um bom substrato é aquele que possui as seguintes características:

a) Retém água suficiente para manter as células túrgidas, evitando o


murchamento da estaca;

b) Garante aeração suficiente, através de um adequado espaço poroso, para a


formação das raízes e para o metabolismo radicular;

c) Adere-se bem à estaca e às raízes formadas;

d) Não favorece a contaminação e o desenvolvimento de patógenos e


saprófitos, tanto por ser fonte de inoculo quando por criar condições favoráveis ao
desenvolvimento de microorganismos;

e) Permite que as estacas enraizadas sejam removidas com um mínimo de


dano às raízes;

f) Tem baixo custo e é fácil aquisição;

g) Não contém ou libera quaisquer substâncias fitotóxicas à estaca.

Atenção diferenciada deve ser dada conforme o tipo de ambiente para


propagação. No caso de uso de nebulização intermitente, a drenagem é um dos
fatores mais importantes, de forma a se evitar a asfixia na base da estaca. Em se
trabalhando com estacas lenhosas, em solo ou em recipientes com algum outro
material, mas sem nebulização, a retenção de água assume maior importância.

Utilização: a escolha do substrato é feita levando-se em consideração a


espécie, o tipo de estaca, as características do substrato, a facilidade de obtenção
e o custo de aquisição. A determinação do substrato mais adequado para cada
espécie deve ser feita através de experimentos. Na Tabela são apresentadas
algumas vantagens e desvantagens de alguns substratos que podem ser
utilizados em estaquia.

O meio de enraizamento não afeta apenas o enraizamento em si. Tem sido


obtida grande influência do substrato sobre a qualidade do sistema radicular

83
adventício, no que tange a diversos parâmetros. É conveniente atentar-se para a
qualidade do sistema radicular formado, pois esta irá influenciar diretamente o
pegamento no viveiro e o desenvolvimento posterior da muda. Em geral, raízes
desenvolvidas em areia são mais grossas, menos ramificadas e mais quebradiças,
ainda que as características do sistema radicular também sejam função da
espécie. A mistura da areia com turfa ou outros materiais orgânicos
freqüentemente permitem que se forme um melhor sistema radicular. A
permanência das folhas também podem ser afetada pelo substrato. Substratos
com menor contato com a estaca tendem a ocasionar maior queda de folhas e
conseqüentemente morta das estacas.

84
A asfixia na porção da estaca enterrada no substrato pode desfavorecer o
enraizamento, ocasionando até mesmo a morte das estacas. A baixa capacidade
de drenagem do substrato na base da estaca pode ocasionar a ocorrência de um
problema denominado 'necrose na base'. Além disso, o pouco espaço poroso
pode favorecer a ocorrência de doenças. O teor de oxigênio requerido na
formação de raízes é variável conforme a espécie, mas é sempre indispensável. É
citado que, para Salix spp., 1 ppm de oxigênio é suficiente para o enraizamento,
podendo o mesmo enraizar em água, ao passo que para Hedera helix, um mínimo
de 10 ppm é necessário.

Em algumas espécies, o aumento do teor de oxigênio incrementou o


enraizamento de estacas. Assim, é importante analisar as características físicas
do substrato a ser utilizado nesta condição. Espaço poroso (macro e
microporosidade), oxigênio disponível, aeração, drenagem e excesso de água no
substrato são aspectos interligados entre si e é necessário observá-los. Há
menções de que o espaço poroso do substrato de enraizamento deve ser de 20%,
admitindo-se um intervalo de 15 a 45% de porosidade.

As seguintes propriedades físicas de um substrato de enraizamento são


importantes: forma e textura das partículas, tamanho de partículas, teores de
argila e silte, densidade, espaço poroso e capacidade de retenção de água, na
saturação e na capacidade de campo. A curva de retenção de água é um
parâmetro que pode fornecer boas informações sobre o efeito do substrato no
enraizamento. Mesmo em ambiente com nebulização intermitente, o substrato não
se mantém constantemente saturado, especialmente durante o dia, quando as
perdas de água para a atmosfera são mais elevadas. Assim, um material que
retém mais água em níveis de tensão mais elevados pode ser mais recomendável
para utilização, tendo em vista este atributo físico. É importante que o substrato
tenha uma capacidade de retenção tal que permita à planta retirar água com um
gasto mínimo de energia, bem como apresente um espaço poroso adequado. A
competição do espaço poroso pela água e pelo ar é um ponto crucial na escolha
do substrato.

85
No que se refere às características químicas, o pH e a disponibilidade de
nutrientes são importantes. Em algumas espécies, o pH favorece o enraizamento
e desfavorece o desenvolvimento de microorganismos. O uso de materiais como a
turfa permite que o pH do substrato seja mais baixo. O uso de materiais orgânicos
pode favorecer o desenvolvimento das raízes adventícias.

Freqüentemente, as características favoráveis de um substrato podem ser


complementares às de outro. Assim, a mistura de dois ou mais substratos permite
que se associe às vantagens e se complemente às desvantagens de cada
material.

ENXERTIA

A enxertia é o método de propagação assexuada que consiste em se unir duas


ou mais porções de tecido de modo que a união desta partes venha a constituir-se
em uma nova planta. É um dos principais métodos de propagação e é largamente
utilizada em um grande número de espécies, tais como os citros, pessegueiro,
ameixeira, goiabeira, macieira, pereira, abacateiro, entre outros. A grande
importância da enxertia deve-se ao fato de que, na verdade são conjugados os
aspectos favoráveis (vigor, tolerância a fatores bióticos e abióticos adversos,
produtividade, entre outros) de duas ou mais plantas, as quais podem ser de uma
mesma espécie ou de espécies ou até mesmo gêneros diferentes.

ESQUEMA 2 Seqüência de cicatrização no ponto de união entre enxerto e porta- enxerto


(adaptado de Fachinello et al, 1995)

86
As partes que compõem uma planta propagada por enxertia são:

Enxerto

Porta-enxerto

a) Porta-enxerto ou cavalo, parte que confere o sistema radicular à planta


propagada, podendo ser proveniente de sementes ou de propagação vegetativa.
Porta-enxertos oriundos de sementes, em geral são mais vigorosos e com sistema
radicular pivotante e mais profundo. Porta-enxertos oriundos de propagação
vegetativa como a estaquia ou a mergulhia, podem ser menos vigorosos, porém
são geneticamente mais uniformes;

b) Enxerto, borbulha, garfo ou cavaleiro, parte que irá originar a parte aérea
da planta e pode consistir de um segmento de ramo com uma ou duas gemas
(garfo) ou de uma gema com uma pequena porção de casca (borbulha). O enxerto
deverá ser retirado de uma planta com todas as características da cultivar, bem
como que tenha ultrapassado o período da juvenilidade – assim, tão logo haja
área foliar suficiente para percepção dos estímulos indutores do florescimento e
para sustentação dos frutos, a planta irá produzir, reproduzindo fielmente as
características da planta-mãe.

Normalmente, a propagação por enxertia consiste nestas duas partes. Porém,


em certas situações, há problemas de compatibilidade entre o enxerto e o porta-
enxerto ou há a necessidade de controlar o vigor da copa, requerendo o uso de
um terceiro componente, o interenxerto.

87
Interenxerto, enxerto intermediário ou filtro, normalmente pertencente a
uma cultivar diferente do enxerto e do porta-enxerto, que seja compatível com
ambos, bem com possa conferir as características desejadas à copa. Um caso
bem ilustrativo do uso de interenxerto é a produção de mudas de macieira da
cultivar Fuji utilizando–se o porta-enxerto Marubakaido, ambos de elevado vigor.
Utiliza-se neste caso, como interenxerto o porta-enxerto M-9, de efeito ananizante.
Neste caso, o interenxerto permite a redução do vigor da cultivar-copa (Fuji),
facilitando o manejo do pomar.

Finalidades do uso da enxertia

a) Aproveitamento de características favoráveis do porta-enxerto: O porta-


enxerto pode definir diversas características importantes da copa, tais como o
vigor, a produtividade, a qualidade dos frutos, a resistência a fatores adversos,
dentre muitos outros. Além disso, os porta-enxertos diferem na sua adaptação a
condições de solo, clima, ocorrência de pragas e doenças. Desta forma, é possível
trabalhar-se como uma mesma cultivar copa em diferentes condições ambientais;

b) Propagação de plantas com difícil multiplicação por outros métodos: se a


propagação de uma planta por sementes ou por estacas, ou ainda por outro
método, for pouco viável, a enxertia permite que se possa propagar esta planta;

c) Alteração da cultivar-copa em plantas adultas: em pomares estabelecidos,


devido a questões de mercado, hábito de crescimento inadequado, frutos de baixa
qualidade, suscetibilidade e pragas e doenças, entre outros, pode ser requerida a
troca da cultivar-copa. Isto é possível sem a erradicação do pomar, através da
enxertia, utilizando as plantas como porta-enxerto, lançando-se mão, para tanto,
da sobre-enxertia;

d) Correção de deficiências de polinização: em espécies que necessitem da


presença de cultivares polenizadoras dentro do pomar, a sobre-enxertia pode
corrigir a falta de polenizadoras – para tanto, pode ser feita tanto a troca da
cultivar-copa (como no caso anterior), como também a sobre-enxertia em alguns
dos ramos da planta;

88
e) Recuperação de partes danificadas da planta: danos por pragas, doenças ou
outros agentes podem causar danos significativos às raízes ou à parte aérea da
planta. Técnicas de enxertia permitem a recuperação total ou parcial destes
danos;

f) Estudos de viroses: a enxertia é extremamente útil em testes de indexação,


quando se deseja verificar se a planta matriz está isenta de enfermidades
viróticas. Para tanto, utilizam-se plantas denominadas "indicadoras", as quais
manifestam, em pouco tempo após a enxertia, os sintomas da virose em estudo.

Fatores que afetam o pegamento do enxerto

a) Incompatibilidade: é um dos principais fatores que prejudicam o


rendimento na enxertia. Duas plantas são consideradas incompatíveis quando não
formam, entre as partes enxertadas, uma união perfeita. Entre os principais,
sintomas de incompatibilidade, podem ser citados: a) falta de união entre o
enxerto e o porta-enxerto; b) diferenças entre o diâmetro do enxerto e o do porta-
enxerto; c) amarelecimento e desfolhamento do enxerto; d) pouco crescimento
vegetativo; e) morte prematura da planta; f) maior susceptibilidade de planta a
condições desfavoráveis de ambientes. Uniões incompatíveis são freqüentemente
encontradas quando da enxertia entre plantas com grau de parentesco distante (o
limite é a família), com exigência nutricionais distintas, com metabolismo, vigor e
ciclo de vida diferentes, com diferenças na consistência dos tecidos ou sem
afinidade anatômicas;

b) Condições ambientais: as condições ambientais antes, durante e depois


da enxertia afetam fortemente o pegamento dos enxertos. Temperaturas muito
elevadas favorecem a desidratação do enxerto, bem como temperaturas muito
baixa não favorecem o processo de cicatrização. A água é essencial para a
divisão celular – desse modo, a umidade muito baixa do ar favorece a
desidratação e prejudica o pegamento; a baixa umidade do solo dificulta o
desprendimento da casca, prejudicando a realização da enxertia, principalmente
de borbulhia. As trocas gasosas devem ser mantidas durante a cicatrização –

89
assim, deve-se evitar a completa asfixia na região da enxertia. Excessiva
luminosidade pode estar associada a elevada desidratação do enxerto. A
realização da enxertia em áreas desprotegidas e sujeitas a ventos fortes pode
levar ao insucesso sucesso, visto que o vento não apenas favorece a desidratação
do enxerto como também ocasiona a quebra na região da enxertia antes do seu
completo pegamento;

c) Sanidade: é necessário que tanto o porta-enxerto quanto o enxerto


apresentem as melhores condições fitossanitárias;

d) Idade do material utilizado: uma vez que, quanto maior a idade dos
tecidos, menor a atividade celular e a capacidade de cicatrização, é recomendável
que tanto o enxerto quanto o porta-enxerto sejam mais jovens;

e) Época de realização da enxertia: a época mais adequada para a


realização da enxertia depende da espécie e do tipo de enxerto a ser realizado;

f) Técnica da enxertia: para que haja o pegamento, os câmbios do enxerto e


do porta-enxerto devem estar em perfeito contato e representam uma das
principais causas de baixo pegamento relativas à técnica da enxertia . Outras
causas são: cortes desuniformes, danos mecânicos à gema, demora no amarrio,
ferramentas inadequadas ou pouco afiadas, desidratação dos ramos borbulheiros,
falta de habilidade do enxertador, erros na polaridade do enxerto (colocação do
enxerto invertido) e oxidação de compostos fenólicos nos tecidos seccionados.

CLASSIFICAÇÃO DA ENXERTIA

Quanto ao método, a enxertia pode ser classificada em:

a) Borbulhia, quando o enxerto consiste de uma gema com uma pequena


porção de casca, com ou sem lenho. Existem diversas técnicas de enxertia de
borbulhia, dentre as quais podem ser citadas as seguintes:

90
Borbulhia em T normal, que consiste na incisão do porta-enxerto (com
diâmetro em torno de 6 a 8 mm) na forma de um corte vertical de cerca de 3 cm
de comprimento, em cujo ápice é feito um corte horizontal. Com estes cortes,
abre-se um espaço para introdução da gema. Estes cortes normalmente são feitos
a uma altura de 20 a 25 cm a partir do colo. A gema é obtida da porção mediana
de ramos da última estação de crescimento. Com um canivete bem afiado, retira-
se a gema, sem lenho e introduz-se a mesma na incisão feita no porta-enxerto.
Deve-se ter o cuidado de fazer a operação o mais rápido possível, para evitar que
ocorra a desidratação e a oxidação da gema e do porta-enxerto. Após, faz-se o
amarrio, utilizando-se uma fita de polietileno, a qual deverá ser retirada tão logo o
enxerto tenha brotado.

Figura 27: Borbulhia em T normal

Figura 28: Ramo fornecedor de gemas

91
Borbulhia em T invertido, feito de modo semelhante ao anterior, porém
diferindo quanto à forma da incisão – o corte horizontal é realizado na base do
corte vertical.

Figura 29: Enxertia de borbulhia em T invertido

92
Borbulhia de gema com lenho, cuja utilização
é justificada quando a casca não se desprende
facilmente, dificultando a enxertia em T. Assim,
retira-se a gema com uma porção de lenho, a qual
é introduzida no porta-enxerto em uma incisão de
mesmo tamanho da borbulha.

Figura 30: Enxertia de borbulhia de gema com lenho.

Borbulhia em placa ou escudo, que consiste em se abrir uma placa quadrada


ou retangular no porta-enxerto, bem como em retirar-se uma placa com as
mesmas dimensões do ramo as gemas. Para tanto, usa-se um canivete de lâmina
dupla. Borbulhia em anel, na qual é retirado, tanto no porta-enxerto quanto no
ramo com as gemas, um anel de casca, ambos de iguais dimensões, para que o
anel contendo a gema seja introduzido no porta-enxerto.

93
Figura 31: Enxertia em placa ou escudo.

94
b) Garfagem, quando o enxerto consiste em um garfo, ou segmento de ramo
contendo duas ou mais gemas. Pode ser realizada tanto em ramos quanto com
raízes. Entre as técnicas de garfagem mais conhecidas, podem ser citadas:

Garfagem em fenda cheia, que consiste na introdução de um garfo em forma


de cunha, cuja base é afilada com um canivete, em um corte longitudinal feito em
todo o diâmetro do porta-enxerto, amarrando-se logo após com fita plástica.
Podem ser colocados dois garfos por porta-enxerto quando este apresenta grande
diâmetro.

Figura 32: Garfagem de fenda cheia

Garfagem em fenda simples, também chamada de inglês simples, consiste


em se fazer cortes em bisel tanto no enxerto quanto no porta-enxerto, justapondo-
se as duas partes e amarrando-se com fita plástica logo após.

95
Garfagem em fenda dupla, também chamada de inglês complicado, é
semelhante à técnica anterior, diferindo pelo fato de serem feita uma incisão
transversal na base do garfo e outra, no ápice do porta-enxerto. Isso aumenta
muito a aderência e o pegamento entre as partes justaposta, embora implique em
maior dificuldade na realização.

96
Figura 33: Garfagem em fenda dupla ou inglês complicado.

97
c) Encostia, quando é feita a união lateral de plantas com sistemas
radiculares diferentes, para, após a união do enxerto, separar uma das plantas do
seu sistema radicular e a outra, da sua parte aérea. Tem pouco uso em nível
comercial. Há diversas técnicas de encostia, podendo serem citadas as seguintes:

Encostia lateral simples, na qual é feito um corte na superfície da casca do


enxerto e do porta-enxerto, unindo-se, após, as superfícies com fita de polietileno,
ráfia, barbante ou outro material.

Encostia em lingüeta, que é semelhante ao anterior, porém é feito um


segundo corte em ambas as partes, de forma a proporcionar um encaixe entre o
porta-enxerto e o enxerto.

Encostia no topo, a qual é semelhante à encostia lateral simples, porém,


neste caso, o porta-enxerto é cortado em bisel no seu ápice.

98
Figura 34: Enxertia de encostia

Quanto à época de realização, a enxertia pode ser classificada nos seguintes


tipos:

a) Enxertia de inverno, que é realizada quando as plantas estão no período


de repouso vegetativo, característico em espécies de clima temperado. Na
enxertia de inverno é utilizada principalmente a garfagem, embora possa também
ser utilizada a borbulhia em placa. Por se trabalhar, normalmente, com tecidos
mais lignificados, o risco de desidratação é menor, ocasionando bons índices de
pegamento.

b) Enxertia de primavera-verão, também conhecida como enxertia de gema


ativa, normalmente é realizada no período de crescimento vegetativo intenso.
Como as células estão em plena atividade metabólica e mitótica, os tecidos
cicatrizam com mais facilidade e há bom e rápido pegamento. Além disso, há
maior facilidade em se desprender a casca para introdução da gema.

Porém, por se trabalhar com tecidos mais tenros e em épocas de temperaturas


mais elevadas, os cuidados com a desidratação (amarrio, sombreamento e

99
irrigação) devem ser mais intensos. Normalmente, é utilizada, neste caso, a
enxertia de borbulhia, embora também possam ser utilizados outros métodos.
Utilização de garfagem, nesta época, implica em se cobrir a região do enxerto ou
toda a planta enxertada com um saco plástico transparente, que atua como uma
câmara úmida, reduzindo a desidratação. No caso da borbulhia, logo após a
enxertia, faz-se a dobra da copa do porta-enxerto, visando forçar a brotação da
gema enxertada; esta prática também faz com que haja um sombreamento sobre
o local da enxertia, favorecendo o pegamento pela redução da desidratação. Aos
10 a 15 dias após a enxertia, é retirada a parte dobrada do porta-enxerto e,
quando a brotação da borbulha tiver 15 a 20 cm, faz-se um corte em bisel pouca
acima do ponto de enxertia.

c) Enxertia de verão-outono, também conhecida com enxertia de gema


dormente e é realizada de forma semelhante à enxertia de gema ativa, diferindo,
no entanto, pelo fato de não ser feita a dobra da copa do porta-enxerto logo após
a enxertia, senão somente na primavera seguinte. Este tipo de enxertia é adotado
quando os porta-enxertos não atingem diâmetro suficiente para a enxertia de
primavera-verão – desta forma, a enxertia de verão-outono permite o
aproveitamento destes porta-enxertos.

Além destes métodos, há outras formas especiais de enxertia. Sua utilização


em nível comercial é bem mais restrita, mas podem ter aplicação em casos
particulares. Estas formas especiais são:

a) Sobre-enxertia, na qual o porta-enxerto é uma planta adulta, já previamente


formada. A sobre-enxertia é útil em casos em que a copa foi seriamente danificada
por pragas ou doenças, em caso de necessidade de troca da cultivar-copa e
quando da falta de plantas polenizadoras em um pomar. Normalmente é feita por
garfagem (fenda cheia ou fenda dupla), substituindo total ou parcialmente a copa.
Desta forma, é possível produzir-se, em uma mesma planta, diferentes cultivares.

100
Figura 35: Sobre-enxertia

101
b) Interenxertia, caso em que é interposto um enxerto intermediário entre o
porta-enxerto e o enxerto, normalmente, através de garfagem. É útil,
principalmente, em duas situações: quando o enxerto e o porta-enxerto são
incompatíveis entre si, devendo-se utilizar um interenxerto compatível com ambos,
e quando há necessidade de controlar o vigor da copa devido ao porta-enxerto
induzir elevado vigor.

c) Sub-enxertia, realizada quando houve um dano significativo no sistema


radicular da planta. Consiste em se enxertar, na copa, um novo porta-enxerto, que
será total ou parcialmente responsável pela absorção de água e nutrientes. A
garfagem, especialmente de fenda dupla, é o sistema mais adotado neste caso.

Figura 36: Sub-enxertia

102
d) Enxertia de ponte, realizada
quando a planta apresenta um dano
significativo na casca, a ponto de
interromper o fluxo de água, nutrientes
e assimilados. Neste caso, a enxertia,
normalmente de garfagem, permite que
sejam colocados ramos sobre a região
danificada, de modo a restabelecer o
fluxo normal de substâncias.

Técnicas da enxertia

A enxertia é um método que exige, fundamentalmente, habilidade e cuidados


na sua realização. Para tanto, um bom treinamento do enxertador é o primeiro
passo para o sucesso da enxertia.

Para a realização da enxertia, são necessárias algumas ferramentas básicas:


tesoura de poda, canivete de enxertia (com lâmina e espátula podendo ser de
lâmina simples ou dupla), pedra de afiar, etiquetas e produtos para desinfestação
(normalmente, é utilizado o hipoclorito de sódio). Além disso, os materiais para
amarrio e proteção são indispensáveis – para tanto, são utilizados os mástiques
(misturas de resina, cera de abelha, sebo e solventes), fio de ráfia ou barbante e
fitas de polietileno. Os mástiques apenas reduzem a perda de água e a entrada de
microorganismos e o fio de ráfia ou barbante apenas dão sustentação ao conjunto
porta-enxerto / enxerto. Assim, devem ser utilizados em conjunto. As fitas de
polietileno, além de manter a união da enxertia, reduzem a desidratação do
enxerto, as trocas gasosas e a entrada de microorganismos. Sacos plásticos,

103
colocados sobre o conjunto porta-enxeto / enxerto são úteis como câmara úmidas,
no caso de ser realizada a enxertia de garfagem no período de primavera-verão.
As máquinas de enxertia são ferramentas extremamente úteis na enxertia em
escala comercial, quando se trabalha com grandes volumes de mudas ou não se
dispões de pessoal com grande habilidade.

O local de realização da enxertia pode variar conforme a época de enxertia. A


enxertia de inverno pode ser realizada no viveiro (enxertia de campo) ou em
galpões (enxertia de mesa), ao passo que a enxertia de primavera/verão e a do
verão/outono é realizada no viveiro ou em telado (no caso de se trabalhar com
mudas em recipientes).

104
Mergulhia

É o método de propagação assexuada no qual o enraizamento de uma porção


da planta, normalmente um ramo, é obtido com esta porção ainda unida com a
planta-mãe. Após a formação de raízes, a porção enraizada é destacada da
planta-mãe. Os princípios que regem a formação de raízes, neste caso, bem como
os fatores que afetam o enraizamento, são semelhantes aos mencionados na
estaquia. Porém, enquanto na estaquia o enraizamento se dá às custas da própria
estaca, na mergulhia, a planta-mãe continua a fornecer fotoassimilados e
fitorregulares, substâncias favoráveis ao enraizamento. O enraizamento é
favorecido porque são dadas condições de ausência de luz, provocando o
estiolamento e umidade, além do curvamento dos ramos, que provoca a
acumulação das substâncias anteriormente citadas.

A mergulhia é utilizada comercialmente na propagação de porta-enxertos de


macieira (mergulhia de cepa), de mudas de lichieira e nogueira macadâmia
(alporquia), entre outras espécies. A mergulhia é especialmente interessante para
propagar espécies com grande dificuldade de formação de raízes.

105
Os fatores que favorecem a regeneração de plantas através da mergulhia são
a ausência de luz (que provoca estiolamento do ramo e, por conseqüência,
acúmulo de auxinas e redução dos teores de lignina e de compostos fenólicos),
cobertura com solo úmido e poroso, nutrição adequada e elevada atividade
fisiológica da planta-mãe, pouca idade dos ramos, aplicação de fitorreguladores e
prática de anelamento.

 Classificação da mergulhia
Basicamente, há dois tipos de mergulhia – a mergulhia no solo e a mergulhia
aérea ou alporquia.

A mergulhia no solo pode ser classificada em algumas formas principais:

a) Mergulhia de cepa, na qual a planta matriz sofre, inicialmente, uma poda


drástica a cerca de 5 cm do solo. Isto estimula a emissão de brotações jovens, as
quais serão posteriormente cobertas com solo. Após o enraizamento, as brotações
enraizadas são destacadas da planta-mãe, a qual pode ser novamente utilizada
para um novo ciclo de produção de mudas. De todas as formas de mergulhia, a
mergulhia de cepa é a mais utilizada em nível comercial, pois além dos bons
resultados que proporciona, pode ser uma prática parcialmente mecanizada, o que
favorece o rendimento da operação;

106
FIGURA 37. Esquema de produção de mudas por mergulhia de cepa (adaptado de Fachinello et
al., 1995)

b) Mergulhia simples normal, onde a porção mediana do ramo é enterrada no


solo;

107
c) A mergulhia aérea ou alporquia é uma prática que consiste em se envolver
um ramo com substrato de enraizamento (musgo, solo ou outro material que
proporcione boa aderência), acondicionado em plástico ou papel alumínio. A
adoção da alporquia justifica-se em espécies de difícil enraizamento, quando há
dificuldade de levar o ramo até o solo. É uma prática trabalhosa e, portanto, de
baixo rendimento. O anelamento e a aplicação de fitorreguladores podem
aumentar o percentual de alporques enraizados.

108
Estruturas especializadas

Por estruturas especializadas, entendem-se os órgãos (caules ou raízes


modificados) que podem também atuar como órgãos de reserva de nutrientes e
assimilados. Em muitos casos, estes órgãos podem ser utilizados na propagação
vegetativa. São exemplos destas estruturas os estolões, os rizomas e os rebentos.
A propagação através destas estruturas é bastante utilizada em morangueiro,
bananeira e abacaxizeiro, conforme descrito a seguir:

a) Estolões – utilizados na propagação do morangueiro, são definidos como caules


aéreos especializados, mais ou menos horizontais. Os estolões surgem em
plantas com caules em roseta, nas bases ou na coroa das mesmas. Estas
estruturas são emitidas em fotoperíodos longos (12 horas ou mais). No segundo
nó do estolão, há formação de uma nova planta, seguida da formação do seu
sistema radicular. Esta planta poderá ser utilizada com muda.

109
b) Rizomas – são utilizados na propagação da bananeira. Os rizomas são
caules subterrâneos que se desenvolvem para formar uma estrutura denominada
"cormo" e, a partir de suas gemas, formam-se novas brotações, as quais
originarão novos pseudocaules e passarão a ter o seu próprio sistema radicular.
Na propagação, faz-se a divisão dos rizomas, sendo que cada parte dividida
deverá ter pelo menos duas gemas.

CULTURA DE TECIDOS

A propagação de plantas in vitro tem atraído a atenção dos pesquisadores


desde o início do século passado. Haberlandt, em 1902, foi o primeiro a cultivar
células de tecidos somáticos de várias espécies de plantas em solução nutritiva.
Seus trabalhos foram baseados na totipotencialidade das células; infelizmente,
nenhum sucesso foi obtido em seus experimentos. A ausência de divisão celular
nas culturas ocorreu, possivelmente, em virtude da falta de ‘fitormônios’ no meio
nutritivo, compostos até então desconhecidos.

110
Hanning (1904) foi o primeiro a cultivar in vitro embriões imaturos de crucíferas
(Raphanus sativus, R. landra, R. caudatus e Colchlearia danica). Ele observou a
necessidade de suplementação do meio mineral com sacarose para germinação
dos embriões, bem como mostrou o efeito de diferentes fontes de nitrogênio sobre
a sua morfologia. Aiblach (1925) foi o primeiro a visualizar a aplicação da cultura
de embriões no melhoramento genético, recuperando plantas híbridas de
cruzamentos incompatíveis entre Linum austriacum x L. perene.

White (1934) recebeu o mérito do estabelecimento do primeiro trabalho de


cultura de tecidos, com a elaboração de um meio (líquido) capaz de manter o
crescimento de ápices radiculares de tomateiro (Lycopersicon esculentum) por um
período ilimitado. Com esse trabalho mostrou a importância de tiamina para o
crescimento de raízes in vitro. Também elaborou a “mistura orgânica” que leva o
seu nome, utilizada até hoje nas formulações de meios nutritivos.

Outra importante descoberta foi a identificação do primeiro fitormônio, a auxina,


ácido indolacético (Kogh et al., 1934). Isso possibilitou o estabelecimento e
manutenção indefinida de cultura de calo de cenoura. O interesse do grupo,
liderado por Skoog no controle químico da organogênese, concretizou-se com a
descoberta da cinetina (primeira citocinina) por Miller et al. (1955; 1956), dando
uma grande contribuição à área de cultura de tecidos e ao estudo da fisiologia do
crescimento e desenvolvimento de plantas.

No Brasil, os trabalhos pioneiros sobre cultura de tecidos surgiram com Dr.


Agesilau Bitancourt, do Instituto Biológico de São Paulo, na década de 50. Uma
equipe de cultura de tecidos se estabeleceu na ESALQ, Piracicaba, em 1971, sob
a liderança do Dr. Willian Sharp e da Dra. Linda Caldas, onde iniciaram vários
trabalhos na área. Hoje, o Brasil conta com dezenas de laboratórios utilizando
diferentes metodologias de manipulação de plantas in vitro, bem como
desenvolvendo trabalhos de engenharia genética de plantas.

A cultura de tecidos compreende um conjunto de técnicas, nas quais um


explante, que pode ser uma célula, um tecido ou um órgão, é isolado e cultivado
em condições assépticas sobre um meio nutritivo artificial. O fundamento básico

111
da cultura de tecidos é a totipotencialidade das células, segundo o qual, qualquer
célula no organismo vegetal contém toda a informação genética necessária à
regeneração de uma planta completa.

Estas técnicas são caracterizadas por serem realizadas "in vitro" e por
utilizarem pequenos segmentos de vegetais e condições ambientais otimizadas
com relação a fatores físicos, nutricionais e hormonais, por terem todos os
microorganismos (fungos, bactérias e vírus) e pragas (insetos, nematóides)
excluídos, por apresentarem desvios no padrão normal de desenvolvimento e,
devido ao isolamento de células e protoplastos, permitir manipulações até então
impossíveis.

MICROPROPAGAÇÃO

A propagação vegetativa "in vitro", também denominada de micropropagação


por causa do tamanho dos propágulos utilizados, é uma das principais aplicações
da cultura de tecidos, especialmente para aquelas plantas que são de difícil
propagação pelos métodos convencionais. A primeira aplicação comercial da
micropropagação foi realizada por Morel (1960), multiplicando orquídeas mediante
cultura de ápices caulinares.

A utilização da micropropagação em âmbito comercial já é realidade em


diversos países do mundo, destacando-se a Europa Ocidental e os EUA. Os
laboratórios comerciais surgiram, em grande maioria, agregados aos viveiros
como iniciativa das próprias companhias produtoras de mudas. A atividade
comercial de micropropagação, hoje, concentra-se principalmente na limpeza
clonal e na multiplicação de espécies ornamentais herbáceas e arbustivas. Num
segundo plano vêm as lenhosas, com destaque para a multiplicação de porta-
enxertos de fruteiras de clima temperado e árvores-elite de essências florestais de
rápido crescimento.

Esta técnica é usada comercialmente, permitindo a obtenção de milhares de


plantas, todas geneticamente uniformes, em pouco tempo. A micropropagação
constitui-se na fase seguinte ao estabelecimento da cultura livre de patógenos,

112
visando a conservação e multiplicação rápida de genótipos desejados.
Significativos progressos neste sentido têm sido verificados em inúmeras espécies
entre as quais as frutíferas (maçã, pêra, pêssego, ameixa, banana, abacaxi, uva,
citros, entre outros), que são propagadas vegetativamente por enxertia e nas
quais a micropropagação tem possibilidade a multiplicação rápida de porta-
enxertos e/ou de cultivares-copa.

Porta-enxertos de macieira têm sido propagados por cultura de tecidos e uma


das vantagens é a não-exposição a patógenos do solo, de modo que serão
evitados muitos problemas relacionados com doenças. A rapidez com que os
porta-enxertos são multiplicados é outra vantagem em relação à propagação
convencional. A propagação de cultivares-copa também pode ser realizada por
cultura de tecidos, principalmente nos casos em que a enxertia é dispensada e as
mudas são auto-enraizadas.

A pereira também tem sido propagada via cultura de tecidos principalmente os


porta-enxertos OH x F51, Pyrus calleryana, Pyrus betulaefolia. Na França, 100%
da produção comercial de OH x F Delbard 333 em 1988/89 foi micropropagada,
bem como muitas cultivares-copa.

Há grande interesse em produzir plantas de pessegueiro auto-enraizadas


devido ao incremento no uso de sistemas de plantio em alta densidade. A
propagação in vitro oferece um meio de produzir rapidamente grande quantidade
de plantas, independentemente dos períodos sazonais de crescimento.
Caquizeiro, kiwi e mamoeiro também têm sido propagados "in vitro". Porta-
enxertos de videira, a exemplo de 1103 Paulsen e RR-101-14, isentos de viroses,
são tradicionalmente multiplicados por cultura de tecidos. Milhares de mudas de
abacaxizeiro podem ser obtidas em curto período de tempo, utilizando-se como
explantes gemas da base de folhas ou gemas axilares extraídas da corola.

No CNPMF/EMBRAPA (Cruz das Almas, BA), a micropropagação do


abacaxizeiro objetiva a multiplicação rápida de genótipos selecionados em
trabalhos de melhoramento visando resistência à Fusariose. Essa técnica tem

113
possibilitado a obtenção de até 1.250.000 plantas num período de 6-8 meses,
partindo-se de 30 explantes.

Pelo processo de multiplicação "in vitro" de bananeira, a partir de um


meristema extraído do rizoma, ao final de 9 meses tem-se cerca de 4.000 mudas,
uma vez que a repicagem do material a cada 30 dias fornece 3 a 4 novas
brotações.

A micropropagação em Citros tem sido cogitada e utilizada na propagação de


porta-enxertos, especialmente daqueles que apresentam baixo número de
sementes, a exemplo da tangerineira 'Sunki'.

A micropropagação permite que, em qualquer fase de um programa de


melhoramento de plantas de propagação vegetativa, uma vez identificada uma
planta que reúna os caracteres desejáveis e que se constituíam no objetivo do
melhoramento, esta possa ser multiplicada indefinidamente. Assim, há a
possibilidade de que uma nova cultivar esteja disponível mais rapidamente, tanto
para o uso comercial como para suas plantas servirem como progenitores na
produção de híbridos.

Na década de setenta, quando a micropropagação ganhou grande impulso,


Murashige (1974) apresentou o conceito de estágios de desenvolvimento no
processo de propagação "in vitro". Este esquema, padrão para sistemas de
micropropagação, divide-se em:

Estagio 0 - tratamento da planta matriz, de onde são retirados os explantes;

Estagio I - seleção de explantes, desinfestação e cultura em meio nutritivo sob


condições assépticas;

Estagio II - multiplicação de brotações através de sucessivas subculturas em


meio próprio para multiplicação;

Estagio III - transferência das partes aéreas produzidas para meio de


enraizamento, aclimatização e subseqüente transplante das plantas obtidas
para substrato ou solo.

114
Conforme pode ser visto no Esquema, a micropropagação pode ser conduzida
através de:

a) Proliferação de gemas axilares: gemas axilares são estimuladas a


crescerem, formando tufos de brotos, os quais são subdivididos dando origem a
novos explantes que, por sua vez, repetem o mesmo processo;

b) Indução de gemas adventícias por organogênese direta ou indireta: estas


gemas se formam em locais não-convencionais, tanto diretamente de tecidos com
potencial morfogenético, que em geral não se expressa na planta "in vitro", como
indiretamente via formação de calos;

ESQUEMA . Principais métodos de micropropagação

115
c) Embriogênese somática: embrióides podem ser formados direta ou
indiretamente, apresentando grande potencial de multiplicação, inclusive com o
uso de suspensões de células embriogênicas, registrando produção contínua de
embriões. A embriogênese indireta se dá através da formação de calos, os quais
apresentam o risco da variabilidade genética, indesejável no processo de
propagação e da perda da capacidade embriogênica das células com o passar do
tempo. Na embriogênese direta, os embriões se originam diretamente de uma
célula ou tecido sem a formação prévia de calos. São exemplos, o tecido nucelar
em espécies cítricas e mangueira, que têm tendência à poliembrionia.

A embriogênese somática, como um método de propagação, na prática é


pouco usada, por apresentar uma alta probabilidade de mutações, por ser um
método difícil e até impossível para algumas espécies. Com repetidas subculturas,
pode haver perda da capacidade regenerativa e uma dormência profunda que
pode ser extremamente difícil de quebrar.

Embora a micropropagação seja um método de propagação vegetativa e


possibilite produzir plantas idênticas à matriz, há o risco de, após certo número de
repicagens ou sob uso de alguns componentes do meio de cultura, ser induzida a
variação somaclonal, resultante da mutação de algumas células, originando
indivíduos diferenciados em relação à planta que lhes deu origem.

METODOLOGIA GERAL DE MICROPROPAGAÇÃO

O sucesso de um sistema de micropropagação depende do controle de grande


número de variáveis.

Uma vez que cada espécie ou clone apresenta características únicas,


determinadas por fatores genéticos, as necessidades para seu cultivo in vitro
também tendem a ser únicas. A capacidade de regeneração e crescimento in vitro
parece estar associada não apenas ao genótipo, mas também à atividade
fisiológica na planta-matriz, sob controle de diversos fatores endógenos.

Iniciação e estabelecimento das culturas

116
Esta etapa inicia-se com a seleção dos explantes mais adequados para a
micropropagação e termina com a obtenção de uma cultura livre de contaminantes
visíveis e suficientemente adaptadas às condições in vitro, de modo que apresente
reação à aplicação de fitorreguladores na fase seguinte de multiplicação. A
condição da planta-matriz, a descontaminação e o manejo dos explantes iniciais
são os principais aspectos a serem considerados.

Planta-matriz

A primeira condição diz respeito ao estado nutricional da planta e à fase de


crescimento em que se encontra. Plantas bem nutridas, sem sintomas de
deficiência nutricional ou hídrica, em geral, fornecem explantes melhores.

A retirada de explantes deve ser feita de preferência a partir de brotações


novas que são formadas durante a fase ativa de crescimento da planta, após o
período de dormência, durante os meses mais quentes do ano.

Nas espécies lenhosas, com a passagem do estado juvenil para o adulto,


ocorre uma série de alterações na capacidade morfogenética dos tecidos. A
influencia dessas alterações é marcante na reatividade inicial dos explantes, uma
vez isolados e, principalmente, na fase de enraizamento. Para evitar esse
problema, utilizam-se explantes coletados de regiões meristemáticas juvenis.
Diversas práticas são adotadas para obter brotações juvenis ou promover o
rejuvenescimento de tecidos adultos, tais como poda drástica estimulando o
desenvolvimento das gemas na porção inferior da planta mais próxima da raiz
(retiveram a condição juvenil), abate de árvores no caso de espécies que têm
capacidade de rebrotar da cepa, anelamento parcial na base do tronco para
induzir brotações epicórmicas juvenis, enxertia em cascata de ramos adultos em
porta-enxertos juvenis, entre outras.

A condição fitossanitária da planta matriz é importante por que irá determinar a


facilidade em descontaminar o explante durante o isolamento. Apesar de se
realizar uma desinfestação dos explantes, diversos microrganismos de natureza
endógena não são expostos aos agentes desinfetantes e devem ser controlados já
na planta-matriz. A primeira medida é a manutenção da planta-matriz em ambiente

117
mais limpo, como uma casa de vegetação ou câmara de crescimento. Este fato
não constitui problema para as plantas herbáceas, mas torna-se às vezes
bastante complicado quando se trata de uma planta arbórea. Na casa de
vegetação, o controle de insetos e microrganismos torna-se possível mediante
aplicações de fungicidas, bactericidas e inseticidas. O controle de ácaros e
pulgões é muito importante e inspeções constantes devem ser feitas.

Outras medidas preventivas muito úteis são a manutenção das plantas em


substrato esterilizado, em vasos. A manutenção das matrizes em casa de
vegetação permite ainda o controle e a manipulação do fotoperíodo, intensidade
luminosa e temperatura, visando a estimulação de novas brotações,
independentemente da época do ano.

O estiolamento de ramos para a obtenção de tecidos mais adequados para o


isolamento de explantes é outro pré-tratamento com efeitos benéficos por estar
associado a uma menor síntese de compostos fenólicos, os quais intoxicam os
explantes ao se oxidarem in vitro.

Seleção e coleta de explantes

Diversos explantes podem ser utilizados para iniciar a propagação in vitro de


uma planta. Na seleção dos explantes, devem ser considerados aspectos como o
nível de diferenciação do tecido utilizado e a finalidade da micropropagação.

Teoricamente, qualquer tecido pode ser utilizado como explante, em vista da


totipotência das células vegetais. Na prática, entretanto, procura-se utilizar
explantes que contenham maior proporção de tecido meristemático ou que tenham
maior capacidade de expressar a totipotência.

Durante a coleta, deve ser mantido o maior nível de assepsia possível,


utilizando instrumentos limpos ou até esterilizados. As partes coletadas são
colocadas em sacos plásticos para evitar o dessecamento e, devidamente
identificadas, levadas ao laboratório.

O tamanho do explante utilizado depende essencialmente do objetivo da


micropropagação. Caso se pretenda eliminar algum microrganismo sistêmico

118
como vírus, bactéria ou micoplasma, considerar, que quando menor o explante
isolado, ou quanto mais isolado das regiões subjacentes vascularizadas, maior
chance de sucesso. O tamanho do explante também determina suas
possibilidades de sobrevivência e capacidade de crescimento. Se o objetivo for
simplesmente o de propagar, é mais adequado iniciar as culturas com ápices ou
segmentos caulinares que contêm gemas axilares, pois frequentemente explantes
muito pequenos não conseguem crescer. Kartha & Gamborg (1975) verificaram
que ápices caulinares de mandioca com menos de 0,2 mm, embora estivessem
livres de vírus, somente formaram calo ou raízes. Entre 0,2 e 0,8 mm, de 90 a
95% dos ápices caulinares regeneraram plantas livres de vírus, enquanto que
plantas regeneradas de explantes com 0,9 e 1mm apresentaram virose.

Tecidos somáticos da semente podem ser fontes de explantes, pois são


geneticamente idênticos à planta na qual se coletou a semente e apresentam
grande capacidade morfogenética.

Desinfestação

A dificuldade maior nesta etapa reside em se obter tecido descontaminado sem


conduzi-lo à morte quando isolado.

Varias substancias com ação germicida são utilizadas para fazer a


desinfestação dos explantes. Os mais comuns são o etanol e os compostos a
base de cloro, tais como o hipoclorito de sódio e de cálcio. Algumas gotas de
detergente são comumente adicionadas às soluções a base de cloro para
melhorar o contato destas com os tecidos.

O etanol geralmente é utilizado a 70% e 80% (v/v), pois acima dessa


concentração é menos eficiente e pode desidratar rapidamente os tecidos. O
tempo de exposição dos tecidos ao etanol é, em geral, de algumas dezenas de
segundos. As concentrações mis comuns de cloro ativo vão de 0,5 a 2% e o
tratamento dura até 40 minutos, no caso de tecido lignificado.

O material coletado, principalmente se for proveniente do campo, pode ser


mantido em água corrente por algumas horas para lavagem superficial de
partículas de poeira e outras fontes de contaminação superficial. Em seguida, o

119
material sofre uma primeira toalete, quando são retirados o excesso de folhas e o
caule das brotações.

O processo de desinfestação deve ser realizado em capela de fluxo laminar em


condições assépticas, utilizando vidraria previamente esterilizada. Após a
desinfestação, segue a lavagem com água destilada autoclavada (três lavagens
sucessivas).

Isolamento de explantes

O isolamento dos explantes deve ser realizado somente em fluxo laminar. A


manipulação do explante nesta fase determina sua sobrevivência. A operação de
excisão do explante deve ser rápida e precisa.

Os instrumentos utilizados incluem bisturis, pinças de diferentes tamanhos,


estiletes, agulhas e alfinetes. Todos os instrumentos são flambados após imersão
em etanol absoluto.

A destreza manual conta muito no isolamento, principalmente de meristemas,


uma vez que o explante visado tem, em geral, menos de 1 mm; identificada a
posição do meristema, ele deve ser isolado com o mínimo possível de dano e
rapidamente transferido para meio de cultura. Um problema frequentemente
encontrado durante o isolamento de explantes é a oxidação de compostos
fenólicos que são liberados pelas células danificadas com o corte. Os produtos da
oxidação são tóxicos ao resto do explante. Esse problema é, particularmente serio
com espécies lenhosas. Podem ser utilizadas substancias antioxidantes após a
desinfestação, e também podem ser adicionadas ao meio de cultura.

Meios de cultura

Diversas formulações de meios básicos têm sido utilizadas no inicio do cultivo.


Não há uma formulação padrão, mas o meio MS (Murashige & Skoog, 1962), suas
modificações e diluições têm apresentado bons resultados para diversas espécies.

Nem sempre é benéfica a aplicação de fitorreguladores imediatamente após o


isolamento do explante, eles podem estimular respostas indesejadas como a
formação de calo. A adição de fitorreguladores tem o objetivo principal de suprir

120
as possíveis deficiências dos teores endógenos de hormônios nos explantes que
se encontram isolados das regiões produtoras da planta-matriz. A adição de
citocininas é favorável, ou até necessária. Das citocininas comercialmente
disponíveis, o BAP é a que, em geral, apresenta melhores resultados. As
concentrações podem variar bastante em função da espécie e do tipo de explante.
Meios com 0,05 a 1,0 mg.l-1 de BAP têm sido utilizados com bons resultados para
o cultivo de ápices caulinares de várias espécies herbáceas e lenhosas.

Além das vitaminas que fazem parte da constituição do meio básico, vários
outros componentes orgânicos podem ser adicionados ao meio, como por
exemplo, substâncias que reduzem a oxidação fenólica dos explantes.

Meios gelificados são utilizados na fase de isolamento, embora em alguns


casos sejam usados meios líquidos. Quando isso é feito, pontes de papel filtro ou
agitação dos recipientes são necessários.

Na fase inicial, é conveniente utilizar tubos de ensaio para o cultivo de


explantes individuais, em vez de frascos de cultura; isto impede que
microrganismos contaminantes passem de um explante para outro.

Condições de incubação

As condições de incubação podem variar muito. Escuro total ou intensidade de


luz reduzida são úteis nos primeiros dias para reduzir a oxidação fenólica.

Para a grande maioria das espécies, a incubação inicial na luz, com


intensidades de 20 a 70 mmol.m-2.s-1, é satisfatória. A luz é fornecida por
lâmpadas fluorescentes tipo branca fria e/ou gro-lux. O fotoperíodo tende a ser de
dias longos (16 horas de luz por 8 de escuro) para evitar a indução de dormência.

A maior parte das culturas cresce satisfatoriamente em temperaturas que


variam de 20 a 27ºC.

121
Fase de multiplicação

Embora o principal objetivo da fase de multiplicação seja produzir o maior


número de plantas possíveis, no menor espaço de tempo, alguns aspectos
qualitativos importantes devem ser considerados. O importante é obter uma taxa
média de multiplicação satisfatória com o mínimo de variação de explante para
explante.

As variáveis que podem ser manipuladas para otimizar essa fase incluem: 1) a
composição do meio de cultura; 2) as condições ambientais de crescimento; 3) os
cuidados na manipulação do material durante as subculturas.

Meios de cultura

É muito comum a utilização da mesma composição básica no isolamento e na


multiplicação. Macro e micronutrientes, vitaminas, inositol, fonte de açúcar
(geralmente sacarose) e, eventualmente outros compostos orgânicos como
aminoácidos e substancias quimicamente indefinidas como água de coco e extrato
de malte, constituem o meio básico.

As variações mais freqüentes do meio básico dizem respeito à composição de


macronutrientes. A fonte de nitrogênio utilizada e o balanço entre os íons nitrato e
amônio são aspectos que têm merecido maior atenção. A redução da
concentração de nitrogênio na forma amoniacal no meio MS tem sido utilizada
como medida para combater a vitrificação das culturas, considerado um dos
principais problemas na fase de multiplicação.

As citocininas são indispensáveis para a quebra de dominância apical e


indução de proliferação de gemas axilares. O tipo de citocinina e sua
concentração são os fatores que mais influenciam o sucesso da multiplicação in
vitro. O BAP tem sido muito eficaz para promover multiplicação em diversas
espécies e parece ser a citocinina por excelência para multiplicação de partes
aéreas e indução de gemas adventícias, além de ser a mais barata de todas. As
concentrações estão entre 0,1 a 5,0 mg.l-1.

122
Embora nem sempre sejam necessárias no meio de multiplicação, as auxinas
são utilizadas para estimular o crescimento das partes aéreas. As concentrações
de auxina são baixas se comparadas com as das citocininas para manter um
balanço auxina/citocinina menor que 1. O ANA é a auxina mais utilizada em meios
de multiplicação, seguido de AIB e AIA. O ANA e o AIB são, normalmente
adicionados em concentrações abaixo de 0,5 mg.l-1.

Meios sólidos ou semi-sólidos são mais comuns em trabalhos de


micropropagação. A concentração de ágar utilizada vai de 0,45 a 0,8 %.

Condições de incubação

A fase de multiplicação é a mais longa no processo de micropropagação. Por


isso, a definição das condições ambientais para essa fase é importante.

Culturas in vitro apresentam uma baixa taxa fotossintética e, assim, devem


dispor de uma fonte de carboidratos, normalmente na forma de sacarose. Nem por
isso, entretanto, elas dependem menos de luz, pois esta tem um papel importante
na morfogênese.

A maioria das culturas responde bem às condições descritas anteriormente na


fase inicial da cultura. A faixa de temperatura ótima para a grande maioria das
espécies se encontra entre 20 e 27ºC.

Manipulação dos explantes nas subculturas

O período de incubação mais comum entre repicagens é de quatro semanas.


Entretanto, este pode não ser o intervalo ideal para otimizar a taxa de
multiplicação (número de explantes produzidos por um explante num certo período
de tempo). Se a planta entrar logo na fase de crescimento ativo, é provável que
com 3 semanas ela entre na

CULTURA DE MERISTEMAS, MICROENXERTIA

123
Esta talvez seja a aplicação da cultura de tecidos vegetais mais amplamente
utilizada, principalmente naquelas que se propagam vegetativamente, as quais, a
cada geração vão apresentando disseminação e agravamento das viroses,
culminando com acentuada redução na produtividade e qualidade dos produtos.
No Esquema, são apresentadas as modalidades de obtenção de plantas isentas
de viroses.

ESQUEMA - Esquema geral mostrando modos de utilização de ápices de


pessegueiro para eliminação de viroses (Jonard et al., 1983)

Culturas de Meristemas
Os meristemas formam a única parte da planta não infectada por vírus
(Esquema). Assim sendo, a cultura do meristema propriamente dito acompanhado
de dois primórdios foliares, permite a regeneração de plantas isentas de viroses.
Quanto maior o número de primórdios foliares utilizado tanto mais facilmente se

124
obterá uma planta, porém, tanto mais dificilmente esta planta será isenta de
viroses e vice-versa.

ESQUEMA - Diagrama de um ápice meristemático

Ao se iniciar a cultura a partir de um meristema, há maior probabilidade de se


manter o genótipo original sem variação, ao mesmo tempo em que se efetua a
limpeza clonal, eliminando-se vírus de outros organismos sistêmicos.

Existem várias hipóteses que procuram explicar o fato de que um meristema


origina uma planta livre de vírus.

a) A ausência de tecidos vasculares no meristema evita que este seja atingido


pelo vírus. Em células abaixo do meristema, que estão aumentando em tamanho
mais do que se dividindo, a multiplicação dos vírus ocorre normalmente;

b) Em um meristema, há competição entre a produção de partículas de vírus e


produção de células, com vantagem para a produção de células da planta;

125
c) Durante a divisão celular, a capacidade para síntese de ácidos nucléicos
está sendo utilizada para a produção de células, em detrimento da multiplicação
de vírus.

A cultura de meristemas pode ser associada à termoterapia, permitindo que se


use um meristema acompanhado de maior número de primórdios foliares,
facilitando, desta forma, a regeneração de plantas, principalmente naqueles casos
em que é difícil a cultura de meristemas.

Os exemplos mais notáveis do uso da cultura de meristemas no Brasil se


verificam com o morango. O morango cultivado na região de Pelotas/RS
apresenta uma produtividade média de 3 t/ha; alguns produtores que passaram a
utilizar mudas obtidas por culturas de meristemas registraram uma produtividade
média elevada para 12 t/ha e, em casos extremos, de até 22 t/ha.

Microenxertia

Na impossibilidade de se obter plantas livres de vírus a partir de meristemas,


desenvolveu-se, para citros, a técnica da microenxertia, que consiste,
fundamentalmente, na obtenção de um porta-enxerto "in vitro" a partir de
sementes, sobre o qual é enxertado um meristema da planta enxerto (Esquema
3.9).

126
FIGURA 13.5 Diagrama da técnica da microenxertia "in vitro" para obtenção de
plantas livres de vírus (Baptista et al., 1991).

No preparo do porta-enxerto, a semente é desinfestada e germinada em tubo


de ensaio, sobre meio de cultura apropriado e no escuro a uma temperatura de
27ºC. Após aproximadamente três semanas, tem-se uma plantinha do caulículo, é
feito um corte em T invertido, Esta plantinha será isenta de viroses, uma vez que a
maioria dos vírus de citros não são transmitidos pela semente.

A obtenção do enxerto se faz a partir de brotações novas colhidas da planta


matriz infectada por vírus, das quais, após desinfestação, é extraído o meristema
acompanhado de dois primórdios foliares.

A operação de microenxertia propriamente dita é realizada sob lupa, em


condições assépticas de câmara de fluxo laminar. O meristema é inserido no corte
horizontal do "T" invertido do porta-enxerto, de forma que sua base fique em
contato com o tecido do córtex.

A plântula microenxertada é colocada em tubo de ensaio com meio nutriente


líquido, à luz por 16 h diárias e 27ºC. Após aproximadamente dois meses, a

127
plântula poderá ser transferida para substrato em vaso, aclimatizada e
posteriormente levada para o campo.

A termoterapia pode ser usada como uma técnica complementar à


microenxertia, permitindo que se use um meristema acompanhado de um maior
número de promórdios foliares, desta forma, a operação da microenxertia.

A microenxertia tem também sido usada para outras fruteiras, a exemplo da


macieira, videira e pessegueiro.

Termoterapia

Consiste no tratamento do material infectado por vírus por um determinado


tempo em temperatura elevada, provocando desta forma a inativação do vírus. A
termoterapia é efetiva contra vírus isométricos e micoplasmas. A temperatura e o
tempo de tratamento devem permitir apenas a sobrevivência da planta ou broto
durante a inativação. Por exemplo, vírus de videira são inativados através do
tratamento de brotos "in vitro" por 21 dias a 35ºC. Este tratamento pode se
efetuado em plantas inteiras. A termoterapia é recomendada como uma técnica
complementar da cultura de meristemas e da microenxertia, especialmente
quando a cultura de meristemas é difícil.

Indexação

As plantas obtidas através da cultura de meristemas ou microenxertia, devem


ser periodicamente testadas quanto a presença viroses, uma vez que a reinfecção
é possível. A indexação é feita tanto pelo uso das plantas indicadoras como
através de técnicas imunológicas.

Pode-se exemplificar a indexação de plantas cítricas com testes denominados


de dupla enxertia. Os testes para exocorte utilizam o limão-cravo enxertado com 3

128
borbulhas de cada árvore a ser testada e, 5 cm acima, enxertam-se borbulhas-
inóculo da variedade indicadora, que para o viróide da exocorte é a cidra (Citrus
medica L.). Para o vírus da sorose, a indicadora é a laranja doce do céu (Citrus
sinensis Osb.) . Nos testes para o viróide da xiloporose, a tangerina Parson
Special (Citrus reticulata Blanco) é usada como indicadora, porém, neste caso é
utilizado o limão rugoso. Se a planta a ser testada estiver infectada, serão
observados, nas brotações da planta indicadora, os sintomas da doença.

Certos cuidados devem ser tomados para se evitar o risco da reinfecção por
vírus: as plantas livres de vírus precisam ser mantidas em telado que impeça a
presença de insetos vetores ou em locais isolados; os vetores, principalmente
insetos e nematóides devem ser controlados; evitar a transferência mecânica,
procedendo assepsia das mãos, objetos de uso pessoal e instrumentos; esterilizar
os potes e substratos; proceder a uma seleção contínua, visualmente e por testes;
manter material livre de vírus "in vitro".

CULTURA DE EMBRIÕES

Dentre as aplicações da cultura de embriões, destacam-se os seguintes:

a) Recuperar embriões híbridos inviáveis

Cruzamentos interespecíficos e intergenéricos oferecem aos melhoristas de


plantas um método para aumentar a variabilidade genética e para transferir genes
desejáveis entre espécies, principalmente das selvagens para as cultivares. Em
tais cruzamentos, pode ocorrer barreiras tanto pré como pós-fertilização,
resultando em sementes murchas e embriões abortivos. O uso de hibridação entre
espécies estreitamente relacionadas está freqüentemente limitada por falhas do
desenvolvimento do endosperma pós-fertilização, ou seja, a fertilização ocorre e o
embriões começam a se desenvolver, porém degeneram antes de atingirem a
maturidade devido, provavelmente, a uma quebra do equilíbrio entre o material
que compõe os tecidos ovulares, o embrião em desenvolvimento e o endosperma.

129
Embriões híbridos são salvos se forem removidos antes que ocorra o aborto e
cultivados artificialmente sobre um meio nutritivo. Os citros, de modo geral,
apresentam o fenômeno da poliembrionia, onde o embrião zigítico é inibido pelos
embriões nucelares, sendo esta a causa principal do insucesso do melhoramento
das espécies cítricas. A cultura de embriões zigóticos "in vitro", desde que bem
identificados, viabiliza o processo.

b) Superar a dormência das sementes

A dormência das sementes pode ser devida a inibidores químicos endógenos


presentes no endosperma, requerimento específicos de luz e temperatura ou
resistência mecânica presente na estrutura que envolve a semente. Embriões
excitados podem superar a dormência das sementes destas espécies, produzindo-
se plantas em 2-3 semanas.

c) Superar a esterilidade das sementes

Algumas espécies produzem sementes estéreis que não geminarão ou


apresentarão um baixo índice de germinação. Esta esterilidade pode ser devida ao
desenvolvimento incompleto do embrião, mutações das estruturas que cobrem o
embrião resultando na morte dos mesmos ou algum tipo de dormência
recalcitrante contra a qual nenhum método tem sido desenvolvido. Técnicas de
cultura de embriões podem ser capazes de produzir "seedlings" viáveis daquelas
sementes.

Os cultivares de maturação precoce de Prunus sp., quando usados como


progenitores femininos em cruzamentos com cultivares tardios, produzem
sementes inviáveis porque os embriões nos frutos maduros estão ainda imaturos e
incapazes de germinar.

A cultura de embriões em bananeira, além de incrementar o poder germinativo


das sementes, permite melhor avaliação da qualidade do embrião e do
endosperma e define com precisão a viabilidade das sementes

130
Em citros, a cultura de embriões tem sido usada posteriormente ao cruzamento
entre espécies monoembriônicas diplóides e poliembriônicas tetraplóides,
objetivando a produção de híbridos triplóides sem sementes.

MEIOS NUTRITIVOS
Os meios nutritivos utilizados para a cultura de células, tecidos e órgãos de plantas fornecem as

substâncias essenciais para o crescimento dos tecidos e controlam, em grande parte, o padrão de

desenvolvimento in vitro. As mesmas vias bioquímicas e metabólicas básicas que funcionam nas plantas são

conservadas nas células cultivadas, embora alguns processos, como fotossíntese, possam ser inativados

pelas condições de cultivo e pelo estado de diferenciação das células. Por isso, os meios nutritivos se

baseiam nas exigências das plantas quanto aos nutrientes minerais, com algumas modificações para atender

às necessidades específicas in vitro. Complementando as substâncias biossintetizadas pelas células, vários

compostos orgânicos são adicionados ao meio para suprirem as necessidades metabólicos, energéticos e

estruturais das células.

Alguns dos primeiros meios apresentavam, entre os micronutrientes, metais exóticos como níquel,

titânio e berílio, além dos mais comuns (ferro, manganês, zinco, cobre e boro). A lista dos minerais incluídos

na maioria dos meios utilizados hoje foi definida por White (1943b; 1945). O meio de White continha, ainda,

vitaminas e sacarose como suplementos orgânicos. Dos hormônios vegetais, ou reguladores de crescimento,

apenas a auxina ácido 3-indolacético era conhecida nas décadas de trinta e quarenta.

Na tabela 1 são mostradas as concentrações dos diversos componentes de um dos principais meios

nutritivos, Murashige e Skoog, utilizado na técnica de cultura de tecidos vegetais.

Tabela 1- Composição do meio de cultura de Murashige & Skoog (1962).

CONSTITUINTES QUANTIDADE em mg/L

INORGÂNICOS

NH4NO3 1650

KNO3 1900

CaCl2 2 H2O 440

MgSO4 7 H2O 370

KH2PO4 170

131
KI 0,83

H3BO3 6,2

MnSO4 4 H2O 22,3

ZnSO4 7 H2O 8,6

Na2MoO4 2 H2O 0,25

CuSO4 5 H2O 0,025

CoCl2 6 H2O 0,025

FeSO4 7 H2O 27,8

Na2 EDTA 2 H2O 37,3

ORGÂNICOS

Inositol 100

Tiamina Hl 0,1

Ácido Nicotínico 0,5

Piridoxina HCl 0,5

Glicina 2,0

Sacarose 30000

Ágar 0,8%

COMPONENTES DE MEIOS NUTRITIVOS

No desenvolvimento dos meios nutritivos para a cultura de tecidos de plantas, houve desde o início,

uma procura de meios definidos de composição conhecida e controlada. Assim, torna-se possível a

reprodução dos resultados em qualquer época ou lugar. Para evitar a contaminação dos meios por impurezas

minerais, todos os sais utilizados na sua preparação devem ser de qualidade analítica (‘p.a’.).

Água
A água é o componente de maior quantidade no meio. É uma fonte potencial de impurezas que

podem afetar o crescimento de tecidos in vitro. A água destilada e deionizada, ou bi-destilada, normalmente,

é suficiente pura para uso nos meios. No entanto, dependendo da fonte da água de laboratório (poço

artesiano, por exemplo), podem ser encontrados contaminantes orgânicos voláteis, que permanecem após a

destilação e inibem o crescimento das culturas.

132
Macronutrientes
Os elementos exigidos em maiores quantidades para o crescimento de plantas inteiras são incluídos

nos meios nutritivos na forma de sais inorgânicos, são eles o nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e

enxofre.

Micronutrientes
Os micronutrientes incluem todos aqueles elementos minerais aceitos atualmente como essenciais para

plantas clorofiladas (manganês, zinco, boro, cobre, cloro, Ferro e molibdênio), além do cobalto e iodo.

Carboidratos
As células, tecidos e plântulas cultivadas in vitro não encontram condições adequadas de iluminação

e concentração de CO2 e, às vezes, não apresentam teores de clorofila suficiente para realizar fotossíntese

que sustenta o crescimento. Portanto, a sacarose é o carboidrato mais utilizado nos meios nutritivos, sendo

que esse açúcar suporta as mais altas taxas de crescimento na maioria das espécies. A concentração de

sacarose também é um fator importante para obter crescimento ótimo, dependendo do explante. Culturas de

embriões nos estágios iniciais de desenvolvimento necessitam de concentrações elevadas de sacarose (12-

18%), e altas concentrações também estimulam a formação de embriões em cultura de anteras de fumo

(Sharp et al., 1971). A concentração de sacarose mais usada é 3%. Outros compostos orgânicos, além de

carboidratos, foram testados como fonte de carbono, normalmente com pouco sucesso.

Vitaminas
Os primeiros estudos com cultura de raízes definiram a mistura básica de vitaminas utilizadas até

hoje. Essa mistura consiste de tiamina (vitamina B1), ácido nicotínico (niacina) e piridoxina (vitamina B6), a

qual normalmente se adiciona o aminoácido glicina.

Mio-Inositol
O mio-inositol é um componente do meio MS e da maioria dos outros meios em uso atualmente. A

concentração mais usada de mio-inositol nos meios é de 100 mg. l-1.

Reguladores de Crescimento ou Hormônios


A composição e concentração de hormônios no meio são fatores determinantes no crescimento e no

padrão de desenvolvimento na maioria dos sistemas de cultura de tecidos. As auxinas e as citocininas são as

classes de reguladores de crescimento mais utilizadas na cultura de tecidos. A formação de raiz, parte aérea

e calo em cultura de tecidos é regulada pela disponibilidade e interação dessas duas classes de reguladores

de crescimento.

Existem várias substâncias que pertencem a cada uma dessas classes de reguladores e que são

usadas, de acordo com o objetivo do estudo, nos meios de cultura. As várias auxinas (AIA - ácido 3-

133
indolacético, AIB - ácido indolbutírico e 2,4-D ácido 2,4-diclorofenoxiacético, entre outras) dão respostas

diferentes in vitro. AIA é considerada uma auxina instável, que se degrada facilmente pela luz ou pela

atividade microbiana que a transforma em triptofano.

Também existem diferenças entre as citocininas, sendo que o BAP – 6-benzilaminopurina induz a

formação de grandes números de brotos e alta taxa de multiplicação em muitos sistemas de

micropropagação. Poucas culturas in vitro mostram respostas às giberelinas.

Ágar e Semelhantes
Os meios nutritivos podem ser líquidos ou sólidos, sendo que a cultura em meio líquido

normalmente exige algum tipo de suporte ou agitação para fornecer o oxigênio necessário para a respiração

do explante. Os meios líquidos possuem a vantagem de preparo mais rápido (e mais barato) do que os

sólidos.

Os meios sólidos ou semi-sólidos, tradicionalmente, são solidificados com ágar (polissacarídeo

extraído de algas marinhas) o qual é dissolvido em água fervente sendo responsável pela consistência do

meio que depende de sua concentração.

pH
O pH dos meios nutritivos em culturas de células vegetais é normalmente ajustado com HCl ou

NaOH, depois de adicionar todo os componentes, para um valor ligeiramente ácido (entre 5 e 6).

PREPARAÇÃO DOS MEIOS


Em diferentes laboratórios, procedimentos diversos são utilizados para preparar os meios nutritivos.

Normalmente, mantêm-se soluções-estoque dos sais minerais na geladeira em concetrações mais elevadas,

a partir das quais, a preparação do meio é efetuada.

Soluções-estoque das vitaminas podem ser mantidas na geladeira ou no congelador; a sacarose e o

mio-inositol, que são utilizados em quantidades elevadas, são pesados sempre que se prepara um meio

nutritivo.

ESTERILIZAÇÃO
Os meios são esterilizados após serem distribuídos nos frascos ou vasilhames de cultura, por

autoclavagem a 121oC (1 kg.cm-2) por 15 – 20 minutos. Os explantes (tecido, orgão ou qualquer parte da

planta a ser propagada) também são submetidos a desinfecção. Para isto existem muitas drogas, mas é

quase generalizado o emprego de etanol (70%) por 1-2 minutos. Os explantes são imersos nesta solução e

mantidos sob constante agitação. Em seguida, deve ser enxaguados com água destilada e imersos em

134
solução de hipoclorito de sódio (2%) durante 15-20 minutos sob agitação e enxaguados com água

autoclavada, sendo este passo, feito em câmara de fluxo laminar, evitando a recontaminação do material.

TIPOS DE CULTIVOS E APLICAÇÕES DA CULTURA DE TECIDOS

1- MICROPROPAGAÇÃO

Uma das muitas aplicações da micropropagação é a propagação maciça de plantas superiores.

Muitas vezes a propagação convencional é um processo lento durante o qual doenças e problemas com

patógenos podem diminuir a produção. A micropropagação oferece o potencial para produzir milhares, ou às

vezes, bilhões de plantas, em relativo curto espaço de tempo.

Multiplicação por meio de brotos apicais e axilares: ambos, os brotos apicais e axilares contêm

meristemas quiescentes ou ativos, dependendo do estado fisiológico da planta. Estes brotos apicais

cultivados em meio de cultura, sem reguladores de crescimentos, desenvolvem-se tipicamente em brotos

semelhantes a plântulas, com forte dominância apical. Quando colocados na presença de citocininas de uma

forma geral, brotos axilares se desenvolvem prematuramente produzindo ramificações (brotos secundários e

terciários) que originam uma proliferação em massa resultando numa grande produção de plantas com alta

identidade genética.

Multiplicação por meio de cultura de calos: apesar da cultura de calo possibilitar a ocorrência de

aneuploidias e poliploidias, acarretando em perdas da identidade genética do material propagado, o

propagador pode distinguir claramente regenerantes aberrantes na primeira etapa do processo de

multiplicação, eliminando as plantas indesejáveis. Esta técnica possibilita a obtenção de uma grande

quantidade de plantas a partir de um único explante, sendo uma dos procedimentos mais eficientes na

produção rápida de plantas in vitro. No entanto a propagação via calos deve ser evitada, principalmente, no

caso de culturas economicamente importantes.

2- RECUPERAÇÃO DE PLANTAS ISENTAS DE VÍRUS (LIMPEZA CLONAL)

Utiliza-se principalmente ápices caulinares para propagação de plantas isentas de vírus.

Uma das vantagens deste sistema é a manutenção da identidade do genótipo (planta) regenerado, que

ocorre na maioria dos casos em virtude das células do meristema do ápice caulinar serem mais estáveis

geneticamente. Além disso, o ápice é uma estrutura organizada, que pode desenvolver-se diretamente em

parte aérea, em meio de cultura adequado, sem passar pela fase de calo (crescimento desordenada de

células), o que poderia levar à alterações genéticas.

3- MICROENXERTIA

135
Essa técnica consiste em microenxertar, em condições assépticas, um ápice caulinar,

contendo dois a três primórdios foliares, excisado de uma planta matriz, sobre um porta-enxerto

estabelecido (cultivado) in vitro. Decapita-se o porta-enxerto e faz-se uma excisão em T invertido no seu

topo, onde é introduzido o microenxerto. Com esta técnica torna-se possível a produção de matrizes de

fruteiras e outras plantas arbóreas, com alta qualidade fitossanitária e com características adultas, não se

revertendo ao estado juvenil.

4- CONSERVAÇÃO IN VITRO DE RECURSOS GENÉTICOS DE PLANTAS – CONSERVAÇÃO DE GERMOPLASMA.

A conservação de recursos genéticos vegetais é de grande importância , não só para a preservação

de espécies, mas também para o melhoramento vegetal. A conservação in vitro é feita utilizando-se

estratégias técnicas que possibilitam a preservação da identidade genética e o retardamento do crescimento

das culturas, tais como: redução da temperatura de incubação, aplicação de retardantes osmóticos e

hormonais no meio nutritivo, submersão das culturas em óleo minerais, utilização de suspensões celulares

em meios líquidos sob agitação, armazenamento do material em baixas temperaturas (- 196oC) ou

criopreservação.

5- SUSPENSÃO CELULAR

Este processo é utilizado para a obtenção e proliferação de células em meio líquido, sob condição de

agitação contínua, para evitar possíveis gradientes nutricionais e gasosos no meio de cultura. Além de ser

uma técnica eficiente de multiplicação rápida, as suspensões celulares tem uma grande aplicação para o

estudos de bioquímica, genética, citologia, fisiologia vegetal e fitopatologia. Este tipo de cultivo também é

empregado na produção de metabólitos secundários ou material clonal em escala comercial pela utilização

de biorreatores.

Biorreatores podem ser conceituados como equipamentos para cultivo sob imersão temporária ou

permanente de células, gemas, embriões ou qualquer tipo de propágulo que possa ser utilizado na

micropropagação. O cultivo é realizado utilizando-se meio de cultura líquido, permitindo a renovação do ar

durante este processo, bem como o monitoramento de alguns parâmetros essenciais ao crescimento do

propágulo, tais como pH, oxigênio dissolvido, temperatura, concentração de íons, etc.

6- POLINIZAÇÃO E FERTILIZAÇÃO IN VITRO

A possibilidade de se obter novas combinações no cruzamento de plantas, resultando em híbridos

inter e entra-específicos, intergenéricos ou entre espécies de famílias distintas, é dificultada por barreiras

que podem ocorrer antes da fertilização. Esta técnica permite, além de estudar os processos de polinização,

136
transpor barreiras à fertilização, impostas pelo estigma, estilete ou ovário e recuperar híbridos

interespecíficos e intergenéricos que não podem ser obtidos pelos métodos convencionais in vivo.

7- CULTURA DE EMBRIÕES

Este tipo de cultivo tem sido usado para superar dormência de sementes, em virtude da

imaturidade do embrião ou da presença de substâncias inibidoras no endosperma; estudar os aspectos

nutricionais e fisiológicos do desenvolvimento do embrião; testar a viabilidade de sementes; recuperar

híbridos raros de cruzamentos incompatíveis; e como fonte de explantes devido a elevada totipotência.

8- CULTURAS DE OVÁRIOS

A cultura de ovários fornece um sistema controlado para o estudo dos aspectos nutricionais e

fisiológicos do desenvolvimento de frutos e formação de sementes. Este método também é utilizado para a

propagação de plantas, a indução de haplóides partenogênicos e a recuperação de híbridos interespecíficos e

intergenéricos.

9- CULTURA DE PROTOPLASTOS

O cultivo de protoplastos (células vegetais desprovidas de parede celular) vem sendo utilizados no

melhoramento de espécies de interesse agronômico, para obtenção de plantas transgênicas, de híbridos

somáticos e de mutantes ou variantes somaclonais. Os protoplastos também constituem um sistema vegetal

para o estudo da expressão de genes isolados e sua regulação.

10- OBTENÇÃO DE MUTANTES IN VITRO.

Por meio da utilização de agentes mutagênicos físicos (luz UV, raios X, raios gama etc) e químicos

(antibióticos, alquilantes, azidas etc), é possível obter mutantes induzidos apresentando mutações gênicas,

cromossômicas e extranucleares. Esta técnica tem uma grande aplicação para os melhoristas por possibilitar

a ampliação da variabilidade genética.

11- EMBRIOGÊNESE SOMÁTICA

Embriogênese somática, adventícia ou assexual são termos usualmente empregados para designar

o processo pelo qual células haplóides ou somáticas desenvolvem-se por meio de diferentes estádios

embriogênicos, dando origem a uma planta, sem que ocorra a fusão de gametas. A embriogênese somática

é um método importante para propagação de plantas elite in vitro, em larga escala. Além de servir de

137
modelo para estudos básicos relacionados com a fisiologia do desenvolvimento do embrião, esse sistema

vem sendo utilizado para produção de plantas transgênicas e sementes sintéticas.

12- PRODUÇÃO DE HAPLÓIDES E DUPLOS HAPLÓIDES

Para a produção de haplóides são utilizados principalmente a cultura de anteras ou pólen, obtendo

uma planta haplóide a qual passa por um tratamento específico com antimitóticos (ex.: colchicina) para a

duplicação do cromossomos. Já os duplo-haplóides podem ser obtidos a partir da cultura in vitro de ovários

ou óvulos não polinizados, ou após cultura de embriões resultantes de cruzamentos interespecíficos ou

intergenéricos.

CULTURA DE TECIDOS VEGETAIS X PLANTAS TRANSGÊNICAS

A aplicação dos princípios genéticos na obtenção de plantas com desempenho agrícola superior tem

sido sistemático e determinante para o aumento da produtividade e para a conquista de novas fronteiras

agrícolas. Para isto o emprego de vários métodos de melhoramento e a utilização de novas tecnologias,

como a cultura in vitro de células e tecidos de plantas, têm sido determinantes. Estas técnicas são

empregadas de diferentes formas no desenvolvimento de cultivares superiores de plantas. Em geral, são

utilizadas em uma ou outra etapa do melhoramento, não necessariamente, no desenvolvimento direto de

novas cultivares.

Com o advento dos transgênicos, que do ponto de vista de um melhorista, não passa de uma

técnica avançada de melhoramento de última geração, a cultura de tecidos vegetais também vem

contribuindo para o sucesso da transformação genética, dando suporte para a produção de transgênicos,

sendo imprescindível no início (fornecendo células, protoplastos ou tecidos) e no fim do processo,

regenerando e selecionando plantas geneticamente transformadas. Vale ressaltar que o primeiro grupo de

cultivares transgênicos comercializado em diversas partes do mundo, como as resistentes a herbicidas,

insetos e patógenos, foi desenvolvido mediante uso de cultura de tecidos em combinação com métodos de

Biologia Molecular.

Substratos em Micropropagação

138
Objetiva-se aqui dar algumas informações a respeito do uso dos substratos na
fase de aclimatização das plantas propagadas 'in vitro' e do enraizamento 'ex vitro'
de brotações, ainda que possa-se considerar como substratos também os
diversos meios de cultura utilizados no estabelecimento e cultivo de plantas em
laboratório. Dentro deste enfoque, o objetivo do substrato nesta fase é propiciar
condições que minimizem o 'stress' da planta quando da sua transferência de um
ambiente mais favoráveis para outro com condições mais adversas, bem como na
passagem de um mecanismo heterotrófico para outro, autotrófico. O substrato de
transplantio na aclimatização é um ponto crítico. Além dos fatores endógenos que
controlam a rizogênese, fatores externos relativos ao substrato, como o pH e a
aeração do meio são importantes. Devido à fragilidade do sistema radicular
desenvolvido em ágar, a transferência na aclimatização é uma fase muito
delicada. Além disso, devido ao pequeno número de raízes e a sua não-
funcionalidade, há necessidade de readaptação de um meio saturado para outro,
mais seco.

5.3.1 Características do Substrato

Algumas características desejáveis de um substrato para uso em aclimatização


são:

a) Com relação à planta – estéril; não tóxico; que não provoque dano às
raízes; que ofereça facilidade de penetração pelas raízes, mesmo que sejam finas;
pH adequado ao desenvolvimento das plantas; com poder tampão do pH; com
reservas de nutrientes ou com CTC; com relação ar/água próxima a 50% sob
irrigação; capaz de absorver exsudados tóxicos produzidos durante a rizogênese;
capaz de permitir a estocagem das mudas; capaz de permitir a inoculação com
microrrizas;

b) Com relação ao uso – fácil armazenamento; fácil manejo e possível de ser


usado com mecanização; capaz de permitir um fácil transplante de plantas
herbáceas; alta densidade por unidade de área; fácil regulação da umidade; capaz

139
de permitir a esterilização por autoclavagem; com uma competitiva relação
qualidade/preço.

5.3.2. Utilização

Inúmeros materiais podem se utilizados nesta fase da micropropagação.


Podem ser usados materiais como vermiculita, perlita, areia, turfa, casca de
eucalipto ou Pinus curtida, casca de arroz carbonizada e pó de carvão. O
substrato ou mistura de substratos mais adequados é variável conforme a espécie.
Outros materiais têm sido utilizados, como fibras de polipropileno, fibras de
viscose, 'rockwool' e lã de vidro. Devido à sua esterilidade, o 'Plantmax' ou outros
substratos comerciais similares são comumente utilizados.

O substrato afeta o percentual de sobrevivência das plantas durante a


aclimatização e outras características relacionadas. O acúmulo de matéria seca
total não foi afetado pelos substratos utilizados (subsolo+areia+esterco de curral
(1:1:2), composto orgânico, vermiculita e composto orgânico comercial), ainda que
os substratos orgânicos tenham proporcionado melhor aspecto e desenvolvimento
das plantas. Houve efeito do substrato sobre o número de folhas, áreas foliar,
peso da matéria fresca da raiz e da parte aérea entre estes dois últimos
parâmetros.

Uma técnica que pode se utilizada é a do enraizamento 'ex vitro'. O


enraizamento diretamente no substrato induz à produção de um sistema radicular
mais completo e funcional, com maior número de raízes secundárias do que
aquele desenvolvido em meio de cultura com ágar. Esta prática é mais viável em
espécies herbáceas ou em espécies lenhosas com facilidade de enraizamento em
estaquia, as quais, ao serem retiradas de um estado de alta disponibilidade de
nutrientes, são capazes de emitir raízes rapidamente para absorver os nutrientes
necessários. Além disso, é possível reduzir-se o stress que ocorre quando é feito
o transplante com mudas de raiz nua para outro substrato. O enraizamento de
brotações obtidas "in vitro" pode ser efetuado em areia não-esterilizada. Esta areia

140
é enriquecida com fitorreguladores e tem o pH ajustado, como num meio normal
de cultivo. Brotações de 3 a 5 cm são utilizadas e transferidas para areia sob alta
umidade relativa do ar. É neste meio que o enraizamento é induzido e esta técnica
pode reduzir os custos da micropropagação. Tem sido sugerido o uso de 'plugs',
blocos de substrato (em geral compostos de materiais fibrosos), nos quais é
impregnada a solução nutritiva, de maneira que a planta é aclimatada e
transplantada no lugar definitivo sem qualquer injúria no sistema radicular.

VIVEIROS

A muda é o insumo mais importante na implantação de um pomar – mudas


produzidas com qualidade, desde que adequadamente manejadas, originam
pomares produtivos e rentáveis. No processo de produção de mudas de boa
qualidade, diversos cuidados devem ser tomados, desde a escolha da planta
matriz até a comercialização da muda. Dentro deste contexto, um dos aspectos de
grande importância é a infra-estrutura da área de produção de mudas. Uma infra-
estrutura adequada, racional e tecnificada é o primeiro passo para que o viveirista
tenha uma atividade eficiente e economicamente viável.

A escolha da infra- estrutura do viveiro de produção de mudas frutíferas é


dependente de diversos fatores, tais como: quantidade de mudas produzidas,
regularidade desejada da oferta de mudas, número de espécies a serem
propagadas, método de propagação, custo das instalações e grau de tecnificação
do viveirista. Em relação a este último fator, vale ressaltar que a propagação de
plantas é uma atividade muito dinâmica e freqüentemente tem tido avanços que
possibilitam a produção com qualidade e eficiência – daí, a importância do
viveirista estar em contínuo contato com os órgãos de pesquisa, universidade e
serviços de extensão, para o seu constante aperfeiçoamento.

Tipos

141
Entende-se por viveiro a área onde são concentradas todas as atividades de
produção de mudas.

Os viveiros podem ser classificados, quanto à sua duração, em permanentes e


temporários. Os viveiros permanentes são aqueles que têm caráter fixo e, neles, a
produção de mudas prolonga-se por vários anos. Por isso, requerem um bom
planejamento para a instalação, incluem uma infra-estrutura permanente e
apresentam, em geral, maiores dimensões. É importante frisar que, por mais que o
viveiro seja permanente, quando o plantio é feito no solo, uma mesma área pode
ser utilizada por, no máximo, dois anos, devido à alta sensibilidade das mudas a
pragas, doenças e invasoras, sendo necessária a adoção de rotação de culturas.
Já os viveiros temporários destinam-se à produção de mudas apenas durante
certo período e, uma vez cumpridas as suas finalidades, são desativados. Viveiros
temporários, embora menos comuns que os viveiros permanentes na produção de
mudas frutíferas, podem representar menor custo, quando não é necessária uma
infra-estrutura muito apurada.

Quanto à proteção do sistema radicular, os viveiros podem ser classificados


em viveiros com mudas de raiz nua e viveiros com mudas em recipientes. Os
viveiros para produção de mudas em raiz nua são aqueles feitos no solo, em área
de solo profundo (pelo menos 1 metro) e bem manejado, objetivando que as
mudas, para comercialização, sejam retiradas com raiz nua (mesmo que, em
alguns casos, um torrão possa acompanhar a muda). Neste tipo de viveiro, são
feitos canteiros, delimitados por carreadores, por onde transitam os veículos. Os
viveiros para produção de mudas em recipientes implicam, em geral, em menor
necessidade de área, sendo mais versáteis e permitindo que uma mesma área
seja utilizada por muito mais tempo que o tipo anterior, desde que o substrato
venha de local isento de pragas, doenças e propágulos de invasoras.

Localização

142
A escolha do local é o primeiro passo para a instalação do viveiro e apresenta
grande importância. Para tanto, diversos aspectos a seguir devem ser
considerados:

a) Facilidade de acesso: é conveniente que o viveiro tenha fácil acesso aos


compradores das mudas, pois é um fator que favorece a comercialização e a
escolha do viveirista. Neste sentido, deve-se dar especial atenção às estradas que
conduzem ao viveiro, possibilitando o fácil trânsito dos veículos que transportam
as mudas. Por outro lado, o viveiro deve estar afastado de estradas públicas de
grande movimento, para reduzir o risco de infestação das mudas.

b) Suprimento de água: a água é o principal insumo em um viveiro. O cálculo


da necessidade de água, para a irrigação e tratamentos fitossanitários, depende
do número de tratamentos fitossanitários, do consumo de água por irrigação, das
necessidades hídricas das mudas e da precipitações médias. A localização
próxima a fontes de água e, de preferência, com fontes com pouco desnível em
relação ao viveiro, reduz os custos com canalização e bombeamento. A boa
qualidade da água é fundamental. Pode ser utilizada águas de rios, lagos e de
origem subterrânea, devendo ser evitada a água contendo propágulos de algas,
pragas, doenças e invasoras. Além disso, é conveniente que a água apresente
baixos teores de partículas suspensas (que reduzem a eficiência dos sistemas de
irrigação) e de sais. Altos teores de silte e argila podem impermeabilizar a
superfície do substrato, reduzindo a sua aeração e predispondo as mudas a
doenças.

c) Distância da área de plantio: embora seja aconselhável que o viveiro esteja


localizado na mesma região onde se concentram os pomares, reduzindo o tempo
de transporte das mudas e as perdas devido à movimentação, deve-se ter
grandes cuidados para que uma distância mínima de pomares seja observada. De
modo geral, se recomenda que o viveiro esteja localizado a, no mínimo, 50 metros
de um pomar de mesma espécie, porém, quanto maior a distância, menor o risco
de infestação das mudas. Os maiores cuidados quanto ao isolamento do viveiro

143
dizem respeito a vetores aéreos de viroses (afídeos) e vetores do solo
(nematóides).

d) Ocorrência de invasoras: o viveiro deve estar localizado em área livre de


invasoras. Viveiros com determinadas invasoras não podem ser utilizados e a
comercialização de mudas produzidas dos mesmos é proibida por lei. As
principais invasoras incluídas nesta classe são a tiririca (Cyperus rotundus) e
grama-seda (Cynodon dactylon). Além disso, como o controle de invasoras é mais
difícil em viveiros, deve-se fazer uma contínua vigilância e erradicação das
invasoras.

e) Facilidade de obtenção de mão-de-obra: viveiros demandam grande


quantidade de mão-de-obra, tanto para a produção de mudas em si, como
também para o monitoramento e controle de invasoras, pragas e doenças. A
disponibilidade de mão-de-obra próxima ao viveiro contribui para a redução do
custo de produção de mudas.

f) Declividade da área: é recomendável que a área tenha pouca declividade e


esteja localizada em área de relevo levemente ondulado, porém não esteja
localizado em áreas muitos planas que venham a acumular a água das chuvas ou
da irrigações. Independente do grau de declividade da área, os canteiros devem
estar localizados no sentido perpendicular à movimentação da água, para reduzir
os ricos de erosão. Quanto maior a declividade, maiores devem ser os cuidados
quanto à práticas conservacionistas.

g) Aspectos físicos do solo: é conveniente a instalação de viveiros em área


com solos profundos, e medianamente arenosos. Porém, como nem sempre isto é
possível, deve-se escolher as áreas cujo solo apresenta as melhores condições
físicas possíveis. Solos muito argilosos dificultam a mecanização e o
desenvolvimento radicular. Solos com elevada porosidade são desejáveis – esta
característica pode ser parcialmente melhorada com incorporação de matéria
orgânica e adubação verde. Especialmente em áreas onde há intensas chuvas, o
solo deve ter boa capacidade de drenagem, devendo serem evitadas áreas
encharcadas ou sujeitas à inundação, pois isso aumenta o risco de podridões de

144
raízes e de toxidez de manganês. Para a adoção de sistemas de drenagem, deve-
se estudar as características físicas do solo, tais como a profundidade do
horizonte impermeável, condutividade hidráulica e textura.

h) Aspectos químicos do solo: embora as condições químicas dos solos podem


ser modificadas, a localização do viveiro em área cujo solo não seja muito ácido,
tenha boa fertilidade natural e bom teor de matéria orgânica reduz os custos de
implantação.

i) Aspectos biológicos do solo: solos em riscos de matéria orgânica tem vida


micro e macrobiana mais ativa, o que pode favorecer o desenvolvimento das
mudas. Porém, deve-se utilizar áreas isentas de nematóides, insetos de solo,
fungos patogênicos (Fusarium, Pythium, Armillaria, Rosellinia, Phytophthora, entre
outros) e bactérias fitopatogênicas (Agrobacterium tumefasciens). Por isso, é
necessário o monitoramento através de análises microbiológicas do solo a ser
utilizado como viveiro. A desinfestação do solo pode ser uma boa alternativa no
controle de patógenos de solo e invasoras, porém normalmente é de alto custo e
acarreta danos sobre toda a vida microbiana do solo. A escolha adequada e o
manejo da área, principalmente no que se refere à rotação de culturas é
fundamental, pois até o momento, não se encontrou um método de controle
eficiente contra podridões de raiz.

j) Cultivos anteriores: o viveiro deve estar localizado em área onde não


existiram pomares há, pelo menos 5 anos, e onde não existiram viveiros há, pelo
menos 3 anos. Quando se utilizam áreas onde, anteriormente havia mata ou
outras plantas perenes, deve ser feita a destoca no mínimo 2 anos antes da
implantação do viveiro, plantando-se gramíneas anuais até que o viveiro seja
implantado. Estas gramíneas podem ser incorporadas ao solo para elevação do
teor de matéria orgânica. Algumas plantas frutíferas liberam no solo algumas
fitotoxinas, as quais comprometem os cultivos posteriores, implicando na
necessidade de ser feita a rotação de culturas. Por exemplo, a nogueira libera no
solo o Juglone, a macieira libera a Floridzina e o pessegueiro e a ameixeira, a
Prunasina e a Amigdalina.

145
k) Aspectos climáticos: o melhor clima do local onde o viveiro será implantado
depende da(s) espécie(s) a ser(em) propagada(s). Entre os fatores climáticos mais
limitantes estão a temperatura, a luz e a ocorrência de ventos. No que se refere à
temperatura, é importante que o viveiro esteja localizado em área o mais livre
possível de geadas. Além disso, temperaturas médias mais elevadas facilitam a
produção de mudas em menor tempo. Como exemplo, pode ser citado o fato de
que, enquanto mudas cítricas requerem cerca de 24 meses para serem
produzidas em SP, no RS requerem cerca de 36 meses. A exposição à luz é
fundamental, especialmente na fase final de propagação, sendo preferencial a
exposição Norte. Ventos muito fortes aumentam a quebra no local da enxertia,
podendo requerer a implantação de quebra-ventos.

Dimensionamento

A extensão da área do viveiro depende de diversos fatores, sendo os


principais:

a) Quantidade de mudas para plantio e replantio, determinada pela capacidade


operacional do viveiro e da demanda por mudas pelos produtores.

b) Densidade de mudas, o que depende da espécie e do tempo de


permanência, de modo a proporcionar as melhores condições para o seu
desenvolvimento.

c) Período de rotação, que se refere ao tempo que a muda permanece desde o


início da sua produção até o seu replantio ou comercialização. Também é
dependente da espécie, além de depender do método de propagação e do manejo
da muda.

d) Dimensões dos canteiros e carreadores, que dependem da espécie a ser


propagada e do grau de mecanização adotado. Viveiros com maior grau de
mecanização requerem canteiros mais longos, maiores distâncias entre linhas e
carreadores mais largos.

146
e) Dimensões das instalações, que são determinadas principalmente, pela
quantidade de mudas que são produzidas, pelo método de propagação adotado e
pelo grau de tecnologia empregado.

f) Áreas para rotação, fundamentais para a produção de mudas sadias,


especialmente se a produção de mudas for feita diretamente no solo. O
dimensionamento do viveiro deverá considerar a disponibilidade de áreas para
rotação, de modo que uma mesma área não seja utilizada para produção de
mudas por mais de 2 anos.

Um dos aspectos fundamentais a serem considerados no planejamento e


dimensionamento dos viveiros é a seleção das espécies a serem propagadas. Há
viveiristas especializados em propagar apenas uma espécie, bem como viveiristas
extremamente ecléticos, os quais propagam inúmeras espécies. Esta escolha
depende da capacidade do mercado absorver a produção das mudas, do tipo de
clientela, do grau de especialização e profissionalização do viveirista, das
condições ambientais do viveiro e das exigências climáticas das espécies. De
qualquer forma, os principais cuidados a serem tomados pelo viveirista quando da
seleção das espécies é procurar trabalhar em um certa "economia de escala",
visando reduzir os custos unitários da muda, bem como não abrir mão da
qualidade do produto.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DE MUDAS

Na propagação de plantas frutíferas, têm-se o objetivo de produzir mudas de


excelente qualidade e no menor período de tempo possível. Para tanto, o uso de
determinadas técnicas é essencial e entre estas a adubação se reveste de grande
importância. A adubação visa fornecer nutrientes em forma prontamente

147
disponível para as plantas em formação, quando estes estão disponíveis na
solução do solo em quantidades menores que as requeridas pelas plantas. A
adubação em mudas objetiva essencialmente conferir à planta uma situação
nutricional equilibrada, bem como uma redução no tempo de produção da muda.
Dessa forma, a planta terá boas condições para suportar o estresse do transplante
para a área de produção e se desenvolverá satisfatoriamente. É interesse do
produtor obter plantas vigorosas e uniformes na sementeira e, para tanto, a adição
de fertilizantes contribui significativamente. A adubação é uma das técnicas que
podem ser usadas com a finalidade de reduzir o tempo necessário entre a
semeadura e a enxertia.

Ainda que os princípios que regem a nutrição e adubação de mudas sejam


semelhantes aos referentes a plantas adultas, algumas particularidades na prática
da adubação na produção de mudas (sementeira ou viveiro) devem ser
consideradas:

a) Especialmente em se tratando de sementeiras, há uma elevada densidade


de plantas e a conseqüente competição por nutrientes deve ser compensada por
uma boa disponibilidade dos mesmos;

b) Em geral, as mudas na fase inicial de desenvolvimento apresentam um


sistema radicular pouco desenvolvido, com pequeno volume de solo explorado.
Em especial para nutrientes pouco móveis no solo, é conveniente permitir que
haja uma boa distribuição dos nutrientes no substrato e, para tanto, deve-se
misturar bem os fertilizantes quando do preparo do substrato. Mudas oriundas de
estacas, cujas raízes adventícias pode apresentar-se pouco eficientes na
absorção de nutrientes requerem este cuidado;

6.1 Nutrição

O N e o P são os nutrientes que mais freqüentemente proporcionam respostas


positivas no crescimento das plantas, na produção de mudas frutíferas, e é sobre
estes elementos que é encontrada grande parte das citações na literatura. Isto não

148
significa que estes nutrientes tenham maior importância que os demais, mas sim
que são exigidos em elevadas quantidades e são encontrados em menor
quantidade no solo. Apesar da sua importância, a adubação potássica não
provoca grandes efeitos no crescimento, sendo o K aplicado mais como medida
de segurança ou para corrigir desequilíbrios com outros cátions (Ca e Mg).

Assim como é preconizado na adubação de qualquer planta, também na


produção de mudas objetiva-se alcançar um estado nutricional equilibrado, com
reflexos positivos no crescimento da muda e na sua qualidade final. A grande
importância atribuída à adubação fosfatada e nitrogenada pode ocasionar
desequilíbrios nutricionais envolvendo especialmente micronutrientes. A adubação
nitrogenada tem menor efeito quando são efetuadas adubações fosfatadas
pesadas.

No caso de mudas produzidas por estaquia, o K, Ca e Mg apresentam


respostas não tão evidentes quanto o N e o P, mas não devem ser dispensadas.

Outro fator a ser considerado é o pH do solo ou do substrato utilizado, o qual


afeta o crescimento das plantas, através do efeito sobre a disponibilidade de
diversos nutrientes. Um pH em torno de 6,0 a 6,5 permite a observação
equilibrada de nutrientes, ainda que o pH mais adequado varie com a espécie.
Além do calcário, corretivo normalmente utilizado, a adição de materiais orgânicas
tem efeito na redução da acidez. O sulfato de amônio aplicado em cobertura
ocasiona a redução do pH. Por esta razão, muitas vezes o uso deste fertilizante
não é recomendado.

6.2 Adubação Mineral

A adubação mineral apresenta vantagens como a maior concentração de


nutrientes por unidade de fertilizante, facilidade de manejo e quantificação mais
precisa dos nutrientes aplicados. Por outro lado, seu custo é normalmente mais
elevado e determinados fertilizantes podem acarretar redução do pH do solo.

149
Os fertilizantes minerais mais utilizados na produção de mudas, bem como a
concentração de nutrientes são citados na Tabela 6.1.

Atenção especial deve ser dada aos íons acompanhantes. A presença do Ca


no superfosfato simples atua sobre a disponibilidade de alumínio e tem influência
sobre o teor de Ca+ Mg, pH e Ca na matéria seca. Os íons componentes
provocam reações importantes como fitotoxidez, solubilidade, lixiviação de cátions
e alterações no pH.

Devido às exigências sazonais e às particularidades de taxas de crescimento,


características de plantas frutíferas, as formulações de fertilizantes não atendem
tão bem às necessidades das mudas e têm menor eficiência que os adubos
simples, os quais devem ser preferidos.

Face à elevada sensibilidade das mudas, deve-se quantificar corretamente o


adubo de modo a evitar danos sobre as plantas. São muito freqüentes as
recomendações de adubação na produção de mudas que não consideram os

150
nutrientes já disponíveis no substrato a ser utilizado. Dessa forma, muita vezes a
adubação pode ser sub ou superestimada, dependendo da doses a serem
aplicadas. Isto se deve ao fato de que muitas vezes são utilizados materiais
pobres em nutrientes, como areia e "terra de barranco" ou pequenos volumes de
substrato, nos quais os nutrientes se esgotariam facilmente. Dessa forma, a
recomendação de adubação pode ser inadequada.

É conveniente se considerar, na quantificação das doses de fertilizantes,


alguns fatores tais como: a) cultura a ser propagada; b) método ou técnica de
propagação; c) análise de solo; d) análise foliar (uso restrito, devido ao tempo
curto); e) ocorrência de sintomas visuais de deficiência e f) volume de solo
disponível.

A exigência em adubação, bem como a tolerância a elementos tóxicos varia


conforme a espécie ou cultivar, afetando a quantificação das doses de adubo a
aplicar. O uso racional de fertilizantes depende das características da espécie ou
cultivar, em função da habilidade diferencial na absorção e translocação de
nutrientes, a qual também é afetada pelas diferenças na distribuição do sistema
radicular e pela capacidade de troca de íons na superfície das raízes.

6.3 Adubação Orgânica

A adubação orgânica é freqüentemente aplicada na produção de mudas na


composição do substrato. A matéria orgânica já se encontra naturalmente
presente no solo, podendo ser suplementada com uso de materiais orgânicos. A
adubação orgânica, além de fornecer nutrientes, apresenta vantagens como o
baixo custo, proporcionando uma relação água/ar mais adequada, incremento do
desenvolvimento do sistema radicular, atividade microbiana e nutrição vegetal. As
condições químicas do solo, como a CTC, também são favorecidas. Pode haver
diminuição no teor de Al trocável e da necessidade de calcário do solo com
aplicação de resíduos orgânicos. Por outro lado, há efeitos negativos tais como o
risco de proliferação e ataque de patógenos, como no caso de plantas cítricas e

151
abacateiros. Em sementeira de citros, o adubo orgânico favorece o
desenvolvimento de doenças no sistema radicular e no colo da planta.

Em mamoeiro, Müller et al. (1980) observaram um aumento gradativo no


crescimento das plantas à medida que se elevou a proporção do adubo orgânico
na mistura até a concentração volumétrica de 20%.

Muitos materiais podem ser utilizados para a adubação orgânica, tais como o
composto orgânico, vermicomposto, esterco, composto de lixo urbano, entre
outros. Há muita variação na composição dos materiais orgânicos, conforme a sua
origem. Na Tabela 6.2, são apresentados alguns teores de nutrientes em adubos
orgânicos. Em função desta diversidade, estas informações devem ser utilizadas
como um indicativo no momento da adubação, mas não como parâmetro seguro
do teor de nutrientes.

Quanto à escolha do material orgânico, deve-se dar preferência a resíduos


curtidos e já estabilizados, para não ocasionar efeitos deletérios sobre as mudas,
produtos de fácil obtenção e baixo custo, podendo até mesmo serem preparados
na propriedade. Deve-se evitar o uso isolado de materiais de elevada relação C/N
como a serragem e a casca de arroz, devido à posterior competição por N para
decomposição por microorganismos, o que pode resultar em menor
disponibilidade deste nutriente para as plantas.

152
6.4 Adubação em sementeiras e recipientes

A sementeira é o local destinado a propiciar condições adequadas para a


germinação e o desenvolvimento das mudas até a repicagem. Ainda que os
nutrientes não sejam necessários para a germinação, a adubação é necessária
para conferir uma boa nutrição à planta. A adubação na sementeira depende
essencialmente do tempo de permanência da muda na mesma. A semeadura
pode ser realizada tanto em canteiros no viveiro quanto em recipientes. Sendo a
dosagem de fertilizantes dado em m2 (canteiros) ou m3 (recipientes). De modo a
evitar danos às plantas, as doses de P aplicados de forma localizada nos
canteiros são menores que as doses em misturas para recipientes.

Em canteiros, é efetuada uma adubação de correção antes da semeadura, em


linha ou a lanço (caso em que deve ser feita uma boa homogeinização com uso de
lavrações e gradagens). Esta adubação é complementada por aplicações de
fertilizantes em cobertura, em geral com N, conforme a necessidade da planta e a

153
manifestação de sintomas de carência. Em se trabalhando com recipientes, é feita
uma boa homogeinização quando do preparo do substrato. O excesso de N em
adubações de cobertura, especialmente em solos ricos em matéria orgânica, pode
aumentar a incidência de doenças. A adubação nitrogenada deve ser realizada
com cautela, devendo-se também evitar excessos de fertilizantes, pois a
concentração de sais na solução do solo pode ser tornar muito elevada, inibindo a
germinação.

Especialmente quanto à adubação de solo em recipientes, deve-se considerar


o volume de substrato disponível e o tempo de permanência da muda no
recipiente. Hartmann et al. (1990) sugerem que se aplique um fertilizante de
liberação lenta com um fertilizante líquido aplicado periodicamente ou com
fertilizantes de liberação controlada. Atualmente, já existem no mercado
fertilizantes com liberação lenta de nutrientes, como por exemplo, o Osmocote.

6.5 Adubação em viveiros

No viveiro, a muda permanece por um tempo mais longo, ate a


comercialização. Assim, há necessidade de uma adubação de correção que
supra, ao menos em parte, as necessidades da muda durante este período. A
correção deve ser feita com calcário, preferencialmente dolomítico, e com
antecedência mínima de 3 meses, para elevar o pH ao nível adequado para a
cultura. A adubação e a correção da área do viveiro devem ser feitas com base na
análise de solo. Pode ser ainda prevista uma adubação verde, como forma de
elevar o teor de matéria orgânica do solo. Esta deve ser realizada com uma
antecedência mínima de 6 meses ao uso do viveiro.

6.5.1 Quantificação das Doses de Fertilizantes

154
A quantidade de adubo a ser aplicado interfere na rentabilidade do viveiro e na
ação fitotóxica da adubação.

Os materiais orgânicos são comumente utilizados na adubação de mudas. Sua


facilidade de obtenção e influência favorável sobre o crescimento das plantas e
propriedades do solo estimulam o seu emprego. Basicamente dois aspectos
devem ser considerados: a) a dificuldade de quantificação precisa dos nutrientes
existentes em cada tipo de material, função da variabilidade de composição dos
materiais orgânicos e da carência de dados sobre o teor de nutrientes, pode
acarretar problemas de excessos ou deficiências nutricionais; b) o estado do
material orgânico, não sendo aconselhado o uso de resíduos em fermentação ou
com elevada relação C/N. Deve-se dar preferência a materiais orgânicos bem
curtidos.

A exigência em adubação, bem como a tolerância a elementos tóxicos varia


conforme a espécie ou cultivar, afetando a quantificação das doses de adubo a
aplicar.

7) IRRIGAÇÃO NA PRODUÇÃO DE MUDAS

155
Vários aspectos na produção de uma muda de qualidade devem ser
considerados. Entre os vários pontos relevantes pode-se citar o local de instalação
do viveiro, controle de plantas daninhas, pragas e doenças, nutrição mineral e a
irrigação.

A irrigação seja na cultura instalada ou no viveiro de produção de mudas, é de


suma importância para o fruticultor ou viveirista que deseja obter mudas de
qualidade. Durante o desenvolvimento da muda existem várias fases críticas onde
a disponibilidade hídrica se faz necessária. De maneira geral o viveirista objetiva
conseguir uma muda de crescimento uniforme e ereto, o que vai facilitar todas as
operações do viveiro, seja na enxertia e forçagem, quanto no desponte e formação
das pernadas.

A irrigação durante o período inicial de desenvolvimento das mudas é


imprescindível, notadamente após a semeadura. A água utilizada pode ser
proveniente de rios, lagos ou até de poços subterrâneos. Uma exigência é que a
água deve ser limpa, tendo-se o cuidado para evitar a introdução de algas ou
sementes de plantas daninhas. Segundo alguns autores, a água deve ter no
máximo 200 ppm de silte e cálcio, menos de 10 ppm de sódio e 0,5 ppm de boro.
Água com alto teor de silte ou colóides corre-se o risco de impermeabilização da
superfície do substrato, reduzindo sua aeração e consequentemente
predisposição das mudas a doenças e pragas.

7.1 Qualidade da Água

No planejamento de um viveiro deve-se preocupar com fonte de água de boa


qualidade para irrigação e não contar somente com chuvas.

Quanto ao tipo de irrigação utilizada, vai depender do local de produção da


muda, da disponibilidade de água, disponibilidade de recursos, além do tipo de
substrato ou solo e das condições do local.

156
7.2 Frequência

Neste particular, o que se pretende salientar é o efeito da quantidade de


suprimento de água, forma e freqüência de distribuição. Logicamente as mudas
produzidas em casa de vegetação, com equipamentos sofisticados, não há
necessidade de uma maior preocupação. Na verdade os aspectos de quantidade
de água, forma e freqüência, estão ligados diretamente às condições
atmosféricas, qualidade física e química do substrato, porosidade e grau de
saturação, estação do ano, estágio de desenvolvimento das mudas, além do tipo e
cobertura dos canteiros ou sementeiras. Os vários tipos de coberturas existentes
permitem uma maior ou menor perda de umidade, sendo que para cada tipo deve-
se adequar uma metodologia isoladamente.

Outro aspecto a ser considerado é a espécie em questão, cada uma delas se


comporta diferentemente da outra. É indiscutível manter uma umidade adequada
logo após a semeadura, do contrário corre-se o risco de perdas irreparáveis na
obtenção das mudas. Em contraste, o encharcamento é muito prejudicial, pois
além de permitir a lixiviação de nutrientes e diminuir a aeração, pode favorecer o
surgimento de doenças, a exemplo do "damping-off".

Contudo, o cálculo da quantidade exata de quanto e quando colocar de água é


complicado, pois depende de uma série de fatores. Via de regra, é a experiência
profissional do produto de mudas que vai definir a freqüência e a quantidade de
água a ser colocada numa dada sementeira, recipiente ou viveiro. Apesar das
escassas pesquisas existentes sabe-se que a irrigação no início da manhã,
principalmente em regiões e épocas frias, são recomendáveis, pois permite a
rápida condensação do gelo que eventualmente possa-se formar na superfície das
folhas.

Irrigação no final do dia permite que o substrato permaneça úmido por mais
tempo, de modo que o potencial hídrico das mudas mantenha-se com valores
mais altos durante à noite. Apesar da experiência ser um fator que pode auxiliar o
viveirista, este pode lançar mão de recursos técnicos de baixo custo e ótimos
resultados. Pode-se adotar como regra geral que a época de irrigação é mais

157
importante do que a quantidade de água aplicada. Enfim, verifica-se que há
necessidade de pesquisas, direcionadas às diferentes espécies, para
determinação de água e freqüência de irrigação para a obtenção de mudas de alta
qualidade.

8) FITOSSANIDADE NA PRODUÇÃO DE MUDAS

A dificuldade em encontrar mudas de qualidade tem se constituído em um dos


mais sérios problemas com que se defronta o produtor de frutas. A qualidade
sanitária da muda é, sem dúvida, um dos componentes mais importantes da
qualidade da muda e afetará diretamente a eficiência produtiva do pomar.

Não haveria investimento com melhor retorno para o produtor do que aquele
que visa a obtenção de uma muda isenta de vírus e outros microorganismos
patogênos sistêmicos, ou pragas que contaminem o pomar através das mudas,
como a pérola-da-terra da videira, ou nematóides. Mesmo quando apenas
algumas mudas estão contaminadas, o resultado pode ser desastroso.

O problema é que o produtor brasileiro, geralmente, não encontra no mercado


mudas com garantia de isenção de doenças e pragas. A escaldadura da folha das
ameixeiras, causada pela bactéria Xylella fastidiosa é um exemplo. No caso de
Santa Catarina, a cultivar mais plantada, 'Santa Rosa', representa mais de 60% da
área dos cerca de 1000 há existentes. Plantas desta cultivar, quando
contaminadas, morrem em três anos. Como a doença é transmitida por
cigarrinhas, se existir uma planta contaminada no pomar, a contaminação de
outras plantas é praticamente inevitável. Não existem cultivares de ameixeiras
comercialmente competitivas, adaptadas às condições edafoclimáticas de Santa
Catarina, que sejam resistentes. Varia apenas o tempo que as plantas levam para
morrer. Em outras regiões do mundo, onde ocorre esta doença, o cultivo da
ameixeira praticamente sumiu, como aconteceu na Região do Delta, na Argentina,
e nos estados do sudeste dos Estados Unidos.

158
Quando a doença foi diagnosticada no sul no Brasil, em 1975, a área de
ameixeiras em Santa Catarina era de cerca de 400 ha, regredindo para menos de
50 ha em 1982. Voltou, então, novamente a crescer, devido ao fato de que era
tecnicamente possível obter mudas isentas de bactéria. Com a pressa de plantar,
devido aos altos preços da ameixa no mercado, esqueceu-se de questionar as
garantias de sanidades das mudas e os riscos de contaminação a partir de
ameixeiras doentes nas proximidades do pomar. Hoje são 1000 ha de ameixeiras
com os dias contados, ou seja, um investimento de quatro milhões de reais
ameaçado, já que o custo de implantação por hectare, gira em torno de R$
4.000,00.

O fruticultor brasileiro tem que implementar toda tecnologia disponível e tirar o


melhor proveito dos fatores de produção sob seu controle, a começar por uma
muda de boa qualidade.

8.1 Doenças em Sementeiras e Viveiros

A incidência de doenças tem sido, com freqüência, responsável pela baixa


qualidade das mudas produzidas, acarretando sérios prejuízos quer nas fases de
sementeira e viveiro, como no plantio definitivo. Algumas doenças, apesar de não
se manifestarem nas fases de sementeira e viveiro, são introduzidas e
disseminadas principalmente através do material de propagação. A utilização de
material propagativo sadio é de fundamental importância para a formação de
pomares livres de patógenos, os quais causam queda na produtividade e
longevidade das plantas.

Com relação ao controle fitossanitário, recomenda-se usar os tratamentos


indicados para todas as pragas e doenças que ocorrem no pomar, através do
controle integrado ou de outra forma, além do emprego de medidas tais como a
limpeza e desinfeção das ferramentas usadas nos viveiros e pomares até o
cuidado com mudas e borbulhas dos novos plantios.

159
Em plantas frutíferas, que são propagadas vegetativamente, a importância das
doenças causadas por vírus é grande, pois todas as plantas obtidas de uma planta
infectada também se apresentarão com o patógeno.

A maioria dos vírus, viróides e micoplasmas é transmitida por enxertos. Há,


porém, alguns que são transmitidos por insetos, nematóides, sementes ou
mecanicamente. Nas espécies frutíferas, a transmissão por enxertia é a mais
importante e os cuidados devem ser redobrados para se evitar a infecção de todo
o viveiro. Em se tratando de plantas em viveiro, não se pode confiar em inspeções
visuais, ou seja, na identificação de plantas doentes apenas através dos sintomas
visíveis a olho nú, porque muitas doenças não se manifestam no período do
viveiro, havendo aquelas que levam anos para apresentar sintomas visíveis ou
mesmo aquelas que nunca os apresentam.

A melhor recomendação de controle é o uso de material sadio. Para isto, é


necessário que se faça a multiplicação apenas a partir de plantas indexadas, isto
é, testadas para a presença dos vírus que ocorrem na cultura. O material que se
mostra infectado, se for importante como variedade, poderá passar por um
processo de limpeza, na qual poderá ser utilizada a termoterapia e/ou cultura de
meristema. Após passar por este processo de limpeza, o material deverá ser
novamente indexado e, estando isento dos patógenos para os quais foi testado,
será liberado para multiplicação. É importante observar que não só as
borbulheiras devem ser indexadas, mas também os porta-enxertos, pois estes
podem estar infectados e transmitir o vírus para a copa. É possível diminuir os
danos causados por um vírus pelo uso de fenômeno da "proteção cruzada", que é
aquela conferida a uma planta infectada sistematicamente por uma estirpe de um
vírus contra outras do mesmo vírus. Se a estirpe que infecta a planta em primeiro
lugar é fraca, isto é, causa poucos danos, a planta ficará protegida contra a
infecção por estirpes fortes. Inoculando-se as mudas no viveiro com uma estirpe
sabidamente fraca, consegue-se então obter plantas protegidas contra as fortes
que ocorrem naturalmente e irão infectar as plantas no campo. Esta é a chamada
premunização, largamente usada em pomares citrícolas paulistas para protegê-los
contra o vírus da tristeza. Optou-se pela premunização no caso da tristeza, pois o

160
vírus é transmitido por pulgões e o uso de material sadio não resolveria o
problema pois todas as plantas ficariam expostas no campo ao ataque do vetor.

Desta forma, só devem ser multiplicadas plantas que tenham sido submetidas
a testes de sanidade. Todas as matrizes devem ser testadas periodicamente, pois
uma planta considerada sadia pode se tornar infectada.

8.2 Pragas em Sementeiras e Viveiros

As pragas que atacam as mudas nas sementeiras e viveiros, podem causar


grandes prejuízos, tanto ao crescimento das mudas quanto à sua qualidade final.

O crescimento e brotação contínuos das plantas jovens, propiciam o ambiente


ideal para a rápida expansão das populações de diversas pragas. Por isso, a
atenção em viveiros de mudas é indispensável.

De modo geral, pode-se afirmar que o primeiro passo para o controle de uma
praga no pomar é dado no controle fitossanitário no viveiro, pois isto dificultará a
disseminação das pragas através das mudas.

As pragas que prejudicam as mudas em viveiros são os pulgões, lagartas,


formigas, cigarrinhas, ácaros e nematóides, dependendo da cultura.

As pragas de raízes e os nematóides, às vezes, não são detectados nos


viveiros mas adquirem grande importância porque são observados apenas depois
de alguns anos da formação do pomar, uma vez que as mudas são o principal
meio para dispersão dessas pragas.

Em todos os casos de infestação por nematóides, o principal método de


controle é o preventivo, mediante o plantio de mudas isentas do patógeno. Desse
modo, é necessário o exame de mudas para evitar a disseminação do nematóide
para áreas não-infestadas. A escolha de órgão propagativos sadios, às vezes, é
suficiente para manter o viveiro livre ou pelo menos com baixa população de
pragas.

161
É bom lembrar que o controle fitossanitário em sementeiras, viveiros e em
plantas matrizes fornecedoras de material propagativo é feito de acordo com as
necessidades. Esse controle deve ser monitorado utilizando-se os produtos de
forma correta, preservando a integridade do meio ambiente e a saúde do
trabalhador.

Quando da aplicação de controle químico, deve-se dar preferência a produtos


de baixa toxicidade ao homem e, em ripados ou viveiros fechados, dar preferência
aos inseticidas granulados sistêmicos para controle de sugadores.

Detectando-se a presença de inimigos naturais das pragas, deve-se pelo


menos, utilizar produtos químicos seletivos.

9) MICORRIZAS

Os benefícios da associação micorrízia são conhecidos desde 1885, contudo


somente nas últimas décadas é que estão sendo pesquisados com mais detalhes.
Estas associações beneficiam a planta hospedeira pela maior absorção de
nutrientes do solo, principalmente P, K, Zn, Cu e Fe; maior peso da matéria seca
da parte aérea e radicular; indução de uma maior tolerância aos estresses devido
à seca, fatores fitotóxicos e patógenos do sistema radicular. Além disso tornam as
plantas micorrizadas mais adaptadas a solos de baixa fertilidade e ácidos, assim
como a maioria dos solos brasileiros designados para o plantio de frutíferas.

A maior quantidade de informações sobre o uso de micorrizas na produção de


mudas é encontrada com espécies cítricas. Mais recentemente, diversas outras
espécies vêm sendo pesquisadas com o objetivo de favorecer a sobrevivência das
mudas durante a aclimatização, após o cultivo "in vitro". Além disso, a tolerância a
fatores indesejáveis do solo pode ser aumentada com o uso de micorrizas.

Algumas espécies tem alta dependência micorrízica, enquanto em outras, esta


dependência é quase nula.

Quando se iniciaram às práticas de fumigação do solo para produção de


mudas cítricas nos EUA, observaram-se cloroses nas mudas, o que foi atribuído à

162
toxicidade do produto remanescente no solo. Posteriormente, encontraram-se
evidências que a causa deste problema era a nutrição inadequada das plantas
devido à morte dos fungos endomicorrízicos, provocada pela fumigação. Em
viveiros em que se utilizava a prática da fumigação nas mudas cítricas, ocorria
principalmente a deficiência dos nutrientes P, Zn e Cu.

Atualmente, um dos principais entraves ao uso comercial das micorrizas é a


falta de inoculantes específicos e eficientes para cada situação, de modo a
proporcionar uma alta colonização do sistema radicular.

9.1 Aspectos Gerais sobre Fungos Micorrízicos

Embora as micorrizas sejam um grupo de fungos de solo, o termo "micorriza"


pode ser também definido como a associação simbiótica mutualista, entre fungos
do solo e raízes das plantas, na qual os membros se beneficiam da associação.

Micorrizas vesículo-arbusculares (FMVA) ocorrem em cerca de 80% das


plantas, desde briófitas até angiospermas e somente um pequeno número de
espécies de plantas são incompatíveis (famílias Cyperaceae, Juncaceae,
Chenopodiaceae, Cruciferaceae e Proteaceae).

A associação MVA tem três importantes componentes (Esquema 9.1): a)


raiz; b) estruturas do fungo no interior das células da raiz, que são as hifas, os
arbúsculos (parte do fungo responsável pelas trocas com a planta) e as vesículas

163
(local de armazenamento de reservas do fungo, principalmente fósforo extraído da
solução do solo); e c) micélio extra-radicular (faz exploração do solo). Os fungos
MVA caracterizam-se pela penetração da hifa inter e intracelular no córtex, pela
ausência de manto de micélio externo e de modificações morfológicas visuais na
raízes e por não crescerem em meio de cultura na ausência de raízes vivas,
sendo portanto, simbiontes obrigatórios. Outra característica do FMVA é a baixa
especificidade, ou seja, o fungo isolado de determinada espécie, geralmente pode
colonizar qualquer outra, capaz de formar micorriza versículo-arbuscular. O
processo de formação das MVA inicia-se pela germinação dos propágulos do
fungo existentes no solo, tais como: esporos, pedaços de raiz colonizada e parte
de hifa sobrevivente no solo; crescimento da hifa infectiva e penetração na raiz
através do apressório, originando a colonização do córtex inter e
intracelularmente.

A taxa de colonização nas raízes pode ser influenciada por diversos fatores:
teor de P no solo, espécie da planta, tipo de solo, temperatura, pH do solo,
defensivos agrícolas (fungicidas, inseticidas e herbicidas).

9.2 Pesquisas com FMVA em Citros

Camargo et al. (1990) verificaram o efeito de diferentes doses de fósforo (0;


320; 640 e 1.280 gramas de P2O5/m3 de substrato) e fontes (superfosfato simples
e apatita de araxá) com inoculação de fungos MVA (mistura: Acaulospora
morrowae e Glomus clarum) e sem inoculação, sobre os níveis de nutrientes no
limoeiro 'Cravo' (Citrus limonia Osbeck) até a repicagem. Doses crescentes de
superfosfato simples aumentaram linearmente os teores de P e Ca, enquanto que
com apatia de araxá houve aumentos lineares para os teores de Fe e Mn. O fungo
Acaulospora morrowae proporcionou altas taxas de colonização micorrízica nas
raízes e aumentou absorção de P, K e Zn pelas plantas.

Plântulas de laranjeira azeda (Citrus aurantium L.) transplantadas para um solo


com e sem esterilização (a vapor), com 3 doses de P (0, 90 e 180 ppm) inoculados

164
com MVA (Glomus mosseae, Glomus clarum e Glomus caledonium). A inoculação
do fungo no solo esterilizado diminuiu o comprimento, peso seco da planta e a
quantidade do P na parte aérea de 5,4; 13,5 e 3,0% respectivamente. As raízes
das plantas no solo não esterilizado foram grandemente colonizadas, enquanto
que as do solo esterilizado não foram colonizados e deram origem a porta-
enxertos mais raquíticos (Pallazzo et al., 1994).

Onkarayya et al., (1993) estudaram a dependência dos porta-enxertos


(Limoeiro "Rugoso", Limoeiro "Cravo", Poncirus trifoliata, Citrange "Troyer",
Citrange "Carrizo", Citrumelo e Tangerineira "Cleópatra") à inoculação da micorriza
vesículo-arbuscular num solo tipo "Alfisol". Usaram porta-enxertos com 3-4 folhas,
inoculadas com: Glomus fasciculatum, plantadas um vasos contendo: 5 Kg de solo
"Alfisol" (pH 6,8; 5 ppm de P e 0,72% de Carbono). Após 160 dias, coletou-se os
dados e verificou uma taxa de colonização decrescente: P. trifoliata (69%),
Citrange "Troyer" (47%), Limoeiro "Cravo", Citrange "Carrizo" e Tangerina
"Cleópatra". A inoculação aumentou em todos os porta-enxertos: comprimentos da
raiz, brotação e peso seco das raízes, e diminuiu para todas as relações: parte
aérea/raiz. Os níveis de P, N e Zn cresceram significativamente também nos
porta-enxertos inoculados.

O crescimento de mudas de tangerineira "Cleópatra" (Citrus reshni Hort. ex


tan.) foi avaliado em casa-de-vegetação com e sem fungo MVA (Glomus
etunicatum) e tratada com os defensivos agrícolas Aldicarb (Temik) e Foseti-Al
(aliette), aplicados isoladamente ou em conjunto. Procedeu-se a colheita 180 dias
após o transplantio, verificando-se que a micorriza aumentou a produção de
matéria seca das plantas em até 1.830%, com incrementos significativos na
absorção e no acúmulo dos nutrientes e as mudas ficaram mais vigorosas e
precoces. A colonização micorrízica foi beneficiada em plantas que receberam
Fosetil-Al (AlietteR), o que foi favorável para o desenvolvimento dessas plantas. O
Aldicarb não teve efeito significativo sobre o desenvolvimento vegetal, além de
uma tendência de inibição do crescimento em plantas não micorrizadas (Cardoso
e Lambais, 1993).

165
9.3 Pesquisas com FMVA em Outras Espécies

Num ensaio em casa-de-vegetação para verificar os efeitos da inoculação de


Glomus clarum, Gigaspora margarita e Acaulospora sp. No crescimento de mudas
micropropagadas de abacaxizeiro cv. Pérola, após 135 dias, não houve diferença
na altura das mudas produzidas com e sem colonização. As mudas foram
transplantadas para o campo e adubadas com superfosfato simples, fosfato de
rocha, cloreto de potássio e esterco. Aos 11 meses após transplante para o
campo, as plantas colonizadas apresentavam maior altura, maior número de
mudas e acumularam mais P do que as não colonizadas com FMVA (Matos e
Monteiro, 1991).

Lovato et al., (1992) compararam dois inoculantes comerciais e isolados de


fungos micorrízicos, em condições tropicais simuladas para mudas de
abacaxizeiro (variedades Smooth Cayenne, Queen Tahiti e Spanish) e videira
(porta-enxerto SO4) micropropagadas. As plantas cresceram melhor em solo
ácido do que alcalino e o isolado Glomus sp. (LPA-21) foi o mais eficiente em solo
ácido do que os inoculantes comerciais. O aumento na dose de inoculante
comercial de 1 para 3%, aumentou a taxa de infecção, redundando num aumento
ou diminuição do crescimento da muda de abacaxizeiro, de acordo com a
variedade e/ou inoculante comercial usado. Um inoculante foi mais eficiente em
solo ácido e o outro, em solo alcalino.

Monteiro et al. (1991) avaliaram os efeitos de inoculação com Glomus clarum


(88 esporos/planta), no crescimento de mudas micropropagadas de bananeira cv.
Mysore, em condições de casa de vegetação, na presença e ausência do FMVA.
Usaram recipiente com 2,5 Kg da mistura solo + vermiculita (3:1), acrescido de 1,7
g de fosfato de Patos de Minas/kg de substrato, esterilizado com brometo de
metila. Na época da inoculação, a altura média das mudas era de 5 cm e após 2
meses em casa-de-vegetação, a altura das mudas inoculadas foi de 22,8 cm e
51% acima das não-inoculadas. O diâmetro no colo nas micorrizadas de 1,57 cm e

166
no controle, 1,18 cm, ficando evidente que a micorrização favoreceu a
aclimatização das mudas.

Avaliou-se o desenvolvimento de mudas de aceroleira (Malpighia glabra L.)


sem e com inoculação de fungo MVA (Gigaspora margarita, Glomus manihotis e
Acaulospora sp.), em casa-de-vegetação, com substrato (solo fumigado) em
recipiente com capacidade para 2 Kg. Um mês após a germinação, foram
efetuados o transplantio e a inoculação. A avaliação ocorreu 90 dias após a
inoculação e a micorrização promoveu, em média, o aumento de 427% em altura
de planta; 941% em matéria seca; 3.133% em P absorvido e 1011% em K. As
taxas de colonização de Gigaspora margarita, Glomus manihotis e Acaulospora
sp., foram 75, 60 e 40%, respectivamente (Chu, 1991).

Weber e Amorim (1994) estudaram os efeitos de quatro doses de superfosfato


triplo (0; 20; 40; e 60 ppm de P2O5) e sem e com fungo MVA (Glomus etunicatum
e Entropthospora colombiana) para produção de mudas de mamoeiro (Carica
papaya L.) Ao três meses após o transplante avaliou-se: altura da planta, matéria
seca da parte aérea e raiz, concentração de nutrientes e taxa de colonização. O
efeito benéfico da micorrização no crescimento e acúmulo de nutrientes (N, P, K,
Ca, Mg, Fe e Cu) na parte aérea ficaram evidenciados nas doses 0 a 20 ppm de
P2O5. Plantas com G. etunicatum, atingiram valores máximos de altura, matéria
seca e conteúdo de nutrientes com 20 ppm de P2O5, enquanto que E.
colombiana, detectou-se apenas produção máxima de matéria seca na raiz e
maior acúmulo de ferro na parte aérea, nas doses 20 – 40 ppm de P2O5. A
adubação com fósforo não interferiu significativamente na taxa de colonização das
raízes.

Porta-enxertos da macieira, pessegueiro e ameixeira foram inoculados com


Glomus sp. Estirpe A-6 e transplantados de cultura "in vitro" para "in vivo". O
comprimento ótimo da raiz para eficiência da infecção foi avaliado no porta-
enxerto de macieira M-25, foi 0,1 – 1,5 cm, correspondendo ao início da elongação
da raiz. Quando ocorreu a inoculação neste estágio, as plantas apresentaram o
máximo crescimento e sobrevivência (Sbrana et al., 1994). Isto confirma a

167
hipótese de que a inoculação de MVA, durante a aclimatização, pode aumentar o
crescimento e a sobrevivência das plantas.

O efeito da interação entre o nematóide Pratylenchus vulnus e o FMVA Glomus


mosseae sobre o desenvolvimento do porta-enxerto de pessegueiro "Nemared",
foi estudado por Pinochet et al., (1995) em condições de vaso em 2 épocas de
crescimento. Pesos da matéria fresca da parte aérea e radicular, diâmetro do
caule e comprimento da parte aérea das plantas inoculadas com nematóides e
colonizada ou não por G. mosseae foram significativamente menores do que
plantas livres de nematóides. A colonização de micorrizas não foi afetada pela
presença do nematóide. O nível de nutriente nas plantas inoculadas com
nematóide foi: Cu – deficiente; Fe – baixo; Na, Mg, Mn e Zn – altos. O fungo
micorrízico favoreceu o crescimento do porta-enxerto, embora não conferindo
proteção contra o nematóide.

INVASORAS NA FORMAÇÃO DE MUDAS

Uma boa condução e formação de mudas exige uma série de operações que
estão estreitamente relacionadas, tais como: seleção das plantas matrizes, copas
e porta-enxertos, controle de pragas e doenças além de tratos culturais
adequados. Dentro desse aspecto, o controle de plantas daninhas, tanto em
sementeiras como em viveiros, é de grande importância. Modernamente tem-se
propagado, principalmente porta-enxertos, como é o caso específico de mudas
cítricas, por tubetes, bandejas ou similares. Essa metodologia permite a utilização
de substratos tratados, isentos de plantas daninhas e garante um maior controle
de pragas e doenças. Entretanto, na Segunda fase de propagação, com utilização
de viveiros, o controle de invasoras é fundamental, pois, nesse local é que serão
realizadas todas as operações que vão resultar em uma muda de boa qualidade.

CONCEITOS BÁSICOS
a) O termo viveiro, inicialmente definido como uma área de terreno destinada à
produção de mudas, na qual, as mesmas são formadas até irem para o campo.

168
Neste caso tem um conceito mais diversificado que engloba a utilização de
estruturas como sementeiras, valetas para estratificação, áreas para plantio de
porta-enxertos, casas de vegetação, câmaras de nebulização e coberturas de
tela plástica. Também estão relacionados materiais como sacos de polietileno,
tubetes, vasos, bandejas de isopor, componentes de substrato como solo,
areia, esterco, compostos orgânicos, cascas e palhas, vermiculita, casca de
madeira triturada, terriço, etc.
Dentro deste contexto, a correlação entre o "enviveiramente" de mudas
frutíferas e os possíveis problemas com plantas daninhas tem um sentido amplo
que envolve cuidados e práticas bem distintas, de acordo com a fase de produção
da muda e a metodologia utilizada.

b) O conceito de planta daninha se baseia na presença indesejável de uma planta


em relação ao homem, quando prejudicaria direta ou indiretamente sua saúde,
a produção agropecuária ou outras atividades de interesse econômico.
O conceito de indesejabilidade fica claro através de definições como "uma
planta que ocorre onde não é desejada" ou "uma planta fora do lugar". Assim, uma
determinada planta poderá ser considerada daninha, indiferente ou útil,
dependendo do tempo e local onde ela ocorre.

No caso específico de viveiros, a presença de outras plantas que não sejam as


mudas sempre é considerada danosa ou prejudicial, independente de se utilizar
termos como plantas daninhas ou invasoras.

c) Principais espécies de plantas daninhas. A maioria das plantas daninhas


economicamente importantes pertencem à classe Dicotiledoneae,
denominadas de plantas daninhas de folhas largas ou à classe
Monocotiledoneae, denominadas de folhas estreitas.

10.1 Principais Espécies


A classe Dicotiledoneae possui mais de 40 famílias. Pode-se relacionar alguns
exemplos de plantas daninhas comuns deste grupo, como:

Amendoim bravo – Euphorbia prunifolia

169
Beldroega – Portulacea oleracea

Carrapicho de carneiro – Acanthospermum hispidum

Caruru – Amaranthus spp

Falsa Serralha – Emilia sanchifolia

Guanxuma – Sida spp

Losna brava – Ambrosia polystachia

Maria Preta – Solanum americanum

Menstrato – Ageratum conyzoides

Picão Preto – Bidens pilosa

Serralha – Sanchus oleraceus

Dentre as Monocotiledôneas, que apresentam seis famílias importantes,


destacando-se as famílias Gramíneae e Cyperaceae, podem ser citadas;

a) espécies anuais

Capim pé-de galinha – Eleusine indica

Capim-colchão – Digitaria horizontalis

Capim marmelada – Brachiaria plantaginea

Capim carrapicho – Cenchrus echinatus

Trapoeraba – Commelina spp.

b) espécies perenes

Tiririca – Cyperus rotundus

Capim colonião – Panicum maxicum

Grama batatais – Paspalum notatum

Capim amargoso – Trichachne insularis

Grama Seda – Cynodon dactylon

170
10.2 Métodos de Controle

Existem cinco métodos de controle de plantas daninhas, os quais são distintos


dos processos de prevenção e de erradicação. Prevenção é a utilização de
metodologia para se evitar uma infestação ou reinfestação, enquanto a
erradicação trata-se da eliminação de uma população.

Deve-se considerar que viveiros de produção de mudas, em seu sentido


amplo, como mencionado anteriormente, podem apresentar peculiaridade que
diferem de uma cultura em larga escala em campo, tais como:

a) Os viveiros em campo normalmente ocupam áreas reduzidas atingindo


alguns poucos hectares;

b) Formação de mudas, em alguns casos, com todas as etapas diretamente


em recipientes;

c) Espaçamentos reduzidos, quando as mudas estão instaladas em viveiro no


campo;

d) Elevado número de tratos culturais e práticas especiais, realizado com


freqüência, exigindo que as mudas, durante todo o período de enviveiramento
estejam livres de plantas daninhas;

e) Ciclo de produção variável entre 3 até 24 meses;

f) Limitações quanto à presença de plantas daninhas impostas pela


legislação;

g) As mudas são plantadas jovens e de pequeno porte, sendo portanto mais


frágeis e sensíveis do que as plantas adultas.

Deste modo, a escolha de um método ou a sua associação com outros deverá


observar estas particularidades, inerentes a um viveiro.

171
10.2.1. Manual

Recomendável no caso de formação de mudas diretamente em recipientes


(sacos plásticos, vasos, tubetes, bandejas de isopor), bem como em sementeira,
realizando-se o arranquio das plantas daninhas com as mãos. Poderá danificar as
raízes da muda quando as invasoras atingem um estádio de desenvolvimento
mais avançado.

O uso da enxada também é apropriado para pequenas áreas e espaçamentos


reduzidos como no caso de viveiros. Poderá ser utilizado como um componente
de um sistema integrado de controle.

Esta metodologia dependerá naturalmente da disponibilidade de mão de obra,


estimada em 10-15 DH/ha/capina, devendo-se considerar, que o número de
capinas por ano poderá ser de 6-8.

10.2.2. Mecânico

O uso de cultivadores de tração animal de modelos e dimensões variadas


poderá ser feito em alguns tipos de viveiros instalados em campo, desde que se
observe os cuidados necessários, considerando-se o porte reduzido das mudas e
a fragilidade das mesmas. É um método que poderá fazer parte de um sistema
integrado, de baixo custo, bom rendimento e não agressivo ao meio ambiente,
porém, pouco eficiente para o controle de invasores perenes.

A utilização de equipamentos de tração mecânica tais como enxada rotativa,


grades e roçadeiras é praticamente descartada em viveiros, pelas particularidades
já mencionadas anteriormente.

10.2.3. Cultural

Relaciona-se como métodos culturais, a rotação de culturas, consorciação de


culturas, uso de plantas companheiras (leguminosas) e práticas de manejo da

172
cultura. Dentre estes, e especificamente em viveiros, seria recomendável após o
arranquio das mudas, fazer a alternância com outra cultura na mesma área (1-2
anos).

Pode-se relacionar a cobertura da superfície do solo com restos vegetais ou


filme plástico, denominadas Cobertura Morta. Ela mantém a umidade, protege o
solo contra erosão, evita o desenvolvimento de plantas daninhas, acumula matéria
orgânica e nutrientes e eleva a atividade microbiana. A escolha de resíduos
orgânicos a serem utilizados em coberturas de viveiros deve ser feita observando-
se a possibilidade de conterem sementes de plantas daninhas, ocorrência de
fermentação, liberação de substâncias tóxicas às mudas, possibilidade de
disseminar ou aumentar a incidência de doenças e pragas e a disponibilidade do
material (10-20 ton/ha). Dentre os materiais mais comuns e disponíveis, há o
bagaço de cana, palha de trigo e arroz, casca de arroz. Quanto ao filme plástico,
deve-se avaliar a viabilidade econômica do seu uso.

10.2.4. Biológico
Consiste em um método que procura manter uma população de plantas
daninhas a um nível que não causa danos econômicos, através do uso de um
agente biológico (por exemplo: fungos). A utilização de bioherbicidas ainda é
pouco pesquisada e não é utilizada em larga escala.

10.2.5 Químico
O uso de herbicidas sintéticos, em associação com o método manual, é a
metodologia mais utilizada nos vários sistemas de produção de mudas.

Para se escolher um herbicida, várias características devem ser consideradas,


tais como: ser ativo biologicamente e de baixo custo-benéfico ecologicamente,
seguro ao aplicador e ao público, de fácil aplicação, ser compatível com outros
químicos e alta margem de segurança às culturas.

Destaca-se ainda o aspecto relacionado à sua seletividade, ou seja, um


herbicida é seletivo quando matar ou retardar o crescimento de uma planta sem

173
afetar outras. Quando se diz que o produto é "seletivo" para folhas largas, significa
que as espécies de folhas largas são resistentes ou tolerantes ao produto e o
mesmo irá eliminar as demais. Esta seletividade depende das características
físico-químicas do herbicida, da resistência da planta e do meio ambiente.

Deve-se considerar que, em viveiros, trabalha-se com sementes, estacas,


gemas e garfos, ou seja, estruturas vegetais que irão originar brotações e plantas
inicialmente frágeis, herbáceas e bastante sensíveis. Desde modo, os cuidados
devem ser maiores do que quando se aplica herbicidas em áreas com frutíferas já
adultas, de que maior e com maior resistência.

Na Tabela 10.1 estão relacionados herbicidas comumente utilizados em


viveiros de mudas de algumas espécies frutíferas. Recomenda-se cuidados
criteriosos tanto na escolha, quanto na aplicação do produto.

174
11) CONDICIONAMENTO DE MATRIZES COPAS E PORTA-ENXERTOS

Para a produção de mudas de alto padrão, verifica-se que há necessidade de


plantas fornecedoras de material básico para propagação. Além de tudo isso, para
que se tenha um material genético de qualidade e isento de pragas e doenças,
alguns tratos culturais são imprescindíveis. Esses tratos culturais, para facilitar o
entendimento e a redação, podem ser resumidos em um conjunto de operações
básicas para manutenção e qualidade do material de propagação, denominando-
os de condicionamento de plantas matrizes.

O condicionamento pode promover ou facilitar a propagação, porém, muitas


vezes requer que se associe o uso de substâncias químicas reguladoras de
crescimento.

11.1 Conceitos Básicos

Plantas matrizes são aquelas também denominadas 'plantas elites', por


possuírem qualidade genética e fitossanitária superior e comprovada. Essas
matrizes são obtidas por seleção e utilizadas para diferentes finalidades, como o
fornecimento do material básico para propagação vegetativa e as sementes,
particularmente para porta-enxertos.

Matriz Fornecedora de Sementes

Nesse caso particular, as plantas são selecionadas, visando particularmente as


seguintes características: produtividade, sanidade, frutos com grande número de
sementes viáveis, porte baixo, grande longevidade, resistência à pragas e
doenças, sistema radicular abundante, resistência à seca, além de outras.

Matriz Fornecedora de Material para Propagação Vegetativa

Essas plantas devem ser preferencialmente produtivas, características da


espécie ou variedade, frutos de ótimas qualidades organolépticas, resistentes a

175
pragas e doenças, isentas de viroses precoces, com grande capacidade de
regeneração e produtoras de grandes quantidades de brotos vigorosos, entre
outras características.

Plantio Adensado

É um conjunto de plantas obtidas por propagação vegetativa, proveniente de


plantas matrizes destinadas a fornecer material para a propagação vegetativa. O
objetivo principal da implantação do plantio adensado é a preservação da planta-
matriz selecionada. Esse plantio periodicamente é substituído por novas plantas,
evitando problemas fitossanitários e principalmente o problema de mutação
somática, podendo alterar as características genéticas das plantas. Os sucessivos
cortes nas plantas para retirada de material podem predispor as plantas a esses
problemas. O plantio adensado implica em um espaçamento menor, visando um
maior número de plantas e, conseqüentemente, com fornecimento de maior
volume de material propagativo no menor espaço possível. O manejo é feito
renovando-se, em média, a cada cinco anos, substituindo as plantas por novas
mudas.

11.2 Tratos Culturais

O manejo adequado para plantas matrizes é muito diferenciado e depende da


espécie ou variedade que se está trabalhando. As técnicas para condicionamento
de matrizes estão bem definidas para as espécies frutíferas cultivadas em grande
escala, a exemplo de citros e bananeira. Essas espécies são bastante afetadas
por patógenos, causadores de sérias doenças, o que levou determinou algumas
providências, visando impedir a disseminação destas. Assim, atualmente, existem
regulamentações para a produção de mudas e para condução do pomar matriz.

176
Condução
A condução será feita de acordo com o tipo de planta-matriz e do espaçamento
adotado. No caso específico de plantio adensado, é necessário conduzi-lo de
maneira que as plantas tenham um porte baixo.

Adubações

Além de adubações normais, poderão ser realizadas aplicações de nutrientes


que favoreçam a vegetação e facilitem a retirada do material propagativo. Nos
casos específicos de adubações de plantas matrizes, deve-se fazer análises tanto
de solo como de folhas para obtenção de melhores resultados.

Poda

De acordo com as exigências das plantas e de seus objetivos, essa é uma


prática imprescindível. No caso de plantio adensado, é uma prática obrigatória.

Desfolha

Essa prática é realizada para algumas espécies, a exemplo da mangueira e


abacateiro. Visa o intumescimento das gemas para facilitar a operação e o
pegamento da enxertia.

Anelamento

É feito, de maneira geral, em ramos que se destinam à formação de mudas por


estacas.

Arqueamento

Em plantas de difícil enraizamento, pode ser utilizada essa prática. Ela tem
como principal objetivo o aumento da relação carbono/nitrogênio (C/N), facilitando
o enraizamento.

Aplicação de Fitorreguladores

Modernamente, essa operação tem sido feita com maior freqüência e com
resultados satisfatórios. De maneira geral, visa facilitar o enraizamento e,
conseqüentemente, o pegamento das estacas.

177
Estiolamento

Essa prática pode ser feita em ramos isolados e até em plantas inteiras,
dependendo dos objetivos a que se pretende. O objetivo desta prática é o
desenvolvimento dos ramos em ausência total ou parcial de luz, com maior teor de
auxina e menores teores de lignina e fenóis.

13) CONSERVAÇÃO DE MATERIAL PROPAGATIVO

Para uma fruticultura sadia e rentável, é necessária a aplicação de técnicas


alternativas que possam maximizar a produção de mudas. Muitas vezes, o
viveirista, devido à oferta sazonal de material vegetativo utilizado na produção das
mudas, não utiliza todo o material disponível devido a ausência de estruturas,
equipamentos e mão de obra. Dentre as tecnologias disponíveis para o produtor
de mudas, é de fundamental importância a conservação do material propagativo.

Para os propósitos de armazenamento, as sementes foram classificadas por


Roberts (1973) em dois grandes grupos: a) sementes ortodoxas e b) sementes
recalcitrantes.

13.1. Sementes ortodoxas

São aquelas que podem ser dessecadas a baixo teor de umidade (4 a 6%) e
armazenadas por longo período em temperaturas abaixo de 0º C.

Até o momento, somente foi possível definir métodos para armazenamento, a


longo prazo, para sementes ortodoxas.

178
A finalidade da conservação das sementes é manter a sua viabilidade pelo
maior tempo possível, de modo a permitir a semeadura na época mais adequada,
bem como garantir a manutenção do germoplasma na forma de semente.

A viabilidade após o armazenamento é resultante dos seguintes fatores:

a) Qualidade inicial da semente

Ao serem colocadas em condições de armazenamento, as sementes


apresentam variáveis níveis de qualidade, em função do que aconteceu a elas nas
fases anteriores. Assim, não se poderia esperar que as sementes de um lote de
média qualidade apresentassem, em armazenamento, um comportamento igual
ao das sementes de um lote de alta qualidade. O nível de qualidade inicial das
sementes é afetado pelo vigor das plantas, o qual é influenciado por uma série de
fatores, dentre os quais se poderia destacar o nível nutricional da planta, sua
sanidade, o ataque de pragas e outros. Este aspecto é pouco estudado, mas é de
se supor que sementes formadas sobre plantas vigorosas apresentem um maior
potencial de armazenamento do que sementes formadas sobre plantas fracas.

Sementes colhidas antes ou depois do ponto de maturidade fisiológica, têm


menor potencial de armazenamento, ou por não terem atingido ainda o máximo
vigor, ou por terem iniciado o processo de deterioração.

Em várias ocasiões, as sementes estarão sujeitas a sofrer impactos que lhes


causam rachaduras da casca ou amassamento dos tecidos. Essas sementes
deterioram-se com grande facilidade, tornando-se focos de deterioração e
afetando as sementes sadias vizinhas.

A secagem é outra operação que, se conduzida sem os devidos cuidados,


pode reduzir o potencial de armazenamento das sementes. Aparentemente, os
efeitos de secagem a temperaturas muito altas não são imediatos – só após algum
tempo de armazenamento é que esses efeitos se tornam mensuráveis.

b) Características do ambiente de conservação

179
O teor de umidade das sementes é, acima de tudo, função da umidade relativa
do ar. Este é tido, como o mais importante dos fatores que influenciam o potencial
de armazenamento de sementes.

As sementes terão a viabilidade tanto melhor conservada quanto mais secas


estiverem. Algumas espécies, de típica adaptação ecológica tropical, apresentam
comportamento oposto a esse: suas sementes, freqüentemente de curta
longevidade, perdem a viabilidade tanto mais rapidamente quanto mais
desidratada. São citadas como pertencentes a este grupo as seguintes espécies:
citros, guaraná, ingá, seringueira, araucária e outras.

A temperatura do ar pode também desempenhar um papel de grande


importância na conservação da qualidade das sementes durante o
armazenamento.

A maioria das espécies terá suas sementes tanto melhor conservadas quanto
menor for a temperatura.

Harrington (1972) propôs duas regras empíricas, que servem como guias para
prever os efeitos da temperatura e o teor de umidade sobre a longevidade das
sementes armazenadas:

a) Para cada 1% de redução no teor de umidade da semente, sua longevidade


é dobrada, entretanto só se aplica quando o teor de umidade da semente se
encontrar entre 5 a 14%.

b) Para cada 5ºC de redução na temperatura de armazenamento, a


longevidade da semente é dobrada. Esta regra se aplica apenas para temperatura
de 0º a 50ºC.

Os fungos de armazenamento compreendem várias "espécies grupais" do


gênero Aspergillus e um número aproximadamente igual de espécies (ainda que
não tão bem definidas) do gênero Penicillium.

As principais espécies de insetos que atacam as sementes armazenadas são


pertencentes à ordem Coleóptera e Lepidóptera. Estes insetos podem ser
divididos em primários e secundários. Os primários são aqueles com capacidade

180
de atacar as sementes inteiras, enquanto os secundários somente se alimentam
de sementes já danificada, resultante de injúrias mecânicas ou ação dos insetos
primários. Os primários são os mais importantes, dada a capacidade de romper o
tegumento da semente. Entre estes, encontram-se: os gorgulhos, o caruncho do
feijão, a traça dos cereais e os besourinhos.

As atividades destes insetos são influenciados pelas condições do meio.


Portanto, a temperatura na faixa de 23 a 35ºC e a umidade das sementes de 12 a
15% são condições favoráveis ao desenvolvimento para a quase totalidade destes
insetos. Ao alterar estas condições para temperaturas ou umidades mais baixas,
consegue-se diminuir as atividades deles ou até paralisá-las.

Os materiais utilizados para a embalagem de sementes devem apresentar


resistência à tensão e ruptura para suportarem as condições de manejo e, se
possível, proteger as sementes contra insetos, roedores e trocas de vapor d'água
com a atmosfera. A durabilidade, as facilidades para impressão ou rotulação e sua
resistência ao choque também são fatores considerados para a escolha do
material destinado à embalagem.

De um modo geral, existem três tipos de embalagens, classificadas quanto à


possibilidade de trocas de vapor d'água com o ar atmosférico:

a) Embalagens porosas: permitem trocas de vapor d'água entre as sementes


e o ar atmosférico. Exemplos: sacos de tela de algodão, de juta, de papel e tela
plástica;

b) Embalagens resistentes à penetração do vapor d'água: permitem a


passagem de menores quantidades de vapor d'água. Exemplos: sacos de papel
multifolhados, asfalto, polietileno, poliéster, entre outros;

c) Embalagens à prova de penetração de vapor d'água: recipientes laminados


de fibra e alumínio, laminados de alumínio e papel laminados de alumínio e
plásticos, latas, papel celofane.

Algumas vantagens das embalagens resistentes:

Mantêm a germinação e o vigor.

181
Não há alterações no peso das sementes.

Barreira para insetos, roedores e microorganismos.

Menor possibilidade de misturas.

Leva o nome do produtor ao produtor.

Fácil manejo no campo.

13.2 Sementes Recalcitrantes

Sementes recalcitrantes são aquelas que morrem rapidamente, quando


dessecadas abaixo de determinados níveis críticos de teor de umidade, níveis
estes que podem variar de espécie para espécie.

Existe um grupo de espécies para as quais não se aplica a regra geral de


redução da temperatura e umidade no armazenamento das sementes, e cujo
período de viabilidade é bem mais curto. Harrington (1972) classificou-as como
sementes de curta longevidade, e Toledo e Marcos Filho (1977), como
microbióticas. Estas sementes não sofrem secagem natural na planta – matriz e
são liberadas com elevado teor de umidade. Se esta umidade for reduzida,
ocorrerá a morte. Mesmo quando a umidade for mantida em nível adequado
durante o armazenamento, sua longevidade é relativamente curta, e varia de
acordo com a espécie, de apenas algumas semanas até alguns meses. Como
este grupo não se enquadra na regra geral de armazenamento que se aplica às
sementes ortodoxas, foi denominado "recalcitrante" por Robert (1973), e desde
então esta nomenclatura tem sido a mais empregada.

As espécies recalcitrantes que possuem os menores períodos de viabilidade


são originárias de regiões tropicais úmidas, onde o ambiente adequado para a
germinação é mais ou menos constante ao longo do ano, geralmente não
possuindo dormência. As espécies recalcitrantes originárias de regiões de clima
temperado, freqüentemente possuem algum tipo de dormência, na maioria das

182
vezes relacionada com exigência em frio. Esta característica permite-lhes
permanecer viáveis até que as condições adversas do inverno tenham passado.

Assim, torna-se clara a razão pela qual as espécies recalcitrantes de


importância econômica são, na maioria, frutíferas tropicais perenes e florestais de
clima tropical ou temperado. Dentre elas, podem ser citadas a mangueira
(Mangifera indica L.), abacateiro (Persea americana Mil), nêspera (Eryobotrya
japonica Lindl.), mangostão (Garcinia mangostona L.), macadâmia (Macadamia
integrifolia F. Muell), cacau (Theobroma cacao L.), ingá (Inga edulis Mart.),
nogueira (Juglans sp.), aveleira (Corylus sp.) e castanheira (Castanea spp.).

Harrignton (1972) preparou uma lista de espécie cujo comportamento


recalcitrante tinha sido sugerido, mas que necessitavam ainda de estudos mais
conclusivos. Dentre estas, citam-se: acerola (Malgighia glabra L.), pitanga
(Eugenia uniflora L.), jabuticaba (Myciaria cauliflora), carambola (Averrhoa
carambola L.) e sapoti (Achras zapota L.).

Algumas espécies, que anteriormente haviam sido classificadas como


recalcitrantes, tais como Citrus spp. e café (Coffea spp.), em estudos mais
recentes revelaram-se mais próximas do comportamento ortodoxo. A falha na
germinação, nos trabalhos mais antigos, ocorreu, presumivelmente, por morte das
sementes durante o processo de secagem e não devido ao baixo teor de umidade
das sementes.

As sementes recalcitrantes apresentam maiores dificuldades no


armazenamento, quando comparadas com as sementes ortodoxas. Isto se deve à
sua alta suscetibilidade à perda de água, o que faz com que seja necessário o
armazenamento com alto grau de umidade. Esta umidade interna favorece o
ataque de microorganismos e a germinação durante o armazenamento. O uso de
baixas temperaturas, que poderiam inibir estes dois últimos problemas, fica
também limitado, pois as sementes recalcitrantes sofrem danos por temperaturas
próximas ou abaixo de zero. Algumas espécies mais suscetíveis são danificadas
mesmo com temperaturas um pouco abaixo da temperatura ambiente (10-15ºC),
como as sementes de cacau.

183
Diferentes métodos de armazenamento de sementes recalcitrantes têm sido
estudados. Em geral, os que têm apresentado os melhores resultados são os que
levam em consideração os fatores limitantes, evitando a perda de água, realizando
tratamento preventivo contra microrganismos, evitando a germinação durante o
armazenamento, e mantendo um suprimento adequado do oxigênio. Os métodos
mais empregados são: sacos de polietileno, recipientes selados, carvão, areia e
turfa. São citados também o armazenamento em água, pó de serra, latas, fracos
de vidro e esfagno.

As sementes recalcitrantes se conservam melhor em sacos de polietileno, pois


as perdas de água são evitadas. Porém, não se recomenda o uso de recipientes
herméticos. Alguma troca gasosa deve ocorrer entre as sementes e a atmosfera,
pois com altos teores de umidade, a respiração das sementes ocorre em altas
taxas e o bloqueio destas trocas pode causar a morte das sementes. Para evitar
este fato, recomenda-se sacos de polietileno com 0,1 mm de espessura, que
permitem uma troca de gases suficiente mas evitam a perda de vapor de água.

O uso de soluções para conservar sementes em estado de embebição e


reguladores de crescimento para inibir a germinação têm sido testados. A
dificuldade deste tipo de armazenamento é que a temperatura tem que ser baixa o
suficiente para evitar a germinação ou reduzir a taxa de crescimento da plântula,
mas isto traz um risco de dano por frio, que pode levar à morte. Em temperaturas
mais altas que evitem esse dano, o crescimento é rápido demais, impedindo um
armazenamento mais prolongado.

13.3 Estacas

O tempo entre a retirada da estaca da planta matriz e a colocação em


substrato deve ser o mais curto possível, para garantir um bom enraizamento.
Apesar das dificuldades do armazenamento de estacas pode-se realizá-lo em
algumas condições especiais.

Alguns fatores devem ser levados em consideração:

184
a) Estresses hídricos devem ser minimizados;

b) Reservas de carboidratos não devem ser esgotadas a ponto de reduzirem a


resistência a doenças ou o potencial de enraizamento;

c) Contaminação por doenças deve ser evitada;

d) Acúmulo de gases (CO2, etileno) em concentrações nocivas para o material


vegetal deve ser prevenido.

Condições desfavoráveis de armazenamento refletem-se diretamente na morte


das estacas ou na redução do potencial de enraizamento. As estacas podem ser
afetadas indiretamente pelas condições adversas de armazenamento. Por
exemplo, as hastes podem parecer saudáveis após o armazenamento, mas a
perda de água e matéria seca tornam-nas susceptíveis a proliferação de fungos
será aumentada.

O potencial de armazenamento é influenciado pela umidade relativa,


temperatura, composição gasosa da atmosfera do armazenamento, espécie,
patógenos, condições de desenvolvimento da planta matriz e época da coleta.
Alguns destes fatores são discutidos a seguir:

Umidade Relativa

A transpiração deve ser reduzida o máximo possível durante o


armazenamento, o que pode ser feito mantendo a umidade relativa próxima a
100%.

O potencial hídrico do tecido das plantas é influenciado não somente pela água
absorvida pela planta e transpiração, mas também pelo anabolismo e catabolismo
dos compostos osmoticamente ativos, especialmente de carboidratos de baixo
peso molecular. Portanto, pode ocorrer o aumento ou a manutenção do potencial
hídrico constante durante o armazenamento, apesar da contínua transpiração.

Em câmara fria de ar comprimido é difícil manter alta umidade relativa a


temperaturas próximas ao ponto de congelamento, ou seja, abaixo de 0ºC. É

185
necessário usar um filme plástico, impermeável ao vapor d'água para manter alto
o teor de água nas estacas. Embalando as estacas em sacos perfurados, baixa o
risco de dessecação durante o armazenamento por longo tempo. Quando estacas
são armazenadas por longos período amarradas em filme plásticos ou sacos
plásticos, as trocas gasosas podem ser mantidas, o que pode ser causado pelo
filme de polietileno que é permeável a CO2 e etileno.

Temperatura

O armazenamento em baixa temperatura é um tratamento muito importante,


pois proporciona uma redução na taxa respiratória e reduz a contaminação por
doenças fúngicas do material vegetal armazenado. A intensidade na qual a
temperatura pode ser reduzida, contudo, depende da resistência da estaca ao
esfriamento.

De modo geral, pode-se considerar que:

a) Estacas de várias espécies, principalmente as de origem tropical, não


sobrevivem a temperaturas abaixo de 5ºC.

b) Estacas herbáceas da maioria das plantas de casa de vegetação ou plantas


de interiores, assim como, as hastes de plantas lenhosas não são armazenadas
com sucesso em temperaturas entre –0,5ºC e + 2ºC.

c) Estacas de coníferas completamente dormentes são melhor armazenadas


em temperaturas abaixo do congelamento. Assim, as estacas podem tolerar a –
4ºC, se a planta matriz está aclimatizada ao frio.

Foi observado que, dentro de um feixe de estacas embaladas em plástico, o


calor da respiração causa um aumento de temperatura no centro do feixe.
Dependendo da firmeza como o feixe de estacas é embrulhado, a temperatura
interior pode atingir até 2ºC a mais do que a temperatura do armazenamento.

Composição gasosa da atmosfera

186
A manipulação de gases atmosféricos no armazenamento é um tratamento
adicional, pois reduz o ataque de fungos, o catabolismo e a formação de etileno.
Dois métodos são usados:

Armazenamento com atmosfera controlada;

Armazenamento com pressão reduzida (armazenamento hipobárico ou


armazenamento sob baixa pressão).

Como regra, o armazenamento sob atmosfera controlada envolve uma redução


na concentração de oxigênio e um aumento na concentração de CO2. A atmosfera
controlada é usada no armazenamento de frutas, hortaliças e flores de corte,
embora poucas pesquisas têm sido feitas sobre o armazenamento sob atmosfera
controlada em estacas.

Pré-Tratamento das Estacas

Somente estacas de boa qualidade devem ser armazenadas. Significa que o


pré-tratamento se inicia na planta matriz, que deve ser bem adubada. De modo a
se obter estacas completamente túrgidas na coleta, as plantas devem ser bem
irrigadas antes da coleta de estacas. Tratamentos para promover um maior
acúmulo de reservas nas estacas podem ser feitos antes da coleta, principalmente
para aquelas estacas destinadas a armazenamento por longo tempo. As plantas
podem ser expostas a alta intensidade luminosa, mas deve ser evitado excesso na
adubação nitrogenada em plantas matrizes, porque causa redução no potencial de
enraizamento da estaca.

Estacas lignificadas, endurecidas ou quiescentes são mais favoráveis ao


armazenamento do que aquelas em crescimento ativo. Por esta razão, a data da
coleta das estacas deve levar em conta estes aspectos.

Para se obter êxito no armazenamento, é necessário, que a planta matriz


esteja livre de doenças. Estacas herbáceas devem ter suas superfícies secas
depois do tratamento com fungicidas antes do armazenamento. Recomenda-se,

187
também, cortar a parte basal da estaca, antes de colocá-la no substrato para
enraizamento.

Em geral, as estacas não podem ser embrulhadas ou empacotadas firmemente


durante o armazenamento por causa da alta temperatura e a redução de trocas
gasosas, que podem levar a uma ataque de fungos e uma redução no
enraizamento.

Borbulhas

Como o borbulha é um material perecível, no caso de transporte a longas


distâncias, requer condições especiais de embalagem e armazenamento para
que, após um período relativamente longo de conservação, ainda apresente
viabilidade satisfatória. Este fato é de grande importância, podendo o período que
vai da colheita da borbulha à enxertia torna-se por vezes bastante longo, devido a
problemas de transporte e ocorrências climáticas que impeçam a enxertia. Há
também necessidade de enxertia por falhas no pegamento do enxerto, o que é
feito quinze a vinte dias após a primeira enxertia.

A época tradicional de enxertia por borbulhia é no início do verão, a partir de


dezembro, quando há disponibilidade de borbulhas na planta. No entanto, para a
produção precoce de mudas, a enxertia deve ser antecipada para o fim do inverno
e na primavera. Há, portanto, necessidade de efetuar a coleta de borbulhas
dormentes no inverno e proceder um armazenamento que permita manter a sua
viabilidade para a enxertia nesse período de carência.

Em nectarineira, recomenda-se o armazenamento dos ramos porta- borbulhas


em sacos de polietileno, em temperaturas de 4º a 8ºC.

O armazenamento à baixa temperatura diminui a atividade dos principais


microrganismos que afetam os ramos armazenados, porém não os controla.
Nestas condições, o desenvolvimento dos patógenos ocorre num ritmo mais lento.

188
Para controlar a infecção por microorganismos durante o armazenamento,
deve-se tratar previamente os ramos porta-borbulhas com hipoclorito de sódio
(água sanitária) ou fungicidas de amplo espectro (a exemplo de Benormyl e
Maneb). Alguns produtos podem ser fitotóxicos às borbulhas, o que também pode
ocorrer sob altas concentrações dos produtos ou após longos períodos de
tratamento.

Para retardar a deterioração das borbulhas, deve-se proceder a proteção das


hastes contra a perda excessiva de umidade. Para evitar a desidratação do
material a ser preservado, recomenda-se o envolvimento das hastes com material
úmido (musgo, esfagno, jornal, saco de aniagem, entre outros), mantido em local
fresco. O uso de sacos plásticos dispensa o envolvimento dos ramos com
produtos destinados a manter a umidade de seus tecidos durante o
armazenamento. Comumente, o excesso de umidade no interior da embalagem é
prejudicial à conservação do material para enxertia, por favorecer não só a
atividade respiratória, como o desenvolvimento de microrganismos. As
embalagens de polietileno são ideais para o armazenamento de ramos para a
enxertia, pois permitem as trocas gasosas, necessárias à respiração e reduzem a
perda da água.

Para a embalagem, devem ser selecionados filmes que sejam permeáveis à


maioria dos gases, incluindo o CO2 e O2. Caso o plástico impeça a passagem do
oxigênio, o vegetal respirará anaerobicamente, produzindo álcool e outras
substâncias que deterioram o produto armazenado. A exaustão do ar da
embalagem, com o objetivo de reduzir o nível de oxigênio, é uma técnica que pode
ser utilizada para a preservação. Como a respiração é bom processo de oxidação,
a diminuição na disponibilidade de oxigênio reduz a sua intensidade. O teor de 02
reduzido e o aumento do CO2 tendem a retardar a síntese endógena do etileno. O
processo de exaustão do ar, compreende a remoção parcial dos gases (C2H4,
O2, voláteis e excesso de CO2) dos sacos de polietileno até a completa aderência
do filme da embalagem ao produto vegetal, com auxílio de uma bomba de vácuo.

189
A temperatura é um dos principais fatores que determinam a velocidade das
reações metabólicas nos tecidos.

A baixa temperatura durante o armazenamento retarda os processos de


maturação e senescência, reduzindo a perda de peso, perda de firmeza, atividade
microbiana e as transformações bioquímicas. Quanto mais avançados são estes
processos, torna-se mais difícil retardá-los. Contudo, pode-se esperar bons
resultados com a utilização de baixas temperaturas, quando os produtos estão
limpos, livres de problemas fisiológicos e de qualquer sinal de ataque microbiano.

O aumento da temperatura leva ao incremento da respiração, a qual provoca o


consumo rápido dos componentes energéticos de reservas, diminuindo o período
de conservação.

A temperatura fornecida pelo refrigerador comum (4 a 8ºC) permite manter a


viabilidade de borbulhas de várias espécies por longo período de conservação.

13.5 Propágulos mantidos "in vitro"

A conservação "in vitro" é importante para as espécies de propagação


vegetativa, onde a manutenção da identidade clonal é crítica e para aquelas
espécies que produzem sementes recalcitrantes, incompatíveis com o
armazenamento e longo prazo. A conservação utilizada em bancos de
germoplasma.

A conservação do germoplasma de espécies frutíferas tem por objetivo manter


indefinidamente a diversidade genética de cada grupo específico, em condições
adequadas para se evitar erosão genética e garantir o material indispensável aos
programas de melhoramento genético e pesquisa.

A conservação de espécies propagadas vegetativamente com é o caso de


espécies frutíferas apresenta uma série de problemas. Embora algumas destas
espécies possam ser propagadas por sementes, o alto grau de heterose das
mesmas limita sua propagação sexuada e por isto, são multiplicadas através de

190
clones. O Banco de Germoplasma de espécies frutíferas "in vitro" basicamente
consiste em se introduzir explantes de plantas adultas em meio estéril de cultura e
mantê-los em condições livres de patógenos para uso futuro.

Para o armazenamento de germoplasma "in vitro", é indispensável que se


obtenham culturas de ampla gama de genótipos de cada espécie, a fim de que se
conserve a maior variabilidade genética possível, o que se complica quando se
incluem espécies silvestres arbóreas. Um bom exemplo é mencionado por Sykes
(1975). Segundo este autor, para se amostrar 0,1% de uma população estimada
de três milhões de amendoeiras (pés francos) na Turquia, seria necessário incluir
3.000 árvores. Se estas amostras fossem conservadas em campo, cobririam uma
área de 15 hectares enquanto que, "in vitro", necessitariam 4,1m3 na sala de
armazenagem, sendo 6 tubos para cada árvores ou acesso. Além disso, tubos de
ensaio, contendo uma planta regenerada ou apenas um outro tecido qualquer,
podem ser transportados entre as mais distintas regiões do mundo, constituindo-
se numa forma eficiente de intercâmbio de germoplasma.

As plantas conservadas num banco de germoplasma "in vitro" podem ser


mantidas em condições de crescimento normal, mas isto não é desejável, pois
exige repicagens periódicas, as quais são trabalhosas e onerosas. Por isto,
preferem-se técnicas que resultem em crescimento mínimo ou crescimento zero. A
redução do crescimento pode ser obtida através dos seguintes métodos:

a) Alteração nas condições ambientais da câmara, principalmente redução de


temperatura. As frutíferas de clima temperado podem ser armazenadas a 0 –6ºC e
as tropicais e subtropicais, a 15 – 20ºC.

b) Alterações no meio básico de cultura, pela omissão ou redução de alguns


fatores essenciais para o crescimento normal;

c) Uso de retardantes do crescimento, tais como ácido abscísico ou compostos


de efeito osmítico, tais como o manitol e o sorbitol que são açúcares-álcoois.

A preservação dos genótipos e sua integridade em bancos de germoplasma


constitui o objetivo principal em sistemas de conservação. Portanto, deve-se evitar
qualquer método que exponha o germoplasma a modificações genéticas. A

191
manutenção de uma linhagem persistente através de várias gerações requer um
processo ordenado de replicação cromossômica, o que ocorre em meristemas
apicais, que são por isto, preferíveis em sistemas de conservação "in vitro" de
espécies perenes.

A integridade genética de uma cultura pode ser afetada pela composição


química do meio de cultura e pela duração da cultura. As mudanças
cromossômicas "in vitro" incluem poliploidia, aneuploidia e modificações
estruturais na morfologia cromossômica.

Patógenos sistêmicos, tais como algumas bactérias, micoplasmas, vírus e


certos nematóides, que são determinados na planta matriz por técnicas
específicas de indexação, somente serão eliminados através do procedimentos
especiais. Por isto, torna-se indispensável identificar o patógeno antes de se
iniciar a cultura. As culturas de meristema apical com dois ou três primórdios
foliares freqüentemente são livres de vírus e certamente livres de micoplasmas.
Quando a planta matriz não está infectada, pode-se usar um explante maior a fim
de se garantir o sucesso no início da cultura. Não é segura a eliminação de
patógenos sistêmicos através apenas de cultura de meristemas, por isto, técnicas
complementares tais como a termoterapia e a quimioterapia, aumentam a
possibilidade de se conseguir plantas sadias.

CRIOPRESERVAÇÃO

A criopreservação consiste no congelamento de tecidos a ultra baixas


temperaturas (-196ºC), em nitrogênio líquido, o que causa completa paralisação
da divisão celular. Existem dois métodos utilizados na criopreservação: o
congelamento ultra-rápido e o congelamento lento através de etapas.

No congelamento ultra-rápido, formam-se minúsculos cristais de gelo nas


células, os quais podem danificá-las durante o congelamento e a recristalização
de gelo durante o descongelamento, se o esfriamento e o aquecimento não forem
suficientemente rápidos.

192
No congelamento lento, o congelamento extra-celular permite a proteção da
célula contra danos e, por isto, é preferível ao primeiro. Nos dois métodos, os
tecidos são tratados com crioprotetores, substâncias que protegem os tecidos
vegetais contra os danos do congelamento.

São exemplos de crioprotetores: DMSO, Metanol, Gligerol e Acetamida.

As vantagens da criopreservação são:

a) Conserva por tempo indeterminado, sem perda da viabilidade;

b) Presença estruturas vegetais (células, tecidos e órgãos);

c) Evita variação somaclonal;

d) Em banco de germoplasma, é um processo econômico.

As desvantagens da criopreservação são:

a) Complexidade técnica e biológica dos processos de congelamento e


descongelamento;

b) Necessidade de desenvolver diferentes procedimentos para cada tipo de


cultura;

c) Necessidade de conhecer antecipadamente o protocolo de regeneração "in


vitro" do germoplasma a ser criopreservado.

A criopreservação de estruturas vegetais envolve uma seqüência de


tratamentos destinados a evitar ou minimizar os danos causados pela ultra-baixa
temperatura e pelo conseqüente restabelecimento do vegetal em meio de cultura.
São seguidos os seguintes estágios:

a) Pré cultivo – é a oportunidade de fornecer à cultura condições de tolerar ao


congelamento. Envolve suplementações de compostos osmoticamente ativos ao
meio de cultura ou outros aditivos.

b) Crioproteção – envolve a aplicação de um ou mais compostos


(crioprotetores) que permitem a célula tolerar as mudanças físicas e químicas que
ocorrem durante o congelamento e o descongelamento.

193
c) Esfriamento – o esfriamento pode ser feito lenta ou rapidamente. As duas
formas proporcionam diferentes mecanismos de sobrevivência. No esfriamento
lento, o gelo se forma fora da célula, evitando a cristalização de gelo na célula. A
água é retirada da célula para o meio extracelular, a célula fica desidratada. Essa
desidratação reduz a quantidade de água disponível a formação de cristais de
gelo. Conseqüentemente, o conteúdo da célula se solidifica, usualmente com a
formação de gelo relativamente inofensivos. Já o esfriamento rápido induz a um
congelamento intracelular evitando a desidratação celular. Minimiza a formação de
gelo prejudicial pela formação de pequenos cristais de gelo, evitados pela
presença de crioprotetores, permitindo um congelamento bastante rápido.

d) Armazenamento – botijões ou tanques criogênicos mantêm espécies a –


196ºC na fase líquida ou –150ºC na fase de vapor.

e) Descongelamento – é tão importante quanto o estágio de esfriamento. É


conduzido rapidamente para assegurar que nenhum gelo presente na célula se
descongele com possibilidade de se recristalizar em grandes cristais prejudiciais.

f) Regeneração – restabelecer o crescimento é um dos pontos mais críticos


de criopreservação. Envolve estabilização para permitir a retomada dos processos
metabólicos interrompidos. Os tratamentos de maiores sucessos requerem um
mínimo de distúrbios osmóticos e físicos.

14) ACLIMATAÇÃO

Entende-se por aclimatização ou aclimatação o conjunto de técnicas e


procedimentos visando à adaptação das mudas às condições ambientais do
pomar, ou mesmo do viveiro. A aclimatização é uma área fundamental da
produção de mudas e muitas vezes é negligenciada, o que acarreta desde o
atraso e/ou diminuição do crescimento da muda até a morta da mesma após o seu
transplante para o pomar.

194
Este aspecto da propagação, que constitui a etapa final da produção de
mudas, será abordado sob dois enfoques: na propagação por métodos
convencionais (sementes, estacas, enxertia, mergulhia) e na propagação através
de técnicas "in vitro". Será dado maior detalhamento a este último caso, pois a ele
referem-se os maiores problemas e o maior número de informação na literatura.

14.1 Mudas Convencionais

A aclimatização vem sendo cada vez mais utilizada, pois à medida que
aumenta o controle ambiental para produção da muda, maior se torna a distância
entre o ambiente de propagação e o ambiente do viveiro ou do pomar. Como
exemplos, podem ser citados os seguintes: a) o substrato de produção da muda
pode diferir grandemente em características físicas e químicas do solo do viveiro
ou do pomar; b) o ambiente da estufa com nebulização intermitente apresenta alta
umidade relativa do ar, ausência de ventos e temperatura controlada, condições
bastante diferentes do ambiente externo. Esta diferença entre condições
ambientais pode provocar um estresse divido ao transplante, em intensidade
variável conforme as espécies e o método de propagação.

Em geral, mudas obtidas por estacas podem apresentar certa dificuldade de


crescimento no viveiro ou no pomar devido ao fato de que, muitas vezes, as raízes
adventícias são pouco funcionais para absorção de água e nutrientes, o que pode
levar a uma certa "parada de crescimento" logo após o transplante, o que é, na
verdade, uma manifestação do estresse sofrido pela muda nesta etapa. O volume
de raízes adventícias formadas em uma estaca é um aspecto fundamental para o
crescimento posterior – por isso, deve-se dar as melhores condições possíveis
para desenvolvimento destas raízes, ainda no substrato de enraizamento, para
que a adaptação ao viveiro ou ao pomar seja a melhor possível. Mudas
provenientes de sementes, via de regra, apresentam menores problemas de
aclimatização do que mudas oriundas de propagação vegetativa.

195
Entre as técnicas que visam diminuir o estresse durante a aclimatização,
podem ser citadas o uso da irrigação, a redução da área foliar, o sombreamento
(telado ou ripado) e a repicagem intermediária.

O uso da irrigação é uma prática fundamental e obrigatoriamente utilizada


quando do transplante. Isso ocorre porque a água é indispensável para o
crescimento da muda e, durante o transplante, há menor absorção de água pelas
raízes, não somente devido ao pequeno volume de raízes da muda como também
pela perda de água ocasionada pelo transplante em si. Logo após o transplante, é
fundamental molhar o solo com abundância, visando fornecer água para a muda e
assentar o solo em torno das raízes, diminuindo os espaços com ar que podem
ocasionar a desidratação das raízes mais finas.

A redução da área foliar é utilizada principalmente em espécies perenifólias,


principalmente se o transplante é realizado sob temperaturas elevadas e baixos
valores de umidade relativa do ar. O objetivo desta redução é diminuir a superfície
de perda de água (folhas) logo após o transplante, favorecendo o pegamento e o
crescimento inicial. Para tanto, pode-se fazer o corte das folhas ao meio, bem
como retirar parte das folhas mantendo inteiras as folhas remanescentes. Esta
redução da área foliar deve ser feita com moderação, de modo a não limitar o
crescimento devido à diminuição da área fotossinteticamente ativa.

O sombreamento é uma das técnicas de aclimatização mais utilizadas na


propagação através de métodos convencionais. Como a muda é mantida sob
insolação parcial, são reduzidas a temperatura da folha e a perda de água da
mesma, facilitando a aclimatização. O período de permanência em telado é
variável conforme a espécie, mas deve ser o mínimo suficiente para conferir à
planta uma boa adaptação, sem comprometer o crescimento da muda. O
sombreamento pode ser feito sob telado ou sob ripado e é adotado para muitas
espécies, dentre as quais o abacateiro, mangueira e goiabeira, especialmente
quando a muda é produzida em casa de vegetação. Em abacateiro e mangueira,
não apenas é necessária a manutenção em telado logo após a retirada da muda

196
da casa de vegetação, como também é favorável a manutenção da muda, após o
transplante no pomar, sob meia-sombra.

A repicagem intermediária refere-se especialmente ao caso em que a


propagação é feita por estacas em casa de vegetação e em substrato especial
para o enraizamento. Se a muda é levada diretamente do substrato para o viveiro
ou pomar, cria-se um estresse que pode comprometer a sobrevivência da muda.
Deste modo, recomenda-se fazer uma repicagem em recipientes (normalmente,
sacos plásticos), mantendo as mudas em telado por um determinado tempo,
suficiente para sua adaptação. Após, a muda pode ser transplantada com torrão.

Além das técnicas citadas, para mudas cítricas é recomendado manter-se a


muda sob sombra por cerca de uma semana após o desplante do viveiro, de modo
a ocorrer a cura das mesmas, favorecendo a cicatrização das raízes danificadas
no desplante e o pegamento das mudas no pomar.

Mudas de Cultura de Tecidos

A aclimatização ou aclimatização é um dos processos indispensáveis para a


obtenção de uma planta propagada por meio de cultura de tecidos.

Consiste num conjunto de técnicas que visam adaptar as plantas a um meio


ambiente muito diferente daquele onde ela foi desenvolvida, delimitado por um tipo
especial de recipiente, sendo mais comumente usado o tubo de ensaio. Dentro
deste recipiente, são criadas condições ambientais peculiares no que se refere-se
ao substrato composto de ar e água, luminosidade, entre outros. Vários estudos e
pesquisas tem sido realizados no sentido de amenizar o impacto sofrido pela
planta no momento de transferência do laboratório para o local definitivo, o solo.

A aclimatização consiste numa fase intermediária de adaptação à qual a planta


é submetida para posteriormente passar às fases de desenvolvimento no campo.
É importante conceituar a diferença entre aclimatização e aclimatação. O termo
'aclimatização' é definido como sendo a adaptação climática de alguns
organismos, especialmente uma planta, ao sofrer uma mudança para um novo

197
ambiente, em um processo orientado pelo homem. Em contraste, o termo
'aclimatação' tem um significado semelhante, mas é um processo natural, ou seja,
não é necessariamente conduzido pelo homem.

Características do Ambiente de Cultura de Tecidos

A presença de carboidratos no meio de cultura provoca diferentes respostas


em ambientes de aclimatização ou em ambiente "ex vitro". Na Tabela 14.1, são
mostradas as características do meio-ambiente de cultura de tecidos.

198
TABELA 14.1 Características do ambiente do cultivo "in vitro" e seus
efeitos sobre as plantas

As condições ambientais sob as quais ocorrer o cultivo "in vitro", no que se


refere à composição do meio de cultura e no interior dos recipientes, bem como
quanto à luminosidade e a temperatura, fazem com que a planta proveniente da

199
micropropagação apresente algumas características peculiares. Ainda que haja
variação entre espécies, algumas características são encontradas em
praticamente todas as plantas. A descrição destas características pode ser feita
em relação às folhas, às raízes e ao mecanismo de nutrição.

Fatores do Meio Efeitos "in vitro” Efeitos "ex vitro"

Baixas trocas gasosas Alta umidade Ausência de ceras epicuticulares


estruturadas Mal-funcionamento dos estômatos Baixa taxa transpiratória
Dificuldades no enraizamento e na absorção de nutrientes Excesso de
transpiração Dificuldade na absorção de água e nutrientes

Alta concentração de etileno Alta concentração de CO2 durante o período


escura Baixa concentração de CO2 durante o fotoperíodo Baixa intensidade
luminosa Temperaturas do ar constantes Baixo teor de oxigênio dissolvido no
meio Promoção/inibição da diferenciação Baixa taxa fotossintética líquida Pouca
ou nenhuma emergência de folhas Dificuldades no desenvolvimento de autotrofia
Intensa respiração noturna Dificuldades no enraizamento Supressão da
fotossíntese Sensibilidade a estresse ambientais Morte de plantas

Alta concentração de íons inorgânicos Meio com sacarose Alta pressão


osmótica no meio, alta produção de etileno Vitrificação ou outras desordens
fisiológicas Contaminação fúngicas ou bacterianas Perda de plântulas
Crescimento retardado devido à baixa atividade fotossintética

Estagnação do ar e composição do meio Baixos coeficientes de transferência


de gases, íons e outras substâncias Grandes variações espaciais de temperatura,
composição do meio, luz, etc Grandes variações em tamanho e estágio de
desenvolvimento das plântulas

Meio contendo hormônio e vitaminas Alta percentagem de mutações

Fonte: Kozai (1991)

200
As características das folhas oriundas do cultivo "in vitro", especialmente no
que se refere à sua anatomia, tem reflexo sobre a elevada perda de água quando
da aclimatização. As folhas de plantas micropropagadas apresentam pouca
quantidade de ceras epicuticulares cutícula mais fina e baixa habilidade dos
estômatos fecharem-se sob condições de baixa umidade relativa do ar. Há
indicações de que os estômatos das folhas de plantas micropropagadas têm
estrutura similar às desenvolvidas em ambiente externo, ainda que apresentem
células-guardas mais ricas em amido e cloroplasto. A densidade estomática tende
a ser menor em plantas em aclimatização, comparada com plantas desenvolvidas
no campo (em macieira, 150 e 300 estômatos/mm3, respectivamente). Foi
observado que as folhas originárias do cultivo "in vitro" têm uma menor densidade
de células do mesófilo e apenas um camada de parênquima paliçádico. Observou-
se também que o espaço aéreo do mesófilo foi maior em planta de ameixeira em
aclimatização do que nas plantas desenvolvidas no campo. Porém, o comprimento
das células epidérmicas (superiores e inferiores) não foi afetado. Brotações
obtidas por micropropagação tem reduzido tamanho das células se comparadas a
brotações de plantas desenvolvidas em estufa. A quantidade de tecido vascular
também é menor quando as plantas são obtidas "in vitro", tendo como efeito uma
menor eficiência na translocação de água, o que facilita a ocorrência de estresse
hídrico. Em um estudo de anatomia de framboeseira antes e após a aclimatização,
foi observado que as folhas de plantas formadas "in vitro" foram menores, mas
finas, com arranjamento menos compacto das células do parênquima paliçádico e
do mesófilo e menor número de pêlos da epiderme. A presença de pêlos, em
geral, associada a uma menor perda de água, afeta a morte das plantas por
estresse hídrico.

As raízes são, de modo geral, quebradiças, pouco funcionais na absorção de


água e nutrientes e freqüentemente morrem ao serem transferidas para o solo. Há
poucas conexões vasculares entre as raízes e as brotações.

As plantas têm, em geral, um mecanismo heterotrófico, com sua fonte de


carbono e energia proveniente de componentes do meio de cultura, como a
sacarose. Há citações de que a capacidade fotossintética das folhas de brotações

201
micropropagadas é menor do que a metade daquela que ocorre em folhas dentro
da estufa e, portanto, muito inferior àquela que ocorre em condições de campo. A
fotossíntese pode ocorrer, mas em geral é limitada pela baixa concentração de
CO2 no interior do recipiente. No ambiente de cultivo "in vitro", as condições para
fotossíntese parecem ser sub-ótimas, devido à pouca luminosidade (1 a 10% de
intensidade luminosa a pleno sol), troca limitada de gases e altos níveis de
açúcares exógenos.

14.2.1 Mecanismos de Aclimatização

As plantas desenvolvidas em condições naturais apresentam um mecanismo


de nutrição denominado autotrófico, o qual se caracteriza pela capacidade do
vegetal sintetizar, a partir do carbono atmosférico, seu próprio alimento,
requerendo apenas luz, CO2, água e minerais. Este mecanismo ocorre devido à
fotossíntese, que permite a fixação deste carbono e a elaboração de produtos que
são metabolizados e utilizados como fonte de energia, formação de compostos
orgânicos, órgãos de reserva e outros metabólitos. Fisiologicamente, a
transferência de um meio de cultura com elevadas quantidades de açúcar para
outro substrato sem açúcar é semelhante à transição das reservas da semente
para a fotossíntese das plântulas ou da estocagem das reservas para o início da
brotação em plantas perenes.

Sob condições "in vitro", a planta desenvolve-se com base em um mecanismo


heterotrófico, ou seja, sua principal fonte de carbono e energia é proveniente do
meio de cultura. Isto afeta a sua sobrevivência "ex vitro", uma vez que seu
mecanismo fotossintético é ineficiente para fixar o carbono e convertê-lo em
compostos. O mecanismo mixotrófico é definido como uma hetero ou autotrofia
parcial.

Quando da transferência das plantas do cultivo "in vitro" para a casa de


vegetação e/ou solo, há necessidade de que a planta converta seu mecanismo de
nutrição de heterotrófico para autotrófico. A passagem de um mecanismo para

202
outro pode ser responsável pela sobrevivência da planta. Quando da
transferência, um máximo desenvolvimento da produção fotossintética é crítico
para a sobrevivência da muda.

A baixa eficiência do mecanismo heterotrófico tem sido citada como um fator


relevante neste contexto. Um estudo da habilidade fotossintética de plantas
mocropropagadas e sua evolução durante a aclimatização pode dar indicações
confiáveis das causas de morte das plantas nesta etapa. A atividade de
RubPcase, enzima fixadora de carbono na fotossíntese, é reduzida pela presença
da sacarose no meio de cultura. Estudos envolvendo meios livres de sacarose
permitiram observar que os mesmos foram mais eficientes na produção de mudas
com maior capacidade de aclimatização. Além da isenção da sacarose no meio, o
fornecimento de CO2 e elevadas intensidades luminosas favorecem o
desenvolvimento da autotrofia antes mesmo da transferência, de forma a não
requerer das plantas um processo adicional de aclimatização. Tem sido sugerido
que, uma vez que as plantas "in vitro" têm uma certa habilidade fotossintética e
desenvolvem autotrofia, na presença de fatores físicos do ambiente como o CO2 e
luz, a sacarose não é necessária. Assim, é conceituada a cultura de tecidos
autotrófica (livre de açúcar) e a mixotrófica (intermediária). O problema oriundo
desta modalidade de aclimatização é que a composição de nutrientes do meio
deve ser alterado quando não se utiliza açúcar, devendo-se diminuir as
concentrações de sais. Após a transferência, o conceito de manutenção da
elevada umidade do ar, que favorece a fotossíntese, pode novamente levar a uma
concentração sub-ótima de CO2 nesta fase em que a fotossíntese passa a ser a
única fonte de carbono. A taxa fotossintética de algumas plantas
micropropagadas, tais como o morango, é tida como baixa, com as folhas servindo
mais como fonte de nutrientes ou como órgãos de reserva. Porém, tem-se
observado que, fornecidas as condições adequadas para a fotossíntese, esta
ocorre. As folhas de morango formadas "in vitro" apresentam fotossíntese "in" e
"ex vitro". Além de servirem como fonte de nutrientes para as novas folhas, têm
um papel importante na fotossíntese e, portanto, na promoção do crescimento

203
autotrófico das plântulas. Logo, é importante maximizar a capacidade
fotossintética das folhas formadas "in vitro".

Baixas intensidades luminosas, alto teor de açúcar e idade avançada das


folhas são fatores que reduzem a fotossíntese, dificultando o desenvolvimento da
autotrofia. Estes resultados foram observados em batata e resultados semelhantes
em framboesa, morango e aspargo. Foi observado que, na aclimatização de
plantas de couve-flor, as folhas produzidas "in vitro" são utilizadas como fonte de
carbono para o crescimento e desenvolvimento logo após o transplante, antes d a
emergência das novas folhas. Surge então, a proposta de aumentar-se o tamanho
das folhas antes da transferência para incrementar a quantidade de órgãos com
reservas. Entretanto, isto leva a uma aumento da área foliar por muda,
aumentando a evapotranspiração e a desidratação da planta. Aparentemente, é
mais promissor aumentar-se a taxa de produção de novas folhas "in vitro" do que
a área foliar das mesmas.

Em muitos trabalhos, há referências sobre alterações anatômicas e fisiológicas


induzidas pela cultura de tecidos que dificultam a transição do mecanismo
heterotrófico para autotrófico. Estas alterações são epigenéticas (não se
caracterizam por alterações no genoma) e referem-se a células do mesófilo não-
diferenciadas, ausência de ceras epiculticulares, baixa funcionalidade dos
estômatos e aumento do número de estômatos de maior tamanho.

14.2.2 Influência dos Fatores Ambientais

A umidade relativa do ar no interior dos recipientes é próxima a 100% e quando


da transferência, a planta enfrenta uma redução drástica para níveis
freqüentemente próximos a 70% ou menos. A planta tem um mecanismo de
reserva de água pouco eficiente, desidratando-se durante a aclimatização. Em
plantas de morango, foi observado que a quantidade de água perdida em 24 horas
após a retirada do cultivo "in vitro" é de 2 ou 3 vezes o peso inicial das plantas.
Praticamente todas as espécies são susceptíveis à perda de água na

204
transferência. Este estresse hídrico pode ocasionar a morte das plantas. É citado
na literatura que a perda de água é a principal causa do "choque do transplante".
Com folhas de mudas de macieira micropropagadas, dentro de 15 minutos após a
exposição a 40% de umidade relativa do ar, menos de 10% dos estômatos se
fecharam, denotando um mecanismo lento de fechamento estomático. Em folhas
de ameixeria, macieira e framboeseira, foi observado que há poucas células do
parêmquima paliçádico e grandes espaços intercelulares. Disso decorre que, ao
menos em parte, o fator limitante da transferência é a baixa umidade relativa do
ar. Foi demonstrado, também, que as plantas micropropagadas têm
consideravelmente menos cutícula, além de outras diferenças na anatomia da
folha.

Quando da aclimatização, a condutância estomática diminui significativamente,


para diminuir a perda de água, mas a condutância cuticular pode permanecer
elevada. A perda de água através da cutícula corresponde a menos de 10% da
condutância estomática, mas pode ser maior devido a danos na cutícula, o que
comumente ocorre quando a aclimatização. Além disto, outros fatores concorrem
para o aumento da perda da água, tais como luz, temperatura, fluxo de ar e
gradiente de pressão de vapor entre a folha e o ar. Com o avanço da
aclimatização, há um aumento da quantidade de cera epicuticular estruturada. A
redução da umidade de relativa "in vitro" pode resultar em maior formação de cera
espiculticular e, consequentemente, em redução da transpiração. Isto é
especialmente importante em folhas com baixo número de pêlos radiculares. Este
fato é importante para a redução da perda de água.

14.2.3 Atividade Enzimática

Por ser um processo que interfere no metabolismo da planta, as enzimas têm


influências na fase de aclimatização. O aumento da atividade das peroxidases e
fenilalanina provoca formação de lignina, que é uma ativa "barreira" na defesa da
planta. Em um trabalho com aclimatização de várias espécies propagadas "in

205
vitro", os teores de celulose e lignina apresentaram ótima relação com a tolerância
da planta para aclimatizar-se. O teor de hemicelulose não diferiu conforme este
grau de facilidade. A deposição de calose é uma resposta ao estresse e beneficia
uma maior tolerância da planta aos estresses, dentre os quais o estresse hídrico.

14.2.4 Técnicas para Aumentar a Percentagem de Sobrevivência de


Taxa de Crescimento na Aclimatização

Para aumentar a percentagem de sobrevivência das plântulas nos estágios de


aclimatização, o meio em cada estágio deve ser controlado para simular as
condições do meio onde as plântulas foram cultivadas nos estágios de
multiplicação e enraizamento. A regra para se aumentar a taxa de crescimento
e/ou evitar danos ou morte às plântulas depois da aclimatização (quando
transplantado para a casa-de-vegetação) é aquela em que as condições de
propagação devem ser lentamente aproximadas das condições onde as plantas
serão aclimatizadas (casa-de-vegetação). Além disso, o crescimento e a
fotossíntese das plântulas nos estágios de aclimatização devem também ser
promovidos com um mínimo de perdas dessas plântulas. Na aclimatização
convencional, o principal meio de controle ambiental nos estágios de
aclimatização é conseguido com elevação da umidade relativa do ar (UR), em
particular, no início do processo. A elevada UR é geralmente conseguida pela
cobertura com filme plástico sob sombrite, juntamente com nebulização freqüente.
O sombreamento é necessário porque, primeiramente, a incidência de luz solar
direta causa danos à planta e também por que a flutuação da intensidade solar
direta com o passar das horas provoca perda das plântulas. A nebulização sob
sombrite é o método utilizado para manter a umidade elevada. Contudo, causa a
redução da fotossíntese e, por conseqüência, o desenvolvimento do autotrofismo
e o enraizamento das plântulas. Este ciclo vicioso em ambiente controlado na
aclimatização é resumido na Tabela 14.2. O grau de sombreamento e a eficiência

206
da nebulização são cuidadosamente diminuídos com o passar do tempo,
favorecendo o desenvolvimento do autotrofismo.

Foi relatada uma maneira eficiente para o controle do ambiente nos estágios
da aclimatização, onde habilitaram-se as plantas a um crescimento vigoroso
durante e depois dos estágios de aclimatização, sem perda de plântulas. Contudo,
existem duas possibilidades para resolver o problema:

a) Controle mais preciso do ambiente de aclimatização, por exemplo, utilizando


um microcomputador para controle do sistema ambiental. A umidade relativa em
cada estágio de aclimatização é precisamente controlada em um nível pré-
determinado, com suprimento suficiente de luz e CO2 para a fotossíntese;

b) Controle do ambiente da cultura de tecidos nos estágios de multiplicação e


enraizamento, simulando ao máximo as condições para onde a planta será
transferida. Há, então, pequena mudança de ambiente quando da transferência do
meio de cultura (in vitro) e o de aclimatização (ex vitro).

TABELA 14.2 Ciclo vicioso do controle do ambiente na aclimatização


convencional.

1) As plântulas são sensíveis ao estresse de água e não desenvolvem o


autotrofismo nos estágios iniciais de aclimatização. 2) A umidade relativa
permanece elevada, ocorrendo redução de danos e morte de plântulas. 3)

207
Sombreamento e nebulização são necessárias durante o dia para manter umidade
elevada e baixa incidência de luz solar. 4) A fotossíntese das plântulas é suprimida
sob as condições de sombreamento. 5) Supressão da fotossíntese causa
supressão do desenvolvimento do autotrofismo. 6) Supressão da fotossíntese
(autotrofismo) causa supressão do enraizamento e brotação das plântulas. 7) A
absorção de água e nutrientes é suprimida pela insuficiência de raízes
secundárias. 8) Uma pequena quantidade de água absorvida e o excesso de
transpiração foliar causa danos e morte às plântulas. 9) Parte das folhas podem
ser removidas quando da aclimatização para reduzir o excesso de transpiração. A
fotossíntese é suprimida pela pequena área foliar, 10) Retorna ao item 1.

14.2.5 Unidade Automatizada da Aclimatização

A utilização de microcomputador na aclimatização para controlar a umidade em


uma unidade (que pode ser a casa-de-vegetação) foi desenvolvida por Kozai et
al., (1987) e aprimorada por Hyashi e Kozai (1987) citados por Bajaj (1991),
elevando com isto a percentagem de sobrevivência e o crescimento mais rápido
das plântulas. Com a unidade de aclimatização pode-se controlar a temperatura
do ar, umidade relativa, intensidade de luz, concentração de CO2, circulação de ar
e temperatura da solução nutritiva. Utilizando a unidade de aclimatização, foi
realizado um experimento com plântulas de morango cultivadas em meio líquido.
A percentagem de sobrevivência das plântulas aclimatizadas na unidade foi de
96%, enquanto a percentagem foi de 80% para as aclimatizadas no método
convencional. Para Colacasia esculenta, a sobrevivência na unidade de
aclimatização foi de 92% ao passo que na aclimatização convencional foi de 77%.

14.2.6 Uso de Fungicidas

Plantas enraizadas "ex vitro" são muito susceptíveis a danos por fungos, sendo
necessários tratamentos com fungicidas de largo espectro. Plantas enraizadas "in
vitro" devem também sofrer os mesmos tratamentos. O tratamento com fungicidas
também é utilizado por laboratórios no momento da expedição das plantas. Nessa

208
ocasião, a parte aérea é pulverizada e o substrato, encharcado com a solução. É
mostrado na literatura que diversos fungicidas têm sido utilizados com sucesso:
Benomyl, Dichlofuanide, Propanocarb, Iprodione, Thiram, Metalaxil, Mancozeb,
Etridiazole e Zineb, entre outros. As dosagens de aplicação devem ser geralmente
menores que as recomendadas pelo fabricante, em função das plantas de cultura
de tecidos terem a cutícula mal formada, sendo assim mais sensíveis. Os
fungicidas devem ser aplicados a intervalos de 10 a 14 dias, procurando-se
alternar o princípio ativo usado, com a finalidade de ampliar o espectro de ação.
Nos primeiros estágios da aclimatização, os produtos podem prejudicar a
folhagem das plantas; aplicações mais segurar acontecem após 2 ou 3 semanas.
Quando se está trabalhando com uma nova espécie, da qual não se tem
conhecimento da sensibilidade aos fungicidas, é necessário se realizar testes
prévios

14.2.7 Enriquecimento do Ar com CO2

O enriquecimento do ambiente de aclimatização favorece o desenvolvimento


das plantas. A aclimatização de morango micropropagado em meio MS foi
realizada em duas unidades de aclimatização idênticas. Em uma delas, a
concentração de CO2 foi controlada a 750 ppm e a radiação solar, a 58 W/m2. Na
outras unidade, não houve controle. Durante os primeiros 14 dias de
aclimatização, não houve diferença no peso da matéria seca total e altura de
planta entre os tratamentos com enriquecimento e sem enriquecimento da
atmosfera da unidade em CO2. Contudo, a partir do 21º dia, ocorreu um aumento
da matéria seca total e altura de planta no tratamento com atmosfera enriquecida.

14.2.8 Uso de Antitranspirante

Dois sérios problemas na aclimatização são o baixo conteúdo de água e a


subseqüente morte das plantas, resultado proveniente da extrema dessecação
que ocorre quando as plantas são transferidas das condições "in vitro" para casa-
de-vegetação. Um método desenvolvido para reduzir os efeitos deletérios da

209
deficiência hídrica das plantas na fase de transferência para a casa-de-vegetação
é o uso de antitranspirantes.

Trabalhando com aclimatização de Chysanthemum morifoluim e Dianthus


caryophylus, estabelecidos "in vitro", é relatado que o tratamento com câmara
úmida foi superior ao tratamento-controle e aos tratamentos com antitranspirante.
Alguns antitranspirantes reduziram a deficiência hídrica nas folhas, mas não
alteraram o crescimento das plantas na casa-de-vegetação, em relação ao
controle.

14.2.9 Uso de Substratos na Aclimatização

A aclimatização é normalmente realizada em substratos derivados de turfa,


freqüentemente esterilizada, assim como em vermiculita, perlita e areia. É
desejável que o substrato, nesta fase, apresente as seguintes características: a)
referentes à planta – esterilidade, não fitotóxico, porosidade, pH adequado ao
desenvolvimento da planta, elevado poder tampão, alta CTC, relação ar/água
próxima a 50%, alta absorção ou neutralizador de exsudatos tóxicos produzidos
durante a rizogênese e com possibilidade de inoculação de fungos micorrízicos; b)
referentes ao uso – fácil armazenamento, fácil manipulação, alta densidade por
unidade de superfície, fácil regulação da umidade adequada, passível de
autoclavagem e relação qualidade/custo favorável.

14.2.10 Aclimatização de Embriões Produzidos "in vitro"

Os embriões somáticos produzidos "in vitro" também devem ser aclimatizados.


Ao invés de germinar, os embriões podem ser transferidos como plântulas a um
viveiro e, então, estabelecidos no campo. Muitos trabalhos têm sido realizados
para recomendar métodos de plantio direto no campo, mas grande parte destes
trabalhos é impedida pela baixa qualidade dos embriões somáticos produzidos

210
pela tecnologia existente e pela falta de tecidos de armazenagem para sustentar o
crescimento de embriões, bem como pela falta de camadas externas protetoras da
semente normal. Para ser capaz de geminar após plantio direto no campo,
embriões somáticos devem tolerar algum grau de dessecação.

A solução final para o desafio da semeadura direta, seria poder induzir a


embriogênese dentro de um óvulo, de modo que o embrião em desenvolvimento
seria circundado por um tegumento protetor. Sem esta capacidade, a pesquisa
deve ser direcionada para a semeadura direta de embriões nus ou embriões
circundados por algum tipo de proteção artificial.

Para dar proteção contra a secagem e o dano mecânico e par proporcionar


nutrição e proteção contra infecção, os embriões podem ser encapsulados num
revestimento protetor ou suspenso num gel protetor. Em cada forma de proteção,
os embriões podem ser providos com sais nutritivos, compostos orgânicos e
materiais antibióticos.

Vários materiais de revestimento não-tóxico, foram descobertos para embriões


somáticos. Entre os mais adequados estão o gel solúvel em água formado de
alginato de sódio, uma mistura de alginato de sódio e gelatina e polioxietileno.
Muitos outros materiais têm sido avaliados, incluindo ágar, gelrite,
carboximetilicelulose, carrageno com goma de feijão 'locust', álcool polivinil, e
materiais baseados em silicone.

Antes que a encapsulação possa se tornar eficaz, devem ser encontrados


métodos que possibilitem o aumento da proporção de embriões que finalmente
transformam-se em plantas (freqüência de conversão de embriões). Os embriões
precisam ter reservas alimentícias adequadas para crescerem até um tamanho
suficiente para se tornarem plantas autotróficas. Algum progresso tem sido feito
com espécies não-endospérmicas, que normalmente armazenaram reserva de
alimento em cotilédones dilatados, embora os cotilédones de armazenagem que
são característicos de muita sementes, não são produzidos em embriões
somáticos "in vitro".

211
1) QUALIDADE DA MUDA

A propagação das plantas frutíferas se reveste de grande importância na


fruticultura. Essa talvez seja a etapa mais importante na implantação de um
pomar. Para que se tenha sucesso, é necessária a adoção de tecnologias que
visam à obtenção de mudas de qualidade.

A muda é, na verdade, o alicerce da fruticultura, pois dela depende o sucesso


ou o fracasso da implantação de um pomar.

Na produção de uma boa muda, alguns cuidados devem ser tomados.

Embora a produção de mudas possa ser feita, muitas vezes, com emprego de
uma infraestrutura muito simples, cada vez mais a propagação de plantas vem
lançando mão de apurada tecnologia, pois isso é muito importante para a
obtenção de mudas de qualidade no menor tempo possível. Esta tecnologia
abrange, diversos componentes, que no decorrer do assunto serão abordados.

Para produzir mudas de plantas frutíferas com eficiência e qualidade, deve-se


levar em consideração muitos aspectos, desde a legislação que estabelece as
características de uma muda-padrão até as técnicas de transferência da muda
para o pomar. Estes aspectos, que compõem a tecnologia da produção de mudas,
serão abordados neste módulo.

Tais aspectos, embora didaticamente possam ser tomados em separado, na


verdade constituem um conjunto de procedimentos e condições básicas para a
produção de uma boa muda.

Este módulo tem dupla importância: em primeiro lugar, para o viveirista, que
necessita conhecer as técnicas de propagação e, em segundo lugar, para o
fruticultor, que deve conhecer os princípios da produção de mudas para que
adquira este insumo com segurança. É comum muitos produtores não observarem
a qualidade da muda ao comprarem este insumo, além de adquirirem mudas de
vendedores ambulantes inescrupulosos. Isso é muito preocupante, pois além de
serem mudas não adaptadas, têm-se o agravante de serem mudas de baixa

212
qualidade morfológica e genética, Decorrente disso, o fruticultor sofrerá resultados
desastrosos notados só depois de algum tempo, acarretando prejuízos
irreparáveis.

LEGISLAÇÃO SOBRE PRODUÇÃO DE MUDAS

Na produção comercial de frutas, deve-se dispor de grande quantidade de


mudas com qualidade comprovada, de modo a garantir o sucesso do
empreendimento. Para que haja garantia de uniformidade de material de
implantação dos pomares, é necessária a regulamentação na produção de mudas.

De maneira geral, os produtores, procurando economizar neste tipo de insumo,


adquirem suas mudas de viveiristas não credenciados, vendedores ambulantes ou
até mesmo produzem suas próprias mudas, não obedecendo os padrões mínimos
de qualidade exigidos.

Com a criação da Lei 6.507 de 19 de dezembro de 1977, que dispõe sobre a


inspeção e a fiscalização da produção e do comércio de sementes e mudas, os
Estados procuraram criar suas estruturas visando garantir, com base em padrões
oficiais, a qualidade do material a ser produzido e comercializado, estabelecendo
condições para o desenvolvimento da produção e do comércio de mudas.

Na Tabela 2.1, são apresentados os principais problemas relacionados à


produção de mudas de plantas frutíferas no Brasil.

213
Sistemas de Produção

As mudas de espécies frutíferas podem ser produzidas em um dos seguintes


sistemas: fiscalização e certificação.

Fiscalização

Neste sistema, são produzidas as mudas denominadas de fiscalizadas. Este é


o sistema de uso mais comum no Brasil. É um sistema que garante basicamente a
qualidade morfológica, fisiológica e fitossanitária da muda. Na TABELA são
apresentadas as características deste sistema.

214
Normas Gerais de Produção, Comercialização e Transporte de Mudas

Dos Objetivos:

As presentes normas objetivam estabelecer condições que devem ser


obedecidas para a produção, o transporte e a comercialização de mudas frutíferas
em todo o território nacional.

Para os fins presentes nestas normas, considera-se "Mudas Fiscalizadas"


aquelas de origem conhecida, fornecidas por produtores credenciados nas
Delegacias Regionais de Agricultura de seus respectivos estados (DFAARA).

Das obrigações do Produtor de Muda Fiscalizada:

1. Ser registrado na DFAARA ou Secretaria da Agricultura de seu respectivo


Estado como produtor de mudas fiscalizadas ( ou Certificadas), conforme a
portaria nº 0339, de 07.12.84;

2. Produzir obedecendo as Normas Técnicas de Produção sugeridas pela


CESM (Comissão Estadual de Sementes e Mudas) de seu Estado.

215
3. Submeter as áreas de produção de mudas fiscalizadas (viveiros) aos
inspetores da DFAARA ou por ela credenciados;

4. Credenciar nas respectivas DFAARA's, nas épocas estabelecidas pela


mesma, os viveiros destinados à produção de mudas fiscalizadas. Para que o
credenciamento seja efetivado, o produtor deverá dispor, na propriedade, dos
equipamentos e instalações mínimas exigidas (Conforme o Estado da Federação
e o tipo de muda a ser produzido).

5. Apresentar comprovante da análise de água que será utilizada na irrigação


das mudas, quanto à sua composição química e o seu pH, assim como do
substrato, no que tange à constituição química e granulométrica.

6. Manter atualizado, informando sempre à DFAARA, o controle de saída de


material produzido e comercializado.

7. Remeter a relação e contrato dos cooperantes, ao órgão executor da


Secretaria de Agricultura ou DFAARA's.

8. Comunicar qualquer alteração ocorrida nas informações inicialmente


prestadas, bem como só proceder modificações, quando autorizado por ofício do
órgão executor da Secretaria de Agricultura ou DFAARA.

9. Cumprir as instruções do Responsável Técnico.

10. Solicitar autorização para confecção dos blocos de Atestado de Garantia.

11. Outros, conforme as exigências específicas de cada Estado da Federação.

Das Inspeções:

As inspeções são realizadas de acordo com as Normas e Critérios aprovados


pela Portaria nº 166 de 17.06.82, do Ministério da Agricultura, classificada em dois
modelos.

a. Inspeção prévia: o inspetor fará uma vistoria prévia no local de produção


das mudas fiscalizadas, nas instalações e nos equipamentos, emitindo parecer
técnico sobre o enquadramento do produtor e a viabilidade do empreendimento.

216
b. Inspeção durante o ciclo da muda: o inspetor procederá no mínimo, duas
inspeções, com a finalidade de observar o desenvolvimento e o aspecto sanitário
das mudas em produção, emitindo parecer final sobre a viabilidade na liberação
das mesmas para comercialização.

Da Responsabilidade Técnica:

O Responsável Técnico que deverá ser um Engenheiro Agrônomo ou Florestal,


terá sob sua responsabilidade, dentre outras, as seguintes atribuições:

1. Firmar "Termo de Compromisso" com o produtor de mudas fiscalizadas,


responsabilizando-se por todas as fases técnicas de produção e pelo cumprimento
das normas;

2. Acompanhar os inspetores durante as inspeções, cumprir e/ou fazer


cumprir as suas orientações e assinar todos os documentos, inclusive os
atestados de Garantia emitidos pelos produtor, vinculados à produção de mudas
fiscalizadas;

3. Atender as convocações da CESM – Estaduais para participar de reuniões,


quando necessárias comunicar imediatamente, à DFAARA, a ocorrência de
rescisão de contrato;

4. Elaborar e assinar Plano e Produção ou Projeto Técnico de Produção de


Mudas;

5. Enviar ao órgão executor da Secretaria de Agricultura do Respectivo


Estado, quando exigido, os "laudos" referentes às fases de produção.

6. Condenar e determinar a erradicação de porta-enxertos inadequados à


enxertia e de mudas que não atendam aos padrões mínimos exigidos, por ocasião
do arranquio.

7. Emitir, em papel timbrado do produtor, Atestado de Garantia de Mudas


Fiscalizadas.

217
Do Material de origem e multiplicação:

O material de propagação deverá ser obtido de plantas borbulheiras listadas e


acompanhadas da nota Fiscal ou atestado de origem especificando a espécie,
variedade e quantidade do aludido material.

Da embalagem:

Deverá obedecer as Normas peculiares para cada espécie estabelecidas nos


padrões.

Da Identificação:

Toda muda deverá ser identificada com uma etiqueta, obedecendo as normas
para o comércio, conforme estabelecidas no padrão específico.

Da comercialização:

O documento hábil para a comercialização da muda é a Nota Fiscal ou Nota do


produtor. No corpo da nota deverá constar obrigatoriamente:

Nº de credenciamento do produtor e Nº do atestado de garantia;

Classe da muda e variedade;

Porta-enxerto (quando houver);

Quantidade por variedade e,

Nº de registro no Ministério ou Secretaria de Agricultura.

Das Penalidades:

Sem prejuízo da responsabilidade penal cabível, o infrator estará sujeito às


sanções previstas no art. 61 do decreto 81.771 de 07.08.1978, que consta de:

Advertência;

Multa;

218
Suspensão da comercialização;

Apreensão;

Condenação;

Suspensão do registro;

Cassação do registro;

Dos padrões das Mudas:

Os padrões das mudas são estabelecidos pelo DFAARA de acordo com as


particularidades de cada espécie, sendo que estes padrões serão determinados
através de exames físicos e de sanidade, realizados pelo inspetor e por um
laboratório oficial e credenciado, cabendo ao Responsável Técnico a assinatura
do Atestado de Garantia das mudas produzidas.

A seguir as Normas Específicas para Produção de Mudas Fiscalizadas de


algumas Frutíferas, lembrando sempre que esses padrões podem ser mais rígidos
em alguns Estados, podendo variar também conforme a peculiaridade da espécie
e da região onde será cultivada.

As Normas são estabelecidas em todo o território nacional pelo Ministério da


Agricultura e adaptados em muitos casos pelas Secretarias de Agricultura e
Comissões Estaduais de Sementes e Mudas, conforme Portarias do próprio
Ministério da Agricultura, através dos DFAARA's dos respectivos Estados.

Mudas de Abacateiro

A região da enxertia deve estar entre 5 a 10 cm acima do colo da planta;

diâmetro do enxerto, a 5 cm do ponto de enxertia, deve medir no mínimo 1 cm.

A altura da muda medida a partir do colo da planta deve ser de 30 a 50 cm,


devendo ser ereta, perfeita e constituída de uma única haste.

219
A muda deve ser comercializada entre 6 a 8 meses de idade.

A muda deverá estar acondicionada em sacos plásticos ou similar, medindo 35


cm de altura, 18 cm de diâmetro.

Mudas de Abacaxizeiro

Considerando-se os aspectos fitossanitários sobre os padrões para mudas


fiscalizada de abacaxizeiro, em Minas Gerais, pode-se mencionar que deve-se
dispor de uma lavoura, previamente selecionada por técnico autorizado pela
Subcomissão Técnica de Fruticultura. O canteiro de propagação e o viveiro
deverão ser implantados em áreas onde não tenha sido cultivado abacaxi por um
período mínimo de um ano, condicionado à inspeção prévia. Da mesma forma,
sua reinstalação em uma mesma área só poderá ser feita um ano após a retirada
das mudas produzidas anteriormente. As mudas deverão ser obtidas de plantas
sadias originárias de plantios com baixa incidência de doenças e pragas,
principalmente fusariose (Fusarium moniliforme variedade subglutinans) e
cochonilha (Dysmicoccus brevipes). No caso de mudas convencionais, somente
deverão ser vendidas aquelas provenientes de plantas que tenham produzido
frutos sadios, no que diz respeito à fusariose. A produção de mudas a partir do
seccionamento do caule, deverá ser obtida de caules selecionados de plantas
aparentemente sadias e que tenham produzido fruto de acordo com o padrão da
variedade. O canteiro de propagação e o viveiro deverão ser mantidos isentos de
pragas e doenças através do uso de defensivos em pulverização e erradicação.

Será condenado o campo que, durante as inspeções apresentar níveis


superiores a 10% de plantas ou até 30% de frutos atacados pela fusariose. Uma
vez constatada a ocorrência da doença acima dos níveis permitidos, as plantas
atacadas deverão ser imediatamente arrancadas e destruídas.

As mudas produzidas por seccionamento do caule não deverão apresentar, no


momento da comercialização, sintomas de incidência de fusariose ou ataque de

220
cochonilhas, não se permitindo, durante o período de formação das mudas, uma
incidência de pragas ou doenças superior a 5% das plantas.

a) As mudas deverão ser obtidas de plantas sadias, originárias de plantios


com baixa incidência de pragas e doenças, principalmente fusariose (Fusarium
moniliforme var. suglutinans) e cochonilha (Dysmicoccus brevipes).

b) As mudas tipo "filhote e rebentão" deverão ter comprimento entre 25 e 30


cm e as mudas tipo "coroa" e o comprimento não poderá ser menor que 15 cm.

c) O peso das mudas "Pérola" deverá estar entre 150 e 250 gramas e as da
variedade "Smoth Cayenne" entre 200 e 350 gramas.

d) A variedade Smoth Cayenne não poderá ter espinhos em toda a extensão


do bordo foliar.

e) As mudas provenientes do seccionamento do caule, rebentão ou coroa para


comercialização deverão estar agrupadas em lotes segundo o tamanho, sendo
que a diferença entre tamanhos de um mesmo lote deve ser inferior a 10 cm.

Mudas de Aceroleira

221
As mudas devem ter de 20 a 40 cm de altura, 3 a 6 meses de idade, isentas de
pragas e doenças;

Para comercialização, as mudas deverão estar acondicionadas em sacos


plásticos ou similares, com 28 cm de altura e 15 cm de diâmetro;

Mudas de Bananeira

O pseudocaule das mudas com rizomas inteiros deve ser aparado entre 5 a 12
cm acima do ponto de inserção da última folha viva externa ou colo da planta,
sendo que o peso varia de acordo com o tipo de muda:

tipos chifrinho, chifre e guarda chuva: 1.000 a 2.000 gramas;

tipo chifrão: 2.000 a 3.000 gramas;

tipo muda alta: 3.000 a 5.000 gramas;

Nas mudas do tipo replante, com mais de 5.000 g, o pseudocaule deve ser
aparado no comprimento máximo de 50 cm;

As mudas tipo pedaço de rizoma devem pesar de 800 a 1.500 g, com o


pseudocaule aparado entre 5 a 12 cm acima do ponto de inserção ou colo;

Todos os tipos de mudas devem ter o sistema radicular aparado, para que as
raízes apresentem o comprimento máximo de 3 cm;

A comercialização das mudas, que devem estar isentas de pragas e doenças,


poderá ser feita a granel, porém protegidas do sol.

Mudas de Cajueiro

A região de enxertia deve estar entre 5 a 10 cm acima do colo da planta;

Enxerto e porta-enxerto devem ter o mesmo diâmetro de no máximo 0,5 cm,


apresentando soldadura perfeita;

222
As mudas devem ter haste única, o mais ereta possível, com altura mínima de
15 cm;

A idade da muda para comercialização, independente do tipo de enxertia, não


pode ultrapassar 4 meses, a partir da data de semeadura do porta enxerto,
devendo apresentar no mínimo, seis folhas de coloração verde normal e estar
isenta de pragas e doenças;

A muda deverá estar acondicionada em sacos plásticos com 15 cm de


diâmetro e 28 cm de altura.

Citros

Devido aos problemas fitossanitários, para a produção de mudas fiscalizadas


de citros, no Estado de Minas Gerais, é recomendado que não se proceda a
reinstalação dos viveiros, em uma mesma área, antes de dois anos após a
retirada das mudas. Além disto, o viveiro deve estar localizado no mínimo, a 30
metros dos pomares cítricos, evitando qualquer contaminação das mudas
produzidas; deve-se proceder a um controle sistemático contra pragas e doenças,
com o objetivo de se evitar sua disseminação; as borbulhas deverão ser obtidas
de plantas sadias, com boa produção e as mudas produzidas deverão estar
isentas de pragas e doenças.

Os viveiros que vierem a apresentar incidência de nematóides, cochonilha da


raiz, cochonilha da terra e cancro cítrico serão condenados e as mudas infectadas
por gomose também serão condenadas para comercialização.

Para o Estado de São Paulo, foi realizada a implantação do Sistema de


Produção de Mudas Certificadas de Citros, tendo em vista a necessidade de
colocar, à disposição dos produtores de mudas, material de propagação com
garantia de origem e sanidade.

Existem várias exigências para a condução do viveiro, de acordo com as


"Normas para Produção de Muda Certificada de Citros". Com respeito aos

223
aspectos fitossanitários, podem ser mencionados: construção com telado
antiafídios e em local distante, no mínimo, de 20m de plantas cítricas; construção
de um pedilúvio, na entrada do viveiro, para a desinfestação de calçados; água
para irrigação das mudas tratada com cloro a 5ppm; não permitir a entrada de
águas invasoras; proceder à desinfestação do material e equipamento utilizado no
viveiro, com formalina a 2,5%, bem como à desinfestação de pisos, paredes e
bancadas, com hipoclorito de sódio a 0,5%, após a retirada das mudas do viveiro,
dentre outras exigências.

Quanto à produção da muda certificada é exigido que o substrato deva ser


isento de nematóides comprovadamente nocivos (Tylenchulus semipenetrans e
Pratylenchus spp.) e de fungos do gênero Phytophthora.

Quanto à origem do material de propagação, é relatado, dentre outros ítens,


que a planta básica ou a planta matriz que fornece sementes para porta-enxertos
pode ser mantida em campo ou em telado antiafídios, entretanto, para o
fornecimento de borbulhas, devem ser mantidas em telado, assim como a
borbulheira. Estas plantas devem ser inspecionadas, periodicamente, para
verificação da sanidade e coleta de material para testes de clorose variegada dos
citros.

A muda certificada deve estar isenta dos nematóides já mencionados, isenta


de fungos do gênero Phytophthora e de bactérias associadas à clorose variegada
dos citros, não devendo apresentar sintomas de cancro cítrico e estar
aparentemente livre de outras doenças e pragas.

Nos municípios da região Sudoeste do Estado de São Paulo, foi proibida a


produção de mudas pela ocorrência da tristeza dos citros – variante de Capão
Bonito.

Das Condições Técnicas:

224
Os viveiros deverão ser instalados em áreas isentas das plantas daninhas, tais
como tiririca, trevo, grama seda.

Os espaçamentos mínimos entre plantas na fileira é de 25 cm e entre fileiras


90 cm, quando se tratar de fileiras duplas.

A reinstalação do viveiro só poderá ocorrer em uma mesma área, dois anos


após a retirada das mudas.

Os viveiros não poderão ser consorciados com outras culturas.

As mudas receberão um controle sistemático contra pragas e doenças.

Os viveiros terão um isolamento mínimo de 30 metros dos pomares cítricos.

Após o arranquio, as mudas cítricas terão uma cura, de no mínimo 8 dias.

A quantidade mínima de mudas por viveiro não poderá ser inferior a 5.000.

Da Cultura:

As borbulhas deverão ser obtidas de plantas sadias com boa produção.

Os porta-enxertos deverão ser indicados pela pesquisa e referendados pela


Subcomissão de Fruticultura.

As variedades devem ser indicadas por placas e se possível isoladas em lotes.

Do padrão da muda:

a) Ter enxerto feito entre 10 e 20 cm de altura, medidos a partir do colo da


planta;

b) Enxerto e porta enxerto deverão constituir uma haste única e ereta,


tolerando-se uma pequena curvatura logo acima do ponto de enxertia;

c) Apresentar acima do ponto de enxertia um diâmetro mínimo de 1.0 cm,


consentindo-se para as tangerinas um mínimo de 0,7 cm;

d) Não apresentarem diferença de mais de 0,5 cm entre os diâmetros do


enxerto e do porta-enxerto, medidos 5 cm acima do ponto de enxertia (tangerinas
até 0,8 cm);

225
e) Apresentarem a haste principal com 40 a 50 cm de altura (tangerinas) e 50
a 70 cm (laranja, lima, pomelos e limão), medidos a partir do colo da planta;

f) A muda com copa formada deve ter de 3 a 5 ramos maduros distribuídos


em aspiral nos 20 cm terminais e medindo cada um entre 20 e 30 cm;

g) A muda do tipo "vareta", sem copa formada, deve ter de 40 a 50 cm para


tangerinas e de 50 a 70 para as demais variedades.

h) Não apresentarem galhos quebrados ou partes lascadas;

i) Ter no máximo 36 meses de idade;

j) Apresentarem sistema radicular bem desenvolvido, sem raízes enoveladas,


retorcidas ou quebradas, a raiz principal com comprimento mínimo de 25 cm
quando aparada ou 20 cm quando não aparada;

k) Serem isentas de pragas e doenças;

l) Apresentarem o corte da porta-enxerto aparado e com plena cicatrização;

226
Do tipo de muda:

a) Com torrão: deverá ser acondicionada em jacá, saco plástico ou outro


recipiente similar, desde que não afete a consistência do torrão e tenha as
seguintes dimensões mínimas: 18 cm de diâmetro, e 27 cm de altura para as
mudas de até 12 meses a partir da data da enxertia e de 23 cm de diâmetro e 30
cm de altura para as demais.

b) Com raiz nua: as raízes das mudas cítricas, tipo raiz nua deverão ser
barreadas ou protegidas com outro material equivalente e envoltas em material
não fermentescível e úmido.

227
Mudas de Coqueiro

Por ocasião da comercialização as mudas deverão estar com 4 a 6 meses de


idade, contados a partir da semeadura, apresentarem 5 a 6 folhas curtas, não
estioladas e com boa arquitetura e isentas de pragas e doenças;

As mudas devem ser comercializadas com raiz nua.

Mudas de Goiabeira

A região da enxertia deve estar entre 10 e 15 cm acima do colo da planta;

O diâmetro do enxerto, a 5 cm do ponto de enxertia, deve medir, no mínimo 1


cm.

O enxerto e o porta-enxerto deverão constituir-se em uma única haste, o mais


vertical possível, com 50 a 60 cm de altura contendo 3 a 4 ramificações de 20 a 30
cm de altura e inseridas, em pontos distintos acima do ponto de enxertia. As
mudas sem copa formada, tipo vareta devem apresentar a única haste com 40 a
50 cm de altura, medida a partir do colo da planta;

228
A idade das mudas para comercialização não deve ultrapassar os 15 meses,
contados a partir da data de semeadura do porta-enxerto, devendo estar isenta de
pragas e doenças;

A comercialização da muda somente será permitida se a mesma estiver em


embalagem adequada com 20 cm de diâmetro e 35 cm de altura.

Mudas de Mangueira

A região de enxertia deve estar a 15 cm acima do colo da planta, sem que haja
diferença entre enxerto e porta-enxerto;

As mudas deverão ser constituídas de haste única com, no máximo, quatro


ramificações e não podendo apresentar superbrotamento do ápice.

A idade das mudas para comercialização não deve ultrapassar 12 meses,


contados a partir da semeadura do porta-enxerto, devendo estarem isentas de
pragas e doenças;

229
A comercialização da muda somente será permitida se a mesma estiver
colocada em saco plástico ou similar, com 20 cm de diâmetro e 35 cm de altura.

Mudas de Mamoeiro

A muda deve constituir-se em uma haste única com 15 a 30 cm de altura,


idade máxima de 60 dias e estar isenta de pragas e doenças;

Para comercialização, as mudas deverão estar acondicionadas em sacos


plásticos ou similares, com 25 cm de altura e 14 cm de diâmetro;

Mudas de Maracujazeiro

As mudas devem ter de 20 a 30 cm de altura e idade máxima de 70 dias e


estarem isentas de pragas e doenças;

Para comercialização, as mudas deverão estar acondicionadas em sacos


plásticos ou similares, com 22 cm de altura e 11 cm de diâmetro.

Mudas de Videira

I. Na formação de mudas enxertadas de videira devem ser observados os


seguintes aspectos:

As estacas formadas por ramos amadurecidos e do mesmo ano, devem ser


retiradas de plantas vigorosas, produtivas, com bom aspecto fitossanitário e
devem medir de 22 a 25 cm de comprimento, 0,6 a 1,0 cm de diâmetro, com duas
a três gemas;

Ter no máximo 24 meses de idade, a partir da data de enxertia;

230
Apresentar a 5 cm acima do ponto de enxertia o diâmetro de 0,8 a 2.0 cm.

O enxerto e o porta-enxerto devem apresentar o mesmo diâmetro, tolerando-se


uma variação de até 25% entre ambos; sendo que a soldadura da enxertia deve
estar perfeitamente cicatrizada;

As mudas constituídas de haste única com, no mínimo 60 cm de comprimento,


devem estar com lenho perfeitamente amadurecido, possuírem pelo menos, 3
gemas viáveis, localizadas acima do ponto de enxertia, e porta enxerto com
comprimento total não inferior a 30 cm.

O fardo deverá conter no máximo 100 mudas;

Para comercialização, as mudas deverão estar acondicionadas em sacos


plásticos ou similares, com 28 cm de altura e 15 cm de diâmetro.

II. As mudas de pé franco deverão ter as seguintes características:

Ter no máximo 24 meses de idade, a partir da data de plantio;

Apresentarem a 5 cm do ponto de brotação o diâmetro de 0,8 a 2,0 cm;

Ter haste única, lenho perfeitamente amadurecido, o comprimento mínimo de


60 cm e pelo menos três gemas viáveis a partir do ponto de brotação;

O fardo deverá conter no máximo 50 mudas.

III. As estacas enraizadas de porta-enxertos deverão ter seguintes


características:

Ter no máximo 12 meses de idade;

Ter o comprimento mínimo de 40 cm medidos a partir do ponto inferior de


emissão de raízes até a extremidade superior da estaca plantada;

Possuir o diâmetro de 0,8 a 1,2 cm na extremidade superior da estaca;

Ter haste única, lenho perfeitamente amadurecido e no mínimo 3 gemas


viáveis;

O fardo deverá conter no máximo 100 mudas.

231
IV. Os ramos destinados a obtenção de estacas, bacelos e garfos, deverão
apresentar as seguintes características:

Ter comprimento mínimo de 110 cm;

Serem do ano e perfeitamente amadurecidos;

Apresentarem de 0,6 a 1,2 cm de diâmetro no entre-nó mais alongado;

Comprimento mínimo de 50 cm e pelo menos 4 gemas viáveis;

O bacelo deverá ter o comprimento mínimo de 1 metro;

O fardo deverá conter no máximo 200 estacas, protegidas e embaladas.

V. As mudas enraizadas deverão apresentar sistema radicular abundante e


convenientemente aparado e serem devidamente protegidas com material não
fermentescível e úmido, com embalagem apropriada.

VI. A muda de torrão deverá ser acondicionada em embalagem apropriada com


no mínimo 12 cm de diâmetro e 25 cm de altura.

232
Outras Espécies

Na TABELA, são apresentadas as principais características de mudas padrão


de ameixeira, caquizeiro, figueira, macieira, nogueira-pecã, pereira e
pessegueiro/nectarineira.

233
Quando o porta enxerto for produzido por estaca, deve apresentar sistema
radicular bem desenvolvido ao longo de no mínimo 20 cm basais da estaca, com
raízes secundárias abundantes e não enoveladas.

As mudas com pernadas (mudas de 2 anos) deverão ter no máximo 30 meses,


contados a partir da data da enxertia, e apresentarem de 4 a 0 pernadas (ramos
de ordem 1), com diâmetro mínimo de 0,8 cm, medido a 5 cm do ponto de
inserção. Deverão estar distribuídas uniformemente em espiral, sendo que a 1ª
pernada devera sair a 30 cm do ponto de enxertia e a pernada superior deverá
estar na posição vertical, no prolongamento da haste principal.

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