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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÓMICAS

CULTURA DE RICINUS COMMUNIS

Edson Chibequete

Março, 2022
CULTURA DE RICINUS COMMUNIS

Edson Chibequete

Este trabalho de carácter avaliativo, está


direccionado ao docente da cadeira de
Oleicultura, na Faculdade de Ciências
Agronómicas.

Engº Samuel N. Miguel Mussava, Msc

Março, 2022
ÍNDICE
1. Introdução 1
1.1. Objectivos 2
1.1.1. Gerais 2
1.1.2. Específicos 2
2. Metodologia 2
3. Origem e Características da Mamona 3
4. Produção Mundial Regional e do País ..........................................................................4
5. Exigências Edafoclimaticas ...........................................................................................6
6. Sistema de Cultivo ........................................................................................................8
7. Controle de Pragas e Doenças .......................................................................................9

8. Derrivados e Utilização da Mamona ...........................................................................10


9. Conclusão ....................................................................................................................12
10. Referências Bibliográficas ..........................................................................................13
1. INTRODUÇÃO

A busca mundial pela sustentabilidade ambiental, com base na substituição progressiva dos
combustíveis minerais derivados do petróleo, responsáveis diretos pelo efeito estufa, por
combustíveis renováveis de origem vegetal, dentre eles o biodiesel do óleo da mamona, criou
uma perspectiva real para a expansão do seu cultivo, em escala comercial no semi-árido
brasileiro, principalmente na agricultura familiar, que já tem tradição no cultivo desta
oleaginosa (BELTRÃO et al., 2005).
A origem desta planta é muito discutida, já que existem relatos, em épocas bastante
longínquas, de se cultivo na Ásia e na África. A diversificação de um grande número de
variedades desta planta, encontradas tanto no continente africano, como no asiático,
impossibilita qualquer tentativa de estabelecer uma procedência efetiva da mamona.
Alguns pesquisadores acreditam que a mamona tenha sido originária da África, mais
precisamente da Etiópia; essa região situa-se entre os paralelos 5º e 15ºS. No Brasil
a mamona é conhecida desde a era colonial quando dela se extraía o óleo para lubrificar as
engrenagens e os mancais dos inúmeros engenhos de cana.
De qualquer forma, menção dela é feita desde a mais remota antigüidade, pois segundo
autores clássicos já era conhecida à época dos antigos egípcios que a apreciavam como planta
milagrosa, sendo igualmente utilizada na lndia desde os tempos imemoriais para os mais
diversos fins. A Ricinus communis L., conhecida popularmente como mamona, pé-de-
mamona, mamoneira, carrapato  e rícino, é uma planta da família das euforbiáceas, originária
da Ásia Meridional, e sua semente é conhecida como mamona ou carrapato.
Recebe outras designações: em algumas regiões da África é abelmeluco, na língua
inglesa é castor bean, na língua espanhola é ricino, higuerilla, higuereta e tártago.
Seu principal produto derivado é o óleo de mamona, também chamado óleo de rícino.
Embora seja usado na medicina popular como purgativo, este óleo possui largo emprego na
indústria química devido a uma característica peculiar: possui uma hidroxila (OH) ligada na
cadeia de carbono. Não existe outro óleo vegetal produzido comercialmente com esta
propriedade. Há plantas do gênero Lesquerella que também produzem óleo hidroxilado, mas
ainda não são cultivadas comercialmente. Outra importante propriedade do óleo de mamona é
ser composto entre 80 e 90 por cento por um único ácido graxo (ácido ricinoleico), o qual lhe
confere alta viscosidade e solubilidade em álcool a baixa temperatura. Pode ser utilizado
como matéria prima para o biodiesel, mas a quase totalidade do óleo produzido no mundo
tem sido utilizado pela indústria química para produtos de maior valor agregado.
O Biodiesel feito a partir da mamona é considerado um dos melhores do mercado por ser o
mais denso e viscoso e pela sua característica de ser o único óleo glicerídico solúvel em
álcool a baixas temperaturas[2].
Os principais países produtores de mamona são a Índia (74%), a China (13%), o Brasil
(6,1%) e Moçambique (2,5%) (2011, FAO), sendo os principais consumidores China, Estados
Unidos, França, Alemanha e Japão. No Brasil a produção está concentrada no Estado
da Bahia (67%), seguida do Ceará (15%), Minas Gerais (11%) e Pernambuco (3%).
A temperatura ideal de cultivo deve ser entre 20 a 35 °C para que haja produção que assegure
valor comercial, com a temperatura ótima para a planta em torno de 28 °C.

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1.1. OBJECTIVOS
1.1.1. GERAIS:
 Estudo completo da cultura de mamona
1.1.2. ESPECÍFICOS:
 Origem e Classificação cientifica
 Estrutura e Fisiologia da cultura
 Amanhos culturais e Exigências edafoclimaticas
 Pragas e combate
 Seus derivados e utilidade

2. METODOLOGIA

Para compilação deste trabalho foi usado material didáctico‫׃‬

 Livros electrónicos;
 Artigos PDF;
 Biblioteca On-line.

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3. ORIGEM E CARACTERÍSTICAS DA MAMONA

A mamona (Ricinus communis L.), pertence à família Euphorbiaceae.


A mamona é uma planta muito exótica de origem afro-asiática. Nativa e muito resistente ela é
encontrada em grande quantidade na Etiópia, na região do Sennaar e Índia. A mamona é uma
planta originária de regiões onde ocorrem chuvas tropicais de verão na África, sendo
cultivada atualmente em regiões úmidas mas também em regiões semi-áridas.

A mamoneira (Ricinus communis L.) é uma das 7000 espécies da família das euforbiáceas,
possivelmente originária da antiga Abissínia, atual Etiópia, no continente africano, também
conhecida no Brasil como carrapateira, palma-crísti e enxerida; em espanhol: higuerilla,
higuerete ou higuera; em francês: ricinu; em inglês: castor bean e, em alemão: wunder-baun.
Apresenta metabolismo fotossintético C3, ramificação caulinar do tipo simpodial, raízes
fistulosas; vários tipos de expressão de sexualidade; elevadas taxas de respiração e
particularidade da inflorescência. Nos tipos normais apresenta as flores masculinas na parte
inferior e femininas na parte superior, com polinização do tipo anemófila. (BELTRÃO &
SILVA, 1999). Segundo Beltrão et al. (2001), a espécie Ricinus communis L. é polimórfica,
com seis subespécies e 25 variedades botânicas e centenas de cultivares como Sipeal 28, IAC
38, Campinas, BRS 149 (Nordestina), BRS 188 (Paraguaçu) entre outras.

A mamoneira apresenta grande variação no hábito de crescimento, cor da folhagem e caule,


tamanho das sementes, coloração e conteúdo do óleo, sendo uma planta perene quando as
condições ambientais, sobretudo temperatura e umidade, permitem (WEISS, 1973;
MAZZANI, 1983). De acordo com Popova & Moshkin (1986), a mamoneira pode atingir até
dez metros de altura e viver mais de dez anos. A altura da planta é controlada por fatores
genéticos e ambientais (MILANI, 2006). Atualmente a mamoneira está classificada, segundo
Popova & Moshkin (1986), como: Subdivisão-Fanerogamea ou espermatophita; Filo-
Angiospermae; Classe-Dicotiledonea; Subclasse-Archichlamydeae; Ordem-Geraniales;
Família-Euphorbiaceae; Gênero-Ricinus e Espécie-Ricinus communis

É uma planta de hábito arbustivo, com diversas colorações de caule, folhas e racemos
(cachos), podendo ou não possuir cera no caule e pecíolo. Os frutos, em geral, possuem
espinhos e, em alguns casos, são inermes. As sementes apresentam-se com diferentes
tamanhos, formatos e grande variabilidade de coloração.

A mamona é uma das oleaginosas mais cultivadas pelos agricultores familiares em regiões
caracterizadas pelo défice hídrico devido a baixa precipitação. Sua peculiaridade de resistir a
ambientes adversos, principalmente àqueles de elevada restrição hídrica, desperta o interesse
de agricultores que vêem, nessa cultura, uma fonte alternativa de renda. A espécie e
originária do continente africano, provavelmente seu centro de origem seja a etiópia.
Contudo, se dispersou por todo o mundo e se adaptou as mais diferentes condições
edafoclimáticas.

O requerimento hídrico considerado ideal para a espécie varia entre 750mm e 1500mm;
contudo, a espécie é capaz de produzir satisfatoriamente desde que receba, até o início da
floração, de 400mm à 500mm de água (Távora,1982). Nessa análise de demanda hídrica,
deve-se levar em consideração não somente a precipitação, mas também o balanço hídrico.

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Assim, em estudo realizado por Souza et al (2013) em condições de sequeiro, verificou-se
que a mamoneira apresentou evapotranspiração diária de 2,43mm, sendo essa similar as
variações da precipitação pluvial, perfazendo 342,5mm durante todo ciclo de crescimento e
desenvolvimento da cultura.

Além de sua resistência a seca, a espécie apresenta outras características desejáveis, como a
produção de óleo e torta. As sementes de mamona apresentam de 25% a 49% de óleo, que
apresenta elevada qualidade e é de grande interesse no mercado internacional. Em sua
extração (por prensagem das sementes a quante ou a frio ou por solventes), obtém-se um
produto com aproximadamente 90% de ácido graxo (ácido ricinoleico), que contém uma
hidroxila; esse fator é um diferencial desse óleo, pois o torna solúvel em álcool à baixa
temperatura, muito viscoso e com prioridades físicas especiais (International Castor Oil
Association,2005).

4. PRODUÇÃO MUNDIAL REGIONAL E DO PAÍS

Atualmente, os maiores produtores dessa cultura são: Índia, China, Moçambique e Brasil,
onde a mamoneira foi introduzida pelos portugueses no período colonial com intuito de
utilizar o óleo extraído de suas sementes para a iluminação e para a lubrificação de eixos de
carroças e de engrenagens dos engenhos de cana-de-acuçar.

A área plantada com mamona hoje no Brasil é calculada em aproximadamente 160 mil
hectares. O País é o terceiro maior exportador do óleo de mamona, participando com cerca de
12% do mercado mundial e seus principais clientes são Estados Unidos, Japão e Comunidade
Européia. A Bahia é o maior produtor nacional, sendo responsável por 92% da colheita.
Porém, de acordo com o zoneamento agroecológico, há ainda mais de 3,3 milhões de hectares
aptos no Brasil para o cultivo em condições de sequeiro, onde seria possível produzir até 1,8
bilhão de litros de óleo vegetal (ANUÁRIO BRASILEIRO DA AGROENERGIA, 2006).
Estimativas referem que a mamona teria condições de fornecer mais de 60% do biodiesel em
substituição ao diesel hoje utilizado no mundo. Segundo pesquisadores da Embrapa Semi-
Árido, para substituir 2% do consumo interno de diesel serão necessários 786 milhões de
litros de biodiesel, com base no consumo de 2003.

Desse volume, 293 milhões de litros (40%) deverão ser obtidos a partir de óleo de mamona e
considerando uma produtividade agrícola da cultura de 1,8 t/ha e o rendimento industrial em
óleo de 4 a 5%, será necessário o plantio de 360 mil ha e investimentos da ordem de R$ 370
milhões. Foi identificado também um déficit de 55% entre a área plantada de mamona e a
necessária para a produção de biodiesel, considerando que todo o óleo de mamona seja
utilizado exclusivamente para esse fim, sendo essa uma grande oportunidade para os
agricultores familiares de todo o Brasil, principalmente da Região Nordeste.

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Em Moçambique estão a ser testadas neste momento diferentes variedades de semente de
rícino na localidade de Titimane, posto administrativo de Etatara, distrito de Cuamba, no
Niassa, para apurar o nível de adaptabilidade aos solos e clima desta região para a produção
de um novo tipo de plástico biodegradável, um produto considerado ambientalmente saudável
feito a partir do óleo extraído da semente de rícino.
Judite Massengele, governadora do Niassa, visitou recentemente aquela região do distrito de
Cuamba e, na ocasião, disse que caso os ensaios das diferentes variedades de rícino produzam
resultados positivos, a província avançará para uma produção em regime comercial.

A província do Niassa tem, de resto, uma longa tradição de produção desta planta, mas o seu
uso tem-se resumido a fins cosméticos, algo que poderá mudar se os resultados dos ensaios
concluírem a sua efectividade em regiões com temperaturas elevadas. O óleo de rícino tem,
além do mais, múltiplas aplicações, evidências científicas mostram ser ideal para motores de
alta rotação, nomeadamente os usados em aviões, foguetes espaciais, sistemas de freios dos
automóveis, produção de tintas, colas e aderentes. Por ser um óleo tóxico, é usado na
indústria de produção de insecticidas, fungicidas, corantes, fibras sintéticas, vernizes, sabões,
fabrico de materiais plásticos biodegradáveis entre outras.

Manuel Delgado, director geral da Sociedade Algodoeira do Niassa, SAN, empresa do grupo
João Ferreira dos Santos, diz que a sua firma foi contactada por representantes de grandes
grupos empresariais sediadas, sobretudo, na Índia, para se envolver no projecto de produção
de rícino.

Por considerar, citando o ditado popular, que “o segredo é a alma do negócio”, não avançou
detalhes sobre o envolvimento da sua empresa no projecto de produção da planta. No entanto,
afirmou que a variedade de rícino que mostrar adaptabilidade às condições climáticas e dos
solos de Cuamba vai ser também produzida em alguns distritos da província de Nampula.
Acrescentou que a fábrica pertencente ao grupo JFS na localidade de Geba, distrito de
Memba, actualmente desactivada, será usada para extracção de óleo de rícino. Um bom
negócio e, para mais, sustentável, numa época em que, por todo o mundo, cresce a aposta em
produtos sustentáveis para alimentar o sector industrial.

O Distrito de Matutuíne, na Província de Maputo, está potenciar a produção de óleo de rícino


com objectivo de exportar. De acordo com administração local a procura pelo produto é
grande. O Rícino é uma planta que nasce em abundância no distrito de Matutuine na
província de Maputo. É conhecida pela sua capacidade de tratar o cabelo e a pele, quando
transformada em óleo. Para tirar proveito das suas propriedades que vão além da produção
cosmética, o governo local decidiu investir nesta cultura para fins de exportação.

A procura pelo produto é maior no distrito. Segundo administrador, a União Europeia e


alguns países da Ásia já mostraram interesse de obter o óleo de Rícino para indústria de
aviões. Enquanto isso, as mulheres da região vão promovendo o produto. Clara Jeremias está
investir neste negócio e conta alguns segredos desta planta.

Clara explica que as mulheres sobretudo da zona norte do país são as que mais procuram o
óleo de rícino. Uma mulher entrevistada pela nossa reportagem diz que vende dois à cinco
litros de óleo de rícino por dia e já foi requisitada para expôr o óleo na Facim.

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5. EXIGÊNCIAS EDAFOCLIMATICAS

Latitude e Altitude

A mamoneira é uma planta xerófila e heliófila, vegeta bem em climas tropicais e subtropicais
e é explorada comercialmente entre as latitudes 40o N e 40o S. No Brasil ela é encontrada
como planta asselvajada desde o Rio Grande do Sul até a Amazônia. A mamoneira é
encontrada vegetando em altitudes desde o nível do mar até 2.300 m. No entanto, para a
produção comercial, recomenda-se o cultivo em áreas com altitude na faixa de 300 m a 1.500
m acima do nível médio do mar. A altitude também interfere na expressão sexual da
mamona, apesar da base genética, estando diretamente relacionada com a temperatura.
Quando cultivada em regiões com altitude abaixo de 300 m, há maior produção de massa
verde em detrimento da produção de cachos, além da planta perder energia pela respiração
noturna, resultando na queda da produtividade. Isso provavelmente ocorre por causa da
temperatura mais elevada. Diante de tamanha influência na fisiologia da mamoneira, a
altitude tem sido critério de forte consideração ao se delinear o zoneamento da cultura, pois
interfere em outros fatores, como o fotoperiodismo, taxa de nebulosidade diária, densidade da
radiação solar diária, temperatura e umidade relativa do ar, bem como altera a relação de
flores femininas/masculinas e também o número médio de flores femininas por cacho.

Pluviosidade/umidade

A mamoneira é considerada como planta tolerante à seca, provavelmente graças ao seu


sistema radicular bem desenvolvido, chegando a alcançar, nos tipos comerciais, até seis
metros de profundidade. A falta de umidade no solo, mesmo na fase da maturação dos frutos,
favorece a produção de sementes pouco pesadas e com baixo teor de óleo. Quando cultivada
em solos mais profundos, cultivares que apresentam maior desenvolvimento da raiz principal
tendem a ter melhor desempenho no período de seca.

A maior exigência de água desta oleaginosa ocorre no início da fase vegetativa. Ela produz
economicamente em áreas onde a precipitação pluvial mínima até o início da floração seja em
torno de 500 mm. Chuvas fortes podem provocar a queda dos frutos, proporcionando perdas.
Na fase que vai desde a floração até a maturação dos frutos, muita umidade relativa e
temperaturas mais amenas podem favorecer o desenvolvimento de doenças, principalmente
do mofo-cinzento. Pluviosidades entre 600 mm e 700 mm proporcionam rendimentos
superiores a 1.500 kg ha-1, sendo viável economicamente em áreas onde a precipitação pluvial
mínima esteja entre 400 mm e 500 mm .

Temperatura

Para que haja produção que assegure valor comercial, a variação da temperatura deve ser de
20 oC a 35 oC, estando a temperatura ótima para a planta em torno de 28 oC. Temperaturas
muito elevadas, superiores a 40 oC, provocam aborto das flores, reversão sexual das flores
femininas em masculinas e redução do teor de óleo nas sementes. Temperaturas infra e
supraótimas interferem na produtividade da cultura: ambientes com temperatura noturna em
torno de 30 oC aumentam a respiração celular e diminuem a taxa fotossintética, reduzindo o
crescimento e o número de frutos por cacho.

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Embora a mamoneira seja encontrada como planta asselvajada em diversas regiões do Brasil,
como planta cultivada, ela se adapta melhor aos climas quentes. Assim o Nordeste apresenta
regiões ideais para seu cultivo. Quase todos os estados do Nordeste dispõem de clima com
temperatura e pluviosidade boas para a cultura. A região Nordeste é favorecida pelo orvalho,
que representa uma entrada de energia no sistema e produz bem em ambientes onde a
temperatura noturna não seja elevada, ou seja, em torno de 20  oC. O que não ocorre em baixas
altitudes – caso do litoral do Nordeste, cuja temperatura do ar, à noite, atinge frequentemente
mais que de 30 oC, aumentando a respiração oxidativa mitocondrial e reduzindo a fotossíntese
líquida, o crescimento em geral, reduzindo o número de frutos dos cachos, elevando o
número de flores masculinas e promovendo maior taxa de aborto das flores femininas.

Solo

A mamoneira desenvolve-se e produz bem em vários tipos de solo, com exceção daqueles de
textura muito argilosa, que apresentam deficiência de drenagem. Solos profundos, com boa
drenagem, de textura franca e bem balanceado quanto aos aspectos nutricionais, favorecem o
seu desenvolvimento. O sistema radicular da mamoneira tem capacidade de explorar as
camadas mais profundas do solo, que normalmente não são atingidas por outras culturas
anuais, como soja, milho e feijão, promovendo o aumento da aeração e da capacidade de
retenção e distribuição da água no solo.

A mamoneira é exigente em fertilidade, devendo ser cultivada em solos com fertilidade


média a alta, porém, solos com fertilidade muito elevada favorecem o crescimento vegetativo
excessivo, prolongando o ciclo e expandindo, consideravelmente, o período de floração.
Tanto solos ácidos como alcalinos têm efeito negativo no crescimento e desenvolvimento das
plantas. A cultura prefere solos com pH entre 5 e 6,5, produzindo em solos de pH até 8,0. Por
ser uma espécie que, durante os estágios iniciais de desenvolvimento, expõe o solo ao
impacto das gotas de chuva, seu cultivo deve ser feito em áreas onde a declividade seja
inferior a 12%, obedecendo as técnicas de conservação do solo. O solo para plantio de
mamona deve ser bem drenado, pois a planta é extremamente sensível ao encharcamento,
mesmo que temporário.

Cerca de três dias sob encharcamento pode provocar morte das plantas. Solos com alta
salinidade também são pouco recomendados, pois a presença de alta concentração de sais
pode prejudicar o crescimento da planta. O cultivo da mamoneira em solo impróprio pode
constituir sério fator de degradação dos solos de uma região, pois, graças a essa cultura
apresentar um baixo índice de área foliar, deixa o solo mais susceptível ao impacto das gotas
de chuva.

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6. SISTEMA DE CULTIVO

A época de plantio mais indicada para o cultivo da mamona é o início do período chuvoso,
quando as condições de umidade permitirão maior germinação e pegamento das plântulas,
principalmente nas condições semiáridas, nas quais atrasos no plantio poderão reduzir o
estande de plantas, uma vez que as sementes podem não germinar ou aquelas que
germinarem podem não conseguir sobreviver à estiagem que se segue ao longo do período
chuvoso. Época de plantio: outubro a novembro. A medida que o plantio se afasta desse
período há queda na produtividade.
Espaçamento: variável conforme a altura da planta. Para cultivo de porte alto, cultura solteira,
o espaçamento de 2,5 a 3,0m entre as plantas. A necessidade de sementes para um hectare de
3 a 4kg. O cultivar de porte médio Guarani deve ser plantado no espaçamento de 1 x 1 m ou
1,50 x 0,50m. O gasto de sementes por hectare de 8 a 10kg. No espaçamento indicado, deve-
se deixar, após a germinação, uma planta por cova.
Calagem e adubação: aplicar calcário dolomítico 90 dias antes do plantio, de acordo com a
análise de solo, para elevar o índice de saturação por bases a 60% e o teor de magnésio a um
mínimo de 4mmolc/dm3. No plantio, aplicar 15kg/ha de N, 40 a 80kg/ha de P2O5 e 20 a
40kg/ha de K2O. Em cobertura, aplicar 30 a 60kg/ha de N, 30 a 40 dias após a germinação.
A mamona sensível à acidez do solo e exigente em nutrientes, apresentando boa resposta em
produtividade à correção do solo com calcário e fertilizantes.
Controle da erosão: Plantio em nível.
Tratos culturais: O crescimento da mamoneira lento, exigindo duas ou mais operações de
cultivo mecânico ou manual para mantê-la livre de mato nos primeiros sessenta dias do
desenvolvimento da cultura.

A mamoneira adapta-se aos mais diferentes tipos de solo, pois, além da tolerância ao défice
hídrico, essa espécie possui sistema radicular profundo, o que lhe permite explorar maior
volume de solo. Contudo, seu cultivo em solos de baixa fertilidade compromete seu
crescimento e desenvolvimento,assim como a produção e qualidade do óleo produzido. Para
evitar perdas, deve-se realizar a amostragem do solo para fins de recomendação de adubação.
Em estudo desenvolvido por Severino et al.(2006b), constatou-se que a adubação com
nitrigênio(N) e potássio(K), ao interferir na expressão sexual da mamoneira responde
positivamente a doses crescentes de N,fósforo(P) e K, atingindo maiores valores de matéria
seca, área foliar, número de folhas e diâmetro do caule (Rodrigues et al.,2011).

Para agricultores familiares do semiárido, pode-se recomendar ainda a utilização de adubos


orgânicos a fim de reduzir custos com adubação química. De acordo com Severino et al.
(2006a), a mamoneira responde positivamente ao fornecimento de nutrientes via adubação
química ou orgânica, com aumentos significativos no crescimento, no desenvolvimento e na
produtividade. Além disso, o material orgânico proporciona melhoria na aeração e retenção
de água no solo.

Considerando o cultivo em sequeiro, um dos aspetos mais relevantes e a escolha da época de


plantio, pois a seleção inadequada poderá resultar em prejuízos consideráveis resultantes da
não germinação de sementes ou da obtenção de estande reduzido de plantas, do aumento nos
custos com replantio, das perdas na produtividade devido ao baixo desenvolvimento
vegetativo das plantas e das perdas na qualidade do óleo, dentre outros.

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Ainda que a mamoneira apresente tolerância ao estresse hídrico e se desenvolva bem nos
mais diversos tipos de solo, as questões edafoclimáticas não podem ser negligênciadas. A
escolha da época de plantio deve ser feita de forma que o ciclo de cultura se ajuste ao maior
período de concentração de chuvas, a fim de que as cultivares possam atingir máximas
produtividades (Lopes et al., 2013). Por isso, estudos de zoneamento agroclimático e
agroecológico para essa cultura devem ser levados em consideração no momento da escolha
da área de plantio e da cultivar a ser plantada. Além disso, as políticas públicas voltadas para
a agricultura familiar de sequeiro dependem do zoneamento para serem efetivadas (ou seja,
áreas não contempladas no zoneamento não podem receber auxílio ou incentivo federal).
Assim, para agricultores familiares que dependam de incentivos do governo federal, e de
fundamental importância o conhecimento do zoneamentoda cultura. O zoneamento climático,
tanto para a cultura de mamona quanto para diversas outras culturas, e divulgado pelo
Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (Mapa) e, anualmente, são apresentadas
portarias que se referem a cultura ou a safra do ano vigente. Assim, os agricultores, sempre
que necessário, devem recorer ao Mapa para obterem informações atualizadas sobre o
zoneamento da cultura desejada, principalmente para definir o período de semeadura, o tipo
do solo e as cultivares mais indicadas.

Durante o plantio, a profundidade de semeadura pode variar conforme o tipo de solo e as


condições de umidade. Sob condições de reduzida umidade ou de baixa capacidade do solo,
como e o caso de composição mais arenosa, deve-se optar por plantios mais profundos. Já
nos casos de solos com maior disponibilidade de água, como ocorre em barragens
subterrâneas durante perodo chuvoso, deve-se optar pr plantios mais próximos à superficie
do solo. No geral, a profundidade média de 5cm tem sido suficiente na maioria dos solos

Os cultivares de porte alto são indicados para plantio em consorciação com culturas
alimentícias e de ciclo curto, como milho, arroz, feijão, abóbora: plantar a mamoneira em
fileira dupla, espaçando 1m entre as linhas e 1 m entre as plantas.
Deixar espaço de 4 a 5m entre as fileiras duplas de mamoneira, para outra cultura, de acordo
com as recomendações técnicas. Esse sistema de produção possibilita aproveitamento
racional da pequena propriedade, com aumento do rendimento por área.

7. CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS

A produção da mamona é limitada por vários fatores, sendo as doenças um dos principais que
afetam a cultura. O cultivo da mamona está sujeito ao ataque de inúmeros patógenos, dentre
os quais, destaca-se o mofo cinzento causado por Amphobotrys ricini, considerada como a
doença mais destrutiva da cultura. O mofo cinzento afeta as inflorescências, os cachos e as
sementes, reduzindo a produção e o teor de óleo nos frutos, podendo inclusive levar à perda
total da produção caso medidas de controle não sejam tomadas no início do desenvolvimento
da doença (LIMA et al., 2001).

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Fusariose, bacteriose das folhas e mofo cinzento devem ser controlados com rotação de
culturas, erradicação e queima das plantas. O mofo cinzento ocorre nas inflorescências e
frutos e provoca o achatamento das sementes. Pode ter a incidência diminuída quando se
adotam espaçamentos mais largos em anos e/ou locais de pluviosidade alta, podendo também
ser controlado com iprodione. Quando se cultiva mamona em regiões em que predominam as
culturas da soja e feijão, poder haver ocorrência do percevejo verde Nezara, porém não há
inseticidas registrados até janeiro.

8. DERRIVADOS E UTILIZAÇÃO DA MAMONA

A mamoneira se destaca ainda pela sua múltipla aplicação industrial (ricinoquímica) e


apresenta boas perspectivas de utilização como fonte energética (biodiesel) no Brasil e no
mundo. Seu principal produto derivado é o óleo de mamona, também chamado óleo de rícino.
Embora seja usado na medicina popular como purgativo, este óleo possui largo emprego na
indústria química devido a uma característica peculiar: possui uma hidroxila (OH) ligada na
cadeia de carbono.

O óleo de mamona possui uma gama muito extensa de aplicações: é utilizado como matéria
prima para fabricação de batom, é utilizado como lubrificante de motores, incluindo turbinas
de avião a jato, motores de foguetes e etc. Tem larga aplicação de tintas, vernizes, sabões,
detergentes, inseticidas, fungicidas, bactericidas, papel carbono, velas, crayon, produtos
sintéticos, plásticos, produtos farmacêuticos, nylons, desinfetantes, revestimentos protetores,
adesivos, borrachas isolantes, colas especiais, tubos especiais para irrigação, graxas especiais
para navios e aviões, chapas e engrenagens, aditivos para combustíveis, cosméticos, lentes de
contacto, fluídos especiais para transmitir pressões hidráulicas.

As características fisioquímicas do óleo de mamona o tornam único e muito demandado pelos


mais diversos setores industriais, podendo ser utlizado na fabricação de lubrificantes, tintas,
isolantes, germicidas, fungicidas, insecticidas, vernizes, nylon, policloreto de vinila (PVC),
impermeabilizantes de tecidos, espessantes, plastificantes, antiespumantes, graxas e sabões
especiais, bem como na composição de borracha natural e sintética, lacas, corantes, anilinas,
cosméticos e medicamentos farmacêuticos (Chierice; Claro Netp, 2007). Os resíduos de
extração do óleo também são aproveitados, como é o caso da glicerina, que é utilizada nas
indústrias cosmética e farmacêutica, e da torta (de elevado valor protéico), que pode ser
utilizada na adubação e alimentação animal.

Para utilização da mamona como ração, deve-se proceder a eliminação da sua toxicidade,
pois a torta de mamona apresenta substâncias nocivas, como a ricina, a ricinina e alguns
complexos alergênicos que podem causar até a morte do animal. Após a eliminação do
componente tóxico, a torta da mamona pode ser excelente alternativa do ponto de vista
nutricional para ovinos (Marinho et al., 2014) e pode ser utilizada em até 67% de substituição
do farelo de soja na alimentação (Pompeu et al., 2012). Em outro estudo, Vieira et al. (2010)
concluíiram que o farelo de mamona destoxificado pode substituir em até 100% o farelo de
soja. Assim, em se tratando de ovinos, a mamona deve ser incluída na dieta de acordo com a
viabilidade econômica de substituição do farelo de soja (Silva et al., 2010).
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Observação semelhante e encontrada para vacas em lactação; a inclusão de até 10% de farelo
de mamona na dieta total pode ser recomendada, ficando condicionada ao preço do farelo
(Souza,2014). Contudo, o processo de eliminação de toxidez da torta de mamona ainda não é
totalmente aplicável para fins de alimentação animal, uma vez que os métodos físicos que
envolvem a submissão da torta a altas temperaturas ou métodos químicos, como a aplicação
de amônia, de cloreto de sódio ou hidróxido, carecem de maiores estudos antes de serem
considerados seguros e economicamente viáveis para o agricultor (Fonseca; Soto-Blanco,
2014).

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9. CONCLUSÃO

A mamona pode ser considerada a principal oleaginosa para produção de biodiesel, por ser de
fácil cultivo, de baixo custo e por ter resistência à seca, se adaptando muito bem a forte
exposição ao sol, altas temperaturas, requerendo no mínimo 500 mm de chuvas para seu
crescimento e desenvolvimento normal, sendo indicada para regiões semi-áridas (PORTAL
DO BIODIESEL, 2006). Seu manejo é fácil, com atenção especial apenas na hora da
colheita, pois precisa ocorrer em ambiente seco e quando ⅔ dos frutos dos cachos estiverem
maduros, com coloração marrom, sendo que a colheita é realizada, na maioria dos locais,
manualmente. Através do zoneamento agrícola, a Embrapa Semi-Árido já mapeou mais de
600 mil hectares de terras aptas ao cultivo da mamona, o que pode representar uma
alternativa para mais de 100 mil famílias de agricultores. A cultura possui forte componente
social, sendo cultivada por pequenos produtores familiares, em consórcio com outras
culturas, principalmente com feijão. Deve-se, entretanto, ser evitado o consórcio com outras
culturas muito competitivas, já que a mamona é muito sensível à competição causada pelas
plantas daninhas, que precisam sempre ser controladas para evitar o decréscimo de
rendimento. O óleo da mamona é o principal produto da planta, possuindo diversos usos,
dentre eles: lubrificante de turbinas, fabricação de náilon e resinas, tecidos, adesivos,
cosméticos, fios, tubos plásticos e tintas aproveitadas em pinturas de automóveis e em
impressoras, além de ser componente também utilizado nas telecomunicações e na
biomedicina. Deve-se ainda, dar destaque aos sub-produtos dessa planta. A torta de mamona
é o mais tradicional e importante deles e é obtida como residual da extração do óleo das
sementes. Seu uso, predominantemente, tem sido como adubo orgânico e é de boa qualidade,
eficiente na recuperação de terras esgotadas. Diferente das demais culturas, não pode ser
utilizada na alimentação animal devido à presença da ricina, uma substância tóxica quando
ingerida pelos animais ou humanos. Com tantos usos, ainda assim, é no biodiesel que a
mamona poderá ter sua grande aplicação, tendo em vista seu elevado teor de óleo.

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10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/mamona/arvore/
CONT000gzv5xmgo02wx7ha07d3364ss3b6wf.html

 www.ruralbioenergia.com.br
 https://www.diarioeconomico.co.mz/2021/03/09/trends/sustentabilidade/
mocambique-quer-produzir-plastico-biodegradavel-a-partir-de-semente-de-ricino/

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