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No dia 22 de junho de 2022, foi realizada visita ao Parque Natural Municipal da Água Escondida com
o intuito de abrir frentes de pesquisa e colaborações que apoiem a Prefeitura Municipal de Niterói na
construção de conceitos, sugestões e ações que possam incorporar-se ao projeto de construção do
parque, em desenvolvimento pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e
Sustentabilidade (SMARHS).
PARTICIPANTES
Valéria Lima Marques de Sousa – Bióloga Botânica, Mestre em Educação, Gestão e Difusão em
Biociências; Analista e Educadora Ambiental na Secretaria Municipal de Ambiente e Saneamento do
Arraial do Cabo (SEMAS); docente da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC).
arquivo: 2022-06-22-ATA-VisitaPNMAE-R02.docx
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LABORATÓRIO DE SISTEMÁTICA E BIOGEOGRAFIA VEGETAL (LaSBiv)
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – INSTITUTO DE BIOLOGIA
Padre João Claudio Nascimento - Mestre em Teologia pela PUC-RJ e em Direito Canônico pela
Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Historiador pela UniLassalle Niterói-RJ
PERCURSOS
PERCURSO 1
Subida do talvegue onde se situava a antiga Chácara do Vintém, a partir do acesso ao parque pela
Rua Andrade Pinto até o antigo estacionamento do Clube da CEDAE, hoje abandonado.
Ao longo deste percurso foram identificadas árvores de valor significativo, seja pelos serviços
ecossistêmicos prestados, seja pela oferta de produtos florestais não-madeireiros. Alguns indivíduos
estão nomeados e identificados através de etiquetas de campo, conforme a numeração do
Levantamento Florístico e Arbóreo encomendado pela PMN. O produto final deste levantamento
ainda não foi recebido.
Logo ao entrar no recinto do parque pelo portão de acesso ao antigo Clube da CEDAE, é visível, à
esquerda da guarita, o patamar de fundação de antigas edificações já demolidas. O entorno desse
patamar é local de algumas jaqueiras de grande porte, sendo uma delas especialmente frondosa e
produtiva (PAP 3,17mts etiqueta no. 95200). Os indivíduos compõem a paisagem da entrada e
produzem frutos avantajados, mesmo no final da safra deste ano, como verificado em visita anterior
no dia 22 de abril.
Medição de três Jaqueiras de grande porte - PAP 2,61 (95192) e 2,46, 1,65 mts - localizadas próximo ao patamar de fundação
de antigas edificações já demolidas.
Logo atrás da ruína da sede, seguindo a trilha que acompanha o fundo do talvegue natural do terreno,
encontram-se 3 amplos patamares que constituem a base para o sistema de captação da água da
Chácara do Vintém. Em cada um dos mencionados patamares, vemos construções diretamente
ligadas a esse sistema de captação. Solidamente construído, o sistema é um exemplo de tecnologia
simples, porém extremamente eficiente para captação de recursos hídricos.
Para além destas áreas de talvegue e de replantio, o restante do parque permanece ocupado por
uma cobertura herbácea composta por espécies de gramíneas exóticas como o capim colonião
(Megathyrsus maximus (Jacq.) BKSimon & SWLJacobs), e com a presença do cambará
(Moquiniastrum polymorphum (Less.) G. Sancho) uma espécie arbórea pioneira típica de pastos
abandonados no estado do Rio de Janeiro.
Clube da CEDAE
Subindo diretamente pelo fundo do talvegue do terreno, aproximadamente 200 metros após a entrada
do parque encontra-se a ruína do Clube de funcionários da CEDAE.
Estacionamento da CEDAE
O patamar onde anteriormente estava o estacionamento dos usuários do Clube da CEDAE encontra-se
tomado por vegetação em estágio inicial de regeneração de médio porte. Na sua entrada é possível
O estacionamento está localizado exatamente após o final da área florestada do talvegue. A partir
dele inicia-se uma encosta exposta à insolação de norte que permanece desflorestada, apesar de
esforços iniciais de replantio já terem acontecido no local.
PERCURSO 2
Descida a partir do acesso ao parque existente ao final da Rua Andrade Pinto, seguindo pela Rua
Ponte Ribeiro e pelas ruinas do aqueduto até as ruínas do reservatório de decantação. Ao final,
subida ao cume do Morro da Boa Vista.
Ruínas do Aqueduto
No local onde termina a urbanização da Rua Ponte Ribeiro encontramos uma trilha que segue por cima do
antigo aqueduto. Há momentos em que ele se apresenta praticamente soterrado e outros em que os arcos
são perfeitamente visíveis e em razoável estado de preservação. Porém, o simples fato de o aqueduto
funcionar como base de uma trilha de acesso ao parque já indica o estado de abandono e o tanto que esta
obra de infraestrutura histórica carece de ações que a valorizem e preservem.
Neste percurso há sinalização recente feita pela Prefeitura, que busca orientar o frequentador sobre a
importância do sítio para a cidade, seu caráter histórico, citando a legislação que permitiu a criação
da Unidade de Preservação a partir da municipalização da Chácara do Vintém.
Nosso percurso seguiu o aqueduto até o reservatório de decantação situado aos fundos da edificação
existente na Rua Andrade Pinto no. 81.
Este reservatório está próximo a um dos limites do Parque, a menos de 30 metros em linha
horizontal, dos fundos da pedreira situada na Rua Indígena, que funcionou como jazida de pedra para
as obras da Ponte Rio-Niterói.
Esta proximidade certamente causou vários impactos ao conjunto da obra do aqueduto durante o tempo
em que a pedreira esteve ativa. Em vários pontos do trajeto até o reservatório é possível perceber que o
terreno sofreu escorregamentos que hoje se encontram amparados pela estrutura do aqueduto.
Ou seja, uma obra originalmente elevada do solo como estratégia de proteção da água que
transportava, encontra-se hoje funcionando como arrimo improvisado dos fundos das casas da Rua
Andrade Pinto.
A partir do reservatório seguimos uma das trilhas que sobem em direção ao topo da pedreira. Neste trecho
é visível o resultado do grande trabalho de reflorestamento já realizado pela equipe da CLIN. Este trabalho
de plantio utiliza mudas geradas no horto localizado na mesma pedreira que tanto impactou as ruínas.
Muitas árvores nativas, em estágio final de crescimento, marcam a paisagem de quem faz esse trajeto.
Parece ser o caso de que algumas espécies tiveram maior sucesso, no processo de reflorestamento, em
especial goiabeiras, aroeiras e algumas outras espécies identificadas com mais frequência pela nossa
equipe de visita, dominando de certa forma a paisagem.
Na beira da encosta a vista que se descortina de toda a Baía de Guanabara é ampla e privilegiada,
como em um mirante. Este ponto pode de fato ser aproveitado com esta vocação pelo projeto do
Parque, o que criará um grande atrativo para os visitantes.
Vista ampla da Baía de Guanabara a partir do topo da Pedreira do Morro da Boa Vista.
Do alto da pedreira o grupo seguiu até o cume do Morro da Boa Vista. O caminho acontece pela
cumeeira desta vertente do morro, junto a sua face noroeste. Ao longo do caminho é visível o
trabalho de reflorestamento mais recente. Em toda essa face o replantio encontra-se em estágio
menos avançado que na encosta oposta, onde está o aqueduto. Certamente, a maior incidência solar
prejudica o desenvolvimento das mudas e a ocorrência de incêndios sazonais (cujos rastros são
visíveis ao longo do trajeto) minam os esforços do trabalho de reflorestamento.
CONCLUSÕES
A construção das recomendações que elencamos a seguir partiram de três estratégias de base que
estruturam nossa visão sobre o Parque da Água Escondida. São elas:
A adoção destas estratégias pode ser o embrião para a construção de um parque que extrapola a sua
percepção como área de ócio e contemplação. Com elas pretendemos oferecer uma visão do parque
como uma Paisagem Produtiva, onde a população também pode desenvolver atividades que mudem
seu cotidiano, através ações comunitárias e de capacitação profissional.
A utilização da floresta existente como atrativo para a visitação é um dos potenciais inquestionáveis
do Parque que agora se cria. Contudo, a interação da população com a floresta pode ser ampliada ao
oferecer mais que espaços de ócio e passeio.
O PNMAE é cercado pelos bairros São Lourenço, Cubango, Fonseca, Fátima e Pé Pequeno, com
uma comunidade local que já faz uso da área verde como mirante, espaço de caminhada na mata,
aproveitamento de água, pastoreio com cavalos e consumo de frutas. Devido à vista privilegiada no
Morro da Boa Vista e a presença do patrimônio histórico do aqueduto, ruínas da bica e da Chácara
do Vintém, aliado ao uso comunitário da área já existente, é possível realizar a formação de
condutores ambientais locais que possam atuar na unidade de conservação, apoiando na
consolidação do uso público da unidade de conservação, a partir de uma visitação ordenada, com
finalidade recreativa, esportiva, turística, ecoturística, histórico-cultural, ecopedagógica, interpretativa,
sensibilizadora, científica, cênica contemplativa e artístico-cultural.
Neste sentido, as jaqueiras localizadas no fundo do talvegue têm enorme potencial, pois fornecem
matéria prima para projetos de processamento e beneficiamento de jacas verdes como alimentos
salgados. Ou seja, além da sombra e da umidade que oferecem ao visitante despreocupado, as
jaqueiras podem funcionar como base para geração de alimento, renda e capacitação profissional
para a população da cidade, em especial aos moradores do entorno do parque.
As unidades de conservação (UC) podem ter áreas tangíveis e intangíveis, bem como o grupo ao qual
pertencem já impõem limitações de uso. No caso do PNMAE, trata-se de uma UC de proteção integral,
Áreas antropizadas no passado onde a vegetação arbórea já está estabelecida são identificada como
registro histórico e encontram-se em área com vegetação secundária em estágio médio a avançado,
cumprindo o papel de prestar serviços ecossistêmico e alterando o microclima, podem ter seu manejo
sem o abate de árvores, mesmo em caso de espécies exóticas, quando houver alternativa para o
controle da propagação, como no caso das jaqueiras, que pode ter a colheita dos frutos realizada
para que não haja aumento da população, com possível aproveitamento dos frutos no preparo de
pratos salgados e doces, o que pode ser realizado localmente a partir do processamento da jaca pela
comunidade local.
O Parque da Água Escondida é uma unidade de preservação cujos limites foram definidos pela mancha
urbana da cidade existente. Isto significa que é uma floresta rodeada por cidade em todas as direções.
No gráfico abaixo indicamos, de forma muito preliminar, algumas das posições onde podem ser
imaginados acessos ao interior do parque. É importante ressaltar, no entanto, que este é um desenho
que intenciona simplesmente ilustrar esta ideia, mas que certamente precisa ser desenvolvido com
atenção e cuidado antes de se tornar uma proposta mais consistente e precisa, de zoneamento do
Plano de Manejo.
Como o Parque Natural Municipal das Águas Escondidas está totalmente inserido nessa fitofisionomia,
é fundamental que suas áreas florestadas sejam conservadas, sem supressão de elementos da flora,
principalmente elementos arbóreos. Isto se dá, porque foram verificados diversos indivíduos
maduros (antigos), de várias espécies com grandes diâmetros, cujas relações já estão plenamente
estabelecidas entre si e com a fauna local, podendo causar desequilíbrio se manejados de forma
incorreta. Deste modo, frisamos que é extremamente importante que as espécies que ali se
encontram sejam conservadas, mesmo que não sejam nativas, sobre o preço de perdas
identitárias. Por exemplo, as Jaqueiras que, por não serem nativas, costumam ser suprimidas sem
que suas relações com as outras espécies sejam levadas em consideração. Além disso, as
Jaqueiras oferecem sombra e umidade aliviando as altas temperaturas do território fluminense e,
principalmente, são fontes de alimento não somente para a fauna, mas também para uma cidade
caracterizada pela grande diferença social de seus habitantes.
Dentre as espécies presentes na lista florística local (levantamento que já foi realizado por empresa
privada), espécies prioritárias para conservação podem ser identificadas. Essa é uma frente de
trabalho possível no Parque a curto prazo. São espécies endêmicas (que só podem ser encontradas
nesse local) ou espécies ameaçadas de extinção (presentes na lista oficial de espécies da flora
ameaçadas de extinção).
Além disso, é possível identificar espécies madeireiras, medicinais, alimentícias entre outras.
Levantamentos etnobotânicos podem ser realizados no local com entrevistas aos moradores mais
idosos e levantamento de dados na literatura e nas coleções botânicas sobre a flora local.
Foi constatado um enorme potencial para se realizar um estudo sobre os legados socioecológicos
que atualmente estão impressos na paisagem do PNMAE. Este estudo inclui levantamento
sistemático de todas as ruínas do sistema de captação hídrica do Século XVIII e das ruínas do Clube
do século XX, com coleta de informações geoespaciais precisas (com uso de GPS GARMIM
MAPS64X) e descrições detalhadas dos elementos históricos e culturais encontrados no local.
Também poderá ser realizado um estudo das características fitossociológicas da estrutura e composição
da vegetação, em torno dos pontos de ruínas, bem como a caracterização e levantamentos de dados
referente aos potenciais novos ecossistemas que compões as feições ecológicas do lugar.
Por fim, o LaBEH também está interessado em realizar investidas exploratórias na paisagem do
PNMEA para mapear outros legados socioecológicos tais como carvoarias, outras ruínas, caminhos
antigos, e outras estruturas humanas que podem estar escondidas nas matas do PNMEA.
Esta pesquisa deve abarcar as várias fases de ocupação do Morro. Deve também levantar dados
sobre a evolução da cidade que o circunda (inclusive os impactos da construção da Ponte Rio-Niterói
no bairro) e das comunidades atuais que vivem no entorno do parque.
Esta pesquisa deve ter como eixo uma Análise Histórica da Paisagem, de forma a instrumentar
futuras intervenções no sentido de uma continuidade dos saberes e vivências ali já registrados.
ipe que participou da visita do dia 22. Junto somos mais inteligentes e capazes.
A equipe que participou da visita na trilha de acesso ao cume do Morro da Boa Vista, área de reflorestamento recente.