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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS


CURSO DE BACHARELADO EM FARMÁCIA

AMANDA BRAGA DE AROLA


CAROLYNE DIVA MACIEL COSTA
HEVELLYN SAMILLY SILVA DE LIMA FERREIRA
ISADORA MATIAS PEREIRA
MARIA FERNANDA MONTEIRO PEREIRA

CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS, FITOQUÍMICAS E USO CLÍNICO DA


AROEIRA DO SERTÃO (Myracodruon urundeuva; ANACARDIACEAE), UMA
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

JOÃO PESSOA – PB

2023
AMANDA BRAGA DE AROLA
CAROLYNE DIVA MACIEL COSTA
HEVELLYN SAMILLY SILVA DE LIMA FERREIRA
ISADORA MATIAS PEREIRA
MARIA FERNANDA MONTEIRO PEREIRA

CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS, FITOQUÍMICAS E USO CLÍNICO DA


AROEIRA DO SERTÃO (Myracodruon urundeuva; ANACARDIACEAE), UMA
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Monografia apresentada à Universidade


Federal da Paraíba pelo curso de Bacharelado
em Farmácia como requisito parcial para
obtenção de nota na disciplina de Metodologia
da ciência e da pesquisa.

Orientador: Prof. Dr. Rui Oliveira Macedo.

JOÃO PESSOA – PB

2023
RESUMO

A aroeira do sertão, denominada cientificamente como Myracrodruon urundeuva


Allemão é uma planta medicinal pertencente à família Anacardiaceae. A aroeira é uma árvore
de grande porte, que contém entre 8 e 20 metros de altura, podendo chegar até 30 metros, e é
decídua na estação seca. Essa espécie é nativa, mas não endêmica do Brasil e consegue se
adaptar a diferentes condições climáticas, desde às regiões mais secas, como a Caatinga, até
às regiões úmidas, como as florestas pluviais, podendo ser encontrada na Caatinga, Cerrado e
Mata Atlântica, desde o estado do Ceará até o estado do Paraná, no Brasil, e também nos
países Argentina, Paraguai e Bolívia, no continente americano. Além disso, a aroeira do sertão
tem grande potencial econômico, pois a sua madeira é explorada economicamente devido às
suas boas qualidades físico-mecânicas e ao seu peso elevado, sendo utilizada na construção de
obras externas, como por exemplo postes e pontes, e também, na produção de lenha, carvão e
entre outros. A aroeira do sertão é considerada uma espécie secundária tardia, a qual precisa
de bastante luz para se desenvolver e possui uma árvore duradoura, que cresce em terrenos
secos e rochosos. Sua floração ocorre no fim do período de seca, apresentando folhas
caducifólias e a sua frutificação também ocorre no período de seca, mas já na transição da
estação seca para a chuvosa. A polinização da aroeira acontece por meio de insetos e a
dispersão do seu pólen e das suas sementes ocorre a curta distância, sendo assim considerada
uma planta dioica (plantas com sexo separado). Essa planta possui um elevado potencial
fitoterápico, sendo usada na medicina como antimicrobiano, anti-inflamatório e cicatrizante,
através da sua casca, folha e raiz. No entanto, essa planta também pode causar reações
alérgicas, portanto, é necessário que o uso medicinal dessa espécie seja orientado por um
profissional da área da saúde.

Palavras-Chave: Myracrodruon urundeuva Allemão; Anacardiaceae; potencial


econômico; espécie secundária tardia; planta dioica; potencial fitoterápico.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................5

2. NOMENCLATURA E DESCRIÇÃO BOTÂNICA.............................................................6

3. CONDIÇÕES AGRONÔMICAS..........................................................................................7

4. FITOQUÍMICA...................................................................................................................10

4.1. PROPRIEDADES BIOLÓGICAS..................................................................................12

4.1.1. Propriedades anti-inflamatórias....................................................................................12

4.1.2. Propriedades Antibacteriana.........................................................................................13

4.1.3. Propriedade Cicatrizante...............................................................................................13

5. TOXICOLOGIA E FARMACOLOGIA PRÉ-CLÍNICA OU NÃO CLÍNICA..................15

5.1. Toxicologia......................................................................................................................15

5.2. Farmacologia...................................................................................................................16

6. TECNOLOGIA E CONTROLE..........................................................................................17

6.1. Tecnologia de cultivo......................................................................................................17

6.2. Extração de bioativos......................................................................................................17

6.3. Padronização da matéria prima.......................................................................................18

6.4. Desenvolvimento farmacotécnico...................................................................................18

6.5. Transposição de escalas e produtos no mercado.............................................................20

7. PESQUISA CLÍNICA.........................................................................................................21

8. CONCLUSÃO.....................................................................................................................23

REFERÊNCIAS........................................................................................................................24
1. INTRODUÇÃO

A família Anacardiaceae tem uma distribuição pantropical, com poucos representantes


em regiões temperadas. Ela engloba cerca de 70 gêneros e 600 espécies, muitas das quais são
importantes na alimentação, como a manga (Mangifera indica L.), o caju (Anacardium
occidentale L.), a seriguela (Spondias mombin L.) e o pistache (Pistacia vera L.) (Barroso,
1991; Judd et al., 1999; Lorenzi, Matos, 2002). Do ponto de vista médico, várias espécies são
relevantes por causarem dermatites em indivíduos suscetíveis, devido aos catecóis presentes
em sua resina secretada (Cronquist, 1981; Judd et al., 1999). Outras espécies são
tradicionalmente utilizadas como cicatrizantes, estimulantes do apetite e antidiarreicos, devido
à presença de taninos e óleos-resinas, como é o caso do caju-do-cerrado (Anacardium humile
A. St.-Hil.), da arendiúva (Myracrodruon urundeuva Allemão) e do pimenteiro (Schinus
molle L.) (Sanguinetti, 1989; Cruz, 1995; Alonso, 1998; Lorenzi, Matos, 2002).
A aroeira-do-sertão, cientificamente conhecida como Myracrodruon urundeuva
Allemão da família Anacardiaceae, é uma árvore que possui um valor ornamental e pode
atingir alturas entre 5 e 20 metros. Sua madeira é altamente durável naturalmente e pertence
ao grupo de madeiras consideradas imputrescíveis (Lorenzi, 2010). A aroeira é encontrada em
diferentes tipos de vegetação, como a Caatinga, o Cerrado e a Mata Atlântica, em formações
florestais como Área Antrópica, Caatinga (stricto sensu), Floresta Ciliar ou Galeria, e Floresta
Estacional Semidecidual (Flora do Brasil, 2017). Ela possui uma ampla distribuição na
Caatinga e também pode ser encontrada em áreas de floresta pluvial e Floresta Estacional
Decidual (Siqueira-Filho, 2009).
Além disso, a aroeira é frequentemente utilizada na composição de ambientes
florísticos, visando a recuperação de áreas perturbadas (José et al., 2005; Bertoni & Dickfeldt,
2007; Scalon et al., 2012). A casca da aroeira-do-sertão possui propriedades balsâmicas que a
tornam útil como agente anti-inflamatório, antioxidante, antimicrobiano e anestésico (Lorenzi,
2000; Carvalho, 2003; Souza et al., 2007; Mota et al., 2015).

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2. NOMENCLATURA E DESCRIÇÃO BOTÂNICA

A espécie pertence a família Anacardiaceae, e foi descrita e nomeada por Francisco


Allemão e Cysneiro (1862), possuindo como sinonímia os nomes Astronium juglandifoloum
Griseb e Astronium urundeuva (Freire Allem.) (LEITE, 2002). Possui vários nomes populares
em três linguas diferentes (Portugês, espanhol e guarani) relativas aos países onde ela ocorre:
Português: aroeira, aroeira-do-sertão, aroeira-preta, aroeira-da-serra, aroeira-do-campo,
urundeúva, urindeúva, arindiúva, aderno, arendiúva, aroeira-legítima, aroeira-prata, aroeira-
vermelha, aroeira-d’água, pandeiro, almecega oriundeúva, orindiúva, ubatan, ubatami,
chibatan, gibatão, sotocele, ubatão, arendeúva, arindeúva e orindeúva. Espanhol: urundel,
urunday, urunday-mí e cuchi. Guarany: urunde’yva, urunde’ymi. (LEITE, 2002; PAREYN et
al., 2018).
Trata-se de uma espécie dióica de porte arbóreo e caule ereto, atingindo entre 5 e 15
metros de altura e 30cm de diâmetro caulinar quando em ambientes de Caatinga e Cerrado,
podendo atingir 30 metros de altura e diâmetro caulinar de 100cm em Florestas Tropicais
(LEITE, 2002). Possui casca castanho-escura, folhas compostas imparipinadas medindo 10-
30cm, com 7 à 15 folíolos medindo 3-6cm, cada, sendo ovalados subcoriáceos, ligeiramente
cerrado-crenados, com ápice arredondado ou ligeiramente acuminado (LEITE, 2002). A
inflorescência é racemosa, em panículas, com 10 a 18cm de comprimento, apresentando
brácteas e bractéolas deltoides, escariosas, cilíndricas e caducas, com flores aromáticas de cor
creme, díclinas, pentâmeras e actinomorfas, apresentando sépalas arredondadas e glabras e
pétalas reflexas e glabras (LEITE, 2002; PAREYN et al., 2018). Os frutos considerados fruto-
semente, em forma de drupas globosas ou ovoides, com cálice persistente, com sementes
globosas e medem entre de 20 à 40mm, não apresentam endosperma, com epicarpo castanho-
escuro, mesocarpo resinífero e carnoso de cor castanho e tegumento membranáceo (PAREYN
et al., 2018).

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3. CONDIÇÕES AGRONÔMICAS

Myracodruon urundeuva possui distribuição geográfica restrita a américa do sul,


sendo mais comumente encontrada em ambientes de Caatinga e Cerrado do Nordeste e
Centro-Oeste Brasileiro, respectivamente, sendo também amplamente distribuída em
ambientes de Mata Atlântica do nordeste ao sul do Brasil, além de Bolívia e Paraguai
(DOMINGOS; SILVA, 2020). Trata-se de uma planta longeva, secundária, tardia e heliófila,
necessitando de luz abundante para seu desenvolvimento adequado (DOMINGOS; SILVA,
2020; PAREYN et al., 2018). Ocorre em solos secos e rochosos, com floração ocorrendo no
fim do período seco, com polinização feita por insetos, e frutificação na transição entre o
período seco e chuvoso, e disperssão das sementes ocorrendo dentro de distâncias inferiores à
50m, resultando em agrupamentos densos da espécie (PAREYN et al., 2018). Ela apresenta
alta tolerância à escasses de água, podendo tolerar longos períodos sem água, embora seu
crescimento seja diretamente proporcional à disponibilidade hídrica (LEITE, 2002). A
escasses hídrica afeta ainda a fotossíntese e eficiência do uso da água na planta, com rápida
recuperação de sua fisiologia normal após o reestabelecimento da disponibilidade de água
(COSTA et al., 2015). Além disso, a espécie apresenta alta resistência a diversos poluentes,
tornando-a uma excelente opção para recuperação de regiões com solos degradados
(FERREIRA et al., 2015), mas não tolera salinidades superiores à 50 mol/m -³, não sendo
recomendado seu uso para recuperação de solos salinos ou seu cultivo nesse tipo de ambiente
(DE MIRANDA et al., 2000).
A planta apresenta diversos usos, fazendo com que seja considerada polivalente
(BARROS; NASCIMENTO; MEDEIROS, 2016), sendo bastante explorada pela extração de
lenha, como forro para gado e uso medicinal, podendo ser a espécie mais explorada na
Caatinga (ARAÚJO et al., 2013). Devido a sua versatilidade e alta exploração local e
comercial, sua conservação está em risco (DE LUCENA et al., 2011; LEITE, 2002). O seu
tronco é utilizado para madeira por possuir alta resistência física e química, sendo bastante
densa, servindo para produção de obras externas, estacas, vigas, assoalho, bem como para
produção de lenha e carvão, as cascas e resinas são utilizadas para produção de tanino,
corantes e remédios, as folhas servem de alimento para o gado e suas flores são melíferas.
Além disso, a planta é utilizada na arborização urbana e na recuperação de áreas degradadas
(PAREYN et al., 2018).

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O crescimento da árvore ocorre de maneira lenta, alcançando produtividade máxima
de 5,50m3/ha/ano, com cortes para produção de madeiras tratadas ocorrendo aos 20 anos de
idade da planta (PAREYN et al., 2018). A madeira da aroeira possui elevada durabilidade,
sendo descrita como praticamente imputrescível, de difícil manuseio, mas de fácil polimento.
Por apresentar resistência à compressão, umidade e erosão, é bastante utilizada na construção
civil, especialmente em áreas rurais (PAREYN et al., 2018). A espécie possui uma elevada
tendência à bifurcação do tronco nos seus primeiros anos, sendo interessante a poda para o
favorecimento de um crescimento reto do tronco e consequentemente melhor aproveitamento
(GARRIDO; POGGIANI, 1979; SALOMÃO; LEITE, 1991).
A reprodução da aroeira pode ser feita por meio de sementes ou por produção de
estacas (PAREYN et al., 2018; RAMOS et al., 2017). As sementes devem ser colhidas de
frutos maduros e recomenda-se tratamento pré-germinativo para estimular a germinação,
devido a presença de dormência fisiológica (CARVALHO, 2014; PACHECO et al., 2006). As
sementes germinam em temperaturas entre 15 à 35 graus, sendo a faixa ótima entre 20 e 30
graus, e são fotoblásticas negativas preferenciais (SILVA; RODRIGUES; AGUIAR, 2002),
podendo ser armazenadas em ambiente seco por até dois anos (GOMES et al., 2018). O
processo de germinação geralmente começa dentro de um período de 4 à 40 dias após a
semeadura, com plantio defenitivo das mudas sendo realizado entre o sexto e oitavo mês
(PAREYN et al., 2018). A produção de um jardim clonal por meio de matrizes possibilita a
produção e seleção de miniestacas para reprodução clonal (RAMOS et al., 2017). Para a
produção de estacas, recomenda-se que, quando as mudas atingirem uma altura de 40-50
centímetros, sejam feitos cortes cerca de 12 centímetros abaixo do ápice, com objetivo
interromper o crescimento apical e estimular o surgimento de novas brotações, que serão
utilizadas como estacas (PAREYN et al., 2018). O cultivo de miniestacas sob sol pleno é
favorável ao cultivo em sombreamento parcial (RAMOS et al., 2017). Por ser uma espécie
dióica de razão sexual de aproximadamente 60% de plantas masculinas para 40% femininas
(DOMINGOS; SILVA, 2020), deve-se manejar a espécie de modo a favorecer o crescimento
de ambos os sexos para viabilizar a produção das sementes (PAREYN et al., 2018).
Casca de madeira parece ser um excelente substrato para o crescimento inicial das
plântulas de Myracodruon urundeuva, favorecendo produção foliar em relação ao número e
comprimento de folhas, além de maior altura da parte aérea e massa verde e seca,
provavelmente devido a alta disponibilidade de cálcio e magnésio desse substrato
(ANDRADE et al., 2013), sendo o tipo de solo fator determinante para o estabelecimento da

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espécie, considerada calcicola em alguns ambientes de afloramentos calcáreos do Brasil
central e comumente associada a solos com alto pH e ricos em calcio (LEITE, 2002). O
enriquecimento com matéria orgânica também favorece o crescimento inicial da planta
(ANDRADE et al., 2013; KRATKA; CORREIA, 2015).

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4. FITOQUÍMICA

A Myracrodruon urundeuva Allemão, também conhecida como aroeira-do-sertão, é


amplamente utilizada no cotidiano da população brasileira, principalmente na região nordeste
do país. Acredita-se que essa planta possua diversas propriedades benéficas, como atividades
adstringente, balsâmica, analgésica, cicatrizante, anti-inflamatória, antibacteriana e
hemostática. Além disso, relatos apontam seu uso no tratamento das inflamações de garganta,
gengiva, pele, enfermidades genitais e urinárias, das vias respiratórias, gastrites, úlceras
estomacais, resfriados, diarreia, reumatismo e regulação do ciclo menstrual (Salomão,2016).
Ao longo dos anos, a Myracrodruon urundeuva tem sido a base para a produção de
diversos medicamentos naturais pela população. As receitas desses medicamentos são
transmitidas de geração em geração e sua eficácia é embasada no conhecimento empírico
acumulado ao longo do tempo. Essa prática tem sido valorizada como parte da cultura popular
brasileira e representa uma forma de utilização sustentável dos recursos naturais presentes no
país. No entanto, para atribuir tais propriedades de fato à Aroeira, é necessário avaliar sua
estrutura fitoquímica.
A ciência responsável pelos estudos das propriedades de determinado grupo de plantas
é denominada fitoquímica. Segundo Finêncio e Mininel (2019), a fitoquímica investiga cada
grupo da planta, desde a estrutura química molecular até as propriedades biológicas dos
vegetais. Essa área de estudo realiza levantamentos e análises dos componentes químicos das
plantas, como os princípios ativos, os odores, pigmentos, entre outros.
Na análise fitoquímica foi identificado a presença de flavonoides, taninos e terpenos
na casca da M. urundeuva. Os flavonoides identificados foram urundeuvina A, urundeuvina B
e urundeuvina C (figura 2), já relatados anteriormente na literatura. Apesar dos taninos serem
os principais metabólitos secundários presentes na aroeira, o composto tri-O-galoil-1,5-
anidro-glucitol (figura 1), nunca foi estudado nessa espécie. Os terpenos identificados foram
30-nor-24-metilenocicloartanol e 24- metilenocicloartanol (figura 3), já relatados em estudos
anteriores da M. urundeuva. (Araújo, 2008). Tais compostos são responsáveis pelas
propriedades biológicas da Aroeira-do-sertão.

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Figura 1. Estrutura do tri-O-galoil-1,5-anidro-glucitol.

Figura 2. Estrutura das Chalconas identificadas na fração acetato etilênica da casca de M. urundeuva. A)
urundeuvina A; B) urundeuvina B; C) urundeuvina C.

Figura 3. Triterpenos: A) 30-nor-24-metilenocicloartanol; B) 24-metilenocicloartanol.


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4.1. PROPRIEDADES BIOLÓGICAS

4.1.1. Propriedades anti-inflamatórias

A propriedade anti-inflamatória da M. urundeuva é confirmada devido à presença de


flavonoides e taninos encontrados tanto na planta adulta quanto no caule e nas folhas dos
brotos (planta jovem).
A pesquisa publicada na revista de etnofarmacologia apresentou resultados
significativos quanto à proteção gastroprotetiva e anti-inflamatória da Myracrodruon
urundeuva. Esses efeitos foram atribuídos à sua composição química. Por meio da maceração
das folhas e do caule, foi obtido um extrato da planta. A caracterização química desse extrato,
utilizando cromatografia líquida de ultra performance acoplada à espectrometria de massas,
evidenciou a presença de chalconas, flavonoides e taninos. Esses compostos estão
relacionados com as propriedades benéficas da planta, incluindo suas atividades anti-
inflamatórias e gastroprotetivas. (Cecílio et al., 2016)

Figura 4. Resumo gráfico - J. Ethnopharmacol.


(2018)

O gráfico apresenta os resultados das atividades gastroprotetora e anti-inflamatória dos


extratos da Myracrodruon urundeuva em estudos realizados em ratos. A atividade
gastroprotetora foi avaliada em lesões gástricas induzidas por etanol, enquanto a atividade
anti-inflamatória foi avaliada no edema de orelha induzido por óleo de Croton.
Foram utilizados dois diferentes níveis de dosagem dos extratos (700 ou 1000 mg/kg)
e os efeitos foram observados nos ratos. Além disso, os extratos também foram submetidos a
avaliação de citotoxicidade in vitro.

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Esses resultados, publicados no periódico J. Ethnopharmacol. em 2018, fornecem
informações importantes sobre as propriedades terapêuticas da Myracrodruon urundeuva e
seu potencial no tratamento de condições gastrointestinais e inflamatórias.
Diante dos dados analisados, a propriedade anti-inflamatória da Myracrodruon
urundeuva deixa de ser apenas conhecimento popular e abre margem para o desenvolvimento
de fitoterápicos. Embora já seja amplamente utilizado na medicina popular, a análise de suas
propriedades torna sua utilização mais específica e embasada cientificamente. Isso abre
caminho para a produção de medicamentos baseados na planta, contribuindo para a ampliação
das opções terapêuticas e garantindo uma utilização mais segura e eficaz.

4.1.2. Propriedades Antibacteriana

Outra propriedade associada a aroeira-do-sertão é sua eficácia antibacteriana, uma


publicação do “Australian Endodoctin Journal” a ação antimicrobiana de uma pasta à base de
hidróxido de cálcio associada ao extrato de Myracrodruon urundeuva Allemão.
A atividade antibacteriana foi determinada pelo método de
difusão em disco, enquanto a redução microbiana ( Enterococcus
faecalis) foi avaliada pelo teste time-kill. A pasta CH formulada com
aroeira apresentou atividade antibacteriana contra Enterococcus
faecalise ainda não interferiu com pH, liberação de íons de cálcio ou
viabilidade celular; além disso, a formulação apresentou atividade
antimicrobiana e pode servir como veículo para a pasta CH.
(AUSTRALIAN ENDODONTIC JOURNAL. Volume 48, edição 1)

A versatilidade da Aroeira reforça seu potencial medicinal, tornando-a uma importante


aliada na produção de medicamentos. Seja como complemento em combinação com outros
fármacos ou como principal princípio ativo, seu papel tem sido comprovado por meio de
pesquisas científicas. Essas pesquisas têm validado cientificamente a eficácia da Aroeira em
diversas aplicações terapêuticas, proporcionando evidências sólidas para seu uso na medicina.

4.1.3. Propriedade Cicatrizante

Devido à presença de taninos em sua composição química, a M. Urundeuva Allemão também


é atribuída com ação cicatrizante. Os Taninos (figura 2) são polifenóis que possuem
capacidade antioxidante, pois sua estrutura lhes permite atuar como agentes oxidantes,
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neutralizando radicais livres e reduzindo o estresse oxidativo. Essa característica é obtida a
partir do extrato do caule da planta M. Urundeuva Allemão.
Pesquisas que buscam aprofundar o conhecimento sobre as propriedades cicatrizantes
da Aroeira-do-sertão estão em andamento, especialmente no que se refere à sua capacidade
antiúlcera, que está associada à presença de taninos.
Um estudo publicado na revista científica Phytotherapy Research investigou o uso de
taninos (TEF) isolados da casca do caule de M. urundeuva. O estudo utilizou testes da
formalina em camundongos, bem como modelos de edema de pata e úlcera gástrica induzidos
por carragenina em ratos.
Essa pesquisa teve como objetivo avaliar os efeitos dos taninos isolados da Aroeira-
do-sertão em condições específicas, como a formalina, que é um modelo de dor, e o edema de
pata e úlcera gástrica induzidos por carragenina, que são modelos utilizados para estudar
processos inflamatórios e úlceras no organismo.
Com base em estudos como o mencionado anteriormente, a composição da Aroeira-
do-sertão foi investigada para compreender sua importância biológica e sua classificação
química.

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5. TOXICOLOGIA E FARMACOLOGIA PRÉ-CLÍNICA OU NÃO CLÍNICA

5.1. Toxicologia

Ao longo de milhares de anos, as plantas têm sido utilizadas com propósitos


medicinais, e estudos sobre suas composições têm contribuído para a compreensão dos efeitos
que elas exercem nos seres vivos, bem como para identificar os compostos químicos
responsáveis por esses efeitos toxicológicos.
Estudos em camundongos utilizando extratos hidro alcoólicos das folhas da Aroeira-
do-Sertão, administrados por via intraperitoneal, injeção na cavidade peritoneal,
demonstraram alta toxicidade quando a dose letal 50% (DL50) foi adicionada, sendo de 8
mg/kg. (ALMEIDA et al., 2010).
Contudo, de acordo com um estudo publicado na "Revista Brasileira de
Farmacologia", no qual pesquisadores investigaram os efeitos da Myracrodruon urundeuva
em ratos, foi evidenciada a ação benéfica da planta na cicatrização e inflamação de feridas. O
estudo, intitulado "Evaluation of the Healing Potential of Myracrodruon urundeuva in
Wounds Induced in Male Rats" (Avaliação do Potencial Cicatrizante de Myracrodruon
urundeuva em Feridas Induzidas em Ratos Machos), foi conduzido por Teixeira, Lopes, de
Sousa-Júnior et al. (2020).
Neste estudo, o extrato da Aroeira-do-Sertão foi administrado em forma de creme em
três grupos de ratos. O primeiro grupo, chamado de "Grupo Simulado" (Sham Group), não
recebeu tratamento. O segundo grupo, denominado "Grupo Aroeira" (10% Aroeira Cream
Group), recebeu tratamento com o creme contendo 10% do extrato de Aroeira. Por fim, o
Grupo Controle foi tratado com um creme base. Cada grupo foi observado nos dias 2, 7 e 12,
e foram coletados fragmentos de tecido das áreas com feridas para análise laboratorial.
(TEIXEIRA et al., 2020).
Os resultados demonstraram que as feridas tratadas com o creme contendo a Aroeira-
do-Sertão apresentaram maior contração em comparação com o Grupo Simulado e o Grupo
Controle. Além disso, a análise histológica revelou uma melhora significativa na inflamação
no Grupo Aroeira, juntamente com a formação de uma camada de epitélio nos dias 7 e 12 da
avaliação (TEIXEIRA et al., 2020).
Portanto, a seleção do extrato utilizado, a frequência de dosagem e o método de
administração no organismo são de extrema importância para garantir que os efeitos
biológicos sejam favoráveis aos seres humanos, sem causar qualquer tipo de prejuízo.
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5.2. Farmacologia

A Aroeira-do-Sertão possui uma composição complexa que tem sido amplamente


estudada devido às suas propriedades terapêuticas. Dentre os compostos encontrados na
planta, os flavonoides, taninos e terpenos são os mais proeminentes. Esses compostos
apresentam notáveis propriedades anti-inflamatórias, pois têm a capacidade de inibir
seletivamente a fosfolipase A2, uma enzima com atividade pró-inflamatória. Além disso,
extratos hidroalcoólicos em dosagens adequadas têm sido relatados como benéficos para a
melhora da cicatrização de feridas (YURI et al., 2022).
O composto flavonoide quercetina, encontrado na planta, possui não apenas
propriedades anti-inflamatórias, mas também ações antimicrobianas, antioxidantes,
antialérgicas e antiangiogênicas (LEITE et al., 2017). Além disso, estudos utilizando o
decocto da casca do caule da Myracrodruon urundeuva demonstraram atividades
antidiabéticas da planta (AQUINO et al., 2017). Adicionalmente, ensaios conduzidos com
uma fração enriquecida em chalcona (CEF), isolada da casca do caule da planta
Myracrodruon urundeuva, revelaram ações neuroprotetoras contra a morte celular neuronal
induzida pela 6-hidroxidopamina (6-OHDA) em células mesencefálicas de ratos (NOBRE-
JÚNIOR et al., 2009).

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6. TECNOLOGIA E CONTROLE

6.1. Tecnologia de cultivo

Para o cultivo da aroeira, é recomendado realizar em condições de sombreamento,


preferencialmente em consórcio com espécies pioneiras de crescimento rápido. O crescimento
da aroeira é considerado entre lento a moderado, alcançando uma produtividade máxima de
até 5,50 m³/ha/ano. Em sistemas de manejo adequados para a produção de mourões, estima-se
que os cortes sejam realizados aos 20 anos de idade. (CARVALHO et al.,2003).
A produção de mudas florestais nativas enfrenta o desafio do crescimento lento,
especialmente em espécies classificadas como tardias ou clímax, como a aroeira. Por esse
motivo, é de extrema importância estabelecer protocolos que promovam a produção de mudas
de qualidade, em um período de tempo reduzido e em condições viáveis para os pequenos e
médios produtores rurais, que são o público mais interessado nesse recurso. (CUNHA et al.,
2005).
O substrato desempenha um papel crucial no desenvolvimento das mudas, sendo que
existem diversos materiais que podem ser utilizados, seja em sua composição original ou
combinados, e que exercem uma influência significativa nesse processo. (LIMA JD et al.,
2007). Considerando a limitada utilização de tecnologia na produção de mudas, estudos foram
realizados para identificar a eficácia de substratos na produção de mudas da aroeira, sendo
esses: esterco bovino, esterco ovino, húmus de minhoca, resíduo oriundo do processo de
torrefação do café e solo. (LIMA et al., 2017). Os resultados do estudo evidenciaram que as
mudas cultivadas com esterco ovino e húmus de minhoca apresentaram um desempenho
superior, com maior incremento nas massas secas total e de raiz. Além disso, o uso do esterco
ovino resultou em um índice de qualidade de Dickson mais elevado. (LIMA et al., 2017).

6.2. Extração de bioativos

A principal forma de extração de compostos da aroeira é a partir dos processos de


infusão e decocção. A infusão consiste em despejar água fervente sobre o "chá" ou droga
vegetal e deixar a preparação em repouso por um período determinado. Essa técnica é
empregada em preparações que utilizam partes vegetais de consistência mais delicada, como
folhas, flores, inflorescências e frutos, ou em substâncias que possuem compostos voláteis que
seriam perdidos durante uma fervura prolongada. (OLIVEIRA et al., 2020).

17
A decocção, por sua vez, envolve o processo de fervura da droga vegetal em água
potável por um tempo específico. Essa técnica é recomendada para ervas de consistência mais
rígida, que requerem altas temperaturas para liberar seus compostos bioativos. (OLIVEIRA et
al., 2020). No entanto, devido aos compostos voláteis presentes na aroeira (YURI et al.,
2022), não é recomendado o uso de altas temperaturas. Para extrair os compostos desses tipos
de plantas, é possível utilizar a técnica de extração em água fria, na qual uma quantidade
determinada de água filtrada é adicionada ao fragmento da planta, permitindo que repouse em
temperatura ambiente por um período de tempo. Dessa forma, os compostos podem ser
adequadamente liberados. (OLIVEIRA et al., 2020).

6.3. Padronização da matéria prima

Diversos métodos analíticos têm sido utilizados para realizar análises quantitativas e
qualitativas de materiais vegetais (LEITE et al., 2017). As técnicas cromatográficas têm sido
amplamente utilizadas na análise de materiais vegetais devido à sua capacidade de separar os
constituintes complexos da amostra, possibilitando a quantificação e identificação precisa,
precisa e sensível do analito. (GONGA et al., 2003)
Por meio da técnica cromatográfica, é possível obter perfis cromatográficos dos
extratos vegetais, os quais servem como uma "impressão digital" ou fingerprint da amostra.
Esses perfis fornecem informações sobre a identidade fitoquímica da planta, revelando os
constituintes presentes. É esperado que os picos cromatográficos mantenham um padrão
qualitativo consistente quando os extratos são preparados nas mesmas condições. (GONGA et
al., 2003)
É necessário que aconteça um processo de validação que forneça evidências objetivas
de que os métodos e os sistemas são adequados para o uso pretendido (LEITE et al., 2017). A
validação do método deve ser realizada por meio de estudos experimentais para garantir que o
método atenda às exigências das aplicações analíticas e assegure a confiabilidade dos
resultados (BRASIL. Et al., 2003). A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
disponibiliza um guia para o processo de validação de métodos analíticos e bioanalíticos,
conforme estabelecido na Resolução ANVISA RE nº 899, de 29 de maio de 2003 (LEITE et
al., 2017).

6.4. Desenvolvimento farmacotécnico

18
O processo de desenvolvimento farmacotécnico de plantas medicinais envolve várias
etapas que devem ser seguidas com rigor, garantindo a segurança do fitoterápico ao ser
disponibilizado ao público.
A princípio, é preciso fazer a escolha de um espécie botânica que apresente eficácia
comprovada, ou seja, a espécie vegetal deve apresentar comprovação de atividade
farmacológica que justifique sua utilização para fins medicinais. Além dessa característica,
outras qualidades se tornam relevantes à medida que essas espécies se tornam viáveis como
medicamentos. Uma das características importantes é a segurança da planta, ou seja, um alto
índice terapêutico (relação entre DE50/DL50), indicando baixa toxicidade da espécie.
(FONSECA et al., 2005)
Em seguida, após a escolha e seleção das espécies, a preparação e produção dos
fitoterápicos é iniciada. É necessário garantir o suprimento adequado dessa espécie em
quantidade suficiente para atender à demanda relacionada à produção do fitoterápico. Para
alcançar esse objetivo, é importante cultivar a espécie em uma extensão apropriada, tomando
os devidos cuidados inerentes ao cultivo de qualquer planta e evitando o uso de pesticidas ou
agrotóxicos na área de cultivo. (FONSECA et al., 2005). A obtenção de produtos
fitoterápicos requer conhecimentos e habilidades específicas em todas as etapas do ciclo de
produção de medicamentos. Esses conhecimentos e habilidades devem estar alinhados com os
conceitos atuais de qualidade, visando a produção de medicamentos adequados que atendam
às expectativas do produtor e do usuário, cumprindo os requisitos pré-estabelecidos para sua
finalidade específica (TOLEDO et al., 2003)
Conforme o tipo de matéria-prima, é necessário estabelecer os controles de qualidade
e adotar precauções adequadas para conservação e manipulação. (TOLEDO et al., 2003).
Múltiplos processos são realizados para a comprovação da qualidade de um fitoterápico,
como a avaliação da qualidade da droga, preparo intermediário, avaliações no produto final, e
avaliações para constatar o prazo de validade do medicamento. (FONSECA et al., 2005).
Tanto a execução adequada do processo de produção quanto a avaliação da qualidade
garantem que o produto final obtenha as características necessárias para seu uso no tratamento
de doenças (FONSECA et al., 2005).
Por fim, é preciso ser incorporado ao fitoterápicos uma forma farmacêutica.
(TOLEDO et al., 2003). A seleção da forma farmacêutica mais adequada para um produto
fitoterápico deve levar em consideração a eficácia e a segurança do componente ativo,

19
garantindo sua qualidade. Além disso, deve facilitar a administração do medicamento por
meio da via de administração mais apropriada (TOLEDO et al., 2003).

6.5. Transposição de escalas e produtos no mercado

A Aroeira-do-Sertão é amplamente utilizada na medicina popular para diversos tipos


de tratamentos, principalmente devido às suas propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes.
No entanto, atualmente há uma falta de estudos voltados para sua comercialização e produção
em escala industrial. No entanto, é importante ressaltar que alguns produtos à base de
Aroeira-do-Sertão estão disponíveis há bastante tempo, como é o caso do creme vaginal, que
passou por estudos comprovando sua eficácia no tratamento de condições como cervicite,
vaginites e ectopias (CAMPOS et al., 2008).

Seu uso medicinal implica principalmente no tratamento de inflamações, através da


ingestão de suco/chá, ou com a utilização de pomada produzida a partir do mesmo. No
entanto, o uso da p. gounollei, xique-xique, não apresenta muitos estudos que possibilite a
venda e comercialização desses produtos em larga escala industrial. É comumente utilizada
como planta medicinal sem fatores que corroborem para sua eficácia em comunidades rurais
que habitam as regiões em que a p. gounellei se desenvolve.

20
7. PESQUISA CLÍNICA

O uso de plantas medicinais tem crescido em todo o mundo, incluindo o Brasil. É


evidente na literatura que a produção e o consumo de fitoterápicos têm aumentado
significativamente, com um aumento de aproximadamente 7% em 2014 e 8% em 2015,
conforme relatado por Hasenclever et al. (2017). Além disso, de acordo com Firpo (2015), a
pesquisa de novas moléculas é uma prioridade para a maioria das indústrias farmacêuticas e
centros de pesquisa nos Estados Unidos e Europa, e explorar moléculas naturais tem se
mostrado mais viável do que desenvolver novos medicamentos aleatoriamente. Como
resultado, o uso de plantas medicinais tem sido promovido para a produção de óleos
essenciais e extratos naturais, que contêm compostos bioativos com várias propriedades
terapêuticas amplamente documentadas na literatura (Batista et al., 2020; Ce et al., 2017; da
Silva & Aquino, 2018; Sousa & Silveira, 2018; de Amaral et al., s.d.).
Estudos evidenciaram que o uso do extrato bruto da planta apresentou atividade
antibacteriana contra Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Escherichia coli,
Pseudomonas aeruginosa e Salmonella Enteritidis, bem como atividade antifúngica contra
Candida albicans, Candida tropicalis e Candida krusei (Domingos & Silva, 2020).
Além disso, outras pesquisas indicam propriedades antiparasitárias (Carvalho et al.,
2017) e ação analgésica e anti-inflamatória (Viana et al., 2003), o que incentiva a investigação
do potencial terapêutico dessa planta medicinal como um fitoterápico possível. Além dos
baixos níveis de toxicidade, os extratos naturais surgem como uma estratégia médica que
pode contribuir de maneira significativa para a melhoria da saúde, com custo-benefício
reduzido e menores efeitos colaterais.
Existem várias fontes de antioxidantes naturais, muitas delas encontradas
abundantemente no reino vegetal. Por isso, há um interesse crescente na busca por alimentos e
bebidas com alto teor de antioxidantes, bem como no aprimoramento das propriedades
antioxidantes para fins nutricionais. Alimentos comuns, como legumes e frutas consumidas
globalmente, além de plantas selvagens como a aroeira preta (M. urundeuva), que é
consumida popularmente por suas propriedades terapêuticas e nutricionais, é valorizada por
sua capacidade antioxidante (Sousa et al., 2007).
Estudos têm investigado os efeitos e propriedades do extrato da aroeira-do-sertão em
diferentes aplicações na área da saúde, incluindo seu potencial antiulcerogênico e sua
capacidade de proteger a mucosa gástrica (Carlini et al., 2010). Além de seu uso como anti-
inflamatório na região nordeste do Brasil, a aroeira também demonstrou efeitos na atividade
21
antiulcerogênica e no trânsito gastrointestinal (Desmarchelier, 1999). Estudos relacionados à
biocompatibilidade e à tolerância ao extrato da aroeira têm sido mencionados.
Alves et al. (2009) conduziram um estudo avaliando a atividade antimicrobiana,
antifúngica e antiaderente da aroeira-do-sertão, malva e goiabeira in vitro, como possíveis
alternativas terapêuticas odontológicas contra microorganismos presentes no biofilme dental e
candidose oral. Os resultados mostraram que os três extratos apresentaram atividade
antiaderente, ou seja, foram capazes de inibir a síntese de glucano pela enzima
glicosiltransferase. Além disso, o extrato da aroeira-do-sertão demonstrou atividade
antifúngica contra as cepas de Candida albicans, Candida tropicalis e Candida krusei. Outros
estudos também descreveram a ação antifúngica do extrato de aroeira (folhas) contra os
fungos Colletotrichum gloeosporioides e Corynespora cassiicola (Naruzawa & Papa, 2011).

22
8. CONCLUSÃO

Após extensa pesquisa e revisão da literatura, ficou evidente o enorme potencial


econômico e a notável versatilidade da planta. No entanto, devido à sua origem no bioma da
caatinga, a Aroeira-do-sertão tem sido subestimada em termos de valor, pois a exploração
desse recurso tem superado os esforços de preservação e a determinação de seu uso eficaz.
A M. urundueva, por sua vez, apresenta um notável potencial de sobrevivência e uma
ampla gama de aplicações, o que tem um impacto significativo no setor comercial. As
pesquisas realizadas comprovaram suas propriedades medicinais, abrindo caminho para seu
potencial uso na medicina moderna, além de sua já conhecida utilização na medicina
tradicional.
Por fim, é importante ressaltar que tanto na literatura científica quanto no dia a dia da
população brasileira, pouco se discute sobre a preservação dessa espécie, uma vez que a falta
de informações dificulta a pesquisa, bem como o aproveitamento de seu potencial tecnológico
e econômico. Até o momento atual, não há nenhuma publicação ou ficha de características
tecnológicas disponível nos bancos de dados do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) que
aborde as propriedades da madeira dessa espécie (Brazolin et al., 2018).

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