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RELATÓRIO DA VISITA DE CAMPO AO

PARQUE NATURAL MUNICIPAL DA ÁGUA ESCONDIDA


NITERÓI

No dia 22 de junho de 2022, foi realizada visita ao Parque Natural Municipal da Água Escondida com
o intuito de abrir frentes de pesquisa e colaborações que apoiem a Prefeitura Municipal de Niterói na
construção de conceitos, sugestões e ações que possam incorporar-se ao projeto de construção do
parque, em desenvolvimento pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e
Sustentabilidade (SMARHS).

PARTICIPANTES

Participaram desta visita representantes das seguintes organizações:

PROJETO MÃO NA JACA

Marisa Furtado de Oliveira – Documentarista, Produtora Cultural e Idealizadora do Projeto Mão na


Jaca

Pedro Lobão – Arquiteto, professor de Arquitetura na PUC-Rio, pesquisador do LaBEH e Mestre em


Arquitetura Paisagística pela UFRJ, Coordenador operacional do Projeto Mão Na Jaca

Dominick Miranda – Colaborador do Projeto Mão Na Jaca, arborista e técnico agroflorestal

Valéria Lima Marques de Sousa – Bióloga Botânica, Mestre em Educação, Gestão e Difusão em
Biociências; Analista e Educadora Ambiental na Secretaria Municipal de Ambiente e Saneamento do
Arraial do Cabo (SEMAS); docente da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC).

LABORATÓRIO DE BIOGEOGRAFIA E ECOLOGIA HISTÓRICA (LaBEH) -


DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE - PUC-RIO

Alexandro Solórzano – Geógrafo, Doutor em Ecologia, professor do Departamento de Geografia e


Meio Ambiente da PUC-Rio, coordenador do Laboratório de Biogeografia e Ecologia Histórica

Lucas Brasil – Geógrafo e Historiador, Doutorando em Geografia e Professor do Departamento de


Geografia e Meio Ambiente da PUC-RIO, Pesquisador Sênior do Laboratório de Biogeografia e
Ecologia Histórica

Vicente Leal – Geógrafo e Fotógrafo, Mestre em Geografia (PUC-Rio) e Pesquisador Sênior do


Laboratório de Biogeografia e Ecologia Histórica

Antônia Meireles – Estudante de Geografia na PUC-Rio, integrante e pesquisadora do Laboratório


de Biogeografia e Ecologia Histórica.
João Caldas - Geógrafo pela PUC-Rio, integrante e pesquisador associado do Laboratório de
Biogeografia e Ecologia Histórica

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LABORATÓRIO DE SISTEMÁTICA E BIOGEOGRAFIA VEGETAL (LaSBiv)
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – INSTITUTO DE BIOLOGIA

Adriana Lobão – Bióloga, botânica, docente e pesquisadora da UFF, coordenadora do LaSBiV e


curadora do Herbário de Niterói (NIT)

André Hoffmann – biólogo do Herbário de Niterói (NIT) da UFF

Lucas Azevedo- estudante de Ciências Biológicas da UFF

Victor Hugo Cordeiro - estudante de Ciências Biológicas da UFF

Vinicius Ramon - estudante de Ciências Biológicas da UFF

PARÓQUIA NOSSA SENHORA DE FÁTIMA - NITERÓI

Padre João Claudio Nascimento - Mestre em Teologia pela PUC-RJ e em Direito Canônico pela
Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Historiador pela UniLassalle Niterói-RJ

PERCURSOS

Foram executados dois percursos durante a visita, que descrevemos a seguir.

PERCURSO 1

Subida do talvegue onde se situava a antiga Chácara do Vintém, a partir do acesso ao parque pela
Rua Andrade Pinto até o antigo estacionamento do Clube da CEDAE, hoje abandonado.

Ao longo deste percurso foram identificadas árvores de valor significativo, seja pelos serviços
ecossistêmicos prestados, seja pela oferta de produtos florestais não-madeireiros. Alguns indivíduos
estão nomeados e identificados através de etiquetas de campo, conforme a numeração do
Levantamento Florístico e Arbóreo encomendado pela PMN. O produto final deste levantamento
ainda não foi recebido.

Exemplo de etiqueta de Levantamento Florístico e Arbóreo encontrada nas árvores do PNMAE

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Largo de Entrada e antiga sede da Chácara do Vintém

Logo ao entrar no recinto do parque pelo portão de acesso ao antigo Clube da CEDAE, é visível, à
esquerda da guarita, o patamar de fundação de antigas edificações já demolidas. O entorno desse
patamar é local de algumas jaqueiras de grande porte, sendo uma delas especialmente frondosa e
produtiva (PAP 3,17mts etiqueta no. 95200). Os indivíduos compõem a paisagem da entrada e
produzem frutos avantajados, mesmo no final da safra deste ano, como verificado em visita anterior
no dia 22 de abril.

Medição de três Jaqueiras de grande porte - PAP 2,61 (95192) e 2,46, 1,65 mts - localizadas próximo ao patamar de fundação
de antigas edificações já demolidas.

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Jaqueira de grande porte, localizada na esquina do patamar de fundação de antigas
edificações já demolidas, ainda com jacas verdes – foto feita em abril de 2022.

Poucos metros à frente do mencionado patamar, diretamente em frente à entrada do parque,


encontra-se a ruína da casa principal da Chácara do Vintém, construção do início do século XIX, hoje
abandonada e envolvida em vegetação. Apesar da condição de abandono, a estrutura permanece
bastante sã e não há maiores danos ao volume construído. Inclusive a laje de cobertura permanece
bastante íntegra.

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Reminiscências da Edificação da Sede da Chácara do Vintém

Sistema de Captação de Água Potável

Logo atrás da ruína da sede, seguindo a trilha que acompanha o fundo do talvegue natural do terreno,
encontram-se 3 amplos patamares que constituem a base para o sistema de captação da água da
Chácara do Vintém. Em cada um dos mencionados patamares, vemos construções diretamente
ligadas a esse sistema de captação. Solidamente construído, o sistema é um exemplo de tecnologia
simples, porém extremamente eficiente para captação de recursos hídricos.

Apesar do estilo arquitetônico e do sistema construtivo se relacionarem com a sua época de


construção, essas construções nos remetem a obras de tempos ancestrais, quando o engenho
humano ainda dependia de grande sintonia com a paisagem de base. Mais que um pedaço da
Memória da cidade de Niterói, é um exemplo de bom relacionamento entre técnica e meio ambiente.

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Ruinas do sistema de captação de água rodeadas de jaqueiras.

Nesses patamares e no seu entorno imediato, encontram-se todas as jaqueiras (Artocarpus


heterophyllus Lam.) do parque. Isso significa que as jaqueiras presentes no Parque Natural Municipal
da Água Escondida (PNMAE) encontram-se diretamente conectadas à presença humana, padrão
também encontrado nos estudos realizados no Parque Nacional da Tijuca (SOLÓRZANO et al. 2018;
SOLÓRZANO et al. 2021).

No caso do PNMAE, as árvores refletem a história, da construção e operação do sistema de


captação de água que por muito tempo abasteceu significativa parte da cidade. Não se trata de
exemplares que tenham por algum motivo se espalhado espontaneamente pela floresta. Pelo
contrário, são evidências claras da forma como jaqueiras foram plantadas junto a empreendimentos
do tempo da colônia e do Império com a intenção de fornecimento de alimento e de embelezamento
destes locais (no século XIX e XX a jaqueira era valorizada como espécies ornamental, além de
frutífera).

As jaqueiras encontram-se localizadas junto ao fundo do talvegue em áreas de alta interferência


humana, onde estão previstas intervenções de paisagismo e acessibilidade ao parque. Ou seja, as
jaqueiras presentes na área florestada do Talvegue onde se localiza o sistema de captação de água
da antiga Chácara do Vintém são parte do patrimônio e da história do local. Não apresentam risco ao
projeto de reflorestamento das áreas mais altas do parque, pois a propagação desta espécie se dá
por pressão de propágulo a partir da projeção da copa, seguindo encosta abaixo (propagação
barocórica) quando o terreno propicia esta condição.

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Jaqueiras plantadas em platô, em total sintonia com as construções
históricas, regularmente afastadas entre si e de mesmo porte, muito
diferente de bosques de jaqueiras espontâneas.

Floresta presente no Talvegue principal do Percurso

No geral, o fundo e as bordas do talvegue, onde se encontra o sistema de captação de água, é o


único local com floresta em estágio intermediário de regeneração no contexto do PNMAE. Trata-se de
uma área formalmente classificada como pertencente à fitofisionomia Floresta Ombrófila Densa
submontana (FOD) do Bioma Mata Atlântica. No local, essa floresta encontra-se com dossel fechado
com cerca de 20 m de altura, sub-bosque aberto e estrato herbáceo e serapilheira abundante. É
possível encontrar espécies características da FOD em estágio intermediário como a carrapeta
(Guarea guidonia (L.) Sleumer.) e outras como a Jaqueira, totalmente integradas ao ambiente.

Vale especial menção a três indivíduos de Pacovás-de-Macaco (Swartzia langsdorffii), de dimensões


extraordinárias (PAP 4,00 mts (95102), 3,35 mts (95103) e 3,20 mts (314493). Trata-se de uma
espécie de estágio sucessional Secundário Tardio/Clímax. A presença destes indivíduos com mais de
1 m de diâmetro dentro de uma floresta conservada nos faz refletir sobre duas hipóteses: (1) são três
indivíduos remanescentes, que foram poupadas do corte, pelo seu tamanho e beleza, na ocasião da
construção da Chácara ou de qualquer uso posterior; (2) os exemplares foram plantados há mais de
300 anos em uma mesma ocasião?

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Frutos da Pacová de Macaco - Swartzia langsdorffii Frutos de uma das 27 jaqueiras (Artocarpus
Raddi - Leguminosae, localizada no PNMAE. Heterophyllus) localizadas no PNMAE, produção
abundante.

Na região de todo o talvegue foram encontrados 27 indivíduos adultos de jaqueira saudáveis e


produtivos.

Outras áreas do Parque se encontram em processo de reflorestamento recente. Há aproximadamente 10


anos vem sendo realizado um trabalho de plantio por equipes da Companhia de Limpeza de Niterói
- CLIN, lideradas pelo Engenheiro Florestal Luiz Vicente Peres. É possível identificar uma grande
quantidade de mudas e alta diversidade de espécies tais como Ingás, Aroeiras, Ipês, Acácias,
Goiabeiras e outras. A grande maioria dos indivíduos observados estão saudáveis, indicando que o
plantio foi um sucesso e que com tempo essa região certamente se transformará em floresta,
fornecendo serviços ecossistêmicos importantes para a região. Entre estes serviços certamente
podemos incluir o aumento da vazão de captação de água no sistema remanescente da antiga
Chácara do Vintém.

Para além destas áreas de talvegue e de replantio, o restante do parque permanece ocupado por
uma cobertura herbácea composta por espécies de gramíneas exóticas como o capim colonião
(Megathyrsus maximus (Jacq.) BKSimon & SWLJacobs), e com a presença do cambará
(Moquiniastrum polymorphum (Less.) G. Sancho) uma espécie arbórea pioneira típica de pastos
abandonados no estado do Rio de Janeiro.

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Segundo descrição do Eng. Luis Vicente, as áreas onde hoje podemos observar um certo domínio de
cambarás (Moquiniastrum polymorphum (Less.) G. Sancho) é resultado da maior resistência desta
espécie a repetidos incêndios ocorridos nas áreas replantadas. Outras espécies pereceram, mas os
cambarás permaneceram e reproduziram, gerando uma presença dominante em algumas áreas do
parque.

Limites e domínio de Cambarás – PNMAE.

Clube da CEDAE

Subindo diretamente pelo fundo do talvegue do terreno, aproximadamente 200 metros após a entrada
do parque encontra-se a ruína do Clube de funcionários da CEDAE.

Abandonadas desde o final do século passado, as instalações do clube encontram-se muito


deterioradas. Ao contrário das obras do século XIX, as ruínas do Clube encontram-se em péssimo
estado de conservação. Lanchonete, piscinas e espaço de apoio estão invadidos por vegetação
herbácea e árvores pioneiras.

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A estrada de acesso encontra-se quase integralmente desintegrada pela floresta que nasceu em seu
leito, somente alguns trechos de calçada ainda são visíveis mesmo após o processo de remoção de
vegetação herbácea inevitável aos serviços de levantamento florístico recentemente executados.

Lanchonete do Clube da CEDAE abandonado

Piscina vazia e invadida por vegetação

O aproveitamento destas estruturas, principalmente as piscinas em ruínas, é bastante difícil e


certamente muito oneroso. A tendência de aproveitamento deverá acontecer a partir da topografia
remanescente, que gerou patamares interessantes para a ocupação de uma porção especialmente
inclinada das bordas do talvegue natural.

Estacionamento da CEDAE

O patamar onde anteriormente estava o estacionamento dos usuários do Clube da CEDAE encontra-se
tomado por vegetação em estágio inicial de regeneração de médio porte. Na sua entrada é possível

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ver a fundação de uma pequena construção provavelmente anterior à construção do Clube, pelas
características construtivas (concreto não armado), imagina-se que datada ainda do século XIX.

O estacionamento está localizado exatamente após o final da área florestada do talvegue. A partir
dele inicia-se uma encosta exposta à insolação de norte que permanece desflorestada, apesar de
esforços iniciais de replantio já terem acontecido no local.

PERCURSO 2

Descida a partir do acesso ao parque existente ao final da Rua Andrade Pinto, seguindo pela Rua
Ponte Ribeiro e pelas ruinas do aqueduto até as ruínas do reservatório de decantação. Ao final,
subida ao cume do Morro da Boa Vista.

Ruínas do Aqueduto

No local onde termina a urbanização da Rua Ponte Ribeiro encontramos uma trilha que segue por cima do
antigo aqueduto. Há momentos em que ele se apresenta praticamente soterrado e outros em que os arcos
são perfeitamente visíveis e em razoável estado de preservação. Porém, o simples fato de o aqueduto
funcionar como base de uma trilha de acesso ao parque já indica o estado de abandono e o tanto que esta
obra de infraestrutura histórica carece de ações que a valorizem e preservem.

Vista do Aqueduto e do Reservatório de Decantação

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Trilha sobre o antigo aqueduto. Algumas das partes visíveis estão em melhor
estado de conservação

Neste percurso há sinalização recente feita pela Prefeitura, que busca orientar o frequentador sobre a
importância do sítio para a cidade, seu caráter histórico, citando a legislação que permitiu a criação
da Unidade de Preservação a partir da municipalização da Chácara do Vintém.

Exemplo de placa indicativa encontrada ao longo do percurso sobre o antigo aqueduto

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Ruínas do Reservatório de Decantação

Nosso percurso seguiu o aqueduto até o reservatório de decantação situado aos fundos da edificação
existente na Rua Andrade Pinto no. 81.

Este reservatório está próximo a um dos limites do Parque, a menos de 30 metros em linha
horizontal, dos fundos da pedreira situada na Rua Indígena, que funcionou como jazida de pedra para
as obras da Ponte Rio-Niterói.

Esta proximidade certamente causou vários impactos ao conjunto da obra do aqueduto durante o tempo
em que a pedreira esteve ativa. Em vários pontos do trajeto até o reservatório é possível perceber que o
terreno sofreu escorregamentos que hoje se encontram amparados pela estrutura do aqueduto.

Proximidade da Pedreira certamente afetou a condição atual do aqueduto

Ou seja, uma obra originalmente elevada do solo como estratégia de proteção da água que
transportava, encontra-se hoje funcionando como arrimo improvisado dos fundos das casas da Rua
Andrade Pinto.

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Reservatório de decantação do Aqueduto, exterior

As ruínas do edifício do reservatório encontram-se em razoável estado de conservação. Na verdade,


sua condição atual é resultado da solidez da sua obra original, característica essa que permeia todas
as ruínas da obra do aqueduto.

Reservatório de decantação do Aqueduto, interior.

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Encosta entre o aqueduto e a Pedreira

A partir do reservatório seguimos uma das trilhas que sobem em direção ao topo da pedreira. Neste trecho
é visível o resultado do grande trabalho de reflorestamento já realizado pela equipe da CLIN. Este trabalho
de plantio utiliza mudas geradas no horto localizado na mesma pedreira que tanto impactou as ruínas.
Muitas árvores nativas, em estágio final de crescimento, marcam a paisagem de quem faz esse trajeto.
Parece ser o caso de que algumas espécies tiveram maior sucesso, no processo de reflorestamento, em
especial goiabeiras, aroeiras e algumas outras espécies identificadas com mais frequência pela nossa
equipe de visita, dominando de certa forma a paisagem.

Na beira da encosta a vista que se descortina de toda a Baía de Guanabara é ampla e privilegiada,
como em um mirante. Este ponto pode de fato ser aproveitado com esta vocação pelo projeto do
Parque, o que criará um grande atrativo para os visitantes.

Vista ampla da Baía de Guanabara a partir do topo da Pedreira do Morro da Boa Vista.

Subida ao cume do Morro da Boa Vista

Do alto da pedreira o grupo seguiu até o cume do Morro da Boa Vista. O caminho acontece pela
cumeeira desta vertente do morro, junto a sua face noroeste. Ao longo do caminho é visível o
trabalho de reflorestamento mais recente. Em toda essa face o replantio encontra-se em estágio
menos avançado que na encosta oposta, onde está o aqueduto. Certamente, a maior incidência solar
prejudica o desenvolvimento das mudas e a ocorrência de incêndios sazonais (cujos rastros são
visíveis ao longo do trajeto) minam os esforços do trabalho de reflorestamento.

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Reflorestamento dificultado por incêndios e forte exposição ao sol (face
noroeste). A diferença entre a face Noroeste (a esquerda) e a face Sudeste (a
direita) é claramente visível na tonalidade da vegetação herbácea, marrom e
verde, respectivamente.

CONCLUSÕES

RECOMENDAÇÕES IMEDIATAS PARA O PARQUE

A construção das recomendações que elencamos a seguir partiram de três estratégias de base que
estruturam nossa visão sobre o Parque da Água Escondida. São elas:

- Conexão entre o Parque e a Cidade que o cerca

- Valorização do patrimônio histórico e arqueológico

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- Uso consciente e sustentável

A adoção destas estratégias pode ser o embrião para a construção de um parque que extrapola a sua
percepção como área de ócio e contemplação. Com elas pretendemos oferecer uma visão do parque
como uma Paisagem Produtiva, onde a população também pode desenvolver atividades que mudem
seu cotidiano, através ações comunitárias e de capacitação profissional.

Possibilidades de Conexão com Comunidades do Entorno através de Usos Sociais

A utilização da floresta existente como atrativo para a visitação é um dos potenciais inquestionáveis
do Parque que agora se cria. Contudo, a interação da população com a floresta pode ser ampliada ao
oferecer mais que espaços de ócio e passeio.

O PNMAE é cercado pelos bairros São Lourenço, Cubango, Fonseca, Fátima e Pé Pequeno, com
uma comunidade local que já faz uso da área verde como mirante, espaço de caminhada na mata,
aproveitamento de água, pastoreio com cavalos e consumo de frutas. Devido à vista privilegiada no
Morro da Boa Vista e a presença do patrimônio histórico do aqueduto, ruínas da bica e da Chácara
do Vintém, aliado ao uso comunitário da área já existente, é possível realizar a formação de
condutores ambientais locais que possam atuar na unidade de conservação, apoiando na
consolidação do uso público da unidade de conservação, a partir de uma visitação ordenada, com
finalidade recreativa, esportiva, turística, ecoturística, histórico-cultural, ecopedagógica, interpretativa,
sensibilizadora, científica, cênica contemplativa e artístico-cultural.

Neste sentido, as jaqueiras localizadas no fundo do talvegue têm enorme potencial, pois fornecem
matéria prima para projetos de processamento e beneficiamento de jacas verdes como alimentos
salgados. Ou seja, além da sombra e da umidade que oferecem ao visitante despreocupado, as
jaqueiras podem funcionar como base para geração de alimento, renda e capacitação profissional
para a população da cidade, em especial aos moradores do entorno do parque.

A implantação de uma cozinha comunitária no interior do parque é uma importante ferramenta de


conexão da população com a floresta que agora se recupera. As jaqueiras existentes podem ser a
primeira espécie aproveitada por este equipamento social, porém outras espécies como pitangueiras,
goiabeiras, jambeiros e jamelões certamente podem participar desta estratégia de conexão cidade-
floresta através do trabalho, e do turismo gastronômico.

Possibilidades de Conexão com Comunidades do Entorno através de Zonas de Conservação


Moderada

As unidades de conservação (UC) podem ter áreas tangíveis e intangíveis, bem como o grupo ao qual
pertencem já impõem limitações de uso. No caso do PNMAE, trata-se de uma UC de proteção integral,

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que foi criada a partir da recategorização de uma unidade já existente, passando a ser a maior área
protegida da área central de Niterói, com 62 hectares de extensão. Como Parque, há a possibilidade
de estabelecer o zoneamento da área considerando o usos atuais e as prioridades, dentro dos
objetivos de criação da UC, destacando-se os seguintes: proteger ecossistemas com grande
potencial para oferecer oportunidades de visitação, aprendizagem, interpretação, educação,
pesquisa, recreação, inspiração, relaxamento e demais atividades ambientalmente compatíveis;
manter populações de animais e plantas nativas, contribuindo para a preservação da biodiversidade
de Niterói e do Estado do Rio de Janeiro; incentivar o desenvolvimento do turismo ecológico de
Niterói, valorizando o município e gerando empregos e renda; proteger a paisagem e seus mirantes,
promovendo bem-estar natural; assegurar a integridade das florestas e demais formas de vegetação
de preservação permanente, cuja remoção é vedada, e dos remanescentes de Mata Atlântica;
propiciar um espaço de lazer para a comunidade, bem como promover atividades recreativas,
turísticas, culturais e científicas, de forma conciliada com a preservação dos ecossistemas naturais
existentes, possibilitando o convívio da população humana com outras formas de vida vegetal e
animal; proteger um dos primeiros mananciais de abastecimento de água potável da cidade;
preservar bens históricos relevantes para o município que estão inseridos nos limites do Parque.

Áreas antropizadas no passado onde a vegetação arbórea já está estabelecida são identificada como
registro histórico e encontram-se em área com vegetação secundária em estágio médio a avançado,
cumprindo o papel de prestar serviços ecossistêmico e alterando o microclima, podem ter seu manejo
sem o abate de árvores, mesmo em caso de espécies exóticas, quando houver alternativa para o
controle da propagação, como no caso das jaqueiras, que pode ter a colheita dos frutos realizada
para que não haja aumento da população, com possível aproveitamento dos frutos no preparo de
pratos salgados e doces, o que pode ser realizado localmente a partir do processamento da jaca pela
comunidade local.

O Parque da Água Escondida é uma unidade de preservação cujos limites foram definidos pela mancha
urbana da cidade existente. Isto significa que é uma floresta rodeada por cidade em todas as direções.

Caso o zoneamento do Plano de manejo do Parque restrinja as áreas de conservação moderada ao


acesso principal, onde estão as ruinas da Chácara do Vintém, o parque negará acesso em várias
situações onde há contato direto com a malha viária dos bairros do entorno. Hoje existem questões
de segurança em vários desses pontos de contato. Contudo, caso o Plano de manejo não reconheça
possibilidades de acesso organizado ao parque nestas áreas, é possível que no futuro seja mais
difícil integrá-lo à cidade que o circunda, e isso gere ainda mais insegurança.

No gráfico abaixo indicamos, de forma muito preliminar, algumas das posições onde podem ser
imaginados acessos ao interior do parque. É importante ressaltar, no entanto, que este é um desenho
que intenciona simplesmente ilustrar esta ideia, mas que certamente precisa ser desenvolvido com
atenção e cuidado antes de se tornar uma proposta mais consistente e precisa, de zoneamento do
Plano de Manejo.

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Valorização da Fisionomia Florestal como Elemento Histórico e serviços ecossistêmicos,
preservação das jaqueiras

A presença do remanescente de Mata Atlântica na região do talvegue, no Parque Natural Municipal


das Águas Escondidas, é bastante importante uma vez que se encontra inserido na área urbana de
Niterói.

Esse remanescente é formalmente classificado como pertencente a fitofisionomia denominada Floresta


Ombrófila Densa (FOD), uma das fisionomias que compõem a Mata Atlântica e a mais impactada pelo
desmatamento desse bioma. O FOD se caracteriza pela floresta sempre verde, isto é, florestas que
possuem espécies que não perdem folhas na estação mais seca do ano, configurando o aspecto sempre
úmido e sombreado do local. Devido a essa característica, esse ambiente é um dos principais
fornecedores de serviços ecossistêmicos (SE) da Mata Atlântica. Serviços ecossistêmicos traduzem a
interdependência entre a integridade e saúde dos ecossistemas com o bem-estar humano (Shimamoto,
2016). Podemos citar como exemplos de SE, a regulação do microclima (ambiente não fica tão quente), a
fixação de carbono (diminuição da poluição), balanço hídrico (nascentes não secam), proteção contra

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eventos de chuva extrema (retenção de vazões de pico), oferta de alimentos (principalmente de frutos)
além, é claro, de proporcionar belo cenário a quem o visita, sendo um grande atrativo para o turismo.

Como o Parque Natural Municipal das Águas Escondidas está totalmente inserido nessa fitofisionomia,
é fundamental que suas áreas florestadas sejam conservadas, sem supressão de elementos da flora,
principalmente elementos arbóreos. Isto se dá, porque foram verificados diversos indivíduos
maduros (antigos), de várias espécies com grandes diâmetros, cujas relações já estão plenamente
estabelecidas entre si e com a fauna local, podendo causar desequilíbrio se manejados de forma
incorreta. Deste modo, frisamos que é extremamente importante que as espécies que ali se
encontram sejam conservadas, mesmo que não sejam nativas, sobre o preço de perdas
identitárias. Por exemplo, as Jaqueiras que, por não serem nativas, costumam ser suprimidas sem
que suas relações com as outras espécies sejam levadas em consideração. Além disso, as
Jaqueiras oferecem sombra e umidade aliviando as altas temperaturas do território fluminense e,
principalmente, são fontes de alimento não somente para a fauna, mas também para uma cidade
caracterizada pela grande diferença social de seus habitantes.

Valorização e Preservação da Arquitetura e da Infraestrutura Remanescente

O conjunto de construções remanescentes da Chácara do Vintém, a ruína da casa principal,


construção do início do século XIX, com estrutura e laje de cobertura bastante íntegra, precisam ser
valorizados e preservados. Ali se vendiam barricas d’água por 1 vintém, e ao longo de muitos anos
assim foi conhecida toda a região. Isso não deve ser esquecido. A construção é bonita, bem
proporcionada, e pode abrigar um centro de referência socioambiental e histórico, e manter
atividades importantes para os habitantes do entorno.

O Aqueduto é sem dúvida um patrimônio importantíssimo, pois representa em argamassa e engenho


construtivo um pedaço da história de Niterói. Por sinal, um pedaço de história muito pouco conhecido
pela população, o que somente reforça a necessidade de atribuir a essas construções o destaque e
valor que merecem. É importante também entender que no tempo da construção, destas obras de
infraestrutura hídrica, o sucesso da cidade dependia dos mananciais adjacentes ao seu núcleo
urbano. Por isso, valorizar a memória desta obra significa valorizar a cidade que mantem uma relação
saudável com a biodiversidade e saúde das suas florestas. Assim, arquitetura e floresta fazem parte
de um mesmo conjunto a recuperar e oferecer à população.

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FRENTES DE PESQUISA

Mapeamento de espécies significativas (Pesquisas em Etnobotânica, História e Arqueologia)

Dentre as espécies presentes na lista florística local (levantamento que já foi realizado por empresa
privada), espécies prioritárias para conservação podem ser identificadas. Essa é uma frente de
trabalho possível no Parque a curto prazo. São espécies endêmicas (que só podem ser encontradas
nesse local) ou espécies ameaçadas de extinção (presentes na lista oficial de espécies da flora
ameaçadas de extinção).

Além disso, é possível identificar espécies madeireiras, medicinais, alimentícias entre outras.
Levantamentos etnobotânicos podem ser realizados no local com entrevistas aos moradores mais
idosos e levantamento de dados na literatura e nas coleções botânicas sobre a flora local.

Pesquisa dos legados socioecológicos da paisagem do Parque da Água Escondida

Foi constatado um enorme potencial para se realizar um estudo sobre os legados socioecológicos
que atualmente estão impressos na paisagem do PNMAE. Este estudo inclui levantamento
sistemático de todas as ruínas do sistema de captação hídrica do Século XVIII e das ruínas do Clube
do século XX, com coleta de informações geoespaciais precisas (com uso de GPS GARMIM
MAPS64X) e descrições detalhadas dos elementos históricos e culturais encontrados no local.

Também poderá ser realizado um estudo das características fitossociológicas da estrutura e composição
da vegetação, em torno dos pontos de ruínas, bem como a caracterização e levantamentos de dados
referente aos potenciais novos ecossistemas que compões as feições ecológicas do lugar.

Por fim, o LaBEH também está interessado em realizar investidas exploratórias na paisagem do
PNMEA para mapear outros legados socioecológicos tais como carvoarias, outras ruínas, caminhos
antigos, e outras estruturas humanas que podem estar escondidas nas matas do PNMEA.

Pesquisa da História de ocupação do Morro da Boa Vista

Esta pesquisa deve abarcar as várias fases de ocupação do Morro. Deve também levantar dados
sobre a evolução da cidade que o circunda (inclusive os impactos da construção da Ponte Rio-Niterói
no bairro) e das comunidades atuais que vivem no entorno do parque.

Esta pesquisa deve ter como eixo uma Análise Histórica da Paisagem, de forma a instrumentar
futuras intervenções no sentido de uma continuidade dos saberes e vivências ali já registrados.

e-mail: contatomaonajaca@gmail.com site: www.maonajaca.com

arquivo: 2022-06-22-ATA-VisitaPNMAE-R02.docx Página 21


Chamada à Ação

As recomendações e as Pesquisas enunciadas acima defendem a ideia de valorização das ações


possíveis, em oposição às ações ideais, como forma de planejar objetivos pragmáticos e
efetivamente alcançáveis.

Por isso, queremos agradecer e felicitar a que

ipe que participou da visita do dia 22. Junto somos mais inteligentes e capazes.

A equipe que participou da visita na trilha de acesso ao cume do Morro da Boa Vista, área de reflorestamento recente.

Fotos de Vicente Leal, Marisa Furtado de Oliveira e Alexandro Solorzano

Niterói, 26 de julho de 2022

e-mail: contatomaonajaca@gmail.com site: www.maonajaca.com

arquivo: 2022-06-22-ATA-VisitaPNMAE-R02.docx Página 22

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