Você está na página 1de 4

FITOSSOCIOLOGIA DE FRAGMENTOS FLORESTAIS A OESTE DA

FLORESTA NACIONAL DE IRATI, PR

Matheus Moraes e Silva, Silmara P. da Cruz, Karina Henkel Proceke,


Etienne Winagraski, Vânia Rossetto Marcelino (Orientadora), e-mail:
vania@irati.unicentro.br

Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Engenharia


Florestal/Irati, PR.

Ciências Agrárias / Conservação da Natureza (5.02.05.00-5)

Palavras-chave: Conservação; Floresta Ombrófila Mista; Fragmentos


Floresais

Resumo:

A fragmentação da Floresta Ombrófila Mista tem sido motivo de


estudos científicos como base para práticas de manejo e conservação. O
presente trabalho objetivou realizar o levantamento fitossociológico de sete
fragmentos florestais localizados a oeste da Floresta Nacional de Irati. Foram
amostrados indivíduos com PAP≥15,0cm em 30 parcelas de 10x10m,
obtendo-se 74 espécies pertencentes a 31 famílias, sendo 20 representadas
por apenas uma espécie. Araucaria angustifolia apresentou o maior Índice
de Valor de Importância e representa 10% dos indivíduos amostrados. Os
fragmentos estão mais homogêneos do que o padrão da floresta nativa.

Introdução

Na Floresta Ombrófila Mista ou Floresta com Araucárias, descrita por Veloso


et all (1991), destacam-se a araucária (Araucaria angustifolia) e outras
espécies, como a imbuia (Ocotea porosa), a erva-mate (Ilex paraguariensis),
canelas (Lauraceae), alguns membros da família Myrtaceae, entre outras. É
uma das ecorregiões mais importantes do sul do Brasil, tanto por sua
extensão quanto por sua exclusividade.
Cerca de 37% da área do estado do Paraná era composta por Matas
de Araucária (MACK, 1981). Porém, pesquisas da Fundação de Pesquisas
Florestais do Paraná - FUPEF (2001) alegam que restam menos de 1% de
mata original. A partir do século XX as ações antrópicas aceleraram a
degradação dos ecossistemas florestais. Os resultados foram paisagens
fragmentadas, divididas em manchas cada vez menores, mais isoladas e
cercadas por áreas abertas, pastagens, plantações e áreas urbanas
(FERNANDEZ, 2004).
O estudo fitossociológico é essencial para o conhecimento da
estrutura horizontal de uma floresta ou de um fragmento, caracterizando o
seu grau atual de desenvolvimento e conservação.

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.


Materiais e métodos

O levantamento fitossociológico foi realizado em uma paisagem situada na


região de Irati, centro-sul do Paraná. Köppen classifica o clima da região
como Cfb-temperado, apresentando verões amenos, chuvas distribuídas
durante o ano todo e inverno com geadas frequentes, o que favorece o
ecossistema de Floresta Ombrófila Mista (FOM).
A Floresta Nacional de Irati (FLONA), Centro-Sul do estado do
Paraná, contém o maior remanescente de floresta nativa da região (cerca de
1.200 ha). A oeste da FLONA foram estabelecidas 30 parcelas de 10x10m
distribuídas em sete fragmentos. Foram amostrados todos os indivíduos
arbóreos com PAP≥15cm. A altura foi estimada visualmente. O material
botânico coletado, fértil ou não, está sendo incorporado ao Herbário
Científico da UNICENTRO (HUCO).
Foram estimados (software FlorExcel, versão 1.0.4) os seguintes
parâmetros: Densidade, Frequência, Dominância, Índice de Valor de
Importância (IVI), Índice de Diversidade de Shannon (H’) e Equabilidade (J).

Resultados e Discussão

O levantamento resultou na presença de 548 indivíduos, dos quais 34


estavam mortos. Foram identificadas 74 espécies e 31 famílias, das quais 20
estão representadas por apenas uma espécie. As famílias que mais se
destacaram em riqueza foram: Myrtaceae (12), Sapindaceae (6), Lauraceae
(6), Aquifoliaceae (4), Fabaceae (4), Rutaceae (4) e Salicaceae (4).
FIGUEIREDO-FILHO (2006) em inventário realizado na FLONA cita a
ocorrência de 93 espécies distribuídas em 39 famílias botânicas.
Aproximadamente 10% dos indivíduos da comunidade amostrada foi
de Araucaria angustifolia, espécie predominante, tendo níveis de presença
em 76,67% das parcelas amostras, seguida de Campomanesia xanthocarpa
(53,33%) e Curitiba prismatica (46,67 %).
Apenas 2% dos indivíduos amostrados são representados por
espécies exóticas, como Citrus sp. (laranjeira e limoeiro), Eriobotrya japonica
(nêspera), Hovenia dulcis (uva-japão) e Ligustrum lucidum (alfeneiro).
A Tabela 1 mostra as espécies registradas por ordem decrescente de
IVI. As espécies de maior IVI foram: Araucaria angustifolia (28,72),
Nectandra grandiflora (17,15) e Campomanesia xanthocarpa (16,48).
Inventários realizados na FLONA também apresentam essas espécies com
o maior Índice de Importância (FIGUEIREDO-FILHO et al, 2006).
GERALDI, KOEHLER e KAUANO (2005) realizaram um estudo
fitossociológico no Município de Tijucas do Sul, PR, e Araucaria angustifolia
também apresentou o maior IVI (28,11). Neste mesmo trabalho, as espécies
encontradas em maior densidade foram Cupania vernalis (320 árv/ha),
seguida por Nectandra megapotamica (205 árv/ha). Os fragmentos no atual
trabalho apresentaram resultados diferentes da referência acima: menor
densidade para tais espécies, respectivamente 24 árv/ha e 37 árv/ha.

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.


Tabela 1 – Lista das espécies registradas e seus respectivos
parâmetros fitossociológicos: Abundância Relativa (Arel), Dominância
relativa (Drel), Frequência Relativa (Frel) e Índice de Valor de
Importância (IVI).

Espécie ARel DRel FRel IVI Vernonia discolor 0,55 0,22 0,98 1,75
Araucaria angustifolia 8,39 12,83 7,49 28,72 Espécie ARel DRel FRel IVI
Nectandra grandiflora 6,02 7,55 3,58 17,15 Ilex brevicuspis 0,55 0,21 0,98 1,74
C. xanthocarpa 4,93 6,34 5,21 16,48 Diatenopteryx sorbifolia 0,55 0,16 0,98 1,68
Clethra scabra 5,66 6,68 3,26 15,59 Symplocos uniflora 0,73 0,30 0,65 1,68
Curitiba prismatica 6,75 1,86 4,56 13,17 C. guazumifolia 0,55 0,12 0,98 1,64
Matayba elaeagnoides 2,37 4,89 2,93 10,19 Cordyline dracaenoides 0,55 0,09 0,98 1,62
Cinnamodendron dinisii 3,65 2,87 3,26 9,78 Criptocaria Ashernionian 0,18 1,06 0,33 1,57
Dicksonia sellowiana 3,28 4,25 1,95 9,49 Myrcia hatschbachii 0,55 0,21 0,65 1,40
Ocotea puberula 2,01 4,77 1,95 8,73 Syagrus romanzoffiana 0,36 0,35 0,65 1,36
Lauraceae spp. 3,28 3,34 1,95 8,58 Luehea divaricata 0,55 0,13 0,65 1,33
Ocotea odorifera 0,36 7,18 0,65 8,20 Nectandra lanceolata 0,36 0,28 0,65 1,29
Ilex paraguariensis 2,74 0,62 3,91 7,27 Ligustrum lucidum 0,73 0,23 0,33 1,28
Ocotea porosa 0,36 6,08 0,65 7,09 Zanthoxylum kleinii 0,36 0,22 0,65 1,24
S. commersoniana 3,65 1,87 1,30 6,82 Eugenia involucrata 0,36 0,19 0,65 1,20
N. megapotamica 2,01 2,09 2,61 6,70 Eucalyptus spp. 0,18 0,62 0,33 1,13
Casearia obliqua 1,64 1,12 2,61 5,37 Myrciaria trunciflora 0,36 0,41 0,33 1,10
Allophylus edulis 1,64 0,57 2,61 4,82 Laplacida fruticosa 0,36 0,06 0,65 1,07
Alsophila sp. 1,64 1,46 1,63 4,73 S. granuloso-leprosum 0,55 0,19 0,33 1,06
Mimosa scabrella 1,46 1,22 1,63 4,31 Casearia sylvestris 0,36 0,04 0,65 1,06
Drymis brasiliensis 1,46 0,78 1,95 4,19 Citrus aurantilofia 0,36 0,03 0,65 1,05
Zanthoxylum ridelianum 1,82 0,40 1,95 4,18 Ilex dumosa 0,36 0,26 0,33 0,95
Lithraea brasiliensis 0,91 1,57 1,63 4,11 Baccharis dracunculifolia 0,55 0,07 0,33 0,94
Casearia decandra 1,64 0,70 1,63 3,97 Jacaranda micrantha 0,36 0,19 0,33 0,88
Cupania vernalis 1,28 0,21 1,95 3,44 Myrciaria tenella 0,36 0,05 0,33 0,75
Schinus terebinthifolius 1,46 0,57 1,30 3,33 Dalbergia brasiliensis 0,18 0,23 0,33 0,74
Prunus myrtifolia 1,28 0,37 1,63 3,28 Cedrela fissilis 0,18 0,16 0,33 0,66
Ilex theazans 0,73 1,09 1,30 3,12 Sapindus saponaria 0,18 0,14 0,33 0,65
Myrsine coriacea 1,28 0,51 1,30 3,09 Myrtaceae spp. 0,18 0,14 0,33 0,65
Calyptranthes tricona 0,91 1,06 0,98 2,95 Erythroxylum deciduum 0,18 0,12 0,33 0,63
Eugenia uniflora 0,73 1,02 0,98 2,72 Vitex Megapotamica 0,18 0,11 0,33 0,62
Myrcia splendens 0,91 0,41 1,30 2,62 Picramnia parvifolia 0,18 0,09 0,33 0,60
Casearia sp 0,73 0,21 1,30 2,25 Citrus spp. 0,18 0,05 0,33 0,56
Myrsine umbellata 0,73 0,28 0,98 1,99 Eriobotrya japonica 0,18 0,04 0,33 0,55
Allophylus petiolulatus 0,73 0,19 0,98 1,90 Psidium cattleyanum 0,18 0,02 0,33 0,53
Styrax leprosus 0,91 0,33 0,65 1,89 Bauhinia forficata 0,18 0,02 0,33 0,52
Hovenia dulcis 0,91 0,60 0,33 1,84 Rubiaceae 0,18 0,02 0,33 0,52
Albizia edwallii 0,55 0,56 0,65 1,76

Segundo FIGUEIREDO-FILHO et al (2006), o Índice de Equabilidade


de alguns setores da FLONA se encontra entre 0,47 e 0,52. Nos fragmentos
atualmente amostrados, o Índice de Equabilidade médio foi de 0,59.
A média aqui encontrada para o Índice de Shannon foi de 3,73.
Segundo DURIGAN (1999), os valores desse índice para FOM situam-se
entre 1,50 e 3,50. Sendo assim, pode-se inferir pelos índices de Shannon e
Equabilidade que os fragmentos aqui analisados são mais homogêneos do
que o remanescente da FLONA em termos de diversidade, fugindo do
padrão da floresta não perturbada.

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.


Conclusões

Os fragmentos estudados estão alterados em sua estrutura horizontal


original, o que se verifica principalmente pela diminuição na riqueza de
espécies em comparação com a FLONA, pela Diversidade de Shannon e
pela invasão de espaço por espécies exóticas. Embora imagens de satélite e
fotografias aéreas possam mostrar grande quantidade de remanescentes
florestais na região, o estado de conservação não é o mesmo para todos.

Agradecimentos

Agradecemos aos professores, aos colegas de classe e ao Técnico Florestal


Gerson Lopes pela identificação das espécies in loco.

Referências

DURIGAN, M. E. Florística, dinâmica e análise protética de uma Floresta


Ombrófila Mista em São João do Triunfo – PR. Curitiba, 1999. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Florestal) – Setor de Ciências Agrárias,
Universidade Federal do Paraná.

FERNANDEZ, F. A. S. O poema imperfeito: crônicas de biologia,


conservação da natureza e seus heróis. 2. ed. Curitiba: UFPR, 2004.

FIGUEIREDO FILHO, A.; DIAS, A. N.; WATZLAWICK, L. F. Inventário das


florestas naturais na Floresta Nacional de Irati, Estado do Paraná. Irati:
UNICENTRO, 2006.

FUNDAÇÃO DE PESQUISAS FLORESTAIS DO PARANÁ (FUPEF).


Conservação do Bioma Floresta com Araucária: relatório final - Diagnóstico
dos remanescentes florestais. 2 v. Curitiba: FUPEF, 2001.

GERALDI, E.S.; KOEHLER, A. B.; KAUANO, E. E. Levantamento


fitossociológico de dois fragmentos da Floresta Ombrófila Mista em Tijucas
do Sul, PR. Revista Acadêmica, 2005, 3, 2, 27-36.

MACK, R. Geografia física do Estado do Paraná. 2a ed. Rio de Janeiro: José


Olympio, 1981.

VELOSO, H. P.; RANGEL-FILHO, A. L. R.; LIMA, I. C.A. Classificação da


vegetação brasileira adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro:
IBGE/DERMA, 1991.

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

Você também pode gostar