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Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.30 n.253 nov./dez. 2009
Belo Horizonte-MG

Sumário

Editorial .......................................................................................................................... 3

Entrevista . ...................................................................................................................... 4

Biossegurança e sociedade
Aluízio Borém e Wellington Silva Gomes ............................................................................. 7

Plantas transgênicas
Geraldo Magela de Almeida Cançado, Ana Cristina Miranda Brasileiro, Ana Paula Ribeiro,
Apresentação
Monique Carolina Nunes Fernandes, Gustavo César Sant’Ana, Bárbara Dantas Fontes-Soares,
Esta edição do Informe Agropecuário Hermínio Souza Rocha e Gustavo Faria Freitas . .................................................................. 14
tem por tema a Biotecnologia e suas aplica-
ções no setor agropecuário. Uso de técnicas moleculares para diagnose de patógenos em sementes
Já é consenso que as técnicas, conceitos, Ellen Noly Barrocas, José da Cruz Machado, Antonia dos Reis Figueira, Ricardo Magela de
processos e produtos gerados pela Biotecno- Souza, Alessandra Keiko Nakasone Ishida, Ana Beatriz Zacaroni e Hermínio Souza Rocha ....... 24
logia Moderna são cada vez mais imprescin-
díveis para a evolução da pesquisa nas áreas Aspectos legais da proteção de cultivares transgênicas
da Biologia, Agronomia e Medicina.
Waldênia de Melo Moura, Paulo César de Lima, Ignácio Azpiazú, Josiane dos Santos e
O cultivo comercial de variedades trans-
Felipe Rodrigues Reigado ................................................................................................... 33
gênicas é uma realidade no Brasil e a cada
dia produtos advindos da Biotecnologia
Moderna estarão mais presentes no nosso Detecção de produtos e organismos transgênicos
cotidiano. Sandra Rodrigues de Camargo .................................................................................................. 44
Mitos, tabus e receios relativos aos riscos
da biotecnologia e suas aplicações só pode- Citogenética e suas aplicações no melhoramento de plantas
rão ser redimidos e neutralizados por meio Lisete Chamma Davide, Vânia Helena Techio, Roselaine Cristina Pereira, Bárbara Dantas
da informação imparcial, fundamentada no Fontes-Soares e Giovana Augusta Torres ............................................................................ 53
conhecimento técnico-científico e transmiti-
da de forma compreensível à sociedade. Cultivo de plantas in vitro e suas aplicações
Dessa forma, a EPAMIG, com esta edi- Geraldo Magela de Almeida Cançado, Ana Paula Ribeiro, Gustavo de Faria Freitas, Maria
ção do Informe Agropecuário, disponibiliza
Eugênia Lisei de Sá, Hélio Evaldo da Silva, Moacir Pasqual, Aurinete Daienn Borges do Val e
diversos temas do campo da ciência, com
Claudinéia Ferreira Nunes ................................................................................................. 64
foco na Biotecnologia Moderna, tais como
biossegurança, detecção de cultivares e pro-
dutos transgênicos, aspectos da proteção le- Decifrando o genoma em grande escala
gal, além de assuntos atuais e de interesse, Sylvia Morais de Sousa, Andréa Almeida Carneiro e Newton Portilho Carneiro . .................... 76
como bioinformática, marcadores molecu-
lares utilizados no melhoramento genético, Marcadores moleculares e suas aplicações no melhoramento genético
sequenciamento de genomas em larga esca- Claudia Teixeira Guimarães, Jurandir Vieira de Magalhães, Marcelo Abreu Lanza e
la, dentre outros. Ivan Schuster ................................................................................................................... 86

Geraldo Magela de Almeida Cançado Importância da bioinformática na biotecnologia e na agropecuária


Bárbara Dantas Fontes-Soares Vagner Katsumi Okura ...................................................................................................... 96

ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v.30 n.253 p. 1-104 nov./dez. 2009

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© 1977 EPAMIG Informe Agropecuário é uma publicação da
ISSN 0100-3364
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
INPI: 006505007
EPAMIG

É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem


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autorização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à
Baldonedo Arthur Napoleão
EPAMIG.
Enilson Abrahão
Maria Lélia Rodriguez Simão
Juliana Carvalho Simões Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro
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Vânia Lacerda

Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas


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para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da
Enilson Abrahão
EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos
Diretoria de Operações Técnicas
técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.
Mairon Martins Mesquita
Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia
O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de
Vânia Lacerda publicação da edição.
Departamento de Publicações

Maria Lélia Rodriguez Simão Assinatura anual: 6 exemplares


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Aquisição de exemplares
PRODUÇÃO Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia
Divisão de Transferência Tecnológica
DEPARTAMENTO DE PUBLICAÇÕES
Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova
EDITOR
Vânia Lacerda CEP 31170-000 Belo Horizonte - MG
Telefax: (31) 3489-5002
COORDENAÇÃO TÉCNICA
Geraldo Magela de Almeida Cançado e Bárbara Dantas Fontes- E-mail: publicacao@epamig.br - Site: www.epamig.br
Soares CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047
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Marlene A. Ribeiro Gomide, Rosely A. R. Battista Pereira e
Michele Pereira dos Santos (estagiária) Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
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v.: il.
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira
PRODUÇÃO E ARTE Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
Diagramação/formatação: Maria Alice Vieira, Erasmo dos Reis ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
Pereira, Ângela Batista P. Carvalho, Letícia Martinez e Fabriciano ISSN 0100-3364
Chaves Amaral
1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto
Coordenação de Produção Gráfica
Econômico. I. EPAMIG.
Fabriciano Chaves Amaral
Capa: Letícia Martinez CDD 630.5
Foto da capa: Tom Ellenberger, Washington University School
of Medicine in Saint Louis, USA
O Informe Agropecuário é indexado na
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Governo do Estado de Minas Gerais

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Secretaria de Estado de Agricultura,
Décio Corrêa Pecuária e Abastecimento
Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova Sistema Estadual de Pesquisa Agropecuária
CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG
EPAMIG, UFLA, UFMG, UFV
Telefone: (31) 3489-5088 - deciocorrea@epamig.br

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Governo do Estado de Minas Gerais
Aécio Neves
Governador
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Gilman Viana Rodrigues
Secretário

A biotecnologia e o futuro da
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
Conselho de Administração
agricultura brasileira
Gilman Viana Rodrigues Sandra Gesteira Coelho
Baldonedo Arthur Napoleão Elifas Nunes de Alcântara
Pedro Antônio Arraes Pereira Vicente José Gamarano A biotecnologia é uma ciência cada vez mais presente
Adauto Ferreira Barcelos Joanito Campos Júnior
Osmar Aleixo Rodrigues Filho Helton Mattana Saturnino na vida das pessoas e, por isso, passa a ser estratégica para a
Décio Bruxel
Conselho Fiscal
sobrevivência humana e para o desenvolvimento das nações. A
Carmo Robilota Zeitune Evandro de Oliveira Neiva necessidade crescente de aumento da produção de alimentos,
Heli de Oliveira Penido Márcia Dias da Cruz
José Clementino Santos Celso Costa Moreira para atender ao crescimento populacional em todo o mundo,
Presidência coloca a biotecnologia em destaque, como ferramenta essencial
Baldonedo Arthur Napoleão
Diretoria de Operações Técnicas para o aumento da produtividade, melhoria da qualidade
Enilson Abrahão
nutricional, segurança alimentar, redução de custos de produção
Diretoria de Administração e Finanças
Luiz Carlos Gomes Guerra e combate aos efeitos da degradação ambiental.
Gabinete da Presidência
Thaissa Goulart Bhering Viana Os principais benefícios na área agronômica estão
Assessoria de Comunicação relacionados com o desenvolvimento de novas variedades de
Roseney Maria de Oliveira
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional plantas, novas raças de animais, e microrganismos criados
Felipe Bruschi Giorni por meio da biotecnologia, que hoje está bastante apoiada
Assessoria de Informática
Silmar Vasconcelos no conhecimento gerado pela biologia molecular. Assim, além
Assessoria Jurídica do melhoramento clássico, que usa marcadores genéticos, a
Nuno Miguel Branco de Sá Viana Rebelo
Assessoria de Negócios Tecnológicos biotecnologia conta também com o melhoramento assistido por
Jairo Pereira da Silva Júnior
marcadores moleculares e com o melhoramento genético a partir
Assessoria de Planejamento e Coordenação
Renato Damasceno Netto de transgenia.
Assessoria de Relações Institucionais
Marcílio Valadares Ainda polêmica, a questão da transgenia foi a que mais
Assessoria de Unidades do Interior marcou a opinião pública brasileira, entre as várias áreas de
José Maurício Fernandes Gonçalves Leite
Auditoria Interna
atuação da biotecnologia, no final do século 20. Atualmente,
Carlos Roberto Ditadi com a divulgação de outras formas inovadoras de utilização
Departamento de Compras e Almoxarifado
Sebastião Alves do Nascimento Neto dessa ferramenta, especialmente com relação à saúde humana,
Departamento de Contabilidade e Finanças temores estão-se dissipando e permitindo que o País integre o
Celina Maria dos Santos
Departamento de Engenharia rol daqueles que cultivam transgênicos. O Brasil ocupa o terceiro
Luiz Fernando Drummond Alves
lugar entre os países com maior área cultivada com transgênicos
Departamento de Estudos Econômicos e Prospecção
Juliana Carvalho Simões no mundo, ou seja, 15,8 milhões/ha. A Argentina é o segundo
Departamento de Patrimônio e Serviços Gerais
Mary Aparecida Dias colocado, com 21 milhões/ha e os Estados Unidos lideram o
Departamento de Pesquisa ranking com 62,5 milhões/ha.
Maria Lélia Rodriguez Simão
Departamento de Publicações O Brasil, reconhecido como o celeiro do mundo, não
Vânia Lúcia Alves Lacerda
Departamento de Recursos Humanos
se pode abster dessa tecnologia e deve estar na vanguarda,
Flávio Luiz Magela Peixoto acompanhando os avanços tecnológicos com o apoio da pesquisa,
Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia
Mairon Martins Mesquita de informações confiáveis e com transparência, na defesa e
Departamento de Transportes proteção dos interesses comuns do País e de sua população.
José Antônio de Oliveira
Instituto de Laticínios Cândido Tostes Esta edição do Informe Agropecuário tem o objetivo de
Fernando A. R. Magalhães, Gérson Occhi e Nelson Luiz T. de Macedo
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo divulgar tecnologias e discutir ações para a melhor utilização da
Luci Maria Lopes Lobato e Francisco Olavo Coutinho da Costa
biotecnologia em benefício da sociedade.
U.R. EPAMIG Sul de Minas
Gladyston Rodrigues Carvalho e Rodrigo Fráguas de Carvalho
U.R. EPAMIG Norte de Minas Baldonedo Arthur Napoleão
Polyanna Mara de Oliveira e Josimar dos Santos Araújo
Presidente da EPAMIG
U.R. EPAMIG Zona da Mata
Trazilbo José de Paula Júnior e João Bosco Caldas Campos
U.R. EPAMIG Centro-Oeste
Édio Luiz da Costa e Waldênia Almeida Lapa Diniz
U.R. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba
Marcelo Abreu Lanza e Marina Lombardi Saraiva

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Incentivo à pesquisa biotecnológica
Alberto Duque Portugal é formado em Agronomia pela Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e Doutor em Sistemas Agrícolas, pela University
of Reading, Inglaterra. Em 1995, assumiu a presidência da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que, durante a gestão de oito anos, alcançou
o reconhecimento como uma das maiores referências em agricultura tropical
no mundo. Entre outros cargos, Portugal foi ministro interino da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento; diretor da Agência de Inovação da Unicamp (Inova);
secretário-adjunto de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas
Gerais e diretor-executivo do Conselho Nacional do Café (CNC).

Lúcia Sebe - Secom - MG


Atualmente, Alberto Portugal está à frente da Secretaria de Estado de
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, com o desafio de fazer a inovação
acontecer. Em diversas áreas, os avanços já são muito significativos. Entre elas
está a biotecnologia, que estimulada pelo Governo de Minas e parceiros, ocupa
lugar de destaque no cenário nacional. Nesta entrevista, Portugal ressalta a
importância da biotecnologia e esclarece a questão dos transgênicos.

IA - Qual o papel da biotecnologia neste sé- brasileira, fazem-se necessárias: a proteção do esclarecimento da população sobre os
culo e sua responsabilidade em relação à conhecimento, a formulação de políticas pú- mitos e verdades envolvidos com os
biopirataria e à destruição de ambientes blicas relacionadas à gestão desse patrimônio, alimentos transgênicos?
naturais? Como a biotecnologia pode a proteção da biodiversidade com os patentea-
Alberto Portugal - Estou convencido
auxiliar na proteção e conservação do mentos pertinentes, a obrigatoriedade da infor-
de que isso é um fato, uma vez que a bio-
patrimônio genético brasileiro? mação sobre a origem dos recursos genéticos tecnologia e a nanotecnologia estão nas
eventualmente utilizados e a comprovação chamadas áreas ou ciências portadoras de
Alberto Portugal - Embora seja um
da obtenção de consentimento prévio para a futuro. Quem domina tecnologias como
termo aparentemente novo, a biopirataria
utilização de tais recursos. transgenia tem o poder de desenhar o pro-
existe desde a época do descobrimento do
Brasil, quando já se praticava a apropriação IA - Inicialmente, a sociedade brasileira duto que o mercado quer mais rapidamente,
de conhecimento e do patrimônio genético posicionou-se contra os produtos trans- portanto, aumentando a competitividade do
de nossa biodiversidade com vistas ao uso gênicos. Atualmente, percebe-se uma segmento. Algumas empresas, principal-
unilateral. Infelizmente, nossa biodiversida- maior aceitação em algumas culturas. mente na Europa, não caminharam na mes-
de é muito mais conhecida na comunidade Essa precaução inicial prejudicou o ma velocidade que as empresas americanas
científica internacional do que nos centros Brasil no agronegócio mundial? e isso fez com que houvesse um grande
de pesquisas brasileiros. Isso se deve ao fato movimento apoiado por organizações que
Alberto Portugal - Não tenho dúvida tinham preocupações com a utilização de
de que a comunidade científica internacional
que sim. O Brasil tornou-se uma potência alimentos geneticamente modificados. Isso
investe grande montante de recursos em
na produção de alimentos e no mundo do resultou numa grande discussão, que já não
estudos, para desvendar o potencial genético
agronegócio, muito recentemente. E foi se “travava” mais no campo científico e
dessa biodiversidade, a exemplo do Cerrado,
em um momento de profundas mudanças tecnológico, mas transformou-se numa
da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica, do
no contexto mundial, tanto no sentido guerra de comunicação. O Brasil já vinha
Pantanal, etc. A biopirataria ganhou destaque
da globalização, como na formação dos sendo percebido pelos EUA e por outros
com o advento da biologia molecular, a
blocos econômicos com maior incidência grandes produtores de alimentos, como
qual é utilizada para o sequenciamento
de barreiras não tarifárias e mudanças um País competitivo, com capacidade de
do DNA que codifica animais e plantas.
tecnológicas, a biotecnologia talvez tenha dominar essas tecnologias e aumentar mais
Existe uma linha tênue entre a biopirataria,
sido aquela de maior impacto. O fato de a sua competitividade. O País seria prati-
representada pelo roubo indiscriminado de
você não ter no Brasil um ambiente de camente imbatível, como a realidade está
material biológico, e as atividades próprias
segurança, estimulante para investimentos, mostrando na área de produção de alimen-
da ciência, direcionadas à produção de in-
tanto pelas empresas privadas, quanto pelas tos e de energia. Entendemos, entretanto,
formações sobre a fauna e a flora de uma de-
estatais, como Embrapa e Epamig e univer- que é exatamente o avanço da ciência de
terminada região e de como os organismos
sidades, criou certo desestímulo ou redução um lado e as necessidades da humanidade
interagem e respondem aos estímulos do
dos investimentos, o que provocou atraso e do outro, que vão abrindo perspectivas de
ambiente em que vivem. É nesse contexto
diminuição da capacidade competitiva do reduzir esse tipo de pressão.
que se encaixa a biotecnologia, por meio do
Brasil no mercado mundial.
conhecimento da engenharia genética e da IA - Em sua opinião, as atuais ferramentas
leitura científica completa do código genético. IA - Até que ponto os interesses econômi- biotecnológicas poderão ser um dife-
Diante do grande potencial da biodiversidade cos de outras nações prejudicaram o rencial positivo na corrida por novas
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 3 , n o v. / d e z . 2 0 0 9

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fontes de energia renováveis e de baixo ficiar o consumidor com um alimento mais a produção de alimentos no País, tanto para
impacto ambiental? barato. Mas, muitas vezes, o consumidor atendimento ao mercado interno, quanto ao
leigo não tem essa percepção clara. A utiliza- externo. No caso da soja, o Brasil é o segundo
Alberto Portugal - Certamente. A bio-
ção de nutracêuticos, alimentos com melhor produtor mundial, embora o consumo do
tecnologia de aplicação industrial trabalha
qualidade nutricional, é uma forma de você grão e de seus derivados ainda se mantenha
com o desenvolvimento de enzimas e mi-
deixar o consumidor entender as vantagens baixo internamente. Grande parte da pro-
crorganismos voltados a diversas finalida-
do uso da transgenia no desenvolvimento de dução é voltada à exportação ou fabricação
des dentro da cadeia produtiva. Entre estes
novos alimentos. O consumidor já utiliza, de óleo. Estudos comprovam que a soja é
potenciais, podemos destacar a utilização na um alimento altamente rico em proteínas,
por exemplo, vacinas como a hepatite B e
obtenção do etanol de segunda geração, a não há nenhuma resistência nisso. Quando o com índices que chegam ao dobro do feijão.
utilização de enzimas para obtenção de bio- consumidor não percebe que tem transgenia, Mas, em nosso País, fatores como o sabor
polímeros, inclusive na própria biomassa da ele acredita que pode utilizar esse alimento exótico, desconhecimento da versatilidade
cana-de-açúcar. A possibilidade de obtenção sem que tenha maiores consequências. O do grão na culinária e o alto preço (no caso
de biocombustível por rota enzimática, in- fato é que a humanidade não tem como dos derivados) são apontados como causas
cluindo a substituição do metanol pelo etanol prescindir dessa tecnologia (transgenia) para desse insucesso. Por isso, as empresas inves-
no caso de biodiesel é uma alternativa. seu futuro. Portanto, a tendência é que o tem na redução de custos de produção e em
IA - Qual a sua avaliação sobre a impor- consumidor esteja entendendo cada vez mais processos para mascarar o sabor do grão. O
tância da Comissão Técnica Nacional sobre o assunto e confiando na comunidade desenvolvimento de pesquisas nessa linha
de Biossegurança (CTNBio)? científica, responsável pela avaliação, que se cria diversas oportunidades de mercado em
baseia no conhecimento disponível, daquilo âmbito mundial, como é o caso das cultivares
Alberto Portugal - A CTNBio tem um que é bom ou ruim ou daquilo que tem pro- desenvolvidas, conjuntamente, pela Embra-
papel crucial. Deve pautar o seu trabalho, babilidade de causar mal ao homem ou ao pa, Epamig e Fundação Triângulo, soja de
fundamentalmente, no estoque de conheci- meio ambiente. tegumento amarelo e tegumento marrom.
mento e de tecnologia que a humanidade Tais variedades trabalham o sabor desse
dispõe, não só o Brasil, porque as análises IA - Quais linhas de pesquisas em biotecno-
alimento, tornando-o mais palatável.
por parte da CTNBio devem-se ater ao logia o senhor considera estratégicas,
conhecimento científico. É avaliar se um para que o Brasil assegure sua posição IA - Na última década, observou-se uma
determinado produto que está sendo sub- de destaque na produção mundial de grande corrida para o sequenciamento
metido à sua análise pode causar mal ao alimentos? completo do código genético de várias
homem e ao meio ambiente ou se dentro do espécies, inclusive do homem. Mesmo
Alberto Portugal - Não apenas na área de
conhecimento disponível, as probabilidades com os resultados obtidos, os impactos
alimentos, mas também nas diversas cadeias
de não causar prejuízos são significativas. no cotidiano ainda não foram obser-
produtivas sob influência da biotecnologia.
Os cientistas e a CTNBio têm o papel ético vados na intensidade em que foram
Alguns exemplos são: DNA recombinante
de esclarecer a sociedade, de não proposital- apregoados. Como o senhor analisa
para o desenvolvimento de vacinas, como a
mente misturar questões de caráter científico, esta questão?
Meningite C, hoje em desenvolvimento na
com as de caráter cultural, religioso ou ideo- Funed em parceria com a Novartis; enzimas Alberto Portugal - Vivemos, atu-
lógico. A sociedade, por questões culturais, para a produção de biocombustível como o almente, a explosão da era genômica.
religiosas, ideológicas ou de mercado, pode etanol de segunda geração, microrganismos Genomas de mais de 1.100 espécies
tomar a decisão de não querer usar alimen- e enzimas para a produção de biopolímeros, (www.genomesonline.org), na sua grande
to transgênico. Nossa posição é de que a por meio da utilização de biomassa; produ- maioria microrganismos (957), já foram
questão científica e tecnológica precisa ser ção de medicamentos para gado; técnicas sequenciados e existem registrados mais
debatida na CTNBio. para germinação de sementes oleaginosas; de 6.200 projetos (provavelmente o nú-
IA - Alimentos funcionais e segurança ali- utilização da biodiversidade para fabricação mero é bem superior). A informação genô-
mentar são assuntos que têm recebido de medicamentos e outros produtos biotec- mica é a informação básica sobre qualquer
bastante atenção de toda a sociedade. nológicos. Com relação especificamente a espécie. Porém, traduzir esse conhecimento
A geração de produtos transgênicos alimentos, é preciso destacar que o País tem primário em compreensão da biologia do
diretamente associados a essas áreas um papel importante na produção mundial, organismo ou em produtos que chegam
pode ser uma forma de resgatar a especialmente no que se refere aos grãos. ao consumidor é um caminho mais longo.
credibilidade da engenharia genética Por outro lado, a plantação de culturas Somente agora, algumas pesquisas trazem
trangênicas é muito mais ampla em outras o conhecimento sobre o genoma humano
junto ao cidadão?
localidades, como EUA e Ásia. Em muitos na forma, por exemplo, de identificação
Alberto Portugal - Não tenho dúvida de aspectos, essas culturas tendem a gerar maior de genes envolvidos em doenças e que,
que a transgenia na agricultura começou por competitividade e produtividade para os paí- em grande parte, ainda não são utilizados
uma necessidade que os produtores tinham ses. O Brasil, para se manter no mercado ou na clínica. O mesmo se aplica a genomas
de reduzir custos e impactos ambientais, por mesmo conseguir novos, de forma eficiente de interesse da indústria agropecuária e de
mais que esse segundo aspecto seja contes- e produtiva, precisa avaliar os benefícios da biotecnologia. Uma das explicações deve-se
tado. Contudo, se você reduz o número de implantação de culturas ou mesmo de novos ao fato de que ainda não temos ferramentas
aplicações de herbicida para o controle de melhoramentos genéticos, que podem incluir para compreender o genoma em toda a sua
pragas na soja ou no milho, está provado que a transgenia. Nesse ínterim, incentivar a pes- complexidade. Cerca da metade dos genes
reduz o custo do produtor, o que vai bene- quisa nessa área é de suma importância para descritos em eucariotos, por exemplo, não
IInnffoorrmmee AAggrrooppeeccuuáárriioo,, BBeelloo HHoorriizzoonnttee,, vv..2390,, nn..224553,, jnuol .v/.a/ dg eo z. . 2 20 0 08 9

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têm função conhecida. O entendimento de acesso a tecnologias de informação, na disse- Pesquisas René Rachou/Fiocruz. E busca
sistemas biológicos está somente agora minação do uso de tecnologias e da inovação trabalhar alinhado às políticas federais. Nos
sendo passível de estudos. Dessa forma, e na interação universidade-empresa. anos de 2008 e 2009 os investimentos em
é natural que exista um período maior do Minas Gerais foi o primeiro a criar sua biotecnologia chegaram a 9,6 milhões de
que se esperava, antes de se conhecerem os Lei de Inovação, regulada pelo Decreto reais. Esses montantes foram divididos em
genomas de organismos-modelo, para que Estadual no 44.874/2008. O decreto criou o diversas ações, entre elas:
este conhecimento se transforme em pro- Fundo de Incentivo à Inovação Tecnológica - Bureau de Inovação: disponibilizar de
dutos. Porém, o Brasil tem uma gigantesca (FIIT), que financia projetos de inovação forma autossustentável serviços especializa-
fauna e flora, que se traduz em patrimônio dentro das empresas, desenvolvidos em dos a empresas, visando sua competitividade,
genético ainda completamente inexplorado. parceria com universidades ou centros de especialmente os de Inteligência Compe-
É um grande produtor no agronegócio e pesquisas. titiva, Propriedade Intelectual, Interação
pretende implantar uma forte indústria de O projeto estruturador, Arranjos Pro- universidade empresa.
base biotecnológica. Isso sem mencionar a dutivos Locais, trabalha com três grandes - Gestão da Competitividade: foco na
diversidade genética da população brasileira programas: Pólo de Excelência, Pólo de área da saúde - Fármacos, Diagnósticos,
ainda pouquíssimo explorada. O compo- Inovação e Arranjos Produtivos Locais. Serviços Médicos e Tecnologia Médica;
nente genético das doenças humanas nessa Os APLs apoiam segmentos portadores de - Centro de Excelência em Bioinfor-
população é diferente de outras populações futuro. O projeto abrange Software, Ele- mática: implantação e desenvolvimento de
já estudadas e logo a genômica médica virá troeletrônico, Bioenergia e Biotecnologia. parcerias em bioinformática com redes de
para tratar de forma individualizada essas O objetivo é promover e articular ações de pesquisadores nacionais e internacionais;
pesquisa, desenvolvimento e inovação em - Certificação de produtos e processos:
pessoas. Assim, o País não pode ficar sem
cada uma das áreas, gerando parcerias entre fornecer consultorias para adequação a
fazer a exploração dos genomas de interesse.
os setores acadêmico e empresarial, promo- critérios técnicos e regulatórios necessá-
É preciso saber gerar a informação, tratá-la e
vendo a qualificação das cadeias produtivas rios à certificação e/ou à homologação de
explorá-la com o uso intenso de ferramentas
e ampliando a capacidade competitiva do produtos e processos;
de bioinformática e buscar as respostas para - Comunicação e Marketing: projetar e
APL de forma autossustentável.
a caracterização de espécies em extinção, consolidar a imagem do Minas Biotec intra e
Minas Gerais é a segunda unidade da
marcadores para melhoramento de plantas inter APLs, nacional e internacionalmente;
federação em número de empresas do setor
e gado, produtos biotecnológicos de micror- - Edital de Biotecnologia: aumentar o
de biotecnologia, com 30% dos empreendi-
ganismos, exploração da genômica médica, número de produtos biotecnológicos dispo-
mentos nacionais. As empresas de biotecno-
entre tantos outros. Do contrário, vamos ter níveis no mercado e complementar a cadeia
logia no território mineiro estão concentra-
que comprar a tecnologia estrangeira. Dessa das em três pólos: Região Metropolitana de produtiva de biotecnológicos;
forma, para o crescimento do agronegócio, da Belo Horizonte, Viçosa e Triângulo Mineiro - Biopolo Minas: criação de ambiente
biotecnologia e da indústria da saúde é preci- e Alto do Paranaíba. A interação dos polos propício para o surgimento de novas em-
so que a genômica tenha um papel destacado possibilitou inúmeras iniciativas, entre estas presas biotecnológicas, bem como fortale-
na pesquisa científica brasileira. a criação do Minas Biotec, que representa cimento das existentes, via aproveitamento
IA - Quais são as estratégias do Governo 70% da bioindústria mineira. de nicho de mercado das doenças infecto-
Além disso, existem em todo o Estado, contagiosas, negligenciadas.
de Minas para o setor de biotecnologia
11 instituições federais de ensino superior No que se refere ao desenvolvimento de
e principais resultados das pesquisas
e mais os Institutos Federais de Educação tecnologias em Minas Gerais, destaca-se o
desenvolvidas no Estado com foco na
Tecnológica (Ifets), que formam a maior trabalho feito pelas nossas universidades e cen-
geração de produtos inovadores e tecno-
concentração do Brasil. Somam-se a esta tros de pesquisas, com expressiva participação
logias aplicadas ao setor produtivo? dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs)
rede, as instituições de ensino técnico e de
Alberto Portugal - O Governo de Mi- ensino superior estaduais. Algumas dessas e da Rede Mineira de Propriedade Intelectual
nas, dentro do Plano Mineiro de Desenvol- instituições exercem papel de liderança (RMPI). Bem como, o caráter inovador da
vimento Integrado (PMDI), tem por missão na pesquisa científica em várias áreas do bioindústria mineira, ganhadora de prêmios
tornar Minas Gerais o melhor Estado para conhecimento, sendo uma delas a área nacionais e internacionais como são os casos:
se viver e um Estado líder na economia do de biotecnologia. Em março de 2008, - Biocod Biotecnologia: Prêmio José
conhecimento. Para atingir esses objetivos, existiam 56 grupos de pesquisas ligados à Costa 2009 - Categoria Tecnologia;
entre as áreas de resultados está “Inovação, biotecnologia cadastrados em Minas Gerais. - Ecovec : Prêmio Tech Museum Awards
Tecnologia e Qualidade”. E coube à Secre- Entre os cursos de pós-graduação ligados 2006 - Produto Mosquitrap;
taria de Estado de Ciência, Tecnologia e à biotecnologia estão: biologia celular e - Katal Biotecnológica: 1º Lugar do Prê-
Ensino Superior de Minas Gerais (Sectes), estrutural, ciências biológicas, bioquímica mio Finep 2004 - Inovação de Produto;
a tarefa de executar as ações relacionadas a e imunologia, imunologia e parasitologia - Excegen: 3º lugar do Prêmio FINEP
essa área de resultado. aplicadas, bioinformática, genética, gené- 2004 - Inovação de Processo;
Três projetos estruturadores, Rede de - Visiontech: Prêmio Dell de excelência
tica e bioquímica e ciências farmacêuticas.
Formação Profissional Orientada Pelo em tecnologia 2005 - categoria mobilidade;
O Projeto Estruturador APL de Biotec-
Mercado, Rede de Inovação Tecnológica - Biogenetics: quatro prêmios, sendo dois
nologia conta com o apoio de parceiros
nacionais e dois internacionais por inovação
(RIT) e Arranjos Produtivos Locais (APL), estratégicos para a sua realização, que são:
tecnológica.
coordenados pela Sectes, trabalham com Sebrae, IEL/Fiemg, Sindusfarq, Fundação Por Vânia Lacerda
universidades e empresas na ampliação do Triângulo, Centev, Funed e o Centro de Colaboração: Reginaldo Cangussu

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Biotecnologia 

Biossegurança e sociedade
Aluízio Borém 1
Wellington Silva Gomes 2

Resumo - Biossegurança é o conjunto de estudos e de procedimentos que visam evitar


ou controlar os riscos provocados pelo uso de agentes químicos, físicos e biológicos
à biodiversidade. Estuda os impactos decorrentes da biotecnologia à saúde humana e
animal e ao meio ambiente, sendo regulada, em vários países, por leis, procedimentos
ou diretivas específicas. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é
uma instância colegiada multidisciplinar, criada pela lei no 11.105, de 24 de março de
2005 (BRASIL, 2005), cuja finalidade é prestar apoio técnico consultivo e assessoramento
ao governo federal brasileiro na formulação, atualização e implementação da Política
Nacional de Biossegurança, relativa a organismo geneticamente modificado (OGM),
bem como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e pareceres técnicos
referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente,
para atividades que envolvam a construção, experimentação, cultivo, manipulação,
transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de OGM
e derivados. A legislação de biossegurança, no Brasil, engloba apenas a tecnologia
de engenharia genética, que é a tecnologia do DNA recombinante, estabelecendo os
requisitos para o manejo de OGMs.

Palavras-chave: Biotecnologia. Organismo geneticamente modificado. OGM . Segurança


alimentar. Transgênico. Saúde. CTNBio. Risco.

INTRODUÇÃO duos derivados da indústria e dos transpor- moratória no uso da engenharia genética
tes, que geram o aquecimento global. Além até que mecanismos fossem estabelecidos
A biossegurança é o conjunto de ações
disso, outras questões de caráter social para garantir que essas técnicas poderiam
voltadas para a prevenção, minimização
passaram a preocupar cada vez mais a ser utilizadas sem riscos para o homem e
ou eliminação de riscos inerentes às ativi-
comunidade internacional. Estimativas do para o meio ambiente. Em um prazo relati-
dades de pesquisa, produção, ensino, de-
Banco Mundial mostram que cerca de 20% vamente curto, desenvolveram-se regras de
senvolvimento tecnológico e prestação de
da população do mundo não tem acesso à biossegurança para uso dessas tecnologias
serviços, visando à saúde do homem e dos em laboratório, e não se tem notícia de ne-
animais, à preservação do meio ambiente água potável. Preservação ecológica nunca
nhum efeito adverso do uso da engenharia
e à qualidade dos resultados. Esse foco de esteve com tanta evidência como agora.
genética para a saúde humana e animal ou
atenção retorna ao ambiente ocupacional Nesse cenário surgiu a engenharia
para o meio ambiente, nesses mais de 35
e amplia-se para a proteção ambiental e genética, no início da década de 70, na
anos de pesquisas com a biotecnologia.
para a qualidade. Califórnia, EUA, com a transferência e ex- Vários produtos derivados da tecnolo-
Nas últimas três décadas, as questões pressão do gene da insulina em Escherichia gia do DNA recombinante são atualmente
ambientais passaram a integrar, de forma coli. Essa experiência, em 1973, provocou comercializados no mundo. Na América do
proeminente, fóruns científicos internacio- forte reação da comunidade científica Sul, os seguintes produtos transgênicos já
nais, decorrentes, dentre outras razões, do mundial, que culminou com a Conferência se encontram no mercado: insulina huma-
aumento da poluição atmosférica e hídrica de Asilomar, em 1974, quando a comuni- na, somatropina, variedades transgênicas
em razão, principalmente, de gases e resí- dade científica praticamente propôs uma de milho, soja, algodão etc.

1
Eng o Agro , Ph.D., Prof. UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: borem@ufv.br
2
Biólogo, M.Sc., UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: wellington.gomes@ufv.br

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 Biotecnologia

Embora a insulina produzida por bac- já desenvolveu variedades resistentes a PLANTAS TRANSGÊNICAS
térias transgênicas já seja comercializada insetos, fungos, bactérias e vírus, permi-
As primeiras plantas transgênicas come-
no Brasil há algum tempo, o lançamento tindo, assim, diminuir o custo da produção
çaram a ser testadas em campo, no início da
das variedades de plantas transgênicas no agrícola, além de diminuir os resíduos dos
década de 80. Até hoje, já foram realizados
mercado mundial despertou uma nova produtos fitossanitários que causam danos
ótica na avaliação dos riscos dos orga- mais de 25 mil testes de campo no mundo,
ao meio ambiente e à saúde humana.
nismos geneticamente modificados para No entanto, para a liberação de qual- metade dos quais nos Estados Unidos e no
a saúde humana e animal e para o meio quer produto biotecnológico no setor agro- Canadá. Na América Latina, o maior nú-
ambiente. pecuário, é necessária uma rígida avaliação mero de liberações ocorreu na Argentina. A
Testes de campo com variedades trans- do produto quanto aos possíveis impactos comercialização de variedades transgênicas
gênicas têm sido conduzidos na Argentina, negativos à saúde humana, animal e ao começou na década de 90, com o tomate
na Bolívia e no Chile desde 1991. Porém, meio ambiente. No Brasil, existe a Comis- geneticamente modificado pela Calgene.
no Brasil, esses testes só foram iniciados são Técnica Nacional de Biossegurança Atualmente, variedades transgênicas de
em 1997. (CTNBio), que é uma instância colegiada soja, milho, algodão, canola e mamão,
multidisciplinar, criada com a finalidade dentre outras, já têm participação relevante
BIOSSEGURANÇA NA de prestar apoio técnico consultivo e de na agricultura dos Estados Unidos, do Ca-
AGROPECUÁRIA assessoramento ao governo federal na nadá e da Argentina (Fig. 1). No Brasil, já
Noventa por cento da produção mun- formulação, atualização e implementação foram liberadas pela CTNBio, para plantio,
dial de alimentos é obtida na América da Política Nacional de Biossegurança consumo e comercialização, variedades
do Norte, Europa e Ásia. Atualmente, a (PNB), relativa a organismos genetica- transgênicas de soja, milho e algodão.
América Latina tem dado uma contribuição mente modificados (OGMs), bem como Além dessas, variedades transgênicas de
comparativamente modesta ao mercado no estabelecimento de normas técnicas de muitas outras espécies, como eucalipto,
mundial. Certamente, haverá dificuldades segurança e pareceres técnicos conclusivos fumo, tomate, batata, cana-de-açúcar etc.,
para atender à demanda de alimentos dos referentes à proteção da saúde humana, tendem a se popularizar. As espécies cita-
países em desenvolvimento no futuro. Por- dos organismos vivos e do meio ambiente, das têm como características transgênicas
tanto, o papel da América Latina é muito para atividades que envolvam a construção, resistência a insetos e a doenças, tolerância
importante nesse contexto, bem como o do experimentação, cultivo, manipulação, a herbicidas e melhor qualidade nutricional.
Brasil, em particular. transporte, comercialização, consumo, Como exemplo, cita-se a canola, cuja com-
Em 1979, o Brasil produzia cerca de armazenamento, liberação e descarte de posição lipídica foi alterada para diminuir
39 milhões de toneladas de grãos. Na safra OGMs e derivados. o conteúdo de ácidos graxos indesejáveis,
2006-2007, essa produção aumentou para A CTNBio é composta por cientistas, característica especialmente importante para
120 milhões. O País triplicou a produção representantes de ministérios e da sociedade
a dieta de pacientes cardíacos.
agrícola em 27 anos. Esse aumento ocorreu civil. Diferente do que muitos acreditam,
graças à elevação da produtividade e à essa comissão não faz experimentos de ANIMAIS TRANSGÊNICOS
expansão da fronteira agrícola. biossegurança, mas avalia dados encami-
A biotecnologia tem um papel essencial nhados junto aos processos de pedido de As dificuldades adicionais na trans-
na produção de alimentos, pois permite formação gênica de animais adiaram sua
liberação de cada transgênico. Portanto,
aumentar a produtividade, melhorar a chegada ao mercado.
a CTNBio requer para cada julgamento
qualidade nutricional e reduzir os custos O primeiro animal transgênico comer-
uma série de estudos que atestem a biosse-
de produção. Um dos primeiros setores cializado foi o oncomouse, um camun-
gurança do produto, que, infelizmente, na
que está sendo fortemente afetado pela dongo no qual foi introduzido um gene do
maioria dos casos, são feitos pelos próprios
biotecnologia é o de produtos químicos, câncer. Esse animal é utilizado em estudos
interessados na liberação e comercialização
que hoje, em direta relação com a agricul- de drogas para tratamento do câncer. No
do transgênico. Ainda falta à comunidade setor de alimentos, o primeiro animal
tura, manipula algo em torno de US$ 20
bilhões, anualmente. Desse valor, cerca científica brasileira um apoio institucional transgênico colocado no mercado foi o
de US$ 8 bilhões/ano correspondem aos e financeiro para a execução de estudos salmão, modificado para produzir maior
chamados defensivos agrícolas usados para paralelos, em universidades ou instituições quantidade de hormônio de crescimento.
o controle de doenças, pragas e espécies de pesquisa independentes, sobre os reais Esse peixe cresce mais rapidamente que
daninhas. Em alguns casos, o custo dos impactos de cada transgênico, pelo menos os convencionais e possui uma taxa de
agrotóxicos em relação ao custo total da no que diz respeito ao dano ambiental, que conversão alimentar cerca de 15% superior
produção atinge cerca de 40%, como no pode, em alguns casos, levar décadas para à dos não-transgênicos. Nos Estados Uni-
caso do algodão. A engenharia genética ser notado. dos, o salmão foi liberado para comércio,
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Biotecnologia 

o o o o o o o
21 21 22 19 23 24 20
(1)
Portugal Espanha Alemanha República Tcheca Polônia Eslováquia Romênia
<0,05 milhão ha 0,1 milhão ha <0,05 milhão ha <0,05 milhão ha <0,05 milhão ha <0,05 milhão ha <0,05 milhão ha
milho milho milho milho milho milho milho
o
o 6
5 China
(1)
(1)
Canadá
3,8 milhões ha
7,6 milhões ha canola, tomate,
soja, milho, petúnia, álamo,
canola, beterraba papaia, pimentão
o
o 4
1 (1)
(1) Índia
EUA 7,6 milhões ha
62,5 milhões ha algodão
soja, algodão, o
11 (1)
canola, abóbora, Filipinas
papaia, beterraba, 0,4 milhão ha
milho, alfafa milho
o o
13 25
(1)
México Egito
0,1 milhão ha <0,05 milhão ha
soja, algodão milho
o o
17 12
(1)
Honduras Austrália
<0,05 milhão ha 0,2 milhão ha
milho algodão, canola,
cravo
o
16 o
18
Colômbia
Burquina Fasso
<0,05 milhão ha <0,05 milhão ha
algodão, cravo algodão
o o o o o o o
10 15 2 9 7 3 8
(1) (1) (1) (1) (1)
Bolívia
(1)
Chile Argentina Uruguai Paraguai Brasil África do Sul
0,6 milhão ha <0,05 milhão ha 21 milhões ha 0,7 milhão ha 2,7 milhões ha 15,8 milhões ha 1,8 milhões ha
soja soja, milho, algodão soja, milho, algodão soja, milho soja soja, milho, algodão soja, milho, algodão

Figura 1 - Países que possuem autorização de plantio de variedades geneticamente modificadas, em 2008
FONTE: Clive James (2008 apud INTERNATIONAL SERVICE FOR THE ACQUISITION OF AGRI-BIOTECH APPLICATIONS).
(1)Crescimento de 50 mil hectares ou mais, na produção de plantas transgênicas nos 14 mega-países.

produção e consumo, em 2001. de 1980, quando as empresas de biotecno- (HHS) e o Animal and Plant Health Ins-
Outros animais transgênicos, como logia procuraram obter permissão para suas pection Service (APHIS), do United States
bovinos, suínos, ovinos e caprinos, estão pesquisas com esses organismos. Department of Agriculture (USDA).
em fase final de avaliação e devem ser Atualmente, a regulamentação das O APHIS regula o desenvolvimento
colocados no mercado nos próximos anos. normas de biossegurança no mundo é rea- e os testes de campo tanto de plantas,
Essa avaliação técnica da biossegurança lizada caso a caso, com base em aspectos quanto de microrganismos geneticamente
dos animais transgênicos é normalmente
técnicos e científicos, com transparência nos modificados. É essa a agência que revisa os
menos complicada do que a elaboração
processos de tomada de decisão e consistên- processos de licença para a realização de
de pareceres técnicos para liberação de
cia, construindo a confiança pública. testes de campo pelas indústrias, universi-
plantas transgênicas. No entanto, animais
transgênicos sofrem críticas de outros dades e ONGs. Os processos relacionados
Agências reguladoras nos
órgãos, como sociedades protetoras de com a segurança agrícola e ambiental de
EUA
animais e comissões de ética em experi- organismos pesticidas, como a soja RR,
mentação animal. Nos Estados Unidos, as agências que também são revisados pelo APHIS.
examinam a segurança das variedades A responsabilidade da EPA é garantir a
REGULAMENTAÇÃO DA geneticamente modificadas são a Envi- segurança de OGMs praguicidas, substân-
BIOSSEGURANÇA ronmental and Protection Agency (EPA), cias químicas e biológicas para distribuição,
A necessidade de regulamentação dos a Food and Drug Administration (FDA), o comércio e consumo e também de varieda-
OGMs tornou-se mais evidente em meados Department of Health and Human Services des que produzem elementos pesticidas.
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A FDA avalia a segurança e os aspectos cias locais: no Canadá, pela Health Cana- conferir a característica que se deseja in-
nutricionais de variedades geneticamente dá (HC) and Canadian Food Inspection corporar. No entanto, além dessa diferença,
modificadas que são alimentos (inclusive Agency (CFIA); no Japão pelo Ministry outras alterações bioquímicas podem ser
para animais). A diretriz da FDA baseia- of Agriculture, Forestry and Fisheries resultantes da introdução de um transgene,
se no fato de que todo alimento deve (MAFF) e Ministry of Health, Labour mas tudo isso é investigado durante os
satisfazer os mesmos rigorosos padrões and Welfare; na Argentina, pela Comi- estudos de segurança alimentar.
de segurança requeridos para os alimentos sión Nacional Asesora de Biotecnología No caso de plantas transgênicas, a aná-
convencionais. Agropecuaria (CONABia). No Brasil, lise de riscos é realizada pela comparação
Com base na legislação dos EUA, a tanto a elaboração de normas técnicas de dessas com as plantas não-GM equivalen-
jurisdição da EPA, é limitada a substân- biossegurança, como a revisão técnica dos tes, consideradas seguras pelo histórico
cias pesticidas. Por exemplo, uma planta, processos de liberação de transgênicos é de de uso. Por essa metodologia, em vez de
que tenha sido modificada geneticamente responsabilidade da CTNBio.
se tentar identificar cada perigo associado
para resistir a uma praga, enquadra-se na à variedade GM, procura-se identificar
sua jurisdição, enquanto que, uma planta BIOSSEGURANÇA ALIMENTAR
novos perigos que não estejam presentes
modificada para resistir à seca, não se A segurança alimentar de plantas na variedade tradicional.
enquadra. A planta resistente a uma praga transgênicas é avaliada de acordo com os Essa diferença pode parecer pequena,
está sob a autoridade da EPA, porque a princípios de uma metodologia denominada mas tem profundas implicações. No caso de
substância que a planta produz é pesticida. análise de riscos. Essa metodologia foi de- tentar analisar se uma planta GM é segura,
No outro caso, a resistência à seca pode ser senvolvida inicialmente com o objetivo de estudando cada potencial perigo que ela
decorrente de raízes mais profundas etc. avaliar efeitos deletérios na saúde humana, possa apresentar, poderiam ser realizados
Essa planta transgênica estaria sujeita à advindos de potenciais substâncias químicas inúmeros ensaios que não corroborariam a
regulamentação pelo USDA-APHIS.
tóxicas presentes em alimentos, como resí- avaliação de riscos atualmente feita. Em vez
Para as variedades resistentes às pragas,
duos de pesticidas, contaminantes e aditivos dessa abordagem, parte-se de um parâmetro
a EPA tem quatro categorias de análise:
alimentares, sendo posteriormente aplicada que é considerado seguro: identificam-se as
caracterização do produto, toxicologia,
na avaliação da segurança alimentar de plan- diferenças que a planta GM apresenta em
efeitos em organismos não-alvo e destino
tas geneticamente modificadas (GM). relação a não-GM, avaliando se as diferen-
no ambiente. A caracterização de produto
Um dos fundamentos da metodolo- ças representam novos riscos.
inclui a revisão da origem do gene e como
gia de análise de riscos é que as plantas A partir dessa análise comparativa, sur-
este é expressado em organismos vivos, a
transgênicas não são intrinsecamente mais ge o termo equivalência substancial. Com
natureza da substância pesticida, as modi-
perigosas que as convencionais, ou seja, os base na comparação do perfil bioquímico
ficações para a característica introduzida
eventuais riscos alimentares que uma va- da variedade transgênica com o da conven-
– em comparação com aquela encontrada
riedade transgênica pode oferecer não são cional, a variedade GM pode ser classifica-
na natureza – e a biologia da planta recep-
tora. Para conhecer a toxicologia, o nível de decorrentes do fato de ser transgênica, mas da como substancialmente equivalente ou
toxicidade oral aguda da substância pestici- sim das eventuais alterações químicas que substancialmente não-equivalente.
da é avaliado em ratos. Para as proteínas tó- podem resultar da modificação genética Nesse ponto, deve-se esclarecer que a
xicas aos insetos, a EPA requer também um (KÖNIG et al., 2004). Por exemplo, uma avaliação da segurança alimentar de uma
teste de digestibilidade, que avalia o tempo planta de feijão GM, expressando uma pro- planta GM não se restringe à aplicação do
necessário para a proteína ser digerida teína alergênica de castanha-do-pará, será conceito de equivalência substancial. Esse
pelos sucos gástricos e intestinais. A EPA alergênica não pelo fato de ser obtida por se constitui somente no ponto de partida
analisa ainda a alergenicidade da proteína. ferramentas de engenharia genética, mas dessa avaliação, que visa à identificação das
Com relação aos impactos ambientais, essa sim pelo fato de a modificação genética diferenças que serão posteriormente analisa-
agência examina a exposição e toxicidade ter incorpo­rado uma proteína alergênica a das. As análises posteriores incluem testes
da planta transgênica aos insetos não-alvo essa variedade. de alergenicidade e de toxicidade realizados
e insetos benéficos. É evidente que, de forma geral, uma in silico, in vitro, além de estudos com ani-
planta transgênica possui uma proteína mais (roedores, aves, peixes e outros), para
Biossegurança em outros que não está presente nas variedades con- avaliar a toxicidade. Nessas análises, em
países vencionais. Essa proteína é aquela cuja geral, é determinada a dose letal em 50%
A regulamentação da biossegurança é produção foi codificada pelo transgene e dos casos (DL50), como um indicativo da
realizada em cada país por meio de agên- introduzida exatamente com o propósito de toxicidade aguda, isto é, de curto prazo.
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Biotecnologia 11

Análises de riscos liação e gerenciamento de riscos e incluir auxiliem na tomada de decisão de utilizar ou
a explicação das decisões para o público, não determinada planta transgênica. A não-
As análises de riscos são realizadas em
garantindo acesso aos documentos obtidos observância desses princípios pode ter como
três etapas:
a partir da avaliação de riscos e, ao mesmo consequência ensaios desnecessários e que
Avaliação de riscos tempo, respeitando o direito de salvaguar- não ajudam na correta avaliação de riscos.
dar a confidencialidade de informações Por exemplo, o cultivo de algodão
Pode ser definida como a avaliação da
probabilidade de efeitos adversos à saúde industriais e comerciais. transgênico resistente a insetos no Brasil
advindos da exposição humana ou animal a As variedades transgênicas são consi- suscitou preocupações em relação ao esca-
um perigo. Consiste de quatro etapas: deradas seguras para o consumo humano pe gênico, ou seja, a possibilidade de cruza-
por diversas instituições científicas reno- mento da variedade transgênica com duas
a) identificação do perigo: identifica-
madas, como a Organização Mundial de espécies silvestres do gênero Gossypium,
ção de agentes biológicos, químicos
Saúde, o Conselho Internacional para a que são sexualmente compatíveis com o
e físicos capazes de causar efeitos
prejudiciais à saúde, os quais podem Ciência, a Organização das Nações Uni- algodão cultivado (FREIRE et al., 2006).
estar presentes em um alimento; das para a Agricultura e Alimentação, a Os questionamentos originaram-se da
Sociedade Real de Londres e as Academias possibilidade de grãos de pólen de origem
b) caracterização do perigo: objetiva
avaliar, em termos qualitativos e nacionais de ciências de vários países: de algodão transgênico fertilizarem plantas
quantitativos, um perigo identificado. Brasil, México, Índia, Estados Unidos, de algodão silvestres. A progênie desse cru-
Frequentemente, envolve o esta- Austrália, Itália, entre outros. zamento poderia sofrer retrocruzamentos,
belecimento de uma relação dose- levando à introgressão do transgene, o que
resposta em razão da magnitude de BIOSSEGURANÇA AMBIENTAL poderia ter consequências para a manuten-
exposição (dose) a um agente físico, ção da diversidade genética.
De forma semelhante à avaliação de
químico ou biológico e da severidade O escape gênico de plantas transgênicas
riscos alimentares, a avaliação de riscos
dos efeitos adversos à saúde; pode ocorrer de três maneiras principais:
ambientais considera três pontos impor-
c) avaliação da exposição: avaliação a) quando a planta transgênica torna-se
tantes: possibilidade, probabilidade e con-
quantitativa e qualitativa da pro- uma espécie daninha;
sequência de um perigo, o qual deve ser
babilidade de ingestão de agentes b) quando o DNA transgênico é trans-
físicos, químicos e biológicos por sempre avaliado caso a caso. Isso significa
ferido, por cruzamento, para espé-
meio da alimentação; que, a partir da identificação de um possível
cies silvestres ou outras variedades
d) caracterização do risco: estimação perigo, deve-se considerar se esse perigo é
cultivadas;
qualitativa e quantitativa da probabi- possível, se é provável e, se viesse a ocorrer,
c) quando o DNA transgênico é trans-
lidade de ocorrência e severidade de qual seria sua consequência (CONNER;
mitido assexuadamente para outras
um efeito contrário à saúde com base GLARE; NAP, 2003). No caso específico
espécies e organismos.
na identificação e caracterização do de avaliação de riscos de plantas GM, um
perigo e na avaliação da exposição. quarto ponto também deve ser considera- Para que o escape gênico entre distintas
do: os riscos decorrentes da não-adoção espécies ocorra por transmissão sexual,
Gerenciamento de riscos algumas condições são necessárias:
dessa tecnologia.
São medidas tomadas a partir dos Uma premissa essencial em qualquer a) os dois indivíduos parentais devem
resultados da avaliação de riscos e outros avaliação de riscos é o estabelecimento ser sexualmente compatíveis;
fatores legítimos, que visam reduzir os de parâmetros de comparação corretos. b) deve ocorrer sobreposição no perí-
riscos para projetar a saúde dos consumi- odo de florescimento entre os dois
Como descrito, na avaliação de segurança
dores. Medidas de gerenciamento podem tipos parentais;
alimentar, a planta GM é comparada com
incluir rotulagem, imposição de condições c) um vetor de pólen adequado deve
plantas não-GM equivalentes. De forma
para aprovação comercial e monitoramento
análoga, o impacto ambiental de plantas estar presente e ser capaz de trans-
pós-comercial.
transgênicas deve ser avaliado em relação ferir o pólen entre os indivíduos;
Comunicação de riscos àquele impacto causado pela variedade d) a progênie resultante deve ser fértil
convencional. e ecologicamente adaptada às con-
É a troca de informações que deve ser
Esses princípios são essenciais para dições ambientais, onde os parentais
realizada entre todas as partes interessadas,
incluindo governo, indústria, comunidade orientar sobre quais ensaios devem ser estão situados.
científica, mídia e consumidores. Deve realizados e quais perguntas devem ser res- Plantas de milho e soja não possuem
acontecer durante todo o processo de ava- pondidas, a fim de gerar informações que atributos biológicos para “escapar” e esta-
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12 Biotecnologia

belecer-se como espécie daninha. O milho Um estudo conduzido por 15 anos da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
é o resultado de uma espécie de polinização (1985-2000), realizado sob os auspícios (MAPA); da Ciência e Tecnologia (MCT);
eólica e as distâncias que o pólen pode da União Europeia, acerca dos impactos da Saúde; do Meio Ambiente (MMA);
percorrer dependem do padrão do vento, ambientais ocasionados pelo cultivo de do Desenvolvimento Agrário (MDA); do
da umidade e da temperatura. Em geral, plantas GM, envolvendo 400 instituições Desenvolvimento, Indústria e Comércio
campos com essas variedades devem ser públicas de pesquisa, alcançou a seguinte Exterior (MDIC); da Defesa; das Relações
isolados de outras variedades convencionais conclusão: “a pesquisa demonstra que, de Exteriores (MRE); da Pesca e Aquicultura
com uma distância de pelo menos 200 m. O acordo com avaliações de riscos-padrão, (MPA). O mandato é de dois anos, permiti-
risco de escape gênico da soja e do milho as variedades GM e seus produtos não da a recondução ao cargo por duas vezes.
para parentes silvestres no Brasil é conside- apresentam riscos para a saúde humana A Comissão reúne-se mensalmente
rado, pela maioria dos cientistas, pequeno ou para o ambiente. De fato, o uso de para certificar a segurança de laboratórios e
ou inexistente. No entanto, se a espécie tecnologia mais precisa e as análises mais experimentos relativos à liberação de OGM
transgênica fosse o feijão, esse risco seria acuradas, conduzidas durante a fase de no meio ambiente e para julgar pedidos de
real, pois existem, no Pais, várias espécies regulação, tornam essas variedades e seus experimentos e de plantios comerciais de
de feijão silvestres. Em outros países, o risco produtos derivados até mais seguros do que produtos que contenham OGMs.
do escape gênico com soja ou milho pode os convencionais” (COMISSION OF THE Foram elaboradas pela CTNBio e
ser significativo. EUROPEAN COMMUNITIES, 2001). publicadas resoluções normativas que
Quist e Chapela (2001) relatam a pre- Além dos aspectos relacionados com o regulamentam os mais diversos aspectos
sença de sequências típicas de variedades fluxo gênico, os possíveis efeitos adversos da biotecnologia moderna no País. Atual-
GM em milho silvestre da região da Sierra do OGM para a microbiota do solo, para mente, existem cerca de 130 instituições
Norte, na Província de Oaxaca, sul do organismos não-alvo, como os insetos públicas e privadas credenciadas, por
México. Vários questionamentos foram benéficos (abelhas, inimigos naturais das meio da concessão de Certificado de
levantados sobre os resultados publicados pragas etc.), e a possibilidade de seleção de Qualidade em Biossegurança (CQB), para
nesse artigo, como os apresentados por
pragas resistentes são criteriosamente in- desenvolver atividades com organismos
Pelevitz (2002), que afirma ter a revista
vestigados antes da liberação da variedade transgênicos. A Comissão já autorizou e
Nature se precipitado ao publicar o referido
transgênica para plantio comercial. vem acompanhando cerca de 800 proces-
artigo, uma vez que as conclusões tiveram
sos. A grande maioria refere-se a plantios
como base artefatos dos dados de reação LEI DE BIOSSEGURANÇA E A agrícolas em escala experimental e, apenas
em cadeia de polimerase – polymerase CTNBio três, em escala comercial: da soja Roundup
chain reaction (PCR).
Vários países, incluindo, na América Ready™, tolerante ao herbicida glifosato;
A diversidade genética e de espécies
Latina, Brasil, Argentina, Chile, México e do algodão Bollgard, resistente a lagartas;
deve ser preservada, pois pode ser futura-
mente útil no desenvolvimento de novas Venezuela, dentre outros, estabeleceram, e do milho LibertyLink™, tolerante ao
variedades sempre que outros desafios por meio de legislações específicas, nor- herbicida glufosinato de amônio.
surgirem para os melhoristas, a exemplo mas de biossegurança para regular o uso da A CTNBio analisa, caso a caso, as
de uma doença inédita para a qual não se engenharia genética e a liberação, no meio solicitações que lhe são encaminhadas,
conhece uma fonte de resistência. ambiente, de organismos geneticamente mo- emitindo pareceres específicos para o trans-
Quanto ao risco das variedades trans- dificados. No Brasil, essas normas estão re- gênico alvo da avaliação. Antes da liberação
gênicas Bt (que contém o gene da bactéria guladas pela Lei no 11.105 (BRASIL, 2005) para plantio, comércio ou utilização de
Bacillus thuringiensis) para insetos be- sancionada em 24 de março de 2005, que cria qualquer produto transgênico, este deve ser
néficos, como abelhas, joaninhas etc., as ainda a CTNBio, o Conselho Nacional de submetido a análises sobre seus possíveis
evidências apontam que a dose letal (DL50) Biossegurança (CNS), também conhecido riscos para o homem, para os animais e para
é muito superior à que os insetos estarão como Conselho de Ministros, e o Serviço de o meio ambiente. Os resultados dessas aná-
expostos em campos plantados com essas Informação em Biossegurança (SIB). lises são avaliados pela CTNBio, que faz a
variedades transgênicas. Embora a seguran- A CTNBio é composta por 27 membros recomendação de liberação dos transgênicos
ça das variedades Bt para a borboleta-mo- titulares e seus suplentes, dentre os quais que não oferecem riscos à saúde humana ou
narca tenha sido inicialmente questionada, especialistas indicados pela comunidade animal ou ao meio ambiente. Os produtos
trabalhos conduzidos por diferentes grupos acadêmica, com notório saber científico transgênicos suspeitos de apresentarem
evidenciaram sua segurança, inclusive para nas áreas humana, animal, vegetal e am- algum efeito nocivo à saúde humana, ani-
esses insetos (TABASHNIK et al., 1994; biental, obrigatoriamente com doutorado, mal ou ao meio ambiente são vetados para
TANG et al., 1996). além de representantes dos Ministérios comercialização pela CTNBio.
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Biotecnologia 13

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Plantas transgênicas
Geraldo Magela de Almeida Cançado 1
Ana Cristina Miranda Brasileiro 2
Ana Paula Ribeiro 3
Monique Carolina Nunes Fernandes 4
Gustavo César Sant’Ana 5
Bárbara Dantas Fontes-Soares 6
Hermínio Souza Rocha 7
Gustavo Faria Freitas 8

Resumo - Com o advento da Engenharia Genética e os avanços da Biologia Molecular,


já é possível, hoje, introduzir novas características genéticas em um determinado
organismo pela manipulação direta dos genes. A transformação genética permite
a troca de genes entre organismos filogeneticamente distantes e que não cruzam
entre si, ampliando de forma espantosa a variabilidade genética disponível para
os programas de melhoramento. Os métodos mais utilizados no momento, para a
obtenção de plantas transgênicas, são a transformação via Agrobacterium, que faz uso
de uma bactéria de solo capaz de promover naturalmente a transferência de genes
exógenos para o genoma de plantas, a transformação via biobalística, que se baseia
na transferência de genes para as células vegetais por intermédio de microprojéteis
disparados diretamente para o interior da célula, e a transformação via eletroporação,
que gera poros na membrana de protoplastos por pulsos elétricos, permitindo que o
gene exógeno penetre no interior da célula e integre-se ao genoma. Existem, ainda,
outros métodos de transformação de plantas, utilizados em menor escala. De maneira
geral, não há um método de transformação melhor que o outro, visto que a eficiência
está relacionada principalmente com o objetivo, o custo, a operacionalidade técnica e
a espécie trabalhada.

Palavras-chave: Transformação de plantas. Construção gênica. Agrobacterium.


Biobalística. Eletroporação.

INTRODUÇÃO clássico, em que características fenotípi- de melhoramento esbarram em uma série


Há muitos anos, plantas cultivadas cas de interesse, determinadas por genes, de problemas, como redução da variabi-
vêm sendo manipuladas geneticamente são transferidas à progênie por meio de lidade genética, ligação gênica, seleção
pelo homem, por meio de melhoramento cruzamentos. No entanto, esses métodos de características poligênicas, mutações

1
Engo Agro , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-FECD, Caixa Postal 33, CEP 37780-000 Caldas-MG. Correio eletrônico: cancado@epamig.br
Eng a Florestal, Ph.D., Pesq. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, CEP 70770-900 Brasília-DF. Correio eletrônico:
2

anacmb@cenargen.embrapa.br
3
Biotecnologista, Bolsista FAPEMIG/U.R. EPAMIG SM-FECD, CEP 37780-000 Caldas-MG. Correio eletrônico: anapaula@epamigcaldas.gov.br
4
Biotecnologista, Bolsista FAPEMIG/U.R. EPAMIG SM-FECD, CEP 37780-000 Caldas-MG. Correio eletrônico: moniquecarolinamg@yahoo.com.br
5
Biólogo, Mestrando em Genética e Melhoramento, UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: gcsant@yahoo.com.br
6
Enga Agr a , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-FECD, CEP 37780-000 Caldas-MG. Correio eletrônico: barbarafontes@epamig.br
7
Engo Agro , D.Sc., Bolsista FAPEMIG/U.R. EPAMIG SM-FECD, CEP 37780-000 Caldas-MG. Correio eletrônico: hsrocha2009@gmail.com
8
Engo Agro , Doutorando em Fitotecnia, UFLA, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: freitasgf@yahoo.com.br

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espontâneas e incompatibilidade sexual, COMO SÃO OBTIDAS AS transformação e, só então, transferido para
além do longo tempo necessário para PLANTAS TRANSGÊNICAS o genoma da planta em estudo (ARAGÃO;
transferir características desejáveis para RECH, 1998).
Para obter uma planta transgênica, são
genótipos já melhorados. Atualmente, o A segunda etapa consiste no desenvol-
necessárias três etapas básicas. A primeira,
melhoramento de plantas pode recorrer às vimento de uma metodologia eficiente de
geralmente a mais limitante, é a identi-
modernas técnicas de Engenharia Genéti- transformação da espécie vegetal de inte-
ficação do gene que irá conferir a nova
ca para auxiliar na resolução de algumas resse. Atualmente, diferentes estratégias
característica de interesse para a planta em
dessas limitações. A combinação de técni-
estudo. A variabilidade genética existente para a transferência de genes em plantas
cas de Biologia Molecular, de cultura de
na natureza torna-se potencialmente a fonte estão disponíveis, sendo as mais utilizadas
tecidos e de transferência de genes resultou
desses genes. Entretanto, para ser manipu- as de transformações via Agrobacterium,
no desenvolvimento da transformação
genética de plantas. Prática que consiste lado, o gene responsável pela característica biobalística e eletroporação. A última etapa
na introdução controlada de um gene no de interesse deve ser localizado e isolado para a transformação de uma planta é o
genoma de uma planta e sua posterior dos demais genes no genoma do organis- estabelecimento de um sistema eficiente,
expressão, conferindo a esta planta uma mo doador. De posse do gene, este será simples e, principalmente, reproduzível
nova característica. Como esse gene pode caracterizado, introduzido em vetores para de regeneração in vitro da espécie vegetal.
ser oriundo de diferentes organismos (ve-
getais, animais, bactérias, vírus, fungos
etc.), daí a denominação transgene ou gene QUADRO 1 - Área cultivada com transgênicos no mundo, em 2008
exógeno. Posição País
Área
(milhões de ha)
A introdução do transgene no genoma
vegetal receptor é feita de forma controlada 1o EUA 62,5

e de modo independente da fecundação. 2o Argentina 21,0


Uma vez incorporado no genoma e ex- 3o Brasil 15,8
presso de maneira estável, o transgene 4 o
Índia 7,6
passa a fazer parte do patrimônio genético 5 o
Canadá 7,6
da planta, não alterando sua constituição
6 o
China 3,8
genética global. Assim, as plantas transgê-
7 o
Paraguai 2,7
nicas constituem, hoje, fonte adicional de
variabilidade genética para ser incorporada 8 o
África do Sul 1,8
aos programas de melhoramento. 9 o
Uruguai 0,7
Atualmente, as plantas transgênicas 10o Bolívia 0,6
têm grande importância na agricultura 11o Filipinas 0,4
mundial, sendo grande parte da área culti- 12o Austrália 0,2
vada com espécies de interesse agronômico
13 o
México 0,1
ocupada por variedades transgênicas. Em
14 o
Espanha 0,1
2008, cerca de 125 milhões de hectares
foram cultivados com culturas transgênicas 15 o
Chile <0,1
em 25 países, segundo relatório do Interna- 16 o
Colômbia <0,1
tional Service for the Acquisition of Agri- 17 o
Honduras <0,1
Biotech Applications (ISAAA) (Quadro 1). 18 o
Burquina Fasso <0,1
A área é maior que o dobro do território da 19o República Checa <0,1
França ou cerca de quatro vezes e meia a
20o Romênia <0,1
do estado de São Paulo. A transgenia é uma
21o Portugal <0,1
ferramenta biotecnológica que tem gerado
grandes benefícios para a humanidade, 22 o
Alemanha <0,1
mas são necessárias avaliações minuciosas 23 o
Polônia <0,1
dos impactos da liberação do cultivo de 24 o
Eslováquia <0,1
plantas transgênicas sobre a saúde humana 25 o
Egito <0,1
e animal, sobre o meio ambiente e sobre FONTE: Clive James (2008 apud INTERNATIONAL SERVICE FOR THE ACQUISITION OF
a sociedade. AGRI-BIOTECH APPLICATIONS, 2008).

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16 Biotecnologia

Durante o processo de regeneração, a célu- fragmentos com o auxílio de enzimas de saúde e ao ambiente (LACERDA, 2006).
la inicialmente transformada multiplica-se restrição, que agem como tesouras mo- As características dos exemplos citados
e dá origem a uma planta inteira, na qual leculares. Esses fragmentos são, então, são monogênicas, ou seja, o fenótipo é
todas as células vão conter a nova infor- ligados em fragmentos circulares de DNA determinado pela expressão de um único
mação introduzida. A regeneração dessa (plasmídeos), inseridos em bactérias e mul- gene. Mas é necessário salientar que muitas
planta baseia-se no princípio da totipotên- tiplicados pelo seu crescimento exponen- características importantes para a agricul-
cia, isto é, a potencialidade que as células cial. A partir daí, é só selecionar a colônia tura são poligênicas ou multigênicas, ou
vegetais têm de diferenciar-se, originando de bactérias que contêm o fragmento de seja, o fenótipo é determinado pela expres-
um novo indivíduo. DNA correspondente ao gene de interesse são e/ou repressão temporal e espacial de
Cada espécie vegetal ou diferentes (CORDOVAL, 2002). Uma forma de fazer vários genes, simultaneamente ou em uma
genótipos dentro de uma mesma espécie isso é pelo sequenciamento de cada um cascata coordenada de eventos. Resistên-
têm exigências nutricionais e hormonais dos fragmentos de DNA que constituem a
cia à seca, altura de planta e potencial de
diferenciadas para a sua regeneração. biblioteca genômica. Dessa maneira, uma
produção são exemplos de fenótipos con-
Alguns apontam a dificuldade em cultivar quantidade imensa de genes de vírus, bac-
trolados por vários genes. Diante da grande
térias, fungos, plantas, animais e humanos
determinadas espécies vegetais in vitro complexidade, a identificação de todos os
já foi isolada, identificada, caracterizada,
como o principal limitante à transformação componentes genéticos para características
e suas sequências de nucleotídeos dispo-
de plantas no momento. No entanto, os multigênicas ainda é um desafio para a
nibilizadas para a comunidade científica
grandes avanços obtidos na pesquisa com ciência (LACERDA, 2006).
em bancos de dados gigantescos como o
reguladores de crescimento de vegetais
GenBank (NATIONAL CENTER FOR
e cultura de tecidos fazem com que um VETORES PARA
BIOTECHNOLOGY INFORMATION,
número crescente de plantas possa ser re- TRANSFORMAÇÃO DE
2009).
generado via cultivo in vitro, permitindo a PLANTAS
O isolamento, a identificação e a carac-
obtenção de um maior número de espécies Os vetores utilizados para a transfoma-
terização de genes assistem avanços contí-
vegetais capazes de ser geneticamente ção genética de plantas são, geralmente,
nuos e rápidos nas últimas duas décadas e,
transformadas.
como exemplo de novas tecnologias, po- plasmídeos bacterianos, nos quais o gene
dem-se citar a bioinformática e a genômica de interesse foi clonado. E o que vem a ser
IDENTIFICAÇÃO E
funcional. Métodos que estudam padrão um plasmídeo? As bactérias são conheci-
ISOLAMENTO DE GENES DE
de expressão de genes e de biossíntese de das por possuírem uma molécula de DNA
INTERESSE
proteínas em larga escala, tais como trans- dupla hélice, de maior tamanho, definida
O genoma de uma bactéria contém, criptomas (microarranjos de DNA), prote- como DNA cromossômico e moléculas de
aproximadamente, 5 mil genes; o de omas e metabolomas, aceleram e facilitam DNA circular, de menor tamanho (2 mil a
plantas tem em torno de 40 mil a 60 mil, a identificação de genes-alvo entre dezenas 15 mil pares de base), denominadas plas-
enquanto que o dos seres humanos, em- ou mesmo centenas de milhares de outros mídeos (ARAGÃO; RECH, 1998). Esses
bora este dado ainda não seja conhecido genes, além de possibilitar ao pesquisador, são independentes do DNA cromossômico,
com exatidão pelos cientistas, é estimado uma visão mais ampla dos processos me- com replicação autônoma no interior da
em 30 mil a 50 mil genes. Os genes de tabólicos em nível molecular. célula. Vários plasmídeos de bactérias
organismos vivos, independentemente de Diversos genes de interesse agronômi- foram manipulados pelo homem para
sua complexidade, são constituídos por co já foram isolados, tais como genes que ser utilizados como vetores para trans-
segmentos de um mesmo tipo de molécula: codificam proteínas capazes de modificar formação de plantas (Fig. 1). Uma vez
o ácido desoxirribonucleico (DNA), exceto herbicidas, inativando-os. Desse modo, identificado o gene de interesse no genoma
para alguns tipos de vírus, cujo material culturas que contêm esse gene poderiam do organismo doador, sua sequência codifi-
genético é o ácido ribonucleico (RNA). tornar-se resistentes ao herbicida, facili- cadora (posteriormente traduzida em uma
Esta característica é que permite que genes tando o controle de plantas daninhas. Há proteína) deverá ser isolada e transferida
de um organismo sejam potencialmente também, genes bacterianos que codificam para um cassete, onde será flanqueada
funcionais em outro. proteínas com propriedades tóxicas para por um promotor, que permite que o gene
Uma forma de identificar e isolar ge- insetos. Os insetos ao se alimentarem de seja reconhecido por enzimas específicas
nes de interesse é por meio da construção plantas que expressam esse gene morre- e expresso corretamente em plantas, e um
de uma biblioteca genômica. Para isso, o riam ou se desenvolveriam com menor sinal de terminação, que promove o final
DNA do organismo que contenha o gene, eficiência, reduzindo ou mesmo evitando da leitura do gene. Esse cassete, contendo
que potencialmente for utilizado, será iso- seu controle por meio da aplicação de inse- o gene quimérico é então transferido para
lado e, em seguida, cortado em pequenos ticidas químicos, que podem ser danosos à um plasmídeo que será utilizado como
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Biotecnologia 17

Figura 1 - DNA plasmidial contendo o cassete de transformação (plasmídeo Ti)


NOTA: O cassete de transformação é composto pelo gene de interesse e suas sequências regulatórias (promotor e região de termina-
ção), associados aos genes marcadores e suas sequências regulatórias. As setas indicam os sítios de reconhecimento pelas en-
zimas de restrição (onde ocorre a clivagem do ácido desoxirribonucléico (DNA)) e que flanqueiam o cassete de transformação,
em que, BD = borda direita e BE - borda esquerda.

vetor de transformação de plantas (Fig. 1). cresçam em detrimento às células não- funciona de maneira complementar ao
De forma geral, um vetor de transformação transformadas. Assim, as plantas trans- gene de seleção. Sua principal função na
contém basicamente o gene de interesse, formadas deverão possuir, além do gene planta é indicar, por meio da expressão
um gene de seleção e um gene repórter, de interesse, um gene marcador de seleção de um gene, a presença de células ou te-
necessários para a identificação das plantas que irá conferir resistência a uma determi- cidos transformados, de maneira simples
que foram efetivamente transformadas. nada substância tóxica ao desenvolvimento e rápida. O produto da expressão do gene
A esse conjunto de genes é dado o nome das plantas, geralmente um antibiótico ou repórter, assim como do gene de seleção,
de DNA de transferência (T-DNA), que um herbicida. Uma eficiente seleção é de não pode estar presente nas células de plan-
tas não-transformadas. Entretanto, muitas
será transferido para o genoma da planta grande importância para a obtenção de
vezes, estas plantas podem-se desenvolver
(DELÚ FILHO; CASCARDO; FONTES, plantas transformadas, pois, na presença do
na presença do agente seletivo por motivos
1999). agente seletivo, somente aquelas que foram
que vão desde concentrações insuficientes
efetivamente transformadas conseguem
ou degradação dos agentes de seleção, até
GENES MARCADORES DE desenvolver-se, por causa da resistência o surgimento de variações somaclonais
SELEÇÃO E REPÓRTERES conferida pelo gene de seleção. Por outro (mutações) resistentes a estes. Esses even-
Genes marcadores de seleção são lado, genes repórteres são aqueles que tos são conhecidos como escapes. Após o
aqueles que codificam para uma proteína codificam para uma proteína, geralmente evento da transformação, as células trans-
com uma atividade enzimática ou para com atividade enzimática, cujo produto é formadas e não-transformadas do explante
um produto, que irá conferir às células facilmente detectável. são cultivadas em meios que contêm o
transformadas da planta resistência a um Esses genes possibilitam a identifi- agente seletivo. Como pode haver escapes
determinado substrato. A finalidade do uso cação ou marcação das células transfor- nessa fase, faz-se necessária a presença do
de um gene marcador de seleção é permi- madas sem contudo eliminar as células outro gene repórter para confirmação do
tir que apenas as células transformadas não-transformadas. Assim, o gene repórter estado transgênico do material.
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O gene repórter seria então uma se- uma etapa final do trabalho. Nos estádios (KERSTERS; LEY, 1984). Agrobacterium
gunda confirmação indireta da transfor- iniciais de transformação, o número de tumefaciens é o agente etiológico da galha-
mação, pois, a priori, apenas as plantas explantes produzidos é bastante elevado. da-coroa (crown gall), A. rhizogenes causa
que apresentam o cassete de transformação O uso de genes de seleção e genes repór- a raiz-em-cabeleira (hairy root), A. rubi
inserido em seu genoma seriam capazes de teres permite o descarte precoce de todas induz tumores especificamente em Rubus
expressar o gene repórter. O gene repórter as plantas que não foram efetivamente spp. (cane gall), A. vitis induz tumores
mais utilizado no momento é o gene gus transformadas, evitando-se gastos desne- especificamente em videiras (Vitis spp.)
que codifica para a enzima β-glucuronidase cessários de espaço, tempo e recurso. Além e A. radiobacter é saprófita, isto é, não
(GUS). Na presença da enzima GUS, um do mais, na maioria dos casos, o produto do patogênica (BRASILEIRO, 1998).
substrato cromogênico, o X-Glu, forma gene de interesse pode ser uma proteína ou Mais de 600 espécies vegetais são co-
um precipitado de cor azul-intenso no enzima de difícil detecção ou que só pode nhecidamente suscetíveis à infecção por
tecido transformado (JEFFERSON, 1987). ser detectada em estádios avançados do A. tumefaciens e A. rhizogenes, pertencendo
Assim, com apenas um pequeno pedaço desenvolvimento das plantas. a maioria delas à classe das Angiospermas
de tecido metabolicamente ativo pode-se dicotiledôneas e Gymnospermas e, mais
confirmar a transformação de forma rápida MÉTODOS DE raramente, das Angiospermas monocoti-
e simples. TRANSFORMAÇÃO DE ledôneas (BRASILEIRO, 1998). Apesar
No entanto, quando a transformação é PLANTAS de as doenças causadas por agrobactérias,
via Agrobacterium, podem ocorrer falsos principalmente a galha-da-coroa, serem
Vários métodos de obtenção de plantas
positivos para o teste do GUS, por causa muito sérias para algumas culturas, estas
transgênicas vêm sendo desenvolvidos.
da contaminação endógena das plantas raramente têm causado danos econômicos
Alguns deles já estão bem estabelecidos,
com a própria bactéria utilizada para a para a agricultura no Brasil. A infecção de
sendo utilizados de forma rotineira em
transformação. Mesmo estando o gene gus uma planta por Agrobacterium inicia-se
laboratórios de transformação de plantas.
sob o controle de sequências regulatórias de pela penetração da bactéria no tecido ve-
Apesar de existirem inúmeros métodos
plantas, pode haver expressão de GUS em getal por meio de uma lesão sofrida pela
de transformação, serão descritos aqueles
Agrobacterium. Como a eliminação com- planta por tratos culturais, geadas, insetos
via Agrobacterium, eletroporação de pro-
pleta da bactéria nos explantes transforma- ou outro agente. A lesão na planta exsuda
toplastos e biobalística, por serem os mais
dos pode ser difícil e demorada, é comum o moléculas, como compostos fenólicos,
usuais. Outros métodos de transformação
aparecimento de falsos-positivos. Este pro- açúcares ou aminoácidos, que atraem as
apresentados pela literatura, tais como
blema foi resolvido pelo desenvolvimento agrobactérias. Essas moléculas exsudadas
macroinjeção, microinjeção, lipossoma e
de vetores contendo um gene gus alterado, são responsáveis por ativar genes presentes
polietilenoglicol (PEG) são utilizados para
cuja expressão é nula ou não-detectável em na agrobactéria e também pela transferên-
propostas mais específicas, por sua maior
Agrobacterium. Uma outra limitação do cia de parte do plasmídeo de virulência
complexidade (BRASILEIRO; DUSI,
gene gus como repórter reside no fato de dessas bactérias, conhecido como plasmí-
1999). Deve-se ter em mente que não
algumas plantas possuírem uma atividade deo Ti, para o genoma da planta.
existe um método de transformação ótimo
endógena similar à de GUS, o que também Os genes presentes no fragmento
ou ideal para todo o tipo de planta. Em
pode gerar falsos-positivos. Esse problema do plasmídeo Ti da agrobactéria, que
função da espécie vegetal e do propósito
pode ser contornado utilizando-se outras é transferido para a planta, conhecido
do trabalho, pode-se optar por um método
classes de genes repórteres, tais como o como T-DNA, serão expressos nas cé-
ou outro, segundo as vantagens que possa
gene gfp (proteína verde fluorescente), que lulas vegetais, produzindo enzimas que
é traduzido em uma proteína fluorescente apresentar.
estão envolvidas com a síntese de hormô-
no comprimento de luz azul e que não nios vegetais e com a síntese de opinas
Transformação por
existe naturalmente em plantas (CHALFIE Agrobacterium (compostos sintetizados para a nutrição
et al., 1994). da bactéria). Dessa forma, as células ve-
A maior vantagem da utilização do As agrobactérias são microrganismos getais que recebem o T-DNA proliferam
gene gfp sobre outros genes repórteres é tipicamente do solo e possuem forma de desordenadamente, em consequência da
que a GFP não necessita de cofatores para bacilo, movendo-se por meio de um a seis síntese de hormônios, levando à formação
fluorescer, podendo assim ser visualizada flagelos. O gênero Agrobacterium (do gre- de um tumor (BRASILEIRO; LACORTE,
em células vivas. E por que não se poderia go agros = campo e bakterion = bastonete) 1998). Este tumor é o principal sintoma
utilizar o produto do gene de interesse pertence à mesma família das bactérias da doença galha-da-coroa, causada por A.
introduzido (proteína) ou o fenótipo da fixadoras de nitrogênio e está subdividido tumefaciens. Em A. rhizogenes a expressão
planta, para selecionar as plantas transfor- em cinco espécies que diferem entre si dos genes do T-DNA induz à produção de
madas? Isso sem dúvida é feito, só que em pela sintomatologia em diferentes plantas raízes no local do ferimento, provocando
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a doença denominada raiz-em-cabeleira.


Por achar que se tratava de uma forma
vegetal de câncer, as agrobactérias foram
intensamente estudadas nos anos 80 na
esperança de o modelo da doença vegetal
ser semelhante ao câncer, que ocorre em
células animais, auxiliando dessa forma na
descoberta da cura.
Apesar de os pesquisadores terem-se
frustrado em seu objetivo inicial, pois não
havia nenhuma relação entre os tumores
em vegetais e a doença em animais, logo se
percebeu que o sistema de transferência de
genes das agrobactérias para as plantas po-
deria ser um método extremamente eficaz
para a transferência de genes de interesse
para plantas. Assim, os plasmídeos Ti das
agrobactérias foram intensamente estu-
dados e manipulados, permitindo a troca
de genes do T-DNA, não-essenciais para
a transformação, por genes de interesse,
ou seja, transformaram o plasmídeo Ti
de agrobactérias em um vetor natural de
transformação de plantas. As linhagens
Figura 2 - Transformação de plantas por Agrobacterium
de Agrobacterium que perderam todo ou
parte do seu T-DNA são denominadas li- FONTE: Brasileiro e Dusi (1999).
nhagens desarmadas, pois são incapazes de NOTA: Segmentos foliares são retirados da folha da planta, a qual se quer transformar,
e são submersos em solução na presença da bactéria que contém o vetor de
produzir tumores nas plantas hospedeiras
transformação (plasmídeo Ti contendo o cassete de transformação). Algumas
(ZAMBRYSKI et al., 1983). horas após, os segmentos foliares são transferidos para meio nutritivo sólido
Para transformar plantas, utilizando na presença de um antibiótico para a eliminação da bactéria e de um agente
linhagens desarmadas de Agrobacterium, seletivo (antibiótico ou herbicida) para a seleção das células transformadas. Após
utilizam-se explantes com potencial re- regeneração das plântulas, estas são transferidas para novo meio, quando se
faz a seleção das plântulas positivas, com auxílio do agente seletivo. As plantas
generativo, como segmentos de folhas
que crescerem no meio com agente seletivo, são submetidas a novos testes para
jovens (discos foliares), embriões zigóti- confirmação (testes histoquímicos para expressão do gene repórter, polymerase
cos, entrenós, cotilédones etc. O explante chain reaction (PCR), Southern, northern e western blots), e as plantas transfor-
é colocado na presença de meio líquido madas positivamente são enraizadas in vitro e transferidas para vasos com solo
contendo as bactérias desarmadas com o em casa de vegetação.
vetor de transformação que contém o gene
de interesse, em um processo denominado
cocultura (Fig. 2). Durante este contato, as Arabidopsis thaliana, a transformação pode Transformação por
bactérias infectam o tecido vegetal e ini- ser feita pelo contato direto de botões florais eletroporação de
ciam o processo de transferência do cassete com a solução, contendo Agrobacterium. A protoplastos
de transformação para o genoma da planta. taxa de sementes positivamente transfor- Protoplastos são células vegetais in-
Após a cocultura, o tecido é cultivado em madas por este método pode alcançar até dividualizadas e desprovidas de paredes
um meio de regeneração na presença de an- 5%. Dessa forma, as agrobactérias têm sido celulares que foram eliminadas com o
tibiótico, para eliminação da Agrobacterium utilizadas como um eficiente vetor natural auxílio de enzimas pectocelulolíticas. Em
e de um agente seletivo, para a seleção das para a transformação genética de plantas, condições adequadas de cultura de teci-
células transformadas. principalmente, de Angiospermas dicotile- dos, os protoplastos podem reconstituir
Numa etapa final, as plantas transfor- dôneas. A alta eficiência de transformação suas paredes celulares, regenerando um
madas são regeneradas in vitro e transferi- e o baixo custo operacional, assim como novo tecido que pode dar origem a uma
das para ambientes de aclimatação da mes- a simplicidade dos protocolos de transfor- nova planta (BOURGIN; CHUPEAU;
ma forma que se faz para outros trabalhos mação e de seleção, são as maiores razões MISSONIER, 1979). A eletroporação de
com cultura de tecidos (Fig. 2). Atualmente, para a universalidade do uso do sistema protoplastos consiste na indução de poros
para algumas espécies de plantas, tais como Agrobacterium. na membrana celular de protoplastos por
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meio de pulsos elétricos de alta voltagem. todo o tecido regenerado será originado a riamente incorporado ao genoma. Neste
Esses poros permitem a entrada do vetor partir de uma única célula, evitando dessa caso, o gene expressa-se transitoriamente
de transformação contendo o gene de in- forma o surgimento de quimeras (tecido na célula transformada, mas, à medida que
teresse para o interior da célula e, como os constituído de células transformadas e as células dividem-se e multiplicam-se, a
poros são reversíveis, ou seja, fecham-se não-transformadas), problema observado expressão do gene vai diminuindo até desa-
novamente após terminada a aplicação do com certa frequência, quando se realiza parecer por completo. A análise da expres-
pulso elétrico, os protoplastos contendo o transformação em tecidos ou órgãos. A são transiente após eletroporação permite
vetor de transformação podem-se regenerar grande desvantagem desse método reside testar rapidamente a funcionalidade de uma
em novas plantas (FROMM; TAYLOR; justamente na dificuldade de obtenção de construção gênica, sem a necessidade de
WALBOT, 1985) (Fig. 3). uma nova planta a partir de um protoplasto. obter uma planta transgênica.
Os protoplastos, logo após terem sido O processo é lento, exige mudanças cons-
isolados, são imediatamente colocados em tantes de meios de cultura e condições de Transformação por
um eletroporador na presença do vetor de cultivo e possui, geralmente, uma baixa biobalística
transformação, contendo o gene de interes- eficiência. Para algumas espécies vegetais,
A biobalística, como o próprio nome
se. O pulso elétrico é muito rápido e, logo o processo de regeneração do protoplasto
indica, funciona de forma análoga a
após, os protoplastos são transferidos para pode ser um forte limitante ao uso desta
uma arma de fogo, onde micropartículas
um meio de cultura, onde serão selecio- técnica.
revestidas com o vetor de transformação
nados aqueles que forem transformados. Por outro lado, a eletroporação tem sido
são aceleradas em alta velocidade contra
A grande vantagem desse método em extremamente útil em estudos de expres-
o tecido no qual se quer transferir o gene.
relação aos outros é que a transformação são transiente, que é a expressão do gene
Esse método de transformação também é
é feita em células individuais. Assim, exógeno sem que ele tenha sido necessa-
conhecido como bombardeamento ou gene
gun (arma de genes) e foi inicialmente
proposto por Sanford et al. (1987). As
micropartículas utilizadas pela biobalística
são partículas microscópicas (de 0,2 a 4 μm
de diâmetro) de ouro ou tungstênio, que
possuem adsorvido à sua superfície o vetor
de transformação, contendo o cassete com
o gene de interesse. As micropartículas
atravessam de forma não-letal a parede
celular e a membrana plasmática, alojan-
do-se de forma aleatória no interior das
células. Uma vez na presença do líquido
celular, o DNA adsorvido à superfície da
micropartícula encontra condições para se
tornar livre, podendo então ser incorpora-
do ao genoma nuclear da célula vegetal
(RECH; ARAGÃO, 1998; LACORTE et
al., 1999). As micropartículas são acelera-
das em direção ao tecido-alvo por meio de
uma onda de choque que pode ser gerada
de diversas formas, sendo que a mais uti-
lizada atualmente é a de uma descarga de
gás hélio à alta pressão.
Figura 3 - Transformação de plantas por eletroporação
O aparelho responsável por gerar a
FONTE: Dados básicos: Brasileiro e Dusi (1999).
onda de choque é denominado acelerador
NOTA: Segmentos foliares da planta, a qual se quer transformar, são digeridos com
de micropartículas ou bombardeador e
enzimas que degradam as paredes celulares, para a liberação dos protoplastos.
Os protoplastos são purificados e transferidos para a cuba de eletroporação com está esquematizado na Figura 4. A onda de
o ácido desoxirribonucléico (DNA) plasmidial, contendo o cassete de transfor- choque gerada pela liberação rápida do gás
mação, onde serão submetidos a pulsos elétricos para a formação dos poros na hélio lança a membrana carreadora (onde
membrana celular. Após a eletroporação, os protoplastos são transferidos para
as micropartículas estão depositadas) a
meio de seleção, onde apenas os protoplastos transformados com a construção
gênica serão multiplicados. uma altíssima velocidade contra uma tela

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de retenção que detém esta membrana e um dos genes marcadores são amplificados então ser facilmente visualizados na forma
permite a passagem apenas das micropar- bilhões de vezes in vitro por enzimas que de uma banda em um gel de agarose. No
tículas. Estas, por sua vez, continuarão sua sintetizam novas fitas de DNA e com o caso do Southern blot (Fig. 6), o gene pode
trajetória pela inércia e irão atingir direta- auxílio de um termociclador, máquina que ser visualizado pela utilização de sondas
mente o tecido que está posicionado logo simula os ciclos de replicação do DNA. marcadas radiotivamente (isótopo 32P),
abaixo da tela de retenção. Todo o processo Estes bilhões de cópias do gene podem que se ligam (hibridizam) especificamente
ocorre no interior de uma câmara sob vácuo
(Fig. 4), para evitar a desaceleração das
partículas causada pelo atrito com o ar.
Essa técnica é bastante versátil, pois
permite potencialmente a transformação
de qualquer espécie vegetal ou genóti-
po, assim como qualquer tipo celular ou
mesmo organelas, como mitocôndrias
e cloroplastos. Além disso, a técnica de
transformação por biobalística pode ser
considerada relativamente simples, rápida
e que não envolve maiores investimentos
em infraestrutura e equipamentos. O pró-
prio acelerador de partículas é um aparelho
simples e de baixo custo. Uma outra van-
tagem da biobalística é a maior eficiência
de transformação em Gymnospermas e
Angiospermas monocotiledôneas, o que
não é observado com a transformação
por Agrobacterium (RECH; ARAGÃO,
1998). A biobalística também é bastante
utilizada, à semelhança da eletroporação de
protoplastos para estudar a funcionalidade Figura 4 - Esquema de um acelerador de partículas a gás hélio, utilizado para transfor-
de construções gênicas. mação de plantas por biobalística

ANÁLISE DAS PLANTAS


TRANSFORMADAS POR
TÉCNICAS MOLECULARES
A expressão de um gene repórter
ou a sobrevivência de um explante em
meio seletivo é considerada apenas como
evidência da transformação, não sendo
suficiente como prova definitiva da inte-
gração e expressão do cassete no genoma
da planta. Como foi frisado anteriormente,
mesmo com o uso dos genes marcadores de
seleção e repórter, pode ocorrer a presença
de falsos-positivos. A reação em cadeia da
polimerase – polymerase chain reaction
(PCR) (MULLIS; FALOONA, 1987) e o (termociclador)
Southern blot (SOUTHERN, 1975) são
duas técnicas moleculares indispensáveis Figura 5 - Detecção do gene exógeno por meio da amplificação do DNA via PCR
para a confirmação da presença e da inte- NOTA: Nesta técnica, bilhões de cópias do gene exógeno são sintetizadas in vitro. O
gração do cassete de transformação no ge- termociclador é a máquina que simula as condições necessárias para a síntese
do ácido desoxirribonucléico (DNA) in vitro. Após a amplificação, o produto do
noma das plantas transformadas. No caso polymerase chain reaction (PCR) é aplicado em gel de agarose, para visualiza-
do PCR (Fig. 5), o gene de interesse e/ou ção da banda correspondente ao DNA do gene exógeno.

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lizada, exigindo pessoal e infraestrutura


adequados, o que muitas vezes pode ser
bastante complexo e caro. Existem técni-
cas moleculares que permitem observar a
expressão dos genes de forma fácil e rá-
pida. As mais utilizadas são o northern
blot (ALWINE; KEMP; STARK, 1977)
e o western blot (BURNETTE, 1981; TO-
WBIN; STAEHELIN; GORDON, 1979)
e, mais recentemente, uma nova técnica
com base na detecção em tempo real da
expressão diferencial de genes denominada
por quantitative reverse transcriptase _
impressionado polymerase chain reaction (qRT-PCR) ou
transcrição reversa quantitativa _ reação
Figura 6 - Detecção do gene exógeno por meio da técnica de Southern blot em cadeia da polimerase.
NOTA: Nesta técnica, o ácido desoxirribonucleico (DNA) genômico é clivado por enzimas O northern blot permite detectar a
de restrição e os fragmentos gerados são eluídos em gel de agarose e transfe-
ridos para membrana de náilon ou nitrocelulose, conservando sua posição de
quantidade e o tamanho do RNA mensagei-
corrida no gel. O fragmento que contém o gene exógeno hibrida-se com uma ro (mRNA) produzido pelo gene exógeno
sonda marcada, de sequência homóloga à sequência do gene exógeno. A molé- por meio de hibridização com sondas
cula híbrida de DNA formada pela sonda e pelo fragmento de DNA, contendo o específicas marcadas radioativamente. Já
gene exógeno, emite radiação que impressiona filme de raios X ou Image Plate,
na qRT-PCR, acompanha-se a evolução
gerando banda, que confirma a presença do gene.
da replicação do DNA complementar
(cDNA) do gene de interesse a cada ciclo
ao gene de interesse ou a um dos genes Muitas vezes, a integração do T-DNA da PCR pela emissão de fluorescência. No
marcadores. no genoma da planta não significa neces- western blot, detecta-se a proteína ou enzi-
O DNA total da planta é inicialmente sariamente que o gene será expresso, ou ma produzida por este mRNA, por meio da
extraído e clivado por enzimas de restrição seja, que vá produzir a proteína ou enzima ligação com anticorpos específicos. Essas
em sítios específicos da molécula de DNA de interesse. Isso é um problema muito técnicas possuem sensibilidade suficiente
que flanqueiam o cassete de transformação. comum observado em transformação de para detectar pequenas quantidades de
Dessa forma, o cassete é liberado do resto plantas e os motivos que levam a isso pos- mRNA ou de proteínas produzidas pelo
do genoma e transferido para uma mem- suem inúmeras causas, sendo que muitas gene exógeno.
brana que, posteriormente, é colocada na delas ainda não foram completamente O interessante em utilizar o northern
presença da sonda radioativamente mar- desvendadas. A forma mais simples para blot, western blot e a qRT-PCR é que estes
cada, para que possa ocorrer a formação checar se um gene está sendo expresso ou permitem não só a detecção da expressão
da molécula híbrida entre o gene exógeno do gene, como também quantificar a in-
não é pela observação de seu fenótipo em
presente no cassete de transformação e a tensidade dessa expressão pela intensidade
uma planta completamente regenerada ou
sonda. Ou seja, uma fita simples de DNA das bandas e curvas de amplificação que
em sua progênie (descendentes), desde
do gene exógeno com uma fita simples de são geradas. Isto é de grande importância
que o produto do gene em questão cause
DNA da sonda unem-se, em consequência para os pesquisadores, pois, além da in-
alterações que possam ser detectáveis
da formação de pontes de hidrogênio, tegração do gene no genoma da planta, é
visualmente ou por técnicas moleculares
formando novamente uma fita dupla de muito importante saber se este se expressa
DNA. Quando exposto na presença de e bioquímicas.
Como foi dito anteriormente, a expres- em níveis adequados, para que ocorra a
filme de raios X ou Image Plate, as sondas
são de determinados genes pode ocorrer em mudança fenotípica esperada.
marcadas o impressionam, por causa da
emissão de radiação, dando origem a uma níveis tão baixos, que mudanças no fenóti-
po da planta podem não ser perceptíveis ou, CONSIDERAÇÕES FINAIS
banda que corresponde ao gene de inte-
resse. Dependendo do tipo de clivagem ainda, o produto do gene pode não causar O que era visto como uma possibilidade
realizado no DNA total da planta, o nenhuma alteração expressiva no fenótipo para o futuro, hoje já pode ser encarado
Southern blot pode permitir a estimativa final da planta. A purificação bioquímica como realidade. São inúmeras as espécies
do número de cópias do cassete no genoma da proteína ou da enzima produzida pelo vegetais, assim como as características
receptor (ROMANO, 1998). gene exógeno pode ser difícil de ser rea- genéticas estudadas no campo da trans-
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Biotecnologia 23

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24 Biotecnologia

Uso de técnicas moleculares para diagnose de


patógenos em sementes
Ellen Noly Barrocas 1
José da Cruz Machado 2
Antonia dos Reis Figueira 3
Ricardo Magela de Souza 4
Alessandra Keiko Nakasone Ishida 5
Ana Beatriz Zacaroni 6
Hermínio Souza Rocha 7

Resumo - A associação de fitopatógenos com sementes tem sido responsável por da-
nos dos mais significativos em cultivos de interesse humano, causando prejuízos tanto
para produtores de sementes como para produtores e consumidores de grãos, além dos
efeitos danosos a todo sistema produtivo. O diagnóstico preciso de patógenos, quando
ainda estão em sementes e/ou materiais de propagação vegetal, é uma das mais impor-
tantes estratégias de manejo de doenças, já que previne sua entrada no campo. A difi-
culdade de distinção entre algumas espécies e outras formas de variação dos agentes
patogênicos, aliada às circunstâncias de alta pressão de análises de amostras em deter-
minadas épocas do ano, obriga o uso de métodos de detecção mais sensíveis, rápidos,
simples e acurados. Para enfrentar esses desafios, as técnicas moleculares, em conjunto
com métodos biológicos, surgem como importantes ferramentas, que, uma vez desen-
volvidas e ajustadas, podem atender, satisfatoriamente, aos sistemas envolvidos nesse
tipo de demanda.

Palavras-chave: Patologia da semente. Diagnose molecular. Fungos. Bactérias. Vírus.

INTRODUÇÃO principalmente em países, cuja economia maior atenção e um extremo cuidado, por
e demanda social dependem, em grande parte dos órgãos controladores desses
A detecção de patógenos em sementes
e outros materiais de propagação vegetal parte, do setor agropecuário. insumos.
é uma das mais importantes etapas no sis- Por ser a semente um insumo básico A qualidade sanitária das sementes é,
tema de produção agrícola e torna-se cada para a produção da maioria das espécies atualmente, o aspecto que mais tem me-
vez mais imprescindível pelos reflexos que vegetais de interesse humano, é a sua recido atenção nos sistemas produtivos
produz em termos de garantia de produ- qualidade um aspecto que exige, por parte e no comércio agrícola, considerando-se
ções e sustentabilidade dessas atividades, dos sistemas de certificação de qualidade, os reflexos negativos que a associação de

Enga Agra, D.Sc., Pesq. PNPD/CAPES/UFLA - Depto Fitopatologia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
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2
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Química, Ph.D., Prof. Tit. UFLA - Depto Fitopatologia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: antonia@ufla.br
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patógenos com sementes pode determinar ternational Seed Testing Association (Ista) suas características morfológicas, dificul-
sob diversos ângulos. e, em sua maioria, consistem em estimular tando a identificação precisa, como é o caso
O grande número de patógenos, aliado os microrganismos a produzirem estrutu- de espécies de Phomopsis em sementes de
à alta variabilidade e semelhanças morfo- ras, ou alguns metabólitos, que permitam soja, Drechslera em sementes de arroz e
lógicas entre espécies, que se associam às a sua identificação. trigo e Fusarium em sementes de feijão e
sementes de modo geral é fator complica- Os métodos utilizados na detecção de algodão.
dor para a detecção e identificação correta fungos em sementes baseiam-se em dife- A correta diagnose dos patógenos é,
desses agentes em análises de rotina. Dessa rentes aspectos, que variam desde análise portanto, uma das ferramentas básicas
forma, percebe-se que métodos de detecção visual da amostra e da fração impura, exa- no controle de doenças transmitidas por
e de identificação de patógenos, com base me microscópico da suspensão proveniente sementes. Diferentes trabalhos de pesqui-
em aspectos morfológicos ou outros que da lavagem de sementes, exame de embri- sa têm sido desenvolvidos, investigando
são influenciados facilmente por fatores ões, método do rolo de papel, incubação em metodologias que auxiliem na correta
ambientais, não atendem às necessidades meios de cultura padronizados ou meios detecção, na identificação e até na quanti-
dos sistemas de controle de qualidade em semisseletivos e incubação em substrato ficação de patógenos utilizando diferentes
nível de rotina. Soma-se a estas dificulda- de papel de filtro (blotter test). métodos, combinados entre si ou não.
des o fato de que o atendimento à demanda Esses métodos, apesar de padronizados A Biologia Molecular veio ao encontro
de um grande volume de análises, em cur- e usados em testes de rotina, apresentam dos interesses da fitopatologia, disponi-
tos períodos, faz com que o uso de alguns limitações, quando existe a necessidade da bilizando ferramentas que auxiliam na
testes de sanidade cause maiores proble- diagnose em nível de algumas espécies, diagnose e identificação de patógenos que
mas de natureza logística aos produtores subespécies, variedades e raças. Um bom apresentam dificuldades por métodos tradi-
e usuários de sementes em geral. exemplo é a dificuldade de distinção entre cionais. Essas técnicas, por meio das dife-
Dentre as estratégias que podem ser os agentes da antracnose (Colletotrichum renças existentes entre sequências do ácido
lançadas para a detecção e identificação gossypii) e ramulose (Colletotrichum desoxirribonucleico (DNA), permitiram o
mais rápida e precisa de determinados gossypii var. cephalosporioides) do algo- avanço no conhecimento de genomas de
patógenos, com grandes semelhanças mor- doeiro. Embora sejam relatadas diferenças espécies, subespécies e até raças diferentes
fológicas ou que apresentam dificuldades entre os dois agentes na literatura, na prá- com alto grau de especificidade.
de desenvolvimento nos testes biológicos tica, muitas vezes, não é possível discernir Inicialmente, os trabalhos de diagnose
já conhecidos, está o uso de técnicas com clareza quais os patógenos associados de fungos em sementes consistiam no iso-
moleculares. Por este método, a análise às sementes, já que existe grande variabi- lamento dos fungos dessas sementes e a sua
é mais rápida e acurada. O rápido avanço lidade até mesmo entre os isolados desses detecção era realizada em meios de cultura,
das pesquisas nesse campo já tem disponi- fungos. já que uma das maiores dificuldades para a
bilizado um bom número de métodos para Somam-se a essa dificuldade outras, detecção nas sementes seria a presença de
alguns patógenos que são transmitidos ou como a demora na obtenção de resultados inibidores. Muitas espécies podem conter
transportados pelas sementes de espécies para alguns patossistemas e a dificuldade naturalmente em suas sementes substâncias
hospedeiras. de distinção, quando outros organismos, como taninos, componentes fenólicos e
Neste artigo, o foco está voltado para os também associados às sementes, apresen- carboidratos capazes de inibir ou influen-
principais métodos moleculares existentes tam maior potencial de competição. A iden- ciar a atuação da enzima Taq polimerase
para a detecção de patógenos dos diferentes tificação correta das espécies do complexo utilizada na reação em cadeia da polime-
grupos taxonômicos, com ênfase em fun- Stenocarpella, causadoras da podridão do rase – polymerase chain reaction (PCR).
gos, bactérias e vírus. Para mais detalhes colmo e da espiga do milho, por exemplo, Nesse caso, há redução da sensibilidade,
sobre métodos de detecção de patógenos só é possível com a formação dos picnídios dificultando as amplificações das regiões
em sementes, sob a égide dos Programas e esporos que os identificam. Para isso, é estudadas e gerando resultado falso-nega-
de Certificação no Brasil, recomenda-se necessária a incubação das sementes por 15 tivo, quando a extração é feita diretamente
consultar o Manual de Análise Sanitária dias. Durante esse tempo, o aparecimento de sementes maceradas. Para reduzir esse
de Sementes (BRASIL, 2009). de outros organismos pode comprometer a efeito são recomendadas etapas adicionais
correta identificação daquelas espécies. para a extração de DNA e purificação. São
DETECÇÃO MOLECULAR DE Em relação a outros patossistemas, inú- utilizadas substâncias como clorofórmio e
FUNGOS EM SEMENTES
meras dificuldades ainda constituem desafio fenol para a precipitação de alguns desses
Os critérios utilizados para a detecção para as pesquisas em patologia de sementes. inibidores, ou o uso de kits comerciais, que
de fungos em sementes seguem, de modo Muitas espécies de fungos proximamente têm-se mostrado como um grande facili-
geral, as mesmas regras adotadas pela In- relacionadas encontram similaridade entre tador da técnica, já que agiliza o processo
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de automação para a extração de DNA e genes que codificam para histonas, fator de em cultura pura e na cultura associada à
minimiza a ação dos inibidores. elongação - elongation factor (EF) e beta semente de azevém, e concluíram que a
Apesar das dificuldades apresentadas, tubulina, genes ligados à patogenicidade quantidade necessária para detectar o fun-
diversos trabalhos têm sido desenvolvidos ou à produção de toxinas também têm sido go, quando ele está associado às sementes,
para a detecção de fungos diretamente nas estudados e podem ser bons candidatos é dez vezes maior do que quando está em
sementes. No Quadro 1 estão listados al- para a construção de primers. cultura pura.
guns trabalhos de publicação recente. Para a detecção de fungos, especifi-
A partir de sequências conhecidas é
Nos últimos 30 anos, o avanço em camente em sementes, é necessário que,
possível a amplificação dos fragmentos
estudos de genômica e bioinformática tem independente do método adotado, o par
por meio da técnica PCR. Para a detecção
revolucionado e aproximado ainda mais o de primers seja testado quanto à especi-
de patógenos associados às sementes, os
desenvolvimento de tecnologias de diag- ficidade e otimizado para o máximo de
nose em suporte aos métodos clássicos, sensibilidade, tanto para a colônia pura fatores já descritos anteriormente devem
tornando a detecção de patógeno mais de fungos, como em associação com se- ser ponderados, de modo que evitem a in-
rápida, acurada e sensível. O foco dessas mentes, uma vez que a sensibilidade entre terferência de inibidores que podem gerar
técnicas baseia-se no estudo de regiões do um e outro pode variar. Dombrowski et al. resultados errôneos. Para a patologia de
genoma dos patógenos, a fim de identificar (2006) avaliaram a concentração necessá- sementes, a técnica de PCR, associada a
sequências específicas no DNA. Os marca- ria para a detecção de Neotyphodium sp., outras, tem sido utilizada com sucesso para
dores moleculares como random amplifed
polymorphic (RAPDs), restriction fragment
QUADRO 1 - Exemplos de trabalhos publicados com detecção molecular de patógenos
length polymorphisms (RFLPs), amplifed
diretamente nas sementes
fragment length polymorphisms (AFLP),
Patógeno/Hospedeiro Fonte
microssatélites, dentre outros, têm sido
largamente usados em estudos de diferen- Fusarium circinatum (pinus) Ioss et al. (2009)
ciação de patógenos. Septoria tritici (trigo) Consolo et al. (2009)
Da mesma forma, sequências já conhe- Pyrenophora graminea (cevada) Justesen, Hansen e Pinnschmidt, (2008)
cidas, como por exemplo genes do DNA
Stenocarpella sp. (milho) Barrocas (2008)
ribossomal (rDNA), que são facilmente
obtidos do genoma de fungos, têm sido Botrytis spp. (cebola) Chilvers et al. (2007)
avaliadas. Os rDNAs codificam os RNAs Rhynchosporium secalis (cevada) Ríos, Fernández e Carmona (2007)
ribossomais (rRNAs) e são relativamente Plasmopara hastedii (girassol) Ioos et al. (2007)
conservados entre os fungos, além de
Fusarium oxysporum f. sp. basilici (man- Pasquali et al. (2006)
aparecerem repetidos centenas de vezes jericão)
no genoma fúngico. Estão incluídas as
Neotyphodium (centeio) Dombrowski et al. (2006)
porções 18S, 5.8S e 28S, separadas por
regiões espaçadoras conhecidas como Magnaporthe grisea (arroz) Chadha e Gopalakrishna (2006)
internal transcribed spacer region (ITS) Diaporthe phaseolorum var. meridionalis Vechiato, Maringoni e Martins (2006)
(Fig. 1). Apesar de essas regiões não se- (soja)
rem traduzidas em proteínas, possuem um
papel importante no desenvolvimento das
funções do mRNA, com sequências que
ITS5 ITS1
variam entre espécies, demonstrando ser
promissoras para a construção de primers Nuclear small 5,8 S Nuclear large rDNA
5S ITS1 ITS2
(pequenas sondas de oligonucleotídeos) IGS
rDNA - 18S rDNA 28S
IGS
específicos.
Os estudos de filogenia também com- ITS2 ITS4
plementam os de variabilidade, além da Intergenic
spacer region Internal
possibilidade de identificação da origem de transcribed
isolados e análise de divergência genética spacer region

entre grupos. Nesse estudo, além das regi- Figura 1 - Esquema representativo do DNA ribossomal (rDNA) mostrando a localização
ões ITS e intergenic spacer region (IGS), de primers padrões utilizados na PCR
NOTA: PCR - Polymerase chain reaction.

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o diagnóstico de espécies que apresentam convencional indica somente presença contaminada (CHILVERS et al., 2007).
difícil distinção por meio de marcadores ou ausência do patógeno, o que pode ser Essas vantagens podem ser promissoras
morfológicos, fungos com reduzida espo- um fator limitante para a patologia de para a detecção de patógenos, eliminando
rulação, que produzem micélio estéril e sementes, quando existe a necessidade de muitas barreiras para a sua detecção em
os suprimidos por fungos de crescimento determinar a incidência do patógeno no sementes.
mais rápido, além de estimar o potencial lote. Por outro lado, para patógenos como Normalmente, as técnicas de análise
toxicológico dos fungos em sementes. Sclerotinia sclerotiorum, cujo índice de molecular para fungos são desenvolvidas,
Apesar da grande sensibilidade da tolerância em sementes é zero, o teste pode utilizando culturas puras para identificar
técnica de PCR convencional, os traba- ser recomendado. Para outros patossiste- espécies ou genótipos dentro de popula-
mas, o uso de PCR convencional pode fun- ções. Para patologia de sementes, a utili-
lhos envolvendo a diagnose de patógenos
cionar como um primeiro screening para zação de quaisquer técnicas moleculares
associados às sementes encontram obs-
informar se o lote está infectado ou não, tem sua aplicação prática em um sistema
táculos, quando estão com baixos níveis
permitindo rapidamente a comercialização de análises em escala, se houver o seu
de infestação/infecção. Para contornar o
dos lotes sadios. Para os lotes considerados desenvolvimento para a detecção direta na
problema utiliza-se a Bio-PCR, que tem
infectados, outras técnicas complementares semente, já que pouco se ganha em termos
o objetivo de enriquecer a biomassa do podem indicar a incidência do patógeno. de diagnose, quando existe a necessidade
fungo na semente, para aumentar a sensi- Mesmo com a utilização da PCR con- de isolamento do patógeno em cultura pura
bilidade da técnica e absorção ou diluição vencional, a sensibilidade da técnica ainda para posterior detecção.
de componentes inibidores durante o pe- permite detectar lotes com baixos níveis Muitos desafios ainda existem para a
ríodo de incubação. A Bio-PCR envolve de infecção, conforme pode ser observado detecção de fungos em sementes. Neste
uma etapa de incubação das sementes, na Figura 2.
sentido, percebe-se que o uso das ferra-
em condições de alta umidade relativa, A introdução da PCR em tempo real
mentas moleculares representa um grande
por períodos que podem variar de cinco facilitou o desenvolvimento de trabalhos
avanço e pode contribuir de maneira mais
a sete dias ou mais, dependendo do or- de quantificação dos organismos-alvo de
precisa e rápida para a diagnose preventiva
ganismo-alvo. Apesar do acréscimo de detecção. Durante o desenvolvimento do
desses e de outros microrganismos pato-
mais uma etapa ao processo, para muitos método, é medido o acúmulo dos produtos
gênicos, em associação com sementes de
fungos torna-se indispensável para uma da PCR, o que permite sua quantificação.
plantas cultivadas. Dessa forma, o controle
diagnose confiável. Para o diagnóstico de Quando comparado com a PCR conven-
de importantes doenças pode ser alcançado
Magnaporthe grisea em sementes de arroz cional, apresenta vantagens como maior
com sucesso por meio do manejo sanitário
infestadas, é necessária a sua incubação rapidez, redução do risco de contaminações
preventivo, em que o uso de sementes
em meio batata dextrose ágar (BDA), cruzadas, eliminação da eletroforese para
sadias ou tratadas é uma alternativa eficaz
por 48 horas, a 25°C, sob agitação cons- determinar os resultados da PCR, quantifi-
e de custo relativamente baixo.
cação do patógeno, mesmo em baixíssimas
tante (CHADHA; GOPALAKRISHNA,
quantidades, o que em patologia de semen-
2006). Vechiato, Maringoni e Martins DETECÇÃO MOLECULAR DE
tes torna-se de grande valia, uma vez que
(2006) utilizaram o tempo de sete dias BACTÉRIAS EM SEMENTES
determina o nível de infecção de um lote de
de incubação prévia para a detecção de
sementes. Alguns trabalhos conseguem a A associação com as sementes de seus
Diaporthe phaseolorum var. meridionalis
quantificação de até um esporo por semente hospedeiros é um dos mecanismos de
em sementes de soja.
A Bio-PCR possui vantagens sobre a
PCR convencional, incluindo o aumento
de sensibilidade e a detecção somente de
células viáveis, mas possui desvantagens, 400
pb
como o aumento do tempo para diagnose
e a necessidade de determinação do tem-
po de enriquecimento. O longo tempo de
incubação pode permitir o crescimento Figura 2 - Amplificação do DNA genômico de Stenocarpella maydis em diferentes níveis
de infecção em sementes de milho
de organismos saprófitas, que podem
FONTE: Barrocas (2008).
interferir na detecção do organismo-alvo
NOTA: Linha M= 100-bp DNA ladder; 1-2=100%; 3-4=20%; 5-6= 10%; 7-8=2%;
(DOMBROWSKI et al., 2006). 9-10=1%; 11-12=0%.
É importante ainda salientar que a PCR M – Marcador de peso molecular; bp – Pares de base.

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sobrevivência desenvolvido pelas fitobac- fluorescein isothiocynate (FITC), a qual Recentemente, o uso de sondas fluores-
térias e permite o seu transporte e transfe- pode ser visualizada em lâminas, em mi- centes e em combinação com o citômetro
rência de inóculo no tempo e no espaço croscópio de fluorescência, devidamente de fluxo surgiu como método rápido,
(OLIVEIRA; MOURA; SOUZA, 2005). equipado e apropriado. Células de X. preciso e sensível para detectar e avaliar a
Quando se mencionam bactérias em asso- axonopodis pv. phaseoli e X. axonopodis viabilidade de microrganismos.
ciação com sementes, isso pode significar pv. malvacearum foram identificadas por Sonda fluorescente é um fluorocromo
tanto a bactéria infectando a semente alo- esta técnica em sementes de feijão e algo- capaz de localizar uma região específica
jada em seus tecidos como, simplesmente, dão. O sucesso desse método, bem como em uma amostra biológica ou de responder
infestando-a, isto é, a bactéria aderida na o teste ELISA, depende da especificidade a um estímulo específico. Essas sondas têm
dos anticorpos, que devem ser testados a habilidade de explorar diferentes pro-
semente, sem causar infecção.
antes de serem usados e que, preferen- priedades da célula, tais como: atividade
Com o avanço da biotecnologia, várias
cialmente, não ocorram reações cruzadas enzimática, permeabilidade da membrana
técnicas moleculares têm sido utilizadas
com outras bactérias presentes na amos- citoplasmática, potencial da membrana
em procedimentos de detecção, com o
tra. A sensibilidade do método permite a citoplasmática, atividade respiratória,
intuito de rapidamente diagnosticar e
detecção de 103 UFC/mL e oferece ainda conteúdo relativo de DNA e gradiente de
caracterizar o patógeno. Tais técnicas
a possibilidade de estudar a morfologia pH. Existe um grande número de sondas
baseiam-se em métodos sorológicos, na das células em combinação com reações fluorescentes que podem ser utilizadas
amplificação de uma parte específica do sorológicas8. para detectar e avaliar a viabilidade de
DNA do genoma da bactéria de interesse, A amplificação de uma parte específica microrganismos. As mais utilizadas estão
no desenvolvimento de sondas fluorescen- do DNA do genoma da bactéria de interesse descritas no Quadro 2.
tes e na citometria de fluxo. por meio da PCR, utilizando primers es- O sucesso da técnica na avaliação da
Vários métodos sorológicos são usados pecíficos, caracteriza-se como um método viabilidade e detecção de Clavibacter
para identificar e detectar bactérias fito- rápido, sensível, preciso e específico de michiganensis ssp. michiganensis, X.
patogênicas em sementes, desde os mais detecção e identificação de bactérias fito- campestris pv. campestris e X. axonopodis
simples, como aglutinação em lâminas, até patogênicas, mesmo quando presentes em pv. phaseoli foi relatado por Chitarra et al.
os mais complexos, como enzyme-linked pequenas quantidades e associadas à alta (2006) e Tebaldi (2005) em sementes de
immunosorbent assay (ELISA) e imuno- população saprofítica. Outros métodos tomate, brássicas e feijão.
fluorescência (IF). derivados da técnica, como a Bio-PCR Embora seja uma técnica relativamente
Trujillo e Saettler (1979) compararam desenvolvida por Schaad et al. (1995), que nova, o uso de sondas fluorescentes, em
a análise combinada de meio semisseletivo consiste na análise das colônias bacterianas combinação com o citômetro de fluxo,
e teste de dupla difusão com o teste de primeiramente obtidas em meio seletivo, apresenta grande potencial. Deve ser ex-
patogenicidade padrão. De 175 amostras são utilizados com sucesso na detecção. plorado na fitopatologia, particularmente
testadas, 61 apresentaram reações positivas Como vantagem, a técnica de Bio- na bacteriologia, em que os métodos de
PCR permite a identificação mais rápida detecção e avaliação da viabilidade apre-
pelo teste padrão e 90, pelo teste de dupla
das colônias suspeitas, obtidas nos meios sentam limitações, pois a técnica permite
difusão e meio semisseletivo.
seletivos, do que quando se utilizam os obter informações quantitativas sobre o
O teste ELISA baseia-se na ocorrên-
testes bioquímicos ou a inoculação em número total de células presentes na amos-
cia do complexo antígeno-anticorpo, por
planta hospedeira. Em relação a PCR tra, bem como a porcentagem de células
meio do desenvolvimento enzimático
convencional, as vantagens são as mesmas viáveis, em milhares de células analisadas
rápido de um produto colorido distinto.
mencionadas no tópico anterior. num curto período.
O teste foi utilizado com sucesso na Como desvantagem, as técnicas soroló- Diversas são as técnicas disponíveis
detecção de Xanthomonas axonopodis gicas e de PCR não fornecem informações para a detecção de bactérias em sementes,
pv. phaseoli em sementes de feijão, X. sobre a viabilidade dos patógenos, exceto ficando a critério de cada laboratório a
campestris pv. campestris em folhas de a Bio-PCR, quando amostras naturais são escolha da mais adequada ao patossistema
repolho e Clavibacter michiganensis ssp. usadas; também não permitem a detecção analisado e às condições disponíveis para
sepedonicus em tubérculos de batata. de bactérias diretamente nos extratos de a execução dos trabalhos. Ressalta-se que,
Na imunofluorescência, o anticorpo é sementes, por causa da presença de subs- em muitos casos, é necessária a aplicação
conjugado com uma sonda fluorescente, tâncias inibidoras da reação, e não são de mais de uma técnica para alcançar um
geralmente isotiocianato de fluoresceína – quantitativas. diagnóstico preciso.

8
UFC - Unidade formadora de colônia.

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Biotecnologia 29

QUADRO 2 - Sondas fluorescentes mais usadas em combinação com o citômetro de Desse modo, a escolha do método a
fluxo para detectar e avaliar a viabilidade de microrganismos ser empregado para diagnose dos vírus
Atividade Potencial de em sementes depende de uma série de
Ácido nucleico Imunorreagente
enzimática membrana eventos, como o número de amostras a ser
FDA Rh 123 PI FITC analisado, o tipo de vírus e a sua provável
cFDA BOX DAPI concentração nas sementes e a infraes-
trutura do laboratório que irá processar
cF DiBAC4(3) Sytox Green
as análises. Até os anos 80, as opções de
cFSE EB escolha eram bastante limitadas, e tinham
Calcein AM Syto 9 como método mais sofisticado o sorológico
ChemChrome B ELISA que foi desenvolvido por Clark e
Adams (1977), na sua primeira versão
BCECF-AM
double antibody sandwish (DAS). Apesar
DiOC6(3) de ser um método bastante sensível e de
FONTE: Tebaldi (2005). fácil aplicabilidade, possui como limita-
NOTA: FDA - fluorescein diacetate; cFDA - 5-(and 6-) carboxyfluorescein diacetate; ção o fato de não poder ser aplicado para
cF - carboxyfluorescein; cFSE - 5-(and 6-)-carboxyfluorescein succinimidyl
discriminar estirpes virais estreitamente
ester; Calcein AM - calcein acetoxy methyl ester; BCECF-AM - 2’,7’-bis-(2-
carboxyethyl)-5(6)-carboxyfluorescein acetoxymethyl ester; DiOC6(3) - 3,3’-
relacionadas nem para viroides, uma vez
dihexyloxacarbocyanine iodide; Rh 123 - rhodamine 123; BOX - bisoxonol; que esses não possuem capa proteica para
DiBAC4(3) - bis-(1,3-dibutylbarbituric acid) trimethine oxonol; PI - propidium atuar como antígeno.
iodide; DAPI - 4’,6-diamidino-2-phenylindole; EB - ethidium bromide; FITC - Com a evolução das técnicas de mani-
fluorescein isothiocyanate. pulação e estudo de ácidos nucleicos, na
Biologia Molecular, surgiu a técnica de
DETECÇÃO MOLECULAR DE alvo, de modo que uma decisão equivocada hibridização com cDNA e, pouco tempo
VÍRUS EM SEMENTES pode trazer consequências desastrosas para depois, a de PCR e reverse transcription-
todo o sistema de defesa fitossanitária PCR (RT-PCR), para vírus, cujo ácido
Ao contrário de outras doenças causa-
envolvido. nucleico é o ácido ribonucleico (RNA).
das por patógenos como fungos, bactérias
Quando comparadas às outras unida-
e nematoides, as viroses são de mais difícil Hibridização com ácido
des propagativas, a detecção de vírus nas
controle, por não existir um produto quími- nucleico complementar
sementes verdadeiras é bem mais difícil,
co capaz de interromper ou mesmo impedir A hibridização com cDNA foi desen-
por uma série de motivos. O primeiro
o desenvolvimento da doença na planta. volvida pela necessidade de encontrar uma
deles está relacionado com a concentração
Assim, as medidas de controle devem ser técnica eficiente para a detecção do Potato
de partículas virais nas sementes, que é
de caráter preventivo, visando impedir ou spindle tuber viroid. Pouco depois, tornou-
geralmente baixa, exigindo o emprego de
retardar o máximo possível a chegada do se popular também para a detecção de di-
métodos de alta sensibilidade. A escassez
vírus na planta. Nesse contexto, o uso de de partículas, aliada ao seu tamanho, torna versos vírus em plantas, sendo empregada
unidades propagativas, constituídas por a sua visualização direta ao microscópio tanto para vírus de DNA, com fita simples
sementes verdadeiras ou partes da planta, eletrônico praticamente impossível. Além ou dupla, como para vírus de RNA.
como bulbos, borbulhas, tubérculos e ou- disso, os vírus nem sempre induzem sin- Seu processamento baseia-se na fixa-
tros, comprovadamente livres de vírus, é de tomas visíveis a olho nu nas sementes e, ção do ácido nucleico, extraído da planta
grande importância e representa o princípio quando esses sintomas estão presentes, na ou da parte da planta que se quer analisar,
básico que deve ser observado para evitar maioria das vezes não estão correlaciona- em um suporte sólido, geralmente uma
uma epidemia no campo. dos com a sua transmissão. Finalmente, membrana de náilon ou de nitrocelulose,
A determinação da sanidade das unida- a porcentagem de transmissão dos vírus colocando-a em contato com a sonda que
des propagativas requer o uso de técnicas pelas sementes é, de modo geral, baixa contém a sequência de bases complemen-
de diagnose sensíveis, eficientes e de alta e bastante variável, pois diversos fatores tares a um segmento genômico específico,
repetibilidade, que não ofereçam margens podem influenciar na proporção de semen- que caracteriza o patógeno que se quer
às dúvidas, pois o descarte de um lote de tes infectadas produzidas por uma planta identificar. O único problema é que essa
sementes tem várias implicações econômi- doente, como o vírus, a estirpe e a própria reação de hibridização não pode ser iden-
cas e sociais, onde o produtor é o principal planta hospedeira. tificada, se não houver a incorporação de
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30 Biotecnologia

um agente marcador na sonda empregada. dade, essas técnicas não têm sido muito Multiplex PCR
Embora sondas de cRNA e de cDNA pos- empregadas para diagnose de vírus em
O objetivo do multiplex PCR é detectar
sam ser empregadas, as de cDNA são as sementes verdadeiras, sendo a sorológica
diferentes espécies de vírus ou estirpes do
preferidas, porque os híbridos RNA/DNA ELISA bem mais popular e mais utilizada
mesmo vírus em uma única reação. No
são mais estáveis. em testes de rotina.
caso do Potato virus Y (PVY), por exem-
Os primeiros marcadores emprega- plo, diversas estirpes e variantes genéticas
PCR e RT-PCR
dos foram do tipo isótopos radioativos de uma mesma estirpe podem ocorrer
(fósforo radioativo – 32P) ou enxofre Dentre as técnicas moleculares a PCR
simultaneamente, de modo que o multiplex
radioativo – 35S), o que constitui uma (para vírus de DNA) e a RT-PCR são
PCR torne-se uma importante alternativa
limitação, pois, além do perigo que uma as mais populares, pela sensibilidade,
que permita a detecção de mais de uma
exposição constante a material radioati- especificidade e facilidade de realização
estirpe/variante numa mesma reação.
em laboratório. Desde a implementação
vo proporciona, poucos laboratórios são
dessas técnicas, no final da década de 80, RT-PCR fluorescente
equipados e licenciados para trabalhar com
têm sido intensivamente empregadas para
radioatividade no Brasil. Nesse caso, dois oligonucleotídeos
diagnose de vírus e de viroides e também
O desenvolvimento de marcadores flanqueiam a sequência de interesse e um
para distinção entre estirpes estreitamente
não radioativos, como a biotina e a digo- terceiro oligonucleotídeo com marcação
relacionadas. Essas técnicas baseiam-se no
xigenina, abriu novas perspectivas para uso de um par de oligonucleotídeos com- fluorescente se anela entre eles. Quando
a popularização dessa técnica. A maior plementares a uma dada região do genoma os dois primeiros oligonucleotídeos são
dificuldade foi encontrada na mão-de- viral, que são desenhados para gerar um estendidos pela DNA polimerase, o terceiro
obra qualificada geralmente exigida para fragmento de DNA de tamanho pré-de- é liberado e a fluorescência ocorre. Uma
a realização da técnica, e na ocorrência terminado, com o auxílio de uma enzima variação desse método é a PCR competi-
de falsos-positivos. Figueira, Domier e termoestável, como a Taq DNA polimera- tiva, na qual se utilizam diversos pares de
Darcy (1997) conseguiram simplificar a se. Quando o vírus é de RNA, a reação de oligonucleotídeos com diferentes marca-
técnica de hibridização, utilizando sondas PCR é feita com o DNA complementar ao dores fluorescentes, para detectar infecções
marcadas com biotina, diminuindo o seu RNA viral (RT-PCR), obtido com o auxílio múltiplas, com diferentes espécies/estirpes
de uma transcriptase reversa. de vírus.
tempo de processamento e eliminando
os falso-positivos na detecção do Barley Diversas variações dessas técnicas
IC-RT-PCR
yellow dwarf virus (BYDV) - PAV-IL. têm sido empregadas. Dentre elas podem
A sensibilidade dessa técnica varia ser citadas: nested PCR, multiplex PCR, A técnica de RT-PCR com imunocap-
fluorescence RT-PCR e competitive tura (immunocapture-RT-PCR), para vírus
com o tipo de vírus que se quer identificar,
fluorescent PCR e combinações com de RNA, e IC-PCR, para vírus de DNA,
o tipo de sonda e o conjunto de enzimas
outras técnicas como immuno capture combina a captura do vírus pelo antissoro
e substratos empregados. Borja e Ponz
PCR e RFLP. específico, que pode ser policlonal, com
(1992) detectaram Cherry leafroll virus em
a técnica PCR. Para isso são empregados
160 µg de tecido infectado e em menos de Nested PCR microtubos especiais, com capacidade de
1 ng de RNA viral purificado, utilizando
Essa técnica geralmente é empregada, adsorver as moléculas do anticorpo, da
sondas cromogênicas, e, em 30 µg de te-
quando o vírus encontra-se em baixas con- mesma forma que ocorre nas microplacas
cidos e 250 pg de vírus purificado, quando empregadas para o teste ELISA. Inicial-
centrações na planta ou quando inibidores
utilizou sondas quimioluminescentes. mente é feita a cobertura dos tubos com
da DNA polimerase podem estar presentes
Figueira, Domier e Darcy (1997) detecta- nos tecidos vegetais a serem analisados. o anticorpo específico e depois o extrato
ram o BYDV em 12,5 a 50 ng de tecidos Nesse caso, a PCR é realizada em duas clarificado da planta é então adicionado a
infectados e 0,5 a 2 ng de vírus purificado. etapas. Na primeira, geralmente empre- esse tubo, que é incubado por um período
Maior sensibilidade foi encontrada por gam-se oligonucleotídeos degenerados apropriado, para que as partículas virais
Hu e Wong (1998), que detectaram 50 pg ou randômicos, para aumentar a primeira sejam capturadas. Após a eliminação do
de Cymbidium mosaic virus e 250 pg de reação de PCR, e, na segunda, emprega-se extrato foliar e a lavagem, inicia-se a
Odontoglossum ringspot virus, respecti- uma alíquota do DNA obtido para a segun- transcrição reversa e, em seguida, a am-
vamente9. Mesmo constatada a sensibili- da amplificação. plificação do genoma viral, que é feita no

9
µg – Micrograma; ng – Nanograma; pg – Picograma.

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Biotecnologia 31

mesmo tubo (IC-RT-PCR). Quando o vírus xima geração de sequenciamento genético, BORJA, M.J.; PONZ, F. ��������������������
An appraisal of dif-
tem como ácido nucleico o DNA, após a acoplada à metagenômica, como uma ferent methods for the detection of Cherry
captura das partículas, a reação de PCR já nova ferramenta com potencial para a leafroll virus. Journal of Virological Methods,
pode ser realizada (IC-PCR). Basta adicio- v.36, n.1, p.73-83, Jan. 1992.
diagnose de vírus (ADAMS et al., 2009).
nar a estes os componentes da reação, que Certamente, novas outras técnicas surgi- BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá-
incluem os primers também específicos, rão, em atendimento à demanda crescente ria E Abastecimento. Manual de análise sa-
a enzima Taq DNA polimerase etc. Esses nitária de sementes. Brasília, 2009. 200p.
de alimentos e à necessidade de controle
tubos são apropriados para ser colocados gerada pela intensa circulação de materiais BYSTRICKA, D. et al. Oligonucleotide-based
diretamente no termociclador para o pro- vegetais entre países, ocasionando um microarray: a new improvement in microar-
cesso de amplificação. Pode-se empregar ray detection of plant viruses. Journal of Vi-
constante risco de veiculação e introdução
mais de um tipo de antissoro ao mesmo rological Methods, v.128, n.1/2, p.176-182,
de patógenos indesejáveis. Sept. 2005.
tempo, seguido da utilização de mais de
um par de primers, o que possibilita a de- CONSIDERAÇÕES FINAIS
CHADHA, S.; GOPALAKRISHNA, T. Detec-
tecção de diversos vírus na mesma reação tion of Magnaporthe grisea in infested rice
(multiplex immunocapture RT-PCR ou O avanço da ciência tem permitido seed using polymerase chain reaction. Jour-
o desenvolvimento constante de novas nal of Applied Microbiology, v.100, n.5,
PCR). Essa técnica tem sido considerada
p.1147-1153, May 2006.
como bastante sensível, além de evitar a técnicas ou combinações de técnicas que
ocorrência de falso-positivos. visam à identificação e à caracterização CHILVERS, M.I. et al. A real-time, quantita-
de patógenos em vários níveis taxonômi- tive PCR assay for Botrytis spp. that cause
RFLP neck rot of onion. Plant Disease, St. Paul,
cos. Como é do conhecimento de todos, a
v.91, n.5, p.599-608, May 2007.
Trata-se também de uma combinação sanidade das sementes e das partes propa-
gativas das plantas é um fator fundamental CHITARRA, L. G. et al. The use of fluorescent
de técnicas, em que o produto da PCR é probes to assess viability of the plant patho-
submetido a enzimas de restrição, o que para evitar a disseminação de patógenos e a
genic bacterium Clavibacter michiganensis
permite detectar pequenas diferenças na sua introdução em áreas livres de doenças.
subsp. michiganensis by flow cytometry.
sequência genômica de isolados virais Portanto, a aplicação das técnicas molecu- Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.31, n.4,
distintos, pela obtenção de fragmentos de lares na Patologia de Sementes representa p.349-356, jul./ago. 2006.
DNA de diferentes tamanhos. um forte impulso para essa área do conhe- CLARK, M.F.; ADAMS, A.N. Characteristics
cimento e com possibilidades ilimitadas de of the microplate method of enzyme-linked
Microarranjos crescimento. immunosorbent assay for the detection of
plant viruses. Journal of General Virology,
Apesar de não serem muito utilizados,
os microarranjos têm-se tornado bastante REFERÊNCIAS v.34, n.3, p.475-483, 1977.

populares. Alguns autores têm destacado ABDULLAHI, I.; ROTT, M. Microarray im- CONSOLO, V.F. et al. A conventional PCR
as vantagens de seu uso na diagnose de munoassay for the detection of grapevine technique to detect Septoria tritici in wheat
and tree fruit viruses. Journal of Virologi- seeds. Australasian Plant Pathology, v.38,
vírus (BYSTRICA et al., 2005; BOO-
cal Methods, v.160, n.1/2, p.90-100, Sept. n.3, p. 222-227, Apr. 2009.
NHAM; TOMLINSON; MUMFORD,
2009. DOMBROWSKI, J.E. et al. A sensitive PCR-
2007; ABDULLAHI; ROTT, 2009). Nessa
técnica, o RNA é extraído da planta sadia ADAMS, I.P. et al. Next-generation sequen- based assay to detect Neotyphodium fungi
cing and metagenomic analysis: a universal in seed and plant tissue of tall fescue and
(controle) e da doente, transcrito em cDNA
diagnostic tool in plant virology. Molecular ryegrass species. Crop Science, Madison,
incorporando nucleotídeos marcados com
Plant Pathology, v.10, n.4, p.537-545, Jul. v.46, n.3, p.1064-1070, 2006.
fluorescência (Cy 3 para a planta sadia e
2009. FIGUEIRA, A.R.; DOMIER, L.L.; D’ARCY,
Cy 5 para o material em teste). O cDNA
BARROCAS, E.N. Efeitos de Colletotrichum C.J. Comparison of techniques for detec-
é incorporado e hibridizado ao arranjo
gossypii var. cephalosporioides em semen- tion of Barley yellow dwarf virus-PAV-IL.
(previamente disposto em um suporte
tes e plantas de algodoeiro e detecção, por Plant Disease, v.81, n.11, p.1236-1240, Nov.
de vidro, membrana ou polímero). Após 1997.
meio de PCR, de Stenocarpella sp. em se-
a hibridização, esse suporte é lavado e
mentes de milho inoculadas. 2008. 110p. HU, W.W.; WONG, S.M. The use of DIG-
escaneado para detectar os pontos onde
Tese (Doutorado em Fitopatologia) – Uni- labelled cRNA probes for the detection of
ocorreu a hibridização. versidade Federal de Lavras, Lavras, 2008. Cymbidium mosaic potexvirus (CymMV)
BOONHAM, N.; TOMLINSON, J.; MUMFORD, and Odontoglossum ringspot tobamovirus
Outras técnicas modernas (ORSV) in orchids. Journal of Virological
R. Microarrays for rapid identification of
Com o avanço das técnicas modernas plant viruses. The Annual Review of Phyto- Methods, v.70, n.2, p.193-199, 1998.
em Biologia Molecular, já se fala na pró- pathology, v.45, p.307-328, Sept. 2007. IOOS, R. et al. Development of a PCR test

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32 Biotecnologia

to detect the downy mildew causal agent


Plasmopara halstedii in sunflower seeds.
Plant Pathology, St. Paul, v.56, n.2, p.209-
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IOOS, R. et al. Sensitive detection of Fusarium
circinatum in pine seed by combining an
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Biotecnologia 33

Aspectos legais da proteção de cultivares transgênicas


Waldênia de Melo Moura 1
Paulo César de Lima 2
Ignácio Azpiazú 3
Josiane dos Santos 4
Felipe Rodrigues Reigado 5

Resumo - As cultivares transgênicas são obtidas pela introdução de genes, oriundos


de diferentes espécies e reinos, diretamente no genoma das plantas. Se por um lado
essas cultivares representam um grande avanço para o melhoramento genético, por
outro podem contribuir para um verdadeiro monopólio no mercado de sementes,
em decorrência dos sistemas legais de proteção vigentes. O grande interesse em
desenvolver cultivares transgênicas diz respeito ao patenteamento de processos e
produtos biotecnológicos pela Lei de Propriedade Industrial (LPI), em que se inserem as
patentes. Teoricamente, o detentor da patente de um gene transgênico poderia controlar
todas as cultivares nas quais esse gene fosse introduzido. Uma das formas para evitar
o apropriamento de cultivares por detentores de patentes de gene foi a instituição, no
Brasil, da Lei de Proteção de Cultivares (LPC). Ambas as leis conferem aos detentores
de patentes e aos titulares das cultivares o direito de receber royalties sobre a utilização
e/ou comercialização do material protegido ou patenteado. Portanto, as cultivares
transgênicas, de certa forma, podem ser resguardadas por duas leis, que, algumas
vezes, têm gerado conflitos quanto à sua aplicabilidade. Entretanto, somente podem
ser patenteados os processos e produtos biotecnológicos que envolvam organismos
geneticamente modificados e nunca a cultivar transgênica obtida. Esta, por sua vez, será
protegida apenas por meio da LPC após a emissão de parecer técnico conclusivo emitido
pela CTNBio. E, para que as sementes sejam comercializadas no País, é necessário
registrá-las no Registro Nacional de Cultivares (RNC).

Palavras-chave: Culturas transgênicas. Lei de Propriedade Industrial. Lei de Proteção de


Cultivares. Royalties.

INTRODUÇÃO tivares. Esse avanço tecnológico apresenta interesses econômicos, já que empresas
não só inúmeras vantagens, mas também e países disputam o monopólio dessas
O uso da biotecnologia na obtenção
de plantas transgênicas trouxe uma nova desvantagens e tem gerado polêmicas no novas tecnologias por meio de patentes e
dimensão ao melhoramento genético de mundo inteiro, sendo discutidos desde do mercado de sementes. Apesar de todo o
plantas, desde o rompimento da barreira os riscos da utilização dessas cultivares alvoroço e repúdio de alguns países, prin-
de cruzamentos, inclusive entre espécies para a saúde humana, até os eventuais cipalmente os europeus, o plantio de cul-
de diferentes reinos, até a possibilidade de impactos que possam provocar ao meio tivares transgênicas, principalmente soja,
reduzir o tempo de obtenção de novas cul- ambiente. Por trás dessa polêmica, existem milho e algodão, vem crescendo de forma

Enga Agr a , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: waldenia@epamig.ufv.br
1

2
Engo Agr o , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: plima@epamig.ufv.br
3
Engo Agro, D.Sc., Bolsista CBP&D-Café/U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: aspiazu@gmail.com
4
Eng a Agr a, B.S., Bolsista CBP&D-Café/U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
josisantos22@bol.com.br
5
Eng o Agro, B.S., Bolsista CBP&D-Café/U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
felipe.reigado@bol.com.br

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34 Biotecnologia

substancial em diversos países, como nos este artigo tem como objetivo retratar diferente de outra cultivar; homogênea,
Estados Unidos, Canadá, China, Argentina aspectos importantes dos sistemas legais apresentar uniformidade nas suas carac-
e Brasil. As cultivares transgênicas desper- de proteção que envolvem as cultivares terísticas; ser estável, manter a homoge-
tam grandes interesses econômicos para transgênicas. neidade durante os sucessivos plantios;
o mercado de sementes, em decorrência fazer parte da lista oficial do Ministério
dos atuais sistemas de proteção vigentes. PROTEÇÃO DE CULTIVARES da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Estes sistemas possibilitam a proteção VERSUS TRANSGÊNICOS (MAPA). Além disso, não poderá ter sido
de cultivares e as patentes de processos A Lei no 9.456, de 25 de abril de 1997 oferecida à venda, no Brasil, há mais de
e produtos biotecnológicos relacionados (PINHEIRO, 1997), foi regulamentada um ano em relação à data do pedido de
com o desenvolvimento dessas cultivares, pelo Decreto no 2.366, de 5 de novembro proteção, e não ter sido oferecida à venda
por meio da Lei de Proteção de Cultivares de 1997 (BRASIL, 1997). Desde maio de em outros países, há mais de seis anos,
(LPC) e da Lei de Propriedade Industrial 1999, a proteção de cultivares, no Brasil, para videiras e árvores, e quatro anos para
(LPI), respectivamente. Essas duas leis é feita em atendimento a essa lei e aos outras espécies, com o conhecimento do
são distintas, embora exista uma interface normativos da Ata de 1978 da Convenção obtentor.
entre ambas, quando se trata de cultivares da União Internacional para Proteção das Cultivares que já estão sendo comercia-
transgênicas. Entretanto, somente podem Obtenções Vegetais (UPOV). Uma vez que lizadas há mais de um ano antes do pedido
ser patenteados os processos e produtos o Brasil tornou-se membro da UPOV, foi de proteção podem também ser protegidas,
biotecnológicos que envolvam organismos possível proteger cultivares estrangeiras porém, somente para fins de derivação, isto
geneticamente modificados, enquanto que de países membros da UPOV, no Brasil, e é, para obtenção de outras cultivares. São,
a cultivar transgênica só poderá ser prote- vice-versa. A proteção de cultivares asse- portanto, de domínio público, podendo ser
gida pela LPC, após a emissão de parecer gura ao seu titular o direito de reprodução exploradas comercialmente sem o consen-
técnico conclusivo emitido pela Comis- comercial durante o prazo de proteção. timento do titular. A cultivar a ser protegida
são Técnica Nacional de Biossegurança Ficam vedadas a terceiros a venda ou a deve apresentar os seguintes requisitos: ser
(CTNBio). Portanto, é de fundamental comercialização do material de reprodu- distinta, homogênea e estável; fazer parte
ção sem a autorização do titular. Porém, a da lista oficial do MAPA e observar os se-
importância que em programas de melho-
proteção recairá somente sobre o material guintes prazos: o período entre a primeira
ramento, que visam à obtenção de cultiva-
de reprodução das plantas, ou seja, semen- comercialização e o pedido de proteção
res transgênicas, utilizando-se processos
tes, tubérculos, estacas etc., e nunca sobre deve ter ocorrido até, no máximo, dez anos.
ou produtos biotecnológicos patenteados,
o produto final. O período de proteção é O pedido de proteção deve ser feito até, no
sejam devidamente realizados contratos de
de 15 anos, para espécies anuais, e de 18 máximo, um ano após a inclusão da espécie
parcerias, registrados em cartórios e aver-
anos, para videiras, árvores florestais e na lista oficial do MAPA. Nesse caso, o
bados no Instituto Nacional da Propriedade
ornamentais. período de duração da proteção da cultivar
Industrial (INPI). Com os sistemas legais
O pedido de proteção de cultivares deverá ser abatido do número de anos que a
de proteção, as empresas públicas podem
transgênicas segue os mesmos padrões da- cultivar já se encontra no mercado, quando
adquirir novas fontes de recursos para a for emitido o certificado provisório.
queles aplicados para as cultivares obtidas
pesquisa, uma vez que estes estão cada vez por métodos de melhoramento tradicionais, O pedido de proteção de cultivares é
mais escassos no País. Há também maior diferenciando-se, apenas, quanto ao fato de feito diretamente ao Serviço Nacional de
competitividade entre os setores público e no primeiro caso ter que apresentar cópia Proteção de Cultivares (SNPC), em Bra-
privado e, com isso, espera-se maior pro- do parecer técnico conclusivo emitido sília, DF. Esse órgão é responsável pela
dutividade e qualidade de produtos para o pela CTNBio. A Lei de Biossegurança emissão dos certificados de proteção de
consumidor. É visível o grande interesse (BRASIL, 1995) estabelece as normas e os cultivares e títulos e está vinculado à Secre-
do setor privado na área de melhoramento procedimentos para o desenvolvimento, im- taria de Desenvolvimento Rural do MAPA,
genético, o que pode ser comprovado pelo portação, armazenamento e comercialização atualmente Secretaria de Apoio Rural e
grande número de cultivares protegidas, de OGMs. Até o momento, 151 cultivares Cooperativismo. Para tal, é necessária a
fusões de empresas e aquisições de bancos transgênicas foram protegidas no Brasil realização dos seguintes procedimentos:
de germoplasma, com crescentes números (BRASIL, 2009). a) formulários preenchidos com infor-
de depósitos de patentes de genes trans- Podem-se proteger, para fins de explo- mações sobre a origem genética,
gênicos e de processos biotecnológicos ração comercial, a nova cultivar e aquela cultivar, método de melhoramento
associados aos organismos geneticamente essencialmente derivada, desde que preen- utilizado, nome do melhorista,
modificados (OGMs). Nesse contexto, chidos os seguintes requisitos: ser distinta, obtentor da cultivar (pessoa física
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Biotecnologia 35

e/ou jurídica), descritores mínimos ser obtidos no SNPC, sendo específicos três anos. Durante esse período, o titular da
(características fenotípicas, como para cada espécie de planta. O pedido cultivar receberá remuneração determinada
altura da planta; resistência à doença de proteção de cultivares no exterior, em pelo governo e, após retomar os seus direi-
etc.) e outras informações; países membros da UPOV, ficará sujeito à tos, a duração da proteção será subtraída
b) documento com a denominação da lei daquele país, tendo de pagar, inclusive, pelo número de anos de punição.
cultivar. O nome da cultivar deve ser as taxas exigidas e manter as amostras O direito de proteção pode ser cance-
genérico e, portanto terá a mesma vivas. Essa última exigência não se aplica lado, quando houver renúncia do titular ou
denominação em todos os países a cultivares protegidas sem fins de explo- dos seus sucessores, perda da homogenei-
onde for protegida, exceto onde ração comercial. Portanto, torna-se oneroso dade e da estabilidade da cultivar, ausência
houver problemas com o idioma. protegê-las em vários países. do pagamento da anuidade, não apresenta-
Não são permitidas denominações Uma vez que a cultivar está protegida, ção da amostra viva, quando requerida e,
de marcas registradas e é possível o é proibida a sua venda, reprodução, impor- ainda, caso a cultivar apresente impacto
uso de denominações idênticas para tação, exportação etc., sem autorização do desfavorável. Após o término do período
cultivares, desde que pertençam a de proteção, o direito do titular será extinto
titular. Caso isso ocorra, o infrator terá o
espécies de plantas não afins; e a cultivar torna-se de domínio público.
material apreendido, pagará indenização
c) teste para provar a distinguibilida- e multa de 20% do valor da mercadoria.
de, homogeneidade e estabilidade NOVA PROPOSTA DA LEI DE
Além disso, responderá por crime de vio- PROTEÇÃO DE CULTIVARES
da cultivar (DHE). Orientações de
lação dos direitos do melhorista. Caso haja
como realizá-lo estão contidas nos Diante da necessidade de uma melhor
reincidência, o infrator pagará duas vezes
formulários; adequação da LPC, que visa contribuir
o valor da multa.
d) duas amostras vivas, representadas Não ferem os direitos de propriedade para o combate à pirataria de sementes,
pelo material de reprodução da diminuir a vulnerabilidade da proteção
sobre a cultivar protegida:
planta. Por exemplo, no caso da sobre espécies de propagação vegetativa,
a) quando o pequeno produtor, defi-
soja transgênica, devem-se apre- dentre outros aspectos, foi encaminhada,
nido na lei, multiplicar a semente
sentar dois quilos de sementes. Uma pelo MAPA, uma proposta de mudança
para uso próprio ou trocá-la, nunca
amostra será utilizada para testes de da LPC à Casa Civil, em junho de 2008.
vendê-la;
germinação e a outra, para compor o Essa proposta encontra-se em fase de aper-
Banco de Germoplasma do SNPC; b) na pesquisa, desde que utilizada
feiçoamento nos ministérios participantes
como fonte de variação genética,
e) pagamento de taxas: R$ 200,00 no do processo. A seguir, serão abordados
exceto o repetido uso da cultivar
requerimento, R$ 600,00 na expe- alguns pontos da LPC com as propostas de
para formação de híbridos ou para
dição do certificado e anuidade de alterações, conforme informações obtidas
a criação de cultivares essencial-
R$ 400,00, que será paga durante no MAPA (AVIANI, 2009).
mente derivadas. Nesses casos, é
todo o período de proteção. O valor a) somente as espécies vegetais, com
necessária a autorização do titular
da anuidade pode ser reduzido para descritores publicados no Diário
R$ 320,00, desde que o titular assine da cultivar protegida, ou mesmo
a negociação da porcentagem de Oficial, podem ser protegidas no
termo de fiel depositário da amostra Brasil. Com a nova proposta todas
viva, ou seja, que se responsabilize royalties que venha a receber, caso
sejam obtidas novas cultivares. as espécies vegetais serão beneficia-
pela manutenção desta. Para trans-
das pela LPC;
ferência de titularidade, deve ser
A LPC também criou mecanismos para b) atualmente, os direitos do obtentor
paga uma taxa de R$ 600,00 e, para
punição de abuso do poder econômico ou recaem somente sobre o material
alteração de denominação, razão
mesmo para manobras de mercado. Caso propagativo da cultivar protegida,
social e outras alterações, a taxa é
tais situações ocorram, o governo pode enquanto que na proposta de alte-
de R$ 200,00 (valores equivalentes
utilizar de dois mecanismos: emitir licen- ração, os direitos serão extensivos
ao ano 2009);
ça compulsória a terceiros ou determinar ao produto comercial da colheita ou
f) manutenção de amostra viva du-
o uso público restrito, também usado em qualquer produto feito diretamente
rante todo o período de proteção
casos de catástrofes. Em ambos os casos, deste;
da cultivar.
o titular perde o direito de exploração da c) dentre as exceções ao direito do
Todos os formulários citados contêm cultivar protegida por três anos, podendo obtentor, qualquer agricultor pode
orientações de como preenchê-los e podem essa determinação ser prorrogada por mais produzir material propagativo de
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36 Biotecnologia

qualquer espécie protegida para uso Administrativo de Defesa Econô- certificados de proteção de cultivares,
próprio. A proposta de mudança é mica (Cade), autarquia vinculada incluindo as geneticamente modificadas
que somente os pequenos agriculto- ao Ministério da Justiça. Com a e as não modificadas. Desses certificados,
res, isentos do imposto de renda, po- mudança, esse passa a ser decidido 1.140 são de caráter de proteção definiti-
derão produzir material propagativo por Decreto Presidencial, ouvido va e 88 de proteção provisória. Dentre as
para uso próprio ou troca, exceto o ministro do MAPA e mediante espécies passíveis de proteção no Brasil,
para plantas ornamentais; parecer do Cade; a soja, o trigo, a cana-de-açúcar, a roseira,
d) a vigência da proteção é de 15 e 18 h) quanto às proibições e sanções da a batata, o algodão e o arroz apresentam o
anos para espécies anuais e perenes, LPC, aquele que vender, oferecer à maior número de cultivares protegidas, re-
respectivamente, e passa a contar venda, reproduzir, importar, exportar, fletindo importância econômica e o maior
a partir da publicação do pedido, bem como embalar ou armazenar
dinamismo dessas espécies (Quadro 1).
quando ocorre a emissão do Certi- para esses fins ou ceder, a qualquer
Já o café, um dos principais produtos de
ficado Provisório. Com a alteração, título, material de propagação de
exportação do Brasil, apresenta apenas seis
o período de vigência passará a ser cultivar protegida, com denomi-
certificados de proteção, provavelmente
de 20 e 25 anos, o prazo de proteção nação correta ou com outra, sem
autorização do titular, fica obrigado por se tratar de uma cultura perene e com
será contado a partir da emissão do baixo retorno de royalties.
Certificado de Proteção, e a proteção a indenizá-lo, em valores a serem
determinados em regulamento, além A soja apresenta 417 certificados emiti-
provisória passa a ser garantida a
de ter o material apreendido. Pagará dos no País, representando 34% das cultiva-
partir da publicação do pedido de
multa equivalente a 20% do valor res protegidas no Brasil, sendo que a maioria
proteção;
comercial do material apreendido, dessas estão sob domínio de empresas
e) o teste DHE é realizado pelo ob- incorrendo, ainda, em crime de vio- privadas. Das 151 cultivares transgênicas
tentor da cultivar a ser protegida e lação dos direitos do melhorista, sem protegidas no Brasil, 141 (93%) são de
apresentado no momento do pedido prejuízo das demais sanções penais soja e 10 (7%) são de algodão (Quadro 1).
de proteção. Na proposta de mu- cabíveis. Na proposta de mudança, Existem outras cultivares transgênicas de
dança, poderão ser realizados pelo serão caracterizados os crimes e defi- milho, feijão e arroz que ainda não estão
obtentor ou executores credenciados nidas as penas para atos que violem o protegidas.
o pedido de proteção com o teste direito dos obtentores. Viola o direito
A expansão da área plantada com culti-
de DHE completo ou o pedido de de proteção aquele que comercializar
vares transgênicas revela o aumento da im-
proteção com o teste de DHE parcial ou tiver em estoque, com o propósito
ou não realizado; portância dessas cultivares na agricultura.
de comercialização, cultivar protegi-
No Brasil, ocorreu um aumento de 5,3%
f) no pedido de proteção de uma cul- da ou suas partes, objetivando plantio
ou semeadura, independentemente na área plantada com transgênicos na safra
tivar é necessária a entrega de uma
de utilizar sua denominação correta, 2008/2009 em relação à safra do ano an-
amostra viva (material propagativo)
com violação dos direitos do titular terior, atingindo 15,8 milhões de hectares
para o SNPC ou, nos casos de espé-
cies de propagação vegetativa, deve e reproduzir ou multiplicar, com (JAMES, 2008). Desse total, 14 milhões de
ser mantida pelo obtentor como fiel finalidade de comercializar ou de hectares são destinados ao cultivo da soja,
depositário nomeado pelo SNPC. obter lucro, material propagativo 400 mil ao cultivo do algodão e 1,4 milhão
Na nova proposta, o obtentor obri- ou produto de colheita de cultivar destinados ao cultivo de milho. Essa será
ga-se a manter uma amostra viva protegida, com violação dos direitos a primeira safra de milho transgênico per-
(material genético de propagação do seu titular. Será aplicada a pena de mitida por lei no País, e esse milho ainda
da cultivar protegida), à disposição detenção de três meses a um ano ou não tem certificado de proteção, provavel-
do SNPC, e a proteção será efeti- multa. A pena é aumentada, quando mente por possuir uma proteção natural,
a infração for cometida por terceiros principalmente os híbridos, que implica na
vada mediante entrega de material
com acesso privilegiado à cultivar
representativo (a ser definido em perda de características produtivas de uma
protegida.
regulamento, conforme a espécie: geração para a outra, o que inviabiliza o uso
semente, ácido desoxirribonucleico de parte da colheita para plantio posterior.
(DNA) ou outro tipo de material) da CULTIVARES PROTEGIDAS NO Para a safra 2009/2010, há uma perspectiva
cultivar para o SNPC; BRASIL
de aumento da área plantada de cultivares
g) o licenciamento compulsório, atu- No período de 1o de janeiro de 1998, até transgênicas, principalmente por causa da
almente é decidido pelo Conselho 30 de junho de 2009, foram emitidos 1.228 expansão da área plantada com milho.
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Biotecnologia 37

QUADRO 1 - Número de certificados emitidos (NCE) no Brasil, para cultivares protegidas convencionais e transgênicas, no período de janeiro
de 1998 a junho 2009 (continua)
Cultivares convencionais Cultivares transgênicas
Titulares Titulares Total
Espécies
NCE Setor privado Setor público NCE Setor privado Setor público (NCE)
(%) (%) (%) (%)
Abacaxi 03 67 33 - - - 03
Alface 26 96 04 - - - 26
Algodão 48 50 50 10 100 0 58
Alstroemeria 12 100 00 - - - 12
Antúrio 13 100 00 - - - 13
Arroz 58 34 66 - - - 58
Aveia 07 71 29 - - - 07
Bananeira 01 0 100 - - - 01
Batata 64 95 05 - - - 64
Begônia 01 100 00 - - - 01
Begônia Elatior 17 100 00 - - - 17
Braquiária 04 75 25 - - - 04
Café 06 0 100 - - - 06
Calancoe 37 100 00 - - - 37
Cana-de-açúcar 80 64 36 - - - 80
Capim-colonião 02 100 00 - - - 02
Capim-elefante 01 100 00 - - - 01
Cebola 01 0 100 - - - 01
Cenoura 03 100 00 - - - 03
Centeio 01 0 100 - - - 01
Cevada 06 33 64 - - - 06
Copo de leite 07 100 00 - - - 07
Crisântemo 12 100 00 - - - 12
Ervilha 02 100 00 - - - 02
Eucalipto 28 100 00 - - - 28
Feijão 34 21 79 - - - 34
Feijão-vagem 02 100 - - - - 02
Gergebra 12 100 - - - - 12
Grama-esmeralda 02 100 - - - - 02
Guandu 01 - 100 - - - 01
Guzmania 04 100 - - - - 04
Gypsophila 02 100 - - - - 02
Lírio 09 100 - - - - 09
Maçã 02 100 - - - - 02
Maçã frutífera 13 85 15 - - - 13
Macrotyloma 01 100 - - - - 01
Mamona 01 - 100 - - - 01
Milheto 08 100 - - - - 08
Milho 38 11 89 - - - 38
Morango 08 100 - - - - 08
Paspalum vaginatum 01 100 - - - - 01

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38 Biotecnologia

(conclusão)
Cultivares convencionais Cultivares transgênicas
Titulares Titulares Total
Espécies
NCE Setor privado Setor público NCE Setor privado Setor público (NCE)
(%) (%) (%) (%)
Pera frutífera 01 100 - - - - 01
Pera porta-exterto 01 100 - - - - 01
Poinsetia 02 100 - - - - 02
Roseira 82 100 - - - - 82
Soja 276 54 46 141 79 21 417
Sorgo 21 09 91 - - - 21
Trigo 90 52 48 - - - 90
Triticale 04 75 25 - - - 04
Videira 13 46 54 - - - 13
Violeta africana 09 100 - - - - 09
Total 1.077 151 1.228
FONTE: BRASIL (2009).

No mundo, o aumento da área plantada


com transgênicos na safra de 2008/2009 foi
de 9,4%, atingindo 125 milhões de hectares
em 2008. Os principais países produtores
são os Estados Unidos, com 62,5 milhões
de hectares, seguido da Argentina com 21
milhões e o Brasil em terceiro, com 15,8
milhões de hectares. A Índia, onde se culti-
va algodão, foi o país que apresentou maior
expansão da área plantada, 23% em relação
à safra anterior, atingindo 7,6 milhões de
hectares. Na China, existem 3,8 milhões de
hectares plantados com culturas transgêni-
cas, como algodão, tomate, mamão papaya
Gráfico 1 - Área mundial cultivada com plantios convencionais e transgênicos, safra
etc. (JAMES, 2008). Na safra 2008/2009, 2008/2009
a área total mundial cultivada com soja foi FONTE: JAMES (2008).
estimada em 95 milhões de hectares, sendo
70% dessa cultivada com soja transgênica.
No caso do algodão, a área total estimada no Brasil, 67% estão sob o domínio de são a Monsoy (Monsanto), Fundação MT,
foi de 35 milhões de hectares, com 46% empresas privadas, enquanto que os 33% Nidera S/A e Dupont do Brasil. Já no setor
destinados às lavouras transgênicas. O restantes estão sob domínio das empresas público, a Embrapa é a empresa com maior
milho foi cultivado em 157 milhões de públicas. Com relação aos transgênicos, número de certificados (Gráfico 3).
hectares, sendo 24% dessa área cultivada 81% dos certificados estão sob domínio
com milho transgênico (Gráfico 1). de empresas privadas e 19% em empresas CULTIVARES TRANSGÊNICAS
Com relação aos titulares de cultiva- públicas. Todas as cultivares de algodão VERSUS PATENTES
res, observa-se, no cenário nacional, um transgênicas protegidas pertencem à em-
número bastante representativo de empre- presa privada Delta & Pine (Gráfico 2). A Lei no 9.279, de 14 de maio de 1999
sas privadas nacionais e transnacionais e No caso da soja, 79% das cultivares são (BRASIL, 1996), disciplina os direitos e
pouca expressão do setor público, com de empresas privadas e 21% das cultivares obrigações referentes à propriedade in-
exceção da Empresa Brasileira de Pesquisa pertencem ao setor público. Com relação dustrial. A proteção dos direitos relativos
Agropecuária (Embrapa). Dos 1.228 certi- ao setor privado, as empresas que detêm a essa lei abrange vários aspectos, dentre
ficados de proteção de cultivares emitidos um maior número de certificados emitidos os quais a concessão de patentes.
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Biotecnologia 39

critiva. Além disso, as invenções devem


apresentar atividade criativa e os modelos
de utilidade devem decorrer de ato inven-
tivo que resulta em melhoria funcional no
seu uso ou fabricação.
Em se tratando de cultivares transgêni-
cas, dois aspectos devem ser considerados:
os métodos e os processos tecnológicos e
a cultivar propriamente dita. No primeiro
caso, enquadram-se as metodologias de-
senvolvidas para produzir essas cultivares,
por exemplo, o isolamento, a clonagem e
a transferência de genes modificados para
as plantas, etc. Esses processos podem ser
patenteados. Já as cultivares transgênicas,
Gráfico 2 - Número de certificados de cultivares transgênicas protegidas e seus titulares obtidas ou não por métodos patenteados,
no Brasil, 2009.
não são passíveis de patente e sim de pro-
teção por meio da LPC.
Os depósitos de pedidos de patentes
que envolvam processos de modificações
genéticas seguem os mesmos princípios
estabelecidos na lei para qualquer inven-
ção. Podem ser efetuados não só na sede
do INPI, no estado do Rio de Janeiro, como
também nas Delegacias e Representações
Estaduais. Já os pedidos de proteção para
as cultivares transgênicas somente poderão
ser efetuados no SNPC, em Brasília, DF.
Os pedidos de patentes devem ser so-
licitados em formulários específicos, em
três vias, contendo:
a) relatório com descrição suficiente,
clara e completa do objeto do pe-
dido;
b) reivindicação, definindo a matéria
Gráfico 3 - Empresas titulares de cultivares transgênicas de soja protegidas no Brasil,
para a qual a proteção é solicitada,
2009. estabelecendo-se os direitos do inven-
tor/criador;

Patentes são títulos de propriedade No âmbito da biotecnologia, as patentes c) desenho, não obrigatório;
temporários sobre uma invenção, mo- têm por objeto os produtos ou processos d) resumo, sumário da descrição téc-
delo de utilidade ou desenho industrial, biotecnológicos que abrangem as áreas de nica do pedido de patente;
concedidos pelo Estado aos detentores de Microbiologia, Bioquímica, Imunologia e e) comprovante de recolhimento.
direitos sobre a criação, seja pessoa física Genética. Entretanto, para que seja requeri- Há ainda o pagamento das seguintes ta-
ou jurídica. A patente confere ao titular do um pedido de patente, é necessário que xas: R$ 200,00, na solicitação do depósito;
o direito de impedir terceiros, sem que o objeto, produto ou processo, atenda aos no caso de pessoas físicas, microempresas,
haja consentimento, de produzir, usar, seguintes requisitos: novidade, utilização instituições de ensino e pesquisa, esse va-
vender ou importar produtos patenteados. ou aplicação industrial e suficiência des- lor cai para R$ 80,00; os mesmos valores
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40 Biotecnologia

valem para a expedição da carta patente. c) teor melhorado de aminoácido con- tubérculo etc., da cultivar protegida, que é
Além dessas taxas, pagam-se também as tendo enxofre; repassada ao titular da cultivar, seja pessoa
anuidades, cobradas a partir do início do d) controle de lagarta-de-milho via física, seja jurídica. Essa taxa é acrescida
terceiro ano de depósito, que variam de formação de limoneno com genes ao preço do material de reprodução da
R$ 660,00, no início, a R$ 1.690,00, nos de geminivírus; cultivar, elevando os custos de produção
últimos anos. A patente de invenção vigo- e) resistências múltiplas a vírus e o e, consequentemente, o preço do produto
rará pelo prazo de 20 anos e a de modelo processo para sua produção; final. Com isso, os royalties serão pagos
de utilidade, por 15 anos, contados da data f) poli-hidroxialcanoatos; pelos consumidores. No entanto, para a
do depósito6. A manutenção dos direitos do comercialização de sementes ou outro
g) resistência ao glifosato etc.
titular da patente depende de uma série de material de reprodução, é necessário que
fatores, como o pagamento das anuidades e Além disso, há também a possibilidade a cultivar esteja registrada no Registro
a exploração efetiva do objeto patenteado, de patentear processos e produtos, tais Nacional de Cultivares (RNC).
o que deverá ocorrer num prazo máximo como os envolvidos na obtenção de plantas A lei não estabelece valores de royalties
de três anos a partir da concessão. Uma transgênicas; identificação de promotores; a serem cobrados. No entanto, tal valor tem
vez iniciada a exploração, não pode haver construção de vetores para introdução de variado entre 3% e 5% do custo da semente.
interrupção por tempo superior a um ano. genes na planta, produto de expressão e kits
O valor dos royalties pode ser influenciado
À patente que não for explorada, poderá de expressão etc. (REVISTA PATENTES,
por vários fatores, destacando-se a tecnolo-
2000). A grande maioria desses depósitos,
ser concedida uma licença compulsória e, gia empregada na obtenção das cultivares.
quase que exclusivamente, foi solicitada
caso essa não se revele suficiente por um Por exemplo, cultivares transgênicas de
por empresas transnacionais, como a Mon-
período de dois anos, poderá ser declarada soja terão valores de royalties diferencia-
santo e a Syngenta.
sua caducidade e sua extinção decorrentes dos de cultivares de soja não transgênicas;
Assim, as cultivares transgênicas esta-
da falta de exploração efetiva do objeto. atributos que a cultivar venha a oferecer,
riam protegidas de duas maneiras, ou seja,
Portanto, é importante a comercialização indiretamente, pela patente do processo ou seja, acúmulo de características desejá-
da patente feita por meio de licenças. Exis- e/ou produto do gene e, diretamente, pela veis, como resistência a doenças, pragas,
tem três formas de licenças: lei de proteção de cultivares. As comple- melhor qualidade nutricional etc.; oferta
a) voluntária, que licencia terceiros a xidades dessas leis acabam por provocar de cultivares no mercado, pois, com maior
fabricar e a comercializar o produto dúvidas quanto a sua interpretação, dei- oferta, gera-se competição e, consequen-
ou o processo; xando margens para uma série de questio- temente, há uma tendência de queda nos
namentos. Pela LPC, o pequeno produtor, valores de royalties, evitando-se, assim,
b) a compulsória, que é uma forma
definido na lei, pode utilizar e produzir o monopólio de mercado. Portanto, ao
de evitar abuso de poder e a não
sementes da cultivar de soja transgênica considerarem-se os aspectos apresentados,
exploração de patentes no prazo
para uso próprio, sem o consentimento os valores de royalties podem variar não
previsto em lei;
do titular, não podendo, de forma alguma, só entre as espécies de plantas, mas tam-
c) oferta de licença, que é feita pelo INPI, comercializá-las. A pesquisa também foi
com a autorização do titular. bém entre cultivares da mesma espécie,
resguardada por essa lei, portanto, pode-
independentemente da tecnologia utilizada
No Brasil, já existem vários depósitos se utilizar a cultivar de soja transgênica
para sua obtenção. Ressalta-se, ainda, que
como fonte de variação genética, sem o
de patentes de invenção, os quais envol- a LPC estabelece punição para os casos de
consentimento do titular, exceto no caso
vem processos e produtos biotecnológicos abuso de poder.
de usos repetitivos.
associados aos organismos geneticamente No Quadro 2, é apresentado o efeito
modificados, publicados periodicamente da cobrança de royalties no custo final de
ASPECTOS ECONÔMICOS DA
pelo INPI, tais como plantas transgênicas
COBRANÇA DE ROYALTIES produção de várias espécies de plantas. Ob-
que possuem: SOBRE AS CULTIVARES serva-se que maiores valores de royalties
a) teor aumentado de amido; PROTEGIDAS são obtidos para espécies que apresentam
b) fonte alternativa de enzimas degra- O royalty, no caso de produtos vege- a semente com maior participação no custo
dadoras lignocelulósicas, expres- tais, é uma taxa cobrada sobre a venda do de produção, o que trará maiores retornos
sando enzimas celulolíticas; material de reprodução, semente, estaca, econômicos para os titulares e, certamente,

6
Valores equivalentes ao ano 2009.

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Biotecnologia 41

QUADRO 2 - Efeito da cobrança de royalties no custo final de produção


Participação da semente no custo de Acréscimo no custo final de produção
Espécies produção Royalties de 3% Royalties de 5%
(%)
% R$/ha % R$/ha
Arroz de sequeiro 16,30 0,49 1,46 0,82 2,43
Batata 35,30 1,06 63,00 1,76 104,90
Feijão de sequeiro 19,84 0,6 3,00 0,99 5,00
Feijão irrigado 11,84 0,36 3,00 0,59 5,00
Milho (grão) 4,91 0,15 0,71 0,25 1,19
Soja 11,33 0,34 1,35 0,57 2,35
Cana-de-açúcar 4,54 0,14 1,68 0,23 2,80
FONTE: EMATER-DF (apud PINHEIRO, 1997).

terão programas de melhoramento genético 0,66%); cenoura (2,6% a 3,0%); beterraba 2008, a Cooperativa Central de Pesquisa
mais fortes. (4,8% a 5,9%) e abóbora japonesa (7,1%), Agrícola (Coodetec), uma das líderes no
Dentre as espécies citadas, a batata (BUSO, 1998). A Monsanto, detentora da mercado de semente de soja no Brasil,
apresentou o maior retorno econômico e tecnologia Roundup Ready™ (RR), cobra com, aproximadamente, 25% do mer-
os maiores acréscimos no custo final de R$ 0,35 por quilo na compra de semente cado, e a divisão de milho da Agromen
produção. Considerando-se a hipótese do certificada de soja. A BASF cobra R$ 0,33 Sementes Agrícolas Ltda., que tem cerca
royalty de 3%, de acordo com Pinheiro por saca de 50 kg de sementes de arroz de 11% de participação no mercado. A
(1997), a participação de 35,5% da batata- transgênico tolerante a herbicida. Monsanto adquiriu diversas empresas,
semente no custo de produção passaria para tais como Calgene, Asgrow, Dekalb, o
algo em torno de 36%, significando um IMPACTOS DAS PATENTES E setor de sementes da Cargill e Seminis.
PROTEÇÃO DE CULTIVARES
aumento de R$ 63,00 por hectare no custo No Brasil, comprou a Agroceres, maior
NA PESQUISA
de produção. Quando tal acréscimo for produtora de sementes de milho do País; o
diluído no custo por quilo do produto final Os impactos esperados com a utilização setor de sementes de soja da FT Pesquisas
de tecnologias patenteadas e a proteção
(24 t/ha), no Distrito Federal, haverá um e Sementes Ltda.; a Agroeste e, em 2009,
de cultivares são vários e destacam-se a
acréscimo entre R$ 0,10 e R$ 0,15 por saca comprou a MDM Sementes de Algodão
seguir.
de 50 kg. Buso (1998) cita vários exemplos Ltda. e as empresas de melhoramento ge-
de valores de royalties cobrados em diversos Maior investimento do nético e biotecnologia de cana-de-açúcar
países, como seguem: na Holanda, o valor setor privado na pesquisa CanaVialis S.A. e Alellyx S.A. do Grupo
médio do royalty é de US$ 0.02 por quilo Votorantim. Além disso, fundiu-se com a
O interesse do setor privado no me-
de batata-semente, correspondendo, aproxi- lhoramento genético é decorrente dos gigantesca Holdens Foundation e empresas
madamente, a R$ 0,72 por caixa de 30 kg benefícios advindos da LPC e LPI. Os de biotecnologia como Agracetus, Delta
ou a R$ 45,00 por hectare, o que resulta em híbridos já possuem um sistema natural & Pine (GRAIN, 1997 apud KLEBA,
um acréscimo em torno de 2% no custo de de proteção, entretanto, as cultivares 1998), Fontanelle Hybrids, NC+ Hybri-
produção. Já no Chile, o valor do royalty autógamas e de propagação vegetativa ds, entre outras. Uniu-se também à Dow
é de 5% no preço final da batata-semente. dependem fortemente de um estatuto AgroSciences para desenvolver o SmartStax,
Considerando-se que a participação desse legal de proteção para viabilizá-las eco- semente de milho com oito combinações de
insumo contribui com 30% a 50% do nomicamente (CARVALHO, 1997). Esse genes, com tolerância a herbicida e a ata-
custo de produção, os acréscimos estarão crescimento também tem sido decorrente que de insetos. A Monsanto, atualmente,
entre 1,5% e 2,5%. No Brasil, para outras das aquisições e fusões de empresas que disputa o mercado mundial com outras
hortaliças em que o custo da semente ou detêm germoplasmas elites pelas gigantes- duas gigantes: a DuPont e a Syngenta.
outro material de reprodução representa cas transnacionais, detentoras de patentes A DuPont, por sua vez, adquiriu 20%
pequena porcentagem no custo final, o de pesquisas genéticas. Nesse contexto, da Pioneer Hi-Breed, destacada empresa
aumento seria insignificante. Por exem- a Dow Agrosciences, subsidiária da The de pesquisa biotecnológica (ALMEIDA,
plo: batata-doce (0,47%); alface (0,62% a Dow Chemical Company, adquiriu, em 1998), a AgarCross e a Griffin Ltda. A
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42 Biotecnologia

Syngenta surgiu no ano de 2000 pela fusão terão prioridade no melhoramento genéti- Incentivo aos pesquisadores
das empresas Astra Zeneca, do México, e co. Esse reflexo é observado pelo grande
Espera-se que, com a legislação vigen-
Novartis, da Suíça. Adquiriu a Advanta BV, número de cultivares de soja protegidas nos
te, os pesquisadores sejam mais valoriza-
uma das maiores empresas de sementes EUA e, de certa forma, no Brasil, onde dos e incentivados, uma vez que o produto
do mundo. Em 2004, firmou um acordo já responde por 34% dos títulos emitidos do seu trabalho poderá trazer grandes
com a Delta & Pine Land dos EUA, para até 2009. benefícios para as empresas, seja pela
o desenvolvimento e comercialização de Outro ponto a considerar é o ciclo da patente de produtos e/ou processos biotec-
produtos de biotecnologia para algodão. cultura. As espécies anuais são mais atrati- nológicos, seja pela proteção de cultivares.
Posteriormente, adquiriu a Emergent Ge- vas que as semiperenes e perenes, pois, no Entretanto, o pesquisador somente poderá
netics Vegetable A/S, a Zeraim Gedera e a primeiro caso, o produtor pagará royalties usufruir desses direitos se for estipulado
empresa chinesa de sementes Sanbei. Em todo ano ao adquirir sementes para im- em contrato. Caso contrário, todos os be-
2008, realizou uma parceria com a DuPont plantar a lavoura. Já no caso das culturas nefícios pertencerão à empresa. Portanto,
para desenvolvimento de tecnologias para perenes, como fruteiras, espécies flores- as instituições devem rever seus contratos
controle de insetos em milho. tais, café etc., o produtor pagará royalties ou mesmo realizar contratos específicos.
somente na implantação das lavouras, que Wolff (1997) comenta o incentivo dado aos
Aumento da parceria de serão exploradas por vários anos, ou então, pesquisadores nas universidades e centros
pesquisas entre os setores de pesquisa em diversos países, como na
caso resolva aumentá-las ou renová-las.
público e privado
Além desse aspecto, o melhoramento gené- Alemanha, EUA, Japão e Suíça. Nos EUA,
É crescente o número de parcerias já tico das culturas perenes é mais demorado, foram criados centros de transferências
existentes no País entre os setores público e quando comparado com as culturas anuais de tecnologia que tratam dos direitos da
privado após a entrada em vigor do sistema e, dependendo do modo de reprodução da propriedade intelectual, dando apoio aos
de proteção de plantas. Como exemplo, a espécie, pode-se levar até 30 anos para pesquisadores. Especificamente na Univer-
Monsanto e a Syngenta têm realizado par- sidade da Califórnia, onde os royalties são
lançar cultivares no mercado, sendo pouco
cerias com várias universidades e institui- divididos em 50% com os pesquisadores e
interessante investir nessas espécies. De
ções de pesquisas ou mesmo cooperativas. os licenciamentos das patentes respondem
certa forma, estas ficaram prejudicadas,
por 30% a 40% da receita da universidade.
Com isso, cria-se, de um lado, a estrutura até mesmo pelo pouco período de proteção
Também no Brasil, várias universidades já
em pesquisas biotecnológicas e, do outro, que a lei estabelece para tais espécies. Na
dividem os royalties com os professores e
um gigantesco banco de germoplasma. verdade, a LPC deixa a desejar em muitos
pesquisadores. Na Universidade de São
Essas parcerias visam não só o desenvol- aspectos, ao tratar-se de plantas perenes e
Paulo (USP), a divisão é feita ao meio, e
vimento de pesquisas conjuntas para novas de propagação assexuada. parte dos recursos destinados à universi-
cultivares e realização de testes de plantas dade é investida no núcleo de pesquisa do
transgênicas, mas também o licenciamento Surgimento de empresas
prestadoras de serviço inventor (WOLFF, 1997). Na Universidade
de produtos e processos biotecnológicos Federal de Viçosa (UFV), a divisão é feita
patenteados. Já é possível encontrar, no Brasil, da seguinte forma: 50% para a Pró-Reitoria
Ressalta-se que sempre devem ser empresas e/ou pessoas físicas disponíveis de Pesquisa e Pós-Graduação e 50% para
celebrados contratos entre as partes inte- para realizar tanto a patente de produtos os Departamentos aos quais pertencem os
ressadas, para não haver dúvidas quanto à e processos, quanto o pedido de proteção autores e inventores.
participação na parceria e no produto final de cultivares. Existem, também, serviços Podem-se, ainda, citar outros impactos
obtido. Em se tratando de transgênicos, é para a realização de testes de DHE e ma- com esse complexo de leis, tais como a
importante que o contrato seja averbado no nutenção de amostras vivas em bancos de redução na permuta de germoplasma,
INPI e registrado em cartório, pois trata-se germoplasma, tais como o Centro Tecnoló- introdução de cultivares estrangeiras no
de um produto ou processo patenteado. gico para Pesquisas Agropecuárias, a Fun- País, novas fontes de recursos para pes-
dação Pró-Sementes de Apoio à Pesquisa, quisa, maior competição entre os setores
Direcionamento do a Fundação Centro-Oeste de Pesquisa e público e privado e maior produtividade e
melhoramento genético de Desenvolvimento e a Fundação Triângulo qualidade de produtos.
plantas
de Pesquisa e Desenvolvimento. Outro
Há de se considerar que as espécies de aspecto importante será o desenvolvimento CONSIDERAÇÕES FINAIS
plantas que trazem maiores retornos eco- de testes biotecnológicos utilizados na Apesar de todos os benefícios aponta-
nômicos oriundos da cobrança de royalties distinção de cultivares. dos, advindos dos sistemas de proteção de
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Biotecnologia 43

cultivares transgênicas ou não, em decor- BRASIL. Decreto no 2.366, de 5 de novem- Ciências & Tecnologia, Brasília, v.14, n.3,
rência da globalização, observa-se que os bro de 1997. Regulamenta a Lei no 9.456, de p.365-409, set./dez. 1997.
25 de abril de 1997, que instituiu a Proteção
beneficiados serão sempre os que detêm o JAMES, C. Global status of commerciali-
de Cultivares, dispõe sobre o Serviço Nacio-
conhecimento e o poder econômico e po- zed biotech/GM crops: 2008. Ithaca, NY:
nal de Proteção de Cultivares – SNPC, e dá
lítico, nos quais a pesquisa tem prioridade outras providências. Diário Oficial [da] Re- ISAAA, 2008. (ISAAA Brief, 39).
no País. Nos países em desenvolvimento, pública Federativa do Brasil, Brasília, 6 nov.
KLEBA, J. B. Riscos e benefícios de plantas
essas leis tornam-se instrumentos pode- 1997. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/decreto/Quadros/1997.htm>. transgênicas resistentes a herbicidas: o caso
rosos para que empresas transnacionais
Acesso em: 2009. da soja RR da Monsanto. Cadernos de Ci-
apoderem-se dos bancos de germoplasma
ências & Tecnologia, Brasília, v.15, n.3, p.9-
e cultivares nacionais. Essas empresas são _______. Lei no 8.974, de 5 de Janeiro de
1995. Regulamenta os incisos II e V do § 42, set./dez. 1998.
também detentoras de patentes de genes
1º do art. 225 da Constituição Federal, es- PINHEIRO, J. Informações sobre a Lei de
transgênicos e processos biotecnológicos,
tabelece normas para o uso das técnicas de Proteção de Cultivares (Lei n. 9.456, de 25
formando um verdadeiro monopólio no
engenharia genética e liberação no meio
mercado de sementes. de abril de 1997). Brasília: Senado Federal,
ambiente de organismos geneticamente
O Brasil apresenta uma das maiores 1997. 30p.
modificados, autoriza o Poder Executivo
diversidades genéticas de flora e fauna do a criar, no âmbito da Presidência da Re- REVISTA PATENTES, n. 1520, 2000. Dispo-
mundo. Portanto, se não houver atitudes do pública, a Comissão Técnica Nacional de nível em:<http://www.inpi.gov.br>. Acesso
Governo Federal, o País estará fadado, em Biossegurança, e dá outras providências. em: 24 fev. 2000.
um futuro próximo, a pagar royalties para Diário Oficial [da] República Federativa
WOLFF, M. T. A pesquisa científica e as
empresas transnacionais, para consumir do Brasil, Brasília, 6 jan. 1995. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ patentes. Biotecnologia Ciência & Desen-
suas próprias cultivares. volvimento, Brasília, v.1, n.1, p.16-17, maio
Leis/QUADRO/1995.htm>. Acesso em: 25
nov. 1999. 1997.
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BUSO, J. A. Os impactos da Lei de Prote-
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ção de Cultivares. In: SIMPÓSIO SOBRE
ATUALIZAÇÃO EM GENÉTICA E MELHO- CARVALHO,S. M. P. de. Proteção de culti- TAS, 3., 1999, Lavras. Anais... Genética e
RAMENTO DE PLANTAS, 2., 1998, Lavras. vares e apropriabilidade econômica no mer- melhoramento do cafeeiro. Lavras: UFLA,
Anais... Lavras: UFLA, 1998. p. 47-64. cado de sementes no Brasil. Cadernos de 1999. p.11-17.

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44 Biotecnologia

Detecção de produtos e organismos transgênicos


Sandra Rodrigues de Camargo 1

Resumo - Os avanços tecnológicos na agricultura, como a introdução de organismos


geneticamente modificados nos campos de cultivo e de seus derivados em alimentos,
têm criado a necessidade de técnicas analíticas para identificação de genes e proteínas
introduzidos em tais organismos, a fim de assegurar a pureza genética dos produtos
derivados. São abordadas várias técnicas de biologia molecular e imunoensaios para
detecção de sequências de DNA, RNA ou proteínas exógenas introduzidas nos organis-
mos transgênicos por meio da biotecnologia.

Palavras-chave: Gene. Proteína. DNA. RNA. OGM. PCR. Imunoensaio.

INTRODUÇÃO questões de biossegurança animal, humana Para que o cumprimento da legislação


e ambiental. Dessa maneira, a legislação e a regulamentação sobre OGMs sejam
Transgênicos ou organismos genetica-
brasileira – Decreto no 4.680, de 24 de abril eficientes, é necessário que processos e
mente modificados (OGMs) são organis-
de 2003 (BRASIL, 2003) – especifica que técnicas sensíveis e confiáveis para a de-
mos cujo material genético foi alterado,
os alimentos que contenham quantidade su- tecção e quantificação de OGMs estejam
por meio da biotecnologia, para inserção
perior a 1% de material derivado de OGM validados e disponíveis.
de um ou mais genes provenientes de um
devem ser rotulados, indicando a presença
organismo de outra espécie (plantas, vírus,
de transgênico em sua composição. O ci- Técnicas para detecção
bactérias etc.) e cuja expressão promove de OGMS
dadão também pode contar com o Código
uma nova característica na espécie modi- de Defesa do Consumidor, para assegurar
ficada. Os genes são sequências de ácido A alteração genética provocada em um
o seu direito de informação adequada sobre organismo deve ser bem conhecida para
desoxirribonucleico (DNA), que contêm produtos e serviços – Lei no 8.078, de 11 de
as informações necessárias para dar uma um melhor entendimento de quais técnicas
setembro de 1990 (BRASIL, 1990) – e de- podem ser empregadas na detecção do
característica natural ao organismo, como cidir se quer ou não consumir alimentos e OGM. A estrutura básica de uma sequência
o formato a uma semente ou resistência a derivados que sejam ou contenham OGMs. de DNA exógeno inserida em um OGM é
uma praga. A informação contida no gene No âmbito ambiental, a Comissão Técnica formada, segundo Conceição et al. (2004),
é transmitida pela expressão na forma de Nacional de Biossegurança (CTNBio) é por três elementos principais:
moléculas de ácido ribonucleico (RNA) e, o órgão máximo para deliberação sobre
posteriormente, pela tradução na forma de a) região promotora, responsável pela
OGM, ou seja, para avaliar os riscos dos
proteínas. Dessa forma, para a criação de transcrição do gene;
transgênicos no meio ambiente (como o
um OGM é necessário que o gene respon- risco de escape e o fluxo gênico por meio b) gene de interesse, que define a ca-
sável por uma determinada característica da fecundação cruzada entre uma espécie racterística desejável;
seja introduzido no genoma do organismo geneticamente modificada e uma espécie c) região terminadora, responsável
alvo por meio das técnicas de DNA re- selvagem e/ou convencional) e liberar pela finalização da transcrição.
combinante. somente aqueles considerados seguros. A Todos os sistemas de detecção baseiam-
Há várias razões para que os organis- presença de sementes de plantas genetica- se nos elementos presentes na sequência de
mos transgênicos sejam bem estudados mente modificadas em lotes de sementes DNA inserida no OGM, seja pela detecção
e, principalmente, possíveis de ser iden- convencionais tornou-se um crescente direta da molécula de DNA exógena inseri-
tificados em meio a organismos conven- problema para o comércio internacional, da no genoma, seja indiretamente por meio
cionais. A capacidade de identificação de podendo acarretar sérias consequências do produto proteico e derivados resultantes
transgênico está muito relacionada com as para as empresas exportadoras. da expressão do inserto de DNA.

1
Bióloga, D.Sc., Pesq. Alellyx Applied Genomics, CEP 13069-380 Campinas - SP. Correio eletrônico: sandra.camargo@alellyx.com.br

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Biotecnologia 45

Ensaios diretos: detecção a c) custo elevado, uma vez que o ensaio tive PCR (qPCR) ou PCR quantitativo em
partir da presença de DNA é específico para cada alteração tempo real foi recentemente desenvolvida e
exógeno PCR genética introduzida; vem sendo empregada com certa frequência
A reação em cadeia da polimerase – d) cuidados especiais para evitar contami- na identificação de produtos e organismos
polymerase chain reaction (PCR) nação das amostras (Miraglia et al., transgênicos. A qPCR em tempo real é em-
(Mullis; Faloona, 1987) é a principal 2004; Yamaguchi et al., 2003). pregada não apenas para a detecção, mas
técnica utilizada em laboratório de biologia para quantificação do número de cópias de
A qualidade do DNA extraído a partir
molecular para detecção de transgênicos. uma determinada sequência alvo de DNA
do OGM é determinante para o sucesso
A técnica aplicada na detecção de OGM (gene) inserida no OGM. A diferença entre
da PCR. Há vários métodos descritos na
consiste na replicação de sequências a PCR convencional e a qPCR está na
literatura para extração de DNA a partir de
especificidade e sensibilidade do método.
específicas do DNA exógeno. Para tal, folhas, sementes e até mesmo de alimentos
Na qPCR em tempo real, utilizam-se equi-
constroem-se pequenos fragmentos de processados. O método do brometo de
pamentos mais sofisticados capazes de
DNA, chamados iniciadores, que serão cetiltrimetrilamômino (CTAB) é bastante
detectar a fluorescência emitida pela reação
ligados ao DNA exógeno presente no OGM empregado nos laboratórios de biologia
a cada ciclo de amplificação da molécula
e durante o processo da PCR, catalisados molecular. Também existem no mercado
de DNA alvo, ou seja, enquanto na PCR
pela enzima DNA polimerase, produzirão vários kits comerciais que empregam resi-
convencional o resultado é visualizado em
milhares de cópias da sequência específica. nas de sílica com alta afinidade pela molé-
gel de agarose após 30-45 ciclos de ampli-
As cópias de DNA produzidas pela PCR cula de DNA. Um DNA de má qualidade,
ficação, na qPCR em tempo real a reação é
são facilmente visualizadas por meio de ou seja, não integro e de baixa pureza, pode
monitorada desde o primeiro até o último
eletroforese em gel de agarose. Um agente influenciar negativamente para o sucesso
ciclo de amplificação pela detecção da
intercalante de DNA (por exemplo, brome- da PCR, pois pode impedir que o DNA
fluorescência emitida. Dessa maneira, é pos-
to de etídeo) é utilizado para visualização exógeno seja identificado na amostra. Isso
sível reconhecer o momento exato (ciclo),
das bandas de DNA presentes no gel. Se pode ocorrer por causa da presença de ini- quando a molécula alvo inicia o processo de
os mesmos iniciadores forem utilizados em bidores no DNA extraído, como proteínas, amplificação (Gráfico 1). Esse dado permite
um organismo não transgênico, não haverá polissacarídeos, polifenóis, entre outros, inferir, com base no controle endógeno de
a produção de cópias do DNA exógeno, que dificultam o anelamento dos iniciado- reação, quantas cópias do transgene estão
uma vez que este não está presente no res ao DNA alvo e/ou inibem a atividade presentes no OGM. Quanto menor o número
organismo selvagem ou convencional e, da enzima DNA polimerase (Ahmed, de ciclos de amplificação para detecção da
portanto, nenhuma banda será visualizada 2002). Consequentemente, a reação não irá fluorescência, maior o número de cópias do
no gel de agarose. ocorrer ou ocorrerá com baixa eficiência. transgene inserido no OGM. A sensibilidade
A PCR é uma técnica bastante especí- Como controle de qualidade da PCR é sem- do método baseia-se não apenas na captação
fica, sensível, segura e capaz de detectar, pre necessário utilizar uma reação padrão do sinal fluorescente, mas no modo como a
não só os eventos que são geneticamente (controle positivo), que avalia a qualidade fluorescência é emitida durante a reação. A
modificados (Bertheau et al., 2002; do DNA extraído e evita resultados falso- maioria das aplicações de PCR em tempo
Giovannini; Concillo, 2002), mas negativos. A reação padrão pode ser feita real requer apenas um agente intercalante
também distinguir aqueles que apresentam utilizando-se iniciadores específicos para fluorescente para cadeia dupla de DNA.
diferentes construções gênicas, mas que algum gene endógeno conhecido. Entretanto, algumas aplicações necessitam
expressam a mesma proteína (Yamagu- O limite de detecção da PCR está entre de maior especificidade.
chi et al., 2003). Entretanto, essa técnica 20 pg e 10 ng de DNA exógeno2, ou seja, Na qPCR, utilizando o sistema de
também apresenta algumas limitações: é possível detectar uma única semente ge- detecção TaqMan®, utiliza-se um par de
a) dificuldade na construção dos ini- neticamente modificada entre mil e 10 mil iniciadores e uma sonda marcada com um
ciadores, pois é necessário conheci- sementes convencionais (LÜthy, 1999). fluoróforo (marcador que emite fluores-
mento prévio da sequência genética cência). Esses três oligonucleotídeos (dois
introduzida no OGM e geralmente PCR em tempo real
iniciadores e sonda) são específicos para a
essa informação é confidencial Variações da técnica de PCR são bas- sequência alvo, contribuindo, assim, para a
(Holst-Jensen et al., 2003); tante empregadas em análises moleculares maior especificidade da técnica. No proces-
b) necessidade de equipamentos apro- de eventos transgênicos, visando diferentes so de amplificação, os iniciadores e a sonda
priados e pessoal treinado; finalidades. Desse modo, a técnica quantita- ligam-se à molécula de DNA alvo e uma

2
pg - Picograma; ng - Nanograma.

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46 Biotecnologia

enzima DNA polimerase inicia a polimeri- no genoma de OGMs. Além de comprovar No entanto, essa técnica possui como
zação da nova molécula. Quando a enzima a integração do transgene, dependendo das limitante a grande quantidade necessária de
encontra a sonda ligada ao DNA molde, enzimas e da sonda utilizada, com esse DNA genômico, que deve ser entre 20 e 40
esta inicia a sua quebra e, desse modo, método também é possível estimar o nú- mg, o que às vezes é dificil de obter, depen-
permite que a fluorescência seja emitida e mero de cópias que foram introduzidas no dendo do tipo de amostra utilizada3. Outras
então detectada pelo equipamento. Assim, genoma do organismo receptor (Fig. 1). limitações relacionadas com essa técnica
o processo de emissão de fluorescência é
dependente da ação conjunta de quatro
elementos: dois iniciadores, uma sonda
e a atividade da enzima DNA polimerase.
Existem fatores relacionados com as
condições de amplificação que podem
afetar negativamente na obtenção de bons
resultados:
a) temperatura inapropriada para o ane-
lamento dos iniciadores e sonda;
b) baixa especificidade dos iniciadores
e da sonda para a ligação ao DNA
molde;
c) condições inapropriadas para a
atividade da enzima polimerase
(concentração de sais e o pH do
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 121314 1516 171819 20 21 22 2324 2526 27 28 29 30 31 32 3334 3536 37 38 39 40 41 42 434445
tampão não ajustados).
Número de ciclos de ampliação
Southern blot Gráfico 1 - qPCR em tempo real
A técnica de Southern blot (Southern, NOTA: As curvas do gráfico mostram o progresso de amplificação de moléculas alvo, a
partir da captação de sinal fluorescente, ao longo dos ciclos da PCR.
1975) é utilizada em laboratório para de-
PCR - Polymerase chain reaction; qPCR - Quantitative PCR.
tecção de fragmentos específicos de DNA
exógenos integrados ao DNA genômico
do evento transgênico. A técnica consiste C1 C2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
basicamente de cinco etapas:
a) extração e digestão do DNA genô-
mico com uma ou mais enzimas de
restrição;
b) separação dos fragmentos de DNA
por eletroforese em gel de agarose;
c) transferência e fixação do DNA pre-
sente no gel para uma membrana de
nitrocelulose ou náilon;
d) hibridização do DNA presente na
membrana contra uma sonda de DNA
que possui homologia à sequência
de DNA alvo;
Figura 1 - Southern blot
e) revelação da hibridização por autor-
NOTA: Resultado de análise de eventos transgênicos utilizando a técnica de Southern blot.
radiografia ou colorimetria.
C1 - Controle positivo (evento transgênico); C2 - Controle negativo (planta selva-
A análise por Southern blot é muito gem); 1 a 11 - eventos transgênicos.
confiável e considerada uma prova mole- O número de bandas refere-se ao número de cópias do DNA alvo presente no
cular da integração de elementos exógenos genoma de cada evento analisado.

3
mg - Micrograma.

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Biotecnologia 47

são o elevado custo de implementação, a a) extração do RNA total; específica, sensível e, consequentemente,
alta complexidade operacional, o longo b) separação dos fragmentos de RNA com resultados quantitativos. Na técnica
período de trabalho e a espera até a obten- por eletroforese em gel de agarose; de qRT-PCR, o progresso de amplificação
ção dos resultados e, no caso de utilização da molécula alvo é visualizada em tempo
c) transferência e fixação do RNA
de sondas radioativas, há a necessidade de real por meio da captação de sinal de mo-
presente no gel para uma membrana
infraestrutura e capacitação adequada para léculas fluorescentes e termocicladores
de nitrocelulose ou náilon;
manipulação e armazenamento de produtos mais sofisticados, como aqueles descritos
d) hibridização do RNA presente na anteriormente na técnica de qPCR.
radioativos.
membrana contra uma sonda de
Ensaios indiretos: detecção DNA ou RNA marcada, que possui Ensaios indiretos: detecção
a partir da presença de homologia à sequência de RNA a partir da presença de
RNA alvo; proteína

A informação genética contida no DNA e) revelação da hibridização. Bioensaios


precisa ser traduzida em proteína para que A etapa de extração de RNA total da
Na maioria das plantas geneticamen-
seja efetiva e promova reações em todo o amostra é uma das etapas mais importantes
te modificadas, comercializadas até o
organismo. Essa transferência de informa- no desenvolvimento da técnica, pois, para
momento, foram introduzidos genes que
ção, DNA-proteína, só ocorre por causa a obtenção de resultados confiáveis, é
conferem tolerância a herbicidas e/ou
da transcrição do DNA em moléculas de necessário que o RNA esteja intacto, puro
resistência a vírus, fungos ou insetos (Ma-
RNA mensageiro (mRNA). A síntese de e íntegro. Os cuidados durante o desenvol-
riotti; MINUNNI; mascini, 2002).
mRNA pode ser considerada como a fase vimento da técnica são bem maiores que
A técnica de bioensaio para detecção de
intermediária do processo de transferência aqueles utilizados em Southern blot, uma
transgênicos nesses casos é relativamente
da informação contida no DNA e reflete vez que o RNA degrada mais facilmente.
simples, de baixo investimento e prática
o nível de atividade deste, uma vez que a Para evitar a degradação, é preciso tratar
de ser estabelecida, tanto em laboratório,
presença de mRNA está diretamente rela- todos os objetos com soluções específicas,
quanto em estufas de contenção, porém
cionada com a expressão gênica. a fim de eliminar ou minimizar a presença
requer um tempo relativamente longo
Existem diferentes técnicas molecula- de RNAses. para obtenção dos resultados, que, geral-
res para estudos de expressão gênica, nas
rt-Pcr mente, são conseguidos após uma ou mais
quais genes em processo de transcrição
semanas.
podem ser detectados. Entre essas técnicas A técnica de RT-PCR é amplamente O bioensaio para tolerância a herbicida
destaca-se a de northern blot e reverse utilizada para verificar a expressão gêni- pode ser conduzido com a planta já desen-
transcription - polymerase chain reaction ca, por meio da detecção de moléculas de volvida ou mesmo com as sementes. No
(RT-PCR) ou transcrição reversa, seguida mRNA. Essa técnica baseia-se na trans- caso da planta, quando esta já se encontra
por reação em cadeia da polimerase. Essas crição reversa do mRNA seguida de uma desenvolvida, uma dose do herbicida é pul-
técnicas podem ser empregadas para deter- reação de PCR, ou seja, primeiramente é verizada sobre as folhas. Após a aplicação,
minação da expressão gênica em diferentes produzida uma molécula de DNA com- as plantas são monitoradas diariamente
tecidos e/ou diferentes estádios de desen- plementar (cDNA) à molécula de mRNA para verificar a presença ou não de algum
volvimento do organismo em estudo, bem (usando a enzima transcriptase reversa e fenótipo (sintomatologia) decorrente da
como para monitorar a expressão gênica iniciadores) e, então, utiliza-se esse cDNA aplicação do herbicida. As folhas das plan-
de DNA exógeno em OGMs. produzido como molde para a PCR. O tas que não apresentam tolerância ao herbi-
produto dessa amplificação é visualiza- cida ficam inicialmente amareladas e então
Northern blot
do em gel de agarose. A intensidade das secam (o tecido sofre necrose) (Fig. 2).
A técnica de northern blot, também bandas visualizadas no gel pode indicar As folhas das plantas tolerantes ao herbici-
chamada RNA blot, foi desenvolvida para a quantidade do mRNA alvo presente na da simplesmente não apresentam sintoma
estudo da expressão gênica por meio da amostra. Dessa forma, considera-se que é de necrose ou apresentam pouco e as
detecção de moléculas de RNA presentes uma técnica semiquantitativa. plantas continuam com o mesmo aspecto
na amostra (Alwine; KEMP; STARK, Uma variável da técnica de RT-PCR que apresentavam antes da aplicação do
1977). A execução da técnica de northern é a RT-PCR quantitativa (qRT-PCR). O herbicida. No caso do bioensaio realizado
blot é bastante semelhante à técnica de princípio dessa técnica é o mesmo da RT- com sementes, estas são colocadas para
Southern blot e consiste basicamente de PCR convencional, produção de cDNA germinar em um meio contendo uma solu-
cinco etapas: seguido de PCR, porém mais robusta, ção diluída do herbicida. Se a semente for
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tolerante ao herbicida, ocorrerá a germina-


ção e a planta desenvolverá normalmente,
como ocorre com as sementes do milho
transgênico Liberty LinkTM e da soja trans-
gênica Roundup ReadyTM (RR), tolerantes
ao herbicida glifosato. Caso as sementes
sejam sensíveis ao herbicida, não haverá
a germinação. Atualmente, o bioensaio
para tolerância a herbicida é comumente
utilizado pelas companhias exportadoras
de sementes e grãos, para comprovar a
autenticidade e a qualidade dos produtos
(Torres et al., 2003).
Plantas resistentes a insetos também
A
podem ser analisadas pelo método de
bioensaio. Nesse caso, o bioensaio pode
ser realizado colocando os insetos ou a
sua forma larval, de acordo com o ciclo
de desenvolvimento daquele inseto que
ataca a planta, sobre as plantas a serem
analisadas ou mesmo sobre discos folia-
res retirados dessas plantas. Dois tipos de
informações podem ser obtidos a partir do
ensaio: a mortalidade da praga e o dano
causado pelas pragas no tecido analisado.
A análise conjunta dessas informações
indica se a planta é resistente ou não ao
inseto em estudo.
B O bioensaio baseia-se na expressão do
gene de interesse e no fenótipo apresentado
pelo OGM. Entretanto, uma desvantagem
do método é que, geralmente, os resultados
de bioensaio não são suficientes como
provas definitivas da integração do DNA
exógeno no genoma do organismo transgê-
nico e outras evidências (resultados prove-
nientes de outras técnicas) são necessárias
para sua comprovação.
Fotos: Geraldo M. A. Cançado

Imunoensaios
Os imunoensaios são métodos ideais
para detecção qualitativa e/ou quantitativa
de proteínas específicas produzidas a partir
C da sequência de DNA exógeno introduzida
Figura 2 - Bioensaio para tolerância ao herbicida glufosinato de amônio (PPT) em plantas no OGM.
de milho geneticamente transformadas com o gene bar que codifica a enzima Os principais imunoensaios utiliza-
phosphinothricin-N-acetyltransferase (PAT) dos na detecção e quantificação das pro-
NOTA: A - Planta transformada de milho apresentando fenótipo de tolerância ao herbi- teínas alvo, presentes nos OGMs, são o
cida PPT após 10 dias de aplicação; B - Planta transformada de milho apresen-
ensaio imunoenzimático – enzime-linked
tando sintomas leves de clorose e necrose provocado pelo herbicida PPT após 10
dias de aplicação; C - Planta de milho convencional (não transformada), apresen- immunosorbent assay (ELISA), western
tando sintomas severos de clorose e necrose provocados pela aplicação de PPT. blot e imunoensaio de fluxo lateral (IFL).
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Biotecnologia 49

ELISA A intensidade da cor produzida está dire- geralmente em coelho ou camundongo).


tamente ligada à quantidade de antígeno Nesse caso, o extrato proteico é colocado
O método ELISA permite identificar
presente na amostra, uma vez que a colora- na microplaca e, a seguir, coloca-se o
uma proteína alvo presente em um extrato
ção apenas ocorrerá quando a proteína alvo Ac primário. O Ac secundário é então
proteico, contendo uma população de
ligar-se ao anticorpo de captura presente na adicionado à reação, reconhecendo o Ac
outras proteínas, por meio de anticorpos
microplaca e, então, o anticorpo conjugado primário, ligando-se ao complexo Ac-Ag.
específicos que se ligam a essa proteína.
à enzima ligar-se à proteína alvo imobiliza- A etapa de revelação ocorre da mesma
Essa reação antígeno-anticorpo permite
da (Fig. 3). Anticorpos e proteínas livres, maneira como no ELISA-direto. Em mui-
identificar a presença de proteína exógena
ou seja, que não formaram o complexo Ac- tos casos, o ensaio de ELISA-sanduíche é
de forma qualitativa e até mesmo quan-
Ag-Ac, são descartados durante as etapas cerca de duas a cinco vezes mais sensível
titativa.
de lavagem da microplaca. Dessa forma, que os ensaios do tipo direto e indireto.
Existem vários tipos de ELISA, entre
não há a possibilidade de ocorrer resultados Uma variação do ELISA é o ensaio
eles o ELISA-direto, ELISA-indireto,
falso-positivos. Para ensaios quantitativos, competitivo, no qual a proteína alvo, pre-
ELISA-sanduíche e ELISA-competitivo.
utiliza-se uma curva de proteína padrão, sente na amostra, e uma proteína padrão,
O método ELISA-sanduíche, no qual se
cuja concentração é conhecida. conjugada a uma enzima competem pela
utilizam dois anticorpos (Ac) específicos
Os ensaios de ELISA-direto e ELISA- ligação do anticorpo de captura. Nesse
para a proteína alvo, é o mais sensível e
indireto são semelhantes ao ELISA- tipo de ensaio, a quantidade de proteína
utilizado para detecção de OGMs (Yates, sanduíche, porém com algumas etapas alvo é inversamente proporcional à in-
1999). Nesse tipo de imunoensaio são modificadas. No ensaio de ELISA-direto, tensidade colorimétrica produzida, pois,
empregados dois tipos de anticorpos espe- utiliza-se apenas o anticorpo específico quanto mais proteínas padrão se ligarem
cíficos para a proteína alvo: Ac primário ou para a proteína alvo, conjugado à enzima ao anticorpo, mais intensa será a cor pro-
de captura, utilizado para sensibilização da (Ac secundário). O extrato proteico é co- duzida pela reação. Por utilizar apenas um
microplaca, que visa à captura da proteína locado na microplaca e, então, o anticorpo anticorpo específico, o ensaio competitivo
alvo (antígeno - Ag) presente na amostra; conjugado. Na etapa seguinte, o substrato é menos sensível que o método de ELISA-
Ac secundário ou conjugado, geralmente é adicionado para que a enzima atue sobre sanduíche.
conjugado a uma enzima (peroxidase ou este e a reação seja revelada. No ELISA- O tipo de anticorpo utilizado nos imu-
fosfatase alcalina), que atua sobre um indireto, utiliza-se o Ac primário específico noensaios também pode contribuir para
determinado substrato, produzindo cor para a proteína alvo e o Ac secundário uma maior sensibilidade ou especificidade
(ensaio colorimétrico) ou fluorescência, conjugado à enzima, porém específico do ensaio. Anticorpos monoclonais con-
quando submetida a determinados com- para o Ac primário (anti-IgG dos organis- tribuem para uma maior especificidade da
primentos de onda (ensaio fluorimétrico). mos em que o Ac primário foi produzido, técnica, enquanto anticorpos policlonais

Y Y Y Y Y Y
L L L L
Y Y Y Y Y Y Y Y Y Y Y Y Y Y Y
Adição do Bloqueio da Adição do Adição do Adição do
anticorpo de placa extrato anticorpo substrato e
captura proteico conjugado revelação

Proteína alvo Anticorpo de captura específico para proteína alvo


YY

Proteína bloqueadora Anticorpo conjugado específico para proteína alvo


Proteína endógena L Etapa de lavagem da placa

Figura 3 - Etapas do ensaio de ELISA-sanduíche


NOTA: Inicia-se com a sensibilização da microplaca com o anticorpo de captura. Após a lavagem da microplaca, faz-se o seu blo-
queio. Em seguida, adiciona-se o extrato vegetal. A lavagem da placa é feita novamente e, posteriormente, é adicionado o
anticorpo conjugado. Após incubação, a microplaca é lavada e então revelada pela adição do substrato.

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aumentam a sensibilidade, uma vez que 1999). Por ser uma técnica bastante labo- gama de proteínas utilizadas na produção
podem reconhecer diferentes epítopos da riosa e capaz de analisar poucas amostras de OGMs. Plantas de soja, milho, canola,
proteína alvo (Ahmed, 2002). simultaneamente, o western blot é pouco algodão e beterraba, geneticamente modifi-
ELISA é uma técnica bastante sensível, utilizado na rotina de análise de OGMs. cadas para conter a endotoxina Cry(Ab) de
específica, robusta, segura e rápida para a Geralmente, a técnica é empregada para Bacilus thurigiensis ou as proteínas EPSPS-
detecção de OGM em laboratório. Além confirmação de resultados preliminares CP4 de Agrobacterium thumefasciens,
disso, é ideal para a análise simultânea de gerados por outras técnicas de detecção. podem ser facilmente analisadas, utilizando
um grande número de amostras em condi- essa técnica (Lipton et al., 2000).
ções de rotina. Imunoensaio de fluxo Além da detecção de OGMs, os imu-
lateral noensaios são poderosas ferramentas para
Western blot O imunoensaio de fluxo lateral (IFL) a avaliação de expressão de um transgene.
é muito utilizado para análise de material É possível identificar o local de expressão
A técnica western blot baseia-se na
ainda em campo e em triagens de produtos do transgene na planta, ou seja, em quais
separação das proteínas presentes no
por ser um teste prático, não dispendioso tecidos há presença da proteína (raiz, folha,
extrato proteico da amostra em gel de po-
semente, etc.) e a relação de expressão
liacrilamida não-desnaturante e posterior e rápido. Os resultados são obtidos em um
entre os diferentes tecidos que apresentam
transferência para membranas de náilon ou tempo que pode variar de 5 a 15 minutos.
maior ou menor expressão da transgene.
nitrocelulose. A detecção da proteína alvo Outra vantagem desse método é que não
é feita por meio de anticorpos específicos necessita de equipamentos especiais e pes-
Técnicas alternativas
que reconhecem os epítopos da proteína soal treinado. Entretanto, essa técnica não
para detecção de OGMs
de interesse. A revelação do ensaio ocorre é robusta o suficiente para quantificação do
por reação colorimétrica ou radiográfica. material transgênico presente na amostra, Em razão do crescente número de
Dessa maneira, o western blot combina mas é uma técnica bastante sensível para de- OGMs e da complexidade de modifica-
a resolução de uma eletroforese com a tecção qualitativa de OGMs (Urbanek - ções genéticas que estão surgindo, novas
especificidade da detecção imunológica KARLOWSKA et al., 2001). técnicas estão sendo desenvolvidas ou
(Brasileiro; Carneiro, 1998). O princípio do IFL é semelhante à aprimoradas para acompanhar essa de-
A separação eletroforética das proteínas técnica de ELISA-sanduíche. O anticorpo manda. Metodologias estas com maior
presentes na amostra usualmente ocorre de detecção está na extremidade da fita sensibilidade, confiabilidade, capacidade
sob condições desnaturantes. Desse modo, que é inserida na amostra em solução. A de análises simultâneas e baixo custo. Nes-
problemas de solubilização, agregação e proteína alvo presente na amostra liga-se sa linha, destacam-se os microarranjos de
coprecipitação da proteína alvo com as ou- ao anticorpo presente na fita e então o DNA (DNA microarrays), a cromatografia
tras proteínas presentes na amostra são eli- complexo Ag-Ac migra por capilaridade e a espectrometria de massa.
minados (Sambrook; Russel, 2001). até a outra extremidade da fita, onde exis-
Entretanto, anticorpos contra epítopos tem duas zonas de captura. Nessas zonas PADRONIZAÇÃO DAS
conformacionais da proteína alvo podem de captura existem anticorpos específicos TÉCNICAS
não reconhecê-la, quando desnaturada. para a proteína alvo ou para o anticorpo A otimização e a validação das técnicas
A técnica de western blot é semiquan- de detecção. Quando o complexo Ag-Ac são importantes aspectos para a sua padro-
titativa, específica e bastante sensível para passa pelas zonas de captura, ocorre uma nização como tecnologias de detecção de
detecção de proteínas (Brett et al., 1999). reação colorimétrica (Fig. 4). A presença OGMs. Segundo Sutula (1996), os fatores
O limite de detecção da proteína alvo de- de duas bandas coloridas na fita indica que que afetam a otimização incluem:
pende de uma série de fatores, entre estes, o teste é positivo, ou seja, há presença da
a) determinação dos parâmetros
o tipo de membrana e o sistema de detecção proteína transgênica na amostra analisada.
internos: qualidade do material e
utilizados. Na maioria dos casos, esse limite A presença de apenas uma banda indica
reagentes, tempos de incubação,
corresponde a cerca de 20 fM (10-15 moles), que a amostra é negativa, ou seja, não
equipamentos;
ou seja, é possível detectar cerca de 1 ng possui traços da proteína transgênica,
de uma proteína, cujo peso molecular seja porém o teste foi realizado corretamente b) seleção do limiar: limites para resul-
de 50 KDa (Brasileiro; Carneiro, (Conceição et al., 2004). tados positivos e negativos;
1998)4. Em análises de sementes, o limite As fitas de IFL são produzidas co- c) seleção de controles: positivo e
mínimo de detecção é de 0,25% (Yates, mercialmente para detecção de uma vasta negativo;

4
fM - Femtomoles; ng - Nanograma; KDa - Quilodalton.

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Biotecnologia 51

expressão da proteína de interesse, partes


da planta em que a proteína está sendo
expressa, entre outras. Por essas e outras
Filtro
razões já descritas, numerosas técnicas
para detecção de OGMs são normalmente
utilizadas ou estão sendo desenvolvidas
4 para ajudar na identificação, na determina-

Y
Y
Janelas de
Fluxo da amostra

resultados ção da taxa de pureza de lotes de sementes,


3 na avaliação dos riscos à saúde e ao meio
Y
Y
ambiente e na aprovação do cultivo de
Y
Y
2 transgênicos.
O conhecimento sobre a constituição
Y genética do OGM e as características
YY 1
principais de cada uma das técnicas é
Amostra fundamental para a execução dos ensaios
e obtenção de resultados precisos e confiá-
veis na detecção e avaliação do organismo
A Amostra
negativa
Amostra
positiva
B transgênico. Muitas vezes, a simples inte-
gração do DNA exógeno no genoma hospe-
deiro não significa que o gene esteja sendo
Proteína alvo
expresso e que a proteína alvo esteja sendo
Anticorpo marcado específico para a proteína alvo
Y

produzida. Dessa maneira, a combinação


Y Anticorpo secundário específico para a proteína alvo
de mais de uma técnica de detecção pode
Y Anticorpo secundário específico para o anticorpo marcado
ser necessária para a avaliação completa
do OGM.
Figura 4 - Esquema do imunoensaio de fluxo lateral (IFL) Diferentes entidades espalhadas
NOTA: A - Uma das extremidades da fita de IFL é inserida no recipiente contendo a pelo mundo estão envolvidas no desen-
amostra vegetal. Por capilaridade, a amostra percorre a fita em direção à outra
extremidade. Durante esse trajeto, a amostra passa pela região onde estão os volvimento, validação e utilização de
anticorpos de captura (1) e a proteína alvo se liga. Anticorpos de captura com- metodologias para detecção de OGM e
plexados com a proteína alvo ou livres (2) migram e ligam-se a anticorpos es- seus produtos, de acordo com o foco e as
pecíficos para a proteína alvo (3) ou a anticorpos específicos para os anticorpos preocupações regulatórias locais. Mui-
de captura (4), respectivamente; B - Uma banda revelada na janela de resultado
indica que a amostra é negativa (ausência da proteína alvo) e duas bandas indi- tas dessas metodologias acabam sendo
cam que a amostra é positiva (presença da proteína alvo). implementadas isoladamente, no local
onde foram desenvolvidas, e não passam
por avaliação de desempenho em outros
d) ambiente de trabalho: capacitação f) reprodutibilidade;
laboratórios (validação interlaboratorial).
técnica e experiência na execução g) consistência e confiabilidade da Os testes interlaboratoriais fornecem
de testes laboratoriais, problemas detecção. dados de validação que proporcionam o
de contaminação ambiental ou pela estabelecimento de parâmetros de ava-
Um bom entendimento dessas carac-
pessoa que está executando o en- liação e constituem uma ótima base para
terísticas é essencial para a escolha do
saio. comparação de dados. O desenvolvimento
método de detecção, ou seja, aquele que
Os fatores que podem afetar a validação isolado das técnicas de detecção de OGM
terá o melhor desempenho e resultado.
do método incluem: é um dos motivos que levam à necessidade
a) eficiência de extração em amos- CONSIDERAÇÕES FINAIS de harmonização de metodologias e análise
tras; de amostragem entre as diversas entida-
Processos de regulamentação de cul- des de pesquisa. A colaboração conjunta
b) acurácia dos resultados;
tivares transgênicas requerem um amplo de organizações internacionais seria de
c) precisão; estudo do organismo modificado. Infor- grande importância para aprovação de tais
d) sensibilidade (limite de detecção); mações como o número de cópias do DNA metodologias e sua harmonização entre os
e) especificidade; exógeno inserido no genoma, nível de laboratórios de análise.
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Biotecnologia 53

Citogenética e suas aplicações no melhoramento de plantas


Lisete Chamma Davide 1
Vânia Helena Techio 2
Roselaine Cristina Pereira 3
Bárbara Dantas Fontes-Soares 4
Giovana Augusta Torres 5

Resumo - A Citogenética é considerada ferramenta de suporte indispensável nas


etapas de planejamento, coleta e seleção de genótipos, manipulação e monitoramento
de qualquer programa de melhoramento genético e conservação do germoplasma.
As diferentes técnicas citogenéticas podem ser usadas estrategicamente na produção
de dados para subsidiar decisões dos melhoristas e de pesquisadores durante a
implantação do programa de melhoramento de plantas e animais. Entre as informações
geradas podem-se citar a caracterização da ploidia, a determinação da frequência de
recombinação entre genomas homólogos e homeólogos, bem como a ocorrência de
irregularidades espontâneas ou induzidas e as possíveis causas de irregularidades na
segregação cromossômica que levam à produção de gametas inviáveis.

Palavras-chave: Cromossomo. Ciclo celular. Meiose. Viabilidade polínica. Hibridização


in situ. Germoplasma.

INTRODUÇÃO os citogeneticistas passaram a construir cação confiável de cromossomos e, a partir


cariogramas (imagens dos cromossomos do final da década de 1960, a citogenética
A ciência que estuda os cromossomos
alinhados em um complemento) e a fazer entrou em uma nova era.
é denominada Citogenética. Teve a sua
comparações dentro e entre espécies, bem O emprego de sinais fluorescentes
origem entre 1902-1903, quando Sutton e
como a entender o comportamento dos marcou o início da citogenética molecular,
Boveri anunciaram a Teoria Cromossômica cromossomos nos processos de divisão que resulta da interação entre as técnicas
da Herança. A Citogenética preocupa-se celular e reprodutivos. da citogenética clássica, biologia celular
com o número, a forma, a organização, a Com o advento das técnicas de bande- e molecular. Essa classe de metodologias
função e o comportamento dos cromosso- amento, que evidenciam regiões diferen- facilita a identificação de genomas especí-
mos. Os primeiros citogeneticistas realiza- cialmente coradas, passou-se a caracterizar ficos, cromossomos individuais, segmentos
vam estudos descritivos que apresentavam o cromossomo não só pelo seu tamanho, cromossômicos ou sequências específicas.
somente o número de cromossomos em posição do centrômero e constrições se- Quando o DNA genômico é utilizado como
células somáticas e germinativas. Poste- cundárias, mas também pela presença ou sonda, o processo é denominado hibridi-
riormente, com o refinamento das técnicas ausência de bandas mais ou menos inten- zação genômica in situ – genomic in situ
citogenéticas e dos microscópios, foi samente coradas em regiões específicas. hybridization (GISH) e possibilita a iden-
possível realizar medições em cromos- As técnicas de bandeamento, incluindo a tificação de genomas parentais e o enten-
somos individuais e observar detalhes utilização de fluorocromos e outros coran- dimento da sua organização. No entanto,
morfológicos em um dado complemento tes, juntamente com várias modificações quando segmentos de DNA, marcados com
cromossômico. Com essas informações, em pré-tratamentos, permitiram a identifi- fluorocromos, são utilizados como sondas,

1
Bióloga, D.Sc., Prof. UFLA - Depto Biologia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:lcdavide@dbi.ufla.br
2
Bióloga, D.Sc., Prof. UFLA - Depto Biologia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: vhtechio@ dbi.ufla.br
3
Enga Agra, Pós-Doc, UFLA - Depto Biologia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: rcristinapereira@yahoo.com.br
4
Enga Agra, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-FECD, CEP 37780-000 Caldas-MG. Correio eletrônico: barbarafontes@epamig.br
5
Enga Agra, D.Sc., Prof. UFLA - Depto Biologia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: gatorres@ dbi.ufla.br

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54 Biotecnologia

o processo é denominado hibridização Além da caracterização do germoplas- dualizados podem ser obtidas após
fluorescente in situ – fluorescent in situ ma, as técnicas citogenéticas oferecem pré-tratamentos realizados com agentes
hybridization (FISH) e favorece o estudo informações relevantes, quando são utili- inibidores da formação do fuso mitótico,
de cromossomos individuais. zados haploides na produção de híbridos, dentre eles, a colchicina, a 8-hidroxiquino-
É relevante frisar que, mesmo antes de trissômicos terciários balanceados na leína; o bromonaftaleno, a ciclohexamida e
ser reconhecida como ciência, no período produção de sementes híbridas e a utili- o tratamento a frio ou, ainda, a combinação
entre 1870 e 1890, a citogenética forneceu zação de variação genética exótica para a de um ou mais compostos. Imediatamente
informações que constituíram a base para transferência de características de espécies após realizado o pré-tratamento, o material
o entendimento dos fenômenos genéticos, silvestres para plantas cultivadas. deve ser fixado em solução ácido-alcóolica,
por meio dos estudos sobre o comporta- cujo objetivo é conservar a célula e suas
Neste artigo, serão descritas técnicas de
mento dos cromossomos na mitose, meiose estruturas em condições adequadas para
citogenética e suas aplicações em progra-
e fertilização. Os cromossomos foram re- análise. Para contagem de cromossomos,
mas de melhoramento de plantas.
conhecidos como as entidades portadoras geralmente, utilizam-se técnicas de co-
dos genes e a estrutura e o comportamento loração convencional, pois constituem
TÉCNICAS DE ESTUDO
dos cromossomos como determinantes dos E MANIPULAÇÃO DOS procedimentos rápidos, simples e com boa
fenômenos genéticos e, consequentemente, CROMOSSOMOS repetibilidade. Os corantes mais indicados
dos mecanismos de herança. Por meio da para observação de cromossomos metafási-
citogenética, foi possível correlacionar Obtenção de células cos são os que permitem um bom contraste
a presença e a transmissão de uma dada em mitose, meiose e entre o citoplasma e a cromatina, tais como,
característica (por exemplo: alteração mor- viabilidade do pólen o Giemsa, a orceína e o carmim acético, o
fológica na folha ou presença ou ausência reativo de Schiff e a hematoxilina.
O conhecimento da estrutura, morfolo-
de sementes em frutos) a uma entidade Na meiose, a fase ideal para o estudo
gia e o comportamento dos cromossomos
física, o cromossomo. cromossômico é a prófase I, especialmente
durante a mitose é fundamental para o
A confiabilidade nos dados citogenéti- durante o diplóteno, a diacinese e a metáfa-
entendimento da citogenética e dos prin-
cos está no fato de as características cro- se I, quando se deseja determinar o número
cípios da genética. O estudo da mitose é
mossômicas não serem influenciadas pelos cromossômico, a frequência de quiasmas
importante, porque fornece informações,
fatores ambientais e isso contribuiu para (que denota a ocorrência de permuta ge-
por meio do cariótipo, sobre o número e
que a citogenética estabelecesse interações nética) e a relação de parentesco entre es-
a morfologia dos cromossomos que com-
com outras áreas do conhecimento, como: pécies, por meio da análise do pareamento
põem o genoma das espécies. A partir do
Taxonomia e Evolução, Medicina Clínica, dos cromossomos homólogos.
cariótipo, é possível caracterizar e compa-
Melhoramento Genético, entre outras. Para a maioria das plantas, o estudo da
rar espécies ou híbridos e estabelecer re- meiose masculina é mais frequente, em
No que diz respeito às contribuições da
lações de parentesco, identificar alterações razão das facilidades com a técnica e com
citogenética para os programas de melho-
numéricas e estruturais dos cromossomos e a obtenção de meiócitos a partir de anteras
ramento genético de plantas, destaca-se a
caracterização do gemoplasma disponível. correlacioná-las com alterações fenotípicas coletadas em botões florais em diferentes
Nesse contexto, entre as informações ge- e, ainda, avaliar o efeito de substâncias estádios de desenvolvimento (Fig. 2).
radas, podem-se citar a caracterização da e/ou do estresse ambiental sobre o ciclo Quando o objetivo é avaliar somente os
ploidia, a determinação da frequência de celular. grãos de pólen para testes de viabilidade,
recombinação entre genomas homólogos O cariótipo de uma espécie é obtido a devem ser coletados botões florais mais
e homeólogos, bem como a ocorrência de partir da observação de células meriste- maduros. Na meiose feminina, é necessária
irregularidades espontâneas ou induzidas máticas no estádio da metáfase, momento realização de cortes anatômicos do ovário/
e as possíveis causas de irregularidades quando os cromossomos estão bem con- saco embrionário, o que torna o procedi-
na segregação cromossômica, as quais densados e visíveis ao microscópio de mento mais complexo e demorado.
levam à produção de gametas inviáveis. luz. Pontas de raízes ou gemas apicais são Após a fixação em solução ácido-alcóo-
Isto é, o melhorista precisa de informações boas fontes de tecido meristemático, pela lica, segue-se a coloração dos meiócitos,
gerais e específicas a respeito do material facilidade de obtenção e por apresentarem cujos corantes mais utilizados são o car-
botânico que irá manipular. Essas infor- abundância de células em divisão, as quais mim e a orceína.
mações devem ser obtidas no período do absorvem rapidamente as soluções antimi- Na avaliação da viabilidade do pólen,
pré-melhoramento, que se trata de um elo tóticas e os fixadores (Fig. 1). podem ser utilizados métodos de coloração
entre os recursos genéticos e os programas Metáfases adequadas para análise e germinação. A coloração é um procedi-
de melhoramento. e contagem de cromossomos indivi- mento bastante simples, barato e que for-
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Biotecnologia 55

nece resultados rápidos. Considerando que


existe uma correlação viabilidade-coloração,
a estimativa é dada pela contagem dos pólens
não abortados e abortados, que se mostram
com coloração diferenciada. Vários são os
corantes empregados com essa finalidade,
dentre esses o carmim, a orceína e o verde
malaquita associado com fucsina ácida. A
coloração, embora seja um procedimento
simples e barato, não é totalmente con-
fiável para todas as espécies, pois pode
fornecer uma informação equivocada da
viabilidade. Nesse caso, pode-se optar pela
observação da capacidade germinativa in
vivo ou in vitro dos grãos de pólen, em
razão de ser um caráter que se correla-
ciona diretamente com a habilidade para
fertilização. Nos testes de germinação
in vivo, deposita-se o grão de pólen no
estigma receptivo. Após um determinado
tempo, o estigma é removido para fazer a
contagem do número de tubos polínicos
Figura 1 - Metodologia para a obtenção de cromossomos metafásicos mitóticos emitidos. Nos testes de germinação in
vitro, o pólen é espalhado sobre um meio
de cultura que, geralmente, contém saca-
rose e a viabilidade é observada por meio
da porcentagem de grãos de pólen que
emitem tubo polínico.
No processo de montagem das lâminas
do ciclo celular e de meiose, a técnica de
esmagamento é a mais difundida entre os
citogeneticistas. Mais recentemente, tem
sido empregada a técnica de secagem ao
ar, extensamente utilizada na citogenética
animal e adaptada por Carvalho e Saraiva
(1993), para observação de cromossomos
de plantas.
Cortes histológicos do ovário podem
ser utilizados para análises da estrutura
do saco embrionário com o objetivo de
fazer inferências sobre o modo de repro-
dução das plantas. Os diferentes tipos
de saco embrionário que caracterizam a
reprodução sexuada ou a apomixia podem
ser analisados a partir da observação, em
microscopia de interferência, de ovários
Metáfase I
fixados, desidratados e clareados ou, ainda,
por meio de cortes ultrafinos seccionados
com micrótomo, corados e visualizados em
Figura 2 - Metodologia para obtenção de cromossomos meióticos microscopia de luz de campo claro.
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Os procedimentos apresentados para Os fluorocromos mais utilizados em ve- todas as RONs, ativas ou não, são identi-
obtenção de células em mitose e meiose getais são a cromomicina A3 (CMA), que ficadas.
necessitam de modificações para diferentes evidencia sequências repetitivas ricas
genótipos. As lâminas obtidas com cro- em GC, e o 4', 6-diamidino-2-fenilindol Hibridização in situ
mossomos bem definidos são necessárias (DAPI) que identifica sequências repeti- A hibridização in situ é uma técnica
para o emprego das técnicas que seguem. tivas ricas em AT. Outros corantes, como o
desenvolvida há mais de 30 anos para
Hoechst 33258 e a quinacrina, apresentam
localizar sequências de ácidos nucleicos
Bandeamento cromossômico propriedades semelhantes ao DAPI. A mi-
diretamente nos cromossomos e vem sendo
tamicina e a olivomicina, que são isômeros
As técnicas de bandeamento cromos- extensivamente usada na citogenética.
da cromomicina e marcam regiões ricas em
sômico consistem no uso de tratamentos O princípio da técnica de hibridização
GC, também, são utilizadas.
e coloração diferenciais que permitem Outra técnica de bandeamento é a que in situ baseia-se no fato de que a molécula
a discriminação dos cromossomos ou utiliza o nitrato de prata (AgNO3) para a de DNA é formada por duas fitas comple-
dos cariótipos que não são identificados marcação das regiões organizadoras do mentares que podem ser facilmente separa-
por meio de coloração homogênea dos nucléolo ou RONs, denominada banda das em fitas simples (Fig. 3). Sob condições
cromossomos. Essas técnicas evidenciam Ag-NOR. Essa banda revela sítios de adequadas, é possível promover a renatu-
aspectos da organização e da morfologia DNA ribossômico que estiveram ativos ração do DNA, que volta ao estado de fita
cromossômica. Dentre as várias técnicas na interfase e, muitas vezes, localizam-se dupla. Portanto, se durante a renaturação
de bandeamento disponíveis, destacam-se na constrição secundária do cromossomo. do DNA houver sondas disponíveis, com
o bandeamento C e suas modificações, a Quando esses sítios formadores de nucléolo sequências complementares marcadas em
coloração com fluorocromos e a localiza- são identificados por hibridização in situ, torno do cromossomo, as cópias da sonda
ção das regiões organizadoras do nucléolo
por meio da impregnação pela prata.
O bandeamento C é usado para loca-
lização da heterocromatina constitutiva.
Essa técnica é referida como um procedi-
mento de desnaturação e renaturação, que
se baseia na remoção diferencial do DNA
presente nas regiões eucromáticas e hetero-
cromáticas dos cromossomos, promovendo
eliminações significativas de DNA e pro-
teínas, principalmente nas regiões eucro-
máticas. Após a determinação do padrão de
bandas C, essas podem ser caracterizadas
por apresentar maior frequência de pares
de bases guanina/citosina (GC) ou adeni-
na/timina (AT) por meio do bandeamento
fluorescente. A manipulação no protocolo
básico do bandeamento C, especialmente
em relação às etapas de denaturação e
renaturação, resultou no desenvolvimento
das técnicas de bandeamento CT e CD, as
quais evidenciam o centrômero, e HKG,
que revela um padrão de bandas heterocro-
máticas diferenciadas daquelas produzidas
pelo bandeamento C.
Com a aplicação dos fluorocromos,
surgiu o bandeamento fluorescente, que,
pela especificidade de ligação com as se-
quências de bases nitrogenadas do DNA,
permitiu uma caracterização mais precisa
dos diferentes segmentos cromossômicos. Figura 3 - Etapas da hibridização in situ

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competirão com fitas de DNA cromossô-


mico e poderão ser hibridizadas in situ, isto
é, no local em que aquela sequência ocorre
naturalmente. Há duas técnicas de hibridi-
zação in situ empregadas na citogenética,
a FISH e a GISH.
Na FISH, a sonda é uma sequência de
ácido nucleico, marcada com fluorocro-
mos, como por exemplo um transgene,
genes para DNAr 45S e 5S, sequências
teloméricas e centroméricas. A marcação
da sonda pode ser feita pela substituição de
alguns de seus nucleotídeos por nucleotí-
deos idênticos conjugados a fluorocromos
ou a moléculas marcadoras localizadas
posteriormente, utilizando anticorpos
conjugados a fluorocromos. Nesse caso,
as moléculas mais utilizadas são a bio-
tina e a digoxigenina, enquanto que os
fluorocromos mais usados para sinalizar
a presença de sondas são o isotiocianato
de fluoresceína (FITC), de cor verde, e a
rodamina ou o vermelho texas, ambos de
cor vermelha. Como contracorante usam-
se mais comumente o Hoechst, o DAPI ou
o iodeto de propídio. Essa técnica auxilia
na identificação e caracterização de bandas Figura 4 - Técnica FISH em cromossomos de milho identificando vários genes pela hibri-
específicas nos cromossomos, auxiliando dização in situ de sondas fluorescentes
na elaboração de mapas físicos, e também FONTE: Lamb et al. (2007).
permitindo a identificação do padrão de in- NOTA: FISH - fluorescent in situ hybridization.
serção de transgenes no genoma de plantas
transformadas (Fig. 4).
em um equipamento chamado citômetro de vapor de mercúrio). Os fluorocromos
Na GISH, a sonda é o DNA genômico
de fluxo. Os dados obtidos permitem a presentes nas partículas são excitados e
de uma espécie e vem sendo aplicada para
determinação de algumas características emitem luz de acordo com suas caracte-
análise de híbridos interespecíficos e no
estruturais e funcionais das partículas ana- rísticas fluorescentes. Os pulsos de luz e
estudo evolutivo de diversas espécies poli-
lisadas. A quantificação de DNA nuclear, de fluorescência gerados são colhidos por
ploides. As sondas são marcadas de forma um sistema de detecção ótica, separados
muitas vezes com alta resolução, tem sido
semelhante ao FISH e permitem distinguir por filtro e convertidos em pulsos elétricos,
usada com sucesso na avaliação de ploidia
complementos cromossômicos inteiros. os quais são proporcionais à quantidade
e na comparação de cariótipos em diferen-
Em ambas, a análise da coloração e a de luz dispersa ou fluorescência captada
tes espécies de plantas.
identificação dos sinais fluorescentes são por fotomultiplicadores. Esses sinais
Na citometria de fluxo, as partículas
feitas em microscópio de fluorescência. elétricos são amplificados e convertidos
em suspensão líquida são aspiradas e
hidrodinamicamente contidas no centro em pulsos analógico-digitais que, por sua
Citometria de fluxo
de uma câmara de fluxo, que se encon- vez, são processados por analisadores em
A citometria de fluxo é uma técnica que tra envolta por um fluído contínuo, cuja vários canais. Os sinais de cada partícula
envolve a análise das propriedades ópticas velocidade é muito maior do que aquela acumulam-se em tempo real na forma de
(dispersão da luz e fluorescência), radiação apresentada pela suspensão líquida. As histogramas, que são visualizados no mo-
laser ou fluxo hidrodinâmico de partículas partículas presentes nessa suspensão saem nitor de um computador (Fig. 5).
biológicas (células, núcleos, cromossomos, dessa câmara uma por vez, passando por Esse procedimento permite verificar,
organelas), associadas a fluorocromos que um foco de luz intensa com uma ou mais simultaneamente, as distribuições dos
fluem numa suspensão líquida isotônica fonte de iluminação (laser e/ou lâmpada valores da frequência e/ou densidade de
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Figura 5 - Funcionamento de um citômetro de fluxo


FONTE: A e C – FK-Biotec (2009); B - Santa (2006).
NOTA: A - Citômetro de fluxo modelo CyFlow SL Blue; B - Partículas suspensas e centralizadas em um fluxo contínuo que permite que
cada partícula passe individualmente pelo feixe de laser que excita os fluorocromos presentes, emitindo luz e fluorescência que
é captada, filtrada por sistema óptico e transmitida para sistema eletrônico, que converte estes sinais em valores analógico-digitais,
disponibilizando-os para análise em computador; C - Computador em que software específico permite originar diagramas de
acordo com o número de parâmetros, analisar e armazenar dados gerados.

cada parâmetro. A amostragem dos dados, estrutura citogenética e nível de ploidia e nero Pennisetum. As análises realizadas
as análises e a interpretação podem ser das relações filogenéticas entre as espécies, permitiram estabelecer e/ou confirmar o
realizadas por softwares específicos. As contribuindo para redução de tempo na número de cromossomos para acessos de
partículas são analisadas individualmente seleção de genótipos para cruzamentos. capim-elefante (P. purpureum), milheto
a uma velocidade elevada, permitindo que (P. glaucum), P. setosum e P. nervosum,
Caracterização de híbridos interespecíficos e hexaploides.
populações numerosas de células e orga-
germoplasma Para alguns desses acessos, também foi
nelas possam ser medidas num espaço de
tempo relativamente curto, com elevada O estabelecimento de uma coleção possível estabelecer a identificação botâ-
de germoplasma requer a caracterização nica. Dos acessos caracterizados, mais de
sensibilidade e precisão.
30% estavam erroneamente denominados
dos genótipos/acessos quanto aos aspec-
no banco ativo de germoplasma. Além
APLICAÇÕES DA tos agronômico, botânico, molecular e
CITOGENÉTICA NO disso, foram feitas descrições de com-
citogenético. Nesse sentido, a citogené-
MELHORAMENTO DE plementos cromossômicos de famílias
tica oferece inúmeras opções de análise e
PLANTAS completas, envolvendo parentais e híbridos
diagnóstico que podem ser empregadas, entre capim-elefante e milheto, as quais
A citogenética é considerada ferra- tais como: análise cariotípica (número e permitiram estabelecer as relações cario-
menta de grande valor nas etapas de pla- morfologia dos cromossomos) por colora- típicas (BARBOSA; DAVIDE; PEREIRA,
nejamento, coleta e seleção de genótipos, ção convencional; padrão de bandeamento 2003; TECHIO et al., 2002). As análises
manipulação e monitoramento de qualquer cromossômico e localização de sequências mitóticas confirmaram a natureza híbrida
programa de melhoramento genético e via FISH e GISH, para comparações mais de acessos e permitiram reconhecer alguns
conservação do germoplasma. refinadas e conteúdo de DNA, que permite cromossomos das espécies parentais nesses
As diferentes técnicas citogenéticas averiguar as variações no tamanho do ge- híbridos.
podem ser usadas estrategicamente na noma de espécies e de híbridos diploides Utilizando o bandeamento C, Badaeva
produção de dados para subsidiar decisões e poliploides. et al. (2007) estudaram a diversidade
dos melhoristas e pesquisadores durante Um dos exemplos bem-sucedidos da cromossômica e a presença de alterações
a implantação do programa de melhora- interação dos conhecimentos produzidos estruturais em acessos de trigo e triticale
mento, pois permitem o conhecimento da pela citogenética e a caracterização de de diferentes regiões da Europa, Ásia e
diversidade genética, o entendimento da germoplasma é o dos estudos com o gê- EUA. Cerca de 70% dos acessos de trigo e
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Biotecnologia 59

92% dos acessos de triticale apresentaram são menos produtivas que as cultivadas, tre o milheto (2n=2x=14 e os genomas AA)
cariótipos normais, sem grandes rearranjos entretanto, podem conter alelos impor- e o capim-elefante (2n=4x=28 e genoma
cromossômicos. Os acessos que diferiram tantes relacionados com a resistência a A’A’BB). Embora estéreis, esses híbridos
apresentaram polimorfismo para a dis- fatores bióticos e abióticos que podem ser apresentam caracteres de importância
tribuição das regiões de heterocromatina transferidos para as espécies cultivadas. No forrageira superiores aos encontrados
e, em alguns casos, pequenas alterações caso da batata cutivada (Solanum tubero- nos genitores, o que os torna um material
estruturais. Em outro estudo, Shelukhina sum ssp. tuberosum), um dos problemas atrativo para o melhoramento genético. A
et al. (2007), usando simultaneamente encontrados em relação à transferência superação da barreira da esterilidade tem
bandeamento C e hibridização in situ, de genes é a diferença de ploidia entre os sido obtida com a utilização de agentes
compararam as espécies de aveia tetra- genótipos silvestres, que são diploides antimitóticos, para promover sua duplica-
ploides (Avena insularis, A. magna e A. (2n=2x=24), e a espécie cultivada que é ção cromossômica. Várias metodologias
murphyi) com genomas A e C. De acordo tetraploide (2n=4x=48). Esse cruzamento foram empregadas gerando, na maioria das
com os dados obtidos nesse trabalho, os pode ser viabilizado a partir da produção vezes, plantas mixoploides com número
autores concluíram que A. insularis e A. de dihaploides da espécie cultivada. Os de cromossomos variando entre 14 e 42.
magna são espécies próximas, enquanto híbridos obtidos são geralmente vigorosos, Híbridos hexaploides artificiais nacionais
A. murphyi encontra-se mais distante das apresentam pareamento cromossômico e foram obtidos recentemente, produzindo
duas. Provavelmente, as três espécies apre- recombinação efetivos e são férteis. No grãos de pólen viáveis, os quais estão
sentam um ancestral tetraploide comum e a entanto, apesar de vigorosos, geralmente sendo empregados no programa de melho-
divergência ocorreu por causa de rearranjos possuem muitos caracteres indesejáveis ramento do capim-elefante (BARBOSA et
cromossômicos, sendo que a evolução da herdados dos materiais silvestres. Isso é al., 2007).
espécie A. murphyi foi independente das contornado realizando-se retrocruzamen- O interesse na obtenção desses hexa-
outras duas. tos com cultivares de S. tuberosum, para ploides, além da restauração da fertilidade,
Exemplos semelhantes de aplica- produzir progênies tetraploides. Para isso, reside na possibilidade de obtenção de
ções da citogenética na taxonomia e no torna-se necessário que o híbrido diploide novas combinações gênicas ou raças cro-
melhoramento de plantas foram obtidos produza gametas não reduzidos (pólen 2n). mossômicas a partir do retrocruzamento
para espécies dos gêneros Brachiaria Esses gametas também transferem níveis desses com seus parentais tetraploide
(MENDES-BONATO et al., 2002) e Arachis variáveis de heterozigosidade à progênie, (capim-elefante) e diploide (milheto). Es-
(PEÑAZOLA, 2006), entre outros. de acordo com o seu mecanismo de forma- pera-se que do cruzamento do hexaploide
ção. Dessa forma, averiguações citogenéti- com o capim-elefante sejam produzidos
Determinação do nível de
ploidia como base para cas tornam-se necessárias em várias etapas híbridos pentaploides com 2n = 5x = 35
cruzamentos do programa de melhoramento genético cromossomos (genomas AA’A’BB) e
da batata. É preciso certificar-se de que quando cruzado com o milheto produzam
Os programas de melhoramento
a indução da dihaploidia ocorreu e se os híbridos tetraploides com 2n = 4x = 28
genético e as coleções de germoplasma
dihaploides estão produzindo pólen em cromossomos (genomas AAA’B). Após a
geralmente dispõem de vários genótipos/
abundância e com alta viabilidade. A cer- indução realiza-se a certificação da dupli-
acessos, que apresentam diferentes núme-
ros básicos de cromossomos, quantidade tificação da ploidia pode ser feita por meio cação cromossômica.
de DNA e níveis de ploidia. O conheci- de contagens cromossômicas ou citometria Na cultura do cafeeiro, a quantificação
mento dessas características citogenéticas de fluxo, e a abundância e viabilidade dos de DNA tem-se mostrado útil na identifica-
é um pré-requisito para realização de grãos de pólen por testes de coloração e ção dos parentais de híbridos interespecí-
introgressões e cruzamentos interespe- germinação. Outro ponto importante é a ficos. Fontes (2003), utilizando citometria
cíficos e intergenéricos. Algumas dessas necessidade da avaliação da produção de de fluxo, investigou a origem de híbridos
informações podem ser obtidas por meio pólen 2n e dos mecanismos pelos quais os naturais em café, identificando-os como
da quantificação de DNA, certificação do clones obtidos do cruzamento interespecí- triploides (3C) e, pelo monitoramento do
número de cromossomos e também deter- fico os formam. Essas avaliações são feitas conteúdo de DNA, determinou que esses
minação do número de sítios de DNAr com por meio de medições dos grãos de pólen e híbridos resultaram do cruzamento entre
uso da FISH. análises meióticas (TOMÉ et al., 2009). Coffea racemosa (2C) e C. arabica (4C).
A ampliação da base genética da No melhoramento do capim-elefante, a A citometria de fluxo também permitiu de-
espécie em estudo pode ser obtida recor- manipulação da ploidia tem sido emprega- terminar a quantidade de DNA do híbrido
rendo-se a genótipos exóticos e silvestres. da para restaurar a fertilidade dos híbridos de Timor (4C), resultante do cruzamento
Em geral, espécies silvestres e exóticas triploides (2n=3x=21, genoma AA’B), en- natural entre C. arabica (4C) e C. canephora
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(2C), que, por apresentar baixo teor de Estudos meióticos, realizados em identificar plantas apomíticas e sexuais a
cafeína, valoriza extraordinariamente esse Pennisetum, descreveram o comporta- partir de análises citológicas, fenotípicas e
material como germoplasma básico para o mento cromossômico e a viabilidade do moleculares foram realizados por Valle e
melhoramento de C. arabica. Clarindo e pólen por meio de coloração e germinação Savidan (1996). Dentre os 251 acessos de
Carvalho (2009) associaram dados cario- nos genótipos parentais milheto e capim- 14 espécies de Brachiaria analisadas, os
típicos e de citometria de fluxo para obter elefante e seus híbridos correspondentes autores verificaram que ocorre tanto apo-
o conteúdo de DNA de cada cromossomo (TECHIO; DAVIDE; PEREIRA, 2006). mixia, quanto sexualidade dentro da mesma
de C. arabica e C. canephora, confirmando De modo geral, o milheto e o capim- espécie. Para inferir o modo de reprodução
que C. arabica é um alotetraploide origina- elefante apresentaram meiose regular e nesse grupo, foram analisados ovários
do do cruzamento entre espécies diploides alta viabilidade do pólen, demonstrada fixados, desidratados e clareados, visando
de Coffea e que C. canephora é um dos por meio de coloração. Para os híbridos identificar a estrutura do saco embrionário
seus possíveis genitores. interespecíficos e para os hexaploides na- do tipo Polygonum ou Panicum.
Outra forma de inferir o nível de ploi- cionais e americanos, diferentes tipos de O armazenamento de pólen justifica-se,
dia pode ser pela identificação do número anormalidades meióticas, principalmente quando se deseja realizar hibridações entre
de sítios de DNAr definidos por FISH relacionadas com a segregação irregular parentais que não apresentam sincronismo
ou por meio de coloração com nitrato dos cromossomos, resultaram na formação no florescimento ou estão em regiões
de prata (banda NOR). Utilizando FISH, geográficas distintas. Essa prática confere
de grãos de pólen aneuploides e inférteis.
Melo e Guerra (2003) analisaram espécies maior plasticidade para a realização das
Os resultados permitiram verificar alta
silvestres e cultivadas de Passiflora com polinizações. Além disso, o pólen arma-
correlação negativa entre a fertilidade do
números cromossômicos predominantes zenado pode ter sua viabilidade testada
pólen e as irregularidades meióticas e uma
de n=6 e n=9. Os resultados mostraram previamente pelo uso de corantes ou tes-
correlação alta e positiva entre fertilidade-
que o número de sítios de DNAr 5S e 45S tes de germinação in vitro, que garante o
estabilidade meiótica.
é mais alto nos grupos com n=9, reforçan- sucesso das polinizações. Em Eucalyptus
Outras informações sobre o modo de
do a hipótese da origem desse grupo por camaldulensis e E. urophylla foi possível
reprodução e período que os gametas se
poliploidia. armazenar pólen por até três meses sem
mantêm viáveis, após armazenamento,
que houvesse queda da viabilidade, a
Aspectos reprodutivos também podem ser obtidas por meio de
ponto de impedir o seu uso nas hibridações
análises citogenéticas.
Metodologias citogenéticas podem ser controladas. Esse tempo é mais do que
Em relação ao modo de reprodução, o
empregadas para gerar informações sobre suficiente para dar maior flexibilidade às
maior interesse é na identificação de ge-
os aspectos reprodutivos das espécies. atividades de hibridação dos programas de
nótipos apomíticos, os quais já foram des-
Análises do comportamento dos cromos- melhoramento dessas espécies (PEREIRA
critos para um grande número de espécies,
somos durante a meiose podem fornecer et al., 2002).
tais como em Citrus, maçã e gramíneas. Os métodos de avaliação da viabilidade
explicações para a ocorrência de infer-
Quando introduzida em cultivares impor- do pólen também podem ser empregados
tilidade total ou parcial encontradas em
diferentes espécies de plantas e de híbridos. tantes, a apomixia pode tornar-se um meio para identificar indivíduos machos estéreis.
A presença de configurações cromossô- econômico para perpetuar um genótipo co- Essa identificação elimina o processo de
micas univalentes e diferentes tipos de nhecido, preservando características como emasculação, tornando os procedimentos
multivalentes nos meiócitos são algumas heterose, por meio de sucessivas gerações, de polinização mais rápidos e menos dis-
das características usadas para diagnós- via sementes. As plantas apomíticas podem pendiosos.
tico da homologia cromossômica. Essas também fornecer uma fonte constante
configurações podem ser observadas nas renovável de sementes capazes de propor- Análise genômica
diacineses e metáfases e também nas aná- cionar uma alta produção de grãos. A análise genômica, por meio de estu-
fases e telófases, por meio da segregação O gênero Brachiaria reúne espécies dos meióticos clássicos ou por citogenética
irregular. Ao final da meiose, nos estádios diploides com reprodução sexual e poli- molecular (FISH e GISH), constitui um
de tétrade e micrósporos, a ocorrência de ploides apomíticas. Esta característica é excelente recurso de análise citogenética
micronúcleos é reflexo do comportamento interessante, porque possibilita a realização com aplicabilidade direta nos programas de
irregular dos cromossomos, indicando que de experimentos, visando à transferência melhoramento de plantas, pois a estimativa
estes não foram incorporados aos núcleos dos genes responsáveis pela apomixia de da afinidade genética fornece um indica-
em formação, o que resulta na formação variedades apomíticas para espécies sexuais tivo da melhor combinação para troca de
de grãos de pólen inviáveis. relacionadas. Estudos conduzidos para alelos entre as espécies.
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Biotecnologia 61

A análise genômica, em seu sentido imunolocalização, foi conduzido por Leflon micas. A citogenética permite identificar
mais restrito, inclui o estudo do parea- et al. (2006) com híbridos de Brassica napus os cromossomos adicionados por meio da
mento cromossômico na metáfase I da (genoma AACC) x Brassica rapa (genoma morfologia e tamanho do cromossomo,
meiose em híbridos, com o propósito de AA). Na maioria dos meiócitos, os cromos- principalmente com técnicas de bandea-
estabelecer relacionamentos filogenéticos somos homólogos do genoma A parearam mento e FISH. Análises meióticas também
entre um grupo de organismos. A meto- regularmente, enquanto os cromossomos podem contribuir para identificação desses
dologia baseia-se no pressuposto de que do genoma C permaneceram como univa- cromossomos adicionados, pois em linhas
somente cromossomos similares (homó- lentes, mas também estavam envolvidos monossômicas, permanecem como univa-
logos) pareiam na meiose e que o grau de em pareamentos homeólogos. A taxa de lentes e, nos dissômicos, como bivalentes
pareamento nos híbridos reflete o grau de transmissão dos cromossomos C dependeu na diacinese e metáfase I. Os níveis de
relacionamento entre as espécies parentais. de um cromossomo particular e da forma fertilidade dessas linhas de adição são
As análises genômicas com FISH e GISH como o híbrido foi cruzado, como parental variáveis, mas os dissômicos tendem a
possibilitam detalhar melhor a estrutura do masculino ou feminino, para B. napus ou ser mais férteis, pois se espera que os bi-
genoma, identificar regiões homólogas e B. rapa. As transferências de genes nos valentes apresentem um comportamento
duplicadas nos cromossomos e, no caso da híbridos triploides foram favorecidas entre meiótico normal.
GISH, elucidar a origem de complementos os genomas A e B das duas espécies, mas As linhas de substituição podem en-
cromossômicos. Em ambas as análises, é também ocorreram entre A e C em taxas volver um genoma inteiro, cromossomos
possível estimar o pareamento cromossô- menores. ou segmentos cromossômicos e são boas
mico e o grau de relacionamento genético alternativas para ampliar a variabilidade
entre parentais de híbridos poliploides, Obtenção de linhas de genética. O procedimento para substituição
adição e substituição
usando modelos matemáticos. genômica envolve o cruzamento entre a
Resultados aplicáveis ao Programa de Os programas de melhoramento ge- espécie cultivada e a silvestre, seguida por
Melhoramento Genético do Capim-elefante nético muitas vezes defrontam-se com retrocruzamentos recorrentes para eliminar
foram obtidos a partir de análises meióticas problemas para transferência de genes os caracteres indesejáveis da espécie culti-
convencionais em híbridos triploides entre de interesse, encontrados nos genótipos vada, originando uma cultivar modificada
capim-elefante (P. purpureum) e o milheto silvestres para cultivados, pela baixa denominada aloplásmica. Geralmente,
(P. glaucum). Usando modelos matemá- capacidade de cruzamento entre ambos. essas linhas aloplásmicas são resgatadas
ticos, foi possível demonstrar quantita- A superação dessa barreira pode ser feita por cultura de embriões. A substituição cro-
tivamente a proximidade genética em por meio da produção de linhas de adição mossômica pode ser feita entre genótipos
diferentes combinações híbridas, envol- e de substituição. com proximidade genética, promovendo
vendo acessos de milheto e capim-elefante. É preciso considerar também que a substituição de um cromossomo ou um
Esses dados associados às informações de nem sempre interessa introgredir todo o par de cromossomos no genoma da espé-
fertilidade, irregularidades e estabilidade genoma silvestre na espécie cultivada. cie cultivada. Esse procedimento prevê,
meióticas fornecem subsídios úteis, quan- Ao contrário, se for possível fazer um inicialmente, o cruzamento de uma linha
do o objetivo é a transferência de alelos cruzamento mais seletivo, isso se torna de adição monossômica de uma espécie
(TECHIO; DAVIDE; PEREIRA, 2005). vantajoso para o programa. As linhas de com uma linha dissômica da outra espé-
As técnicas GISH e GISH multicolor adição consistem na introdução de um ou cie. A completa substituição de um par
foram utilizadas por Han et al. (2004) na dois cromossomos da espécie silvestre cromossômico é obtida após a seleção e
determinação da constituição citogenética para a cultivada, constituindo, respectiva- autofecundação de plantas F1. A substitui-
de cinco linhagens anfiploides obtidas mente, linhas monossômicas e dissômicas. ção de um segmento cromossômico pode
a partir de cruzamentos entre trigo x Resumidamente, o procedimento envolve ser obtida por translocação induzida com
Thinopyrum intermedium. Os dados a produção de um híbrido interespecífico mutágenos ou naturalmente. Da mesma
obtidos permitiram verificar que ocorre ou intragenérico e a duplicação de seus forma, as análises citogenéticas possibi-
transferência intergenômica de segmen- cromossomos. Posteriormente, deve ser litam a identificação dos cromossomos
tos de cromossomos e/ou introgressão de feito um retrocruzamento com a planta substituídos.
sequências nos anfiploides sintetizados receptora e o isolamento de monossômicos Linhas de adição e susbtituição
independente do seu comportamento di- em um segundo retrocruzamento, seguido cromossômicas têm sido estudadas em
ploide e herança dissômica. Outro estudo da seleção de linhas de adição dissômica trigo e várias espécies de gêneros rela-
que envolve o uso de GISH, associado à após a autofecundação de linhas monossô- cionados. Translocações e recombina-
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62 Biotecnologia

ções também têm sido identificadas em Essa parceria inicia-se com a identifica- REFERÊNCIAS
híbridos. Brasileiro-Vidal et al. (2005) ção dos genótipos e estabelecimento da BADAEVA, E.D. et al. Chromosomal rear-
identificaram por GISH a introgressão coleção de trabalho, durante os testes de rangements in wheat: their types and distri-
de um braço cromossômico de centeio em pré-seleção e seleção dos materiais. À bution. Genome, Toronto, v.50, n.10, p.907-
uma cultivar de trigo resultante de uma medida que o programa prossegue, as 926, Oct. 2007.

translocação entre os cromossomos dessas informações sobre o modo de reprodução, BARBOSA, S. et al. Duplicação cromossô-
duas espécies. quantificação da variabilidade e determi- mica de híbridos triploides de capim ele-
fante e milheto. Bragantia, Campinas, v.66,
nação do nível de ploidia são importantes
n.3, p.365-372, 2007.
Variabilidade genética em para a definição das estratégias a serem
fitopatógenos seguidas, ajudando a definir os modos de
_______; DAVIDE, L.C.; PEREIRA, A.V. Cyto-
genetics of Pennisetum purpureum Schumak
Um dos objetivos dos programas de propagação e manutenção dos genótipos. x Pennisetum glaucum L. hybrids and their
melhoramento é obter cultivares resisten- Quando genótipos de interesse são obtidos parents. Ciência e Agrotecnologia, Lavras,
tes a fitopatógenos, uma vez que perdas e a introdução de características é desejada, v.27, n.1, p.26-35, jan./fev. 2003.
enormes na produção podem ocorrer, em o conhecimento das relações genômicas BRASILEIRO-VIDAL, A.C. et al. Molecular
decorrência da presença desses micror- fornece subsídios para a determinação cytogenetic characterization of parental ge-
ganismos na planta. A dificuldade para das afinidades de cruzamento e escolha nomes in the partial amphidiploid Triticum
de parentais. Quando há dificuldades na aestivum × Thinopyrum ponticum. Genetics
a obtenção de cultivares resistentes está
and Molecular Biology, São Paulo, v.28, n.2,
diretamente relacionada com o potencial incorporação de alelos de interesse pela
p.308-313, 2005.
de variabilidade genética do fitopatóge- recombinação genética, as metodologias
CARVALHO, C.R. de; SARAIVA, L.S. An air
no. No programa de melhoramento do citogenéticas podem ser utilizadas para
drying technique for maize chromosomes
feijoeiro, um dos problemas enfrentados acompanhar os procedimentos para obten-
without enzymatic maceration. Biothecnic
é a suscetibilidade de cultivares ao fungo ção de linhas de adição e substituição. and Histochemistry, Louisville, v.68, n.3,
causador da antracnose, cujo agente causal Mesmo quando a transgenia é empre- p.142-145, 1993.
é o Colletothricum lindemuthianum. As gada, a citogenética fornece subsídios para CLARINDO, W.R.; CARVALHO, C.R. de.
perdas causadas por esse patógeno podem visualização e certificação da presença e Comparision of Coffea canephora and C.
ser totais, quando utilizadas sementes do funcionamento do transgene, pois a arabica karyotype based on chromosomal
análise dos cromossomos constitui a forma DNA content. Plant Cell Reports, Heidelberg,
infectadas e condições ambientais favorá-
de avaliar o material genético da maneira v.28, n.1, p.73-81, Jan. 2009.
veis a tais patógenos, sendo que mais de
50 raças já foram identificadas no Brasil. como este se apresenta na célula, isto é, o FK-BIOTEC. Porto Alegre, [2009]. Ci-
cromossomo não é somente um portador tômetro de fluxo. Disponível em:
Por meio de metodologias citogenéticas, < h t t p : / / w w w. f k b i o t e c . c o m . b r / i n d ex .
foi possível explicar a alta variabilidade dos genes, mas um determinador ativo dos
php?act=citometro>. Acesso em: 4 set.
genética encontrada nesse patógeno. Entre mecanismos de herança. 2009.
os mecanismos que contribuem para o Além disso, as informações obtidas
FONTES, B.P.D. Citogenética, citometria de
aumento da variabilidade, foram descritos pela citogenética podem ser associadas fluxo e citometria de imagem em Coffea
o polimorfismo cromossômico, atribuído à aos conhecimentos advindos dos estudos spp. 2003. 130f. Tese (Doutorado em Gené-
ocorrência de irregularidades nas divisões moleculares, morfológicos, bioquímicos e tica e Melhoramento) - Universidade Fede-

mitótica e meiótica e a transferência in evolutivos, de modo que forneça uma ca- ral de Viçosa, Viçosa, MG, 2003.

vivo de material citoplasmático e nuclear racterização ampla e integrada da biologia HAN, F. et al. Genomic constitution and
das espécies. variation in five partial amphiploids of
por meio de anastomoses entre conídios
wheat - Thinopyrum intermedium as re-
(ISHIKAWA, 2009). vealed by GISH, multicolor GISH and
AGRADECIMENTO
seed storage protein analysis. Theoretical
CONSIDERAÇÕES FINAIS and Applied Genetics, Berlin, v.109, n.5,
Os autores agradecem o apoio finan-
p.1070-1076, Sept. 2004.
A citogenética, por meio de suas di- ceiro da Fundação de Amparo à Pesquisa
ferentes metodologias simples e de baixo ISHIKAWA, F.H. A função das anastomoses
do Estado de Minas Gerais (Fapemig),
entre conídios na recombinação genética
custo, pode oferecer aos programas de Conselho Nacional de Desenvolvimento
em Colletotrichum lindemutianum. 2009.
conservação do germoplasma e de melho- Científico e Tecnológico (CNPq) e Coor- 97f. Tese (Doutorado em Agronomia) -
ramento genético uma série de informações denação de Aperfeiçoamento de Pessoal Universidade Federal de Lavras, Lavras,
úteis para a condução dos experimentos. de Nível Superior (Capes). 2009.

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Biotecnologia 63

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Av. Ricarti Teixeira, 1364


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64 Biotecnologia

Cultivo de plantas in vitro e suas aplicações


Geraldo Magela de Almeida Cançado 1
Ana Paula Ribeiro 2
Gustavo de Faria Freitas 3
Maria Eugênia Lisei de Sá 4
Hélio Evaldo da Silva 5
Moacir Pasqual 6
Aurinete Daienn Borges do Val 7
Claudinéia Ferreira Nunes 8

Resumo - A propagação de plantas in vitro é um ramo da biotecnologia que vem sendo


estudado há bastante tempo, com relatos de trabalhos desenvolvidos desde o início do
século passado. Inúmeros avanços foram obtidos e, atualmente, seu emprego, nas mais
diversas áreas de pesquisa, ocorre de forma corriqueira. Essas áreas vão desde o desen-
volvimento de novas cultivares em processos de fusão de protoplastos e transformação
genética de plantas, até a limpeza clonal, com a propagação de plantas isentas de vírus
e outras doenças. Esta última alcançou enorme destaque na produção comercial de mu-
das de melhor qualidade fitossanitária.

Palavras-chave: Micropropagação. Cultura de tecido. Melhoramento genético. Limpeza


clonal.

INTRODUÇÃO problemas fisiológicos e morfológicos nica no melhoramento genético de plantas


(KRIKORIAN; BERQUAM, 1969). e, desde então, inúmeras outras conquistas
Os princípios teóricos da cultura de
Hanning (1904 apud TORRES; CAL- foram alcançadas. White (1934), em seus
tecidos de plantas foram propostos ainda
no século 19, com as teorias de totipotên- DAS, 1990), ao utilizar algumas espécies estudos, elaborou um meio líquido para
cia de células vegetais. Mas só no início de crucíferas, foi o primeiro a descrever na o cultivo de ápices radiculares de tomate
do século 20, em 1902, é que realmente literatura o cultivo de embriões imaturos in que permitia o cultivo por longos perío-
apareceram os primeiros trabalhos de vitro. Mais tarde, Knudson (1922) também dos. Esse meio tinha em sua composição
Haberlandt, com o cultivo de tecidos obteve sucesso com embriões de orquíde- sais inorgânicos, sacarose e extrato de
somáticos de várias espécies de plantas as e, em 1925, Laibach (apud TORRES; levedura, que eram responsáveis pela ma-
(KERBAUY, 1997). Haberlandt não CALDAS; FERREIRA, 1998), conseguiu nutenção do desenvolvimento das plantas.
obteve sucesso com seus experimentos, recuperar embriões de híbridos incompatí- Ainda hoje, apesar de ter sofrido algumas
porém previu o uso de cultura de células veis de plantas do gênero Linum, dando os modificações em sua composição inicial,
como um meio elegante para o estudo de primeiros passos para a utilização da téc- como a troca do extrato de levedura por

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-FECD, Caixa Postal 33, CEP 37780-000 Caldas-MG. Correio eletrônico: cancado@epamig.br
Biotecnologista, Bolsista FAPEMIG/U.R. EPAMIG SM-FECD, Caixa Postal 33, CEP 37780-000 Caldas-MG. Correio eletrônico:
2

anapaula@epamigcaldas.gov.br
3
Eng o Agro, Doutorando UFLA - Depto Agricultura, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: freitasgf@yahoo.com.br
4
Bióloga, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG TP-FEGT, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: eugenia@epamiguberaba.com.br
5
Biólogo, M.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG TP-FEGT, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: helio@epamig.br
6
Engo Agro, D.Sc., Prof. UFLA - Depto Agricultura, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: mpasqual@ufla.br
7
Eng a Agr a, Doutoranda UFLA - Depto Agricultura, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: aurineteval@yahoo.com.br
8
Eng a Agr a, Doutoranda UFLA - Depto Agricultura, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: nunescfr@yahoo.com.br

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vitaminas, o meio White (WHITE, 1937) HAAGENSMIT; ERXLEBEN, 1934; da proposta a que se destina o cultivo in
é utilizado em vários trabalhos de cultura MILLER et al., 1955). Essas substâncias, vitro. Sendo assim, estudos prévios sobre
de tecidos de plantas. Murashige e Skoog como foi observado mais tarde, possuíam as exigências nutritivas das plantas são
(1962) desenvolveram um meio nutritivo grande influência no padrão de desenvolvi- necessários, sobretudo quando se trata do
denominado MS, em que os níveis de nu- mento de órgãos, tecidos e células vegetais. cultivo in vitro de novas espécies.
trientes inorgânicos tiveram como base a Hoje, sabe-se que o correto balanço desses A possibilidade de multiplicar e manter
constituição do extrato de folha de fumo. reguladores de crescimento, assim como populações de plantas idênticas, conferida
Dessa forma, esses autores conseguiram o fornecimento adequado de nutrientes,
pela descoberta da totipotência celular,
reproduzir com maior fidelidade os níveis pode determinar o sucesso ou o fracasso
estabeleceu uma ligação entre a cultura
de nutrientes naturalmente necessários de um cultivo em particular (HUANG;
de tecidos e a genética. A partir desses
para o desenvolvimento das plantas. MURASHIGE, 1976).
conhecimentos, novas técnicas como a
Atualmente, o MS é um dos meios mais Com o passar dos anos, a função de
utilizados em trabalhos de cultura de teci- cada constituinte do meio nutritivo foi androgênese, produção de compostos
dos, mostrando-se adequado para as mais intensamente estudada, sendo bem conhe- metabólicos de interesse econômico, fusão
diversas finalidades. O descobrimento e a cida atualmente. Apesar da existência de de protoplastos e produção de embriões
utilização de reguladores de crescimento, diversas formulações de meios, utilizadas somáticos (Fig. 1) foram desenvolvidos
tais como as auxinas e citocininas, tam- de forma geral em cultura de tecidos ve- e novos aspectos como a variação soma-
bém tiveram papel preponderante para getais, a composição dos meios nutritivos clonal e tumores causados pela bactéria
o avanço da cultura de tecidos (KOGH; pode variar enormemente, dependendo Agrobacterium tumefaciens passaram a ser

A B

Fotos: Helio Evaldo da Silva (U.R. EPAMIG TP-FEGT)

C D
Figura 1 - Embriogênese somática de café
NOTA: A - Explante inicial – tecido foliar; B - Processo de calogênese; C - Desenvolvimento de embriões somáticos; D - Desenvolvi-
mento de plântulas de café.

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estudados. Durante a década de 1990, foi Avaliações comparativas realizadas florestais e olerícolas. O método baseia-se
vista uma expansão na aplicação da técnica com plantas de uma mesma cultivar de na produção de plantas mais uniformes,
in vitro para um número maior de espécies. moranguinho, infectadas com vírus, mos- sadias e a uma velocidade muito maior
Nesse período, a técnica permaneceu como traram que aquelas livres desses patógenos, do que os métodos convencionais, sem
uma importante ferramenta nos estudos via cultura de ápices meristemáticos, eram considerar a manutenção de quantidades
de áreas básicas da biologia e bioquímica duas vezes mais produtivas (KERBAUY, consideráveis de plantas por metro qua-
vegetal e tem assumido maior importância 1997). Atualmente, a produção de matrizes, drado, dentro dos frascos em laboratórios,
em estudos de biologia molecular e bio- a partir de meristemas e embriões isolados, protegidas do ataque de pragas, doenças e
tecnologia agrícola (TORRES; CALDAS; em conjunto com o uso de cultivares re- intempéries (LEE et al., 1995; KERBAUY,
FERREIRA, 1998). sistentes, é a forma mais efetiva de evitar 1997). Laboratórios que se dedicam à
No Brasil, os primeiros trabalhos de danos causados pelas viroses (Fig. 2). multiplicação in vitro, em larga escala,
cultura de tecidos foram realizados na dé- O cultivo in vitro também tem sido de plantas de importância econômica são
cada de 1950, no Instituto Biológico de São utilizado para formação e intercâmbio denominados biofábricas. O processo de
Paulo e, em seguida, na Universidade de de germoplasmas, produção de sementes biofabricação de plantas envolve basica-
São Paulo (USP). Entre os anos de 1975 e sintéticas, microenxertia, estudo de bio- mente as etapas descritas na Figura 3.
1980, novos laboratórios foram criados na logia vegetal, além de outras inúmeras Na área de plantas ornamentais, onde
Universidade de Campinas (Unicamp), no aplicações. predominam plantas híbridas, gérbera,
Instituto Agronômico de Campinas (IAC) cravo, tulipa, orquídea etc., a clonagem
e em alguns centros de pesquisa da Em- MICROPROPAGAÇÃO in vitro de matrizes selecionadas tem per-
presa Brasileira de Pesquisa Agropecuária COMERCIAL DE PLANTAS mitido a compatibilização de demandas
(Embrapa). Atualmente, o País conta com A produção comercial de plantas in específicas dos mercados interno e externo,
vários laboratórios de cultura de tecidos vitro é uma prática já bastante utilizada em com atributos importantes, como época
distribuídos em universidades, institutos diversos países da Europa, Ásia, Estados de floração, coloração, tamanho e forma
de pesquisa e em empresas privadas. Unidos e, mais recentemente, no Brasil. A das flores, número de flores/plantas, com-
técnica da clonagem tem-se mostrado de primento e resistência das hastes florais,
APLICAÇÕES DA CULTURA DE enorme importância prática e potencial na tamanho e vigor das plantas (KERBAUY,
TECIDOS DE PLANTAS
agroindústria de flores, espécies frutíferas, 1997).
Dentre todas as aplicações da cultura
de tecidos de plantas, as de maior impacto
foram as de utilização no melhoramento
genético de plantas e na recuperação de
genótipos livres de vírus e outros agentes
fitopatogênicos. No primeiro caso, a utili-

Claudinéia F. Nunes (UFLA - Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais)


zação da cultura de tecidos no desenvol-
vimento de novas cultivares tem ocorrido
das mais diversas formas. Algumas vezes,
é responsável diretamente pelo processo de
melhoramento e, em outras, apenas con-
tribui em alguma etapa do processo. Já a
utilização da micropropagação para limpe-
za clonal ganhou força ainda na década de
1960, principalmente pela inexistência de
produtos que pudessem controlar viroses
de plantas. No passado, muitos genótipos
de plantas de grande potencial agronômi-
co caíram em desuso, em razão da baixa
produção ocasionada pelas altas taxas de
contaminação por vírus, principalmente em
espécies propagadas vegetativamente. Figura 2 - Meristema de cana-de-açúcar cultivado in vitro

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Variação somaclonal e
mutação induzida
Um problema comumente observado
em plantas cultivadas in vitro, principal-
mente quando sofrem excessivo número
B C de repicagens ou quando passam pela fase
de calo, é o surgimento de plantas com
características morfológicas distintas da
D planta-matriz. O cultivo in vitro ocasiona
A uma condição de estresse nas plantas, o que
provoca distúrbios durante a divisão celu-
lar, denominados variações somaclonais. A
princípio, o fenômeno foi encarado como
um problema para a produção de mudas
E micropropagadas, no qual se deseja que
todos os clones preservem com fidelidade
F
as características da planta-matriz. Porém,
mais tarde, a variação somaclonal foi vista
pelos melhoristas de plantas como uma
forma de explorar melhor sua variabilida-
de genética. As cultivares comerciais de
tomate ‘DNAP 9’, com alto teor de sólidos
solúveis, e a cultivar de pimentão ‘Bell
Figura 3 - Esquema de produção de tubérculos de batata
Sweet’, com menor número de sementes
NOTA: A - Seleção e desinfestação das brotações que servirão como fonte de explante; no fruto, são exemplos típicos de seleção
B - Estabelecimento do explante em meio de cultura; C - Multiplicação dos pro-
págulos por meio de sucessivos subcultivos; D - Alongamento e enraizamento de variantes somaclonais obtidos in vitro
das plântulas in vitro; E - Transplante para casa de vegetação e aclimatação; (FERREIRA; CALDAS; PEREIRA,
F- Produção de novos tubérculos. 1998). Em ambas as cultivares, apesar da
ocorrência da variação genética em seu ge-
noma, todas as características agronômicas
No caso das espécies frutíferas, par- interno e externo, podem aumentar as
originais foram preservadas.
ticularmente abacaxi e banana, a expansão chances de sucesso.
A maioria das variações somaclonais
para novas áreas de cultivo tem sido limita- origina-se de distúrbios ocorridos durante
da, principalmente pela oferta insuficiente UTILIZAÇÃO DIRETA DA
o processo de separação dos cromossomos
de mudas, assim como pelo baixo padrão CULTURA DE TECIDOS
duplicados na anáfase mitótica, ocasio-
NO MELHORAMENTO DE
fitossanitário (BORGES et al., 1997; nando poliploidias, aneuploidias, quebras
PLANTAS
REINHARDT, 1998). e pontes cromossômicas. Entretanto,
O processo de biofabricação de plan- Uma grande vantagem da cultura de algumas vezes, essas alterações não são
tas enfrenta desafios relacionados com a tecidos é a possibilidade que oferece ao herdáveis, por não se manterem estáveis
necessidade de mão-de-obra qualificada, melhorista de plantas de explorar melhor durante as divisões mitóticas, sendo de-
baixo nível de automação, tática de pro- a variabilidade genética. A utilização em nominadas alterações epigenéticas. Altera-
dução e logística de comercialização de programas de melhoramento da variação ções na sequência de nucleotídeos na fita
plantas que agregam valores relacionados somaclonal e da mutação induzida in vitro de DNA, denominadas mutação de ponto,
com a qualidade e redução do tempo para pode facilitar a obtenção de indivíduos também já foram descritas como sendo
a produção, tornando-se barreiras que com melhor vantagem adaptativa a vários fruto da variação somaclonal (EVANS;
podem inviabilizar iniciativas nessa área. estresses bióticos e abióticos. Aliado a SHARP, 1983). Da mesma forma que o
Estratégias de como aplicar corretamente isso, em muitos casos existe a vantagem cultivo in vitro proporciona o aparecimento
as informações técnicas, a fim de expor um de poder exercer a pressão de seleção no de variantes genéticas, mutações podem
produto inovador e de qualidade na vitrine próprio ambiente de cultivo, culminando ser induzidas artificialmente por outros
comercial e consolidar uma imagem de numa economia de espaço e de tempo para fatores. A incidência de raios ultravioletas
confiabilidade e segurança aos públicos o melhorista. e de substâncias mutagênicas, diretamente
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sobre células, tecidos ou órgãos de plan- regeneração de plantas a partir de proto- meio de cultura, linhagens de células to-
tas, pode elevar consideravelmente a taxa plastos. O protoplasto nada mais é do que lerantes a herbicidas, patógenos ou outros
de mutações gênicas, cromossômicas e a célula vegetal individualizada, desprovida estresses, tais como toxidez provocada por
extranucleares. das paredes celulares. A priori, protoplas- alumínio ou baixa disponibilidade de nu-
Apesar de a indução artificial de muta- tos podem ser isolados de qualquer tecido trientes. A mutação artificial também pode
ções estar sendo utilizada in vivo há bastan- vegetal, mas, geralmente, a preferência é ser empregada em protoplastos, da mesma
te tempo, sua aplicação in vitro mostrou-se dada aos tecidos como os do mesófilo foliar forma que é utilizada em tecidos e órgãos,
mais atraente, pois permite manipular em ou de calos friáveis. Em tecidos tenros, não sendo que, nesse caso, praticamente ficam
pequenos espaços grandes quantidades de lignificados, há uma maior facilidade de anuladas as chances de surgir quimeras, já
células vegetais, o que reduz considera- isolamento, obtendo-se um maior rendi- que as novas plantas originam-se de uma
velmente os riscos dessa prática, visto que mento no número de protoplastos viáveis única célula.
agentes mutagênicos podem causar câncer (NAGATA; TAKEBE, 1970; NAGAO, Uma utilização de protoplastos no
em humanos, além disso, soma-se o fato 1978). A eliminação das paredes celulares melhoramento de plantas, extremamente
de reduzir a chance de aparecimento de dá-se pela ação de enzimas pectocelulo- elegante, tem ocorrido na produção de hí-
quimeras, presença no mesmo indivíduo líticas, que digerem os componentes das bridos somáticos entre espécies diferentes
de tecidos geneticamente distintos. paredes celulares, liberando a célula vege- (VIEIRA, 1997). Inúmeros mecanismos
É interessante ressaltar que mesmo a tal que fica envolta apenas pela membrana naturais impedem a formação de híbridos
ocorrência de mutações deletérias pode ser celular. As células vegetais, nessa condição, entre espécies por cruzamento sexual.
de grande valia, quando utilizadas em estu- podem ser manipuladas de várias formas, Com a possibilidade de fundir duas célu-
dos de metabolismo vegetal e de expressão com aplicações em diversas áreas da pes- las distintas, originando uma nova célula
de genes. O uso de agentes mutagênicos quisa em vegetais. Mas é principalmente no que contenha a carga genética de ambas,
combinado com sistemas de seleção em melhoramento de plantas que vislumbram todas as barreiras pré e pós-zigóticas são
cultura de tecidos vegetais, seja para loca- as maiores potencialidades da utilização de eliminadas. A fusão de protoplastos cria a
lizar mutações em cadeias biossintéticas protoplastos. A variação somaclonal, des- possibilidade de formação de híbridos até
específicas, seja para identificar genótipos crita anteriormente, também é observada entre gêneros diferentes. No Quadro 1, es-
resistentes ou tolerantes a fatores causado- nas culturas de protoplastos, pois o pró- tão relacionados exemplos de hibridações
res de estresse, oferece amplas perspectivas prio fato de manter em cultura um tecido interespecíficas e intergenéricas, que foram
para reduzir os custos de determinados desorganizado, durante um longo período, realizadas com sucesso.
programas de melhoramento. favorece o surgimento de variações genéti- Para que ocorra a fusão de protoplastos,
cas (CARNEIRO; CONROI, 1990). Nesse podem ser utilizados diferentes mecanis-
Isolamento e fusão de caso, a seleção de determinada caracterís- mos, quer seja por choques de corrente
protoplastos
tica torna-se mais simples, pela facilidade elétrica, eletrofusão, quer seja mediado por
Uma variação bastante interessante da de impor uma pressão seletiva mais homo- um agente químico, como polietilenoglicol
técnica de cultura de tecidos vegetais é a gênea. Fica fácil, portanto, selecionar em (VIEIRA, 1997). No caso da eletrofusão,

QUADRO 1 - Híbridos somáticos produzidos por fusões de protoplastos

Entre gêneros Entre espécies

Solanum tuberosum + Lycopersicon esculentum Nicotiana tabacum + N. repanda


Daucus carota + Aegopodium padagraria N. tabacum + N. rústica

D. carota + Petroselium hortense Solanum tuberosum + S. nigrum

Citrus sinensis + Poncirus trifoliata Datura innoxia + D. discolor

Brassica oleracea + Sinapis túrgida Brassica oleracea + B. campestris

B. oleracea + Moricandia arvensis B. napus + B. campestris

Nicotiana tabacum + Hyoscyamus muticus Oryza sativa + O. officinalis

Lycopersicon peruvianum + Petunia hybrida O. sativa + O. eichingeri


Oryza sativa + Echinochlora oryzicola O. sativa + O. brachyantha
FONTE: Dados básicos: Carneiro et al. (1998).

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os protoplastos são submetidos a um


campo elétrico de corrente alternada de
alta frequência, que promove uma pola-
rização, isto é, um hemisfério positivo e
um outro negativo, criando uma força de
atração entre as células adjacentes. Uma Planta de Planta de
vez alinhados, os protoplastos podem-se tomate batata
fundir, por causa do surgimento de poros
na membrana plasmática, ocasionado pela
aplicação de pulsos rápidos de corrente
contínua de alta voltagem, 500 V/cm
(CARNEIRO; CONROI, 1990). A Figura 4 Tecido do Tecido do
mesófilo foliar mesófilo foliar
ilustra um exemplo hipotético da fusão de
protoplastos de tomate com protoplastos
de batata, ambas espécies da família das
solanáceas. Embora essa fusão já tenha
sido descrita na literatura, até o momento, Protoplastos
isolados
não se conseguiu um híbrido entre as duas
espécies que seja capaz de produzir toma-
tes e batatas ao mesmo tempo. Outra forma
usada para promover a fusão de protoplas-
tos é a utilização de soluções com elevada
concentração de cátions, 50 a 100 mM de Mistura dos
Ca2+, e polietilenoglicol (PEG). A solução protoplastos
salina neutraliza a repulsão causada pelas
cargas negativas da membrana, enquanto
o PEG aumenta a viscosidade do meio,
Alinhamento dos Polarização por
promovendo a agregação dos protoplastos. protoplastos corrente alternada (AC)
Após a fusão dos protoplastos, obtêm-se
vários tipos de células em cultura: proto-
plastos não fundidos, híbridos entre dois Fusão dos Criação de poros na
protoplastos membrana por pulsos de
tipos de células e fusões de células idên- corrente contínua
ticas (CARNEIRO; CONROI, 1990). Por
meio de corantes específicos, podem-se
Seleção dos protoplastos
separar os híbridos de interesse dos outros híbridos e regeneração
das novas plantas
protoplastos.
Mesmo que a técnica de hibridação
somática seja bastante promissora, ainda
apresenta limitações que inviabilizam seu
uso de forma generalizada. Para muitos
dos cruzamentos testados, verificam-se
dificuldades para a regeneração do híbrido
e para manter a estabilidade genética. Além
Híbrido somático
disso, muitos dos híbridos regenerados são entre o tomate e a batata
estéreis, só se multiplicando vegetativa-
mente (PELLETIER et al., 1988). De modo
geral, as limitações tendem a ser maiores, à
Figura 4 - Demonstração esquemática da fusão de protoplastos de mesófilo foliar de
medida que aumenta a divergência genética tomate (Lycopersicum esculentum L.) com protoplasto de mesófilo foliar de
entre os indivíduos envolvidos. batata (Solanum tuberosum L.), com a formação do híbrido interespecífico

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70 Biotecnologia

APLICAÇÃO DA CULTIVAR meio de cultura, mas para aqueles muito Isso corresponde a um ganho de tempo
DE TECIDOS VEGETAIS NO jovens, frequentemente há necessidade de fantástico para o melhoramento, facili-
MELHORAMENTO GENÉTICO suplementação do meio com reguladores tando enormemente a obtenção de novas
Foi descrita a utilização direta da téc- de crescímento, antioxidantes, vitaminas, cultivares (Fig. 5).
nica de cultura de tecidos de plantas para além de outras substâncias necessárias ao A aquisição do tecido haploide dá-se
gerar variabilidade genética em programas desenvolvimento. O cultivo de embriões pelo cultivo de células germinativas, que
de melhoramento. Será abordado o seu em meio artificial também é utilizado fre- apresentam apenas a metade da constitui-
emprego como ferramenta auxiliar, para quentemente, quando existem dificuldades ção genética da espécie. No caso de uma
geração de novas cultivares. na ocasião da fecundação. Nesse caso, a planta diploide, como o milho, cujo geno-
fertilização se dá in vitro, com a eliminação ma é composto por 20 cromossomos, suas
Resgate de embriões raros das barreiras pré-zigóticas, eliminação do células germinativas só apresentam metade
estigma e deposição do pólen diretamente desse número, ou seja, dez cromossomos.
Uma das aplicações da cultura de
sobre o saco embrionário. O óvulo fecun- Consequentemente, as plantas haploides,
tecidos, que tem auxiliado muitos progra-
dado é, então, cultivado artificialmente originadas dessa célula germinativa, tam-
mas de melhoramento de plantas, é a de
dando origem ao embrião. De modo geral, bém terão apenas dez cromossomos. Após
resgate de embriões. Por causa do intenso
o que se observa com mais frequência é o a obtenção da planta haploide, o restabe-
processo de domesticação imposto pelo
lecimento da diploidia ocorre de forma
homem às espécies de plantas cultivadas, cultivo do óvulo fecundado em associação
natural ou por indução com colchicina,
muitos dos genes que conferiam tolerância ao ovário ou parte dele. O tecido do ovário
substância que inibe a polimerização das
e resistência a estresses bióticos e abióticos é responsável pela produção e fornecimen-
fibras do fuso durante a divisão mitótica,
foram perdidos. Uma das consequências to em quantidade adequada de várias subs-
impedindo a migração dos cromossomos
da redução da variabilidade genética foi tâncias essenciais para o desenvolvimento
(NITSCH, 1983).
a dificuldade, por parte dos melhoristas, do embrião. Dessa forma, evitam-se que
Dessa forma, plantas haploides podem-
em localizar fontes de resistência ou to- sejam testadas composições de meio.
se originar por dois processos diferentes:
lerância em acessos da mesma espécie. processo gimnogenético, quando se origi-
Produção de linhagens
Frequentemente, é necessário que o me- nam de células reprodutivas do sistema fe-
duplo-haploides
lhorista recorra à variabilidade existente minino, e processo androgenético, quando
em espécies silvestres para obter novos A produção de linhagens superiores
se originam de células reprodutivas do sis-
genes de tolerância e resistência. Muito para formação de híbridos necessita de um tema masculino (PETERS; BOBROWSKI;
embora, em alguns casos, o cruzamento longo período para que se possa atingir a ROSINHA, 1999).
sexual entre espécies diferentes seja pos- condição de homozigose. Essa homozi- Para a produção de plantas haploides,
sível, ocorrendo a fusão dos gametas e a gose, geralmente, é alcançada após sete a o cultivo de anteras é mais utilizado do
formação do embrião, não é raro o aborta- nove gerações de autofecundação, corres- que o de ovários. As anteras possuem um
mento desse embrião, pela má-formação do pondendo de sete a nove anos de trabalho grande número de micrósporos, podendo
endosperma, como barreira pós-zigótica. A para o melhorista (BORÉM, 1998). Isso gerar centenas de novos indivíduos a partir
técnica de resgate de embriões em meio de quando se trata de espécies anuais, pois em de uma única antera, enquanto os óvulos
cultura permite que estes se desenvolvam espécies perenes a expectativa de tempo apresentam apenas um saco embrionário,
normalmente, o que possibilita a obtenção para obtenção de linhagens em homozigose podendo gerar apenas um indivíduo por
de híbridos interespecíficos, intraespecífi- é muito maior. óvulo. Além disso, a resposta in vitro
cos, intergenéricos e, em alguns casos, até Uma forma de acelerar a produção de da cultura de óvulo ou ovário é menos
mesmo entre espécies de famílias distintas, linhagens em homozigose seria por meio eficiente do que a cultura de anteras e
facilitando, sobremaneira, a busca do me- da produção de plantas haploides seguidas micrósporos (PETERS; BOBROWSKI;
lhorista por genes de interesse. da duplicação dos cromossomos, num ROSINHA, 1999).
Para que o meio artificial utilizado em processo denominado haplodiploidização
cultura de tecidos possa substituir o endos- (BUYSER; HENRY; TALEB, 1985). Produção de sementes
perma, na sua função de nutrir o embrião, Com o uso dessa técnica, a partir de uma sintéticas
é necessário que todas as exigências nu- população F1, podem-se obter, em apenas A possibilidade de produção de se-
tricionais sejam bem conhecidas. Depen- uma geração, populações de linhagens em mentes sintéticas foi encarada com maior
dendo do estádio de desenvolvimento, o homozigose perfeita, ou seja, que apre- seriedade, a partir do momento que os
embrião pode requerer apenas os nutrientes sentam todos os seus loci em homozigose estudos de embriogênese somática in vitro
inorgânicos e uma fonte de carboidrato no (MORAES-FERNANDES et al., 1999). começaram a evoluir. O termo embriogê-
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Biotecnologia 71

O material mais utilizado para encapsu-


MELHORAMENTO TRADICIONAL MELHORAMENTO POR lar os embriões é o alginato de sódio, por
HAPLODIPLOIDIZAÇÃO
suas propriedades gelificantes, baixo custo,
Linhagem 1 x Linhagem 2 Linhagem 1 x Linhagem 2 facilidade de uso e ausência de fitotoxidez
AAbb aaBB AAbb aaBB (REDENBAUGH et al., 1986). Há ainda,
a possibilidade de adicionar vários com-
Genótipo da F1 AaBb Geração F1 AaBb
ponentes ao gel, tais como sais minerais,
carboidratos, reguladores de crescimento,
Gametas AB Ab aB ab Gametas AB Ab aB ab (micrós-
poros) pigmentos opacos etc., simulando a cons-
Genótipos da F2 AABB AaBB aaBB tituição do endosperma. Como vantagens
AABb AaBb aaBb
Aabb Aabb aabb ao uso de sementes sintéticas, podem-se
Cultura de anteras
100 destacar a produção de um grande número
de embriões somáticos dentro de um curto
Frequência de heterozigose (%)

90
80 período, a necessidade de um espaço físi-
70 Duplicação espontânea
ou induzida por colchicina co reduzido, a manutenção da identidade
60
50
clonal, a produção das sementes, indepen-
40 dente de efeitos sazonais, e a ausência de
30 estruturas para aclimatação de plântulas.
20 AABB AAbb aaBB aabb Entretanto, a técnica ainda possui algumas
10 Plantas duplo-haploides com limitações, tais como a baixa resistência à
0 100% de homozigose
F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F9 dessecação, não-tolerância ao dano mecâ-
Gerações
A B nico e a baixa difusão de oxigênio e CO2
Figura 5 - Comparação entre processos de produção de linhagens homozigotas (REDENBAUGH et al., 1986).
FONTE: Dados básicos: Moraes-Fernandes et al. (1999).
Seleção in vitro
NOTA: A - Autofecundações; B - Haplodiploidização de micrósporos.
Pelo método convencional são necessárias sete a nove gerações de autofecunda- O estudo das interações planta-pa-
ção para se alcançar a homozigose, embora sempre permaneça uma pequena tógeno e a seleção in vitro de materiais
proporção de heterozigose residual. Já no método de haplodiploidização, linha-
gens com 100% de homozigose são obtidas logo após a geração F1, proporcio- resistentes ou tolerantes a agentes causa-
nando economia de tempo e de custos. dores de estresses bióticos e abióticos são
possíveis por meio do cultivo de tecidos
vegetais e plântulas em ambiente artificial
nese somática é utilizado para descrever por ser uma propagação vegetativa. A e estéril. Essa abordagem de pesquisa
o processo de formação de embriões a formação de embriões somáticos ocorre apresenta as seguintes vantagens: as uni-
partir de células somáticas ou haploides. de forma natural, e um exemplo típico é a dades experimentais são mantidas em
De forma semelhante aos embriões zigó- formação de embriões nucelares em citros. meio definido e condições controladas,
ticos, embriões somáticos apresentam uma Esses embriões, por serem, geneticamente permitindo a seleção de genótipos que
estrutura bipolar, constituída de um ápice idênticos à planta que lhes deu origem, obtiveram incrementos em resistência a
caulinar e de um ápice radicular, além de permitem a perpetuação de populações determinadas condições de estresse; as
um sistema vascular fechado, sem conexão clonais por meio de sementes (GUERRA; células cultivadas podem ser expostas
com o tecido do explante inicial. Essas ca- TORRES; TEIXEIRA, 1999). ao agente seletivo de maneira uniforme
racterísticas diferenciam embriões somáti- No processo de fabricação de sementes e isolada, reduzindo a possibilidade de
cos dos propágulos resultantes do processo sintéticas, os embriões somáticos são en- escapes e interações indesejáveis; siste-
de micropropagação e de organogênese capsulados em hidrogel. A Figura 6 ilustra mas de cultivos mantidos em pequenos
(GUERRA; TORRES; TEIXEIRA, 1999). um esquema de produção de sementes espaços podem potencialmente substituir
Entretanto, embriões zigóticos diferem de sintéticas, com o processo de embriogênese a infraestrutura onerosa de pesquisa (casas
embriões somáticos pela ausência nestes direta, em que os embriões surgem direta- de vegetação ou campos de teste); o agente
últimos da recombinação genética pro- mente do tecido original, e a embriogênese causador da doença ou outro fator perma-
porcionada pela união dos gametas e pela indireta, na qual os embriões originam-se nece confinado no laboratório, sem risco
ausência do endosperma. Dessa forma, do tecido que se diferenciou na forma de de contaminação do ambiente externo. Os
a embriogênese somática caracteriza-se calos (PEREIRA et al., 2008). principais usos dessa técnica são: seleção
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72 Biotecnologia

para resistência a doenças e a herbicidas e


tolerância a estresses abióticos, tais como
Embrião
nucelar ou
estresse hídrico, deficiência de nutrientes
Calo
zigótico e elementos tóxicos tal como o alumínio
(CANÇADO et al., 2009).

Conservação e intercâmbio
de germoplasma
Embriogênese
direta As técnicas de cultura de tecidos de
Embriogênese
indireta plantas in vitro podem contribuir em todas
as etapas do processo de conservação de
germoplasma, incluindo coleta, indexação
para doenças, quarentena, multiplicação,
Formação
dos caracterização, avaliação, armazenamento
embriões e distribuição (WHITERS, 1980). Para es-
somáticos
pécies que se propagam vegetativamente, a
preservação de germoplasma requer altos
custos com mão-de-obra e disponibilidade
de grandes áreas. Além disso, essas cole-
ções estão sujeitas ao ataque de pragas e
doenças. Para espécies que se propagam
Retirada
dos por sementes, apesar de ser a maneira
embriões mais eficiente de conservação, esta não é
sempre adequada, segundo Kartha (1981),
pelo fato de:
a) algumas plantas não produzirem
sementes férteis;

Encapsulação
b) algumas sementes permanecerem
Semente
dos embriões sintética viáveis por apenas um curto perío-
em hidrogel
(com e sem
do;
carvão ativado) c) algumas sementes serem altamente
heterozigotas e, dessa forma, não
serem adequadas para a manutenção
dos mesmos genótipos;
d) sementes de algumas espécies
deteriorarem-se rapidamente, pela
ocorrência de patógenos internos.
Embora para algumas culturas essa
seja uma alternativa adequada, para outras
Origem a a conservação de germoplasma in vitro
uma nova talvez não seja uma boa opção. Os pro-
planta
blemas vão desde o custo e o volume de
trabalho elevado até o comprometimento
da integridade genética, pela ocorrência
de variações somaclonais. Entretanto, em
Figura 6 - Produção de semente sintética pelos processos de embriogênese somática consequência dos grandes benefícios que
direta e indireta, a partir de embrião nucelar ou zigótico esta técnica oferece, um intenso volume
FONTE: Pereira et al. (2008). de pesquisa, na área de recursos genéticos,
NOTA: A Fonte refere-se à fotografia. está sendo desenvolvido unicamente com
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Biotecnologia 73

o objetivo de viabilizar a conservação de do tecido vegetal, de discos foliares ou cultura seletivo. No processo de transfor-
germoplasmas in vitro por longos períodos de embriões, com a bactéria que contém mação por eletroporação em protoplastos
e com menor custo (Fig. 7). o gene a ser transferido (GANDER; ou micrósporos, célula precursora do grão
MARCELLINO, 1997). A bactéria infecta de pólen, pulsos elétricos ou uma solução
Transformação genética de o tecido e transfere o DNA plasmidial, de PEG proporcionam o aparecimento de
plantas poros na membrana plasmática, permitindo
contendo o gene de interesse para o ge-
A cultura de tecidos também é um pas- noma da planta. Posteriormente, o tecido que moléculas de DNA penetrem no inte-
so quase que obrigatório para a obtenção vegetal é regenerado em meio de cultura na rior celular (GANDER; MARCELLINO,
de plantas geneticamente modificadas. presença de antibióticos ou herbicidas que 1997).
Apesar de atualmente estarem sendo de- permitem apenas o crescimento das plantas
AGRADECIMENTO
senvolvidos métodos de transformação transformadas. No caso da transformação
que não necessitam passar pela cultura de por biobalística, partículas microscópicas Os autores deste artigo agradecem o
tecidos, até o momento, a grande maioria de ouro ou tungstênio, com DNA aderido apoio financeiro da International Foun-
das plantas geneticamente manipuladas, a sua superfície, são disparadas a gran- dation for Science, Fundação de Amparo
que já estão sendo utilizadas pelo homem, de velocidade contra o tecido vegetal. à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
fez uso da cultura de tecidos. No caso de Posteriormente, as células que tiveram (Fapemig), Financiadora de Estudos e
transformação via bactéria Agrobacterium as moléculas de DNA incorporadas ao Projetos (Finep) e Empresa Brasileira
tumefasciens, há uma etapa de cocultivo seu genoma são recuperadas em meio de de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Arquivo: U.R. EPAMIG SM-FECD - Laboratório de Biotecnologia Vegetal


A B

C D
Figura 7 - Cultivo in vitro
NOTA: A e B - Genótipos de videira (Vitis spp.); C e D - Genótipos de oliveira (Olea europaea).

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76 Biotecnologia

Decifrando o genoma em grande escala


Sylvia Morais de Sousa 1
Andréa Almeida Carneiro 2
Newton Portilho Carneiro 3

Resumo - A determinação das funções gênicas tem demandado um grande avanço das
ciências genômicas, cujas tecnologias concentram-se, principalmente, na geração e no
estudo de uma grande quantidade de dados. O ponto de apoio para o entendimento
da função gênica e da estrutura do genoma tem sido o sequenciamento de genomas
completos e do genoma expresso em grande escala. Mapas físicos e genéticos têm
sido integrados com informações genômicas e de expressão, resultando em bancos de
dados públicos altamente informativos para diferentes espécies animais e vegetais. Tais
informações auxiliam em vários aspectos a análise de expressão gênica, a determinação
dos efeitos de processamento de éxons e do número de cópias gênicas e cromossômicas,
culminando na determinação das funções biológicas e do mecanismo de ação de vários
genes. São descritos o surgimento de novas tecnologias e a evolução de algumas
inovações já existentes, voltadas para a identificação de funções gênicas.

Palavras-chave: Sequenciamento de DNA. Genômica funcional. Microarranjo de DNA.


Mutagênese. Fenotipagem.

INTRODUÇÃO aperfeiçoar o processo. Uma delas foi o tas (cerca de 200 pb)4. Dentre os métodos
uso de dioxinucleotídeos marcados com novos de sequenciamento encontram-se as
A melhoria e a redução no custo das
fluorescência, capazes de ser visualizados plataformas 454 da Life Science, Illumina®
tecnologias de genotipagem e fenotipagem,
por laser; a segunda foi o uso de capilares e SOLiD™ da Applied Biosystems™ . Essas
5

associadas a estudos de genoma em grande


em substituição a placas, os quais auxi- novas tecnologias deram oportunidades de
escala, rapidamente estão-se tornando a
liaram na automatização do processo de
abordagem preferida para dissecar a gené- estudos mais complexos de organismos
carregamento de amostra no gel e número
tica de caracteres complexos. O sequencia- poliploides, com grande quantidade de
de amostras feitas por dia. O segundo gran-
mento de ácido desoxirribonucleico (DNA) sequências repetitivas, genomas compa-
de momento do sequenciamento ocorreu
teve dois grandes momentos tecnológicos rativos, identificação de polimorfismos
próximo a 2005, com o surgimento do
na história que trouxeram um enorme sequenciamento por síntese. Esse processo, e genes diferencialmente expressos (que
avanço para a ciência. Um deles ocorreu apesar de bastante inovador (um aumento atualmente são muito estudados usando
em 1977 com o aparecimento do método de cerca de cem vezes em comparação com microchips de DNA também conhecidos
de Sanger. Desde o surgimento dessa téc- o obtido pelo método Sanger), não anulou como microarranjos). Os microarranjos,
nica, houve modificações que ajudaram a o primeiro, pelo fato de fazer leituras cur- estudo de expressão gênica em grande es-

Bióloga, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico:
1

smsousa@cnpms.embrapa.br
Bióloga, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico:
2

andreac@cnpms.embrapa.br
Biólogo, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico:
3

newtonc@cnpms.embrapa.br
4
pb – Pares de bases.
5
Disponíveis respectivamente nos sites: http://www.454.com; http://www.illumina.com e http://www3.appliedbiosystems.com

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Biotecnologia 77

cala, têm três grandes grupos no mercado: uma ferramenta poderosa para decifrar finas camadas de agarose, para que estas
Affymetrix, NimbleGen e a Agilent6. genes completos, que, mais tarde, seriam sequências pudessem ser analisadas em
A função de um dado gene não neces- a base para o sequenciamento de genomas paralelo. Tais modificações culminaram em
sariamente representa o que está descrito completos. O método sofreu uma série de um aumento gigantesco de informações,
no banco de dados. Muitas vezes é neces- melhorias, estabelecendo-se como o único quando comparadas com as 96 sequências
sário verificar sua função bioquímica em de sequenciamento de DNA usado nos 30 obtidas pelo método Sanger em capilar
um contexto biológico. Um dos processos anos seguintes. Com a meta de decifrar o (SCHUSTER, 2008).
mais bem-aceitos é a modificação da ex- genoma humano, houve um aumento, sem O pirosequenciamento é um método
pressão do gene em sistemas heterólogos. precedentes, na escala do sequenciamento para determinar a ordem dos nucleotídeos
Isso pode ser inicialmente feito por meio da de DNA, levando ao desenvolvimento de do DNA, com base na detecção da libera-
identificação de mutantes obtidos por muta- sequenciadores automáticos por capila- ção de pirofosfato no ato da incorporação
gênese química como é o caso da tecnologia ridade. A automação de laboratórios e a dos nucleotídeos, ao invés da terminação
targenting induced local lesions in genomes paralelização de processos resultaram em em cadeia com dideoxinucleotídeos, daí o
(Tilling) e transposon ou transgenia, utilizan- centros de sequenciamento com centenas nome sequenciamento por síntese. Nesse
do construções gênicas que se baseiam em de instrumentos. No entanto, mesmo com método, a detecção da atividade da DNA
RNA de interferência – RNA interference dois genomas humanos sequenciados e de polimerase utiliza outra enzima quimiolu-
(RNAi). Os processos de relacionar gene e outras tantas espécies, o desejo por uma minescente, a luciferase. O DNA molde
função têm sido feitos em grande escala tecnologia mais eficiente e barata conti- é imobilizado e a solução contendo os
por companhias que têm otimizado des- nuou impulsionando as pesquisas na área nucleotídeos é adicionada e removida após
de a identificação de genes de interesse (SCHUSTER, 2008). cada reação, sendo que a luz é produzida
(por estudos genômicos), passando pela Centenas de instrumentos, com base apenas quando a solução de nucleotídeos
montagem de cassetes gênicos, transfor- em sequenciamento capilar de 96 amostras, complementa a primeira base sem par da
mação de plantas modelos (como tabaco, foram substituídos por poucos aparelhos fita molde (RONAGHI, 2001). A sequência
Arabidopsis, arroz e milho), até a análise capazes de fazer sequenciamento de mi- dos sinais quimioluminescentes permite a
fenotípica. lhões de pares de bases, paralelamente, determinação da sequência dos respectivos
Tecnologias têm direcionado o se- em uma única corrida. Além disso, essa nucleotídeos complementares à fita molde
quenciamento de um genoma completo nova geração de sequenciadores utiliza (Fig 1).
custar abaixo de mil dólares, contudo fragmentos que não são sujeitos ao sistema O sistema de sequenciamento de DNA
vários outros aspectos estão envolvidos no convencional de clonagem em vetores de paralelo da 454 Life Sciences é cem vezes
entendimento da relação gene e função. O Escherichia coli. mais rápido do que o método de sequen-
conhecimento mais aprofundado dessa fun- Os primeiros sinais de que o mercado ciamento padrão e é capaz de sequenciar
ção gênica e a sua inter-relação (também de sequenciamento poderia ser revo- mais que 200 mil fragmentos, em 4 horas
conhecida como metabolômica), tanto em lucionado apareceram em 2005, com a de corrida (MARGULIES et al., 2005).
nível micro (célula) como macro (planta), publicação da tecnologia sequenciamento Contudo, esse aumento na velocidade de
têm como objetivo final o entendimento e por síntese, desenvolvida pela 454 Life sequenciamento veio associado a uma
o desenvolvimento de plantas cada vez mais Sciences (MARGULIES et al., 2005) redução no comprimento da leitura, sendo
produtivas e adaptadas às mais diversas e pelo protocolo multiplex de colônia sequenciados em média fragmentos de,
condições de cultivo. de polimerase do laboratório de George aproximadamente, 100 pb de comprimento
Church da Escola de Medicina de Harvard, (MARGULIES et al., 2005). Novas versões
SEQUENCIAMENTO EM EUA (SHENDURE et al., 2005). Ambos do sistema Genome Sequencer FLX e da
GRANDE ESCALA
os grupos usaram a estratégia de reduzir química Titanium (HARKINS; JARVIE,
Em 1977, foram publicados dois arti- o volume necessário de reação, enquanto 2007) aumentaram o comprimento médio
gos metodológicos para a determinação aumentavam dramaticamente o número de da leitura para um pouco mais de 200
rápida de sequências de DNA (SANGER reações de sequenciamento por corrida. A bases, com promessas de atingir leituras
et al., 1977; SANGER; NICKLEN; estratégia consistia em colocar em uma de até 1.000 pb. A principal vantagem de
COULSON, 1977), que iriam transformar matriz centenas de milhares de moldes leituras mais longas é a facilidade na mon-
a biologia como um todo, fornecendo em uma placa do tipo picotítulo (PTP) ou tagem e na organização das informações,

6
Disponíveis respectivamente nos sites: http://www.affymetrix.com; http://www.nimblegen.com e http://www.agilent.com

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78 Biotecnologia

O comprimento dos fragmentos se-


A quenciados com a tecnologia 454 não é
uma preocupação para a análise de trans-
criptomas, uma vez que os genes expressos
B são menores do que os genomas e apresen-
tam menos DNA repetitivo. A técnica de
captura por microdissecção laser (LCM)
C pode ser utilizada para isolar transcritos
que se acumulam em determinados tipos
Figura 1- Princípio geral dos diferentes sistemas de reações de pirosequenciamento de células, reduzindo, assim, a complexi-
FONTE: Ronaghi (2001). dade e o tamanho do transcriptoma alvo
NOTA: A - A polimerase catalisa a incorporação de nucleotídeos na cadeia de DNA; (SCHNABLE; HOCHHOLDINGER;
B - Como resultado da incorporação, a molécula pirofosfato (PPI) é liberada e
subsequentemente convertida a adenosina-5’-trifosfato (ATP) pela ATP sulfurase; NAKAZONO, 2004). Outra grande
C - A luz é produzida em uma reação da luciferase durante a qual a molécula vantagem da tecnologia 454 é não en-
luciferina é liberada. volver a clonagem dos fragmentos e a
construção de bibliotecas, que são etapas
caras e demoradas, além de possibilitar o
principalmente considerando a montagem esfera tem milhões de cópias da mesma
sequenciamento de diferentes amostras
de novo de genomas. sequência de DNA. Essas esferas são,
de cDNA simultaneamente, aumentando
O método 454 reduz a dimensão e a então, colocadas em placas que cabem
a recuperação de transcritos altamente
complexidade de cada etapa do protocolo exatamente uma esfera por poço, contendo
convencional de pirosequenciamento, um total de 400 mil poços. O processo especializados e raros.
aumentando a produtividade de informa- restante é o pirosequenciamento com en- Emrich et al. (2007) relataram o
ções em uma escala genômica. Ao invés zima e substrato, sendo colocados na placa sequenciamento de cDNA extraído de
de desenhar um novo par de primers, para PTP, trinucleotídeos ATGC adicionados células do meristema apical do broto,
a amplificação por reação em cadeia da sequencialmente, cuja fluorescência é utilizando a abordagem LCM-454. Uma
polimerase _ polymerase chain reaction capturada com a câmera charge coupled única corrida de sequenciamento 454 foi
(PCR) de cada fragmento genômico, o 454 device (CCD). capaz de gerar mais que 25 mil sequên-
divide o genoma em milhões de fragmentos Um método para melhorar a eficiência cias genômicas de milho, sendo anotados
e liga dois primers adaptadores universais de perfis de transcrição com base no 454 quase 400 transcritos de genes órfãos (FU
(A e B). A ligação coesiva é não específica é ancorar esses fragmentos sequenciados et al., 2005). No entanto, esses transcritos
e os fragmentos que não incorporaram a sítios únicos próximos à região 3’ das órfãos, detectados por LCM-454, foram
ambos os primers são removidos, usando sequências expressas para reduzir o nú- validados experimentalmente, e a maioria
esferas especiais que são revestidas com mero de leituras necessário para identificar deles não foi detectada em outros tecidos,
os primers. Em seguida, ocorre a reação de mRNAs individuais e maximizar a dis- incluindo espigas imaturas ricas em tecido
amplificação por PCR, também conhecida tinção de polimorfismos entre transcritos meristemático.
como emulsão de PCR (DRESSMAN et relacionados. A região 3’- não traduzida Outra plataforma de sequenciamento
al., 2003), na qual o primer B e o fragmento (UTR) é rica em polimorfismos de base da Illumina®, denominada Solexa e mais
molde estão livres na solução, enquanto única, que distinguem os transcritos recentemente Genome Analyzer, também
o primer A é embebido nas esferas. As (BHATTRAMAKKI et al., 2002; VROH utiliza o sequenciamento por síntese de
esferas de sefarose, cobertas com milhões BI et al., 2006). A especificidade da leitura fragmentos aleatórios, ligados coesiva-
de primer A, são misturadas com a solução da sequência 3’-UTR permite a efetiva ano- mente aos adaptadores e processados em
de DNA molde, primer B e solução. As tação de cada mRNAs, sem a montagem multiplex com reações, utilizando molécu-
esferas são adicionadas em excesso, de tal completa dos cDNAs. Essa estratégia, por las únicas. No entanto, durante a síntese,
forma que apenas uma molécula de DNA exemplo, foi adotada para analisar ovários essa plataforma incorpora trinucleotídeos
modelo e uma esfera acabam em cada de milho mutante e selvagem, utilizando fluorescentes com a extremidade 3’-OH
gota d’água. uma estratégia multiplex que resultou em –inativada, enquanto no 454 são incor-
Esse passo é crítico, uma vez que perfis de expressão quantitativos, em que porados quatro nucleotídeos por fileira.
cada fragmento de DNA tem as mesmas se podem distinguir membros próximos de O Genome Analyzer incorpora os nucle-
sequências de adaptadores e primers famílias gênicas (EVELAND; MCCARTY; otídeos, um de cada vez, tirando fotos da
de PCR. Após a reação de PCR, cada KOCH, 2008). intensidade das quatro cores fluorescentes
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a cada ciclo, seguido pela ativação química esfera, usado durante a amplificação de alcançado grandes avanços, os métodos
do 3’-OH. Todos os quatro nucleotídeos PCR, mas os cinco primers hibridizam a de sequenciamento em larga escala ainda
são adicionados simultaneamente e cada diferentes fragmentos que se sobrepõem na têm alguns desafios, como a redução de
fluorescência é marcada com uma cor extremidade 5’ do primer ligado à esfera. custos, a diminuição nas taxas de erro de
diferente. Em vez de uma placa PTP, o A extremidade 5’ do primer 1 é o último sequenciamento e a leitura de fragmentos
sequenciamento no Genome Analyzer nucleotídeo a se ligar no primer da esfera mais longos. Novos sistemas que não ne-
ocorre em fluxo microfluido das células, (posição n), enquanto a extremidade 5’ cessitam de amplificação por PCR e que
que são cobertos por dois primers diferen- do primer 2 está na posição n-1 e assim se iniciam a partir de uma única molécula
tes ligados quimicamente. A hibridização por diante. de DNA estão em desenvolvimento, como
dos primers com o DNA genômico com O primeiro passo junta a ligação da a tecnologia Helicos Biosystem - True
pontas coesivas é preparada de maneira extremidade 5’ do primer universal a um Single Molecule Sequencing e Complete
similar ao descrito para o 454. Quando os dos quatro oligonucleotídeos fluorescentes Genomics, que propõe a visualização da
fragmentos se ligam ao interior da célula, da sonda octâmera, que constitui de três exata localização onde o oligonucleotídeo
as duas pontas do fragmento ligam-se, nucleotídeos aleatórios (64 combinações), fluorescente de pentâmero incorpora-se ao
formando uma ponte. Após a formação um dinucleotídeo (que combina com as longo de uma única fita de DNA.
dessa ponte, uma polimerase isotérmica cores fluorescentes) e um trinucleotídeo Essa nova geração de tecnologias de
amplifica a sequência, usando os mesmos universal idêntico em todos os octâmeros. sequenciamento fornece uma velocidade
primers genéricos e os nucleotídeos não- Cada passo adiciona 256 (4 de 64) octâme- e processividade na geração de sequências
marcados. O resultado da desnaturação ros e o sinal fluorescente indica o dímero de DNA sem precedentes, permitindo um
é um fluxo de células cobertas com uma sequenciado. Os octâmeros são ligados impressionante avanço científico e novas
única fita molde de DNA, pronta para a ao primer universal e, em preparação aplicações biológicas.
incorporação de nucleotídeos, imagem para o próximo ciclo, um passo de cliva- O objetivo de gerar grande quantidade
fluorescente e ativação dos 3’-OH. gem remove o trinucleotídeo universal de dados de sequência de organismos
A terceira plataforma, denominada e a etiqueta 5’ fluorescente. O processo relacionados está direcionado com uma
Sequencing by Oligo Ligation and Detec- é repetido até o final do fragmento de aplicação denominada ressequenciamen-
tion (SOLiD™) da Applied Biosystems, é DNA, resultando em dois de cada cinco to, que manipula os dados de sequência
semelhante às demais pelo fato de ser uma nucleotídeos sequenciados. Para sequen- de diferentes modos que a montagem de
plataforma multiplex e massiva, que não ciar o restante do fragmento de DNA, a novo de genoma. No ressequenciamento, a
necessita da clonagem dos fragmentos e reação começa novamente com o primer montagem é direcionada para a sequência-
amplifica o DNA fragmentado, que é liga- de sequenciamento universal 2. Após as referência e requer menor cobertura (8 a 12
do a dois primers, em uma única emulsão cinco interações desse processo, cada nu- X), que a montagem do genoma de novo
de PCR com esferas cobertas de primers. cleotídeo na sequência foi lido duas vezes. (25 a 70 X).
Esse instrumento tornou-se comer- Uma vez que existem apenas quatro cores
cial em outubro de 2007, utilizando um fluorescentes, o processo deve ser repetido ANÁLISE DE EXPRESSÃO
processo único de sequenciamento cata- quatro vezes, a fim de cobrir todos os pos- DIFERENCIAL EM GRANDE
lisado pela DNA ligase. Cada corrida do síveis dímeros de sequenciamento. ESCALA
SOLiD™ requer cinco dias e produz de 3 As três plataformas de análise genô-
a 4 milhões de etiquetas com uma média mica em larga escala são instrumentos em
de 25 a 35 pb. A plataforma SOLiD™ nanoescala, com sistema para análise de A tecnologia de microarranjos de DNA
tem um único protocolo a leitura de cada imagem e alto poder de bioinformática possibilita a avaliação simultânea da ex-
nucleotídeo, duas vezes sucessivamente que usa supercomputadores (Quadro 1). pressão de milhares de genes em diferentes
em reações com dinucleotídeos, como Apenas a tecnologia SOLiD™ propor- tecidos de um determinado organismo, em
um mecanismo de verificação de erros. ciona checagem de erros no processo diferentes estádios de desenvolvimento ou
A reação de sequenciamento é repetida de sequenciamento, enquanto Genome submetidos a condições de estresse. Os
cinco vezes em cada modelo com quatro Analyzer e 454 garantem alta qualida- microarranjos são bastante utilizados em
cores fluorescentes em sondas de oito pares de, mas não implementam medidas de experimentos de genômica funcional, com
de base. Cada uma das cinco corridas de controle de qualidade. Por outro lado, diversas espécies animais e vegetais, sendo
sequenciamento por ligação é precedida a plataforma SOLiD™ necessita de um gradativamente incorporados em diferentes
por uma hibridização com primers de sistema computacional massivo e recursos áreas da pesquisa zootécnica, como cres-
sequenciamento universais. Esse primer para estocar dados, por causa da comple- cimento e metabolismo, resposta imune a
é específico para os primers ligados à xidade da abordagem. Apesar de já terem doenças, reprodução e resposta a fatores de
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QUADRO 1 - Comparação das três plataformas de sequenciamento em larga escala


Plataformas de sequenciamento
Característica
454 Genome Analyzer SOLiD™
Química de sequenciamento Pirosequenciamento Polimerase com base em se- Ligação com base em se-
quenciamento por síntese quenciamento

Abordagem de amplificação Emulsão PCR Amplificação por ponte Emulsão de PCR


Finais pareados/separação Sim/3 kb Sim/200 pb Sim/3 kb
Mb/corrida 100 Mb 1.300 Mb 3000 Mb
Tempo/corrida (finais pareados) 7 horas 4 dias 5 dias
Comprimento de leitura 250 pb 32-40 pb 35 pb
Custo por corrida (total) $8,439.00 $8,950.00 $17,447.00
Custo por Mb $84.39 $5.97 $5.81
FONTE: Dados básicos: Mardis (2008).
NOTA: Mb - Megabases; kb - Quilobases; pb - Pares de bases; PCR - Polymerase chain reaction.

estresse não-infecciosos (restrição alimen- A Agilent Technologies, em Palo Alto, Após a montagem das esferas, cada arranjo
tar, exposição a elementos tóxicos e a ou- Califórnia, também usa um processo de é decodificado, para determinar quais tipos
tras condições ambientais desfavoráveis), síntese in situ com a impressão de oligos de de esfera contêm qual gene em cada um
além de melhoramento genético animal. 60 nucleotídeos, base por base, em lâminas dos poços do substrato (GUNDERSON
Tais experimentos são consideravelmente de vidro especialmente preparadas. Cada et al., 2004).
caros e como consequência, são, em ge- oligo representa um gene e essa lâmina
ral, conduzidos com tamanhos amostrais pode ser lida na maioria dos escâneres DETERMINAÇÃO DE FUNÇÃO
reduzidos. A realização de experimentos comerciais. GÊNICA EM GRANDE ESCALA
com microarranjos envolve uma série de Além das lâminas de microarranjos Genética reversa é um processo de
procedimentos laboratoriais de alta com- no formato de 3 x 1 polegadas, algumas descoberta de genes que ocorre, conforme
plexidade, desde a coleta das amostras até companhias estão desenvolvendo novos o próprio nome indica, de forma oposta ao
a obtenção das imagens para análise, que
formatos de arranjos que levam a processos processo de genética clássica. As genéticas
frequentemente introduzem variações adi-
paralelos de múltiplas amostras, como é o clássica e reversa são parecidas, pelo fato
cionais aos resultados (ROSA; ROCHA;
caso da Illumina® em San Diego, Califór- de investigadores tipicamente deduzirem a
FURLAN, 2007).
nia. A tecnologia de esferas da companhia função de um gene por meio de um efeito
A Affymetrix, em Santa Clara, Cali-
está disponível em dois substratos distin- de mudança no fenótipo. Por outro lado, o
fórnia, dominou o mercado por muitos
tos, o Sentrix Array Matrix (para até 96 contraste dos dois processos está no fato de
anos, aplicando tecnologia de fotolitografia
amostras) e o Sentrix LD BeadChip (para que a genética clássica procura indivíduos
para a impressão de oligonucleotídeos
em microarranjos de alta densidade. Seu até 8 amostras). Cada arranjo é fabricado raros com fenótipos não usuais, buscando,
chip é bastante usado, mas a dinâmica do para processar múltiplas amostras de então, o gene ou alelo responsável pela
mercado está mudando. Novos autores cada vez e ambas suportam genotipagem característica fenotípica. A localização de
têm lançado arranjos de alta densidade em de polimorfismo de nucleotídeo único um gene associado com tal fenótipo é o
menor tempo e custo. – single-nucleotide polymorphism (SNP) ponto final da investigação.
A Xeotron da Houston Techonology e aplicações para análise de expressão O avanço nas técnicas de sequencia-
Center7, e a NimbleGen, da Roche são gênica. Cada arranjo em cada substrato mento de DNA resultou em vários genomas
duas companhias que produzem microar- contém milhares de pequenos poços nos completamente sequenciados e em uma
ranjos com tecnologia digital, com base em quais esferas são montadas de maneira infinidade de sequências gênicas dispo-
uma série de pequenos espelhos, tornando aleatória. A companhia usa sondas de 50 níveis. A abundância de tais informações
a sua impressão mais rápida e com menor nucleotídeos concatenadas com sequências estimulou a genética reversa, onde, com
custo. conhecidas imobilizadas na superfície. base nas sequências dos genes, procura-

7
Disponível no site: http://www.houstontech.org

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se entender a influência delas no fenótipo, reversa (WATERHOUSE; GRAHAM; Mutagênese por


descobrindo sua função biológica. Assim, WANG, 1998). O RNAi tem sido usado transposons e agrobactéria
uma série de estratégias pode ser utilizada como uma ferramenta poderosa para si- Os transposons são elementos mó-
para auxiliar na determinação da função lenciar genes e analisar a perda de função, veis que podem translocar de uma região
de genes. quando alelos não mutantes não estão do genoma para outra (HAYES, 2003).
disponíveis (PATTANAYAK et al., 2005). Transposons são sequências de DNA que
Mutagênese por Processos de análise de função gênica em podem inserir em uma nova localidade
silenciamento gênico grande escala, usando o RNAi, têm sido do genoma sem ter relação com a região
8
O RNA de interferência – RNA usados em processos como TraitMill™ . inserida (LEWIN, 2004). A mutagênese
interference (RNAi) é um processo no
qual a expressão de um gene específico
é inibido por RNA senso e antisenso.
Baseia-se na capacidade de sequências
de dupla fita reconhecerem e degradarem
sequências que sejam complementares a
esses (LEWIN, 2004). O RNAi foi pri-
meiramente descrito em Caenorhabditis
elegans, quando introduzida uma fita
dupla de RNA e observou-se o silencia-
mento da expressão do gene (FIRE et al.,
1998; KUTTENKEULER; BOUTROS,
2004). A primeira classe a participar do
RNAi é o double stranded RNA (dsRNA),
que é formado pela complementariedade
de bases de duas fitas simples de RNA
e automaticamente reconhecidos por um
complexo enzimático – RNAses tipo III,
específicas para RNAs dupla fita (DICER).
Esse primeiro complexo tem atividade
RNAse III e digere o dsRNA em frag-
mentos de 21 a 25 pb. Esses pequenos
fragmentos são reconhecidos por um se-
gundo complexo enzimático que se acopla
a regiões homólogas desses fragmentos
de 25 pb no mRNA alvo (que nesse caso
será o próprio genoma do potyvirus), de-
gradando-o e impossibilitando que o vírus
produza as enzimas necessárias a sua mul-
tiplicação. Para que a fita de dsRNA ocorra Figura 2 - Esquema simplificado da degradação do dsRNA pelos complexos enzimáticos
nesse processo, uma região conservada NOTA: O fragmento de interesse é inserido duas vezes invertido no vetor, para que
do genoma do vírus (cerca de 400 pb) é ocorra durante a transcrição a formação do grampo de RNA. Esse complexo
colocada duas vezes na construção gênica é reconhecido pela enzima – RNAses tipo III, específicas para RNAs dupla fita
(DICER) que fragmenta dessa dupla fita de RNA em fragmentos de 25 bases. Esse
sendo que uma delas é invertida em relação produto é então reconhecido pelo complexo silenciador induzido por RNA – RNA
à outra. Quando a construção é transcrita, induced silencing complex – (RISC) que reconhece RNAs produzidos na célula que
ocasiona a formação de uma dupla fita de são homólogos a esse RNA. Esse processo impede que os RNAs provenientes da
RNA (Fig. 2). célula venham a ser traduzidos ocasionando plantas mutantes para o fenótipo
específico. A grande vantagem desse sistema é de ser praticamente independente
O silenciamento, com base em RNAi, do número de cópias do gene de interesse, já que o alvo é o RNA proveniente
é uma excelente estratégia para genética dessas cópias.

8
Disponível no site: http://www.cropdesign.com

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com base em transposons, tem sido transgênicos. O método tem como base a sendo montado no Instituto do Câncer Fred
usada com sucesso para identificar genes capacidade de uma enzima em detectar o Hutchinton em Seattle-USA (PROWEB
essenciais (HAYES, 2003). Métodos com desparelhamento de fitas de DNA mutante PROJECT, 2009). O usuário solicita e
base em transposon têm sido usados em e normal, quando aneladas. As plantas são recebe sementes de Arabidopsis, contendo
Arabidospsis, milho e outras espécies tratadas com etilmetanosulfanato (EMS), mutações no gene de interesse.
(STEMPLE, 2004). Um problema da mu- para gerar uma população de mutações de
tagênese por inserção de transposons é o ponto aleatórias. Por seletividade, o DNA FENOTIPAGEM EM GRANDE
grande número de indivíduos necessários é amplificado com primers marcados com ESCALA
para fazer a caracterização fenotípica e fluorescência e os heteroduplexes são for-
Uma plataforma de fenotipagem em
identificar a mutação em um gene especí- mados pelo não-pareamento de algumas
bases entre o DNA selvagem e o mutante. grande escala para milho e arroz, denomi-
fico (GILCHRIST; HAUGHN, 2005; TILL
Os heteroduplexes são incubados com a nada TraitMill™, tem sido desenvolvida
et al., 2003).
O segmento do plasmídeo Ti de endonuclease de planta CEL I (endo-1,4-β- na Bélgica pela CropDesign. Platafor-
Agrobacterium tumefaciens, conhecido glucanase) que cliva o heteroduplex em sí- mas semelhantes têm sido descritas por
como T-DNA, carrega genes de transfor- tios não-pareados, resultando em produtos outras companhias ao redor do mundo.
mação de plantas e pode ser utilizado para que são visualizados nos sequenciadores O princípio dessa plataforma engloba
mutagênese insercional. Essa mutagênese automáticos de DNA. Após a análise do a caracterização de um grande número
é usada para produzir knockouts principal- DNA de plantas individuais a partir do de plantas digitalmente, utilizando fer-
mente em Arabidopsis (ALONSO et al., DNA do pool, é possível identificar a planta ramentas de bioinformática, sistema de
2003). Esse processo também tem sido com a mutação (Fig. 3). Um centro de gran- engenharia de genes, transformação em
utilizado em arroz e milho, porém em uma de escala de Tilling para Arabidopsis está grande escala e um sistema automatizado
escala menor, apesar da cobertura estar
aumentando (HENIKOFF; TILL; COMAI,
2004). Ao contrário de outros sistemas de EMS
identificação de genes, o mecanismo preci- M1 M2
so da integração do T-DNA no genoma da
planta ainda é desconhecido. Como outras
técnicas de supressão de RNA, a mutagê-
nese insercional é limitada pelo hospedeiro
e seu alcance é limitado pelos tipos de PCR
Primers gene específico
alelos (MCCALLUM et al., 2000).

Mutagênese por EMS -


CEL I
Tilling
A tecnologia targeting induced local
lesions in genomes (Tilling) é um proces-
so de genética reversa desenvolvido por
Identificação
Colbert et al. (2001). Nos processos de de mutantes
mutagênese por transposons e agrobac- Desnaturação
téria é teoricamente possível identificar a
região onde foi inserido o fragmento, já
que a sequência deste é conhecida. Quan- Gel
escaneamento
to ao método, baseia-se na identificação
de regiões do DNA em que não existe Figura 3 - Tilling em alta escala
esse fragmento conhecido inserido no FONTE: Colbert et al. (2001).
local. Em razão de a mutagênese química NOTA: Sementes são mutagenizadas em concentrações de 20, 25 e 30 mM de etilmeta-
causar grande densidade de mutações, nosulfonado (EMS). Plantas M1 são colocadas em bandejas e sementes plantadas
em vasos para a geração M2, onde cada M2 deriva de uma planta M1 diferente.
virtualmente todos os genes podem ser Os DNAs das plantas M2 são preparados e submetidos a reação em cadeia da
atingidos por esse método. Além disso, polimerase (PCR) usando primers específicos. A reação é submetida a tratamento
trata-se de um processo independente de com endo-1,4-β-glucanase (CEL I), limpeza e eletroforese e escaneamento.

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de alta resolução para avaliação do fenó- do a planta passa pelo sistema de imagem. introdução de instrumentos capazes de
tipo. Esse processo tem a capacidade de Algorítmos são usados para análise digital e produzir milhões de sequências em uma
manipular centenas de genes e avaliar o extração de vários parâmetros relacionados única corrida está rapidamente mudando
efeito na planta por meio de um sistema com o crescimento, produção e tolerância o cenário da genética, aumentando a
automático de avaliação fenotípica global. a estresses. As sementes são colhidas para capacidade de fornecer respostas com
Parte desse programa investiga genes, vias cada planta e as amostras são etiquetadas velocidades inimagináveis. Essas tecnolo-
metabólicas e elementos regulatórios que com código de barra. Um robô analisa o gias permitirão o sequenciamento total de
tenham papéis importantes no crescimento peso das sementes enquanto um sistema genomas a preços cada vez mais acessíveis
e no desenvolvimento da planta. Os genes de análise de imagem faz sua contagem e e com maior rapidez.
são geralmente testados sob o controle de determina o seu tamanho (Fig. 4). Nesta revisão, foram abordadas as mais
promotores constitutivos e órgãos especí- recentes tecnologias de sequenciamento
ficos. Nesse processo, são gerados cerca de CONSIDERAÇÕES FINAIS e de análise de expressão gênica. As
50 mil transformantes independentes por Muitas metodologias têm sido desen- técnicas de sequenciamento têm permi-
ano. As plantas são cultivadas em casa de volvidas para auxiliar na compreensão das tido a comparação de vários organismos
vegetação, onde são conduzidas por meio funções gênicas. Um grande número de se- e/ou situações de forma mais acessível e
de esteiras automáticas para a captura de quências depositadas nos bancos de dados frequente. As companhias que elaboram
imagens de vários ângulos, durante o seu teve suas funções desvendadas por meio de microarranjos de DNA têm utilizado dados
ciclo vegetativo. São processadas mais experimentos de avaliação da expressão e de sequenciamento, mapeamento e função
de 30 mil fotos de plantas por dia. Para localização de mRNAs e proteínas, assim gênica para montagem de arranjos cada vez
assegurar a correta análise dos dados, cada como na reconstituição de mutantes com mais específicos e direcionados. Os pro-
planta leva uma etiqueta que contém um fenótipos específicos. O sequenciamento cessos de análise gênica, tanto individual
chip que faz com que todas as informações tornou-se um elemento-chave na compre- quanto em larga escala, fornecerão acesso
sejam registradas automaticamente, quan- ensão da funcionalidade do gene. A recente a novas descobertas sem precedentes em
todas as áreas da Biologia, incluindo a
agropecuária, nas quais existe um grande
interesse na identificação de genes envol-
vidos com resistência a doenças, tolerância
a estresses, aumento da qualidade nutricio-
nal, biorremediação de ambientes, dentre
outras características de valor econômico,
social e ambiental.

REFERÊNCIAS
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tional mutagenesis of Arabidopsis thaliana.
Science, v. 301, n. 5633, p.653-657, Aug.
2003.
BHATTRAMAKKI, D. et al. Insertion-
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maize genes occur frequently and can be
used as highly informative genetic ma-
rkers. Plant Molecular Biology, v. 48, n.
516, p. 539-547, Mar. 2002.
COLBERT, T. et al. High-throughput scre-
ening for induced point mutations. Plant
Physiology, v. 126, p. 480-484, June 2001.
EMRICH, S.J. et al. Gene discovery and an-
Figura 4 - Descrição da fenotipagem de plantas pelo sistema TraitMill
notation using LCM-454 transcriptome se-
NOTA: Plantas são dispostas na casa de vegetação em esteiras que se movem em tempo
quencing. Genome Research, v. 17, n. 1, p.
programado. Cada uma das plantas é fotografada digitalmente de vários ângu-
69-73, Jan. 2007.
los e as imagens são processadas em programas de computador que permitem
grande número de análises, incluindo crescimento, cor e formato de folhas e EVELAND, A.L.; MCCARTY, D.R.; KOCH,
caule, densidade de raiz, dentre outras características. K.E. Transcript profiling by 3’- untranslated

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86 Biotecnologia

Marcadores moleculares e suas aplicações no


melhoramento genético
Claudia Teixeira Guimarães 1
Jurandir Vieira de Magalhães 2
Marcelo Abreu Lanza 3
Ivan Schuster 4

Resumo - O melhoramento genético tem sido um dos grandes responsáveis pelos avan-
ços na agricultura, com o desenvolvimento de cultivares superiores, quer pela maior
produtividade, quer pela melhor adaptação aos ambientes adversos. O sucesso de um
programa de melhoramento genético depende, fundamentalmente, de algumas etapas
como a escolha de genitores e a seleção de genótipos superiores. Desde o surgimento
dos marcadores RFLP, na década de 1980, as metodologias para a exploração dos po-
limorfismos de DNA têm sido alvo de grandes avanços na automação e na geração de
dados em larga escala, fornecendo uma amostragem do genoma, cada vez mais ampla,
a um custo menor. Assim, com a tendência do aumento crescente no volume de dados,
associada à redução nos custos, os marcadores moleculares firmam-se como estratégias
sólidas para auxiliar o melhoramento genético, assim como estudos sobre clonagem e
função de genes, filogenia, diversidade e estrutura genética em espécies cultivadas e
silvestres. Serão apresentados marcos importantes na evolução das tecnologias de mar-
cadores de DNA e algumas das suas aplicações, com ênfase nas análises de diversidade,
mapeamento genético e seleção assistida em plantas.

Palavras-chave: Marcador molecular. Modelo estatístico. Polimorfismo. Genoma.

INTRODUÇÃO distribuídos aleatoriamente ao longo de trait loci (QTLs) e de QTLs expressos


todo o genoma, de forma automatizada têm dado suporte para a identificação de
Com o advento das técnicas de bio-
e a custos cada vez mais reduzidos. O genes e para a seleção assistida, trazendo
logia molecular, tornou-se possível a
manipulação do ácido desoxirribonucleico avanço das técnicas moleculares tem sido um vasto conteúdo de informação gené-
(DNA), culminando com o surgimento acompanhado de perto pelo grande desen- tica para a maioria das espécies vegetais.
dos marcadores moleculares na década de volvimento nas áreas da bioinformática, da A aplicação dessas metodologias, para
1980. Desde então, esses marcadores têm estatística e da genética quantitativa. Com acelerar e monitorar os programas de me-
acompanhado os avanços da era genômi- isso, encontram-se disponíveis informações lhoramento genético, tem implicado em
ca, beneficiando-se do grande volume de genômicas ancoradas a mapas físicos e avanços no desenvolvimento de variedades
informações de sequências de DNA dis- genéticos altamente saturados, além dos melhoradas.
ponível. Além das vantagens apresentadas inúmeros genes diferencialmente expres- As limitações em termos de saturação
sobre os marcadores morfológicos, as tec- sos, que são facilmente integrados por meio do genoma, número de indivíduos analisa-
nologias existentes fornecem um número da bioinformática. Assim, o mapeamento dos e precisão na detecção de QTLs tendem
praticamente ilimitado de polimorfismos de caracteres quantitativos – quantitative a ser minimizadas com a revolução trazida

1
Engo Agro, D.Sc. Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: claudia@cnpms.embrapa.br
2
Engo Agro , D.Sc. Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jurandir@cnpms.embrapa.br
3
Engo Agro , D.Sc. Pesq. U.R. EPAMIG TP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: mlanza@epamig.br
4
Engo Agro , D.Sc. Pesq. COODETEC, Caixa Postal 301, CEP 85813-450 Cascavel-PR. Correio eletrônico: ivan@coodetec.com.br

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pelo sequenciamento em altíssima escala. no tamanho dos fragmentos amplificados polymerase chain reaction (PCR). Assim, o
Tais avanços têm disponibilizado um gran- devem-se às diferenças no número de ISSR assemelha-se ao RAPD, uma vez que
de número de polimorfismos de base única – elementos simples repetidos, necessitando amplifica sequências aleatórias no genoma,
single-nucleotide polymorphism (SNP), de géis de alta resolução para a separação embora seja mais reproduzível que o RAPD,
aleatórios no genoma ou em genes expres- dos fragmentos, uma vez que estes diferem considerando que os primers são maiores e
sos, que, por sua vez, têm possibilitado a por poucos pares de base. Em plantas, necessitam de temperatura de anelamento
construção de plataformas para análise os microssatélites foram rapidamente mais elevada nas reações de PCR. A técnica
de centenas de milhares de marcadores implementados em várias espécies e são surgiu em função da dificuldade de gerar os
em paralelo, a um custo reduzido. Essas utilizados até hoje na construção de mapas primers específicos para amplificar os SSR
condições combinadas com modelos esta- genéticos, nos estudos de diversidade e no (ZIETKIEWICZ; RAFALSKI; LABUDA,
tísticos, propostos para seleção com base melhoramento assistido. 1994), sendo também muito usado em
na genotipagem de genomas completos, Dentre as vantagens que tornaram plantas e fungos.
irão contribuir cada vez mais para que a esses marcadores largamente utilizados
seleção assistida assuma um papel efetivo podem-se destacar a alta frequência e a DArTs
no desenvolvimento de cultivares superio- distribuição ao acaso nos genomas eu-
Com o surgimento dos microarranjos
res, mais adaptadas e com características cariotos, além de serem co-dominantes e
de DNA, Jaccoud et al. (2001) propuse-
especiais. multialélicos, fornecendo um elevado nível
ram uma adaptação dessa tecnologia para
de informação genética por loco. A técnica
a análise de polimorfismos de DNA com
MARCADORES MOLECULARES de SSR é de fácil execução e altamente re-
a criação dos diversity arrays technology
produzível, quando comparada com outras
(DArTs), onde fragmentos de DNA, que
RFLP, RAPD e AFLP metodologias, facilitando o intercâmbio
representam o genoma de um organismo
de informações entre diferentes grupos
Os marcadores do tipo restriction ou de uma população, são digeridos com
de pesquisa. Uma limitação da técnica é
fragment length polymorphism (RFLP), duas enzimas de restrição, clonados e im-
a obtenção dos primers específicos que
random amplified polymorphic DNA pressos em uma lâmina de microarranjo
flanqueiam os microssatélites, requerendo
(RAPD) e amplified fragment length (Fig. 1). Os polimorfismos são detectados
a construção de bibliotecas genômicas
polymorphism (AFLP) foram os marca- enriquecidas, o sequenciamento e o dese- pela presença ou ausência do fragmento
dores de DNA mais utilizados nas décadas nho dos primers. Tal limitação tem sido após a hibridização com o DNA genômi-
de 80 e 90, sendo aplicados para vários superada com os avanços nas técnicas mo- co de cada indivíduo digerido e marcado
estudos genéticos. Esses marcadores fo- leculares, incluindo o sequenciamento em com fluoróforos. Assim, a técnica oferece
ram responsáveis pelo desenvolvimento grande escala. Com isso, existe uma grande uma ampla capacidade de amostragem
dos primeiros mapas genéticos de muitas quantidade de pares de primers SSR com de milhares de marcadores aleatórios no
espécies cultivadas, além da descoberta sequências publicamente disponíveis para genoma sem necessidade do conhecimen-
de genes e de inúmeros estudos de diver- várias espécies vegetais e animais. Apesar to prévio das sequências alvo e de forma
sidade genética. Cada um deles apresenta das possibilidades de automatização e da automatizada.
vantagens e limitações, cobrindo um amplo combinação de vários primers em sequen- Apesar do grande progresso no sequen-
espectro de aplicações. ciadores automáticos, o número de locos ciamento de genomas com a descoberta de
analisados por reação ainda é reduzido SNPs, esses avanços não atingem todas
Microssatélites ou SSR as espécies cultivadas. Nesse aspecto, os
diante dos novos desafios.
Os genomas eucarióticos apresentam DArTs oferecem soluções para a genotipa-
várias classes de sequências repetidas e ISSR gem em larga escala em espécies de órfãs
uma delas consiste de repetições em tan- Os marcadores inter simple sequence como mandioca, feijão-de-corda (Cajanus
dem de 1 a 6 nucleotídeos, sendo denomi- repeat (ISSR) utilizam um único primer de- cajan), cevada e quinoa, além de ser uma
nadas microssatélites ou simple sequence senhado com base nas sequências repetidas fonte valiosa para a geração de marcadores
repeat (SSR). As regiões genômicas que dos microssatélites na extremidade 5’ com até mesmo para espécies cujos genomas já
flanqueiam as sequências repetidas são alguns nucleotídeos extras na extremidade foram sequenciados como o sorgo (MACE
conservadas dentro de uma espécie, permi- 3’. Assim, os primers anelam-se dentro das et al., 2008). Uma lista das espécies, que
tindo o desenho de pares de primers entre repetições e amplificam as regiões genômi- possuem arranjos de DArTs disponíveis
20 e 30 pb, que são utilizados para ampli- cas entre os SSRs, cujos tamanhos dos frag- para a genotipagem, encontra-se em
ficar os microssatélites. Os polimorfismos mentos são limitados pela própria técnica da Diversity Arrays Technology (200--).
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por Neff et al. (1998), onde a técnica de


Gx Gy Gn PCR é utilizada para introduzir diferenças
Redução da complexidade de nucleotídeos e, assim, criar um poli-
do genoma pela digestão
e ligação de adaptadores. morfismo com base na mutação alvo. Essa
Fragmentos monomórficos
e polimórficos (*)
técnica é uma alternativa interessante nos
casos em que o SNP a ser genotipado não
cria ou elimina sítios de restrição, inviabi-
Agrupamento do DNA de Clonagem dos fragmentos lizando a utilização da técnica de CAPS.
indivíduos representativos e impressão em lâminas
de um pool gênico Neff et al. (1998) desenvolveram o software
de microarranjos
dCAPs Finder, que pode ser utilizado para
marcadores do tipo dCAPS.
A conversão de marcadores RAPD em
pares de primers específicos foi inicial-
DNA genômico
digerido e
mente realizada por Paran e Michelmore
Ind 1 Genotipagem como 0 e 1.
marcado: verde O DNA de cada indivíduo (1993), sendo denominada sequence
é hibridizado em uma characterized amplified regions (SCAR),
lâmina, juntamente com o
DNA controle Ind 1 com a vantagem da especificidade da am-
DNA controle
marcado: vermelho
plificação para a região alvo em relação ao
Figura 1 - Esquema da técnica de DArTs RAPD. Fragmentos gerados pela técnica
NOTA: DArTs – Diversity arrays technology; DNA – Ácido desoxirribonucleico. de AFLP têm sido convertidos em STS
FONTE: Dados básicos: Jaccoud et al. (2001). polimórficos e específicos para locos de
interesse.

Marcadores com base em de RFLP utilizadas no mapeamento do SNPs e InDels


informações de sequências genoma humano foram os primeiros mar-
cadores a serem sequenciados para am- Os polimorfismos de nucleotídeos
O sequenciamento de DNA passou únicos ou SNPs são as variações mais
plificação com primers específicos, sendo
por duas grandes revoluções: a tecnologia frequentes no genoma de qualquer orga-
denominados sequence tagged site (STS)
dos dideoxinucleotídeos, que viabilizou a nismo. Estima-se que a frequência desse
(OLSON et al., 1989). A partir de então, a
automatização do processo e, mais recente- polimorfismo seja de uma substituição a
denominação STS tem sido aplicada para
mente, o surgimento das novas tecnologias, cada 31 pares de base em regiões não co-
qualquer marcador que tenha sido con-
também denominado sequenciamento dificadoras e a cada 124 pares de base em
vertido em primers de PCR por meio do
de próxima geração, gerando bilhões de regiões codificadoras em milho (CHING et
sequenciamento das regiões alvo.
etiquetas de DNA (454/Roche; Genome al., 2002). Em soja, estima-se a frequência
Os produtos de amplificação com
Analyzer/Illumina® e SOLiD/Applied Bio- de um SNP a cada 2.038 pares de bases em
5
primers específicos podem ser sequencia-
systemsTM ). Maiores detalhes podem ser dos, buscando polimorfismos que gerem ou regiões codificadoras, e um SNP a cada 191
obtidos no artigo “Decifrando o genoma eliminem sítios de restrição. O polimorfis- pares de bases em regiões não codificado-
em grande escala”. Tais avanços viabili- mo é detectado pela digestão dos produtos ras (ZHU et al., 2003). Por sua abundância
zaram os projetos de sequenciamento de de amplificação com enzimas de restrição no genoma e pela lenta taxa de mutação
genomas completos e expressos, gerando adequadas, gerando então o marcador dentro de gerações, os SNPs prometem ser
um volume enorme de informações de se- cleaved amplified polymorphic sequences a futura geração de marcadores genéticos
quências de DNA. Com o surgimento dos (CAPS) (KONIECZNY; AUSUBEL, de grande aplicação em processos de geno-
sequenciadores automáticos de DNA, os 1993). Tais marcadores apresentam as van- tipagem em larga escala (USECHE et al.,
marcadores RFLP, RAPD e AFLP puderam tagens práticas da técnica do PCR, manten- 2001). Outra classe de polimorfismo que
ser convertidos em primers específicos, do a natureza co-dominante do RFLP. Uma tem sido muito explorada é a presença de
para utilização em reações de PCR gerando alternativa para a genotipagem de SNP pequenas inserções e deleções, que variam
marcadores polimórficos diretamente nas é a técnica de derived cleaved amplified de um a três nucleotídeos, conhecidas na
regiões de interesse. Sondas genômicas polymorphic sequence (dCAPS), proposta literatura como InDels.

5
Disponíveis respectivamente nos sites: http://www.454.com; http://www.illumina.com; http://www3.appliedbiosystems.com

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Os SNPs e os InDels são as bases ge- baixo custo, envolvendo uma única rea- dos primers internos e a base do alelo
néticas da maioria das variações alélicas ção de PCR seguida de eletroforese em alternativo do SNP, como mostrado na
e podem ser tratados como marcadores géis de agarose ou poliacrilamida. Essas Figura 2. Para aumentar a especificidade,
bialélicos, possuindo amplas aplicações características permitem a sua aplicação um segundo erro é adicionado deliberada-
no mapeamento genético de alta resolução em programas de melhoramento genético mente na posição -2, a partir do terminal 3’
e em testes diagnósticos. Tais marcadores vegetal, em laboratórios com estruturas (indicado por um asterisco na Fig. 2). O
podem ser identificados in silico, explo- mais simples. Dentre estas, destaca-se a sistema pode ser desenhado para ensaios
rando os bancos de dados públicos e mais técnica amplification refractory mutation co-dominantes, com a amplificação simul-
recentemente pelo ressequenciamento de system (ARMS-PCR), descrita por Ye et tânea dos dois alelos (sistema de quatro
genomas completos. Useche et al. (2001) al. (2001). O sistema ARMS-PCR consiste primers) ou amplificação em separado
identificaram 2.439 SNPs e 822 InDels no da amplificação com uma combinação de para cada um dos alelos (sistema de três
banco público contendo 68 mil ESTs de dois primers alelo-específicos, um para primers (BUNDOCK et al., 2006)). No
milho, utilizando algorítmos com interfa- cada alelo SNP, e dois primers externos e sistema ARMS, é importante notar que
ces específicas entre diferentes bancos de comuns (Fig. 2). Os dois amplicons alelo- o desenho de primers compatíveis para
dados6. Assim, tais marcadores têm gerado específicos são gerados pela combinação amplificação simultânea é, muitas vezes,
dados em larga escala, de maneira auto- de cada um dos primers externos com desafiador. Programas, com base em web7
matizada e a custos reduzidos, sendo úteis cada um dos primers alelo-específicos. estão disponíveis para essa finalidade e au-
para a construção de mapas genéticos de A especificidade alélica é conferida por xiliam na escolha dos primers ideais, para
alta densidade, para estudos de associação uma diferença entre a base no terminal 3’ o sistema de três e quatro primers.
genética e para seleção assistida com base
no genoma completo.
Uma vez identificados in silico, os
A
marcadores precisam ser convertidos em
Molde de DNA *G
pares de primers específicos (STS), que (Alelo G) C
amplifiquem apenas a região que contém C
*
Primer externo
a mutação, para posterior validação e Primers internos Primer externo
A
mapeamento destes. No caso de InDels, Molde de DNA
*A
T
as inserções/deleções de nucletídeos po- (Alelo A) *
dem ser reveladas diretamente em géis de C
sequenciamento dos produtos de amplifi- PCR
cação, utilizando um dos primers marcados
com fluorescência ou radioatividade. Para Produtode PCR
não específico
a detecção das substituições de base, que G
Produtos de PCR C
ocorrem nos SNPs, têm sido desenvolvidas específicos para
A
várias estratégias, normalmente utilizando- cada alelo G e A
T
se etapas adicionais de extensão de primers
Gel de
que ancoram a uma base de distância do eletroforese
SNP, após a amplificação do fragmento de
Homozigoto G/G Homozigoto A/A Heterozigoto G/A
DNA que contém a sequência alvo. Várias
técnicas têm sido adaptadas para revelar os
SNPs, como a extensão de primers, que
utiliza a detecção por espectroscopia de
massa e PCR em tempo real.
No entanto, é importante o desenvol- Figura 2 - Esquema de amplificação pela técnica ARMS utilizando quatro primers
vimento de sistemas para a visualização FONTE: Ye et al. (2001).
dos SNPs, que sejam mais simples e de NOTA: DNA – Ácido desoxirribonucleico; PCR – Polymerase chain reaction.

6
ESTs – Expressed sequence tags.
7
Disponível no site: http://wheat.pw.usda.gov/demos/BatchPrimer3/

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90 Biotecnologia

As tecnologias de sequenciamento de noma, sendo de grande potencial para a télites para formação de grupos heteróticos
próxima geração têm disponibilizado uma avaliação da diversidade genética, tanto em milho, obtiveram formação de grupos
quantidade muito grande de informações para aplicações filogenéticas e evolutivas, semelhantes àqueles obtidos por meio de
de SNPs, que tem recebido plataformas quanto para fins práticos em programas de cruzamentos testes. No entanto, o agrupa-
para genotipagem simultânea de milhares melhoramento genético e na manutenção mento que utilizou marcadores molecu-
de marcadores a custos reduzidos, como de bancos de germoplasma. Os genótipos lares foi realizado em um mês, enquanto
Golden Gate da Illumina® e OpenArray são avaliados por meio dos marcadores, as que a obtenção dos resultados de avaliação
da Applied Biosystems™. bandas comuns a todos os indivíduos são dos cruzamentos testes necessitou de dois
interpretadas como semelhanças genéticas ciclos da cultura do milho. Além disso, na
SFP e as bandas não-comuns, como diferenças. avaliação fenotípica, muitos dados foram
Os microarranjos de DNA ou chips, Os resultados são codificados, a fim de ge- perdidos, em função da instabilidade cli-
que contêm oligonucleotídeos desenha- rar uma matriz de similaridade ou dissimi- mática durante os períodos de avaliação.
dos para estudos de expressão gênica, laridade, interpretada por meio de análise Um conjunto de 770 linhagens de milho,
estão sendo usados para a geração de de agrupamento ou multivariada. representando germoplasmas melhorados
polimorfismos para genotipagem em A escolha dos genitores e o plane- do México, China e Brasil, foi avaliado
grande escala, denominados single feature jamento dos cruzamentos são etapas de com 1.034 SNPs, sendo possível separar
polymorphism (SFP). Tais marcadores fundamental importância para o sucesso claramente as linhagens temperadas e tro-
têm sido identificados com sucesso desde de um programa de melhoramento. Essas picais (LU et al., 2009). Entre as linhagens
genomas simples como arroz (KUMAR et etapas podem ser auxiliadas por marcado- da China e do Brasil foi possível definir os
al., 2007), até genomas complexos como res moleculares e fornecem aos melhoristas agrupamentos em função da genealogia,
trigo (BERNARDO et al., 2009), os quais informações genéticas adicionais e mais sendo também definido um conjunto de
apresentam elevada capacidade de amos- detalhadas dos genótipos, aumentando a SNPs mais informativos entre as coleções
tragem genômica, utilizando a mesma probabilidade de obtenção de cultivares de germoplasma de diferentes origens.
estrutura e os chips de DNA aplicados em superiores. A seleção de genitores supe-
riores é mais crítica em espécies perenes, DNA fingerprinting e
análise da expressão global. proteção de cultivares
Cada polimorfismo é avaliado pela como fruteiras e essências florestais, uma
presença ou ausência de sinais derivados vez que o tempo para obtenção de uma A caracterização de variedades, linha-
da hibridização do DNA genômico, mar- cultivar melhorada é bastante longo. gens ou híbridos, por meio de marcadores
cado com os oligonucleotídeos impressos Oliveira (2009) obteve uma correlação de DNA, tem sido de grande importância
nos chips, como os da Affymetrix8. Além de 63% entre as distâncias genéticas con- na proteção intelectual do obtentor, sendo
dos microarranjos já disponíveis, existe a seguidas por marcadores microssatélites e utilizada como prova legal em processos
possibilidade de desenvolver chips para as distâncias obtidas pela genealogia de 32 jurídicos nos países onde vigoram as leis de
genotipagem por SFP pelo alinhamento das cultivares brasileiras de soja, originárias proteção de cultivares. Com a aprovação,
sequências genômicas e de ESTs públicas, de um único programa de melhoramento. no Brasil, da Lei de Proteção de Cultivares
culminando com desenho de sondas de 70 A análise de agrupamento realizada com (BRASIL, 1997), o Serviço Nacional de
pares de base que cobrem todo o genoma dados de marcadores microssatélites Proteção de Cultivares (SNPC), vinculado
da espécie alvo. coincidiu perfeitamente com a origem das ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
cultivares, com base em sua genealogia. Abastecimento (MAPA), ficou respon-
APLICAÇÕES DOS Esse autor ressalta, ainda, que os dados de sável pelo registro e proteção de novas
MARCADORES MOLECULARES genealogia nem sempre estão disponíveis, variedades. Para que uma variedade seja
NO MELHORAMENTO enquanto as informações dos marcadores protegida, é necessário demonstrar que é
GENÉTICO sempre podem ser obtidas com acurácia. diferente de qualquer outra variedade da
A caracterização de linhagens de milho mesma espécie. Apesar de o processo para
Diversidade genética e em grupos heteróticos é de fundamental a proteção de cultivares ser realizado com
seleção de genitores
importância na escolha dos genitores base em descritores morfológicos, os mar-
Os diferentes tipos de marcadores para a obtenção de híbridos com elevada cadores moleculares têm sido estimulados
moleculares disponíveis apresentam uma performance agronômica. Aguiar et al. e aceitos nos processos para a identificação
ampla capacidade de amostragem do ge- (2008), ao utilizarem marcadores microssa- de cultivares.

8
Consultar o site: http://www.affymetrix.com

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Biotecnologia 91

Um sistema com base em marcadores Cor de hilo apresenta um número maior inbred lines (RILs) e de retrocruzamentos,
de DNA permite a identificação de um de resultados possíveis, representados pe- tendo cada uma vantagens e limitações.
padrão único de combinação alélica, como las diversas cores e tonalidades existentes, Vários programas computacionais estão
uma impressão digital (fingerprinting) para que podem ser alteradas em função de disponíveis para a construção de mapas
cada cultivar, facilitando sua proteção e condições ambientais. Por exemplo, va- de ligação, sendo alguns públicos como o
assegurando os direitos de propriedade riedades com hilo preto imperfeito podem MapMaker (LANDER et al., 1987), One-
intelectual. A capacidade de discriminação ser confundidas com variedades de hilo Map (MARGARIDO; SOUZA; GARCIA,
dos métodos de fingerprinting molecular preto ou mesmo marrom. Análises mole- 2007) e GQMOL9.
depende do número de marcadores utiliza- culares têm demonstrado que nem sempre O grande objetivo da construção de
a diferença na cor do hilo significa mistura mapas genéticos é identificar marcadores
dos e da frequência alélica para cada loco
varietal. Em alguns casos, sementes de hilo moleculares associados às características
dentro de uma população representativa
preto imperfeito encontradas em lotes de de interesse. Há uma infinidade de tra-
da espécie. Ao avaliar um conjunto de 32
sementes de hilo marrom são geneticamen- balhos que reportam ao mapeamento de
cultivares de soja de um mesmo programa
te idênticas. genes e ao QTLs em diferentes espécies.
de melhoramento, portanto com grande
Marcadores de DNA são uma ferra- Resistência a doenças tem sido uma ca-
probabilidade de ser estreitamente rela- racterística alvo para esse tipo de estudo,
cionadas, Oliveira (2009) selecionou um menta auxiliar e poderosa na análise de
pureza genética de sementes e outras fontes uma vez que a identificação de marcadores
conjunto de 11 marcadores microssatélites, ligados a genes de resistência permite mo-
de propagação, tais como mudas, estolões,
que identificaram todas as cultivares com nitorar a introgressão e a piramidação de
estacas, borbulhas, etc., aplicável sempre
no mínimo 99,9999% de probabilidade dois ou mais genes de resistência em uma
que a caracterização visual gerar dúvidas.
de exclusão. Foram distinguidas inclusive cultivar ou linhagem comercial.
Essa análise tem sido feita explorando-
duas cultivares que possuíam 99,22% Garcia et al. (2008) e Silva et al. (2008)
se ao máximo a representatividade do
de similaridade genética, com base na mapearam os genes Rpp5, Rpp2 e Rpp4,
genoma, pela utilização de primers bem
genealogia. que conferem resistência à ferrugem da
distribuídos em mapas genéticos da espé-
soja. Adicionalmente, o mapeamento de
Análise de pureza genética cie. Schuster et al. (2004) descrevem uma
genes é um passo importante para a clo-
de sementes metodologia prática para a utilização de
nagem de genes.
marcadores microssatélites na avaliação
Da mesma forma como os marcadores A maioria das características de impor-
de pureza genética de cultivares de soja
de DNA são úteis na identificação de cul- tância econômica está sob controle genéti-
que pode ser facilmente estendida para as
tivares, tornam-se também uma importante co complexo, envolvendo a ação de vários
demais culturas.
ferramenta na identificação das misturas genes, o que torna difícil sua manipula-
varietais em análises de pureza genética de ção e compreensão. Regiões genômicas
Mapeamento de genes e
sementes, com a finalidade de certificação características complexas contendo locos gênicos associados a tais
caracteres quantitativos são denominados
ou fiscalização de sementes. Comumente, Os avanços nas áreas dos marcadores QTLs. Marcadores moleculares analisados
misturas varietais são identificadas com moleculares e das metodologias estatísticas por metodologias estatísticas implemen-
base em grow out no campo ou em ca- implementadas em programas computacio- tadas em programas de mapeamento de
racterísticas morfológicas de sementes e nais têm aumentado a saturação dos mapas QTLs têm possibilitado a dissecação dos
plântulas ou, em alguns casos, pela eletro- genéticos e, consequentemente, a precisão caracteres complexos em fatores mende-
forese de proteínas da semente. Em soja, na identificação de marcadores associados lianos simples. O mapeamento de QTLs
por exemplo, a análise de pureza genética com as características de interesse. Para possibilita estimar o número e a localização
de sementes é feita comumente pela cor do um marcador ser utilizado no mapeamento de genes que controlam a variação fenotí-
hilo e do hipocótilo e reação à peroxidase. genético, este deve ser polimórfico entre pica de um caráter, a magnitude dos seus
Esses caracteres são pouco informativos, os indivíduos parentais e apresentar uma efeitos e as interações com outros QTLs. A
pois tanto a cor do hipocótilo, quanto a rea- segregação mendeliana esperada na pro- habilidade de detectar QTLs por meio de
ção à peroxidase só permitem dois resulta- gênie. Vários tipos de populações segre- marcadores moleculares é função da mag-
dos possíveis, sendo que a combinação de gantes podem ser utilizadas na construção nitude do efeito do QTL, do tamanho e do
ambos só permite classificar as variedades de mapas genéticos, como F2, linhagens tipo da população e do nível de saturação
em quatro grupos distintos. recombinantes endogâmicas – recombinant do mapa genético.

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http://www.ufv.br/dbg/gqmol/gqmol.htm

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92 Biotecnologia

O mapeamento de QTLs baseia-se os alelos B e b, em frequências de pB e 1-pB, Melhoramento genético


em testes de associação entre marcadores então, no equilíbrio, mesmo que os locos assistido por marcadores
moleculares e os dados fenotípicos por estejam ligados, a frequência esperada de moleculares
meio de várias metodologias estatísticas, um determinado haplótipo é o produto
Retrocruzamento assistido
cujos procedimentos podem ser vistos das frequências dos alelos constituintes
com mais detalhes em vários livros espe- desse haplótipo. Por exemplo, a frequência A utilização de marcadores molecula-
cializados como, Schuster e Cruz (2008), esperada do haplótipo AB, no equilíbrio, res em programas de introgressão de genes
dentre outros. De forma bastante resumida, é pAB=pAxpB. O desequilíbrio de ligação é por meio de retrocruzamento é um dos
os métodos para mapeamento de QTLs a diferença D=pAB-(pAxpB). No equilíbrio, exemplos mais concretos de melhoramento
avançaram desde a associação com mar- D=0 (MACKAY; POWELL, 2007). assistido por marcadores. Germoplasmas
cas simples, passando pelo mapeamento O mapeamento por desequilíbrio não-adaptados têm sido utilizados em pro-
por intervalo simples, mapeamento por de ligação, também conhecido como gramas de melhoramento com o objetivo
intervalo composto, por múltiplos QTLs, mapeamento de associação, detecta e lo- de introduzir características de herança
até o mapeamento por intervalos múltiplos. caliza QTLs com base na intensidade da simples, como resistência a doenças ou
Programas específicos para o mapeamento correlação entre marcadores moleculares transgenes. A seleção pode ser feita para
monitorar o gene de interesse ou o genoma
de QTLs, contendo algorítmos apropriados mapeados e as características fenotípicas.
recorrente, visando à redução do tempo
para implementar vários dos procedimen- O desequilíbrio de ligação entre dois locos
para obtenção de linhagens convertidas e
tos estatísticos descritos estão disponíveis é função do tempo (número de gerações)
aumento da eficiência do programa, princi-
para acesso público, como QTLCartogra- decorrido, desde que se iniciaram as ge-
palmente quando se objetiva a piramidação
pher10 e GQMOL. rações de recombinação e a frequência de
de dois ou mais genes de interesse.
Métodos de mapeamento de popula- recombinação entre os locos. Após várias
Diferentes estratégias de retrocruza-
ções derivadas de cruzamentos biparentais gerações de recombinação, em uma popu-
mento assistido podem ser aplicadas de-
amostram apenas uma pequena fração de lação não estruturada, apenas correlações
pendendo dos objetivos, sendo que o custo
todos os possíveis alelos em uma determi- entre QTLs e marcadores proximamente
com as genotipagens pode ser compensado
nada espécie. Por esse motivo, marcadores ligados devem permanecer, facilitando
pela redução significativa no número de ge-
moleculares associados a QTLs geralmente o mapeamento mais fino (MACKAY; rações para recuperar o genoma recorrente,
só podem ser usados nas populações em POWELL, 2007). principalmente com o alto valor agregado
que foram desenvolvidos. Recentemente, Para o mapeamento por desequilíbrio de um evento transgênico (GUIMARÃES
a utilização do desequilíbrio de ligação, de ligação, não há necessidade de preparar et al., 2009). Ainda, considerando a sig-
ou seja, a associação não ao acaso entre uma população de mapeamento e o genoma nificativa redução dos custos das novas
alelos em locos ligados, tem sido utilizada inteiro é avaliado para identificar regiões tecnologias de marcadores, em situações
para realizar o mapeamento por associa- associadas a um fenótipo em particular. O onde o fenótipo é de avaliação complexa,
ção. Diferentemente do mapeamento de primeiro obstáculo para essa análise de as- a seleção com marcadores moleculares
ligação (equilíbrio de ligação), o mapea- sociação é a presença, dentro da população, fornece a vantagem adicional na redução
mento por desequilíbrio de ligação infere de subgrupos com distribuição desigual de dos custos e na seleção precoce dos indi-
a associação entre genótipos (haplótipos) alelos. Nesses casos, falsas associações víduos de interesse.
e a característica, pela avaliação do po- positivas entre marcadores e fenótipo
limorfismo genético que foi gerado em podem ser identificadas, mesmo que não SAM
diferentes backgrounds genéticos e por haja ligação física entre os marcadores e A seleção de características simples
meio de muitas gerações de recombinação os genes (BUCKLER; THORNSBERRY, com o auxílio de marcadores moleculares
(DEKKERS; HOSPITAL, 2002). 2002). Por esse motivo, a primeira etapa tem grande utilidade, quando a característi-
O desequilíbrio de ligação é definido no mapeamento por associação (desequi- ca é de difícil medição ou quando se deseja
como a associação não ao acaso, de alelos líbrio de ligação) é identificar a existência selecionar para diversas características
em locos diferentes do mesmo cromosso- de subgrupos. Isso pode ser feito pela simultaneamente, como no caso de pira-
mo. Se for considerado que um determina- construção de uma matriz de similaridade midação de genes. No entanto, a seleção
do loco possui os alelos A e a com frequên- genética, estimada a partir dos marcadores assistida por marcadores (SAM) tem sua
cias de pA e 1-pA, e um segundo loco possui moleculares. maior contribuição na seleção de caracte-

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Disponível no site: http://statgen.ncsu.edu/qtlcart/cartographer.html

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Biotecnologia 93

rísticas quantitativas. Associações entre computacionalmente mais simples do que é melhorar a performance para diversas
alelos de marcadores moleculares e alelos o método da máxima verossimilhança, características simultaneamente, o número
de QTLs podem ser usadas para selecionar, produzindo resultados muito similares de QTLs envolvidos em um programa de
indiretamente, alelos favoráveis de QTLs. (LANDE; THOMPSON, 1990). melhoramento facilitado por marcadores
Para caracteres de baixa herdabilidade, a Os resultados de estudos teóricos e ex- moleculares deve ser grande. Pela natureza
seleção fenotípica é realizada em gerações perimentais permitem concluir que a SAM intrínseca dos QTLs e pelo fato de carac-
mais avançadas, pois a herdabilidade e pode ser utilizada para aumentar substan- teres quantitativos serem controlados por
a acurácia estatística da estimação das cialmente a eficiência dos programas de um grande número de genes de pequeno
médias das progênies aumentam com o melhoramento (EDWARDS; STUBER; efeito, a seleção recorrente assistida por
aumento do número de repetições, gera- WENDEL, 1987; STUBER; EDWARDS; marcadores moleculares é uma escolha
ções, locais e anos de teste, o que leva a WENDEL, 1987; LANDE; THOMPSON, apropriada para o melhoramento de po-
um aumento muito grande do número de 1990). A eficiência da seleção assistida pulações. Por meio de ciclos sucessivos
plantas a ser avaliado. Assim, os melhoris- por marcadores, comparada com a seleção de intercruzamentos e seleção, a seleção
tas devem optar entre produzir estimativas fenotípica, é afetada por diversos fatores, recorrente favorece a quebra de ligações
mais precisas da média de um número tais como, herdabilidade da característica, genéticas, o que facilita a recombinação
menor de progênies ou amostrar um gran- cobertura do genoma pelos marcadores, entre genes e aumenta a frequência de
de número de progênies, com estimativas identificação de associação entre marcado- alelos favoráveis nas populações de me-
menos precisas. A SAM apresenta-se como res e QTLs, tamanho e número de famílias, lhoramento. O uso da seleção assistida
uma alternativa eficiente para permitir a tipo de população e escolha do método por marcadores moleculares permite a
identificação de combinações favoráveis de
seleção precoce de características de baixa de seleção assistida por marcadores. A
alelos, permitindo maiores ganhos com a
herdabilidade. A seleção precoce diminui seleção que utiliza marcadores flanque-
seleção. Xie; Xu (1998) apresentaram uma
o número de plantas a ser analisado por ando o QTL também é mais eficiente do
comparação teórica entre diversos métodos
família, o que permite a avaliação de um que a seleção que se baseia em um único
de seleção recorrente com base em famí-
número muito maior de progênies. A SAM marcador. LANDE; THOMPSON (1990)
lias e seleção massal, utilizando SAM e
é mais efetiva em gerações iniciais de sele- propuseram a teoria do índice de seleção,
seleção fenotípica. A seleção recorrente
ção entre progênies de cruzamentos entre utilizando marcadores, que maximizam a
assistida por marcadores foi duas vezes
linhas endogâmicas. Nessas gerações, a taxa de ganhos genéticos pela combinação
mais eficiente do que a seleção fenotípica,
herdabilidade é baixa, pois o número de das informações do polimorfismo nos locos
com famílias de tamanho pequeno, baixa
repetições é limitado e o desequilíbrio de dos marcadores genéticos com dados da
herdabilidade e alta proporção da variação
ligação é alto. O paradoxo é que o poder variação fenotípica entre os indivíduos.
fenotípica explicada pelos marcadores (p).
de mapeamento de QTLs decresce, à Esse índice pode ser usado tanto para a
Com o aumento do tamanho da população,
medida que a herdabilidade decresce, e é seleção individual, como para a seleção aumento da herdabilidade e diminuição
menor justamente para características que de linhas. Porém, a utilização desse índice de p, a vantagem da seleção assistida por
teoricamente sofreriam o maior impacto requer testes de progênies com repetições, marcadores diminuiu. Seleção assistida
pela SAM (LANDE; THOMPSON, 1990). para a obtenção dos valores fenotípicos. A por marcadores é mais competitiva com a
Para evitar a detecção de falsas associações seleção que se baseia apenas em marcado- seleção fenotípica tradicional, quando a ca-
entre marcadores e QTLs, um nível de res pode ser utilizada e possui eficiência racterística possui baixa herdabilidade. Se
significância bastante alto é utilizado para semelhante ao índice, quando p>0,5 para o objetivo do programa de melhoramento é
se declarar associação entre um marcador e características de baixa herdabilidade, maximizar a resposta por unidade de custo,
um QTL. A utilização de níveis de signifi- sendo p a proporção da variância genética a SAM pode ser inferior à seleção fenotí-
cância bastante estringentes na escolha dos aditiva da característica que é associada pica, quando a herdabilidade é superior a
marcadores aumenta a acurácia da SAM e com o loco marcador. 30% e o custo da avaliação fenotípica por
produz ganhos significativos desta sobre a Muitas características de importância indivíduo é menor do que a genotipagem
seleção fenotípica. Trabalhos mais recentes econômica são afetadas por vários QTLs. do loco marcador.
tendem a utilizar a regressão múltipla do Além de, em muitos casos, os QTLs O número de artigos científicos publi-
fenótipo aos marcadores, como o método para diferentes características apresenta- cados anualmente com o termo marker-
de identificar a associação entre marca- rem-se ligados (STUBER; EDWARDS; assisted selection ultrapassou a barreira
dores e QTLs, e estimar o efeito dos mar- WENDEL, 1987; EDWARDS; STUDER; de mil, no ano de 2003. No entanto, a
cadores (LANDE; THOMPSON, 1990). WENDEL, 1987). Como na maioria dos quase totalidade desses artigos procura
Regressão múltipla é um procedimento programas de melhoramento, o objetivo demonstrar a aplicação potencial da SAM
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94 Biotecnologia

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96 Biotecnologia

Importância da bioinformática na
biotecnologia e na agropecuária
Vagner Katsumi Okura 1

Resumo - A Bioinformática tem tido um papel fundamental no progresso e nas


descobertas da Biologia Molecular, visto sua atuação decisiva em manipular e
interpretar gigantescas quantidades e variados tipos de dados biológicos, gerados pela
Genômica, Genômica Funcional e Proteômica. Esses avanços na Biologia Molecular
contribuíram para a criação de uma Biotecnologia Moderna, que se baseia em
ferramentas da Engenharia Genética e principalmente no uso de informações biológicas
disponíveis. Isso possibilita o desenvolvimento de novas cepas de microrganismos,
novas variedades de plantas e novas raças de animais com características de interesse
para a agropecuária.

Palavras-chave: Gene. RNA. Proteína. Genoma. Sequenciamento de DNA. Genômica.


Transcriptoma. Proteoma. Melhoramento genético.

INTRODUÇÃO com o objetivo de estudar os diferentes com o desenvolvimento de novas varie-


seres vivos por meio da Genômica, de dades de plantas, novas raças de animais,
A genética evoluiu bastante nas últimas
onde tem sido gerada uma quantidade e microrganismos ‘engenheirados’ por
décadas, principalmente com a descrição
gigantesca de dados biológicos que cresce meio da Biotecnologia, que hoje está
da estrutura de DNA em dupla hélice
em ordem exponencial (Gráfico 1). Além bastante apoiada no conhecimento gerado
nos anos 50. Dentre as descobertas nesse
da quantidade, aumenta também a varie- pela Biologia Molecular. Assim, além do
período, é importante destacar os avanços
dade e a complexidade das informações melhoramento clássico usando marcadores
na área da Biologia Molecular, como o
biológicas. Isso alavanca a necessidade de genéticos, a Biotecnologia conta também
desenvolvimento da tecnologia de DNA com o melhoramento assistido por mar-
recombinante (mais comumente conhecida computadores mais poderosos e com maior
cadores moleculares (MOOSE; MUMM,
como Engenharia Genética), e o desenvol- capacidade de armazenamento, e de mode-
2008) e com o melhoramento genético,
vimento de métodos de sequenciamento los e métodos matemáticos, estatísticos e
a partir da transgenia (BRASILEIRO;
de DNA e sua automatização. Nas últimas computacionais mais sofisticados, imple-
CANÇADO, 2000).
décadas, também aconteceram avanços e mentados em softwares de Bioinformática,
O objetivo deste artigo é apresentar o
descobertas na área de Computação. Os o que envolve tanto a participação de
papel da Bioinformática dentro dos campos
primeiros computadores foram inventados, especialistas dessas áreas, como necessita
de estudo da Genômica, Genômica Fun-
melhorados e foi criada a internet. Da de profissionais que tenham uma formação cional e Proteômica. A proposta é mostrar
confluência entre as duas áreas, surgiu a multidisciplinar com conhecimento em sucintamente a motivação, a problemática
Bioinformática, uma área multidisciplinar, Biologia - bioinformatas. e a aplicação da Bioinformática dentro
que envolve a Computação, a Estatística Essas revoluções tecnológicas têm desses campos de estudo. A intenção não
e a Matemática no estudo e resolução de possibilitado avanços em outras áreas é apresentar muitos detalhes sobre esses
problemas da Biologia, particularmente da de pesquisa, principalmente em Ciências campos de estudo, nem tampouco mostrar
Biologia Molecular. A partir disso, com o Aplicadas como a Medicina, a Farmácia e a todas as tecnologias vigentes e atuais, mas
lançamento do projeto do genoma humano, Agronomia. Dentro do campo agronômico, sim fornecer ao leitor uma visão ampla do
muitas outras iniciativas foram criadas, os principais benefícios estão relacionados estado da arte desse novo campo da ciência

1
Bioinformata, M. Sc., Pesq. Alellyx Applied Genomics S.A., CEP 13069-380 Campinas-SP. Correio eletrônico: vagner.okura@alellyx.com.br

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Biotecnologia 97

com grande capacidade, que permita que


possam ser eficientemente recuperados
e disponibilizados. Em cada uma dessas
etapas, há necessidades diferenciadas
de soluções de Bioinformática, as quais
exigem a criação de diferentes métodos
e modelos computacionais, estatísticos e
matemáticos.
Além de suportar a geração e a interpre-
tação, a Bioinformática atua nas predições
sobre os dados biológicos. Com isso, novas
hipóteses podem ser postuladas e testadas
em laboratório, permitindo, assim, novos
direcionamentos de pesquisa. Para isso,
são exigidos modelos e métodos mais
sofisticados, que possibilitem agregar
e integrar diferentes fontes de dados, e,
principalmente, profissionais que tenham
embasamento biológico para entender e
Gráfico 1 - Crescimento do Genbank – 1982 a 2009 propor soluções eficientes para os proble-
FONTE: National Center for Biotechnology Information (2009a). mas. A Bioinformática é, assim, muito mais
NOTA: Mostra o crescimento da quantidade de sequências e pares de bases de DNA que área de suporte, é uma área de atuação
depositados no banco de dados públicos GenBank, um banco público de se-
determinante e protagonista de muitas
quências do National Center for Biotechnology Information (NCBI), um centro de
excelência em Bioinformática. descobertas dentro da Biologia.

GENÔMICA – ESTUDANDO
que evolui com grande rapidez. Serão dução) usando a informação do mRNA O DNA
apresentados os desafios da Bioinformá- como molde.
O estudo dos genes de um organismo
tica e os benefícios para a agropecuária, Com os avanços tecnológicos é pos-
é o ponto de partida para o entendimento
que podem ser obtidos pela biotecnologia sível transformar a informação biológica
de seus processos biológicos. Em função
fundamentada nas informações geradas (DNA, RNA, proteínas) contida nas células
da tecnologia de sequenciamento de DNA
pela Biologia Molecular. de um organismo vivo em informação di-
é possível determinar a sequência dos ge-
gital. Para isso, a Bioinformática despende
nes de um organismo. Atualmente, uma
PAPEL DA BIOINFORMÁTICA esforços para obter, processar, analisar,
grande variedade de espécies tem tido
A Bioinformática tem por objetivo descrever, interpretar, armazenar, buscar e
visualizar os dados biológicos. Ou seja, os seu genoma sequenciado, compreenden-
possibilitar o entendimento e permitir do microrganismos, plantas e animais
novas descobertas no campo da Biologia, diferentes instrumentos ou equipamentos
que tratam o material biológico, produ- (Quadro 1). Portanto, uma maneira atual
utilizando, para isso, novas abordagens.
zindo dados brutos e em larga escala, que de determinar a sequência dos genes de
Para chegar a este entendimento é preciso
devem ser processados em dados legíveis um organismo é pelo sequenciamento
conhecer primeiramente as unidades bá-
pelo ser humano e também formatados em completo do genoma.
sicas de estudo da Genômica – os genes.
padrões adequados para ser armazenados No sequenciamento completo do
Além disso, estuda-se também como os
e entendíveis por programas de compu- genoma, o objetivo é conhecer toda a in-
genes funcionam e como eles interagem
tador. Os dados gerados estão sujeitos a formação genética de um organismo. Não
com outras moléculas. Um conceito básico
e importante para saber como a Bioinfor- erros, decorrentes da natureza biológica, existe hoje nenhum equipamento que con-
mática trabalha é entender o dogma central da preparação do material ou do processo siga ler mais do que mil pares de bases de
da Biologia Molecular (CRICK, 1970): O realizado pelo equipamento. De acordo uma molécula de DNA de forma contínua.
DNA pode ser copiado para DNA (repli- com sua origem, os dados são analisados Mesmo as tecnologias mais recentes de se-
cação de DNA), a informação do DNA por programas de computador e, depois, quenciamento de DNA (SHENDURE; JI,
pode ser copiada (transcrição) para uma descritos e interpretados manualmente ou 2008), que conseguem produzir muito mais
molécula de RNA mensageiro (mRNA) e automaticamente. Por fim, esses dados sequências com um custo menor, não che-
as proteínas podem ser sintetizadas (tra- requerem um sistema de armazenamento gam nesse limite. Em função disso, foram
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98 Biotecnologia

QUADRO 1 - Quantidade de projetos de sequenciamento de genoma to de genoma, o número de genomas


Montagem Em completamente sequenciados é pequeno,
Organismo Completo Total
rascunho andamento principalmente para plantas e animais de
Procariotos 970 1.034 888 2.892 interesse para a agropecuária. No universo
dos vegetais, além da Arabidopsis thaliana
Eucariotos 22 186 174 382
(THE ARABIDOPSIS GENOME INITIA-
Animais 4 75 60 139 TIVE, 2000), uma planta utilizada como
Plantas 2 11 47 60 modelo científico, foram determinadas
Fungos 10 74 39 123 as sequências completas dos genomas de
Protistas 6 24 24 54 arroz (GOFF et al., 2002; YU et al., 2002),
sorgo (PATERSON, 2009), mamão Papaya
Total 992 1.220 1.062 3.274
(MING, 2008), uva (JAILLON, 2007)
FONTE: National Center for Biotechnology Information (2009d). e Populus (álamo) (TUSKAN, 2006).
NOTA: Os números apresentados referem-se aos projetos genoma catalogados pelo National
No caso de animais com interesse para a
Center for Biotechnology Information (NCBI).
pecuária, somente o genoma do boi foi se-
Completo - significa que a sequência dos cromossomos foi determinada completamente
e submetida ao NCBI; Montagem rascunho - significa que há versões de sequências quenciado (ELSIK; TELLAM; WORLEY,
dos cromossomos depositadas no NCBI; Em andamento - significa que o projeto de 2009). Quando se trata de microrganismos,
sequenciamento está em um estádio inicial ou que as sequências dos cromossomos a quantidade de genomas sequenciados é
não estão depositadas no NCBI. bem maior, visto que são genomas menores
e mais simples. Esses números (Quadro 1)
criadas duas estratégias de sequenciamento identificação dos genes pode ser feita usan- refletem a dificuldade em sequenciar ge-
de genomas que quebram os cromossomos do softwares para comparar cromossomos nomas completos de eucariotos, visto que
em fragmentos menores para serem lidos com outras sequências gênicas conhecidas, muitos desses organismos têm genomas
pelos sequenciadores automáticos. Uma de onde podem ser identificados os trechos grandes e complexos. No entanto, esse
das estratégias é conhecida como shotgun gênicos do cromossomo. Apesar de ser também é mais um dos desafios da Bioin-
completo (whole genome shotgun). Os eficaz, essa abordagem de identificação formática, ou seja, propor novas soluções,
cromossomos são quebrados aleatoria- depende de sequências previamente co- rápidas e acuradas, para montagem de
mente, gerando fragmentos pequenos que nhecidas. Outra abordagem com base em genomas mais complexos.
alimentam os sequenciadores automáticos. programas de computador para predição de
A outra estratégia baseia-se em duas etapas genes baseia-se em modelos construídos a GENÔMICA FUNCIONAL –
de fragmentação. A primeira gera fragmen- partir do conteúdo de sequências gênicas e ESTUDANDO O RNA
tos bem mais longos, que são ordenados sequências não gênicas conhecidas. Outro O estudo genético em nível de RNA
por técnicas de mapeamento de DNA. passo importante é descrever a função dos tem um caráter mais dinâmico, se com-
Na segunda etapa, são escolhidos quais genes. A caracterização efetiva da função parado com o estudo do DNA, e possui
fragmentos longos serão subfragmentados de um gene é realizada por meio de com- um campo amplo de pesquisa para en-
e sequenciados. O grande desafio, após o plexos e detalhados experimentos labora- tendimento da função e importância dos
sequenciamento, é reconstituir a sequência toriais. A alternativa, nesse caso, é inferir genes. No âmbito transcricional, o objetivo
dos cromossomos a partir da sequência a função do gene com base na similaridade é aprender mais sobre a expressão dos
dos fragmentos na ordem correta, o que com outras sequências já descritas, visto genes e como isso afeta o funcionamento
caracteriza um dos grandes problemas que genes com sequências similares em ou o desenvolvimento de um organismo.
da Bioinformática, chamado montagem geral têm a mesma função. Para isso, são A expressão dos genes é influenciada pelo
de sequências. Esse não é um problema utilizados programas de Bioinformática tempo de desenvolvimento, pela locali-
trivial, pois existem fatores que atrapalham que buscam informações em outros bancos zação nos tecidos e pela interação com o
o processo de montagem, como erros de de dados de sequências. Como exemplo, ambiente. Uma das principais aplicações
sequenciamento e complexidade e tamanho pode-se citar a ferramenta - basic local do estudo da expressão gênica é a pros-
do genoma. alignment search tool (BLAST) (NATIO- pecção de genes de interesse. Por exemplo,
Uma vez determinada a sequência NAL CENTER FOR BIOTECHNOLOGY genes relacionados com a seca, o frio, ou
dos cromossomos, é preciso identificar e INFORMATION, 2009b). o calor podem ser identificados a partir de
descrever as sequências gênicas (anotação Apesar das muitas iniciativas repre- experimentos que submetam organismos a
do genoma ou identificação de genes). A sentadas por projetos de sequenciamen- condições de falta de água, de resfriamento
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Biotecnologia 99

ou de aquecimento, respectivamente. Para do o sequenciamento de ESTs (Gráfico 2). de marcadores moleculares que podem
isso, amostras de indivíduos ou de tecidos A abordagem, usando ESTs, pode ser utili- ser aplicados em programas de melhora-
submetidos a estresses são comparadas zada para complementar o sequenciamento mento. A identificação desses marcadores,
com amostras controle (na ausência do completo de genoma, principalmente na como microssatélites e single-nucleotide
estresse), de onde são identificados os ge- identificação dos genes. polymorphism (SNPs) é realizada basica-
nes que apresentam expressão diferencial O objeto de manipulação principal é mente por programas de bioinformática.
em relação aos genes da amostra controle. o mRNA, que é uma cópia em RNA de Atualmente, os microssatélites e os
A expressão diferencial dos genes pode um gene. A molécula de mRNA é copiada SNPs são os dois tipos de marcadores
ser estudada por meio do sequenciamento para uma molécula de DNA chamada DNA moleculares de uso predominante, por
de expressed sequence tags (ESTs) e da complementar (cDNA), que é clonada e sua capacidade de detecção de polimor-
tecnologia de microarranjos de DNA ou então sequenciada. As sequências são então fismo genético e ampla aplicabilidade
microarray, embora esta última seja bem agrupadas por programas de bioinformática (APPLEBY; EDWARDS; BATLEY, 2009;
mais utilizada para esta finalidade. que produzem contigs ou clusters de EST ELLIS; BURKE, 2007).
(clustering). O número de cópias de mRNA
Sequenciamento de ESTs está relacionado com o nível de expressão Análise de microarranjos
de um gene. Quanto maior o número de de DNA ou microarrays
O sequenciamento de ESTs é uma
abordagem não só para determinar as cópias de mRNA, maior é o nível de ex- A tecnologia de microarray permite
sequências dos genes, mas também para pressão do gene. Assim, o número de se- que milhares de genes sejam avaliados
avaliar seu nível de expressão. O se- quências de um cluster de EST é utilizado simultaneamente. Um microarray de DNA
quenciamento de ESTs torna o processo como medida de expressão de um gene e, ou chip de DNA é construído com base
de identificação dos genes mais rápido e com isso, diferentes experimentos podem na sequência de genes já conhecidos, em
menos dispendioso, se comparado com ser realizados para medir a expressão dos geral genes obtidos do sequenciamento
a abordagem de genoma completo, prin- genes sobre diferentes condições. de genoma completo ou sequenciamento
cipalmente para aqueles de organismos Essas análises são conhecidas como de ESTs. Um microarray consiste de uma
altamente complexos, como os de plantas “digital differential display”, “Northern lâmina composta por milhares de micropon-
e animais, nos quais somente uma parcela eletrônico” ou “Northern in silico”. tos (spots) ordenados, onde são depositadas
de seu genoma é compreendida por genes, Além de ser uma alternativa direta de cópias de DNA de um mesmo gene (Fig. 1).
sendo a maior parte do genoma composta obtenção dos genes e uma plataforma para O conceito básico de um microarranjo está
por sequências repetitivas. Por isso, muitos estudar a expressão gênica, o sequencia- na capacidade de hibridização (ligação)
organismos têm seus genes estudados usan- mento de ESTs possibilita a identificação de moléculas de DNA pelo princípio da

1,5
N de ESTs (milhões)

0,5
o

0
o o i ja z o la o a o s o a s ã a te s r ta o l o a o é o a
ilh rc Bo So Arro Trig ano ang vad lmã itru odã Uv Pinu aç velh ma pulu úca ata org sso seg belh amã Caf ang tard
M Po C Fr Ce Sa C lg M O To o A ç B S ira ês A M o r s
o
A P G P M M

Gráfico 2 - Número de sequências de ESTs em milhões


FONTE: National Center for Biotechnology Information (2009a).
NOTA: Mostra o número de sequências de expressed sequence tags (ESTs) de algumas plantas (barra verde) e animais (barra laranja)
de interesse para a agropecuária. As sequências estão depositadas no National Center for Biotechnology Information (NCBI).

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100 Biotecnologia

tribuído para que diferentes organismos


de interesse para agropecuária tenham
sido estudados, usando plataforma de
microarray (Gráfico 3). Além de ser
usada principalmente para comparar pa-
drões de expressão de genes, a tecnologia
de microarray tem outras aplicações, tais
como: determinar o genótipo de um indi-
víduo, detectar SNPs, analisar a interação
entre DNA e proteína, analisar sequências
que regulam a expressão dos genes, etc.
(RHEE; DICKERSON; XU, 2006).

PROTEÔMICA – ESTUDANDO
A PROTEÍNA
O entendimento das proteínas é um
fator decisivo para a compreensão dos
processos biológicos. Apesar da grande
disponibilidade de informação para DNA
e principalmente de mRNA, via sequen-
ciamento de ESTs e microarray, de onde
pode ser extraída muita informação acerca
Figura 1 - Exemplo de hibridização de microarranjos de DNA com uma porção do chip do nível de transcrição, ainda existem
de DNA em destaque (amplificado)
questões a ser respondidas na transferência
FONTE: University of Liverpool (2009) e Agilent Technologies (2009).
de informação genética do RNA para a
NOTA: Nesta técnica são avaliados simultaneamente em um único chip de pouco mais
de 10 cm2, cerca de 12 mil genes. Fotomontagem a partir de: The University of
expressão de proteínas. Em geral, os geno-
Liverpool, Liverpool, UK. mas de eucariotos apresentam um número
de proteínas maior do que o número de
genes. Por exemplo, o ser humano possui
complementariedade. Isso possibilita a conforme o número de moléculas que são em torno de 35 mil genes, mas o número
hibridização entre moléculas de DNA que hibridizadas no spot. de proteínas é bem maior. Uma justificativa
têm a mesma sequência. Assim, amostras Entram em cena as ferramentas de para isso é o mecanismo conhecido como
de moléculas de cDNA (copiadas de mo- Bioinformática. Em primeiro lugar, são splicing alternativo (clivagem e remonta-
léculas de mRNA), colocadas em contato aplicados softwares que processam a gem alternativa), onde um mesmo gene
com a lâmina de um microarray, devem- imagem e convertem as intensidades de codifica mais de uma proteína. Outro ponto
se hibridizar com seus respectivos genes cores em valores numéricos. A seguir, são é que nem todos os mRNAs codificam
aplicados modelos estatísticos de norma- proteína. E nem sempre existe uma cor-
depositados nos spots. Antes da hibridi-
lização dos dados, visto que o processo de relação entre a quantidade de transcritos
zação, as moléculas de cDNA são mar-
experimentação, ao usar microarray, está e de proteínas, por causa dos mecanismos
cadas com corantes. Dependendo do tipo
sujeito a erros. A normalização coloca os pós-transcricionais e pós-traducionais
do microarray, este pode ser usado para
dados em uma mesma escala para que ainda não muito bem compreendidos.
analisar duas amostras de mRNA, necessi-
possam ser comparados entre si no passo Para estudar o proteoma de um organis-
tando que cada amostra seja marcada com mo são usadas basicamente duas técnicas:
seguinte. Por fim, os dados são analisados
um corante diferente. Após hibridização, é por diferentes métodos de agrupamentos eletroforese de proteínas e a espectrometria
feita a lavagem da lâmina, que em seguida para identificar os genes que são diferen- de massas (EM). De maneira geral, a pri-
é submetida a um raio laser que excita os cialmente expressos. meira técnica separa as proteínas de uma
corantes, gerando então uma imagem que Os dados de microarray têm aumenta- amostra, possibilitando a comparação entre
apresenta diferentes intensidades de cores do bastante nos últimos anos, decorrentes amostras de proteínas, e a segunda técnica
para cada spot. A intensidade de cor de da criação de diferentes plataformas é utilizada para identificar individualmente
um spot representa o nível de expressão de várias companhias e da redução do as proteínas que apresentaram expressão
do gene correspondente, a qual aumenta, custo dos experimentos. Isso tem con- diferencial.
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Biotecnologia 101

3,5

3
N de hibridizações (milhares)

2,5

1,5

1
o

0,5

0
r
ja
Bo
i
ro
z
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o go ta o) ig
o ão ad
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Ca
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Po Ca

Gráfico 3 - Número de hibridizações de alguns organismos de interesse para agropecuária


FONTE: National Center for Biotechnology Information (2009e).
NOTA: As hidridizações estão depositadas no banco de dados de microarray do National Center for Biotechnology Information (NCBI),
chamado Gene Expression Omnibus (GEO).

Eletroforese
A técnica de eletroforese separa as
proteínas com base nas suas características
química e física. A separação é feita em
dois passos:
a) o primeiro separa as proteínas de
acordo com o ponto isoelétrico
(PIE), as proteínas são colocadas
em um gel preparado com gradiente
de pH e são submetidas a um campo
elétrico. Com isso há um movimento
das proteínas segundo seu PIE;
b) no segundo passo, é aplicada a ele-
troforese de policrilamida com carga
elétrica perpendicular à orientação do
passo anterior. As proteínas movem-
se no gel segundo o seu tamanho. A
visualização das proteínas no gel é
obtida pela aplicação de corantes
(Fig. 2).
Assim, uma amostra de proteínas em
gel pode ser comparada com outra amostra
Figura 2 - Um típico gel bidimensional de proteínas obtido a partir de tecido de Droshophila
de proteínas em gel, de onde são obtidas as melanogaster
proteínas com expressão diferencial pela FONTE: Karr (2008).
comparação das intensidades dos corantes, NOTA: A primeira separação de proteínas ocorreu inicialmente em função do ponto iso-
que refletem a quantidade ou abundância elétrico (PIE) entre pH de 4 a 7 e, posteriormente, pelo peso molecular (KDa).

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102 Biotecnologia

de proteínas em cada amostra. As proteínas espaço no mundo da ciência e da pesquisa APLICAÇÕES DA


com expressão diferencial são cortadas aplicada. Ao fazer uma busca na internet BIOTECNOLOGIA MOLECULAR
do gel e analisadas pela espectrometria com a palavra bioinformatics, é possível NA AGROPECUÁRIA
de massas. A técnica de eletroforese 2D ver inúmeras páginas que exemplificam as O estudo de diversos organismos sobre
(duas dimensões) é capaz de distinguir fontes sobre Bioinformática. Atualmente, a ótica da Biologia Molecular usando a
até 10 mil proteínas, e, para analisar as existem várias revistas científicas e livros Genômica, Genômica Funcional e Proteô-
imagens de gel, são utilizados programas que abordam o tema ou que são específi- mica não se limitam apenas a organismos
de bioinformática. cos sobre Bioinformática. São inúmeras considerados modelo, que têm um grande
As proteínas obtidas com a eletrofo- as universidades, centros e institutos de interesse científico. É cada vez maior a
rese são analisadas com a espectrometria pesquisa especializados em trabalhar com quantidade de organismos que têm sido
de massas, com o objetivo de fazer a sua temas diversos da área, além de muitos estudados, não apenas pelo interesse da
identificação. serem centros de formação de cientistas ciência, mas principalmente pelo interesse
e profissionais em Bioinformática. São econômico, social e ambiental, como é o
Espectrometria de massas caso de animais e plantas com interesse
também inúmeros e variados os bancos
para a agropecuária. Assim, várias ini-
Espectrometria de massas é um método de dados biológicos e as ferramentas de
ciativas de pesquisa em diferentes partes
usado para medir precisamente o peso mo- software em Bioinformática. E isso reflete
do mundo têm sido implementadas para
lecular de uma grande quantidade de subs- na grande contribuição da Bioinformática
gerar dados e informações sobre esses or-
tâncias. A identificação das proteínas é feita em várias descobertas científicas, o que tem
ganismos. A aplicação desses dados, com
em dois passos. Primeiramente, as proteínas promovido impactos diretos nos campos da
dados gerados propriamente, tem ajudado
são cortadas ou digeridas com o uso de en- medicina, da indústria e da agropecuária. as empresas de biotecnologia a criarem
zimas específicas em pedaços menores, que A Bioinformática tem pela frente mui- produtos com características superiores ou
são colocados no espectrômetro de massas. tos desafios. O primeiro é continuar sua diferenciadas. Isso pode ser exemplificado
Os dados obtidos são então analisados com atuação em tratar a grande quantidade de pelas culturas do milho, soja e algodão, que
ferramentas de Bioinformática que vão informação que foi, que está sendo e que têm sido melhoradas e comercializadas
determinar a identidade das proteínas, com será gerada. Ou seja, muito ainda pode ser cada vez mais em todo o mundo.
base na comparação com bancos de dados feito para esgotar a busca, análise e inter- Há ainda muitas outras plantas, animais
de proteínas tal como ExPASy Proteomics pretação dos dados acumulados. Em para- e também microrganismos que têm sido
Server (SWISS INSTITUTE OF BIOIN- lelo a isso, outras tecnologias recentemente melhoradas pela biotecnologia, por meio do
FORMATICS, 2008). criadas ou melhoradas continuam a gerar melhoramento genético, usando marcado-
Assim como a Genômica e Genômica mais dados, com uma capacidade ainda res, e pela transgenia. Isso é possível graças
Funcional, a Proteômica vem crescendo maior. Outro grande desafio será atender e à geração e à disponibilização de dados
bastante com o aperfeiçoamento das téc- adaptar-se às tendências tecnológicas que biológicos, de onde podem ser pesquisados
nicas e métodos para estudar proteínas, surgem na área da Biologia Molecular. e identificados elementos que possam ser
juntamente com o avanço da Bioinformá- Além disso, outro ponto importante aplicados nos programas de melhoramento,
tica que busca desenvolver ferramentas como marcadores moleculares e genes de
é fazer com que toda informação gera-
de software de identificação, validação, interesse, tais como genes de resistência
da e acumulada seja transformada em
quantificação e armazenamento de da- a fatores e estresses bióticos e abióticos,
conhecimento, por meio da integração
dos de proteínas (MATTHIESEN, 2007; genes que aumentam a produtividade e a
e do cruzamento dos dados disponíveis,
PALAGI et al., 2006). Embora muitos qualidade nutricional. Além disso, outros
seguindo a tendência atual de entender de
organismos tenham estudos de proteoma elementos de regulação gênica podem ser
forma global e sistemática os processos requeridos, para aplicação do melhoramen-
já realizados, a maioria da pesquisa ainda
biológicos. Esse novo conceito e forma to por transgenia, como por exemplo, pro-
está relacionada com humanos, leveduras,
de pensar estão abrigados em campo de motores que controlam o quanto, quando e
bactérias, Arabidopsis e arroz.
estudo denominado Biologia de Sistemas. onde um determinado gene será expresso.
Isso significa integrar as informações sobre A escolha desses elementos é importante
CONQUISTAS E NOVOS
genomas, transcriptomas e proteomas com e requer ferramentas sofisticadas de bio-
DESAFIOS PARA A
outras informações como o metaboloma, informática, que sejam capazes de buscar,
BIOINFORMÁTICA
tanto para o mesmo organismo, como para identificar e analisar a ação dos elementos
Após alguns anos de pesquisa, a espécies filogeneticamente próximas e de interesse, assim como verificar se aten-
Bioinformática tem conquistado bastante entre espécies de reinos distintos. dem às necessidades requeridas.
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Biotecnologia 103

Além de marcadores moleculares e e em larga escala de diferentes fontes de papaya Linnaeus). Nature, v.452, n.7190,
modificação genética por transgenia, a Bio- informação. p.991-997, Apr. 2008.
tecnologia Molecular possui ainda outras MOOSE, S.P.; MUMM, R.H. Molecular plant
aplicações de interesse para a agropecuária, REFERÊNCIAS breeding as the Foundation for 21st Cen-
as quais vêm sendo utilizadas nas últimas AGILENT TECHNOLOGIES. Image libra-
tury Crop Improvement. Plant Physiology,
duas décadas e podem ser beneficiadas v.147, n.3, p.969-977, July 2008.
ry: life sciences and chemical analysis.
com avanços na Biologia Molecular. Como Santa Clara, CA, [2009]. Disponível em: NATIONAL CENTER FOR BIOTECHNO-
exemplo, podemos citar as seguintes aplica- <www.agilent.com/about/newsroom/lsca/ LOGY INFORMATION. Bethesda, 2009a.
ções da Biotecnologia: testes de diagnose, imagelibrary>. Acesso em: ago. 2009. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.
gov>. Acesso em: ago. 2009.
desenvolvimento de vacinas, reprodução APPLEBY, N.; EDWARDS, D.; BATLEY, J.
(inseminação artificial, clonagem, transfe- New technologies for ultra-high throughput _______. Blast. Bethesda, 2009b. Dispo-
rência de embrião, tratamento hormonal, genotyping in plants. Plant Genomics. Me- nível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
thods in molecular biology series, v.513, BLAST>. Acesso em: ago. 2009.
etc.), fermentação, biofertilizante, biopes-
p.19-39, 2009. _______. GenBank overview. Bethesda,
ticidas e biorremediação (FAO, 2009).
THE ARABIDOPSIS genome initiative: 2009c. Disponível em: <http://www.ncbi.
analysis of the genome sequence of the flo- nlm.nih.gov/GenBank/index.html>. Acesso
CONSIDERAÇÕES FINAIS
wering plant Arabidopsis thaliana. Nature, em: ago. 2009.
A Bioinformática é uma área de pes- v.408, n.6814, p.796-815, Dec. 2000. _______. Genome project: statistics. Be-
quisa recente e essencial para lidar com BRASILEIRO, A.C.M.; CANÇADO, G.M. de thesda, 2009d. Disponível em: <www.ncbi.
os grandes desafios da Biologia Molecular, A. Plantas transgênicas. Informe Agropecu- nlm.nih.gov/genomes/static/gpstat.html>.
da Genética e de muitas outras áreas do ário. Biotecnologia, Belo Horizonte, v.21, Acesso em: ago. 2009.
conhecimento. Esse grupo de ferramentas n.204, p.28-35, maio/jun. 2000. _______. Geo – Gene Expression Omnibus.
e conceitos tem promovido muitas desco- CRICK, F. Central Dogma of Molecular Bio- Bethesda, 2009e. Disponível em: <http://
bertas para a ciência, como a publicação do logy. Nature, v.227, p.561-563, Aug. 1970. www.ncbi.nlm.nih.gov/geo>. Acesso em:
genoma humano, e de outros organismos ago. 2009.
ELLIS, J.R.; BURKE, J.M. EST-SSRs as a
vegetais e animais como o arroz e, recente- resource for population genetic analyses. PALAGI, P.M. et al. Proteome informatics - I:
mente, o do boi. Com isso, inúmeros outros Heredity, v.99, p.125-132, May 2007. bioinformatics tools for processing experi-
organismos têm sido estudados por meio mental data. Proteomics, v.6, n.20, p.5435-
ELSIK, C.G.; TELLAM, R.L.; WORLEY, K.C.
5444, 2006.
da Genômica, da Genômica Funcional, da The genome sequence of taurine cattle: a
Proteômica, gerando cada vez mais dados. window to ruminant biology and evolution. PATERSON, A.H. et al. The Sorghum bicolor
Dessa forma, cada vez mais os bancos Science, v.324, n.5926, p.522-528, Apr. 2009. genome and the diversification of grasses.
Nature, v.457, n.7229, p.551-556, Jan. 2009.
de dados biológicos com informações FAO. Learning from the past: successes and
diferentes e variadas vêm sendo criados. failures with agricultural biotechnologies in RHEE, S.Y.; DICKERSON, J.; XU, D. Bioin-
Assim, mesmo com o grande volume de developing countries over the last 20 years. formatics and its applications in plant bio-
In: CONFERENCE FAO BIOTECHNOLOGY logy. The Annual Review of Plant Biology,
informação disponível, muitas questões
FORUM, 16., 2009, [Rome]. [Anais eletrôni- v.57, p.335-360, 2006.
ainda não podem ser respondidas. Como
cos]… Rome, 2009. Disponível em: <http:// SHENDURE, J.; JI, H. Next-generation DNA
um gene pode afetar a característica vi-
www.fao.org/biotech/C16doc.htm>. sequencing. Nature Biotechnology, v.26,
sível (fenótipo) de um organismo? Qual
GOFF, S.A. et al. A draft sequence of the n.10, p.1135-1145, Oct. 2008.
é o caminho que a informação genética
rice genome (Oryza sativa L. ssp. japonica). SWISS INSTITUTE OF BIOINFORMATICS.
percorre do gene, para o RNA, para a Science, v.296, n.5565, p.92-100, Apr. 2002. ExPASy proteomics server. [S.l., 2008]. Dis-
proteína, e então para formação de um
JAILLON, O. et al. The grapevine genome ponível em: <http://ca.expasy.org/sprot>.
tecido ou órgão em particular? Como os
sequence suggests ancestral hexaploidiza- Acesso em: ago. 2009.
genes regulam outros genes? São exem- tion in major angiosperm phyla. Nature, TUSKAN, G.A. et al. The genome of black
plos de perguntas que resumem uma única v.449, p.463-467, Sept. 2007. cottonwood, Populus trichocarpa (Torr. &
questão: como a vida funciona? Embora as
KARR, T.L. Application of proteomics to Gray). Science, v.313, n.5793, p.1596-1604,
respostas para algumas dessas perguntas ecology and population biology. Heredity, Sept. 2006.
permaneçam incompletas e longe de serem v.100, n.2, p.200-206, Aug. 2008. UNIVERSITY OF LIVERPOOL. Liverpool,
totalmente compreendidas, hoje é claro
MATTHIESEN, R. Methods, algorithms and UK, 2009. Disponível em: <http://www.liv.
constata-se que a Bioinformática terá um tools in computational proteomics: a prac- ac.uk/lmf/about_microrrays.htm>. Acesso
papel primordial e decisivo na elucidação tical point of view. Proteomics, v.7, n.16, em: ago. 2009.
dessas questões, visto que cada vez mais p.2815-2832, Aug. 2007. YU, J. et al. A draft sequence of the rice ge-
a Biologia Molecular tem-se tornado uma MING, R. et al. The draft genome of the nome (Oryza sativa L. ssp. indica). Science,
ciência que se baseia na avaliação global transgenic tropical fruit tree papaya (Carica v.296, n.5565, p.79-92, Apr. 2002.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 3 , p . 9 6 - 1 0 3 , n o v. / d e z . 2 0 0 9

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104 Biotecnologia

INSTRUÇÕES AOS AUTORES


INTRODUÇÃO Prazos e entrega dos artigos
O Informe Agropecuário é uma publicação seriada, periódica, Os colaboradores técnicos da revista Informe Agropecuário devem
bimestral, de caráter técnico-científico e tem como objetivo principal observar os prazos estipulados formalmente para a entrega dos
difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela EPAMIG, seus trabalhos, bem como priorizar o atendimento às dúvidas surgidas ao
parceiros e outras instituições para o desenvolvimento do agronegócio longo da produção da revista, levantadas pelo coordenador técnico,
de Minas Gerais. Trata-se de um importante veículo de orientação e pela Revisão e pela Normalização. A não-observância a essas normas
trará as seguintes implicações:
informação para todos os segmentos do agronegócio, bem como de
todas as instituições de pesquisa agropecuária, universidades, escolas a) os colaboradores convidados pela Empresa terão seus trabalhos
excluídos da edição;
federais e/ou estaduais de ensino agropecuário, produtores rurais,
empresários e demais interessados. É peça importante para difusão b) os colaboradores da Empresa poderão ter seus trabalhos excluídos
ou substituídos, a critério do respectivo coordenador técnico.
de tecnologia, devendo, portanto, ser organizada para atender às
necessidades de informação de seu público, respeitando sua linha O coordenador técnico deverá entregar ao Departamento de
Publicações (DPPU) da EPAMIG os originais dos artigos em CD-ROM
editorial e a prioridade de divulgação de temas resultantes de projetos
ou pela Internet, já revisados tecnicamente, 120 dias antes da data
e programas de pesquisa realizados pela EPAMIG e seus parceiros.
prevista para circular a revista. Não serão aceitos artigos entregues
A produção do Informe Agropecuário segue uma pauta e um
fora desse prazo ou após o início da revisão lingüística e normalização
cronograma previamente estabelecidos pelo Conselho de Difusão de
da revista.
Tecnologia e Publicações da EPAMIG, conforme demanda do setor
O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data
agropecuário e em atendimento às diretrizes do Governo. Cada de publicação da edição.
edição versa sobre um tema específico de importância econômica
para Minas Gerais. Estruturação dos artigos
Do ponto de vista de execução, cada edição do Informe Agropecuário
Os artigos devem obedecer a seguinte seqüência:
terá um coordenador técnico, responsável pelo conteúdo da publicação,
a) título: deve ser claro, conciso e indicar a idéia central, podendo
pela seleção dos autores dos artigos e pela preparação da pauta.
ser acrescido de subtítulo. Devem-se evitar abreviaturas, parên-
teses e fórmulas que dificultem a sua compreensão;
Apresentação dos artigos originais
b) nome do(s) autor(es): deve constar por extenso, com nume-
Os artigos devem ser enviados em CD-ROM ou pela Internet, no ração sobrescrita para indicar, no rodapé, sua formação e títulos
programa Word, fonte Arial, corpo 12, espaço 1,5 linha, parágrafo acadêmicos, profissão, instituição a que pertence e endereço.
automático, justificado, em páginas formato A4 (21,0 x 29,7cm). Exemplo: Engo Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM, Caixa
Os quadros devem ser feitos também em Word, utilizando apenas Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
o recurso de tabulação. Não se deve utilizar a tecla Enter para formatar ctsm@epamig.br;
o quadro, bem como valer-se de “toques” para alinhar elementos c) resumo: deve constituir-se em um texto conciso (de 100 a 250
gráficos de um quadro. palavras), com dados relevantes sobre a metodologia, resulta-
Os gráficos devem ser feitos em Excel e ter, no máximo, 15,5 cm dos principais e conclusões;
de largura (em página A4). Para tanto, pode-se usar, no mínimo, d) palavras-chave: devem constar logo após o resumo. Não
corpo 5 para composição dos dados, títulos e legendas. devem ser utilizadas palavras já contidas no título;
As fotografias a serem aplicadas nas publicações devem ser e) texto: deve ser dividido basicamente em: Introdução, Desenvol-
recentes, de boa qualidade e conter autoria. Podem ser enviadas em vimento e Considerações finais. A Introdução deve ser breve e
papel fotográfico (9 x 12 cm ou maior), cromo (slide) ou digitalizadas. enfocar o objetivo do artigo;
As foto-grafias digitalizadas devem ter resolução mínima de 300 DPIs f) agradecimento: elemento opcional;
no formato mínimo de 15 x 10 cm e ser enviadas em CD-ROM ou ZIP g) referências: devem ser padronizadas de acordo com o
disk, prefe-rencialmente em arquivos de extensão TIFF ou JPG. “Manual para Publicação de Artigos, Resumos Expandidos e
Não serão aceitas fotografias já escaneadas, incluídas no texto, em Circulares Técnicas” da EPAMIG, que apresenta adaptação das
Word. Enviar os arquivos digitalizados, separadamente, nas extensões normas da ABNT.
já mencionadas (TIFF ou JPG, com resolução de 300DPIs). Com relação às citações de autores e ilustrações dentro do texto,
Os desenhos devem ser feitos em nanquim, em papel vegetal, ou também deve ser consultado o Manual para Publicações da EPAMIG.
em computador no Corel Draw. Neste último caso, enviar em CD-ROM NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual para
ou pela Internet. Os arquivos devem ter as seguintes extensões: TIFF, Publicação de Artigos , Resumos Expandidos e Circulares Téc-
EPS, CDR ou JPG. Os desenhos não devem ser copiados ou tirados nicas” da EPAMIG. Para consultá-lo, acessar: www.epamig.br,
de Home Page, pois a resolução para impressão é baixa. entrando em Publicações ou Biblioteca/Normalização.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 0 , n . 2 5 3 , n o v. / d e z . 2 0 0 9

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