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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC

CENTRO TECNOLÓGICO – CTC


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E
ENGENHARIA DE ALIMENTOS – EQA

APOSTILA

TRATAMENTO DE EFLUENTES

Prof. Hugo Moreira Soares

Florianópolis, Março de 2011


Esta apostila foi preparada especificamente e tão somente para atender à disciplina de
Engenharia Ambiental, ministrada nos Cursos de Engenharia Química e de Engenharia de
Alimentos da UFSC. Parte deste material foi reproduzido e/ou modificado de outros trabalhos,
livros e artigos citados na mesma. Esta apostila não poderá ser reproduzida, a não ser para
atender este objetivo a que se destina.
INDICE
Página

1. POLUIÇÃO DAS ÁGUAS


1.1. Ocorrência das Águas
1.2. Indicadores de Qualidade da Água
1.3. Padrões de Qualidade da Água
1.4. Fontes de Poluição e Seus Efeitos

2. COLETA E PRESERVAÇÃO DE AMOSTRAS

3. MÉTODOS ANALÍTICOS PARA CARACTERIZAÇÃO DE ÁGUAS

4. PROCESSOS DE TRATAMENTO DAS ÁGUAS

5. TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO
5.1. Pré-Tratamentos (pré-oxidação, ajuste de pH e abrandamento)
5.2. Coagulação/Floculação
5.3. Decantação/Flotação
5.4. Filtração
5.5. Desinfecção
5.6. Fluoretação
5.7. Ajuste final
5.8. Outros Processos de Tratamento Físico-Químicos

6. TRATAMENTO BIOLÓGICO
6.1. Microbiologia e Bioquímica
6.2. Parâmetros de Controle de Processo
6.3. Sistemas de Tratamento
6.3.1. Sistemas Aeróbios
6.3.2. Sistemas Anaeróbios
6.3.3. Vantagens e desvantagens dos processos aeróbios e anaeróbios
6.3.4. Remoção de Nitrogênio
6.3.5. Remoção de Fósforo
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1. POLUIÇÃO DAS ÁGUAS

1.1. Introdução

No Brasil, o conceito de poluição é definido por lei (Lei n.º 6.938/81, art. 3º, III),
como sendo a degradação da qualidade ambiental resultante de atividade que direta ou
indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.
Na realidade, poluição é um conceito relativo, pois a água em seu estado natural varia
suas características enormemente de uma fonte para outra, podendo enquadra-se em
condições de usos diversos. Determinados mananciais naturais possuem características que já
são impróprias para o consumo humano, ou até mesmo para usos menos exigentes, como a
irrigação de hortaliças e plantas, necessitando serem tratadas previamente para tais usos.
Nesta análise deve-se considerar que devido ao ciclo hidrológico, aos movimentos das águas
em seus mananciais, as interações das águas com os meios sólidos e gasosos promovem
alterações em sua composição, no sentido de promover a sua deterioração ou depuração, ou
até mesmo uma associação entre ambos, dependendo do caso em questão. A poluição então
está associada à alteração das condições naturais em um determinado manancial que se
encontra em equilíbrio ambiental. Os efeitos adversos provocados pela qualidade da água para
um determinado fim serão resultantes das condições naturais do manancial e da interferência
promovida pelo homem no mesmo.

1.2. Ocorrência das Águas

A água é essencial para a existência da vida em nosso planeta. Todas as reações


bioquímicas ocorrem em meio aquoso, pelo transporte de íons através das membranas
celulares. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal
qual é estipulado no Art. 30 de Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A Terra é chamada muitas vezes como “o planeta água”, pois 2/3 de nossa superfície é
ocupada pelos oceanos. Estima-se que a quantidade de água livre sobre a terra é de 1.370
milhões de Km3. Por este motivo, até alguns anos atrás não se dava importância à sua
preservação, imaginando que este seria um bem inesgotável. Realmente, se olharmos somente
os números de uma forma fria, disponibilidade de água não seria um problema. Porém, se
observarmos um pouco mais profundamente sobre como estas águas ocorrem e sua
distribuição na terra o quadro pode ficar bem diferente. A Tabela 1.1 apresenta a distribuição
das águas no Planeta Terra.
Observa-se que a grande maioria destas águas encontra-se no mar e, portanto, não
disponíveis para o consumo humano direto. Esta água poderia ser dessalinizada, porém, os
custos desta operação são muito elevados, inviabilizando à princípio seu uso. Da mesma
forma, as águas que se encontram em geleiras e em grandes profundidades, exigiriam
investimentos muito grandes para sua viabilização de uso para abastecimento. As águas que
estão mais disponíveis para o uso direto ao consumo e com o menor investimento são as
águas subterrâneas de baixa profundidade e as dos rios e lagos.

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Tabela 1.1: Distribuição das águas na Terra

97,40% Oceanos (águas salgadas)

2,30% Geleiras polares e glaciais


Águas subterrâneas em grandes profundidades (> 800 m)

0,29% Águas subterrâneas em baixa profundidade (< 800 m)

0,01% Rios e lagos

As águas subterrâneas de baixa profundidade são utilizadas para abastecimento de


pequenas comunidades, não sendo viável para grandes centros urbanos. Neste caso, os rios e
lagos naturais ou artificiais, como barragens, são os mais indicados. No entanto, são
justamente estes mananciais que são mais vulneráveis à interferência do homem.
A quantidade de água na terra que estaria mais facilmente disponível para consumo
humano é de 4.149.200 Km3, o que seria suficiente para abastecer o planeta de água sem que
houvesse preocupação com a sua disponibilidade, porém, deve-se considerar uma série de
fatores, principalmente a distribuição da mesma por regiões e a contaminação dos mananciais.

1.3. Ciclo da Água

A ocorrência das águas no planeta e sua distribuição estão vinculadas ao ciclo


hidrológico a que estão submetidas. As águas encontram-se em constante movimento e
transformam-se de um estado da matéria em outro, dependendo das circunstâncias em que
ocorrem. A Figura 1.1 apresenta o ciclo hidrológico da água ou mais comumente chamado de
ciclo da água.

Transpiração

Escoamento superficial

Figura 1.1: O ciclo hidrológico da água


Fonte: www.riolagos.com.br/calsj/ciclo-agua.htm

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Os mecanismos de transferência da água são: a evaporação da água em contato direto


com o sol e os ventos, dependendo da temperatura e da umidade relativa do ar; a transpiração
das plantas e dos animais da água contida em seus corpos; a precipitação da água que foi
vaporizada podendo estar na forma de chuva, neve granizo ou orvalho; a água que chega em
terra poderá escoar na superfície (escoamento superficial) formando rios e lagos ou poderá
escoar para dentro da terra (infiltração), formando os lençóis d’água (água subterrânea).
As águas superficiais irão escoar e uma parte irá infiltrar-se na terra e outra parte irá
evaporar-se. Os excedentes desta água irão para o mar e posteriormente serão evaporadas. As
águas subterrâneas também estão em movimento, podendo ser armazenadas em mananciais
subterrâneos ou aflorarem na forma de rios, lagos ou fontes naturais.
Durante estas transformações a água poderá sofrer alterações de seu estado natural,
podendo ser contaminada não necessariamente na sua origem, mas pelo caminho percorrido
até chegar ao manancial.

1.4. Indicadores de Qualidade da Água.

A água é um composto inorgânico, possuindo 2 átomos de hidrogênio e 1 de oxigênio,


ligados por ligações covalentes, formando um ângulo de 105o, de tal forma que as cargas
positiva e negativa não sejam concêntricas, conferindo a característica polar à água. A Figura
1.2 apresenta um desenho da molécula da água. Devido à característica polar de sua molécula
química a água é um solvente poderoso e pode ser atraída por campos magnéticos. A água é
dissociada em íons H+ e OH-, conferindo-lhe um pH neutro. À temperatura ambiente (> 0oC)
encontra-se no estado líquido. A água na sua característica original não apresenta cor, odor ou
sabor.

105o
+H H+

O

Figura 1.2: Molécula da água

À medida que vão sendo introduzidos outros elementos às moléculas de água estes vão
conferindo propriedades que podem afastá-la de suas características originais. Segundo Mota
(1997), as condições naturais de ocorrência da água são determinadas através de diversos
parâmetros, representando suas características físicas, químicas e biológicas, conforme
discriminadas a seguir:

INDICADORES DE QUALIDADE FÍSICA


- Cor: resulta da existência, na água, de substâncias em solução, tais como o Fe, Mn,
matéria orgânica, algas, corantes, resinas e uma série de outras substâncias de origem
natural ou introduzida pelo homem. A cor por si só não se constitui em um elemento
tóxico prejudicial à saúde humana, mas como não se conhece a sua origem existe um risco
potencial à saúde se esta for utilizada para fins de consumo ou contato direto.

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- Sabor e odor: resultam de causas naturais (algas, vegetação em decomposição, bactérias,


fungos, compostos orgânicos, etc.) e artificiais (esgotos domésticos e industriais). Podem
não estar associados a riscos contra a saúde, porém, da mesma forma como a cor, existe
um risco potencial de contaminação. A água deve ser isenta de qualquer cor odor ou sabor
para o consumo direto.
- Turbidez: A presença de material em suspensão na água interfere na passagem da luz,
conferindo uma aparência turva chamada turbidez. Sua origem também pode ser natural
(partículas de rocha, argila, algas, microrganismos) ou de origem artificial (esgotos
domésticos e industriais, erosão). Um dos problemas associados à turbidez é que estas
partículas podem servir de suporte para microrganismos patogênicos impedindo a sua
eficiente desinfecção e também servir de sorvente de compostos químicos tóxicos do meio
aumentando sua concentração de forma localizada.
- Temperatura: A temperatura influi nas propriedades da água, altera as velocidades das
reações químicas e biológicas, altera a solubilidade de compostos químicos de origem
orgânica ou inorgânica e interferem na solubilidade dos gases. A temperatura da água
deve ser mantida em valores próximos de sua ocorrência natural para não alterar o
equilíbrio de seu ecossistema.

INDICADORES DE QUALIDADE QUÍMICA


- pH: É o potencial hidrogênio que mede o equilíbrio entre as espécies químicas de caráter
ácido e básico. A sua escala varia entre 0 e 14 e o perfeito equilíbrio entre as espécies
químicas encontra-se em pH = 7. Valores diferentes da neutralidade vão conferir um
caráter agressivo à água, podendo provocar prejuízos não só à vida dos organismos mas
também aos materiais. O pH interfere em todas as reações químicas e bioquímicas, além
de interferir nas conformações espaciais das moléculas.
- Alcalinidade: São sais alcalinos dissolvidos na água, principalmente Na e Ca, que terão a
capacidade de reagir com os íons H+ neutralizando-os. Ao efeito de resistência à mudança
de pH do meio dá-se o nome de efeito tampão. Os principais constituintes da alcalinidade
são os bicarbonatos (HCO3-), carbonato (CO32-) e os hidróxidos (OH-). Maiores detalhes
sobre o pH e a alcalinidade estão descritos no Capítulo II.1.
- Dureza: A dureza resulta da presença de sais alcalinos terrosos (Ca e Mg), ou de outros
metais bivalentes. Estes cátions podem reagir na água formando precipitados reduzindo a
formação de espuma do sabão e provoca incrustações nas tubulações de caldeiras. Causa
sabor desagradável e efeitos laxativos. Estes sais podem ser de origem natural ou
antropogênica.
- Ferro e manganês: O ferro e o manganês são íons que estão presentes nos solos e podem
ser introduzidos na água. Estes compostos quando no seu estado oxidado apresentam-se
insolúveis, causando coloração avermelhada ou marrom à água, promovendo manchas em
roupas. Além disso, conferem sabor e propiciam o desenvolvimento de ferrobactérias
causadoras de mau cheiro, coloração e incrustações.
- Cloretos: Os cloretos são provenientes de sais dissolvidos de minerais ou por introdução
de águas salgadas. Os esgotos domésticos e industriais também podem introduzir cloretos
na água. Além disso, o desinfetante mais utilizado no tratamento de águas de
abastecimento são sais de cloro, deixando um residual perceptível quando consumido. Os
cloretos conferem sabor salgado e propriedades laxativas à água
- Fluorêtos: em concentrações adequadas são benéficos no combate às cáries, porém, em
concentrações elevadas causam a fluorose dentária (mancha escura nos dentes). Por lei,
estes são adicionados à água como um programa de erradicação de cáries em populações
carentes.
- Oxigênio dissolvido: A grande maioria dos seres vivos na superfície terrestre utiliza o
oxigênio como receptor final de elétrons nas suas reações para geração de energia
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(catabólicas). A concentração de oxigênio dissolvido na água pura é de aproximadamente


7,5 mg/L a 30oC, quando em equilíbrio com a atmosfera (APHA, AWWA, WEF. ,1995).
É uma concentração muito baixa, mas suficiente para manter as espécies aquáticas
existentes. Umas espécies são mais exigentes outras menos, havendo uma variação de
espécies presentes dependendo do nível de oxigênio dissolvido na água. Qualquer
elemento que esteja presente que possa reduzir a concentração do oxigênio dissolvido é
considerado poluente.
- Matéria orgânica: A matéria orgânica é a fonte de carbono para os microrganismos
heterotróficos. Se houver a presença de microrganismos heterotróficos aeróbios, estes
consumirão o oxigênio dissolvido para o seu metabolismo. Caso não haja oxigênio
disponível, os microrganismos anaeróbios degradam a matéria orgânica gerando gases que
podem ser mau cheirosos, como o H2S e ácidos voláteis. Além disso, podem causar
problemas conferindo: cor, sabor e turbidez à água. A concentração de matéria orgânica é
medida em termos de demanda química de oxigênio (DQO), demanda bioquímica de
oxigênio (DBO) ou por carbono orgânico total (COT). Algumas vezes, quando
conveniente, a concentração de matéria orgânica pode ser expressa na forma de sólidos
voláteis (SV). Os métodos analíticos para sua determinação encontram-se no Capítulo 3.
- Nitrogênio e Fósforo: Os organismos autotróficos fotossintetizantes presentes em
ambientes aquáticos naturais têm seu crescimento limitado pela presença de nutrientes (N
e P). Quando estes são lançados nestes mananciais através de esgotos sanitários ou
efluentes industriais permitem o crescimento destes organismos, principalmente o de
algas. Estas algas promovem a turvação da água impedindo a passagem de luz. Após seu
ciclo de vida, as algas morrem e depositam-se no fundo do manancial sendo então
degradadas pelas bactérias heterotróficas presentes no meio. A princípio são degradadas
pelas bactérias aeróbias que consomem o oxigênio do meio, prejudicando a sobrevivência
dos organismos aquáticos. Após o fim do oxigênio, bactéria anaeróbias continuam a
degradação, produzindo gases, levando à flotação do material depositado aumentando a
concentração de material em suspensão. A este fenômeno dá-se o nome de eutrofização.
- Outros compostos inorgânicos e orgânicos: vários compostos orgânicos e inorgânicos
são tóxicos aos organismos vivos, não devendo ser lançados na água. Estes são
provenientes do lançamento de águas residuárias à água, principalmente de origem
industrial.

INDICADORES DE QUALIDADE BIOLÓGICA


São vários os microrganismos presentes na água sendo alguns deles prejudiciais à
saúde, devendo ser controlados. Diferentes tipos de bactérias, vírus e protozoários podem
transmitir doenças através da ingestão da mesma. Dentre estes aquele de maior preocupação é
de origem bacteriana. A potencialidade de uma água transmitir doenças pode ser medida de
uma forma indireta através de microrganismos indicadores. Estes microrganismos indicadores
são bacterianos, possuindo comportamento similar aos outros de mesma classe, e devem estar
presentes na flora intestinal de animais de sangue quente, onde estes se desenvolvem. Os
microrganismos indicadores usados são os coliformes totais e fecais. O microrganismo mais
abundante nos coliformes fecais é a Escherichia coli (~80%), por isso, muitas vezes é medida
a quantidade deste microrganismo para expressar a quantidade de coliformes fecais, devido à
sua facilidade de detecção. A sua presença não necessariamente significa que a água está
contaminada com microrganismos patogênicos, mas indica que houve contato com os seres de
sangue quente e que há um potencial risco de contaminação. Além dos coliformes, algumas
vezes se faz necessário o acompanhamento mais específico de outros microrganismos como a
presença de giárdia e de ovos de helmintos.

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1.5. Padrões de Qualidade da Água

Antes de estabelecer parâmetros para o lançamento de poluentes na água deve-se


estabelecer os padrões de qualidade destas águas. Os teores máximos de impurezas permitidos
na água são estabelecidos em função dos seus usos. Sendo assim, os mananciais são
classificados pela sua pureza e destino e também em função da salinidade da água. Águas
doces são aquelas com salinidade inferior a 0,5%, águas salobras têm salinidade maior que 0,5
e menor que 30% e águas salgadas têm salinidade maior que 30%. A Tabela 1.2 apresenta a
classificação das águas doces segundo seus principais usos no Brasil.

Tabela 1.2: Classificação das águas segundo seus usos principais, de acordo com a Resolução
no 357, de 17/03/2005 do CONAMA.
CLASSE USOS
Classe  Abastecimento para consumo humano com desinfecção
Especial  Preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas
 Preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação e
proteção integral
Classe 1  Abastecimento doméstico, após tratamento simplificado
 Preservação das comunidades aquáticas
 Recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e
mergulho, conforme resolução do CONAMA no 274 de 2000.
 Irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se
desenvolvem rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de
película
 Proteção das comunidades aquáticas em terras indígenas
Classe 2
 Abastecimento doméstico, após tratamento convencional
 Preservação das comunidades aquáticas
 Recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e
mergulho, conforme resolução do CONAMA no 274 de 2000.
 Irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins e campos de
esporte e lazer, com os quais o público possa a vir a ter contato direto
 Aqüicultura e atividade de pesca
Classe 3
 Abastecimento e consumo humano, após tratamento convencional
 Irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras
 Pesca amadora
 Recreação e contato secundário
 Dessedentação de animais
Classe 4
 Navegação
 Harmonia paisagística

Percebe-se que a classificação das águas doces considera a existência de mananciais


de qualidade variável, desde um grau de pureza elevado até águas para usos pouco nobres.
Percebe-se também que todas as águas, exceto a de classe 4, podem ser usadas para
abastecimento, desde que sejam adequadamente tratadas.
Após esta classificação há a necessidade de se estabelecer parâmetros que
caracterizem as águas segundo a sua classificação. A Tabela 1.3 apresenta alguns dos
parâmetros mais importantes utilizados no Brasil.
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Tabela 1.3: Alguns parâmetros para as classes de água doces de acordo com a Resolução no
357, de 17/03/2005do CONAMA.
CLASSE
PARÂMETROS (LIMITES)
ESPEC 1 2 3 4
Coliforme Termotolerante * 200(1) 1000 2500(2) -
(3)
(ou E. coli) (NMP/100 ml) 1000
4000(4)
Óleos e Graxas (mg/l) * ... ... ... Irrid.
DBO (mg/l) *  3,0  5,0 10,0 -
OD (mg/l) *  6,0  5,0  4,0  2,0
Turbidez (UNT) * 40 100 100 -
PH * 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0
Nitrito (mg/l) * 1,0 1,0 1,0 -
Nitrato (mg/l) * 10,0 10,0 10,0 -
residuos sólidos * ... ... ... ...
corantes * ... ... ... -
Materiais flutuantes * ... ... ... ...
Odor ou sabor * ... ... ... -
Sólidos dissolvidos totais * 500 500 500 -
(mg/L)
Cor (mg Pt/L) * - 75 75 -
OBS: * devem ser mantidas as características originais da água na origem; ... virtualmente
ausente; - não existe padrão; Irid. toleram-se iridescências
(1)
para demais usos que não seja de recreação (esta definida pela Resolução do CONAMA no
274de 2000)
(2)
recreação (3) dessedentação (4) demais usos

O CONAMA também define os principais padrões de para balneabilidade e padrões


para uso de águas para irrigação, que não são abordados neste curso.
Além destes, o CONAMA também define padrões de potabilidade da água, e os
padrões de lançamento de águas residuárias. Estes padrões de qualidade das águas são
utilizados pelos órgãos de poluição locais, redefinindo os seus padrões em função das
necessidades específicas de cada região. Porém, os padrões definidos pelo CONAMA são as
concentrações mínimas que devem ser atingidas, implicando em que qualquer parâmetro
redefinido por um órgão local deve atingir concentrações iguais ou inferiores às da legislação
federal.
Observa-se que os valores apresentados na Tabela 1.3 são indicativos da qualidade dos
mananciais não sendo os parâmetros de lançamento das águas residuárias. Estes valores
significam que a soma dos lançamentos em um determinado manancial, em conjunto com as
águas que são alimentadas no mesmo não devem ultrapassar estes valores, ou seja, não devem
ser suficientes para mudar a sua classificação.

PADRÕES DE POTABILIDADE
Os padrões de potabilidade são definidos pela Portaria no 30/90 do Ministério da
Saúde e os seus valores estão apresentados na Tabela 1.4, além dos seguintes parâmetros:
- pH entre 6,5 e 8,5
- Coliformes fecais: ausência em 100 ml de amostra
- Cloro residual livre: concentração mínima de 0,2 mg/l em qualquer ponto da rede
distribuidora

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Tabela 1.4: Valores máximos permissíveis (VMP) para as características da água potável
(Portaria no 36 de 19/01/90 do Ministério da Saúde).
CARACTERÍSTICAS UNI VMP CARACTERÍSTICAS UNI VMP
D D
I.Físicas e Heptacloro g/l 0,1
Organolépticas uH (1) 5 (3) Hexaclorobenzeno g/l 0,001
Cor aparente ñ obje. Lindano g/l 3
Odor ñ obje. Metoxicloro g/l 30
Sabor uT (2) 1 (4) Pentaclorofenol g/l 10
Turbidez
Tetracloreto de carbono g/l 3
II. Químicas Tetracloroeteno 10
g/l
IIa. Componentes Toxafeno 5,0
g/l
Inorgânicos mg/l 0,05 Tricloroeteno 30
g/l
Arcênio mg/l 1,0 Trihalometanos 100 (6)
Bário mg/l 0,005 g/l
Cádmio mg/l 0,05
Chumbo mg/l 0,1
1,1 Diclororeteno g/l 0,3
1,2 Dicloroetano g/l 10
Cianetos mg/l 0,05
(5) 2,4,6 Triclorofenol g/l 10 (7)
Cromo total mg/l
Fluoretos mg/l 0,001 IIb. Componentes que
Mercúrio mg/l 10 afetam a qualidade
Nitratos (N) mg/l 0,05 organoléptica
Prata mg/l 0,01
Selênio Alumínio mg/l 0,2 (8)
Agentes tensoativos mg/l 0,2
IIb. Componentes Cloretos (Cl) mg/l 250
Cobre 1,0
Orgânicos g/l 0,03 mg/l
Dureza total (CaCO3) mg /l 500
Aldrin e Dieldrin g/l 10
Ferro total mg/l 0,3
Benzeno g/l 0,01
Manganês 0,1
Benzeno-a-pireno mg/l
Sólidos totais dissolvidos mg/l 1000
Clordano (total de g/l 0,3
Sulfatos (SO4) 400
isômeros) 1 mg/l
g/l Zinco 5
DDT 0,2 mg/l
g/l
Endrin
(1) uH é a unidade de escala de Hazen (de platina - cobalto).
(2) uT é a unidade de turbidez, seja unidade de Jackson ou nefelométrica
(3) Para a cor aparente o VMP é 5 (cinco) uH para água entrando no sistema de distribuição.
O VMP de 15 (quinze) uH é permitido em pontos da rede de distribuição.
(4) Para a turbidez o VMP é 10 uT para a água entrando no sistema de distribuição. O VMP
de 5,0 uT é permitido em pontos da rede de distribuição se for demonstrado que a desinfecção
não é comprometida pelo uso desse valor menos exigente.
(5) Os valores recomendados para a concentração do íon fluoreto em função da média das
temperaturas máximas diárias do ar deverão atender à legislação em vigor.
(6) Sujeito à revisão em função dos estudos toxicológicos em andamento. A remoção ou
prevenção de trihalometanos não deverá prejudicar à eficiência da desinfecção.
(7) Concentração limiar de odor de 0,1 ug/L
(8) Sujeito à revisão em função de estudos toxicológicos em andamento.

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Normalmente, quando se realizam análises de potabilidade da água, estas referem-se


às características organolépticas, o pH, os coliformes totais e fecais, o cloro residual e,
dependendo do caso, algumas análises do grupo IIb da Tabela 1.4. As outras determinações
são realizadas em casos especiais quando há risco de contaminação por algum destes
componentes específicos devido às atividades agrícolas e industrias da região.

PADRÕES DE LANÇAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS


O CONAMA também dá diretrizes básicas para o estabelecimento de padrões de
qualidade para o lançamento de águas residuárias em corpos d’água, no entanto, é delegado
aos órgãos estaduais de controle da poluição o estabelecimento de parâmetros que julgue
serem mais adequados aos casos específicos de suas regiões. A legislação local deve ser
minimamente aquelas sugeridas pelo CONAMA podendo estes órgãos ter padrões mais
exigentes, porém nunca menos exigentes. A Tabela 1.5 apresenta estes padrões definidos pelo
CONAMA.

Tabela 1.5: Padrões de qualidade do efluente industrial segundo a Resolução no 357, de


17/03/2005 do CONAMA.
CARACTERÍSTICAS UNID. VMP CARACTERÍSTICAS UNID. VMP
I.Físico-Químicas Mercúrio total mg/l 0,01
PH Faixa 5 a 9 Nitrogênio amoniacal mg/l 20,0
o
Temperatura C 40 Níquel total mg/l 2,0
Sólidos sedimentáveis ml/l 1,0 Prata total mg/l 0,1
II. Químicas Selênio mg/l 0,3
IIa. Componentes Sulfêtos mg/l 1,0
Inorgânicos Zinco total mg/l 5,0
Arcênio total mg/l 0,5
Bário mg/l 5,0 IIb. Componentes
Boro total mg/l 5,0 Orgânicos
Cádmio total mg/l 0,2 Clorofórmio mg/l 1,0
Chumbo mg/l 0,5 Dicloroeteno mg/L 1,0
Cianetos mg/l 0,2 Tricloroeteno mg/l 1,0
Cobre mg/l 1,0 Tetracloreto de carbono mg/l 1,0
Cromo total mg/l 0,5 Fenóis mg/l 0,5
Estanho mg/l 4,0 Óleos minerais mg/l 20,0
Ferro total mg/l 15,0 Óleos vegetais e gorduras
Fluoretos mg/l 10,0 animais mg/L 20
Manganês (+2) solúvel mg/l 1,0

Um parâmetro de especial atenção é a concentração de matéria orgânica. O CONAMA


deixa livre para os órgãos estaduais definirem a concentração que deve ser exigida no
lançamento dos efluentes. Geralmente neste quesito os órgãos estaduais exigem uma
concentração de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO5) de 60 mg de O2/L, ou reduzir
pelo menos 80% da concentração inicial de matéria orgânica. A redução de 80% para alguns
efluentes industriais pode ainda significar concentrações elevadíssimas, ficando a critério do
órgão controlador a decisão de permitir o lançamento do efluente em função do manancial.
Como será visto no Capítulo 3, a DBO é um parâmetro que requer algum cuidado no uso de
seus resultados, por isso, alguns estados estão lançando mão do uso da determinação da
Demanda Química de Oxigênio (DQO), em conjunto com a DBO, para avaliar o grau de
impacto do lançamento de efluentes em cursos d’água.

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1.6. Fontes de poluição e seus efeitos

Várias são as fontes de poluição das águas e seus efeitos nocivos ao homem. Estas
fontes podem ser pontuais ou difusas. As fontes pontuais geralmente possuem elevadas
concentrações de poluentes descarregadas em um único ponto, como a descarga de uma água
residuária industrial em um rio local. Já as fontes difusas, geralmente são diluídas e
distribuídas em vários pontos do manancial, como a drenagem pluvial de defensivos
agrícolas.
As conseqüências da poluição hídrica envolvem: prejuízos ao abastecimento humano,
tornando-se veículo de transmissão de doenças; prejuízos a outros usos da água, tais como
industrial, irrigação, pesca, recreação, etc.; agravamento dos problemas de escassez de água
de boa qualidade; elevação do custo do tratamento da água, refletindo-se no preço a ser pago
pela população; assoreamento dos mananciais, resultando em problemas de diminuição da
oferta de água e de inundações; prejuízos aos peixes e a outros organismos aquáticos;
desequilíbrios ecológicos; proliferação excessiva de algas e de vegetação aquática, com suas
conseqüências negativas; degradação da paisagem; desvalorização das propriedades
marginais; impactos sobre a qualidade de vida da população
A seguir são apresentadas algumas das principais fontes de poluição das águas, a sua
origem e suas conseqüências:

POLUIÇÃO DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS


- Esgotos domésticos: Provenientes da atividade humana. Possuem matéria orgânica em
concentrações relativamente baixas quando comparadas com efluentes industrias, porém,
ainda suficiente para desenvolver microrganismos heterotróficos aeróbios que irão
consumir o oxigênio da água. Outra preocupação da contaminação com esgotos
domésticos é a presença de coliformes fecais indicando a potencialidade de conter
microrganismos que transmitem doenças. Além destes, outros problemas associados ao
esgoto sanitário estão a cor, odor, sabor, turbidez e uma série de outros compostos
orgânicos e inorgânicos ainda não controlados pelo CONAMA. Os esgotos domésticos
são os maiores responsáveis pela poluição hídrica devido aos grandes volumes
envolvidos, à descentralização de sua geração e a precários sistemas de tratamento
implantados.
- Águas residuárias industriais: Provenientes da atividade industrial podendo ter uma
composição diversa dependendo do seu ramo. Alguns possuem alta concentração de
matéria orgânica e outros compostos tóxicos e recalcitrantes. Grandes desafios são
enfrentados para o desenvolvimento de tecnologias adequadas ao tratamento destas águas.
- Águas pluviais: Estas águas podem carregar impurezas da superfície do solo ou contendo
esgotos lançados nas galerias. Normalmente carregam consigo resíduos de origem urbana
e são lançados na natureza de forma pontual, ou resíduos de origem rural, como pesticidas
e fertilizantes de forma dispersa.
- Resíduos sólidos (lixo): O lixo urbano acondicionado de forma inadequada libera um
líquido percolado chamado de chorume que contém altas concentrações de matéria
orgânica e de metais pesados, além de uma infinidade de compostos orgânicos. A
precipitação das chuvas auxilia na lixiviação destes compostos aumentando os riscos de
contaminação.
- Precipitação de poluentes atmosféricos: Poluentes atmosféricos podem ser carreados
pelas chuvas aos mananciais hídricos. Dentre os poluentes mais comuns encontram-se os
ácidos sulfúrico e nítrico pela conversão de gases contendo SOx e NOx na atmosfera.
- Erosão: Alterações nas margens dos mananciais, como o desmatamento, provocando a
remoção de solo e conseqüente assoreamento dos mananciais.

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- Acidentes industriais: Acidentes provocados pelo manuseio e transporte de compostos


químicos em mananciais ou em regiões próximas.
POLUIÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
- Infiltração de esgotos domésticos: Muitos municípios não possuem sistema de coleta e
tratamento dos esgotos domésticos. Como alternativa de tratamento, as residências
possuem sistema de fossa séptica e dispersão no solo (sumidouros ou valas de infiltração).
Outra forma muito comum é o uso de sistemas de tratamento usando lagoas de
estabilização ou em outro sistema usando deposição no solo, como o sistema de
fertirrigação, usado de forma não controlada.
- Infiltração do chorume: Resultante de depósitos de lixo no solo sem prévia
impermeabilização e acondicionamento.
- Infiltração de águas pluviais: Estas águas carreiam pesticidas, fertilizantes, detergentes e
poluentes atmosféricos depositados no solo.
- Vazamentos de tubulações ou depósitos subterrâneos: Acidentes provocados pelo
manuseio e transporte de compostos químicos em mananciais ou em regiões próximas
- Injeção de águas no subsolo: a injeção de águas no subsolo pode ser praticada para o
tratamento destas águas, como o esgoto sanitário, ou para extrair compostos de interesse
comercial, como a injeção de água salgada na extração do petróleo.
- Resíduos de outras fontes: percolados de cemitérios, minas, depósito de material
radioativo, e uma série de outras atividades.

AUTODEPURAÇÃO DOS CORPOS D’ÁGUA


O impacto que as águas residuárias causam ao meio ambiente depende muito da sua
composição química, da quantidade e da velocidade com que estes são lançados ao meio
ambiente e da capacidade daquele ambiente natural em neutralizar os efeitos adversos
causados pelos poluentes através das próprias características ambiente específico. A esta
capacidade de recuperação do ambiente natural por recursos próprios dá-se o nome de efeito
de autodepuração.
Um ecossistema antes de sofrer o lançamento de poluentes encontra-se num estado de
equilíbrio físico, químico e biológico, de tal forma que as reações interativas entre seus meios
permaneça de forma global constantes. Quando introduzimos um composto estranho ao
ambiente este irá reagir à perturbação tendendo a voltar ao equilíbrio anterior. Dependendo da
magnitude desta perturbação o ecossistema poderá atingir outro estado de equilíbrio diferente
do original, o que seria indesejável. Portanto, deve-se conhecer com a maior precisão possível
a capacidade de autodepuração do manancial em questão, frente ao poluente que está sendo
introduzido no mesmo. Este conhecimento é de grande valia, auxiliando na definição da
utilização da capacidade do manancial em funcionar como um sistema de tratamento do
resíduo e impedir que sejam lançados resíduos em quantidades acima desta capacidade.
Este conceito se aplica, a princípio, a qualquer composto poluente e a qualquer
ambiente natural, porém, para ilustrar este conceito, um exemplo da capacidade de
autodepuração de um rio quando lançado uma corrente de esgoto sanitário é apresentado a
seguir na Figura 1.3.
A figura mostra que ao ser lançado um esgoto sanitário em um ponto específico de um
rio, contendo principalmente matéria orgânica como poluente primário, a princípio a
concentração de oxigênio dissolvido (OD) na água cai pela dissolução dos compostos
químicos no meio. Logo após, essa concentração começa a cair mais devido a atividade dos
microrganismos heteretróficos aeróbios que consomem também a matéria orgânica (DBO)
lançada no meio. Com este metabolismo, a concentração dos microrganismos cresce até que a
concentração de substrato (matéria orgânica) já não seja suficiente para sustentar o
crescimento dos microrganismos. A partir deste momento, o rio com o seu contato com a
atmosfera e com a sua agitação natural reaera o sistema voltando a crescer a sua concentração
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dissolvida no meio. No final do processo, os microrganismos voltam a concentrações


próximas às anteriores, devido à morte dos mesmos pela falta de substrato e o oxigênio
dissolvido também assume valores próximos aos originais.

Esgoto (matéria orgânica)

fluxo do rio

Oxigênio
Dissolvido
(OD)

Demanda
Bioquímica
de Oxigênio
(DBO)

Conc. Celular
(bactérias aeróbias
heterotróficas)

Comprimento do rio

Zona de Zona de Zona de Zona de


degradação decomposição recuperação águas limpas
ativa
Figura 1.3: Lançamento de esgotos nos corpos d’água e o efeito de autodepuração.
FONTE: Mota (1997)
 Zona de degradação: água com aspecto escuro e sujo; DBO atinge o valor máximo no
ponto de lançamento, porém começa a cair com a atividade dos microrganismos
heterotróficos aeróbios; sólidos sedimentam; amônia é produzida;
 Zona de decomposição ativa: o teor de oxigênio atinge o mínimo podendo atingir
condições anaeróbias; DBO continua decrescendo com a atividade de microrganismos
aeróbios e anaeróbios; oxigênio é re-introduzido no sistema pela aeração e pela
diminuição da atividade dos microrganismos;
 Zona de recuperação: a atividade microbiana é muito baixa devido a grande parte da
matéria orgânica ter sido degradada; a re-aeração excede a desoxigenação; nitrogênio
predomina na forma de nitritos e nitratos; proliferação de algas; peixes e outros
organismos retornam ao sistema;
 Zona de águas limpas: retorno às condições de origem, porém, não exatamente às
características iniciais, verificadas pela presença de nitratos, fosfatos, sais dissolvidos que
antes não haviam.

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1.7 Águas residuárias e seus tratamentos

A associação da transmissão de doenças via hídrica com os resíduos lançados em


mananciais datam de pouco mais de 110 anos. A partir de então, as águas residuárias
domésticas, ou esgotos sanitários, passaram a receber especial atenção com relação ao seu
destino final. Já as águas residuárias industriais, efluentes de processos de fabricação
específicos, somente vieram a ser de importância após a revolução industrial, ou seja, quando
estes passaram a ser produzidos em grande escala. Durante o século XX o desenvolvimento
econômico de um país foi diretamente relacionado com o desenvolvimento agrícola e
industrial e através da exploração de seus recursos naturais, o que vem mudando um pouco
esta perspectiva no século XXI. Este desenvolvimento se deu sem uma maior preocupação
com as conseqüências ao meio ambiente, gerando um passivo ambiental considerável.
Atualmente, os países desenvolvidos vêm centrando esforços para reverter a situação
remediando os ambientes contaminados e tratando suas águas residuárias em níveis de
purificação cada vez mais exigentes. No entanto, a geração de bens de consumo para suportar
o crescimento econômico, associado às necessidades básicas de sobrevivência do ser humano,
minimizando os impactos ambientais causados pela atividade do homem, continuam a ser
grandes desafios, principalmente para países em desenvolvimento. Esta consciência das
diferenças entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento é fundamental, pois a
economia mundial está cada vez mais associada aos investimentos nas questões ambientais o
que poderá abrir um grande abismo entre estas nações. Cumprir as determinações das leis é
preciso, porém, de forma sustentável.
Na definição de um processo de tratamento de resíduos será selecionada a tecnologia
que melhor se adéqua àquela situação, sendo a decisão tomada em relação ao nível de
desenvolvimento da tecnologia e dos custos envolvidos, conforme a realidade do local de suas
instalações. Para a tomada de decisão deve-se primeiro analisar as características da água
residuária para então verificar qual é o nível de tratamento que deve ser aplicado para chegar
aos parâmetros exigidos pela legislação.
Dentre as principais características das águas residuárias deve-se estar atento para
aquelas que definem a necessidade de uma ou mais etapas de processo, as quais serão
descritas a seguir:

Vazão
A vazão é um dos principais parâmetros que irá definir o tamanho dos tanques que
irão compor a planta de tratamento. Deve-se verificar a sua variação ao longo de um período
de trabalho para que se possa definir a necessidade de promover sua equalização. O projeto de
uma planta de tratamento poderá considerar a vazão de pico ou poderá, após um tanque de
equalização, ser utilizada a vazão média para os cálculos.

pH
O pH, como visto anteriormente, é essencial tanto para regular as reações químicas
como as reações bioquímicas. Altera o equilíbrio das reações, influencia as interações físico-
químicas de adsorção, modifica a conformação de enzimas, interfere no transporte de íons
para dentro de células vivas, altera o estado de oxidação de compostos químicos dissolvidos,
além de ser muito importante na seleção de materiais de construção de tanques com relação
aos seus efeitos corrosivos. Muitos processos podem ter necessidade de correção do pH antes
de sua introdução no tanque de reação e outros serão modificados à medida que as reações
ocorrem, havendo necessidade de um monitoramento e correção contínuos. Este é um dos
parâmetros que se pode facilmente medir e controlar on-line em plantas de tratamento mais
sofisticadas.

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Temperatura
A temperatura é um parâmetro muito importante. De forma equivalente ao pH, a
temperatura influi na velocidade das reações químicas e bioquímicas, influi na estabilidade
das enzimas e modifica as propriedades do meio, como viscosidade e densidade. A
temperatura também pode ser medida e monitorada facilmente em plantas de tratamento de
efluentes.

Sólidos em suspensão:
A presença de sólidos em suspensão na água residuária deve ser analisada com
cuidado, dependendo de sua natureza. Se os sólidos forem majoritariamente inorgânicos estes
devem ser removidos antes de serem alimentados para o sistema de tratamento propriamente
dito, pois poderão provocar o assoreamento e abrasão dos equipamentos subseqüentes. Como
estes já se encontram num estado da matéria de fácil separação, o uso da força da gravidade
através uma câmara de sedimentação é uma opção adequada para sua remoção. Caso os
sólidos sejam de origem orgânica, a necessidade de separá-los dependerá de sua concentração
e do processo de tratamento que será utilizado. Normalmente estes são separados em
sedimentadores e tratados de forma independente da matéria orgânica dissolvida, pois existem
tecnologias mais adequadas para cada tipo de resíduo;

Óleos e graxas:
As gorduras (óleos e graxas) são contaminantes presentes em vários efluentes,
principalmente aqueles originados na indústria de alimentos. Primeiramente, deve-se avaliar a
potencialidade de seu reuso como matéria prima de uma série de produtos, como na
fabricação de sabão e na indústria de cosméticos. A sua presença nos processos subseqüentes
trás uma série de problemas operacionais, devido às características de aderência às superfícies
que possui este material, aumentando a manutenção dos equipamentos e diminuindo a
eficiência da degradação dos compostos solúveis em água. A sua remoção é também
facilitada pela diferença de densidade entre estes e a água, sendo a flotação a alternativa
comumente usada;

Matéria orgânica:
O tipo de matéria orgânica e sua concentração devem ser analisados para auxiliar na
escolha do sistema a ser utilizado. Como será visto nos capítulos subseqüentes, uma série de
fatores irão influenciar na decisão de que tipo de processo deva ser melhor aplicado em cada
caso, seja processos aeróbios ou anaeróbios. A tendência atual é a aplicação dos dois
processos, um seguido do outro, para aproveitar as vantagens de ambos, sendo o primeiro
considerado o tratamento principal e o segundo como polimento;

Nutrientes:
Os nutrientes de importância são aqueles necessários em grandes quantidades para o
crescimento dos microrganismos (macronutrientes), como o nitrogênio, o fósforo e o enxofre.
Existem métodos físico-químicos para a remoção destes compostos, como a precipitação e a
volatilização (striping), no entanto, recentemente estão sendo desenvolvidos processos
biológicos de remoção destes compostos, que também são combinações de processos aeróbios
seguidos de anaeróbios, ou vice-versa. Por outro lado, se estes compostos estiverem presentes
em quantidades insuficientes para sustentar o crescimento dos microrganismos desejáveis ao
processo de degradação, estes devem ser adicionados em quantidades suficientes para este
fim;

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Compostos tóxicos e recalcitrantes:


A presença de compostos tóxicos aos microrganismos e de compostos de difícil
degradação deve ser analisada com cautela. Dependendo da natureza do composto tóxico e de
sua concentração seu efeito deve ser neutralizado antes de entrar no reator biológico. Na
maioria dos casos contorna-se a situação diluindo-se a água residuária com o próprio efluente
tratado antes de ser alimentado no reator biológico. Após o tratamento biológico, estes
compostos devem ser removidos por processos físico-químicos específicos, podendo envolver
adsorção, troca iônica, oxidação fotocatalítica ou química, e uma série de outros processos;

Microrganismos patogênicos:
Os esgotos domésticos, por sua origem, possuem microrganismos patogênicos,
indicados pelos coliformes fecais. Após todo o processamento das águas residuárias um
elevado grau de inativação destes microrganismos foi realizado, no entanto, normalmente não
é suficiente para removê-los aos níveis exigidos pela legislação. Um tratamento por oxidação
química normalmente é empregado para atingir os níveis exigidos.

Como exemplo, a Tabela 1.6 apresenta as características do esgoto sanitário. Observa-


se nesta tabela que os esgotos sanitários possuem uma concentração de matéria orgânica
pouco concentrada, comparada com as características da maioria dos efluentes industriais, o
que implica em trabalhar com grandes volumes de líquido em reatores operados a baixos
tempos de residência. Nota-se também que estes possuem uma concentração de sólidos em
suspensão elevada em relação aos sólidos totais, indicando haver necessidade de uma
separação prévia destes sólidos antes de prosseguir com o tratamento biológico. Uma boa
parte destes sólidos em suspensão são materiais orgânicos (~80%), indicando haver
necessidade de tratamento dos resíduos sólidos separadamente, podendo ser utilizado um
processo biológico para tal. Nos sólidos dissolvidos também há uma grande quantidade de
matéria orgânica, indicando a viabilidade do uso de processos biológicos para remoção da
matéria orgânica. Como complementação, verifica-se que há excesso de nitrogênio e fósforo
nestes efluentes, que devem ser removidos ao final do processo, para fins de atendimento aos
parâmetros definidos pela legislação. Baseado nestas premissas, a Figura 1.4, apresenta um
fluxograma genérico de uma planta de tratamento de esgotos sanitários com seus principais
elementos.

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Tabela 1.6: Características típicas de esgotos sanitários


Contribuição per capita (g/hab dia) Concentração (mg/L)
Parâmetro
Faixa Típico Faixa Típico
Sólidos Totais 120-220 180 700-1350 1100
 Em suspensão 35-70 60 200-450 400
- Fixos 7-14 10 40-100 80
- Voláteis 25-60 50 165-350 320
 Dissolvidos 85-150 120 500-900 700
- Fixos 50-90 70 300-550 400
- Voláteis 35-60 50 200-350 300
 Sedimentáveis - - 10-20 15
Matéria orgânica
 Determinação indireta
- DBO5 40-60 50 200-500 350
- DQO 80-130 100 400-800 700
-DBOúltima 60-90 75 350-600 500
 Determinação direta
- COT 30-60 45 170-350 250
Nitrogênio total (N) 6,0-112,0 8,0 35-70 50
 Nitrogênio orgânico (N) 2,5-5,0 3,5 15-30 20
 Amônia (N-NH4+) 3,5-7,0 4,5 20-40 30
 Nitrito (N-NO2 )- ~0 ~0 ~0 ~0
 Nitrato (N-NO3 ) - 0,0-0,5 ~0 0,2 ~0
Fósforo (P) 1,0-4,5 2,5 5-25 14
 Fósforo orgânico (P) 0,3-1,5 0,8 2-8 4
 Fósforo inorgânico (P) 0,7-3,0 1,7 4-17 10
pH - - - 7,6,7-7,50
Alcalinidade (CaCO3) 20-30 25 110-170 140
Cloretos 4-8 6 20-50 35
Óleos e graxas 10-30 20 55-170 110
Fonte: adaptado de von Sperling (1996)

Esgoto Caixa de areia

Gradeamento
Reciclo de lodo

Pós-Tratamento
(remoção de
Leito de secagem Biodigestor nitrogênio e fósforo
e/ou desinfecção)

Figura 1.4: Fluxograma do Tratamento Convencional de Esgotos Sanitários

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Da mesma forma que para o esgoto sanitário, a Tabela 1.7 apresenta as principais
características de algumas águas residuárias industriais.

Tabela 1.7: Características típicas de algumas águas residuárias industriais


Gênero Tipo Unid. de Cons. esp. Carga Conc. de
produção de água esp. de DBO (mg/L)
(m3/unid) DBO
(kg/unid)
- Conservas 1 ton 4-50 30 600-7.500
- Doces 1 ton 5-25 2-8 200-1.000
- Açúcar de cana 1 ton açucar 0,5-10,0 2-5 250-5.000
Alimentícia - Laticínio sem queijaria 1000 L de leite 1-10 1-4 300-2.500
- Laticínio com 1000 L de leite 2-10 5-40 500-4.000
queijaria 1 ton 20 30 1.500
- Margarina 1boi/2,5 0,3-0,4 4-10 15.000-
- Matadouros porcos 150 1.100 20.000
-Produção de levedura 1 ton 7.500
- Destilação de álcool 1 ton 60 220 -
Bebidas -Cervejaria 1 m3 5-20 8-20 3.500
- Refrigerantes 1 m3 2-5 3-6 500-4.000
- Vinho 1 m3 5 0,25 600-2.000
- Algodão 1 ton 120-750 150 200-1.500
- Lã 1 ton 500-600 300 500-600
- Rayon 1 ton 25-60 30 500-1.200
Têxtil - Naylon 1 ton 100-150 45 350
- Polyester 1 ton 60-130 185 1.500-3.000
- Lavanderia de lã 1 ton 20-70 100-250 2.000-5.000
- Tinturaria 1 ton 20-60 100-200 2.000-5.000
- Alvejamento de 1 ton - 16 250-300
tecidos
Couros e - Curtumes 1 ton de pele 20-40 20-150 1.000-4.000
Curtumes - Sapatos 1000 pares 5 15 3.000
Polpa e - Polpa sulfatada 1 ton 15-200 30 300
Papel - Papel 1 ton 30-270 10 -
- Polpa e Papel 1 ton 200-250 60-500 300-10.000
integrados
- Tinta 1 empregado 0,110 1 10
Indústria - Sabão 1 ton 25-200 50 250-2.000
Química - Refinaria de Petróleo 1 barril (117L) 0,2-0,4 0,05 120-250
- PVC 1 ton 12,5 10 800
Indústria - Vidro e subprodutos 1 ton 50 - -
Não- - Cimento 1 ton 5 - -
metálica
Siderúrgica - Fundição 1 ton gusa 3-8 0,6-1,6 100-300
- Laminação 1 ton 8-50 0,4-2,7 30-200
Fonte: adaptado de von Sperling (1996)

Como pode ser observada na tabela acima a composição de uma água residuária
industrial depende em muito do tipo de produção na indústria e é muito diferente das
características encontradas nos esgotos domésticos. As possibilidades de processos para o
tratamento destes efluentes são várias e dependerá muito da experiência prévia com a água
residuária em questão, devido às particularidades não só da produção, mas das práticas
cotidianas da fábrica. A composição de uma planta de tratamento de águas residuárias é
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complexa e depende de uma série de decisões, podendo variar muito de um projetista para
outro. A título de ilustração, a Figura 1.5 apresenta um fluxograma genérico para o tratamento
de efluentes industriais.
Uma prática comum realizada no passado e que hoje é evitada, ou não recomendada, é
a mistura dos efluentes industriais com os esgotos sanitários, devido a uma série de problemas
associados, como diluição dos compostos tóxicos dificultando o seu tratamento. No entanto,
não é incomum tratar o efluente industrial e depois lançá-lo na rede de esgotos municipal para
sofrer um polimento final.

Tanque de
Efluente Equalização Tratamento
Pré-Tratamento Decantador
Industrial Físico-Químico Biológico

Peneira

Pós-Tratamento
Biológico ou
Leito de Secagem Físico-Químico

Figura 1.5: Fluxograma do Tratamento de Efluentes Industriais

É importante ressaltar que as características dos efluentes industriais apresentadas na


Tabela 1.7 está em constante modificação, pois há um movimento no sentido de minimizar a
geração de resíduos e economizar insumos, promovendo os programas de reuso e de reciclo
de águas e de recuperação de insumos e produtos. Como exemplo, na fabricação de cervejas
era comum utilizar 10 a 15 litros de água para produzir 1 litro de cerveja. Atualmente, esta
média já ultrapassou a barreira dos 5 litros de água por litro de cerveja produzida, considerada
como faixa mínima há alguns anos atrás. Com a minimização do descarte de água no processo
a tendência é de aumentar as concentrações de matéria orgânica e dos poluentes encontrados
nos efluentes industriais, o que por um lado é interessante do ponto de vista do tratamento dos
resíduos orgânicos, mas por outro trás desafios ainda não mensurados para tratar estas águas
altamente concentradas em resíduos tóxicos e recalcitrantes.

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2. COLETA E PRESERVAÇÃO DE AMOSTRAS

2.1. Introdução

A coleta e preservação de amostras de efluentes são etapas que precedem a análise


fisico-química que, junto com outras informações tais como vazão de produção em função do
tempo, temperatura, adição de produtos químicos e outras, irão subsidiar o projeto do sistema
de tratamento.
Sendo uma atividade que deverá fornecer informações básicas, as quais irão influir
decisivamente no desempenho do processo de tratamento, a coleta de amostras deve ser
precedida por um planejamento cuidadoso e deve ser realizada de modo a fornecer
informações que retratem a realidade da forma mais fiel e acurada possível.

2.2. Planejamento

O planejamento tem por objetivo definir as atividades de coleta, preservação,


manuseio e transporte das amostras, de modo a assegurar a obtenção de todas as informações
necessárias da forma mais precisa, com o menor custo possível. Esta fase deve definir em
detalhes o programa de coleta de amostras, levando em consideração os métodos analíticos
que serão aplicados, assim como prever os recursos humanos, materiais e financeiros
necessários. Um bom planejamento deverá ser embasado em informações preliminares como:

2.2.1. A geração dos efluentes


É necessário conhecer em detalhes os processos industriais responsáveis pela produção
dos efluentes: suas variações ao longo do tempo (dia, semana, etc.), os insumos empregados,
o regime de descarga dos efluentes, o procedimento para a limpeza das instalações, sua
freqüência e produtos utilizados para esse fim e outros detalhes operacionais que influem na
qualidade dos efluentes. É necessário também levantar a existência ou a possibilidade de
implantar uma separação das correntes provenientes de diferentes operações.

2.2.2. Presença de substâncias químicas potencialmente tóxicas


A toxicidade das substâncias presentes deve ser considerada na definição dos métodos
analíticos que serão usados, que por sua vez poderão influir no planejamento da coleta e
tratamento das amostras.

2.2.3. Parâmetros físico-químicos de interesse


Para cada parâmetro existe uma forma adequada de coleta e preservação de amostras.
Por exemplo, a amostragem para a caracterização da DBO (demanda bioquímica de oxigênio)
de um efluente deve levar em conta que a amostra perde a validade em 24 horas. Além disso,
é preciso prever o tipo de frasco (se de plástico ou de vidro) a ser utilizado para cada
parâmetro, de modo a minimizar erros resultantes da adsorção da espécie química de interesse
na parede do recipiente, fator que se torna mais crítico em baixos teores.

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2.3. Programa de coleta de amostras

O programa detalhado de coleta de amostras é produto da etapa de planejamento. Deve


conter a definição de itens como:
. Pontos de coleta
. Forma de coleta (se pontual, contínua ou composta de frações periódicas)
. Freqüência de coleta
. Período de amostragem
. Volume da amostra ou fração
. Procedimentos quanto ao manuseio e preservação das amostras
. Procedimento para a guarda e transporte das amostras
. Responsável pela amostragem
No ato da coleta das amostras é imprescindível que se leve em conta a vazão do
efluente. Por exemplo, se for o caso de uma amostra composta, cada fração deve ser
proporcional à vazão no momento da coleta.
É necessário que a pessoa designada para a coleta esteja qualificada quanto a todos os
procedimentos envolvidos, e especialmente no manuseio dos produtos químicos a serem
adicionados na amostra ou na fração coletada.
O planejamento deve ter previsto também uma infra-estrutura para a refrigeração das
amostras e um procedimento para o armazenamento e/ou transporte seguro e rápido ao
laboratório de análise.

2.4. Preservação das amostras

As seguintes técnicas são empregadas para a preservação das amostras.

2.4.1. Congelamento
É um método de preservação que pode ser aplicado para aumentar o intervalo de
tempo entre a coleta e a análise, para a maior parte dos parâmetros de composição química.
Não pode ser usado para a determinação do teor de sólidos filtráveis e não filtráveis ou de
qualquer parâmetro nessas frações, pois os componentes dos resíduos em suspensão se
alteram com o congelamento e posterior descongelamento.

2.4.2. Refrigeração
É usada quando outras técnicas não podem ser empregadas, como no caso de análises
microbiológicas e algumas determinações químicas e biológicas.

2.4.3. Adição de agentes químicos


É o método de preservação mais conveniente, quando possível, pois oferece o maior
grau de estabilização da amostra e por maior espaço de tempo. No entanto, não é possível
recorrer a adições químicas em casos de determinação de parâmetros biológicos como a DBO
(demanda bioquímica de oxigênio), contagem de microrganismos e em casos de ocorrência de
interferências na análise química.

2.5. Recomendações para coleta e preservação de amostras

A Tabela 2.1 apresenta as recomendações da CETESB, 1987, quanto ao tipo de frasco


para coleta, quantidade de amostra necessária, forma de preservação e o prazo entre a coleta e
o início de análise, para os parâmetros de maior interesse.
A Tabela 2.2 apresenta sugestões dos parâmetros de caracterização por tipo de
atividade industrial (Vitoratto, 1993).
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Tabela 2.1 - Cuidados na coleta e preservação de amostras: P = polietileno; V = vidro neutro


ou borossilicato; R = refrigeração a 4oC (CETESB, 1987)
Parâmetro Frasco Vol. de Preservação Prazo
amostra (mL)
Acidez P, V 200 R 24 h
Alcalinidade P, V 200 R 24 h
Boro P 100 R 180 d
Carbono Orgânico Total P, V 100 H2SO4 até pH<2; R 7d
Cianeto P 500 NaOH até pH>12; R menor
possível
Cloreto P, V 200 - 14 d
Cloro residual - - medida em campo -
Condutividade P, V 100 R 24 h
DBO P, V 2.000 R 24 h
DQO P, V 200 H2SO4 até pH<2; R 7d
Fenóis V, âmbar 1.000 H2SO4 ou HCl até pH<2 menor
ou NaOH até pH>12 possível
Fluoreto P 100 R 7d
Fosfato total P, V 200 H2SO4 até pH<2; R 24 h
Volume de lodo proveta de 1000 1.000 medida em campo -
mL
Mercúrio P, V 250 0,5gK2Cr2O7/L + 50mL 10 d
HNO3/L
Metais P, V 1.000 HNO3 até pH<2 180 d
N amoniacal / orgânico P, V 1.000 H2SO4 até pH<2; R 24 h
V, tampa de teflon
Óleos e graxas ou vidro, boca 1.000 HCl até pH<2; R 24 h
larga
Oxigênio consumido P, V 150 R 24 h
frasco de DBO Reagentes para det. OD:
Oxigênio dissolvido 300 2 mL sulfato manganoso 4-8 h
2 mL álcali-iodeto-azida
pH P, V 200 R 6h
ST / SV P, V 1.000 R 7d
SST / SSV P, V 1.000 - 24 h
Sulfato P, V 200 R 7d
Sulfeto V 300 Sem ar, 1 mL acetato de 24 h
zinco 2N, pH 6-9; R
Temperatura - - Medida em campo -
Tensoativos P, V 250 R 24 h

Tabela 2.2 - Parâmetros para caracterização de efluentes por atividade industrial: Al. =
alimentícia; Beb. = bebidas; Cel. = celulose; Cur. = curtume; Sid. = siderúrgica; Tex. = têxtil
(Vitoratto, 1993).
Parâmetro Al. Beb Cel Cur Sid Tex. Parâmetro Al. Beb Cel Cur Sid Tex.
N-NH3 x x x x Óleos e graxas x x x x x x
Cianeto x pH x x x x x x
Cloreto x x x ST / SV x x x x x
Cromo x x x Sólidos Sed. x x x x x x
DBO x x x x x x SST/SSV x x x x x x
DQO x x x x x x Sulfeto x x x x x
Fenóis x x Temperatura x x x x x x
N total x x x
N nitrato x x

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3. CARACTERIZAÇÃO DAS ÁGUAS

3.1. Introdução

A caracterização das águas é uma tarefa básica para o equacionamento adequado do


problema de tratamento das mesmas. É uma etapa de trabalho que gera informações quanto à
composição e vazão da água natural ou residuária, levando em conta as suas variações ao
longo do tempo, em função das atividades responsáveis por sua geração.
Visto que se trata de uma etapa que vai subsidiar o projeto do sistema de tratamento,
influindo decisivamente no seu desempenho, deve ser realizada de modo a fornecer as
informações da forma mais precisa possível.
Além da coleta da amostra, abordada no capítulo anterior, outra tarefa muito
importante é a escolha da metodologia apropriada para fazer a determinação dos compostos
desejados. As considerações sobre a escolha dos métodos a serem aplicados são as seguintes:

 Propriedades físicas, químicas e físico-químicas dos componentes;


 Faixa de concentração a ser determinada;
 Precisão do resultado;
 Simplicidade do método;
 Economia de insumos e equipamentos;
 Economia de tempo de análise;
 Presença de compostos interferentes na metodologia;
 Estabilidade do composto;

3.2. Métodos Analíticos para Caracterização de Águas

Geralmente, existe mais de 1 método analítico para determinar a concentração do


composto de interesse. Cada um dos métodos possíveis de serem utilizados na determinação
dos compostos possui vantagens e desvantagens quando comparado com os outros, pois é
difícil um único método reunir as todas as melhores condições dos quesitos acima
mencionados. Na maior parte das vezes a decisão recai sobre a disponibilidade de
equipamentos que possui o laboratório analítico. Para se ter uma dimensão da gama de
análises realizadas na área de tratamento de águas naturais e residuárias, é apresentado na
Tabela 3.1 a seguir um sumário da grande maioria das determinações praticadas nas suas
caracterizações, dividindo os componentes por classes e as técnicas de medidas de suas
concentrações. Para isto, em consulta às referências da Laurence and Berkeley Laboratory
(1986) e ao Standard Methods (1998), agrupou-se uma série de técnicas que estão baseadas
em princípios comuns, dando uma visão geral da utilização das mesmas. Por exemplo, as
técnicas de potenciometria e eletrodos específicos envolvem a medida de pH, potencial redox,
condutividade, amônia, etc.
Esta tabela não pretende estar completa com relação aos componentes a serem
analisados e das várias técnicas alternativas que podem ser empregadas, nem tão pouco traz
detalhes das metodologias utilizadas em cada caso, pois o assunto é bastante extenso,
necessitando uma avaliação mais cuidadosa em cada caso específico, sendo indicada a
consulta às referências apontadas.

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Observa-se que para compostos presentes em altas concentrações pode-se utilizar


técnicas convencionais ou por via úmida, que são mais baratas, já compostos presentes em
pequenas quantidades há necessidade de se utilizar técnicas mais avançadas como a de
absorção atômica e cromatográficas.
Outra observação interessante é que a maioria dos compostos pode ser analisada
utilizando-se técnicas colorimétricas ou espectrofotométricas. No entanto, estas técnicas se
aplicam muito bem para análises de águas puras, mas para águas residuárias há muitos
problemas de interferentes nas determinações analíticas. Adaptações aos métodos e preparos
de amostras devem ser verificados para aumentar a precisão dos mesmos.
Além das análises realizadas, constantes da Tabela 3.1, são ainda realizadas as
seguintes análises para verificação da qualidade das águas e efluentes.

Características Físico-Químicas
 Temperatura: que utiliza sensor de temperatura
 Turbidez: determinada pela refração da luz
 Cor: determinada por colorimetria ou visual
 Odor: determinada por sensibilidade ao olfato
 Sabor: determinada por sensibilidade degustativa
 Sólidos totais: determinada por gravimetria

Constituintes Orgânicos (complementação da tabela)


 Sólidos voláteis: determinada por gravimetria
 Demanda química de oxigênio (DQO)
 Demanda bioquímica de oxigênio (DBO)

Organismos patogênicos
 Tubos múltiplos: método estatístico, baseado na indicação da presença/ausência do
microrganismo em um meio de cultura específico, utilizando a técnica de diluições em
série e expressando os resultados como número mais provável (NMP)
 Ovos de helmintos

Os métodos microbiológicos serão vistos com maiores detalhes no Capítulo XI.2 e,


devido à sua importância na caracterização das águas e efluentes, alguns métodos estão
descritos e discutidos sucintamente a seguir.
Os métodos indicados neste item estão de acordo com o Standard Methods (APHA,
AWWA, WQF, 1998). Recomenda-se a consulta da obra original para a obtenção de maiores
detalhes.

3.2.1. Sólidos

A análise de sólidos é uma das mais utilizadas na caracterização de águas de


abastecimento e residuárias. Diferentes determinações podem dar indicações quantitativas
absolutas e relativas dos materiais componentes da água, podendo dividi-los em orgânicos e
inorgânicos, solúveis e insolúveis e sedimentáveis e não sedimentáveis. A seguir são
apresentadas as bases das metodologias utilizadas nestas determinações e o seu significado
nas ciências do meio ambiente.

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SÓLIDOS TOTAIS
Os sólidos totais (ST) expressam a quantidade total de compostos orgânicos e
inorgânicos, solúveis e em suspensão contidos na amostra.
A análise de sólidos totais é realizada através da pesagem da amostra em cadinho de
porcelana previamente tarado e evaporação da água contida em uma estufa a 105 oC durante 2
horas. Dependendo da amostra o tempo de secagem pode ser superior,sendo recomendado se
possível que a amostra fique durante a noite na estufa a esta temperatura para depois seguir
com o procedimento analítico. Após a retirada da amostra da estufa,esta deve ser esfriada a
temperatura ambiente antes da pesagem devendo-se promover o resfriamento em um
dessecador para evitar a rehidratação da amostra. O peso do cadinho depois da secagem
menos o peso inicial representa a umidade da mesma e o restante da massa os sólidos totais
(ST). Os sólidos toais são expressos em [gST/L].
Nesta determinação compostos orgânicos voláteis podem ser eliminados e
considerados como sendo parte da umidade.

Determinação de sólidos totais pelo uso de microondas

SÓLIDOS VOLÁTEIS
Dando prosseguimento à determinação de sólidos totais, procede-se a análise de
sólidos voláteis (SV). A amostra depois de seca na estufa é calcinada a 550 oC durante 2
horas. Novamente, resfria-se o cadinho com a amostra calcinada em dessecador para que a
mesma não se rehidrate. O peso do cadinho depois da calcinação menos o peso depois da
secagem representa os sólidos voláteis (SV), ou seja a massa de matéria orgânica que foi
transformada em CO2 e H2O.
Outros compostos inorgânicos podem ser oxidados a compostos gasosos interferindo
no resultado final da análise.
Os sólidos voláteis são utilizados para medir a concentração de matéria orgânica e a
relação SV/ST indica a fração de matéria orgânica contida na amostra. Normalmente estes
sólidos são expressos em [%ST].

SÓLIDOS FIXOS
A diferença entre os sólidos totais e os sólidos voláteis são os chamados sólidos fixos
(SF) ou cinzas. Corresponde aos compostos inorgânicos contidos nas amostra.

SÓLIDOS DISSOLVIDOS E SÓLIDOS EM SUSPENSÃO


Este mesmo procedimento pode ser realizado no sobrenadante ou nos sólidos retidos
de uma amostra filtrada. Quando utilizamos o sobrenadante, os sólidos são ditos dissolvidos
(SDT e SDV) e quando realizado nos sólidos retidos são ditos em suspensão (SST e SSV).
A relação SST/ST indica qual é a fração dos sólidos que se encontra em suspensão.

SÓLIDOS SEDIMENTÁVEIS
Uma outra informação importante relativa aos sólidos em suspensão é com relação à
sua facilidade com que estes sedimentam.
O teste para realizar a sedimentabilidade dos sólidos é feita em um frasco de 1 litro,
que tem um formato cônico e graduado, denominado de cone de imhoff, conforme
apresentado no Figura 3.1. O frasco é preenchido até a marca de 1 L e espera-se 30 minutos
para sua sedimentação. Após o tempo decorrido faz-se a leitura do volume de sólidos
sedimentados neste período. A unidade de medida dos sólidos sedimentáveis é expressa em
[mL/L].
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Figura 3.1: Cone de imhoff utilizado na determinação dos sólidos em suspensão

3.2.2. Demanda Química de oxigênio(DQO)

DQO é a quantidade de oxigênio necessária para oxidar quimicamente toda a matéria


orgânica, lavando-a a CO2 e H2O. Através da determinação da quantidade de reagentes
químicos necessários para promover esta reação de oxidação podemos indiretamente
determinar a quantidade de matéria orgânica em uma amostra.
O método baseia-se na oxidação da matéria orgânica por dicromato de potássio em
meio ácido sulfúrico, contendo sulfato de prata como catalisador, e ebulição por 2 horas. A
equação 3.1 apresenta a reação química que ocorre na determinação da DQO. A amostra deve
ser diluída adequadamente para que haja excesso de dicromato. A quantificação do dicromato
que reagiu, que é equivalente à matéria orgânica presente no meio, pode ser feita de duas
formas:
a) Titulação do dicromato excedente com uma solução de sulfato ferroso amoniacal, usando
ferroína como indicador do ponto final. A solução de FeII é padronizada na hora do uso.
b) Determinação espectrofotométrica do Cr3+ gerado na redução do dicromato. Para isso,
faz-se leitura da intensidade da cor a 600 nm e calcula-se a concentração de Cr3+ através
de uma curva de calibração obtida aplicando-se esse procedimento a soluções padrão de
biftalato de potássio.


(CaHbOc) + Cr2O72- + H+ Cr3+ + CO2 + H2O (equação 3.1)
amarelo verde

Em ambos os casos, o resultado é expresso em termos de massa de oxigênio


consumido por volume de amostra [mg O2/L].
O método espectrofotométrico tem a vantagem de ser mais econômico, tanto em
reagentes como em tempo de analista, porém tem variabilidade maior que o de titulação.
Os métodos de determinação da DQO são métodos fáceis de serem realizados e
rápidos, quando comparado com a demanda bioquímica de oxigênio, que será vista a seguir.
Uma das limitações do método é a oxidação de compostos inorgânicos que podem interferir
no resultado final.
Pode-se calcular facilmente a DQO teórica de um composto orgânico fazendo-se a
reação de oxidação, como no exemplo na oxidação do ácido acético apresentada na equação
3.2 abaixo:

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C2H4O2 + 2 O2 2 CO2 + H2O (equação 3.2)


60 g 2 x 32 g
1g X g O2  1 g HAc = 64 = 1,07 g O2
60

Outro cálculo freqüentemente utilizado é a conversão da DQO em Carbono Orgânico


Total (COT), dada pela equação 3.3 abaixo:

C2H4O2 + 2 O2 2 CO2 + H2O (equação 3.3)


24 g C 64 g
1gC X g O2  1 g C = 64 = 2,67 g O2
24

3.2.3. Demanda Bioquímica de Oxigênio(DBO5)

DBO5 é a quantidade de oxigênio necessária para oxidar biologicamente a matéria


orgânica, degradada em 5 dias, sob condições padrão (T = 20 oC).
Para realizar o ensaio deve-se seguir os seguintes passos:

Preparo
Inicialmente deve-se ter uma idéia da ordem de grandeza da concentração de matéria
orgânica que contém a amostra, pois este é um teste que necessitará fatalmente de uma
diluição quando for determinada em amostras de efluentes brutos. Como pode ser observado
na Tabela 1.6, a DBO de um esgoto sanitário é de 350 mg/L. Sabe-se também que se
consegue dissolver aproximadamente 7,5 mg/L de oxigênio na água natural dessalinizada a
uma temperatura de 20 oC (APHA, AWWA, WQF, 1998). Portanto, deve-se diluir a amostra
minimamente 40 vezes para que haja suficiente oxigênio para oxidar toda a matéria orgânica.
Neste caso, esgoto bruto, é indicado que se faça ao menos diluições até 10-3 para realizar o
teste. Estas diluições são feitas usando-se soluções salinas de tal forma que não permita o
rompimento celular pelo equilíbrio da pressão osmótica entre as células e o meio de diluição.

Inoculação
Normalmente, as águas naturais e residuárias possuem microrganismos suficientes
para realizar a degradação da matéria orgânica conforme o método está estabelecido. No
entanto, quando se tem um efluente que contenha compostos que podem promover toxicidade
aos microrganismos deve-se utilizar um inoculo de uma fonte de microrganismos que esteja
adaptada ao efluente específico. Este procedimento é um ponto de muita discussão, sobre
como proceder a inoculação e de sua efetividade, no momento de utilizar os resultados do
ensaio.

Incubação
Os frascos inoculados devem ser mantidos em uma estufa incubadora a uma
temperatura de 20oC por um período de 5 dias. Períodos diferentes de 5 dias podem ser
realizados dependendo da necessidade e do objetivo do ensaio.

Determinação
Mede-se o oxigênio dissolvido na amostra no início e no final do ensaio após a
incubação, utilizando-se titulometria ou potenciometria. A série de diluições da amostra que
apresentar o oxigênio dissolvido final na mesma fique na faixa entre 1 a 5 mgO2/L será
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escolhida para se fazer os cálculos. A DBO é calculada multiplicando-se o valor encontrado


da diferença das concentrações de oxigênio inicial e final pelo fator de diluição daquela
amostra. O resultado é expresso em termos de massa de oxigênio consumido por volume de
amostra [mg O2/L]. O teor de oxigênio dissolvido pode ser determinado através de eletrodo
específico ou pelo método iodométrico de Winkler.

Uma curva típica da concentração de matéria orgânica consumida ao longo do tempo


do ensaio é apresentada na Figura 3.2. Observa-se nesta curva que os microrganismos
aeróbios autotróficos também estão presentes e consomem oxigênio em seu metabolismo sem
consumir a matéria orgânica interferindo no resultado final da determinação. Estes
microrganismos autotróficos usam o CO2 dissolvido como fonte de carbono para o seu
crescimento e crescem mais vagarosamente do que as bactérias heterotróficas aeróbia. Por
este motivo a determinação da DBO é realizada após 5 dias de incubação, não dando tempo
suficiente para que a degradação ocorra completamente. À DBO teórica final do processo de
degradação de uma determinada amostra dá-se o nome de DBO última (DBOL).
Normalmente, a DBO5 equivale a aproximadamente 60 a 70% da DBOL, no entanto, valores
superiores a estes podem ser encontrados, dependendo da biodegradabilidade da matéria
orgânica e da composição química do meio.

2o estágio (nitrificação)

DBO mg/l

1o estágio
(DBO carbonácea)

10 20 30 40 50 60

Tempo de incubação (dias)


Figura 3.2: Curva de oxigênio consumido ao longo do tempo em um ensaio de DBO

Como pode-se perceber a determinação da DBO é variável e questionável quanto à sua


eficácia. Este é um método demorado, não sendo conveniente para ser utilizado como
parâmetro de controle de processos de tratamento modernos que possuem baixos tempos de
retenção hidráulica. As respostas obtidas são variáveis, não havendo um valor mais preciso
para a determinação, o que não permite que se possam fazer balanços de massa mais precisos.
A determinação é muito trabalhosa consumindo muito tempo e mão de obra.
No entanto esta determinação é importante para ser utilizada na avaliação do impacto
ambiental provocado pelo lançamento de um determinado efluente nos mananciais naturais.
A relação DBO5/DQO tem sido utilizada para medir o grau de biodegradabilidade de
uma água residuária. Valores acima de 0,4 desta relação indicam que a mesma é de fácil
biodegradabilidade. No entanto, cuidados devem ser tomados ao considerar que um
determinado efluente é pouco biodegradável quando a relação é inferior a 0,4, pois deve-se
lembrar em que condições foram realizados os testes e em que condições pretende-se realizar
o tratamento do efluente em questão.
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Uma situação freqüentemente encontrada na prática é a ocorrência de uma remoção de


DBO inferior à remoção de DQO atingida no tratamento da água residuária, ou até mesmo
obter a DBO do efluente do processo de tratamento superior à da entrada do mesmo,
apresentando uma remoção de DBO negativa. Este fenômeno ocorre porque a matéria
orgânica antes de entrar em um processo de tratamento foi submetida a um ensaio de
biodegradabilidade sem microrganismos adaptados e em quantidades muito aquém daquelas
encontradas no processo real. Durante o seu tratamento as moléculas orgânicas de mais difícil
degradação vão sendo hidrolisadas e aumentando a sua biodegradabilidade, podendo em uma
determinada condição apresentar as distorções acima comentadas.
A recomendação é de que use a DQO para controle do processo de tratamento e a
DBO para o controle do impacto ambiental que os efluentes irão gerar no meio ambiente
quando lançados nos corpos d’água.

Constituintes Microbiológicos
 Sólidos suspensos voláteis: gravimetria
 Microscopia: contagem direta de microrganismos.
 Compostos indicadores: ex. clorofila (spectrometria ou fluorometria), ATP
(bioluminescência), etc.
 Plaqueamento em meio específico: contagem de unidades formadoras de colônias (UFC)
 Tubos múltiplos: método estatístico, baseado na indicação da presença/ausência do
microrganismo em um meio de cultura específico, utilizando a técnica de diluições em
série e expressando os resultados como número mais provável (NMP)
 Técnicas modernas de identificação e quantificação de microrganismos por
seqüênciamento de DNA: FISH e PCR

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4. PROCESSOS DE TRATAMENTO DAS ÁGUAS PARA ABASTECIMENTO

Do ponto de vista técnico, qualquer água encontrada no meio ambiente,


independentemente do grau de poluição, pode ser transformada em água potável. Entretanto
do ponto de vista econômico, a presença de determinados compostos ou poluentes pode
inviabilizar o processo de tratamento. Quanto maior for a poluição hídrica, maior será o grau
de sofisticação do sistema de tratamento da água para sua potabilização, ou para atender as
exigências de qualidade definidas pelo CONAMA com relação à classe do manancial em que
serão lançados os efluentes. Além disso, quando se tratar de água para reuso, o grau de
depuração será indicado pelo fim a que se destina a água.
A seguir é apresentado um fluxograma de processos utilizados para o tratamento de
águas para fins de potabilização (fluxo principal) e de processamentos auxiliares, dependendo
das necessidades de tratamento. Todos os processos de tratamento de efluentes industriais
envolvem uma ou mais etapas destes fluxogramas, havendo variações com relação aos
equipamentos específicos.

TRATAMENTO BIOLÓGICO

PRECIPITAÇÃO/PRÉ-OXIDAÇÃO Oxidante

MISTURA RÁPIDA Coagulante/Floculante

FLOCULAÇÃO

FLOTAÇÃO DECANTAÇÃO
Oxidante
Auxiliar de filtração
OUTROS PROCESSOS
FILTRAÇÃO
DE TRATAMENTO
FÍSICO-QUÍMICO
 Adsorão
 Troca iônica DESINFECÇÃO Desinfetante
 Eletrólise
 Eletrodiálise
 Separação por
membranas FLUORETAÇÃO Flúor
 Oxidação avançada

Correção e ajuste
CORREÇÃO DE pH de pH

ÁGUA TRATADA

Fluxograma do Tratamento Convencional da Água para Fins de Potabilização


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Na realidade, como os mananciais selecionados para o abastecimento doméstico são


aqueles de melhor qualidade possível, pois envolvem menos custos na produção de água
potável, as necessidades de processamento da água iniciam-se do fim do fluxograma para o
seu início. Ou seja, caso tenha uma água de alto grau de pureza na sua captação, a empresa
distribuidora de água do município irá necessitar apenas de certificar-se de que a água seja
distribuída de forma segura e então irá apenas fazer uma desinfecção preventiva, mantendo os
níveis mínimos de cloro residual em qualquer ponto da rede, além da adição de flúor pra
atender ao programa de combate às cáries.
Na grande maioria dos casos a água proveniente de um manancial natural possui
partículas em suspensão que devem ser removidas para a sua distribuição, além de que estas
partículas consomem os reagentes das etapas subseqüentes, tornando o processo mais
oneroso. Para isso, uma filtração é praticada. Porém, se a quantidade de partículas é muito
grande, estas podem causar problemas operacionais na etapa de filtração, havendo
necessidade de se remover a maior parte destes sólidos. Estes sólidos poderiam ser retirados
por processos menos onerosos como a sedimentação.
Na sedimentação, os sólidos mais grosseiros irão decantar facilmente, porém, se
houver uma fração significativa de sólidos em suspensão de características de difícil
sedimentabilidade haverá a necessidade de auxiliar esta sedimentação através de um artifício
chamado de floculação.
A floculação é a união de uma série de partículas de tal forma que juntas se
comportam como se fosse uma partícula de maior diâmetro, permitindo assim a sua
sedimentação em uma maior velocidade.
Para que ocorra a floculação, poderá haver a necessidade de adicionar agentes que
possam promover esta aglomeração e desestabilizar as cargas elétricas nas mesmas, por um
processo chamado de coagulação.
Se as águas forem de fontes naturais que contenham muitos sais dissolvidos que
podem conferir propriedades adversas ao seu consumo direto, haverá a necessidade de
promover um pré-tratamento da mesma, de tal forma a eliminar o efeito destes compostos ou
promover a sua insolubilização. Normalmente, esta etapa envolve processos de oxidação,
mudança de pH, procurando o ponto isoelétrico destes compostos, ou adição de compostos
químicos para reagirem com os componentes da água que possam promover a formação de
precipitados.
Águas com maior grau de impurezas já são consideradas águas residuárias que podem
ter origem doméstica ou industrial, que exigem um tratamento mais acentuado, como é o caso
de um tratamento biológico para águas com altas concentrações de matéria orgânica ou de
nutrientes, como o nitrogênio e o fósforo.
Caso haja necessidade de se obter água com alto grau de pureza para fins específicos,
deve-se utilizar processos diferenciados parta o seu tratamento. Estes processos irão remover
compostos da água de tal forma que poderia se chegar a água ultra pura, ou seja, desalinizada.
O que se pode observar é que quanto mais limpa for a água captada menor será o custo
para tratá-la. Por isso vem a grande preocupação em manter os mananciais com o menor nível
de impacto pelo uso dos recursos ambientais.
A seguir será apresentado com um pouco mais de detalhe os vários processos
envolvidos no tratamento de águas.

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5. TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO

5.1. Pré-Tratamentos (pré-oxidação, ajuste de pH e abrandamento)


Dependendo das características químicas e físico-químicas da água a ser tratada, além
do fim a que se destina, será necessária a realização de algumas etapas preliminares com o
intuito de auxiliar a remoção dos contaminantes nas etapas subsequentes do tratamento. Tais
etapas compreendem a adição de reagentes químicos utilizados para precipitar íons que se
encontram dissolvidos na água.

Oxidação química é um processo onde o estado de oxidação (perda de elétrons) de uma


substância aumenta, e tem como objetivo converter espécies químicas indesejáveis em
espécies não prejudiciais ou degenerativas à qualidade da água.
Substâncias tóxicas ou degenerativas incluem:
- substâncias inorgânicas (Mn2+, Fe2+, S2-, CN-, SO32-);
- substâncias orgânicas (fenóis, aminas, ácidos, bactérias, algas, agentes de cor e odor
indesejáveis);
De acordo com a teoria geral da troca de elétrons, qualquer material com a capacidade
de ser receptor de elétrons pode ser um agente oxidante e qualquer material com capacidade
de doar elétrons pode ser um agente redutor. Dependendo do estado de oxidação e das
condições de reação, um elemento pode ser tanto redutor quanto oxidante (ex. FeII e FeIII).
Os oxidantes mais eficientes e abrangentes são o oxigênio, o ozônio e o permanganato de
potássio.

O oxigênio como oxidante é economicamente interessante pois pode ser aplicado na


forma de aeração. Sua limitação reside no longo tempo de processo quando não se utiliza
catalisadores, pois é pouco solúvel em água e sua reatividade é baixa em pressões e
temperaturas comuns.
O ozônio é um poderoso oxidante que age com a maioria dos compostos orgânicos e
microrganismos presentes na água e não fornece à água cor e odores desagradáveis. É
produzido a partir do oxigênio com uso de descargas elétricas. Em geral pode ser utilizado
para desinfecção, remoção de cor, odor e gosto, remoção de ferro e manganês e oxidação de
cianidro. As desvantagens são relativas ao alto custo e baixa eficiência em sua produção,
dificuldade de utilização, toxicidade e corrosividade. O ozônio é termodinamicamente muito
instável.
O permanganato de potássio é um poderoso agente oxidante. Mata e previne uma
grande variedade de algas e microrganismos; reage com todas as substâncias inorgânicas e
orgânicas citadas anteriormente; é de fácil adaptação aos processos convencionais de
tratamento, monitoração e alimentação; não provoca gosto nem odor na água. Foi observada a
viabilidade econômica e a eficiência deste processo que pode ser combinado com outras
etapas de tratamento.
O cloro (hipoclorito) e o dióxido de cloro são oxidantes moderados e usualmente
empregados para oxidar H2S, NO2-, Mn2+, Fe2+ e CN-. Geralmente utilizados para
desinfecção. Sua efetividade aumenta com o pH. Reagente barato e de fácil manuseio. Forma
compostos intermediários como clorofenóis e outros organoclorados.

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REMOÇÃO DE FERRO E MANGANÊS


Para ilustrar, um exemplo típico do processo de oxidação é a remoção de ferro e
manganês, que pode ser feita via aeração ou pela adição de um oxidante forte, ou pela
combinação dos dois processos.
As formas solúveis mais comuns do Fe e do Mn presentes nas águas naturais são suas
formas divalentes (Fe2+ e Mn2+). Os produtos da oxidação destes metais e suas respectivas
solubilidades vão depender de uma série de fatores, mas principalmente do agente oxidante e
do pH do meio.
Oxigênio (ar) como agente oxidante:
4 Fe2+ + O2 + 10 H2O 4 Fe(OH)3 + 8 H+ (pH > 7.0)
Mn2+ + O2 + H2O MnO2 + outros produtos (pH  9,5)
O uso de outros agentes oxidantes, tais como ClOH, ClO-, ClO2, H2O2 e até mesmo o
permanganato de potássio irão auxiliar a oxidação pela aeração, abaixando o pH das equações
acima.

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TRATAMENTO DE ÁGUAS DE CALDEIRAS


A presença de sais de Cálcio e de Magnésio conferem à água uma qualidade a qual
denominou-se de Dureza1. A operação de remoção da dureza da água é chamada de
abrandamento e é essencialmente um problema econômico ao se projetar uma instalação de
tratamento, devendo-se contrabalançar o custo da água tratada com as economias que ela pode
trazer.(menor consumo de sabão, menos gastos na manutenção de caldeiras, etc.).
Os principais métodos usados na remoção da dureza da água são os processos cal e
soda e o processo dos zeólitos ou permutas.
O processo cal e soda consiste na adição de cal (CaO) e soda (NaOH) na água,
resultando num precipitado de carbonato de cálcio e hidróxido de magnésio, que se elimina
por decantação. A água decantada contém sempre uma pequena quantidade de CaCO3 e
Mg(OH)2 em suspensão (devido ao equilíbrio se conseguir muito lentamente), e para evitar
que na areia dos filtros se produzam depósitos trata-se a água com CO2 antes da entrada. Esta
etapa denomina-se “re-carbonatação”, então os carbonatos de cálcio e magnésio são
novamente dissolvidos, aumentando um pouco a dureza final.
A eliminação de matérias coloidais e em suspensão pode ser feita ao mesmo tempo
que a remoção da dureza usando-se coagulantes (como será visto mais adiante).
O processo dos zeolitos ou permutas, consiste em trocar os íons de cálcio e magnésio
por íons de sódio. Recupera-se os zeolitos com uma solução concentrada de NaCl. Com
unidades de zeolitos a dureza pode ser reduzida a zero. A capacidade de remoção para
zeolitos sintéticos varia de 18,4 a 27,5 kg/m3, adotando-se para projetos o valor de 23 kg/m3.
Este processo de troca iônica é recomendado para águas limpas, pois as partículas
responsáveis pela turbidez colmatariam rapidamente os zeolitos anulando seus efeitos.
Para ilustrar, um exemplo da etapa de abrandamento, realizado pelo processo químico
de adição de cal e barrilha (ou soda), ou pelo processo de troca iônica. As reações que
envolvem o abrandamento fazem parte do equilíbrio carbônico da água, sendo altamente
dependente do pH.
Equilíbrio H2CO3 + CO32- 2 HCO3- (pH = 4,5)
Carbônico HCO3- CO32- + H+ (pH = 8,3)

Ca(HCO3)2 + Ca(OH)2 2CaCO3 + 2H2O dureza


Mg(HCO3)2 + 2Ca(OH)2 Mg(OH)2 + 2CaCO3 + 2H2O carbonatada
Ca(HCO3)2 + 2NaOH CaCO3 + Na2CO3 + 2H2O (não permanente
ou temporária)2
CaSO4 + Na2CO3 CaCO3 + Na2SO4
MgSO4 + Na2CO3 + Ca(OH)2 Mg(OH)2 + CaCO3 + Na2SO4
Dureza permanente
Al2(SO4)3 + 3 Ca(HCO3)2 Al(OH)3 + 3 CaSO4 + 6CO2

1
Mole: < 55 mg/L; levemente dura: 56 a 100 mg/L; moderadamente dura: 101 a 200 mg/L; muito dura: >200
mg/L.

2
Podem ser removidas por simples aquecimento.
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5.2. Coagulação/Floculação
A finalidade da coagulação e floculação é transformar as impurezas que se encontram
em suspensão fina, em estado coloidal ou em solução, além de bactérias, protozoários e/ou
plâncton, em partículas maiores (flocos) para que possam ser removidas com maior facilidade
por processos subseqüentes. Esta etapa é a parte mais delicada do tratamento de águas, pois,
se houver alguma falha implicará em grandes prejuízos à qualidade e ao custo do produto
distribuído à população.
As partículas presentes nas águas, na faixa de pH em que normalmente são
encontradas (5-10), encontram-se carregadas negativamente. Estas cargas negativas atraem os
íons positivos dissolvidos na água formando uma camada com predominância de cargas
positivas em volta das partículas, formando uma camada compacta, e diluindo seus efeitos à
medida que aumenta a distância da partícula (Teoria da Dupla Camada). As partículas
possuindo cargas elétricas iguais se repelem, tornando o sistema estável. O processo de
coagulação é aquele que desestabiliza as cargas das partículas, permitindo a aproximação
umas das outras e assim formando flocos num processo chamado de floculação.
Potencial Zeta: é a medida do potencial elétrico entre a superfície externa da camada
compacta que se desenvolve ao redor da partícula e o meio líquido em que ela está inserida. O
Potencial Zeta é uma função da carga da camada difusa (por unidade de superfície do colóide)
e a extensão da mesma. Esta é a força que deve ser vencida para aproximar duas partículas.

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A adição de certos reagentes às suspensões coloidais irá promover os processos de


estabilização e agregação, conduzindo à formação dos flocos de dimensões consideráveis,
permitindo a sua remoção por sedimentação ou filtração.

DESESTABILIZAÇÃO DOS COLÓIDES


A desestabilização dos coloides é realizada por diferentes compostos químicos
chamados Agentes Coagulantes, que podem agir sobre a partícula através de quatro métodos
distintos, ou pela combinação de dois ou mais métodos:
 Compressão da camada difusiva;
 Adsorção de íons para produzir a neutralização das cargas;
 Aprisionamento do precipitado em malhas (enredamento);
 Adsorção em polímeros orgânicos para permitir as ligações interpartículas
Os coagulantes mais comumente utilizados são polímeros orgânicos sintéticos, que
podem ser adicionados diretamente ao processo, ou podem ser adicionados sais de ferro ou de
alumínio (Fe3+ e Al3+), que irão formar polímeros inorgânicos no sistema. A simples
precipitação de outros sais insolúveis para remoção da dureza e de Fe e Mn, citados no item
anterior, também contribuem para o processo de coagulação/floculação.
Além da desestabilização das partículas, a taxa de coalescência, ou de agregação, vai
depender da eficácia das colisões entre as partículas, que permite a ligação entre as mesmas.
Os mecanismos para aumentar a eficiência destas colisões são:
 Contato por movimento térmico, ou movimento Browniano;
 Contato por movimento do volume do fluido, ou agitação;
 Contato resultante da sedimentação diferencial.
Na etapa de coagulação, a adição do coagulante é feita em um tanque de mistura
rápida, sob forte agitação, para evitar que a partícula se carregue positivamente pela adição
em excesso de espécies positivas na sua superfície negativa, voltando a se estabilizar. A
coagulação ocorre em alguns segundos.
Após a desestabilização, diminui-se a agitação e inicia-se o processo de aglutinação
(floculação).A floculação das partículas já coaguladas resulta das várias forças de atração que
atuam entre as partículas “neutralizadas” que se agregam umas às outras. Outros agentes não
coagulantes, que funcionam como auxiliares de floculação, também podem ser adicionados ao
sistema, imediatamente após a etapa de coagulação. Estes agentes podem ser eletrólitos (ex.
aluminato de sódio), tensoativos (ex. amido, gelatina ou cola) ou polieletrólitos (polímeros de
cadeia longa com grande número de pontos ativos nos quais as partículas sólidas se fixam). O
tempo para a floculação é bem superior ao da coagulação. Uma série de fatores irão
determinar o tempo necessário para se atingir o tamanho do floco desejado.
Na realidade, a floculação se inicia no mesmo tanque da coagulação (mistura rápida),
desenvolvendo-se nos tanques floculadores, e prosseguindo durante o processo de decantação.
A determinação do melhor tipo de coagulante a ser utilizado, bem como sua
concentração ótima em função das características de sedimentabilidade dos flocos formados
podem ser avaliados em laboratório fazendo-se os testes de jarro.

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FATORES QUE INFLUENCIAM NA COAGULAÇÃO


 Efeitos do pH
A faixa de pH em que o processo de coagulação ocorre pode ser considerado um dos
fatores mais importantes. A vasta maioria dos problemas de coagulação são relacionados com
níveis impróprios de pH. Cada um dos sais coagulantes inorgânicos possuem sua faixa própria
de pH ideal. Em muitas plantas é necessária a correção do nível de pH durante o processo de
coagulação. Faixa ótima de pH é de 7 a 10.
 Natureza da Turbidez
Geralmente, níveis altos de turbidez exigem doses altas de coagulantes, entretanto
raramente a relação é linear. Normalmente a quantidade de coagulante a ser adicionada é
relativamente pequena quando a turbidez é muito maior que a normal, devido a alta
probabilidade de colisão dos colóides deste caso. A turbidez baixa muitas vezes dificulta a
coagulação devido a dificuldade em induzir a colisão entre as partículas. Neste caso a
formação de flocos é pobre e a maior parte das partículas é carregada para os filtros.
 Temperatura da Água
Água com temperaturas baixas podem causar dificuldades no processo de coagulação.
Com a temperatura próxima ao ponto de congelamento, há uma redução significativa na
velocidade das reações químicas, por isso fica mais difícil a dispersão do agente coagulante na
água. Com isso o processo de coagulação se torna menos eficiente, e além disso a
sedimentação dos flocos torna-se mais pobre devido a alta densidade da água.
 Efeitos da Agitação
Agitação insuficiente e inadequada causa uma dispersão desigual do coagulante.
Como resultado, é necessário o uso de doses maiores de coagulante. Os efeitos de baixa
turbidez e temperaturas baixas podem ser agravados com uma agitação inadequada. Já na
floculação a agitação necessitar ser lenta para não desagregar s flocos.
 Efeitos da Dosagem do Coagulante
A dosagem dos produtos coagulantes é um fator crítico e normalmente utiliza-se
bombas dosadoras. Em grandes instalações um medidor de vazão monitora a entrada e envia
informações para o dosador.

5.3. Decantação
A separação de uma suspensão de partículas sólidas, ou flocos, diluída em um meio
líquido, pela força da gravidade, denomina-se sedimentação ou decantação. A etapa de
decantação é utilizada quando tem-se uma alta concentração de sólidos, com o intuito de
diminuir a quantidade de sólidos na etapa posterior de filtração.
Os principais fatores que controlam a velocidade de sedimentação são as densidades
dos sólidos e do líquido, a forma e o diâmetro das partículas, e a viscosidade do meio, que é
alterada pela temperatura.
A sedimentação pode ser classificada como:
 Quanto ao processo
- sedimentação em batelada ou descontínua
- sedimentação contínua

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 Quanto a finalidade
- clarificadores: quando a fase que interessa é o líquido
- espessadores: quando a fase que interessa é a lama
 Quanto a concentração da suspensão
- sedimentação livre: para baixas concentrações de sólidos
- sedimentação retardada ou obstada: para altas concentrações de sólidos
 Quanto ao uso do coadjuvantes
- sedimentação natural: quando não se faz uso de substâncias floculantes
- sedimentação forçada: quando se faz uso de substâncias floculantes para aumentar a
velocidade de sedimentação
O projeto de decantadores e espessadores é feito com base em testes de decantação em
provetas, onde obtêm-se as velocidades de sedimentação e espessamento do lodo em função
das características dos flocos formados.
A sedimentação simples constitui-se um adequado processo de purificação quando as
águas são relativamente puras e contém quantidades apreciáveis de sólidos em suspensão. A
experiência tem mostrado que as águas contendo uma elevada concentração de matéria em
suspensão é mais facilmente clarificada por sedimentação, do que aquela contendo baixa
concentração de matérias em suspensão.
Com a sedimentação simples, podem ser obtidas reduções da ordem de :
- matérias em suspensão ....................... 60 a 70%
- turbidez ............................................... 40 a 80%
- bactérias .............................................. 40 a 80%
Após a coagulação:
- turbidez ............................................... max 5 mg/L (água decantada)
- bactéria ............................................... 80%

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LODO

HIDROCICLONE
LODO COM MICROAREIA
PARA HIDROCICLONE
POLIMERO
MICRO-
AREIA

AGUA
CLARIFICADA

COAGULANT
E

ÁGUA
BRUTA
DOSAGEM
COAGULAÇÃ MATURAÇÃ
O O
DECANTADOR
COM RASPADOR

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Apesar dos resultados obtidos, a simples sedimentação não produz uma água segura
para ser usada no suprimento público. Um tratamento subseqüente, geralmente a cloração,
pode ser suficiente para produzir uma água satisfatória.
Os tanques de sedimentação são destinados a remoção de turbidez natural ou
floculada, antes da filtração. O tratamento prévio em câmaras de mistura e floculação,
antecedendo a sedimentação, normalmente produz uma água de baixa turbidez (1 a 5 mg/L),
própria para sofrer a filtração rápida em areia.

Flotação
A separação de uma suspensão de partículas sólidas, ou flocos, diluída em um meio
líquido, pela introdução de finas bolhas de gás (normalmente ar) e levando-as a flotar,
denomina-se flotação. A flotação é utilizada como alternativa à decantação, aplicada
principalmente quando tem-se uma fração de sólidos em suspensão que possui densidade
menor que a do efluente (óleos e gorduras) ou é de difícil decantação, como é o caso de
partículas muito finas. Neste processo, as bolhas de gás se aderem às partículas formando uma
outra partícula de densidade aparente menor do que a do líquido, sendo levada para cima pela
força do empuxo. Na parte superior dos flotadores há sistemas de raspagem, removendo as
partículas flotadas do meio.
Existe três formas de operação destes sistemas:
 Injeção de ar em um líquido pressurizado, seguido de uma despressurização repentina
(flotação por ar dissolvido);
 Aeração por pressão atmosférica (flotação por ar);
 Saturação do líquido com ar a pressão atmosférica , seguido da aplicação de vácuo na
câmara de flotação (flotação a vácuo).
Em todos os casos agentes químicos podem ser adicionados para facilitar a flotação
aumentando o diâmetro das partículas em suspensão.

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5.4. Filtração
A filtração é um processo utilizado para remover partículas sólidas em suspensão que
não puderam ser removidas pela decantação. O processo envolve a retenção das partículas
sólidas pelo efeito de barreira, podendo ser de poros menores que o diâmetro das partículas,
no caso das membranas, ou maiores no caso de meios granulares.
Os processos que utilizam membranas geralmente são aqueles onde o diâmetro das
partículas a serem separadas são muito pequenos, podendo chegar ao nível molecular, ou são
utilizados nos casos em que deseja-se recuperar a fração sólida, ou até mesmo em casos onde
tem-se uma concentração de sólidos muito elevada inviabilizando o uso de meios granulares.
No caso do tratamento de águas naturais para fins de potabilização, os processos mais
utilizados são os filtros de areia. Este processo só é aplicado nos casos onde tem-se baixa
concentração de sólidos, afim de evitar grandes gastos com a manutenção dos mesmos.
Com a passagem da água através de um leito de areia verifica-se a remoção de
materiais em suspensão e substâncias coloidais, redução de bactérias presentes e alteração das
características da água, inclusive químicas.

CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS FILTROS


 De acordo com o tipo de material filtrante: Areia, carvão, antracito, terra diatomácea,
brita, etc.
 De acordo com a disposição do material do meio filtrante no leito: Superposição das
camadas do meio filtrante
 De acordo com o sentido de escoamento da água: Ascendente, descendente ou nos dois
sentidos
 De acordo com a velocidade de filtração: Lentos, rápidos ou de taxas elevadas
 De acordo com a pressão existente: Por gravidade ou sob pressão

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Filtro lento (baixa taxa de filtração)


- camada de 0,9 a 1,5 m de espessura
- areia de ~0,35 mm de diâmetro
- lamina de água de 0,9 a 1,5 m
- usado sem necessidade de pré-tratamento
- remove a maioria dos sólidos exceto argila e colóides
- reduz 98 a 99% das bactérias
- taxa de aplicação: Q < 6 m3/m2 dia

Filtro rápido (alta taxa de filtração)


- camada de 0,46 a 0,76 m de espessura
- areia de ~0,55 mm de diâmetro
- podem ser operados abertos para a atmosfera (gravitacional) ou em tanques fechados
(pressurizados)
- se usado após coagulação e floculação, apresenta eficiência de remoção de partículas e de
bactérias igual ou superior ao de baixa filtração
- taxa de aplicação: Q = 120 a 360 m3/m2 dia (camada simples)
Q = 240 a 480 m3/m2 dia (camada dupla)

A Figura abaixo apresenta um desenho esquemático de um filtro de areia e sua


operação.

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MECANISMOS DE FILTRAÇÃO
O mecanismo de remoção de sólidos em suspensão por filtração é bastante complexo.
Vai depender das características físicas e químicas da suspensão e do meio, da taxa de
filtração e das características químicas da água
- sólidos maiores são removidos por forças intersticiais
- sólidos menores são removidos por dois mecanismos: transporte (sedimentação, difusão,
intercessão e hidrodinâmica) e por fixação (interações eletrostáticas, ligações químicas e
adsorção)

MÉTODOS DE CONTROLE DE VAZÃO


 filtração à pressão constante
 filtração à vazão constante
 filtração à queda variável de vazão

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5.5. Desinfecção
A desinfecção é a eliminação de microrganismos patogênicos por meios físicos ou
químicos prevenindo-se assim das doenças de origem hídrica. É um dos processos mais
importantes para o tratamento de água, como meio de controle sanitário. A priori, julga-se que
todas as águas de abastecimento, independente de sua origem ou tratamento, sejam
desinfetadas. Tal fato se faz necessário, pois sabe-se que a água está permanentemente sujeita
a contaminação durante a sua distribuição.
A desinfecção, que se ocupa quase que totalmente com a destruição de organismos
unicelulares, como bactérias, protozoários e vírus, trata principalmente da eliminação das
bactérias, normalmente pela ação do cloro.
Existem vários produtos desinfetantes, cada um com suas vantagens e desvantagens.
Porém o uso de cloro e seus derivados são os mais empregados, e cujas técnicas de aplicação
são largamente conhecidas.

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PROPRIEDADES DOS DESINFETANTES


 Devem destruir das classes de patogênicos o maior número possível de organismos e
garantir um período longo de resistência a mudanças de temperatura e a possíveis
contaminações após tratamento;
 Nas condições requeridas, não devem ser tóxicos ao homem ou a animais domésticos,
nem causar sabor desagradável a água ou torná-la indesejável por alguma razão;
 Devem ser um produto barato e abundante, além de ser seguro e fácil de armazenar,
transportar, manipular e aplicar;
 Sua concentração em água deve ser de fácil determinação;
 Devem persistir em água desinfetada na concentração suficiente para proporcionar uma
proteção

AGENTES OXIDANTES QUÍMICOS


 Halogênios: cloro, bromo, flúor e iodo (e seus derivados)
 Ozônio: muito pouco usado pelo alto custo
 Permanganato de potássio: custo elevado
 Peróxido de hidrogênio;
 Íons metálicos: prata
 Álcali e ácidos.

A desinfecção química dá-se pelo ataque do reagente à uma enzima (oxidação), vital
no metabolismo da célula, presente no interior do citoplasma da mesma, o que vai provocar a
sua destruição por perda das funções metabólicas e coagulação do material citoplasmático.

FATORES QUE GOVERNAM A DESINFECÇÃO QUÍMICA


 Natureza dos organismos que se quer destruir, bem como sua concentração;
 Natureza e concentração do reagente desinfetante e os produtos de reação;
 Natureza e condições da água a se desinfetar;
 Da temperatura da água;
 Do tempo de contato.
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Ordem de efetividade do desinfetante: O3 > HOCl > ClO2 > OCl- > NH2Cl
Ordem de resistência do microrganismo: Cysts > vírus > bactéria

CINÉTICA DA DESINFECÇÃO
A efetividade de um desinfetante é determinada por ensaios de laboratório, com o intuito de
obter curvas C x T. para cada microrganismo patogênico.
dN/dt = - kN  ln (N/N0) = -kt  k = Cn
N – concentração de microrganismos
t – tempo de contato
k – constante que depende do desinfetante
 – coeficiente de letabilidade específica
C – concentração do desinfetante
n – coeficiente de diluição (geralmente = 1)

ln (N/N0) = -kt  log (N/N0) = - k t


2,3

0
-1
-2
log (N/N0) -3
-4

tempo

N/N0 -log N / N0 % Morte


(fração remanescente) (redução logarítimica) (% de inativação)
0,1 1 90
0,01 2 99
0,001 3 99.9
0,0001 4 99.99

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Foi observado que: Cn t(% morte) = K(% morte)  C – conc. do desinfetante. Para cada
desinfetante e para cada microrganismo são construídas curvas de C x t, a uma dada
temperatura e pH, para atingir um % de inativação desejado. Se n = 1, Ct é constante.

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Valores de Ct para Inativação de Giárdia Cysts pelo Ozônio a pH 6-9


Inativação Temperatura
(log) 0.5 5 10 15 20 25
0,5 0,48 0,32 0,23 0,16 0,12 0,08
1 0,97 0,63 0,48 0,32 0,24 0,16
1,5 1,5 0,95 0,72 0,48 0,36 0,24
2 1,9 1,3 0,95 0,63 0,48 0,32
2,5 2,4 1,6 1,2 0,79 0,60 0,40
3 2,9 1,9 1,4 0,95 0,72 0,48

Valores de Ct99 para destruição de classes de microrganismos para vpários


desinfetantes
Agente desinfetante
Microrganismo -
HOCl OCl NH2Cl O3 ClO2 HOBr
E. coli 0,02 1,0 50 0,005 0,2 0,5
Polivirus 1 1,0 10 500 0,005 1,5 0,06
Entamoeba histolytica 20 8000 150 2 5 40

Nem todos os organismos microscópicos e formas superiores de vida na água podem


ser removidos por todos esses métodos, por exemplo, a Endamoeba histolytica não é
removida pela cloração comum. Alguns suprimentos públicos de água são desinfetados com
ozônio, porém o único desinfetante em uso geral nos suprimentos públicos de água é o cloro.
Não se dispondo de dados sobre a demanda de cloro da água a ser desinfetada,
recomenda-se iniciar a aplicação com a dosagem de 1 mg/L de cloro. Iniciada a desinfecção,
deverão ser coletadas amostras de água nos extremos da rede de distribuição, a fim de
conhecer o pH da água. De posse deste parâmetro e utilizando-se a Tabela, a seguir
determina-se qual a concentração recomendada de cloro residual livre ou combinado a ser
obtido na água após o tempo de contato indicado.

Cloro livre em mg/L Cloro combinado em mg/L


pH
após 10 minutos Após 60 minutos
6a7 0,2 1,0
7a8 0,2 1,5
8a9 0,4 1,8
9 a 10 0,8 1,8 a 2,0

Caso a residual obtido seja diferente, deverá ser aumentada ou diminuída a dosagem
aplicada. Os exames bacteriológicos subseqüentes indicarão os efeitos da desinfecção
processada. O residual máximo permitido por lei está limitado na consideração sobre o odor
“levemente perceptível” de cloro.

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5.6. Fluoretação
A fluoretação é realizada para introduzir na água o flúor que age como agente de combate à
cárie. A adição é feita através de sais de flúor na forma sólida ou em solução.
Os compostos mais utilizados são: fluorsilicato de sódio, fluoreto de sódio, fluorita e o ácido
fluorsilícico.

LIMITES RECOMENDADOS PARA A CONCENTRAÇÃO DE ION FLUORETO


SEGUNDO AS NORMAS DE ÁGUA POTÁVEL DO SERIÇO DE SAÚDE PÚBLICA
DOS ESTADOS UNIDOS

Limites recomendados para a concentração


Média anual das temperaturas do íon fluoreto (mg/l)
máximas diárias do ar (oC)
Inferior Ótimo Superior
10,0 a 12,1 0,9 1,2 1,7
12,2 a 14,6 0,8 1,1 1,5
14,7 a 17,7 0,8 1,0 1,3
17,8 a 21,4 0,7 0,9 1,2
21,5 a 26,3 0,7 0,8 1,0
26,4 a 32,5 0,6 0,7 0,8

5.7. Ajuste final


Após a água ter sido tratada até os níveis desejados de depuração, deve-se fazer uma
correção do pH, caso este se encontre fora dos níveis permitidos, a fim de não provocar danos
ás tubulações e equipamentos. Esta necessidade irá depender de quais foram os processos e
condições utilizadas anteriormente.

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5.8. Outros Processos Físico-Químicos


5.8.1. Adsorção
A adsorção aplica-se à transferência física de um soluto, num gás ou num líquido, para
uma superfície sólida, onde ele fica retido em conseqüência de interações microscópicas com
as partículas constitutivas do sólido. O soluto não se dissolve no sólido, mas permanece na
superfície do sólido ou nos poros do sólido. O processo de adsorção é muitas vezes reversível,
de modo que a modificação da pressão, ou de temperatura pode provocar a fácil remoção do
soluto adsorvido no sólido. No equilíbrio, o soluto adsorvido tem uma pressão parcial igual à
existente na fase fluida em contato, e pela simples modificação da temperatura, ou da pressão
de operação, o soluto pode ser removido do sólido.
A adsorsão é um fenômeno físico que depende, em boa medida, da área superficial e
do volume dos poros. A estrutura dos poros limita as dimensões das moléculas que podem ser
adsorvidas, e a área superficial limita a quantidade de material que pode ser adsorvido.
É importante a escolha dos adsorventes. Os sólidos devem ter características de
pequena queda de pressão e boa resistência mecânica para suportar o manuseio. Além disso os
adsorventes são seletivos quanto à capacidade de adsoverem solutos específicos. Por isso, a
natureza do sólido deve ser cuidadosamente ponderada para que se tenha a segurança de um
desempenho satisfatório. Os adsorventes comerciais incluem a bentonita, a bauxita, a alumina,
o carvão de ossos, a terra fuller, o carvão ativo e a sílica gel.
Os principais equipamentos utilizados na adsorção são colunas empacotadas, onde
percola-se o efluente a ser tratado. Assim que as características do efluente atingirem uma
concentração final superior à aquela estipulada, para-se o processo para proceder-se a
regeneração da mesma. A Figura abaixo apresenta um esquema da operação destas colunas.

Os dados de equilíbrio são usualmente apresentados na forma de isotermas de


adsorção. Estes dados são necessários antes de se poder aplicar a equação de projeto. Além
disso, o conhecimento dos coeficientes de transferência de adsorção é uma condição
necessária. O fenômeno da adsorção ocorre porque na direção normal à superfície, o campo
dos elementos da rede não está balanceado, assim as moléculas adsorvidas sobre uma
superfície são mantidas por forças que provém desta superfície (ex. Forças de van der Waals).
Os principais fatores que influenciam a adsorção são: área superficial; natureza do
adsorbato; pH; temperatura; natureza do adsorvente; presença de outros componentes.

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5.8.2. Troca Iônica


A troca iônica é um processo no qual íons ligados por forças eletrostáticas para
carregar grupos funcionais na superfície de um suporte sólido são trocados por íons de carga
similar em uma solução onde estes sólidos estão imersos.

Geralmente estes materiais utilizados para este processo são resinas sintéticas, porém,
é de conhecimento que muitos materiais naturais promovem um efeito de troca iônica, tais
como o solo, celulose, algodão, carvão ativo, etc.
As resinas são um emaranhado de radicais de hidrocarbonetos nos quais estão ligados
os grupos funcionais iônicos solúveis. Estes emaranhados formam os poros deste material. A
natureza destes grupos funcionais irá determinar a capacidade de remoção de determinados
íons, podendo estes serem catiônicos ou aniônicos. A Figura abaixo apresenta um desenho
esquemático destas resinas.
Uma vez trocado os íons, as resinas podem ser regeneradas utilizando soluções iônicas
fortes (que tem maior afinidade pelos grupos funcionais do que os íons trocados). As
principais reações de troca estão representadas abaixo:
1. Trocadores de cátions fortemente acídicos:
Forma com hidrogênio Forma com sódio
(regenera com HCl ou H2SO4) (regenera com NaCl)
2R-SO3H + Ca  (R-SO3)2Ca + 2H
2+ +
22R-SO3Na + Ca2+  (R-SO3)2Ca +
2Na+

2. Trocadores de cátions fracamente acídicos:


Forma com hidrogênio Forma com sódio
(regenera com HCl ou H2SO4) (regenera com NaCl)
2R-COOH + Ca2+  (R-COO)2Ca + 2H+ 2R-COONa + Ca2+  (R-COO)2Ca +
2Na+
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3. Trocadores de anions fortemente básicos:


Forma com hidróxido Forma com colrêto
(regenera com NaOH) (regenera com NaCl)
2R-R’3NOH + SO42-  (R-R’3N)2SO4 + 2R-R’3NCl + SO42-  (R-R’3N)2SO4 +
2OH- 2Cl-

4. Trocadores de anions fracamente básicos:


Forma com hidróxido Forma com clorêto
(regenera com NaOH) (regenera com NaCl)
2R-NH3OH + SO4  (R-NH3)2SO4 + 2R-NH3Cl + SO42-  (R-NH3)2SO4 +
2-

2OH- 2Cl-

Os tipos de equipamentos e a forma de operação são muito similares às aquelas das


colunas de adsorção apresentadas anteriormente. Neste caso, opera-se uma coluna de troca
catiônica seguida de uma coluna de troca aniônica em série.

Mediante o uso de trocadores iônicos convenientes, isoladamente ou em seqüência, é


possível fazer o tratamento da água de forma a torná-la apropriada a qualquer aplicação, desde
simples operações de lavagem, que requerem apenas a água livre de dureza, até utilizações
químicas e eletrônicas críticas, que exigem água com uma resistividde maior que 10
megahoms por centímetro. Quando a água inicial é turva, ou contém cloro livre ou matéria
orgânica, é necessário um pré-tratamento por outros métodos.

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5.8.3. Separação por membranas (osmose reversa, ultrafiltração e nanofiltração).

Os processos de separação com membranas, como o próprio nome sugere, são


processos onde uma corrente de fluido passa através de uma membrana que, dependendo do
diâmetro e das características do material da mesma, irá separar os componentes indesejáveis.
As diferenças dos vários processos são basicamente o tamanho de poro destas membranas e a
força motriz empregada. A Tabela abaixo mostra a aplicabilidade dos vários processos de
separação em função do diâmetro das partículas.

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No caso da osmose inversa, aplica-se uma força superior à pressão osmótica da


solução, em sentido reverso. A Figura abaixo apresenta um esquema da osmose direta e a
reversa.

Já os processos de ultrafiltração e nanofiltração, são aqueles onde as pressões


osmóticas são negligíveis devido ao tamanho dos poros envolvidos nas membranas,
ocorrendo apenas um processo de retenção das partículas por tamanho de poro. Existem
vários tipos de equipamentos utilizados, porém aqueles que são mais comuns são do tipo
cartucho, conforme a Figura abaixo.

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5.8.4. Eletrodiálise
A eletrodiálise também é um processo de separação com membranas em que a solução
é submetida a um potencial elétrico por dois eletrodos, ocasionando uma corrente elétrica de
cátions para o eletrodo negativo e de ânions para o eletrodo positivo. No interior da célula de
eletrodiálise, há membranas seletivas de um só tipo de íons , existindo membranas permeáveis
a somente cátions, e permeáveis a ânios somente. A eficiência de remoção dos sais
dissolvidos aumenta com o número de membranas instaladas e células em série. A Figura
abaixo apresenta um desenho esquemático do processo de eletrodiálise.

Para evitar problemas de obstrução das membranas, é necessário pré-tratamento,


devendo ser removidos sólidos em suspensão. A obstrução acarreta também redução da
corrente elétrica, aumentando a resistência e consequentemente menor eficiência do
equipamento.
Os eletrodialisadores, com resinas trocadoras catiônicas e aniônicas em forma
granulada, mostram-se úteis na descontaminação das águas de rejeito de resíduos radioativos
diluídos; as resinas removem os últimos traços dos íons radioativos.

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6- TRATAMENTO BIOLÓGICO DE RESÍDUOS


A utilização de microrganismos nos processos de tratamento de águas residuária é
realizada há mais de um século. Esta área vem se desenvolvendo de forma exponencial à
medida que a microbiologia vem desvendando os mistérios do comportamento dos
microrganismos na natureza. A biotecnologia aplicada ao tratamento de efluentes vem sendo
utilizada principalmente para remoção da matéria orgânica, no entanto, outros poluentes
também podem ser removidos pela ação direta ou indireta dos microrganismos. Incluem-se
entre os processos mais conhecidos a remoção de nitrogênio, fósforo, sulfato, além da
remoção de metais pesados pelos processos de biolixiviação e biosorção. Contaminantes
orgânicos tóxicos, antes considerados recalcitrantes ou até mesmo não biodegradáveis, vem
mostrando-se passíveis de serem transformados biologicamente, principalmente devido à
evolução e otimização dos processos de tratamento. Esta capacidade dos microrganismos em
metabolizar diferentes compostos vem no sentido de extrair dos mesmos fontes nutricionais e
energéticas necessárias para o crescimento e funções metabólicas dos mesmos.
O tratamento biológico de resíduos emprega a ação conjunta de espécies diferentes de
microrganismos, em biorreatores, que operados sob determinadas condições resulta na
estabilização dos mesmos. Em geral, os diferentes tipos microbianos nos processos biológicos
de tratamento atuam conjuntamente, formando uma verdadeira cadeia alimentar com
interações nutricionais facultativas e obrigatórias.

6.1- Microbiologia e Bioquímica


A grande maioria dos processos biológicos de tratamento estão associados ao
crescimento dos microrganismos envolvidos. Ou seja, a medida que o substrato (matéria
orgânica e nutrientes) vai sendo consumido (degradado), os microrganismos crescem
proporcionalmente em massa.
degradação do substrato = crescimento microbiano proporcional
No entanto, a biotransformação de alguns compostos não tem sido associada a nenhum
benefício para a célula, seja nutricional ou energético. Estas transformações ao acaso vem
sendo chamadas de “fortuitas”. Estes são casos muito particulares, os quais não serão objeto
deste curso.

NUTRIÇÃO E NUTRIENTES
A composição química do meio é de importância fundamental nestes processos
biológicos, sendo um fator determinante da predominância das populações de microrganismos
que irão participar do mesmo.
 Compostos doadores de elétrons (ou de hidrogênio): são compostos passíveis de
oxidação, perdendo elétrons em reações REDOX. Ex. matéria orgânica.
 Compostos receptores de elétrons (ou de hidrogênio): são compostos passíveis de
redução, recebendo os elétrons dos doadores, em reações REDOX. Ex. matéria orgânica,
O2, CO2, SO42- e NO3-.
 Fontes de energia: compostos que ao serem metabolizados geram energia. Ex. compostos
orgânicos, compostos inorgânicos e luz.
 Fontes de carbono: compostos que ao serem metabolizados são transformados em
material celular. Ex. compostos orgânicos e CO2.

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 Fontes de nitrogênio: NH3, NO3 e NO2


 Nutrientes minerais: compostos essenciais para o crescimento. Macronutrientes (P, S,
Na, K, Fe, Mg e Ca) e micronutrientes (Ni, Co, Zn, Bo, Mo, Se, etc).
 Fatores de crescimento: compostos essenciais para o crescimento que alguns
microrganismos não sintetizam. Ex. vitaminas, aminoácidos, etc.
A grande maioria das águas residuárias possui, além do seu conteúdo orgânico, uma
composição bastante diversificada, contendo a maioria dos compostos necessários para o
crescimento dos microrganismos em geral. No entanto, aqueles nutrientes que são necessários
em maiores quantidades deve-se estar atento para verificar se os mesmos estão em
quantidades suficientes. O nitrogênio e o fósforo são os de maior interesse. Portanto, é
necessário que se verifique as concentrações proporcionais destes nutrientes em função da
quantidade de matéria orgânica que deseja-se degradar.
Considerando que as moléculas de carbono devem combinar-se com as de nutrientes
para gerar as moléculas da composição celular, um bom ponto de partida para avaliar as
necessidades nutricionais é a análise elementar da composição celular.
 Fórmula química média de microrganismos
Bactéria aeróbia: C5H7O2N
Anaeróbia: C5H9O3N
Leveduras: C7H12O3N
Por tanto, é de se imaginar que uma relação C:N de 5:1, no caso de bactérias seria o
ideal para atender estas necessidades. No entanto, deve-se considerar alguns fatos nesta
análise: nem todo o carbono será utilizado para a composição celular, ficando uma parte do
mesmo sob a forma de subprodutos; nem todo o nitrogênio está sob a forma disponível para
os microrganismos; nem toda a matéria orgânica é biodegradável. Por isso, uma série de
relações C:N podem ser encontradas na literatura, indicando como sendo a ideal para
sustentar o crescimento dos microrganismos sem limitações nutricionais. Na realidade, estas
relações são obtidas na prática, referindo-se para aqueles casos em particular. Deve-se ter
cuidado na extrapolação destas quando estuda-se um caso específico.
 Relação carbono:nitrogênio (C:N) – 2:1 – 30:1
 Relação DQO:N:P:S – 500:7:1:1 - 1200:7:1:1
Outra questão muito importante é com relação do que venha a ser considerado uma
substância tóxica. Na realidade, qualquer substância pode ser tóxica ou nutritiva para um
microrganismo, dependendo da sua concentração no meio. Normalmente, considera-se tóxica
aquela substância que em baixas concentrações provoca um efeito inibitório ao
microrganismos, e contrariamente, uma substância nutritiva aquela que é necessária em altas
concentrações para promover um franco desenvolvimento do mesmo. Além disso, quando
duas ou mais substâncias estão em solução, elas podem ter um efeito sinérgico ou antagônico
com relação à toxicidade. As Figuras abaixo demonstram estes efeitos.

CINÉTICA DO CRESCIMENTO CELULAR


Quando na presença de um substrato o microrganismo apresenta um crescimento
populacional que pode ser dividido em 6 fases distintas, em função da disponibilidade do
mesmo. A Figura abaixo apresenta as curvas características do cultivo de células em batelada.

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P
P: produto
Conc.
X: células
S: substrato

Tempo
Log Conc. X

Tempo
I II III IV V VI

Fase lag: ajuste dos microrganismos ao meio (sistema enzimático);


I. Fase de aceleração: início da multiplicação e do aumento de células;
II. Fase exponencial (ou log): todas as células se dividem;
III. Fase de retardo: substrato começa a ficar escasso e nem todas as células se dividem;
IV. Fase estacionária: algumas células começam a morrer. A taxa de morte e crescimento
se igualam;
V. Fase de declínio: substrato está praticamente ausente. A taxa de morte se torna muito
superior à de crescimento;

Curvas características do crescimento de um microrganismos em processo de batelada

Traçando-se as tangentes aos pontos destas curvas obtemos:


 Velocidade de produção de células: VX 
dX
dt
dS
 Velocidade de consumo de substrtato: VS  
dt
dP
 Velocidade de formação de produtos: VP 
dt

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Dividindo-se pelo número de células e medindo-se esta velocidade no ponto de


inflexão da curva, teremos:

1 dX
 Velocidade específica máxima de produção de células:
 *
X dt

1  dS 
 Velocidade específica máxima de consumo de substrtato: S  *  
X  dt 

 Velocidade específica máxima de formação de produtos: 1 dP


P  *
X dt
Sendo as curvas de consumo de substrato e de formação de células, bem como a de
formação de produtos, proporcionais, é conveniente definir este coeficiente de
proporcionalidade como:

X
Fator de conversão de substrato em células YX 
S  S 
Pode-se também definir a grandeza YP/S=∆P/∆S, como sendo o fator de conversão de
substrato para produto.
Portanto, ∆X = - YX/S* ∆S
Para avaliar o comportamento cinético característico para cada microrganismo,
MONOD desenvolveu o seguinte modelo:

S
Com isto ele pode escrever   max *
Ks  S
Onde: µmax= valor máximo de µ
Ks=cte. de saturação= valor de S para µ=µmax/2

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ASPECTOS BIOQUÍMICOS DO METABOLISMO


Metabolismo são reações químicas que ocorrem na célula para produzir energia e para
síntese de compostos necessários à vida e ao crescimento. Estas reações são de oxi-redução
produtoras e consumidoras de energia, onde as substâncias doadoras de elétrons vão sendo
oxidadas e as receptoras reduzidas. A energia liberada em uma determinada reação é
armazenada na forma de ligações químicas, onde as mais importantes são as ligações fosfato
com a adenosina
AMP + P + energia  ADP
ADP + P + energia  ATP

Quando necessário, o microrganismos utiliza a energia armazenada na forma de ATP


para realizar reações que necessitam de energia, como as reações de síntese celular e para
outras funções primárias da célula, como transporte de íons para dentro e fora da célula e
mobilidade.
O metabolismo pode ser dividido basicamente em catabolismo e anabolismo:
Catabolismo são as reações metabólicas que ao final de uma seqüência irão gerar
energia para as várias funções dos microrganismos. Geralmente estas reações estão associadas
à degradação dos compostos orgânicos.
Anabolismo são as reações metabólicas que ao final de uma seqüência irão gerar um
produto para as várias funções dos microrganismos. Geralmente estas reações estão
associadas à síntese dos compostos orgânicos necessários ao crescimento. Nas reações de
síntese energia é requerida. As reações anabólicas só poderão ocorrer se energia suficiente foi
gerada nas reações catabólicas.
A Figura abaixo apresenta um fluxograma esquemático da energia gerada e utilizada
pelos microrganismos.

Esquematização da troca de energia entre reações catabólicas e anabólicas

Como exemplo re reações catabólicas apresenta-se na figura abaixo a seqüência de


reações realizadas no processo de transformação da glicose em um intermediário muito
importante para reações anabólicas posteriores. A este processo específico dá-se o nome de
glicólise.

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Glicólise

Observa-se que nesta transformação, 1 mol de glicose gera 2 moles de piruvato, com a
produção de moles de ATP e mais 2 moles de NADH2. As moléculas de NADH2 não provê
energia química diretamente para o anabolismo. Apenas o ATP pode fazê-lo. Portanto, há
uma transformação da energia contida no NADH2 para o ADP, transformando-os em ATP,
que é denominada de cadeia transportadora de elétrons, conforme a esquematização
apresentada abaixo.

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Observa-se que cada mol de NADH2 produz 3 moles de ATP. Portanto, a glicólise
produz uma energia total equivalente a 8 ATPs.
Conforme mencionado anteriormente, a composição química do meio é um fator
determinante na seleção da predominância das populações envolvidas nos processos de
tratamento dos resíduos. Também visto anteriormente, os microrganismos são classificados
segundo as formas de obtenção de matéria (carbono) e de energia. Devido ao grande número
de compostos passíveis de serem metabolizado pelos microrganismos e devido às suas
especificidades, normalmente, classifica-se os microrganismos em função do composto que é
capaz de metabolizar ou dos produtos metabólicos gerados. Uma das grandes divisões de
classes de microrganismos dá-se em função do tipo de aceptor final de elétrons utilizado pelo
mesmo nas reações de obtenção de energia, que por sua vez, denomina os processos de
tratamento.

 Processos aeróbios (respiração aeróbia): são aqueles que utilizam o oxigênio como
aceptor final de eletrons;
 Processos anaeróbios:
- Porcessos fermentativos: são aqueles que utilizam compostos orgânicos que
participam do processo, como aceptores finais de elétrons (aceptores internos).
- Processos anóxicos (respiração anaeróbia): são aqueles que utilizam outros
compostos, orgânicos ou inorgânicos, como aceptores finais de elétrons, que não o
oxigênio ou nenhum composto orgânico que participam do processo (aceptores
externos: CO32-, NO3-, Fe3+, SO42-).

PROCESSOS
ANAERÓBIOS

FERMENTAÇÃO
Hidrólise

Aceptores finais internos de elétrons

Glicose Piruvato Produtos de fermentação


(lactato, álcoois, ácidos, etc.)

8 ATPs 6 ATPs
PROCESSOS
AERÓBIOS
RESPIRAÇÃO ANAERÓBIA
30 ATPs
Ciclo CO32-, NO3- CH4
de Crebes N2
Fe2+
Fe3+, SO42- S2-

CO2 O2 Aceptores finais


externos de elétrons

RESPIRAÇÃO AERÓBIA

Como pode ser observado, nos processos aeróbios são gerados 38 ATPs por cada mol
de glicose degradado, enquanto que no anaeróbios esta geração de energia é muito inferior,
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podendo gerar até mesmo menos de 1 ATP por mol de glicose. Além disso, nem toda a
energia contida em 1 mol de glicose é armazenada na forma de ATP, ficando grande parte da
mesma dissipada no ambiente.
Respiração aeróbia: 38 ATPs/mol x 7 kcal/mol ATP = 266 kcal
Glicose 6 CO2 + 6 H2O (H = 688 kcal/mol)  266/688 = 39 %
Fermentação: 2 ATPs/mol x 7 kcal/mol ATP = 14 kcal
Glicose Etanol (H = 57 kcal/mol)  14/57 = 25 %
Este fato demonstra a capacidade de microrganismos aeróbios de extrair uma maior
quantidade de energia de um substrato comparativamente com os anaeróbios. Este fato tem
uma implicação direta na partição da quantidade de substrato que vai para geração de energia
e a que vai para a síntese de novas células. Processos aeróbios geram de 5 a 20 vezes mais
material celular a partir de uma quantidade determinada de substrato do que os processos
anaeróbios.
Esta diferença em termos energéticos está relacionada à termodinâmica das reações
envolvidas. A Figura abaixo apresenta um gráfico das relações entre doadores de elétrons
(substratos) e de aceptores de elétrons com a energia gerada pelas reações metabólicas.

Doadores de elétrons Aceptores de elétrons

Formiato
CO2 SO42- NO3- O2 NO2-
Glicose

Glicerol

Metanol
Piruvato
Glicina

Lactato
Etanol
Succinato
Benzoato
Acetato
0 -5 -10 -15 -20 -25 -
Metano 30 -35

Esta maior capacidade de extração de energia do substrato dos processos aeróbios


implica em um desenvolvimento mais acelerado de uma população de microrganismos,
porém, não implica em que sejam maiores a velocidade específica de conversão de substrato
em produto. Na realidade, em geral, os microrganismos anaeróbios degradam um substrato 2
vezes mais rápido do que os aeróbios.
É importante lembrar que os argumentos termodinâmicos não podem ser usados em
todos os casos para prever ou explicar determinadas ocorrências nestes sistemas. Os fatores
ambientais são de fundamental importância.
Nas Tabelas a seguir estão apresentados alguns parâmetros cinéticos típicos dos
processos anaeróbio e aeróbio, onde podemos observar numericamente os comentários feitos
acima.
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Sumário de valores de constantes cinéticas para vários substratos utilizados em processos


anaeróbios mesofílicos

Substrato Processo k KS µmax YX/S b


-1
(gDQO/gSSVd) (mgDQO/L) (d ) (gSSV/gDQO) (d-1)

Carbohidratos Acidogênese 1,33 – 70,6 22,5 – 630 7,2 – 30 0,14 – 0,17 6,1
Ácidos de Oxidação
cadeia longa anaeróbia 0,77 – 6,67 105 – 3180 0,085 – 0,55 0,04 -0,11 0,01 – 0,015
Ácidos de Oxidação
cadeia curta anaeróbia 6,2 – 17,1 12 – 500 0,13 – 1,20 0,025 – 0,047 0,01 – 0,027
Acetato Metanogênese
acetoclástica 2,6 – 11,6 11 – 421 0,08 – 0,7 0,01 – 0,054 0,004 – 0,037

H2 e CO2 Metanogênese 1,92 - 90 4,8x10-5 – 0,6 0,05 – 4,07 0,017 – 0,045 0,088

Sumário de valores de constantes cinéticas para vários substratos utilizados em processos


aeróbios mesofílicos
Valores
coeficiente unidade faixa típico
k d-1 2 - 10 5
KS mgDBO/L 25 - 100 60
mgDQO/L 15 - 70 40
YX/S gSSV/gDQO 0,4 – 0,8 0,6

b d-1 0,025 – 0,075 0,06

Nestas Tabelas é importante verificar as diferenças entre os fatores de conversão de


substrato em células (Y), que mesmo não sendo nas mesmas unidades podem dar uma idéia
da ordem de grandeza. Os microrganismos aeróbios aproveitam em torno de 60 % da matéria
orgânica para produzir novas células, enquanto que os anaeróbios acidogênicos aproveitam
em média 15 % e os metanogênicos 3 %.
No entanto, em termos de velocidade de conversão de substrato em produtos os
microrganismos anaeróbios acidogênicos são em média 7 vezes mais rápidos do que os
aeróbios, e os metanogênicos acetoclásticos, limitantes do processo anaeróbio, tem uma
velocidade média ligeiramente superior à dos aeróbios (1,4 vezes).
Em termos de velocidade de decaimento (b ou Kd), os metanogênicos acetoclásticos
decaem numa velocidade aproximadamente 3 vezes menor. Este fator implica em que um
lodo anaeróbio pode ser conservado sem alimentação por períodos mais longos do que os
aeróbios. Isto tem importância fundamental na retomada de processos após um período de
parada para manutenção, ou em casos de processos sazonais.

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Cinética de crescimento Cinética de consumo de substrato

Substrate Removal Velocity


10
Growth Velocity (d-1)

4 8

(mg COD gS V-1d-1)


3 6
2 4
1 2
0 0
0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500
Substrate (mg COD/L) Substrate (mg COD/L)

Lodos Ativados Metanogênicas Acetoclásticas

INTERAÇÕES MICROBIANAS NOS PROCESSOS DE TRATAMENTO BIOLÓGICO


(Texto adaptado de VAZOLLER, 1999)
 Sistemas Aeróbios
O sistema biológico mais comumente utilizado como exemplo dos processos aeróbios
é o conhecido por Lodos Ativados. No entanto, sua descrição microbiana é bastante
semelhante para outros sistemas, como Filtro Biológico, Lagoas Aeradas, Valos de Oxidação
e Biodiscos. Por serem sistemas microbianos semelhantes, estes serão abordados em conjunto.

 Lodos ativados
No processo de Lodos Ativados participam uma série de microrganismos. Dentre os
principais tipos encontram-se: bactérias heterótrofas e quimioautrótofas (destacando-se as
filamentosas), protozoários e micrometazoários.
Nestes sistemas as bactérias são os consumidores primários, ou seja, são responsáveis
pela degradação da matéria orgânica. Os protozoários utilizam as bactérias como base
nutricional, que por sua vez irão constituir a base nutricional dos micrometazoários.
A principal característica deste processo e a formação de aglomerados de
microrganismos (flocos) que é importante para separação do lodo formado. A quantidade de
bactéria filamentosas tem um papel fundamental na floculação do lodo.
A floculação bacteriana é conseqüência direta da operação do bioreator, que promove
condições de estresse nutricional, conduzindo a menor atividade de parte das células no
sistema, ou induzindo o metabolismo endógeno celular. A baixa atividade das bactérias
favorece a floculação no bioreator, bem como a auto-oxidação das células, o que em certo
grau auxilia na diminuição da massa celular.

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As bactérias responsáveis pelo processo biológico e presentes no floco pertencem a


diferente gêneros, e em sua grande maioria são heterótrofas. O quadro abaixo apresenta
alguns exemplos de gêneros microbianos presentes em Lodos Ativados.

Tipos de microrganismos encontrados no processo de lodos ativados


Tipo de microrganismo Exemplos
Bactérias
Heterótrofas Pseudomonas sp, Zooglea ramigera, Achromobacter sp,
Flavobacterium sp, Bdellovíbrio sp, Mycobacterium,
Alcaligenes sp e Citromonas sp.
Filamentosas Sphaerotillus natans, Beggiatoa sp, Thiothrix, Leucothrix
sp, Microthrix parvicella, Nocardia sp, Nostocoida
limicola, Haliscomenobacter hydrosis, Flexibacter sp.
Nitrificantes Nitrosomonas sp E Nitrobacter sp.
Protozoa
Classe Sarcodina Amebas – Arcella discoides e Amoeba sp.
Classe Ciliata Ciliados livres-nadantes e sésseis – Aspidisca costata,
Trachelophyllum sp, Paramecium sp, Didinium sp e
Chilodenella sp.
Classe Mastigophora Flagelados – Spiromonas sp, Bodo sp, Euglena sp, Monas
sp e Cercobodo sp.

Algumas espécies de bactérias filamentosas são também heterótrofas, removendo a


matéria orgânica do meio, e outras são capazes de oxidar compostos reduzidos de enxofre,
com formação intracelular de grânulos de enxofre elementar, como é o caso dos gêneros
Thiothrix e Beggiatoa sp. Estas bactéria podem ser encontradas na estrutura dos flocos ou
livres, e são em geral os microrganismos responsáveis pela ocorrência de um dos graves
problemas no tanque de aeração, o intumecimento do lodo. O crescimento em abundância de
filamentosas, como efeito de algum desequilíbrio operacional do sistema, forma uma
macroestrutura semelhante a uma rede, que interfere na sedimentação e compactação do floco
bacteriano, além da competição com as demais espécies bacterianas pelo substrato orgânico.
A existência de outros metabolismos também pode ser exemplificada pelas espécies
quimioautótrofas Nitrosomonas sp e Nitrobacter sp, responsáveis pela nitrificação da amônia.

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A microfauna existente é um bom indicador do estágio de depuração do processo, uma


vez que sua natureza varia com a concentração de matéria orgânica, com a concentração de
O2 e com a concentração das várias espécies de microrganismoa presentes no sistema. A
Figura abaixo apresenta um gráfico representativo das variações de predominancia dos vários
microrganismoas presentes em um processo de Lodos Ativados, em função do grau de
depuração do efluente.

No início do processo pode-se observar a presença de amebas e flagelados,


posteriormente substituídos por protozoários holozóicos, como por exemplo os ciliados livre-
nadantes. O climax do sistema atinge quando se observa a presença de siliados sésseis e
micrometazoários, como os rotíferos e nematóides.
Pode-se controlar qualitativamente o processo de lodos ativados em função da
predominância das populações de microrganismos existentes. Algumas características do
processo relacionadas com a predominância das populações está apresentada na Tabela
abaixo:
Outro parâmetro de controle realizado com a análise microscópica é com relação às
características de sedimentabilidade do lodo em função do número de filamentos existentes e
do diâmetro do floco.

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 Sistemas Anaeróbios
Nos processos anaeróbios ou, nos sistemas de biodigestão anaeróbia, a degradação da
matéria orgânica envolve a atuação de microrganismos procarióticos anaeróbios facultativos e
obrigatórios, cujas espécies pertencem ao grupo de bactérias hidrolíticas-fermentativas,
acetogênicas produtoras de hidrogênio e metanogênicas. A bioconversão da matéria orgânica
poluente com produção de metano requer a cooperação entre culturas bacterianas como
ilustrado no esquema da Figura abaixo. Na atividade microbiana anaeróbia em biodigestores,
como também em habitat naturais com formação de metano (sedimentos aquáticos, sistema
gastrintestinal de animais superiores, pântanos, etc.), o que se observa é a ocorrência da
oxidação de compostos complexos, resultando nos precursores do metano, acetato e
hidrogênio.

Microbiologia e Bioquímica da Digestão Anaeróbia

POLÍMEROS
(proteinas, lipídos, polisacarídeos)

I - Hidrólise e
MONOMEROS Y OLIGOMEROS fermentação

1 1
4 ÁC. GRAXOS 4
ALCOOiS
LACTATO, etc.
II – Acetogênese y
desidrogenacão
HH22++CO
CO2 2 5
Formiato,
FORMIATO etc. ACETATO

6 III – Metanogênese
2 3

CH4 + CO2

A natureza da gênese do metano em etapas, a partir de compostos orgânicos


complexos, mostra a importância das interações microbianas que buscam evitar o acúmulo de
ácidos orgânicos e álcoois no meio em fermentação. São vários os tipos de bactérias que
participam no processo, e alguns exemplos são mostrados no Quadro seguinte.

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Etapas da biodigestão anaeróbia Espécies bacterianas


Clostrídios, Acetivibrio cellulolyticus, Bacteroides
succinogenes, Butyrivibrio fibrisolvens,
Hidrólise e acidogênese Eubacterium cellulosolvens, Bacillus sp,
Selenomonas sp, Megasphaera sp, Lachnospira
multiparus, Peptococcus anaerobicus,
Bifidobacterium sp, Staphylococcus sp
Syntrophomonas wolinii, S. wolfei, Syntrophus
buswellii, Clostridium bryantii, Acetobacterium
Acetogênese
woddii, Desulfovibrio sp, Desulfotomaculum sp
(bactérias redutoras do íon sulfato)
Metanogênese acetoclástica Methanosarcina sp e Methanothrix sp
Methanobacterium sp, Methanobrevibacter sp,
Metanogênese hidrogenotrófica
Methanospirillum sp

Os organismos da biodigestão anaeróbia apresentam um elevado grau de


especialização metabólica. A eficiência do processo anaeróbio depende, portanto, das
interações positivas entre as diversas espécies bacterianas, com diferentes capacidades
degradativas. Os intermediários metabólicos de um grupo de bactérias podem servir como
nutrientes ao crescimento de outras espécies. Assim, observa-se a ocorrência de várias reações
de degradação dos compostos orgânicos e a dependência das mesmas da presença do
hidrogênio formado no sistema. A Tabela a seguir apresenta a estequiometria de algumas
reações da biodigestão anaeróbia, e as variações de energia livre destas reações, sob condições
padrão de ocorrência e dentro dos biodigestores.
Os organismos da biodigestão anaeróbia apresentam um elevado grau de
especialização metabólica. A eficiência do processo anaeróbio depende, portanto, das
interações positivas entre as diversas espécies bacterianas, com diferentes capacidades
degradativas. Os intermediários metabólicos de um grupo de bactérias podem servir como
nutrientes ao crescimento de outras espécies. Assim, observa-se a ocorrência de várias reações
de degradação dos compostos orgânicos e a dependência das mesmas da presença do
hidrogênio formado no sistema. A Tabela 5 apresenta a estequiometria de algumas reações da
biodigestão anaeróbia, e as variações de energia livre destas reações, sob condições padrão de
ocorrência e dentro dos biodigestores.
A remoção do hidrogênio nos sistemas anaeróbios é feita pela ação de bactérias
anaeróbias hidrogenotróficas, representadas por espécies de metanobactérias e de redutoras do
íon sulfato. A cooperação entre as bactérias produtoras e consumidoras de hidrogênio, sob
condições anaeróbias, é denominada "transferência de hidrogênio entre espécies".

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G0’ G’
Reações
(kcal/reação) (kcal/reação)
1. Conversão da glicose em metano e dióxido de
carbono -96,5 -95,3
C6H12O6 + 3H2O  3CH4 + 3HCO3 + 3H - +

2. Conversão da glicose em acetato e hidrogênio


C6H12O6 + 4 H2O  2CH3COO- + 2 HCO3- + 4H+ + -49,3 -76,1
4H2
3. Metanogênese do acetato
-7,4 -5,9
CH3COO- + H2O  CH4 + HCO3-
4. Metanogênese do hidrogênio e dióxido de carbono
-32,4 -7,6
4H2+ HCO3- + H+  CH4 + 3H2O
5. Acetogênese do hidrogênio e dióxido de carbono
-25,0 -1,7
4H2 + 2HCO3- + H+  CH3COO- + 4H2O
6. Oxidação de aminoácido
+1,0 -14,2
Leucina + 3H2O  isovalerato + HCO3- + NH4+ + 2H2
7. Oxidação do butirato a acetato
+11,5 -4,2
CH3CH2CH2COO- + 2H2O  2CH3COO- + H+ + 2H2
8. Oxidação do propionato a acetato
CH3 CH2COO- + 3H2O -  CH3COO- + HCO3- + H++ +18,2 -1,3
3H2
9. Oxidação do benzoato a acetato
+21,4 -3,8
C7 H5 O2- + 7H2O  3CH3COO- + HCO3- + 3H+ + 3H2
10. Desalogenação redutiva
-39,1 -29,0
H2 + CH3 Cl  CH4 + H++ Cl-
* Os cálculos de AG' foram realizados sob as condições "típicas" em um biodigestor
anaeróbio, 37C e pH 7,0. A concentração de produtos e reagentes foram as seguintes: 10
(molares para glicose, leucina, benzoato e cloreto de metila; 1 mmol/L para acetato, butirato,
propionato e isovalerato; 20 mmoles/L para o íon bicarbonato e íon cloreto; 0,6 atm para o
metano;10-4 para o hidrogênio.
Os dados das variações de energia livre das reações mostrados nesta Tabela, e
associados à oxidação anaeróbia da glicose, ácidos orgânicos, aminoácidos e benzoato pelas
bactérias fermentativas e acetogênicas produtoras de hidrogênio, indicam a necessidade de
baixas pressões parciais de hidrogênio no sistema. A metanogênese hidrogenotrófica e
acetoclástica ocorre sob pressões parciais de hidrogênio da ordem de 10-4 atm. Portanto, este é
o teor de hidrogênio que permite a ocorrência da maioria das reações para a metanogênese
completa dos resíduos.
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O elevado desempenho dos biodigestores anaeróbios modernos, denominados não-


convencionais, é conseqüência da organização eficiente dos microrganismos anaeróbios e
sua retenção no reator. Os microrganismos fisicamente organizados em aglomerados
bacterianos, grânulos biológicos, ou em biofilmes, ficam facilmente retidos dentro do
sistema. A presença de um material que suporte a adesão dos microrganismos não é
obrigatória em alguns reatores, como no caso do lodo granulado dos reatores de fluxo
ascendente e manta de lodo

INFLUÊNCIA DE FATORES AMBIENTAIS NA ATIVIDADE DOS


MICRORGANISMOS
Como comentado no primeiro capítulo, a predominância e a atividade dos
microrganismos está diretamente relacionada aos fatores ambientais. Certamente, a
composição química do meio é de extrema importância nestes processos, merecendo um
aprofundamento específico. Porém, esta é uma matéria extensa que traria uma dispersão do
enfoque principal. No anexo 3 encontra-se uma apostila sobre a questão do equilíbrio químico
voltado ao tratamento biológico de resíduos. Aqui veremos com um pouco mais de detalhes a
interferência de alguns fatores como o pH, os nutrientes, a toxicidade de alguns íons e a
temperatura.
 pH:
O pH altera as cargas dos sítios ativos das enzimas modificando suas estruturas e,
consequentemente perdendo suas especificidades. Existem microrganismos que possuem uma
faixa mais ampla de sobrevivência do que outros. A grande maioria dos microrganismos tem a
atividade ótima em valores de pH em torno da neutralidade. Nestes sistemas onde existem
uma série de microrganismos atuando na forma de consórcios, deve-se buscar a faixa de pH
onde propicia-se o crescimento máximo da maior parte dos microrganismos envolvidos, ou
daqueles mais exigentes (faixas mais estreitas), ou mesmo daqueles que crescem numa
velocidade menor, para que não haja um desequilíbrio do sistema. Este é o caso típico dos
microrganismos metanogênicos na digestão anaeróbia. São a eles que deve-se procurar
otimizar o crescimento. A Figura abaixo apresenta um gráfico da atividade de alguns
microrganismos metanogênicos em função do pH. A faixa ótima para a metanogênese é entre
6,8 a 7,2.

1,2
Relative Activity

1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9
pH

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 Nutrientes:
A concentração dos nutrientes disponíveis para os microrganismos interfere
diretamente nas suas atividades. Segundo a equação de Monod, quando não há limite de
substrato os microrganismos são capazes de crescer com a sua velocidade máxima.
 = max. S
ks + S
Nos processos de tratamento de efluentes deseja-se minimizar a concentração dos
nutrientes (C, N, etc.) a níveis máximos estipulados pela legislação, de tal forma que a
situação de limitação de substrato é atingida. Como exemplo, a DBO5 de 60 mg/l é um
parâmetro comum a ser alcançado. Vejamos como estarão as atividades dos microrganismos
aeróbios e anaeróbios nesta condição:
Aeróbios:  = max. 60 = 0,5 max.
60 + 60
Anaeróbios  = max. 60 = 0,09 max.
600 + 60
Estes valores mostram que um processo aeróbio é capaz de atingir um efluente de
melhor qualidade muito mais fácilmente do que os processos anaeróbios. Isto pode ser
extrapolado para os outros nutrientes envolvidos, como é o caso do nitrogênio amoniacal
(fonte de nitrogênio). Em processos anaeróbios há necessidade de manter-se altos teores de
nitrogênio para que este não seja limitante.

 Toxicidade:
Uma série de compostos pode causar inibição ao crescimento de microrganismos
aeróbios e anaeróbios. Porém, a intensidade da inibição irá depender de uma série de fatores,
mas principalmente do tipo de microrganismo e da concentração do composto tóxico. Há uma
série de formas que os compostos podem interferir nas funções metabólicas dos
microrganismos, envolvendo mecanismos muitas vezes complexos e pouco esclarecidos.
Como exemplo, a Figura abaixo apresenta o efeito inibitório de alguns cátions de metais leves
e de amônio sobre a velocidade de utilização de acetato em digestão anaeróbia.

 Temperatura:
A temperatura altera as propriedades físicas do meio, interfere na cinética das reações,
altera a conformação da estrutura das enzimas e interfere nas funções básicas dos
microrganismos (mobilidade, transporte de íons, etc.). Cada microrganismo possui uma faixa
ótima de temperatura. A Figura abaixo apresenta a faixa de temperatura para alguns
microrganismos anaeróbios.

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1,2

Relative Activity
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Temperature

Os microrganismos anaeróbios são muito mais sensíveis a variações de temperatura do


que os aeróbios. Em temperaturas inferiores a 10 oC o processo anaeróbio se torna muito
pouco ativo praticamente inviabilizando o mesmo para altas remoções de matéria orgânica. A
Figura abaixo apresenta a variação de atividade dos microrganismos aeróbios e anaeróbios em
função da temperatura e da concentração de substrato disponível.

6.2- Parâmetros de Controle de Processo (texto adaptado de YRATA, 1999)

Como qualquer processo, os de tratamento biológico de efluentes devem ser


monitorados e mantidos sob controle estatístico, de modo a assegurar seu bom desempenho.
Várias são as causas de variabilidade que podem ocorrer. Enquanto que nos processos
sob controle estatístico (processos estáveis) a variabilidade se deve a causas aleatórias não
significativas, a desestabilização se deve a causas especiais como: sobrecarga orgânica ou
hidráulica, aparecimento de substâncias tóxicas orgânicas ou inorgânicas na corrente de
entrada, mudanças significativas nas condições ambientais como temperatura, pH, e outras,
que podem afetar o sistema biológico.
A corrente de entrada do sistema deve ser monitorada para que se possa fazer
correções quando necessário, de modo a minimizar as probabilidades de desequilíbrio do
sistema de tratamento.
Algumas características são importantes nas metodologias de acompanhamento e
controle:
Rapidez: para que um eventual problema seja detectado a tempo de proceder a intervenção no
processo antes do estabelecimento de uma condição de falha no sistema. É desejável a
aquisição de dados em tempo real, através de um sistema de monitoramento on-line.
Significado bioquímico: a medida deve refletir uma conseqüência do metabolismo do sistema
biológico.
Confiabilidade: a precisão e exatidão das medidas obtidas são características importantes dos
métodos usados.

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Outra questão importante é com relação a Amostragem. Quando se trata de um reator


homogêneo, as amostras para a avaliação do conteúdo do tanque podem ser retiradas na saída
do efluente. Quando se tratar de reatores não homogêneos como o filtro biológico e o UASB,
os parâmetros terão valores que variam ao longo da altura, de modo que seria interessante
colher amostras ao longo da altura, dependendo dos objetivos do trabalho.

PARÂMETROS UTILIZADOS PARA O CONTROLE DOS PROCESSOS

 Quantidade de biomassa
A quantidade de biomassa (X) é um parâmetro importante para verificar, em conjunto
com a atividade, a capacidade do sistema em degradar a carga orgânica aplicada ao reator. O
método mais utilizado é a concentração de sólidos suspensos voláteis(SSV), conforme
descrito anteriormente.

 Vazão volumétrica (Q)


A vazão volumétrica (Q), associada à concentração de matéria orgânica do efluente, é
um parâmetro importante para o cálculo da carga aplicada. Ela é o volume de efluente
aplicado ao reator por unidade de tempo. A vazão deve ser equalizada para evitar as
flutuações de velocidades ascensionais internas no reator.

 Tempo de retenção hidráulico (h)


O tempo de retenção (ou detenção) hidáulico é o tempo que um elemento de volume
leva para percorrer todo o volume do reator (V).
h = V / Q

 Tempo de retenção celular (c)


O tempo de retenção (ou detenção) celular pode ser definido da mesma forma como o
h, porém o seu entendimento é um pouco mais complexo. O c é tempo de permanência da
massa celular no reator. Para um reator com reciclo de lodo (lodo ativado convencional) o c
tem a seguinte expressão:
c = V X / (Qd Xd + Qe Xe)
Quando o reator for de mistura completa sem reciclo,
c = h = V / Q

 Carga orgânica volumétrica (qv)


A carga orgânica volumétrica é a quantidade de substrato alimentado (S 0) por unidade
de volume de reator, por unidade de tempo (kg DQO/m3 r dia). Este parâmetro mede a
capacidade de um reator em tratar um determinado efluente, servindo como parâmetro de
projeto e de comparação entre reatores de diferentes concepções.
qv = Q S0 / V

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 Carga orgânica específica (qe) ou relação F/M


A carga orgânica específica é a quantidade de substrato alimentado (S0) pela
quantidade de biomassa presente, por unidade de tempo (kg DQO/kg SSV dia). Este
parâmetro é importante para verificar em que condições de alimentação os microrganismos
estão expostos (substrato limitante ou excedente).
qe = F/M = S0 /  X = qv / X

 Remoção de matéria orgânica


A matéria orgânica pode ser expressa em termos de SV (sólidos voláteis), DQO
(demanda química de oxigênio), DBO (demanda bioquímica de oxigênio) ou COT (carbono
orgânico total)
A matéria orgânica consumida (diferença entre a introduzida e a remanescente) é
relacionada à quantidade introduzida no reator, obtendo-se a fração removida.
Em geral é expressa em termos de porcentagem.
Este parâmetro reflete a eficiência do processo.

 Atividade específica:
A atividade específica mede a relação entre a quantidade de substrato consumido e a
quantidade de biomassa, por unidade de tempo (kg DQO/kg SSV dia). A unidade é a mesma
da carga orgânica específica, porém mede exatamente a capacidade daquele consórcio de
microrganismos em degradar um substrato específico. Este teste pode ser aplicado para várias
populações de microrganismos específicos, separadamente ou em conjunto, variando o
substrato que é adicionado e as condições ambientais aplicadas ao teste.

PRINCIPAIS PARÂMETROS PARA PROCESSOS AERÓBIOS

 Sedimentabilidade
A sedimentabilidade do lodo do tanque de aeração é uma característica fundamental
para o bom funcionamento do processo, uma vez que o lodo sedimentado no decantador final
é retornado ao tanque para assegurar um alto tempo de retenção celular.
A sedimentabilidade é determinada em amostras coletadas perto da saída do tanque de
aeração. Nas mesmas amostras deve-se determinar o SSV, para poder calcular o índice
volumétrico de lodo.
Coloca-se a amostra em uma proveta de 1L e acompanha-se a sedimentação fazendo
leitura da altura do lodo em tempos de, por exemplo, 5, 10, 15, 20 e 30 minutos.
Após a leitura dos 30 minutos, o conteúdo é homogeneizado e daí é feita a
determinação de sólidos suspensos totais (SST).
Construi-se a curva de sedimentação, plotando o volume de lodo em função do tempo,
para comparar as características do lodo ao longo do tempo.

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 Índice volumétrico de lodo (IVL)


É o volume ocupado por 1 grama de lodo (em termos de matéria seca), calculado
dividindo o volume de lodo obtido no teste de sedimentação (após 30 minutos) pelo teor de
SST.

volume de lodo (mL/L)


IVL =
SST (g/L)

 Idade do lodo
Este parâmetro é uma estimativa do tempo de retenção celular médio. É
determinado dividindo a massa de SSV no tanque pela massa de SSV removida do
sistema.

 Microscopia
Como já mencionado anteriormente, a microscopia é uma ferramenta muito útil
quando deseja-se avaliar as populações que predominam nos sistemas. As técnicas utilizadas
são várias, dependendo do objetivo da análise.

 Velocidade específica de consumo de oxigênio


É o consumo de oxigênio realizado por uma unidade de massa de lodo do
tanque de aeração por uma unidade de tempo. A medida deve ser efetuada com o
sistema nas condições normais de operação, suprimindo -se a oferta de ar só durante a
sua realização. Mede-se a queda no teor de oxigênio dissolvido, por meio de um
eletrodo específico. A velocidade específica de consumo de oxigênio é calculada
dividindo-se a velocidade de queda da concentração de oxigênio pela concentração
de SST.
Este parâmetro avalia a atividade específica do lodo.

PRINCIPAIS PARÂMETROS PARA PROCESSOS ANAERÓBIOS


 pH
O pH tem um significado muito importante no processo anaeróbio. Sua queda revela
um acúmulo de intermediários ácidos num nível superior ao tolerado pela capacidade tampão
do meio, o que pode ser o resultado de um desequilíbrio entre a produção e o consumo dessas
substâncias, decorrente da falta de equilíbrio entre as populações.
O valor de pH é medido usando um potenciômetro dotado de eletrodos específicos
para pH, que normalmente são compostos por um eletrodo de vidro, específico para H+,
acoplado a um de referência (como um de calomelano, de prata/cloreto de prata).
Apesar de ser uma medida muito simples quanto à realização, alguns cuidados são
importantes. O pH é resultado de várias interações entre as espécies químicas, das quais o
CO2 é uma das mais importantes. Como a pressão parcial do CO2 fora do reator é menor do
que dentro, assim que a amostra é coletada começa um processo de liberação do gás

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dissolvido, que é agravado pela agitação. A perda contínua de CO2 dissolvido vai resultar no
aumento contínuo do pH.
Por essa razão, a medida de pH deve ser feita imediatamente após a coleta de amostra
do reator, misturando o conteúdo sem provocar uma agitação excessiva.

 AOV (ácidos orgânicos voláteis)


É um dos parâmetros mais importantes para o acompanhamento e controle da digestão
anaeróbia, pois este mede o equilíbrio entre as populações de microrganismos acidogênicos e
metanogênicos. O acúmulo dos mesmos indica desequilíbrio do processo e consequentemente
a falha.
Vários métodos estão disponíveis para sua medida. O melhor de todos é a
cromatografia, tanto em fase gasosa como em fase líquida, por fornecer informações mais
detalhadas. É importante principalmente em trabalhos de pesquisa.

Determinação cromatográfica de AOV


Para cromatografia em fase gasosa, deve-se dispor de um detector de ionização de
chama e integrador automático para que resultados adequadamente precisos sejam obtidos.
Existem várias colunas no mercado capazes de separar eficientemente os AOV de interesse
(como por exemplo, o Carbopack B-DA com 4% de Carbowax 20 M)
É importante seguir as recomendações do fabricante do equipamento e da coluna
quanto aos cuidados com o condicionamento do sistema, regeneração da coluna, preparação
da amostra, etc. É também fundamental fazer uma calibração adequada do método usando
padrões (externos ou internos).

Determinação conjunta dos AOV


Para uso rotineiro de monitoramento do processo em laboratórios ou em estações de
tratamento, pode-se usar métodos mais simples, como o espectrofotométrico segundo
Montgomery et al, ou o de titulação segundo Standard Methods.
Duas são as desvantagens principais tanto do método colorimétrico como do
volumétrico, em relação ao cromatográfico: podem apresentar desvios cuja magnitude
depende da composição dos AOV; não fornecem a composição dos AOV.

 Alcalinidade
A medida da alcalinidade mostra o nível da capacidade tampão, sendo por isso
importante para a prevenção de quedas de pH.
Existem diversas espécies químicas que conferem alcalinidade ao meio: bicarbonato,
sais de ácidos voláteis e outros. Uma vez que cada espécie tem o seu pH de neutralização
completa, o significado do parâmetro depende do pH final de titulação. A alcalinidade total é
determinada por titulação até pH 4,0.

 Relação AOV / alcalinidade

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A relação AOV/alcalinidade é um parâmetro mais adequado para o monitoramento do


processo, pois permite prever e evitar a queda de pH, que poderia provocar uma falha do
sistema, do que simplesmente o AOV e alcalinidade separadamente.
Os valores recomendados ficam entre 0,1 e 0,35 em concentrações molares de AOV e
alcalinidade, que correspondem a 0,06 e 0,2 quando ambos os parâmetros estão expressos em
mg/L.

 Volume de gás total e de metano


A medida do volume de gás produzido e sua composição refletem a condição do
processo, ambos indicando o equilíbrio do processo entre as várias populações de
microrganismos.
Em escala de laboratório, a medida pode ser feita facilmente usando gasômetros de
transferência de líquido, quantificando o volume de líquido deslocado em um período de
tempo.
No caso de se medir o biogás total, em escala de laboratório, pode-se usar uma solução
de 200 g de Na2SO4 e 200 mL de H2SO4 concentrado em 800 mL de água. Neste caso é
importante determinar a composição do gás, por cromatografia ou por outro método mais
simples, pois a concentração de CH4 é importante para avaliar o equilíbrio do processo
anaeróbio.
No caso de se trabalhar em pequena escala, em pesquisa, pode-se coletar apenas o
metano, absorvendo o CO2 em tubo de cal sodada e recolhendo o gás num gasômetro
contendo uma solução de NaOH. Neste caso a cal sodada deve ser substituída periodicamente
e a solução de soda não deve ter pH inferior a 12.
Nos gasômetros de deslocamento de líquido, em escala de laboratório, deve-se tomar o
cuidado de equilibrar a pressão interna do gasômetro e do reator com a pressão ambiente na
ocasião da leitura, para que seja possível a expressão do volume de gás sempre na mesma
condição, como por exemplo as CNTP.

 Composição do biogás
É altamente desejável contar com um cromatógrafo simples, dotado só com um detetor
de condutividade térmica exclusivamente para analisar gases. De preferência o equipamento
deve ser configurado de tal forma que uma única injeção seja suficiente para obter os picos
dos principais componentes do biogás (metano, gás carbônico, ar contaminante, hidrogênio).
Para uma maior precisão de medida, é importante que o equipamento seja dotado de um
amostrador (loop). É fundamental que se tenha pelo menos um biogás padrão certificado para
a calibração do sistema a cada ocasião de análise.
Na falta de disponibilidade de um cromatógrafo, métodos mais simples podem ser
usados para ter uma avaliação da produção de metano.

 Conversão de matéria orgânica a gás


Embora possa ser expressa em termos de biogás ou de metano, tem maior significado
quando expressa em termos de metano.
É a relação entre o volume de gás total ou de metano produzido com a quantidade de
matéria orgânica adicionada ao reator ou removida pelo processo.
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6.3- Sistemas de Tratamento

6.3.1- Sistemas Aeróbios

LODOS ATIVADOS
Dentre os processos aeróbios, o processo de lodo ativado (PLA) é um dos mais
aplicados e também de maior eficiência. É o mais utilizado em localidades de grande
concentração urbana.
A primeira unidade, em escala real, para tratamento de esgotos foi instalada em
Manchester (UK em 1914). Desde então o processo de lodos ativados ganhou grande difusão
e incorporou modificações técnicas, mantendo-se ativo no mercado de processos de
tratamento de efluentes. A Figura abaixo mostra um esquema simplificado de tratamento por
lodo ativado.

Biorreator Decantador secundário


Afluente

Efluente final

Aeração

Reciclo de lodo
Descarte
de lodo

Esquema simplificado de tratamento por lodo ativado.

É no seu interior do biorreator (tanque de aeração) que ocorrem as reações que


conduzem à metabolização dos compostos bio-tranformáveis. Aqui é essencial que se tenha
boa mistura e boa aeração. O efluente tratado, em conjunto com o lodo (biomassa) em
suspensão vai para o decantador secundário onde separa adequadamente o lodo, que pode ser
recirculado para o tanque de aeração ou ser descartado. Esta recirculação irá dar as
características desejáveis ao lodo, uma vez que pode-se controlar o seu tempo de residência.
O funcionamento do processo está condicionado pela capacidade de decantação do
lodo. Para esgoto doméstico a literatura, relativamente abundante, permite indicar faixas
operacionais do processo, que asseguram boa sedimentabilidade do lodo, viabilizando o
processo. Para efluentes industriais, devido à sua especificidade, deve ser realizado um
trabalho experimental para assegurar um projeto criterioso de lodos ativados.

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VARIANTES DO LODOS ATIVADOS


1. CONVENCIONAL
Estes são reatores tipo calha (plug flow), que normalmente são operados em paralelo.
A Figura abaixo apresenta um desenho esquemático destes reatores.

Tanques de aeração

Afluente Efluente

Aeração

Dois são os maiores problemas deste tipo de reator: sendo a aeração uniforme ao longo
do reator, a concentração de oxigênio varia ao longo do mesmo, prejudicando as
características de sedimentabilidade do lodo; outro problema é com relação a não
permissividade de absorver cargas de choque orgânico ou de compostos tóxicos.

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2. AERAÇÃO DECRESCENTE
Para resolver o problema da aeração diferenciada, utiliza-se uma variação na aeração
do sistema através do espaçamento dos aeradores.

Tanques de aeração

Afluente Efluente

Aeração

3. AERAÇÃO ESCALONADA
Outra forma de contornar o problema da aeração e da sobrecarga, pode-se fazer a
alimentação em vários pontos do reator e manter a distribuição uniforme da aeração.

Tanques de aeração

Efluente

Afluente

Aeração

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4. AERÓBIO DE CONTATO
Observou-se que a matéria orgânica antes de ser metabolizada ela é adsorvida pela
matriz do floco microbiano. A velocidade de adsorção é muito superior a da biodegradação.
Como a matéria orgânica encontra-se de forma diluída, é interessante remove-la primeiro por
adsorção, separar os sólidos e depois degrada-la em um reator de sólidos separadamente. A
vantagem deste sistema é a diminuição do tempo de retenção hidráulico total do sistema.

Tanque de adsorção
Decantador secundário
Afluente

Efluente final

Reciclo de lodo Biorreator

Descarte
Aeração de lodo

5. AERAÇÃO PROLONGADA
Esse processo de tratamento é também definido como um processo de oxidação total e
se constitui num modificação do processo de lodos ativados. A idéia básica do processo de
Aeração Prolongada é a de reduzir, o máximo possível, o excesso de lodo ativado produzido.
Essa redução da concentração de lodo é conseguida pelo simples aumento do tempo de
aeração, ou seja, pelo aumento do tempo de residência no reator. Dessa forma, o excesso de
lodo é consumido por respiração endógena. Se operada de forma adequada, a planta de
tratamento de despejos por Aeração Prolongada não produz efeitos deletérios ao meio
ambiente (odor) podendo, portanto, ser instalada em locais de grande concentração
populacional.
6. OXIGÊNIO PURO
O oxigênio puro pode ser usado no lugar do ar para obter a vantagem da maior
transferência de oxigênio para o meio. Este processo é utilizado quando o efluente é muito
concentrado ou a unidade está sobrecarregada. As desvantagens são os custos elevados e a
necessidade de um controle efetivo da quantidade de oxigênio podendo promover lodo de má
sedimentabilidade.

LAGOS AERADAS
Lagoas aeradas são bacias de grande volume nas quais, analogamente ao reator de
lodo ativado, a aeração do despejo é feita por meio de unidades mecânicas de aeração
(aeradores de superfície).

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A diferença fundamental entre a lagoa aerada e o reator de lodo ativado reside no fato
de que na lagoa aerada não há reciclo do lodo, ou seja, o lodo formado‚ juntamente com o
despejo tratado, é lançado diretamente no corpo receptor ou, se necessário, enviado para
unidades de tratamento de lodo. Os tempos de retenção são elevados e a carga mássica e
volumétrica são menores.
A concentração de sólidos na lagoa aerada será função das características do despejo e
do tempo de residência.

regimes de operação de lagoas aeradas


 regime de mistura completa: Nesse regime, o nível de agitação é tal que todos os sólidos
são continuamente mantidos em suspensão e o tempo de residência é da ordem de 3 dias
 regime de lagoa facultativa: Nesse regime de operação, o nível de agitação é de cerca de 5
vezes menor que o regime de mistura completa. Esse nível de agitação é insuficiente para
manter em suspensão homogênea todos os sólidos presentes de forma que parte desses
sólidos se deposita no fundo da lagoa onde, em razão da provável escassez de oxigênio
dissolvido, sofrem decomposição anaeróbia. Devido à acumulação, esses sólidos devem
ser removidos (freqüência de remoção varia entre 1 e 6 anos). O tempo de residência
dessas lagoas é da ordem de 6 dias.
A seleção do regime de operação de uma lagoa aerada resulta de uma avaliação dos
custos de operação e, principalmente, dos custos da terra (área). É claro que as lagoas
facultativas, por demandarem menor potência de aeração, exigem maiores volumes de bacia.

LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO
A diferença básica entre a lagoa de estabilização e a lagoa aerada é que na primeira, a
aeração não é feita por meios mecanicamente induzidos (aeradores de superfície) mas
somente por meios naturais (transferência do oxigênio atmosférico para a água e, em maior
parte, pela ação fotossintética dos vegetais clorofilados presentes na lagoa). O oxigênio
liberado na fotossíntese é utilizado pelos microrganismos aeróbios na degradação da matéria
orgânica e, por sua vez, os produtos dessa degradação aeróbia (CO2, NO3-, PO43-) são
utilizados pelas algas numa, por assim dizer, perfeita simbiose.

Luz

Algas

CO2
Sais Minerais O2

Respiração
Bacteriana

Esgoto

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O tratamento de despejos em lagoas de estabilização será economicamente viável se:


1. grandes áreas de terra forem disponíveis a custos baixos.
2. padrões de lançamento de despejos não muito rígidos.
Se a DBO do afluente da lagoa (despejo a ser tratado) for muito alta, a taxa de
consumo de oxigênio será maior que a taxa de re-aeração, a qual, por ser feita por meios
naturais é baixa, então a concentração de OD será baixa ou nula e o substrato só será
degradado por ação anaeróbia com os conseqüentes problemas de odor (H2S e mercaptanas).
Uma condição freqüentemente encontrada em lagoas de estabilização é de que as
lâminas d'água mais próximas da superfície livre operam em condições aeróbias enquanto que
as mais profundas operam em condições anaeróbias. Somente em casos de tratamento de
despejos de alta concentração da DBO é que as condições de operação da lagoa são
anaeróbias. No caso de se utilizar lagoas de estabilização em série, é de se esperar que a
primeira delas opere em condições anaeróbias enquanto que nas subsequentes, as condições
aeróbias poderão eventualmente prevalecer.

FILTRO BIOLÓGICO
Neste tipo de reator se utiliza a biomassa imobilizada (aderida) em algum tipo de
suporte. O filtro biológico é um recheio coberto de limo biológico através do qual a água
residuária passa. Normalmente o efluente é distribuído por pulverização uniforme sobre o
recheio usando um distribuidor rotativo. O efluente passa de forma descendente através do
recheio e é coletado no fundo.
No filtro biológico (FB) há o contato direto do substrato com o ar atmosférico e com
os microrganismos que se desenvolvem aderidos à superfície do meio poroso. A figura 2 a
seguir mostra, de forma esquemática, a camada de limo, essencialmente constituída de
bactérias e algas, estas do gênero Zooglea, cuja espessura pode variar de 0,1 mm a 2 mm. Esta
camada se constitui de 2 sub-camadas: uma camada anaeróbia, aderida à superfície da do
meio poroso e uma outra aeróbia, externa àquela.
Dependendo da espessura dessa camada de limo, pode haver o desenvolvimento de
uma sub-camada anaeróbia junto à superfície do suporte e uma sub-camada aeróbia, externa
àquela. Segundo alguns autores, a espessura da sub-camada aeróbia seria da ordem de
algumas centenas de micra (100 a 200 ), sendo a maior parte da biomassa praticamente
isenta de oxigênio (pela grande resistência à difusão do oxigênio atmosférico ao longo de toda
a espessura da camada ). As bactérias heterotróficas predominam na película oxigenada
enquanto que as autotróficas - nitrificantes - predominam na película anóxica. Além das
bactérias e das algas há, embora em menor proporção, há a presença de protozoários, fungos
e, até mesmo, vermes e larvas.
Como já mencionado, a espessura da camada de limo pode variar entre 0,1 a 2 mm.
Espessuras maiores têm efeito adverso tanto na operação do filtro - maior probabilidade de
colmatação do leito - quanto na eficiência de remoção do substrato, decorrente de menores
taxas de transferência de substrato, oxigênio e dos metabólitos
A remoção da DQO no FB decorre por floculação da matéria orgânica em estado
coloidal e aglomeração da matéria orgânica em suspensão.
A matéria orgânica em solução contida no despejo bem como o oxigênio necessário
para a sua oxidação biológica difundem-se através da camada de limo (biofilme) e é por ele
metabolizada com a conseqüente redução da DBO e a evolução de gases e demais produtos do
metabolismo aeróbio e anaeróbio. A taxa global de remoção dependerá da natureza e da
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concentração da matéria orgânica biodegradável presente, tanto no estado coloidal quanto em


solução.
Quando o despejo contém uma elevada percentagem da DBO nessas formas, maiores
taxas de remoção da mesma pode ser removida em virtude da coagulação-floculação dos
colóides e por aglomeração da matéria em suspensão no liquido. Despejos contendo
substratos mais simples exibirão maiores taxas de difusão resultando, assim, maiores taxas de
remoção quando comparados com despejos contendo substratos mais complexos.
À medida que o líquido percola através do meio poroso, substratos e oxigênio
difundem-se através da camada de biomassa, sendo aquele assimilado e os produtos desta
assimilação se difundem para fora da camada de biomassa. Concomitantemente com a
metabolização do substrato, o oxigênio vai sendo consumido, de modo que se pode esperar a
existência das duas sub-camadas.
No filme biológico que ocorre na sub-camada correspondente, desenvolvem-se
microorganismos que realizam a oxidação biológica da matéria carbonácea até transformá-la
em gás carbônico na sub-camada aeróbia e ácidos orgânicos voláteis na sub-camada
anaeróbia. Dessa forma, os mecanismos de degradação biológica que ocorrem nessas sub-
camadas são essencialmente idênticos aos que ocorrem em qualquer outro processo de
degradação biológica. Em outras palavras, parte do oxigênio é consumido para a síntese de
material celular e parte para prover a energia necessária ao ciclo vital dos microorganismos.
Apesar de extensivamente utilizado na literatura de tratamento de águas residuárias, o
termo “filtro” é inadequado, pois nestes dispositivos não ocorre propriamente uma filtração,
mas sim uma biossorção seguida da metabolização dos constituintes biodegradáveis do
despejos. Os filtros biológicos convencionais, por exemplo, correspondem a reatores com
biomassa (limo) aderidos a um suporte inerte, sobre a qual o despejo percola.

filtros clássicos
Os filtros clássicos são constituídos de um tanque de grandes dimensões - diâmetro
maior que a altura - recheados com uma material de preferência inerte, como brita, coque,
escória ou até mesmo bambu. Em geral, busca-se a utilização de material de recheio que alie
custos baixos e a maior área superficial. Para minimizar as interrupções de funcionamento da
unidade de tratamento decorrentes do entupimento do meio poroso - colmatação - e para
permitir o fluxos de liquido e de ar sua porosidade é moderada ( 40 a 60% ). A área elevada
permite uma maior taxa de colonização superficial da biomassa e, em conseqüência, maiores
taxas de transferência de massa - substrato, ar e metabólitos - No caso de despejos
domésticos, os filtros utilizados têm de 1,5 a 4 m de altura e “diâmetro” médio de partícula de
recheio variando na faixa de 4 a 12 cm. A eficiência de remoção de substrato depende de
vários fatores, entre eles: natureza do despejo, tipo de recheio e, principalmente, das
condições de operação.
COMPARAÇÃO ENTRE O FILTRO BIOLÓGICO E O LODOS ATIVADOS
1 - No FB convencional, a remoção de substrato é da ordem de 60 % enquanto que no PLA
esta remoção é da ordem de 80 %.
2 - Não há energia despendida na aeração.
3 - Os custos de instalação/manutenção/operação do FB constituem-se numa pequena fração
dos custos correspondentes do PLA, aí residindo sua maior atratividade com a restrição de
que são recomendados como opção de tratamento de baixas vazões de despejos.

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BIODISCOS
Os biodiscos são reatores que estão baseados no mesmo princípio de biofilmes
descrito para os filtros biológicos. Os biofilmes desenvolvem-se em discos de material inerte,
que são colocados paralelamente em um eixo central que gira, dentro de uma bacia. Os discos
são parcialmente submergidos no efluente dentro da bacia e a medida que vai girando uma
parte fica exposta ao ar e outra submergida. Quando a parte submergida é exposta ao ar, um
filme de líquido permanece percolado na superfície do biofilme, ocorrendo a oxidação pelos
microrganismos. A figura abaixo apresenta um desenho esquemático de um biodisco.

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6.3.2- Sistemas Anaeróbios (texto de FLORENCIO, 1999)


A primeira aplicação de uma unidade de tratamento de esgotos foi relatada há um
pouco mais de 100 anos. Era a fossa Moura, uma câmara de digestão anaeróbia. Naquela
época, outros sistemas anaeróbios foram concebidos e amplamente aplicados. Com o
desenvolvimento dos eficientes sistemas aeróbios no início deste século, especialmente os
filtro biológicos e os sistemas de lodos ativados, a aplicação do tratamento anaeróbio ficou
praticamente limitada ao tratamento do lodo gerado nos processos aeróbios.
A partir da década de 70, houve uma evolução significativa dos sistemas de tratamento
anaeróbio, devido a vários fatores, tais como, um melhor entendimento dos processos
bioquímicos envolvidos e o desenvolvimento dos reatores de alta taxa. Esses fatores
ampliaram significativamente a aplicação dos sistemas anaeróbios que podem ser
praticamente usados para qualquer tipo de água residuária, concentradas ou diluídas, em
baixas ou altas temperaturas, como unidade única, em múltiplos estágios, ou em combinação
com outras unidades (aeróbia e físico-química).

DECANTO-DIGESTORES
A fossa Mouras, patenteado na França em 2 de setembro de 1881 por Jean Louis
Mouras, foi o primeiro sistema de tratamento de esgotos relatado na literatura. A partir de
então vários outras configurações de fossas foram desenvolvidas, se destacando os tanques
sépticos e os tanques Imhoff (tanques sépticos com câmara sobreposta).

TANQUES SÉPTICOS
Os tanques sépticos são reatores de fluxo horizontal e arbitrário. São empregados
como solução individual em áreas urbanas desprovidas de rede coletora pública de esgoto,
assim como para atender conjuntos residenciais, vilas, e comunidades com pequenas vazões
(ABNT-NBR 7229/93 e NBR 13969/97).

Desenho esquemático de um tanque séptico


Nos tanques sépticos ocorrem os seguintes fenômenos: a sedimentação dos sólidos
sedimentáveis proveniente dos esgotos, formando uma camada de lodo no fundo do tanque, a
flotação de óleos, graxas e outros materiais leves que formam uma camada de escuma na
parte superior do tanque e a digestão anaeróbia do lodo sedimentado, reduzindo assim
continuamente o volume do lodo depositado. Devido a sua configuração hidráulica que não

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favorece a mistura e contato entre biomassa e esgoto solúvel, a remoção global da DBO se dá
principalmente pela digestão da DBO particulada, sendo muito pequena a estabilização da
DBO solúvel.
Algumas características gerais dos tanque sépticos
Construção Construídos in loco (alvenaria ou concreto) ou em
unidades pré-moldadas (fibra de vidro).
Configuração Câmara única
Câmara em série (1a com 2/3 volume total e 2a com
1/3 do volume total)
Forma e dimensões Prismática retangulares
Relação comprimento/largura: de 2 a 4
Largura mínima: 0,80 m
Profundidade útil: 1,2 a 2,2 m para volumes <6 m3
1,5 a 2,5 m para volumes de 6 a 10 m3
1,8 a 2,8 m para volumes >10 m3
Cilíndricas
Profundidade útil mínima (h): 1,10 m
Diâmetro interno mínimo (d): 1,10 m e d<2h
Eficiência Remoção da DBO: 40 a 70 %
Remoção dos sólidos suspensos: 50 a 80%
Óleos e graxas: 70 a 90%
Tempo de detenção hidráulico 12 a 24 horas
Período entre limpeza Variável, recomendável pelo menos anual

TANQUE IMHOFF
Os tanques Imhoff, originalmente chamados de Emscher, é uma evolução dos tanques
sépticos, onde as fases de sedimentação e digestão dos sólidos em suspensão ocorrem em
câmaras separadas. Os esgotos fluem apenas pela câmara superior, onde ocorre a separação
dos sólidos sedimentáveis. Esta câmara funciona como um decantador primário. Os sólidos
sedimentáveis atravessam a abertura no fundo da câmara e atingem a câmara inferior, onde
ocorre a digestão anaeróbia e acumulação do lodo. Por possuírem câmaras superpostas eles
necessitam de uma maior profundidade que os tanques sépticos, devendo ser empregados para
população superiores a 50 habitantes. Atualmente os tanques Imhoff não são mais construídos
no Brasil devido ao seu alto custo de construção, especialmente quando comparado com
outras concepções de sistemas anaeróbios mais econômicas e eficientes.
Vantagens e desvantagens dos tanques sépticos
VANTAGENS DESVANTAGENS
 Construção simples  Baixa eficiência na remoção da
 Baixo requisito de área matéria orgânica dissolvida
 Baixo consumo de energia  Dificuldade em satisfazer padrões de
 Resistente a variação qualitativa e lançamento bem restritivos
quantitativa do efluente  Possibilidade de efluentes com aspecto
 Operação extremamente simples e desagradável
eventual  A simplicidade operacional pode levar
 Baixo custo de implantação e operação ao descaso

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DIGESTORES DE LODO
Os digestores anaeróbios de lodos são reatores utilizados para estabilizar os lodos
concentrados produzidos durante o tratamento de esgotos, bem como o tratamento de alguns
esgotos industriais. Os digestores de lodo foram desenvolvidos após a constatação de que a
digestão do lodo aquecido em tanque separado apresentava eficiência superior aos dos
tanques Imhoff. A partir de então muitos tipos de digestores foram desenvolvidos, com e sem
aquecimento, de baixa e alta carga, com estágios único ou múltiplo, etc.
Características gerais dos digestores anaeróbios de lodo
Construção Concreto armado, com cobertura fixa ou
flutuante
Remoção da DBO Redução de sólidos voláteis: 45 a 50%
pH 7,0 a 7,4
Temperatura Mesófila: 30 a 40 oC.
Termófila: 45 a 57 oC
Dimensões Diâmetro: 6 a 38 m
Profundidade: 7 a 14 m
Etapa limitante Hidrólise
Tempo de detenção hidráulico = Baixa carga (sem mistura): 30 a 60 d (QETE <
Tempo de detenção celular (d) 250 l/s
Alta carga: 15 a 20 d
Carga de sólidos Baixa carga 0,6 a 1,6 (kgSSV/m3 d)
Alta carga : 1,6 a 3,2 (kgSSV/m3 d)
Eficiência na remoção dos sólidos 45 a 50 %
Alimentação e retirada do lodo Semi-contínua
Limpeza De 10 a 15 anos para remover a areia acumulada

Desenho esquemático de um digestor de lodo com mistura e aquecimento.


Taxa de aplicação e tempos de detenção para digestores de baixa e alta carga
Digestor baixa taxa Alta taxa
Taxa de aplicação (kg SSV/m3 d) < 1,2 1,2 a 6,0
Tempo de detenção no reator (dias)
 não homogeneizado 45
 reator homogeneizado 30 >15

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PROCESSO DE CONTATO ANAERÓBIO


O processo de contato anaeróbio é um processo de alta taxa desenvolvido nos anos
cinqüenta para o tratamento de esgotos industriais. Foi um dos primeiros reatores concebidos
para a melhoria dos requisitos de contato biomassa-esgoto, assim como a retenção no sistema
de maior quantidade de lodo. Embora de aplicação limitada, ainda é utilizado na Alemanha e
Inglaterra.
Consiste de dois tanques, onde no primeiro, que requer a agitação por meio externo,
ocorre a formação de um lodo floculento e a produção de metano (reator anaeróbio) e no
segundo, a separação dos sólidos em suspensão. Muitas vezes pode ser ainda projetado, uma
pequena unidade intermediária , entre o digestor e o decantador, para remoção do biogás (em
geral por sucção).
O processo de contato anaeróbio tem uma concepção similar ao processo aeróbio de
lodos ativados. O esgoto bruto é misturado com o lodo anaeróbio ativo de retorno no reator de
mistura completa. Após a decomposição anaeróbia da matéria orgânica, a mistura é separada no
decantador ou flotador, onde ocorre a separação dos sólidos, sendo o efluente, ainda com alta
carga poluidora, encaminhado para tratamento posterior. Parte do lodo sedimentado é retornada
para inocular o esgoto bruto afluente e garantir uma alta concentração de lodo ativo. Desta forma
o tempo de detenção celular se torna independente do tempo de detenção hidráulico, permitindo
tamanhos menores dos digestores, o que não acontece com os digestores convencionais.

Desenho esquemático de um reator anaeróbio por contato.

Alguma características dos processo de contato anaeróbio


DQO afluente (mg/l) 1 500 a 5 000
Tempo de detenção hidráulico (horas) 2 a 10
Carga orgânica (kg DQO/m3 d) 0,48 a 2,40
Eficiência (%) 75 a 90
Tipo de esgoto a tratar Esgotos industriais diversos: laticínios,
processamento de carne, destilarias, levedura
Tipo de mistura Mistura completa, com agitadores mecânicos ou
injeção do próprio (recirculação) biogás
Tipo de crescimento dos Crescimento disperso (em geral floculento)
microrganismos
A evolução dos reatores anaeróbios convencionais pode ser sumarizada da seguinte
forma:
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1. Tanques sépticos concebidos para reduzir o volume do lodo


2. Digestão do lodo separado em câmaras superpostas (tanques Imhoff).
3. Aquecimento do lodo dos tanques Imhoff
4. Digestão do lodo separado em decantadores.
5. O digestor é provido de sistema de mistura
6. O lodo é separado em decantador e reintroduzido no reator anaeróbio, em processo similar
ao de lodos ativados. Agora o tratamento anaeróbio se aplica ao não apenas ao tratamento
de lodos em ETEs, mas também do tratamento direto de efluente líquidos industriais.

LAGOAS ANAERÓBIAS
As lagoas anaeróbias são reatores de fluxo horizontal (arbitrário), onde ocorre a
sedimentação e digestão de sólidos sedimentáveis proveniente dos esgotos domésticos e/ou
industriais (frigoríficos, laticínios, etc.). Em geral são utilizadas em combinação com outros
tipos de lagoas, tais como facultativas e de maturação nos sistemas de lagoas de estabilização.

Desenho esquemático de uma lagoa anaeróbia


Algumas características de lagoas anaeróbias.
Construção Diques de terra e fundo compactados e
impermeabilizados
Remoção da DBO 50 a 60 % (temperaturas >25 oC, pode chegar a 75 %)
Localização na ETE Antes das demais lagoas
Funcionamento Como tanque séptico aberto
pH > 6 (ideal: em torno de 7,5)
Alcalinidade > 1550 mg/l (CaCO3)
Profundidade De 2 a 5 m (valores mais adotados = 2-4 m)
Tempo de detenção 3 a 6 dias (tempos maiores pode tornar a lagoa
hidráulico facultativa)
Carga volumétrica de DBO5 Entre 100 e 400 g DBO5/ m3 d
(ver tabela 3.2) < 100 g DBO5/ m3 d pode se tornar facultativa
> 400 g DBO5/ m3 d risco de odor
Limpeza Quando estiver com o lodo ocupando a ½ do volume
N = [½ volume da lagoa ( m3)]/ [taxa de acumulação do
lodo (m3/hab.ano) x população servida (hab)]
Taxa de acumulação do lodo 0,03 a 0,04 m3/hab.ano
Cargas orgânicas volumétricas permissíveis de projeto e remoção de DBO5 em função da
temperatura (Mara & Pearson, 1986):
Temperatura Carga volumétrica Remoção de DBO5
o
C g DBO5/ m3 d (%)
<10 100 40
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10-20 20T-100 2T + 20*


>20 300 60
*interpolação linear (T= temperatura oC)

Vantagens e desvantagens das lagoas anaeróbias


Vantagens Desvantagens
 Baixo custo  Elevado requisito de área
 Eficiência satisfatória  Dificuldade em satisfazer padrões de
 Construção relativamente simples lançamento bem restritivos
 Ausência de equipamentos mecânicos  A simplicidade operacional pode
 Operação e manutenção bem simples levar ao descaso na manutenção
 Boa resistência aos choques hidráulicos  Possibilidade de crescimento de
e orgânicos insetos
 Requerimentos energéticos  Possibilidade de mau odores
praticamente nulos  Necessidade de um razoável
 Redução da área total em sistemas de afastamento das residências
lagoas de estabilização. circunvizinhas

FILTROS ANAERÓBIOS
Existem relatos (McCarty, 1981) que já no fim do século passado um tipo de filtro
anaeróbio foi aplicado para o tratamento de esgotos sanitários na Inglaterra. Entretanto, foi a
partir do trabalho desenvolvido por Young & McCarty no final da década de 60, quando
aplicaram altas cargas orgânicas no tratamento de matéria orgânica solúvel, que os filtros
anaeróbios obtiveram um grande êxito. Este fato abriu amplas perspectivas para a aplicação
de processos anaeróbios no tratamento direto de vários tipos de águas residuárias, além de
desencadear o desenvolvimento de novas configurações de reatores anaeróbios de alta taxa.
Os filtros anaeróbios consistem de tanques preenchidos com um material de suporte
inerte (pedra, plástico, etc), também chamado de leito, que permanece estacionário, aos quais
os microrganismos crescem tanto nos espaços vazios quanto aderidos ao meio fixo, onde
formam uma película de biofilme na sua superfície, propiciando assim uma alta retenção de
biomassa no reator. Por esta razão é desejável que o material inerte tenha uma grande área
superficial por unidade de volume, favorecendo uma maior quantidade de biomassa aderida e
que resulte, consequentemente, numa maior capacidade de tratamento.
Os filtros anaeróbios são largamente utilizados como unidade de pós-tratamento de
decanto-digestores tratando os esgotos sanitários de pequenas populações. Entretanto podem
ser aplicados como uma única unidade de tratamento de esgotos concentrados ou diluídos
(indústria farmacêutica, laticínio, refrigerantes, etc.). Neste caso, são mais aplicáveis para
esgotos solúveis e com baixa concentração de sólidos suspensos, devido ao risco de
entupimento.

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Os filtros anaeróbios podem ser concebidos com e sem recirculação. Embora na


prática os filtros com fluxo ascendentes tenham sido mais utilizado, o fluxo do esgoto pode
ainda ser horizontal e descendente. Nos filtros de fluxo ascendente o leito permanece
totalmente submerso, enquanto que nos de fluxo descendente podem ser operados de maneira
que o meio suporte seja afogado ou não afogado.

Desenho esquemático de filtros anaeróbios

Algumas características gerais selecionadas dos filtros anaeróbios


Forma do reator Cilíndrica ou retangular
Construção Construídos in loco ou pré-fabricado (concreto armado,
alvenaria, fibra de vidro, etc) desde que estanques.
Podem ser construídos com ou sem cobertura.
Altura / profundidade total 3 a 13 m
Volumes dos reatores 1 a 10 000 m3; volume útil mínimo (ABNT) = 1,0 m3
Altura do meio de suporte 50 a 70 % da altura do filtro; ABNT: 0,60 m < h <1,2 m
(h) ABNT: já incluído a altura do fundo falso < 1,2 m
Material do meio de suporte Qualquer material inerte mecânico, químico e
biologicamente resistentes (brita, peças de plástico,
escória de alto fornos de siderúrgicas, etc.)
Área específica do meio de Dimensões o mais uniformes possíveis; Brita no 4 ou no
suporte 5 (ABNT); 100 a 140 m2/m3
Temperatura 25 a 38 oC
Carga orgânica volumétrica Para esgotos industriais: 0,2 a 16 kg DQO/m3 d (12 na
prática)
Velocidade superficial Na partida: 0,4 m/h; Máxima: 2 m/h
Eficiência, como unidade de DBO:40 a 75 %
pós-tratamento de tanques DQO:40 a 70 %
sépticos (ABNT) Sólidos em suspensão: 60 a 90%
Tempo de detenção celular >20 dias
Tempo de detenção hidráuli. 12 a 96 horas; Recomendável no Brasil : 6 a 18 horas

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Valores do tempo de detenção hidráulico (em dias) em função da vazão e temperatura do


esgoto, como pós tratamento de tanques sépticos (NBR 13969/97- ABNT)
Vazão Temperatura média do mês mais frio (oC)
(l/d) < 15 15 <T<25 >25
<1500 1,17 1,0 0,92
1501 – 3 000 1,08 0,92 0,83
3001 – 4 500 1,00 0,83 0,75
4501 – 6 000 0,92 0,75 0,67
6001 – 7 500 0,83 0,67 0,58
7501 – 9 000 0,75 0,58 0,50
> 9 000 0,75 0,50 0,50

Carga orgânica (kg DQO / m3 d) em função da vazão e do tempo de detenção hidráulico


(Speece, 1990)
Tempo de detenção hidráulico (horas)
DQO afluente(mg/l)
12 18 32 64 96
3 000 6 4,5 2.25 1,13 0,75
6 000 12 9 4.5 2,25 1,5
12 000 24 18 9 4,5 3
24 000 48 36 18 9 6
48 000 96 72 36 18 12
Eficiência % 75 80 85 90 95*
* Recomendável o uso de reatores de dois estágios para atingir eficiências superiores a 90%
Obs: Na parte sombreada, o dimensionamento é efetuado pela carga hidráulica (a situação é
controlada pela concentração), enquanto que na restante predomina a carga orgânica

Vantagens e desvantagens dos filtros anaeróbios


Vantagens Desvantagens
 Retenção de grande massa de  Limitado a esgotos
microrganismos predominantemente solúveis
 Baixa produção de lodo  Dificuldade de satisfazer padrões
 Baixo requisitos de área de lançamento restritivos
 Construção, operação e manutenção simples  Volume relativamente grande,
 Robusto contra variações de carga hidráulica devido ao espaço inerte ocupado
e orgânica pelo material de enchimento
 Aplicável a diversos tipos e concentrações  Alto custo do material de
de esgotos enchimento
 Reduzido consumo de energia  Riscos de entupimentos
 Aplicável como tratamento único ou como  Formação de caminhos
pós-tratamento preferenciais
 Não necessita inóculo para partida  Possibilidade de maus adores
 Não há necessidade de recircular o efluente  Não remove nutrientes (N e P)
ou lodo nem de decantar o efluente  Efluentes com odores e cor escura
 Custo operacional baixo

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REATOR ANAERÓBIO DE MANTA DE LODO (UASB)


Os reatores anaeróbios de manta de lodo UASB (upflow anaerobic sludge blanket) foi
concebido na década de 70 por Lettinga e colaboradores na Holanda. O reator UASB foi
desenvolvido a partir de estudos efetuados com o filtro anaeróbio ascendente. No Brasil, o
reator UASB também é conhecido com outras denominações, tais como RAFA, DAFA,
RAFAALL, RALF, etc. Devido às suas características técnicas e econômicas, é o reator com
maior êxito de aplicação dentre os reatores anaeróbios, com centenas de sistemas em escala
real tratando esgotos industriais e sanitários.
O reator UASB consiste de um tanque de fluxo ascendente no qual os
microorganismos crescem dispersos, sem a necessidade de um material de suporte, formando
flocos ou grânulos densos com alta resistência mecânica que permanecem no reator. Na sua
parte superior há um separador trifásico (sólido–líquido-gás), onde ocorre a remoção do gás
produzido, assim como a sedimentação e retorno automático do lodo à câmara de digestão.
Devido a agitação natural provocada pelo próprio fluxo hidráulico ascendente e gases gerados
na digestão da matéria orgânica, o reator dispensa qualquer dispositivo adicional de mistura.
O reator UASB pode ser aplicado diretamente para o tratamento de uma grande
variedade de esgotos, sejam de natureza simples ou complexa, de baixa ou de alta
concentração, solúveis ou com material particulado. Sua configuração permite o
desenvolvimento e a retenção de uma grande quantidade de biomassa ativa, conferindo-lhe
um elevado tempo de retenção celular. Adicionalmente, devido a sua adequada agitação e
mistura hidráulica que favorece um melhor contato biomassa-esgoto, pode acomodar altas
cargas orgânicas volumétricas, com tempo de detenção hidráulica relativamente curto.

Desenho esquemático de um reator anaeróbio de manta de lodo UASB

O reator UASB desempenha várias funções simultaneamente: como decantador


primário, pois ocorre a sedimentação dos sólidos suspensos do esgoto; como reator biológico
pois ocorre a transformação da matéria orgânica complexa (carboidratos, lipídios e proteínas)
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em produtos mais simples, tais como metano e gás carbônico; como decantador secundário,
pois ocorre a separação da biomassa do esgoto tratado; como digestor de lodo, propriamente
dito, pois ocorre a digestão da parte sólida retida, seja o lodo dos esgotos, como de parte da
própria biomassa presente, produzindo um lodo já estabilizado, requerendo depois somente
secagem, quando do descarte do lodo de excesso, além da separação do biogás produzido.

Algumas características do reator UASB


Construção In loco ou pré-moldado
Custo de construção (sem o terreno) U$ 10,00 a 40,00 per capita (media 20 - 30)
Custo de operação U$ 0,50 a 2,00 per capita/ano (media: 1,0 a 1,5)
Material de construção Concreto armado, alvenaria, aço, fibra de vidro,
etc, desde que estanques e resistentes.
Forma Cilíndrica ou prismático retangular
Altura/profundidade do reator Total: 3 a 6 m, mas podem ter alturas maiores
Compartimento de Decantação: 1,5 a 2,0 m
Compartimento de Digestão: 2,5 a 3,5 m
Tempo de detenção no decantador 1,0 a 2,0 horas
Taxa de aplicação superficial do Qmed = 0,6 –0,8 m/h : 1,5 < θh < 2,0 h
decantador Qmax < 1,2 m/h : θh > 1,0 h
Qpico < 1,6 m/h : θh > 0,6 h
Velocidade nas aberturas para o Qmed : vp < 2,0 a 2,3; Qmax : vp < 4,0 a 4,2
decantador (m/h) Qpico : vp < 5,6 a 6,0
Área de influência do distribuidores 0,50 a 5,0 m2; 2,0 a 3,0 m2 para esgoto sanitário
Tempo de detenção hidráulica, Adotar: h de 6 a 10 horas (vazão média)
esgotos sanitários e T> 20 oC h> 4 (para Q max menor que 6 horas de duração)
Tempo de detenção hidráulica >4,8 horas; 6 h < h < 16 h para T > 20 oC
Carga hidráulica vol.(m3/m3 d) Esgotos sanitários: < 5, (h (min) >4,8 horas )
Carga orgânica volumétrica (COV) Esgotos industriais: até 45 kgDQO/m3d (escala
piloto) mas < 15 kgDQO/m3d, na prática.
Esgotos sanitários: 2,5 a 3,5 kgDQO/m3d
Tempo de detenção celular > 30 dias
Eficiência (esgotos sanitários) (%) DBO: 40 a 75; DQO: 45 a 85
Eficiência (DBO e DQO) Esgotos industriais: 65 a 95 %
Carga orgânica aplicada ao lodo Na partida: 0,3 a 0,4 kgDQO/kgSVT d
Regime permanente até 2,0 kgDQO/kgSVT d
Velocidade ascendente do fluxo para Lodo floculento e COV <6,0 kgCOD/m3 d
esgotos industriais (m/h) Vazão média:0,6 a 0,7; Picos (2 a 4h) <2,0
Velocidade ascendente do fluxo para Vazão média:0,5 a 0,7; Vazão máx.: 0,9 a 1,1
esgotos sanitários (m/h) Picos (2 a 4h) <1,5
Produção de sólidos no sistema, Y 0,11 a 0,23 kg DQOlodo / kg DQOaplicado
(em DQO) e 0,10 a 0,20 kg SST / kg DQOaplicado
Densidade do lodo 1020 a 1040 kg SST/m3
Concentração do lodo de descarte 2 a 5%

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Vantagens e desvantagens do reator UASB


Vantagens Desvantagens
 Sistema compacto, com baixo requisitos  Possibilidade de maus odores
de área  Maior tempo necessário para partida,
 Baixo custo de operação e manutenção quando não dispõe de inóculo adequado
 Baixa produção de lodo  Dificuldade em satisfazer padrões de
 Satisfatória eficiência na remoção de lançamento restritivos.
matéria orgânica  Necessita um pós-tratamento
 Não necessita equipamentos mecânicos  Construção exige proteção especial
 Não necessita meio de suporte para a contra corrosão
retenção da biomassa  Remoção de nutrientes insatisfatória
 Menores volumes de descarte de lodo  Possibilidade de efluente com aspecto
devido à elevada concentração de sólidos desagradável
(2 a 5%)
 Lodo facilmente desidratado

REATOR ANAERÓBIO DE LEITO EXPANDIDO OU FLUIDIFICADO


Consiste de um tanque vertical, em geral cilíndrico e de fluxo ascendente, onde os
microrganismos crescem aderidos a um fino material inerte de suporte, com área superficial
muito grande, que permanece suspenso no reator. Para promover a expansão do leito pode ser
necessária a recirculação do efluente tratado. Dependendo do grau de expansão do leito o
reator é chamado de leito expandido ou fluidificado.
Os reatores de leito expandido ou fluidificado possuem uma alta concentração de
biomassa que pode ser mantido no reator. Adicionalmente, devido a fina espessura do
biofilme, que permite uma alta transferência de massa, praticamente não existe problema de
limitação do substrato. Consequentemente, podem ser aplicados para tratar esgoto diluídos,
tais como esgotos sanitários, com tempo de detenção hidráulico relativamente pequeno.

Desenho esquemático dos reatores de leito expandido e fluidificado.

Algumas características dos reatores de leito expandido ou fluidificado.

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Tipos de esgotos Sanitários e industriais


Construção In loco ou pré-moldado
Material de construção Concreto armado, fibra de vidro reforçado,
etc, desde que estanques e resistentes.
Forma usual Cilíndrica
Unidades complementares e Construção de um poço e de um conjunto
equipamentos motor bomba, para a recirculação
Material inerte de suporte Areia, antracito, terra diatomácea , carvão
ativado etc. desde que inertes, resistentes à
abrasão, atóxico, e com baixa densidade
Diâmetro do material suporte (mm) 0,2 a 2,0
Concentração do esgoto (DQO) 100 a 2000 mg/l
Concentração da biomassa Pode chegar a 40 000 mg/l
Expansão do leito em relação ao leito Leito expandido: 10 a 20 % (quando o
estático inicial aumento da perda de carga é linear ao
aumento da velocidade ascensional)
Leito fluidificado: >30 a 100 % (quando a
perda de carga é constante independente do
aumento da velocidade ascensional)
Altura/profundidade do reator Total: de 3 a valores superiores a 6 m
Tempo de detenção hidráulica para 3 horas
esgotos sanitários e temperatura > 20 oC
Carga orgânica volumétrica (COV) Desde muito baixa até 30 – 60 kgDQO/m3d
(mais comum entre 20 –30 kgDQO/m3d)
Tempo de detenção celular > 30 dias
Eficiência (DQO) Esgotos sanitários: 80 %; Esgotos
industriais 70 a 90 %
Velocidade ascensional do fluxo 10 m/h

Vantagens e desvantagens do reator de leito expandido


Vantagens Desvantagens
 Baixo requisitos de área  Consumo de energia elétrica maior que
 Sistema muito compacto em outros sistemas anaeróbios pois
 Volumes muito pequenos necessita equipamentos mecânicos
 Baixo custo de implantação  Poucos sistemas operando em escala real
 Alta concentração de biomassa  Exige um bom controle operacional
agregada a um material de suporte  Requer operação cuidadosa
denso que permanece no reator  Necessita meio de suporte para o
 Alta eficiência na remoção de desenvolvimento e retenção da biomassa
matéria orgânica  Pode ocorrer longo tempo para a partida
 Pequeno de descarte de lodo  Dificuldade em satisfazer padrões de
 Não apresentam problemas de lançamento restritivos
entupimento, zonas mortas e  Pode necessitar de pós-tratamento
caminhos preferenciais.  Remoção de nutrientes insatisfatória
 Possibilidade de controlar e  Possibilidade de efluente com aspecto
otimizar a espessura do biofilme desagradável

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OUTRAS CONFIGURAÇÕES
Devido ao sucesso obtido com os reatores anaeróbio de alta taxa de aplicação
orgânica, em especial aos reatores de fluxo ascendentes (filtro anaeróbio e UASB), várias
outras configurações de reatores anaeróbios foram e continuam sendo desenvolvidas para o
tratamento dos mais diversos tipos e características de esgotos. Muitas destas novas
concepções apresentando similaridades, sendo muitas vezes consideradas variantes de
reatores de uso já consagrados. A, a maioria dessas novas configurações encontram-se em
estágio de desenvolvimento.

6.3.3. Vantagens e desvantagens dos processos aeróbios e anaeróbios

Principais vantagens dos processos anaeróbios comparados com os aeróbios

 Processos de operação mais estável


 Menor quantidade de biomassa produzida diminuindo custos de disposição final
 Menor quantidade de nutrientes requerida reduzindos os custos operacionais
 Reator de menor volume reduzindo área de implantação e custos fixos de instalação
 Saldo energético positivo pela produção de CH4 e não necessidade de aeração
 Ecologicamente mais vantajoso por não lançar compostos orgânicos voláteis na atmosfera
 Menor necessidade de atenção na operação do sistema reduzindo custos operacionais
 Possibilidade de operar o sistema sazonalmente devido à manutenção da atividade dos
microrganismos por um período mais longo sem alimentação
 Redução dos compostos organoclorados com alto nível de substituição
 Degradação de alguns compostos aerobiamente não biodegradáveis

Principais desvantagens dos processos anaeróbios comparados com os aeróbios

 Longos períodos de posta em marcha dos sistemas para desenvolver uma biomassa ativa
 Necessidade de manter alta a alcalinidade, aumentando os custos operacionais
 Menor porcentual de remoçãoda matéria orgânica resultando em um efluente de pior
qualidade
 Menores taxas de conversão a temperaturas mais baixas
 Produção de compostos que causam mau cheiro como ácidos orgânicos e H2S
 Nitrificação não é possível
 Maior toxicidade das metanogênicas à compostos organoclorados alifáticos
 Alta concentração de NH4 requerida para manter a biomassa ativa podendo comprometer
a qualidade do efluente final

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6.3.4. Remoção de Nitrogênio

O nitrogênio presente nas águas residuárias geralmente se encontra sob as formas de


nitrogênio amoniacal e nitrogênio orgânico. No tratamento biológico uma parte do nitrogênio
orgânico passa para a forma amoníacal pela ação de microrganismos heterótrofos, o qual é
assimilado como nutriente para o crescimento celular. No entanto, quando o nitrogênio está
presente em excesso à quantidade necessária ao crescimento celular, este é liberado na forma
de amônia e/ou despejado em conjunto com os efluentes, provocando a eutrofização.

NITRIFICAÇÃO
A nitrificação é promovida por microrganismos autótrofos que usam o CO2 como
fonte de carbono e quimiossintetizantes (litótrofos) que obtém energia a partir da oxidação da
íon amônia, utilizando o oxigênio como aceptor final de elétrons. Este processo se dá em duas
etapas sucessivas: a primeira a amônia é transformada em nitrito pela ação de bactérias
denominadas Nitrozomonas; e na segunda o nitrito é transformado em nitrato pelas bactérias
Nitrobacter. As equações abaixo representam as duas etapas do processo.

Primeira etapa:

NH4+ + 3/2 O2 NO2- + 2 H+ + H2O

Segunda etapa:

NO2- + 1/2 O2 NO3-

Soma das etapas:

NH4+ + 2 O2 NO3- + 2 H+ + H2O

Associando as equações de obtenção de energia acima com a de produção de


biomassa, teremos a reação total como se segue:

NH4+ + 1,83 O2 + 1,98 HCO3-  0,021 C5H7O2N + 0,98 NO3- + 1,041 H2O 1,88 H2CO3

Esta equação indica em primeiro lugar que é utilizado grandes quantidades de


alcalinidade (HCO3-) durante a oxidação do nitrogênio amoniacal (NH4+), aproximadamente
8,63 mg HCO3-/ mg N- NH4+. A maior parte da alcalinidade será necessária para neutralizar
os íons de hidrogênio liberados durante a oxidação. Si não existir alcalinidade suficiente
disponível, a nitrificação será afetada pela queda de pH. Além disso, o requerimento de
oxigênio será de aproximadamente 4,18 mg O2/ mg N- NH4+ oxidado. No entanto, se fizermos
os cálculos somente pela nitrificação (equação da soma das etapas), sem a fração para o
crescimento celular, a relação será de 4,57 mg O2/ mg N- NH4+ oxidado, valor este que é
usualmente empregado para cálculos de projeto.
Os processos de nitrificação podem ser classificados de acordo com o grau de
separação existente entre a remoção de carbono e a oxidação de amônio a nitrato. Neste caso
pode-se diferenciar entre tratamento em etapa única (processos combinados) e etapas
separadas (processos diferenciados). Além disso, pode-se distinguir entre processos de cultura
em suspensão e de película fixa. Os processos em suspensão são identicos ao de lodos
ativados e os de película fixa aos filtros biológicos ou biodiscos. Qualquer processo poderá
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ser executados em etapa única ou separadas, podendo haver combinação entre eles. Caso haja
muita matéria orgânica no efluente, pode-se fazer um lodo ativado para remover a matéria
orgânica, seguido de um biofiltro para converter a amônia.
Os microrganismos nitrificantes encontram-se em quase todos os sistemas de
tratamento biológico aeróbios. No entanto, nestes sistemas onde há disponibilidade de matéria
orgânica, a massa de micorganismos nitrificantes (autótrofos) produzida por unidade de
substrato é inferior a dos microrganismos heterótrofos, promovendo um desequilíbrio na
distribuição destas populações, prejudicando a nitrificação. Um fator de importância nestes
sistemas é a relação DBO5/NTK, representada na Figura abaixo.
Quando a relação é maior que 5, o processo é dito combinado, e se for inferior a 3 o
processo pode ser considerado em etapas separadas.

Como nos processo de remoção de matéria carbonácea, os processos de nitrificação


possuem suas características próprias em função da temperatura e do pH do meio. As Figuras
abaixo apresentam estas relações.

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Algumas recomendações são feitas pela literatura para projeto e operação dos
processos de nitrificação em suspensão:

 Manter um fator de segurança mínimo de 2 para o tempo de retenção celular afim de


absorver sobrecargas sem que haja fuga do NH4+
 Manter o oxigênio dissolvido sempre acima de 2 mg/l
 Manter o pH na faixa de 7,8 a 9,0. Para isso, deve-se manter a alcalinidade em 7,14 mg
CaCO3/l para cada mg/l de NH4+ oxidado
 Estimar a velocidade máxima de crescimento de microrganismos para as condições mais
adversas em termos de pH, temperatura e oxigênio dissolvido
 Definir a concentração N- NH4+ oxidado admissível no efluente
 Estabelecer o tempo de retenção hidráulico necessário para alcançar a concentração de N-
NH4+ definida
 Definir a taxa de utilização de substrato quando se emprega um processo de nitrificação
combinado ou de etapa única

Enquanto que em processos de lodo suspensos o parâmetro de projeto está baseado na


concentração de biomassa dentro do reator, através da recirculação dos lodos do decantador
secundário, os processo de película fixa baseiam-se na área superficial disponível para o
desenvolvimento do biofilme. Na realidade estes valores são empíricos e aplicados para os
vários tipos de processos existentes. Um exemplo pode ser verificado na Figura abaixo, onde
apresenta um gráfico da área superficial requerida em função da concentração de amônia no
efluente, para uma dada concentração de entrada, e em função da temperatura. Maiores
informações específicas de cada processo deve ser consultada a literatura.

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DENITRIFICAÇÃO
A denitrificação é a conversão do íon nitrato a compostos gasosos, principalmente o
nitrogênio por microrganismos anaeróbios que utilizam o nitrato como aceptor final de
elétrons e necessitam de fonte de carbono orgânico (heterótrofos). Os principais
microrganismos conhecidos que realizam a denitrificação são: Achronobacter, Aerobacter,
Alcaligenes, Bacilus, Brevibacterium, Flavobacterium, Lactobacilus, Pseudomonas e
Spirilum. As reações são realizadas em etapas, convertendo primeiramente o nitrato a nitrito e
depois em compostos gasosos como o NO e o N2O, que por sua vez são transformados em
nitrogênio gasoso. As etapas metabólicas deste processo são pouco conhecidas.

NO3-  NO2-  NO  N2O  N2

Durante a denitrificação, alcalinidade é produzida pela degradação da matéria orgânica


convertida a CO2, promovendo o aumento do pH do meio ficando na faixa ótima entre 7 e 8.
Como há necessidade de fonte de carbono, o processo deve ser operado de tal forma
que haja ainda carbono suficiente, ou adicionar uma fonte externa, como por exemplo o
metanol.
As velocidades de denitrificação reportadas na literatura variam entre 0,075 a 0,115 kg
N-NO3-/kg SSV dia a 20oC, quando não ouver limitação de fonte de carbono.

PROCESSOS COMBINADOS PARA NITRIFICAÇÃO/DENITRIFICAÇÃO


Normalmente os processos de denitrificação são acoplados aos processos de
nitrificação. Devem-se dispor os reatores para atender as necessidades de cada um
separadamente. Existem vários de processos descritos na literatura, arranjados de tal forma
que atenda a estas exigências dos processos. Um esquema simplificado do conceito de um
processo de remoção de nitrogênio é apresentado abaixo.

Recirculação de líquido

Afluente Efluente
Anaeróbio Aeróbio

Recirculação de lodo

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6.3.5. Remoção de Fósforo

O Fósforo presente nas águas residuárias, quer seja na forma iônica ou complexada,
encontra-se geralmente como fosfato. Em esgoto sanitário, o fósforo orgânico aparece
principalmente como fósforo orgânico, polifosfatos e ortofosfatos.
Durante a década de 60 foi observado que alguns sistemas de tratamento de esgotos
nos EUA apresentavam remoção de fósforo superior àquela requerida pelo metabolismos
bacteriano nos processos de lodo ativado.
Desde então, por décadas houve controvérsias sobre os mecanismos envolvidos na
remoção do excesso de fósforo. Após dois Congressos realizados, 1982/1984 África do
Sul/Paris, sobre a remoção de fósforo prevaleceu a idéia de remoção biológica.
Na década de 70 a África do Sul começa a experimentar o conceito de LUXURY
UPTAKE OF PHOSPHOROUS, que foi primeiramente demonstrado em Santo
Antonio/Texas (1967) quando o processo biológico mostrou a capacidade de remoção de
fósforo em grandes quantidades.
Esta capacidade dos microrganismos foi descoberta acidentalmente, quando em uma
planta de lodos ativados, os aeradores da 1a sessão estavam obstruídos de forma que os
microrganismos trabalharam primeiramente em condições com baixas concentrações de O2 e
em uma segunda etapa em um reator aerado e com isto observou-se uma grande remoção de
fósforo.
A microbiologia deste sistema está relacionada com a capacidade de adaptação de um
microrganismo. Este processo usa de uma etapa de fermentação anaeróbia, uma sessão
anóxica e uma seção aerada. No entanto, há mais de 25 variações deste processo para retirada
de nutrientes.
O efluente mais o lodo reciclado são misturados no reator de fermentação, onde dois
tipos de microrganismo tem atividade. Primeiro a bactéria anaeróbia fermenta a matéria
orgânica com a produção de moléculas orgânicas menores. Esses produtos são usualmente
produzidos no processo anaeróbio.
Há, então uma DBO presente no início da etapa anaeróbia. O 2o tipo de microrganismo
presente no reator anaeróbio é necessariamente uma bactéria aeróbia, que consegue
sobreviver por certos períodos de tempo em condições anóxicas. Esta bactéria específica
armazena energia na forma de polifosfato. Para tanto, elas obtém energia para manutenção da
sua vida pela quebra das ligações fosfato do polifosfato armazenado e liberam fosfato de
dentro da célula para a água (meio).
Estas bactérias (bactérias polifosfato) possuem esta capacidade e sobrevivem,
enquanto que outras bactérias, exclusivamente aeróbias, podem morrer.
A bactéria polifosfato se alimenta dos produtos formados na fermentação,
especificamente álccois e ácidos orgânicos pequenos, armazenando-os, e quebram o
polifosfato armazenado liberando o fosfato para a água para obter energia. Em ambientes não
aerados essa é a sua forma de sobrevivência. Estas bactérias armazenam a matéria orgânica
para uma utilização futura.
Enquanto tudo isso está acontecendo com as bactérias anaeróbias e as
obrigatoriamente aeróbias, uma bactéria facultativa está presente.
Se o efluente possuir também o nitrogênio para ser retirado, após a passagem pelo
reator anaeróbio há uma seção anóxica onde ocorre denitrificação, liberando N2. Nesta seção

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as bactérias anaeróbias e as obrigatoriamente aeróbias sobrevivem, como se fosse um


metabolismo basal.

Após a denitrificação o efluente é descarregado em um reator aerado. Na seção aerada


os microrganismos facultativos funcionam aerobicamente degradando a DBO. Bactérias
nitrificantes agem. As bactérias anaerobias sobrevivem.
A bactéria polifosfato que finalmente está em um ambiente aeróbio, pode agora
degradar a matéria orgânica acumulada durante a fase anaeróbia. Elsa produzem energia para
o crescimento e reprodução, mas transferem grande quantidade desta energia para armazenar
polifosfato. Elas se preparam para um período futuro anaeróbio pegando todo o fosfato por
elas mesmo liberado durante o período anaeróbio e mais o fosfato presente no efluente. Então
ela acumula fosfato adicional.
Após este período há a seção do clarificador onde parte dos microrganismos volta para
o reator anaeróbio. A parte dos microrganismos que será descartada contém alta concentração
de fosfato, na forma de polifosfato. Então o fosfato é biologicamente removido no processo.
Estas plantas, quando bem operadas, produzem um efluente com concentração inferior
a 1 mg/L de fosfato.

REMOÇÃO COMBINADA DE CARBONO, NITROGÊNIO E FÓSFORO


A remoção de fósforo e de nitrogênio normalmente vem combinada com a remoção da
matéria orgânica. A remoção destes nutrientes pode ser alcançada arranjando os reatores e a
retirada de lodos do sistema. Mais uma vez, existem vários processos para alcançar estes

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objetivos em comum. A Figura abaixo apresenta um desenho esquemático do processo


BARDEMPHO de 5 etapas.

Phoredox / Bardenpho modificado

Sistema BARDENPHO em 5 etapas


0,5Q

Q
Efluente

Ana Anox Aero Anox Aero

Descarte
Recirculação 0,5 Q
de lodo

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APHA, AWWA, WEF. (1995). Standard methods for the examination of water
and wastewater. 19th. edn. American Public Health Association, Washington, DC,.
Fonte: www.riolagos.com.br/calsj/ciclo-agua.htm
Mota, S. Introdução á engenharia ambiental. 1a ed. ABES, 1997. 286 p.
Resolução no 357, de 17/03/2005do CONAMA.
Von Sperling, E. Princípios do Tratamento Biológico de Águas Residuárias:
Introdução à Qualidade das Águas e ao Tratamento de Esgotos. vol 1, 2a ed. Universidade
Federal de Minas Gerais, 1996. 243 p.
CETESB. Guia de coleta e preservação de amostras de água. Agudo, E.G., São
Paulo: CETESB, 1987.
Vitoratto, E.. II Curso de Tratamento Biológico de Resíduos. São Paulo: IPT -
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, 1993.

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