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V Encontro Brasileiro para o

Estudo de Quirópteros

Livro de Resumos

Chiroptera Neotropical 16(1) Supplement, August 2010


Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

SPECIAL SUPPLEMENT OF THE CHIROPTERA NEOTROPICAL JOURNAL


LIVRO DE RESUMOS DO V ENCONTRO BRASILEIRO PARA O ESTUDO DE QUIRÓPTEROS
RESUMOS DE COMUNICAÇÕES ORAIS E PÔSTERES APRESENTADOS

Guest Editors
Carlos Eduardo Lustosa Esbérard - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brazil
Julia Lins Luz - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brazil
Luciana de Moraes Costa - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brazil
Ricardo Moratelli - Fundação Oswaldo Cruz, Brazil

Scientific Committee of the V Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros


Coordenador: Carlos Eduardo Lustosa Esbérard - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brazil
Vice-Coordenador: Leila Maria Pessôa - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brazil
Membros
Daniela Dias - Fundação Oswaldo Cruz, Brazil
Isaac Passos de Lima - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brazil
Leonardo dos Santos Ávilla - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brazil
Marcelo Rodrigues Nogueira - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brazil
Marco Aurelio Ribeiro de Mello - Universität Ulm, Germany
Monik Oprea - Universidade Federal de Goiás, Brazil
Ricardo Moratelli - Fundação Oswaldo Cruz, Brazil
Wilson Uieda - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brazil

Organizing Committee of the V Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros


Presidente: Ricardo Moratelli - Fundação Oswaldo Cruz, Brazil
Vice-Presidente de honra: Adriano Lúcio Peracchi - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brazil
Vice-Presidente: Carlos Eduardo Lustosa Esbérard - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brazil
1ª Secretária: Cecília Siliansky de Andreazzi - Fundação Oswaldo Cruz, Brazil
2º Secretário: José Luis Passos Cordeiro - Fundação Oswaldo Cruz, Brazil
Tesoureira: Adriana Rückert da Gama - Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, Brazil
Webdesigner: Marco Aurelio Ribeiro de Mello - Universität Ulm, Germany

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Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

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Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Análise dos Resumos do V EBEQ

Carlos E. L. Esbérard, Presidente da Comissão Científica do V EBEQ


Ricardo Moratelli, Presidente do V EBEQ
Monik Oprea, Editora da Revista Chiroptera Neotropical

Para o V Encontro Brasileiro para o Estudo grande número de espécies recentemente


de Quirópteros, 59 trabalhos foram avaliados descritas no Brasil (e.g., Gregorin e Ditchfield
pela Comissão Científica. Apesar deste número 2005, Miranda et al. 2006) e ainda por
não parecer tão expressivo quando analisado descrever e pelo elevado número de inventários
isoladamente, ele é superior ao de outros que estão sendo realizados.
EBEQs. É importante também considerar que Várias novidades foram incorporadas neste
esta edição do EBEQ está sendo realizada logo EBEQ. A primeira foi a triagem dos trabalhos
após o Congresso Brasileiro de Zoologia submetidos por uma comissão científica que leu
(fevereiro de 2010) e cerca de seis meses depois cuidadosamente cada um, sugerindo e
do Congresso Brasileiro de Ecologia (setembro modificando quando necessário. Mesmo as
de 2009). Para um encontro que teve algumas cópias revisadas pelos autores passaram por
tentativas anteriores de realização frustradas e uma segunda triagem para padronizar,
não apresenta periodicidade regular este número principalmente referências bibliográficas,
de resumo representa, portanto, um sucesso. títulos, palavras-chave, agradecimentos e
Chiroptera representa o grupo que mais endereços. Vários resumos precisaram retornar
cresce em congressos e este fato já tem sido aos autores por até quatro vezes até que
digno de nota há algum tempo (Uieda e Pedro estivessem na forma desejada. A segunda
1996, Esbérard 2004, Brito et al. 2009, R. novidade é que foram pedidos resumos
Moratelli, dados não publicados). A título de expandidos ao contrário do tamanho usual de
exemplo, na última edição do Congresso apenas 400–500 palavras, que resultaram em
Brasileiro de Mastozoologia (2008), dos 536 manuscritos de até três páginas publicadas.
resumos apresentados, 124 eram sobre Estes resumos serão incluídos em um
morcegos, o que corresponde a 23% do total, suplemento especial da revista Chiroptera
enquanto outros grupos como marsupiais, Neotropical, ficando disponível online no site
roedores e primatas, congregaram, (http://chiroptera.conservacao.org/home.html).
respectivamente, 6%, 13% e 5% do total de Com isso espera-se obter maior divulgação e
resumos (R. Moratelli, dados não publicados). maior acessibilidade de todas as pesquisas. A
Este grupo tem resultado em um número última novidade é que estamos encorajando os
crescente de artigos (Oprea et al. 2006) e em um autores a optar pela comunicação oral ao invés
número elevado de dissertações e teses (veja dos já consagrados painéis, obtendo com isso
www.capes.gov.br). Este interesse resulta em otimização do espaço e cada apresentação
um número relativamente alto de especialistas atingindo um maior número de participantes
nestes mamíferos, apesar de ainda concentrados simultaneamente. Além disto, este método
na região sudeste (Pacheco et al. 2009). torna-se uma oportunidade única de treinamento
Dos resumos recebidos, 17 tratavam-se dos nossos alunos.
primariamente de inventários, nove da saúde A Comissão Científica teve enorme trabalho
pública, quatro de predação de morcegos, quatro e muito disto se deveu a redação deficiente de
de reprodução, três de atividade diária, três de vários dos resumos expandidos. Sabemos do
sistemática e três de anatomia. Levantamentos e prazo curto destinado à confecção dos mesmos,
outros aspectos ecológicos são, de fato, as que mas foi freqüente a desobediência às regras
apresentam maior interesse pelos pesquisadores divulgadas e a não padronização das referências.
(Esbérard 2004, Brito et al. 2009). Além destas Com certeza parte disto se deve ao hábito raro
áreas, as demais áreas apresentaram reduzido de escrever seus resultados na forma de artigos
número de resumos, como parasitologia (n = 2), (q.v., Brito et al. 2009), mas sentimo-nos
acústica (n = 2), interações (n = 2), educação (n honrados em ajudar no treinamento de tantos
= 1), morfologia (n = 1) e outros (n = 2). Estas alunos.
áreas sempre despertaram menor interesse, mas Ao optarmos pelos resumos expandidos
é preocupante o reduzido número de trabalhos sentimos um pouco de receio de que os alunos
sobre taxonomia de morcegos na atualidade. se sentissem satisfeitos com esta publicação
Este é um fenômeno global (e.g., AMSA 2005), prévia de seus resultados e não submetessem
mas ainda mais alarmante no que concerne aos suas pesquisas a periódicos especializados. Tal
morcegos, pelo pouco conhecimento das fato é realidade no Brasil, pois apenas uma
espécies brasileiras (Gregorin 2003), pelo pequena parte dos resumos se transforma de fato
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Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

em publicações (Brito et al. 2009). Mas em Brito D.; Oliveira L.C.; Oprea M. e Mello
contrapartida achamos que esta será uma boa M.A.R. 2009. An overview of Brazilian
forma de estimular a melhorar o texto e torná-lo mammalogy: trends, biases and future
uma fonte de informação adequada e publicada directions. Zoologia 26(1): 67-73.
em um breve futuro. Esbérard C.E.L. 2004. Morcegos no estado do
Mas, por que tamanho esforço por realizar Rio de Janeiro. Universidade do Estado do
um encontro que congrega número tão reduzido Rio de Janeiro. 254 p.
de alunos e pesquisadores e não apresenta Gregorin R. 2003. Fortalecimento da sistemática
periodicidade? A resposta é simples. Dado ao de Chiroptera no Brasil: coleções e produção
crescente interesse pelos morcegos, já é o científica. Divulgações do Museu de Ciência
momento de pensarmos em um congresso e Tecnologia 2: 7-8.
próprio e esperamos que este encontro seja o Gregorin R. e Ditchfield A.D. 2005. A new
embrião de um simpósio nacional bianual e que genus and species of Lonchophyllini nectar-
fortaleça a Sociedade Brasileira para o Estudo feeding bat (Phyllostomidae:
de Quirópteros (SBEQ – www.sbeq.org). Glossophaginae) from Northeastern Brazil.
Journal of Mammalogy 86(2): 403-414.
Agradecimentos Miranda J.M.M.D.; Itiberê P.; Bernardi I.P. e
Aos demais revisores dos resumos: Dra. Passos FC. 2006. A new species of
Leila Maria Pessôa (Universidade Federal do Eptesicus (Mammalia: Chiroptera:
Rio de Janeiro), Dr. Marco Aurélio Ribeiro de Vespertilionidae) from the Atlantic Forest,
Mello (Universität Ulm), Dr. Marcelo Brazil. Zootaxa 1383: 57–68.
Rodrigues Nogueira (Universidade Federal Oprea M.; Brito D.; Mello M.A.R. e Aguiar
Rural do Rio de Janeiro), Isaac Passos de Lima L.M.S. 2006. Ten years of Chiroptera
(Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Neotropical: accomplishments and future
Daniela Dias (Fundação Oswaldo Cruz), Dr. directions. Chiroptera Neotropical 12(2):
Leonardo Ávila (Universidade Federal do 262-267.
Estado do Rio de Janeiro) e Dr. Wilson Uieda Pacheco M.S.; Sodré M.M.; Mello M.A.R.;
(Universidade Estadual de São Paulo) e aos Marques R.V.; Uieda W.; Aguiar L.; Passos
demais editores do suplemento especial: Julia F.C.; Trajano E. e Bredt A. 2009.
Lins Luz (Universidade Federal Rural do Rio de Chiroptera. Em: Rocha RM e Boeger WA
Janeiro) e Luciana de Moraes Costa (Organizadores), Estado da arte e
(Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro). perspectivas da zoologia no Brasil. Pp. 231-
248. Editora da UFPR, Londrina.
Referências Uieda W. e Pedro W.A. 1996. Chiroptera in the
Australian Marine Sciences Association. 2005. XXI Brazilian Zoology Congress.
Marine Taxonomy in the New Millennium. Chiroptera Neotropical 2(1): 41-42.
AMSA Bulletin 169: 22-27.

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Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

SUMÁRIO

Artigos

Erros freqüentes nos resumos submetidos ao V EBEQ e sugestões para melhorar na redação científica
................................................................................................................................................................ 9

Resumos

Avaliação da eficiência de inventários rápidos de morcegos no estado do Rio de Janeiro, Brasil ....... 13

Aspectos reprodutivos de morcegos capturados em mata nativa e reflorestamento no norte do estado


do Paraná, Brasil ................................................................................................................................... 16

Riqueza de moscas ectoparasitas (Diptera, Streblidae) de morcegos no Instituto Zoobotânico de Morro


Azul, Paulo de Frontin, Sudeste do Brasil ............................................................................................ 19

Reprodução em cinco espécies de morcegos filostomídeos na Reserva Natural do Salto Morato,


Guaraqueçaba, Paraná ........................................................................................................................... 22

Bionomia de Morcegos em Áreas Urbanas: Parque Natural Municipal da Freguesia e Fazenda


Marambaia no Município do Rio de Janeiro, RJ................................................................................... 25

Predação oportunista de morcegos por Cerdocyon thous (Carnivora, Canidae) no sudeste do Brasil .. 29

Atividade de duas espécies de morcegos da família Molossidae em um riacho na Ilha da Marambaia,


Rio de Janeiro, Brasil ............................................................................................................................ 32

Quirópteros encontrados na dieta de Tyto alba (Strigiformes, Tytonidae) no Centro de Porto Alegre,
RS, Brasil .............................................................................................................................................. 35

A importância do tamanho do núcleo em fragmentos para manter a riqueza de espécies de


morcegos........................................................................................................................................ 37

Ataques oportunísticos da cuíca Philander frenatus (Mammalia, Didelphidae) a morcegos em redes de


neblina .................................................................................................................................................. 41

O plantio de banana afeta a abundância de sementes dispersas por morcegos? ................................... 43

Predação de Tadarida brasiliensis por Chrotopterus auritus no sul do Brasil ...................................... 46

Vigilância ambiental e sanitária de quirópteros no Município de Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
Brasil ..................................................................................................................................................... 48

Atividade horária e estacional de Phyllostomidae em fragmentos florestais no alto rio Paraná, Brasil 50
Quiropterofauna registrada em um remanescente florestal do Domínio Mata Atlântica no Rio Grande
do Sul, Brasil ........................................................................................................................................ 54

Quirópteros do Parque Natural Municipal Fazenda Santa Cecília do Ingá, Volta Redonda, Estado do
Rio de Janeiro ....................................................................................................................................... 57

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Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Variação sazonal na abundância do morcego Artibeus cinereus no sul do Brasil ................................ 60

Período reprodutivo de três espécies de morcegos frugívoros no sudeste do Brasil ............................. 62

Roosts used by bats in the state of Espírito Santo, southeastern Brazil ................................................ 65

Padrão reprodutivo de Phyllostomus discolor coletados na estação seca em áreas fragmentadas


remanescentes de Mata Atlântica no litoral sul do estado de Pernambuco ........................................... 68

The population structure of bats in the understory foraging areas: the use of systematic sampling to
assess quantitative data ......................................................................................................................... 71

Quiropterofauna da Estação Ecológica de Caetés, Paulista, Pernambuco, Brasil: atualização do


inventário 10 anos depois ..................................................................................................................... 75

Horário de atividade e hábitos alimentares de Chiroptera no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ
.............................................................................................................................................................. 78

Alterações morfológicas dos dúctulos eferentes e epidídimos ocorridas durante o ciclo reprodutivo
anual do morcego-das-frutas Artibeus lituratus .................................................................................... 81

Análise de pólen em pelagem de morcegos nectarívoros do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu,


Minas Gerais, Brasil ............................................................................................................................. 84

Morcegos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Frei Caneca, nordeste do Brasil .................... 87

Diversidade de morcegos em três áreas do noroeste paulista, Brasil .................................................... 91

Levantamento preliminar da comunidade de morcegos do Parque Municipal das Mangabeiras, Belo


Horizonte, Minas Gerais ....................................................................................................................... 94

Lista atualizada de quirópteros do Estado de São Paulo, Brasil, com base na Coleção do Museu de
Zoologia da Universidade de São Paulo e registros na literatura .......................................................... 98

Descrição da anatomia lingual de Platyrrhinus lineatus, com o relato de um novo conjunto de papilas
filiformes ............................................................................................................................................ 100

Classificação, quanto à família, dos espécimes de morcegos submetidos ao diagnóstico da raiva no


Instituto Pasteur, no período de 2007 a 2009. ..................................................................................... 102

Diversidade de morcegos da Reserva Biológica Córrego do Veado, Pinheiros, Espírito Santo ......... 105

Quiropterofauna da Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais, Brasil ................................................... 108

A influência do ensino e aprendizagem na formação de conceitos sobre morcegos entre alunos de 5a e


6a séries em Vitória de Santo Antão, Pernambuco ............................................................................. 112

Biological characteristics of Molossus molossus (Pallas, 1766) bats sent to rabies laboratory diagnosis
............................................................................................................................................................ 115

Diversidade ectoparasitológica em morcegos na Fazenda Marambaia, Rio de Janeiro, RJ, Brasil .... 119

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Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Monitoramento de morcegos insetívoros com utilização de equipamento detector de ultra-sons em


áreas de floresta ombrófila mista ........................................................................................................ 123

Propriedades acústicas dos chamados de ―distress‖ emitidos por Artibeus lituratus (Olfers, 1818) e
Artibeus obscurus (Schinz, 1821) durante manipulação em campo ................................................... 125

Análise preliminar da diversidade de morcegos de Floresta Montana do Parque Nacional do Itatiaia,


estado do Rio de Janeiro, Brasil .......................................................................................................... 128

Parnell‘s Mustached Bat (Pteronotus parnellii): a morphologically cryptic species complex ........... 131

Primeiro registro de Histiotus velatus (I. Geoffroy, 1824) para o estado da Paraíba, Brasil .............. 134

Riqueza e diversidade de morcegos no Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro,
Brasil ................................................................................................................................................... 137

Microradiography of the baculum as an aid to species identification in the genus Myotis Kaup, 1829
............................................................................................................................................................ 140

Primeiro registro de raiva em morcegos insetívoros no estado de Pernambuco, nordeste do Brasil .. 143

Primeiro registro de Chiroderma doriae Thomas para o estado de Alagoas ...................................... 146

Primeiro registro de raiva em morcego frugívoro em área urbana de Olinda, Pernambuco, Brasil .... 149

Levantamento preliminar de morcegos do município de Quirinópolis, Goiás, Brasil ........................ 152

Levantamento dos registros de contato direto de morcegos com humanos e animais domésticos, na
cidade de São Paulo, Brasil ................................................................................................................. 155

Raiva no morcego hematófago Desmodus rotundus e o controle de colônia na área peri-urbana de


Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil ................................................................................... 157

Zoonotic profile in bats from São Paulo city, Southeastern Brazil ..................................................... 159

Morcegos no Rio Grande do Sul: informações sobre a saúde animal ................................................. 162

Novo registro de Natalus stramineus e diversidade de quirópteros no Município de Tarumirim, Minas


Gerais .................................................................................................................................................. 165

Descrição do 1º caso de raiva em morcego frugívoro relatado no Centro de Controle de Zoonoses de


Natal, estado do Rio Grande Norte, nordeste do Brasil ...................................................................... 167

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Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Erros frequentes nos resumos submetidos ao V EBEQ e sugestões para melhorar


na redação científica

Carlos Eduardo Lustosa Esbérard(1,2), Marco Aurélio Ribeiro de Mello(1), Ricardo Moratelli(1,2), Júlia
Lins Luz(2) e Luciana de Moraes Costa(2)

(1) Comissão Científica e (2) Comissão Editorial, V Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Aqui, após uma cuidadosa análise dos autores não importou para o EBEQ, isto é, o
resumos submetidos à Comissão Científica do V primeiro autor não necessariamente seria o
EBEQ, são reportados os erros mais frequentes apresentador, mas deve ser discriminado aquele
observados na confecção dos manuscritos. que será responsável pelos futuros contatos e
Visando auxiliar quem está começando a apenas um e-mail indicado como autor
escrever seus trabalhos, apresentamos abaixo correspondente.
esses erros seguidos de sugestões importantes.
Endereço dos autores – Após os nomes
Título – Deve ser conciso, mas contendo a indiquem a instituição a que tem vínculo. Até
maior quantidade de informações possível para duas instituições podem ser indicadas para um
situar o trabalho. Por ser uma revista destinada a autor. O endereço é institucional e devem ser
um público especializado, para este número da evitadas indicações de projetos como endereços.
Chiroptera Neotropical, que seria composto por O mais correto nesse caso, seria indicar o nome
um único arquivo em pdf, era desnecessário do projeto acrescido do endereço postal da
incluir delimitações taxonômicas, como instituição que o sedia ou financia.
(Mammalia, Chiroptera) ou (Chiroptera, Um erro que apareceu algumas vezes foi o
Phyllostomidae). de endereço não coincidir com a ordem dos
Quando necessário situar geograficamente, autores. O primeiro endereço é sempre referente
evite detalhamentos desnecessários, como o ao primeiro autor e, consequentemente recebe o
nome do município acrescido de estado, região número 1 e daí por diante. Os endereços têm de
e país. Para uma revista brasileira o estado e o ser padronizados. Se um restringe-se a
país são suficientes e para revistas estrangeiras a instituição, estado e país, o seguinte não pode
região e o país. No título deve ser evitado o uso ser diferente, colocando caixa postal, CEP,
de barras e parênteses e não deve ser terminado bairro, etc.
com ponto.
Conte já no titulo o que o seu trabalho tem Palavras-chave – Servem para facilitar as
de mais interessante, qual é a sua novidade, caso buscas de manuscritos e por isso não devem
contrário a maioria das pessoas nem se dará ao repetir palavras do título. Em mais de 1/3 dos
trabalho de lê-lo, tendo em vista o grande resumos expandidos encontramos antes da
volume de literatura produzido todo mês hoje revisão termos como morcegos, quirópteros,
atualmente. quiropterofauna que nada acrescentam por ser
uma revista especializada em morcegos.
Autores – As revistas, de maneira geral, adotam Palavras como riqueza de espécies foram pouco
regras para os nomes dos autores, havendo utilizadas, apesar de cerca da metade dos
aquelas que só indicam as iniciais e o resumos serem levantamentos de espécies. Aqui
sobrenome completo e outras que adotam todos seria o local, salvo se especificado no título, de
os nomes por extenso. situar os táxons analisados.
A Chiroptera Neotropical não indica
nenhuma forma em suas instruções e os autores Introdução – Deve ser concisa, mas com
devem optar pela forma de citação que parágrafos conectados, sem saltos para assuntos
pretendem adotar (aquela indicada pelos diferentes, e deve ter uma linha clara de
pesquisadores em seus currículos na Plataforma argumentação. Deve partir do nível mais geral
Lattes do CNPq). Foi observado que os autores para o nível mais específico, levando o leitor a
por vezes enviaram mais de um resumo com entender como a questão abordada foi
grafias diferentes. formulada. Por ser uma revista especializada em
Títulos ou cargos, como ―doutor‖, morcegos é desnecessário iniciar com
―professor‖ ou mesmo ―graduando‖, ―alunos‖ e informações muito gerais, tais como ―Os
outros não devem ser incluídos. A ordem dos morcegos compreendem a segunda mais rica

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Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

ordem dos mamíferos, com 1.122 espécies na necessitam apenas do nome do autor, sendo o
atualidade...‖. ano desnecessário.
Ao final desta seção devem ser
discriminados os objetivos do trabalho. Deve-se Resultados e Discussão – Os resultados devem
explicar também na introdução qual foi a ser descritos de forma sucinta, sendo seguidos
motivação para o trabalho e qual diferencial ele dos resultados dos testes estatísticos se forem
traz. utilizados. Dê ênfase ao sentido biológico, não
ao resultado estatístico. Enfatize também a
Material e Métodos – Esta seção deve ser direção e magnitude das diferenças (e.g., duas
como uma receita de bolo, para permitir que vezes maior), não apenas o fato de haverem
seus colegas repliquem o trabalho. Devem ser diferenças.
discriminados todas as análises e métodos Não esquecer a unidade. Este erro se
usados nos resultados, mesmo os corriqueiros. mostrou relativamente frequente nos resumos
Foi frequente que o resultado de um teste fosse recebidos, como por exemplo, H‘ para os
indicado, sem o mesmo ter sido citado na seção valores de diversidade calculado pelo índice de
material e métodos. Mesmo testes corriqueiros Shannon (Magurran 1988). As unidades
como o teste t de Student e o índice de Shannon métricas (mm, cm, m, h e min) são símbolos e,
foram esquecidos e deveriam ser citados. portanto, não tem ponto ao final, não usam
Lembre-se de que um teste estatístico é uma caixa alta e são separadas do número por um
ferramenta para testar uma previsão biológica espaço.
derivada da sua hipótese de trabalho principal, Frequentemente foi indicado o tamanho das
portanto deve ficar claro qual teste está ligado a redes de neblina como, por exemplo, 9mx3m,
qual previsão. quando o mais correto seria 9 x 3 m. A grafia de
Ao descrever os métodos de captura deve ser horários tem uma regra própria e deve ser
indicado com detalhamento o número de redes adotada, por exemplo, 06h 00min. Note que
usadas, o tamanho de cada rede, o número de para minutos e segundos não se deixa espaço
horas de trabalho, quantas horas de captura a em branco entre o numeral e a unidade, mas
cada noite (ou dia), etc. Uma boa sugestão é entre os dois números. Para as coordenadas
padronizar o esforço total de captura usando a também notamos vários erros, sendo o correto a
fórmula apresentada por Straube & Bianconni seguinte indicação: 33° 22‘ 44,1‖ S, notando
(2002). No caso de coleta de espécimes, é que é deixado um espaço em branco entre cada
importante ainda informar claramente como os unidade e o numeral seguinte e os segundos são
animais foram mortos e qual instituição recebeu discriminados com aspas duplas e não duas
esses espécimes. aspas simples (INMETRO 2007). Sendo
Ao descrever uma área use as coordenadas internacionalmente adotado, deve-se usar as
geográficas do local onde as redes foram letras S para sul e W para oeste.
armadas e a altitude e não use as informações da Assim também deve ser usado n = 1 e não
reserva ou parque fornecidas pela n=1 como frequentemente observado. Outro
administração, que costumam ser muito gerais. erro constante foi a indicação de valores médios
Não repita as coordenadas obtidas de outro e seus desvios padrões, na forma de 114,5+25,4,
trabalho feito na mesma área sem antes conferi- quando o correto seria 114,5 + 25,4, seguido do
las, pois encontramos alguns erros grosseiros, que se refere – capturas, minutos, metros, etc.
com centenas de quilômetros de diferença. Deixe claro também se a medida de dispersão
Aparelhos de GPS hoje já estão disponíveis em usada é mesmo o desvio-padrão, ou se é o erro
todas as instituições. Com certeza um colega padrão ou alguma outra.
tem um e pode emprestá-lo em algum momento. O número de casas decimais deve ser
A descrição da vegetação deve ser sucinta padronizado, usando o mesmo número em todos
caso esteja disponível em uma fonte os resultados, e evitando-se falsa precisão, como
bibliográfica regular. por exemplo, três casas decimais para uma
Métodos empregados no laboratório devem medida tomada com um paquímetro que tem
ser descritos sucintamente desde que exista precisão de apenas uma casa decimal (0,1 mm).
previamente uma fonte detalhando-os. As Escreva números de zero a nove por extenso,
mudanças elaboradas pelos autores a um e de dez em diante com numerais. Tenha
método já empregado e publicado devem ser cuidado de deixar claro o que é fato observado
detalhadas, se existirem. (resultado) do que é interpretação do fato
Todos os nomes científicos citados pela (discussão).
primeira vez no texto devem ser acrescidos do Não comente resultados alheios como se
autor e ano da descrição original, exceção feita fossem seus, apenas compare-os com seus
para o título e resumo (se existisse). Plantas próprios resultados, sem fazer isso
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Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

excessivamente. Faça também uma sem a referência correspondente e vice-versa.


interpretação real dos resultados, até onde eles Evite usar muitas referências para corroborar
permitirem, sem ficar na apresentação pura, mas uma só afirmação, pois o espaço para cada
também sem exagerar nas inferências e manuscrito é limitado, e excesso de citações não
generalizações, caindo em especulação. torna uma afirmação mais confiável. As
referências devem incluir aquelas clássicas e
Agradecimentos – É desnecessário iniciar com necessárias e também as mais atuais onde o
―Agradecemos a...‖. Liste diretamente a quem assunto foi discutido detalhadamente. Outro
agradecer seguido da razão para tal. Adjetivos erro freqüente foi a imprecisão nas citações. Se
devem ser evitados. Os nomes incluídos devem numa mesma afirmação você incluir diferentes
ser completos ou pelo menos com nome e informações dadas por diferentes trabalhos,
sobrenome e não devem ser extensivos a deixe claro quem falou o que: por exemplo,
família, equipe que ajudou, etc. ―morcegos vivem muito (Fulano 2000), comem
Aqui é o espaço, salvo se indicado, como foi de tudo (Beltrano 2001) e são importantes para
no caso deste EBEQ, de incluir as fontes de os ecossistemas (Ciclano 2002)‖. Ficou claro
financiamento usuais, como CNPq, FINEP e que a maioria dos resumos deteve-se
Fundações estaduais ou regionais de pesquisa. unicamente às referências de fácil acesso pela
Não se deve incluir a sua instituição, exceto se internet, aos arquivos em pdf, demonstrando
esta forneceu recursos financeiros específicos que os alunos provavelmente não usam outras
para tal pesquisa. Apoio institucional está fontes importantes de pesquisa bibliográfica,
subentendido no endereço do autor e, se como as bibliotecas, onde se encontram os
necessário, incluído como agradecimento e não periódicos mais antigos. Para ter uma boa base
discriminado como financiamento. no seu tópico de estudo, é imprescindível ler
Aproveite para agradecer as bolsas também os artigos e livros seminais, os
recebidas, indicando os números dos processos, ―clássicos‖, e não apenas os trabalhos mais
caso exigido pelo financiador. novos. No caso dos trabalhos mais novos, é
Se citar sua licença de coleta indique o preciso que se façam pesquisas bibliográficas
número da concessão do SISBIO ou do mais aprofundadas, pois em muitos casos
processo. deixou-se de citar trabalhos de grande impacto
Notamos em pelo menos cinco resumos a publicados nos últimos cinco anos. Deve-se
inclusão de um dos autores nos agradecimentos aproveitar o amplo acesso a revistas e índices
o que é desnecessário, pois o mesmo teve seus científicos disponível no Brasil.
esforços premiados pela inclusão de seu nome
entre os autores. Revisão dos textos – Ao receber o texto
revisado proceda às sugestões enumeradas, faça
Conclusões – Deve ser a moral da história as mudanças ou justifique as que não fizer com
desenvolvida no decorrer do manuscrito, após argumentação clara e concisa em um arquivo à
apresentada toda a argumentação (fatos e parte. Apague todas as marcações de revisões e
interpretações). Tem que ser curta, sem comentários para devolver uma nova versão do
apresentar números ou referências texto inteiramente limpa. Recebemos vários
bibliográficas. Algumas conclusões se limitaram resumos ainda com os comentários e em alguns
a repetir os resultados ou a discussão de forma casos com comentários dos autores junto aos
resumida, sem fazer uma síntese real ou apontar dos revisores, o que tomou muito tempo dos
direções futuras. Como regra geral, deve ser editores.
curta e estar relacionada ao(s) objetivo(s) do
trabalho. Considerações finais – Todas as palavras e
abreviações que não forem do idioma usado no
Referências bibliográficas – Consulte sempre texto devem estar em itálico, salvo quando a
previamente as normas da revista. Caso não revista especificar o contrário, dentre essas as
tenham sido divulgadas use as normas da seguintes abreviações: aff. (affinis - afim a,
Associação Brasileira de Normas Técnicas próximo de), cf. (confer - compare), e.g.
(ABNT 2002). Salvo se especificado nas (exempli gratia - por exemplo), et al. (et alli - e
instruções aos autores, devem ser fornecidas outros), op cit. (opere citato - na obra citada).
completas, sem abreviações e com todos os Escrever bem requer muita prática e leitura,
dados. Editora e cidade ausentes quando mas também muito estudo. No caso do estilo
discriminados livros como fontes bibliográficas científico de redação, há uma série de livros em
foram erros muito frequentes. português que podem ajudar muito os iniciantes
A falta de conferência detalhada antes do no aprendizado das técnicas básicas (e.g.
envio acarretou um elevado número de citações Volpato 2007a, 2007b e 2009). Há também um
11
Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

ótimo livro em inglês sobre o tema (Day 1998), Magurran A.E. 1988. Ecological diversity and
que é usado como manual no mundo todo. its measurement. Croom Helm, London.
Straube F.C. e Bianconi G.V. 2002. Sobre a
Referências grandeza e a unidade utilizada para estimar
Associação Brasileira de Normas Técnicas. esforço de captura com utilização de redes
2002. Informação e documentação – citações de neblina. Chiroptera Neotropical 8: 150–
em documentos – apresentação: NBR 10520. 152.
Rio de Janeiro. Volpato G.L. 2007a. Bases teóricas para
Day R.A. 1998. How to write & publish a redação científica. Scripta, Vinhedo.
scientific paper. Oryx Press, Phoenix. Volpato G.L. 2007b. Ciência: da filosofia à
Instituto Nacional de Metrologia. 2007. Sistema publicação. Cultura Acadêmica, São Paulo.
Internacional de Unidades – SI. 8a. Edição. Volpato G.L. 2009. Publicação científica.
Inmetro, Rio de Janeiro. Cultura Acadêmica, São Paulo.

12
Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Avaliação da eficiência de inventários rápidos de morcegos no estado do Rio de


Janeiro, Brasil

Elizabete Captivo Lourenço*, Luciana Moraes Costa, Júlia Lins Luz, Ana Paula Felix Carvalho, Luiz
Antônio Costa Gomes, Lorena Nicolay Freitas, William Douglas, Renan Dias e Carlos Eduardo Lustosa
Esbérard

Laboratório de Diversidade de Morcegos, UFRRJ, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil.

*Corresponding author. Email: beteclouren1205@yahoo.com.br


Palavras-chave: Métodos, Protocolo para inventários rápidos, Riqueza de espécies

Introdução quando comparadas com outras localidades


Morcegos são amostrados no Brasil por mais pobres (e.g. Lim e Norman 2002;
períodos relativamente longos, 12 ou mais Montambault e Missa 2002). No entanto,
meses, resultando em considerável esforço de mostra-se importante avaliar quanto da riqueza
coleta e custo considerado elevado (Bergallo et e diversidade de morcegos é realmente
al. 2003; Esbérard e Bergallo 2008; Esbérard amostrado com inventários rápidos.
2009). No entanto, mesmo estes inventários não
conseguem amostrar um número razoável de Material e Métodos
espécies raras, que só são obtidas em projetos Sete locais no estado do Rio de Janeiro
com esforço de coleta superior ao normalmente foram inventariados entre 2005 e 2008 dos quais
adotado (Esbérard 2009). já existia conhecimento prévio da diversidade
O Programa de Avaliação Rápida (RAP) de morcegos: (1) RPPN Morro de São João (22°
proposto pela Conservation International (e.g. 29‘ 55‖ S e 41° 58‘ 53‖ W), Casimiro de Abreu;
Conservation International 2000; Alonso et al. (2) Reserva de Guapiaçú (22° 30‘ 52‖ S e 42°
2001; Chermoff et al. 2001; Montambault e 58‘ 37‖ W), Guapiaçú; (3) Estação Ecológica
Missa 2002; Martins et al. 2006) consiste em Paraíso (22° 29‘ 13‖ S e 42º 54‘ 30‖ W),
estudos de curta duração (uma a duas semanas), Guapimirim; (4) Parque Nacional de Jurubatiba
realizados de modo a amostrar a maior riqueza (21° 06‘ 14,4‖ S e 41° 28‘ 12,0‖ W), Quissamã;
de espécies em áreas desprovidas previamente (5) Ilha da Marambaia (23° 04‘ 03‖ S e 43° 53‘
de esforços de coleta. O programa RAP foi 14‖ W), Mangaratiba; (6) RPPN Rio das Pedras
idealizado em 1990 e cada campanha dura em (22° 59‘ 26― S e 44° 06‘ 03‖ W), Mangaratiba;
média de duas a três semanas, onde é realizado (7) Ilha Grande (23° 12‘ 44‖ S e 44º 13‘ 07‖
intenso esforço de coleta. Durante estes W), Angra dos Reis.
inventários rápidos são focados primariamente Foi adotado um protocolo padronizado para
os grupos de organismos que podem indicar o todas as áreas que consistiu de 40-50 horas de
status do habitat e aqueles que podem ser trabalho com 10 a 12 redes de neblina (90-144
amostrados rápida e apuradamente. Esta diretriz metros a cada noite), intercalando coletas de 6-
deu início a muitas ações em áreas mais 12 horas de duração e de 8 a 12 horas de
distantes dos centros urbanos para diferentes procura por refúgios durante o dia, considerando
grupos taxonômicos (Conservation International cada rede aberta (9 x 2,5 m) por uma hora como
2000). No entanto, com exceção de Martins et uma unidade amostral (Martins et al. 2006),
al. (2006), não há ainda, no Brasil, registros de resultando em 400-684 rede-hora por inventário.
inventários rápidos específicos para análise da Os inventários rápidos foram comparados
diversidade de morcegos. quanto à riqueza de espécies e quanto ao total de
Os inventários rápidos podem contribuir capturas. A riqueza obtida pelas capturas em
para o conhecimento prévio de uma área e redes e refúgios foi expressa tanto pelo total de
condensar um máximo de esforço de coleta em espécies (capturas em redes e refúgios), como
única campanha. A padronização do protocolo pela riqueza de Margalef (Dmg – Magurran
de coleta pode possibilitar a comparação da 1988). As recapturas não foram consideradas no
assembléia de morcegos entre duas localidades cálculo da abundância. O número de espécies
mesmo que o esforço amostral seja reduzido, esperadas foi calculado usando o estimador de
pois se espera que a diversidade obtida seja Chao-2 através do programa Spade.
representativa da diversidade local e que
localidades mais ricas apresentem maior riqueza

13
Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Foi realizada uma regressão linear entre a coleta por noite, maior número de redes a cada
riqueza observada nos inventários rápidos e a noite e mais ambientes amostrados.
riqueza local, usando o programa Systat 8.0. A adoção de protocolo padronizado de
coleta facilita a comparação entre diferentes
Resultados e Discussão ambientes, sítios ou assembléias e deve ser
Nos sete locais amostrados a variação entre adotado sempre que possível. O estudo
a riqueza local conhecida e a riqueza observada comparativo de morcegos ainda não recebeu a
nos inventários rápidos realizados neste trabalho devida atenção, mas pesquisadores de outros
resultou em relação linear positiva e grupos de mamíferos já estão discutindo mais
significativa (N = 7, r = 0,91, p = 0,004, F = detalhadamente vários aspectos da metodologia,
24,695, y = 10,172x + 1,153). Tal fato pode ser tais como para pequenos mamíferos (veja
resultante de terem sido amostrados diferentes Moura et al. 2008).
ambientes ou sítios de coleta, como já havia
sido sugerido por Bergallo et al. (2003) e Conclusões
descrito por Dias et al. (2008). A existência de relação linear altamente
Não foi obtida relação significativa entre a significativa entre a riqueza de espécies
riqueza local e o número de espécies esperadas observada nos inventários rápidos e a riqueza
pelo estimador de Chao (N = 7, r = 0,663, p = local conhecida demonstra que a realização
0,104, F = 3,931) e todos as riquezas foram deste procedimento para amostragens de
superiores ao estimado e em apenas uma morcegos é eficiente, e alcança o objetivo de
localidade o número esperado de espécies foi servir como parâmetro inicial para futuros
igual ao realmente encontrado através do investimentos em pesquisas e conservação.
inventário de maior duração – no Parque Embora, não substitua a necessidade de esforço
Nacional de Jurubatiba com 72 horas de de coleta intensivo que se mostra essencial para
amostragem. Todas as demais riquezas foram o conhecimento mais completo da fauna local,
superiores ao estimado, indicando não ser esta os inventários rápidos mostram-se ferramenta
estimativa adequada para estimar a riqueza a adequada para avaliação qualitativa das
partir dos inventários rápidos. assembléias de morcegos. Esta técnica se mostra
Não foram observadas diferenças entre a eficiente, não somente pela obtenção de parte da
riqueza (U = 14,00, p = 0,178), a riqueza de riqueza local contribuindo para as políticas
Margalef (U = 14,00, p = 0,317) e o total de públicas e seus programas de conservação, mas
capturas (U = 28,00, p = 0,655) para os também por poder ser usado para comparar
inventários rápidos realizados em locais já diferentes localidades sem o custo elevado de
amostrados. amostragens convencionais de morcegos em
Apesar de ter sido feito procura por refúgios longo prazo.
durante o dia, esses resultaram em elevado
número de capturas, mas em baixa riqueza, Agradecimentos
acrescentando apenas uma espécie às A.P. Fernandes, D.S. França, M. Pacheco,
amostradas em redes, mas acrescentando uma a T.J. Nogueira e aos Labvert (UFRJ) e
duas espécies em parte dos inventários. Laboratório de Ecologia de Pequenos
Morcegos ainda não são frequentemente Mamíferos (UERJ) pelo auxílio em campo; D.
amostrados por essa metodologia (Conservation Dias e M. Nogueira (UFRuralRJ) pelo auxílio
International 2009) e os poucos levantamentos na identificação do material testemunho; à
já disponíveis realizaram 67,5 horas em cada CAPES pela bolsa de mestrado de LMC e ECL;
RAP (Solari et al. 1998) ou obtiveram 217 rede- PIBIC/CNPq/UFRuralRJ pela bolsa de IC de
hora em 16 noites (McCullough et al. 2007), de LNF, LAG; JLL ao CNPq pela bolsa de
50 a 124 rede-hora em cada local (Ochoa et al. Doutorado (processo 552681/2008-3); APFC ao
2005) a até 326 a 542 rede-hora em cada local CNPq pela bolsa de apoio técnico (processo
(Martins et al. 2006). Os RAPs realizados neste 502570/2008-3); C.E.L.E. ao CNPq pela bolsa
trabalho são próximos aos descritos por Solari et de produtividade em pesquisa (processo
al. (1998) quanto ao total de horas de trabalho 301061/2007-6). O trabalho foi autorizado por
(40 a 50 h de trabalho noturno) e maiores que os licença permanente de coleta SISBIO/IBAMA
obtidos por Ochoa et al. (2005), Martins et al. (numero 10356-1). Financiamento: FAPERJ
(2006) e McCullough (2007) quanto ao total de (processo E-26/170.449/07), CNPq (processo
rede-hora (média de 517,5 + 99,16 rede-hora), 471983/2007-1), Conservation International do
apesar de compreenderem apenas uma semana Brasil através do programa CEPF, ―Plano de
efetivamente em campo. Este resultado é fruto Manejo da Lagartixa de Areia Liolaemus
de um protocolo para otimizar um menor tempo lutzae‖ - Ministério do Meio Ambiente, Rede-
em campo, com maior número de horas de
14
Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Rio para a Diversidade (FAPERJ), Instituto espécies de morcegos no sudeste do Brasil.


Biomas e National Geographic Society. Revista Brasileira de Zoologia 25: 67-73.
Lim B.K. e Norman Z. 2002. Rapid Assessment
of Small Mammals in the Eastern Kanuku
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Alonso L.E.; Alonso A.; Schulemberg T.S. e Eastern Kanuku Mountains, Lower Kwitaro
Dallmeirr F. 2001. Biological and social River, Guyana. Rapid Assessment Program
assessments of the Cordillera de Bulletin of Biological Assessment 26: 51-58.
Vilcabamba, Peru. Rapid Assessment Magurran A.E. 1988. Ecological diversity and
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Bergallo H.G.; Esbérard C.E.L.; Mello M.A.R.; Inventários biológicos rápidos de morcegos
Lins V.; Mangolin R. e Baptista M. 2003. (Mammalia, Chiroptera) em três Unidades
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is the minimum sampling effort?. Biotropica 23: 1175-1184.
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Dias D.; Esbérard C.E.L. e Peracchi A.L. 2008. Ochoa J.G.; Bevilacqua M. e Gárcia F. 2005.
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Esbérard C.E.L. e Bergallo H.G. 2008. Dallmeier F.), pp 197-206. Biodiversity
Influência do esforço amostral na riqueza de Program, Washington, DC.

15
Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Aspectos reprodutivos de morcegos capturados em mata nativa e reflorestamento


no norte do estado do Paraná, Brasil

Patrícia Helena Gallo(1)* e Nelio Roberto dos Reis(2)

(1) Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais, UEM, Maringá,


Paraná, Brasil. Laboratório de Ecologia de Mamíferos, UEL, Londrina, Paraná, Brasil; (2) Departamento
de Biologia Animal e Vegetal, UEL, Londrina, Paraná, Brasil. Laboratório de Ecologia de Mamíferos,
UEL, Londrina, Paraná, Brasil.

*Corresponding author. Email: patygallohc@yahoo.com.br


Palavras-chave: Estacionalidade, Proporção sexual
Introdução formada por vegetação Estacional Semidecidual
No Brasil, aproximadamente 25% dos Submontana, composta por espécies como
mamíferos são morcegos, com 167 espécies guaxupita (Esenbeckia febrifuga), pau d‘alho
descritas, das quais, 61 foram relatadas no (Gallesia integrifolia), pau-jacaré (Piptadenia
Paraná (Peracchi et al. 2006; Bianconi et al. gonoacantha), alecrim (Holocalyx balansae),
2008; Reis et al. 2008). Entre os morcegos peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron)
neotropicais, pode-se encontrar um período de (Torezan 2002). Parte deste remanescente
reprodução uni ou bimodal, com um longo florestal nativo, entretanto, foi submetida à
período de inatividade sexual ou reprodução extração seletiva de madeira no passado
contínua durante o ano (Wilson 1979). Em (aproximadamente vinte anos atrás). A área
média, morcegos produzem um filhote por ano, reflorestada (11,8 ha) foi implantada em 2002,
apresentando ciclos poliestros ou monoestros pelo Laboratório de Biodiversidade e
(Fleming et al. 1972; Zortéa 2003). Estes ciclos Restauração de Ecossistemas da Universidade
estão fortemente associados à estação de Estadual de Londrina com espécies nativas da
chuvas, quando a oferta de alimento é maior, Floresta Estacional e predomínio de mutambo
garantindo maior sobrevivência dos filhotes (Guazuma ulmifolia, Sterculiaceae), aroeirinha
(Zortéa 2003). De acordo com Kunz et al. (Schinus therebentifolius, Anarcadiaceae),
(1998), gravidez e lactação são períodos de jangadeiro (Heliocarpus americanus, Tiliaceae),
maior exigência energética, dependendo da embaúba branca ou embaúba do brejo
fêmea o sucesso reprodutivo (Sekiama 2003). (Cecropia pachystachya, Cecropiaceae) e
Trabalhos relacionados com a atividade crindiúva (Trema micrantha, Ulmaceae), além
reprodutiva de morcegos podem contribuir para de mais de 20 espécies.
o conhecimento das estratégias desenvolvidas
por esses animais para sobreviverem em Material e Métodos
ambientes que vem sofrendo alterações Os morcegos foram amostrados
constantes (Ortêncio-Filho et al. 2007). Foi mensalmente durante um ano (abril de 2007 a
realizado um levantamento das espécies de março de 2008), sendo duas noites consecutivas
morcegos e coletados dados referentes ao sexo, em cada fragmento, totalizando quatro noites de
estágio de desenvolvimento e condição coleta em cada mês. Oito redes de neblina
reprodutiva a fim de constatar possível (totalizando 230 m² de rede por noite) foram
diferença entre a proporção de machos e fêmeas armadas ao nível do solo, em trilhas no interior
entre indivíduos capturados, além de verificar o da mata e do reflorestamento, sendo vistoriadas
estágio reprodutivo dos mesmos. O estudo foi a cada quinze minutos, por seis horas após o
desenvolvido na Fazenda Congonhas, município pôr-do-sol. O esforço de captura em cada área
de Rancho Alegre, Paraná, região sul do Brasil foi de 2.760 h.m² (Straube e Bianconi 2002).
(23° 02‘ 19‖ S e 50° 56‘ 04‘‘ W). Possui Foi utilizado o teste qui-quadrado (χ2) para
altitude que varia de 336 a 340 m e clima tipo testar diferença no número de indivíduos do
Cfa, de Köppen (1948), quente, com invernos sexo masculino e feminino em cada estação do
secos e geadas pouco freqüentes. A área ano. O estágio de desenvolvimento (jovem ou
florestada da Fazenda compreende um adulto) de cada exemplar foi determinado
remanescente florestal de mata nativa e uma através da observação da ossificação das
área reflorestada, localizada adjacente ao epífises das falanges das asas, que apresenta
fragmento de mata, além de pequenas capoeiras, completamente ossificada somente no adulto
capôs de Eucalyptus sp. e outros (Sipinski e Reis 1995). A condição reprodutiva
reflorestamentos. A mata nativa (107,8 ha) é foi observada nas fêmeas e machos por meio de

16
Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

análises externas. Fêmeas foram classificadas espécies de morcegos formam haréns, e tendem
em: não-grávida; grávida; não-lactante; lactante; a ter menores áreas de vida em relação às
pós-lactante, através de apalpação no abdome fêmeas, tendo assim menor probabilidade de ser
para constatar possível prenhez e por sinais de capturados (Mello e Fernandez 2000; Baptista
lactação (mamilos intumescidos, desprovidos de 2001). De acordo com Fleming et al. (1972) e
pelos, secretantes ou não). Nos machos foi Heithaus et al. (1975), morcegos frugívoros, que
verificado se os testículos apresentavam escroto representam a maior parte das capturas,
evidente (escrotados) ou testículos intra- possuem dois picos reprodutivos (ciclo poliestro
abdominais (não-escrotados) (Fleming et al. bimodal), onde os filhotes nascem sempre fora
1972, Sipinski e Reis 1995, Costa et al. 2007). da estação de inverno, fugindo assim das
A identificação das espécies foi feita em campo, condições desfavoráveis como, por exemplo, a
de acordo com chaves de identificação (Vizotto diminuição dos itens alimentares disponíveis
e Taddei 1973, Gardner 1977). (Sipinski e Reis 1995), de modo que a lactação
ocorra no período de maior disponibilidade de
Resultados e Discussão recursos (período de chuvas).
Foram capturados 502 morcegos, 397 na
mata nativa e 105 no reflorestamento. Desse Conclusões
total, 252 eram fêmeas e 250 machos. Na mata Fêmeas grávidas e lactantes mais freqüentes
nativa mais machos foram capturados, com na estação úmida (primavera e verão) pode se
proporção macho/fêmea de 1:0,95 (203♂, relacionar a evitar o nascimento dos filhotes em
194♀). No reflorestamento mais fêmeas foram uma época de escassez de alimento, isto é, na
encontradas, com proporção entre machos e estação mais seca.
fêmeas de 1:1,23 (47♂, 58♀). O teste qui-
quadrado demonstrou diferença significativa Referências
entre machos e fêmeas apenas no outono, tanto Baptista M. 2001. Aspectos ecológicos dos
na mata nativa como no reflorestamento (p < morcegos (Mammalia, Chiroptera) do
0,05), sendo maior o número de fêmeas. Com Maciço da Pedra Branca, Rio de Janeiro, RJ.
relação à reprodução, no outono e no inverno Dissertação de Mestrado, Universidade do
observou-se um número maior de fêmeas não Estado do Rio de Janeiro.
grávidas nos dois ambientes. A partir de Bianconi G.V.; Suckow U.M.S.; Carneiro D.C.;
setembro (último mês do inverno) foram Parolin L.C. e Gregorin R. 2008. Primeiro
capturadas cinco fêmeas grávidas na mata (duas registro de Eumops perotis e Nyctinomops
de Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767), duas aurispinosus para o Estado do Paraná, sul do
de Artibeus lituratus (Olfers, 1818) e uma de Brasil. Anais do IV Congresso Brasileiro de
Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810). Nos meses Mastozoologia. São Lourenço, MG.
de primavera (outubro, novembro e dezembro), Costa L.M.; Almeida J.C e Esbérard C.E.L.
foram coletadas seis fêmeas grávidas (quatro de 2007. Dados de reprodução de Platyrrhinus
A. lituratus, uma de Carollia perspicillata lineatus em estudo de longo prazo no Estado
(Linnaeus, 1758) e uma de Myotis levis I. do Rio de Janeiro (Mammalia, Chiroptera,
Geoffroy, 1824), além de quatro lactantes de A. Phyllostomidae). Iheringia, Série Zoológica
lituratus. No verão foram registradas três 97(2): 152-156.
fêmeas grávidas (duas de A. lituratus, uma de Fleming T.H.; Hooper E.T. e Wilson D.E. 1972.
Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810), além Three Central American Bats Communities:
de duas lactantes e três pós-lactantes de A. structure, reproductive cycles, and
lituratus. No reflorestamento, não houve movement patterns. Ecology 53 (4): 555-
registro de nenhuma fêmea grávida em todas as 569.
estações. Na primavera foi capturada uma fêmea Gardner A.L. 1977. Feeding Habits. Em:
lactante e outra com filhote, ambas da espécie Biology of bats of the New World family
A. lituratus. No verão foi coletada uma fêmea Phyllostomatidae. Part II. (Editado por
lactante de A. lituratus. Quanto aos machos, na Baker R.J.; Jones J.K. e Carter D.C.),
mata nativa, um número maior apresentou o pp.293-350. Special Publication Museum
escroto evidente na primavera (22 indivíduos), Texas Tech University 13, Texas.
contra 17 no outono, 20 no inverno, e 12 no Heithaus S.R.; Fleming T.H. e Opler P.A. 1975.
verão. No reflorestamento, um número maior de Foraging patterns and resource utilization in
machos escrotados foram registrados no outono seven species of bats in a seasonal tropical
(7 indivíduos), contra 4 na primavera, 4 no forest. Ecology 56: 841-854.
verão e nenhum no inverno. No total, o maior Köppen W. 1948. Climatologia: con un estudio
número de fêmeas capturadas em relação aos de los climas de la tierra. Fondo de Cultura
machos pode ser devido ao fato de que várias Econômica, México.
17
Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Kunz T.H.; Robson S.K. e Nagy K.A. 1998. Tese de Doutorado, Universidade Federal do
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Reproductive ecology of the bat Carollia 528.
perspicillata (Chiroptera: Phyllostomidae) in Straube F.C. e Bianconi G.V. 2002. Sobre a
a fragment of the Brazilian Atlantic coastal grandeza e a unidade utilizada para estimar
forest. Z. Säugetier 65: 340-349. esforço de captura com utilização de redes-
Ortêncio-Filho H.; Reis N.R.; Pinto D. e Vieira de-neblina. Chiroptera Neotropical 8(1-2):
D.C. 2007. Aspectos reprodutivos de 150-152.
Artibeus lituratus (Phyllostomidae) em Torezan J.M.D. 2002. Nota sobre a vegetação
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Rico, Paraná, Brasil. Chiroptera Neotropical Tibagi (Editado por Medri M.E.; Bianchini
13(2): 313-318. E.; Shibatta O.A. e Pimenta J.A.), pp.103-
Peracchi A.L.; Lima I.P.; Reis N.R.; Nogueira 107. Itedes, Londrina.
M.R. e Ortêncio-Filho H. 2006. Ordem Vizotto L.D. e Taddei V.A. 1973. Chave para
Chiroptera. Em: Mamíferos do Brasil identificação de quirópteros brasileiros.
(Editado por Reis N.R.; Peracchi A.L.; Revista da Faculdade de Filosofia Ciências e
Pedro W A. e Lima I.P.), pp.153-230. Nelio Letras São José do Rio Preto – Boletim de
Roberto dos Reis, Londrina. Ciências 1: 1-72.
Reis N.R.; Lima I.P. e Miretzki M. 2008. Zortéa M. 2003. Reproductive patterns and
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morcegos (Editado por Reis N.R.; Peracchi (Phylostomidae: Glossophaginae) from the
A.L. e Santos G.A.S.D.), pp.143-148. Nelio Brazilian Cerrado. Brazilian Journal of
Roberto dos Reis, Londrina. Biology 63(1): 159-168.
Sekiama M.L. 2003. Um estudo sobre Wilson D.E. 1979. Reproductive patterns. Em:
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abordando ocorrência e capturas, aspectos Phyllostomidae. Part.I (Editado por Baker
reprodutivos, dieta e dispersão de sementes R.J.; Jones, J.K. e Carter D.), pp. 317-378.
no Parque Nacional do Iguaçu, PR, Brasil. Texas Tech University Press, Huston.

18
Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Riqueza de moscas ectoparasitas (Diptera, Streblidae) de morcegos no Instituto


Zoobotânico de Morro Azul, Paulo de Frontin, Sudeste do Brasil

Débora de S. França(1)*, Sérgio N. Pereira(1), Andrea Cecília S. Maas(1), Mayara A. Martins(1), Dayana
P. Bolzan(1), Daniela Dias(2) e Adriano Lúcio Peracchi(1)

(1) Laboratório de Mastozoologia, UFRRJ, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil; (2) Laboratório de
Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios, IOC/Fundação Oswaldo Cruz, Pavilhão
Arthur Neiva, Avenida Brasil, 4365, Rio de Janeiro, RJ, 21040-900.

*Corresponding author. Email: deborasfr@gmail.com


Palavras-chave: Hospedeiros, Lista de espécies, Phyllostomidae

Introdução
Os morcegos podem ser parasitados por Material e Métodos
artrópodes exclusivamente hematófagos da As coletas foram realizadas entre os dias 15
Ordem Diptera pertencentes à superfamília de setembro de 2007 e 20 de junho de 2009,
Hippoboscoidea, estando distribuídas entre duas independentes das fases do ciclo lunar. Em cada
famílias Streblidae e Nycteribiidae (Wenzel et noite de coleta, foram armadas antes do
al. 1966; Marshall 1982). A família Streblidae anoitecer em média dez redes de espera (mist
reúne espécies ápteras, braquípteras e aladas nets), ao nível do solo sendo mantidas abertas
agrupadas em cinco subfamílias: Trichobiinae, pelo período de 12 h (Esbérard e Bergallo 2005)
Streblinae e Nycterophiliinae, exclusivas do e vistoriadas a cada 20 min. Os morcegos
Novo Mundo; e Ascopterinae e capturados foram preliminarmente identificados
Nycteriboscinae, exclusivas do Velho Mundo, no campo, com auxílio das chaves de
sendo que no Brasil, atualmente são conhecidas identificação de Vizotto e Taddei (1973) e
68 espécies. (Graciolli et al. 2006). Emmons e Feer (1997). Após uma observação
Os estudos mais comumente realizados com na pelagem, asas e uropatágio dos morcegos, os
ectoparasitas de morcegos no Brasil são ectoparasitas foram coletados manualmente com
levantamentos taxonômicos, ocorrência de auxílio de pinças entomológicas e fixados em
espécies em áreas restritas (Graciolli e Aguiar álcool 70º GL armazenados em frascos
2002) ou sobre dados quantitativos de individuais devidamente etiquetados e
estreblídeos e nicteribiídeos (Bertola et al. 2005; posteriormente identificados em laboratório
Graciolli e Bianconi 2007). Esses estudos são de segundo Wenzel et al. (1966), Wenzel (1976),
extrema relevância porque através deles é Guerrero (1994a, b; 1995a, b; 1996) e Graciolli
possível a realização de outros trabalhos que e Carvalho (2001), observados em microscópio
visam investigar a estrutura da comunidade de esteroscópio.
ectoparasitas, os seus aspectos ecológicos, as Alguns espécimes de morcegos e
suas relações parasitas-hospedeiros além de seus ectoparasitas foram conduzidos ao laboratório
padrões de infestação (Komeno e Linhares para servir como material testemunho e se
1999; Bertola et al. 2005; Rui e Graciolli 2005), encontram incorporados à Coleção Adriano
porém eles ainda são escassos na região Lúcio Peracchi, no Instituto de Biologia da
Sudeste, principalmente, no Estado do Rio de Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Janeiro (Almeida et al. 2007; França et al. (licença IBAMA 15809).
2008).
Desta forma o presente estudo teve como Resultados e Discussão
objetivo realizar o levantamento de espécies de Dos 301 morcegos capturados no IZMA,
Streblidae que parasitam os morcegos pertencentes a sete espécies, da família
encontrados no Instituto Zoobotânico de Morro Phyllostomidae, somente 71 indivíduos
Azul (IZMA) que se encontra implantado em encontravam-se parasitados por moscas da
uma área particular de preservação permanente, família Streblidae. Sendo Carollia perspicillata
com 19 hectares, localizada no Município de (Linnaeus, 1758) e Anoura caudifer (E.
Engenheiro Paulo de Frontin, RJ, (22º 29‘ S e Geoffroy, 1818) as espécies com maior
43º 34‘ W) onde 56,4% da sua área apresentam freqüência de captura com 65% e 15% e com
cobertura florestal de Mata Atlântica. prevalência de 23,35% e 24,44%,
respectivamente: (i) Anoura caudifer sendo

19
Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

parasitada por Trichobius joblingi Wenzel, 1966 Ao Instituto Zoobotânico de Morro Azul, ao
e Trichobius tiptoni Wenzel, 1976; (ii) Anoura Hélio Freitas Santos pelo apoio concedido para
geoffroyi Gray, 1838 parasitada por a realização da pesquisa e a Francisco Racca
Paraeuctenodes longipes Pessoa e Guimarães, Filho pelo auxílio na identificação das espécies.
1936 e Aspidoptera sp.; (iii) Artibeus fimbriatus Financiamento: CNPq, FAPERJ e CAPES.
Gray, 1838 parasitada por Megistopoda aranea
(Coquillet, 1899); (iv) Artibeus lituratus (Olfers, Referências
1818) parasitada por Paratrichobius longicrus Almeida J.C.; Silva S.S.P.; Serra-Freire N.M.;
(Miranda Ribeiro, 1907), Aspidoptera Cruz A.P.; Mendes, C.P.A. e Peracchi, A.L.
phyllostomatis (Perty, 1833) e Megistopoda 2007. Moscas Ectoparasitas (Diptera,
aranea (Coquillet, 1899); (v) Carollia Streblidae) de Morcegos (Mammalia,
perspicillata parasitada por Strebla guajiro Chiroptera) no Parque Estadual da Pedra
(García e Casal, 1965), Trichobius joblingi Branca, Rio de janeiro, Brasil. Anais do VIII
Wenzel, 1966, Paraeuctenodes longipes Pessoa Congresso Brasileiro de Ecologia. Caxambu,
e Guimarães, 1936; (vi) Glossophaga soricina MG.
(Pallas, 1766) parasitada por Trichobius joblingi Bertola P.B.; Aires C.C.; Favorito S.E.;
Wenzel, 1966; (vii) Sturnira lilium (E. Graciolli G.; Amaku M. e Pinto-da-Rocha R.
Geoffroy, 1810) parasitada por Megistopoda 2005. Bat flies (Diptera: Streblidae,
próxima (Séguy, 1926) e Aspidoptera falcata Nycteribiidae) parasitic on bats (Mammalia:
Wenzel, 1976. Chiroptera) at Parque Estadual da
Estudos realizados na Região Sudeste, como Cantareira, São Paulo, Brazil: parasitism
os de Bertola et al. (2005), em São Paulo, rates and host-parasite associations.
encontraram as mesmas espécies de estreblídeos Memórias do Instituto Oswaldo Cruz
associados às espécies: A. caudifer, A. 100(1): 25-32.
fimbriatus, A. lituratus, C. perspicillata e Emmons L.H. e Feer F. 1997. Neotropical
Sturnira lilium enquanto que Komeno e rainforest mammals: a field guide. 2nd ed.
Linhares (1999) encontraram os mesmos The University of Chicago Press, Chicago.
resultados somente em A. caudifer, C. Esbérard C.E.L. e Bergallo H.G. 2005. Coletar
perspicillata e Sturnira lilium e diferenças nas morcegos por 6 ou 12 horas a cada noite?
associações na espécie A. geoffroyi. Estudos Revista Brasileira de Zoologia 22(4): 1095-
realizados por França et al. (2008) no estado do 1098.
Rio de Janeiro com C. perspicillata encontraram França D.S.; Gomes L.A.C.; Lourenço E.C.;
as mesmas associações de estreblídeos Costa L.M. e Esbérard C.E.L. 2008.
parasitando essa espécie. Almeida et al. (2007) Prevalência e infestação média de
não encontraram essa associação, sendo C. ectoparasitas (Diptera: Streblidae) em
perspicillata parasitada por T. tiptoni. Os Carollia perspicillata (Chiroptera:
mesmos autores encontraram T. joblingi, que Phyllostomidae) no Estado do Rio de
comumente parasita C. perspicillata, presente Janeiro. Anais do IV Congresso Brasileiro
em outros hospedeiros como Desmodus de Mastozoologia. São Lourenço, MG.
rotundus (E. Geoffroy, 1810) e Phyllostomus Graciolli G. e Aguiar L.S. 2002. Ocorrência de
hastatus (Pallas, 1767), porém é comum a moscas ectoparasitas (Diptera, Streblidae e
ocorrência de estreblídeos parasitando outros Nycteribiidae) de morcegos (Mammalia,
hospedeiros, diferente do hospedeiro-tipo, com Chiroptera) no Cerrado de Brasília, Distrito
prevalências menores. Federal, Brasil. Revista Brasileira de
Zoologia 19(1): 177-181.
Conclusões Graciolli G.; Cáceres N.C. e Bornschein M.R.
Com o presente estudo, é possível concluir 2006. Novos registros de moscas
que as relações entre a fauna de estreblídeos e as ectoparasitas (Diptera, Streblidae e
espécies de morcegos coletados no IZMA Nycteribiidae) de morcegos (Mammalia,
corroboram os estudos realizados na Região Chiroptera) em áreas de transição cerrado –
Sudeste. Porém como os dados são floresta estacional no Mato Grosso do Sul,
preliminares, é necessário um maior esforço de Brasil. Biota Neotropica 6(2): 1-4.
amostragem para uma maior compreensão da Graciolli G. e Bianconi G.V. 2007. Moscas
distribuição dessas espécies de estreblídeos no ectoparasitas (Diptera, Streblidae e
Rio de Janeiro, e para compreender as Nycteribiidae) em morcegos (Mammalia,
interações ecológicas entre os ectoparasitas e Chiroptera) em área de Floresta com
seus hospedeiros. Araucária no Estado do Paraná, sul do
Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 24(1):
Agradecimentos 246-249.
20
Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Guerrero R. 1994a. Catalogo de los Streblidae VI. Streblinae. Acta Biologica Venezuelica
(Diptera: Pupipara) parasitas de Murciélagos 16(2): 1-25.
(Mammalia: Chiroptera) del Nuevo Mundo. Komeno C.A. e Linhares A.X. 1999. Bats flies
II. Los grupos: Pallidus, caecus, major, parasitic on some phyllostomid bats in
uniformis, y longipes del gênero Trichobius Southeastern Brazil. Parasitism rates and
Gervais, 1844. Acta Biologica Venezuelica host-parasite relationships. Memórias do
15(1): 1-18. Instituto Oswaldo Cruz 94: 151-156.
Guerrero R. 1994b. Catalogo de los Streblidae Marshall A.G. 1982. Ecology of insects
(Diptera: Pupipara) parasitas de Murciélagos ectoparasitic on bats. Em: Ecology of Bats.
(Mammalia: Chiroptera) del Nuevo Mundo. (Editado por Kunz T.H.), pp. 369-401.
IV. Trichobiinae com alas desarrolladas. Plenum, New York.
Boletín Entomologica Venezolana, Nueva Rui A.M. e Graciolli G. 2005. Moscas
Serie 9(2): 161-192. ectoparasitas (Diptera, Streblidae) de
Guerrero R. 1995a. Catalogo de los Streblidae morcegos (Chiroptera, Phyllostomidae) no
(Diptera: Pupipara) parasitas de Murciélagos sul do Brasil: Associações hospedeiros –
(Mammalia: Chiroptera) del Nuevo Mundo. parasitos e taxas de infestação. Revista
III. Los grupos: dugesii, dunni y Brasileira de Zoologia 22(2): 438-445.
phyllostomae del gênero Trichobius Gervais, Vizotto L.D. e Taddei V.A. 1973. Chave para
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(Mammalia: Chiroptera) del Nuevo Mundo. Young University Science Bulletin,
Biological Series, Provo 20: 1-177.

21
Chiroptera Neotropical 16(1) Suppl., August 2010

Reprodução em cinco espécies de morcegos filostomídeos na Reserva Natural do


Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná

Nathalia Y. Kaku-Oliveira(1,2)*; Luana C. Munster(1,2); Marcelo B.G. Rubio(3) e Fernando C.


Passos(3)

(1) Programa de Pós-Graduação em Zoologia, UFPR; (2) Laboratório de Biodiversidade, Conservação e


Ecologia de Animais Silvestres, Departamento de Zoologia, UFPR, Paraná, Brasil.

*Corresponding author. Email: nathalia_yurika@yahoo.com


Palavras-chave: Artibeus, Carollia, Sturnira

Introdução
Os morcegos no Brasil são fortemente
representados pela família Phyllostomidae, que Material e Métodos
corresponde a mais de 50% da riqueza do país A área de estudo foi a Reserva Natural do
(Reis et al. 2007). Os morcegos desta família Salto Morato (RNSM) (25° 10' S e 48° 18' W),
apresentam uma diversidade de hábitos localizada no município de Guaraqueçaba,
alimentares, comportamentos de forrageio, de Estado do Paraná. A Reserva é de propriedade
abrigo, reprodutivos, dentre outros. Os padrões da Fundação O Boticário de Proteção à
reprodutivos dos morcegos tropicais podem ser Natureza, apresenta um total de 2.340 ha e está
resumidos em quatro tipos básicos, a monoestria inserida na Área de Proteção Ambiental de
sazonal, poliestria sazonal, poliestria contínua e Guaraqueçaba. Situa-se no grande domínio da
poliestria acíclica (Fleming et al. 1972). A Mata Atlântica na formação de Floresta
poliestria sazonal parece ser o padrão Ombrófila Densa. As capturas foram feitas com
reprodutivo da maioria dos Phyllostomidae dez redes de neblina, as quais ficaram armadas
(Fleming et al. 1972; Wilson 1979; Taddei durante toda a noite, três noites por mês, de
1980). Os padrões reprodutivos, de maneira dezembro de 2007 a maio de 2009. Os
geral, estão relacionados à questão da morcegos capturados foram identificados,
maximização da geração de filhotes em período sexados, classificados quanto ao
com maior disponibilidade de recursos desenvolvimento (jovens e adultos), e quanto ao
alimentares (Wimsatt 1960). Assim, os padrões estado reprodutivo. Para os machos foram
reprodutivos estariam relacionados à observadas as posições dos testículos,
sazonalidade desses recursos, que nas regiões abdominais ou evidentes em bolsa escrotal. As
tropicais estão em sincronia com os padrões de fêmeas foram classificas em não grávidas,
chuva e com os hábitos alimentares específicos grávidas, lactantes e pós-lactantes.
das espécies de morcegos (Trajano 1984). A
relação entre a sazonalidade e as estratégias Resultados e Discussão
reprodutivas demonstra que esta pode variar Das 106 fêmeas adultas de Artibeus
para a mesma espécie em regiões diferentes. lituratus, 38 eram não grávidas, 24 grávidas
Logo, deve-se tomar cuidado no (capturadas de janeiro-março, outubro,
estabelecimento de padrões reprodutivos para novembro), 37 lactantes (dezembro-maio,
espécies de áreas distintas (Wilson 1979; Taddei outubro, novembro), 6 pós-lactantes e uma
1980). Os estudos sobre a reprodução de grávida e lactante em maio de 2008. Foram
morcegos têm se intensificado no Brasil (Willig capturados 50 machos com testículos
1985; Bernard 2002; Silva et al. 2004). abdominais, 17 com testículos evidentes e 113
Entretanto, para muitas espécies e em várias jovens, com concentração de capturas em
regiões do Brasil as informações ainda são fevereiro e março. O período reprodutivo de A.
escassas. O objetivo deste estudo foi descrever o lituratus varia entre as regiões geográficas,
padrão reprodutivo das espécies mais sendo sugerido para o Brasil poliestria bimodal
abundantes na Reserva Natural do Salto Morato, com um pico em fevereiro e março e outro em
Guaraqueçaba, Paraná, que foram Artibeus outubro e novembro (Bredt et al. 1996). Na
lituratus, Artibeus obscurus, Sturnira lilium, RNSM, considerando os meses em que
Sturnira tildae e Carollia perspicillata. ocorreram fêmeas grávidas, esses dois picos
reprodutivos são corroborados. O fato da

22
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

maioria dos machos de A. lituratus estarem Essas informações corroboram o padrão de


externamente inativos não significa que poliestria bimodal (Fleming et al. 1972), sendo
efetivamente estavam, uma vez que estudos o pico reprodutivo na estação chuvosa.
histológicos demonstraram atividade
reprodutiva destes durante todo o ano (Duarte e Conclusões
Talamoni 2009). A fêmea capturada grávida e A poliestria bimodal foi observada para as
lactante, também corrobora com a proposta de cinco espécies estudadas na RNSM, embora os
poliestria bimodal para A. lituratus na RNSM. dados de A. lituratus e C. perspicillata tenham
As fêmeas adultas de Artibeus obscurus não sido mais consistentes para corroborar esse
grávidas foram 20, 2 grávidas (em janeiro), 13 padrão. Artibeus obscurus, S. lilium e S. tildae
lactantes (em janeiro, março-maio, outubro) e 3 tiveram dados menos robustos, mas
pós-lactantes. Foram capturados 44 machos com apresentaram características da poliestria
testículos abdominais e 8 com testículos bimodal. Essas diferenças podem estar
evidentes, enquanto os jovens totalizaram 60 relacionadas à abundância de cada espécie, visto
capturas com maior concentração de janeiro- que A. lituratus e C. perspicillata tiveram
abril, e alguns indivíduos capturados em julho, aproximadamente o dobro de indivíduos
agosto e outubro. A presença de lactantes no capturados em relação as três espécies. As
final da estação seca e na chuvosa e a presença informações reprodutivas provenientes de
de jovens nesses períodos são indicativos de observações externas dos indivíduos, sem
poliestria bimodal, existindo variação análises clínicas e/ou histológicas, limitam as
geográfica no padrão da espécie (Haynes e Lee- inferências com relação ao padrão reprodutivo
Jr 2004). das espécies, sendo esta a dificuldade do
Foram capturadas quatro fêmeas grávidas presente estudo. Assim, mesmo com limitações,
(janeiro-março, outubro) de Sturnira lilium, dez as inferências reprodutivas baseadas em
não grávidas, 16 lactantes (janeiro-junho) e três caracteres externos são geralmente feitas com as
pós-lactantes. Foram capturados 15 machos com informações das fêmeas, cujos caracteres
testículos abdominais e quatro com testículos externos de gravidez, lactação e pós-lactação
evidentes. Os jovens totalizaram 47 indivíduos, realmente indicam atividade reprodutiva.
com pico de capturas de janeiro-abril. A
poliestria bimodal proposta para S. lilium Agradecimentos
(Wilson 1979; Gannon et al. 1989) foi Fundação O Boticário de Proteção à
corroborada, embora os dados não sejam Natureza. Financiamento: CNPq.
robustos. A atividade reprodutiva se concentrou
no período chuvoso. Referências
Dentre as fêmeas adultas capturadas de Bernard E. 2002. Diet, activity and reproduction
Sturnira tildae, quatro estavam grávidas of bat species (Mammalia, Chiroptera) in
(capturadas em fevereiro e março), 14 não Central Amazonia, Brazil. Revista
grávidas, cinco lactantes (em janeiro, abril e Brasileira de Zoologia 19(1): 173-188.
maio), nove pós-lactantes e uma estava grávida Bredt A.; Araújo F.A.A.; Caetano-Júnior J.;
e lactante em fevereiro de 2008. Seis machos Rodrigues M.G.R.; Yoshizawa M.; Silva
estavam com testículos evidentes e 31 M.M.S.; Harmani N.M.S.; Massunaga
abdominais. Os jovens totalizaram 45 capturas, P.N.T.; Burer S.P.; Potro V.A.R. e Uieda
com o pico destas ocorrendo de janeiro-maio. A W. 1996. Morcegos em áreas urbanas e
concentração de fêmeas e machos reprodutivos rurais: manual de manejo e controle.
de S. tildae do início ao fim do período chuvoso Fundação Nacional de Saúde, Ministério da
suporta uma monoestria estacional. Porém, a Saúde, Brasília.
poliestria bimodal é corroborada com a Duarte A.P.G. e Talamoni S.A. 2009.
observação das fêmeas, com uma capturada Reproduction of the large fruit-eating bat
lactante em janeiro, grávida em março, lactante Artibeus lituratus (Chiroptera:
em abril e maio e pós-lactante em junho. Phyllostomidae) in a Brazilian Atlantica
Carollia perspicillata teve 85 fêmeas adultas forest area. Mammalian Biology,
capturadas, das quais 47 eram não grávidas, 14 doi:10.1016/j.mambio.2009.04.004.
grávidas (capturadas de janeiro-março, Fleming T.H.; Hooper E.T. e Wilson D.E. 1972.
setembro, novembro, dezembro), 23 lactantes Three Central American Bats Communities:
(janeiro-março, maio, outubro-dezembro) e uma structure, reproductive cycles, and
pós-lactante. Dois machos estavam com movement patterns. Ecology 53(4): 556-
testículos evidentes, 52 com testículos 569.
abdominais e 140 capturas foram de jovens, que
ocorreram durante todo o período amostrado.
23
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Gannon M.R.; Willig M.R. e Jones Jr J.K. 1989. Trajano E. 1984. Ecologia de populações de
Sturnira lilium. Mammalian Species 333: 1- morcegos cavernícolas em uma região
5. cárstica do Sudeste do Brasil. Revista
Haynes M.A. e Lee Jr T.E. 2004. Artibeus Brasileira de Zoologia 2(5): 255-320.
obscurus. Mammalian Species 752: 1-5. Willig M.R. 1985. Reproductive patterns of bats
Reis N.R.; Peracchi A.L.; Pedro W.A. e Lima from Caatingas and Cerrado biomes of
I.P. 2007. Morcegos do Brasil. Londrina. Northeast Brazil. Journal of Mammalogy
Silva S.S.P.; Guedes P.G.; Camardella A.R. e 66: 668-681.
Peracchi A.L. 2004. Survey of bats Wilson D.E. 1979. Reproductive patterns. Em:
(Mammalia, Chiroptera), with coments on Biology of bats of the New World Family
reproduction status, in Serra das Almas Phyllostomatidae. Part III. (Editado por:
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Ceará, northwestern of Brazil. Chiroptera 317-378. Special Publications Museum
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Taddei V.A. 1980. Biologia Reprodutiva de Wimsatt W.A. 1960. An Analysis of Parturition
Chiroptera: perspectivas e problemas. in Chiroptera, Including New Observations
IBILCE-UNESP 6: 1-18. on Myotis l. lucifugus. Journal of
Mammalogy 41(2): 183-200.

24
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Bionomia de Morcegos em Áreas Urbanas: Parque Natural Municipal da


Freguesia e Fazenda Marambaia no Município do Rio de Janeiro, RJ

Shirley Seixas Pereira da Silva(1)*, Alexandre Pinhão da Cruz(1), Juliana Cardoso de Almeida(1,2) e
Adriano Lúcio Peracchi(3)

(1) Instituto Resgatando o Verde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; (2) Laboratório de Ixodides, FIOCRUZ, Rio
de Janeiro, RJ, Brasil; (3) Laboratório Mastozoologia, UFRRJ, Seropédica, RJ, Brasil.

*Corresponding author. Email: batshirley@gmail.com.


Palavras-chave: Alimentação, Mata Atlântica, Sinantrópico

Introdução A segunda área de estudo denomina-se


Das 190 espécies de quirópteros que Fazenda Marambaia (FM), está localizada a 4,3
ocorrem na América do Sul, 74% são km do PEPB, com 1.170 hectares, administrada
registradas ao Brasil e estão distribuídas em pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
nove famílias, 56 gêneros, e 141 espécies Esta área apresenta vegetação típica de Mata
conhecidas (Koopman 1993). Para o Estado do Atlântica em estágio secundário de
Rio de Janeiro os estudos de Peracchi e desenvolvimento, onde são encontradas diversas
Albuquerque (1971, 1986), Teixeira e Peracchi espécies de Moraceae, Euphorbiaceae,
(1996), Esbérard (1998) e Dias et al. (2002) Cecropiaceae, Piperaceae, Solanaceae,
contribuíram para um maior conhecimento da Melastomataceae, etc. A fauna em ambas as
quiropterofauna em áreas florestadas. Porém áreas é diversificada onde pode ser observada a
pouco se sabe sobre a quiropterofauna presença de mamíferos de pequeno porte, aves,
sinantrópica que habita o entorno de anfíbios, répteis e insetos. Neste estudo, foram
remanescentes florestais. Através do Decreto observados os recursos os alimentares
Municipal nº 11.830/92, foi criado em utilizados, presença de alopecia e os períodos
11/12/1992 o Parque Natural Municipal da reprodutivos de 13 espécies de morcegos que
Freguesia – Bosque da Freguesia (BF), com ocorrem nas áreas de estudo, visando aumentar
área de 31 hectares, administrada pela Prefeitura o conhecimento da biologia de animais
da Cidade do Rio de Janeiro. Localiza-se entre sinantrópicos no município do Rio de Janeiro.
dois grandes remanescentes florestais: Parque
Estadual da Pedra Branca (PEPB) com 12.500 Material e Métodos
hectares, a 6,3 Km de distância e Parque Durante o período de março de 2008 a
Nacional da Tijuca (PNT) com 3.972 hectares a dezembro de 2009, foram realizadas coletas
5,4 Km de distância. A mata que compõe o quinzenais, em trilhas no interior do BF (22° 56‘
Bosque é basicamente secundária, em estágio 56‖ S e 43° 20‘ 36‖ W) e interior da FM (22°
inicial e médio de regeneração, pertencente às 56‘ 22‖ S e 43° 36‘ 38‖ W). As sessões
Formações Pioneiras (mata de alagados) e à ocorreram preferencialmente em noites de lua
Floresta Ombrófila Densa de Baixada, segundo minguante e nova. Utilizou-se seis redes de
IBGE, já desaparecidas da região. O Bosque, neblina (mist-nets), com sete, nove e doze
como o nome sugere, é uma formação metros de comprimentos, dois metros de altura e
predominantemente arbórea, quase que 25 mm de malha, perfazendo um total de 6.480
totalmente plantada no período correspondente m²/h, que foram estendidas ao nível do solo,
ao final do século XIX e início do século XX, sempre próximas à fonte de alimentos (vegetais
abrigando uma variedade de espécies frutíferas em frutificação ou floração) e abrigos. Durante
nativas e exóticas. Entre as espécies arbóreas o intervalo de 18h00min às 06h00min, as redes
freqüentes têm-se espécies exóticas como: a foram vistoriadas a cada 15 minutos ou menos
jaqueira – Artocarpus heterophyllus, a dependendo da atividade dos animais.
tamarineira Tamarindus indica, o jameloeiro Os morcegos capturados foram
Syzygium jambolanum, a mangueira Mangifera identificados, no campo e, em seguida,
indica, a amendoeira Terminalia catappa, o acondicionados em sacos de tecido (algodão)
flamboyant Delonix regia palmeira-imperial numerados, visando à coleta das fezes para
Rosytohea oleracea, além de bambuzal posterior análise. Para cada animal capturado
Merostachys sp. e na região do sub-bosque, foram anotados: horário de captura, número do
podem ser encontradas Piperaceae, Solanaceae, saco, sexo e peso. Medidas morfométricas
Melastomataceae, etc. foram obtidas com auxílio de paquímetro digital

25
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

e expressas em milímetros (mm). Todos os frugívoro generalista, tendo em vista a


animais foram marcados utilizando-se colar de variedade de frutos utilizados. Enquanto A.
miçangas coloridas. O estágio reprodutivo foi obscurus concentrou-se particularmente em
verificado através da observação direta nos frutos de Solanaceae e A. planirostris em frutos
machos do desenvolvimento dos testículos de Cecropiaceae. Segundo Fleming (1982), as
(machos com testículos escrotados) e nas espécies de Artibeus tendem a se concentrar
fêmeas, através da apalpação do abdômen com mais em frutos de Ficus sp. No entanto, essa
presença de embrião (fêmeas grávidas), tendência não foi observada nas áreas de estudo,
intumescência mamária com a presença de leite uma vez que A. lituratus, A.fimbriatus e A.
(fêmeas lactantes) e presença de embrião e planirostris consumiram preferencialmente
mamas com leite simultaneamente (fêmeas frutos de Cecropiaceae, e A. obscurus, frutos de
grávidas/lactantes). A presença de alopecia foi Solanaceae.
verificada através da observação direta da A importância de frutos de Cecropiaceae na
pelagem dos animais. Todos os animais dieta de A. lituratus confirma as observações de
capturados foram soltos ao final da coleta. As Muller e Reis (1992), Zortéa e Chiarello (1994)
sementes encontradas nas fezes foram e Reis et al. (1996). O consumo de frutos de
separadas, contadas, lavadas e colocadas para Myrtaceae foi observado por Zortéa e Chiarello
germinar e as mudas produzidas doadas a (1994). Tal como no gênero Artibeus,
administração dos locais de coleta. exemplares do gênero Platyrrhinus, têm uma
preferência pela frugivoria; porém Howell e
Resultados e Discussão Burch (1974) e Sazima (1976) puderam
Foram capturados 180 exemplares de 13 observar a utilização de néctar, frutos e insetos
espécies, pertencentes às famílias por P. lineatus. No BF observamos apenas o
Phyllostomidae e Vespertilionidae, conforme consumo de frutos de Solanaceae e
listagem: Anoura caudifera, Artibeus Cecropiaceae para esta espécie.
fimbriatus, Artibeus planirostris, Artibeus Diversos trabalhos mostram que C.
lituratus, Artibeus obscurus, Carollia perspicillata é uma espécie generalista, mas que
perspicillata, Desmodus rotundus, Diphylla revela preferência por frutos de Piper sp.
ecaudata, Glossophaga soricina, Platyrrhinus (Marinho-Filho 1985; Reis e Peracchi 1987;
lineatus, Phyllostomus hastatus, Sturnira lilium Muller e Reis 1992; Pedro 1992; Fazzolari-
e Myotis nigricans. As espécies A. caudifera, P. Corrêa 1995; Reis et al. 1996). Observou-se
hastatus e P. lineatus foram capturadas somente uma predominância de sementes de Piperaceae
no BF, D. ecaudata e S. lilium apenas na FM. em todos os indivíduos examinados, em alguns
As demais espécies foram capturadas em ambas indivíduos houve a utilização de frutos de
as áreas. A família Phyllostomidae apresentou Solanaceae.
o maior número de espécies (n = 12), sendo a Para S. lilium, sua dieta composta
subfamília Stenoderminae que apresentou o exclusivamente por frutos de Solanaceae
maior número de indivíduos com A. lituratus concorda com o padrão descrito por autores
contribuindo com 58% do total, seguido por A. como Marinho-Filho (1985), Muller e Reis
obscurus com 13,0% e C. perspicillata com (1992) e Reis et al. (1996).
8,8%. Apesar do número expressivo de As diferentes preferências alimentares de C.
indivíduos do gênero Artibeus, foi realizada perspicillata e S. lilium possivelmente
apenas recaptura de um indivíduo marcado da constituem o fator que permite a coexistência
espécie C. perspicillata, no BF. Frutos de entre as duas espécies. As demais espécies não
Cecropiaceae e Myrtaceae foram os principais eliminaram fezes nos sacos de pano, assim não
componentes da dieta de A. lituratus, seguidos foi possível à verificação dos itens alimentares.
por Moraceae, Piperaceae e Solanaceae. Do total de indivíduos capturados 10%
Artibeus fimbriatus consumiu foram acometidos por alopecia distribuída pelo
principalmente frutos de Cecropiaceae, tórax, abdômen e genital, sendo observada no
Piperaceae e Myrtaceae. período de janeiro a março e de maio a
Frutos de Solanaceae foram os itens novembro. As espécies que apresentaram esse
preferidos por A. obscurus, porém foi observado diagnóstico foram: A. lituratus com seis machos
também consumo de Cecropiaceae, e 11 fêmeas e uma fêmea de A. obscurus. As
Combretaceae e Piperaceae em pouca demais espécies não apresentaram alopecia
quantidade. durante o período de estudo. Do total de fêmeas
Artibeus planirostris consumiu apenas frutos capturadas e que apresentaram alopecia 16,0%
de Cecropiaceae. Comparando-se as dietas das estavam grávidas e 20,0% inativas. As fêmeas
espécies de Artibeus, observa-se que A. lituratus inativas estavam com a área acometida pela
e A. fimbriatus, apresentam um padrão alopecia em recuperação. Em relação aos
26
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

machos, com alopecia, observou-se que 100% Branca, Rio de Janeiro, Brasil (Mammalia,
estavam escrotados. Chiroptera). Revista Brasileira de Zoologia
Das 13 espécies capturadas apenas nos (Supl. 2): 113-140.
exemplares do gênero Artibeus e G. soricina Esbérard C.E.L. 1998. Validade dos parâmetros
observou-se atividade reprodutiva. O período da IUCN em amostra regional – há espécies
reprodutivo seguiu o padrão bimodal para de morcegos ameaçados de extinção no
espécies de Artibeus e G. soricina apresentou-se Município do Rio de Janeiro? Boletim da
grávida em fevereiro e lactante em março. Fundação Brasileira para Conservação da
Conclusões Natureza 24:71-86.
A família Phyllostomidae foi a mais Fazzolari-Corrêa S. 1995. Aspectos
representativa, devido provavelmente a sistemáticos, ecológicos e reprodutivos de
metodologia de campo, onde as redes foram morcegos na Mata Atlântica. Tese de
estendidas no sub-bosque o que reduz o número Doutorado, Universidade de São Paulo.
de indivíduos das famílias Vespertilionidae e Fleming T.H. 1982. Foraging strategies of plant-
Molossidae que utilizam o dossel para visiting bats. Em: Ecology of bats. (Editado
forrageamento. O crescimento urbano no por Kunz T. H.), pp.287-325. Plenum Press,
entorno de duas grandes áreas florestadas New York.
(PEPB e PARNA Tijuca) tornou as áreas de Howell D.J. e Burch D. 1974. Food habits of
estudo como ilhas de vegetação urbanas onde some Costa Rican bats. Revista de Biologia
algumas poucas espécies adaptadas a ambientes Tropical 21: 281-294.
mais perturbados (e.g. A. lituratus) se Koopman K.F. 1993. Order Chiroptera. Em:
sobressaíram em detrimento de outras. A Mammal species of the world: a taxonomic
preferência alimentar observada nas espécies and geographic reference. (Editado por
frugívoras manteve-se semelhante à apresentada Wilson D.E. e Reeder D.M.), pp. 137-241.
em áreas florestadas, provavelmente devido à Smithsonian Institution Press, Washington,
presença de vegetais foram disseminados ou DC.
plantados nos locais de estudo. Nos dados Marinho-Filho J. 1985. Padrões de atividade e
obtidos verificou-se que os morcegos utilização de recursos alimentares por seis
capturados apresentaram alopecia em todas as espécies de morcegos filostomídeos na Serra
estações do ano. Devido às fêmeas inativas do Japi, Jundiaí, São Paulo. Dissertação de
estarem com as áreas de alopecia em Mestrado, Universidade Estadual de
recuperação, as grávidas e os machos escrotados Campinas.
apresentarem alopecia pode-se sugerir que os Muller M.F. e Reis N.R. 1992. Partição de
casos observados nesse estudo têm uma relação recursos alimentares entre quatro espécies de
direta com fatores hormonais relacionados ao morcegos frugívoros (Chiroptera,
período reprodutivo das espécies. Os dados Phyllostomidae). Revista Brasileira de
obtidos sobre a reprodução das espécies nas Zoologia 9(3-4): 345-355.
duas áreas estudadas, não permitiu inferir se a Pedro W.A. 1992. Estrutura de uma taxocenose
ação antrópica interfere no padrão reprodutivo de morcegos da Reserva do Panga
das espécies, mais se pode observar que para as (Uberlândia, MG) com ênfase nas relações
espécies do gênero Artibeus não existe tróficas em Phyllostomidae (Mammalia-
alteração. Chiroptera). Dissertação de Mestrado,
Campinas, Universidade Estadual de
Agradecimentos Campinas.
A administração do Parque Natural Peracch A.L. e Albuquerque S.T. 1971. Lista
Municipal da Freguesia/SMAC pela autorização provisória dos quirópteros do Estado do Rio
e apoio durante os trabalhos de campo; ao de Janeiro e Guanabara. Brasil. (Mammalia-
Comandante Geral da Policia Militar do Estado Chiroptera). Revista Brasileira de Biologia
do Rio de Janeiro e ao Chefe do Estado Maior 31(3): 405-413.
pela autorização para realização dos trabalhos Peracchi A.L. e Albuquerque S.T. 1986.
de campo na Fazenda Marambaia; à Quirópteros do Estado do Rio de Janeiro,
administração da Fazenda Marambaia, ao Brasil (Mammalia-Chiroptera). Publicações
Capitão da PMERJ Defaveri, pelo apoio durante Avulsas do Museu Nacional 66: 63-69.
os trabalhos de campo e ao IBAMA pelas Reis N.R. e Peracchi A.L. 1987. Quirópteros da
autorizações de coleta. região de Manaus, Amazonas, Brasil
(Mammalia, Chiroptera). Bololetim Museu
Referências Paraense Emilio Goeldi, Serie Zoologia
Dias D.; Peracchi A.L. e Silva S.P.S. 2002. 3920: 161-182.
Quirópteros do Parque Estadual da Pedra
27
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Reis N.R.; Peracchi A.L.; Muller A.L.; Bastos Teixeira S.C. e Peracchi A.L. 1996. Morcegos
M.F. e Soares E.A. 1996. Quirópteros do do Parque Estadual da Serra da Tiririca, Rio
Parque Estadual do Morro do Diabo, São de Janeiro, Brasil (Mammalia, Chiroptera).
Paulo, Brasil (Mammalia-Chiroptera). Revista Brasileira de Zoologia 13 (1): 61-66.
Revista Brasileira de Biologia 56(1): 87-92. Zortéa M. e Chiarello A.G. 1994. Observations
Sazima I. 1976. Observation on the feeding on the big fruit - eating bat, Artibeus
habits of Phyllostomidae (Carollia, Anoura lituratus in an urban reserve of South-east
and Vampyrops) in Southweastern Brazil. Brazil. Mammalia 58 (4): 665-670.
Journal of Mammalogy 57(2): 381-382.

28
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Predação oportunista de morcegos por Cerdocyon thous (Carnivora, Canidae) no


sudeste do Brasil

Roberto Leonan M. Novaes(1,2)*, Luis Fernando Menezes Jr.(1), Ana Cristina S. Façanha(1,2), Mariana
Louro², Tatiane S. Cardoso(2), Camila Sant‘Anna(2), Saulo Felix(2), Raphael Silvares(2), André C.
Siqueira(2)*, Renan F. Souza(2), Luis Fernando C. Dias-de-Oliveira(2) e Mariana V.P. Aguiar(2)

(1) Laboratório de Mastozoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Km 47 da antiga estrada Rio – São Paulo, 23892-000, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil; (2) Programa de
Análise da Biodiversidade e Conservação da Mata Atlântica. Projeto Pró-Morcegos & Parque Natural
Municipal de Nova Iguaçu. Av. Brasil, s/nº, K11, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil.

*Corresponding author. Email: promorcegos@yahoo.com.br


Palavras-chave: Comportamento, Dieta, Mata Atlântica

Introdução fragmento urbano de Floresta Atlântica no


Conhecido popularmente como graxaim ou Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu. O
cachorro-do-mato, Cerdocyon thous (Linnaeus, PNM de Nova Iguaçu se localiza na Baixada
1766) é um dos canídeos que possui maior área Fluminense, dentro do maciço Gericinó-
de distribuição, ocorrendo em boa parte da Mendanha, entre os Municípios de Mesquita e
América do Sul, e no Brasil já foi registrado em Nova Iguaçu, Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
praticamente todos os biomas (Cheida et al. Possui uma área de aproximadamente 1.100
2006). É encontrado em áreas florestadas e hectares de Mata Atlântica, caracterizada como
cerrados bem conservados, assim como em Floresta Ombrófila Densa Montana e
ambientes abertos alterados por ação antrópica e Submontana (Veloso et al. 1991), entretanto, o
regiões agrícolas (Berta 1982). Os canídeos Parque faz fronteira com outras unidades de
podem ser exclusivamente carnívoros conservação no mesmo maciço, somando uma
predadores ou carniceiros, mas algumas área de quase 5.000 hectares de Floresta
espécies também se alimentam de frutos e Atlântica em bom estado de conservação. Desde
insetos (Ewer 1973). A composição da dieta junho de 2008, pesquisas sobre diversidade de
desses animais pode variar de acordo com o tipo espécies e ecologia alimentar de morcegos vem
de habitat e as condições climáticas (Redford e sendo conduzidas no PNM de Nova Iguaçu. As
Eisenberg 1992), assim como, com outras capturas de morcegos são feitas a partir da
características de vida, como o padrão colocação de redes-de-neblina Zootech® de
reprodutivo (Bekkof et al. 1984). C. thous nove e doze por três metros a nível de solo, em
apresenta uma dieta onívora generalista, trilhas, bordas de mata, clareiras e cursos
consumindo o que estiver disponível no hídricos. As redes foram colocadas por volta das
ambiente (Facure e Monteiro-Filho 1996). 18h e permanecem até as 06h do dia seguinte,
Dependendo do habitat que esteja inserido, essa sendo vistoriadas em espaços de 30 minutos em
espécie pode apresentar uma dieta média.
predominantemente carnívora, consumindo
vertebrados diversos, apresentando roedores e Resultados e Discussão
aves em maior porcentagem (Pedó et al. 2006); Nos dias 15 e 16/VIII/2009, foram avistados
pode também ser frugívora, com presença pelo menos três indivíduos de cachorro-do-
destacada de frutos de Siagrus romazofianum mato, Cerdocyon thous, nas áreas onde as redes-
(Cham.) Glassman, 1968 (Rocha et al. 2008), ou de-neblina estavam armadas. No dia
mesmo onívora, consumindo todo tipo de 15/VIII/2009, ás 22h 48min um morcego macho
recursos que lhe estiver disponível (Facure e da espécie Pygoderma bilabiatum (Wagner,
Monteiro-Filho 1996). Entretanto, não existem 1843) (Família Phyllostomidae) foi encontrado
registros do consumo de morcegos para esta morto na rede com sinais de escoriação nos
espécie de canídeo. Este trabalho tem como membros inferiores e sangramento nasal. O
objetivo reportar o consumo oportunista de animal estava preso na rede a cerca de um metro
morcegos por C. thous. de altura do solo. Na mesma rede foram
encontrados dois grandes buracos, e um dos
Material e Métodos estirantes estava arrebentado. No dia seguinte,
As observações de predação oportunista as 02h12min, um indivíduo macho de C. thous
foram feitas de maneira fortuita em um foi observado retirando um morcego da rede
29
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

com a boca. O animal se equilibrava nas patas Embora seja relatado aqui o consumo
traseiras e mordia a rede, executando puxadas oportunista de morcegos por C. thous,
rápidas a fim de retirar o morcego preso. acreditamos que morcegos não sejam itens
Conforme a nossa aproximação o animal correu comuns na dieta desta espécie. Possivelmente a
em direção a borda da mata levando consigo o única forma de consumo de morcegos por esse
morcego que estava preso na rede. No dia canídeo em condições naturais, seja através do
16/VIII/2009, às 04h08min, foram vistos dois encontro com animais caídos no chão ou
indivíduos de C. thous, aparentemente um casal, carcaças.
atacando um morcego preso na rede a menos de
um metro do solo. O casal permaneceu na Agradecimentos
proximidade da rede mesmo com a aproximação Ao Parque Natural Municipal de Nova
da equipe que fazia vistoria, só saindo quando a Iguaçu e Secretaria Municipal Adjunta de Meio
equipe já se encontrava a menos de dois metros Ambiente e Sustentabilidade de Nova Iguaçu
de distância dos animais. No local da rede em pela permissão de coleta concedida; à
que o morcego estava sendo atacada foi ZOOTECH pelo patrocínio.
encontrado apenas a asa (braço e antebraço) de
um indivíduo de morcego da, provavelmente da Referências
espécie Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758), Bekoff M.; Daniels T.J. e Gittleman J.L. 1984.
além de grandes rasgos no entorno de onde Life history patterns and the comparative
estava o animal. social ecology of carnivores. Annual
Apesar de C. thous apresentar uma dieta Revision in Ecology and Systematic 15:
generalista, consumindo o que estiver 191-232.
disponível no ambiente, mesmo não tendo um Berta A. 1982. Cerdocyon thous. Mammalian
grande ganho energético (Facure e Monteiro- species 186: 1-4.
Filho 1996), em algumas áreas, essa espécie Bisbal F. e Ojasti O. 1980. Nicho trofico del
pode apresentar uma dieta predominantemente zorro Cerdocyon thous (Mammalia,
carnívora, com ausência de itens vegetais (Pedó Carnivora). Acta Biologica Venezuelana
et al. 2006). Mesmo assim, possivelmente o 10(4): 469-496.
consumo de morcegos não seja algo recorrente Cheida C.C.; Nakano E.; Fusco-Costa R.;
na dieta de C. thous, já que o encontro com Rocha-Mendes F. e Quadros J. 2006.
esses animais não faria parte de sua rotina. A Ordem Carnívora. Em: Mamíferos do Brasil
maioria dos estudos indica que os roedores são (Editado por Reis N.R.; Peracchi A.L.;
os vertebrados mais consumidos por esta Pedro W.A. e Lima I.P.), pp. 231-275.
espécie, já que possuem grande oportunidade de Editora da Universidade Estadual de
encontro pelos cachorros (Facure e Monteiro- Londrina, Londrina.
Filho 1996). No entanto, o consumo de carcaças Esbérard C.E.L. e Vrcibadic D. 2007. Snakes
parece um recurso comum na dieta desse preying on bats: new record from Brazil and
canídeo (Bisbal e Ojasti 1980), logo, em a review of recorded cases in the
condições naturais o consumo de morcegos Neotropical region. Revista Brasileira de
poderia ocorrer apenas pelo encontro de Zoologia 24: 848-853.
indivíduos mortos ou caídos no chão. Ewer R.F. 1973. The carnivores. Cornell
Canídeos não são considerados potenciais University , New York.
predadores de quirópteros, sendo estes pequenos Facure K.G. e Monteiro-Filho E.L.A. 1996.
mamíferos consumidos principalmente por aves Feeding habits of the Crab-eating fox,
de rapina (Twente 1954) e serpentes (Esbérard e Cerdocyon thous (Carnivora, Canidae), in a
Vrcibradic 2007), embora também possam ser suburban area of Southeastern Brazil.
consumidos por primatas, felinos, marsupiais, Mammalia 60(1): 147-149.
roedores e outros morcegos (Gardner et al. Fischer E.; Fischer W.; Borges S.; Pinheiro
1992; Fischer et al. 1997; Souza et al. 1997). A M.R. e Vicentini A. 1997. Predation of
predação oportunista de morcegos presos em Carollia perspicillata by Phyllostomus cf.
redes-de-neblina já foi registrada para outras elongatus in Central Amazonia. Chiroptera
espécies de mamíferos com hábitos alimentares Neotropical 3: 67-68.
generalistas, como o gambá-de-orelha-branca Gardner A.L.; Handley C.O. e Wilson D.E.
Didelphis albiventris Lund, 1840 (Gazarini et 1992. Survival and relative abundance. Em:
al. 2008) e o morcego onívoro Phyllostomus Demography and Natural history of the
hastatus (Pallas, 1767) (Oprea et al. 2006). common fruit bat, Artibeus jamaicensis on
Barro Colorado Island, Panama (Editado
Conclusão por Handley C.O.; Wilson D.E e Gardner
A.L.), pp. 53-75. Smithsonian Contributions
30
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

to Zoology, 511. Smithsonian Institute Rocha V.J.; Aguiar L.M.; Silva-Pereira J.E.;
Press, Washington Moro-Rios R.F. e Passos F.C. 2008.
Gazarini J.; Brito J.E.C. e Bernardi I.P. 2008. Feeding habits of the crab-eating fox,
Predações oportunisticas de morcegos por Cerdocyon thous (Carnivora: Canidae), in a
Didelphis albiventris no sul do Brasil. mosaic area with native and exotic
Chiroptera Neotropical 14(2): 408-411. vegetation in Southern Brazil. Revista
Oprea M.; Vieira T.B.; Pimenta V.T.; Mendes Brasileira de Zoologia 25(4): 594-600.
P.; Brito D.; Ditchfield A.D.; Knegt L.V. e Souza L.L.; Ferrari S.F. e Pina A.L. 1997.
Esbérard C.E.L. 2006. Bat predation by Feeding behaviour and predation of a bat by
Phyllostomus hastatus. Chiroptera Saimiri sciureus in a semi-natural
Neotropical 12(1): 255-258. Amazonian environment. Folia
Pedó E.; Tomazzi A.C.; Hartz S.M. e Christoff Primatologica 68: 194-198.
A.U. 2006. Diet of crab-eating fox, Twente J.W. 1954. Predation on bats by hawks
Cerdocyon thous (Linnaeus) (Carnivora, and owls. The Wilson Bulletin 66: 135-136.
Canidae) in a suburban area of southern Veloso H.P.; Rangel-Filho A.L.R. e Lima
Brazil. Revista Brasileira de Zoologia 23(3): J.C.A. 1991. Classificação da vegetação
637-641. brasileira adaptada a um sistema universal.
Redford K.H. e Eisenberg J.F. 1992. Mammals IBGE: Departamento de Recursos Naturais
of the Neotropics. University of Chigaco, e Estudos Ambientais.
Chicado.

31
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Atividade de duas espécies de morcegos da família Molossidae em um riacho na


Ilha da Marambaia, Rio de Janeiro, Brasil

Luciana Moraes Costa*, Elizabete Captivo Lourenço, Júlia Lins Luz, Ana Paula Félix de Carvalho, Luiz
Antônio Costa Gomes, Lorena Nicolay Freitas, William Douglas, Renan Dias e Carlos Eduardo Lustosa
Esbérard

Laboratório de Diversidade de Morcegos, UFRRJ, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil.

*Corresponding author. Email: lucianamcosta@yahoo.com.br


Palavras-chave: Horário de captura, Molossus molossus, Nyctinomops laticaudatus

Introdução Mangaratiba, Rio de Janeiro (23° 04‘ S e 43°


A atividade horária de espécies de 53‘ W).
morcegos, como em outras espécies de animais, Os morcegos foram capturados com redes de
está relacionada a três componentes principais: neblina (9 x 2,5 m) armadas sobre espelho
disponibilidade de alimento, risco de serem d‘água. A cada noite em média 5,13 redes foram
predados (Jones e Rydell 1994; Kunz e Anthony armadas. As redes permaneceram abertas do
1996; Esbérard e Bergallo 2008) e competição pôr-do-sol até o amanhecer para amostrar todo o
com espécies de hábitos alimentares similares período de atividade das espécies estudadas
(Kunz e Anthony 1996). O padrão de atividade (Esbérard e Bergallo 2008), exceto nas três
deve se ajustar às variações desses fatores, que primeiras noites de coleta, quando as redes
mudam a intervalos diários, mensais e anuais permaneceram abertas até as 24h00min.
(Erket 1982). O esforço total correspondeu a 166 horas de
Morcegos insetívoros têm curtos períodos de coleta e 693 metros de redes (287.595 h.m²). As
atividade a cada noite (e.g. Fenton et al. 1998; coletas foram realizadas a intervalos variáveis e
Esbérard e Bergallo no prelo), quando devem geralmente maiores que um ciclo lunar, para
obter o maior número de presas no menor tempo diminuir o efeito do aprendizado da posição das
possível. Têm o início da sua atividade regulada redes pelos morcegos (Esbérard 2006). As
ou limitada pelo horário do pôr-do-sol coletas foram agendadas independentemente da
(Cockrum e Cross 1964; Bateman e Vaughan fase do ciclo lunar (Esbérard 2007).
1974; Erket 1978; Avery 1986; Caire et al. O horário de captura foi transformado em
1986; Catto et al. 1995). A maior parte das minutos em relação ao horário local do pôr-do-
espécies de morcegos insetívoros restringe sua sol, obtido através do programa Moonphase 3.0
atividade à proximidade do crepúsculo ou do – the Southern Hemisphere for Windows, sem
amanhecer (Erket 1978; 1982; Ransome 1990), considerar o horário de verão. Para a análise do
sendo frequentemente observado o padrão ritmo de atividade foi adotado o programa
bimodal (e.g. Cockrum e Cross 1964; Marques Oriana 3.0 de estatística circular, considerando
1986). ângulos (cada grau = 4 minutos). Para comparar
Vários fatores interferem na atividade de o padrão de atividade das duas espécies foi
outras espécies de morcegos tais como empregado o teste de Watson (Zar 1999).
temperatura, pluviosidade, nebulosidade, vento Os animais capturados foram marcados com
e iluminação, geralmente impedindo, retardando coleiras plásticas providas de cilindros coloridos
ou adiantando a saída de seus refúgios (e.g. (Esbérard e Daemon 1999).
Avery 1986; Lee e McCraken 2001). Para avaliar se a presença de N. laticaudatus
Os objetivos deste trabalho é analisar o foi influenciada pelo total de indivíduos de M.
horário de atividade de Nyctinomops molossus foi calculada a correlação (Zar 1999)
laticaudatus (E. Geoffroy, 1805) e Molossus entre o horário da primeira captura de N.
molossus (Pallas, 1766) em um mesmo local e laticaudatus e o total de M. molossus capturado
analisar se a primeira captura de N. laticaudatus antes desse momento.
é influenciada com o total de M. molossus
capturado antes dessa primeira hora. Resultados e Discussão
Neste local foram capturados 271 indivíduos
Material e Métodos de M. molossus e 37 de N. laticaudatus.
Entre janeiro de 2007 e maio de 2009, foram Molossus molossus esteve presente em 14 noites
realizadas 15 noites de coleta em um riacho e N. laticaudatus em nove noites. O número de
situado na Praia Grande, Ilha da Marambaia, capturas variou para M. molossus de zero a 58 a
32
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

cada noite (18,1 + 18,6) e de zero a sete (2,6 + e Chandrashekaran 1977). A atividade de N.
2,1) para N. laticaudatus. laticaudatus durante toda a noite e a elevada
Molossus molossus apresentou as primeiras média horária da primeira captura para essa
capturas imediatamente após o pôr-do-sol, espécie pode ser correlacionada com a presença
exceto por um indivíduo que foi capturado 27 de M. molossus, como foi observado neste
minutos antes do pôr-do-sol (17h10min). Dois estudo.
indivíduos foram capturados após o amanhecer,
um caindo 714 minutos após o pôr-do-sol Conclusões
(05h25min) e outro sendo capturado 723 Pode-se concluir que essas duas espécies de
minutos após o pôr-do-sol (06h00min). As hábitos alimentares insetívoros apresentam
primeiras capturas de N. laticaudatus variaram diferentes horários de atividade, onde M.
de 42 minutos após o pôr-do-sol (18h00min) a molossus tem o horário de atividade mais
265 minutos após o pôr-do-sol (22h10min). concentrada próximo ao pôr-do-sol enquanto N.
O horário de atividade total de M. molossus laticaudatus apresenta atividade durante toda a
variou de -27 a 743 minutos após o pôr-do-sol noite. E que a atividade de uma espécie pode
(média de 121,8 + 157,5 minutos, n = 271), estar correlacionada com a presença de outra.
sendo mais concentrado próximo ao pôr-do-sol
(vetor µ = 23,38º, comprimento = 0,837, Agradecimentos
concentração = 3,39, desvio padrão circular = Ao Centro de Adestramento da Ilha da
34,23º e mediana = 15,75º). Para N. Marambaia pelo suporte e permissão de coletas
laticaudatus, o horário de atividade total variou e a Estação de Biologia Marinha da UFRRJ pelo
de 42 a 675 minutos (média de 328,6 + 228,1 apoio; A. Fernandes, D. S. França, G. Peixoto,
minutos, n = 37) e mostra-se mais disperso R. M. Silva pela assistência no campo; L. M.
durante a noite (vetor µ = 78,872º, comprimento Costa agradece à CAPES pela bolsa de
= 0,575, concentração = 1,412, desvio padrão mestrado; E. C. Lourenço agradece ao
circular = 60,262º e mediana = 73,38º). PIBIC/CNPq/UFRRJ pela bolsa de iniciação
A atividade das duas espécies difere científica e a CAPES a de mestrado; J. L. Luz
significativamente (U2 = 0,872, p<0,001), sendo agradece a bolsa de Doutorado do CNPq
mais concentrada em M. molossus, que (processo 552681/2008-3); A. P. Felix agradece
apresentou padrão de atividade unimodal, com a bolsa de apoio técnico do CNPq (processo
pico de freqüência de captura entre 0 e 120 502570/2008-3); C. E. L Esbérard agradece a
minutos após o pôr-do-sol, representando 77,1% bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq
das capturas observadas e ausência de capturas (processo 301061/2007-6). Financiamento:
na metade da noite. Nyctinomops laticaudatus FAPERJ (processo E-26/170.449/07), CNPq
apresentou padrão contínuo, sendo presente a (processo 471983/2007-1).
noite toda, sem ser possível determinar um pico.
A primeira captura de M. molossus aparenta Referências
ser regulada com o horário do pôr-do-sol. A Avery M.I. 1986. Factors affecting the
primeira captura de N. laticaudatus mostra emergence times of Pipistrelle bats. Journal
correlacionada (r = 8,86, p = 0,002, n = 9 noites) of Zoology (London) 209: 293-296.
com o total de M. molossus capturado a cada Bateman G.C. e Vaughan T.A. 1974. Nightly
noite. activities of mormoopid bats. Journal of
A atividade de M. molossus no local mostra- Mammalogy 55: 45-65.
se, como esperado pelo conhecimento de outras Caire W.; Hardisty R.M. e Lacy K.E. 1986.
espécies de morcegos insetívoros (e.g. Catto et Ecological notes on Lasiurus cinereus
al. 1995; Rydell e Baagøe 1996), relacionada (Chiroptera: Vespertilionidae) in Oklahoma.
com o horário local do pôr-do-sol, enquanto a Proceedings of the Oklahoma Academy of
atividade de N. laticaudatus, nesse local, parece Sciences 66: 41-42.
ser independente desse evento, sendo Catto C.M.C.; Racey P.A. e Stephenson P.J.
observadas capturas durante toda a noite. 1995. Activity patterns of the serotine bat
Sanderson et al. (2006), ao analisarem a (Eptesicus serotinus) at a roost in southern
atividade de morcegos na Austrália junto a England. Journal of Zoology 235: 635-644.
abrigos artificiais, encontraram uma espécie Cokrum E.L. e Cross S.P. 1964. The bat activity
com atividade restrita principalmente à primeira over water holes. Journal of Mammalogy
metade da noite e duas espécies com atividade 45: 635-636.
durante toda a noite. Erket H.G. 1978. Sunset-related timing of flight
Algumas espécies de morcegos insetívoros activity in neotropical bats. Oecologica,
podem apresentar horário rígido, sem variações Berlin 37: 59-67.
estacionais para o início da atividade (Subbaraj
33
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Erket H.G. 1982. Ecological aspects of bat house roosts near Adelaide. Australian
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34
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Quirópteros encontrados na dieta de Tyto alba (Strigiformes, Tytonidae) no Centro


de Porto Alegre, RS, Brasil

Aline O. Brasil(1,2)*, Soraya Ribeiro(1), Giane I. Niederauer(1), Daiane Geiger(1) e Susi M. Pacheco(3)

(1) Programa de Conservação da Fauna Silvestre, Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto
Alegre; Avenida Carlos Gomes, 2120 sala 303, 90480-002, Porto Alegre, RS; (2) Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS; (3) Instituto Sauver (ISAUVER), Porto Alegre, RS.

*Corresponding author. Email: alinebrasil06@yahoo.com.br


Palavras-chave: Área Urbana, Predação, Tadarida brasiliensis

residencial próximo a Catedral (37 pelotas), e o


Introdução terceiro na Igreja das Dores (47 pelotas),
Em Porto Alegre, Tyto alba caça em totalizando 117 egagrópilas analisadas. O
ambientes característicos das ilhas do Lago material foi desagregado em solução de 50 ml
Guaíba e do entorno do Centro da cidade. Estes de álcool gel a 70% e água, para que os itens
locais de Floresta Semidecidual, possuem zonas ósseos pudessem ser separados de penas e pêlos.
alagadiças e ambientes de campo e mata ripária, Após permanecerem secando por 24 horas, o
que abrigam uma fauna diversificada de material foi triado e recebeu numeração corrida,
vertebrados e invertebrados silvestres sendo acondicionados em sacos plásticos
identificadas nas suas egagrópilas. individuais. Foram desconsiderados os itens
A coruja-das-torres (Tyto alba Scopoli, isolados encontrados no substrato, mas não
1769), é uma ave cosmopolita (Sick 1997), e formando egagrópila. O material foi
predadora de quirópteros e outros vertebrados e identificado, ao menor nível taxonômico usando
invertebrados. Vive em áreas naturais e centros a chave de Gregorin e Taddei (2002) e
urbanos, habitando vãos entre prédios, forros de microscópio estereoscópico (16x).
telhados e torres de igrejas. É percebida sua
presença quando existe vocalização entre mãe e Resultados e Discussão
filhotes, ou quando está ativa, a partir do Foram consideradas as pelotas com
entardecer. Como outras espécies de corujas, T. esqueletos, crânios e mandíbulas, essas muitas
alba regurgita partes não digeríveis de suas vezes separadas do crânio. No primeiro ponto,
presas (pêlos, ossos, penas, etc.) na forma de obteve-se 22 pelotas com partes de morcegos,
pelotas, chamadas egagrópilas, que expelem a além de roedores, marsupiais e aves. No
cada 24 horas. Os hábitos alimentares de T. alba segundo ponto foram obtidas 17 pelotas com
vem sendo estudados no Brasil por diversos esqueletos de morcegos, roedores, aves e élitros
autores, entre os quais Escarlate-Tavares e de coleópteros. No terceiro ponto foram obtidas
Pêssoa (2005), Magrini (2006), Scheibler (2007) 30 pelotas com ossos de morcegos e, menos
e Scheibler e Christoff (2007), que encontraram frequentemente de roedores. A percentagem de
pequenos mamíferos, como marsupiais e morcegos foi alta nos três pontos, considerando
roedores murídeos e sigmodontídeos, aves, que no total foram analisadas 69 pelotas,
insetos e morcegos das famílias Phyllostomidae, correspondendo a 51% das amostras que
Noctilionidae, Vespertilionidae e Molossidae. continham crânios e/ou mandíbulas e partes de
Neste trabalho, foram identificadas as espécies esqueletos identificados como de Tadarida
de morcegos predadas por T. alba em Porto brasiliensis e uma amostra com Molossus
Alegre. molossus.
Os estudos de Roda (2006) realizados em
Material e Métodos uma Estação Ecológica em Pernambuco
As pelotas foram coletadas entre julho e apresentam uma percentagem de quirópteros
outubro de 2008, compreendendo o final do presentes nas pelotas diferente da amostrada
inverno e o início da primavera. As amostras neste estudo. A autora encontrou 17,2% partes
são de três pontos situados no Centro de Porto de morcegos da família Molossidae enquanto
Alegre, distantes cerca de um quilômetro. O em Porto Alegre esta percentagem foi superior a
primeiro ponto situava-se na Catedral 50%.
Metropolitana de Porto Alegre (33 pelotas); o
segundo ponto de coleta em um prédio Conclusões
35
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

A percentagem de restos de morcegos


encontrada demonstra que a coruja-das-torres
pode atuar no controle de populações de
quirópteros, principalmente de Tadarida
brasiliensis.

Agradecimentos
A equipe do Setor de Mamíferos do Museu
de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica
do Rio Grande do Sul e ao Laboratório de
Sistemática de Mamíferos, Museu de Ciências
Naturais da ULBRA (MCNU).

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36
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

A importância do tamanho do núcleo em fragmentos para manter a riqueza de


espécies de morcegos

Cibele Maria Vianna Zanon(1)* e Nelio Roberto dos Reis(2)

(1) Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais - Universidade


Estadual de Maringá, 87020-900, Maringá, Paraná; (2) Departamento de Biologia Animal e Vegetal,
Universidade Estadual de Londrina, 86051-990, Londrina, Paraná - Brasil.

*Corresponding author. Email: cibelezanon@yahoo.com.br


Palavras-chave: Planície de inundação, Preservação de morcegos, Espécies de interior

Introdução tamanho da área, mas também à sua qualidade.


Os mamíferos, de forma geral, pelos Este estudo foi realizado em um fragmento de
tamanhos variados e necessidades específicas, 3,6 ha no qual, há aproximadamente 15 anos, foi
são especialmente afetados pela fragmentação cortado o sub-bosque para exploração
(Bierregaard Jr. et al. 1992; Didham 1997), e madeireira, prática comum na região em que se
esta pode modificar a sua diversidade e localiza. Após ser multado pelo Instituto
abundância; mudanças em tais parâmetros Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
ocorrem mais rapidamente em fragmentos Naturais Renováveis, o proprietário da fazenda
pequenos que nos grandes (Cosson et al. 1999). onde fica o fragmento foi obrigado a cercá-lo, e,
As espécies de morcegos que mais sofrem nos anos subsequentes, não foram observadas,
tais modificações são as de pequena distribuição ali, ações prejudiciais — no entanto, à sua volta
geográfica, seja por serem mais sensíveis a há intensa atividade antropogênica.
hábitats alterados, seja por possuírem baixas Considerando essa situação, este trabalho teve
populações locais (Altringham 1996). Em como objetivo verificar se o tamanho do núcleo
relação a esses mamíferos, há falta de desse fragmento — o seu local mais protegido,
conhecimento sobre seus requerimentos o que contém mais espécies vegetais e o que
ecológicos e sobre como preservar a maioria das proporciona maior número de nichos —
suas espécies, principalmente as mais influencia na diversidade das espécies de
suscetíveis a mudanças, que requerem maior morcegos que ali ocorrem.
integridade do hábitat (Racey e Entwistle 2000)
e têm mais exigências (Lima 2008). Alguns Material e Métodos
remanescentes florestais ainda abrigam diversas O presente estudo foi realizado em um
espécies; no entanto, a riqueza de espécies pode fragmento de floresta ripária do tipo Estacional
estar fortemente associada com a qualidade e o Semi-Decidual, na fazenda Unidas, município
tamanho do fragmento (Estrada e Coates- de Bataiporã, MS, Brasil, a 22° 41‘ 01‘‘ S e 53°
Estrada 2002; Reis et al. 2003). Ambientes mais 17‘ 34‘‘ W, localizado na margem direita do rio
heterogêneos espacialmente como, por exemplo, Baía, que é um dos principais afluentes do rio
as matas primitivas, podem acomodar mais Paraná, no trecho denominado planície alagável
espécies porque possibilitam maior variedade de (Agostinho e Zalewski 1996). Os trabalhos de
micro-hábitats e de microclimas, e mais refúgios campo aconteceram entre agosto de 2006 e
para as presas, incrementando o espectro da outubro de 2007, durante doze horas, por três
variedade de recursos (Chiarello 1999). noites consecutivas. As técnicas de coleta foram
A fragmentação das matas tem gerado áreas adaptadas das descritas por Greenhall e Paradiso
de transição caracterizadas por alterações no (1968), utilizando-se nove redes neblina (mist
microclima (Odum e Barrett 2007), nets) armadas entre árvores, em trilhas dentro da
consequência principalmente das mudanças de mata, entre 0,5 m e 3 m acima do solo, com 372
temperatura, luminosidade e umidade (Thies et m2 de redes por 36 horas de exposição e um
al. 2006), variáveis que podem ter influência esforço de captura de 0.059 expresso em m2 de
nas atividades de qualquer grupo animal e, rede segundo proposto por Reis e Schubart
obviamente, nas dos morcegos (Racey e (1979).
Entwistle 2000). Para verificar se o núcleo do fragmento
A fragmentação dos hábitats produz, sobre florestal, local mais protegido, com mais
as espécies, efeitos relacionados não apenas ao espécies vegetais, proporcionando um maior
37
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

número de nichos influencia na composição da 1999) possuem baixa taxa reprodutiva e a


riqueza e abundância das espécies de morcegos capacidade suporte do meio é um fator
que ocorrem na região da Fazenda Unidas, 124 restritivo, pois tendem a preparar a prole para a
m2 de redes foram dispostas na margem da competição por espaço e alimento (Pianka
mata; três totalizando 124 m2 a 25 m e três a 50 1994).
m também com 124 m2 armadas no núcleo do Não houve diferença entre a borda (0 m) e
fragmento. 25 m distante desta; na curva de rarefação a
A riqueza esperada de espécies (S), tanto na média se encontra dentro do intervalo de
borda como no interior do fragmento, foi obtida confiança (0 m). Em relação ao núcleo do
através de uma curva de rarefação, na qual os fragmento (50 m distante da borda), a partir de
indivíduos são aleatorizados sem interferência 50 indivíduos amostrados a riqueza de espécies
do tamanho ou do formato das unidades foi significativamente maior que a dessas duas
amostrais (Hurlbert 1971; Gotelli e Colwell áreas, não havendo sobreposição das médias
2001). Para os cálculos de rarefação foi com os intervalos, o que indica a presença, na
utilizado o programa Past 1.95. A aleatorização comunidade, de espécies sensíveis à borda. A
dos dados elimina a influência da ordem em que curva de rarefação demonstra que na metragem
eles são incluídos na análise, o que resulta em (0m da borda) o número de espécies não teria
uma curva suavizada (Colwell e Coddington aumento significativo caso as amostragens
1994). A forma e a estrutura da curva, e o seu continuassem. Pode-se afirmar o mesmo para
intervalo de confiança, fornecem indicações dos 25 m. Já a curva dos 50 m mostra tendência
sobre a qualidade da amostragem (Longino e a um aumento significativo de espécies caso as
Colwell 1997; Moreno e Halffter 2000; amostragens continuassem.
Sampaio 2000). Alguns fatores desfavorecem espécies em
áreas pequenas como a convergência
Resultados e Discussão demográfica, o pequeno espaço altera a
Foram capturados 247 indivíduos de treze distribuição espacial de populações, dificultando
espécies diferentes: Noctilio albiventris o crescimento delas (Lande e Barrowclough
Desmarest, 1818; Phyllostomus hastatus (Pallas, 1987); o endocruzamento reflete efeitos da
1767); Phyllostomus discolor Wagner, 1843; depressão endogâmica, a perda da
Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758); heterozigozidade na viabilidade fenotípica e na
Artibeus fimbriatus Gray, 1838; Artibeus taxa de crescimento; a adaptação afeta a
planirostris Spix, 1823; Artibeus lituratus habilidade da população em sobreviver à
(Olfers, 1818); Artibeus obscurus (Schinz, ambientes alterados (Pires et al. 2006) levando
1821); Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, as espécies ao desaparecimento (Gilpin e Soulé
1810); Pygoderma billabiatum (Wagner, 1843); 1986).
Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810); Desmodus Nas matas, o núcleo é a área que abriga
rotundus (E. Geoffroy, 1810) e Myotis nigricans maior diversidade; consequentemente, quanto
(Schinz, 1821). maior a mata, maior a riqueza presente naquele
Oito espécies, com 116 indivíduos, foram (Zimmerman e Bierregaard 1986), o que é
capturadas na borda do fragmento; oito, com 68 válido não só para morcegos, mas, também,
indivíduos, a 25 m da borda; e dez, com 63 para outros grupos de mamíferos (Stevens e
indivíduos, no núcleo. A riqueza de espécies foi Husband 1998). O efeito de borda é visível em
maior a 50 m da borda do fragmento, indicando fragmentos pequenos ou estreitos, os quais
um padrão, para a comunidade, de presença de podem ser inteiramente afetados por fatores
espécies sensíveis à borda. No entanto, as externos (chuvas intensas, ressecamento pelo
espécies apresentaram diferentes respostas em vento, barulho e odores, por exemplo), e, por
termos de abundância, enquanto na periferia a isso, não fornecer hábitats adequados para
abundância foi maior que a diversidade espécies que dependem de condições
observou-se maior diversidade e menor encontradas apenas no interior da floresta
abundância no núcleo, isto é no núcleo da mata (Levenson 1981; Merriam e Wegner 1992;
o número de espécies foi maior. Zanon e Reis 2008).
Parques com áreas maiores, mas estreitos,
sem núcleo, como exemplo tem o Parque Conclusões
Municipal do Cinturão Verde no município de Sem fragmentos de tamanhos razoáveis, com
Cianorte com 312 ha em formato de faixa núcleo amplo e não alterado, não se pode
estreita comporta somente 10 espécies (Ortêncio esperar sucesso na preservação das espécies de
Filho et al. 2005). morcegos neotropicais. No entanto, mesmo que
Morcegos, como estrategistas K, podem o fragmento estudado não tenha tamanho ideal,
viver cerca de 20 anos na natureza (Nowak deve ser mantido, bem como é preciso restringir
38
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

a ação antrópica no seu entorno para conter a use in population management Em: Viable
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40
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Ataques oportunísticos da cuíca Philander frenatus (Mammalia, Didelphidae) a


morcegos em redes de neblina

Pollyana Patricio-Costa*, Marcio R. Pie e Fernando C. Passos

Pósgraduação em Ciências Biológicas - Zoologia, Universidade Federal do Paraná

*Corresponding author. Email: polly_pc@hotmail.com


Palavras-chave: Comportamento, Marsupial, Predação

Introdução Na Gruta das Fadas foram observados


Quando enroscados nas redes de neblina, os ataques aos morcegos que se encontravam
morcegos podem representar presas fáceis para presos à rede de neblina. No dia 28 de julho de
algumas espécies, principalmente aqueles 2009 às 06h00min foram encontrados 1 Anoura
possuidores de glândulas de cheiro e/ou que caudifer, 3 Desmodus rotundus e 1 Myotis sp.; e
emitem vocalizações quando presos. Corujas, em 27 de outubro de 2009: 1 Desmodus
falcões e serpentes são os principais predadores rotundus (00h00min) e 1 Myotis sp.
naturais dos morcegos (Kunz e Fenton 2005), (03h00min). Todos os morcegos foram
porém quando estes encontram-se enroscados encontrados mortos, com a cabeça e/ou o tórax
nas redes, predadores oportunistas podem devorados. As asas foram ignoradas pelo
também utilizar os morcegos como recurso predador em todas as ocasiões.
alimentar, fato observado no presente estudo. Depois do registro do primeiro ataque, uma
Uma vez que situações de predação de vez que o morcego morto encontrava-se a
morcegos nas redes de neblina são poucos centímetros do solo, optou-se por erguer
relativamente comuns, porém as evidências dos a bolsa inferior da rede de neblina para impedir
predadores responsáveis são escassas, o objetivo que esta ficasse rente ao chão. No entanto, na
deste estudo é reportar a predação de morcegos próxima vistoria à rede, observou-se uma cuíca-
em rede de neblina pela cuíca-de-quatro-olhos de-quatro-olhos (Philander frenatus) em
(Philander frenatus) no Parque Estadual de posição bípede segurando a rede com os
Campinhos. Esta espécie é tida como de hábito membros anteriores e abaixando-a para que lhe
alimentar onívoro e com período de atividade fosse possível alcançar um espécime de D.
predominantemente noturno e, assim como os rotundus preso, sendo que neste momento o
outros representantes da Ordem morcego já havia sido decapitado. Assustado
Didelphimorphia, possui hálux oponível, além com a presença dos pesquisadores, a cuíca
de cauda prêensil (Miranda et al. 2009), entrou em uma fenda localizada a poucos
características que podem conferir certa centímetros da entrada da caverna. Duas
habilidade a estes animais para a predação dos armadilhas do tipo gaiola, uma com isca de
morcegos enroscados na rede. salsicha e outra de banana, foram colocadas
próximas à rede de neblina no dia 28 de julho de
Material e Métodos 2009. Mesmo assim os ataques continuaram
O Parque Estadual de Campinhos inclui um durante as capturas de morcegos, já que a cuíca
remanescente de Floresta Ombrófila Mista e um não adentrava a armadilha, apenas arranhava a
complexo de cavernas denominado Conjunto isca por fora desta. Apenas no final da noite de
Fadas-Jesuítas, situado na região cárstica de 27 de outubro, quando um morcego-vampiro-
Tunas do Paraná e Cerro Azul, a 63 km de comum (D. rotundus) que já havia sido morto
Curitiba, Brasil. A Gruta das Fadas apresenta pela cuíca foi colocado como isca na armadilha,
108 m de desenvolvimento (extensão), sendo a a cuíca foi capturada. Esta foi identificada e
porção mais externa com cerca de seis metros solta na floresta a cerca de 700 m da caverna.
de comprimento e 1,5 m de altura. Desde junho
de 2009 estão sendo feitas coletas mensais de Conclusões
morcegos, com duração de duas noites Muitas vezes são encontrados morcegos
consecutivas, em três entradas do Conjunto atacados na rede de neblina, mas pouco se
Fadas-Jesuítas, incluindo a Gruta das Fadas. conhece sobre quais animais são os
responsáveis por esta predação oportunista.
Resultados e Discussão Assim, este é um importante registro acerca da

41
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

ecologia da cuíca-de-quatro-olhos, bem como os


potenciais predadores de morcegos.

Agradecimentos
Ao IAP pela autorização da coleta e captura
de morcegos na área de estudo; Ao João
Eduardo C. Brito pela ajuda em campo; Diego
R. Bilski e Luana C. Munster pela ajuda com o
manuscrito e à CAPES pela bolsa de auxílio à
pesquisa.

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42
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

O plantio de banana afeta a abundância de sementes dispersas por morcegos?

Júlia Lins Luz*, Luciana de Moraes Costa, Elizabete Captivo Lourenço, Luiz Antonio Costa Gomes,
Lorena Nicolay Freitas, William Douglas de Carvalho, Renan Dias, Ana Paula Felix de Carvalho e Carlos
Eduardo Lustosa Esbérard

Laboratório de Diversidade de Morcegos, UFRRJ, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil.

*Corresponding author. Email: julialinsluz@yahoo.com.br


Palavras-chave: Amostras fecais, Phyllostomidae, Sistemas agroflorestais

Introdução Material e Métodos


Terras agrícolas ocupam aproximadamente Foram selecionadas seis áreas de plantação
38% da superfície do planeta, e em torno de de banana no sul do Estado do Rio de Janeiro.
metade das áreas habitáveis (Clay 2004). A Mensalmente foram realizadas duas noites de
modificação da paisagem para produção de coleta, sendo uma na área de plantação de
alimentos e outras comodidades para consumo banana e a outra em área de vegetação nativa
humano representa a mais severa e comum adjacente ao bananal. As coletas foram
ameaça à biodiversidade global (Foley et al. realizadas entre novembro de 2008 e outubro de
2005). 2009 sendo cada sítio (bananal/floresta)
Alguns estudos avaliaram os impactos, amostrado duas vezes em intervalo que variou
positivos e negativos, de diferentes tipos de de cinco a sete meses. Desta forma todas as
cultivo e sistemas agroflorestais sobre as localidades foram amostradas no período seco e
comunidades de morcegos (e.g. Faria e no período chuvoso evitando uma possível
Baumgarten 2007). No entanto poucos estudos interferência da estacionalidade nos resultados.
foram realizados em plantações de banana As coletas foram realizadas com redes de
(Vaughan e Hill 1996; Rapp-Dickerson e neblina (9 x 2,5 m) abertas por toda a noite
Gerber 1999; Harvey e Villalobos 2007). Além (Esbérard 2006). O número de redes variou de
disso, esses estudos são focados na riqueza e 10 a 12 a cada noite totalizando 7.1280 h.m2
diversidade da comunidade de morcegos e não (Straube e Bianconi 2002). Sendo o esforço nas
na dispersão de sementes nesses ambientes. áreas de plantio de bananal igual ao realizado
Os morcegos frugívoros são atraídos para as nas áreas de floresta.
áreas de plantio de banana devido a alta Os morcegos foram retirados da rede em
abundancia de frutos. Essa guilda de morcegos inspeções realizadas a intervalos de 15-20
está entre os vertebrados que mais contribuem minutos, identificados, mensurados, marcados e
com a dispersão de sementes e a regeneração de soltos no próprio local. Os animais capturados
florestas, pois defecam em pleno voo foram identificados e marcados com coleiras
promovendo uma ―chuva de sementes‖ providas de cilindros coloridos segundo código
(Fleming e Heithaus 1981). Eles podem previamente estabelecido (Esbérard e Daemon
dispersar sementes de pelo menos 191 gêneros e 1999), exceto por alguns exemplares de
62 famílias de plantas na região Neotropical Desmodus rotundus, que foram sacrificados. As
(Lobova et al. 2009) e podem dispersar centenas espécies foram separadas em guildas tróficas.
de sementes por noite (Fleming e Sosa 1994). Os indivíduos, com exceção dos exemplares
O cultivo da banana no Brasil destaca-se por de Desmodus rotundus, permaneceram
ser por ser a segunda fruta mais importante em acondicionados em sacos de pano por um
área colhida e quantidade produzida, e é um dos período de duas horas para obtenção das
mais observados na Mata Atlântica, sendo amostras fecais.
considerado um problema na conservação Foi utilizado o teste t de Student para
(Rocha et al. 2003; Borges e Souza 2004). No comparar os bananais e as áreas de florestas
Estado do Rio de Janeiro boa parte das áreas quanto ao número de amostrais fecais e à
florestadas vem sendo convertida em plantações presença e abundância de sementes nessas
de banana (Rocha et. al. 2003). amostras. Essa análise foi realizada
No sul do Estado do Rio de Janeiro o plantio considerando toda a comunidade de morcegos,
de banana é bastante representativo. Sendo somente as espécies frugívoras e isoladamente
assim o objetivo deste trabalho é analisar se o as espécies Artibeus lituratus e Carollia
plantio de bananas diminui a dispersão de perspicillata por serem as espécies mais
sementes por morcegos. abundantes.
43
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Resultados e Discussão hipótese, pois a abundancia de sementes não


Um total de 1.310 capturas e recapturas diferiu significativamente, mostrando que a
(excluindo-se as recapturas ocorridas na mesma chuva de sementes proporcionada pelos
noite da captura) foram registradas, sendo 858 morcegos se mantém nas áreas ocupadas pelos
no bananal e 452 na mata. As espécies mais bananais.
abundantes foram Artibeus lituratus e Carollia Em áreas de plantação de banana, ou
perspicillata com 293 e 199 capturas no bananal próximo a estas, é comum verificarmos a
e 113 e 161 capturas na mata, respectivamente. presença de exemplares de Piperaceae e
Foram obtidas 630 amostras fecais sendo Cecropiaceae, plantas bastante consumidas
409 obtidas no bananal (64,9% do total de pelos morcegos frugívoros (eg. Passos et al.
amostras e 47,7% das capturas no bananal) e 2003). Desta forma é possível que mesmo
221 na mata (35,1% das amostras fecais e utilizando a banana como recurso alimentar, a
48,9% das capturas em mata). Dentre essas 630 abundancia de sementes de plantas nativas
amostras 336 apresentaram-se postivas com dispersas não seja tão reduzida.
uma ou mais morfotipos de sementes
simultâneamente (53,3%), sendo 189 no bananal Conclusões
(56,3%) e 147 na mata (43,7%). O número de A intensidade com que o cultivo de plantas
sementes por amostra variou de zero a 827. frutíferas pode interferir na dispersão de
As abundancias média e absoluta de sementes pelos vertebrados ainda não é
sementes não variaram entre os bananais e as totalmente entendida. Apesar do número de
matas. A abundancia relativa de amostras fecais amostras fecais ter sido maior em áreas de mata,
obtidas diferiu entre os bananais e as matas o número relativo e absoluto de sementes
apenas para C. perspicillata (p = 0,022; t = - encontradas nessas amostras fecais de morcegos
2,469), sendo obtidas mais amostras nas matas. em bananais e áreas de mata contíguas a estes
Já a abundancia relativa de amostras fecais não diferiu. Isso sugere que os serviços
positivas (que apresentaram uma ou mais prestados pelos morcegos na dispersão de
sementes), em relação ao número de capturas, sementes ainda sejam parcialmente mantidos
foi maior nas matas tanto para C. perspicillata nos ambientes agroflorestais, provavelmente
(p = 0,004; t = -3,169), como para as espécies de devido a sua relativa permeabilidade.
hábitos frugívoros (p = 0,043; t = -2,154) e para
a comunidade como um todo (p = 0,027; t = - Agradecimentos
2,385). A abundância relativa de amostras fecais L.M. Costa agradece à CAPES pela bolsa de
positivas, em relação ao número total de mestrado; E.C. Lourenço agradece ao
amostras fecais, diferiu entre os ambientes PIBIC/CNPq/UFRuralRJ pela bolsa de iniciação
apenas para a comunidade como um todo (p = científica e a CAPES a de mestrado; J.L. Luz
0,001; t = -4,041). Nenhum desses parâmetros agradece a bolsa de Doutorado do CNPq
variou quando analisamos A. lituratus (processo 552681/2008-3); A.P.F. Carvalho
isoladamente. agradece a bolsa de apoio técnico do CNPq
Os animais frugívoros dependem da (processo 502570/2008-3); C.E.L Esbérard
disponibilidade de frutos para sua permanência agradece a bolsa de produtividade em pesquisa
em uma determinada área (Wright et al. 1999). do CNPq (processo 301061/2007-6).
Em áreas de plantio de banana, principalmente Financiamento: FAPERJ (processo E-
aquele realizado através da agricultura familiar, 26/170.449/07), CNPq (processo 471983/2007-
a disponibilidade de banana é alta e constante o 1).
ano inteiro atraindo assim morcegos que se
alimentam desta fruta. É possível que ao se Referências
alimentar de banana, e não das plantas nativas, a Clay J. 2004. World agriculture and the
dispersão de sementes por morcegos frugívoros environment: A commodity-by-commodity
seja reduzida. guide to impacts and practices. Island Press,
Neste trabalho verificamos que o número de Washington, DC.
amostras fecais e a presença de sementes nestas Borges A.L. e Souza L.S. 2004. O cultivo da
variou entre os bananais e as matas sendo maior bananeira. Embrapa Mandioca e
em áreas de mata. Isso pode indicar uma Fruticultura, Cruz das Almas.
diminuição na dispersão de sementes por parte Esbérard C.E.L. 2006. Efeito da coleta de
dos morcegos enquanto utilizam as áreas de morcegos por noites seguidas no mesmo
cultivo de banana. Apesar desta análise ainda local. Revista Brasileira de Zoologia 23(4),
não estar considerando a identificação das 1006-1009.
sementes, que está em andamento, nossos
resultados não comprovaram diretamente esta
44
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Esbérard C.E.L. e Daemon C. 1999. Novo


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Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Predação de Tadarida brasiliensis por Chrotopterus auritus no sul do Brasil

João E. C. Brito*, João M. D. Miranda, Itiberê P. Bernardi e Fernando C. Passos

Laboratório de Biodiversidade, Conservação e Ecologia de Animais Silvestres, LABCEAS, UFPR,


Curitiba, Paraná, Brasil.

*Corresponding author. Email: britojec@gmail.com


Palavras-chave: Comportamento, Phyllostominae, Predação

Atlântica, apresentando as subformações sub-


Introdução montana, montana e alto-montana. O clima do
Chrotopterus auritus é a segunda maior PEPM, de acordo com a classificação climática
espécie de morcego do Novo Mundo, atrás de Köppen, é Cfb - com verões frescos, geadas
somente de Vampyrum spectrum. Seu freqüentes e sem estação seca, com a média de
comprimento cabeça-corpo varia de 93 a 114 temperatura do mês mais quente inferior a 22 ºC
mm, seu antebraço de 77 a 87 mm e seu peso de e do mês mais frio inferior a 18 ºC, sem déficit
61 a 94 g (Taddei 1975; Medellín 1989; hídrico (SEMA-IAP 1996). Na coleta dos
Emmons e Feer 1990). Este Phyllostominae tem morcegos foram utilizadas dez redes-de-neblina
o hábito alimentar variado e se alimenta (mist-net), sendo elas oito de tamanho 7 x 2,5 m
principalmente de pequenos vertebrados e duas de 12 x 2,5 m.
(Giannini e Kalko 2005). Mas já foi registrada a
presença de insetos coleópteros e lepidópteros, e Resultados e Discussão
até frutos de Piperaceae, Urticaceae e Foi registrada a predação de um espécime de
Solanaceae na sua dieta (Uieda et al. 2007). T. brasiliensis por C. auritus. Sendo o primeiro
Dentre os vertebrados, já foram encontradas as registro desta espécie predando um morcego da
seguinte presas: roedores, pequenas aves, família Molossidae. No dia 19 de agosto de
lagartos, anfíbios, pequenos marsupiais e 2009 às 18h 20min foi capturado em uma rede
morcegos (Tuttle 1967; Medellín 1988; Sazima armada à entrada de um abrigo diurno um
1978). Tadarida brasiliensis é um molossídeo espécime macho adulto (13g) de T. brasiliensis,
de pequeno porte, com antebraço medindo de 41 esse indivíduo foi triado, anilhado (UFPR-Zool
a 45 mm e pesando cerca de 12 g. No sul do P00762) e solto. Nessa mesma noite, cerca de
Brasil se alimentam preferencialmente de 01h 00min foi encontrada uma fêmea adulta de
coleópteros e lepidópteros (Fabián et al. 1990). C. auritus comendo esse indivíduo descrito
Ambas as espécies possuem ampla distribuição, acima, nessa mesma rede. Da presa restaram na
sendo a última, no Brasil, mais restrita ao sul e rede as asas, patas traseiras, cauda e uropatágio,
sudeste (Reis et al. 2007). O objetivo desse pesando 3g. Com isso, provavelmente, o C.
trabalho é relatar a predação de Tadarida auritus comeu 10 g do T. brasiliensis. Acosta e
brasiliensis por Chrotopterus auritus em uma Lara (1951) registrou a predação de
área de Mata Atlântica no Sul do Brasil. Glossophaga soricina, Arita e Vargas (1995) de
Peropteryx macrotis e Bordignon (2005) de
Material e Métodos Carollia perspicillata. No PEPM também são
O registro ocorreu durante um trabalho sobre abundantes C. perspicillata; Anoura caudifer e
estrutura de comunidade e dieta de morcegos no A. geoffroyi que possuem hábito e porte
Parque Estadual do Pico do Marumbi (PEMP). parecidos com G. soricina. Sendo estes
O PEPM possui aproximadamente 8.745,45 ha, possíveis presas para C. auritus na área.
totalmente inserido na Área de Proteção
Ambiental Estadual da Serra do Mar. Está Conclusões
situado no Município de Morretes a cerca de 15 Este trabalho inclui a família Molossidae na
km de sua sede municipal, entre as coordenadas dieta de C. auritus, aumentando a diversidade
geográficas 25° 24‘ – 25° 31‘ S e 48° 58‘ – 48° de itens alimentares na dieta deste carnívoro. É
53‘ W. Situa-se na porção central da Serra do importante ressaltar que este registro não foi
Mar, entre as Serras da Farinha Seca e da Prata conclusivo quanto ao momento e local da
(SEMA-IAP 1996). Adotando os critérios de predação, podendo ser atribuída a dois possíveis
Veloso et al. (1991), o PEPM está inserido nos cenários. (1) C. auritus predou o T. brasiliensis
domínios da Floresta Ombrófila Densa que já estava preso à rede ou (2) C. auritus
46
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

predou o T. brasiliensis em outro local e depois Veloso H.P.; Rangel-Filho A.L.R. e Alves-Lima
foi capturado na rede. Financiamento: CAPES, J.C. 1991. Classificação da vegetação
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47
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Vigilância ambiental e sanitária de quirópteros no Município de Porto Alegre, Rio


Grande do Sul, Brasil

Soraya Ribeiro(1)*, Susi M. Pacheco(2), Aline O. Brasil(1), Giane I. Niederauer(1), Daiane B. Geiger(1),
José C. Sangiovani(3)

(1) Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre/RS (SMAM), Av. Carlos Gomes, 2120 sala
303, Setor Programa de Conservação de Fauna Silvestre, 90480-002, Porto Alegre, RS. (2) Instituto
Sauver (ISAUVER), Porto Alegre, RS; (3) Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre/RS (SMS),
Porto Alegre, RS.

*Corresponding author. Email: ribeiro@smam.prefpoa.com.br


Palavras-chave: Área Urbana, Histoplasmose, Raiva

Introdução O atendimento as demandas de quirópteros é


Morcegos são os mamíferos silvestres realizado primeiramente via telefone. No setor
tratados como pragas urbanas pelas pessoas nas de fauna da SMAM é preenchida uma ficha com
cidades. É reconhecida a importância do seu os dados de ocorrência, endereço, local onde
papel ecológico, especialmente, das espécies o(s) morcego(s) se encontra(m). São fornecidos
insetívoras, mas devido ao desconhecimento do ao munícipio informações sobre os hábitos,
grupo, as pessoas procuram os órgãos públicos habitats e comportamento dos morcegos, além
para resolver as questões de conflito, ou seja, a de oferecer as principais alternativas para
presença de morcegos em locais próximos ao minimizar o conflito. É enviada via e-mail uma
homem (telhados, condicionadores de ar, cartilha de orientação, que também se encontra
persianas, árvores em pátios internos ou praças). na sede da SMAM, impressa para a distribuição.
Para auxiliar na solução dos problemas entre Nos casos em que haja necessidade de avaliar o
homens-morcegos-saúde pública foi criado o estado do agrupamento ou identificar a espécie é
Programa de Monitoramento de Quirópteros do agendada uma vistoria.
Rio Grande do Sul, integrado por órgãos de Nas vistorias são realizados registros
saúde e meio ambiente do Estado, de 11 fotográficos, pode haver coleta de um ou mais
prefeituras, e de universidades e instituições de exemplares para exame de diagnóstico de raiva
pesquisa. Em Porto Alegre está composto por e coleta de fezes para histoplasmose. Na ocasião
uma equipe multidisciplinar que congrega o é realizada uma avaliação das ações que
Setor de Conservação de Fauna Silvestre da poderão ser empregadas na solução do
Secretaria Municipal de Meio Ambiente problema, desalojamento da colônia ou
(SMAM), o Centro de Controle de Zoonoses da monitoramento da mesma naquele ambiente.
Secretaria Municipal da Saúde (CCZ/SMS) No Centro de Controle de Zoonoses da
ambos da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Secretaria Municipal de Saúde (SMS/POA/RS),
setor de Micologia da FAVET/UFRGS, as informações igualmente são adquiridas por
Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério telefone e nos casos de morcegos caídos, mortos
Finamor (IPVDF/FEPAGRO) e o Instituto ou moribundos uma equipe se desloca ao local,
Sauver. e posteriormente envia os exemplares para o
Através desse programa é realizada a diagnóstico de raiva junto ao setor de Virologia
vigilância ambiental e sanitária em conjunto e, do IPVDF para verificação de positividade para
dados bioecológicos e comportamentais são o vírus rábico. Se há confirmação da doença é
agregados. Estas informações trabalhadas em realizado o bloqueio vacinal e transmitidas as
conjunto fornecem informações mais criteriosas medidas de vigilância junto à comunidade.
e úteis para a comunidade envolvida. Em ambos os setores as informações
O objetivo deste trabalho é apresentar os pertinentes ao atendimento por telefone ou in
resultados relativos ao monitoramento de loco são disponibilizadas em banco de dados
quirópteros em áreas abertas e habitações por tipo de abrigo, preocupação e bairros,
humanas junto à comunidade Porto-alegrense conforme critério adotado no setor, que separa a
nos anos de 2008 e 2009. cidade em três zonas: (i) Zona Norte: menos
residencial, predomina os setores de comércio e
Material e Métodos indústria; o relevo é baixo e vegetação de
campos úmidos; (ii) Centro: altamente
48
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

urbanizada e de predomínio residencial e herbívoros (equinos e bovinos) na área


comercial, com muitos prédios antigos e altos, periurbana de Porto Alegre, nos bairros Lami e
trânsito intenso e iluminação urbana; (iii) Zona extremo sul da cidade (zona sul), causados por
Sul: área com características rurais e residencial, Desmodus rotundus, cujo controle é
com vegetação nativa densa, lagos e açudes e competência da Secretaria Estadual da
raros prédios altos. Agricultura. Foram vacinados na ocasião 1.184
Resultados e Discussão animais.
Porto Alegre possui atualmente 20 espécies Conclusões
de morcegos (Pacheco et al. 2008). Em 2008 e O trabalho integrado de monitoramento de
2009 foram realizados 161 atendimentos pelo morcegos no município de Porto Alegre iniciou
Setor de Fauna da SMAM/POA. O maior em 2007, e está em fase de adequação de
número de reclamações ocorre entre os meses metodologia para o estudo de populações de
de agosto a fevereiro. Agosto-setembro é morcegos em área urbana. Verificou-se neste
quando ocorre o retorno dos animais aos período a grande demanda por parte da
abrigos/telhados, e, portanto, o objeto da ligação população de Porto Alegre quanto a
é o barulho. Outubro a dezembro corresponde informações sobre as espécies, demonstrando a
ao período de instalação de colônias necessidade de manter-se o monitoramento
maternidade e crescimento dos filhotes, quando associado a um forte trabalho de educação
as reclamações são basicamente sobre barulho e ambiental.
odor, e janeiro a fevereiro, quando os indivíduos Quanto à saúde pública, os resultados
jovens começam a voar, erram os abrigos e os obtidos até o momento servirão de subsídio para
conflitos são os adentramentos ou encontros de a formação de uma série histórica para o
morcegos caídos em pátios internos. Nos demais município sobre a transmissão do vírus rábico
meses há raros casos de chamadas para vistoria, por estes mamíferos.
em geral, vinculados a época de frutificação de
algumas espécies como Ficus cestrifolia, Agradecimentos
Eriobotrya japonica e Mangifera indica muito À equipe do laboratório de virologia do
comuns na arborização urbana de Porto Alegre. IPVDF/FEPAGRO que trabalham no
O percentual por abrigos escolhidos foi de diagnóstico de raiva das espécies de quirópteros
54,7% de morcegos instalados em telhados, e à estagiária Dalila Welter. Financiamento:
9,3% em condicionadores de ar, 4,3% em SMAM, SMS, Prefeitura de Porto Alegre,
árvores, 3,1% em persianas, 1,9% em vão entre ISAUVER
prédios, 26,7% em outros locais. Com relação
às ocorrências por zonas da cidade verificou-se Referências
que no Centro foi de 39,1%, Zona Sul de 32,2% Dimitrow D.T.; Hallan T.G.; Rupprecht C.E.;
e Zona Norte de 28,6%. As características de Turmelle A.S. e MaCcracken G.F. 2007.
cada zona, ou seja, residencial (ii), com forte Integrative models of bats rabies
arborização (iii) e de comércio com monnology epizoology and disease
características de campos úmidos (i) reflete a demography. Journal of Theoretical Biology
distribuição e a preferência por abrigo dos 245(3):498-509.
morcegos em Porto Alegre. Pacheco S.M.; Marques R.V.; Grillo H.C.Z.;
No período de trabalho, conforme dados do Marder E.; Bianconi G.V.; Miretzki M.;
IPVDF (FEPAGRO), Porto Alegre enviou 38 Lima I.P. e Rosa V.A. 2008. Morcegos de
amostras em 2008 e 44 amostras em 2009 Áreas Urbanas da Região Sul do Brasil. Em:
provenientes das Secretarias municipal e Morcegos No Brasil: Biologia, Sistemática,
estadual de saúde, das quais seis foram Ecologia E Conservação. (Editado por
positivas, correspondendo a 0,073%. Segundo Pacheco S.M.; Marques R.V. e Esbérard
Dimitrov (2007) o padrão estabelecido como C.E.L), pp. 415-425. Porto Alegre.
normal para índice de positividade para
quirópteros é entre 1% e 4%. Portanto, os
valores na área urbana são inferiores. Quanto ao
diagnóstico de histoplasmose das 80 amostras
de fezes analisadas nenhuma foi positiva no
período de 2009, evidenciando que os telhados
quentes e secos, com temperaturas superiores a
60 ºC não são propícios para o desenvolvimento
do Histoplasma capsulatum.
Salienta-se que, em 2009, de fevereiro a
julho, foram notificados 16 casos de raiva em
49
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Atividade horária e estacional de Phyllostomidae em fragmentos florestais no alto


rio Paraná, Brasil

Henrique Ortêncio Filho(1)*, Nelio Roberto dos Reis(2) e Carolina Minte Vera(3)

(1) GEEMEA - Grupo de Estudos em Ecologia de Mamíferos e Educação Ambiental, Universidade


Paranaense, Campus Cianorte, Av. Brasil, 1123, CEP 87.200-000, Cianorte, Paraná, Brasil; (2)
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Caixa postal: 6001, 86051-990, PR, Brasil; (3) Núcleo de
Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura, Universidade Estadual de Maringá.

*Corresponding author. Email: henfilho@unipar.br


Palavras-chave: atividade estacional, atividade horária, frugívoros

Introdução floresta estacional semidecidual do alto rio


O processo de fragmentação de hábitats Paraná, Brasil.
é um aspecto fundamental a ser considerado no
tocante à conservação da vida silvestre, visto Material e Métodos
que a redução dos ambientes em pequenas áreas O estudo foi realizado em quatro fragmentos
tem resultado na limitação de recursos de Floresta Estacional Semidecidual na região
necessários à manutenção das espécies, como de Porto Rico, Paraná. Para a captura dos
alimento, parceiros reprodutivos e abrigo (Pires morcegos, foram utilizadas 32 redes de neblina,
et al. 2006). Além disso, alterações no com 8,0 x 2,5 m, totalizando um esforço de
microclima dessas áreas provocadas pela ação captura de 87.040 m2.h (Straube e Bianconi
antropogênica tem ocasionado mudanças, 2002), as quais foram instaladas entre 0,5 e 3,0
principalmente de temperatura, luminosidade e m de altura do solo. As redes foram armadas
umidade (Odum e Barrett 2007), condições que nos lugares de maior preferência dos morcegos,
podem influenciar as atividades desenvolvidas em seus deslocamentos e revistadas a cada 15
pelos morcegos (Thies et al. 2006). minutos, seguindo critérios de Reis (1984).
Brown (1968) e Laval (1970) ressaltam Após a captura efetuou-se a medida do
que o período de maior atividade dos morcegos antebraço, a pesagem e a identificação dos
na região neotropical acontece nas primeiras animais, sendo que dois exemplares de cada
horas da noite. Vários trabalhos envolvendo espécie foram mortos com dose intraperitonial
atividade horária no Brasil (Reis 1984; Muller e de tiopental sódico, conforme Ortêncio Filho et
Reis 1992; Fogaça 2003; Zanon e Reis 2007; al. (2005), fixados em formol 10% e
Ortêncio Filho e Reis 2008) consideram apenas conservados em álcool 70%. Os espécimes
as primeiras horas após o anoitecer. Outros foram identificados de acordo com Vizotto e
estudos apontaram variações no horário de Taddei (1973), Jones e Carter (1976) e Gregorin
atividades dos quirópteros, enfocando a e Taddei (2002) e depositados no Laboratório de
possibilidade de mais de um pico ao longo do Zoologia da Universidade Paranaense, Campus
período noturno (Morrison 1978; Pedro 1992; Cianorte.
Bernard 2002), o que ressalta a importância de Para análise sobre o padrão de atividade
ser amostrado tal padrão ao longo do período horária e estacional dos morcegos, foram
noturno por completo. realizadas coletas uma noite por mês
Diversas questões relacionadas à abrangendo todo o período noturno, de janeiro a
ecologia de morcegos podem ser entendidas a dezembro de 2006, totalizando,
partir de informações sobre os padrões horários aproximadamente, 11 horas por noite.
e sazonais de atividade, como exploração do Os estudos foram direcionados à
ambiente, dieta e reprodução, o que possibilita, comparação do padrão de atividade horária e
de acordo com Pianka (1969) e Schoener estacional das espécies mais frequentemente
(1974), o entendimento da dinâmica de nicho e capturadas na região de estudo, como é o caso
do estabelecimento e permanência das de Artibeus planirostris (Spix, 1823), Artibeus
comunidades nos ecossistemas. Assim, o lituratus (Olfers, 1818) e Artibeus fimbriatus
presente estudo teve por objetivos investigar a Gray, 1838 e Sturnira lilium (E. Geoffroy,
atividade horária e estacional de morcegos 1810), Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) e
filostomídeos frugívoros, em remanescentes de
50
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810), situação semelhante para os pequenos, que
conforme Ortêncio Filho e Reis (2009). foram mais freqüentes no verão e no outono. De
Informações sobre temperatura do ar foram acordo com Fleming (1986), os períodos mais
medidas no início e no final da coleta com quentes e úmidos normalmente são marcados
psicrômetro e os dados de precipitação foram em regiões tropicais pela abundância de
fornecidos pelo Instituto Tecnológico espécies frugívoras, devido à disponibilidade de
SIMEPAR. Os dados foram analisados por meio alimento, situação observada no presente
de estatística descritiva e representados em estudo, em que o maior número de indivíduos
percentuais. amostrados ocorreu no verão, o que pode
indicar uma variação na oferta desse recurso
Resultados e Discussão entre as estações interferindo nos padrões de
A temperatura do ar variou de 10,0 oC atividade das espécies na área.
(agosto) a 31,3 oC (dezembro) com média anual Segundo Aguirre et al. (2003), em ambientes
de 21,5 oC. Os períodos mais secos foram de florestais, morcegos com maior dependência de
abril a junho, com o menor valor de precipitação recursos que variam estacionalmente, como é o
pluviométrica em maio (16,2 mm), os maiores caso dos frutos, tendem a ter maior variação de
foram registrados de janeiro a março e pico atividade ao longo do ano, comparados às
ocorreu em dezembro (259,0 mm). Os mais espécies com dietas mais constantes, como as
elevados níveis de precipitação coincidiram com insetívoras. Agosta et al. (2005) ressaltaram a
os meses de temperatura mais elevada. influência da temperatura sobre a saída dos
Durante o período de amostragem, foram morcegos do abrigo, o que corrobora com os
registradas 512 capturas de morcegos. Artibeus resultados obtidos no presente trabalho, haja
planirostris foi representada por 137 indivíduos vista a redução no número de animais nas redes
(26,8%), A. lituratus por 120 (23,4%) e A. associado às quedas de temperatura. Além
fimbriatus, por 32 morcegos (6,3%), enquanto disso, as variações no número de capturas de
Carollia perspicillata, Platyrrhinus lineatus e acordo com as estações do ano podem estar
Sturnira lilium foram as menores das mais associadas, segundo Aguiar e Marinho Filho
freqüentes espécies com, respectivamente, 120 (2004), à dinâmica dos fragmentos florestais e à
(23,4%), 61 (11,9%) e 42 (8,2%) indivíduos. movimentação dos morcegos, que se deslocam
De maneira geral, os morcegos capturados de uma área a outra conforme a ocorrência de
na região de Porto Rico apresentaram picos de alimento e abrigo.
atividade na quarta e décima horas. Picos de
captura para os frugívoros maiores ocorreram na Conclusões
quinta e décima horas, enquanto para os Com base nas informações registradas,
frugívoros menores os picos foram na segunda e constatou-se variação no padrão horário e
quarta horas, embora tenham acontecido estacional de atividade de morcegos
capturas ao longo de todo o período noturno. filostomídeos frugívoros em remanescentes de
Tal fato pode indicar a não escassez de floresta estacional semidecidual do alto rio
determinados itens alimentares, evitando a Paraná, Brasil, região de Porto Rico, Paraná. Os
exaustão desses recursos numa mesma noite dados obtidos sugerem um padrão semelhante
(Muller e Reis 1992). de atividade horária para os frugívoros maiores,
Segundo Brown (1968) e Laval (1970), os enquanto os menores concentraram suas
morcegos da região neotropical apresentam atividades nas primeiras horas da noite. Além
maior atividade nas primeiras horas ao disso, mais animais foram capturados no verão,
anoitecer, provavelmente, devido à provavelmente em função da disponibilidade de
disponibilidade de frutos, que não são repostos alimento, bem como da menor perda de calor
na mesma noite e, com isso, os animais que devido às temperaturas mais elevadas. Esses
forrageiam mais cedo têm maiores chances de resultados apontam quão tolerantes são as
encontrar alimento (Heithaus et al. 1975). O espécies estudadas frente às variações temporais
tempo e o horário de atividade também são e condições ambientais.
influenciados pela proximidade do abrigo em
relação às fontes de alimento, bem como pelas Agradecimentos
condições ambientais, como temperatura e À Universidade Estadual de Maringá e à
umidade (Fenton 1977). Universidade Paranaense pelo incentivo e apoio
Em relação ao padrão estacional, constatou- financeiro; Aldair Tavares de Souza, Aline
se, de maneira geral, maior atividade de Farias Zanetti, Danieli Carvalho Vieira, Danieli
morcegos na região de estudo durante o verão e Pinto, Émerson Jamber, Gisele Camilloti
o outono. Foi observado o predomínio dos Paulino, Gustavo Barizon Maranho, Loseni
grandes frugívoros no verão e na primavera, Budny, Marcelo Aparecido Marques, Regiane
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Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

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Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Quiropterofauna registrada em um remanescente florestal do Domínio Mata


Atlântica no Rio Grande do Sul, Brasil

Cristina Vargas Cademartori(1)*, Camila Silveira de Lima(1), Rosane Vera Marques(2), Cristiane Mattje
Mendonça(1), Tiago Corrales Cabral(1), Daniel Paulo de Souza Pires(1) e Diana Gonçalves Delagnese(1)

(1) Pós-Graduação e Pesquisa - Unilasalle, Av. Victor Barreto, 2288, Canoas, RS; (2) Unidade de
Assessoramento Ambiental, DAT, MP-RS, Porto Alegre, RS.

*Corresponding author. Email: titina@via-rs.net


Palavras-chave: Frugivoria, inventário, riqueza de espécies

Introdução investigação foi conhecer a composição de


A Mata Atlântica, segundo maior bioma da espécies de quirópteros em área do Domínio
América do Sul, é formada por um conjunto de Mata Atlântica, no sul do Brasil, bem como
fitofisionomias que compõem o Domínio Mata aspectos de sua dieta, a fim de contribuir para a
Atlântica. Como reflexo da ocupação territorial conservação da área e de seu entorno.
e da exploração desordenada, tornou-se uma das
formações mais descaracterizadas atualmente, Material e Métodos
sendo representada por fragmentos isolados que O Morro do Coco, localizado na Região
não ultrapassam 8% de sua cobertura original Metropolitana de Porto Alegre (30° 16‘ 15‖ S e
(SOS Mata Atlântica 2009). A fragmentação de 51° 02‘ 54‖ W), às margens do Guaíba, em
habitats altera as características ecológicas dos Viamão, RS, é uma área de Floresta Estacional
sistemas naturais contínuos, ocasionando Semidecidual (Marcuzzo et al. 1998)
extinções locais e alterações na composição e pertencente ao Domínio Mata Atlântica, que
abundância de espécies. Ainda assim, a Mata preserva características próximas às originais.
Atlântica apresenta um alto índice de Apresenta um mosaico de áreas preservadas, em
endemismo e riqueza, abrigando mais de 8.000 estágio sucessional avançado, juntamente com
espécies endêmicas de plantas vasculares, áreas descaracterizadas, em estágios iniciais
anfíbios, répteis, aves e mamíferos (Myers et al. (Backes 2001). O clima tipo Cfa é caracterizado
2000). Por consequência, o bioma tornou-se por invernos frescos e chuvas regularmente
uma das grandes prioridades para a conservação distribuídas ao longo do ano.
da biodiversidade neotropical (Conservação Amostragens foram realizadas com
Internacional do Brasil 2000). periodicidade mensal, por três noites
Os quirópteros compreendem 38% das consecutivas, entre junho de 2008 e janeiro de
espécies de mamíferos registradas na Mata 2010. Redes-de-neblina (12 x 3 m e 7 x 3 m)
Atlântica (Marinho-Filho e Sazima 1998), sendo foram alocadas na borda e interior da mata, em
fundamentais ao processo de sucessão ecológica clareiras e próximo a árvores em frutificação,
nas florestas tropicais. Devido aos seus variados permanecendo expostas por cerca de 6 h, desde
hábitos alimentares, partilham recursos, agindo o anoitecer. O esforço amostral foi calculado
como dispersores de sementes, polinizadores e conforme Straube e Bianconi (2000),
reguladores de populações de insetos e totalizando 94.050 m².h.
pequenos vertebrados (Bianconi et al. 2004). Os Os indivíduos capturados eram identificados
morcegos são considerados espécies-chave e, e mantidos em sacos de algodão por 40min para
por conseguinte, tem grande potencial como defecarem. No laboratório, as fezes foram
indicadores do grau de descaracterização de levadas à estufa a 60 °C, em placas de petri, por
hábitats (Fenton et al. 1992), subsidiando tanto 40min. As amostras foram separadas em
a conservação quanto a recuperação de áreas sementes, polpas e partes foliares. Sementes
degradadas. Trabalho de revisão sobre a foram observadas em microscópio
distribuição geográfica de quirópteros na região estereoscópico e identificadas com base na
sul do Brasil (Pacheco et al. 2007) demonstrou a coleção de referência do Laboratório de
ocorrência de 21 espécies de morcegos para a Mastozoologia da UFRGS.
sub-bacia hidrográfica do Lago Guaíba, onde se
localiza a área de estudo. O objetivo desta Resultados e Discussão

54
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Um total de 77 indivíduos foi capturado, florísticos realizados por Backes (1981) e


pertencentes a duas (Phyllostomidae e Aguiar et al. (1986) não relatam a presença de
Vespertilionidae) das quatro famílias e a sete P. aduncun e C. pachystachya no Morro do
das 36 espécies registradas no Rio Grande do Coco, sugerindo que tais espécies podem ter se
Sul: Artibeus lituratus (Olfers, 1818); Artibeus estabelecido na área posteriormente a esses
fimbriatus Gray, 1838; Sturnira lilium (E. estudos ou que os morcegos poderiam estar
Geoffroy, 1810); Glossophaga soricina (Pallas, buscando recursos em áreas adjacentes.
1766); Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810);
Histiotus velatus (I. Geoffroy, 1824) e Myotis Conclusões
nigricans (Schinz, 1821). As espécies de morcegos até então
Os vespertilionídeos, representados por H. registradas no Morro do Coco são consideradas
velatus e Myotis nigricans, ambos insetívoros, comuns e já haviam sido registradas na sub-
somaram 6,95% das capturas. bacia do Lago Guaíba. Contudo, visto que a
Os filostomídeos constituíram 93,05% das curva do coletor não atingiu a assíntota, espera-
capturas. S. lilium, A. fimbriatus e A. lituratus se que um maior número de espécies venha a ser
são, predominantemente, frugívoros, embora A. detectado posteriormente, com a inclusão de
lituratus, ocasionalmente, inclua insetos em sua espécies raras ou pouco abundantes. A
dieta (Kunz e Dias 1995). S. lilium foi a espécie predominância de morcegos frugívoros
mais comum, representando 45% das capturas. generalistas é importante para a restauração de
A fimbriatus foi a segunda espécie mais ambientes naturais, pois esses animais possuem
amostrada, seguida de A. lituratus (24,67% e capacidade de interação ecológica com uma
9,1% das capturas, respectivamente). grande variedade de plantas. A presença de
Glossophaga soricina, nectarívora, representou sementes, nas fezes de morcegos generalistas,
7,79% das capturas, enquanto D. rotundus, de espécies vegetais que não haviam sido
hematófago, 6,49%. Outros estudos realizados constatadas em estudos florísticos realizados há
no Domínio Mata Atlântica também quase duas décadas na área, pode ser mais um
demonstram a predominância de filostomídeos. indício do potencial de dispersão das sementes
Passos et al. (2003), no Parque Estadual de que esses animais apresentam e do importante
Intervales, também capturaram principalmente papel que desempenham na conservação e
espécies frugívoras, sendo S. lilium a mais recuperação de ambientes florestais.
comum, seguida de A. fimbriatus e A. lituratus.
Pinto e Ortêncio-Filho (2006), por sua vez, no Referências
Parque Municipal do Cinturão Verde de Aguiar L.; Martau L.; Soares Z.; Bueno O.;
Cianorte, também registraram o predomínio Mariath J. e Klein R. 1986. Estudo
dessas três espécies, embora S. lilium tenha sido preliminar da flora e vegetação de morros
a menos capturada. Segundo Humphrey e graníticos da região de Porto Alegre, Rio
Bonaccorso (1979), os morcegos filostomídeos, Grande do Sul, Brasil. Iheringia, Sér.
endêmicos da região Neotropical, são o grupo Botânica (34): 3-38.
geralmente predominante e de maior Backes A. 1981. Flora do Morro do Coco,
diversidade nas comunidades de mamíferos. Viamão, RS. Iheringia, Sér. Botânica (27):
Entretanto, sua preponderância pode estar 27-40.
associada à metodologia de captura. Pedro e Backes A. 2001. Ecologia da floresta do Morro
Taddei (1997) afirmam que a utilização de redes do Coco, Viamão, RS. II – Produção de
de neblina mostra-se fundamental em estudos Serrapilheira, de CO2 pelo solo e
com quirópteros, possibilitando uma decomposição de celulose. Iheringia, Sér.
amostragem abundante, porém seletiva, já que Botânica (55): 3-21.
filostomídeos são mais facilmente capturados Bianconi G.V.; Mikich S.B. e Pedro W.A. 2004.
pelas redes, uma vez que sobrevoam Diversidade de morcegos (Mammalia:
principalmente o sub-bosque. Chiroptera) em remanescentes florestais no
As amostras fecais coletadas foram todas de município de Fênix, noroeste do Paraná,
S. lilium. Dos seis bolos fecais obtidos, três Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 21(4):
continham sementes, três apenas polpa e 943-954.
nenhum apresentava partes foliares. Foram Conservação Internacional do Brasil. 2000.
identificadas sementes de Maclura tinctoria L. Avaliação de ações prioritárias para
(Moraceae), Cecropia pachystachya Trécul conservação da biodiversidade da Mata
(Urticaceae) e Piper aduncum L. (Piperaceae). Altântica e Campos Sulinos. Secretaria da
Passos et al. (2003) também constataram o Biodiversidade e Florestas (SBF), Ministério
consumo de sementes de Piper por S. lilium em do Meio Ambiente (MMA), Brasília.
área do Domínio Mata Atlântica. Inventários
55
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Fenton M.B.; Acharya L.; Audet D.; Hicket M.; Straube F.C. e Bianconi G.V. 2002. Sobre a
Merriman C.; Obrist M. e Syme D. 1992. grandeza e a unidade utilizada para estimar
Phyllostomid bats (Chiroptera: esforço de captura com utilização de redes-
Phyllostomidae) as indicator of habitat de-neblina. Chiroptera Neotropical 8(1-2):
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56
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Quirópteros do Parque Natural Municipal Fazenda Santa Cecília do Ingá, Volta


Redonda, Estado do Rio de Janeiro

Sérgio Nogueira Pereira(1)*, Daniela Dias(2), Isaac Passos de Lima(1), Andréa Cecília Sicotti Maas(1),
Dayana Paula Bolzan(1), Mayara Almeida Martins(1), Débora de Souza França(1), Marcione Brito de
Oliveira(1) e Adriano Lúcio Peracchi(1)

(1) Laboratório de Mastozoologia, Departamento de Biologia Animal, UFRRJ, BR 465, Km 7,


Seropédica, RJ, Brasil, 23890-000; (2) Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres
Reservatórios, IOC, Fundação Oswaldo Cruz, Pavilhão Arthur Neiva, Avenida Brasil, 4365, Rio de
Janeiro, RJ, 21040-900.

*Corresponding author. Email: spereirabio@gmail.com


Palavras-chave: Diversidade, Inventário, Riqueza de espécies

Introdução O presente trabalho teve como objetivo


A Mata Atlântica é considerada um dos estudar a riqueza e a diversidade de quirópteros
maiores centros de biodiversidade mundial, na região do Parque Natural Municipal Fazenda
porém, o bioma já foi intensamente devastado Santa Cecília do Ingá (Parque do Ingá).
pelo extrativismo, plantações de café e cana de
açúcar, pecuária e industrialização (Bergallo et Material e Métodos
al. 2000). O Estado do Rio de Janeiro possui Entre outubro e novembro de 2009 foi
atualmente menos de 17% da cobertura florestal realizado um levantamento rápido de 07 noites
original (Rocha et al. 2003). Pelo menos 185 de coletas em três sítios situados entre 430 e 600
espécies de mamíferos estão listadas para o m de altitude. Como cada sítio apresentava
Estado do Rio de Janeiro (Rocha et al. 2004; topografia diferente, 4 a 10 redes eram armadas
Esbérard e Bergallo 2005; Reis et al. 2006; ao nível do solo em trilhas ou clareiras, próximo
Bonvicino et al. 2008). aos vegetais em floração ou frutificação e
No estado do Rio de Janeiro ocorrem pelo possíveis locais de abrigo. As redes eram
menos 74 espécies de morcegos em 41 gêneros estendidas antes do anoitecer e mantidas abertas
(Esbérard e Bergallo 2005; Dias e Peracchi por seis horas (cf. Simmons e Voss 1998), sendo
2007). Contudo, várias regiões do Estado vistoriadas em média a cada 20 minutos.
permanecem subamostradas ou não foram As espécies foram identificadas no campo
estudadas (Esbérard e Bergallo 2005), como a (cf. Vizotto e Taddei 1973; Dias et al. 2002;
região do Médio Paraíba, onde está situado o Dias e Peracchi 2008), sendo levados ao
Parque Natural Municipal Fazenda Santa laboratório, um macho e uma fêmea adultos de
Cecília do Ingá (22° 27‘ 34‘‘ S e 44° 4‘ 51‘‘ cada espécie como material testemunho e
W), um fragmento de Mata Atlântica com 211 incorporados à Coleção Adriano Lúcio Peracchi
hectares, localizado no município de Volta (ALP), depositada no Instituto de Biologia,
Redonda. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Poucos são os estudos publicados sobre a (UFRRJ). Os demais exemplares foram
quiropterofauna da região de Volta Redonda. marcados e soltos ao fim da coleta, após
Esbérard (2004) relatou a ocorrência de identificação e registro das medidas externas,
Diphylla ecaudata Spix, 1823, Anoura caudifer dados bionômicos e observações de campo. Foi
(E. Geoffroy, 1818), Anoura geoffroyi Gray, calculado o índice de diversidade de Shannon
1838, Micronycteris megalotis (Gray, 1842), (H‘) para medir a diversidade de morcegos
Micronycteris minuta (Gervais, 1856), capturados (Magurran 1988) e o índice de Chao
Pygoderma bilabiatum (Wagner, 1843), para estimar a riqueza esperada no Parque do
Vampyressa pusilla (Wagner, 1843), Molossus Ingá (Chao 1984).
rufus E. Geoffroy, 1805, Tadarida brasiliensis
(I.Geoffroy, 1824) e Lasiurus ega (Gervais, Resultados e Discussão
1856). Costa et al. (2008) destacaram a presença Os trabalhos com redes de neblina
no municipio do morcego hematófago Diaemus permitiram a captura de 96 indivíduos de quinze
youngi (Jentink, 1893), considerado vulnerável espécies de duas famílias: Sturnira lilium (E.
a extinção no Estado (Bergallo et al. 2000). Geoffroy, 1810) (42), Anoura caudifer (E.
Geoffroy, 1818) (13), Platyrrhinus lineatus (E.
57
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Geoffroy, 1810) (06), Carollia perspicillata Outro dado importante é a presença de C.


(Linnaeus, 1758) (06), Myotis riparius Handley, doriae classificada como vulnerável à extinção
1960 (05), Platyrrhinus recifinus (E. Geoffroy, no Estado do Rio de Janeiro (Bergallo et al.
1810) (05), Artibeus lituratus (Olfers, 1818) 2000) e de P. recifinus, considerada vulnerável
(04), Myotis nigricans (Schinz, 1821) (04), à extinção tanto no Estado do Rio de Janeiro
Glossophaga soricina (Pallas, 1766) (03), quanto no Brasil (Bergallo et al. 2000; Chiarello
Eptesicus brasiliensis (Desmarest, 1819) (02), et al. 2008).
Anoura geoffroyi Gray, 1838 (2), Pygoderma
bilabiatum (Wagner, 1843) (01), Chiroderma Conclusões
doriae Thomas, 1891 (01), Desmodus rotundus Quinze espécies de morcegos ocorrem no
(E. Geoffroy, 1810) (01) e Micronycteris minuta Parque do Ingá, podendo o número de espécies
(Gervais, 1856) (01). ser maior, conforme sugerido pelo estimador de
Sturnira lilium foi a mais freqüente (43,8%) riqueza (índice de Chao). Por estar inserida em
seguida por A. caudifer (13,5%). A maior uma região onde existem poucas unidades de
representatividade de Phyllostomidae pode ser conservação de proteção integral e que sofre
resultado do uso de redes armadas ao nível do forte pressão antrópica, o Parque do Ingá é de
solo, que privilegia a captura desses morcegos grande importância para a preservação da
(Simmons e Voss 1998) e do fato desta família quiropterofauna do estado do Rio de Janeiro e
ser a mais rica no Brasil, com 92 espécies, que da região do Médio Paraíba em particular.
correspondem a 55,76% dos morcegos
registrados no país (Peracchi et al. 2006). Agradecimentos
Espécies da família Vespertilionidae (M. CNPq, FAPERJ, CAPES e PMVR.
riparius, M. nigricans e E. brasiliensis) mais
difíceis de capturar com redes, foram coletadas Referências
nas proximidades de possíveis abrigos como Bergallo H.G.; Rocha C.F.D.; Alves M.A.S.;
buracos em barrancos e fendas entre pedras e Van Sluys M. 2000. A fauna ameaçada de
sobre o córrego Santa Tereza. extinção do estado do Rio de Janeiro.
As espécies D. ecaudata, M. megalotis, V. EdUERJ, Rio de Janeiro.
pusilla, M. rufus, T. brasiliensis, L. ega Bonvicino C.R.; Oliveira J.A. e D‘Andrea P.S.
registradas por Esbérard (2004) e D. youngi por 2008. Guia dos roedores do Brasil, com
Costa et al. (2008) para o município de Volta chaves para gêneros baseadas em caracteres
Redonda, não foram capturados no Parque do externos. Rio de Janeiro: Centro Pan-
Ingá. Essas espécies podem ser acrescentadas Americano de Febre Aftosa - OPAS/OMS.
com a intensificação dos esforços de coleta no Chao A. 1984. Nonparametric estimation of the
Parque. number of classes in a population.
O índice de Diversidade de Shannon Scandinavian Journal of Statistics 11(4):
observado para os morcegos foi de H'=1,98 (15 265-270.
espécies, n=96), ou seja, valor próximo a 2,0, o Chiarello A.G.; Aguiar L.M.S.; Cerqueira R.;
que reflete a dominância de poucas espécies Melo F.R., Rodrigues F.H.G., Silva V.M.
com elevado número de indivíduos (Pedro e 2008. Mamíferos ameaçados de extinção no
Taddei 1997), nesse caso S. lilium e A. caudifer. Brasil. Em: Livro Vermelho da Fauna
Contudo, o valor do índice de diversidade Brasileira Ameaçada de Extinção. (Editado
encontrado para o Parque do Ingá está muito por Machado A.B.M.; Drummont G.M. e
próximo ao observado por Esbérard (2003) em Paglia A.P.), pp. 681 – 702. Brasília:
outras seis áreas no Estado do Rio de Janeiro Ministério do Meio Ambiente e Fundação
com variações de H‘ = 1,87 (27 espécies, n = Biodiversitas.
844) a 2,19 (23 espécies, n = 893). Costa L.M.; Oliveira D.M.; Fernandes A.F.P.D.
A riqueza observada de morcegos para o e Esbérard C.E.L. 2008. Occurrence of
Parque do Ingá foi de 15 espécies, porém, o Diaemus youngi (Jentink 1893), Chiroptera,
índice de Chao (Chao 1984) sugere que este in the State of Rio de Janeiro. Biota
número pode chegar a 19 espécies. Esse índice Neotropica 8(1).
sugere que o levantamento na área está 78,9% Dias D.; Peracchi A.L. e Silva S.S.P. 2002.
completo. O índice de Chao leva em conta as Quirópteros do Parque Estadual da Pedra
espécies representadas por um ou dois Branca, Rio de Janeiro, Brasil (Mammalia,
indivíduos, que são mais difíceis de serem Chiroptera). Revista Brasileira de Zoologia
capturadas; assim, locais com várias espécies 19(2): 113-140.
pouco abundantes tendem a apresentar altos Dias D. e Peracchi A.L. 2007. Primeiro registro
valores de espécies esperadas (Esbérard 2004). de Myotis riparius Handley (Mammalia,
Chiroptera, Vespertilionidae) no estado do
58
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Rio de Janeiro, sudeste do Brasil. Revista Vizotto L.D. e Taddei V.A. 1973. Chave para
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59
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Variação sazonal na abundância do morcego Artibeus cinereus no sul do Brasil

Luana C. Munster*, Nathália Y. Kaku-Oliveira, Marcelo B. G. Rubio e Fernando de Camargo Passos

Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Biológicas, Departamento de Zoologia. Laboratório de


Biodiversidade, Conservação e Ecologia de Animais Silvestres.

*Corresponding author. Email: munster@ufpr.br


Palavras-chave: Dinâmica da população, Mata Atlântica, Migração

Introdução
A abundância local de algumas espécies utilizadas dez redes de neblina (―mist nets‖) de
pode flutuar consideravelmente, apresentando 7 x 2,5 m que ficaram abertas após o por do sol
picos de capturas sazonalmente. Para espécies ao amanhecer, sendo assim mantidas por cerca
como Sturnira lilium, Carollia perpicillata e de 12h/noite. Amostras fecais eram coletadas
Anoura caudifer foram encontrados mudanças para determinação da dieta das espécies
sazonais nas capturas, relacionadas a frugívoras. Todas as espécies de morcegos
disponibilidade de recursos utilizados por estas capturadas eram marcadas com anilhas de
espécies (Marinho-Filho e Sazima 1989). Para alumínio numeradas.
Hodgkison et al. (2004) a abundância de
alimento ou a disponibilidade de itens Resultados e Discussão
alimentares específicos pode ser um importante Foram capturados 1.407 morcegos de três
fator limitante da diversidade de espécies em famílias (Phyllostomidae, Vespertilionidae e
uma floresta tropical, influenciando as capturas Thyropteridae). A família Phyllostomidae
das espécies ao longo do período de estudo. representou 98% das capturas (1.383
Apesar de ser comumente encontrados em indivíduos). Apenas 58 indivíduos de A.
vários habitats, estudos de longo prazo e cinereus foram capturados ao longo do estudo,
informações acerca da espécie Artibeus cinereus correspondendo a 4% do total de capturas. A
são escassos, principalmente no sul do Brasil abundância de capturas ao longo dos meses
onde foi recentemente registrada (Scultori et al. variou nos dois anos de estudo. Foram
2009; Passos et al. no prelo). O foco deste capturados indivíduos entre os meses de janeiro
trabalho foi descrever a variação sazonal da a junho de 2008, um em outubro de 2008, entre
abundância de A. cinereus em uma região de janeiro a maio de 2009 e entre novembro de
Mata Atlântica no sul do Brasil. 2009 e janeiro de 2010. Nos restantes dos meses
não foi registrada a espécies na área de estudo.
Material e Métodos Foi notável um aumento no número de capturas
O estudo foi conduzido na Reserva Natural entre os meses de janeiro a abril, representando
do Salto Morato (RNSM), localizada no 81% das capturas neste período. Este maior
município de Guaraqueçaba, na região do litoral número de capturas encontrado pode refletir um
norte do Estado do Paraná, Brasil (ca. 25° 10' S aumento dos recursos disponíveis para esta
e 48° 15' W). A Reserva encontra-se na Área de espécie frugívora. Na área de estudo, a partir do
Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, e é mês de dezembro inicia-se a frutificação de
caracterizada pelo domínio da Mata Atlântica, algumas espécies de piperáceas (observação
na subformação floresta ombrófila densa pessoal), as quais são utilizadas como recursos
submontana. O clima é Cfa (Clima subtropical), alimentares por este morcego. Este fato pode ser
seguindo a classificação de Köppen, sem testado futuramente com as relações entre a
estação seca definida, com verões quentes, disponibilidade de recursos e outros fatores
geadas pouco freqüentes e tendência de sazonais na abundância da espécie.
concentração das chuvas nos meses de verão. A
temperatura média no mês mais frio é inferior a Conclusões
18 oC (mesotérmico) e temperatura média no A abundância de captura de A. cinereus na
mês mais quente é acima de 22 oC. Foram Reserva do Salto Morato apresenta uma
realizados 24 meses de trabalhos em campo, variação sazonal, com um maior número de
entre dezembro de 2007 a maio de 2009 e entre capturas entre os meses de janeiro a abril. A
agosto de 2009 a janeiro de 2010, com três variação temporal do ambiente e dos recursos é
noites de coletas de morcegos por mês. Foram um aspecto chave a ser estudado de maneira a

60
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

elucidar a aparente flutuação populacional de A. Passos F.C.; Miranda J.M.D.; Bernardi I.P.;
cinereus na área de estudo. Kaku-Oliveira N.Y. e Munster L.C. no
prelo. Morcegos da Região Sul do Brasil:
análise comparativa da riqueza de espécies,
Referências novos registros e atualizações
Hodgkison R.; Balding S.T.; Zubalid A. e Kunz nomenclaturais (Mammalia, Chiroptera).
T.H. 2004. Temporal variation in the Iheringia, Série Zoologia.
relative abundance of fruit bats Scultori C.; Dias D. e Peracchi A.L. 2009.
(Megachiroptera: Pteropodidae) in Relation Mammalia, Chiroptera, Phyllostomidae,
to the availability of food in Lowland Artibeus cinereus: First record in the state
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61
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Período reprodutivo de três espécies de morcegos frugívoros no sudeste do Brasil

Camila Sant‘Anna¹*, Roberto Leonan M. Novaes1,2, Saulo Felix¹, Raphael Silvares¹, André C. Siqueira¹ e
Mariana V. P. Aguiar¹

1. Programa de Análise da Biodiversidade e Conservação da Mata Atlântica. Projeto Pró- Morcegos &
Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu. Av. Brasil, s/nº, K11, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil.
2. Laboratório de Mastozoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Km 47 da antiga estrada Rio – São Paulo, 23890-000, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil.

*Corresponding author. Email: promorcegos@yahoo.com.br


Palavras-chave: Artibeus, Platyrrhinus, Reprodução

Introdução O estudo foi desenvolvido em duas unidades


O período reprodutivo dos quirópteros de conservação dentro de um mesmo maciço,
neotropicais é variável de acordo com o denominado de complexo de Gericinó-
ambiente e a espécie, com morcegos se Mendanha. O Parque Natural Municipal de
reproduzindo uma ou mais vezes por ano Nova Iguaçu (PNMNI) está localizado no
(monoestria ou poliestria). A monoestria é Complexo Vulcânico de Nova Iguaçu, inserido
caracterizada por um único pico de nascimento no maciço entre as coordenadas 22° 46' 35.00'' S
de filhotes por ano (Racey e Entwistle 2000). e 46° 23' 52.81'' W. O Parque Natural Municipal
Normalmente esse padrão reprodutivo está de Nova Iguaçu (PNMNI) está localizado no
ligado às condições ambientais ou fisiológicas, Complexo Vulcânico de Nova Iguaçu (22° 46'
acontecendo em um período determinado e por 35.00'' S e 46° 23' 52.81'' W) e o Parque Natural
isso é chamada de monoestria sazonal (Novaes Municipal da Serra do Mendanha (PNMSM)
2008). A monoestria sazonal já foi registrada, está situado entre as Serras do Mendanha e do
entre outras espécies, para o morcego fitófago Quitumbo (22° 49' 30,78" S e 43° 31' 38,60‖
Anoura geoffroyi (Gray, 1838), estando W). Esta região apresenta cobertura vegetal
diretamente interligada à variação climática e à correspondente ao domínio da Mata Atlântica,
disponibilidade de recursos (Zortéa 2003). A classificada como Floresta Pluvial Montana e
poliestria, de maneira geral, pode ser Submontana (Rizzini 1979). No maciço
subdividida em três tipos: poliestria bimodal e Gericinó-Mendanha, ocorrem o clima de
estro pós-parto, que é caracterizada pela estação inverno seco e verão chuvoso, compondo um
reprodutiva apresentando dois picos de clima mesotérmico (EMBRAPA 1999).
nascimento em um mesmo ano e a fêmea se Para realizar a captura das espécies, entre
apresentando fértil e receptiva logo após o 2006 e 2009 foram realizadas 36 coletas com
parto; poliestria bimodal, que apresenta estação uso de redes-de-neblina Zootech®12 x 3 metros
reprodutiva com dois picos de nascimento por armadas no nível de solo, em trilhas e clareiras
ano e poliestria multimodal, apresentando um na vegetação, na saída de possíveis abrigos e
comportamento contínuo, com reprodução sobre cursos de água, entre às 18:00 e 06:00h.
durante todo o ano (Fleming et al. 1972; Foram feitas vistorias em intervalos de 30
Neuweiler 2000; Racey e Entwistle 2000). minutos. Todos os indivíduos capturados foram
Sabendo-se que os morcegos filostomídeos identificados no campo com auxílio das chaves
são de extrema importância para a conservação de identificação de Vizotto e Taddei (1973) e
de áreas florestais e manutenção das relações das descrições fornecidas por Simmons e Voss
ecológicas existentes, é vital que se conheça o (1998), Dias et al. (2002) e Dias e Peracchi
comportamento reprodutivo desses animais, (2008). Para cada morcego capturado, foram
visto que é durante a gravidez e lactação que a tomadas as seguintes medidas: massa, com
necessidade energética é maior e na qual eles se dinamômetro (1,0 g) e o comprimentos de
tornam mais vulneráveis. Sendo assim, é antebraço com paquímetro (0,1 mm). Também
apresentado o período reprodutivo de Artibeus foram registrados data e horário de captura,
fimbriatus Gray, 1838, Artibeus obscurus sexo, categoria etária e estágio reprodutivo.
Schinz, 1821 e Platyrrhinus recifinus Thomas, Quanto à idade, os indivíduos foram alocados
1901 em um fragmento de Mata Atlântica no em três classes: adultos, subadultos e jovens.
Rio de Janeiro. Para a determinação da idade, foi verificado o
grau de ossificação das epífises (Anthony 1988)
Material e Métodos sendo então classificados de acordo com a

62
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

transparência observada no osso. O estado Ortêncio-Filho et al. 2007). A atividade


reprodutivo das espécies foi verificado reprodutiva sincronizada com a época de maior
visualmente, sendo os indivíduos inseridos nas pluviosidade, possivelmente está relacionada à
seguintes categorias: macho inativo, macho maior disponibilidade de alimento, condição
escrotado, fêmea inativa, fêmea grávida, fêmea que de acordo com Kunz et al. (1998), favorece
lactante e fêmea pós-lactante, conforme critérios a sobrevivência da prole.
propostos por Sekiama (2003) e Zortéa (2003).
Conclusões
Resultados e Discussão As três espécies de morcegos frugívoros
Foram capturados no PNMSM e PNMNI, supracitadas apresentaram padrão reprodutivo
1.611 morcegos de 22 espécies, desse total 207 poliéstrico, sendo a maior atividade no período
foram de Artibeus fimbriatus, 67 de Artibeus mais chuvoso do ano, corroborando com demais
obscurus e 134 de Platyrrhinus recifinus. A trabalhos sobre reprodução de morcegos
relação entre machos e fêmeas capturados para filostomídeos em Mata Atlântica. Ainda que
cada espécie foi de: 124 (60%) fêmeas e 83 alguns dos dados sejam preliminares e baseados
(40%) machos para A. fimbriatus, 47 (70%) em poucas capturas, é possível, a partir dos
fêmeas capturadas e 20 (30%) para machos de resultados apresentados, inferir que a
A. obscurus, por último para P. recifinus foram reprodução desses morcegos tende a ser
capturados 73 (54%) fêmeas e 61 (46%) sincronizada com a época do ano de maior
machos. pluviosidade, possivelmente devido a
Foram capturadas fêmeas grávidas de A. disponibilidade de alimento.
fimbriatus em quase todos os meses exceto em
maio e junho, fêmeas de A. obscurus foram Agradecimentos
capturadas grávidas somente nos meses de À SMAC-RJ pela licença de coleta no
novembro a fevereiro, e para P. recifinus as PNMSM e a Secretaria Adjunta de Meio
coletas só registraram fêmeas grávidas entre os Ambiente e Sustentabilidade de Nova Iguaçu
meses de setembro a fevereiro. Machos ativos pela licença de pesquisa no PNMNI; a equipe de
(testículos escrotados) de A. fimbriatus foram pesquisa do Projeto Pró-Morcegos pela ajuda
capturados em quase todos os meses exceto em campo e a ZOOTECH pelo patrocínio.
abril e maio, os machos ativos de A. obscuros
foram capturados nos meses de julho a setembro Referências
e no mês de novembro, e em P. recifinus os Albuja L. 1999. Murciélagos del Ecuador.
machos com testículos escrotados foram Quito, Departamento de Ciências
registrados nos meses de julho a outubro e no Biológicas, Escuela Politécnica Nacional.
mês de janeiro. Artibeus fimbriatus apresentou Anthony E.L.P. 1988. Age determination in
um período reprodutivo longo, apresentando bats, pp. 47-58. Em: Ecological and
maior atividade entre os meses de agosto a behavioral methods for the study of bats.
dezembro. Já A. obscurus apresentou um (Editado por Kunz T.H.) Smithsonian
período reprodutivo mais restrito com apenas Institution Press, Washington DC.
um pico reprodutivo em dezembro. A espécie Bredt A.; Araujo F.A.A.; Caetano-Júnior J.;
Plathirrynus recifinus apresentou um período Rodrigues M.G.R.; Yoshizawa M.; Silva
reprodutivo bem determinado com maior M.M.S.; Harmani N.M.S.; Massunaga
atividade entre setembro e novembro. P.N.T.; Burer S.P.; Potro V.A.R. e Uieda
Tanto A. fimbriatus quanto A. obscurus W. 1996. Morcegos em áreas urbanas e
apresentaram uma maior atividade reprodutiva rurais: manual de manejo e controle.
coincidindo com a época chuvosa, mesmo Brasília, Fundação Nacional de Saúde.
resultado foi obtido por Bredt et al. (1996), Costa L.M.; Almeida J.C. e Esbérard C.E.L.
Albuja (1999) e Ortêncio-Filho et al. (2007) 2007. Dados de reprodução de Platyrrinus
para essas e outras espécies do gênero Artibeus. lineatus em estudo de longo prazo no
P. recifinus também apresentou maior atividade Estado do Rio de Janeiro (Mammalia,
reprodutiva na época chuvosa e o padrão Chiroptera, Phyllostomidae). Iheringia,
observado para essa espécie assemelha-se ao Série Zoologia 97(2): 152-156.
descrito por Costa et al. (2007) para outra Dias D.; Peracchi A.L. e Silva S.S.P. 2002.
espécie do gênero, P. lineatus, também no Rio Quirópteros do Parque Estadual da Pedra
de Janeiro. As três espécies de morcegos Branca, Rio de Janeiro, Brasil (Mammalia,
estudadas por nós apresentaram um padrão Chiroptera). Revista Brasileira de Zoologia
poliéstrico, semelhante ao descrito para 19(2): 113-140.
morcegos Stenodermantinae por outros autores Dias D. e Peracchi A.L. 2008. Quirópteros da
(e.g. Sipinski e Reis 1995; Costa et al. 2007; Reserva Biológica do Tinguá, estado do Rio
63
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

de Janeiro, sudeste do Brasil (Mammalia, Crichton E.C. e Krutzchs P.H.) pp.607-


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64
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Roosts used by bats in the state of Espírito Santo, southeastern Brazil

Poliana Mendes(1,2)*, Thiago Bernardi Vieira(1), Monik Oprea(1), Daniel Brito(2) and Albert David
Ditchfield(3)

(1) Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução, UFG, Goiânia, Goiás, Brasil; (2) Laboratório
de Ecologia Aplicada e Conservação, UFG, Goiânia, Goiás, Brasil; (3) Laboratório de Estudos de
Quirópteros, UFES, Vitória, Espírito Santo, Brasil.

*Corresponding author. Email: polimendes@gmail.com


Keywords: Atlantic Forest, Rural landscape, Urban landscape

Introduction We actively searched for bat roosts in three


Bats use a wide array of roosts, both natural areas in the state of Espírito Santo, southeastern
and artificial (Kunz e Lumsden 2003). Day Brazil: (1) 24 days at Área de Relevante
roosts are generally used for protection against Interesse Ecológico Morro da Vargem, a private
predators and weather, for resting and for social preserve (19° 53‘ 28‖ S and 40° 22‘ 43‖ W), (2)
interactions (Kunz 1982; Keeley e Tuttle 1999). 24 days in a rural area in the municipality of
Night roosts are generally used for feeding Alfredo Chaves (20° 38‘ 09‖ S and 40° 44‘ 57‖
between foraging periods (Keeley e Tuttle W), and (3) 36 days in the urban area of Vitória
1999). Roost selection may be influenced by (20° 19‘ 19‖ S and 40° 20‘ 17‖ W). We
roost abundance and availability, predation risk, searched for natural and artficial bat roosts in
abundance and distribution of food resources each area, and whenever a potential roost was
and social structure. Abiotic factors, such as found we tried to capture bats using mist nets
luminosity, temperature and humidity, also positioned in, or close to, the entrance of the
influence roost selection by bats (Kunz 1982). roost. We used between one and four mist-nets
Approximately half of the bat species use (9 x 2.5 m), depending on roost size and number
plants as roosts (e.g. trunk hollows and foliage) of entrances. The mist-nets were opened at
(Kunz e Lumsden 2003). Other species roost in sunset and stayed open for six hours.
caves, rock crevices and human structures like The Área de Relevante Interesse Ecológico
tombs, mines, bridges and buildings (Kunz e Morro da Vargem is a private protected area
Lumsden 2003). Some species also use cavities with 120 ha, comprising Atlantic Forest
built by other animals (e.g. termite nests, ant remnants in different successional stages. The
mounds and old bird nests) (Kunz e Lumsden protected area houses a Zen Buddhist
2003). Bat-roost association may vary from Monastery. We conducted monthly sampling
opportunistic to obligatory. More protected sessions, comprising two days each, in this area
roosts, like caves, have the advantages of a from August 2006 to July 2007. In the
larger temporal existence, higher microclimatic municipality of Alfredo Chaves, we sampled a
stability, lower risk of predation and protection rural landscape characterized by very small
against the weather (Kunz 1982). These Atlantic Forest fragments embedded into an
characteristics maintain bats closest to their agricultural matrix, mainly plantations of coffee
thermoneutral zone, the temperature in which (Coffea arabica) and banana (Musa
bats spend minimum energy on paradisiaca). We conducted monthly sampling
thermoregulation (Neuweiler 2000). External sessions, comprising two days each, in this area
roosts (e.g. foliage) are more abundant and more between February 2006 and October 2007. We
easily found, but have lower temporal existence also conducted monthly samplings, comprising
and are more susceptible to weather conditions three days each, from August 2006 to July 2007,
(Kunz 1982; Rodriguez-Herrera et al. 2008). in the urban landscape of Vitoria, composed by
There still is an astounding lack of small urban parks embedded in an urban matrix.
knowledge on roost ecology for a large number We identified all captured bats using several
of bat species (Fenton et al. 2000). Here we available taxonomic keys. Each individual was
report data on roost use by bats in the state of marked with a coded collar, adapted from the
Espírito Santo, southeastern Brazil. technique proposed by Esbérard and Daemon
(1999).
Material and Methods
Results and Discussion
65
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

We found a total of twelve roosts, seven Nogueira 2007), as we observed in the Pedra da
natural (e.g. trees, caves, rock crevices) and five Cebola Municipal Park.
artificial (bridges, buildings, rain pipes). We observed that M. rufus individuals
At the Área de Relevante Interesse stayed hidden in wooden crevasses within the
Ecológico Morro da Vargem we found three hollow, either as a strategy to keep themselves
types of roosts: (1) a small cave where we warm or as a protection against opportunistic
captured 25 individuals of Carollia perspicillata predation by P. hastatus from the colony above,
(Linnaeus, 1978), eight individuals of Anoura since P. hastatus is known to prey on other bats
caudifer (E. Geoffroy St.-Hilaire, 1818), two (Santos et al. 2003; Oprea et al. 2006).
individuals of Lonchorhina aurita Tomes, 1873 Artibeus lituratus and P. lineatus usually
and one individual of Diphylla ecaudata Spix, roost in the canopy of palm trees, under the
1823, Tonatia bidens (Spix, 1823) and Trachops leaves (Zortéa 2007), even in urban areas, as
cirrhosus Gray, 1847; (2) two rain pipes (1.5m also observed by other authors (Barros et al.
diameter), in which we captured L. aurita (27 2006; Oprea 2007; Zortéa 2007).
individuals), T. cirrhosus (7 individuals), C. perspicillata is known to roost in a wide
Desmodus rotundus (É. Geoffroy St.-Hilaire, variety of manmade structures (Ortêncio-Filho
1810) (22 individuals) and (3) a building, where et al. 2007). R. naso is usually found in well-
we captured 65 Molossus molossus (Pallas, illuminated roosts over water (Nogueira and Pol
1766). 1998; Zortéa 1998; Peracchi and Nogueira
In the rural landscape in the municipality of 2007). M. molossus is commonly found
Alfredo Chaves we found four kinds of roosts: inhabiting buildings (Fabian e Gregorin 2007).
(1) a cave where we observed 20 individuals of T. cirrhosus and D. rotundus are already
C. perspicillata; (2) a bridge where we observed well known to roost in rain pipes (Cramer et al.
separate colonies of C. perspicillata and 2001; Aguiar 2007). To our knowledge, our
Rhynchonycteris naso (Wied-Neuwied, 1820); capture of L. aurita is the first published record
(3) a hollow in a Ficus tree where we captured of it in an artificial roost.
four Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) and
some Molossus rufus É. Geoffroy St.-Hilaire, Conclusions
1805 (31 individuals were captured); (4) an We found foliage roosts only in the urban
abandoned house where we captured four area. This may be due to the fact that in urban
individuals of C. perspicillata. area trees are easier to search than those in
In the urban landscape of Vitória we found forests. The same reasoning may apply for
two types of roosts: (1) palm tree leaves and (2) hollows in trees in the rural area, where the
rock crevices. We found two roosts in palm tree clearing of land into plantations and pastures
leaves within the Federal University of Espírito makes such roosts easier to find. The higher
Santos campus: nine individuals of Artibeus availability and reduced ease of searcher
lituratus (Olfers, 1818) roosted in the leaves of discovery probably make roosts more difficult
a coconut palm tree (Cocos nucifera), and five to find in forests, providing a possible
individuals of Platyrrhinus lineatus (É. explanation for not finding them in the protected
Geoffroy St.-Hilaire, 1810) roosted in the leaves area.
of a palm tree (Livistona chinensis). We also Roosts are very important resources for bats,
found two roosts in rock crevices within Pedra especially in regions that have experienced
da Cebola Municipal Park, a small urban park in significant human pressure. They are of
Vitória where we captured one individual of paramount importance to the persistence of bat
Peropteryx macrotis (J. A. Wagner, 1843) and communities. In urban landscapes, parks
five individuals of Nyctinomops laticaudatus (É. provide a buffer zone refuge and play a key role
Geoffroy St.-Hilaire, 1805). in achieving this goal.
Carollia perspicillata and Desmodus
rotundus are the most common bat species that Acknowledgements
roosts in caves in Brazil (Trajano 1995). We To Silvia Ramira Lopes Pinto and Merlin D.
observed C. perspicillata roosting in caves both Tutle for providing helpfull comments in the
in the protected area and in the rural landscape. first version of the manuscript; Instituto
All species captured or observed roosting in Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
caves in this study had already been cited to use Naturais Renováveis (IBAMA) for the
this kind of roost (Cramer et al. 2001; Esbérard fieldwork licences; the administration of
and Bergallo 2004; Esbérard et al. 2005). Mosteiro Zen Morro da Vargem park; Valdir
N. laticaudatus and P. macrotis are known Cetto and family for the permission to work on
to roost in rock crevices (Ávila-Flores et al. their property; all collegues that helped in
2002; Fabian and Gregorin 2007; Peracchi and
66
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

fieldwork; PM thanks UFES/PETROBRÁS for Nogueira M.R. and Pol A. 1998. Observações
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67
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Padrão reprodutivo de Phyllostomus discolor coletados na estação seca em áreas


fragmentadas remanescentes de Mata Atlântica no litoral sul do estado de
Pernambuco

Maria Juliana Gomes Arandas(1)*, Eveline de Cássia Batista de Almeida Alves(1), Waneza Waleria
Pereira de Araújo(1), Carla Clarissa Nobre de Oliveira(2) e Katharine Raquel Pereira dos Santos(3)

(1) Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco, Vitória de Santo Antão, PE,
Brasil; (2) Pós-Graduação em Biologia animal, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil;
(3) Universidade Federal de Pernambuco, Núcleo de Biologia, Vitória de Santo Antão, PE, Brasil.

*Corresponding author. Email: julianaarandas@hotmail.com


Palavras-chave: Anatomia, estação seca, gravidez
junho (Taddei 1976). Enquanto para a região
Nordeste estudos relataram a predominância de
Introdução
fêmeas grávidas e lactantes nos meses de março,
Os morcegos pertencem à Ordem Chiroptera
abril, setembro, outubro, novembro e dezembro
e consiste em um dos grupos de mamíferos mais
para áreas de Caatinga e Cerrado (Willig 1985).
diversificados, tanto em número de espécies
Dentro deste contexto, o presente trabalho
quanto em diversidade ecológica. (Taddei 1983;
visa caracterizar o estágio reprodutivo de
Miretzki 2003). Dentre essa diversidade, menos
Phyllostomus discolor na estação seca em áreas
de 5% têm dados significativos sobre a biologia
fragmentadas de Mata Atlântica no Estado de
reprodutiva, principalmente acerca das
Pernambuco.
características morfológicas do sistema
reprodutor (McCraken e Wilkinson 2000; Reis
Material e Métodos
2007). Segundo Taddei (1980), os fatores
Os espécimes foram oriundos de fragmentos
reguladores da atividade reprodutiva dos
remanescentes de Floresta Atlântica no
morcegos, não são totalmente conhecidos e,
município de Sirinhaém, litoral sul do estado de
com respeito às espécies tropicais, podem ser
Pernambuco.
apenas estimados. Sabe-se que os ciclos
Neste estudo foram analisados três meses
reprodutivos nos quirópteros podem estar
(setembro, outubro e novembro) da estação
associados à disponibilidade de alimentos e às
seca, compreendendo um total de 34 machos e
condições ambientais nas quais estão inseridos
38 fêmeas.
(Neuweiler 2000), já que a gravidez, o cuidado
Para verificar o estágio reprodutivo, as
parental e a lactação demandam um alto custo
fêmeas foram classificadas como: grávidas
energético pela fêmea, necessitando assim de
(abdome proeminente e feto palpável), lactantes
maiores ofertas de recursos durante o período de
(mamas proeminentes, secretantes e sem pelos
gestação e lactação (Voigt 2003).
ao redor dos mamilos), e sem características
Para a família Phyllostomidae são atribuídos
aparentes (abdome sem dilatação, feto não
quatro padrões reprodutivos básicos: monoestria
perceptível por apalpação e mamas não
sazonal com padrão reprodutivo de um único
proeminentes) (Racey 1988). Posteriormente as
pico de nascimento por ano; poliestria bimodal e
fêmeas foram dissecadas e as estruturas uterinas
estro pós parto com padrão reprodutivo
foram observadas através do microscópio
apresentando dois picos de nascimento por ano
estereoscópio para obtenção de dados mais
e as fêmeas se apresentando férteis logo após o
precisos. Os machos foram classificados como
parto; poliestria bimodal com padrão
escrotados quando o testículo estava externo à
reprodutivo apresentando dois picos de
cavidade abdominal e não-escrotados quando o
nascimento por ano e poliestria multimodal com
testículo ainda estava retido em seu interior
padrão reprodutivo durante todo o ano (Fleming
(Racey 1988).
et al. 1972; Wilson 1973; Neuweiler 2000;
Racey e Entwistle 2000). Já para Phyllostomus
Resultados e Discussão
discolor, a informação da literatura é
Para o estágio reprodutivo através da análise
controversa, visto que no sudeste do Brasil
da morfologia externa das fêmeas, os resultados
resultados demonstraram que a referida espécie
obtidos na estação seca revelaram que 18% das
não possui uma estação sexual bem definida,
fêmeas estavam grávidas, 2% lactantes e 80%
sendo observadas fêmeas grávidas no mês de
não apresentavam características aparentes de
68
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

gestação. Entretanto, deste último percentual, e Walton D.W.), pp. 233-246. Southern
foi verificado que 56% das fêmeas apresentaram Methodist Univ. Press, Dallas.
estágio inicial de gestação após a análise Fleming T.H.; Hooper E.T. e Wilson D.E. 1972.
anatômica. Não foram encontradas fêmeas Three Central American bat communities:
simultaneamente grávidas e lactantes a partir structure, reproductive cycles and movement
dessas análises. patterns. Ecology 53: 55-569.
Os resultados através da análise anatômica Hood C.S. e Smith J.D. 1982. Cladistical
demonstraram ainda, que as fêmeas de P. Analysis of Female Reproductive
discolor possuem um útero simples, em forma Histomorphology in Phyllostomatoid Bats.
triangular devido à completa fusão de cornos. Syst. Zool. 31: 241-251.
Essa anatomia externa uterina é considerada Mccraken G.F. e Wilkinson G.S. 2000. Bat
uma sinapomorfia da família Phyllostomidae, mating systems. Em: Reproductive biology
exceto para algumas espécies da subfamília of bats. (Editado por Crichton E.G. e
Desmodontinae (Hood e Smith 1982). Todas as Krutzsch P.H.), pp. 321-362. Academic
fêmeas analisadas apresentaram apenas um Press, London, 510p.
filhote por gestação, sendo este o padrão Miretzki M. 2003. Morcegos do Estado do
normalmente descrito para os morcegos da Paraná, Brasil (Mammalia, Chiroptera):
família Phyllostomidae (Carter 1970; Fleming et riqueza de espécies, distribuição e síntese do
al. 1972; Taddei 1976; Reis 2007). conhecimento atual. Papéis Avulsos de
É de grande valia ressaltar que as análises Zoologia, São Paulo 43(6): 101-138.
macroscópicas por apalpação do abdome Neuweilwer G. 2000. The Biology of Bats.
resultaram em dados incompletos nestes Oxford University Press, New York.
espécimes, sendo necessária a análise anatômica Racey P.A. 1988. Reproductive assessment in
para obtenção de dados mais precisos, bats. Em: Ecological and behavioral
posteriormente as análises histológicas methods for the study of bats. (Editado por
confirmará com maior exatidão a atividade Kunz T.H.), pp.31-45. Washington, DC,
ovariana. Smithsonian Institution Press, 553p
Os resultados obtidos estão de acordo com Racey P.A. e Entwistle A.C. 2000. Life-history
os estudos existentes na literatura para a and Reproductive Strategies of Bats. Em:
caatinga de Pernambuco, os quais relatam que Reproductive Biology of Bats. (Editado por
P. discolor apresentou fêmeas gestantes e Crichton E.C. e Krutzchs P.H.), pp. 607-626.
lactantes nos meses de outubro, novembro e Academic Press, New York.
março (Willig 1985). Reis N.R; Peracchi A.L; Pedro W.A; Lima I.P
Para o estágio reprodutivo através da análise 2007. Morcegos do Brasil. Londrina: Editora
da morfologia externa dos machos, os resultados da Universidade Estadual de Londrina.
demonstraram que 53% dos machos adultos Taddei V.A. 1976. The reproduction of some
eram escrotados. A presença de machos Phyllostomidae (Chiroptera) from the
escrotados coincidiu com a época de maior northwestern region of the State of São
receptividade das fêmeas, como foi relatado por Paulo. Boletim de Zoologia da Universidade
Fleming et al. (1972), no entanto, estes dados de São Paulo 1: 313-330.
serão posteriormente verificados, visto que as Taddei V.A. 1980. Biologia reprodutiva de
análises anatômicas e histológicas do genital Chiroptera: Perspectivas e problemas.
fornecerão dados mais precisos quanto à Instituto de Biociências, Letras e Ciências
atividade ovariana e espermática, e Exatas/Universidade Estadual Paulista ―Júlio
consequentemente, a sincronização entre os de Mesquita Filho‖, Bol. Inter-Facies II 6: 1-
estágios reprodutivos de machos e fêmeas. 18.
Taddei V.A. 1983. Alimentação, implicações
Conclusões ecológicas e médico-sanitárias dos
O presente estudo revelou que a população morcegos. Casa da Agricultura 5: 29-33.
de P. discolor em fragmentos de Mata Atlântica Voigt C.C. 2003. Reproductive Energetics of
do litoral sul de Pernambuco apresentou the Nectar-feeding Bat Glossophaga soricina
predominância de fêmeas grávidas nos meses de (Phyllostomidae). Journ. Comp. Physiol. B
setembro, outubro e novembro da estação seca, 173: 79-85.
coincidindo com predominância de machos Willig M.R. 1985. Reproductive Patterns of
adultos escrotados. Bats from Caatinga and Cerrado biomes in
Northeastern Brazil. Journal of Mammalogy
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Carter D.C. 1970. Chiropteran reproduction.
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69
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Wilson D.E. 1973. Bat Faunas: A Trophic


Comparison. Systematic Zoology 22(1): 4-
29.

70
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

The population structure of bats in the understory foraging areas: the use of
systematic sampling to assess quantitative data

Lizie Jatkoske Lazo* and Hilton Thadeu Zarate do Couto

Laboratório de Métodos Quantitativos, ESALQ/USP, Av. Pádua Dias, 11, CxP 9, CEP 13418 – 900,
Piracicaba, SP, Brasil.

Corresponding author. Email: lizie@esalq.usp.br


Keywords: Inventory, Methodology, Sampling

Introduction influence of the mist nets detectability on the


The sampling with mist nets is commonly capture of the bats, this study aimed to evaluate
used for bats inventories (Kunz and Kurta; the use of systematic sampling as the protocol
1988; Kunz et al. 1996; Esbérard 2006; Kunz et for population studies of bats in understory
al. 2009) and was a real methodological foraging areas.
revolution because favored obtaining
information before inaccessible (Straube e Material and methods
Bianconi 2002), among which the possibility of The study was conducted in three forest
the relative abundance expression (Kunz 1982, fragments at the environmental protection area
Kunz et al. 2009). However, success in (APA) Corumbataí-Botucatu-Tejupá,
obtaining quantitative data depends on factors municipalities of Corumbataí and Analândia,
related to sampling design (Barlow 1999). São Paulo State, Brazil, of the vegetation types:
Mist nets along trails, paths or waterways Cerradão (CER: 100 ha; 22º15'S / 47º39'W),
remain a standard protocol for many researchers Semideciduous Seasonal Forest (FES: 1,500 ha;
(Kunz and Kurta 1988; Larsen et al. 2007; Kunz 22º 09' S e 47º 33' W), and a reforestation with
et al. 2009), and is supported, in part, by the eucalypt species (EUC: 1,000 ha; 22º 11' S e 47º
bats ability in detect obstacles in their flight 39' W). In each environment we delimited a
routes (Jensen et al. 2005), places where they sampling plot of 8.235 ha (307 x 270 m),
fly with less attention to new obstacles (Thomas containing 56 points subject to sampling,
and West 1989). On the other hand, these systematically arranged at intervals of 25 m.
protocols can provide unbiased data for a The sample design consisted of 12 nets (9 x
number of factors involving the nets itself and 2.5 m), arranged systematically at intervals of
the species being caught (Kunz and Brock 1975; 50 m apart, forming a mobile unit of 5.4 ha. The
Kunz and Anthony 1977; Thomas and West movement of the unit was 25 m beyond the
1989; Kunz et al. 1996; Simmons and Voss previous localization, returning to the starting
1998; Larsen 2007), can subsampling various position after four movements, to cover all
population parameters and species richness sampling plot and prevent the bats
(Larsen 2007). memorization of the nets. Sampling plots were
The detection and perception of a net by bat netted during 24 nights from July to December
is strongly affected by the complexity of habitat 2009 (corresponding to eight nights in each of
structure (Remsen and Good 1996 apud Larsen the three forest fragments), with median interval
et al. 2007). Theoretically, in areas on the of six day between nights sampling and
foraging, the bats would be aware of the weak interspersed between sampling plot every four
echoes from small objects in the airspace around nights, totaling a sampling effort of 3,456
them, and could easily detect and identify a net, hour/nets. Nets were opened at sunset and
making it difficult to capture (Kunz and Kurta checked every 60 minutes for 12 hours.
1988; Thomas and West 1989). Population data was obtained across
There aren‘t, however, field studies showing captures and recaptures methodology. Bats
the ineffectiveness of sampling in the foraging captured were marked with plastic seals and
areas, and the fact of the detectability of echoes individually by colored rings. The voucher
from small objects can be greatly missed by the specimens will be added to the collection of the
echoes reflected from the surrounding Museum of Zoology, University of São Paulo,
vegetation (Neuweiler 1989), makes us believe Brazil.
that the mist nets could pass unnoticed. Based The richness for study areas was estimated
on this assumption and understanding the by the Jackknife method. Shannon (H‘) and
71
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Simpson (1-D) indices were used for estimating important tool in the population and ecology
diversity and uniformity, the index of Sorenson studies of this species.
modified by Bray and Curtis to compare the The overall diversity for the study areas was
similarity of the sampling plots (Magurran H‘ = 3.017 (Shannon Index), with uniformity of
1989), and Schnabel‘s index to calculate the 1-D = 0.483 (Simpson index). This high
size of the community. Still, evidence of bats in diversity value differs from the estimated in
the sampling points was obtained by direct population studies with standard protocols
observation (bats captured and visualized) (Pedro et al. 2001; Esbérard 2003; Bianconi et
during the check of nets, and for behavioral al. 2004; Mello and Schittini 2005), which may
study was used Yukon Night Vision Monocular suggest a selective use of flight corridors,
NVMT 4x50, totaling an effort of 795 minutes. leading to biased of population data when
Was through the behavioral study that estimated conditioned the sample for these paths. Still,
the probability of detection of mist nets for bats given the different population abundances
when in contact with these. between environments (ANOVA, F = 2.79255 p
= 0.015545), the highest diversity (2.897) and
Results and Discussion lower uniformity (0.625) were obtained for the
The estimated richness for the study areas FES, with the dominant species C. perspicillata
was 17 (12 to 22) species, however, (24%) and G. soricina (22%). The EUC was the
preliminary data recorded 13 species: Anoura environment of lower diversity (2.218), but
caudifer (É. Geoffroy St.-Hilaire, 1818) (6), slightly lower than that obtained for the CER
Anoura geoffroyi Gray, 1838 (1), Artibeus (2.419), and was D. rotundus with dominant
lituratus (Olfers, 1818) (1), Artibeus species.
planirostris (Spix, 1823) (1), Carollia Similarity between sampling plots, ranged
perspicillata (Linnaeus, 1758) (20), from 0.28 to 0.52, was consistent with expected
Chrotopterus auritus (W. Peters, 1856) (7), given the different vegetation structure between
Desmodus rotundus (É. Geoffroy St.-Hilaire, fragments, demonstrating the potential of
1810) (13), Glossophaga soricina (Pallas, 1766) systematic sampling for population studies of
(10), Micronycteris microtis Miller, 1898 (6), bats in different environments.
Myotis riparius Handley, 1960 (2), Platyrrhinus Finally, capture success was 0.024 bats/hour,
lineatus (É. Geoffroy St.-Hilaire, 1810) (1), and was strongly influenced by the high
Platyrrhinus recifinus (O. Thomas, 1901) (1), detectability of nets by bats (64.7%). However,
and Sturnira lilium (É. Geoffroy St.-Hilaire, the inferiority of capture success may reflect
1810) (2). also a naturally low population density,
The species composition for the foraging noticeable by the recapture rate (14.46%),
areas was different from that commonly relatively higher than obtained by standard
observed in population studies using standard protocols (Falcão et al. 2003; Bianconi et al.
protocols for sampling understory (Esbérard 2004), and by low presence of bats in the
2003; Falcão et al. 2003; Bianconi et al. 2004; airspace at sampling point (14.5%). The
Ortêncio-Filho et al. 2005; Ortêncio-Filho and community was estimated by Schnabel indice
Reis 2009), indicating that the population and correct for level of detectability of nets in
structure actually active in the forest areas is not 450 individuals (283 to 1,087) with population
necessarily the same as that moving in these density of 54 individuals/ha (34 to 132), lower
environments. than obtained by Bianconi et al. (2004), for
The difference observed between the example, at flight routes. This high rate of
abundance of species (ANOVA, F = 2.672507 p recapture and low density were according with
= 0.01594), showed an uncommon expectations in this study, given the higher
heterogeneity of the community, with a number of temporary resident bats (due to
dominance of C. perspicillata, pattern also availability of food) or fixed, expected for the
observed from many population studies forest understory, unlike the flight routes,
(Bergallo et al. 2003; Mello and Schittini 2005), wherever should prevail individuals travelers,
followed by species usually rare in studies, as and not necessarily actives on the study area.
D. rotundus, G. soricina, A. caudifer, C. auritus But, correction of the estimates by the level of
(Esbérard 2003; Bianconi et al. 2004; Mello and detectability of nets should be interpreted with
Schittini 2005), and M. microtis (Pedro et al. caution because levels detection of nets for
2001), which may be a differential of the species and individuals were probably different.
systematic sampling for the standard protocols.
If systematic sampling on foraging areas favors Conclusions
the capture of rare species, may represent an For the preliminary nature of the collected
data, it is premature any conclusion about the
72
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

use of systematic sampling to estimate Kunz T.H. 1982. Little brown bat. In: Census
population of bats in foraging areas. However, methods for birds and mammals. (Edited by
we have reason to believe that the systematic Davis Jr. D.E.), pp. 124-126. Florida: CRC
sampling presents a great potential as protocol Press.
for the population estimative of bats on forest Kunz T.H. e Anthony E.L.P. 1977. On the
environments, providing more accurate and efficiency of the Tuttle bat trap. Journal of
precise quantitative data, and important Mammalogy 58: 309-315.
information about the bat populations on Kunz T.H. e Brock C.E. 1975. A comparison of
foraging areas, i.e., actively in the ecological mist nets and ultrasonic detectors for
and biological processes involved in the monitoring flight activity of bats. Journal of
maintenance of these forest structures. Mammalogy 56: 907-911.
Behavioral observations may be an Kunz T.H. and Kurta A. 1988. Capture methods
important tool to complement population and holding devices. Em: Ecological and
studies, and even result in data biased by behavioral methods for the study of bats.
differential perception of species and (Edited by Kunz T.H.), pp. 1-29.
individuals, enables the correction of estimates Washington: Smithsonian Institution Press,
such as size and population density, D.C.
approaching the data to a situation probably Kunz T.H.; Rodgkison R. and Weise C.D. 2009.
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Acknowledgements study of bats. (Edited by Kunz T.H. and
To owners and employees in the study areas Parsons S.), pp. 3-35. Baltimore: The Johns
by receiving and support our project; to A. P. C. Hopkins University Press.
Neto by collaboration; D. H. Homem, A. Kunz T.H.; Thomas D.W.; Richards G.R.;
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74
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Quiropterofauna da Estação Ecológica de Caetés, Paulista, Pernambuco, Brasil:


atualização do inventário 10 anos depois

Leandro Pimentel de Andrade(1), Robson Soares de Melo(1), Roseli Rodolfo da Silva(1), Paloma Joana
Albuquerque de Oliveira(1), Jarcilene do Carmo Tomaz de Oliveira(1), Emmanuel Messias Vilar
Gonçalves da Silva(1), Teone Pereira da Silva Filho(1), Luiz Augustinho Menezes da Silva(2)

(1) Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas – UFPE/CAV; (2) Grupo de Estudos de Morcegos no
Nordeste (GEMNE), Núcleo de Biologia / Universidade Federal de Pernambuco.

Corresponding author. Email: leandropimenteldeandrade@hotmail.com


Palavras-chave: Composição, Floresta Atlântica, Riqueza de espécies

Introdução A Estação Ecológica de Caetés (ESEC-


Os morcegos são importantes na regulação Caetés) localiza-se na Região Metropolitana do
dos ecossistemas tropicais, representando, em Recife no município de Paulista (7° 55‘ 15‖ e 7°
algumas áreas, 40 a 50% das espécies de 56‘ 30‖ S e 34° 55‘ 15‖ e 34° 56‘ 30‖ W) com
mamíferos (Timm 1994). Sua notável aproximadamente 157 ha está inserida em uma
diversidade de formas, adaptações morfológicas matriz urbana cercada por residências e áreas
e hábitos alimentares, permitem a utilização dos industriais, distando cerca de 30 km do centro
mais variados nichos, em complexa relação de do Recife. Apresenta estação chuvosa em
interdependência com o meio (Kalko 1997). À meados de março até o final de agosto e seca
medida que partilham os recursos, em especial entre outubro a fevereiro, com precipitação
os alimentares, os quirópteros influenciam a anual de 2.000 mm. A vegetação é classificada
dinâmica dos ecossistemas naturais, agindo como Floresta Ombrófila Densa das Terras
como dispersores de sementes, polinizadores e Baixas apresentando áreas razoavelmente bem
reguladores de populações animais (Ridley preservadas e outras desnudas de vegetação,
1930). algumas espécies arbóreas atingem alturas em
Quirópteros representam o segundo maior torno dos 20m.
grupo de mamíferos do mundo com 1120 As coletas foram realizadas mensalmente
espécies (Simmons 2005), no Brasil ocorrem entre janeiro de 2009 e janeiro de 2010, durante
nove famílias e 167 espécies (Reis et al. 2007), 3 dias, em diferentes pontos distribuídos entre
destas, são encontradas em Pernambuco sete borda e interior de mata, buscando os mesmos
famílias e 67 espécies (Guerra 2007). Devido às locais do trabalho anterior (Silva 2000). Para a
mudanças ambientais e a estruturação do captura dos morcegos foram utilizadas seis
habitat, a composição de fauna está em redes d e neblina (12 x 2,5m e malha de 36
constante mudança, sendo também acrescidas mm). As capturas ocorrem entre às 17h00min e
novas espécies a partir de registros da ampliação 24h00min, os animais foram marcados com
da distribuição geográfica das espécies (e.g. colares e soltos após a anotação dos dados
Mikalauskas et al. 2006, Nogueira et al. 2008) e necessários, com exceção de alguns exemplares
da descrição de novos táxons (e.g. Simmons que foram mortos e preparados como material
1996, Gregorin e Ditchfield 2005), sendo testemunho e para confirmação da espécie.As
portanto necessária a realização de trabalhos de espécies coletadas foram classificadas quanto a
longo prazo ou coletas mesmo em áreas já freqüência e à abundância conforme
estudas anteriormente, a fim de se verificar as metodologia empregada por Fazzolari-Corrêa
alterações na comunidade local. (1995).
Em um inventário realizado em 1999 na
ESEC-Caetés foram catalogadas 15 espécies de Resultados e Discussão
três famílias: Emballonuridae (01), Foram capturados 644 indivíduos
Phyllostomidae (13) e Vespertilionidae (01) pertencentes a 12 gêneros e 15 espécies (14
(Silva 2000). Assim, o presente trabalho tem por Phyllostomidae e uma Emballorunidae).
objetivo atualizar a lista das espécies de Carollia perspicillata (Linnaeus,1758) foi
morcegos existentes na ESEC-Caetés, dominante perfazendo 54,50% (n = 351) das
fornecendo subsídios para o manejo ambiental. capturas, seguida de Artibeus planirostris Spix,
1823 com 23,29% (n = 150), Phyllostomus
Material e Métodos discolor Wagner,1843 6,67% (n = 43), Artibeus
lituratus (Olfers, 1818) 6,05% (n = 39),
75
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Artibeus cinereus (Gervais, 1856) 3,26% (n = perspicillata, Artibeus planirostris e Artibeus


21), Glossophaga soricina (Pallas, 1766) 1,39% lituratus. As demais foram tidas como
(n = 9), Platyrrhinus lineatus (E.Geoffroy, frequentes e pouco frequentes.
1810) 0,93% (n = 6), Sturnira lillium Pedro et al. (2001) ressaltam a importância
(E.Geoffroy, 1810) 0,77% (n = 5), Desmodus das principais espécies de morcegos frugívoros
rotundus (E.Geoffroy, 1810) 0,62% (n = 4), (A. lituratus, C. perspicillata e S. lilium) na
Saccopteryx leptura (Schreber, 1774), Artibeus dinâmica de comunidades de plantas
sp. e Lophostoma silvicolum d‘Orbigny, 1836 quiropterocóricas. A presença desta família no
com 0,15% (n = 1). A predominância dos meio ambiente pode ser um indicativo da
filostomídeos na amostra provavelmente se deve reestruturação do hábitat, uma vez que estes
ao método de captura, ou seja, redes armadas ao representantes são mais especialistas de habitats
nível do solo (Pedro 1998). Por outro lado, os preservados.
filostomídeos são de fato a família mais rica na
região Neotropical (Fenton et al. 1992) e, além Conclusões
disso, tem menor capacidade de detectar redes Com o presente estudo foi possível perceber,
(Kunz e Kurta 1988). A ausência de outras que a família Phyllostomidae é a mais
famílias como Molossidae e Vespertillionidae, representativa na ESEC–Caetés, pois apresenta
deve ser atribuída ao fato desses insetívoros uma maior variedade de espécies nesta área,
voarem mais alto e detectarem as redes com sendo Carollia perspicillata e Artibeus
maior facilidade (Kunz e Kurta 1988; Muller e planirostris as mais abundantes até o presente
Reis 1992). momento. Nesse estudo destacou – se o
Até o momento foi obtida riqueza similar à acréscimo de Artibeus fimbriatus, Trachops
obtida por Silva (2000), entretanto ocorreu uma cirrhosus, Micronycteris sp. e Lophostoma
mudança na composição com o acréscimo de sylvicolum elevando para 19 espécies na ESEC–
Micronycteris sp. (n=3), Trachops cirrhosus Caetés.
(n=4), Artibeus fimbriatus (n=6), e Lophostoma Apesar da realização de trabalhos anteriores
silvicolum (n=1), no entanto sem registros para na Estação Ecológica de Caetés com morcegos,
Artibeus obscurus, Phyllostomus hastatus, a quiropterofauna presente encontra-se não
Myotis nigricans e Chiroderma villosum. Vale totalmente amostrada, fato este evidenciado
salientar que tais espécies foram consideradas pelo registro de quatro novas ocorrências na
raras e capturadas em baixo número (n < 7) região. Entretanto esforços maiores são
(Silva 2000). Em dezembro ocorreu um novo necessários para se conhecer a riqueza e a
registro Lophostoma silvicolum indicando a não diversidade da área de estudo.
estabilização da curva de coletor.
Espécies muito abundantes, apresentando Referências
mais de 15% do total de capturas, foram Fazzolari-Corrêa S. 1995. Aspectos sistemáticos
Carollia perspicillata (54,50%), Artibeus ecológicos e reprodutivos de morcegos na
planirostris (23,29%), abundantes, entre 4 e Mata Atlântica. Tese (Doutorado em
15% do total de capturas, Phyllostomus discolor Zoologia). Universidade de São Paulo, São
(6,67%) e Artibeus lituratus (6,05%). As demais Paulo.
espécies foram consideradas pouco abundantes Fenton M.B.; Acharya L.; Audet D.; Hickey
com menos de 4% do total de capturas. O M.B.C.; Merriman C.; Obrist M.K.; Syme
mesmo foi encontrado por Silva (2000) exceto D. M. e Adkins B. 1992. Phyllostomid bats
para P. lineatus (n=83 9%) e A. cinereus (n=75 (Chiroptera, Mammalia) as indicators of
8,1%) consideradas anteriormente abundantes. habitat disruption in the neotropics.
Os meses em que ocorreram o maior número Biotropica 24(3): 440-446.
de capturas foram os meses de janeiro de 2010 Gregorin R. e Ditchfield A.D. 2005. New genus
(n=146) e março de 2009 (n=143). Já o mês de and species of nectar-feeding bat in the tribe
agosto foi o que apresentou o menor número de Lonchophyllini (Phyllostomidae:
capturas (n=14) repetindo o padrão encontrado Glossophaginae) from northeastern Brazil.
por Silva (2000) na ESEC-Caetés. A diferença Journal of Mammalogy, Lawrence 86(2):
entre os meses de maior e menor captura pode 403-414.
estar relacionada com as fortes chuvas que Guerra D.Q. 2007. Chiroptera de Pernambuco:
caíram no mês de agosto. O mesmo tendo Distribuição e aspectos biológicos. 2007.
ocorrido nos meses de abril e outubro com 20 Dissertação (Mestrado em Biologia Animal)
capturas. Universidade Federal de Pernambuco.
Com relação à frequência mantiveram-se Recife.
como muito frequentes, presentes em pelo Kalko E.K.V. 1997. Tropical biodiversity and
menos 10 meses de coleta Carollia systematics. Em: Proceedings of the
76
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

International Symposium on Biodiversity and geographic reference (Editado por


and Systematics in Tropical Ecosystems, Wilson D.E. e Reeder D.M.), pp. 312-529.
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und Museum Alexander Koenig. Diversity Selva: Ecology and natural history of a
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Kunz T.H. e Kurta A. 1988. Capture methods L.A.; Bawa K.S.; Hespenheide H.A. e
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77
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Horário de atividade e hábitos alimentares de Chiroptera no Parque Nacional da


Serra dos Órgãos, RJ

Marcione Brito de Oliveira(1), Tiago Teixeira(2), Jorge Luiz do Nascimento(3), Thaís Miranda de
Souza(4)

(1) Laboratório de Mastozoologia, Departamento de Biologia Animal, UFRRJ, BR 465, Km 47,


Seropédica, RJ, Brasil, 23890-000; (2) Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, R.J., Brasil; (3) Diretoria de Conservação da Biodiversidade. - ICMBio,
Brasília, DF, Brasil, 70.670-350; (4) 4. Pós-graduação em Análises Clínicas, Faculdade Redentor.
Rodovia BR 356, nº 25, Itaperuna, RJ, Brasil, 28.300-000.

*Corresponding author. Email: marcionebrito@oi.com.br


Palavras-chave: Dieta, História Natural, Padrões de Atividade

Introdução (20 noites), abertas 12h a cada noite, em nove


Estudos de história natural possibilitam o pontos da floresta (entre 365 m e 1900 m de
reconhecimento de padrões, constituindo a altitude) (Nascimento 2007). Para cada captura
informação básica da ecologia (Ricklefs 1990). foi feita uma triagem individual para
De acordo com Fleming (1988), a maior parte identificação e coleta de dados. Os indivíduos
da diversidade morfológica presente na família foram mantidos em sacos de contenção, tiveram
Phyllostomidae pode ser diretamente atribuída suas fezes coletadas e armazenadas sob
aos diferentes modos de alimentação adquiridos, refrigeração. As amostras foram lavadas em
assim como seu horário de forrageamento pode água corrente em duas peneiras (malhas: 0,5mm
estar relacionado com sua dieta, sendo notória a e 0,1 mm), secas à temperatura ambiente e
importância dos morcegos na dinâmica de analisadas em microscópio estereoscópico. Os
regeneração de florestas tropicais agindo como itens encontrados foram separados em
dispersores de sementes e polinizadores. No categorias: sementes, outras partes vegetais;
entanto, aspectos básicos de sua história natural invertebrados e não-identificados (Mello et al.
ainda são pouco documentados na região 2004). O horário de atividade foi dividido em
serrana central fluminense (Esberárd e Bergallo quatro períodos de três horas cada um,
2005). considerando o horário compreendido entre 18h
Este estudo pretende apresentar uma 00min e 6h 00min.
descrição do horário de atividade e uma As espécies de morcegos foram identificadas
primeira abordagem sobre a dieta (através de preliminarmente no campo (Vizotto e Taddei
análises de amostras fecais) de quirópteros de 1973; Emmons e Feer 1997; Eisenberg e
sub-bosque no Parque Nacional da Serra dos Redford 1999). As espécies foram agrupadas em
Órgãos (PARNASO), região de Mata Atlântica guildas alimentares conforme os critérios de
montanhosa, sudeste do Brasil, com ênfase nos Kalko et al. (1996).
Phyllostomidae. Nesta Unidade de Conservação
são, atualmente, conhecidas 23 espécies de Resultados e Discussão
morcegos (Moratelli e Peracchi 2007; No presente estudo, foram capturados 144
Nascimento 2007). indivíduos de 19 espécies de morcegos,
pertencentes a duas famílias, Phyllostomidae e
Material e Métodos Vespertilionidae.
Os morcegos foram coletados de junho de Os nectarívoros Anoura caudifer (E.
2006 a maio de 2007 no PARNASO, nos Geoffroy, 1818) (n = 2), Anoura geoffroyi Gray,
municípios de Guapimirim e Teresópolis, RJ. 1838 (n = 8), Glossophaga soricina (Pallas,
De acordo com a classificação de Thornthwaite, 1766) (n = 3) e uma espécie não identificada (n
o PARNASO está inserido em uma região de = 4), corresponderam a 11,8% do total das
clima super-úmido, com pouco ou nenhum capturas, com mais de 76,5% delas coletadas
déficit hídrico e com calor bem distribuído ao durante as três primeiras horas da noite.
longo do ano (Cronemberger e Castro 2007). Carollia perspicillata apresentou 26,1% das
Foram utilizadas de três a sete redes-de- amostras fecais com sementes de Piper spp.,
neblina (de 7,0 x 2,5 m e 9,0 x 2,5 m) por noite 17,4% com invertebrados, 13% com sementes

78
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

de Solanumm spp., 13% com sementes de essas espécies, Myotis cf. albescens foi
Vismia sp. e 30,4% com material não registrada apenas no terço final da noite.
identificado. Sturnira lilum teve 21,7% de A espécie hematófaga Desmodus rotundus
sementes de Solanumm sp., 17,4% de sementes (E.Geoffroy, 1810) (n = 5), com 3,5% do total
de Cecropia spp., invertebrados, enquanto das capturas, concentrou sua atividade
sementes de Piper sp. foram encontradas em principalmente nas três primeiras horas da noite
4,3% das amostras fecais e outros 52,2% das (80%).
amostras continham apenas material não Considerando todas as espécies, observou-se
identificado. Em Artibeus spp. 87,5% das que as mesmas se mantiveram mais ativas
sementes encontradas eram de Cecropia spp. e principalmente no período correspondente ao
12,5% de material não identificado. início da noite (60%).
Os resultados obtidos sobre a dieta de C.
pespicillata, S. lilum e das espécies de Artibeus Conclusões
são semelhantes aos reportados na literatura A maioria das espécies foi coletada nas três
para essas espécies, sendo frutos de Piperaceae, primeiras horas após o pôr-do-sol, sendo este o
Solanaceae, Cecropiaceae, Guttiferae e horário de maior atividade desses animais,
Moraceae os itens alimentares mais mostrando ainda que suas atividades podem ser
frequentemente utilizados. contínuas durante toda a noite mas com menor
Os resultados obtidos mostram que Carollia intensidade.
pespicillata e Sturnira lilium são as espécies
mais comuns nas áreas amostradas como em Agradecimentos
diversos outros estudos na Mata Atlântica Ao CNPq pela concessão da bolsa a JLN; à
(Moratelli e Peracchi 2007). Isabela Deiss pela confecção dos sacos de
Os frugívoros de sub-bosque Sturnira lilium contenção, pelas idéias e correções; Ao Ricardo
(E. Geoffroy, 1810) (n = 42) e Carollia Moratelli pela identificação de alguns
perspicillata (Linnaeus, 1758) (n = 30), espécimes. Ao PARNASO/ICMBio pela
contribuíram com 50,0% do total de capturas, autorização de coleta concedida e pelas
sendo consideradas abundantes e tiveram maior facilidades e apoio fornecido no
atividade durante as três primeiras horas da desenvolvimento das atividades de campo.
noite (65,3%). Espécies classificadas como
frugívoros de dossel, Artibeus fimbriatus Gray, Referências
1838 (n = 4), Artibeus lituratus (Olfers, 1818) Cronemberger C. e Viveiros de Castro E.B.
(n = 8), Artibeus planirostris Spix, 1823 (n = 5) 2007. Ciência e Conservação na Serra dos
e Artibeus sp. (n = 1), foram responsáveis por Órgãos. Brasília: IBAMA.
13,2% do total das capturas e foram mais ativas Eisenberg J.F. e Redford K. 1999. Mammals of
nas três primeiras horas (52,6%). Artibeus the Neotropics: the central neotropics.
cinereus (Gervais, 1856) (n = 1) foi coletada Chicago: University of Chicago Press.
apenas no fim da noite, nas ultimas tres horas. Emmons L.H. e Feer F. 1997. Neotropical
Como as espécies M. albescens, A. cinereus Rainforest Mammals: a field guide. 2nd
e M. hirsuta só foram coletadas no final da ed.Chicago: The University of Chicago
noite, demonstra ser importante que as coletas Press, 1997. 392p.
sejam feitas durante toda a noite, para se obter Esbérard C.E.L. e Bergallo H.G. 2005. Research
um levantamento consistente da quiropterofauna on bats in the state of Rio de Janeiro,
(Esbérard et al. 2005). southeastern Brazil. Mastozoologia
Micronycteris megalotis (Gray, 1842) (n = Neotropical 12(2): 237-243.
4) e Micronycteris hirsuta (Peters, 1869) (n = Esbérard E.L. e Bergallo H.G. 2005. Coletar por
1), classificadas como insetívoros catadores seis ou doze horas a cada noite? Revista
corresponderam a 3,5% do total de capturas, as Brasileira de Zoologia 22(4): 1095-1098.
quais foram concentradas nas seis primeiras Fleming T.H. 1988. The short-tailed fruit bat: a
horas da noite (80%), embora M. hirsuta tenha study in plant-animal interactions. Wildlife
sido coletada apenas nas últimas três horas. Os behavior and ecology. Chicago, University
insetívoros aéreos Myotis cf. albescens of Chicago Press.
(È.Geoffroy, 1806) (n = 2); Myotis cf. levis Kalko E.K.V. e Handley Jr. D.H. 1996.
(I.Geoffroy, 1824) (n = 7); Myotis nigricans Organization, diversity and long-term
(Schinz, 1821) (n = 5); Myotis ruber dynamics of a Neotropical bat community.
(È.Geoffroy, 1806) (n = 10) e Myotis sp. (n = 2) In: Cody, M. and Smallwood, J.A. (Editors).
foram 18,0% do total das capturas, a maioria Long term studies of vertebrate
delas nas três primeiras horas (61,5%). Dentre communities. New York: Academic Press.

79
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Mello M.A.R.; Schittini G.; Selig P. e Bergallo,


H.G. 2004. Seasonal variation in the diet of
the bat Carollia perspicillata (Chiroptera:
Phyllostomidae) in an Atlantic Forest area in
southeastern Brazil. Mammalia 68(1): 49-55.
Moratelli R. e Peracchi A.L. 2007. Morcegos do
Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ.
Em: Ciência e Conservação na Serra dos
Órgãos. (Editado por Castro E.B.V. e
Cronemberger C.). Brasília: Ed. IBAMA.
Nascimento J.L. 2007 Variação altitudinal na
composição e riqueza de espécies de
morcegos (Chiroptera: Mammalia) no
Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ.
Dissertação (Mestrado) – UFRJ / Museu
Nacional / Programa de Pós-graduação em
Ciências Biológicas (Zoologia).
Ricklefs R.E. 1990. Ecology. New York:
Freeman and Company. New York.
Vizotto L.D. e Taddei V.A. 1973. Chave para
determinação de quirópteros brasileiros.
Revista da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de São José do Rio Preto 1: 1-72.

80
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Alterações morfológicas dos dúctulos eferentes e epidídimos ocorridas durante o


ciclo reprodutivo anual do morcego-das-frutas Artibeus lituratus

Regiana L. Oliveira, Lílian C. Praes, José Carlos Nogueira, Germán A.B. Mahecha e Cleida A. Oliveira*

Departamento de Morfologia – Instituto de Ciências Biológicas – UFMG

*Corresponding author. Email: cleida@icb.ufmg.br


Palavras-chave: Anatomia, Sazonalidade, Vias espermáticas

Introdução possíveis alterações durante o período de


A espécie Artibeus lituratus, conhecida atividade e regressão sexual.
como morcego-das-frutas, apresenta ampla
distribuição na América Latina, sendo uma das Material e Métodos
espécies de quirópteros mais comuns no Brasil Artibeus lituratus machos, adultos, foram
(Passos e Passamani 2003). Seu comprimento capturados em Belo Horizonte, MG, Brasil,
corporal varia entre 8-10 cm e pesam cerca de mediante autorização do Instituto Brasileiro de
80g (Peracchi et al. 2006). Caracterizam-se pela Meio Ambiente (IBAMA). A coleta foi
presença de uma ―folha nasal‖ membranosa em realizada utilizando redes de neblina (3 x 12 m).
forma de lança na extremidade do focinho, que Os animais foram classificados como adultos
direciona os ultrassons emitidos pelas narinas, após avaliação do comprimento corporal,
além da presença de duas listas faciais desgaste dos dentes e grau de ossificação das
esbranquiçadas (Peracchi et al. 2006; Zortéa epífises das falanges das asas (Dinerstein 1986;
2007). Podem ser solitários ou formar colônias De Knegt et al. 2005). O estado reprodutivo
de 5 a 16 indivíduos (Peracchi et al. 2006). dos animais (atividade ou regressão) foi
Alimentam-se de frutos, insetos, flores e néctar, avaliado através das dimensões testiculares e
sendo considerados importantes agentes confirmado através de análise histológica.
dispersores de sementes (Heithaus et al. 1975; Os animais foram anestesiados com injeção
Passos e Passamani 2003). intraperitoneal de pentobarbital-sódico a
A respeito do padrão reprodutivo, as fêmeas 30mg/kg e cloridrato de ketamina a 20mg/kg.
são poliestrais não-estacionais, produzindo Para a descrição anatômica, após a anestesia, foi
apenas um filhote por gestação (Tamsitt e feita uma incisão na pele da região inguinal, de
Valdivieso 1963; Reis 1989). Os machos forma a permitir a visualização e dissecação dos
anteriormente eram descritos com um padrão de órgãos genitais. Para as análises histológicas, os
reprodução contínuo ao longo do ano (Tamsitt e animais foram fixados por perfusão com
Valdivieso 1963), mas recentemente foi solução de glutaraldeído a 2,5% em tampão
demonstrado que a espécie apresenta um fosfato a 0,1M, pH 7,4 ou com solução de
período marcante de regressão sexual entre formalina neutra tamponada 10%. Os órgãos
dezembro e abril (Oliveira et al. 2009), porém o genitais foram removidos, pesados e/ou
estudo se restringiu ao testículo. medidos, imersos no mesmo fixador e estocados
Em morcegos de regiões Temperadas, a a 4°C. Fragmentos de dúctulos eferentes e
atividade reprodutiva dos machos mostra epidídimo foram incluidos em glicolmetacrilato
adaptações para conciliar reprodução com a ou parafina. Os cortes incluídos em
hibernação. Algumas particularidades, como glicolmetacrilato foram corados com azul de
regressão parcial do sistema genital durante a toluidina-borato de sódio, hematoxilina-eosina
hibernação, assincronia entre atividade testicular ou PAS (periodic acid-schiff) e contra-corados
e das glândulas sexuais e entre espermatogênese com hematoxilina. Os cortes incluídos em
e acasalamento e estocagem de espermatozoides parafina foram corados com hematoxilina-
no epidídimo, fazem parte da estratégia eosina.
reprodutiva destas espécies (Gustafson 1979; Os cortes histológicos foram utilizados para
Hosken et al. 1998; Encarnação et al. 2003). Por análise morfométrica do diâmetro tubular e
outro lado, dados sobre a biologia reprodutiva altura do epitélio dos dúctulos eferentes e
de morcegos de regiões Tropicais são escassos e epidídimos. As medidas foram tomadas em
incompletos. Dessa forma, nossa proposta é cinco secções transversais de ductos escolhidas
investigar a morfologia dos dúctulos eferentes e randomicamente em quatro animais em cada
epidídimo de A. lituratus, bem como suas período (regressão e atividade sexual). Para as
81
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

mensurações, imagens foram obtidas com o uso espermatozoides. Na região da cabeça ocorre
de fotomicroscópio Nikon Eclipse-E600 e diminuição na altura do epitélio, aumento do
através do software Image-Tool software. Os diâmetro luminal e da quantidade de
dados obtidos foram submetidos ao teste de espermatozoides no lúmen. O corpo é a região
normalidade Shapiro–Wilk‘s e posteriormente mais extensa e sua concentração espermática
analisados pelo teste t-Student. As diferenças luminal é maior comparado à cabeça. A cauda
foram consideradas significativas quando p ≤ possui o epitélio cilíndrico baixo a cúbico e é a
0,05. região de maior diâmetro tubular e concentração
espermática.
Resultados e Discussão Ao contrário do observado em morcegos de
Artibeus lituratus possuem testículos com regiões temperadas (Krutzsch 1975; Gustafson
localização inguinal subcutânea, não 1979), a regressão das vias genitais ocorre
apresentando escroto. Os túbulos seminíferos juntamente com a regressão testicular. Nesse
convergem para o mediastino, onde continuam período foi observada marcante regressão dos
com os túbulos retos/rede testicular. A rede DE e epidídimos no período de dezembro-abril.
testicular possui as porções intra e Na regressão, houve significativa redução na
extratesticular, sendo a última contínua com os altura do epitélio e diâmetro dos DE e ducto
dúctulos eferentes (DE). Através de epididimário. Nos DE, a redução no diâmetro
microdissecação, encontrou-se que a espécie tubular foi de cerca de 16% na região proximal
possui 12-15 DE, que surgem separadamente e e 11% na região distal. No epidídimo, a
seguem paralelos em direção ao epidídimo. Na regressão do diâmetro tubular foi mais
região distal, os DE confluem formando cerca acentuada, sendo essa redução de 51%, 45%,
de seis dúctulos terminais que desembocam no 47% e 31% no segmento inicial, cabeça, corpo e
segmento inicial do epidídimo. Esse padrão de cauda, respectivamente. A redução na altura
disposição dos DE é semelhante ao já descrito epitelial nos DE foi de 14% na região proximal
para o cão, porco, cavalo, dentre outros (Ilio e e 19% na região distal, enquanto no epidídimo
Hess 1994). essa redução foi de 55% no segmento inicial,
O epitélio dos DE é simples, cilíndrico, 40% na cabeça, 29% no corpo e 13% na cauda.
composto por células ciliadas e não-ciliadas. As No epidídimo notou-se ausência de
células não-ciliadas são as mais numerosas, espermatozoides luminais. Apesar da acentuada
possuem núcleo oval e citoplasma com atrofia, foi possível distinguir os diferentes tipos
numerosos grânulos PAS-positivos. As células celulares epiteliais em ambos os órgãos
ciliadas apresentam base mais estreita que o analisados.
ápice, longos cílios, núcleo oval e de localização
apical, citoplasma claro e com grânulos PAS- Conclusões
positivos esparsos ou ausentes. Cada dúctulo é O padrão morfológico observado nos
envolvido por uma ou duas camadas de células dúctulos eferentes e epidídimo de A. lituratus é
musculares lisas. Entre os dúctulos há tecido semelhante ao descrito para outros mamíferos
conjuntivo frouxo, contendo abundantes eutérios. Mesmo as alterações estacionais sendo
mastócitos. pouco acentuadas no Brasil, A. lituratus
O epidídimo localiza-se crânio-medialmente apresenta um evidente período de regressão
ao testículo, sendo formado por um único ducto reprodutiva, mas sem evidências de
flexuoso, no qual distinguem-se o segmento armazenagem epididimária de espermatozoides
inicial, cabeça, corpo e cauda. A estrutura nem assincronia entre atividade testicular e das
histológica do epidídimo de A. lituratus é vias espermáticas, o que difere de morcegos de
semelhante ao já descrito para outros mamíferos regiões Temperadas.
(Oke et al. 1988; Jones 2002), sendo revestido
por epitélio pseudoestratificado cilíndrico, Agradecimentos
composto por células principais, basais, halo, A André Oliveira e ao Thiago Maia pelo
claras, estreitas e apicais. Essas células estão apoio durante as coletas; à Pollyana Rabelo pelo
combinadas de formas variadas, fazendo com apoio técnico.
que cada segmento epididimário apresente Financiamento: Capes, CNPq.
características distintas. O ducto epididimário é
envolvido por duas a quatro camadas de células Referências
musculares lisas nas regiões do segmento inicial Cooper T.G. 1999. Epididymis Enciclopedia of
até o corpo e entre seis a dez camadas na região reproduction. Academic Press, 1-17.
da cauda. O segmento inicial é a região com De Knegt L.V.; Silva J.A.; Moreira E.C. e Sales
maior altura epitelial e menor diâmetro luminal, G.L. 2005. Morcegos capturados no
onde se observa pequena quantidade de município de Belo Horizonte, 1999-2003.
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Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Análise de pólen em pelagem de morcegos nectarívoros do Parque Nacional


Cavernas do Peruaçu, Minas Gerais, Brasil

Clever G. C. Pinto(1)*, Cynthia F. P. Luz(2) e Renato Gregorin(3)

(1) Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada, UFLA, Lavras, Brasil; (2) Núcleo de Pesquisa em
Palinologia, Instituto de Botânica da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, Brasil; (3) Setor de
Zoologia, Departamento de Biologia, UFLA, Lavras, Brasil.

*Corresponding author. Email: cleverbr@yahoo.com.br


Palavras-chave: Caatinga, Cerrado, Forrageamento

Introdução precipitação média anual é de 832,4mm sendo


Os morcegos Glossophaginae e que janeiro apresenta 183 mm e julho 1 mm
Lonchophyllinae (Phyllostomidae) se alimentam (EMBRAPA 2010).
estrita ou preferencialmente de néctar Entre dezembro de 2008 e novembro de
(Helversen e Winter 2003), atuando como 2009, efetuaram-se quatro expedições, uma para
polinizadores (Gribel et al. 1990). No Brasil, cada estação do ano, totalizando 80 noites de
nosso limitado conhecimento está centrado em coleta do crepúsculo à aurora. Redes-de-neblina
Glossophaga soricina e Lochophylla dekeyseri foram utilizadas para a coleta dos morcegos,
(ver Coelho e Marinho-Filho 2002; Zortéa com esforço de 237.571m².h. Realizou-se a
2003). coleta do pólen com fita dupla-face aplicada à
Muitas plantas quiropterófilas são pelagem dos morcegos (Bernhardt et al. 1992)
conhecidas de trabalhos da América Central, em três quadrados de 5mm para a cabeça, tórax
mas são raros os estudos no Brasil que abordem e região escapular. Também foi aplicado um
a interação no nível do conjunto dos morcegos e quadrado de 10 mm ao longo das asas e corpo
as plantas por eles utilizadas. Além do mais, visando obter uma maior riqueza polínica. Essas
geralmente esses estudos são restritos à Mata fitas foram coladas em lâminas de microscopia e
Atlântica (Carvalho 1960; Sazima e Sazima depois analisadas sob microscópio óptico para
1988; Gribel et al. 1990; Silva et al. 1997; Silva identificação polínica.
e Peracchi 1999). Nesse sentido, a análise A Soma Polínica é um método de
palinológica da pelagem dos morcegos é um amostragem e nesse caso foi baseada na
instrumento útil (Baker 1973) para o contagem de cerca de 300 grãos de pólen por
entendimento das relações desses mamíferos morcego. O termo ‗tipo polínico‘, utilizado para
com as plantas, uma vez que o pólen evidencia a identificação do pólen não está relacionado ao
quais plantas foram visitadas pelos morcegos. Código Internacional de Nomenclatura
O objetivo desse estudo foi verificar as Botânica. Ele estabelece uma proximidade do
plantas visitadas pelos morcegos nectarívoros material analisado a um determinado táxon
utilizando uma abordagem focada nos (Lorscheitter 1988), dado que geralmente não é
quirópteros, eliminando o viés causado pela possível diferenciar o pólen no nível de espécie.
observação exclusiva de plantas. Para isso, A identificação foi baseada na comparação com
analisou-se o pólen presente na pelagem de um a coleção de referência da Palinoteca do
conjunto de morcegos nectarívoros. Instituto de Botânica da Secretaria do Meio
Ambiente de São Paulo, catálogos, livros e
Material e Métodos artigos específicos, além de trabalhos sobre a
O trabalho foi realizado no Parque Nacional flora da região.
Cavernas do Peruaçu, localizado nos municípios
de Itacarambi, Januária e São João das Missões, Resultados e Discussão
norte de Minas Gerais (15° 07‘ S e 44° 16‘ W). Foram analisados 86 morcegos nectarívoros
Inserida num ecótone entre Cerrado e Caatinga, com pólen em sua pelagem, pertencentes a seis
a região apresenta formações savânicas como espécies, sendo observados 23.723 grãos de
cerrado e carrasco, além de florestas estacionais pólen, referentes a 19 tipos polínicos. As
deciduais e semi-deciduais (IBAMA 2005). As maiores ocorrências foram em Glossophaga
temperaturas médias anuais são soricina com 49 indivíduos apresentando em
aproximadamente de 24°C com amplitude de média 221,5 ± 184,0 grãos de pólen,
16°C a 34°C (Brandão e Magalhães 1991). A Lonchophylla dekeyseri com 12 indivíduos
84
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

apresentando em média 431,5 ± 328,1 grãos, nectarívoros (Heithaus et al. 1975; Gribel e Hay
Lonchophylla mordax com 12 indivíduos 1993; Varassin et al. 2001; Coelho e Marinho-
apresentando em média 332,0 ± 259,2 grãos e Filho 2002).
Anoura caudifer com nove indivíduos Um aspecto importante foi a observação do
apresentando em média 295,8 ± 224,0 grãos. As tipo polínico de Ochroma pyramidale em três
menores ocorrências foram registradas para indivíduos capturados em pontos próximos,
Anoura geoffroyi com um indivíduo porém em estações diferentes. Existe histórico
apresentando 255 grãos e Lionycteris spurrelli da utilização dessa espécie por morcegos
com três indivíduos apresentando em média (Tschapka 2005), porém a distribuição dessa
266,7 ± 84,8 grãos. planta é amazônica. O registro de O. pyramidale
Foram registrados sete tipos polínicos no na região não foi constatado, mas dado o
verão, 11 no outono, 14 no inverno e cinco na interesse comercial em sua utilização para
primavera. Uma maior riqueza de tipos construção de pequenas embarcações ou mesmo
polínicos foi observada na época mais seca do ornamental, é possível que ela tenha sido
ano corroborando Heithaus et al. (1975). introduzida e esteja sendo cultivada na região.
O tipo polínico mais abundante foi o de
Bauhinia forficata que ocorreu em 82,6% das Conclusões
amostras. Caryocar brasiliense ocorreu em A alta riqueza de tipos polínicos registrada
37,2% das amostras. O pólen de Hymenaea na época seca pode estar relacionada à elevada
ocorreu também em 34,9% das amostras, não abundância de morcegos nectarívoros registrada
sendo observado na primavera. Pseudobombax para esse período.
ocorreu em 16,3% das amostras, não ocorrendo Na primavera, período em que foram
no verão e primavera. Passiflora foi observada registrados menos tipos polínicos, houve uma
em 15,1% dos indivíduos, não figurando no dominância nas amostras pelo pólen de
outono. Caryocar brasiliense, planta muito freqüente na
Fato interessante foi a observação de região.
polínias na pelagem de 12 indivíduos,
principalmente durante o outono. As polínias Agradecimentos
são massas de grãos de pólen presas a estruturas A Cláudia Luz, Edmar Manduca, Fernanda
(polinários) adaptadas à aderência específica ao Leone, Guilherme Alvarenga, Ivan Lima, Luiz
corpo de insetos e ocorrem nas plantas das Siqueira, Stefanie Preuss e em especial ao
famílias Orchidaceae e Asclepiadaceae. De fato, Sebastião Genelhú pelo trabalho em campo; À
há registro de visitas de morcegos a Grazielle Teodoro, pela contribuição na
Orchidaceae (Geiselman et al. 2002). Nesse amostragem florística e pela identificação de
estudo, foram observadas somente estruturas exsicatas; À todos da gerência ICMBio do
incompletas. Provavelmente esses morcegos Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, na
estão se alimentando oportunisticamente dessas pessoa do gerente Evandro Silva; À família do
flores, contribuindo pouco na sua polinização. Seu Nourival Santos, pelo apoio logístico no
O pólen de Calliandra ocorreu em 12,8% Parque; aos revisores anônimos, pelos valiosos
das amostras, especialmente no inverno. Lemke comentários.
(1985) constatou visitas à Calliandra sem a Financiamento: CAPES, FAPEMIG.
prestação de serviços de polinização.
Bromeliaceae ocorreu em 10,6% dos indivíduos, Referências
principalmente no inverno. Baker H.G. 1973. Evolutionary relationships
Abaixo de 6%, foram observados um tipo between plants and animals in American
polínico não identificado de Bombacoideae and African forest. Em: Tropical Forest
(5,8%), Cavanillesia (4,7%), Ochroma Ecosystems in Africa and South America: A
pyramidale (3,5%), Roupala (3,5%), Cactaceae Comparative Review. (Editado por Meggers
(2,3%), Anadenanthera (2,3%), Chorisia, B.J.; Ayensus E.S. e Duckworth W.D.), pp.
Aparisthimium, Anacardium, Brosimum e 145-159. Smithsonian Institution Press,
Cecropia, todos com 1,2%. Para Brosimum e Washington.
Cecropia foram observados apenas três e dois Bernhardt P. 1992. Pollen transport and transfer
grãos, respectivamente, no mesmo indivíduo e by animal pollinators. Em: Pollination
no verão. Ecology: The Practical Approach. (Editado
Pólen de C. brasilense, B. forficata, por Dafni A.) Oxford: Oxford University
Hymeneae, Pseudobombax e Passiflora foram Press.
os mais freqüentes nas amostras de pelagem dos Brandão M. e Magalhães G.M. 1991. Cobertura
morcegos observados e compreendem itens bem vegetal da microrregião Sanfranciscana de
documentados para a dieta de morcegos Januária. Daphne 1(2): 19-26.
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Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

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86
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Morcegos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Frei Caneca, nordeste do


Brasil

Luiz Augustinho Menezes da Silva(1)*, Albérico Queiroz S. de Souza(2), Aristofenes Santos de Lima
(2), Chrisjacele Santos F. de Araújo(2), Clézia Valdênia M. da Silva (2), Lucillo Everton Cardoso
Silva(2), Maurílio Ferreira Gomes(2), Priscila Luna Queiroz(2) e Rivonalda Maria da Silva(2)

(1) Núcleo de Biologia / Universidade Federal de Pernambuco – CAV Grupo de Estudos de Morcegos no
Nordeste (GEMNE); (2) Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Formação de
Professores da Mata Sul, Palmares, Pernambuco.

*Corresponding author. Email: lamsilva@elogica.com.br


Palavras-chave: Floresta Atlântica, Inventário, Riqueza de espécies

Introdução informações sobre variação sazonal e


Os quirópteros apresentam uma elevada distribuição na área de estudo.
diversidade, constituindo em muitas áreas
tropicais e subtropicais a maior parte da fauna
de mamíferos (Taddei 1983). Por ser um dos Material e Métodos
mamíferos mais abundantes na região A RPPN Frei Caneca localiza-se no município
Neotropical (Humphrey e Bonaccorso 1983), os de Jaqueira, Zona da Mata Sul no centro de
morcegos contribuem para a riqueza faunística, Endemismo Pernambucano (CEPE), com
além de atuarem diretamente na dinâmica dos altitude de 500m a 750m e aproximadamente
ecossistemas realizando a polinização e 630 ha. O clima é tropical quente e úmido com
dispersão de sementes de algumas espécies temperatura media anual em torno de 22-24°C e
vegetais e controlando as populações de boa estação seca (outubro e fevereiro) e chuvosa
parte dos insetos noturnos e crepusculares. (março a setembro). O tipo vegetacional é
Segundo Fenton et al. (1992), os morcegos constituído por Floresta Ombrófila Densa
apresentam um grande potencial como distribuída em alguns fragmentos. A Mata da
indicadores dos níveis de degradação do hábitat Serra do Quengo (Sítio 01) apresenta uma área
em muitas partes do globo, seja através da de 500 hectares e encontra-se a 648 metros de
estrutura de suas comunidades e guildas altitude, fragmento completamente inserido na
alimentares, seja pela presença de espécies RPPN Frei Caneca. A unidade fisionômica da
consideradas indicadoras de hábitat bem vegetação é classificada como um misto de
preservado. Floresta madura (árvores de altura entre 20 e 25
Dentre os ecossistemas brasileiros, a metros) e Floresta Alta (árvores entre 10 e 15
Floresta Atlântica é um dos que apresenta metros de altura) é o fragmento que apresenta
problemas críticos em termos de conservação, menor pressão antrópica e nenhuma evidência
pois vem sofrendo, há mais de 400 anos, de caça. A Mata do Espelho (Sítio 2) é um
destruição em ritmo acelerado e as modificações fragmento com forte pressão antrópica, possui
propiciadas pela crescente urbanização resultam uma área de 50 hectares e está localizada na
geralmente em redução significativa da região mais alta a 700 metros de altitude. A
diversidade original. De acordo com Marinho- classificação de unidade fisionômica predomina
Filho e Sazima (1998) ela é o segundo Bioma em Floresta Baixa, com áreas de Floresta Alta e
brasileiro em número de espécies de morcegos, Capinzais. A Mata da Bernadina (Sítio 03)
apresentando 96 espécies sendo cinco apresenta áreas de floresta madura, uma grande
endêmicas. Para Pernambuco há o registro de 67 área de floresta secundária e algumas áreas de
espécies de morcegos (Guerra 2007) destas, 50 mata primária em estado de regeneração.
estão associados à Mata Atlântica, constituindo Apresenta também uma região alagável e
72% da quiropterofauna do Bioma (96 algumas estradas de terra abandonadas. Esta
espécies). Entretanto ainda pouco se conhece Mata está desconectada da Serra do Quengo por
sobre esta fauna na região nordeste do país. uma pequena comunidade e um por um rio.
Nesse contexto, são objetivos desse o trabalho, As capturas foram realizadas durante um ano
determinar as espécies de quirópteros que utilizando seis redes de neblinas (12 x 2,5 m)
ocorrem na área da Reserva Particular do armadas em pontos pré-estabelecidos entre as
Patrimônio Natural (RPPN) Frei Caneca e obter 17 e 24 h a uma altura de 0,5 a 2m acima do
nível do solo durante quatro noites consecutivas
87
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

em cada mês. Cada noite em um sítio de coleta e espécies de plantas pioneiras. Destacam-se com
a ultima noite em um ponto aleatório distante poucos registros no Estado, Diaemus youngi
dos pontos de coletas determinados em cada capturado apenas em duas localidades (Guerra,
sítio, os animais foram soltos após o fechamento 2007; Soares, 2008), esta espécie é considerada
das redes. O material coletado foi identificado a menos freqüente entre as três espécies
utilizando-se os trabalhos de Vizotto e Taddei hematófagas ao longo de toda a sua distribuição
(1973), Emmons e Feer (1990), Eisenberg e geográfica, é considerada rara em todo o
Redford (1992) e Gregorin & Taddei (2002), os território nacional (Aguiar et al. 2006) e em
espécimes coletados encontram-se no toda a sua distribuição geográfica (Greenhall e
Laboratório de Biodiversidade do Centro Schutt 1996), fato que suscitou a sua inclusão
Acadêmico de Vitória-UFPE. nas listas de espécies ameaçadas de extinção do
Estado do Rio de Janeiro (Bergallo et al. 2000)
Resultados e Discussão e do Paraná (Margarido e Braga 2004) e T.
Foram registradas três famílias e 25 espécies bidens sem registros prévios para Pernambuco
de um total de 677 capturas (Phyllostomidae 20 (Willig e Mares 1989; Willians et al. 1995;
espécies / 666 capturas; Vespertilionidae 4/10; Guerra 2007). Pode-se ainda comentar a
Molossidae 1/1), sendo que Vespertilionidae e presença de M. ruber esta espécie tem sua
Molossidae possivelmente apresentaram menor biologia, ecologia e distribuição geográfica
riqueza e número de capturas pela seletividade pouco conhecida, sendo incluída na lista de
do método de captura com redes de neblina espécies ameaçadas de extinção (IBAMA 2003;
(Portfors et al. 2000). A riqueza encontrada Machado et al. 2005) em virtude da poluição,
representa 50% da quiropterofauna na Floresta do desequilíbrio ecológico, do desmatamento e
Atlântica de Pernambuco (Guerra 2007). da destruição do seu hábitat, com status de
Com relação ao número de capturas, temos vulnerável pela IUCN (2009).
em ordem decrescente, Carollia perspicillata A presença de espécies raras no Estado na
(Linnaeus, 1758) (n=382), Artibeus lituratus área em estudo tem grande importância, uma
(Olfers, 1818) (n=115), Artibeus cinereus vez que está localizada no Centro de
(Gervais, 1856) (n=43), Artibeus planirostris Endemismo de Pernambuco (CEPE), área ao
(Spix, 1823) (n=34), Artibeus fimbriatus Gray, Norte do Rio São Francisco que compreende os
1838 (n=27), Rhynophylla pumilio Peters, 1865 estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Rio
(n=9), Artibeus obscurus (Schinz, 1821) (n=8), Grande do Norte (Silva e Casteletti 2003), esses
Phyllostomus discolor Wagner, 1843 (n=8), registros podem ser utilizados como ferramentas
Glossophaga soricina (Pallas, 1766) (n=8), para estudo de conservação, uma vez que
Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810) (n=6), segundo Fenton et al. (1992) morcegos têm
Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810) (n=6), grande potencial como indicadores de níveis de
Myotis nigricans (Schinz, 1821) (n=4), Myotis destruição de habitats.
ruber (E. Geoffroy, 1806) (n=4), Micronycteris Das espécies capturadas seis estiveram
megalotis (Gray, 1842) (n=3), Micronycteris presentes em todos os sítios de captura. Com
minuta (Gervais, 1856) (n=3), Trachops relação a freqüência mensal, C. perspicillata foi
cirrhosus (Spix, 1823) (n=3), Lophostoma capturada em todos os meses, a maior
brasiliensis Peters, 1866 (n=3), Phylloderma abundância e a maior frequência dessa espécies
stenops Peters, 1865 (n=2), Phyllostomus podem estar relacionados a grande quantidade
hastatus (Pallas, 1767) (n=2), Desmodus de piperáceas na área, recurso esse muito
rotundus (È. Geoffroy, 1810) (n=2); Tonatia explorado pela espécie (Peracchi et al., 2006).
bidens (Spix, 1823), Diaemus youngi (Jentink, A composição, riqueza e número de capturas
1893), Lasiurus ega (Gervais, 1856), Molossus variaram entre as estações. Na estação seca
molossus (Pallas, 1766) e Eptesicus sp. obteve-se 17 espécies e 269 capturas, já na
Rafinesque, 1820 foram capturadas uma única chuvosa 22 espécies e 381 capturas, destas, com
vez. relação a composição nas estações, 14 espécies
A curva de coletor aparentemente havia foram comuns a ambas as estações, oito apenas
estabilizado no quarto mês de captura (21 na chuvosa e três na seca.
espécies), entretanto quatro novas espécies
foram capturadas em setembro (décimo mês de Conclusões
captura). Carollia perspicillata foi a espécie A comunidade de morcegos estudada
dominante representando 56,4 % das capturas mostrou-se com uma forte dominância de
seguida por Artibeus lituratus com 16,9%. Carollia perspicillata. O encontro de Diaemus
Carollia perspicillata pode ser considerada uma youngi e o registro para o estado de Tonatia
espécie chave na dinâmica dessa comunidade, bidens evidenciam a necessidade de inventariar
por ser importante na dispersão de muitas outros fragmentos de Floresta Atlântica em
88
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Pernambuco, a fim de melhor entender a Guerra D.Q. 2007 Chiroptera de Pernambuco:


complexidade da quiropterofauna Distribuição e aspectos biológicos.
pernambucana. A RPPN Frei Caneca representa Dissertação (Mestrado em Biologia Animal)
um refúgio para a fauna de morcegos uma vez Recife, UFPE.
que encontra-se cercada pelo cultivo de cana-de- Humphrey S.R.F.J.; Bonaccorso F.J. e Zinn T.L.
açúcar e suporta metade da riqueza de 1983. Guild structure of surface-gleaning
quirópteros registrada para a Floresta Atlântica bats in Panama. Ecology 64(2): 284-294.
de Pernambuco. A alta riqueza em espécies, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
bem como a ocorrência de espécie ameaçada de dos Recursos Naturais Renováveis). 2003.
extinção no Brasil, a exemplo de Myotis ruber, Lista das espécies da fauna brasileira
e outras pouco amostradas no Estado, tal como ameaçadas de extinção. Brasília: Ministério
Diaemus youngi, estimulam medidas de do Meio Ambiente/Ibama. Disponível na
preservação nessa área. World Wide Web em:
A riqueza de espécies poderá ser ampliada http://www.biodiversitas.org.br/f_ameaca/lis
com mais amostragens utilizando métodos taibama2003.htm [20/01/2010]
diversificados de coleta. É importante o IUCN (World Conservation Union). 2009.
investimento em trabalhos de inventários da World List of Microchiroptera with IUCN
fauna de quirópteros em áreas de Floresta Red List: Categories of Threatand
Atlântica indicadas como prioritárias para a Distribution. IUCN – World Conservation
conservação da biodiversidade, principalmente Union, Gland, Suíça. Disponível na World
naquelas áreas onde não há informações sobre a Wide Web em: http:// www.redlist.org>
quiropterofauna. 2009. [20/01/2010].
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Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

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90
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Diversidade de morcegos em três áreas do noroeste paulista, Brasil

Crasso Paulo Bosco Breviglieri(1)* e Wagner André Pedro(1,2)

(1) Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, UNESP, São José do Rio Preto. Rua Cristóvão
Colombo, nº 2265, Jd. Nazareth, São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. 15054-000; (2) Departamento
de Apoio, Produção e Saúde Animal, UNESP, Araçatuba, São Paulo, Brasil. 16050-680.

*Corresponding author. Email: crassopaulo@yahoo.com.br


Palavras-chave: Fragmentação, riqueza, sazonalidade

Introdução e abundância de espécies em relação à


Segundo Simmons (2005), a subordem sazonalidade.
Microchiroptera é composta por 17 famílias e
930 espécies de morcegos no mundo, enquanto Material e Métodos
que no Brasil foram registradas, segundo Reis et Foram realizadas duas coletas mensais em
al. (2007), nove famílias, 64 gêneros e 167 cada área durante o período de um ano; Mata
espécies. No estado de São Paulo ocorrem 69 Ciliar do córrego Talhadinho (20º 42‘ S e 49º
espécies, que correspondem a 41,34% do total 18‘ W), localizada no município de Talhado-SP,
de espécies encontradas no Brasil (Vivo 1996; Fazenda experimental (48º 56‘ W e 21º 13‘ S) e
Reis et al. 2007). Mata Ciliar do Córrego dos Tenentes (21º 13‘
Na região Norte Ocidental do estado de São W 48º 56‘ S), pertencentes ao município de
Paulo, os primeiros estudos sobre a diversidade Pindorama-SP. No total foram utilizadas em
de morcegos foram feitos por Lima (1926) e cada área, oito redes de 7,5 metros de
Vieira (1942) que relataram a presença de oito comprimento por 2 metros de altura, vistoriadas
espécies para a região, sendo elas pertencentes à em intervalos de 20 minutos.
Phyllostomidae e Vespertilionidae. Os indivíduos capturados foram
Posteriormente, Vizotto e Taddei (1968) identificados segundo as chaves de identificação
registraram 37 espécies de quirópteros, de Vizotto e Taddei (1973) e Gregorim &
pertencentes a cinco famílias na região, e Taddei (2002). Após a captura, os morcegos
conseqüentemente estes estudos contribuíram foram identificados em campo e fotografados.
para o conhecimento taxonômico e da Após estes procedimentos os exemplares foram
distribuição geográfica destas espécies, liberados. Os animais para os quais não foi
resultando em três publicações, a primeira possível a identificação em campo foram
destacando cinco espécies pertencentes à mortos, fixados em formol a 10%, e incluídos
subfamilia Phyllostominae (Taddei 1975a), a na coleção do Laboratório de Chiroptera da
segunda destacando quatro espécies de três UNESP de São José do Rio Preto-SP.
subfamílias, Glossophaginae, Carolliinae e A relação entre o esforço amostral e o
Sturnirinae (Taddei 1975b) e a terceira sobre número da capturas foi feito, conforme a
espécies da sufamília Stenodermatinae no proposta apresentada por Straube e Bianconi
noroeste paulista (Taddei 1979). (2002). Para as análises de diversidade de
Vizotto e Taddei (1976) também espécies comuns foi utilizado o índice de
descreveram os aspectos ecológicos, dados de Shannon-Wiener (H‘) com o auxílio do
reprodução e padrão de distribuição geográfica programa EcoSim, versão 7.0. A similaridade na
das espécies Molossops temminckii (Burmeister composição da comunidade de morcegos entre
1854) e Cynomops planirostris Peters, 1866 os fragmentos foi determinada pelo índice de
(Molossidae) procedentes de 11 localidades do Morisita-Horn. Estas análises foram executadas
Estado de São Paulo inclusive da região a partir do programa STATISTICA 7.0.
Noroeste.
Estudos sobre a biodiversidade são de suma Resultados e Discussão
importância para a atualização do conhecimento O esforço de coleta totalizou 30.960 m²/h, o
sobre a biodiversidade de morcegos na região qual resultou na captura de 800 indivíduos
do Noroeste do Estado de São Paulo, e dentro pertencentes a 24 espécies (Phyllostomidae,
deste contexto, o presente estudo buscou: Noctilionidae, Molossidae e Vespertilionidae).
conhecer a diversidade de espécies de As espécies coletadas neste estudo
morcegos, em três áreas do noroeste do estado representaram 14,45% do total das espécies
de São Paulo, com diferentes graus de brasileiras e 34,78% do total de espécies que
isolamento, enfocando os parâmetros de riqueza ocorrem no estado de São Paulo.
91
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

As três áreas não apresentaram diferenças de risco que se encontra cada fragmento
significativas nos demais testes estatísticos, no estudado, a diversidade de espécies destes, é
entanto apresentaram um alto índice de igual ou maior do que outras taxocenoses
similaridade entre si (84%), sendo que a estudadas em áreas de mesma formação
Fazenda Experimental e o córrego Talhadinho florestal (Vizotto e Taddei 1976). Para as áreas
foram as mais similares (90%). estudadas a maioria dos indivíduos capturados
As espécies coletadas em maior número são importantes dispersores de sementes, bem
foram; Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810) como polinizadores de plantas, fato que ressalta
(26,34%), Artibeus planirostris Spix, 1823 ainda mais a importância da recuperação dos
(22,99%), Carollia perspicillata (Linnaeus, fragmentos da região para conservação da fauna
1758) (17,61%) e Artibeus lituratus (Olfers, e flora regional.
1818) (10,04%). Todas as espécies foram menos
abundantes na fase seca em relação à fase Conclusões
chuvosa, exceto A. lituratus que foi mais Estes resultados indicam que os
representada na estação seca. A família remanescentes amostrados ainda abrigam uma
Phyllostomidae predominou nas três áreas de parcela significativa das espécies de morcegos
estudo, das quais foram dominantes as espécies (34,78%) ocorrentes no estado de São Paulo.
S. lilium, A. planirostris, C. perspicillata e A. Desta forma é necessária a conservação deste
lituratus. ambientes, principalmente nestas regiões que
Sturnira lilium é mais abundante em por décadas foi afetada pela fragmentação,
diversas localidades, especialmente em florestas causada principalmente pelo cultivo de cana de
de montanha no sudeste do Brasil, sendo um açúcar.
importante dispersor de plantas pioneiras
(Marinho-Filho 1991), e um dos táxons mais Referências
capturados em fragmentos florestais das regiões Bianconi G.V.; Di Napoli R.P.; Carneiro D.C. e
sul e sudeste do Brasil (Fábian et al. 1999; Miretzki M. 2003. A Fazenda Gralha Azul e
Bianconi et al. 2003), incluindo áreas de a conservação dos morcegos da Floresta com
Floresta Estacional (Pedro et al. 2001; Félix et Araucária no Paraná. Em: IV Encontro
al. 2001). Brasileiro para o Estudo de Quirópteros,
Ainda que os fragmentos estudados possuam Porto Alegre, RS. Divulgações do Museu de
pequenas dimensões, estes ainda mantêm uma Ciências e Tecnologia, Porto Alegre 2: 62.
elevada abundância de recursos alimentares Fábian M.E.; Rui A.M. e Oliveira K.P. 1999.
freqüentemente citados para dieta das Distribuição geográfica de morcegos
subfamílias Stenodermatinae, Sturnirinae e Phyllostomidae (Mammalia, Chiroptera) no
Carollinae, (Mikich e Silva 2001) como os Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, Série
representantes dos gêneros Ficus L. (Moraceae), Zoologia, Porto Alegre 87: 143-156.
Cecropia Loefl. (Cecropiaceae), Piper L. Félix J.S.; Reis N.R.Dos.; Lima I.P.; Costa E.F.
(Piperaceae) e Solanum L. (Solanaceae) e Peracchi A.L. 2001. Is the area of the
(Nogueira e Peracchi 2002; Passos et al. 2003). Arthur Thomas Park, with its 82.72ha,
A diminuição da abundância das espécies na sufficient to maintain viable chiropteran
estação seca, supostamente está relacionada à populations? Chiroptera Neotropical,
diminuição dos recursos alimentares. Somente a Brasília 7(1-2): 129-133.
espécie A. lituratus aumentou sua abundância na Gregorin R. e Taddei V.A. 2002. Chave
estação seca (Talhados e Tenentes) ou manteve Artificial para Identificação de Molossideos
o mesmo número (Experimental). Este Brasileiros (Chiroptera-Mammalia).
comportamento pode estar relacionado ao hábito Mastozoología Neotropical 9(1): 13-32.
alimentar desta espécie, que consome frutos do Lima J.L. 1926. Os morcegos da coleção do
gênero Ficus (Myrtacea), que é assincrônico, e Museu Paulista. Revista do Museu Paulista.
apresentou indivíduos frutificando durante todo (14): 42-127.
o ano. Estudos desenvolvidos no México Marinho-Filho J.S. 1991. The coexistence of
indicam a assincronia, da frutificação como uma two frugivorous bat species and the
adaptação das plantas para manter a população phenology of their food plants in Brazil.
das vespas polinizadoras (Mikich e Silva 2001). Journal of Tropical Ecology, Cambridge 7
Os resultados demonstraram que a (1):59-67.
diversidade e a abundância nos fragmentos que Mikich S.B. e Silva S.M. 2001. Composição
possuem uma maior heterogeneidade na sua Floristica e Fenologia das Espécies
flora, e/ou que tenham interligações com outros Zoocóricas de Remanecentes de Floresta
fragmentos, possuem uma maior riqueza de Estacional Semidecidual no Centro Oeste do
espécies. Vale ressaltar que, apesar da situação
92
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Paraná, Brasil. Acta Botanica Brasiliensis Revista da Faculdade de Filosofia Ciências e


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determinação de quirópteros brasileiros.

93
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Levantamento preliminar da comunidade de morcegos do Parque Municipal das


Mangabeiras, Belo Horizonte, Minas Gerais

Diogo Monteiro(1) e Fábio C. Falcão(2)*

(1) Centro Universitário Una, Belo Horizonte, MG, Brasil; (2) Universidade Estadual de Santa Cruz,
Departamento de Ciências Biológicas, Núcleo de Estudos da Mata Atlântica, Ilhéus, BA, Brasil.

*Corresponding author. Email: falcaobio77@yahoo.com.br


Palavras-chave: Comunidades Biológicas, Parque das Mangabeiras, Parques urbanos

Introdução Diante de sua importância, embora alguns


Nas últimas décadas, o intenso crescimento estudos sobre a comunidade de quirópteros no
das populações humanas em todo o mundo tem Parque das Mangabeiras (PARMA) (Veloso et
colocado a diversidade biológica sob forte al. 2001), em outros parques e áreas verdes de
ameaça de extinção (Gascon et al. 2001). A Belo Horizonte (Dias 1995; Sánchez 2001;
crescente urbanização gerada por este processo Perini et al., 2003), e em outras áreas do
favoreceu a diminuição dos habitats naturais e município (De Knegt et al. 2005) já tenham sido
contínuos transformando-os em fragmentos realizados, ainda se faz necessário um melhor
isolados e sem conectividade uns com os outros, conhecimento da fauna de morcegos da região
com diferentes tamanhos e formas, causando a metropolitana de Belo Horizonte e do PARMA,
redução da biodiversidade, da estabilidade dos o maior parque da cidade, e um dos maiores
ecossistemas, entre outros prejuízos (Baskent parques urbanos da América Latina.
1999; Schoereder et al. 2003). Assim, o presente trabalho teve o objetivo de
Embora o processo de urbanização não realizar o inventário preliminar das espécies de
demonstre sinais de interrupção, seu impacto morcegos do PARMA e apresentar dados sobre
para a vida selvagem pode ser reduzido, dentre a riqueza e abundância das espécies,
outras maneiras, com o estabelecimento de comparando os dados encontrados nas duas
parques (Bradshaw et al. 1986). As alterações fitofisionomias que ocorrem no parque: Cerrado
causadas nos ambientes naturais fazem com que e Mata Atlântica. Essas informações
muitas espécies de animais encontrem refúgio contribuirão para o desenvolvimento adequado
para sua sobrevivência em parques e bosques de futuros projetos de conservação e educação
dentro das cidades (Kurta e Teramino 1992). ambiental sobre a quiropterofauna local.
Os morcegos, que são criticamente
importantes nas comunidades tropicais devido Material e Métodos
aos inúmeros papéis que desempenham, O estudo foi desenvolvido no Parque
influenciam a dinâmica dos ecossistemas Municipal das Mangabeiras, situado na porção
naturais (Nowak 1994), uma vez que os sul do município de Belo Horizonte, Minas
morcegos frugívoros podem dispersar sementes, Gerais (19° 56‘ S e 43° 54‘ W). Com altitudes
os nectarívoros podem polinizar as flores e os que variam de 1000 a 1300m, média anual de
hematófagos, insetívoros, piscívoros e chuvas de 1.515mm, e média mensal de
carnívoros regulam populações. temperatura variando de 14,6 a 20,2 °C. Possui
A fragmentação causada em parte pela uma estação fria e seca entre os meses de abril e
urbanização modifica a dinâmica das setembro e outra quente e chuvosa entre outubro
comunidades daquelas previstas para e março (INMET, 5° Distrito, Belo Horizonte,
ecossistemas naturais contínuos (Colli et al. Minas Gerais). Com 337 hectares, o parque
2003). A alteração antrópica dos habitats resulta possui a maior parte de sua área coberta pela
na simplificação da estruturação das vegetação nativa, composta por formações de
taxocenoses de morcegos, o que resulta na Floresta Estacional Semidecídua e
drástica redução no número de espécies. A fitofisionomias de Cerrado, estando em uma
fragmentação coloca as espécies em situação de área de transição entre as duas formações
risco, podendo resultar no desaparecimento de florestais (PBH, 2009).
espécies e na perda de populações As capturas foram realizadas no período de
geneticamente viáveis (Aguiar 1994). outubro a novembro de 2009, perfazendo um
total de 12 noites de amostragem. Foram

94
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

estabelecidos 3 pontos na Mata Atlântica, e 3 Eptesicus sp2. com 3% (n= 2) e Anoura


pontos em áreas de Cerrado, tendo sido geoffroyi, Anoura caudifer, Artibeus obscurus e
realizado duas coletas em cada ponto de Platyrrhinus lineatus tiveram um registro e
amostragem. A metodologia utilizada na captura representaram 1% cada (n=1).
dos quirópteros do PARMA foi através do uso A captura do maior número de filostomídeos
de redes-de-neblina (‗mist nets‘), com 12 metros que corresponderam a 9 espécies e 90% do total
de comprimento por 3 metros de altura cada. de morcegos já era esperada, uma vez que é a
Foram utilizadas 8 redes em um dos pontos da família mais diversificada da região Neotropical
Mata Atlântica e em um dos pontos do Cerrado (Fenton et al. 1992). O método utilizado
por noite. Nos demais pontos foram utilizadas 6 também favorece a captura das espécies desta
redes por noite. família, sendo que os representantes das
O esforço amostral foi calculado seguindo famílias Emballonuridae, Vespertilionidae e
Straube e Bianconi (2002). Molossidae têm a capacidade de detectar as
As redes foram abertas ao entardecer redes e voarem mais alto que as redes
permanecendo abertas por 6 horas consecutivas, conseguem abranger (Kunz e Kurta 1988).
sendo vistoriadas a cada 20-30 minutos. A grande abundância de espécies
A identificação das espécies foi feita no oportunistas como A. lituratus e C. perspicillata
campo através de consulta à literatura (Vizotto e encontrada corrobora o encontrado por Veloso
Taddei 1973; Simmons e Voss 1998; Lim e et al. 2001, no próprio Parque das Mangabeiras
Engstrom 2001). com A. lituratus correspondendo a 42,1% das
O sucesso de captura foi obtido dividindo-se capturas, contra 43% do presente trabalho e C.
o número total de indivíduos capturados nas perspicillata com 15,7% contra 26% no
redes pelo total de horas amostradas. presente trabalho.
A riqueza de espécies encontradas foi maior
Resultados e Discussão nas áreas de Mata Atlântica do que nas áreas de
As amostragens perfizeram 17.280 h.m2 de Cerrado assim como a abundância, sendo as
esforço amostral, totalizando 93 capturas de áreas de Mata Atlântica responsáveis pela
morcegos, sendo 91 indivíduos e 2 recapturas. captura do maior numero de indivíduos e de
Foram capturadas 12 espécies, pertencentes a 8 espécies.
gêneros e 2 famílias (Phyllostomidae e No presente estudo foram registradas 12
Vespertilionidae). espécies, número inferior ao encontrado em
Nas áreas de Cerrado as amostragens áreas estudadas próximas a zonas urbanas ou
perfizeram 8.640h.m2 de esforço amostral, inseridas nela como Breviglieri (2008) e Reis et
totalizando 23 indivíduos capturados al. (2000) que encontraram 24 e 21 espécies
pertencentes a 6 espécies, 5 gêneros e 2 famílias respectivamente. Porém, o número de espécies
(Phyllostomidae e Vespertilionidae). O sucesso capturadas foi próximo ao já registrado para a
de captura obtido foi de aproximadamente 0,6 cidade de Belo Horizonte, que é de 16 espécies
indivíduos/hora. Dentre os indivíduos (Lima, 2008) e muito similares ao encontrado
capturados, Artibeus lituratus foi o mais em fragmentos urbanos por Gazarini (2008) (13
abundante, representando 53% (n=12) do total espécies), Bianconi et al. (2004) (14 espécies)
de capturas, seguido por Carollia perspicillata Evangelista (2009) (11 espécies) e Veloso et al.
22% (n= 5), Artibeus planirostris com 13% (n= (2001) (11 espécies) no próprio PARMA. A
3). Sturnira lilium, Anoura geoffroyi e Eptesicus riqueza foi superior à observada por Barros et
sp1. tiveram um registro e representaram 4% al. (2006) (7 espécies). Cabe destacar que todos
cada (n=1). os estudos citados tiveram um esforço amostral
As amostragens nas áreas de Mata Atlântica superior ao presente estudo. Sabe-se que longe
perfizeram 8.640 h.m2 de esforço amostral da poluição, com boa qualidade de água e
totalizando 70 capturas de morcegos, sendo 68 grande disponibilidade de recursos, a riqueza de
indivíduos e 2 recapturas. Foram capturadas 11 espécies aumenta (Estrada e Coates-Estrada
espécies pertencentes a 8 gêneros e 2 famílias 2001). Desta forma, o número de espécies
(Phyllostomidae e Vespertilionidae). O sucesso capturadas pode estar relacionado ao fato do
de captura obtido foi de aproximadamente 1,9 Parque das Mangabeiras estar inserido em área
indivíduos/hora. Dentre os indivíduos urbana, e sofrer com as atividades humanas, o
capturados, Artibeus lituratus foi o mais que contribui para o desaparecimento de
abundante, representando 40% (n= 28) do total espécies mais sensíveis favorecendo espécies de
de capturas, seguido por Carollia perspicillata morcegos de grande plasticidade alimentar e
28% (n= 19), Myotis sp. com 9% (n= 6), alto potencial adaptativo (Ortêncio-Filho et al.
Glossophaga soricina com 8% (n= 5), Artibeus 2005).
planirostris e Sturnira lilium com 4% (n= 3),
95
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Conclusões Colli G.R.; Accacio G.M.; Antonini Y.;


Este trabalho sugere que o Parque Municipal Constantino R.; Franceschinelli E.V.; Laps
das Mangabeiras pode abrigar uma parcela R.R.; Scariot A.; Vieira M.V. e
significativa da fauna de morcegos da cidade de Wiederhecker H.C. 2003. A Fragmentação
Belo Horizonte. dos Ecossistemas e a Biodiversidade
Tendo em vista o baixo esforço amostral, Brasileira: Uma Síntese. Em: Fragmentação
pode-se dizer que o número de espécies de Ecossistemas: Causas, efeitos sobre a
encontradas (12) pode ser maior, uma vez que biodiversidade e recomendações de políticas
neste trabalho não foram capturadas espécies públicas. (Editado por Rambaldi D.M. e
encontradas anteriormente por Veloso et al. Oliveira D.A.S.), pp.317-324. Ministério do
(2001), como Pygoderma bilabiatum, sugerindo Meio Ambiente/Secretaria de
que o PARMA possa apresentar uma fauna de Biodiversidade e Florestas, Brasília.
morcegos ainda mais rica. Por esse motivo, são De Knegt L.V.; Silva J.A.; Moreira E.C. e Sales
necessários maiores esforços de captura para G.L. 2005. Morcegos capturados no
que se possa conhecer melhor a fauna de município de Belo Horizonte, 1999-2003.
quirópteros do Parque. Arq. Brasileira de Medicina Veterinéria
Zootec 5: 576-583.
Agradecimentos Dias C.M. 1995. Estrutura de comunidades de
À administração do parque, em nome do quirópteros de três áreas verdes da região
biólogo Emilson Miranda, pelo apoio ao metropolitana de Belo Horizonte, Minas
desenvolvimento do projeto; a Valéria Tavares Gerais. Monografia (Bacharelado em
pelo empréstimo das redes de neblina; a Nativa Ecologia) - Instituto de Ciências Biológicas,
Meio Ambiente pelo empréstimo das hastes; aos Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
amigos que auxiliaram nas atividades de campo. Horizonte.
Estrada A. e Coates Estrada R. 2001. Bat
Referências species richness in live and in corridors of
Aguiar L.M.S. 1994. Comunidades de residual rain forest vegetation at los Tuxtlas,
Chiroptera em três áreas da Mata Atlântica Mexico. Ecography 24: 94-102.
em diferentes estádios de sucessão - Estação Evangelista T.H.C.S. 2009. Diversidade de
Biológica de Caratinga, Dissertação Morcegos (Mammalia, Chiroptera) no
(Mestrado em Ecologia). Instituto de fragmento urbano da Mata do Cascão –
Ciências Biológicas. Universidade Federal 19BC, Salvador, Bahia. Anais do 9
de Minas Gerais. Congresso de Ecologia do Brasil. São
Barros R.S.M.; Bisaggio E.L. e Borges R.C. Lourenço.
2006. Morcegos (Mammalia, Chiroptera) Fenton M.B.; Acharya L.; Audet D.; Hickey
em fragmentos florestais urbanos no M.B.C.; Merriman C.; Obrist M.K. e Syme
município de Juiz de Fora, Minas Gerais, D.M. 1992. Phyllostomid bats (Chiroptera:
Sudeste do Brasil. Biota Neotropica 6. Phyllostomidae) as indicators of habitat
Baskent E.Z. 1999. Controlling spatial structure disruption in the Neotropics. Biotropica 30:
of forested landscapes: a case study towards 440-446.
landscape management. Landscape Ecology Ortêncio-Filho H.; Reis N.R.; Pinto D.;
14: 83-87. Anderson R.; Testa D.A. e Marques M.A.
Bianconi G.V.; Mikich S.B. e Pedro W.A. 2004. 2005. Levantamento dos morcegos
Diversidade de morcegos (Mammalia, (Chiroptera, Mammalia) do Parque
Chiroptera) em remanescentes florestais do Municipal do Cinturao Verde de Cianorte,
município de Fênix, noroeste do Paraná, Paraná, Brasil. Chiroptera Neotropical (1-
Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 4: 2): 211-215.
943-954. Gascon C.; Lawrence W.F. e Lovejoy T.E.
Bradshaw A.D.; Goode D.A. e Thorpe E. 1986. 2001. Fragmentação Florestal e
Ecology and Design in landscape. Oxford: Biodiversidade na Amazônia Central. Em:
Blackwell Scientific Publications. Conservação da Biodiversidade em
Breviglieri C.P.B. 2008. Diversidade de Ecossistemas Tropicais: Avanços
morcegos (Chiroptera; Mammalia) em três conceituais e revisão de novas metodologias
áreas do noroeste paulista, com ênfase nas de avaliação e monitoramento. (Editado por
relações tróficas de Phyllostomidae. Garay I. e Dias B.), pp.112-127. Petrópolis:
Dissertação (Mestrado em Biologia Editora Vozes.
Animal). Instituto de Biociências, Letras e Gazarini J. 2008. Estrutura de comunidade de
Ciências Exatas. Universidade Estadual morcegos (Mammalia, Chiroptera) em
Paulista. fragmentos urbanos de Maringá, Paraná,
96
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Brasil. Dissertação (Mestrado em Zoologia). florestais no estado do Paraná, Brasil.


Universidade Estadual de Londrina. Revista Brasileira de Zoologia 3: 697-704.
Londrina. PR. Sanchez M.M. 2001. Morcegos fitófagos
Kunz T.H. e Kurta A. 1988. Capture methods urbanos: relações tróficas, estrutura e
and holding devices. Em: Ecological and distribuição das espécies no campus
behavioral methods for the study of bats. universitário da Universidade Federal de
(Editado por Kunz T.H.), pp. 1- Minas Gerais, Belo Horizonte, durante a
29.Washington, DC: Smithsonian estação seca do ano. Dissertação (Mestrado
Institution Press. em Ecologia) – Instituto de Ciências
Kurta A. e Teramino J.A. 1992. Bats Biológicas, Universidade Federal de Minas
community structure in a urban park, Gerais, Belo Horizonte.
Ecography 15: 257-261. Simmons N.B. e Voss R.S. 1998. The mammals
Lim B.K. e Engstrom M.D. 2001. Species of Paracou, French Guiana: a Neotropical
diversity of bats (Mammalia: Chiroptera) in lowland rainforest fauna. Part I. Bats. Bull.
Iwokrama Forest, Guyana, and the Guianan Am. Mus. Nat. Hist.
subregion: implications for conservation. Straube F.C. e Bianconi G.V. 2002. Sobre a
Biodivers. Conservation 10: 613–657. grandeza e a unidade utilizada para estimar
Lima I.P. 2008. Espécies de morcegos esforço de captura com utilização de redes-
(Mammalia, Chiroptera) registradas em de-neblina. Chiroptera Neotropical 1-2:
parques nas áreas urbanas do Brasil e suas 150-152.
implicações no uso deste ambiente. Em: Schoereder J.H.; Sperber C.F.; Sobrinho T.G.;
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N.R.; Peracchi A.L. e Santos G.A.S.D.), pp. 2003. Por que a riqueza de espécies de
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Nowak R.M. 1994.Walker‘s Mammals of the brasileiros: Manejo e conservação. (Editado
World. 5 ed. London: The Johns Hopkins por Claudino-Sales V.), pp. 31-38.
Press. Ecossistemas Fortaleza: Expressão Gráfica
PBH - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Editora.
2009. Parque das Mangabeiras. Capturado Veloso M.A.C.; Cunha A.B.C.; Ribeiro H.C.R.;
em 4 de outubro de 2009 Disponível em: Rebelo V.F.; Falcão F.C. e Isaac-Junior J.B.
URL: 2001. Composição da fauna de morcegos
www.pbh.gov.br/mangabeiras/navega00.ht (Mammalia: Chiroptera) no Parque das
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Perini F.A.; Tavares V.C. e Nascimento C.M.D. Trabalho apresentado no 1. Congresso
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Reis N.R.; Peracchi A.L.; Sekiama L.M. e Lima Revista da Faculdade de Ciências e Letras
I.P. 2000. Diversidade de morcegos de São José do Rio Preto, Boletim de
(Chiroptera, Mammalia) em fragmentos Ciências. 1-72.

97
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Lista atualizada de quirópteros do Estado de São Paulo, Brasil, com base na


Coleção do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e registros na
literatura

Guilherme Siniciato Terra Garbino*

Seção de Mastozoologia, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, Caixa Postal 42694, CEP
04299-970, São Paulo, Brasil.

*E-mail do autor. Email: gstgarbino@hotmail.com


Palavras-chave: Amostragem, coleção zoológica, compilação bibliográfica

Introdução listas anotadas de espécies e outros estudos


No Estado de São Paulo, os primeiros taxonômicos). Também foram incluídos nesse
trabalhos nos quais a rede de neblina (―mist- estudo registros de ocorrência obtidos na
net‖) foi utilizada como principal método na literatura. Foram georreferenciadas 183
captura de morcegos ocorreram na região localidades utilizando o software ArcView GIS
noroeste do Estado na década de 1960 (Vizotto versão 9.1.
e Taddei 1968). A maioria das coletas realizadas
após esse período, no entanto, tem sido Resultados e Discussão
concentrada na Mata Atlântica do leste do A lista de espécies, após análise do material
Estado. A coleção de quirópteros obtidos em depositado no MZUSP e de consulta de
São Paulo e depositados no Museu de Zoologia registros na literatura, resultou em 77 espécies
da Universidade de São Paulo (MZUSP) é registradas para o Estado de São Paulo, das
ampla tanto em número de espécimes quanto no quais 70 possuem espécime-testemunho
intervalo de tempo que ela abrange, fazendo depositado no MZUSP. O número de espécies é
com que seja possível analisar um intervalo de 20% maior que o proposto por Vivo (1998) que
aproximadamente 100 anos de coletas. Ao longo estimou 64 espécies de quirópteros para o
desse período o método de amostragem e o Estado. As 75 espécies estão distribuídas em 43
conhecimento sobre a quiropterofauna do gêneros e oito famílias. Esses números
Estado sofreram mudanças significativas. representam, aproximadamente, 45% das
Neste trabalho buscou-se relacionar a espécies, 68% dos gêneros e 89% das famílias
variação do esforço amostral ao longo do tempo que ocorrem no Brasil segundo Reis et al.
com o método de amostragem predominante na (2007). O único registro novo para o estado foi
época em que os espécimes foram coletados. da espécie Saccopteryx leptura (Schreber,
Nesse estudo também é apresentada uma lista 1774), identificada a partir de um exemplar
atualizada das espécies de quirópteros do Estado coletado em 1961 na estação biológica de
de São Paulo, obtida através do estudo dos Boracéia, Gruta da Santa, localizada no leste do
espécimes colecionados em diversas localidades Estado, em área de Mata Atlântica.
do Estado e depositados no MZUSP e de A família com o maior número de espécies
consulta bibliográfica. no estado é Phyllostomidae com 35 espécies
registradas ou 47% do total, em segundo lugar
Material e Métodos está a Família Molossidae com 17 espécies
Todos os espécimes analisados estão (22,4%) e, em terceiro, Vespertilionidae com 14
depositados na coleção do MZUSP. As (14,4%). A Família Emballonuridae é a quarta
informações presentes nos rótulos dos mais diversa com quatro espécies (5,2%)
espécimes ou no livro tombo referente à data, seguida por Noctilionidae com duas espécies
localidade, identificação, número de tombo e (2,6%). As famílias Thyropteridae, Furipteridae
coletor dos espécimes foram anotadas. Ao todo, e Natalidae possuem uma espécie registrada ou
foram obtidas informações sobre 3549 1,3% do total de espécies que ocorrem para o
exemplares. A maioria dos exemplares Estado.
examinados teve suas identificações revistas, A Família Phyllostomidae, com 2505 (70%)
através da análise de caracteres somáticos, predomina dentre os 3549 espécimes. Grande
cranianos e dentários reportados como parte dos espécimes (52,5%) pertence a apenas
diagnósticos na literatura (chaves de sete espécies e dez espécies são representadas
identificação, revisões de gêneros, descrições, por apenas um espécime. A predominância de

98
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

filostomídeos na coleção ocorre apenas após a Outras coleções zoológicas, principalmente a da


década de 1970 e está provavelmente Universidade Estadual Paulista de São José do
relacionada à introdução do método de coleta Rio Preto, possuem material dessas regiões e
por rede de neblina no estado, que tende a devem ser visitadas ao se estudar espécies que
favorecer a captura filostomídeos frugívoros ocorrem no estado de São Paulo. A utilização de
(Kalko & Handley, 2001; Esbérard & Bergallo, métodos conjuntos de amostragem (e.g. busca
2008). A média de espécimes/espécie é 50,5, ativa, redes de neblina e ―harp traps‖) pode
variando entre Phyllostomidae com 76 levar a um aumento no número de exemplares
espécimes/espécie e Thyropteridae com um de famílias pouco amostradas, como Molossidae
espécime/espécie. e Noctilionidae, na coleção.
A segunda família em número de espécimes
é Vespertilionidae com 676 (19%) espécimes. Agradecimentos
Em número de espécies, Molossidae (17 spp.) Agradeço ao Prof. Dr. Mario de Vivo do
supera Vespertilionidae (14 spp.), mas em MZUSP pela orientação; a Adalberto Césari e
espécimes Molossidae possui apenas 312 (9%). Dra. Caroline Aires pelo auxílio na identificação
Esse fato também se relaciona com o método de dos espécimes.
coleta por redes de neblina que falha em Financiamento: CNPq/PIBIC Processo
capturar espécies insetívoras que forrageiam 116366/2008-7.
acima da copa das árvores, como é o caso da
maioria dos molossídeos. No caso do Estado de Referências
São Paulo, a coleção do Centro de Controle de Esbérard C.E.L. e Bergallo H.G. 2008.
Zoonoses (CCZ) possui um número Influência do esforço amostral na riqueza de
considerável de espécimes de molossídeos, espécies de morcegos no sudeste do Brasil.
como foi evidenciado por Silva et al. (1996) e Revista Brasileira de Zoologia 25(1): 67-73.
Sodré et al. (2008). Os morcegos dessa família Kalko E.K.V. e Handley Jr. C.O. 2001.
são freqüentemente capturados pelo CCZ, pois Neotropical bats in the canopy: diversity,
comumente utilizam habitações humanas como community structure, and implications for
abrigo. conservation. Plant Ecology 153: 319-333.
Nesse trabalho uma série foi definida como Silva M.M.S.; Harmani N.M.S.; Gonçalves
o número de exemplares de uma mesma espécie E.F.B. e Uieda W. 1996. Bats from the
coletados em uma mesma municipalidade. Por Metropolian region of São Paulo,
essa definição a coleção do MZUSP possui 547 Southeastern Brazil. Chiroptera Neotropical
séries, com os números de espécime/série 2(1): 39-41.
variando entre um e 147. Mais da metade das Reis N.R.; Shibatta O.A.; Peracchi A.L.; Pedro
séries (N=293) possuem um (N=203) ou dois W.A. e Lima I.P. 2007. Morcegos do
(N=93) espécimes/série. O número médio de Brasil. Londrina.
espécimes/série é 6,55. A maior série é Sodré M.M.; Rosa A.R.; Gregorin R. e
constituída por 147 exemplares de Desmodus Guimarães M.M. 2008. Range extension for
rotundus coletados no município de Iporanga, Thomas‘ Mastiff bat Eumops maurus
localizado no sudeste do Estado, em região de (Chiroptera: Molossidae) in northern,
Mata Atlântica. O leste do Estado é a região central and southeastern Brazil. Revista
mais representada na coleção e quatro Brasileira de Zoologia 25(2): 379-382.
municípios localizados nessa região Vivo M. 1998. Diversidade de mamíferos no
representam 47% (N=1664) dos espécimes. A Estado de São Paulo. Em: Biodiversidade
municipalidade com o maior número de do Estado de São Paulo. (Editado por:
espécimes é Cananéia (N=527), seguida por Castro R.M.C.) São Paulo: FAPESP.
Iporanga (N=468), São Paulo (N=426) e Iguape Vizotto L.D. e Taddei V.A. 1968. Quirópteros
(N=243). da região Norte-Ocidental do Estado de São
Paulo. Ciência & Cultura 20(2): 329.
Conclusões
O Estado de São Paulo possui uma
diversidade considerável de espécies de
quirópteros, que ainda não é completamente
conhecida. A coleção do MZUSP possui uma
boa representatividade da quiropterofauna de
São Paulo, com 69 das 77 espécies que ocorrem
no Estado. As regiões do Estado menos
amostradas segundo a coleção do MZUSP
foram a região Noroeste, Centro-Oeste e Oeste.
99
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Descrição da anatomia lingual de Platyrrhinus lineatus, com o relato de um novo


conjunto de papilas filiformes

Eveline de Cássia Batista de Almeida Alves(1)*; Maria Juliana Gomes Arandas(1); Igor Vinícios Pereira
Cunha(1) e Katharine Raquel Pereira dos Santos(2)

(1) Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Centro Acadêmico de Vitória de Santo Antão,
Universidade Federal de Pernambuco, PE – Brasil; (2) Núcleo de Biologia, Centro Acadêmico de Vitória
de Santo Antão, Universidade Federal de Pernambuco, PE - Brasil.

*Corresponding author. Email: evelinecassia27@hotmail.com


Palavras-chave: Anatomia, Papilas linguais

Introdução e a quantidade de papilas existentes, o que foi


Os filostomídeos (Phyllostomidae) comparado com as descrições feitas por
apresentam a maior diversidade trófica dentre as Gimenez (1993).
famílias da Ordem Chiroptera, compreendendo
diferentes guildas alimentares como carnivoria, Resultados e Discussão
frugivoria, folivoria, granivoria, nectarivoria, A anatomia lingual dos exemplares
onivoria e hematofagia (Peracchi et al. 2006). analisados segue o padrão descrito por Gimenez
A morfologia lingual dos morcegos se (1993) para a espécie. Os espécimes
diferencia de acordo com a dieta, estando apresentaram uma língua curta e larga, com a
relacionada ao modo de apreensão e à maneira região basal curta, onde são observadas papilas
como ingerem o alimento. Devido à presença filiformes basais longas e pouco numerosas. As
das papilas linguais que possuem formas e papilas valadas mediais internas são grandes e
funções diferenciadas a língua está diretamente achatadas, enquanto as papilas valadas laterais
ligada ao paladar, Dentre essas destacam-se as são de tamanho moderado, localizadas
papilas gustativas (valadas e fungiformes) e as posteriormente às mediais. Na região média, as
papilas filiformes mecânicas, classificadas como papilas filiformes mecânicas carnosas médio-
basais, carnosas médio-posterior, escamiformes posteriores são bífidas, voltadas anteriormente,
e córneas (Gimenez 1993). Essas estruturas, estando localizadas na região mais posterior. As
ainda pouco investigadas dentre os morcegos papilas mecânicas escamiformes monófilas
neotropicais, apresentam um grande potencial estão voltadas posteriormente, enquanto o
na elucidação de questões taxonômicas e conjunto de papilas córneas, agrupadas no
evolutivas (e.g. Gimenez et al. 1996). ápice, apresenta duas papilas maiores ao centro,
O presente trabalho tem como objetivo formando um arranjo irregular. Além das
descrever a morfologia lingual de P. lineatus (É. características descritas anteriormente, foram
Geoffroy, 1810) (Phyllostomidae, observadas em todos os exemplares analisados,
Stenodermatinae), relatando, a ocorrência de papilas filiformes carnosas médio-posteriores
uma nova estrutura anatômica, o que pode franjadas, voltadas para frente, logo após as
fornecer novos caracteres aplicáveis em estudos bífidas, prolongando-se até a região anterior da
ecomorfológicos, taxonômicos e evolutivos. língua, as quais não haviam ainda sido descritas.

Material e Métodos Conclusões


Neste trabalho foram analisadas as línguas Levando-se em consideração a
de seis espécimes de P. lineatus. Os espécimes aplicabilidade da morfologia lingual em estudos
foram coletados em fragmentos de Mata taxonômicos e evolutivos, faz-se necessário um
Atlântica, localizados no Município de Vitória estudo anatômico e histológico da variação da
de Santo Antão e de Sirinhaém, estado de ocorrência de papilas filiformes carnosas médio-
Pernambuco. posteriores franjadas ao longo da distribuição
Para o estudo anatômico, as línguas dos geográfica em P. lineatus. Essas futuras análises
espécimes foram extraídas na base, no nível da devem ser conduzidas visando esclarecer o
glote, preservadas em etanol 70 % glicerinado a potencial dessa estrutura na elucidação de
5%, e analisadas em microscópio questões taxonômicas e evolutivas no gênero
estereoscópico. Posteriormente, foram Platyrrhinus.
esquematizadas e descritas de acordo com a
região lingual, verificando a distribuição, o tipo Agradecimentos
100
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Ao IBAMA pelo apoio e concessão da


Licença Especial para Coletas; a Universidade
Federal de Pernambuco e aos laboratórios de
Biodiversidade, Biotecnologia e Fármacos da
Universidade Federal de Pernambuco, Centro
Acadêmico de Vitória de Santo Antão; à
Comissão Científica do EBEQ que revisou o
manuscrito.

Referências bibliográficas
Gimenez E.A. 1993. Morfologia lingual
comparada, filogenia e evolução dos hábitos
alimentares na Superfamília Phyllostomidae
(Mammalia: Chiroptera). Dissertação de
Mestrado em Ciências Biológicas (Zoologia)
da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, UNESP. Butucatu/SP.
Gimenez E.A; Ferrarezzi, H. e Taddei V.A.
1996. Lingual morphology and cladistic
analysis of the New World nectar-feeding
bats (Chiroptera: Phyllostomidae). Journal
of Comparative Biology 1(1-2):41-63.
Peracchi A.L.; Lima I.P.; Reis N.R.; Nogueira
M.R. e Ortêncio-Filho H. 2006. Ordem
Chiroptera. Em: Mamíferos do Brasil.
(Editado por Reis N.R.; Peracchi A.L.;
Pedro W.A. e Lima I.P.), pp.153-
230.Londrina.

101
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Classificação, quanto à família, dos espécimes de morcegos submetidos ao


diagnóstico da raiva no Instituto Pasteur, no período de 2007 a 2009.

Karin Corrêa Scheffer*, Rodrigo Fernandes Barros e Samira M. Achkar

Instituto Pasteur de São Paulo.

*Corresponding author. Email: ksferreira@pasteur.saude.sp.gov.br


Palavras-chave: Vírus da raiva, Vigilância epidemiológica

Introdução cães, cachorros do mato, raposas, guaxinins,


Dentre as espécies de mamíferos conhecidas, gambás, mangostas e morcegos de diferentes
os morcegos representam 24% e pertencem à espécies e hábitos alimentares (Kotait et al.
ordem Chiroptera, constituída por 1.113 2006).
espécies, que podem ser classificadas segundo O objetivo deste estudo foi classificar os
os hábitos alimentares (Reis et al. 2007). No diversos espécimes de morcegos recebidos para
Brasil, estão divididos em nove famílias e, diagnóstico da raiva, no laboratório do Instituto
aproximadamente, 165 espécies (Simmons Pasteur de São Paulo (IP-SP) e conhecer a
2005; Peracchi et al. 2006). positividade dos mesmos.
Os morcegos são animais com
características peculiares quando comparados Material e Métodos
com outros mamíferos, seja por sua vasta Todos os espécimes recebidos entre 2007 e
diversidade de hábitos alimentares, ou por sua 2009 foram submetidos às técnicas preconizadas
exímia capacidade de vôo. Estas características pela Organização Mundial da Saúde para
se tornam fundamentais se analisar a capacidade diagnóstico do vírus da raiva, quais sejam: (1)
de distribuição desses animais que são Imunofluorescência Direta (IFD): a partir do
encontrados mundialmente, exceto nas regiões sistema nervoso central (SNC) dos morcegos
polares e ilhas muito afastadas dos continentes suspeitos, foram preparadas 02 lâminas, as quais
(Taddei 1996). foram submetidas à técnica de IFD (Dean et al.
Esses animais exercem importante 1996), utilizando conjugado fluorescente anti-
contribuição para o equilíbrio natural vírus da raiva, produzido pelo IP-SP (Caporale
desempenhando atividades como polinizadores, et al. 2009) e (2) Isolamento Viral (IV): foram
disseminadores de sementes e controladores de preparadas suspensões a 20% (peso/volume) a
populações de insetos (Taddei 1996; Pedro et al. partir do SNC dos morcegos suspeitos, e
1995). Porém, podem transmitir diversas submetidas ao IV em cultivo celular, realizado
doenças, dentre elas a raiva (Baer e Smith em microplacas com 96 poços seguindo o
1991). protocolo descrito por Webster e Casey (1996),
A possibilidade dos morcegos com adaptações realizadas no IP-SP (Castilho et
desempenharem o papel de reservatório na al. 2007).
propagação do vírus da raiva foi pela primeira Amostras positivas foram inoculadas via
vez levantada por Carini (1911). Acreditava-se intracerebral em camundongos albinos suíços de
que somente os morcegos hematófagos eram 21 dias, com peso entre 11 e 14g, de acordo
responsáveis em disseminar o vírus, porém, na com a técnica preconizada por Koprowski
década de 50, após um incidente com um (1996), como contra prova e para
morcego insetívoro, os pesquisadores voltaram reprodutibilidade viral, para estudos genéticos,
suas atenções aos morcegos não hematófagos moleculares e epidemiológicos.
(Bigler et al. 1974). Todos os espécimes recebidos para
A raiva é uma zoonose transmitida por vírus diagnóstico foram identificados quanto à
pertencente à família Rhabdoviridae, gênero família, seguindo a chave visual, estabelecida
Lyssavirus e as principais formas de por Bredt et al. (2002). Quando o diagnóstico
transmissão são pela mordedura, lambedura foi positivo, os morcegos foram classificados
e/ou arranhadura de animal infectado (Baer e quanto à espécie, por análise morfológica e
Smith 1991). morfométrica, utilizando chave de identificação
Às Ordens Carnivora e Chiroptera de Vizotto e Taddei (1973) e Gregorin e Taddei
pertencem os principais reservatórios do vírus (2002).
da raiva e os principais transmissores são os
102
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

colônias apresentavam a infecção pelo vírus da


raiva (Baer 1975).
Resultados e Discussão Conforme o hábito alimentar, os morcegos
Entre 2007 e 2009, foi recebido um total de insetívoros foram os mais numerosos,
9.714 morcegos para diagnóstico laboratorial do totalizando 83 (56.85%) dentre os positivos,
vírus da raiva no IP-SP, os quais foram objeto fato previsível por serem estes morcegos os de
deste estudo. maior densidade demográfica em nosso meio
No ano de 2007, foram recebidos 2.976 (Taddei 1996). Entre os frugívoros, foram
morcegos, os quais pertenciam à família encontrados 52 (35.62%) positivos para raiva,
Molossidae (77.12%), Phyllostomidae (13.68%) sendo 100% do gênero Artibeus dividido nas
Vespertilionidae (8.42%) e Noctilionidae espécies A. lituratus, A. fimbriatus e A.
(0.13%). Não foi possível a identificação de obscurus, e todos os morcegos hematófagos
0.71% dos morcegos recebidos, devido ao (2.05%) foram identificados como Desmodus
avançado estado de decomposição. Em relação rotundus.
ao resultado das técnicas empregadas 45 Dentre os morcegos insetívoros, 28.92%
espécimes (1.51%) foram diagnosticados pertenciam ao gênero Myotis, 21.69% ao
positivos para raiva e 2.890 espécimes (97.1%) Eptesicus, 19.28% ao Nyctinomops, 12.05% ao
foram negativos. Os demais, 41 (1.68%) Molossus, 4.82% ao Lasiurus, 4.82% ao
estavam impossibilitados devido à forma de Eumops, 4.82% ao Histiotus e 3.61% ao
conservação impedir a realização das técnicas Tadarida. Estes morcegos possuem hábito
de diagnóstico. sinantrópico, fato compreensível, pois, os
Em 2008 foram recebidos 3.331 morcegos, mesmos foram enviados ao IP-SP para o
sendo que 80.10% eram da família Molossidae, diagnóstico da raiva, na maioria das vezes com
10.66% da Phyllostomidae, 8.68% da histórico de contato ou agressão às pessoas ou
Vespertilionidae e 0.69% morcegos se animais domésticos, ou foram capturados para
encontravam impossibilitados para a fins de vigilância epidemiológica, de ambientes
identificação. Os morcegos diagnosticados urbanos ou rurais.
positivos para raiva foram 42 (1.26%), 3225 Entre os principais sintomas da raiva em
(96.8%) eram negativos e 64 (1.92%) estavam morcegos hematófagos estão: atividade
impossibilitados para diagnóstico. alimentar diurna, agressividade, falta de
Em 2009, dos 3.407 morcegos recebidos, coordenação dos movimentos, tremores
74.46% pertenciam à família Molossidae, musculares e paralisia (Kotait et al. 1996). Nos
16.17% à Phyllostomidae, 8.86% à morcegos não hematófagos ocorre geralmente
Vespertilionidae e 0.50% dos morcegos não paralisia sem agressividade e excitabilidade, e
tinham condições de serem identificados. os animais são encontrados em locais não
Quanto aos resultados, 59 (1.73%) foram habituais (Baer 1991; Baer e Smith 1991). O
diagnosticados positivos para raiva, 3302 risco epidemiológico ocorre quando morcegos
(96.9%) eram negativos e em 46 (1.35%) o infectados pelo vírus da raiva são encontrados
diagnóstico ficou impossibilitado. com esses sintomas estando, portanto expostos à
Dentre os 9.714 morcegos recebidos no manipulação por humanos, ou mesmo por
laboratório do IP-SP, 146 (1.50%) reagiram animais com instinto de caça, como cães e
positivamente às técnicas de IFD e IV. Esta gatos.
proporção de reagentes positivos não pode ser Por exercerem importante ação no
interpretada como prevalência "real" da raiva ecossistema, somente morcegos com
em morcegos no Estado de São Paulo, pois, características suspeitas de estarem infectados
refere-se tão somente à prevalência "aparente" pelo vírus da raiva devem ser encaminhados,
dos testes de IFD e IV. De acordo com Baer por profissionais capacitados e imunizados, para
(1975), nos levantamentos realizados na década diagnóstico laboratorial.
de 1950 e 1960 nos Estados Unidos, a
prevalência aparente da raiva em morcegos não Conclusões
hematófagos era variável, porém usualmente O número de morcegos enviados ao
inferior a 1%. Ainda de acordo com os estudos laboratório do IP-SP para o diagnóstico do vírus
da década de 1950 realizados nos Estados da raiva vem aumentando ano após ano,
Unidos, a "prevalência" era variável conforme o demonstrando uma maior preocupação dos
hábito solitário ou gregário dos morcegos, pois, municípios do Estado de São Paulo em relação à
até 25% dos morcegos de hábito solitário foram vigilância epidemiológica nestas espécies.
encontrados positivos, enquanto que menos de Aproximadamente 77% dos morcegos
1% dos morcegos capturados de grandes recebidos pertencem à família Molossidae, fato
que pode ser explicado devido à facilidade de
103
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

adaptação ao meio urbano e à oferta de alimento Boletim Epidemiológico Paulista (BEPA)


decorrente de projetos paisagísticos e 4(47): 12-18.
urbanísticos, havendo deste modo, maiores Dean D.J.; Abelseth M.K. e Atanasiu P. 1996.
reclamações dos munícipes e Fluorescent antibody test. Em: Laboratory
consequentemente, mais capturas. techniques in rabies. (Editado por Meslin F-
A prevalência aparente dos testes de IFD e X; Kaplan M.M. e Koprowski H.), pp.88-
IV ficou em concordância com a literatura 93. Geneva, World Health Organization.
internacional. Gregorin R. e Taddei V.A. 2002. Chave
Os resultados encontrados no presente artificial para determinação de molossídeos
estudo demonstram a circulação do vírus da brasileiros (Mammalia: Chiroptera).
raiva nestas espécies, evidenciando a Mastozoologia Neotropical 9(1): 13-32.
importância das mesmas no ciclo Koprowski H. 1996. The mouse inoculation test.
epidemiológico da raiva. Assim, a necessidade Em: Laboratory techniques in rabies.
de envio para o laboratório de morcegos (Editado por Meslin F-X; Kaplan M.M.;
suspeitos, independente da família a qual Koprowski H.), pp.80-86. Geneva, World
pertença, se encontrados em locais e/ou horários Health Organization.
não habituais é reforçada por este estudo. Kotait I. 1996. Infecção de morcegos pelo vírus
da raiva. Boletim do Instituto Pasteur, São
Referências Paulo 1(2): 51-58.
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paralytic rabies. Em: The Natural History of Pedro W.A.; Geraldes M.P.; Lopez G.G. e Alho
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neuroblastoma de camundongo (N2A). Organization.

104
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Diversidade de morcegos da Reserva Biológica Córrego do Veado, Pinheiros,


Espírito Santo

Geovana A. Mendes(1)*, Sílvia R. Lopes(2), Monik Oprea(3) e Albert D. Ditchfield(1)

(1) Laboratório de Estudos de Quirópteros, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Espírito
Santo, Brasil; (2) Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Universidade Federal do Espírito
Santo, Vitória, Espírito Santo, Brasil; (3) Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás, Brasil.

*Corresponding author. Email: geovana.gam@gmail.com


Palavras-chave: Comunidades, Conservação, Mata Atlântica

Introdução pontos aleatórios em estradas e trilhas dentro da


Os morcegos representam aproximadamente reserva. Em cada noite, 10 redes de neblina (de
22% das espécies conhecidas de mamíferos no tamanhos entre 9 m de comprimento x 2,5 m de
mundo (Reis et al. 2007) e por partilharem altura e 15 m de comprimento x 2,5 m de altura)
recursos, em especial os alimentares, foram abertas pelo período de 12 horas após o
influenciam a dinâmica dos ecossistemas (Kunz pôr-do-sol e conferidas a cada 30 minutos. O
e Pierson 1994). Em levantamentos de esforço amostral foi calculado conforme Straube
mamíferos, esse grupo tende a ser um dos mais e Bianconi (2002).
ricos e abundantes da região Neotropical (Mills Os morcegos capturados foram colocados
et al. 1996) e apesar dos avanços nas pesquisas em sacos de pano individuais e depois foram
sobre morcegos (Kunz e Racey 1998), áreas obtidos os seguintes dados: espécie, idade,
extensas no Brasil ainda possuem pouco ou condição reprodutiva, medida de antebraço e
nenhum dado sobre a quiropterofauna local peso. O sexo e o estado reprodutivo foram
(Bianconi et al. 2004). O Espírito Santo possui observados através da apalpação do abdômen,
138 espécies de mamíferos, sendo 54 de da observação de leite nas mamas das fêmeas, e
morcegos (Moreira et al. 2008). Os trabalhos da observação da posição dos testículos nos
realizados no Espírito Santo exploram ampla machos (Kunz 1988). Os morcegos foram
diversidade de ambientes, como abrigos, ilhas, também marcados com coleiras plásticas do tipo
floresta Atlântica, restinga e áreas urbanas braçadeira com cilindros coloridos e soltos no
(Ruschi 1951; Ruschi 1952; Pedro e Passos mesmo local de captura, exceto os animais
1995, Passos & Passamani 2003, Oprea et al. coletados para espécie-testemunho. As
2009a, b). Ainda assim na região norte do recapturas não foram consideradas.
estado do Espírito Santo, há poucas amostragens A diversidade foi calculada utilizando o
de morcegos (e.g. Peracchi e Albuquerque Índice de Shannon-Wiener (H‘) e a divisão das
1993; Pedro e Passos 1995; Zórtea et al. 1998). guildas alimentares seguiu-se a classificação de
Nessa região está localizada a Reserva Kalko et al. (1996).
Biológica Córrego do Veado (18º 25‘ S, 40º 06‘
W), um fragmento de Mata Atlântica de 2.392ha Resultados e discussão
no município de Pinheiros, que possui 31 O esforço de captura foi de 7,128x104
propriedades rurais ao seu redor. Parte da área m2.h.rede, resultando em 185 capturas de
dessa reserva foi desmatada para o plantio de morcegos (incluindo três recapturas),
café e criação de pastos entre as décadas de 40 e representando 21 espécies de duas famílias: (a)
60 (IBAMA 2004). Hoje a ocorrência de Phyllostomidae - 2 Artibeus cinereus (Gervais,
queimadas naturais põe em risco sua 1856), 1 Artibeus fimbriatus (Gray, 1838), 86
biodiversidade (IBAMA 2004). Artibeus lituratus (Olfers, 1818), 6 Artibeus
Visando contribuir para o conhecimento das obscurus (Schinz, 1821), 2 Artibeus planirostris
espécies de morcegos da região norte do (Spix, 1823), 29 Carollia perspicillata
Espírito Santo, o presente trabalho buscou obter (Linnaeus, 1758), 1 Chiroderma villosum
dados sobre esse grupo na Reserva Biológica (Peters, 1860), 2 Chrotopterus auritus (Peters,
Córrego do Veado. 1856), 4 Desmodus rotundus (E. Geoffroy,
1810), 12 Glossophaga soricina (Pallas, 1766),
Material e Métodos 1 Lonchorrhina aurita (Tomes, 1863), 1
Entre outubro de 2008 e outubro de 2009, Lophostoma brasiliense (Peters, 1866), 1
foram realizadas 24 noites de capturas em Micronycteris megalotis (Gray, 1842), 8
105
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Micronycteris minuta (Gervais, 1856), 1 Mimon e aos funcionários da mesma pela ajuda e
crenullatum (E. Geoffroy, 1803), 5 compreensão; À Pâmella Machado Saguiah pela
Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767), 5 Sturnira ajuda em campo.
lilium (E. Geoffroy, 1810), 1 Uroderma
magnirostrum (Davis, 1968); (b) Referências
Vespertilionidae - 1 Eptesicus brasiliensis Bergallo H.G.; Esbérard C.E.L.; Mello M.A.R.;
(Desmarest, 1819), 1 Myotis Levis (I. Geoffroy, Lins V.; Mangolin R. e Baptista M. 2003.
1824), 15 Myotis nigricans (Schinz, 1821). Bat species richness in Atlantic Forest:
Filostomídeos tendem a dominar amostragens What is the minimum sampling effort?
de morcegos por serem os mais abundantes e Biotropica 35(2): 278–288.
diversos da região Neotropical (Bianconi et al. Bianconi G.V.; Mikich S.B. e Pedro W.A. 2004.
2004). Além disso, o método de captura Diversidade de morcegos (Mammalia,
utilizado nesse trabalho pode ter influenciado a Chiroptera) em remanescentes florestais do
baixa diversidade de famílias e alta abundância município de Fênix, noroeste do Paraná,
de frugívoros que se deslocam pelo sub-bosque Brasil. Revista Brasileira de Zoologia
e utilizam mais a visão do que a ecolocalização 21(4): 943–954.
(Kalko 1998; Straube e Bianconi 2002). Bordignon M.O. 2006. Diversidade de
As espécies mais abundantes foram A. morcegos (Mammalia, Chiroptera) do
lituratus (46,5% das capturas) e C. perspicillata Complexo Aporé-Sucuriú, Mato Grosso do
(15,67% das capturas). Esse resultado era Sul, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia
esperado, pois essas espécies são as mais 23(4): 1003–1009.
comuns na maioria dos inventários de morcegos Esbérard C.E.L. 2003. Diversidade de morcegos
(Bordignon 2006). A frequência de M. nigricans em área de Mata Atlântica regenerada no
(8,1% das capturas) e G. soricina (6,5% das sudeste do Brasil. Revista Brasileira de
capturas) pode ser conseqüência da abertura de Zoociências 5(2): 89–204.
redes próximas de abrigos e locais de Esbérard C.E.L.; Jordão-Nogueira T.; Luz J.L.;
alimentação. Melo G.G.S.; Mangolin R.; Nylce Jucá N.;
A diversidade de espécies para toda a área Raíces D.S.L.; Enrici M.C. e Bergallo H.
estudada (H‘= 0,82) é baixa, já que esta tende a 2006. Morcegos da Ilha Grande, Angra dos
ser próxima a H‘= 2,0 na maior parte da região Reis, RJ, Sudeste do Brasil. Revista
Neotropical, incluindo a Mata Atlântica Brasileira de Zoociências 8(2) 147–153.
(Esbérard 2003). Porém, quando comparamos a IBAMA. 2004. Reserva Biológica Córrego do
riqueza de espécies encontrada com a de outros Veado. 2006. Disponível em
trabalhos em Mata Atlântica com mais noites de <http://www.ibama.gov.br/siucweb/mostra
coleta, observamos número equivalente ou Uc.php?seqUc=2>. Acesso em 03/05/2008.
superior. Áreas com 45 e 89 noites de coleta, Kalko E.K.V. 1998. Organization and diversity
por exemplo, registraram 18 e 20 espécies, of tropical bat communities through space
respectivamente (e.g. Bergallo et al. 2003). O and time. Zoology 101: 281–297.
esforço de coleta tende a influenciar a riqueza Kalko E.K.V.; Handley C. e Handley D. 1996.
de espécies, que pode ser maior quando Organization, diversity and long term
realizadas mais noites de capturas (eg. Bergallo dynamics of a Neotropical bat community.
et al. 2003; Esbérard 2003; Esbérard et al. Em: Long-term studies in vertebrate
2006). Maior número de capturas é necessário communities. (Editado por Cody M. e
para estimar com precisão a riqueza da área Smallwood J.), pp. 503–553. Los Angeles,
estudada. Academic Press.
Kunz T.H. 1988. Ecological and behavioral
Conclusões methods for the study of bats. Washington,
Nossos dados indicam que a Reserva Smithsonian Instituition Press.
Biológica Córrego do Veado pode abrigar Kunz T.H. e Pierson E.D. 1994. Bats of the
considerável riqueza de espécies de morcegos. World: an introduction. Em: Walker‘s bats
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da área estudada podem ser importantes para a Kunz T.H. e Racey P.A. 1998. Bat biology and
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Institution Press.
Agradecimentos Mills D.J.; Norton T.W.; Parnaby H.E.;
Agradecemos ao chefe da Reserva Biológica Cunninghan R.B. e Nix H.A. 1996.
Córrego do Veado, José Maria de Assis Poubel, Designing for microchiropteran bats in
106
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

complex forest landscapes - a pilot study de neblina. Chiroptera Neotropical 8: 150–


form south-east Australia. Ecology and 152.
Management 85(1–3): 149–161. Zortéa M.; Gregorin R. e Ditchfield A.D. 1998.
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do Itapemirim e de Itaúnas, em Morro
d‘Anta, em Conceição da Barra. Grutas de
inverno, verão e acidentais. Cohabitação. O
banho. Morcegário e criação em cativeiro.
Pesquisas sobre Corpúsculos de Negri.
Boletim do Museu de Biologia Professor
Mello Leitão, Série Zoologia 9A: 1–93.
Straube F.C. e Bianconi G.V. 2002. Sobre a
grandeza e a unidade utilizada para estimar
esforço de captura com utilização de redes
107
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Quiropterofauna da Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais, Brasil

Maria Clara do Nascimento(1)*, Gisele Lessa(1) e Rodolfo Stumpp(1)

Museu de Zoologia João Moojen, Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal de Viçosa.

*Corresponding author. Email: clarinha_bio@yahoo.com.br


Palavras-chave: Mata Atlântica, Levantamento, riqueza de espécies

Introdução Assim, considerando a importância dos


Os morcegos apresentam uma condição morcegos na manutenção de fragmentos
ímpar como objeto de estudo, devido a sua florestais e a constante pressão antrópica que
diversidade elevada, distribuição ampla e por esses últimos sofrem, estudos que venham
serem os únicos mamíferos capazes de vôo ativo contribuir para o conhecimento dos quirópteros
(Anderson e Jones 1984; Wilson e Reeder são de extrema importância para fins de
2005). Há de se destacar que, por serem tão conservação. Dessa forma, o presente trabalho
diversos, abundantes, e biologicamente visa contribuir para o conhecimento da
complexos, são criticamente importantes nas quiropterofauna da EPTEA Mata do Paraíso,
comunidades tropicais pelos inúmeros papéis uma vez que estudos a respeito dos quirópteros
que desempenham (Nowak 1991). À medida dessa região são escassos e incipientes.
que partilham os recursos, em especial os
alimentares, os quirópteros influenciam na Material e Métodos
dinâmica dos ecossistemas naturais, agindo A Estação de Pesquisa, Treinamento e
como dispersores de sementes, polinizadores e Educação Ambiental (EPTEA) Mata do Paraíso
reguladores de populações animais (Ridley situa-se no Município de Viçosa, ao norte da
1930; Van Der Pijl 1957). Além de se Zona da Mata Mineira. Abrangendo uma área
apresentarem como indicadores na identificação de 194 hectares a EPTEA Mata do Paraíso faz
dos processos biológicos envolvidos na perda parte do maior fragmento de Mata Atlântica do
ou transformação do hábitat natural e bom município, fragmento este cuja área é de
material de estudo sobre diversidade (Fenton et aproximadamente 384 ha (Pereira et al. 2001).
al. 1992). O clima apresenta verões quentes e chuvosos e
Nesse contexto, há de se ressaltar a Mata invernos frios e secos (Vianello e Alvez 1991).
Atlântica, um dos biomas mais ricos do mundo, A vegetação natural da EPTEA Mata do Paraíso
representando cerca de 8% da biodiversidade do faz parte do domínio da Mata Atlântica (Rizzini
planeta, incluindo um elevado número de 1992). Trata-se de um fragmento de Floresta
espécies endêmicas (MMA 2000; Galindo-Leal Estacional Semidecidual Submontana, com
e Câmara 2003). Apesar de apresentar mais estágio de médio a Gonçalvesavançado da
áreas protegidas do que qualquer bioma da sucessão secundária, formando mosaicos de
América do Sul, o alto grau de endemismos e a vegetação, indo de capoeiras a matas mais
acentuada devastação e fragmentação fazem da densas (Veloso et al. 1991; Paglia et al. 1995).
Mata Atlântica um dos ecossistemas mais Nesse trabalho foram amostrados três sítios de
ameaçados do mundo (Mittermeier et al. 2004). coletas: mata secundária, capim/pasto e
Na região do município de Viçosa existem capoeira.
vários fragmentos de Mata Atlântica, sendo a Para a amostragem das espécies de
Estação de Pesquisa, Treinamento e Educação morcegos ocorrentes na Mata do Paraíso foram
Ambiental (EPTEA) Mata do Paraíso parte realizadas seis campanhas no período de
integrante do maior fragmento de Floresta novembro de 2007 a outubro de 2008,
Semidecidual Altimontana de Viçosa (Ribon totalizando 14 noites e um esforço amostral total
2005). Diversos estudos relacionados a de 4710,75 h.m2. Redes de neblina de sete e
pequenos mamíferos não-voadores foram nove metros foram armadas próximas a fontes
realizados neste fragmento (Griffith et al. 1979; de alimento, corpos d‘água e rotas de vôo,
Paglia et al. 1995; Gonçalves 1999; Gonçalves mantidas abertas do pôr-do-sol a meia-noite,
2001; Dângelo 2007; Stumpp 2008). Mas sendo vistoriadas a cada 20 minutos.
apenas um estudo relacionado à comunidade de Preferencialmente, as coletas foram realizadas
morcegos foi desenvolvido (Oliveira 1996). na lua nova ou minguante, para evitar o efeito
da fobia lunar e maximizar o sucesso de captura

108
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

(Reis e Muller 1995; Reis et al. 1995). Os Das espécies capturadas, apenas Sturnira
animais coletados foram tombados na coleção lilium teve ocorrência registrada nas três áreas
mastozoológica do Museu de Zoologia João amostradas, sendo 8,83% dos espécimes
Moojen, da Universidade Federal de Viçosa. capturados no pasto, 23,52% na capoeira e
Os dados de pluviosidade e temperatura 67,65% na mata secundária. As espécies A.
foram coletados e fornecidos pela Estação lituratus, A. fimbriatus, C. perspicillata, M.
Meteorológica da Universidade Federal de nigricans e P. lineatus ocorreram nas áreas de
Viçosa. capoeira e mata secundária. Anoura caudifer, H.
A partir dos dados coletados foi estimada a velatus e P. hastatus só foram registrados na
riqueza de espécies pelo método Jacknife de 1ª mata secundária, enquanto P. bilabiatum e M.
ordem utilizando o programa EstimateS versão molossus, ocorreram exclusivamente na área de
8.2.0 (Colwell 2005). A unidade amostral capoeira.
utilizada foi cada rede armada. Em comparação com estudo realizado na
mesma área (Oliveira 1996), não foi registrada a
Resultados e Discussão presença de Anoura geoffroyi, Eptesicus
Em 14 noites de amostragem foram brasiliensis e Platyrrhinus recifinus. Dentre
capturados 146 morcegos, pertencendo a três estas três espécies, Platyrrhinus recifinus se
famílias e 11 espécies: Molossidae 1 Molossus encontra na Lista Brasileira de Mamíferos
molossus (Pallas 1766) (n = 1), Phyllostomidae Ameaçados de Extinção (2008), dentro da
Anoura caudifer (É. Geoffroy 1818) (n = 3), categoria Vulnerável (VU), e na Lista da Fauna
Artibeus fimbriatus (Gray 1838) (n = 8), Ameaçada de Minas Gerais como ―Espécie
Artibeus lituratus (Olfers 1818) (n = 47), quase ameaçada‖. Não se tem dados para
Carollia perspicillata (Linnaeus 1758) (n = 17), afirmar que tal espécie foi extinta no fragmento
Phyllostomus hastatus (Pallas 1767) (n = 2), em estudo, no entanto a hipótese de que a
Platyrrhinus lineatus (È. Geoffroy 1810) ( n = população dessa espécie tenha sofrido um
8), Pygoderma bilabiatum (Wagner 1843) (n = declínio em consequência da ação antrópica
3), e Sturnira lilium (È. Geoffroy 1810) (n = 34) sobre o fragmento, mesmo que essa tenha sido
e Vespertilionidae Histiotus velatus (I. Geoffroy controlada e reprimida nos últimos anos.
1824) (n = 1) e Myotis nigricans (Schinz 1821) A ausência de E. brasiliensis pode ser em
(n = 21). Anoura caudifer, A. fimbriatus, C. parte explicada pelo fato de que essa espécie
perspicillata, H. velatus, M. molossus e P. insetívora captura suas presas em alturas
hastatus constituem registros novos para o variáveis entre 17 e 30 m, não tendo sido
fragmento. capturada em redes armadas ao nível do solo
As espécies dominantes nesse estudo foram: (Voss e Emmons 1996; Bernard 2001; Sampaio
S. lilium (23,29%), C. perspicillata (11,64%), et al. 2003). Dessa forma sugere-se o uso de
M. nigricans (14,38%) e espécies do gênero metodologias alternativas como harptrap e
Artibeus (37,67%). Essas espécies também são busca ativa em abrigos para se amostrar
relatadas como dominantes em vários espécies mais difíceis de captura em redes e
inventários realizados não apenas na Mata assim complementar a lista de espécies de
Atlântica, mas em outros biomas brasileiros, quirópteros da EPTEA Mata do Paraíso.
sendo consideradas comuns e amplamente O baixo índice de captura para A. caudifer e
distribuídas em todo o território nacional a ausência de A. geoffroyi pode ser explicado
(Koopman 1981). pela ausência de redes armadas próximas a
Outro fato que merece destaque é a inflorescências, uma vez que estas espécies são
predominância de espécies pertencentes à nectarívoras. Em trabalho realizado por Aguiar
família Phyllostomidae, que representou 78,6% et al. (1987), o gênero Anoura representou
das espécies nesse trabalho, o que já era apenas 1,15% das capturas, também muito
esperado, pois nesta família se incluem espécies pouco em relação às outras espécies no local.
mais comuns em inventários de quirópteros No entanto é necessário ressaltar que o
(Stallings et al. 1991; Passos et al. 2003, presente estudo e o realizado por Oliveira
Esbérard 2003; Dias e Peracchi 2008). Talvez (1996) foram complementares e que é
essa predominância também seja reflexo da interessante coletar em diferentes estações, mas
metodologia utilizada, de redes-de-neblina também ao longo do tempo para se ter um
armadas próximo ao solo, que favorece a conhecimento da composição e da dinâmica das
captura de filostomídeos, em detrimento de populações (Patterson 2002).
outras famílias (Pedro 1998). Além disso, A curva cumulativa de espécies apresentou
filostomídeos não apresentam uma boa uma tendência à estabilização e o estimador de
capacidade de detectar redes (Sekiama 2003). riqueza Jackknife1 indicou que a riqueza total
para a EPTEA Mata do Paraíso seria composta
109
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

por 13 espécies (Desvio padrão = 1,36), Dângelo R.A.C. 2007. Variação Sexual e Etária
sugerindo então que o esforço amostral em caracteres cranianos de Oligoryzomys
realizado foi satisfatório. No entanto, coletas nigripes Olfers, 1818 (Rodentia,
adicionais devem ser realizadas na EPTEA Sigmodontinae) provenientes de Viçosa,
Mata do Paraíso, acrescentando novas Minas Gerais. Monografia (Graduação em
metodologias de captura, para assim Ciências Biológicas) – Universidade Federal
complementar os estudos já realizados para a de Viçosa, Viçosa, 1: 1-31.
área. Dias D. e Peracchi A.L. 2008. Quirópteros da
Reserva Biológica do Tinguá, estado do Rio
Conclusões de Janeiro, sudeste do Brasil (Mammalia:
Para a Estação de Pesquisa Treinamento e Chiroptera). Revista Brasileira de Zoologia,
Educação Ambiental da Mata do Paraíso eram 25 (2): 333–369.
conhecidas oito espécies de morcegos. O Esberárd C.E.L. 2003. Diversidade de morcegos
presente trabalho incrementa essa lista com em área de Mata Atlântica regenerada no
mais seis espécies, portanto atualmente a sudeste do Brasil. Revista Brasileira de
quiropterofauna do fragmento conta com 14 Zoociências, 5 (2): 189-204.
espécies, com os primeiros registros de A. Fenton M.B.; Acharya L.; Audet D.; Hickey
caudifer, A. fimbriatus, C. perspicillata, H. M.B.C.; Merriman C.; Obrist M.K. e Syme
velatus, M. molossus e P. hastatus. D.M.. 1992. Phyllostomid bats (Chiroptera:
A curva cumulativa de espécies mostrou Phyllostomidae) as indicators of habitat
tendência a estabilizar, no entanto, recomenda- disruption in the Neotropics. Biotropica,
se que novas coletas sejam feitas na EPTEA Washington, 24 (3): 440-446.
Mata do Paraíso a fim de se ter um melhor Galindo-Leal C. e Câmara I.G. 2003. Atlantic
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111
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

A influência do ensino e aprendizagem na formação de conceitos sobre morcegos


entre alunos de 5a e 6a séries em Vitória de Santo Antão, Pernambuco

Teone Pereira da Silva Filho(1,2)*, Luiz Augustinho Menezes da Silva(2), Roseli Rodolfo da Silva(1,2),
Paloma Joana Albuquerque de Oliveira(1,2), Jarcilene do Carmo Tomaz de Oliveira(1,2), Emmanuel
Messias Vilar Gonçalves da Silva(1,2) e Meiriane Tamiris Sena da Cunha(1,2)

(1) Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Núcleo de Biologia, Centro Acadêmico de Vitória,
UFPE; (2) Grupo de Estudos de Morcegos no Nordeste (GEMNE).

*Corresponding author. Email: teonecobain@hotmail.com


Palavras-chave: Educação ambiental, Mitos, Percepção

Introdução que pensam os alunos de 5ª e 6ª séries sobre os


morcegos no intuito de reformular os conceitos
Morcegos representam uma fauna
distorcidos sobre esta fauna.
diversificada com ampla ocorrência, estão em
quase todo o planeta, exceto em locais muito
Material e Métodos
frios e algumas ilhas, compreendendo cerca de
A pesquisa ocorreu no município de Vitória
1.120 espécies e 202 gêneros (Simmons 2005),
de Santo Antão, zona da mata, centro de
no Brasil representa a segunda maior ordem de
Pernambuco, em duas escolas, uma da rede
mamíferos (Reis et al. 2007) é a única do grupo
pública e uma da rede particular, nos turnos
com uma grande riqueza nas áreas urbanas,
manhã e tarde, em turmas de 5ª e 6ª séries. Foi
sendo reconhecidas 63 espécies (Lima 2008).
solicitado aos alunos que escrevessem uma
Apresentam hábitos noturnos e por certas
redação cujo tema era ―Escreva o que vocês
espécies habitarem construções humanas e
sabem sobre morcegos‖, não havendo
consumirem plantas e insetos que vivem nas
intervenção dos educadores na elaboração dos
cidades estão em constante interação com o
textos para não interferir no conhecimento
homem.
descrito pelos alunos. Os questionamentos
A aparência atípica não ajuda a criar nas
levantados durante a elaboração das redações
pessoas uma simpatia por estes voadores
foram registrados, respondidos e discutidos em
noturnos, sendo assim envolvidos por vários
um segundo momento. Neste, foi realizada uma
mitos, além disso, os morcegos são descritos na
aula expositivo-dialogada sobre morcegos
maioria das vezes pela mídia como animais
abordando seus principais assuntos (conceito,
ofensivos, e por meio de lendas e mitos
distribuição, diversidade, morfologia, mitos e
repassados de gerações a gerações a má fama
lendas, ecologia, reprodução, importância
desses animais se amplia. A mais clássica lenda
positiva e negativa, curiosidades entre outros)
é a do Drácula trazendo uma carga ainda mais
utilizando painéis e animais fixados. Em
negativa ao grupo (Drummond 2004), levando a
seguida foi solicitada uma segunda redação no
crer que todos os morcegos se alimentam de
intuito de saber quais dos conceitos tiveram
sangue e são organismos ferozes. Essa má
mais ênfase, como complemento educativo
interpretação influencia na sua preservação visto
foram realizadas exposições em feiras de
que as lendas e mitos acabaram denegrindo a
conhecimento.
verdadeira função deles no meio ambiente, o
que impede um comportamento responsável da
Resultados e Discussão
população no sentido da preservação desses
Foram escritas e analisadas 430 redações,
animais (Andrigueto e Cunha 2004; Scavroni et
241 pré-testes e 189 pós-testes, obtendo
al 2008). Algumas espécies comem toneladas de
informações referentes à: conceito (n = 216),
insetos por ano, fazendo assim um rigoroso
comportamento (n = 171), dieta (n = 220),
controle de população, e os frugívoros realizam
abrigo (n = 114), mitos (n = 107) e importância
a dispersão das sementes tornando-os principais
dos morcegos (n = 67). Em ambas as etapas, o
responsáveis pela regeneração de florestas
tema conceito foi o mais abordado. Os conceitos
degradadas. Dessa forma as campanhas
descritos tinham caráter afetivo: ―Eles não são
educativas a respeito desses animais são de
tão feios assim, ―o morcego é um bicho muito
extrema importância para minimizar os efeitos
interessante‖, nocivo ―Transmitem doenças,
negativos. Por esse motivo buscou-se saber o
112
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

como a raiva‖, desprezível ―O morcego é uma


coisa que fica de cabeça para baixo;‖
classificativo: ―Único mamífero voador de todo Conclusões
o mundo‖ e morfológico.‖ ―Os morcegos são A grande falta de informação sobre um
pretos e voam‖. Do ponto de vista popular os determinado grupo biológico pode causar uma
morcegos são tratados como uma fauna significativa diminuição de sua população, no
desprezível associados a ―insetos‖ (e.g. Costa caso os morcegos são extremamente atingidos
Neto e Pacheco 2004). pela ausência de informação ou o excesso dela
Foram citados 24 itens referentes à dieta, que neste último caso vem sendo passada pela
sobressaindo sangue e fruta, esta informação mídia de uma forma extremamente negativa
destacou-se na segunda etapa, com aparição de causando conseqüentemente um grande
novos itens, como néctar. Com relação às preconceito de várias culturas em relação a estes
informações sobre abrigos, as cavernas (n = 43; animais.
48,31%) destacaram-se na primeira fase. Fez-se necessário à presença de esquemas de
Posteriormente este item voltou aparecer, porém sensibilização que estreitaram a relação dos
as casas (n = 28; 43,08%) foram citadas com estudantes com estes animais, mostrando o
grande incidência como abrigos antrópicos, porquê da preservação da quiropterofauna. A
sendo um indicativo de uma associação entre a partir das aulas expositivas e discussão com os
população e os morcegos urbanos, estes últimos alunos pôde-se notar que conhecimentos
devido à degradação do meio ambiente vêm distorcidos ou fantasiosos acerca desses animais
colonizando as áreas urbanas onde atualmente foram substituídos por conceitos que condizem
há registros de 63 espécies (Lima 2008). com a biologia, morfologia, ecologia entre
Mito esteve presente na segunda fase, apesar outros. É necessário ressaltar que as pesquisas
do esforço dedicado na etapa de envolvendo mudança conceitual mostram que
conscientização, onde a expressão que mais concepções globais nunca mudam de uma vez,
apareceu foi ―morcegos são ratos modificados‖ mas gradualmente, através de mudanças de
(n = 16; 41,03%), esta associação pode ser conceitos particulares, provando a importância
verificada no significado do nome morcego das campanhas educativas acerca de temas
(rato cego), sendo reforçada pelo aspecto desconhecidos e taxados negativamente.
morfológico de algumas espécies (Molossidae)
semelhantes a ratos (Biedermann 1993), esta Agradecimentos
impregnação de um mito deve estar associada às Aos diretores e demais funcionários das
informações passadas de geração a geração. Na escolas onde foram realizadas as atividades;
primeira etapa o mito que prevaleceu foi Aos integrantes do GEMNE pelo auxílio no
―morcegos são vampiros‖ (n = 11; 58,97%) trabalho.
visto que a hematofagia e a lenda do Drácula
são os mais representados no conhecimento de Referências
diferentes populações a respeito de morcegos, Andriguetto A.C. e Cunha A.M.O. 2004. O
sendo o medo do vampirismo um dos pontos papel do ensino na desconstrução de mitos e
destacados para a perseguição dos morcegos crendices sobre morcegos. Rev eletr. Mest.
(Esberard et al. 1996). O imaginário popular, Educ. Ambient. 12: 123-134.
quando morcegos são o assunto, havendo um Biedermann H. 1993. Dicionário ilustrado de
sentimento de repúdio e uma concepção símbolos. Companhia melhoramentos, São
carregada de símbolos e relacionada a vampiros Paulo.
(Andrigueto e Cunha 2004) em alguns casos Costa Neto E.M. e Pacheco J.M. 2004. A
encaram morcegos como feios e maus, mesmo construção do domínio etnozoológico
desconhecendo-os (Scavaroni et al. 2008). ―inseto‖ pelos moradores do povoado de
A importância positiva destacou-se na Pedra Branca, Santa Terezinha, Estado da
segunda etapa, aparecendo em 61,53% (n = 32) Bahia, Acta Scientiarum. Biological
das redações, em relação a etapa anterior (n = 1; Sciences 26(1): 81-90.
1,03%), o inverso ocorreu para o negativo (n = Donato C.R.; Santos M.; Oliveira A.G.A.;
96; 98,96%) e (n = 20, 38,46%) antes e depois Campos D.R. e Dantas M.A.T. 2009.
respectivamente, isso reforça a importâncias dos Conscientização dos alunos da Escola
trabalhos de educação ambiental na conservação Municipal Maria Ione Macedo Sobral
das espécies de morcegos (Donato et al 2009). (Laranjeiras, Sergipe) sobre os morcegos e
Referente ao item conceito os morcegos sua importância ecológica. Scientia Plena
deixaram de ser citados como nocivos (n = 52, 5(9): 1-4.
27,51%) para serem classificativos (n = 62, Drumond S.M. 2004. Morcegos - Verdades e
39,24%). Mitos. Uma análise acerca do conhecimento
113
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

sobre os morcegos na sociedade: folclore, Reis N.R.; Shibatta O.A.; Peracchi A.L.; Pedro
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114
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Biological characteristics of Molossus molossus (Pallas, 1766) bats sent to rabies


laboratory diagnosis

Rodrigo Fernandes de Barros, Samira M. Achkar and Karin Corrêa Scheffer*

Institute Pasteur - São Paulo, Brazil

*Corresponding author. E-mail: ksferreira@pasteur.saude.sp.gov.br


Keywords: Insectivorous bats, Molossus molossus, Rabies

Introduction
Urban environment is propitious atmosphere Material and Methods
for many species of bats, especially the The samples used in this study were sent to PI-
insectivore‘s food habits, due to favorable SP from August to December 2009, and came
conditions, such as food offer and shelter, from 78 cities of the São Paulo state.
factors which increase the possibility of Each specimen was identified according to
reproduction and the consequent increase in the criteria established by Vizotto and Taddei
population of certain species (Bredt et al. 1998). (1973) and Gregorin and Taddei (2002), and
The insectivore bat Molossus molossus is one of had the following characteristics recorded:
these species (Silva et al. 1996; Bredt and Uieda forearm length, sex, weight, age class, and
1996). It occurs in South Florida (USA), reproductive stage. Males were classified as
Caribbean, and Latin America, with most sexually active (scrotal testicles) or inactive
austral records in the north of Argentina (Dolan (abdominal testicles), and females as sexually
1989). In Brazil this species is widely inactive, pregnant, or lactating (Marques 1986).
distributed, occurring in all biomes (Reis et al. Testicle position was identified by external
2007). macroscopical visualization, and pregnancy was
Molossus molossus species have, as determined by palpation of the abdominal
anatomical characteristics, the reduced size, region. Lactating females were identified by the
with approximately 8 cm long and 20 cm presence of milk or white areas visible below
wingspan, and the length of the forearm varies the skin around nipples (Marques 1985).
of 38.0 to 41.0 mm (Taddei 1976). Its dorsal Forearms measurements were taken with a
coat is velvety and the color varies from brown digital caliper to the nearest 0.1 mm and weighs
to black, some individuals may have a reddish- were obtained in a digital analytical balance.
brown. The ventral coat is slightly lighter than Young and adults were recognized based on the
the dorsal. The ears are roundly and united by a ossification of the phalangeal epiphyses tooth
median line on the head. The antitragus is oval wear, or by reproductive activity (Taddei et al.
and well developed (Reis et al. 2007). 1998).
Due to their feeding habits, M. molossus
may play an important ecological role in urban Results and Discussion
environments, contributing to the control of From August to December 2009, 1553 bats
nocturnal insect populations that are frequently were sent for rabies diagnosis to PI-SP,
attracted to street lights (Uieda et al. 1995). The belonging to 41 species and three families:
close proximity with humans in urban areas, Molossidae (80%), Vespertilionidae (11%) and
however, may also bring inconveniences, such Phyllostomidae (9%).
as noise, excrement accumulation, unpleasant Molossus molossus was the most common
odor, and, especially, the epidemiological risk species, with 705 individuals, correspond to
of disease transmission, including 45.4% of the total samples. Only two specimens
histoplasmosis and rabies (Almeida et al. 1994). within thesse samples were positive for rabies,
In this context, it is important to know basic one from Campinas city and the other from
biological characteristics of M. molossus in Paulínia, in the State of São Paulo.
urban areas, providing support for eventual Due to the increase of positives rabies cases
management and sanitary programs. The in insectivorous bats in São Paulo state,
purpose of this study is to improve such epidemiological surveillance actions were
knowledge, reporting data from samples of M. intensified. During the period of this study, the
molossus sent to Pasteur Institute of São Paulo predominance of M. molossus sent for diagnosis
(PI-SP) for laboratorial diagnosis of the rabies increase during November and December
virus. months, since that species presents seasonal
fluctuations, with a fall in the number of their
115
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

population during the winter and formation of the birth in early summer. Perhaps, the number
big colonies in warm periods (Kotait 2005). of pregnancies females in August was not
The large supply of food is also greater observed, since the fetuses were still in the early
when temperatures are higher, favoring stages of development.
movements of animals in shelters and outside The females in lactation period were
them, and consequently, the increase of observed in October (14.29%), November
vocalizations and the accumulation of (38.10%) and December (47.62%). Esbérard
excrement in shelters. These factors increase the (2002), studying reproduction of Molossus rufus
possibility of contact with human population (E. Geoffroy, 1805) in south-east of Brazil,
and, consequently, causing discomfort, being found lactant females between October and
that people look for the responsible organization February, agreement with the data of this study.
that capture bats to send for laboratorial Marques and Fabián (1994), after to study
diagnosis, to carry out the rabies surveillance Tadarida brasiliensis (I. Geoffroy, 1824)
vigilance (Carvalho 2008; Figueredo 2003; females in the south of the country, found an
Sodré et al. 2003; Bredt 2003; Bredt et al. 1998; increase in the number of pregnancy between
Silva et al. 1996; Taddei 1983). September and December, months that
In a study realized by Cunha et al (2006), correspond to the spring and summer, warmer
Molossus bats are the most frequently species period of the year, when insects are most
diagnosed with rabies virus. Uieda et al. in abundant (Vicente 1997). Already low body
1995, studying rabies cases of the south-east of weight of lactating female would be by force
Brazil, related that of 13 molossids bats suffered by them during the lacting period.
positives for rabies, 1 (7%) was M. molossus. Second Fabián and Marques, the births occurs
From 409 (58%) males analyzed, 175 were between the end of November and the first half
young (43%), which had an average of forearm of December, in others words, in the end of
of 36.53 mm, weighing 9.50 g. Inactive adults spring (Fábian and Marques 1996).
were 123 (30%), with 37.99 mm of the forearm During the period studied, it was observed a
and weight of 11.91 g. Scroted male were 111 higher number of young males, in November
(27%) with forearm measure of 38.77 mm and (24%) and December (73,7%), and females, in
13.10 g of weight. November (15%) and December (78,6%).
From 296 (42%) females, 140 (47%) were Pacheco et al. (1994) studied big colonies of
young, with 36.10 mm of forearm and 9.28 g of molossids, observing that many young bats fly
weight. Adult females accounted for 71 (24%), inside urban shelters during the summer,
with 37.95 mm of forearm and 11.64 g of causing a big movement and vocalization. This
weight. Pregnant were 64 (22%), with 37.70 can be the explication of the major sending of
mm forearm and 14.56 g of weight. Lactating young animals for laboratory diagnosis.
were 21 (7%), with 37.45 mm of forearm and
weighing 10.77 g. Conclusions
This results showed that the number of Most specimens received by the PI-SP for
sexually active males was 27% of all males rabies diagnosis belong to Molossidae family,
analyzed, with increase during August (9.9%), and within this family there is a predominance
September (17.1%), October (34.2%), of Molossus molossus. There is also a
November (18%) e December (20.7%), period predominance of males over females.
that corresponding of the ended winter/spring The number of males and pregnancy females
and beginning of summer. were bigger, especially between November and
Pacheco (2000) studied the same specie in December.
Rio Grande do Sul state, finding males The number of sexually active males, as well
presenting epididymal sperm during all seasons as the number of pregnant females increased,
of the year, with increase in September, between August and December, with increase in
October, November and December. On the October.
other hand, Fabián and Marques (1989), that Pregnancy females studied in August was
studying the reproductive biology of M. not realized by felted fetus, being possible this
molossus in Ceará state, found sexually active observation from September.
males over almost the entire year in that region. The number of specimens captured of M.
The females received between September molossus is mostly young, fact which may be
and December have pregnancy, with weight due to its proximity to the human population,
gain and felted fetus, being 1.5% in September, reducing the population growth factors of that
65.6% in October, 17.1% in November and species in urban areas.
15.6% in December, agreement with the finding From the results of this study, is expected to
of Fabián and Marques (1989), that observed have a better understanding of dynamics
116
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

population of the bats specimens sent to rabies Fabián M.E. and Marques R.V. 1989.
laboratory diagnosis, promoting the Contribuição ao conhecimento da biologia
development of new strategies for control of reprodutiva de Molossus molossus Pallas,
these animals for epidemiological surveillance 1766 (Chiroptera, Molossidae). Revista
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118
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Diversidade ectoparasitológica em morcegos na Fazenda Marambaia, Rio de


Janeiro, RJ, Brasil

Juliana Almeida(1,2,4)*, Shirley Silva(2,4), Nicolau Serra-Freire(1,4) e Adriano Peracchi(3,4)

(1) Laboratório de Ixodides, Departamento de Entomologia, Instituto Oswaldo Cruz; (2) Instituto
Resgatando Verde; (3) Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; (4) Projeto Inquérito
Ectoparasitológico nos Quirópteros que ocorrem em área de Mata Atlântica no município do Rio de
Janeiro, Brasil

*Corresponding author. Email: julianaallmeida@gmail.com


Palavras-chave: Streblidae, Spinturnicidae

Introdução seu ciclo de vida, os espinturnicídeos se


Das sete ordens com cerca de 6.000 espécies alimentam de sangue e são adaptados para uma
de ectoparasitos de vertebrados endotérmicos, existência permanente nos patágios, que são
aproximadamente 700 parasitam quirópteros. seus principais habitats. Os ácaros
Esses parasitos estão distribuídos por todos os espinturnicídeos do gênero Periglischrus são
grupos conhecidos de ectoparasitos (exceto os altamente associados com morcegos
Phthiraptera). O ectoparasito de morcegos neotropicais da família Phyllostomidae
mantém especificidade, mesmo assim os (Rudnick 1960; Machado-Allison 1965 1967;
estudos sobre eles podem fornecer dados Furman 1966; Herrin e Tipton 1975). De 22
importantes e auxiliar no entendimento de certas espécies de espinturnicídeos analisadas por
epizootiologia, por terem papel fundamental na Herrin e Tipton (1975), 21 foram reportadas
manutenção e disseminação de bioagentes entre quase que exclusivamente a morcegos desta
morcegos. Segundo Whitaker (1998), os família.
artrópodes ectoparasitos em morcegos A região denominada Fazenda Marambaia,
pertencem às ordens de insetos Siphonaptera, com aproximadamente, 1.170 ha, está localizada
Diptera, Hemiptera e Dermaptera; além das a 4,3 km do Parque Estadual da Pedra Branca, e
subordens de ácaros Astigmata, Actinedida, apresenta vegetação típica de Mata Atlântica em
Gamasida, e Ixodida. De acordo com Marshall estágio secundário de desenvolvimento, onde
(1982), Algumas dessas ordens/subordens são encontradas diversas espécies que servem
possuem famílias encontradas exclusivamente de abrigo e fonte de alimentação para a fauna
nos morcegos. Assim, os ácaros específicos de local.
quirópteros superam 1.400 espécies descritas e O presente trabalho teve como objetivo
cerca de 687 insetos ectoparasitos são descrever a composição de ectoparasitos e suas
encontrados nos morcegos. associações na referida região e calcular os
Streblidae é uma família de moscas índices de infestação para cada espécie de
hematófagas encontradas em 14 famílias de ectoparasito encontrada.
morcegos. Essas moscas, segundo Wenzel
(1970), são encontradas em todas as regiões Material e Métodos
biogeográficas e principalmente em áreas Morcegos foram capturados entre os meses
neotropicais. Incluem espécies ápteras, de maio e dezembro de 2009, na região
braquípteras e aladas. O maior número de denominada Fazenda da Marambaia (22° 56´
espécies na família Streblidae, está concentrado 22´´ S e 43° 36, 38´´ W). Foram utilizadas redes
no continente americano (Guerrero e Morales- de neblinas que eram estendidas ao entardecer e
Malacara 1996; Guerrero 1997, 1998a, b). Os permaneciam abertas por 12 horas perfazendo
aspectos ecológicos relacionados ao parasitismo um total de 1.728 m²/h. Os indivíduos
em morcegos são raros no Estado do Rio de capturados foram contidos em sacos de pano
Janeiro. Além de Miranda (1907) que registrou individuais, que não foram reutilizados durante
uma espécie de Streblidae para o Estado, os a mesma coleta, para evitar possíveis
demais trabalhos sobre esses ectoparasitos são contaminações. A coleta dos ectoparasitos foi
referentes a outros espaços geopolíticos do país. feita manualmente ou com auxílio de pinças. Os
A família Spinturnicidae é constituída por ectoparasitos foram fixados em álcool etílico
ácaros que são exclusivamente encontrados 70% em recipientes individuais para cada
sobre morcegos. Durante todos os estágios do
119
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

hospedeiro. Todos os morcegos capturados Araucária no Estado do Paraná (32%) (Graciolli


foram soltos no mesmo local de captura. e Bianconi 2007), para o Rio Grande do Sul
Os ectoparasitos foram levados para o (35,1%) (Rui e Graciolli 2005), no Parque
Laboratório de Ixodides (Fiocruz). Os ácaros Estadual da Cantareira em São Paulo (33,3%)
foram montados em preparações permanentes (Bertola et al. 2005). Entretanto foi maior que a
entre lâmina e lamínula seguindo Flechtmann prevalência referida para a Estação Ecológica
(1990) e identificados de acordo com as chaves dos Caetetus em São Paulo (12,6%) (Graciolli et
propostas por Herrin e Tipton (1975). Os al. 2006). No Brasil S. wiedemanni já foi
dípteros foram identificados em placa de Petri associada a D. rotundus no Distrito Federal
de acordo com Guerreiro (1995b, 1997) e (Graciolli e Carvalho 2001b; Minas Gerais
Graciolli e Carvalho (2001a, b). Para a análise (Komeno e Linhares 1999), Rondônia (Graciolli
dos dados os ectoparasitos foram separados por e Aguiar 2002) e Bahia (Rios et al. 2008) e em
sexo e estádios. Os ácaros da família C. perspicillata na Bahia (Rios et al. 2008), não
spinturnicidae apresentam diferentes estádios de sendo mencionado sobre A. lituratus. Trichobius
desenvolvimento ninfal, considerando proto e tiptoni no presente trabalho parasitou duas
deutoninfa, e nos adultos separados machos e espécies de morcegos. Este ectoparasito já foi
fêmeas. Foi calculado prevalência para todas as mencionado sobre Anoura caudifer (Komeno e
espécie de ectoparasitos em relação a cada Linhares 1999), Anoura geoffroyi (Graciolli e
hospedeiro, de acordo com as definições Rui 2001) e C. perspicillata (Bertola et al.
propostas por Bush et al. (1997). 2005), sendo citado pela primeira vez no Brasil
sobre A. lituratus. S. guajiro já foi associado a
Resultados e Discussão C. perspicillata em Minas Gerais (Komeno e
Foram capturadas sete espécies de morcegos Linhares 1999) e em São Paulo (Graciolli et al.
totalizando 76 indivíduos. Desmodus rotundus 2006), entre outros estados. Basilia andersoni já
(É.Geoffroy, 1810), Diphylla eucadata Spix, foi associado a M. nigricans em São Paulo
1823 e Glossophaga soricina (Pallas, 1766) não (Bertola et al. 2005) e no Paraná (Graciolli e
foram encontrados parasitados. Em relação aos Bianconi 2007).
dípteros, foram coletados 57 indivíduos Segundo Herrin e Tipton (1975), P. iheringi
pertencentes às famílias Streblidae e ocorre em espécies do gênero Artibeus e nas
Nycteribiidae. São apresentados o número de espécies: C. perspicillata, D. rotundus e S.
capturas para cada espécie de morcego lilum, sendo relatada pela primeira vez no Brasil
parasitado seguido pelas prevalências das sobre M. nigricans. O único dado de prevalência
espécies de dípteros encontradas durante o encontrado para o país é para P. iheringi com
período de estudo: Artibeus lituratus (Olfers, 74% em A. lituratus (Azevedo et al. 2002), dado
1818) (n=34) – Paratrichobius longicrus esse superior ao encontrado para Fazenda
(Miranda Ribeiro, 1907) (17,65%), Trichobius Marambaia (50%). De acordo com Machado-
tiptoni Wenzel, 1976 (2,94%), Strebla Allison (1965), P. ojastii é um parasito primário
wiedemanni (Kolenati, 1856) (2,94%); Carollia de morcegos do gênero Sturnira. No Brasil esta
perspicillata (Linnaeus, 1758) (n=18) – T. espécie já foi reportada sobre S. lilium em
tiptoni (44,44%) e Strebla guajiro (Garcia & Minas Gerais (Azevedo et al. 2002), e no
Casal, 1965) (5,56%); Myotis nigricans (Schinz, Distrito Federal (Gettinger e Gribel 1989), neste
1821) (n=15) - Basilia andersoni (Peterson & com prevalência de 100%, superior à encontrada
Maa, 1970) (6,67%). no presente trabalho (50%).
Dos 50 ácaros coletados (prevalência de
37,74%), 22 eram machos, 16 fêmeas, 3 Conclusões
deutoninfas macho, 3 deutoninfas fêmea e 6 Na região denominada Fazenda Marambaia
protoninfas. São apresentados o número de são apresentadas cinco espécies de dípteros
capturas para cada espécie de morcego ectoparasitos de morcego- quatro pertencentes à
parasitado seguido pelas prevalências família Streblidae (Paratrichobius longicrus,
encontradas durante o período de estudo das Trichobius tiptoni, Strebla guajiro e S.
espécies de ácaros: A. lituratus – Periglischrus wiedemanni) e uma pertencente à família
iheringi Oudemans, 1902 (50%); M. ningricans Nycteribiidae (Basilia andersoni). São também
– P. iheringi (6,67); Sturnira lilium (Geoffroy, relatadas duas espécies de ácaros, pertencentes à
1810) (n=4) – Periglischrus ojastii Machado- família Spinturnicidae (Periglischrus iheringi e
Allison, 1964 (50%). P. ojastii). Existe a necessidade de estudos mais
P. longicrus é encontrado sobre a maioria detalhados sobre a fauna ectoparasitológica nos
das espécies do gênero Artibeus e sua quirópteros brasileiros, pois as associações
prevalência em A. lituratus foi menor para as encontradas: T. tiptoni e S. wiedemanni em A.
seguintes localidades: na área de Floresta
120
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

lituratus e P. iheringi em M. nigricans, são o Graciolli G. e Carvalho C.J.B. 2001a. Moscas


primeiro registro para o Brasil. ectoparasitas (Diptera, Hippoboscoidea,
Nycterybiidae) de morcegos (Mammalia:
Agradecimentos Chiroptera) do Estado do Paraná,Brasil. I.
Ao Alexandre Cruz e ao Ricardo Rocha pelo Basilia, taxonomia e chave pictórica para as
auxílio nas coletas de campo. Financiamento: espécies. Revista Brasileira de Zoologia 18:
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122
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Monitoramento de morcegos insetívoros com utilização de equipamento detector


de ultra-sons em áreas de floresta ombrófila mista

Rosane Vera Marques(1,2)* e Marta Elena Fabián(1)

(1) Curso de Pós-graduação em Biologia Animal, UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil; (2) Unidade de
Assessoramento Ambiental, Divisão de Assessoramento Técnico, Ministério Público do RS, Porto
Alegre, RS, Brasil.

*Corresponding author. Email: rosanbat@terra.com.br


Palavras-chave: Levantamento acústico, Sazonalidade, Uso de hábitats

Introdução médias entre 3 ºC e 18 ºC para o inverno e


Morcegos são animais de difícil detecção, inferiores a 22 ºC (máxima 34 ºC) para o verão.
pois são pequenos, voadores noturnos que Apresenta precipitação anual de 2.240 mm sem
utilizam abrigos reservados e produzem período de seca e a vegetação é constituída por
chamados com frequência muito acima daquela um mosaico de Floresta Ombrófila Mista,
detectável pelos ouvidos humanos. Aparelhos plantações de araucárias (Araucaria
detectores de morcegos têm sido usados angustifolia) e de espécies exóticas (Pinus sp. e
extensivamente para comparar uso de habitats Eucalyptus sp.). As amostragens ocorreram
entre diferentes tipos e estágios de mensalmente entre março de 2008 e janeiro de
desenvolvimento de florestas (Weller 2007). 2010. Foram escolhidos cinco pontos de
Esses aparelhos acústicos são capazes de amostragem: açude pequeno, açude grande e
transformar os sinais ultra-sônicos emitidos por açude do Morro dos Cavalos, poste de luz e
morcegos para orientação e busca de alimento ―passo dos morcegos‖ (onde esses animais
em som audível por humanos (Márquez et al. transitavam todos na mesma direção no início
2006). Normalmente, não é possível distinguir da noite e podiam ser visualizados e contados
entre um indivíduo passando várias vezes nas individualmente). O observador ficava
proximidades de um aparelho detector em posicionado no início da noite com um aparelho
relação a muitos indivíduos passando somente de detecção de ultra-sons Pettersson modelo
uma vez, desta forma, a detecção acústica não D230 contando os morcegos em cada ponto de
pode ser utilizada para quantificar o número de amostragem, registrando o tempo de cada
morcegos de uma área. Porém, o número de amostragem para verificar posteriormente a taxa
chamados de ecolocalização detectados pode ser de passagens por minuto. A temperatura era
utilizado para avaliar a importância relativa do verificada no final das observações. A
uso da área, sendo vantajoso para comparação luminosidade foi medida com luxímetro marca
entre áreas diversas ou o mesmo local ao longo Sper Scientific em escala até 200 lux ao
do tempo. Assim, o monitoramento com entardecer logo após a detecção do primeiro
detecção de ultra-sons pode ser um método útil morcego. Registros fotográficos dos morcegos
para avaliar mudanças no uso relativo de que passavam voando no ―passo dos morcegos‖
diferentes tipos de habitats ou mudanças ao foram obtidos por auxiliar de campo com
longo do tempo desde que haja um câmera fotográfica digital Sony Alfa 200 com
planejamento apropriado de amostragens lente de 18-70 mm. Foram realizadas contagens
(Hayes et al. 2009). O objetivo desse trabalho de morcegos que saíam ao entardecer de telhado
foi acompanhar o uso de diferentes ambientes de uma casa na mesma unidade de conservação
por parte de morcegos insetívoros no início da nos mesmos períodos, mas em dias diferentes.
noite nas diversas estações do ano em área de
Floresta Ombrófila Mista. Resultados e Discussão
A luminosidade do ambiente no momento da
Material e Métodos detecção do primeiro morcego esteve entre 5,9 e
O estudo ocorreu na FLONA de São 21,4 lux. Os horários das primeiras detecções
Francisco de Paula, unidade de conservação de ocorreram entre 18h00min no inverno
uso sustentável localizada no nordeste do RS (fotoperíodo de dez horas) e 19h43min no verão
(29° 23‘ a 29° 27‘S e 50° 23‘ a 50° 25‘W), com (fotoperíodo de quatorze horas). Foram obtidas
área de 1.606,7 ha, altitude média de 930 m, dez observações no outono (8,9 ºC a 21 ºC), oito
clima subtropical úmido com temperaturas no inverno (5,5ºC a 15,1ºC), onze na primavera
123
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

(10,1 ºC a 19 ºC) e dezoito no verão (14,6 ºC a Conclusões


25,8 ºC). Somente uma detecção de ultra-som O detector Petterson® permitiu a percepção
foi obtida com temperatura de 5,5 ºC e nenhuma dos chamados ultrassônicos dos morcegos,
com temperaturas de 7 ºC e 7,1 ºC. As incluindo os harmônicos e foi possível
frequências de ultra-sons detectadas estiveram diferenciar as fases de busca e aproximação da
entre 10 e 127 khz, sendo que 11% entre 10 e 29 presa e a terminal (―feeding buzz‖) quando o
khz, 75% entre 30 e 59 khz, 11% entre 60 e 89 animal está a ponto de capturar sua presa. A
khz e 3% entre 90 e 127 khz. O número de amostragem acústica apresenta as seguintes
detecções obtidas no outono variou de zero e vantagens: detectores de ultrassons podem ser
cinco, no inverno entre zero e doze, na utilizados em ambientes abertos como campos e
primavera entre zero e 68 e no verão entre áreas de acúmulo de água como açudes e lagoas,
quatro e 110. O local denominado de ―passo dos normalmente, com altos níveis de atividade de
morcegos‖ permitiu a contagem dos indivíduos, morcegos devido à quantidade de presas, mas de
sendo que a taxa de passagem de morcegos na difícil captura, pois, em geral, voam sobre a
noite de maior atividade foi de 0,14 água ou muito alto para a captura com redes de
morcegos/min no outono, 0,5 morcegos/min no neblina. Além disso, não há interferência no seu
inverno, 1,13 morcegos/min na primavera e 2,89 comportamento. As desvantagens são a falta de
morcegos/min no verão. Fatores que possibilidade de identificação específica,
interferiram na atividade dos morcegos, além da ecolocalizações mais intensas são mais fáceis de
temperatura do ar, foram: névoa, chuvisco serem detectadas e há alteração dos chamados
(chuva fraca e fina), vento e chuva. Em uma dos morcegos de acordo com diferentes tipos de
noite com névoa no inverno, houve somente um ambientes. Contudo, esforços de monitoramento
morcego que foi observado no poste de luz com utilização dessa técnica podem ser
apesar da temperatura de 12 ºC que não é importantes para complementar a compreensão
considerada baixa para o inverno no ambiente de atividades ao longo do tempo e em área
estudado. Chuvisco ocorreu na primavera com geográfica suficientemente grande para avaliar
contagens de zero e oito morcegos em variações naturais inerentes às populações,
temperaturas de 10,1ºC e 18ºC, desde que haja a padronização de
respectivamente, sendo que, com a segunda procedimentos.
temperatura, houve o registro de maior número
de morcegos quando as condições Agradecimentos
meteorológicas eram mais estáveis. Vento Ao Engenheiro Eletricista Fernando de
ocorreu na primavera com contagem de cinco Miranda Ramos pelo auxílio em campo e pelas
morcegos em temperatura de 12,9ºC, fotografias e aos funcionários da FLONA de
considerada baixa para essa estação do ano, São Francisco de Paula pelo apoio logístico.
sendo possível inferir que os dois fatores
(temperatura e vento) contribuíram para reduzir Referências
a atividade dos morcegos. Chuva ocorreu no Hayes J.P.; Ober H.K. e Sherwin, R.E. 2009.
verão com contagem de somente dois Survey and monitoring of bats. Em:
indivíduos distintos sobrevoando o açude Ecological and behavioral methods for the
grande em temperatura de 17,6 ºC. Observações study of bats. (Editado por Kunz T.H. e
de saída de morcegos insetívoros em telhado de Parsons S.), pp.112-129. Baltimore: Johns
casa na mesma unidade de conservação em Hopkins University Press.
estudo ainda em fase de andamento permitiram Márquez K.B.; Galarza M.I.; Aguirre L.F. e
averiguar que os morcegos retornam Kalko E.K.V. 2006. Protocolo para la
rapidamente ao abrigo quando a chuva é mais utilización del equipo acústico Petterson
intensa. Fotografias obtidas concomitantemente para la detección de murciélagos. Em:
à contagem dos indivíduos no local denominado Métodos estandarizados para el estudio de
―passo dos morcegos‖ permitiram verificar que murciélagos en bosques montanos. (Editado
se tratavam de insetívoros da Família por Galarza M.I. e Aguirre L.F.), pp.23-44.
Vespertilionidae devido ao formato do Cochabamba: Biota, PCMB.
uropatágio. O local denominado poste de luz Weller T.J. 2007. Assessing population status
atraia insetos, especialmente mariposas, e, por of bats in forests: challenges and
sua vez, era um local utilizado para busca de opportunities. Em: Bats in Forests. (Editado
alimento, contudo, o número de indivíduos por Lacki M.J.; Hayes J.P. e Kurta A.),
voando nesse local era geralmente de somente pp.263-291. Baltimore: Johns Hopkins
um de cada vez, sendo observados dois e até University Press.
três em apenas uma ocasião na primavera.

124
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Propriedades acústicas dos chamados de “distress” emitidos por Artibeus lituratus


(Olfers, 1818) e Artibeus obscurus (Schinz, 1821) durante manipulação em campo

Andrea Cecília Sicotti Maas, Marcelo Rodrigues Nogueira e Adriano Lúcio Peracchi

Laboratório de Mastozoologia, Departamento de Biologia Animal, UFRRJ, BR 465, Km 7, Seropédica,


RJ, Brasil, 23890-000.

*Corresponding author: E-mail: sicottimaas@yahoo.com.br


Palavras-chave: Bioacústica, Comportamento Animal, Vocalização de Baixa-Frequência

Introdução No presente trabalho apresentamos as


O termo ―distress‖ foi introduzido em primeiras descrições detalhadas dos chamados
estudos com morcegos por Fenton et al. (1976), de ―distress‖ de A. lituratus e A. obscurus,
que o usou para descrever chamados em obtidos a partir da contenção manual de
situações de extremo perigo, tais como quando indivíduos dessas espécies. Em consistência
o animal é capturado por um predador. A com a hipótese de uso do comportamento de
redução da mortalidade, que aparentemente tumulto para evitar a predação, e tendo em vista
constitui a vantagem adaptativa por trás dessas a proximidade filogenética das espécies
vocalizações, poderia vir diretamente, em consideradas, espera-se encontrar estruturas
situações onde o predador, assustado com os bastante similares nos chamados desses
chamados, facilitaria a fuga do morcego morcegos. Adicionalmente, eles devem também
contido, ou indiretamente, através do corroborar as características descritas por
comportamento de tumulto (―mobbing‖) que Morton (1977) para situações de agressividade.
elas parecem desencadear. Outras hipóteses
sobre o funcionamento dessas vocalizações, Material e Métodos
propostas em estudos com pássaros, envolvem Os dados bioacústicos foram coletados entre
solicitação de ajuda, aviso de perigo aos 24 e 31 de março de 2009, na Reserva Natural
parentes e distração do predador através da Vale (19° 06' a 19°18 'S e 39° 45' a 40° 19' W),
atração de predadores adicionais (Conover, município de Linhares, norte do Estado do
1994). Espírito Santo. Essa reserva tem 22.000 ha e
Entre os morcegos neotropicais, há poucas 68% de sua cobertura vegetal classificada como
espécies com os chamados de ―distress‖ já floresta alta de terra firme, sendo o restante
estudados (Artibeus lituratus, Ryan et al. 1985; floresta de mussununga, floresta de várzea e
Artibeus jamaicensis e Phyllostomus hastatus, campos nativos (Jesus 1987 Peixoto e Gentry
August 1979 e 1985) e Peropteryx kappleri, 1990)
Monteiro-Filho et al. 1988). Embora limitados As vocalizações aqui estudadas foram
quanto ao número de parâmetros acústicos que gravadas de morcegos contidos por pesquisador,
descrevem, esses estudos evidenciaram logo após sua captura em redes de neblina
convergências entre as vocalizações de (Fenton et al. 1976). Para os registros foi
―distress‖ de mamíferos e aves (August 1985; utilizado um gravador Marantz PMD-671, com
Ryan et al. 1985; Russ et al. 2004), microfone direcional Senheiser ME66. Foram
confirmando também as predições do ―código selecionadas gravações de três indivíduos de
de estrutura motivacional da vocalização‖ Artibeus obscurus e seis de Artibeus lituratus.
(―MS-code‖), descrito por Morton (1977). Esse De cada indivíduo foram gravados 60 segundos
código estabelece uma relação entre a estrutura de vocalização, sendo selecionados 30 pulsos
acústica da vocalização e suas funções ou por indivíduo.
motivações na comunicação animal. De acordo As vocalizações foram selecionadas e
com Morton (1977), há uma relação inversa analisadas utilizando-se o Software Raven v1.3.
entre frequência e agressividade; frequências Os parâmetros acústicos foram medidos nos
mais altas e sons puros indicariam motivação de gráficos do espectrograma gerados a partir de
aproximação e afinidade, enquanto sons com cada vocalização selecionada (FFTsize: 512
baixa frequência e carregados de ruídos samples). Foram medidas oito variáveis no
sinalizariam agressividade e repulsa. Sons com domínio do tempo e duas no domínio da
estrutura acústica intermediária estariam frequência. A estatística descritiva para os
associados a motivações conflituosas. parâmetros acústicos envolveu: cálculo da
125
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

média, desvio padrão (DP) e coeficiente de ficou entre 1 e 8 kHz. Em A. lituratus foram
variação (CV). observadas bandas medianamente harmônicas e
tonais com modulação de frequência
apresentando uma ascendência evidente nas
Resultados e Discussão bandas tonais das notas. A variação entre a
Os dados acústicos nos domínios do tempo distribuição dos pontos de maior energia entre
(oito primeiras variáveis) e frequência (duas as frequências foi similar à observada em A.
últimas) obtidos para A. obscurus e A. lituratus, obscurus.
respectivamente, são os seguintes (média ± DP De forma geral, os chamados de ―distress‖
(CV)): bandas tonais - 8,47 ± 0,87 (10,30) / 8,63 descritos aqui para A. obscurus e A. lituratus
± 1,26 (14,64); duração do pulso (s) - 0,09 ± são similares aos reportados por August (1985)
0,01 (11,87) / 0,12 ± 0,02 (15,13); intervalo do tanto para Artibeus jamaicensis, quanto para P.
pré-pulso (s) - 0,55 ± 0,31 (56,58) / 0,10 ± 0,06 hastatus. Além de empregarem baixas
(62,27); intervalo do pós-pulso (s) - 0,39 ± 0,21 frequências e serem carregados de ruídos, esses
(53,43) / 0,10 ± 0,07 (73,77); frequência chamados são formados por uma série de pulsos
máxima (kHz) - 12,13 ± 0,81 (6,69) / 12,55 ± curtos, repetitivos e barulhentos,
2,17 (17,28); frequência mínima (kHz) - 1,04 ± correspondendo em todos esses aspectos ao
0,04 (3,64) / 1,06 ± 0,08 (7,79); frequência previsto por Morton (1977) para situações em
inicial (kHz) - 3,33 ± 1,76 (52,99) / 2,18 ± 0,53 que o animal quer sinalizar agressividade e
(24,51); frequência final (kHz) - 2,80 ± 1,20 repulsa. Nesse contexto, a vocalização em baixa
(42,84) / 2,75 ± 1,12 (40,83): frequência pico I frequência é mais vantajosa por não ser tão
(kHz) - 4,49 ± 2,36 (52,54) / 4,34 ± 1,64 direcionada no espaço quanto a de alta
(37,80); e frequência pico II (kHz) - 4,94 ± 1,55 frequência, e também por sofrer menos
(31,44) / 4,44 ± 1,55 (34,94). atenuação com a distância que essa última.
Houve sobreposição nos valores obtidos Ambas as características devem, portanto,
para [A. obscurus] e [A. lituratus] na maioria permitir que mais morcegos sejam alcançados
das variáveis estudadas, com diferenças pelo sinal acústico, o que pode implicar em mais
notáveis apenas na duração dos intervalos entre recrutamentos para o tumulto. Vespertilionídeos
os pulsos (pré e pós). Esses pulsos não também empregam as baixas frequências como
ultrapassaram 20 kHz, o que significa que não elemento dominante em suas vocalizações de
contêm componentes ultra-sônicos, como os ―distress‖, o que, da mesma forma, deve
presentes nos chamados de ―distress‖ dos representar uma adaptação para maximizar a
vespertilionídeos Eptesicus fuscus e Myotis comunicação de longa distância (Russ et al.,
lucifugus (Fenton et al. 1976). Componentes 2004).
ultra-sônicos também não foram reportados em
estudo prévio sobre os chamados de ―distress‖ Conclusões
de A. lituratus (Ryan et al. 1985), dados que Os sinais acústicos de A. obscurus e A.
corroboram a afirmativa de August (1985) de lituratus estão, conforme nossa expectativa, de
que tais sons não são necessários no acordo com as predições de Morton (1977) para
desencadeamento do comportamento de respostas de animais em situações adversas.
tumulto. Também conforme esperado, esses morcegos
Através dos espectrogramas formados a exibem chamados de ―distress‖ com estruturas
partir dos chamados de ―distress‖, verificou-se bastante similares entre si, e ainda em relação a
que os sinais de A. lituratus e A. obscurus outros filostomídeos já estudados. Há
apresentam modulação de frequência com não- evidências, entretanto, de que mesmo espécies
linearidades, tais como sub-harmônicos, próximas como as aqui estudadas podem
bifonação, saltos de freqüência súbita e divergir em certos parâmetros acústicos, como
permutação na harmônica que contém mais verificado em relação à duração dos intervalos
energia. Entretanto, ao longo do chamado esses entre os pulsos e à forma do contorno melódico
morcegos exibiram somente um tipo básico de da modulação de frequência.
nota (ou pulso), composta por modulação de
frequência (contorno melódico das bandas) Agradecimentos
ascendente ou descendente. Em A. obscurus o Ao Dr. Isaac Passos de Lima, pelas críticas e
pulso é composto por bandas medianamente sugestões.
harmônicas e atonais, não apresentando
ascendência ou descendência evidente na Referências
modulação de frequência. Ainda em A. August P.V. 1979. Distress calls in Artibeus
obscurus, a variação entre a distribuição dos jamaicensis: Ecology and Evolutionary
pontos de maior energia entre as frequências Implications. Em: Vertebrate Ecology in the
126
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

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127
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Análise preliminar da diversidade de morcegos de Floresta Montana do Parque


Nacional do Itatiaia, estado do Rio de Janeiro, Brasil

Mayara Martins(1)*; Daniela Dias(2); Débora de Souza França(1); Dayana Paula Bolzan(1); Sérgio
Nogueira Pereira(1) e Adriano Lúcio Peracchi(1)

(1) Laboratório de Mastozoologia, Departamento de Biologia Animal, UFRRJ, BR 465, Km 7,


Seropédica, RJ, Brasil, 23890-000; (2) Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres
Reservatórios, IOC, Fundação Oswaldo Cruz, Pavilhão Arthur Neiva, Avenida Brasil, 4365, Manguinhos
Rio de Janeiro RJ 21040-900.

*Corresponding author. Email: ma.moc@hotmail.com


Palavras-chave: Quirópteros, Riqueza, Mata Atlântica, Floresta Montana

Introdução quatro fisionomias de vegetação que seguem um


No Estado do Rio de Janeiro ocorrem pelo gradiente altitudinal: Floresta Submontana (100
menos 75 espécies de morcegos em 41 gêneros a 500 m), Floresta Montana (500 a 1499 m),
(Bezerra et al. 2004; Esbérard e Bergallo 2005; Floresta Alto-Montana (1500 a 1999 m) e
Dias e Peracchi 2007). Contudo, várias regiões Campos de Altitude (acima de 2000 m).
do Estado permanecem subamostradas ou não Segundo Segadas-Vianna (1965) as faixas
foram estudadas (Esbérard e Bergallo 2005), correspondentes à Floresta Montana abrigam
como por exemplo, a região do Maciço do uma maior diversidade vegetal, o que permite
Itatiaia, localizado entre o sudoeste do Rio de supor que abriga também uma grande
Janeiro e o sul de Minas Gerais. As poucas diversidade de quirópteros. O presente trabalho
informações disponíveis sobre morcegos que teve como principal objetivo fazer uma análise
ocorrem nessa região foram reunidas por Ávila- preliminar da diversidade de quirópteros da
Pires e Gouvêa (1977) que reportaram a Floresta Montana na região do Parque Nacional
ocorrência de 13 espécies de morcegos. do Itatiaia.
No Rio de Janeiro, onde algumas serras
ultrapassam os 2000 m de altitude, a maioria Material e Métodos
dos levantamentos de quirópteros tem sido Nos meses de junho, agosto e dezembro de
conduzida em altitudes mais baixas, com 2009 foram realizadas no total 12 noites de
predominância abaixo dos 500 m (cf. Esbérard coleta, em sítios situados entre 735 a 1300 m de
2004; Esbérard e Bergallo 2005). A elevada altitude, faixa altitudinal que corresponde a
inclinação das áreas mais altas, a baixa Floresta Montana da região. Em cada noite
disponibilidade de clareiras planas e as foram armadas de 6 a 10 redes de espera ―mist-
temperaturas muito baixas resultam em menor nets‖, dependendo das oportunidades em cada
sucesso nas coletas realizadas em maiores local (e.g., presença de trilhas, coleções d‘água,
altitudes (Esbérard 2004). Em conseqüência, abrigos), armadas ao nível do solo, em trilhas ou
pouco se sabe sobre quais espécies ocorrem nas clareiras naturais, em frente a possíveis fontes
áreas mais altas. de alimento (vegetais em floração ou
No Brasil, há poucos estudos sobre a frutificação) e próximas a fendas e locas de
diversidade de morcegos em áreas mais pedras ou ocos de árvores. As redes eram
elevadas, destacando-se, no estado do Rio de estendidas antes do anoitecer e mantidas abertas
Janeiro, os trabalhos de Dias et al. (2008) e por seis horas (cf. Simmons e Voss 1998),
Nascimento (2007), que observaram que os sendo vistoriadas em média a cada 20 minutos.
sítios localizados em altitudes medianas, As espécies foram preliminarmente
situados na formação de Floresta Montana, identificadas no campo (cf. Vizotto e Taddei
apresentaram maior riqueza de espécies em 1973; Dias et al. 2002; Dias e Peracchi 2008),
relação às altitudes mais baixas e mais elevadas. sendo sacrificados, cinco machos e cinco fêmea
O Parque Nacional do Itatiaia (PNI), localizado adultos de cada espécie para servir de material
no Maciço do Itatiaia, na Serra da Mantiqueira, testemunho (Licença Nº 18932-1 –
é uma Unidade de Conservação de Proteção IBAMA/ICMBIO). Esses espécimes foram
Integral com 30.000 ha. Segundo Ururahy et al. conservados em álcool 70º GL, após fixação em
(1983), a área é classificada fitoecologicamente formol 10% e incorporados à Coleção Adriano
como Floresta Ombrófila Densa e é formada por Lúcio Peracchi (ALP), no Instituto de Biologia,
128
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2007), a faixa altitudinal que corresponde a
(UFRRJ). Os demais exemplares foram Floresta Montana do Parque Nacional da Serra
marcados e soltos ao fim da coleta, após dos Órgãos, a 1024 m de altitude, foi o local que
identificação e registro das medidas externas, se registrou o maior número de espécies.
dados bionômicos e observações de campo. Foi Embora ainda não sejam conhecidas
calculado o índice de diversidade de Shannon espécies de morcegos especialistas em altitude
(H‘) para medir a diversidade de morcegos no sudeste brasileiro (levando-se em conta a
capturados (Magurran 1988). escassez de informações), duas espécies
registradas nesse estudo, M. bennettii e M.
Resultados e Discussão ruber, aparentemente têm sido registradas
Durante este estudo foram capturados 163 principamente em altitudes acima de 450 m
indivíduos, de 17 espécies, pertencentes a 2 (Geraldes 1999; Esbérard 2004).
famílias: Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810) O índice de Diversidade de Shannon
(64), Anoura caudifer (E. Geoffroy, 1818) (27), observado para os morcegos foi de H'=1,97 (17
Artibeus lituratus (Olfers, 1818) (19), Carollia espécies, n = 163), ou seja, valor próximo a H‘
perspicillata (Linnaeus, 1758) (17), Myotis sp. = 2,0, o que reflete a dominância de poucas
(10), Glossophaga soricina (Pallas, 1766) (06), espécies com elevado número de indivíduos
Artibeus fimbriatus Gray, 1838 (05), (Pedro e Taddei 1997), no caso S. lilium e A.
Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810) (03), caudifer. Na região neotropical, comunidades de
Platyrrhinus recifinus (E. Geoffroy, 1810) (03), morcegos são freqüentemente marcadas por
Tonatia bidens (Spix, 1823) (2), Anoura forte dominância de poucas espécies abundantes
geoffroyi Gray, 1838 (1), Chrotopterus auritus (especialmente frugívoros da família
(Peters, 1856) (01), Desmodus rotundus (E. Phyllostomidae) e várias outras raras dentro do
Geoffroy, 1810) (01), Micronycteris microtis conjunto taxonômico (Pedro 1998). A riqueza e
Miller, 1898 (01), Mimon bennettii (Gray, 1838) o valor do índice de diversidade encontrado para
(01), Myotis aff. riparius Handley, 1960 (01) e a região de Floresta Montana do Parque
Myotis ruber (E. Geoffroy, 1806) (01). Nacional do Itatiaia são inferiores aos
Phyllostomidae, com 14 espécies, foi a mais observados em área de altitude mediana
abundante enquanto que Vespertilionidae localizada em Floresta Montana da Reserva
contribuiu com três espécies. Biológica do Tinguá (H‘= 2,30 25 spp, n=295;
Sturnira lilium foi a espécie mais freqüente Dias et al. 2008). Alguns estudos sobre riqueza
(39,26%) seguida por A. caudifer (16,56%). A de espécies de morcegos em relação a
alta frequência de Phyllostomidae pode ser gradientes altitudinais têm demonstrado picos
decorrente do fato desta família ser a mais rica de riqueza em elevações médias (Sanchez-
no Brasil, com 92 espécies (Peracchi et al. Cordero 2001; McCain 2004; Dias et al. 2008).
2006) e do método de captura. O uso de redes Assim, com a continuidade dos esforços de
ao nível do solo privilegia a captura desses captura na região, espera-se registrar maior
morcegos (Simmons e Voss 1998). Espécies da numero de espécies e maior diversidade nessa
família Vespertilionidae, mais difíceis de serem formação vegetal na área do Parque.
capturadas com redes, foram coletadas nas
proximidades de possíveis abrigos como fendas Conclusões
entre pedras e perto de corpos d‘água. Assim, os dados apresentados chamam a
Dentre as espécies capturadas, merecem atenção para a importância de amostragem em
destaque P. recifinus e M. ruber consideradas regiões mais elevadas, que são pobremente
vulneráveis à extinção tanto no estado do Rio de amostradas, para que seja possível estudar a
Janeiro quanto no Brasil (Bergallo et al. 2000; variação da riqueza com a altitude. A
Chiarello et al. 2008). Outra espécie importante intensificação das coletas poderá resultar em
foi o carnívoro Chrotopterus auritus, maior riqueza e diversidade de espécies em
considerada indicadora de qualidade de hábitat, sítios localizados em Floresta Montana no
encontrada apenas em ambientes que Parque Nacional do Itatiaia e ampliar os limites
possibilitam uma adequada variedade de presas altitudinais conhecidos de várias espécies.
(Medellín 1989).
No Brasil, há poucos estudos sobre a Agradecimentos:
diversidade de morcegos em áreas de altitudes Financiamento: CAPES, CNPQ.
médias e elevadas. Na Reserva Biológica do
Tinguá, Dias et al. (2008) observaram que os Referências
sítios localizados em altitudes médias (entre 501 Ávila-Pires F.D. e Gouvêa E. 1977. Mamíferos
a 1000 m) apresentaram maior riqueza e do Parque Nacional do Itatiaia. Boletim do
diversidade de espécies. Segundo Nascimento
129
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

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130
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Parnell’s Mustached Bat (Pteronotus parnellii): a morphologically cryptic species


complex

Aline Z. Maya-Simões(1)*, Elizabeth L. Clare(2) and M. Brock Fenton(3)

(1) Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil; (2) University of Guelph, Guelph, ON, Canada; (3)
University of Western Ontario, London, ON, Canada.

*Corresponding author. Email: alinez.may@gmail.com


Keywords: cytochrom c oxidase subunit 1, genetic species concept, morphology

Introduction analysis to examine specimens of P. parnellii


The recent trend towards the use of multiple from nine countries of continental Central and
lines of evidence to characterize species, South America and evaluate their current
(behavior, ecology, molecular markers) in taxonomic status.
addition to traditional morphological analyses,
has increased the rate that new species are Material and Methods
recognized and described. Gross morphological We sampled preserved tissue from 321
differences may be subtle, but high genetic vouchered specimens held at the Royal Ontario
divergences between putative species can Museum representing specimens from the
indicate cryptic speciation events as defined by continental Central and South America. An
the Genetic Species Concept (Bradley and additional 100 samples were acquired as wing
Baker 2001). While the discovery of biopsies from un-vouchered individuals in Costa
unrecognized species may be expected among Rica and Belize.
groups that have received relatively little We used protocols for DNA extraction,
taxonomic scrutiny, the discovery of new amplification and sequencing of a 658bp
species among larger more well studied groups segment near the 5′-terminus of the
such as mammals is less common. This process mitochondrial cytochrome c oxidase subunit 1
has been accelerated with the use of multiple (COI) following Clare et al. (2007) and for the
lines of evidence, particularly genetic analysis Dby region in the y-cromossom following
(Bradley and Baker 2001; Mayer and van Hellborg and Ellegren (2003). We constructed
Helversen 2001; Kingston and Rossiter 2004; phylogenies for COI sequences and a combined
Kingston et al. 2001), and Avise and Walker COI+Dby dataset using Maximum Likelihood,
(1999) have hypothesized that under the Bayesian and maximum parsimony
Biological Species Concept, as many as half of methodologies.
all vertebrate species may remain undescribed. For 165 specimens in the collection of the
Within mammals, bats are an obvious target in Royal Ontario Museum we obtained the 11
the search for undescribed species as their cranial measurements following Smith (1972)
cryptic morphology and behavior makes them except ―depth of braincase‖, which we adapted
more difficult to study in nature (Jones 1997). so as not to risk injury to the stylohyle bone.
Kingston and Rossiter (2004) argued that, We performed a Principal Components
among bats, those with high duty cycle Analysis (PCA) followed by a Discriminant
echolocation are more prone to rapid, cryptic Function Analysis (DFA) on morphological data
speciation than low duty cycle echolocators, using SPSS 12.0 for Windows. The width of the
although few cases have been explored. In the post-palatal extension was excluded because it
new world only the mormoopid Pteronotus was nearly invariant between individuals. Two
parnellii uses high duty cycle echolocation. P. components explained 82% of the total variation
parnellii is widely distributed, and genetic and were used to test for morphological
analysis shows extensive sequence divergence difference between identified genetic groups in
at mitochondrial loci (Van Den Bussche et al. the DFA.
2002). These patterns suggest cryptic speciation
in this taxon e.g., Borisenko et al. (2008), but Results and Discussion
further analysis is required (Bradley and Baker Phylogenetic reconstructions support the
2001). existence of 4 distinct groupings (henceforth
Here, we used two independent gene regions groups 1, 2, 3 and 4), although the arrangements
in conjunction with a traditional morphological of these groups differ slightly between methods,
131
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

leaving their phylogenetic arrangement genome. Proc. Natl. Acad. Sci. USA. 96:
tentative. Three of the four groups indicated by 992–995.
mitochondrial DNA contain unique fixed Baker R.J. and Bradley R.D. 2006. Speciation in
characters in the paternally inherited Dby region mammals and the Genetic Species Concept.
of the y-chromosome. Journal of Mammalogy 87(4): 643–662.
We found that no single morphological Bradley R.D. and Baker R.J. 2001. A test of the
measure can be used to differentiate these genetic species concept: cytochrome b
groups in the field, but our discriminant sequences and mammals. Journal of
function analysis (DFA) demonstrates a high Mammalogy 82: 960–973.
level of correct classification by morphological Clare L.E.; Lim B.K.; Engstrom M.D.; Eger J.L.
differences in the components designated in the and Herbert P.D.N. 2007. DNA barcoding
PCA (85% cross-validated). The DFA correctly of Neotropical bats: species identification
classified 93.2% of the members of group 1, and discovery within Guyana. Molecular
88.3% of the members of group 2 and 70.4% of Ecology Notes 7: 184-190.
the members of group 4. Members of group 3 Hajibabaei M.; deWaard J.R.; Ivanova N.V.;
could not be classified by DFA and were Ratnasingham S.; Dooh R.T.; Kirk S.L.;
clustered with group 2, though the small sample Mackie P.M. and Hebert P.D.N. 2005.
size (n=5) may lack discriminatory power. Critical factors for assembling a high
The strongest morphological discrimination volume of DNA barcodes. Philosophical
occurred between groups 1 and 2, though these Transactions of the Royal Society of
groups appear to be the most recently diverged London. Series B, Biological Sciences 360:
members of the species complex. While our 1959–1967.
data suggests that groups 3 and 4 exist in Hellborg L. and Ellegren H. 2003. Y
allopatry, groups one and two appear to have chromosome conserved anchored tagged
identical (sympatric) ranges. The high sequences (YCATS) for the analysis of
morphological discrimination between these mammalian male-specific fragments. Mol.
may represent rapid character displacement. Ecol. 12: 283-291.
Ivanova N.V.; deWaard J.R. and Hebert P.D.N.
Conclusions 2006. An inexpensive, automation-friendly
Mayer and van Helversen (2001) showed protocol for recovering high-quality DNA.
that classifications based only on morphological Molecular Ecology Notes 6: 998–1002.
characteristics do not always correlate with Ivanova N.V.; Zemlak T.S.; Hanner R.H. and
mitochondrial DNA divergence. A similar Herbert P.D.N. 2007. Universal primer
pattern appears to be present in this survey, cocktails for fish DNA barcoding.
where an apparently cohesive species may Molecular Ecology Notes 7: 544–548.
harbour at least four genetically distinct taxa. Johns G. 1997. Acoustic signals and speciation:
Although we have not found morphological the roles of natural and sexual selection in
characters which can be used to differentiate the evolution of cryptic species. Adv. Study
these groups in the field, statistical Behav. 26: 317-354.
morphological differences and fixed genetic Kingston T. and Rossiter S.J. 2004. Harmonic-
characters exist between all groups strongly hopping in Wallacea's bats. Nature 429:
supporting the existence of cryptic species in P. 654-657.
parnellii. Kingston T.; Lara M.C.; Jones G.; Akbar Z.;
Kunz T.H. and Schneider C.J. 2001.
Acknowledgements Acoustic divergence in two cryptic
To Judith Eger for helping in the collection Hipposideros species: a role for social
of the Royal Ontario Museum; to Liam selection? Proceedings of the Royal Society
McGuire and Erin Fraser for help with the of London 268: 1381–1386
statistics and to everyone in the bat lab at UWO. Mayer F. and van Helversen O. 2001. Cryptic
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132
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

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morphology. Journal of Mammalogy 83(1):
40–48.

133
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Primeiro registro de Histiotus velatus (I. Geoffroy, 1824) para o estado da Paraíba,
Brasil

Maria Paula A. Fracasso(1)*, Mayara G. Beltrão(1) e Luiz C. S. Lopez(2)

(1) Departamento de Biologia, CCBS, Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campina Grande,
Paraíba, Brasil; (2) Departamento de Sistemática e Ecologia, CCEN, Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), João Pessoa, Paraíba, Brasil.

*Corresponding author. Email: mpaguiar@gmail.com


Palavras-chave: Distribuição geográfica, Região nordeste, Vespertilionidae

Introdução Foram estudados dois espécimes de


O gênero Histiotus P. Gervais, 1856, Histiotus velatus (UFPB 6014, 6015) capturados
exclusivo da América do Sul, é representado por em setembro e novembro de 2009 na Reserva
morcegos insetívoros de médio porte e orelhas Particular do Patrimônio Natural (RPPN)
muito desenvolvidas (Handley e Gardner 2007). Fazenda Almas (7° 28‘ S e 36° 53‘ W),
Segundo Anderson (1997), o gênero necessita município de São José dos Cordeiros, Paraíba.
revisão, e os limites morfológicos e geográficos A RPPN Fazenda Almas possui cerca de
dos táxons ainda são incertos. 3505 hectares (Barbosa et al. 2007) e está
Simmons (2005) reconhece sete espécies situada a 650 metros de altitude (Hernandez
para Histiotus, das quais cinco apresentam 2007). A vegetação local varia entre uma
registro para o Brasil (Bianconi e Pedro 2007; caatinga arbórea densa e uma caatinga arbórea
Miranda et al. 2007): H. alienus Thomas, 1916, mais aberta, entremeada de lajedos com uma
H. laephotis Thomas, 1916, H. macrotus flora característica (Barbosa et al. 2007). A
(Poeppig, 1835), H. montanus (Philippi e temperatura média anual é 26°C (Barbosa et al.
Landbeck 1861) e H. velatus (I. Geoffroy, 2007) e a pluviosidade varia entre 400-800 mm
1824). De acordo com Handley e Gardner anuais, com o período chuvoso concentrado
(2007), H. humboldti Handley, 1996, entre os meses de dezembro e janeiro (Lima e
provavelmente também ocorre em território Heckendorff 1985).
brasileiro, tendo sido registrado para a Os espécimes foram coletados por meio de
Venezuela na fronteira com o Brasil. captura manual em um mesmo abrigo diurno
Histiotus velatus foi descrito de Curitiba, (casa abandonada), fixados em formalina 10% e
estado do Paraná, Brasil, e ocorre também na preservados em etanol 70%, com subseqüente
Bolívia, Peru, Paraguai e Argentina (Handley e extração do crânio (Simmons e Voss 2009). As
Gardner 2007). No Brasil, é amplamente medidas externas e cranianas apresentadas no
distribuído nas regiões sul e sudeste, além de texto referem-se aos espécimes UFPB 6014 e
ocorrer em Mato Grosso e Goiás, e é a única 6015, respectivamente, e foram tomadas com
espécie do gênero com registro para a região paquímetro digital com precisão de 0,05 mm. O
nordeste, nos estados de Ceará e Maranhão material encontra-se depositado na coleção de
(Piccinini 1974; Handley e Gardner 2007). mamíferos da Universidade Federal da Paraíba
Os registros bibliográficos sobre os (UFPB), João Pessoa, PB.
morcegos da Paraíba reúnem 25 espécies,
distribuídas em seis famílias (Alencar et al. Resultados e Discussão
1994; Sousa et al. 2004; Cruz et al. 2005; Ambos os espécimes de H. velatus
Gregorin e Ditchfield 2005, Percequillo et al. analisados (duas fêmeas adultas) apresentam o
2007). No entanto, a maior parte do estado lobo anterior (medial) da orelha muito
permanece inexplorada em relação à sua desenvolvido (largura = 8,0 e 8,6 mm), maior do
quiropterofauna, evidenciando a necessidade de que um terço da largura total da orelha (21,4 e
novos estudos. 22,4 mm), característica descrita por Anderson
Este trabalho apresenta um aumento da (1997) e Handley e Gardner (2007) como
distribuição de H. velatus no Brasil e é o diagnóstica para a espécie. Os espécimes
primeiro registro dessa espécie para o estado da também apresentam uma ligação membranosa
Paraíba. entre as orelhas com altura de 3,0 e 3,2 mm,
considerada por Vizotto e Taddei (1973) como
Material e Métodos característica de H. velatus.
134
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

A pelagem dorsal dos espécimes é longa e do gênero Histiotus e da quiropterofauna da


bicolor, com base castanho-acinzentada escura e Paraíba.
extremidade amarelada. Na pelagem ventral,
também bicolor, a base é castanho-acinzentada
escura e a extremidade é esbranquiçada. As Agradecimentos
membranas das asas e uropatágio são castanho- A Washington L. S. Vieira e os moradores
acinzentadas pálidas e levemente translúcidas. da Fazenda Almas (Francisco, Elias, Cidinha e
As orelhas e tragos são muito mais claros e filhos) pelo auxílio no trabalho de campo;
translúcidos do que as asas, com o lobo medial Jadson L. S. Brito, pelo suporte técnico com a
apresentando tons amarelados. preparação dos espécimes. Financiamento:
Outras medidas externas dos espécimes são: CNPq e FAPESQ.
comprimento total = 104,9 e 113 mm;
comprimento da cauda = 52,0 e 43,0 mm; Referências
comprimento do pé = 7,6 e 8,0 mm; altura da Alencar O.A.; Silva G.A.P.; Arruda M.M.;
orelha = 26,3 e 28,3 mm; altura do trago = 12,0 Soares A.J. e Guerra D.Q. 1994. Aspectos
e 12,4 mm; comprimento do antebraço = 45,3 e Biológicos e Ecológicos de Desmodus
46,6 mm. O peso dos espécimes é igual a 9,0 e rotundus (Chiroptera) no Nordeste do Brasil.
10,5 g. As medidas cranianas são: comprimento Pesquisa Veterinária Brasileira 14(4): 95-
total = 17,6 mm; comprimento côndilo-basal = 103.
16,4 mm; comprimento palatal = 8,2 mm; Anderson S. 1997. Mammals of Bolivia,
comprimento da série de dentes superiores = 6,0 taxonomy and distribution. Bulletin of the
e 5,9 mm; largura externa dos caninos = 5,1 e American Museum of Natural History 231:
4,7 mm; largura externa dos molares = 6,1 e 6,0 1-652.
mm; largura zigomática = 10,3 mm; largura da Barbosa M.R.V.; Lima I.B.; Lima J.R.; Cunha
caixa craniana = 8,1 mm; largura mastóidea = J.P.; Agra M.F. e Thomas W.W. 2007.
8,6 mm; largura palatal = 2,9 e 2,6 mm; Vegetação e Flora no Cariri Paraibano.
comprimento da mandíbula = 12,0 mm; Oecologia Brasiliensis 11(3): 313-322.
comprimento da série de dentes inferiores = 6,4 Bianconi G.V. e Pedro W.A. 2007. Família
mm; altura do processo coronóide = 4,3 e 4,1 Vespertilionidae. Em: Morcegos do Brasil.
mm. As medidas cranianas únicas referem-se (Editado por Reis N.R., Peracchi A.L., Pedro
somente ao espécime UFPB 6015. A maioria W. A. e Lima I.P.), pp. 167-195.
das medidas externas e cranianas é compatível Universidade Estadual de Londrina,
com aquelas descritas na literatura para H. Londrina.
velatus (Anderson 1997; Bianconi e Pedro Cruz M.A.O.M.; Borges D.M.; Langguth A.R.;
2007). Sousa M.A.N.; Silva L.A.M.; Leite
Os registros de ocorrência do gênero L.M.R.M.; Prado F.M.V.; Verissimo K.C.S.
Histiotus na região nordeste do Brasil são todos e Moraes B.L.C. 2005. Diversidade de
referentes à espécie [H. velatus]. Esses registros mamíferos em áreas prioritárias para
são bastante escassos, com poucos espécimes conservação da Caatinga. Em: Análise das
depositados em coleções e publicações para variações da biodiversidade do bioma
somente duas localidades: Fortaleza, CE Caatinga: suporte a estratégias regionais de
(Piccinini 1974) e Tranqueira, MA (Handley e conservação. (Editado por Araújo F.S.,
Gardner 2007). Esse é o primeiro registro para o Rodal M.J. e Barbosa M.R.V.), pp. 183-203.
estado da Paraíba e aumenta a distribuição da Ministério do meio Ambiente, Brasília.
espécie em cerca de 450 km na direção leste. Gregorin R. e Ditchfield A.D. 2005. New genus
and species of nectar-feeding bat in the tribe
Conclusões Lonchophyllini (Phyllostomidae:
Os espécimes estudados nesse trabalho Glossophaginae) from northeastern Brazil.
aumentam o tamanho da amostra de H. velatus Journal of Mammalogy 86(2): 403-414.
para o nordeste do Brasil, além de ampliarem a Handley Jr. C.O. e Gardner A.L. 2007. Genus
distribuição geográfica dessa espécie e Histiotus P. Gervais, 1856. Em: Mammals of
representarem um novo registro para o estado da South America, Volume 1, Marsupials,
Paraíba. Esse trabalho também contribui para o Xenarthrans, Shrews, and Bats. (Editado por
conhecimento dos morcegos da caatinga, que Gardner A. L.), pp. 450-457. University of
ainda é um dos biomas menos conhecidos do Chicago Press, Chicago.
Brasil em relação à sua mastofauna. Mais Hernandez M.I.M. 2007. Besouros
estudos são necessários para que possamos escarabeíneos (Coleoptera: Scarabaeidae) da
compreender melhor a taxonomia, ecologia, Caatinga paraibana, Brasil. Oecologia
distribuição geográfica e status de conservação Brasiliensis 11(3): 356-364.
135
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

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136
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Riqueza e diversidade de morcegos no Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu,


Rio de Janeiro, Brasil

Roberto Leonan M. Novaes(1,2)*, Camila Sant‘Anna(2), Raphael Silvares(2), Saulo Felix(2), Renan F.
Souza(2), Luis Fernando C. Dias-de-Oliveira(2), André C. Siqueira(2), Ana Cristina S. Façanha(2),
Tatiane S. Cardoso(2), Mariana Louro(2), Mariana V.P. Aguiar(2), Paula C. Andrade(2), Flávio A.P.
Mello(2), Carla Clarissa Nobre(3) e Adriano Lucio Peracchi(1)

(1) Laboratório de Mastozoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Km 47 da antiga estrada Rio – São Paulo, 23890-000, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil; (2) Programa de
análise da Biodiversidade e Conservação da Mata Atlântica. Projeto Pró-Morcegos & Parque Natural
Municipal de Nova Iguaçu. Av. Brasil, s/nº, K11, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil; (3) Laboratório de
Ecologia e Conservação da Natureza, Universidade Federal de Pernambuco, Av. Prof. Moraes Rego, s/nº,
Cidade Universitária, 50660-901, Recife, Pernambuco, Brasil.

*Corresponding author: E-mail: promorcegos@yahoo.com.br


Palavras-chave: levantamento, fragmentação, Mata Atlântica

Introdução preliminares de um levantamento de quirópteros


Desde a chegada dos colonizadores, há realizado no Parque Natural Municipal (PNM)
pouco mais de quinhentos anos, o Rio de de Nova Iguaçu.
Janeiro vem sofrendo intensa exploração de
seus recursos naturais (Pádua & Coimbra-Filho, Material e Métodos
1979) e pouco se sabe sobre a fauna outrora O PNM de Nova Iguaçu está localizado
encontrada, e ainda hoje, há poucas informações entre as coordenadas 22°47'00.85''S e
sobre o que restou da diversidade original. A 43°28'10.48''O na Baixada Fluminense, entre os
análise da fauna atual pode propiciar subsídios municípios de Nova Iguaçu e Mesquita.
para se estimar a fauna original, sua Juntamente com o Parque Natural Municipal da
adaptabilidade às profundas modificações e Serra do Mendanha, compõem as duas únicas
prover medidas adequadas à sua conservação unidades de conservação integral do maciço,
(Esbérard, 2003). As aceleradas taxas de fazendo parte da área de Proteção Ambiental do
extinção de espécies, muitas antes mesmo de Gericinó-Mendanha, considerada Reserva da
serem descritas pela ciência, em virtude da Biosfera pela UNESCO. Possui área total de
elevada e intensa degradação dos ecossistemas, 1.100 hectares, sua altitude varia entre 150 e
têm resultado na necessidade de adoção de 974 metros, possuindo um relevo bastante
estratégias de preservação, visando reverter esse acidentado formado por muitas escarpas,
processo (Bergallo et al., 2000; Raw, 2003; elevações e cursos d‘água. O PNM de Nova
Machado et al., 2005). Nesse sentido, o Iguaçu possui 55% de sua área em adiantado
levantamento da fauna em áreas de vegetação estado de regeneração e alto grau de
remanescentes como parques e unidades de preservação, incluída no domínio de Floresta
conservação torna-se primordial (Esbérard, Ombrófila Densa Montana e Submontana
2003). conforme Veloso et al. (1991). A cobertura
No estado do Rio de Janeiro, embora a vegetal do Parque apresenta cinco grupos
fauna de quirópteros seja uma das mais sucessionais, sendo (1) os campos antrópicos
estudadas do Brasil (Bergallo et al., 2003; (pastagens), (2) formações pioneiras, (3)
Esbérard & Bergallo, 2005), poucos estudos de formações secundárias iniciais, (4) secundárias
longo prazo para investigar a diversidade e tardias e (5) Clímax. Para esse estudo
aspectos ecológicos têm sido feitos. Dentre os classificamos as localidades de coleta em dois
inventários de quirópteros de longa duração tipos de ambiente: áreas antropizadas (1, 2, 3) e
conduzidos no Estado, destacam-se os de áreas conservadas (4 e 5).
Esbérard (2003), em áreas do Maciço da Tijuca, Desde julho de 2008 nós realizamos coletas
no município do Rio de Janeiro, entre 1991 e mensais, totalizando 19 noites de captura.
1997, e de Costa & Peracchi (2005) na Ilha de Utilizamos redes-de-neblina Zootech® de 9 e 12
Marambaia, entre 1991 e 1998. Sendo assim, o x 2,5m que foram armadas em trilhas, clareiras
presente estudo apresenta os resultados e margeando cursos d‘água. As coletas tiveram

137
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

duração de 12h e foram realizadas em oito sítios elevadas densidades populacionais de espécies
de coleta com diferentes graus de conservação, de mamíferos frugívoros generalistas devido a
totalizando um esforço amostral de 69.844 m².h. sua alta produtividade, incluindo maior
Os morcegos capturados tiveram as medidas do crescimento vegetal (Murcia, 1995; Asbjornsen
antebraço tomadas com paquímetro e massa et al., 2004) e maior produção de sementes
aferida com dinamômetro. A categoria etária foi (Herrera et al., 1994; Guariguata & Saenz
verificada através da ossificação das epífises das 2002), o que corrobora com os resultados
falanges, classificando-os conforme Anthony obtidos para a área antropizada do PNM de
(1988). O estado reprodutivo das espécies foi Nova Iguaçu.
verificado visualmente conforme critérios Dentre as espécies capturadas, A. lituratus
propostos por Sekiama (2003). Os morcegos foi a mais abundante na área antropizada,
foram identificados previamente em campo, representando 51,1% de todas as capturas.
porém o primeiro exemplar de cada espécie, Porém, na área conservada esta espécie foi
assim como os exemplares que geraram dúvidas pouco abundante, representando apenas 3,4% de
quanto à identificação, foram incorporados à todas as capturas. O predomínio de A. lituratus
Coleção Adriano Lúcio Peracchi (ALP), em fragmentos florestais já foi apontado para
depositada no Laboratório de Mastozoologia, outros levantamentos em fragmentos de Mata
Instituto de Biologia da Universidade Federal Atlântica (e.g. Dias et al., 2002; Esbérard, 2003;
Rural do Rio de Janeiro. Menezes Jr., 2008). Entretanto, em áreas
Foi calculado o índice de diversidade de florestadas a abundância de algumas espécies do
Shannon-Wienner para ambas as áreas, gênero Artibeus pode estar relacionada a
antropizada e conservada. distúrbios ambientais (Schulze et al., 2000). Já
na área conservada a espécie mais abundante foi
Resultados e Discussão C. perspicillata representando cerca de 32,9%
Foram capturados 393 morcegos de 21 de todas as capturas, alcançando resultado
espécies, distribuídas em três famílias, similar na área antropizada, com 27,5%, não
Molossidae: Molossus molossus, havendo relação alguma entre sua abundância e
Vespertilionidae: Myotis levis, Myotis nigricans o nível de conservação das áreas amostradas.
e Phyllostomidae: Artibeus fimbriatus, A. Levantamento de espécies em áreas de
lituratus, A. obscurus, Anoura caudifer, A. vegetação remanescentes, sejam elas bem
geoffroyi, Carollia perspicillata, Desmodus conservadas ou completamente
rotundus, Glossophaga soricina, Lonchophylla descaracterizadas, são de vital importância para
bokermanni, Micronycteris microtis, M. minuta, a compreensão dos efeitos da ação humana
Phyllostomus hastatus, Platyrrhinus lineatus, P. sobre a biodiversidade (Esbérard, 2003; Henle
recifinus, Pygoderma bilabiatum, Sturnira et al., 2004).
lilium, Tonatia bidens e Vampyressa pusilla.
Desse total, 88 capturas de 16 espécies foram Conclusões
em áreas conservadas e 305 capturas de 17 Mesmo com um número considerável de
espécies em áreas antropizadas. As espécies M. espécies em relação a outros levantamentos em
levis, P. hastatus e V. pusilla foram capturadas áreas próximas a curva de acumulação de
exclusivamente na área conservada, enquanto espécies ainda não atingiu a assíntota para
M. molossus, G. soricina, M. microtis, M. ambas as áreas, indicando que há a necessidade
minuta e P. lineatus foram capturados da continuidade das pesquisas no PNM de Nova
exclusivamente na área antropizada. As demais Iguaçu. Somente a continuidade dos estudos nos
espécies foram capturadas em ambos os diversos ambientes existentes nesse Parque
ambientes. poderá inferir qual o efeito da antropização na
O índice de diversidade de Shannon- comunidade de morcegos dessa região.
Wienner apresentou diferenças significativas
entre as áreas conservadas e antropizadas, Agradecimentos
apresentando valores de H‘ = 0,98 e H‘ = 0,65, Ao Parque Natural Municipal de Nova
para cada uma respectivamente. A maior Iguaçu e Secretaria Municipal Adjunta de Meio
diversidade de espécies para a área conservada é Ambiente e Sustentabilidade de Nova Iguaçu
esperada, visto que áreas fragmentadas e com pela licença de pesquisa concedida e a
forte influência antrópica podem favorecer ZOOTECH pelo patrocínio.
espécies com dieta mais generalistas (Estrada et
al., 1993, Estrada & Coates-Estrada, 2002), que Referências
obtêm vantagem na competição com espécies Anthony E.L.P. 1988. Age determination in
que possuem a dieta mais especialista. Além bats, p.47-58. In: Kunz, T.H. (Ed.).
disso, essas áreas antropizadas podem manter Behavioral methods for the study of bats.
138
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Washington D.C., Smithsonian Institution Herrera C.M., Jordano P., Lopez-Soria L. &
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139
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Microradiography of the baculum as an aid to species identification in the genus


Myotis Kaup, 1829

Isabel A. Sbragia(1)*, Henrique S. Rocha(2), Leila M. Pessôa(1) e Ricardo T. Lopes(2)

(1) Laboratório de Mastozoologia, Departamento Zoologia, CCS, UFRJ. Av. Brig. Trompowsky, s/n,
21941-590 – Rio de Janeiro – RJ – 55 21 2562-6368; (2) Laboratório de Instrumentação Nuclear,
COPPE, UFRJ.

*Corresponding author. Email: pessoa@acd.ufrj.br


Keywords: Brazil, Myotis ruber, X-ray microfocus

Introduction collection of the Museu Nacional (MN),


The genus Myotis is the most diverse within Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN
Vespertilionidae, with about 103 recognized 67845), and was prepared as a fluid-preserved
species (Simmons 2005). It is widespread, specimen with skull removed (Nagorsen and
occurring in Asia, Australia, Europe, and North Peterson 1980; DeBlase and Martin 1981;
and South America. In South America, this Handley 1988).
genus has its greatest diversification (Koopman The genital organ of the specimens is
1982), but no external morphological usually dissected for remove of the soft tissue,
specializations that clearly distinguish the being left only the baculum. This bone is in
species recognized are available (LaVal 1973; general measured and the form and size of this
López-González et al. 2001). LaVal (1973) structure is compared with the all other known
revised the genus and included drawings of within the genus. The great problem of this
bacula for some species. The baculum, or os technique is that the sample is permanently
penis, is an extremely diverse structure in both damaged.
shape and size (Patterson and Thaeler 1982), but Therefore, in this study, the penis of the
its potential application in the taxonomy of specimen was subjected to microradiography
neotropical bats has been little explored. using an X-ray microfocus tube, through which
The usual procedure to obtain the baculum electronic lenses focus a beam of electrons onto
of a specimen involves the dissection of the a small area of metallic target to produce a
genital organ, with a careful removal of all soft microfocus X-rays beam. The target area
tissue around the bone. The great problem with illuminated by electrons determines the focal
this technique is that the sample is permanently size of the X-ray beam. The focusing process
damaged. The use of the microradiography makes the X-ray beam highly coherent,
technique has been growing in biological producing high clarity images. A tungsten target
investigations, providing non-destructive access was used to produce a polychromatic beam with
to rare or voucher specimens. This technique an effective energy of about 13 keV, 20 µA of
allows the observation of structures at a scale of current and a focal length of about 60 µm.
tens of microns as a result of different The sample was positioned and the system
attenuation coefficients in tissues or adjacent was calibrated with magnification factor to the
structures. analysis. The images were collected on MX-125
The purpose here is to evaluate the (Kodak) high-resolution radiographic film with
possibility of using microradiography to observe an exposure time of about 30 minutes. The
and describe bacula in bats, and also to images obtained represent an attenuation
investigate the use of bacular morphology as an coefficient map of a sample projection in the
aid in species identification in the genus Myotis. plane of the film. The films were scanned in a
high-resolution scanner and the images were
Material and methods gauged and analyzed with Image Pro®
The present study is based on the analysis of software. This software allows measurements to
the baculum of a specimen of Myotis collected be taken for subsequent statistical studies.
as part of a sample of small mammals obtained The microradiography image was filtered
during a large inventory project of the Chapada and a threshold image was obtained to allow a
Diamantina region (Oliveira and Pessôa 2005). better visualization of the baculum details. This
This specimen is deposited in the mammal

140
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

kind of filter on the image can allow future coefficients. The protocol used here, including
automations in the classification analysis. the adoption of a microfocus source with an
effective energy of about 13 keV and 20 µA of
current, showed that this technique is useful in
the analysis of bacular morphology in bats, a
Results and Discussion group with several rare and poorly represented
The microradiography technique, as used in species in natural history collections. Although
this study, allowed the acquisition of a clear and little explored in studies of neotropical bats,
detailed image of the subject investigated, bacular morphology may prove to be an
confirming the potential of this technique in the additional valuable source of taxonomic
analysis of bacular morphology in bats. The information, as seems to be the case in the
baculum of the Myotis collected at Chapada genus Myotis.
Diamantina proved to be rather broad and stout
in general appearance, and presented the Acknowledgements
following general measurements: bacular length Pessôa, L. M. and Lopes, R. T. are supported
(0,52 mm) and width (0,38 mm). by research fellowships by Conselho Nacional
Comparisons with drawings for several de Pesquisa (CNPq 304758/2007-8); Sbragia, I.
species within Myotis described in the literature A. is supported by a graduate fellowship from
revealed that the baculum of the specimen MN by Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
67845 is similar in shape, to those described for de Nível Superior (CAPES); We thank Dr.
two species: M. ruber and M. levis. Although a Ricardo Moratelli for helping us with the
clear association with one of these species was identification of the specimen and an
not possible, this result is noteworthy, anonymous referee for the valuable suggestions
particularly if we consider that at least three to improve this manuscript. Financial Support:
other species of Myotis (M. albescens, M. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ);
nigricans, and M. riparius) occur in eastern Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq);
Brazil (Wilson 2008). Subsequent examination Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
of standard body and skull measurements of the Nível Superior (CAPES).
specimen studied here, as well as some of its
qualitative morphological features relevant in References
the context of Myotis taxonomy confirmed our Chiarello A.G.; Aguiar L.M.S.; Cerqueira R.;
results from bacular morphology, pointing Melo F.R.; Rodrigues F.H.G. and Silva
further toward its identification as M. ruber V.M.F. 2008. Mamíferos ameaçados de
(Sbragia and Pessôa 2008). extinção no Brasil. In: Livro vermelho da
The specimen whose baculum was examined fauna brasileira ameaçada de extinção
here was the first M. ruber to be reported for the (Edited by Machado A.B.M., Drummond
Caatinga, representing an inland distributional G.M. and Paglia A.P.), pp. 681-880.
extension of 480 km (Sbragia and Pessôa 2008). Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte.
As far as we know, no other record of M. ruber DeBlase A. F. and Martin R.E. 1981. A Manual
has been reported for the Caatinga, and this of Mammalogy with Keys to Families of the
species is recognized as one of the five World. Second Edition. Ed. by Wm. C.
Brazilian bats vulnerable to extinction Brown Company, 434pp.
(Chiarello et al. 2008). Myotis ruber is also Handley C.O. 1988. Specimen Preparation. In:
present in the IUCN Red List, currently Ecological and Behavioral methods for the
assigned as ―Near Threatened‖ (IUCN 2009). Study of Bats (Edited by Kunz T.H.), pp.
The X-ray microradiography technique was, 437-457. Smithsonian Institution Press,
therefore, very useful in the case studied here, Washington D.C.
because bacular morphology was accessed IUCN. 2009. IUCN Red List of Threatened
without penis dissection, keeping intact the only Species. Version 2009.2.
one specimen of Myotis ruber that seems to be <www.iucnredlist.org>. Downloaded on 10
currently available from Caatinga. March 2010.
Koopman K.F. 1982. Biogeography of the Bats
Conclusions of South America. In: Mammalian Biology
The use of microradiography techniques in in South America. (Edited by Mares M.A.
biological investigations provides non- and Genoways H.H.), pp. 273-302. Special
destructive access to voucher and rare Publication Series, Pymatuning Laboratory
specimens in collections. This technique allows of Ecology, University of Pittsburgh, vol. 6,
the observation of structures at a scale of tens 539 pp.
microns, a result of different attenuation
141
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

LaVal R.K. 1973. A Revision of the Neotropical Nature of Bacular Variability. Journal of
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Patterson B.D. and Thaeler Jr. C.S. 1982. The
Mammalian Baculum: Hypotheses on the

142
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Primeiro registro de raiva em morcegos insetívoros no estado de Pernambuco,


nordeste do Brasil
Robson Soares de Melo(1)*; Luiz Augustinho Menezes da Silva(2); José Lindemberg M. Machado(3);
Mariluce de Lima Melo(3); Verônica Izabel de Brito Alencar(3); Leandro Pimentel de Andrade(1)

(1) Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas – UFPE/CAV; Grupo de Estudos de Morcegos no


Nordeste (GEMNE); (2) Núcleo de Biologia / Universidade Federal de Pernambuco – CAV e
Coordenador do Grupo de Estudos de Morcegos no Nordeste (GEMNE); (3) Laboratório Nacional
Agropecuário em Pernambuco, Secretaria Estadual de Saúde;

*Corresponding author. Email: robson-melo@hotmail.com


Palavras-chave: Molossus molossus, Saúde Pública, Sinantrópicos

Introdução morcegos insetívoros para o Estado de


A raiva é caracterizada por uma Pernambuco, nordeste do Brasil.
encefalomielite aguda fatal a todos os
mamíferos inclusive ao homem, causada por um Material e Métodos
RNA-vírus – Lyssavirus (Rabdoviridae), Os espécimes analisados no presente estudo
acarretando problemas econômicos e de saúde (n = 9) foram coletados nas dependências do
pública (Rupprecht et al. 2002). Em princípio, Laboratório Nacional Agropecuário
esta é uma doença mantida e perpetuada na (LANAGRO-PE) (8º 00‘ 50,97‖ S e 34º 56‘
natureza por diferentes espécies de mamíferos 54,48‖ W), no bairro de Dois Irmãos, município
silvestres, entre eles carnívoros, primatas e de Recife, estado de Pernambuco. Esse bairro
morcegos (Kotait et al. 2007). está situado na região Noroeste da cidade, junto
Como recentemente no Brasil a raiva vem de áreas densamente povoadas, ao campus da
sendo controlada entre os animais urbanos (cães Universidade Federal Rural de Pernambuco, ao
e gatos), os morcegos assumiram o primeiro Parque Zoobotânico de Dois Irmãos, a um
lugar na transmissão de raiva humana a partir de fragmento de mata urbano (Reserva Ecológica
2004 (Kotait et al. 2007). Entre os quirópteros, de Dois Irmãos) e a rodovia federal BR -101.
os insetívoros vêm se tornando cada vez mais Os animais foram recolhidos no pátio com a
importantes na epidemiologia da raiva urbana utilização de pinças e luvas de raspa de couro
(Martorelli et al. 1996), para este grupo são em diferentes datas entre janeiro e abril de 2009.
reconhecidas 18 espécies das 36 diagnosticadas Os espécimes foram encaminhados para análise
com raiva no Brasil (Kotait et al. 2007). O e identificados posteriormente seguindo os
isolamento do vírus rábico em diversas espécies critérios de Gregorin e Taddei (2002),
de morcegos no Brasil fortalece a teoria da infelizmente apenas dois exemplares foram
transmissão da doença entre as diferentes submetido à identificação. Em todos os
espécies, e destaca a importância dos morcegos coletados, como métodos de análise
quirópteros na epidemiologia desta enfermidade foram utilizados o exame de tecido nervoso pela
(Passos et al. 1998). técnica de imunofluorescência direta (IFD) e a
Entre os insetívoros com ocorrência prova biológica (PB) através de inoculação pela
conhecida para ambientes urbanos, destaca-se via intracerebral de uma suspensão do cérebro
em território brasileiro Molossus molossus do morcego em 12 camundongos de 21 dias.
(Pallas, 1766) por ser a espécie mais comum e a
mais amplamente distribuída, ocorrendo tanto Resultados e Discussão
em áreas urbanas quanto nas rurais (Bredt et al. No presente estudo, realizamos diagnóstico
1996; Lima 2008) de diversos estados do norte, de raiva em nove morcegos insetívoros,
nordeste, sul e sudeste (Fabian e Gregorin encontrados no chão do estacionamento interno
2007). Registros de M. molossus positivos para do LANAGRO-PE, entre janeiro e abril de
a raiva já foram observados (Uieda et al. 1995 e 2009. Apesar de apenas dois terem sido
1996; Souza et al. 2005) em diferentes regiões enviados para identificação os técnicos do
brasileiras, entretanto, não há referência para o LANAGRO afirmaram que os demais
estado de Pernambuco sobre a incidência de exemplares apresentavam morfologia externa
raiva em morcegos insetívoros. Dessa forma a semelhante aos enviados, compatível a
presente notificação tem por objetivo relatar Molossidae. O primeiro exemplar era um M.
pelo primeiro isolamento do vírus rábico em molossus, fêmea adulta, não grávida, encontrado

143
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

vivo no chão do estacionamento às 11h e 30 min Tadarida brasiliensis (I. Geoffroy, 1824). Os
de 29 de janeiro de 2009. O animal tentava autores encontraram cinco casos positivo desta
morder o coletor. O segundo exemplar, também espécie no período de 30 dias e sugeriram que o
M. molossus, foi observado voando durante o surto poderia estar relacionado a um estresse
período da manhã de 5 de fevereiro de 2009 e sofrido pela colônia ao ser submetida a um
posteriormente caiu no chão do estacionamento controle com aplicação de DDT em seu abrigo
sendo capturado. Ambos os exemplares diurno, duas semanas antes do registro do
apresentaram resultado positivo para a raiva primeiro caso. É possível que esse inseticida
pela técnica IFD e Prova Biológica. Nesta deva ter diminuído a imunidade desses animais.
prova, os camundongos apresentaram sintomas No presente estudo, a investigação local não
12 dias após a inoculação, vindo à morte logo confirmou nenhum tipo de ação de controle nas
em seguida. Em nenhum dos registros ocorreu o colônias de morcegos que residiam nas
contato entre os animais infectados e animais edificações do LANAGRO-PE.
domésticos ou pessoas. Em Pernambuco o baixo número de
Outros dois exemplares encontrados caídos amostras de morcegos encaminhadas para
no estacionamento (25 de março e 17 de abril de exame laboratorial de raiva, principalmente de
2009) próximos aos registros anteriores foram espécies não hematófagas, pode está
positivos nas duas provas. Cinco outros mascarando a distribuição e ocorrência do vírus
exemplares foram também encontrados em rábico nesse grupo de mamíferos. Além disso,
condições semelhantes, mas apresentaram não há processo habitual de identificação dos
resultado negativo para a raiva. Nenhum desses espécimes analisados estes, em sua maioria, são
sete exemplares foi encaminhado para separados em hematófagos e não-hematófagos.
identificação, porém acreditamos que eram Uieda et al (1996) afirmaram que a correta
também indivíduos da mesma colônia de M. identificação das espécies é fundamental, pois
molossus. cada uma delas apresenta características
Apesar de ser muito comum ao longo de sua biológicas e ecológicas peculiares, que são
distribuição geográfica (Nowak 1991), a importantes na avaliação epidemiológica da
primeira associação entre M. molossus e o vírus situação encontrada.
rábico no Brasil só foi registrada na literatura na
década de 70 (Uieda et al. 1995), no estado de Conclusões
São Paulo. O presente estudo é o primeiro O relato do isolamento do vírus rábico em
registro de raiva nessa espécie no estado de M. molossus em bairro residencial de Recife,
Pernambuco. Pernambuco, mostra a presença da raiva no
O registro de morcegos não-hematófagos ecossistema urbano, independentemente do
positivos para raiva em sua maioria é decorrente registro de casos positivos em humanos e em
do encontro de espécimes em condições animais domésticos. Isto representa uma grande
atípicas, como caídos no chão vivos ou mortos, preocupação para a saúde pública devido ao fato
voando durante o dia, pousados em locais não dessa espécie ser encontrada com freqüência em
usuais durante o dia e agressivos (Uieda et al. áreas urbanas abrigando-se em residências
1995 e 1996; Martorelli et al. 1996; Passos et al. habitadas, possibilitando assim o contato com
1998). Indivíduos nessas condições são fortes humanos e animais domésticos e poder
candidatos a estarem portando o vírus rábico e ocasionalmente tornar-se transmissora do vírus
os exemplares de Pernambuco, registrados no rábico, tanto aos humanos quanto aos gatos e
presente estudo, confirmam a ocorrência dessa cães.
zoonose em morcegos encontrados em situações Os autores sugerem medidas preventivas
atípicas. principalmente no que diz respeito ao envio de
De modo geral, os registros de espécimes de amostras para análise viral e a investigação da
morcegos não hematófagos positivos para raiva situação da raiva em morcegos não hematófagos
são isolados e individuais, sem necessariamente em outras regiões do estado. Evidenciando
estarem relacionados a uma época do ano ou assim que o controle da raiva urbana deve ser
local específico de ocorrência conforme os intensificado pelos Centros de Controle de
dados de Uieda et al (1996) e Passos et al Zoonoses municipais, mantendo contato com
(1999). Por outro lado, os espécimes analisados outros órgãos responsáveis para um melhor
em Pernambuco foram encontrados em pontos planejamento e realização de ações conjuntas. É
próximos (estacionamento do LANAGRO) e em de fundamental importância o desenvolvimento
curto intervalo de tempo (cerca de quatro de ações de treinamento e capacitação de
meses), sugerindo pertencerem a uma mesma agentes para o controle e manejo de morcegos
colônia. Situação semelhante foi estudada por em áreas urbanas bem como ações de educação
Burns e Farinacci (1955) no Texas para ambiental voltadas a conscientizar a população
144
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

sobre a importância e os cuidados que se deve Ecologia de Morcegos. (Editado por Reis
ter com os morcegos urbanos. N.R; Peracchi A.L e Santos G.A.S.D), pp.
71-86. Londrina: Nélio Roberto dos Reis.
Agradecimentos 153p.
Ao Centro Acadêmico de Vitória (CAV- Martorelli L.F.A; Aguiar E.A.C; Almeida M.F;
UFPE) pelo apoio as pesquisas; à Secretaria Silva M.M.S.; Novaes E.C.R. 1996.
Estadual de Saúde pela parceria no combate a Isolamento do vírus rábico de morcego
raiva no Estado e aos funcionários do insetívoro, Lasyurus borealis. Rev. Saúde
LANAGRO pelo encaminhamento das Pública. 30: 101-102.
amostras. Nowak L.M. 1991. Walker‘s mammals of the
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Referências Hopkins University Press. v. 2. 5a
Bredt A.; Araujo F.A.A.; Caetano Jr. J.; Passos E.C; Carrieri M.L; Dainovskas E;
Rodrigues M.G.R.; Yoshizawa M.; Silva M. Camara M e Silva M.M.S. 1998. Isolamento
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Bürer S.P.; Porto V.A.R.; Uieda W. 1996. Nyctinomops macrotis, no município de
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Fabian ME; Gregorin R. 2007. Família município de Rio Claro, SP. Braz. J. Vet.
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brasileiros (Mammalia, Chiroptera). região de Botucatu-SP: importância dos
Mastozoología Neotropical 9: 13-32. quirópteros na manutenção do vírus na
Kotait I; Carrieri M.L; Carnieli-Junior P; natureza. Ars. Veterinária 21(1): 62-68
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(Mammalia: Chiroptera) registradas em diagnosticadas com raiva no Brasil. Bol.
parques nas áreas urbanas do Brasil e suas Inst. Pasteur. 1(2): 17-35.
implicações no uso deste ambiente. Em:

145
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Primeiro registro de Chiroderma doriae Thomas para o estado de Alagoas

Thiago Costa Acioli(1); Luciana Santos Medeiros(2); James Prado Pinto Sobrinho(1); Itairan Camelo de
Macena Albuquerque(3); Kenny Meneses Ferreira(2); Arianne Gabrielle Barbosa(1); Ricardo
Moratelli(4); Ana Cristina Brito(3)*

(1) Centro de Estudos Superiores de Maceió, Alagoas; (2) Fundação Amanaie de Ação Sócioambiental,
Alagoas; (3) Universidade Federal de Alagoas, Alagoas; (4) Campus Fiocruz da Mata Atlântica,
Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro

*Corresponding author. Email: annabrito6@gmail.com


Palavras-chave: Distribuição, Nordeste, Mata Atlântica

Introdução foram preparados para conservação em meio


O gênero Chiroderma Thomas, 1891 é líquido e estão depositados na coleção da
composto por cinco espécies neotropicais Quântica Centro de Pesquisa, em Maceió,
(Gardner 2007), três delas registradas para o Alagoas.
Brasil: Chiroderma doriae Thomas, 1891,
restrita a localidades no sul, sudeste, centro- Resultados e Discussão
oeste e nordeste do Brasil, com um registro De acordo com Taddei (1979), Koopman
adicional para o Paraguai; C. trinitatum (1994) e Gardner (2007), C. doriae distingue-se
Goodwin, 1958, restrita à região norte, nos das demais espécies do gênero pelo seguinte
estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso e conjunto de caracteres: tamanho relativamente
Pará; e C. villosum Peters, 1860, amplamente grande (comprimento total do corpo variando
distribuída pelo território brasileiro (Reis e entre 69 e 78 mm, comprimento do antebraço
Peracchi 1987; Taddei et al. 1990; Lopéz- entre 49 e 56 mm e comprimento côndilo-basal
González et al. 1998; Nogueira et al. 1999; entre 25 e 27 mm); primeiro pré-molar inferior
Mikalauskas et al. 2006; Gardner 2007; Zortéa com cúspide anterior alta; incisivos superiores
2007). Chiroderma doriae, que era considerada internos finos e aguçados, em contato apenas
restrita à Mata Atlântica do sudeste do Brasil, nas extremidades; orelhas curtas e
razão pela qual foi classificada como vulnerável arredondadas, marginadas de amarelo; listras
à extinção (Aguiar e Taddei 1995; Bergallo et faciais supra e infra-orbitais proeminentes e
al. 2000), atualmente tem registros de constituídas por pêlos totalmente brancos; e
ocorrência confirmados para os estados do Rio listra mediana dorsal constituída pelas
de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais (Pedro e extremidades brancas dos pêlos e disposta da
Taddei 1998), Paraná (Vizotto et al. 1976), região interescapular até a porção distal do
Espírito Santo (Scabello et al. 2009), Distrito dorso. Distingue-se de Chiroderma villosum,
Federal (Coimbra et al. 1982), Mato Grosso do espécie que ocorre em simpatria no sudeste e
Sul (Gregorin 1998; Bordignon 2005), nordeste do Brasil, pelas maiores dimensões
Pernambuco (Sousa et al. 2004) e Sergipe externas e cranianas, forma dos incisivos
(Mikalauskas et al. 2006). Aqui, com base em superiores internos, os quais estão separados e
dois indivíduos recentemente coletados no paralelos em C. villosum, não se tocando na
município de Maceió, reportamos o primeiro extremidade, e pela tonalidade mais forte das
registro da espécie para o Estado de Alagoas, faixas dorsal e faciais (Koopman 1994, Gardner
sendo essa a terceira localidade de ocorrência 2007).
confirmada para C. doriae no nordeste Duas fêmeas adultas (FAAS 014 e 015),
brasileiro. capturadas no dia 28.IV.2009, foram
identificadas como Chiroderma doriae pela
Material e Métodos verificação dos caracteres acima listados. Um
As atividades de campo foram conduzidas dos exemplares capturados apresentava 30g de
na Fazenda Alto Verde (09º 31.2‘ S e 35º 42.7‘ massa corporal e as seguintes medidas (mm)
W), município de Maceió, Alagoas. Esta externas e cranianas: comprimento total do
propriedade tem suas atividades baseadas na corpo 71; comprimento do antebraço 52;
criação de gado e cultura de cana-de-açúcar, comprimento total do crânio, sem incisivos
possuindo um pequeno fragmento de Mata 27,22; comprimento côndilo-basal 25,32;
Atlântica de baixada, altitude de 30 m, onde os comprimento basal 23,26; comprimento
espécimes foram capturados com redes de côndilo-canino 24,82; comprimento da série de
espera armadas no sub-bosque. Os espécimes dentes superiores 9,70; comprimento da série de
146
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

dentes inferiores 10,70; comprimento da Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica.


mandíbula, sem incisivos 18,83; largura pós- 2010. Disponível em
orbital 10,32; largura zigomática 17,01; largura (http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php
dos caninos 5,89; largura dos molares 12,55; ?sigla=al), Acesso em 25 de Janeiro de
largura da caixa craniana 11,27; e largura 2010.
mastóidea 13,45. Essas medidas estão dentro
dos limites reportados para C. doriae por Taddei Koopman K.F. 1994. Chiroptera: systematics.
(1979), Mikalauskas et al. (2006) e Scabello et Handbuch der Zoologie, Mammalia, part 60.
al. (2009). Berlin, Walter de Gruyter 8: 217
No presente relato, C. doriae foi registrada López-González C.; Presley S.J.; Owen R.D.;
em um pequeno fragmento de Mata Atlântica Willig M.R. e Fox I.G. 1998. Noteworthy
com acentuada ação antrópica no entorno, records of bats (Chiroptera) from Paraguay.
próximo à área urbana. De acordo com Pedro e Mastozoologia Neotropical 5: 41-45.
Taddei (1997), a ocorrência desta espécie está Mikalauskas J.S.R.; Moratelli R e Peracchi A.L.
relacionada a habitats de floresta primária e 2006. Ocorrência de Chiroderma doriae
secundária, assim como a ambientes (Chiroptera, Phyllostomidae), no Estado de
xeromórficos, ocorrendo também em áreas Sergipe, Brasil. Revista Brasileira de
urbanas. Zoologia 23 (3): 877-978.
Nogueira M.R.; POL A. e Peracchi A.L. 1999.
Conclusões New records of bats from Brazil with a list
O registro dessa espécie na Mata Atlântica of additional species for the chiropteran
do município de Maceió, o terceiro no nordeste, fauna of the state of Acre, western Amazon
ratifica a inclusão dessa região dentro das áreas basin (Mammalia, Chiroptera). Mammalia,
classificadas como de ―Muito alta importância 63(3): 363-368.
biológica‖ pelo IBGE (2007). Pedro W. e Taddei V.A. 1997. Taxonomic
assemblage of bats form Panga Reserve,
Agradecimentos southeastern Brazil: abundance patterns and
Ao IBAMA pela permissão concedida para trophic relations in the Phyllostomidae
as atividades de captura (autorização 19706-1). (Chiroptera). Boletim do Museu de Biologia
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brasileiros. Chiroptera Neotropical 1 (2): 24- neotropical 4(1): 85-87.
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Fernandez F.A.S.; Grelle C.E.; Peracchi Paraense Emilio Goeldi, Série Zoologia
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Mamíferos. Em: A Fauna ameaçada de Scabello M.; Oliveira L.F.; Cipriano R.S.;
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Chiroptera Neotropical 4: 98-99. Taddei V.A.; Rezende I.M. e Camora D. 1990.
Notas sobre uma coleção de morcegos de
147
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Cruzeiro do Sul, Rio Juruá, Estado do Acre Sudeste de São Paulo e norte do Paraná.
(Mammalia, Chiroptera). Boletim do Museu Ciência e Cultura 28 (7): 432-433.
Paraense Emílio Goeldi, Nova Série, Zortéa M. 2007. Stenodermatinae. Em:
Zoologia 6 (1): 75-88. Morcegos do Brasil (Editado por Reis N.R.;
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Londrina, Londrina, 2007.

148
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Primeiro registro de raiva em morcego frugívoro em área urbana de Olinda,


Pernambuco, Brasil

Emmanuel Messias Vilar Gonçalves da Silva (1)*, Roseli Rodolfo da Silva (1), Luiz Augustinho
Menezes da Silva (2), Elizabeth Hortêncio de Melo (3), Claudenice Pontes (3), Márcia Marcondes (4) e
Tereza Miranda (4)

(1) Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas – UFPE/CAV; (2) Núcleo de Biologia, Universidade
Federal de Pernambuco – CAV; (3) Centro de Vigilância Ambiental de Olinda; (4) Secretaria de Saúde
do Município de Olinda.

*Corresponding author. Email: messiashp@hotmail.com


Palavras-chave: Artibeus planirostris, Saúde Pública, Vigilância Epidemiológica

Introdução arborização local, podem ser fontes atrativas


A raiva é uma zoonose causada por vírus da para os morcegos fitófagos, condição
família Rhabdoviridae, gênero [Lyssavirus], que semelhante a muitas outras cidades no Brasil.
é considerada um dos grandes problemas da Na área urbana de Olinda podem ainda ser
saúde animal e da saúde pública, não somente encontrados fragmentos de floresta atlântica em
no Brasil, como em grande parte do mundo. É parques, como o Parque Memorial Arcoverde. É
uma doença exclusivamente de mamíferos e é comum em quintais e na área periurbana o
transmitida basicamente pela mordedura de plantio de espécies frutíferas tais como manga,
animais infectados, principalmente por sapoti, acerola, pitanga, caju, castanhola entre
carnívoros domésticos e silvestres, primatas e outras que também podem fornecer alimento e
morcegos (Kotait et al. 2007). abrigo aos morcegos fitófagos.
Atualmente os morcegos assumiram o papel O espécime analisado no presente estudo foi
principal na cadeia de transmissão da raiva em encontrado morto, caído no quintal de uma
humanos, com o registro de 36 espécies residência no bairro de Bairro Novo situado na
positivas para raiva no Brasil (Kotait et al. área urbana do Município de Olinda, já em
2007), os registros foram feitos principalmente estágio inicial de putrefação. O exemplar foi
na região Sudeste, onde sua quiropterofauna é recolhido pelos agentes de Vigilância
mais estudada (Kotait 2005). Ambiental, no momento em que realizavam um
São reconhecidas 63 espécies de morcegos trabalho de desratização na área.
de diferentes hábitos alimentares em áreas O exemplar foi encaminhado pela equipe do
urbanas de todo o Brasil (Lima 2008) destas, 18 Centro de Vigilância Ambiental de Olinda
utilizam frutos em sua alimentação, destacam-se (CEVAO) ao Laboratório Nacional
nesse grupo as grandes espécies de [Artibeus], Agropecuário em Pernambuco (LANAGRO)
sendo comum o registro de espécies positivas para o diagnóstico de raiva. Com este intuito,
para raiva nesse gênero (Deus et al., 2003; foram realizadas as provas de
Albas et al., 2004; Cunha et al. 2005 e 2006; imunofluorescencia direta e a prova biológica a
Souza et al., 2005; Langoni et al., 2007 entre partir da inoculação intracerebral em
outros) e nenhum destes registros ocorreu na camundongos de 21 dias.
região nordeste do país. Este trabalho tem como
objetivo destacar a participação de [Artibeus Resultados e Discussão
planirostris] de Olinda, estado de Pernambuco O exemplar coletado era um frugívoro de
na veiculação do vírus da raiva em área urbana e grande porte identificado como A. planirostris
registrar pela primeira vez um caso positivo (Phyllostomidae: Stenodermatinae), não foi
para a espécie no Nordeste do país. tomado nota do sexo e condição reprodutiva do
animal. Esta espécie é amplamente distribuída
Material e Métodos em território brasileiro, sendo considerada
Situada na zona Metropolitana de Recife, o relativamente comum (Zortéa 2007), e
município de Olinda limita-se com os observada com maior freqüência nas regiões
municípios de Paulista (Norte), Recife (Sul e Norte e Nordeste do país (Bredt et al 1998,
Oeste) e o Oceano Atlântico (Leste). Taddei et al 1998, Zortea 2007;) sendo muito
A cidade apresenta áreas arborizadas e comum na área urbana de Olinda,
diversas espécies vegetais, utilizadas na provavelmente atraídos pela grande quantidade

149
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

de plantas frutíferas presentes em quintais, A presença de morcegos frugívoros em áreas


praças e ruas. urbanas parece ser cada vez mais freqüentes,
A análise laboratorial registrou a presença especialmente [A. planirostris] que possui uma
do vírus rábico no morcego frugívoro A. grande população na área urbana de Olinda. O
planirostris examinado, tanto na registro demonstra que o vírus rábico está em
Imunoflorescencia Direta como na Prova circulação na área urbana e recomenda-se a
Biológica. O gênero Artibeus encontra-se entre implantação de programas de monitoramento de
os grupos de morcegos não hematófagos da morcegos nos centros de Vigilância Ambiental
América do sul de maior importância dos municípios adjacentes ao do registro do
epidemiológica na transmissão da raiva caso e destaca-se a importância do envio de
(Favoretto et al, 2002; Favi et al., 2002 e espécimes encontrados vivos ou mortos
Cisterna et al. 2005), este gênero representou (recentemente ou não).
36% das amostras positivas na região norte e
noroeste de São Paulo (Cunha et al. 2006). No Referências
Brasil o maior número de registros de Artibeus Albas, A.; Zoccolaro, P. T.; Rosa, T. Z.; Lara,
positivos para raiva ocorreu para Artibeus M. C. C. S. H.; Nassar, A. F. C.; Cunha, E.
lituratus, poucos foram os casos de A. M. S. 2004. Raiva em morcegos na região de
planisrostris registrados com raiva no Brasil, Presidente Prudente, SP. Brasil. Arquivos do
entre eles temos (Ruschi 1952; Uieda et al Instituto Biológico 71 (supl): 235-236.
1996; Cunha et al 2006; Schimonsky 2003; Albas, A; Souza, E. A. N. de; Lourenço, R. A.;
Albas et al 2009), apesar deste caso não ser Favoretto, S. R.; Sodré, M. M. 2009. Perfil
inédito para o Brasil, este representa o primeiro antigênico do vírus da raiva isolado de
na região nordeste do País. diferentes espécies de morcegos não
Pouco se conhece da epidemiologia do vírus hematófagos da Região de Presidente
rábico em morcegos não-hematófagos e para Prudente, Estado de São Paulo. Revista da
melhor entender a circulação viral na área Sociedade Brasileira de Medicina Tropical
urbana é importante o acompanhamento dos 42 (1): 15-17
morcegos sinantrópicos. No município de Baer, G. M; Smith, J.S. 1991. Rabies in
Olinda, a partir de coletas desenvolvidas pelo nonhematophagous bats. In. Baer, G. M ed
CEVAO, foram registradas 12 espécie de The natural history of rabies. New York.
morcegos, destacando-se A. planirostris Academic Press. 1975. p. 155-175
freqüente e comum em quintais, este fato é Bredt A, Araujo FAA, Caetano Jr. J, Rodrigues
agravante, pois aumenta assim as chances de MGR, Yoshizawa M, Silva MMS, Harmani
contato entre morcegos doentes e humanos e/ou NMS, Massunaga PNT, Bürer SP, Porto
animais domésticos (cães e gatos) VAR, Uieda, W. 1998. Morcegos em áreas
principalmente quando estes animais urbanas e rurais: Manual de Manejo e
desenvolvem a sintomatologia (ex. Tomaz et al. Controle. Brasília: Fundação Nacional da
2007; Baer e Smith 1991; Cunha et al 2005; Saúde. 117p.
Langoni et al. 2005 e 2007). Em Olinda também Cisterna, D., Bonaventura, R., Caillou, S. 2005.
há relatos de espoliação por morcegos Antigenic and molecular characterization of
hematófagos em cães (Dantas-Torres et al., rabies virus in Argentina. Virus Res 109:
2005). 139–147.
Apesar do ultimo caso de raiva no município Cunha, E. M. S; Lara, M C C S H; Nassar, A. F.
de Olinda ter sido registrado em um cão em C; Sodré, M M; Amaral, L F V. 2005.
abril do ano de 2005, o isolamento do vírus Isolamento do vírus da raiva em [Artibeus
rábico em A. planirostris em área urbana ainda fimbriatus] no Estado de São Paulo. Revista
indica haver a circulação viral nesse ambiente. de Saúde Pública 39 (4):683-684
Este fato demonstra a necessidade de se ampliar Cunha, E. M. S; Silva, L. H. Q. da; Lara, M C C
os trabalhos de vigilância da raiva e o S H; Nassar, A. F. C; Allbas, A; Sodré, M
monitoramento dos morcegos nas áreas urbanas M; Pedro, W A. 2006. Bat rabies in the
de Olinda. Sugerimos aqui esse mesmo trabalho North-northwestern regions of the state of
deveria ser desenvolvido pelos municípios São Paulo, Brazil: 1997-2002. Revista de
adjacentes, uma vez que os morcegos Saúde Pública 40 (6):1082-1086
apresentam muita mobilidade e poderiam Dantas-Torres, F; Valença, C; Andrade-Filho, G
disseminar a raiva para outras colônias de V. 2005 First Record of [Desmodus
morcegos. rotundus] in urban area from the city of
Olinda, Pernambuco, Northeastern Brazil: a
Conclusões case report. Revista do Instituto de Medicina
Tropical de São Paulo 47 (2): 107-108
150
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

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Favoretto, S. R., Carrieri, M. L., Cunha, E. M. subespécies representadas no E. E. Santo.
S., Aguiar, E. A. C., Silva, L. H. Q., Sodré, Descrição das espécies Saccopteryx leptura
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151
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Levantamento preliminar de morcegos do município de Quirinópolis, Goiás, Brasil

Laura Helena Marcon Teixeira(1,4)*, Julliana Lemes da Costa(1), Murilo Freitas Guimarães(1), Juciene
Bertoldo da Silva(1), Regina Maria Pasquali(1), Wanderson de Carvalho Ribeiro(2) Marlon Zortéa(3) &
Valéria de Sá Jayme(4)

(1) Curso de Ciências Biológicas, UEG, Quirinópolis, Goiás, Brasil; (2) Animal Center Centro
Veterinário; (3) Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução, UFG, Campus Jataí, Goiás, Brasil;
(4) Departamento de Medicina Veterinária, Escola de Veterinária, UFG, Campus Samambaia, Goiânia,
Goiás, Brasil.

*Corresponding author: E-mail: lamarc@gmail.com.


Palavras-chave: Inventário, Distribuição geográfica, Cerrado

Introdução O objetivo desse estudo foi realizar um


A importância ecológica dos morcegos, sua levantamento preliminar da fauna de morcegos
alta diversidade e sua abundância nas regiões no município de Quirinópolis, uma região ainda
tropicais tornam este grupo um interessante não inventariada para morcegos no estado de
objeto de estudos. Trabalhos em sistemática, Goiás.
fisiologia, distribuição geográfica, levantamento
de espécies e ecologia vêm sendo desenvolvidos Material e Métodos
em diversas localidades, contribuindo assim O município de Quirinópolis, sudoeste
para o melhor conhecimento desses mamíferos Goiás, 18º 26‘ 54‖ S e 50º 26‘ 36‖ W, está
(Passos et al. 2003). inserido no domínio morfoclimático do cerrado.
O cerrado é o segundo maior bioma A região apresenta vegetação de floresta
brasileiro, sua heterogeneidade espacial, com estacional, representada por duas estações
várias fitofisionomias que vão desde campos climáticas bem definidas: tropical (intensas
abertos até formações florestais, propicia uma chuvas de verão seguidas por estiagens) e
grande diversidade de morcegos (Zortéa & subtropical (temperaturas inferiores a 15°C),
Tomaz 2006). Esse bioma é considerado além de uma área de tensão ecológica, que
ameaçado com estimativas recentes indicando caracteriza alta diversidade biológica e habitat
que há apenas 20% da cobertura original único para inúmeras espécies (Santos 2002). Há
(Aguiar & Aquino 2003) onde os habitats da também uma predominância de formações
diversidade de espécies estão sendo rapidamente abertas, bastante degradadas numa matriz de
destruídos para uso econômico (Aguiar 2007). agricultura extensiva. Na região ocorrem ainda
Estima-se a ocorrência de cerca de 160 mil formações rochosas com pequenas grutas
espécies de plantas, animais e fungos no propícias aos morcegos.
Cerrado brasileiro. Cento e noventa e quatro As coletas foram realizadas entre abril e
espécies de mamíferos habitam suas diferentes julho de 2009. Foram utilizadas redes de neblina
fisionomias, sendo 42% compostos de espécies e puçás para a captura dos morcegos em 19
de morcegos (Marinho-Filho et al. 2002). Numa diferentes sítios (pontes, pomares e manilhas).
recente compilação de dados sobre a Foram utilizadas até três redes de neblina
diversidade de morcegos conhecida para o que permaneciam estendidas por seis horas a
cerrado, são relacionadas 103 espécies para o partir do crepúsculo noturno, e eram
bioma, 80% da fauna total de morcegos do examinadas em intervalos de 15 minutos. Dos
Brasil (Aguiar & Zortéa 2008). As espécies de morcegos capturados identificou-se a espécie, o
morcegos encontradas no cerrado brasileiro sexo, o estágio de desenvolvimento (jovem ou
pertencem a 42 gêneros de sete famílias adulto) e o estado reprodutivo (ativo ou inativo,
neotropicais: Emballonuridae, Noctilionidae, para machos, e grávidas, lactantes ou pós-
Mormoopidae, Phyllostomidae, Furipteridae, lactantes e inativas, para fêmeas). Mediu-se o
Vespertilionidae e Molossidae. A família antebraço, a tíbia, o crânio, a envergadura, o
Phyllostomidae é a mais abundante, com 41 comprimento do corpo e a massa corporal. Os
espécies, seguida por Molossidae com 16 espécimes testemunhos foram depositados na
espécies e Vespertilionidae com 11 espécies Coleção Zoológica do Curso de Ciências
(Marinho-Filho1996). Biológicas da Universidade Estadual de Goiás,
Unidade Universitária de Quirinópolis.

152
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

pertencem à família Molossidae (Taddei 1999),


demostrando que mais trabalhos devem ser
realizados devido às implicações dessa família.
Resultados e Discussão Glossophaga soricina habita todos os biomas,
Foram capturados 95 indivíduos de três frequentemente encontrada em inventários
famílias, 10 gêneros e 12 espécies de morcegos: locais, sendo bastante versátil no uso de abrigos
Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758), Anoura (Bredt et al. 1999, Zortéa & Alho 2008).
caudifer (E. Geoffroy, 1818), Phyllostomus As espécies P. hastatus, P. lineatus e L. ega
discolor (Wagner, 1843), Carollia cf. foram representadas por apenas um exemplar.
brevicauda (Schinz, 1821), Artibeus planirostris Platyrrhinus lineatus, é uma espécie
(Spix, 1823), Macrophyllum macrophyllum predominantemente frugívora, endêmica à
(Schinz, 1821), Uroderma bilobatum (Peters, América do Sul, bastante comum em
1866), Molossus rufus (E. Geoffroy, 1805), inventários, porém rara na Amazônia (Zortéa
Glossophaga soricina (Pallas, 1766), 2007). Recentemente foi encontrada em todos
Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767), os tipos de ambientes amostrados no corredor
Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810) e Cerrado-Pantanal (Coelho 2005). Phyllostomus
Lasiurus ega (Gervais, 1856). hastatus é a maior espécie do gênero, onívora, e,
A família Phyllostomidae, a mais abundante dependendo da região, pode integrar diferentes
da região Neotropical foi representada por 10 guildas. Lasiurus ega, insetívora, tem uma
espécies, seguida das famílias Molossidae e distribuição geográfica bastante ampla, embora
Vespertilionidae, com uma espécie cada. Dentro tenha sido registrada para Goiás apenas
de Phyllostomidae as subfamílias recentemente (Zortéa & Alho 2008). Já teve
Phyllostominae e Stenodermatinae foram diagnóstico positivo para raiva (Uieda et al.
representadas por três espécies cada, seguidas 1996). As três espécies mencionadas
de Glossophaginae e Carolliinae com duas anteriormente ocorrem nos biomas brasileiros.
espécies cada. Lembrando que são poucas as espécies de
A espécie mais abundante foi C. morcegos que se adaptam a ambientes
perspicillata representando 63% dos espécimes antropizados, áreas urbanas ou limítrofes,
capturados, seguida de A. caudifer, nectarívora, beneficiando-se das atividades humanas,
com 11%. Carollia perspicillata foi também a enquanto que a maioria é dependente, em maior
mais frequente, sendo registrada em 13 dos 19 ou menor grau, de áreas florestais para
pontos de coleta. É frugívora, podendo ser conseguir alimento e/ou abrigo, como enfatizam
encontrada em vários habitats como bueiros, Pedro & De Marco Junior (2008). Logo, a perda
cavernas, galerias pluviais e edificações dessas interações pode implicar em efeitos
abandonadas (Bredt et al., 1999). irreversíveis para os ecossistemas neotropicais
Carollia cf. brevicauda, A. planirostris e M. (Fonseca & Aguiar, 1995).
macrophyllum representaram juntas 9% dos Todas as espécies registradas neste estudo já
espécimes coletados, com três indivíduos cada. foram referenciadas para o bioma Cerrado
Estas espécies ocorrem em todos os biomas (Aguiar & Zórtea 2008).
brasileiros, embora não se tenha registro
comprovado de C. brevicauda para Goiás Conclusões
(Ortêncio-Filho et al., 2007). Os resultados apresentados constituem o
Foram capturados três exemplares de primeiro estudo sobre a fauna de morcegos do
[Uroderma bilobatum] em um pomar. Esta município de Quirinópolis. A quiropterofauna
espécie foi referenciada para o cerrado (Zortéa apresenta uma lista com espécies já registradas
2007), embora sem citação para o estado de para o Cerrado. No entanto, são aqui reportadas
Goiás (Tavares et al. 2008). as primeiras ocorrências das espécies C.
Molossus rufus, insetívora e G. soricina, brevicauda e U. bilobatum para o estado de
nectarívora, representaram 2% da amostragem Goiás. Os dados apresentados mostram que
cada. A primeira está presente em cinco biomas pouco se conhece sobre a fauna de morcegos em
(Amazônia, Floresta Atlântica, Cerrado, Goiás. Novos estudos devem ser conduzidos na
Caatinga e Pantanal) (Marinho-Filho & Sazima região já que biota do Cerrado sofre um
1996). Compõe a segunda família mais rica em processo de redução de seus habitats de forma
espécies de morcegos no Brasil, porém com acelerada. A região anteriormente já impactada
implicações ecológicas, sociais, econômicas e pela monocultura de grãos sofre hoje com a
sanitárias, explorando refúgios em habitações expansão da cana-de-açúcar, afetando
humanas ou próximo destas (Gregorin & Taddei diretamente a quiropterofauna da região.
2002). Em estudos feitos sobre esses refúgios no
Brasil, das 29 espécies encontradas, 13 Referências
153
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

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154
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Levantamento dos registros de contato direto de morcegos com humanos e animais


domésticos, na cidade de São Paulo, Brasil

Miriam Martos Sodré* e Adriana Ruckert da Gama

Centro de Controle de Zoonoses - CCZ/SP - Rua Santa Eulália, 86 – Santana – São Paulo – SP- Brasil.

*Corresponding author: E-mail: miriamm@prefeitura.sp.gov.br


Palavras-chave: Acidentes, Risco, Saúde Pública

Introdução cidade de São Paulo, referentes a transtornos


Dentre os inúmeros chamados da população envolvendo morcegos. Deste total, 91 (2%) se
com relação a problemas ocasionados por referiram sobre o contato direto de morcegos
animais, em área urbana da cidade de São com pessoas e, principalmente, cães e gatos. Os
Paulo, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) tipos de contatos ocorridos com humanos se
atende também as reclamações referentes aos referem à manipulação direta (sem a proteção de
morcegos. Pela falta de conhecimento sobre eles luvas) na captura de morcegos ou por
e por se tratar de animais geralmente arranhadura/mordedura acidental de defesa dos
considerados como ―sujos, horrorosos, que animais. Já o contato direto dos morcegos com
sugam sangue e que carregam doenças‖ a cães e gatos se dá quando esses últimos
população exige das autoridades sanitárias a capturam ou brincam com os morcegos que
imediata solução de seu problema. As estão geralmente caídos no chão.
reclamações mais freqüentes sobre morcegos se O número de contatos diretos com pessoas
referem à presença desses animais em forros, somou 30 (32,6%), com cães, 29 (31,5%) e
vãos de dilatação entre paredes, porões, gatos 28 (30,4%), além de quatro (4,3%)
ocasionalmente adentramentos e também são eventos envolvendo animais de grande porte
vistos se alimentando de frutos nos quintais e como eqüinos e bovinos. Nestes quatro últimos
em bebedouros para pássaros contendo água registros, os animais em questão serviram como
açucarada. Essa sinantropia, isto é, a fonte de alimento para os morcegos
proximidade desses morcegos com seres hematófagos, ocorridos em áreas periurbanas do
humanos e animais domésticos, principalmente município. Dos 66 morcegos capturados nas
cães e gatos, podem resultar ou provocar circunstâncias de contatos, 65,1% são de hábito
acidentes e até a possibilidade de transmissão de alimentar insetívoros, 18,2% nectarívoros, 9,1%
doenças como a raiva. Este trabalho mostra o frugívoros e 7,6% hematófagos. As espécies de
levantamento de cinco anos (2005-2009) maior freqüência foram Molossus molossus
referente as ocorrências envolvendo o contato (Molossidae) e Glossophaga soricina
direto entre morcegos, humanos e animais (Phyllostomidae). Como já citada em literatura
domésticos na cidade de São Paulo e cuja (Uieda, 1995) a presença de morcegos
porcentagem se mostrou baixa, menor que 2%. insetívoros é mais freqüente em áreas urbanas e
os resultados aqui obtidos corroboram com essa
Materiais e Métodos informação mostrando uma porcentagem
Os dados utilizados neste trabalho foram discrepante quando comparada com as outras
retirados do banco de dados do Setor de espécies de hábitos alimentares diferentes. Os
Quirópteros do Centro de Controle de Zoonoses morcegos nectarívoros, que utilizam a água dos
do município de São Paulo, Estado de São bebedouros de pássaros (Assis et al 2007) e que
Paulo, região sudeste do Brasil, no período de ficam pendurados junto as janelas das
janeiro de 2005 a dezembro de 2009. edificações, tem seu adentramento facilitado. É
possível que esse fato possa levar ao risco de
Resultados e Discussão contato com os moradores e animais do lugar. Já
Este trabalho apresenta o levantamento dos os morcegos frugívoros que se alimentam e/ou
casos de contato direto de morcegos com se abrigam em árvores plantadas em quintais
humanos e animais domésticos (cães e gatos) estão sujeitos a serem ―atacados‖ pelos gatos
principalmente em horários e locais não que ficam, por vezes, a espera desses visitantes.
habituais para o comportamento dos morcegos. Além disso, deve-se levar em consideração os
No período de 2005 a 2009, o CCZ recebeu morcegos idosos, jovens e doentes que
5743 solicitações de munícipes, oriundas da poderiam apresentar dificuldades de voar e
155
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

acabam caindo ao solo, podendo ser capturados Uieda,W.; Harmani, N.M.; Silva, M.M.S. 1995.
por cães e gatos. Os morcegos hematófagos Raiva em morcegos insetívoros
estão aqui representados pela reclamação das (Molossidae) do Sudeste do Brasil. Revista
pessoas que observaram seus animais de grande Saúde Pública, 29(5): 303-307.
porte: bovinos e eqüinos sendo sangrados pelos
morcegos cujos exemplares foram capturados
pelo serviço de zoonoses.

Conclusões
Molossus molossus é a espécie de maior
ocorrência no município de São Paulo e a que
mais se envolveu nos evento de contados diretos
com pessoas e animais de estimação (cães e
gatos). Porém, o risco de contato com morcegos
é baixo (menor que 2%) e de transmissão da
raiva também, pois a sua positividade entre as
espécies de morcegos paulistanos também é
considerada baixa (1%).

Referências
Assis, C.L.; Siqueira, R.C.; Teixeira, T.M. &
Rodrigues E. 2007. Preferência por
morcegos nectarívoros a diferentes
concentrações de açúcar em bebedouros
artificiais na área urbana de Cataguases,
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rural environments of the Distrito Federal,
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2(2): 54-57.
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urbanas. Boletim do Instituto Pasteur, São
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São Paulo (Cidade). 2004. Prefeitura Municipal.
Secretaria Municipal da Saúde. Coordenação
de Vigilância em Saúde. Gerência de
Vigilância em Saúde Ambiental, Revista da
Vigilância em Saúde Ambiental, São Paulo.
São Paulo (Cidade). 2003. Prefeitura Municipal.
Secretaria Municipal da Saúde. Coordenação
de Vigilância em Saúde. Gerência de
Vigilância em Saúde Ambiental. Centro de
Controle de Zoonoses. Boletim Informativo
do CCZ- SP. Controle de fauna Sinantrópica
1998-2002. São Paulo: CCZ- SP.
Silva, M.M.S.; Harmani, N.M.S; Gonçalves,
E.F.B. & Uieda, W. 1996. Bats from the
metropolitan region of São Paulo,
Southeastern Brazil. Chiroptera Neotropical
2(1): 39-41.
Sodré, M.M.; Rosa, A.R. ; Gregorin, R.;
Guimarães, M.M. 2008. Range extension for
Thomas' Mastiff bat Eumops maurus
(Chiroptera: Molossidae) in northern, central
and southeastern Brazil. Revista Brasileira
de Zoologia, 25(2): 379-382.

156
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Raiva no morcego hematófago Desmodus rotundus e o controle de colônia na área


peri-urbana de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil

Wladmir de Paula Nascimento*, Maria de Lourdes de Almeida N. Ribeiro, Rodriga Zovka, Sérgio Rocha,
Jose Holanda dos S. Neto, Karla Patrícia Brito de A.Vieira, Sérgio Wlademir S. Filho, Antonio Roberto
Euzébio, Edilton Pereira de A. Filho e José Alexandre Menezes da Silva

Secretaria Municipal de Saúde do Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil.

Corresponding author: E-mail: wlad.vet@gmail.com


Palavras-chave: Refúgio, Saúde Pública, Varfarina

Introdução abrigo de morcegos hematófagos com


O Município do Jaboatão dos Guararapes aproximadamente 100 indivíduos da mesma
está situado no litoral da Zona da Mata do espécie (contagem visual), na chaminé em
Estado de Pernambuco, com uma superfície de alvenaria de 54 m de altura pertencente à usina
263 km2, sendo 166 km2 de área urbana de cana desativada Muribeca (08° 01' 05,1‖ S;
(63,12%) e 97 km2 de área rural (36,88%). De 34° 01' 12,3‖ W). A equipe encontrou os
acordo com o IBGE, sua população estimada animais agrupados a cerca de 8,0 m de altura,
para 2009 era de 687.687 habitantes. O além de alguns outros espécimes alçando voos
município possui uma importante parcela da ou desgarrados do grande grupo. Foram abertas
população vivendo em áreas rurais e peri- quatro redes de neblina de 6 x 2 m, cercando a
urbanas e podem estar sujeitos ao risco de raiva, saída basilar do abrigo diurno, a qual media 2 x
transmitida por morcegos hematófagos. Nessas 1 m. As redes ficaram armadas das 18h 00min
áreas existem diversas pequenas e médias às 23h 00min.
propriedades com criação de bovinos, eqüinos,
suínos e caprinos, que são potenciais fontes de Resultados e Discussão
alimentação desses morcegos. Há ainda nesses Em dois dias de ação, foram capturados 17
locais edificações abandonadas como: indivíduos, sendo 12 machos e cinco fêmeas.
matadouros, usinas de açúcar, pedreiras, igrejas Destes, um macho jovem e dois adultos, ambos
e grutas, que podem servir de abrigo diurno para escrotados, localizados no chão do abrigo,
suas colônias. Em janeiro de 2009, em um foram sacrificados e encaminhados ao
desses abrigos foi encontrado e relatamos aqui o LANAGRO-PE para exame laboratorial de
processo de controle da colônia de Desmodus raiva. As amostras encaminhadas tiveram
rotundus. diagnóstico positivo, sendo uma por
imunofluorescência direta e as outras duas pela
Material e Métodos prova biológica. Os demais 14 morcegos foram
Os dados do presente trabalho foram tratados com pasta vampiricida à base de
retirados das Fichas de Investigação de varfarina, aplicada em seu dorso e liberados em
Vigilância Epidemiológica da Coordenação de seguida para retornarem ao abrigo diurno. Foi
Vigilância Ambiental e Saúde do Trabalhador feita uma visita ao abrigo oito dias depois da
(CVAST/GVS), das fichas de campo de captura e constatada a total ausência de
pesquisas de abrigos, dos registros de ocorrência morcegos, com seis carcaças ressequidas no
de raiva em herbívoros e das informações sobre chão. Visitas quadrimestrais à chaminé
os morcegos encaminhados para diagnóstico constatam que não há mais indivíduos no
laboratorial. O trabalho de campo teve início em abrigo.
data coincidente com a confirmação de um caso
positivo para a raiva bovina no Engenho Conclusões
Santana, área rural do município (08° 06' 56,7‖ A colônia de Desmodus rotundus da Usina
S; 34° 58' 41,1‖ W)., A equipe do Programa de Muribeca tinha cerca de 100 indivíduos, três dos
Prevenção e Controle de Quirópteros, ligada à quais estavam infectados com o vírus da raiva.
Secretaria Municipal de Saúde, localizou um O controle da colônia com a pasta vampiricida à
157
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

base de varfarina foi eficiente e provocou a


eliminação da colônia no abrigo diurno.

158
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Zoonotic profile in bats from São Paulo city, Southeastern Brazil

Marilene F Almeida(1)*, Elisa S.M.M. Savani(1), Luzia F.A. Martorelli(1), Sandra R.N. D‘auria(1),
Maria A.G. Dias(1), Ana P.A.G. Kataoka(1), José Trezza-Netto(1), Maria Cecília G.O. Camargo(1),
Carlos P. Taborda(2), Miriam M. Sodré(1), Alfred C. Husch(1), Thirsa A.F. Bessa(1), Anne Spichler(5),
Erica G.B. Chapola(1), Joseph.M. Vinetz(3), Adriana R. Gama(1), Richard C. Pacheco(4), Marcelo B.
Labruna(4), Debora R.V. Sacramento(6)

(1) Centro de Controle de Zoonoses, SP, Brasil; (2) Instituto de Ciências Biomédicas - Universidade de
São Paulo, Brasil; (3) University of California, San Diego School of Medicine, USA, (4) Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, Brasil; (5) Instituto de Infectologia Emílio
Ribas, SP, Brasil; (6) Genomic Engenharia Molecular, SP, Brasil

*Corresponding author: E-mail: marilene@prefeitura.sp.gov.br


Key words: Surveillance, Urban areas, Zoonosis

Introduction Ricketsiosis: Bat sera were individually


The class Mammalia has 5,416 species tested by indirect immunofluorescence assay
(Wilson and Reeder, 2005) and the Order (IFA) using crude antigens derived from five
Chiroptera comprises the second major group of Rickettsia isolates from Brazilian ticks. The
mammals in number with 1,120 species spotted fever group species are R. rickettsii, R.
(Simmons, 2005), 172 of them are found in parkeri, R. amblyommii, R. rhipicephali, and the
Brazil (Castilho et al, 2008). Bats play ancestral group species R. bellii. Antigen
important ecological roles, but also are preparation was performed in the Veterinary
reservoirs of some zoonosis being the most Department of São Paulo University. Anti-bat
known rabies and histoplasmosis. This work conjugate and IFA reactions were performed in
studied the zoonotic profile of 683 bats found in the Immunology Section of the CCZ-SP.
the urban area of São Paulo City, Brazil, in a Individual sera were initially screened at the
period from April 2007 to November 2008. 1:64 dilution against each of the five rickettsial
antigens. In case of positive reaction, serum
Material and Methods serial dilutions at two-fold increments were
Bats were tested to rabies, leptospirosis, tested up to 1:1024.
histoplasmosis, cryptococcosis and ricketsiosis Rabies: Diagnosis of the bats was
in the laboratory of the Zoonosis Control Center determined by fluorescent antibody test and the
of São Paulo city, Brazil (CCZ-SP). In the mouse inoculation test on bat brain tissue.
laboratory, animals received anesthesia with Histoplasmosis and Cryptococcosis:
intramuscular ketamine, and thereafter blood Samples of spleen and liver were inoculated,
samples were collected by cardiac puncture. The both, in Brain Heart Infusion Agar and in
animals were sacrificed using CO2 and Sabouraud Dextrose Agar, incubated at 25 °C
transferred to a biological security laminar flow, and 37 °C. The suspicious colonies were
in which viscera were removed under aseptic inoculated in Mycosel Agar and were identified
conditions. by morphology, as well as the reversion of the
Leptospirosis: Bats sera were screened using isolated colony, incubation in Mueller Hinton
standard microscopic agglutination testing Broth, with L-cysteine and hen egg yolk at 37
(MAT) with 20 leptospiral serovars. For °C.
molecular detection and speciation of bat kidney
Leptospira, standard methods were used. Total Results and Discussion
genomic kidney tissue DNA was extracted as Leptospirosis: Of 683 bats, 7 (1.0%) were
described by Castilho et al. (2003). PCR PCR positive for Leptospira in the kidney, four
amplification was performed according to were nectarivorous identified as Glossophaga
Merien et al. (1993). Specific primer pair soricina, three were frugivorous identified as
targeting the 16S rRNA region from Leptospira Platyrrhinus lineatus (2) and Artibeus lituratus
interrogans serovar canicola was used. (1). Three hundred and thirty-two sera were
screened using MAT with 20 leptospiral

159
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

serovars, (83.7% from of species Molossus


molossus, Glossophaga soricina, Tadarida Conclusions
brasiliensis, Artibeus lituratus and Platyrrhinus It was performed the first survey of urban
lineatus). No seropositive bats were found. We bats in South America for Leptospira and H.
report the first survey of urban bats in South capsulatum. To Leptospira the main conclusion
America for Leptospira colonization, and found is that, in the city of São Paulo, Brazil, where
few renal carriers of Leptospira in the city of human leptospirosis is common, bats are not
São Paulo. While the role of bats in leptospiral frequently infected with Leptospira (Bessa et al,
transmission to humans was not directly 2010). To histoplasmosis our results showed
assessed in this study for humans, data from this that the H. capsulatum is present in bat
study suggest that bats are not a key component populations living in urban areas and can be a
of the epidemiology of leptospirosis in humans source of contamination for people or animals in
in this setting. contact with them. The surveillance to this
Ricketsiosis: Four hundred and fifty-one zoonosis should be made as routine program
sera samples were tested by IFA. Overall, 8.6% (Galvão-Dias et al., 2010). Seropositivity for
(39/451), 9.5% (34/358), 7.8% (28/358), 1.1% rickettsial antigens observed in this study
(4/358), and 0% (0/358) sera samples were suggests that bats from São Paulo city can be
reactive to R. rickettsii, R. parkeri, R. infected by rickettsiae, however others studies
amblyommii, R. rhipicephali, and R. bellii, should be made (D‘Auria ei al, 2010). The
respectively, from 20 bat species of 3 different prevalence of rabies virus found in these bats
families (Molossidae, Vespertilionidae, indicates that rabies virus circulates actively
Phyllostomidae). Most of the serologically among them (Martorelli et al., 2009). Only
positive sera reacted with two or more following studies that clarify the zoonotic
rickettsial antigens. Seropositivity for rickettsial profile of these animals can zoonosis control or
antigens in the absence of reactivity against R. prevention measures be adequately established,
bellii suggests that bats from São Paulo city can with the consequent transmission of relevant
be infected by rickettsiae. information that can guide the population to
Histoplasmosis and cryptococcosis: The coexist harmoniously with bat populations.
isolation of the fungus was performed from liver
and spleen of 662 bats. Twenty-six were Acknowledgements
positives to H. capsulatum (3.9%), none to C. To Zoonosis Laboratory and Chiropteran
neoformans. Positives insectivorous bats species Section of CCZ-SP-Brazil, for their assistance
to histoplasmosis were 21 Molossus molossus, in locating and capturing bats, laboratorial
four Nyctinomops macrotis and one Eumops diagnosis and database assistance. Financial
glaucinus. To latter species this is the first Support: Fapesp 2006/58210-7.
report in the literature. Our results showed that
the H. capsulatum is present in bat populations References
living in urban areas. This is an important fact Bessa AF, Spichler A, Chapola EGB, Husch
since H. capsulatum contaminated bats can be a AC., Almeida MF, Sodré MM, Savani,
source of contamination for people or animals in ESMM, Sacramento DR, Vinetz J. 2010.
contact with them. The surveillance of The Contribution of Bats to Leptospirosis
histoplasmosis in bats in urban areas is Transmission in São Paulo city, Brazil.
important to detect contaminated locals and may American Journal of Tropical Medicine and
play an important role in prevention strategies Hygiene, 82(2), 315–317.
the transmission of the disease to human. Castilho JG, Canello, FM, Scheffer KC, Achkar
Rabies: Among 683 bats tested to rabies, SM, Carrieri ML, Kotait I. 2008. Antigenic
four positive insectivorous bats (0,6%) were and genetic characterization of the first
detected: Molossus molossus, Myotis nigricans, rabies virus isolated from the bat Eumops
Tadarida brasiliensis and Nyctinomops perotis in Brazil. Revista do Instituto de
macrotis. The low rabies virus prevalence Medicina Tropical de São Paulo 50(2)95-99.
among bats has been observed since 1988 when Castilho TM, Shaw JJ, Floeter-Winter LM.
the first bat rabies diagnosis was performed in 2003. New PCR assay using glucose-6-
São Paulo city, however the existence of rabid phosphate dehydrogenase for identification
bats in areas where rabies has not notified in of Leishmania species. Journal of Clinical
domestic animals like São Paulo city represents Microbiology 41: 540-6.
a potential risk of rabies infection for humans D‘Auria S.R.N, Camargo M.C.G.O., Savani,
and domestic animals especially when bats are ESMM, Dias, M.A.G., Almeida, M.F,
found inside houses or commercial buildings as Labruna, M. B., Pacheco, R. Serologic
reported in the city. survey for rickettsiosis in bats from São
160
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Paulo. Vector Borne and Zoonotic Diseases. Conference on rabies in the Americas,
DOI 10.1089/vbz.2009.0070 October 18th - 23rd, 2009 Quebec, Canadá.
Galvão-Dias MA, Zancopé-Oliveira R.M; Merien F, Amouriaux P, Perolat P, Baranton G,
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Paulo City, Brazil. XX International University Press. 3 ed. v(1) 2005.2181p

161
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Morcegos no Rio Grande do Sul: informações sobre a saúde animal

Susi M. Pacheco(1)*; Júlio César A. Rosa(2); Edna M. Cavallini-Sanches(3); Helena Batista(2,4); Soraya
Ribeiro(5); José Carlos Ferreira(2); Laerte Ferreiro(3); Paulo Roehe(2,4); Alexandre C. Braga(2); José
Carlos Sangiovani(6); Jairo Predebon(7); Maria Inês Bello(1,6)

(1) Instituto Sauver (ISAUVER). Av. Pernambuco, 2623/404. Porto Alegre/RS. CEP 90240-005; (2)
Laboratório de Virologia do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF/FEPAGRO);
(3) Setor de Micologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); (4) Departamento de
Microbiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); (5) Secretaria Municipal de
Meio Ambiente (SMAM/POA); (6) Secretaria Municipal de Saúde (SMS/POA); (7) Centro Estadual de
Vigilância Sanitária (CEVS/RS).

*Corresponding author: E-mail: batsusi@gmail.com


Palavras-chave: Monitoramento, Saúde
Veterinária e Departamento de Microbiologia,
Introdução ambos da Universidade Federal do Rio Grande
O Rio Grande do Sul possui atualmente 38 do Sul (UFRGS), Secretaria Municipal de Meio
espécies de quirópteros (Pacheco et al. 2007) e Ambiente (SMAM/POA), Secretaria Municipal
outras quatro estão sendo descritas, distribuídas de Saúde (SMS/POA), Centro Estadual de
em quatro famílias com distintos hábitos Vigilância Sanitária (CEVS/RS). Os morcegos
alimentares, habitats e comportamentos. Com a provenientes de municípios do Rio Grande do
expansão urbana e dos sistemas agrícolas e de Sul foram triados, sexados, medidos e
criação, as áreas consideradas nativas e identificados. Posteriormente, foi retirado o
florestadas estão gradativamente desaparecendo. cérebro para diagnóstico de raiva e de outros
De acordo com Cuarón (2000), as alterações e vírus. Suabes anal, nasal e da garganta, para
perdas de habitats são consideradas como as investigação de vírus e bactérias também foram
principais ameaças para vida silvestre e, coletados. Foi realizada inspeção no pelo e pele
consequentemente, para os morcegos. Portanto, para localização de ectoparasitas. Músculos,
torna-se necessário incrementar as pesquisas, pele e diversos órgãos foram extraídos para
pois não basta apenas identificar espécies, mas é análise de intoxicação, além de órgãos internos
fundamental saber onde vivem, do que se e glândulas para identificação de endoparasitos
alimentam, como estão as condições de suas e fungos. Todos os exemplares têm número de
populações (aumentando ou declinando), bem protocolo e/ou de coleta e as carcaças de alguns
como compreender o comportamento social e as espécimes foram tombados no Instituto Sauver.
condições de saúde destas populações. O Além dos morcegos, o substrato (cascas de
objetivo deste trabalho foi apresentar as árvores, folhagem, partes de rochas) e as fezes
espécies positivas para a raiva e dados de foram amostrados para avaliação de fungos e
histoplasmose, pneumociste e agressões a bactérias. Em geral, os exemplares são enviados
morcegos no Estado. congelados e mortos e, por isso, alguns
exemplares não podem ser analisados para todos
Material e Métodos os exames.
Aumentar o nível de conhecimento das
espécies de morcegos e encontrar subsídios para Resultados e Discussão
sua conservação é a meta da equipe O Rio Grande do Sul possui 496 municípios,
multidisciplinar, que está executando o dos quais 179 com registro de espécies de
―Programa de Monitoramento de Quirópteros no quirópteros. O Estado, conforme Buriol et al.
Rio Grande do Sul‖, desde março de 2007, e (2007) possui seis formações vegetais: Floresta
que conta com o apoio de órgãos de saúde e Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista,
meio ambiente de pelo menos 11 prefeituras, Floresta Estacional Densa, Floresta
além de institutos de pesquisa e universidades. Semidecidual, Campo e Restinga. Assim, 48%
Os principais parceiros são: Instituto Sauver das espécies ocorrem em áreas de florestas, 22%
(ISAUVER), Laboratório de Virologia do em zonas campestres e 30% das espécies são de
Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério zonas de transição: 3% entre formações
Finamor (IPVDF/FEPAGRO), Setor de florestais distintas, 12% transição campo-
Micologia da Faculdade de Medicina restinga e 15% entre floresta e campo. Há

162
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

espécies predominantemente urbanas como intoxicação distintos por produtos químicos


Tadarida brasiliensis; outras são essencialmente sendo mais comuns T. brasiliensis, um grupo de
florestais como Chrotopterus auritus e Myotis 4 fêmeas lactantes, 4 fêmeas grávidas e um
ruber. Eptesicus brasiliensis e Myotis levis são filhote de 3 dias, e Artibeus fimbriatus, 5 fêmeas
registradas principalmente em zonas lactantes e 5 filhotes de 8 a 15 dias.
campestres. Em restinga, há Lasiurus ega, e Desinsetizadoras e empresas de serviços gerais
áreas de transição entre floresta e campo informam à comunidade que podem resolver o
Glossophaga soricina e Lasiurus blossevillii, problema de ―infestação de morcegos‖.
por exemplo. Contudo, os produtos utilizados são tóxicos
Com o monitoramento, a preocupação com a também para humanos, ocasionando alguma
conservação das espécies aumentou, pois as demanda junto aos postos de saúde.
observações in locu, além das informações Com relação às avaliações sanitárias as
relatadas por técnicos ambientais, de saúde e pesquisas estão em andamento. Espécies
pela comunidade indicam a diminuição no positivas para pneumociste são provenientes de
número de morcegos em relação aos últimos áreas florestais, de campo e restinga. Há
oito anos (janeiro de 2002 a novembro de 2009). registros positivos para histoplasmose em
Verifica-se que com o monitoramento, um pulmões, fígados e intestinos. As fezes têm, até
maior número de morcegos chega até o IPVDF o momento, registros negativos para este fungo.
para o diagnóstico de raiva, e espécies positivas Tal fato é importante, pois demonstra que os
são encontradas anualmente. Isso significa que telhados não são adequados para o
um número maior de espécies e espécimes está desenvolvimento de fungos patógenos, mesmo
sendo amostrada. No estado do Rio Grande do quando há grande quantidade de fezes.
Sul, entre agosto de 2007 e novembro de 2009,
foram identificadas como positivas: T. Conclusões
brasiliensis (15 exemplares), Myotis nigricans O Programa de Monitoramento de
(2), Histiotus velatus (2), Artibeus lituratus (2), Quirópteros no Rio Grande do Sul prossegue em
Molossus molossus (1) e Eptesicus furinalis (1) 2010, realizando coletas e amostragens em
provenientes de Porto Alegre, Caxias do Sul, outros municípios ainda sem registro. Ao final
Montenegro, Dois Irmãos, Taquara, Pelotas, São de 2012, a triagem terá um perfil das condições
Leopoldo, Uruguaiana, Três Forquilhas e das diversas zoonoses em morcegos e será
Mariana Pimentel. Os meses com registro de possível encaminhar ações de conservação das
positividade de raiva, entre 2007-2009, para espécies de áreas urbanas e naturais do Estado.
estas espécies são: janeiro (1 caso), fevereiro
(2), março (4), abril (4), maio (3), junho (1), Agradecimentos
setembro (3), novembro (1) e dezembro (3). As Prefeituras Municipais de Porto Alegre,
amostragens de Desmodus rotundus são pouco Eldorado do Sul, Pelotas, Guaíba, Rio Grande,
significativas no Rio Grande do Sul. O trabalho Caçapava do Sul, Uruguaiana, Osório, Caxias
de vigilância sanitária animal é realizado pela do Sul, Maquiné, Montenegro e as demais que
Secretaria de Agricultura e Abastecimento enviam exemplares ocasionais; Aos colegas que
(SAA/RS) e poucas amostras têm sido enviadas. estão auxiliando nas coletas, Morgana Rech,
Os exemplares desta espécie que chegam até o Nicole Kahler, Flávia Stefanello e Aline Brasil.
IPVDF, em geral, apresentam somente Financiamento: ISAUVER;
indivíduos negativos para a raiva. A IPVDF/FEPAGRO; Prefeitura Municipal de
positividade da raiva para herbívoros Porto Alegre; Governo do Estado do Rio
domésticos é baseada apenas em bovinos e Grande do Sul; CNPq.
equinos, nos quais constatam-se a variante 3, o
que pode significar que a doença foi adquirida Referências
através da mordida do morcego vampiro. Buriol G.A.; Estefanel V.; Chagas A.C. e
Dos 765 exemplares de morcegos avaliados Eberhardt D. 2007. Clima e Vegetação
entre 2007 e 2009, 55% são provenientes das Natural do Estado do Rio Grande do Sul,
áreas urbanas dos diferentes municípios. Destes, Segundo Diagrama Climático de Walter &
135 com lesões consideráveis, fraturas internas Lieth. Ciência Florestal 17: 91-100.
e externas (antebraço e coluna), traumatismo Cuarón A.D. 2000. A global perspective on
craniano, órgãos perfurados, e inclusive, habitat disturbance tropical rainforest
indivíduos queimados e eletrocutados. Dentre as mammals. Cosnservation Biology 14:
espécies com lesões e queimaduras estão 1594-1579.
Molossus rufus, T. brasiliensis, M. nigricans, M. Pacheco S.M.; Sekiama M.L.; Oliveira K.P.A.;
ruber, Promops nasutus, E. furinalis e M. Quintela F.; Weber M.M.; Marques R.V.;
molossus. Há também espécies com níveis de Geiger D. e Silveira D.D. 2007.
163
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Biogeografia de quirópteros da Região Sul.


Revista Ciência & Ambiente 35: 181-202.

164
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Novo registro de Natalus stramineus e diversidade de quirópteros no Município de


Tarumirim, Minas Gerais

Olivia Silva Eler(1)*, Antonio José Vieira(1), Felipe Nogueira Bello Simas(1), Patrícia Silva Santos(1),
Sebastião Maximiliano Corrêa Genelhú(1), Marcos Vinicius Freitas(2)

(1) Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Sustentabilidade; Centro Universitário de Caratinga –


UNEC – Minas Gerais. Brasil; (2) Parque Estadual do Rio Doce. Minas Gerais. Brasil

*Corresponding author: E-mail: olivia.bat@gmail.com


Palavras-chave: Lista de espécies, Região Periurbana

Introdução mesofanerófitas parenifoliados e umas poucas


Os morcegos são importantes para o caducifólias..
equilíbrio do meio, pelo fato de serem animais Foram selecionados quatro sítios para a
dotados de grandes potenciais para dispersão de montagem de redes de neblina, utilizadas para a
sementes, controle biológico de populações de captura de morcegos. Foram armadas redes de 9
outros animais e polinização de plantas (Mello x 3 m.
2004). Nas ultimas três décadas, os avanços nos Os critérios utilizados para seleção dos sítios
estudos com morcegos, incluindo aspectos foram: (i) presença de criação de animais,
biológicos, biogeográficos, taxonômicos e arvores frutíferas e corpos d‘água; (ii) presença
filogenéticos foram consideráveis, contudo para de afloramento rochosos, com locais aonde não
o Brasil, a base de dados ainda é insatisfatória se chegue a luz do dia; (iii) locais posicionados
(Marinho-Filho e Sazima 1998). dentro de um raio de 20 km a partir do limite
O presente estudo considerou a necessidade urbano.
de se obter mais informações sobre a estrutura O esforço de captura foi calculado utilizando
das comunidades em áreas fragmentadas, e teve área (altura e comprimento da rede) e tempo de
como objetivos estimar a riqueza e diversidade exposição, sendo a multiplicação simples de
de espécies de quirópteros na região periurbana área de cada rede pelo tempo de exposição,
do município de Tarumirim, Minas Gerais e multiplicado pelo número de repetições e por
classificar as espécies de quirópteros em função fim pelo número de redes.
de suas guildas alimentares. As informações Para a identificação das espécies de
geradas por este trabalho poderão ajudar à morcegos foram utilizadas as chaves de
proposições de ações de manejo para as espécies identificação de Vizzoto e Taddei (1973) e
e para os problemas causados pelo vírus no Gregorin e Taddei (2002). O esforço de captura
município, bem como contribuir no foi calculado de acordo com Straube e Bianconi
entendimento ecológico das demais espécies (2002). A diversidade de espécies foi calculada
registradas. pelo índice de Shannon-Wiener (H‘).
A informação que alguns animais como
bovinos e eqüinos eram constantemente Resultados e Discussão
atacados por morcegos, nos motivou a Considerando um esforço amostral de 1296
investigar as espécies que existem no município. m².h, foram capturados 26 indivíduos, divididos
em três famílias (Phyllostomidae,
Material e Métodos Vespertilionidae e Natalidae) e nove espécies:
O município de Tarumirim situa-se na região Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810), Artibeus
leste de Minas Gerais, entre os municípios de lituratus (Olfers, 1818), Platyrrhinus lineatus
Dom Cavati e Engenheiro Caldas, com (E. Geoffroy, 1810), Myotis nigricans (Schinz,
população total de 14.185 habitantes. A área 1821), Natalus stramineus (Gray, 1838),
territorial do município é de 730 km² inseridos Anoura caudifer (E. Geoffroy, 1818), Anoura
no bioma Mata Atlântica (IBGE 2006). geoffroyi (Gray, 1838), Glossophaga soricina
Predomina a área de pastagem, mas a vegetação (Pallas, 1766) e Phyllostomus discolor
original e natural é basicamente Mata Atlântica, (Natterer, 1843).
existindo hoje alguns pequenos fragmentos. Os As espécies mais freqüentes foram A.
remanescentes florestais parcialmente utilizados lituratus (34,6%), P. lineatus (26,4%) e
são caracterizados por um estrato arbóreo em Phyllostomus discolor (15,4%). Destaca-se a
torno de 25 metros, composto de captura de N. stramineus, cujo registro mais
165
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

próximo da área de estudo é o município de quirópteros em áreas periurbanas no leste


Curvelo, região Central de Minas Gerais mineiro e verificar a ocorrência de morcegos
(Almeida et al. 2002) uma espécie não muito hematófagos na região.
comum, no estado de Minas Gerais.
Quando se analisa o esforço amostral do Referências
presente estudo (1296 m².h), obtém-se o total de Aguiar L.M.S e Marinho-Filho J. 2004. Activity
0,02 capturas/m2.h. Este valor é inferior ao patterns of nine phyllostomid bat species
obtido por Bianconi et al. (2004), que foi de in a fragment of the Atlantic Forest in
4,35 capturas/m2.h. southeastern Brazil. Revista Brasileira de
Assim, a riqueza estimada de 14,23 espécies Zoologia 21(2): 02-03.
pode subestimar o valor real de espécies para Almeida E.O.; Moreira E.C.; Naveda L.A.B. e
quiropterofauna da região periurbana estudada. Herrmann G.P. 2002. Combate ao
Este valor representa 8,51% das espécies de Desmodus rotundus rotundus (E.
morcegos que ocorrem na Mata Atlântica do Geoffroy, 1810) na região cárstica de
Brasil, 23,07% das espécies que ocorrem no Cordisburgo e Curvelo, Minas Gerais.
estado de Minas Gerais e 34,61% das espécies Arquivos Brasileiros de Medicina
que ocorrem no leste do estado de Minas Gerais. Veterinária e Zootecnia 54(2): 02-03.
Os indivíduos capturados pertencem a Bianconi G.V.; Di Napoli R.P.; Carneiro D.C. e
quatro guildas: herbívoros, frugívoros, Miretzki M. 2004. A Fazenda Gralha Azul
nectarívoros e onívoros. O número de espécies e a conservação dos morcegos da Floresta
frugívoras foi influenciado pelo local de coleta, com Araucária no Paraná. In: IV Encontro
onde existem vários pomares em áreas de Brasileiro para o Estudo de Quirópteros,
pastagens. Das 12 espécies observadas, a 2004, Porto Alegre, RS. Divulgações do
maioria possui hábito alimentar frugívoro. Museu de Ciências e Tecnologia, n. 2, P.
Aguiar e Marinho-Filho (2004) observaram a 55-62.
predominância de frugívoros, seguidos por Fonseca R.T.D. 2006. Diversidade da
onívoros e insetívoros. Apesar dos relatos de quiropterofauna (Mammalia) no Parque
moradores da região, sobre ataques de morcegos Ecológico de Gunma, Santa Bárbara do
aos animais da criação, não se observou a Pará. Dissertação de Mestrado,
ocorrência de hematófagos. Universidade Federal do Pará.
A diversidade de espécies calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica.
índice de Shannon-Wiener para os quatro sítios 2003. Estatísticas do Século XX. Rio de
foi de H‘ = 0,88, considerado baixo de acordo Janeiro, IBGE.
com a literatura, se compararmos, por exemplo, Marinho-Filho J.S. e Sazima I. 1998. Brazilian
com autores como Bianconi et al. (2004) onde o bats and conservation biology: a first
índice foi de H‘ = 1,38 e Fonseca (2006) onde o survey. Em: Bat Biology and Conservation
índice encontrado foi de H‘ = 1,86. O tempo de (Editado por Kunz T.H. e Racey P.A.), pp.
amostragem usado nesse estudo foi bem inferior 282-294. Smithsonian Institution Press,
ao utilizado por Aguiar e Marinho-Filho (2004). Washington DC.
Os dados preliminares deste trabalho Mello A.R. 2004. Interações entre o morcego
sugerem a necessidade de ser incrementado o Sturnira lilium (Chiroptera:
esforço de coleta neste local e apesar do baixo Phyllostomidae) e plantas da família
esforço de coleta espécies raras já foram Solanaceae. Universidade Estadual de
capturadas, como N. stramineus. Campinas.
Straube F.C. e Bianconi G.V. 2002. Sobre a
Conclusões: grandeza e a unidade utilizada para estimar
Com base nos dados obtidos, pode-se esforço de captura com utilização de redes-
concluir que: (i) nove espécies de quirópteros de-neblina. Chiroptera Neotropical 8(1-2):
distribuídas em três famílias ocorrem na região 150-152.
estudada; (ii) as guildas alimentares mais
representativas foram a frugívora e a
nectarívora, seguidas de insetívora e onívora
respectivamente, não sendo obtida nenhuma
espécie de hematófago; (iii) foram capturadas
quatro espécies (A. geoffroyi, P. discolor, M.
nigricans e N. stramineus) não descritas a priori
para a região. Sugere-se continuidade das
pesquisas na região periurbana de Tarumirim,
para se conhecer melhor a diversidade de
166
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

Descrição do 1º caso de raiva em morcego frugívoro relatado no Centro de


Controle de Zoonoses de Natal, estado do Rio Grande Norte, nordeste do Brasil

Francisco Carlos Vilela*, Maria Cristiana da Silva Souto e João Ciro F. Neto

Secretaria Municipal de Saúde/Centro de Controle de Zoonoses, Natal/ RN.

*Corresponding author: E-mail: vilela07@hotmail.com


Palavras-chave: Acidente, Artibeus fimbriatus
mordida na mão direita, enquanto realizava
Introdução poda em árvore conhecida popularmente na
Os morcegos pertencem a Ordem chiroptera, região como algodoeiro-da-praia (Hibiscus
com 18 famílias, 202 gêneros e 1120 espécies. tiliaceus L.), esta desenvolve copa frondosa e
Isso representa aproximadamente 22% das fechada, o que propicia refúgio e abrigo para
espécies conhecidas de mamíferos. São morcegos. O acidente ocorreu por volta das 8h
divididos em duas Subordens, Megachiopteros e 30min, sendo o morcego arremessado ao chão
Microchiropteros. Embora desempenhem após a mordedura, onde recebeu em seguida
importantes serviços ecossistêmicos como a pancada com uma sandália, logo após foi
regulação populacional de insetos noturnos, a molhado com álcool etílico e queimado, o que
dispersão de sementes de centenas de espécies causou a morte do animal de forma rápida.
vegetais e a polinização de diversos tipos de Cerca de 30 minutos depois a vítima foi
flores. atendida no hospital HGT, levando consigo o
Em algumas situações os morcegos têm animal morto para ser identificado.
fomentado problemas associados à saúde O morcego foi enviado ao Laboratório
pública nas zonas rurais e atualmente no meio Estadual Central de Saúde Pública de Natal –
urbano, isso por adentrarem em residências LACEN, para diagnóstico de raiva através das
humanas em busca de abrigo, ou proteção em técnicas de imunofluorescência direta (IFD) e
arvores e construções inacabadas ou técnica de inoculação intracerebral em
desabitadas, possibilitando o contato com camundongo (IICC). Após a confirmação de
animais domésticos e pessoas que vivem nesses positividade a amostra foi enviada para o
ambientes. Instituto Pasteur, em São Paulo, para
Nos últimos anos tem aumentado os identificação da espécie e tipificação genética da
registros de pessoas agredidas por morcegos, variante viral. Após o resultado positivo do
este fato tem implicado na mudança do perfil diagnóstico, ocorreu em primeira ocasião a
epidemiológico da raiva no Brasil, trazendo o realização da investigação epidemiológica in
morcego para o segundo lugar na transmissão da loco pelo PCR, para procedimento de bloqueio
raiva para seres humanos. (Secretaria de Saúde, sanitário e orientação educacional da população
2004). local, conforme preconização do Ministério da
Saúde. E posteriormente outra investigação
Material e Métodos realizada pelo PCV para levantamento de dados
Realizou-se levantamento nas fichas de referentes à especificação do quiróptero.
solicitação de atendimento pela população e nos
relatórios técnicos internos do Programa de Resultados e Discussão
Controle de Vetores (PCV) e da Raiva (PCR), No LACEN foram realizados exames da
estes Programas fazem parte do Centro de amostra do morcego para diagnostico da raiva
Controle de Zoonoses de Natal, que desenvolve através das técnicas de imunofluorescência
ações de monitoramento, prevenção e controle direta (IFD) e técnica de inoculação
de zoonoses. intracerebral em camundongo (IICC). Após a
O agravo por mordedura de quiróptero confirmação de positividade a amostra foi
ocorreu no distrito sanitário Norte, bairro enviada para o Instituto Pasteur, em São
Potengí (5° 44‘ 56,9‖ S e 35° 15‘ 09,7‖ W), Paulo/SP, para identificação da espécie e
localidade Soledade II, Natal/RN, no mês de tipificação genética da variante viral.
Novembro de 2008, sendo o registro inicial feito Foi identificada a espécie Artibeus
no Hospital Estadual de referencia para doenças fimbriatus, da família Phyllostomidae,
infecto-contagiosas Prof. Giselda Trigueiro - subfamília Stenodermatinae, porem não foi
HGT, refere-se a uma paciente de 53 anos, possível neste trabalho coletar os dados
167
Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010

referentes a sexo, nem o estagio de


desenvolvimento do espécime. Os morcegos
pertencentes à família Phyllostomidae
caracterizam-se, em geral, por apresentarem um
apêndice nasal em forma de folha triangular.
Nesse grupo estão incluídas espécies frugívoras
e nectarívoras, além de espécies insetívoras,
carnívoras, folívoras, sanguívoras e onívoras.
Após a identificação da espécie de morcego
no Instituto Pasteur, inicio-se o seqüenciamento
de DNA (tipificação genética), nesta tipificação
foi diagnosticada a variante 3 do Lyssavirus,
segundo a classificação do Comitê Internacional
sobre Taxonomia de Vírus (ICTV). Essa
variante ou genótipo viral é característico dos
vírus encontrado nos morcegos hematófagos da
espécie D. rotundus.
O bairro onde ocorreu o acidente apresenta
características particulares, fugindo das
características convencionais encontradas em
outros centros urbanos de grandes cidades
brasileiras, por encontrarmos diversos canteiros
centrais de ruas arborizadas com espécies
nativas frutíferas, servindo como corredores
ecológicos, além de existirem duas zonas de
proteção ambiental que conservam uma boa
parte de sua flora e fauna nativa. O bairro
também é área limítrofe de ecossistemas como
manguezais, dunas, rios, lagoas, mar e
remanescentes de mata atlântica.

Conclusões
Espécimes como apesar de terem várias
importâncias no equilíbrio do ecossistema,
também apresentam papel crucial na propagação
da Raiva pelo ciclo aéreo.
A variante 3 do Lyssavirus apesar que não
ter predileção por quirópteros frugívoros e
insetívoros foi isolada no exemplar supracitado.
Fica a necessidade de elaborar um
monitoramento da população de quirópteros nas
proximidades do foco, para promover um
consolidado mais fiel e implantação de um
Programa de Vigilância e Monitoramento em
Quirópteros, em que objetive prevenir casos
isolados e/ou um surto de raiva em animais
domésticos e silvestres, bem como de casos
humanos.

Agradecimentos
A Diógenes Soares da Silva, João Fagundes
Ciro Neto; Marcia Maria de Lima Ferreira.

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