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SISTEMA DE TRANSMISSÃO

GRALHA-AZUL (STGA)

ARAUCÁRIAS
O pinheiro do Paraná

Programa de Sensibilização
Socioambiental (PSS)

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Foto: Acervo Engie
ÍNDICE
03. Apresentação
06. História da araucária
08. As Matas com araucária
10. Características do pinheiro brasileiro
14. Animais que se alimentam do pinhão
16. Ecologia da araucária
18. Importância social e econômica da araucária
21. Geração de renda e uso sustentável
27. Aproveitamento do pinhão na culinária
29. Conservação ambiental da araucária
35. Referências

EXPEDIENTE: Texto: Graziela Iob | Revisão: Daniel Silva, Patrícia Silva e Tatiana Balbao | Diagramação: Kate de Melo.
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APRESENTAÇÃO
O Programa de Sensibilização Ambiental (PSS) é uma condicionante do licenciamento
ambiental do empreendimento Sistema de Transmissão Gralha Azul (STGA), conduzido pelo
Instituto Água e Terra do Paraná e de responsabilidade da Engie. O PSS consiste numa
série de ações educativas abordando temas importantes que estão presentes no cotidiano
de toda a nossa comunidade. As atividades incluem conversas, vídeo aulas, conteúdos
online e materiais informativos sobre o licenciamento ambiental, energia elétrica, resíduos
sólidos, água, sustentabilidade e políticas públicas. Você pode acessar estes materiais no
link: https://classroom.google.com/c/MjAxODIwNzYyMjE0

Esta cartilha sobre Araucárias faz parte das ações do PSS e tem como objetivo trazer
informações sobre esta árvore, tão importante e símbolo do estado do Paraná.

O Sistema de Transmissão Gralha Azul, considerado um projeto de utilidade pública, tem


por objetivo principal o reforço do Sistema Interligado Nacional (SIN), melhorando o
abastecimento de energia da região Centro-Sul do Paraná, de forma a atender a demanda
local até 2027. Trata-se de uma concessão federal, que faz parte do plano de expansão do
sistema de transmissão do país e que foi concedida através do Leilão de Transmissão de
Energia Elétrica nº 002/2017, da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

O projeto é oriundo de um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), liderado pela


ANEEL e pelo Ministério de Minas e Energia (MME), que estuda as carências energéticas do
setor elétrico. Realizado em 2016, o estudo apontou que já em 2018 o estado enfrentaria
uma grande dificuldade energética, devido a problemas como subtensão, baixo fator de
potência e sobrecarga nas subestações e linhas de transmissão existentes nesta região.

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Ao todo, o Sistema de Transmissão é composto por 5 novas
subestações, 5 ampliações de subestações existentes,
2239 torres e 15 linhas de transmissão, que atravessam
27 municípios paranaenses e totalizam aproximadamente
1.000 km de extensão.

As obras do STGA iniciaram em 2019, a partir da emissão


da Licença de Instalação pelo Instituto de Água e Terra –
IAT, e tem previsão de ser concluída em setembro de 2021.

O projeto também obteve a anuência dos 27 municípios


atingidos e foi submetido a outras instâncias estaduais
e federais de interveniência, tais como o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a
Fundação Cultural Palmares (FCP), a Fundação Nacional do
Índio (Funai), os Comandos Aéreos (COMAR) e a Agência
Nacional de Mineração (ANM). Além disso, foram engajadas
as concessionárias públicas e privadas responsáveis pelas
travessias sobre rodovias, ferrovias e hidrovias, além de
órgãos que tratam do patrimônio histórico e natural, como
o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico
(CEPHA) que permitiu a passagem pela Área de Proteção
Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana.

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Sistema de Transmissão Gralha Azul com
destaque para floresta de araucárias

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VAMOS SABER MAIS
SOBRE A ARAUCÁRIA?
História da Araucária

A araucária pertence à família botânica Araucareacea, uma


das mais antigas no planeta. Pesquisadores descobriram
que essa família já existe há mais de 250 milhões de
anos. No passado distante, este grupo possuía mais de
40 espécies diferentes, e ocorria em todo o continente
denominado de Pangea (já que, nesta época, a Terra tinha
outra formação, com alguns continentes como Brasil, África
e Austrália ainda unidos). Atualmente, existem 19 espécies
espalhadas pelo mundo, sendo duas exclusivas da América
do Sul.

Fonte: Biogeografia, evolução e ecologia da família


Araucariaceae: o que mostra a Paleontologia. Tânia Lindner
Dutra & Anamaria Stranz. 2005.

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Eventos naturais como terremotos e vulcões fizeram com
que, ao longo de várias centenas de anos, os continentes
se separassem, montanhas surgissem e oceanos se
formassem. Durante todo esse período, as araucárias
conviveram com animais que já foram extintos, como
os dinossauros, tatus e preguiças gigantes. Também
atravessaram diversas mudanças climáticas, passando
por períodos de muita seca, muita chuva, frio intenso e
eras glaciais. Todos esses fenômenos foram moldando a
paisagem, assim como os animais e plantas que vivem nas
florestas que temos hoje.

A espécie brasileira, Araucaria angustifolia, conviveu com


boa parte desses fenômenos, existindo há pelo menos 120
mil anos! Os pinhões, que hoje servem de alimento para
os animais e para nós, seres humanos, já alimentaram
dinossauros e diversos outros animais que existiram.

Nas próximas páginas vamos conhecer um pouco mais


sobre a floresta com araucária, a ecologia da árvore e
também a importância que ela tem na vida de muitos
animais, incluindo nós, seres humanos.

Para saber mais!

Quando os pinheiros eram anões.


Marcos Pivetta. Pesquisa Fapesp, fevereiro 2003. Foto: Acervo Ecology Brasil

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Foto: Acervo Ecology Brasil

AS MATAS COM
ARAUCÁRIA
A Mata com Araucária, ou Floresta Ombrófila Mista (como é chamada
cientificamente) é parte do Bioma Mata Atlântica, uma das florestas mais
importantes do Brasil e do mundo.

Antigamente, a Mata Atlântica existia em quase todo o leste do nosso país, do Rio
Grande do Sul até o Alagoas e ocupava cerca de 15% do território brasileiro.

Já a Mata com Araucária, que faz parte da Mata Atlântica, ficou limitada nas
regiões mais frias e altas do país, principalmente na região sul (Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e Paraná), com pequenas porções em São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais. Atualmente a floresta abrange mais de 18 milhões de hectares. No
estado do Paraná, a floresta com araucária está concentrada na porção centro-sul,
cobrindo cerca de 29% do estado.

O número de indivíduos da araucária (também chamada densidade) varia muito


entre ambientes, principalmente em áreas de plantio. No ambiente natural, pode
ocorrer entre 17 a 65 indivíduos de araucária por hectare. Já em uma plantação,
pode chegar a cerca de 80 indivíduos por hectare. No inventário florestal nacional
consta que há no Brasil cerca de 130.000.000 araucárias.

8
Distribuição da
Floresta Ombrófila
Mista no Brasil e em
destaque no estado do
Paraná
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CARACTERÍSTICAS DO
PINHEIRO BRASILEIRO
Crescimento da araucária

O pinheiro-brasileiro, pinheiro-do-Paraná ou Araucária tem o nome científico Araucaria


angustifolia e é a árvore principal dessa floresta, justamente por ser uma das mais altas,
dando a fisionomia característica desse ambiente.

Quando adulta, tem um tronco muito alto, podendo chegar a mais de 50 metros e a copa
que lembra um guarda-chuva aberto. Quando é mais jovem, pode ser confundida com o
Pinus (que é o pinheiro da árvore de natal e não é uma árvore nativa do Brasil) porque
possui a forma de um cone. A planta leva cerca de 10 a 12 anos para ficar adulta e
começar a produzir as sementes - um longo tempo quando comparada com outras espécies
- ,e uma única árvore pode viver mais de 200 anos.

A araucária possui um tipo de fruto seco que chamamos de pinha, envolvendo as


sementes, chamadas de pinhão. As árvores que possuem as pinhas são femininas, já as
árvores masculinas possuem os estróbilos - que lembram um microfone - e contém os
grãos-de-pólen. O pólen é fundamental para que o pinhão possa ser produzido e conta
com a ação do vento para ser transportado do estróbilo até a pinha. A polinização ocorre
nos meses de setembro e outubro.

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Estróbilo
Foto: Caruso Jr

O ciclo completo de produção do pinhão leva em torno


de dois anos, ou seja, uma semente que é polinizada
neste ano, só fica pronta para o consumo dois anos
depois. A época que os pinhões ficam disponíveis
é entre abril e julho, meses frios na região Sul do
país. Pesquisadores descobriram que nos meses de
outono/inverno outros frutos, sementes e até mesmo
insetos que vivem nas matas com araucária, têm uma
diminuição na sua abundância, ou seja, ocorrem em
pequenas quantidades. Devido a isso, o pinhão se torna
uma importante (quando não a única) fonte de alimento
para os animais que vivem nessas florestas.

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Um marco
A partir de 12 anos
a pinha começa a
ser formada, com
Fonte: Flavio Zanette e Redação. | Infografia: Chantal Wagner/ Gazeta do Povo

inicio da produção
de pinhões. A
copa começa a
arredondar.

A Plântula
Pode permanecer Copas Candelabro
pequena por vários A copa muda Fase mais
anos, até que de forma com o característica,
as condições de passar dos anos. com os galhos
luz favoreçam o mais próximos
crescimento. da copa que
atinge a forma de
candelabro.

2 anos Até 10 anos 10 a 15 anos 15 a 20 anos A partir de 20 anos


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O ciclo da reprodução
Estruturas reprodutivas

As araucárias pertencem ao grupo botânico


das gimnospermas (plantas sem frutos) e são
dióicas, ou seja, com indivíduos fêmeas e
indivíduos machos, separados.

“Flor” “Flor”
masculina feminina

O pinhão
A pinha Pode germinar após cair
A pinha- estrutura da árvore, ao redor da
reprodutiva planta-mãe, ou pode ser
que contem os dispersado por algum
pinhões, que são as animal e plantado em
sementes. qualquer outro lugar.

Fecundação
O vento transmite o
polém de uma flor
à outra.

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ANIMAIS QUE SE
ALIMENTAM D0
PINHÃO!

Os animais consumidores de pinhão vão desde


pequenos roedores (ratinhos selvagens), até animais
maiores como cotia, paca, macacos, veados, porcos
selvagens e esquilos. Além desses animais, muitas
aves também utilizam os pinhões na sua dieta,
principalmente as gralhas e os papagaios.

Pesquisadores já descobriram que o papagaio


charão chega a viajar centenas de quilômetros para
acompanhar as araucárias na época dos pinhões.
Os pinhões também são muito consumidos por nós e
servem como sustento para muitas famílias que fazem
da cata da semente sua renda.

Imagem da Internet:
https://guiabirdingbrasil.com.br/gralha-azul/
Autor: Jose Rondon

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Predação X Dispersão

Quando uma semente é ingerida por algum animal,


chamamos de predação. Porém se o animal não consegue
comer toda a semente, ou se deixa “escapar” enquanto
está se movimentando e ela não é totalmente consumida,
chamamos de dispersão. Uma semente que foi dispersa
poderá germinar, crescer e se tornar adulta, aumentando a Para saber mais
quantidade de árvores na natureza.
Floresta com Araucária. Ecologia, conservação e
Esta dinâmica de predação e dispersão de frutos e
desenvolvimento sustentável. Editores: Carlos Roberto
sementes é uma das características mais importantes para
Fonseca, Alexandre Fadigas de Souza, Ana Maria Leal-
a preservação das florestas, e os animais são fundamentais
Zanchet, Tânia Lindner Dutra, Albano Backes, Gislene
neste conjunto.
Ganade.- Ribeirão Preto : Holos, Editora, 2005.

Vamos descobrir nas próximas páginas ?


Fatores que influenciam na distribuição, abundância e
conservação da Araucária angustifolia. Tese de doutorado
apresentada na UFRGS, Programa de Pós-graduação em
Ecologia. Graziela Iob, 2013.

A distribuição natural do pinheiro-do-Paraná no Sul


e Sudeste do Brasil: a influência de fatores climáticos.
Embrapa Floresta. Elenice Fritzsons & Marcos Silveira
Wrege, 2017.

Curicaca | Fonte: Acervo Engie

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ECOLOGIA DA
ARAUCÁRIA
A quantidade de pinhões disponíveis na floresta
para os animais varia entre os anos. Cientistas
descobriram que a araucária oscila entre anos de
baixa oferta de pinhões e anos de altíssima produção,
em ciclos de dois a três anos. Essa variação influencia
os animais que se alimentam de pinhões, e também
as famílias que trabalham com a venda deles.

Quando o ano é de baixa produção, muitos animais


que só tem o pinhão como fonte de alimento, podem
ser prejudicados, principalmente quando vivem
em locais onde ocorre a coleta das sementes para
comercialização. Já quando o ano é de alta oferta de
pinhões, podem ocorrer as ratadas, que é um super
aumento no número de roedores nas florestas com
araucária.

A quantidade de pinhões que é produzida em


um determinado local influencia a quantidade de
animais que ali ocorrem. Catinguelê | Fonte: Caruso Jr. Estudos Ambientais.

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A dispersão pelos animais

A cotia e o esquilo são animais do grupo dos mamíferos,


e ambos ajudam na dispersão das sementes de uma
forma muito especial. A cotia tem o comportamento de
carregar a semente e enterrar, mas às vezes ela “esquece”
e o pinhão acaba germinando, gerando uma nova árvore.
Este processo é importante porque quando a semente
é enterrada, ela não fica visível para outros animais e Para saber mais
consegue crescer mais rapidamente. Além disso, a cotia
costuma carregar a semente para longe, o que é bom
para a variabilidade genética (que é a quantidade de A importância dos recursos alimentares
material genético herdado pelo “pai” e “mãe” da planta), para populações e comunidades animais:
aumentando a diversidade da espécie. As aves também uma meta-análise global e um estudo
fazem esse “serviço” de dispersar as sementes quando experimental na Mata Atlântica. Tese
voam com o pinhão no bico e a deixam cair no meio do de doutorado, UFRJ, Embrapa Floresta.
caminho. Prevedello, J. A. 2013.

Por isso a presença dos animais nativos é tão importante


para a conservação das florestas.

Controle coleirinho
Mas será que a araucária traz benefícios só (Sporophila carulescens)
Fonte: Acervo Engie.
para os animais?

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IMPORTÂNCIA
SOCIAL E ECONÔMICA
DA ARAUCÁRIA
Nós já aprendemos que o pinhão é um item fundamental na dieta
dos animais, isso porque é um alimento rico em nutrientes e muito
calórico, mas essa semente também ajuda no sustento de milhares
de pessoas. Nos meses de outono e inverno, é muito comum
encontrarmos pinhões à venda nos mercados, graças às famílias que
catam as sementes para vender.
Hoje em dia, com pesquisas e tecnologia,
ficou mais fácil armazenar os pinhões
Consumo pelos povos indígenas para mantê-los comestíveis, mesmo no
período em que não estão na natureza.
Logo vamos saber como.
Esse consumo de pinhões não é recente, ele já ocorre desde a época
dos povos indígenas que ocupavam a região Sul do Brasil, há mais
de dois mil anos atrás. Pesquisadores que estudam arqueologia
descobriram que diversas tribos Kaingang não só se alimentavam
Antes disso, vamos aprender um pouco
do pinhão, como também armazenavam em locais especiais, que os
mais sobre os usos da madeira e das
mantinham viáveis para consumo o ano todo. Eles realizavam grandes
sementes da araucária?
coletas das sementes, envolvendo homens e mulheres da tribo,
estocando pinhões para serem ingeridos sempre que quisessem. Nessa
época havia tantas araucárias na região, que os índios a chamavam de
Curitiba, que quer dizer imensidão de pinheiros.

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Utilização da madeira

Por ser uma madeira de excelente qualidade, no


final do século 19 e início do século 20, com a
ocupação da região Sul por colonizadores, a araucária
foi amplamente explorada. Milhares de hectares
foram suprimidos para utilização da araucária em
madeireiras, para a construção civil e uso da lenha. É
muito comum ver casas construídas quase totalmente
com madeira da araucária, que além de resistente,
possui uma cor muito bonita.

Nos anos de 1950 a 1960, a madeira da araucária


estava no topo da lista das exportações brasileiras.
Essa extração desordenada destruiu mais de 60%
da área de ocorrência, restando hoje em dia poucas
áreas de florestas na sua distribuição. Além disso,
quase nada de florestas originais, intactas, sobrou.
Isso tudo levou a araucária a ser considerada uma
espécie ameaçada de extinção no Brasil e no mundo,
com alta chance de desaparecer na natureza se nada
for feito.

Foto: Casa antiga típica do início da colonização Italiana no Rio Grande do Sul,
onde a madeira de Araucária era a mais utilizada para este tipo de construção.
Vale do rio da Prata, Protásio Alves, RS.
Autor: Thiers Wilberger

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Mas nem tudo está perdido! A extração Para saber mais
da madeira da araucária está proibida no
Brasil e desde então, diversos projetos de Aspectos produtivos e comerciais do pinhão no estado
conservação estão sendo desenvolvidos. do Paraná. Floresta 32, 163-169. Santos, A.J.; Corso, N.M;
Vamos ver alguns exemplos? Martins, G. & Bittencourt, E. 2002

Fenologia reprodutiva e produção de sementes em


Araucária angustifolia (Bert.) O. Kuntze. Revista Brasileira
de Botânica 27, 787-796. Mantovani, A.; Morellato, P.C. &
dos Reis, M. S. 2004.

São Roque | Fonte: Acervo Ecology Brasil

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Imagem da Internet:
www. freepik.com/
Autor: @Rhjphotoandilustration

GERAÇÃO DE RENDA E
USO SUSTENTÁVEL
Para continuar utilizando a araucária como fonte de renda, mas
sem cortar a árvore, a alternativa que muitas famílias encontraram
foi comercializar os pinhões. A semente da araucária é muito
utilizada na culinária em diversas regiões do Brasil, sendo mais
comum a forma cozida ou assada na brasa.

Além do gosto agradável, a semente é muito nutritiva, sendo


rica em carboidratos, proteínas e amido. O pinhão pode também
ser um “remédio” no combate a azia, anemia e à debilidade do
organismo. Sem esquecer que serve de alimento para animais
domésticos, principalmente os porcos.

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A cata do pinhão
A coleta dos pinhões ocorre de duas formas: diretamente
no solo, após a queda das sementes, ou pela subida na
árvore e a derrubada da pinha inteira. A derrubada da
pinha é mais vantajosa porque de uma só vez, mais
sementes ficam disponíveis, mas por outro lado, o risco
para o catador é maior, pois muitos escalam sem material
de proteção.

É importante ressaltar que a coleta de pinhões, no estado


do Paraná, só pode ser realizada após liberação pelo IAT
(Instituto Água e Terra). Em 2020 essa liberação ocorreu a
partir de primeiro de abril.

Cada árvore feminina possui em média 80 pinhas e cada


pinha pode ter cerca de 90 pinhões. Uma pinha de cerca
de 2,3 kg possui cerca de 0,8 kg de sementes, isso porque
boa parte dela é formada pelas escamas e por pinhões
“cochos” que é a semente que não foi fecundada. O Paraná
e Santa Catarina são os estados com maior produção anual
de pinhões do Brasil. Em 2018 estimou-se a produção de
mais de quatro mil toneladas de pinhão no Paraná. Essa
alta variação na produção influencia também no preço, que
oscila muito entre os anos.

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Beneficiamento do pinhão
O beneficiamento do pinhão é ainda realizado de forma
simples e em pequena escala, geralmente por mulheres,
que o utilizam para fazer doces e paçoca. A atividade,
apesar de simples, é uma importante fonte de renda para
as famílias, principalmente as que vivem em áreas rurais.
Para as mulheres, pode representar uma importante fonte
de renda valorizando o seu trabalho no núcleo familiar.

Quanto ao mercado, o pinhão ainda tem muito potencial,


com diversos outros usos ainda pouco explorados. A
farinha do pinhão é um dos produtos com maior potencial,
pois poderia ser comercializada o ano todo, servindo como
base para pães e bolos. Pesquisadores estão estudando
também o uso da farinha de pinhão como matéria-prima
para produção de cerveja artesanal.

Imagem da Internet:
www. freepik.com/
Autor: @ale.bonato

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Outros usos do pinheiro
Além da semente, outras partes da planta também estão sendo
aproveitadas com o avanço das pesquisas, como as grimpas (folhas
secas caídas) que são utilizadas para lenha, e as escamas, que servem
como matéria prima para construção civil e na geração de carvão
ativado.

Já as folhas são ricas em nutrientes minerais e formam um húmus


de excelente qualidade. Basta juntar e amontoar em local de pouca
utilização, removendo o material uma vez ao ano. O húmus produzido
pode ser aplicado diretamente em hortas ou pomares. Devido a forma
pontiaguda e espinhosa, as folhas também podem ser utilizadas
para proteção de plantas e como cobertura morta. Ou seja, podemos
aproveitar praticamente tudo que a araucária nos oferece.

Para saber mais


A Coleta de pinhão na Floresta Nacional de São Francisco de Paula, RS:
Uso potencial sustentável. Revista brasileira de biociências 5:993-95.
Silveira, C.B.F.; Rodrigues, G.G. & Guerra, T. 2007.

Aspectos produtivos e comerciais do pinhão no estado do Paraná.


Floresta 32: 163-169. Santos, A.J.; Corso, N.M.; Martins, G. &
Imagem da Internet:
Bittencourt, E. www. freepik.com/
Autor: nicoperezphoto

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Mas para utilizar as sementes
da araucária, a gente precisa ter
árvores disponíveis.
Vamos aprender a plantar?
Diversas técnicas são utilizadas para a produção da Outra técnica muito utilizada é o uso de enxertia. A
araucária. Para aumentar a chance de sobrevivência, os enxertia é a união de uma planta em outra através de um
pesquisadores indicam germinar o pinhão em ambiente enxerto. A planta que recebe o enxerto serve de suporte
“controlado”, como uma estufa, para maior controle de e vai formar as raízes. Quando elas se desenvolvem,
formigas e outros insetos que atacam a planta. Podem originam um único indivíduo, entretanto, cada uma delas
ser usados sacos plásticos, vasos ou tubetes. O pinhão preserva sua característica.
é colocado com a parte mais fina para baixo e como
substrato, podem ser utilizados húmus, casca de pinus ou É importante lembrar que o pinheiro possui indivíduos
casca de arroz carbonizada. machos e fêmeas separados, ou seja, para haver produção
das sementes é necessário árvores de ambos sexos no
É importante não esquecer do adubo e da água para regar plantio.
as plantinhas. A germinação ocorre entre 20 a 40 dias do
plantio. Após três meses, a mudinha já terá de cinco a oito
centímetros. Quando a plântula estiver com mais ou menos Se você se interessou por
30 a 40 cm, ela já pode ser plantada no local em que alguma técnica, vamos deixar
permanecerá até ficar adulta. ao final desta cartilha, algumas
opções para pesquisa na
Para aumentar a produtividade, é comum a utilização
internet!
de espaçamentos de plantio de 10m X 10m, em locais
bem ensolarados. Outra dica é não desbastar os ramos,
para aumentar o número de pinhas em cada árvore. É
recomendado o plantio em solos profundos e com boa
fertilidade.

25
Como plantar araucária:

1 Escolhendo a semente: 2 Escolhendo os recipientes:


Antes de plantar os O tubete é um recipiente adequado
pinhões, mergulhe-os para plantar as sementes. Basta
em um balde com água. encher com substrato formado
Utilize apenas os por húmus, composto de casca de
pinhões que forem pínus e terra de subsolo (outros
para o fundo do balde. substratos podem ser utilizados
também).

4 Levando para o local definitivo: 3 Hora de plantar:


Em torno de 4 a 8 meses após o plantio, O pinhão deve ser
a muda da araucária deve ter cerca de plantado com a parte
30cm na parte superior e 20cm mais fina para baixo.
nas raízes. É o tamanho ideal para ser Com cerca de 20 dias
plantada. O local ideal para colocar a as raízes já começam
muda são clareiras nas florestas, borda a aparecer.
da mata ou áreas de capoeira. Lembrando
que quanto mais sol tiver, melhor!

Fonte: Produção de mudas de araucária em tubetes. Ivar Wendling &


Maykon Emanoel Delgado. Comunicado Técnico 201 Embrapa. 2008.

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Agora que já aprendemos a plantar, é hora de conhecer
algumas receitas gostosas que utilizam pinhões.

APROVEITAMENTO
DO PINHÃO NA
CULINÁRIA
O pinhão é usado em diversas receitas tradicionais e é
muito importante na cultura dos estados da região Sul.
Uma das formas mais originais de se comer é “sapecado”,
quando ele é levado ao fogo de uma fogueira, muitas
vezes, do próprio churrasco. Outra forma bem comum é
cozido na água com sal.

Para ter um melhor aproveitamento da semente, que é


produzida apenas nos meses de outono/inverno, podemos
congelar o pinhão ou triturá-lo, servindo como base para
diversos pratos.

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)


publicou um livro com 100 receitas que utilizam os
pinhões. Você pode consultar o link ao final da cartilha.

Vamos apresentar aqui uma receita simples de farofa de Imagem da Internet:


pinhão com bacon. www. freepik.com/
Autor: @clickepic
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Receita:
Farofa de pinhão com bacon
Ingredientes Modo de fazer:

• 100 g de bacon picado Em uma frigideira larga, coloque o bacon e refogue na


própria gordura até que ele comece a ficar dourado.
• 1 cebola picada Acrescente a manteiga e a cebola picada e refogue até
• 3 dentes de alho picados que fique transparente.

• 100 g de pinhão (sem casca) picados grosseiramente Em seguida adicione o pinhão e o alho e refogue
rapidamente. Adicione a farinha de mandioca e sal e
• 1 ½ xícara de farinha de mandioca continue refogando até que ela fique delicadamente
tostadinha. Acrescente pimenta moída.
• 3 colheres (sopa) de manteiga
Desligue o fogo, adicione a cebolinha e a salsinha
• Cebolinha e salsinha picada
e sirva.
• Pimenta moída na hora

• Sal

Para saber mais


O pinhão triturado ainda pode servir como recheio de
O pinhão na culinária disponível gratuitamente no site da
pastel, empadão e até mesmo de pizza!
Embrapa: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/
publicacao/982272/o-pinhao-na-culinaria
- www.embrapa.br
- http://www.parana.pr.gov.br
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CONSERVAÇÃO Legislação

AMBIENTAL DA Algumas regras foram estabelecidas pelos órgãos


ambientais para evitar o corte da espécie e também para
ARAUCÁRIA organizar o plantio para fins comerciais.

Desde 1976, através da Portaria nº 20 do IBAMA,


é proibido o abate de pinheiros adultos (Araucaria
O principal impacto que as florestas de araucárias angustifolia), portadores de pinhas, nos meses de abril,
sofreram foi a derrubada das árvores para extração maio e junho. Nesta mesma portaria proíbe-se a colheita
da madeira. Atualmente, as florestas sofrem com o dos pinhões antes do dia 15 de abril.
desmatamento para cultivo de pasto e outras plantações,
além do pisoteio do gado, que modifica as condições do Em 2008, o Ministério do Meio Ambiente incluiu a
solo e danifica as mudas. Esses problemas quase levaram araucária na lista nacional de flora ameaçada de extinção,
a araucária à extinção. Graças à legislação e ao avanço do e desde então é proibido o corte dessa espécie, com
conhecimento, hoje em dia é possível continuar utilizando algumas exceções especificadas por lei.
seus produtos sem causar mais impactos negativos. Em 2020, o estado do Paraná criou a Lei nº 20223 que
estabelece regras de estímulo, plantio e exploração da
espécie Araucaria angustifolia. Neste caso, com autorização
do órgão, é possível o corte dos indivíduos que foram
plantados para este fim.

É importante lembrar que qualquer árvore que esteja


localizada em Unidade de Conservação possui legislação
específica, ainda mais as ameaçadas de extinção.

Mudas
Fonte:Acervo Engie
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Como unir lucro com preservação
ambiental?
Atualmente uma floresta em pé pode ser uma lucrativa fonte de renda
para o produtor rural, um exemplo é a transformação da propriedade
em RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural). Com a RPPN é
possível separar áreas dentro da propriedade para continuar sendo
usadas na agricultura, criação de gado etc., e uma área permanece
como Reserva Legal, local onde a floresta poderá se desenvolver sem
impactos.

As RPPNs possuem diversas vantagens, como isenção do Imposto


Territorial Rural (ITR), preferência na análise de pedidos de concessão
de crédito agrícola, além de cooperação com entidades privadas
e públicas no manejo da Unidade. As áreas de mata nativa podem
também ser um atrativo ao ecoturismo, atividade que vem crescendo
no Brasil, gerando muita renda.

Por ser uma árvore com pouca competição com outras espécies,
a araucária pode ser plantada em conjunto com outras árvores.
Chamamos essa forma de plantio de Sistemas Agroflorestais, que é
quando se utiliza várias espécies de plantas diferentes, para aumentar
o rendimento de todas. Uma forma de plantio em conjunto muito
comum é entre a araucária e a erva-mate (cientificamente chamada
de Ilex paraguariensis). Assim como o pinheiro brasileiro, a erva-mate
distribui-se pelos estados do Sul do Brasil, tem suas folhas utilizadas
para chás e quando trituradas, forma a base da erva de chimarrão.

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Fonte: Acervo Engie.

Outra semelhança entre as duas espécies, é que ambas


são utilizadas desde a época dos índios até hoje. A
vantagem desse tipo de plantação, é a garantia de renda
o ano inteiro, pois as folhas da erva mate estão sempre
disponíveis para consumo.

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)


possui diversos projetos para geração de renda e
preservação ambiental. Um exemplo é o projeto “Estradas
com Araucárias” que incentiva, por meio de pagamentos
por serviços ambientais, o plantio da espécie em divisas
de propriedades rurais familiares com faixas de domínio
de estradas. Com isso, é possível aumentar a população
dos pinheiros e gerar renda.

Além é claro dos usos do pinhão, como já vimos


anteriormente. O importante é sempre unir a geração de
renda com a sustentabilidade, dessa forma ambos saem
ganhando, o produtor e as florestas.

Ambientalistas dizem que: “para preservar é necessário


conhecer”. Ao longo da cartilha, pudemos aprender um
pouco mais sobre a história da araucária, essa árvore
tão antiga e com um papel ecológico tão importante na
natureza.

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Ações da Engie na preservação da araucária
A Engie é parceira na conservação da araucária. A empresa tem um
convênio com a Embrapa para incentivar o plantio de araucária,
bem como a estruturação de um banco genético para conservação
da espécie no estado do Paraná. A parceria prevê a instalação de 13
Unidades de Referência Tecnológica (URTs) de técnicas de plantio de
araucária – associada a outras espécies da Floresta Ombrófila Mista
– em propriedades de agricultores paranaenses, como estratégia de
transferência de tecnologia e estabelecimento de coleção de material
genético. Outro ponto interessante do projeto é a inclusão de caixas
de abelhas sem ferrão nas URTs. As abelhas podem ser uma fonte de
renda para produtores e também funcionam como um indicador de
qualidade ambiental das áreas.

Outro braço da parceria prevê a instalação de um banco de


conservação de Araucaria angustifolia, que consiste em uma grande
área destinada ao plantio de araucárias, a ser realizado de forma
cuidadosa e criteriosa. A criação do banco busca garantir que a
variabilidade genética da população natural esteja totalmente
representada no plantio. Com isso, ameaças à erosão genética dentro
da espécie podem ser evitadas ou revertidas, caso necessário.
Além disso, essas populações poderão ser base para programas de
melhoramento genético. Para isso, exigirá amplas coletas de sementes
e análises cuidadosas da paisagem, da distribuição das árvores dentro
de fragmentos, da distribuição de machos e fêmeas na natureza e,
posteriormente, dentro da população base. O banco será instalado na
Fazenda da Embrapa em Ponta Grossa.

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O trabalho vai utilizar ferramentas modernas de biologia molecular,
analisando a variabilidade genética das populações coletadas e
das árvores plantadas. Com isso, tem-se a garantia de qualidade da
estratégia de conservação.

Reverter o quadro de espécie ameaçada de extinção só depende das


nossas ações, unindo o conhecimento tradicional das comunidades
com o avanço da tecnologia. Vimos aqui diversos exemplos de como
gerar renda com a araucária, sem a necessidade de derrubá-la.

Vamos utilizar o que temos de moderno, como o melhoramento


genético das plantas, mas sem esquecer que a araucária só precisa de
pouca coisa para sobreviver: luz solar, água da chuva e animais para
dispersar suas sementes. Foi somente com esses três fatores que ela
vem se desenvolvendo nas florestas, a mais de 120 mil anos!

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Araucárias
Autor: Graziela Iob

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REFERÊNCIAS
O ciclo anual de Cyanocorax caeruleus em floresta de araucária
(Passeriformes: Corvidae) Ararajuba 2: 19-23. Anjos L, 1991.

Influência de frutos e sementes na abundância de pequenos mamíferos


e a relação com a predação e dispersão de sementes da araucária
(Araucaria angustifolia). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Iob G. 2007.

O cultivo da araucária para produção de pinhões como ferramenta para


a conservação. Pesquisa Florestal Brasileira. Danner, M.A,; Zanette, F. &
Ribeiro, J.Z. 2012.

Análise integrada das cadeias produtivas de espécies nativas da


Floresta Ombrófila Mista e seu impacto sobre este sistema – Volume
I: Diagnóstico das cadeias produtivas do pinhão e da erva-mate.
Fundação O Boticário de Proteção a Natureza. 2012.

Atitude do consumidor em relação ao pinhão: estratégias para


valorização e conservação da espécie Araucaria angustifolia. Embrapa
Floresta. Godoy, R. C. B. de; Deliza, R,; Negre, M. F..2010.

Tecnologia de enxertia de Araucaria angustifolia para produção precoce


de pinhões, com plantas de porte reduzido.

Embrapa Floresta. Wendling, I. 2015.

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