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DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL DO ALGODOEIRO PELOS MÉTODOS DRIS E NÍVEIS

CRÍTICOS NO CERRADO GOIANO


Roberta de Freitas Souza1, Wilson Mozena Leandro1, Noé Barroso da Silva1, Nara Rúbia de
Morais1, Vladia Correchel1 (1Escola de Agronomia/Universidade Federal de Goiás, Rodovia
Goiânia Nova Veneza, Km 0, Campus II, CEP 74910-970, Goiânia, GO. E-mail:
robertadfs@yahoo.com.br)

Termos para indexação: nutrição de plantas, equilíbrio nutricional, algodão, fertilidade do solo,
diagnose foliar.

Introdução
O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial em área colhida. A área plantada em
2007/08 está praticamente definida em 1.095,1 mil hectares com previsão de produção de 3.995,2
mil toneladas de algodão em caroço, o que corresponde a uma produção de 1.558,3 mil toneladas de
algodão em pluma (Conab, 2008).
Atualmente, a região Centro-Oeste responde por 62,6% do algodão produzido no Brasil.
Somando-se a produção do Centro-Oeste com a da Bahia e do Maranhão, o algodão do cerrado
representa mais de 94,3% da produção nacional. O Estado de Goiás é o terceiro maior produtor de
algodão em áreas sob vegetação de Cerrado, estimam-se para esta safra 266,4 mil toneladas de
algodão em caroço (Conab, 2008).
A região do Cerrado brasileiro ocupa 207 milhões de hectares e representa
aproximadamente 4% da região tropical do mundo (Resck, 1997). A região é visada por possuir
características excelentes para o cultivo, como topografia plana que facilita a mecanização e
condições climáticas adequadas. Mas os solos de cerrado apresentam limitações químicas quanto ao
cultivo, devido à sua baixa fertilidade natural (Lopes, 1984). Para que o algodoeiro expresse seu
potencial depende da aplicação de bons programas de correção da acidez do solo e adubação. A
primeira etapa na implantação destes programas é a diagnose do estado nutricional da cultura.
A análise foliar é uma ferramenta muito eficiente neste diagnóstico, pois a planta é o
próprio extrator de nutrientes do solo, possibilitando um diagnóstico nutricional direto e preciso
(Beaufils, 1973). Os métodos mais empregados na interpretação dos resultados das análises foliares
são: Níveis Críticos (NC) e o Sistema de Diagnose e Recomendação (DRIS).
O método dos NC compara individualmente os níveis de cada nutriente com parâmetros
previamente tabelados (Chapmann, 1973; Walsh & Beaton, 1973). Essa técnica de interpretação
apresenta desvantagens, pois não leva em consideração a interação existente entre nutrientes, e a
variação de suas concentrações com o desenvolvimento da planta (Sumner, 1977).
O DRIS, preconizado por Beaufils (1973), incorpora o conceito de equilíbrio entre os
minerais nos tecidos das plantas (Baldock & Schulte, 1996). Esta técnica se baseia no cálculo de
índices para cada nutriente, avaliados em função da relação das razões dos teores de cada elemento
com os demais, comparando-os dois a dois, com outras relações consideradas padrões, cuja
composição mineral é obtida de uma população de plantas altamente produtivas. Índice DRIS
negativo indica que o nutriente está abaixo do nível ótimo, enquanto índice positivo indica que o
nutriente está acima do nível ótimo. Se o índice DRIS de um nutriente é igual a zero, este elemento
está em equilíbrio com os outros nutrientes (Beaufils, 1973; Reis Jr. & Monnerat, 2002). O
somatório dos valores absolutos destes índices fornece o índice de balanço nutricional (IBN), que
expressa o equilíbrio nutricional da cultura amostrada. Quanto menor o IBN, mais próximo a
amostra estará do equilíbrio nutricional (Beaufils, 1973; Walworth & Sumner, 1987). O objetivo
deste trabalho foi realizar o diagnóstico nutricional de uma lavoura comercial de algodão pelos
métodos DRIS e Níveis Críticos, indicando a ordem de limitação dos nutrientes.

Material e Métodos
O trabalho foi desenvolvido de dezembro de 2007 a abril de 2008, na Fazenda Cedro,
localizada no município de Silvânia, sudeste de Goiás, com a cultura do algodoeiro, cultivar FM
966, nas coordenadas 16° 29’ 21’’ S e 48° 22’ 32’’ W. As amostras foram retiradas em 108 pontos
distribuídos de forma representativa em toda área de um talhão de aproximadamente 250 ha. A
época de amostragem foi no florescimento pleno (aos 95 dias após o plantio), coletou-se a 5ª folha a
partir da ponta da haste principal (Malavolta et al. 1997). Em cada ponto retirou-se uma amostra
que foi composta de 10 folhas de algodão. Mais tarde, essas amostras farão parte do banco de dados
do DRIS para algodão da Universidade Federal Goiás (UFG).
Os teores foliares de nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg),
enxofre (S), cobre (Cu), manganês (Mn), Ferro (Fe), zinco (Zn) e boro (B) foram determinados
segundo metodologia descrita em Bataglia et al. (1978). Na interpretação da análise foliar pelo
Nível Crítico, utilizaram-se todas as amostras, calculando-se médias, valores máximos e mínimos,
interpretando segundo Malavolta (2006), conforme apresentado na tabela 1.
Na avaliação pelo método DRIS, as 108 amostras foram divididas, formando 7 unidades de
produção de forma representativa na área. Das unidades de produção, 5 foram formadas por 16
amostras e 2 por 14 amostras. Em cada unidade calculou-se a média dessas amostras que foram
utilizadas para o cálculo dos índices DRIS obtidos através do banco de dados da UFG para algodão,
com dados desde 2004. Nos cálculos utilizou-se a metodologia de Beaufils (1973). Para análise
estatística aplicaram-se testes univariados e o teste de Shapiro-Wilk.

Tabela 1. Níveis adequados de nutrientes na matéria seca de folhas de algodoeiro, no período


de florescimento.
N P K Ca Mg S
-----------------------------------------------------------------------(g kg-1)------------------------------------------------------
45-50 2,5-4,0 21-24 30-35 4-5 5-6
B Cu Fe Mn Zn
-----------------------------------------------------------------------(mg kg-1)----------------------------------------------------
40-50 8-10 100-150 60-70 25-65
Fonte: Malavolta (2006)

Resultados e Discussão
Na avaliação do estado nutricional pelo método NC, a interpretação dos nutrientes nas folhas
pelos valores médios (Tabela 2) não foi um bom indicativo para a análise foliar, pois as amostras
apresentaram alta amplitude entre os valores máximos e mínimos, o que distorce as informações
dos valores médios. Observa-se, porém, que apenas o nutriente B (44,3 mg kg-1) apresentou valor
médio dentro dos níveis adequados descritos por Malavolta (2006). Os valores médios dos
nutrientes N (41,6 g kg-1), P (4,5 g kg-1), Ca (35,8 g kg-1), Mg (5,4 g kg-1) e Cu (12,8 mg kg-1)
apesar de não estarem dentro dos níveis adequados, são valores próximos a eles. Já os valores
médios dos nutrientes K (13,8 g kg-1), S (2,1 g kg-1) e Zn (20 mg kg-1) estão muito abaixo dos níveis
adequados enquanto os nutrientes Fe (403,0 mg kg-1) e Mn (157,6 mg kg-1) apresentaram valores
médios muito acima desses níveis descrito por Malavolta (2006) na tabela 1.

Tabela 2. Valores máximos, mínimos, médias, coeficientes de variação (C.V.) e teste W (1) para
nutrientes N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Fe, Mn e Zn, obtidos pela análise foliar de 108 amostras de
folhas de algodoeiro, cultivar FM 966. Silvânia-GO. Safra 2007/2008.
Variável Mínimo Máximo Média C. V. (%) Teste W (1)
-1 26,6 56,0 41,6 10,82 0,98ns (2)
N (g kg )
-1 3,4 5,6 4,5 12,42 0,95**
P (g kg )
-1 10,6 21,4 13,8 17,26 0,92**
K (g kg )
-1 24,0 69,0 35,8 21,75 0,92**
Ca (g kg )
-1 2,0 8,0 5,4 24,51 0,94 **
Mg (g kg )
-1 0,7 3,1 2,1 26,99 0,92**
S (g kg )
-1
B (mg kg ) 36,2 109,6 44,3 38,02 0,51**
-1 8,0 17,0 12,8 18,72 0,94**
Cu (mg kg )
-1 156,0 957,0 403,0 33,66 0,89**
Fe (mg kg )
-1 48,0 275,0 157,6 21,01 0,96**
Mn (mg kg )
-1 14,7 26,4 20,0 11,35 0,98ns
Zn (mg kg )
(1) (2)
Teste de Shapiro-Wilk; Nível de significância do teste Shapiro-Wilk: * significativo no nível de 5%; **
significativo no nível de 1%; e ns não significativo.

Quanto à distribuição de freqüência para as variáveis da análise foliar (Tabela 3), os


nutrientes que apresentaram maiores porcentagens de amostras abaixo dos níveis adequados
segundo Malavolta (2006) na tabela 1 foram o S (100%), K (99,1%), Zn (99,1%), B (79,6%) e N
(71,3%). Os nutrientes Fe, Mn e Cu foram os que apresentaram um maior número de amostras
acima dos níveis adequados, respectivamente 100%, 98,1% e 78,7%.

Tabela 3. Distribuição de freqüência dos nutrientes N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Fe, Mn e Zn, obtida
pela análise de foliar de 108 amostras de folhas de algodão, cultivar FM 966. Silvânia-GO. Safra
2007/2008.
Critério de Interpretação (1)
Variável
Baixo Adequado Alto
---------------------------------------%------------------------------------
N 71,3 25,0 3,7
P 0,0 33,3 66,7
K 99,1 0,9 0,0
Ca 0,9 51,9 47,2
Mg 6,5 43,5 50,0
S 100,0 0,0 0,0
B 79,6 0,0 20,4
Cu 0,0 21,3 78,7
Fe 0,0 0,0 100,0
Mn 1,9 0,0 98,1
Zn 99,1 0,9 0,0
(1)
Baseado nos níveis adequados descritos por Malavolta (2006)
A ordem de limitação dos nutrientes, de acordo com os níveis críticos obtidos pela análise
foliar foi: S>K=Zn>B>N>Mg>Mn>Ca.
Na avaliação do estado nutricional pelo método DRIS, observa-se que os IBN (tabela 4)
apresentam valores altos em todas as unidades de produção, indicando um desequilíbrio nutricional
entre os nutrientes nos tecidos das plantas. Verificaram-se desordens nutricionais ligadas à
deficiência de todos os macronutrientes, no entanto, o maior desequilíbrio foi encontrado para o S,
este apresentou índices mais negativos em quase todas as unidades de produção, ocupando a
primeira posição em ordem de limitação. Em seguida, N e K são os nutrientes mais negativos nas
unidades. Esses resultados corroboram com os resultados de nutrientes mais limitantes por
deficiência pelo método dos NC.

Tabela 4. Índices DRIS, índice de balanço nutricional (IBN) e ordem de limitação para os grupos
de amostras de folha de algodão, cultivar FM 966. Silvânia-GO. Safra 2007/2008.
Unidade de Índices DRIS Ordem de limitação (deficiência a
IBN
produção N P K Ca Mg S Cu Fe Mn Zn B excesso)
1 -134 -68 -133 -38 -72 -137 126 54 199 89 108 1157 S>N>K>Mg>P>Ca>Fe>Zn>Cu>B>Mn
2 -143 -74 -99 -36 -57 -121 141 50 121 83 129 1055 N>S>K>P>Mg>Ca>Fe>Zn>Mn>B>Cu
3 -116 -60 -124 -38 -56 -123 129 51 142 89 100 1029 K>S>N>P>Mg>Ca>Fe>Zn>B>Cu>Mn
4 -141 -60 -123 -32 -51 -153 145 47 165 101 95 1112 S>N>K>P>Mg>Ca>Fe>B>Zn>Cu>Mn
5 -134 -73 -131 -10 -77 -221 160 16 184 141 106 1282 S>N>K>Mg>P>Ca>Fe>B>Zn>Cu>Mn
6 -132 -74 -147 -18 -73 -161 116 44 177 135 125 1202 S>K>N>P>Mg>Ca>Fe>Cu>B>Zn>Mn
7 -97 -79 -141 -7 -63 -117 80 39 177 118 83 1001 K>S>N>P>Mg>Ca>Fe>Cu>B>Zn>Mn

Todos os micronutrientes apresentaram desequilíbrios por excesso, ou seja, índices altamente


positivos, no entanto, os mais problemáticos foram Mn e Cu. Esses resultados também concordam
com o método dos NC.

Conclusões
1. Os macronutrientes S, N e K foram os mais limitantes para a cultura do algodoeiro obtido
pelas análises das amostras de folha, interpretadas tanto pelo método dos NC quanto pelo
DRIS.
2. Os dois métodos de interpretação dos resultados de análise foliar podem ser utilizados de
forma complemetar e isso é importante para permitir a elevação da produtividade de talhões
de lavouras de algodão de forma equilibrada e econômica.

Referências bibliográficas
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sufficiency range approaches for corn. Agron. J., v. 88, p. 448-456, 1996.

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CHAPMANN, H. P. Diagnosis criteria for plants and soils. University of California, Riverside, p.
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