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Brenda Margarezzi2
Solange Bianco Borges Romeiro3
Resumo
Abstract
The Araucaria angustifolia is a conifer, of the genre Araucaria and belongs to the
gymnosperm group. The seeds of this tree are fleshy, popularly known as pine nuts and have a
resistant coating. The lining of the pinion seed is usually discarded as waste requiring
considerable time to decompose and causing pollution. This residue, called shell, is a rich
material, among other compounds, in polyphenols. Due to its chemical constituents and its
great resistance to degradation, Araucaria angustifolia's seed bark has been increasingly the
target of studies and research that indicate that it can be reused after its disposal and used,
among other things, in the production of polymeric materials, in the production of activated
carbon and as an antioxidant. The research involving the pine nutshells may come to favor the
preservation of Araucaria angustifolia belonging to the Mixed Ombrophilous Forest.
1 Introdução
únicas de sua floresta, a Floresta Ombrófila Mista, pertencente ao bioma Mata Atlântica
(ANTIQUEIRA; ANTIQUEIRA, 2017). Essa espécie tornou-se um símbolo, pois é dela que
se obtém o pinhão, nome dado a semente da Araucaria angustifolia, uma amêndoa branca ou
róseo-clara, rica em reservas energéticas, nutrientes, principalmente amido e também possui
nível relativamente alto de aminoácidos, que é envolta por uma casca resistente a degradação
(RAMALHO, 2002).
O revestimento, casca, da semente do pinhão é geralmente descartado como resíduo
precisando de um tempo considerável para se decompor, gerando, assim, poluição. Esse
resíduo é um material rico em polifenóis (Lima et al., 2007). Segundo Sampaio et al. (2014), a
quantificação dos constituintes químicos estruturais da parede celular da casca de semente de
Araucaria angustifolia correspondem a 32,43% de lenhina, 35,16% de celulose e 14,83% de
hemiceluloses.
Devido a seus constituintes químicos e sua grande resistência, a casca da semente da
Araucaria angustifolia vem sendo cada vez mais alvo de estudos e pesquisas que apontam
que esse revestimento pode ser reutilizado após seu descarte e ser aplicado na remoção de
metais traço e corantes de amostras de água, pode ser utilizado para evitar a oxidação, para
produção de materiais poliméricos, entre outros. O reaproveitamento de resíduos
agroindustriais é um dos temas que vem assumindo grande importância, em virtude das
quantidades e dos consequentes impactos ambientais por eles gerados (QUIRINO et al.,
2004).
A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (2019) aponta que o Pinheiro
Brasileiro possui grande importância econômica, devido à qualidade de sua madeira e
comércio de suas sementes comestíveis. Ecologicamente esse pinheiro é imprescindível para
a preservação da fauna e flora que necessitam da espécie para sobreviver e que habitam sua
mata. Devido a importância com viés econômico de sua madeira, a Araucária foi
extremamente explorada e atualmente encontra-se entre as espécies criticamente ameaçadas
de extinção dentro de uma escala global.
Uma série de ações inadequadas causadas pelo homem levou a Floresta Ombrófila
Mista a ser classificada na faixa referente a perigo crítico de extinção, essas ações
contribuíram e contribuem fortemente para o desequilíbrio ecológico, provocando alterações
climáticas em decorrência do efeito estufa, causado pela diminuição das florestas que
purificam o ar. Dentre as ações antropológicas (exploração madeireira e expansão de
territórios) e as limitações da própria espécie, cabe ressaltar a exploração desenfreada de
madeira que, nas últimas décadas, fragmentou o habitat de muitas espécies, inclusive a
Araucaria angustifolia, dificultando o cruzamento entre as espécies existentes nos
ecossistemas. Como consequência, algumas espécies já se extinguiram e outras se encontram
em fase de extinção (OLIVETTE; CRISOSTIMO, 2008).
Frente ao dito problema do risco crítico de extinção da Araucaria angustifolia e a
grande quantia de cascas de suas sementes que são descartadas, levando um grande período de
tempo para se degradarem, surge o objetivo geral da presente pesquisa de elaborar um estudo
detalhado sobre as aplicabilidades existentes para as cascas de pinhão após descarte,
caracterizando a semente, seu revestimento e a própria Araucaria angustifolia. Assim sendo,
os objetivos específicos são conscientizar as pessoas do extremo risco de extinção que se
encontra a Araucaria angustifolia, caracterizar essa espécie, sua respectiva semente, o pinhão,
e sua casca, e, por fim, descrever aplicações tecnológicas viáveis para as cascas dessa semente
com a finalidade de demonstrar sua importância econômica e ambiental.
O estudo visa a valorização da Araucaria angustifolia e das cascas das suas sementes
com a finalidade de conscientizar e contribuir para a conservação e preservação do Pinheiro
Brasileiro, espécie que predomina a Floresta Ombrófila Mista e encontra-se em risco crítico
de extinção.
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2 Caracterização
Figura 2 - As Araucárias
Fonte: Folha do Paraná (2018).
Essa é uma árvore perenifólia (árvores cujas folhas se mantêm durante o ano todo), de
aspecto original e contrastante com as demais árvores do Sul do Brasil, com 10 a 35,
atingindo excepcionalmente 50 m de altura, tronco reto, colunar e quase cilíndrico, sua copa é
alta estratificada e múltipla, caliciforme ou em forma de taça, nas árvores mais velhas, e
cônicas nas mais jovens (RAMALHO, 2002). A Araucária possui pseudofrutos reunidos em
uma pinha (ovário) de 10 a 25 cm de diâmetro composto de 700 a 1.200 escamas, com
número variável de sementes (5 a 150) e com até 4.700 g de peso. As pinhas são encontradas
nos galhos, entre uma a duas em cada ramo. Contudo, o maior número de pinhas num galho,
foi de quatorze. Em termos médios, um pinheiro produz 40 pinhas por árvore (MATTOS,
1972; CARVALHO, 1994)).
As sementes desta árvore têm origem nas brácteas do amentilho feminino,
desenvolvendo-se a partir de óvulos nus, geralmente com tegumento duro e endosperma
abundante. Elas são carnosas, conhecidas como pinhões, tendo 3 a 8 cm de comprimento, por
1 a 2,5 cm de largura e peso médio de 8,7 g, com ápice terminando com um espinho achatado,
e curvo para a base. No centro das sementes, encontra-se o embrião com os cotilédones que
são retos e constituem boa parte do comprimento do embrião. Os pinhões são obtidos de duas
maneiras: as pinhas desfolham quando maduras e/ou os pinhões são catados no chão
(RAMALHO, 2002). De acordo com Lima et al. (2007), o revestimento corresponde a 22%
da semente. A semente de A. angustifolia, o pinhão, é um produto sazonal que é produzido no
período de abril a agosto (CLADERA-OLIVEIRA et al, 2012). Sendo uma espécie dominante
de um habitat raro, no qual há outras plantas de interesse medicinal, a Araucaria angustifolia
é de grande importância econômica para as populações locais (GUERRA et al, 2000). A título
de exemplo, a floresta das araucárias constitui uma fonte de inúmeros subprodutos florestais
madeiráveis e não madeiráveis, como a erva-mate, que tem grande significado econômico
para os estados da região Sul do Brasil (SANTOS et al, 2002).
cerca da metade desse tempo. Essa espécie desenvolve suas sementes, os pinhões, em pinhas
mais de uma década depois de seu plantio. Essas características primitivas das gimnospermas
condicionam sua polinização à disponibilidade de vento e sua dispersão fica limitada a
espécies específicas, como a gralha-azul, que se alimenta do pinhão. Esse é um fator limitante
em comparação a demais árvores com flores e frutos, que possuem diversos aparatos e
atrativos para polinizadores e dispersores. Em soma a essas características peculiares da
espécie tem-se também a intensa exploração madeireira a qual a araucária vem sendo
submetida há décadas, associada ao desrespeito à legislação de proteção da espécie – corte e a
colheita do pinhão fora de época e a omissão de órgãos ambientais estaduais na fiscalização e
impedimento de irregularidades – levou as populações restantes a uma condição de
fragilidade e ameaça (ANTIQUEIRA; ANTIQUEIRA, 2017).
A espécie encontra-se em risco de extinção e isso ocorre devido ao desmatamento
descontrolado, a construção de hidrelétricas, a exploração de madeira e a expansão de
monoculturas de soja e milho (MEDEIROS et al, 2005).
O desmatamento da Floresta Ombrófila Mista se deu em grande parte ao longo do
século XX, tendo início com a vinda dos imigrantes europeus para os estados do sul do Brasil.
A qualidade da madeira, leve e sem falhas, fez com que a Araucária fosse intensamente
explorada, principalmente a partir do início dessa época (MÄHLER; LAROCCA, 2009).
Durante aproximadamente setenta anos, entre 1920 e 1990, a floresta a qual pertence a
Araucaria angustifolia, passou por uma intensa devastação visando a exportação de madeira,
principalmente a do próprio Pinheiro Brasileiro (BACKES, 2002). Hueck (1953) trouxe dados
que indicam que dentre os cerca de um milhão de metros cúbicos de madeira exportados
anualmente naquela época pelo Brasil, 90% diziam respeito a Araucaria angustifolia, para
Backes (2002), essa foi a mais avassaladora devastação sistemática de florestas. Como
consequência, a floresta já foi reduzida a 12,6% da sua extensão original (RIBEIRO et al,
2009), ocasionando na extinção local da espécie no Espírito Santo (SIMONELLI; FRAGA,
2007). Recentemente diversas subpopulações remanescentes sofreram corte seletivo
(SOUZA, 2009), contribuindo no agravamento da redução populacional da Araucaria
angustifolia.
A construção de barragens para geração de energia é um fator agravante ao se referir
ao risco de extinção da espécie, cabe ressaltar, então, que atualmente um dos mais bem
preservados fragmentos da Floresta Ombrófila Mista, no estado de Santa Catarina, foi
completamente submerso pela construção da Usina Hidrelétrica de Barra Grande, no vale do
rio Pelotas (MÄHLER; LAROCCA, 2009).
Antiqueira e Antiqueira (2017) apontam que a Araucária vem sendo atualmente
classificada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) como espécie em
perigo crítico de extinção, sendo essa a última classificação de alerta antes de ser considerada
extinta da natureza. No ano de 1998 o Pinheiro Brasileiro entrou para a Lista Vermelha,
passando a ser considerado raro na época, tempos depois passou para a categoria “vulnerável”
e no ano de 2006 entrou na categoria de “criticamente em risco”, tendo uma redução de
aproximadamente 97% de sua ocorrência original.
Figura 3 - As pinhas
Fonte: Ricardo Junior (2020).
3.1 Aplicações das cascas da semente da Araucaria angustifolia como carvão ativado
Carvão Ativado
O carvão ativado é uma forma porosa de carvão, podendo ter sua origem animal,
vegetal ou mineral. Não tem odor ou sabor e é praticamente insolúvel em todos os solventes,
podendo ser usado na forma granulada ou em pó. Apresenta elevado número de poros
formando uma área interna considerável responsável pela sua capacidade de adsorção de
substâncias orgânicas inorgânicas. Esse carvão não possui uma alta capacidade de adsorção de
ácidos e bases fortes e de agentes corrosivos. Os sais inorgânicos de ferro e lítio e alguns
solventes orgânicos limitam sua atividade (HARLAND, 1994).
O carvão ativado é um material adsorvente composto por carbono que é utilizado para
diferentes finalidades como adsorção de poluentes, tratamento de efluentes em estado gasoso
ou líquido, usos medicinais e catálise (BRUM, 2018). A sua propriedade de adsorção é
resultado da área superficial altamente porosa formada por uma grande quantidade de poros
de diferentes tamanhos que são interligados (MICHAILOF, 2008). A partícula de carvão
ativado é formada por uma complexa rede de poros classificados, de acordo com a IUPAC em
microporos (diâmetros menores que 2 nm), mesoporos (diâmetros entre 2 nm e 50 nm) e
macroporos (diâmetros maiores que 50 nm). Os macroporos contribuem pouco para a área
superficial específica, contudo agem como condutos para a passagem do fluido ao interior da
superfície dos mesoporos e microporos, onde a adsorção ocorre com maior frequência
(ROUQUEROL, 1994).
Os carvões ativados podem ser obtidos por meio da carbonização do precursor seguida
da ativação, para desenvolvimento dos poros. Os parâmetros importantes que irão determinar
a qualidade e o rendimento do material final carbonizado são a taxa de aquecimento, a
temperatura final, o fluxo de gás de arraste e a natureza da matéria prima (MARSH;
REINOSO, 2006). O termo ativado refere-se ao aumento da porosidade e da área superficial
durante o processo de ativação, essa área é calculada a partir da capacidade de adsorção dos
poros, ou seja, para a área total deve se considerar os sítios que adsorvem as moléculas
(SCHETTINO, 2004). O carvão ativado é considerado um adsorvente conforme o processo de
ativação e a matéria prima utilizada como precursor (WU et al., 2008).
Os precursores de carvão ativado devem possuir uma estrutura com alto índice de
carbono e baixo teor de componentes orgânicos. O carvão mineral, a casca de coco, a semente
de açaí, o resíduo de café, o bagaço da cana de açúcar, a casca de arroz, entre outros são
exemplos de precursores utilizados para a produção de carvão ativado (GASPARD et al.,
2014; RAMOS et al., 2009). Aplicar esses resíduos agrícolas como precursores é uma
alternativa ecológica que diminui custos de produção desse carvão. Essas biomassas em sua
maioria apresentam um alto teor de lignina, hemicelulose e celulose, materiais ricos em
carbono e com baixo teor de inorgânicos. (GASPARD et al., 2014; DIAS et.al., 2008).
Gaspard et al. (2014) aponta que durante ou após a carbonização, o material é submetido a um
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processo de ativação que pode ser física, química ou por meio de micro-ondas e hidrotermal.
A etapa de ativação é responsável pelo aumento da porosidade do carvão, decorrente da
desobstrução de poros bem como formação de novos.
Sing (2014) e Vargas (2010) dizem que devido aos carvões ativados serem
adsorventes versáteis e de baixo custo, possuem grande aplicabilidade na indústria sendo
usados para descolorir, purificar, filtrar, desintoxicar e desodorizar (em indústrias
farmacêuticas, alimentícias e químicas). O que faz o carvão ativado ser empregado em todas
essas áreas é sua grande área superficial, composta por diversos tamanhos de seus poros que
acaba resultando na adsorção de uma grande variedade de adsorvatos em diferentes estados
físicos da matéria. Michailof (2008), Vargas (2010) e Wu et al. (2008) apresentaram estudos
sobre a aplicação do carvão ativado e outras áreas como no tratamento de água para remoção
de corantes, na adsorção de compostos fenólicos e na remoção de metais e compostos
clorados.
Adsorção
Aplicação das cascas da semente da Araucaria angustifolia como carvão ativado para
remoção de corantes
Stevanato et al. (2020) em sua pesquisa concluiu que a casca da semente da Araucaria
angustifolia demonstrou ser uma boa alternativa para fabricação do carvão ativado devido ao
seu elevado teor de carbono fixo. Analisando os valores relacionados à capacidade de
adsorção que o carvão possui concluiu-se que o mesmo apresenta uma elevada área
superficial composta de mesoporos, demonstrando ser um útil em futuros estudos visando à
remoção de inúmeros xenobióticos (compostos químicos estranhos ao organismo humano) em
matrizes aquosas. Nos resultados o rendimento do material carbonizado apresentou valor
médio de 31,45% (± 1,48), sendo esse valor superior ao que se observa em outras biomassas
(matéria orgânica utilizada na produção de energia). Em sua pesquisa, Li et al. (2008) realizou
10
a carbonização de cascas de coco e o rendimento obtido foi 20,96%. Michailof et al. (2008)
aplicou pirólise na casca de Oliveira e o rendimento foi de 25%. Hirata et al. (2002)
desenvolveu seu carvão ativado pela borra de café e o rendimento obtido na carbonização foi
29,05%.
Em suas pesquisas Calvete (2011) realizou a carbonização de cascas de pinhão com a
finalidade de utilizar essa matéria carbonizada como adsorvente, um carvão ativado
alternativo aos existentes. Essa matéria apresentou um grande potencial de remoção de
corantes têxteis de elevada estabilidade e de difícil degradação pelos sistemas de tratamento
desses corantes já existentes. O autor ressaltou que a caracterização, o estudo da capacidade
de adsorção e a melhora da interação entre adsorventes e adsorvatos foram de grande
importância para constar que resíduos agrícolas podem ser reutilizados e até mesmo virem a
substituir materiais semelhantes já existentes.
Nebes (2019) concluiu em seu trabalho que as cascas da semente da Araucaria
Angustifolia demonstraram-se uma boa alternativa para a fabricação de carvão ativado, como
a maior parte da composição dessas cascas é de material lignocelulósico, na etapa de
carbonização o rendimento obtido foi satisfatório. Os carvões ativados preparados
apresentaram resultados satisfatórios na adsorção de azul de metileno, indicando o aumento e
a formação de poros. Algumas amostras adsorveram quase 100% do azul de metileno contido
em uma alíquota de 50 mL da solução de azul de metileno 1200 mg/L , o que levou a
pesquisadora perceber a necessidade de ajuste da massa de carvões em trabalhos futuros.
3.2 Aplicação das cascas da Araucaria angustifolia para obtenção de materiais poliméricos
4 Considerações finais
REFERÊNCIAS
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