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Dezembro 2019
Brasileira
volume 8 número 3
ISSN: 2316-4670
11
Herpetologia
B rasileira
Uma publicação da Sociedade
Brasileira de Herpetologia
Conselho: Taran Grant, José P. Pombal Jr., Magno V. Segalla, Ulisses Caramas-
chi, Teresa C. Ávila-Pires, Marcelo Napoli, Márcio Borges Martins,
Diego J. Santana e Julián Faivovich.
Foto da capa:
Dendropsophus sp
Abunã - RO
@ Renato Gaiga
ISSN: 2316-4670
volume 8 número 3
Dezembro de 2019
Boana beckeri - Topótipo
Poços de Caldas - MG
@ Renato Gaiga
Informações Gerais
A revista eletrônica
Herpetologia Brasileira
é quadrimestral (com números em abril, agosto e dezembro) e
publica textos sobre assuntos de interesse para a comunidade
herpetológica brasileira.
Ela é disponibilizada em formato PDF apenas online, na pági-
na da Sociedade Brasileira de Herpetologia (www.sbherpeto-
logia.org.br) e nas redes sociais, ou seja, não há versão impres-
sa em gráfica. Entretanto, qualquer associado pode imprimir
este arquivo.
Leptodactylus latrans
Poços de Caldas - MG
@ Renato Gaiga
5
Seções
Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia:
Esta seção apresenta informações diversas sobre a SBH e é de responsabilidade da
diretoria da Sociedade.
Notícias de Conservação:
Esta seção apresenta informações e avisos sobre a conservação da herpetofauna
brasileira ou de fatos de interesse para nossa comunidade.
Resenhas:
Esta seção apresenta textos que resumem e avaliam o conteúdo de livros de
interesse para nossa comunidade.
Obituários:
Esta seção apresenta artigos avisando sobre o falecimento recente de um
membro da comunidade herpetológica brasileira ou internacional, conten-
do uma descrição de sua contribuição para a herpetologia.
História da Herpetologia
Notícias da SBH: Brasileira
Rachel Montesinos Teresa Cristina Ávila-Pires
(kelmontesinos@gmail.com) (avilapires@museu-goeldi.br)
Gabriella Leal Délio Baêta
(gabriellaleal7@gmail.com) (deliobaeta@gmail.com)
Notícias da Sociedade
Brasileira de Herpetologia
COMUNICADO DA DIRETORIA DA SBH A TODA
COMUNIDADE DE HERPETÓLOGOS
N
o dia 31 de dezembro se encer- que gentilmente aceitou fazer parte da
ra um ciclo iniciado em 2012 transição para a nova diretoria e que
com a posse de Márcio Mar- permanecerá atuando por mais dois
tins como Presidente da SBH. Des- anos. Agradecemos também todo apoio
de então, os membros da diretoria se e compreensão por parte da comunida-
mantiveram quase sempre os mesmos. de herpetológica ao longo dos últimos
Em janeiro próximo se inicia uma nova anos.
fase para a SBH, com a posse de Otá-
vio Marques como novo Presidente da Com os votos de uma excelente jornada
sociedade, quando praticamente toda à nova diretoria, nos despedimos da di-
diretoria será renovada. retoria da Sociedade Brasileira de Her-
petologia.
Para nós, da atual diretoria, foi uma
grande honra e um grande prazer po-
der contribuir para que nossa Socieda-
de continuasse representando e ofere-
cendo benefícios para a comunidade
herpetológica brasileira. Agradecemos
aos que foram membros da diretoria
Márcio Martins,
ao longo desses oito anos: Vívian Tre-
vine, Fausto E. Barbo, Giovanna Mon- Bianca Berneck,
tingelli, Roberta Graboski, Thaís Gue- Gabriella Leal e
des e, em especial, Rafael S. Henrique Rachel Montesinos
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Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notícias da S. B. H.
Notícias da Sociedade
Brasileira de Herpetologia
NOTA DOS EDITORES
N
este último volume de 2019 a no sudeste do Brasil. Revista Brasi-
Herpetologia Brasileira é ilus- leira de Biologia 49(1):241-249], sen-
trada com fotos de anfíbios do localidade tipo de oito espécies de
e répteis que ocorrem no Planalto de anuros: Boana beckeri (Caramaschi
Poços de Caldas, MG. As fotos são de & Cruz, 2004); Boana stenocepha-
autoria do Biólogo Renato Gaiga, que la (Caramaschi & Cruz, 1999); Boker-
tem realizado inventários na região de mannohyla vulcaniae (Vasconcelos &
Poços de Caldas. Giaretta, 2005); Ololygon longilinea
(Lutz, 1968); Ololygon ranki (Andrade
A região do Planalto de Poços de Caldas
& Cardoso, 1987); Pithecopus ayeaye
está situada na Serra da Mantiqueira
Lutz, 1966; Proceratophrys palustris
dentro do domínio morfoclimático da
Giaretta & Sazima, 1993; e Scinax cal-
Mata Atlântica, com elevações varian-
darum (Lutz, 1968).
do de 900 a 1600 m. A importância da
região para a herpetofauna pode ser
exemplificada com os trabalhos de Ber-
tha Lutz e Adão Cardoso [e.g. Lutz, B.
1966. Pithecopus ayeaye, a new brazi-
lian hylid with vertical pupils and gras-
ping feet. Copeia 1966(2):236-240;
Délio Baêta, & José P. Pombal Jr.
Cardoso, A.J., G.V. Andrade & C.F.B.
Haddad. 1989. Distribuição espacial Editores Gerais
em comunidades de anfíbios (Anura) Herpetologia Brasileira
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Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notícias Herpetológicas Gerais
Notícias
Herpetológicas Gerais
CONGRESSOS, REUNIÕES CIENTÍFICAS E WORKSHOPS
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Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notícias Herpetológicas Gerais
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Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notícias Herpetológicas Gerais
I XII Congreso
Latinoamericano de Herpetología e
II Congreso Boliviano de Herpetología
Data: 19 a 23 de outubro de 2020.
Local: Santa Cruz de la Sierra, Bolívia.
Informações: xiiclhbolivia2020@gmail.com
PRIMERA CIRCULAR
Comité organizador
xiiclhbolivia2020@gmail.com
16
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notícias Herpetológicas Gerais
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Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notícias de Conservação
Notícias de Conservação
ANFOCO II - ANFÍBIOS EM FOCO
N
o dia 26 de julho de 2019 acon- Seguindo os nossos princípios de unir, es-
teceu o “II ANFoCo: Anfíbios em timular e incluir, as discussões foram rea-
Foco”, evento organizado pelo lizadas tanto por profissionais experientes
ASG Brasil e já esperado pela comuni- quanto por estudantes, dando espaço para
dade herpetológica. Esta segunda edição que todos participassem e colaborassem
ocorreu em Campinas-SP, durante o IX para o desenvolvimento de estratégias
Congresso Brasileiro de Herpetologia e pertinentes aos tópicos. Previamente ao
foi em formato de workshop, onde os 79 workshop, grupos de especialistas em cada
participantes puderam discutir três temas um dos temas se reuniram para traçar o
emergenciais para a conservação de an- planejamento estratégico para execução
fíbios no Brasil: licenciamento ambien- ações e construção de material de apoio
tal, agrotóxicos e divulgação científica ao workshop. Ficamos muito satisfeitos
(Figuras 1-3). com o rumo das discussões e com esse tra-
balho em andamento, que não se resume
apenas ao workshop, pois cada grupo te-
mático continuará conectado, planejando
a melhor forma de contribuir efetivamente
para a conservação de nossos queridos an-
fíbios.
A
pesar de possuir uma ampla dis- Como primeiro passo da iniciativa, entre os
tribuição na região neotropical, o dias 4 e 7 de Novembro de 2019 foi realizado
gênero Atelopus é um dos grupos em Medellín, na Colômbia, o 1o Workshop
de anfíbios mais ameaçados do mundo. da Atelopus Survival Initiative (ASI)
Das 97 espécies descritas, 85% são consi- (Figura 1).
deradas ameaçadas de extinção, das quais
O encontro foi organizado pela Global
60% na categoria Criticamente em Perigo
Wildlife Conservation com apoio de Am-
(CR). Atualmente, 48 espécies são consi-
phibian Ark, Amphibian Survival Alliance,
deradas desaparecidas, sendo que 44 não
IUCN SSC Amphibian Specialist Group,
são vistas desde os anos 1990. Com o ob-
WCS Colômbia e Parque Explora.
jetivo de desenvolver um esforço interna-
cional colaborativo e coordenado para a Nosso país foi representado no evento
conservação do gênero, foi criada a Ate- pelo Grupo de Especialistas em Anfíbios
lopus Survival Initiative (ASI). Esta do Brasil (ASG Brasil), que também será
iniciativa pretende unir e mobilizar insti- responsável pela implementação da ASI
tuições acadêmicas, ONGs, governos, zoo- por aqui. Se você trabalha com Atelopus e
lógicos e outras organizações interessadas gostaria de se juntar à Iniciativa, entre em
na conservação de Atelopus, tanto a nível contato com o ASG Brasil (asgbrasil2@
regional quanto global. gmail.com).
19
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notícias de Conservação
PROJETO BROMELIGENOUS:
ALIANDO PESQUISA E EDUCAÇÃO EM PROL DA CON-
SERVAÇÃO DE ANFÍBIOS DE BROMÉLIA
Amanda Santiago F. Lantyer-Silva1, Fernanda C. F. Lirio2, João Filipe Riva Tonini3, Cássio Z. Zoc-
ca4, Claudio Nicoletti Fraga5, Cecilia Waichert2, Emily A. Kalnicky6, Euvaldo Marciano-Jr7, João
Victor Andrade Lacerda4, Juliana Alves2, Karen H. Beard8, Rafael Silva Cipriano4, Rodrigo Barbo-
sa Ferreira2
B
romélias são importantes pro- do bromélias e bromelígenas (bro-
motoras de biodiversidade na meligenous, em inglês) aquelas que
região Neotropical por oferece- possuem ciclo de vida exclusivamente
rem refúgio, alimento, umidade e água associado à água da chuva acumulada
para uma variedade de organismos entre as folhas de bromeliáceas. O uso
como algas, invertebrados e vertebra- dessas plantas para fins reprodutivos
dos. Entre os vertebrados, o grupo dos por anuros é um evento evolutivo raro,
anfíbios anuros é o mais associado a observado em poucos gêneros espe-
bromélias (Sabagh et al., 2017). Peixo- cialistas, como é o caso de Crossodac-
to (1995) classificou como bromelícolas tylodes (Leptodactylidae), Fritziana
as espécies de anuros que eventual- (Hemiphractidae), Phyllodytes (Hyli-
mente podem ser observadas ocupan- dae) e Ranitomeya (Dendrobatidae).
20
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notícias de Conservação
Figura 1. Palestra sobre a importância dos anfíbios oferecida aos moradores da co-
munidade de Nova Lombardia, área rural que circunda a REBIO Augusto Ruschi
em Santa Teresa, ES (2017).
astal plain in the state of Espírito Santo, Tonini, J. F. R., R. B. Ferreira & P. A.
southeastern Brazil. Papéis Avulsos de Pyron. Does plant-breeding in frogs re-
Zoologia de São Paulo, 57(34):445-449. present an adaptive radiation or an evo-
lutionary dead end? Em preparação.
Marciano-Jr, E., A. S. F. Lantyer-Silva
& M. Solé. A new species of Phyllodytes Sabagh, L., R. B. Ferreira & C. F. D. Ro-
Wagler, 1830 (Anura, Hylidae) from cha. 2017. Host bromeliads and their
the Atlantic Forest of southern Bahia, associated frog species: Further consi-
Brazil. Zootaxa, 4238(1): 135-142. derations on the importance of species
interactions for conservation. Symbio-
Orrico, V. G. D., I. R. Dias & E. Mar-
sis, 73(3):201-211.
ciano-Jr. 2018. Another new species of
Phyllodytes (Anura: Hylidae) from the
Atlantic Forest of northeastern Brazil.
Zootaxa, 4407(1):101-110.
28
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Trabalhos Recentes
Trabalhos Recentes
NOTA DOS EDITORES
Ruggeri, J.; L.P. Ribeiro, M.R. Pontes, C. Toffolo, M. Candido, M.M. Carriero,
N. Zanella, R.L.M. Sousa, L.F. Toledo. 2019. First case of wild amphibians in-
fected with ranavirus in Brazil. Journal of Wildlife Diseases 55(4): 897-902.
Doi: 10.7589/2018-09-224
R
anavirus é um vírus de fita dupla em massa de anfíbios e peixes poten-
associado a morte de anfíbios, cialmente associado com o ranavirus.
peixes e répteis no mundo todo. Animais mortos apresentaram ulcera-
O comércio internacional de animais ções na pele, hemorragias e edemas.
vivos criados para o consumo humano, Os autores também encontraram uma
como a rã-touro americana (Lithobates prevalência geral de 37% de quitrídios
catesbeianus), desempenha um papel de anfíbios na área e dois girinos de rã-
fundamental na disseminação do pató- -touro estavam coinfectados com am-
geno. No Brasil, o ranavirus foi repor- bos os patógenos. Os autores sugerem
tado apenas para rãs-touro mantidas que a interação entre os dois patógenos
em ranários. Os autores do trabalho deve ser investigada para melhorar a
encontraram girinos infectados na na- conservação global de vertebrados ec-
tureza tanto de espécies nativas quanto totérmicos.
da rã-touro e um caso de mortalidade
Editor: R. Henrique.
29
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Trabalhos Recentes
P
rojeções em relação a alterações T. torquatus; e finalmente uma população
climáticas até o final do século XXI de T. oreadicus, próxima à população mais
- especificamente no sul da Ama- ao norte de T. torquatus. No momento da
zônia e porção central da América do Sul captura foram mensuradas a temperatura
- apontam que as temperaturas médias corporal (Tc) e do microambiente (Ta) du-
nessas regiões pode aumentar em até 6 rante o período de atividade. Além disso,
ºC, enquanto os índices pluviométricos a “temperatura operacional” (To - hipó-
podem cair em até 20%. Tal processo pode tese nula de distribuição de temperaturas
ocasionar mudanças na distribuição geo- corporais que animais sem capacidade de
gráfica de determinadas espécies, modifi- regulação térmica experimentariam em
car e até destruir seus habitat, e culminar seus respectivos micro-habitat) foi men-
na potencial extinção de algumas delas. surada através do uso de modelos plásti-
Animais ectotérmicos possuem um inter- cos conectados a data loggers e colocados
valo térmico no qual sua atividade meta- nos potenciais microambientes utilizados
bólica é potencializada (Tp). Temperatu- pelos táxons. A Tp foi estimada a partir
ras abaixo e acima deste intervalo afetam de animais capturados e posteriormente
atividades de forrageamento, termorregu- mantidos em laboratório, onde os mesmos
lação e reprodução. Espécies com ampla eram monitorados individualmente den-
distribuição podem apresentar plasticida- tro de compartimentos que representavam
de em relação a aspectos de sua história um gradiente térmico. As populações de
natural e representam bons modelos para Tropidurus da região centro-oeste (latitu-
avaliar as consequências do aquecimen- des maiores) apresentaram considerável
to global. No presente estudo os autores porcentagem da amostra dentro da Tp.
analisaram táxons pertencentes ao grupo Entretanto, nas demais regiões a Ta exce-
de espécies de Tropidurus torquatus que deu a amplitude máxima da Tp, diminuin-
ocorrem no Cerrado. Na região sul e cen- do a eficácia da termorregulação conforme
tral deste bioma T. torquatus está associa- a diminuição da latitude. Estes resultados,
do a ambientes antropizados, enquanto aliado às maiores temperaturas e elevados
em latitudes menores este táxon é restrito níveis de alterações do habitat nas regiões
a regiões de mata de galeria. Foram anali- centrais e mais ao norte da área de estudo,
sadas três populações de T. torquatus que representam uma diminuição no tempo de
representam um gradiente latitudinal de atividade destes táxons, ameaçando a ma-
distribuição; uma de T. catalanensis re- nutenção destas populações frente às mu-
presentando a população situada na maior danças climáticas.
latitude analisada no estudo; uma de T.
etheridgei, sintópica à população central de Editor: D. S. Fernandes.
30
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Trabalhos Recentes
Diele-Viegas, L.M., F.P. Werneck, C.F.D. Rocha. 2019. Climate change effects on
population dynamics of three species of Amazonian lizards. Comparative Bio-
chemistry and Physiology, Part A 236: 110530. doi: https://doi.org/10.1016/j.
cbpa.2019.110530
M
udanças climáticas represen- odo de atividade era monitorada e para
tam um tema de extrema im- estimar as taxas reprodutivas e de cresci-
portância na esfera socioam- mento foram usados dados de campo e de
biental, política e econômica. Projeções literatura, sendo os indivíduos categoriza-
em relação a alterações na temperatura dos em neonatos, jovens e adultos. Foi cal-
média global até o final do séc. XXI variam culado o índice de tolerância que corres-
desde um aumento de pouco menos de 2 ponde à relação entre o limite superior de
ºC, em um cenário com diminuição mode- temperatura que restringe a atividade ani-
rada nos níveis dos gases de efeito estufa mal (temperatura voluntária máxima) e a
emitidos atualmente, até um incremento temperatura do micro-habitat que o ani-
de 3,7 ºC, caso tal diminuição não ocor- mal ocorre. Associado a isto foi utilizado
ra. Estes cenários representam desafios o modelo nascimento-morte para estimar
para diferentes organismos, incluindo os a relação entre as taxas de sobrevivência
lagartos, cuja capacidade de termorregu- e de crescimento e auxiliar no cálculo da
lação em ambientes mais quentes, aliada dinâmica populacional. Finalmente, fo-
à plasticidade comportamental e fisiológi- ram estimadas as taxas de crescimento
ca, determinará sua capacidade adaptati- considerando os dois cenários supracita-
va ou vulnerabilidade frente às mudanças dos de mudanças climáticas. Os resulta-
climáticas. A escassez de dados ecológicos dos mostraram que ambas as populações
e de história natural de lagartos dificulta de G. humeralis, além da população de N.
a compreensão da dinâmica populacional fuscoauratus da Reserva Ducke podem se
de vários táxons. No presente estudo os extinguir em ambos os cenários, enquanto
autores analisaram duas populações Ama- ambas as populações de A. ameiva podem
zônicas (Reserva Ducke e Floresta Nacio- sofre um decréscimo, porém não seriam
nal de Caxiuanã) de três espécies (Ameiva extintas localmente. Este foi o primei-
ameiva, Gonatodes humeralis e Norops ro estudo que avaliou a sensibilidade de
fuscoauratus). Os lagartos foram captura- populações de lagartos às mudanças cli-
dos através de busca ativa ou armadilhas máticas e demonstrou a possibilidade de
de funil e transportados para um labora- populações do mesmo táxon com ampla
tório de campo. Durante os experimentos distribuição apresentarem variações nos
os animais ficavam em compartimentos parâmetros avaliados, evidenciando a ne-
de madeira compensada. Sensores foram cessidade de novos estudos com este en-
distribuídos para monitorar as diferentes foque.
temperaturas da caixa visto que a mesma
formava um gradiente térmico. A tempe-
ratura corporal dos lagartos em seu perí- Editor: D. S. Fernandes.
31
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Trabalhos Recentes
Nascimento, L.R.S., N.J. Silva Jr., D.T. Feitosa, A.L.C. Prudente. 2019. Taxo-
nomy of the Micrurus spixii species complex (Serpentes, Elapidae). Zootaxa
4668 (3): 370-392. doi: 10.11646/zootaxa.4668.3.4
O
gênero Micrurus Wagler, 1824 como válidos, M. spixii e M. obscurus.
é o mais rico em espécies den- Os autores deste artigo revisaram a ta-
tre os gêneros de cobras-corais xonomia de M. spixii com base em da-
do Novo Mundo, contendo atualmente dos merísticos externos, morfometria
80 espécies válidas, que apresentam linear, padrão de coloração, osteologia
pouca variação em caracteres merís- craniana e morfologia do hemipênis.
ticos, mas grande diversidade de pa- Diferenças quanto ao padrão de colo-
drões de cor. As espécies de Micrurus ração, osteologia craniana e hemipênis
são encontradas latitudinalmente des- corroboraram a validação de M. spixii
de o sudoeste dos Estados Unidos até e M. obscurus, como espécies plenas,
o sul da América do Sul. Apesar do gê- sem subespécies. Essas duas espécies
nero ser reconhecido como um grupo podem ser diferenciadas principal-
monofilético, estudos ainda são neces- mente por uma combinação de condi-
sários para aprofundar o conhecimento ções de carácteres: M. spixii apresenta
sobre variação morfológica, variação um capuz cefálico preto, ausente em M.
geográfica, polimorfismo e dimorfismo obscurus; M. spixii apresenta espinhos
sexual das espécies. Quatro grupos de dispersos na face não sulcada do hemi-
Micrurus são reconhecidos com base pênis, enquanto em M. obscurus, os es-
em padrões de coloração, morfologia pinhos estão arranjados em fileiras; M.
do hemipênis e comprimento da cauda. spixii apresenta hemipênis capitado,
O complexo de espécies Micrurus spixii enquanto M. obscurus, parcialmente
Wagler, 1824 pertence ao grupo de 22 capitado; M. spixii tem ossos parietais
espécies sul-americanas que apresen- estreitos com as bordas posteriores afi-
tam tríades ao longo do corpo, um he- ladas, M. obscurus, tem ossos parietais
mipênis que pode ser capitado, ou não, largos com bordas posteriores elípti-
e uma cauda curta. Tradicionalmente, cas; M spixii tem dentes inoculadores
M. spixii era dividido em quatro subes- longos, versus “relativamente curtos”
pécies [M. s. spixii (Wagler, 1824), M. s. em M. obscurus.
martiusi Schmidt, 1953, M. s. obscurus
(Jan, 1872), e M. s. princeps (Boulen-
ger, 1905)], mas recentemente alguns Editor: A. O. Maciel.
autores indicaram apenas dois nomes
32
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Trabalhos Recentes
A
região do Escudo das Guianas tegrando dados genotípicos (genes mi-
(EG) abriga uma das maiores tocondriais e nucleares) e fenotípicos
e mais preservadas extensões (morfometria linear, morfologia exter-
de florestas tropicais do mundo, com na e morfologia hemipeniana) para de-
uma rica biodiversidade. Apesar da limitar espécies crípticas e melhorar a
realização de vários estudos dirigidos diagnose dos táxons reconhecidos. Os
a entender os padrões de distribuição resultados apontaram que A. schach é
das espécies em todo o EG, ainda per- um complexo de espécies contendo três
siste um limitado conhecimento sobre espécies novas, que foram descritas no
endemismo e riqueza de espécies para artigo. Após a revisão taxonômica, a
esta região. O gênero Atractus Wagler, distribuição de A. schachi sensu stric-
1828 contém aproximadamente 140 es- tu ficou restrita a Guiana, Suriname e
pécies, muitas destas com um históri- Guiana Francesa, a Norte do Tumucu-
co taxonômico complicado, por serem maque. A espécie nova, A. dapsilis, é
conhecidas apenas dos espécimes-tipo. conhecida de localidades no estado do
Portanto, dados sobre variação geográ- Amazonas e no estado do Pará, Bra-
fica, sexual, ontogenética e polimorfis- sil, ambas ao norte do rio Amazonas.
mo de coloração corporal, comum no A segunda espécie descrita no artigo,
gênero, inexistem para várias espécies. A. trefauti, tem como distribuição o
É o caso de muitas Atractus do EG, que leste da Guiana Francesa e localidades
além da escassez de dados sobre varia- ao norte do rio Amazonas, nos estados
ção, tem descrições originais muito bre- do Amapá e Pará, no Brasil. A terceira
ves ou imprecisas, com a ausência de espécie descrita, A. aboipuru, é conhe-
dados de proveniência e/ou destino do cida apenas para a localidade-tipo, no
material-tipo. Seis espécies de Atrac- estado do Amapá. Além disso, os auto-
tus são conhecidas para as áreas de res demonstraram o não monofiletis-
planície do EG: Atractus badius (Boie, mo do grupo A. flammigerus que havia
1827), A. favae (Filippi, 1840), A. flam- sido proposto recentemente por alguns
migerus (Boie, 1827), A. schach (Boie, autores com base principalmente em
1827), A. torquatus (Duméril, Bibron & morfologia do hemipênis.
Duméril, 1854) e A. zidoki Gasc & Ro-
drigues, 1979. Os autores revisaram a
sistemática do complexo A. schach in- Editor: A. O. Maciel.
33
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Trabalhos Recentes
N
esse estudo, herpetólogos duas placas queratinizadas e escuras
brasileiros, argentinos e uru- nas laterais das mandíbulas inferiores
guaios revisaram um pequeno de larvas, e o tamanho maior das pa-
grupo de pererecas, o grupo de Scinax pilas marginais na margem posterior
uruguayus (Scinaxinae, Hylidae). O es- do disco oral quando em comparação
tudo é focado em taxonomia, mas com com as papilas marginais laterais. Além
discussões sobre sistemática filogenéti- dessas características, eles acrescen-
ca. A revisão taxonômica inclui ainda a tam outros caracteres fenotípicos que
descrição de uma espécie nova, o que podem ser sinapomórficos para o gru-
faz com que o grupo passe a ter três es- po, totalizando 16 características que
pécies: S. uruguayus (Schmidt, 1944), podem ser usadas como diagnósticas.
S. pinima (Bokermann & Sazima, 1973) Os autores fornecem fotografias de ani-
e a nova espécie S. fontanarrosai. Para mais fixados e animais vivos, bem como
fazer a revisão, eles utilizaram morfolo- pranchas de alguns dos caracteres estu-
gia externa de adultos e larvas, osteolo- dados. E terminam o estudo recomen-
gia de adultos, morfologia bucofaríngea dando a categoria de “Least Concern”
de larvas, descrição de cantos e carió- na Lista Vermelha da IUCN, para as
tipo. Amostraram diversas localidades três espécies do grupo, com comentá-
das espécies, incluindo amostras da rios sobre distribuição das populações.
série-tipo e topótipos, desde o sudes-
te do Brasil (estado de Minas Gerais)
até o Uruguai e nordeste da Argentina, Editor: A. Sabbag.
e fornecem um mapa de distribuição
das amostras. Embora o grupo ainda
não tenha sido testado quanto à sua
monofilia, os autores discutem sinapo-
morfias já conhecidas para ele, que são
a íris bicolor dos adultos, redução das
membranas interdigitais, presença de
34
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Trabalhos Recentes
Nascimento, J., J.D. Lima, P. Suárez, D. Baldo, G.V. Andrade, T.W. Pierson,
B.M. Fitzpatrick, C.F.B. Haddad, S.M. Recco-Pimentel, L.B. Lourenço. 2019.
Extensive cryptic diversity within the Physalaemus cuvieri-Physalaemus
ephippifer species complex (Amphibia, Anura) revealed by cytogenetic, mito-
chondrial and genomic markers. Frontiers in Genetics 10: 719. Doi: https://
doi.org/10.3389/fgene.2019.00719.
E
sse trabalho investigou o com- zeram análises probabilísticas de deli-
plexo de espécies de Physalae- mitação de espécies com os dois tipos
mus cuvieri Fitzinger, 1826 e P. de marcadores moleculares. A inclu-
ephippifer (Steindachner, 1864) (Leiu- são das amostras amazônicas nos da-
perinae, Leptodactylidae). Physalae- dos já conhecidos para essas espécies
mus cuvieri tem sido recuperado como mostrou que a diversidade molecular é
parafilético em relação a P. ephippifer, maior do que se conhecia, e a parafilia
inclusive com algumas linhagens inter- de P. cuvieri em relação a P. ephippi-
nas que em literatura são vistas como fer se manteve. Eles concluem que as
possivelmente pertencentes a espécies informações moleculares e citogenéti-
ainda não descritas. Os autores então cas que eles obtiveram mostram que a
basearam-se em estudos moleculares diversidade do complexo de P. cuvie-
anteriores feitos com o gênero Physala- ri e P. ephippifer está subestimada. E
emus Fitzinger, 1826 e especificamente apontam também para a necessidade
com o grupo de P. cuvieri. E a partir de uma revisão taxonômica das espé-
desses trabalhos, objetivaram melho- cies.
rar a amostragem amazônica, utilizar
métodos de delimitação molecular de
espécies, e investigar as linhagens em Editora: A. Sabbag
relação a marcadores moleculares do
tipo RAD. Para isso, os autores fizeram
análises citogenéticas de alguns indiví-
duos, sequenciaram marcadores mito-
condriais, e sequenciaram 3RAD com
técnicas de alto desempenho. E com
isso fizeram inferências filogenéticas
com Máxima Parcimônia, Inferência
Bayesiana e Máxima Verossimilhança;
calcularam distâncias genéticas, e fi-
35
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Ensaios e Opiniões
Ensaios e Opiniões
Diagnóstico e propostas para ampliar a representatividade de
pesquisadoras em Herpetologia no Brasil
Fernanda P. Werneck1; Adriana Moriguchi Jeckel2; Natália Rizzo Friol2; Daniela Gennari Pires
de Toledo2; Mariane Targino3; Rachel Montesinos4; Luciana Barreto Nascimento5; Débora Leite
Silvano6; Daniella Pereira Fagundes de França7; Jéssica Albuquerque Pereira8; Roberta Richard
Pinto9; Ana Paula Vitoria Costa-Rodrigues10; Emiliane Gonçalves Pereira11; Sarah Mângia12 & Cla-
rissa Canedo3,13
36
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Ensaios e Opiniões
O
viés de gênero é um fenômeno tica central a ‘Herpetologia Inclusiva’,
amplamente documentado nas sendo um marco histórico nos eventos
mais diversas áreas da Ciência da comunidade herpetológica do Brasil
(Larivier et al., 2013; Shen, 2013). Na por ter promovido inclusão, respeito
América Latina (Salerno et al., 2019), e discussão de diferentes perspectivas
no Brasil (Valentova et al., 2017), e biológicas, ideológicas e humanas.
na Herpetologia brasileira (Carnaval,
Durante a Mesa Redonda foram apre-
2016), isso não é diferente. Entretan-
sentados dados inéditos relacionados
to, a extensão nacional do fenômeno
ao viés de gênero na Herpetologia bra-
não foi explicitamente quantificada até
sileira, e foram relembradas e homena-
o momento. Adicionalmente, poucas
geadas as contribuições de herpetólo-
ações foram implementadas para mini-
gas brasileiras pioneiras no estudo de
mizar as barreiras estruturais respon-
anfíbios e répteis. Faz parte dos planos
sáveis pelo viés de gênero e promover a
das organizadoras e palestrantes editar
presença equitativa e as contribuições
uma série de publicações para a divul-
de mulheres ao conhecimento sobre
gação dos dados e resultados levanta-
Herpetologia.
dos e dos padrões recuperados. Foram
Movidas por uma forte necessidade de ainda discutidas as possíveis causas
discutir equidade de gênero na Ciência do chamado ‘vazamento de duto’, ter-
em geral, e na Herpetologia brasileira mo cunhado para designar o abando-
em específico, um grupo de pesquisa- no da carreira por determinado grupo
doras de diversas instituições e regiões ao longo do seu percurso (Alper, 1993;
do Brasil promoveu a mesa redonda su- Pell, 1996), através da apresentação de
pracitada no 9o CBH (Figuras 1 e 2). O fenômenos amplamente conhecidos
grupo contou com representantes em e difundidos no ambiente científico e
diferentes fases de carreira, e foi apoia- também de relatos de experiências pes-
do por um grande conjunto de pesqui- soais.
sadoras auto organizadas em mídias e
Muitas são as causas estruturais para
redes sociais (Figura 3) e a Mesa Redon-
a falta de equidade entre os gêneros na
da teve ampla participação (Figura 2).
pesquisa, incluindo a falta de incentivos
O referido Congresso teve como temá-
e oportunidades equilibradas, viés implí-
37
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Ensaios e Opiniões
cito e sexismo sutil, dificuldades impos- Existem inúmeros motivos para pro-
tas pela falta de assistência às cientistas movermos as mulheres na ciência, que
que decidem ser mães e que defendem vão desde razões humanitárias, pas-
maior balanço vida-trabalho, falta de sando pelos argumentos de excelência e
referenciais-modelo, menor reconheci- um dos mais convincentes e relevantes,
mento e valorização, viés de fomento, de que podemos atingir maior qualida-
maiores cargas burocráticas e adminis- de através da diversidade (Campbell et
trativas destinadas às cientistas, maior al., 2013) (veja também https://www.
julgamento quanto às escolhas profis- scientificamerican.com/article/how-
sionais e pessoais, menor reconheci- -diversity-makes-us-smarter/). Assim,
mento, discriminação/julgamento com foram discutidas e propostas ações e
base em parâmetros irrelevantes, assé- estratégias práticas, aplicáveis em di-
dio moral e sexual, entre outros (Ros- versas instâncias e níveis (Grogan,
siter, 1993; Larivier et al., 2013; Shen, 2019), para promover círculos virtu-
2013; Sheltzer & Smith, 2014; Banche- osos visando minimizar o vazamento
fsky et al., 2016; Dutt et al., 2016; Se- de gênero na Herpetologia brasileira e
rio, 2016; Débarre et al., 2017; Guarino a promoção de uma mais efetiva parti-
& Borden, 2017; Marques, 2018; Cech cipação de pesquisadoras na produção
& Blair-Loy, 2019). De fato, o viés de de ciência e conhecimento herpetológi-
gênero piora com o avanço na carreira co de qualidade. Elencamos essas ações
acadêmica, indicando círculos viciosos e estratégias abaixo, com o objetivo de
que promovem um vazamento ao longo fomentar o debate e guiar a implemen-
da progressão científica. Assim, muitas tação das mesmas nas esferas cabíveis.
meninas iniciam suas carreiras científi-
cas e estudos em Herpetologia, mas por Ações discutidas dentro da
diversos motivos relacionados ao viés Mesa Redonda e desdobra-
de julgamento implícito envolvendo a mentos subsequentes:
esfera acadêmica, têm suas progressões
científicas afetadas. Hoje, sabemos que 1. Tópicos gerais relacionados aos
esse viés é fortemente influenciado por laboratórios e grupos de pesquisa
questões não acadêmicas, mas sim pes- a. Oferta de oportunidades equilibra-
soais, como a escolha por casamento/ das nos grupos de pesquisa (Sheltzer &
maternidade, e de viés implícito, como Smith, 2014), sem viés de oferta ou di-
a construção social/cultural de estereó- visão de tarefas que reforcem estereóti-
tipos de baixo rendimento que exercem pos e impeçam a participação de alunas
forte influência nas avaliações e julga- em atividades de campo, viagens cientí-
mentos de indivíduos ou grupos, mesmo ficas, atividades de laboratório, produ-
na ausência de percepções conscientes. ção científica, liderança científica, etc.
38
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Ensaios e Opiniões
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Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Ensaios e Opiniões
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Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Ensaios e Opiniões
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Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Ensaios e Opiniões
43
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notas de História Natural
A
postolepis tenuis Ruthven, original description, lacking any com-
1927 was described based on parison with its congeners. Here, we
a specimen from Buena Vista, provide the third record of Apostolepis
Santa Cruz, Bolivia. It is very similar tenuis, the first out of Bolivia, and the
to A. nigroterminata and A. dorbignyi first image of a live specimen.
(Orejas-Miranda, 1962), and has often
The specimen was found (by ECF)
been confused with A. ambiniger and
on June 29th, 2017 in an urban area
A. vittata by previous authors, but it
(11°29′58.2″ S, 62°23′36.4″ W) in the
can easily be distinguished by its color-
municipality of Alvorada D’Oeste, state
ation and pholidosis (Orejas-Miranda,
of Rondônia, Brazil. The specimen was
1962; Harvey, 1999).
photographed (Figure 1) and released
The confused taxonomic history of in a forested area outside the city
Apostolepis tenuis could be related to (11°32′5.7″ S, 62°25′18.4″ W). The for-
its rarity, since the species is known ested area is in the Amazonian Equa-
from only two records. Harvey (1999) torial Domain, with a warm and humid
redescribed the species, defined diag- climate and average annual tempera-
nostic features, presented a synonym ture of 26°C (Kottek et al., 2006; Alva-
list, and compared A. tenuis with other res et al. 2014).
sympatric Apostolepis. Before that, this
species was only illustrated in its brief
44
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notas de História Natural
Figure 1.
A (A) Live specimen of Apostolepis te-
nuis found in the municipality of Al-
vorada D’Oeste, Rondônia, Brazil.
(B) White nuchal collar indicated by
red circle.
No data were collected other than the the snout round in dorsal view and in
photograph of the specimen. Howev- profile; temporals absent; cream band
er, its identification was possible after across dorsal surface of snout; cream
examination and comparisons of the supralabial blotch of moderate size;
photographs with the data and photo- narrow white nuchal collar present;
graphs of the holotype (Figure 2). black nuchal collar absent; dorsum light
brown with three broad black stripes.
The new specimen closely matches
Other diagnostic characters defined by
the definition of A. tenuis (sensu Har-
Harvey (1999) for the species cannot
vey, 1999): a medium-sized species,
be observed from the photographs: the
differing from all other congeners by
45
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notas de História Natural
length of rostral visible dorsally less tolepis species. Thus, the presence of a
than one-half its distance from fron- broad vertebral stripe and even broad-
tal; supralabials, six; infralabials con- er lateral stripes, forming two bands on
tacting first pair of chinshields, three; the sides of the body, together with the
nasal separated from preocular by pre- presence of a white collar rather than
frontal; number of ventrals (245–265) a black collar, are also diagnostic traits
and subcaudals (37–46); terminal scale for this species, and are present in the
mostly white; chin and gular region im- live specimen recorded by us.
maculate or nearly so.
The new record extends the distribu-
In addition to the definition of A. te- tion of A. tenuis more than 300 km
nuis, this new specimen also matches from its closest record in Bolivia (Fig-
the description of the holotype and a ure 3). The lack of any additional re-
second specimen from Beni, Bolivia. cords for the species in the Brazilian
Notably the new specimen has the gu- state of Rondônia, a region that has
lar collar present only laterally, as in recently been the focus of several her-
the holotype. It is also the first time the petological studies (Vanzolini, 1986;
color in life of A. tenuis is described, Nascimento et al., 1988; Yuki, 1999;
with three broad dark brown dorsal Brandão, 2002; Bernarde & Abe, 2006;
stripes, the lateral stripes much wider França et al., 2006; Turci and Ber-
than the vertebral; dorsal background narde, 2008, 2009), including wildlife
coloration light brown/beige, disagree- rescues during hydroelectric dam filling
ing with Harvey’s (1999) hypothesis of (Jorge-da-Silva-Júnior, 1993; Marçal &
being probably red; venter uniformly Coragem, 2011), suggests that A. tenuis
cream. is naturally rarer than most of its con-
geners.
The combination of morphological
characteristics cited above is quite suffi-
cient for identification since these char-
acters (rostral projection; presence of
posterior temporal scales; background
dorsal and ventral coloration; pres-
ence/absence of white and black nucal
collars; presence and color of the snout
and supralabial blotches) show little or
no intraspecific variation among Apos-
46
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notas de História Natural
Figure 3. Known records of Apostolepis tenuis. Holotype (UMMZ 64436): Bolivia, Santa Cruz
Department, Ichilo Province, Buena Vista; second record (USNM 123973): Bolivia, Beni Depart-
ment, Vaca Diez Province, Guayaramerin (Harvey, 1999); third record (not collected): Brazil,
state of Rondônia, municipality of Alvorada D’Oeste.
47
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notas de História Natural
48
Herpetologia Brasileira vol. 8 no. 3 - Notas de História Natural
Kottek, M., J. Grieser, C. Beck, B. Ru- Yuki, R. N., U. Galatti & R. A. T. Rocha.
dolf & F. Rubel. 2006. World map of 1999. Contribuição ao conhecimento
the Köppen-Geiger climate classifica- da fauna de Squamata de Rondônia,
tion updated. Meteorologische Zeits- Brasil, com dois novos registros. Bole-
chrift, 15(3):259-263. tim Museu Paraense Emílio Goeldi, Sé-
rie. Zoologica, 15(2):181-193.
Marçal, A. S., I. B. R. Gomes & J. T.
Coragem. 2011. UHE Santo Antônio -
Guia das espécies de fauna resgatadas.
Scriba Comunicação Corporativa, Por-
to Velho, 327 p.
Nascimento, F. P., T. C. S. Ávila-Pi-
res & O. R. Cunha, O.R. 1988. Répteis
Squamata de Rondônia e Mato Grosso
coletados através do programa Polono-
roeste. Boletim Museu Paraense Emílio
Goeldi, Série Zoologia. 4:21-66.
Ruthven, A. G. 1927. Description of an
apparently new species of Apostolepis
from Bolivia. Occasional Papers of the
Museum of Zoology, University of Mi-
chigan, (188):1-2.
Turci, L. C. B. & P. S. Bernarde. 2008.
Levantamento herpetofaunístico em
uma localidade no município de Caco-
al, Rondônia, Brasil. Bioikos, 22:101-
108.
Turci, L.C.B. & P. S. Bernarde. 2009.
Vertebrados Atropelados na Rodovia
Estadual 383 em Rondônia, Brasil. Bio-
temas, 22(1):121-127.
Vanzolini, P.E. 1986. Levantamen-
to herpetológico da área do Estado de
Rondônia sob a influência da rodovia
Br-364. Ministério da Ciência e Tecno-
logia, Brasília, 50 p.
49
Scinax squalirostris
Poços de Caldas - MG
@ Renato Gaiga
Dendropsophus minutus
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Densropsophus sanborni
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51
Spilotes pullatus
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Apostolepis assimilis
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Erythrolamprus typhlus
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Philodryas patagoniensis
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Mussurana montana
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Helicops modestus
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Oxyrhopus clathratus
Poços de Caldas - MG
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Thamnodynastes strigartus
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Bothrops alternatus
Poços de Caldas - MG
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Bothrops jararaca
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Tomodon dorsatus
Poços de Caldas - MG
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Dipsas mikanii
Poços de Caldas - MG
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Bothrops neuwiedi
Poços de Caldas - MG
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Ophiodes striatus
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Salvator merianae
Poços de Caldas - MG
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Aspronema dorsivittata
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Urostrophus vautieri
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Tropidurus itambere
Poços de Caldas - MG
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60
Ololygon ranki - topotipo
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Rhinella icterica
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61
Boana prasina
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Physalaemus cuvieri
Poços de Caldas - MG
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62
Vitreorana uranoscopa
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Phyllomedusa burmeisteri
Poços de Caldas - MG
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63
Boana albopunctata
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64
Ischnocnema juipoca
Poços de Caldas - MG
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65
Ololygon longilinea - topotipo
Poços de Caldas - MG
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Rhinella ornata
Poços de Caldas - MG
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66
Haddadus binotatus
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Leptodactylus cunicularius
Poços de Caldas - MG
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67
Odontophrynus americanus
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Pseudopaludicola murundu
Poços de Caldas - MG
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68
Elachistocleis cesarii
Poços de Caldas - MG
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Rhinella rubescens
Poços de Caldas - MG
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69
Ololygon ranki - Topótipo
Poços de Caldas - MG
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Physalaemus jordanensis
Poços de Caldas - MG
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70
Hylodes sazimai
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Ischnocnema izecksohni
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71
Instruções
para Autores
INST R U ÇÕ ES GE R A IS
A submissão de manuscritos para a Herpetologia Brasileira é aberta para sócios ou
não sócios da Sociedade Brasileira de Herpetologia, e não possui custos associados a
publicação. Por se tratar de uma revista eletrônica de divulgação da sociedade, não há
limite de páginas ou número de manuscritos a serem publicadas por volume. Todos os
manuscritos devem ser submetidos via correio eletrônico para os editores indicados
para cada seção (ver Corpo Editorial). Qualquer dúvida pode ser esclarecida com os
editores gerais.
Os manuscritos devem ser escritos em fonte Arial 12, espaçamento 1.5 e somente em
português, exceto para as seções de Métodos em Herpetologia, e Notas de His-
tória Natural & Distribuição Geográfica, cujos textos podem ser redigidos em
inglês (preferencialmente) ou português. Todos os artigos devem incluir o título, os
autores com filiação e endereço eletrônico, o corpo do texto, os agradecimentos e a lista
de referências bibliográficas. Os manuscritos em inglês que não atingirem o nível de
gramática e ortografia semelhante ao de uma pessoa nativa de país de língua inglesa
serão devolvidos para correção ou tradução para português.
Notas de Distribuição Geográfica & História Natural e artigos de Métodos serão re-
visadas por pares: o editor de área responsável e pelo menos um revisor convidado.
Autores podem sugerir até três revisores potenciais para avaliar sua nota, ficando a
escolha do revisor a critério do editor. A autoria dos manuscritos será de conhecimento
dos revisores, que poderão se identificar ou permanecer anônimos.
72
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
As citações no texto devem ser organizadas primeiro em ordem cronológica e segundo em ordem alfabéti-
ca, de acordo com o seguinte formato: Silva (1998)…, Silva (1999: 14‑20)…, Silva (1998: figs. 1, 2)…, Silva
(1998a, b)…, Silva & Oliveira (1998)…, (Silva & Oliveira, 1998a, b; Adams, 2000)…, (H. R. Silva, com.
pess.)…, e Silva et al. (1998) para mais de dois autores.
A seção de Referências Bibliográficas deve ser organizada primeiro em ordem alfabética e, em seguida, em
ordem cronológica, de acordo com o seguinte formato:
Artigo de revista:
Silva, H. R., H. Oliveira & S. Rangel. Ano. Título. Nome completo da revista, 00(00):000-000’.
Capítulo em livro:
Silva, H. R. Ano. Título do capítulo; pp. 000‑000. In: H. Oliveira, & S. Rangel (Eds.), Título do Livro. Edi-
tora, local.
Dissertações e teses:
Silva, H. R. Ano. Título. Tese de doutorado ou Dissertação de mestrado, Universidade, local, 000 ‘p.’
Página de Internet:
Silva, H. R. Data da página. Título da seção ou página particular. Título da página geral. Data da consulta, URL.
Apêndices:
Os apêndices devem ser numerados usando números romanos na mesma sequência em que aparecem no
texto. Por exemplo, Apêndice I: Espécimes Examinados.
Legendas:
As legendas devem incluir informação suficiente para que sejam entendidas sem que seja necessária a
leitura do corpo do texto.
Tabelas:
As tabelas devem ser numeradas na mesma sequência em que aparecem no texto. Devem ser formatadas
com linhas horizontais e sem linhas verticais.
Figuras:
As figuras devem ser numeradas na mesma sequência em que aparecem no texto. Figuras compostas devem
ser submetidas como um arquivo único. Cada parte de uma figura composta deve ser identificada (preferen-
cialmente com letra maiúscula Arial de tamanho 8‑12 pontos) e descrita na legenda. As figuras devem ser
submetidas em arquivos separados de alta resolução (300 dpi e tamanho de impressão de pelo menos 18 cm
de largura) em formato JPG ou EPS.
73
INST R U ÇÕ ES ES P E C IA IS P A R A
NOTA S D E H I S TÓ R IA N A T UR A L
A Herpetologia Brasileira publica notas de história natural que apresentem novos re-
gistros dos mais variados aspectos da história natural de representantes de um táxon,
como dieta, eventos de predação, comportamento reprodutivo, comportamento defen-
sivo, período de atividade, uso de habitat, etc. Tais registros devem incluir a identifica-
ção em nível de espécie dos táxons de anfíbios e/ou répteis abordados – identificação
em nível de gênero poderá ser aceita em situações especiais avaliadas caso a caso. No
caso de registros de dieta, os itens alimentares devem ser identificados até o menor
nível taxonômico possível. O uso de fotografias ou ilustrações é altamente encorajado.
No corpo do texto, os autores devem indicar claramente a relevância da observação
descrita. Apreciamos textos que tragam uma revisão de literatura do tópico abordado
para a espécie em questão. Por exemplo, ao reportar a observação de um novo táxon
na dieta ou como predador de uma espécie, encoramos os autores a apresentarem tam-
bém uma revisão de quais táxons já foram registrados como presa/predador de tal
espécie.
INST RU ÇÕ ES ES P E C IA IS
P ARA NO TAS D E D IS T R IB U IÇ Ã O
GEO GR ÁF I CA
A Herpetologia Brasileira publica notas de distribuição geográfica referentes a herpe-
tofauna, apresentando novos registros que ampliem a distribuição geográfica de uma
ou mais espécies, preferencialmente acompanhada de uma revisão/atualização dos
registros geográficos já conhecidos, pelo menos em escala nacional. Fotos dos exem-
plares que serviram de base para o novo registro, assim como um mapa representando
a distribuição geográfica conhecida da espécie tratada são altamente recomendados.
Sempre que possível, a legenda dos mapas deve informar a fonte dos shape files e ras-
ters utilizados em sua confecção.
Os novos registros devem representar o primeiro registro de um táxon para o país,
para alguma unidade federativa, bioma, ou para uma bacia hidrográfica, EXCETO
quando ao menos um dos itens a seguir for aplicável:
74
• A distribuição geográfica da espécie envolver 10 ou menos localidades conhecidas.
• A espécie for considerada extinta, estiver classificada em alguma categoria de ameaça,
classificada como deficiente em dados (DD) ou quase ameaçada (NT) na mais recente lista
oficial de espécies ameaçadas da fauna do país ou da unidade federativa do novo registro.
• O novo registro resultar em uma ampliação da distribuição geográfica conhecida da
espécie em pelo menos 200 km em linha reta.
• O novo registro preencher uma lacuna geográfica de pelo menos 200 km de raio entre duas
localidades onde há registro histórico da presença da espécie.
• O novo registro resultar em uma ampliação da distribuição da espécie em pelo menos 400
metros de altitude.
Coordenadas geográficas
Devem ser apresentadas em Graus Decimais (GD), seguidas por sua latitude e longitude,
ou adotar um símbolo negativo (-) para indicar hemisfério Sul e Oeste. Graus devem ser
indicados pelo seu símbolo específico (°) e jamais por outros símbolos ou letras sobres-
critos, como zero (0) ou O (O). Minutos devem ser indicados pelo símbolo prime (′) e
segundos pelo double prime (″) e jamais por aspas ou similares. Por vezes, coordenadas
com precisão excessiva (e irreal) são publicadas (veja Meiri, 2018: https://escholarship.
org/uc/item/2n3349jg). Assim, solicitamos aos autores que atentem para essa questão.
Usualmente, basta uma casa decimal nos segundos no sistema GMS (e.g., 20°48′07.2″ S,
42°51′28.8″ W) e três casas decimais no sistema GD (e.g., -20.802°, -42.858°) para indicar
uma coordenada de coleta precisa.
Tanto notas de História Natural quanto de Distribuição Geográfica requerem que mate-
rial testemunho (vouchers) esteja devidamente depositado em coleção científica de acesso
público e que o número de tombamento do(s) espécime(s) seja informado. Além disso, os
números de licenças de coleta devem ser explicitamente mencionados quando os vouchers
forem oriundos de coletas dos autores.
75