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APOSTILA
TRATAMENTO DE EFLUENTES
5. TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO
5.1. Pré-Tratamentos (pré-oxidação, ajuste de pH e abrandamento)
5.2. Coagulação/Floculação
5.3. Decantação/Flotação
5.4. Filtração
5.5. Desinfecção
5.6. Fluoretação
5.7. Ajuste final
5.8. Outros Processos de Tratamento Físico-Químicos
6. TRATAMENTO BIOLÓGICO
6.1. Microbiologia e Bioquímica
6.2. Parâmetros de Controle de Processo
6.3. Sistemas de Tratamento
6.3.1. Sistemas Aeróbios
6.3.2. Sistemas Anaeróbios
6.3.3. Vantagens e desvantagens dos processos aeróbios e anaeróbios
6.3.4. Remoção de Nitrogênio
6.3.5. Remoção de Fósforo
Apostila para o Curso de Graduação em Engenharia Química – Disciplina de Engenharia Ambiental EQA 5309 1
1.1. Introdução
No Brasil, o conceito de poluição é definido por lei (Lei n.º 6.938/81, art. 3º, III),
como sendo a degradação da qualidade ambiental resultante de atividade que direta ou
indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.
Na realidade, poluição é um conceito relativo, pois a água em seu estado natural varia
suas características enormemente de uma fonte para outra, podendo enquadra-se em
condições de usos diversos. Determinados mananciais naturais possuem características que já
são impróprias para o consumo humano, ou até mesmo para usos menos exigentes, como a
irrigação de hortaliças e plantas, necessitando serem tratadas previamente para tais usos.
Nesta análise deve-se considerar que devido ao ciclo hidrológico, aos movimentos das águas
em seus mananciais, as interações das águas com os meios sólidos e gasosos promovem
alterações em sua composição, no sentido de promover a sua deterioração ou depuração, ou
até mesmo uma associação entre ambos, dependendo do caso em questão. A poluição então
está associada à alteração das condições naturais em um determinado manancial que se
encontra em equilíbrio ambiental. Os efeitos adversos provocados pela qualidade da água para
um determinado fim serão resultantes das condições naturais do manancial e da interferência
promovida pelo homem no mesmo.
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Transpiração
Escoamento superficial
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105o
+H H+
O
−
Figura 1.2: Molécula da água
À medida que vão sendo introduzidos outros elementos às moléculas de água estes vão
conferindo propriedades que podem afastá-la de suas características originais. Segundo Mota
(1997), as condições naturais de ocorrência da água são determinadas através de diversos
parâmetros, representando suas características físicas, químicas e biológicas, conforme
discriminadas a seguir:
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Tabela 1.2: Classificação das águas segundo seus usos principais, de acordo com a Resolução
no 357, de 17/03/2005 do CONAMA.
CLASSE USOS
Classe Abastecimento para consumo humano com desinfecção
Especial Preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas
Preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação e
proteção integral
Classe 1 Abastecimento doméstico, após tratamento simplificado
Preservação das comunidades aquáticas
Recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e
mergulho, conforme resolução do CONAMA no 274 de 2000.
Irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se
desenvolvem rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de
película
Proteção das comunidades aquáticas em terras indígenas
Classe 2
Abastecimento doméstico, após tratamento convencional
Preservação das comunidades aquáticas
Recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e
mergulho, conforme resolução do CONAMA no 274 de 2000.
Irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins e campos de
esporte e lazer, com os quais o público possa a vir a ter contato direto
Aqüicultura e atividade de pesca
Classe 3
Abastecimento e consumo humano, após tratamento convencional
Irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras
Pesca amadora
Recreação e contato secundário
Dessedentação de animais
Classe 4
Navegação
Harmonia paisagística
Tabela 1.3: Alguns parâmetros para as classes de água doces de acordo com a Resolução no
357, de 17/03/2005do CONAMA.
CLASSE
PARÂMETROS (LIMITES)
ESPEC 1 2 3 4
Coliforme Termotolerante * 200(1) 1000 2500(2) -
(3)
(ou E. coli) (NMP/100 ml) 1000
4000(4)
Óleos e Graxas (mg/l) * ... ... ... Irrid.
DBO (mg/l) * 3,0 5,0 10,0 -
OD (mg/l) * 6,0 5,0 4,0 2,0
Turbidez (UNT) * 40 100 100 -
PH * 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0
Nitrito (mg/l) * 1,0 1,0 1,0 -
Nitrato (mg/l) * 10,0 10,0 10,0 -
residuos sólidos * ... ... ... ...
corantes * ... ... ... -
Materiais flutuantes * ... ... ... ...
Odor ou sabor * ... ... ... -
Sólidos dissolvidos totais * 500 500 500 -
(mg/L)
Cor (mg Pt/L) * - 75 75 -
OBS: * devem ser mantidas as características originais da água na origem; ... virtualmente
ausente; - não existe padrão; Irid. toleram-se iridescências
(1)
para demais usos que não seja de recreação (esta definida pela Resolução do CONAMA no
274de 2000)
(2)
recreação (3) dessedentação (4) demais usos
PADRÕES DE POTABILIDADE
Os padrões de potabilidade são definidos pela Portaria no 30/90 do Ministério da
Saúde e os seus valores estão apresentados na Tabela 1.4, além dos seguintes parâmetros:
- pH entre 6,5 e 8,5
- Coliformes fecais: ausência em 100 ml de amostra
- Cloro residual livre: concentração mínima de 0,2 mg/l em qualquer ponto da rede
distribuidora
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Tabela 1.4: Valores máximos permissíveis (VMP) para as características da água potável
(Portaria no 36 de 19/01/90 do Ministério da Saúde).
CARACTERÍSTICAS UNI VMP CARACTERÍSTICAS UNI VMP
D D
I.Físicas e Heptacloro g/l 0,1
Organolépticas uH (1) 5 (3) Hexaclorobenzeno g/l 0,001
Cor aparente ñ obje. Lindano g/l 3
Odor ñ obje. Metoxicloro g/l 30
Sabor uT (2) 1 (4) Pentaclorofenol g/l 10
Turbidez
Tetracloreto de carbono g/l 3
II. Químicas Tetracloroeteno 10
g/l
IIa. Componentes Toxafeno 5,0
g/l
Inorgânicos mg/l 0,05 Tricloroeteno 30
g/l
Arcênio mg/l 1,0 Trihalometanos 100 (6)
Bário mg/l 0,005 g/l
Cádmio mg/l 0,05
Chumbo mg/l 0,1
1,1 Diclororeteno g/l 0,3
1,2 Dicloroetano g/l 10
Cianetos mg/l 0,05
(5) 2,4,6 Triclorofenol g/l 10 (7)
Cromo total mg/l
Fluoretos mg/l 0,001 IIb. Componentes que
Mercúrio mg/l 10 afetam a qualidade
Nitratos (N) mg/l 0,05 organoléptica
Prata mg/l 0,01
Selênio Alumínio mg/l 0,2 (8)
Agentes tensoativos mg/l 0,2
IIb. Componentes Cloretos (Cl) mg/l 250
Cobre 1,0
Orgânicos g/l 0,03 mg/l
Dureza total (CaCO3) mg /l 500
Aldrin e Dieldrin g/l 10
Ferro total mg/l 0,3
Benzeno g/l 0,01
Manganês 0,1
Benzeno-a-pireno mg/l
Sólidos totais dissolvidos mg/l 1000
Clordano (total de g/l 0,3
Sulfatos (SO4) 400
isômeros) 1 mg/l
g/l Zinco 5
DDT 0,2 mg/l
g/l
Endrin
(1) uH é a unidade de escala de Hazen (de platina - cobalto).
(2) uT é a unidade de turbidez, seja unidade de Jackson ou nefelométrica
(3) Para a cor aparente o VMP é 5 (cinco) uH para água entrando no sistema de distribuição.
O VMP de 15 (quinze) uH é permitido em pontos da rede de distribuição.
(4) Para a turbidez o VMP é 10 uT para a água entrando no sistema de distribuição. O VMP
de 5,0 uT é permitido em pontos da rede de distribuição se for demonstrado que a desinfecção
não é comprometida pelo uso desse valor menos exigente.
(5) Os valores recomendados para a concentração do íon fluoreto em função da média das
temperaturas máximas diárias do ar deverão atender à legislação em vigor.
(6) Sujeito à revisão em função dos estudos toxicológicos em andamento. A remoção ou
prevenção de trihalometanos não deverá prejudicar à eficiência da desinfecção.
(7) Concentração limiar de odor de 0,1 ug/L
(8) Sujeito à revisão em função de estudos toxicológicos em andamento.
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Várias são as fontes de poluição das águas e seus efeitos nocivos ao homem. Estas
fontes podem ser pontuais ou difusas. As fontes pontuais geralmente possuem elevadas
concentrações de poluentes descarregadas em um único ponto, como a descarga de uma água
residuária industrial em um rio local. Já as fontes difusas, geralmente são diluídas e
distribuídas em vários pontos do manancial, como a drenagem pluvial de defensivos
agrícolas.
As conseqüências da poluição hídrica envolvem: prejuízos ao abastecimento humano,
tornando-se veículo de transmissão de doenças; prejuízos a outros usos da água, tais como
industrial, irrigação, pesca, recreação, etc.; agravamento dos problemas de escassez de água
de boa qualidade; elevação do custo do tratamento da água, refletindo-se no preço a ser pago
pela população; assoreamento dos mananciais, resultando em problemas de diminuição da
oferta de água e de inundações; prejuízos aos peixes e a outros organismos aquáticos;
desequilíbrios ecológicos; proliferação excessiva de algas e de vegetação aquática, com suas
conseqüências negativas; degradação da paisagem; desvalorização das propriedades
marginais; impactos sobre a qualidade de vida da população
A seguir são apresentadas algumas das principais fontes de poluição das águas, a sua
origem e suas conseqüências:
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fluxo do rio
Oxigênio
Dissolvido
(OD)
Demanda
Bioquímica
de Oxigênio
(DBO)
Conc. Celular
(bactérias aeróbias
heterotróficas)
Comprimento do rio
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Vazão
A vazão é um dos principais parâmetros que irá definir o tamanho dos tanques que
irão compor a planta de tratamento. Deve-se verificar a sua variação ao longo de um período
de trabalho para que se possa definir a necessidade de promover sua equalização. O projeto de
uma planta de tratamento poderá considerar a vazão de pico ou poderá, após um tanque de
equalização, ser utilizada a vazão média para os cálculos.
pH
O pH, como visto anteriormente, é essencial tanto para regular as reações químicas
como as reações bioquímicas. Altera o equilíbrio das reações, influencia as interações físico-
químicas de adsorção, modifica a conformação de enzimas, interfere no transporte de íons
para dentro de células vivas, altera o estado de oxidação de compostos químicos dissolvidos,
além de ser muito importante na seleção de materiais de construção de tanques com relação
aos seus efeitos corrosivos. Muitos processos podem ter necessidade de correção do pH antes
de sua introdução no tanque de reação e outros serão modificados à medida que as reações
ocorrem, havendo necessidade de um monitoramento e correção contínuos. Este é um dos
parâmetros que se pode facilmente medir e controlar on-line em plantas de tratamento mais
sofisticadas.
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Temperatura
A temperatura é um parâmetro muito importante. De forma equivalente ao pH, a
temperatura influi na velocidade das reações químicas e bioquímicas, influi na estabilidade
das enzimas e modifica as propriedades do meio, como viscosidade e densidade. A
temperatura também pode ser medida e monitorada facilmente em plantas de tratamento de
efluentes.
Sólidos em suspensão:
A presença de sólidos em suspensão na água residuária deve ser analisada com
cuidado, dependendo de sua natureza. Se os sólidos forem majoritariamente inorgânicos estes
devem ser removidos antes de serem alimentados para o sistema de tratamento propriamente
dito, pois poderão provocar o assoreamento e abrasão dos equipamentos subseqüentes. Como
estes já se encontram num estado da matéria de fácil separação, o uso da força da gravidade
através uma câmara de sedimentação é uma opção adequada para sua remoção. Caso os
sólidos sejam de origem orgânica, a necessidade de separá-los dependerá de sua concentração
e do processo de tratamento que será utilizado. Normalmente estes são separados em
sedimentadores e tratados de forma independente da matéria orgânica dissolvida, pois existem
tecnologias mais adequadas para cada tipo de resíduo;
Óleos e graxas:
As gorduras (óleos e graxas) são contaminantes presentes em vários efluentes,
principalmente aqueles originados na indústria de alimentos. Primeiramente, deve-se avaliar a
potencialidade de seu reuso como matéria prima de uma série de produtos, como na
fabricação de sabão e na indústria de cosméticos. A sua presença nos processos subseqüentes
trás uma série de problemas operacionais, devido às características de aderência às superfícies
que possui este material, aumentando a manutenção dos equipamentos e diminuindo a
eficiência da degradação dos compostos solúveis em água. A sua remoção é também
facilitada pela diferença de densidade entre estes e a água, sendo a flotação a alternativa
comumente usada;
Matéria orgânica:
O tipo de matéria orgânica e sua concentração devem ser analisados para auxiliar na
escolha do sistema a ser utilizado. Como será visto nos capítulos subseqüentes, uma série de
fatores irão influenciar na decisão de que tipo de processo deva ser melhor aplicado em cada
caso, seja processos aeróbios ou anaeróbios. A tendência atual é a aplicação dos dois
processos, um seguido do outro, para aproveitar as vantagens de ambos, sendo o primeiro
considerado o tratamento principal e o segundo como polimento;
Nutrientes:
Os nutrientes de importância são aqueles necessários em grandes quantidades para o
crescimento dos microrganismos (macronutrientes), como o nitrogênio, o fósforo e o enxofre.
Existem métodos físico-químicos para a remoção destes compostos, como a precipitação e a
volatilização (striping), no entanto, recentemente estão sendo desenvolvidos processos
biológicos de remoção destes compostos, que também são combinações de processos aeróbios
seguidos de anaeróbios, ou vice-versa. Por outro lado, se estes compostos estiverem presentes
em quantidades insuficientes para sustentar o crescimento dos microrganismos desejáveis ao
processo de degradação, estes devem ser adicionados em quantidades suficientes para este
fim;
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Microrganismos patogênicos:
Os esgotos domésticos, por sua origem, possuem microrganismos patogênicos,
indicados pelos coliformes fecais. Após todo o processamento das águas residuárias um
elevado grau de inativação destes microrganismos foi realizado, no entanto, normalmente não
é suficiente para removê-los aos níveis exigidos pela legislação. Um tratamento por oxidação
química normalmente é empregado para atingir os níveis exigidos.
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Gradeamento
Reciclo de lodo
Pós-Tratamento
(remoção de
Leito de secagem Biodigestor nitrogênio e fósforo
e/ou desinfecção)
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Da mesma forma que para o esgoto sanitário, a Tabela 1.7 apresenta as principais
características de algumas águas residuárias industriais.
Como pode ser observada na tabela acima a composição de uma água residuária
industrial depende em muito do tipo de produção na indústria e é muito diferente das
características encontradas nos esgotos domésticos. As possibilidades de processos para o
tratamento destes efluentes são várias e dependerá muito da experiência prévia com a água
residuária em questão, devido às particularidades não só da produção, mas das práticas
cotidianas da fábrica. A composição de uma planta de tratamento de águas residuárias é
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complexa e depende de uma série de decisões, podendo variar muito de um projetista para
outro. A título de ilustração, a Figura 1.5 apresenta um fluxograma genérico para o tratamento
de efluentes industriais.
Uma prática comum realizada no passado e que hoje é evitada, ou não recomendada, é
a mistura dos efluentes industriais com os esgotos sanitários, devido a uma série de problemas
associados, como diluição dos compostos tóxicos dificultando o seu tratamento. No entanto,
não é incomum tratar o efluente industrial e depois lançá-lo na rede de esgotos municipal para
sofrer um polimento final.
Tanque de
Efluente Equalização Tratamento
Pré-Tratamento Decantador
Industrial Físico-Químico Biológico
Peneira
Pós-Tratamento
Biológico ou
Leito de Secagem Físico-Químico
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2.1. Introdução
2.2. Planejamento
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2.4.1. Congelamento
É um método de preservação que pode ser aplicado para aumentar o intervalo de
tempo entre a coleta e a análise, para a maior parte dos parâmetros de composição química.
Não pode ser usado para a determinação do teor de sólidos filtráveis e não filtráveis ou de
qualquer parâmetro nessas frações, pois os componentes dos resíduos em suspensão se
alteram com o congelamento e posterior descongelamento.
2.4.2. Refrigeração
É usada quando outras técnicas não podem ser empregadas, como no caso de análises
microbiológicas e algumas determinações químicas e biológicas.
Tabela 2.2 - Parâmetros para caracterização de efluentes por atividade industrial: Al. =
alimentícia; Beb. = bebidas; Cel. = celulose; Cur. = curtume; Sid. = siderúrgica; Tex. = têxtil
(Vitoratto, 1993).
Parâmetro Al. Beb Cel Cur Sid Tex. Parâmetro Al. Beb Cel Cur Sid Tex.
N-NH3 x x x x Óleos e graxas x x x x x x
Cianeto x pH x x x x x x
Cloreto x x x ST / SV x x x x x
Cromo x x x Sólidos Sed. x x x x x x
DBO x x x x x x SST/SSV x x x x x x
DQO x x x x x x Sulfeto x x x x x
Fenóis x x Temperatura x x x x x x
N total x x x
N nitrato x x
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3.1. Introdução
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Características Físico-Químicas
Temperatura: que utiliza sensor de temperatura
Turbidez: determinada pela refração da luz
Cor: determinada por colorimetria ou visual
Odor: determinada por sensibilidade ao olfato
Sabor: determinada por sensibilidade degustativa
Sólidos totais: determinada por gravimetria
Organismos patogênicos
Tubos múltiplos: método estatístico, baseado na indicação da presença/ausência do
microrganismo em um meio de cultura específico, utilizando a técnica de diluições em
série e expressando os resultados como número mais provável (NMP)
Ovos de helmintos
3.2.1. Sólidos
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SÓLIDOS TOTAIS
Os sólidos totais (ST) expressam a quantidade total de compostos orgânicos e
inorgânicos, solúveis e em suspensão contidos na amostra.
A análise de sólidos totais é realizada através da pesagem da amostra em cadinho de
porcelana previamente tarado e evaporação da água contida em uma estufa a 105 oC durante 2
horas. Dependendo da amostra o tempo de secagem pode ser superior,sendo recomendado se
possível que a amostra fique durante a noite na estufa a esta temperatura para depois seguir
com o procedimento analítico. Após a retirada da amostra da estufa,esta deve ser esfriada a
temperatura ambiente antes da pesagem devendo-se promover o resfriamento em um
dessecador para evitar a rehidratação da amostra. O peso do cadinho depois da secagem
menos o peso inicial representa a umidade da mesma e o restante da massa os sólidos totais
(ST). Os sólidos toais são expressos em [gST/L].
Nesta determinação compostos orgânicos voláteis podem ser eliminados e
considerados como sendo parte da umidade.
SÓLIDOS VOLÁTEIS
Dando prosseguimento à determinação de sólidos totais, procede-se a análise de
sólidos voláteis (SV). A amostra depois de seca na estufa é calcinada a 550 oC durante 2
horas. Novamente, resfria-se o cadinho com a amostra calcinada em dessecador para que a
mesma não se rehidrate. O peso do cadinho depois da calcinação menos o peso depois da
secagem representa os sólidos voláteis (SV), ou seja a massa de matéria orgânica que foi
transformada em CO2 e H2O.
Outros compostos inorgânicos podem ser oxidados a compostos gasosos interferindo
no resultado final da análise.
Os sólidos voláteis são utilizados para medir a concentração de matéria orgânica e a
relação SV/ST indica a fração de matéria orgânica contida na amostra. Normalmente estes
sólidos são expressos em [%ST].
SÓLIDOS FIXOS
A diferença entre os sólidos totais e os sólidos voláteis são os chamados sólidos fixos
(SF) ou cinzas. Corresponde aos compostos inorgânicos contidos nas amostra.
SÓLIDOS SEDIMENTÁVEIS
Uma outra informação importante relativa aos sólidos em suspensão é com relação à
sua facilidade com que estes sedimentam.
O teste para realizar a sedimentabilidade dos sólidos é feita em um frasco de 1 litro,
que tem um formato cônico e graduado, denominado de cone de imhoff, conforme
apresentado no Figura 3.1. O frasco é preenchido até a marca de 1 L e espera-se 30 minutos
para sua sedimentação. Após o tempo decorrido faz-se a leitura do volume de sólidos
sedimentados neste período. A unidade de medida dos sólidos sedimentáveis é expressa em
[mL/L].
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(CaHbOc) + Cr2O72- + H+ Cr3+ + CO2 + H2O (equação 3.1)
amarelo verde
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Preparo
Inicialmente deve-se ter uma idéia da ordem de grandeza da concentração de matéria
orgânica que contém a amostra, pois este é um teste que necessitará fatalmente de uma
diluição quando for determinada em amostras de efluentes brutos. Como pode ser observado
na Tabela 1.6, a DBO de um esgoto sanitário é de 350 mg/L. Sabe-se também que se
consegue dissolver aproximadamente 7,5 mg/L de oxigênio na água natural dessalinizada a
uma temperatura de 20 oC (APHA, AWWA, WQF, 1998). Portanto, deve-se diluir a amostra
minimamente 40 vezes para que haja suficiente oxigênio para oxidar toda a matéria orgânica.
Neste caso, esgoto bruto, é indicado que se faça ao menos diluições até 10-3 para realizar o
teste. Estas diluições são feitas usando-se soluções salinas de tal forma que não permita o
rompimento celular pelo equilíbrio da pressão osmótica entre as células e o meio de diluição.
Inoculação
Normalmente, as águas naturais e residuárias possuem microrganismos suficientes
para realizar a degradação da matéria orgânica conforme o método está estabelecido. No
entanto, quando se tem um efluente que contenha compostos que podem promover toxicidade
aos microrganismos deve-se utilizar um inoculo de uma fonte de microrganismos que esteja
adaptada ao efluente específico. Este procedimento é um ponto de muita discussão, sobre
como proceder a inoculação e de sua efetividade, no momento de utilizar os resultados do
ensaio.
Incubação
Os frascos inoculados devem ser mantidos em uma estufa incubadora a uma
temperatura de 20oC por um período de 5 dias. Períodos diferentes de 5 dias podem ser
realizados dependendo da necessidade e do objetivo do ensaio.
Determinação
Mede-se o oxigênio dissolvido na amostra no início e no final do ensaio após a
incubação, utilizando-se titulometria ou potenciometria. A série de diluições da amostra que
apresentar o oxigênio dissolvido final na mesma fique na faixa entre 1 a 5 mgO2/L será
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2o estágio (nitrificação)
DBO mg/l
1o estágio
(DBO carbonácea)
10 20 30 40 50 60
Constituintes Microbiológicos
Sólidos suspensos voláteis: gravimetria
Microscopia: contagem direta de microrganismos.
Compostos indicadores: ex. clorofila (spectrometria ou fluorometria), ATP
(bioluminescência), etc.
Plaqueamento em meio específico: contagem de unidades formadoras de colônias (UFC)
Tubos múltiplos: método estatístico, baseado na indicação da presença/ausência do
microrganismo em um meio de cultura específico, utilizando a técnica de diluições em
série e expressando os resultados como número mais provável (NMP)
Técnicas modernas de identificação e quantificação de microrganismos por
seqüênciamento de DNA: FISH e PCR
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TRATAMENTO BIOLÓGICO
PRECIPITAÇÃO/PRÉ-OXIDAÇÃO Oxidante
FLOCULAÇÃO
FLOTAÇÃO DECANTAÇÃO
Oxidante
Auxiliar de filtração
OUTROS PROCESSOS
FILTRAÇÃO
DE TRATAMENTO
FÍSICO-QUÍMICO
Adsorão
Troca iônica DESINFECÇÃO Desinfetante
Eletrólise
Eletrodiálise
Separação por
membranas FLUORETAÇÃO Flúor
Oxidação avançada
Correção e ajuste
CORREÇÃO DE pH de pH
ÁGUA TRATADA
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5. TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO
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1
Mole: < 55 mg/L; levemente dura: 56 a 100 mg/L; moderadamente dura: 101 a 200 mg/L; muito dura: >200
mg/L.
2
Podem ser removidas por simples aquecimento.
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5.2. Coagulação/Floculação
A finalidade da coagulação e floculação é transformar as impurezas que se encontram
em suspensão fina, em estado coloidal ou em solução, além de bactérias, protozoários e/ou
plâncton, em partículas maiores (flocos) para que possam ser removidas com maior facilidade
por processos subseqüentes. Esta etapa é a parte mais delicada do tratamento de águas, pois,
se houver alguma falha implicará em grandes prejuízos à qualidade e ao custo do produto
distribuído à população.
As partículas presentes nas águas, na faixa de pH em que normalmente são
encontradas (5-10), encontram-se carregadas negativamente. Estas cargas negativas atraem os
íons positivos dissolvidos na água formando uma camada com predominância de cargas
positivas em volta das partículas, formando uma camada compacta, e diluindo seus efeitos à
medida que aumenta a distância da partícula (Teoria da Dupla Camada). As partículas
possuindo cargas elétricas iguais se repelem, tornando o sistema estável. O processo de
coagulação é aquele que desestabiliza as cargas das partículas, permitindo a aproximação
umas das outras e assim formando flocos num processo chamado de floculação.
Potencial Zeta: é a medida do potencial elétrico entre a superfície externa da camada
compacta que se desenvolve ao redor da partícula e o meio líquido em que ela está inserida. O
Potencial Zeta é uma função da carga da camada difusa (por unidade de superfície do colóide)
e a extensão da mesma. Esta é a força que deve ser vencida para aproximar duas partículas.
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5.3. Decantação
A separação de uma suspensão de partículas sólidas, ou flocos, diluída em um meio
líquido, pela força da gravidade, denomina-se sedimentação ou decantação. A etapa de
decantação é utilizada quando tem-se uma alta concentração de sólidos, com o intuito de
diminuir a quantidade de sólidos na etapa posterior de filtração.
Os principais fatores que controlam a velocidade de sedimentação são as densidades
dos sólidos e do líquido, a forma e o diâmetro das partículas, e a viscosidade do meio, que é
alterada pela temperatura.
A sedimentação pode ser classificada como:
Quanto ao processo
- sedimentação em batelada ou descontínua
- sedimentação contínua
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Quanto a finalidade
- clarificadores: quando a fase que interessa é o líquido
- espessadores: quando a fase que interessa é a lama
Quanto a concentração da suspensão
- sedimentação livre: para baixas concentrações de sólidos
- sedimentação retardada ou obstada: para altas concentrações de sólidos
Quanto ao uso do coadjuvantes
- sedimentação natural: quando não se faz uso de substâncias floculantes
- sedimentação forçada: quando se faz uso de substâncias floculantes para aumentar a
velocidade de sedimentação
O projeto de decantadores e espessadores é feito com base em testes de decantação em
provetas, onde obtêm-se as velocidades de sedimentação e espessamento do lodo em função
das características dos flocos formados.
A sedimentação simples constitui-se um adequado processo de purificação quando as
águas são relativamente puras e contém quantidades apreciáveis de sólidos em suspensão. A
experiência tem mostrado que as águas contendo uma elevada concentração de matéria em
suspensão é mais facilmente clarificada por sedimentação, do que aquela contendo baixa
concentração de matérias em suspensão.
Com a sedimentação simples, podem ser obtidas reduções da ordem de :
- matérias em suspensão ....................... 60 a 70%
- turbidez ............................................... 40 a 80%
- bactérias .............................................. 40 a 80%
Após a coagulação:
- turbidez ............................................... max 5 mg/L (água decantada)
- bactéria ............................................... 80%
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LODO
HIDROCICLONE
LODO COM MICROAREIA
PARA HIDROCICLONE
POLIMERO
MICRO-
AREIA
AGUA
CLARIFICADA
COAGULANT
E
ÁGUA
BRUTA
DOSAGEM
COAGULAÇÃ MATURAÇÃ
O O
DECANTADOR
COM RASPADOR
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Apesar dos resultados obtidos, a simples sedimentação não produz uma água segura
para ser usada no suprimento público. Um tratamento subseqüente, geralmente a cloração,
pode ser suficiente para produzir uma água satisfatória.
Os tanques de sedimentação são destinados a remoção de turbidez natural ou
floculada, antes da filtração. O tratamento prévio em câmaras de mistura e floculação,
antecedendo a sedimentação, normalmente produz uma água de baixa turbidez (1 a 5 mg/L),
própria para sofrer a filtração rápida em areia.
Flotação
A separação de uma suspensão de partículas sólidas, ou flocos, diluída em um meio
líquido, pela introdução de finas bolhas de gás (normalmente ar) e levando-as a flotar,
denomina-se flotação. A flotação é utilizada como alternativa à decantação, aplicada
principalmente quando tem-se uma fração de sólidos em suspensão que possui densidade
menor que a do efluente (óleos e gorduras) ou é de difícil decantação, como é o caso de
partículas muito finas. Neste processo, as bolhas de gás se aderem às partículas formando uma
outra partícula de densidade aparente menor do que a do líquido, sendo levada para cima pela
força do empuxo. Na parte superior dos flotadores há sistemas de raspagem, removendo as
partículas flotadas do meio.
Existe três formas de operação destes sistemas:
Injeção de ar em um líquido pressurizado, seguido de uma despressurização repentina
(flotação por ar dissolvido);
Aeração por pressão atmosférica (flotação por ar);
Saturação do líquido com ar a pressão atmosférica , seguido da aplicação de vácuo na
câmara de flotação (flotação a vácuo).
Em todos os casos agentes químicos podem ser adicionados para facilitar a flotação
aumentando o diâmetro das partículas em suspensão.
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5.4. Filtração
A filtração é um processo utilizado para remover partículas sólidas em suspensão que
não puderam ser removidas pela decantação. O processo envolve a retenção das partículas
sólidas pelo efeito de barreira, podendo ser de poros menores que o diâmetro das partículas,
no caso das membranas, ou maiores no caso de meios granulares.
Os processos que utilizam membranas geralmente são aqueles onde o diâmetro das
partículas a serem separadas são muito pequenos, podendo chegar ao nível molecular, ou são
utilizados nos casos em que deseja-se recuperar a fração sólida, ou até mesmo em casos onde
tem-se uma concentração de sólidos muito elevada inviabilizando o uso de meios granulares.
No caso do tratamento de águas naturais para fins de potabilização, os processos mais
utilizados são os filtros de areia. Este processo só é aplicado nos casos onde tem-se baixa
concentração de sólidos, afim de evitar grandes gastos com a manutenção dos mesmos.
Com a passagem da água através de um leito de areia verifica-se a remoção de
materiais em suspensão e substâncias coloidais, redução de bactérias presentes e alteração das
características da água, inclusive químicas.
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MECANISMOS DE FILTRAÇÃO
O mecanismo de remoção de sólidos em suspensão por filtração é bastante complexo.
Vai depender das características físicas e químicas da suspensão e do meio, da taxa de
filtração e das características químicas da água
- sólidos maiores são removidos por forças intersticiais
- sólidos menores são removidos por dois mecanismos: transporte (sedimentação, difusão,
intercessão e hidrodinâmica) e por fixação (interações eletrostáticas, ligações químicas e
adsorção)
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5.5. Desinfecção
A desinfecção é a eliminação de microrganismos patogênicos por meios físicos ou
químicos prevenindo-se assim das doenças de origem hídrica. É um dos processos mais
importantes para o tratamento de água, como meio de controle sanitário. A priori, julga-se que
todas as águas de abastecimento, independente de sua origem ou tratamento, sejam
desinfetadas. Tal fato se faz necessário, pois sabe-se que a água está permanentemente sujeita
a contaminação durante a sua distribuição.
A desinfecção, que se ocupa quase que totalmente com a destruição de organismos
unicelulares, como bactérias, protozoários e vírus, trata principalmente da eliminação das
bactérias, normalmente pela ação do cloro.
Existem vários produtos desinfetantes, cada um com suas vantagens e desvantagens.
Porém o uso de cloro e seus derivados são os mais empregados, e cujas técnicas de aplicação
são largamente conhecidas.
A desinfecção química dá-se pelo ataque do reagente à uma enzima (oxidação), vital
no metabolismo da célula, presente no interior do citoplasma da mesma, o que vai provocar a
sua destruição por perda das funções metabólicas e coagulação do material citoplasmático.
Ordem de efetividade do desinfetante: O3 > HOCl > ClO2 > OCl- > NH2Cl
Ordem de resistência do microrganismo: Cysts > vírus > bactéria
CINÉTICA DA DESINFECÇÃO
A efetividade de um desinfetante é determinada por ensaios de laboratório, com o intuito de
obter curvas C x T. para cada microrganismo patogênico.
dN/dt = - kN ln (N/N0) = -kt k = Cn
N – concentração de microrganismos
t – tempo de contato
k – constante que depende do desinfetante
– coeficiente de letabilidade específica
C – concentração do desinfetante
n – coeficiente de diluição (geralmente = 1)
0
-1
-2
log (N/N0) -3
-4
tempo
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Foi observado que: Cn t(% morte) = K(% morte) C – conc. do desinfetante. Para cada
desinfetante e para cada microrganismo são construídas curvas de C x t, a uma dada
temperatura e pH, para atingir um % de inativação desejado. Se n = 1, Ct é constante.
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Caso a residual obtido seja diferente, deverá ser aumentada ou diminuída a dosagem
aplicada. Os exames bacteriológicos subseqüentes indicarão os efeitos da desinfecção
processada. O residual máximo permitido por lei está limitado na consideração sobre o odor
“levemente perceptível” de cloro.
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5.6. Fluoretação
A fluoretação é realizada para introduzir na água o flúor que age como agente de combate à
cárie. A adição é feita através de sais de flúor na forma sólida ou em solução.
Os compostos mais utilizados são: fluorsilicato de sódio, fluoreto de sódio, fluorita e o ácido
fluorsilícico.
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Geralmente estes materiais utilizados para este processo são resinas sintéticas, porém,
é de conhecimento que muitos materiais naturais promovem um efeito de troca iônica, tais
como o solo, celulose, algodão, carvão ativo, etc.
As resinas são um emaranhado de radicais de hidrocarbonetos nos quais estão ligados
os grupos funcionais iônicos solúveis. Estes emaranhados formam os poros deste material. A
natureza destes grupos funcionais irá determinar a capacidade de remoção de determinados
íons, podendo estes serem catiônicos ou aniônicos. A Figura abaixo apresenta um desenho
esquemático destas resinas.
Uma vez trocado os íons, as resinas podem ser regeneradas utilizando soluções iônicas
fortes (que tem maior afinidade pelos grupos funcionais do que os íons trocados). As
principais reações de troca estão representadas abaixo:
1. Trocadores de cátions fortemente acídicos:
Forma com hidrogênio Forma com sódio
(regenera com HCl ou H2SO4) (regenera com NaCl)
2R-SO3H + Ca (R-SO3)2Ca + 2H
2+ +
22R-SO3Na + Ca2+ (R-SO3)2Ca +
2Na+
2OH- 2Cl-
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5.8.4. Eletrodiálise
A eletrodiálise também é um processo de separação com membranas em que a solução
é submetida a um potencial elétrico por dois eletrodos, ocasionando uma corrente elétrica de
cátions para o eletrodo negativo e de ânions para o eletrodo positivo. No interior da célula de
eletrodiálise, há membranas seletivas de um só tipo de íons , existindo membranas permeáveis
a somente cátions, e permeáveis a ânios somente. A eficiência de remoção dos sais
dissolvidos aumenta com o número de membranas instaladas e células em série. A Figura
abaixo apresenta um desenho esquemático do processo de eletrodiálise.
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NUTRIÇÃO E NUTRIENTES
A composição química do meio é de importância fundamental nestes processos
biológicos, sendo um fator determinante da predominância das populações de microrganismos
que irão participar do mesmo.
Compostos doadores de elétrons (ou de hidrogênio): são compostos passíveis de
oxidação, perdendo elétrons em reações REDOX. Ex. matéria orgânica.
Compostos receptores de elétrons (ou de hidrogênio): são compostos passíveis de
redução, recebendo os elétrons dos doadores, em reações REDOX. Ex. matéria orgânica,
O2, CO2, SO42- e NO3-.
Fontes de energia: compostos que ao serem metabolizados geram energia. Ex. compostos
orgânicos, compostos inorgânicos e luz.
Fontes de carbono: compostos que ao serem metabolizados são transformados em
material celular. Ex. compostos orgânicos e CO2.
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P
P: produto
Conc.
X: células
S: substrato
Tempo
Log Conc. X
Tempo
I II III IV V VI
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1 dX
Velocidade específica máxima de produção de células:
*
X dt
1 dS
Velocidade específica máxima de consumo de substrtato: S *
X dt
X
Fator de conversão de substrato em células YX
S S
Pode-se também definir a grandeza YP/S=∆P/∆S, como sendo o fator de conversão de
substrato para produto.
Portanto, ∆X = - YX/S* ∆S
Para avaliar o comportamento cinético característico para cada microrganismo,
MONOD desenvolveu o seguinte modelo:
S
Com isto ele pode escrever max *
Ks S
Onde: µmax= valor máximo de µ
Ks=cte. de saturação= valor de S para µ=µmax/2
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Glicólise
Observa-se que nesta transformação, 1 mol de glicose gera 2 moles de piruvato, com a
produção de moles de ATP e mais 2 moles de NADH2. As moléculas de NADH2 não provê
energia química diretamente para o anabolismo. Apenas o ATP pode fazê-lo. Portanto, há
uma transformação da energia contida no NADH2 para o ADP, transformando-os em ATP,
que é denominada de cadeia transportadora de elétrons, conforme a esquematização
apresentada abaixo.
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Observa-se que cada mol de NADH2 produz 3 moles de ATP. Portanto, a glicólise
produz uma energia total equivalente a 8 ATPs.
Conforme mencionado anteriormente, a composição química do meio é um fator
determinante na seleção da predominância das populações envolvidas nos processos de
tratamento dos resíduos. Também visto anteriormente, os microrganismos são classificados
segundo as formas de obtenção de matéria (carbono) e de energia. Devido ao grande número
de compostos passíveis de serem metabolizado pelos microrganismos e devido às suas
especificidades, normalmente, classifica-se os microrganismos em função do composto que é
capaz de metabolizar ou dos produtos metabólicos gerados. Uma das grandes divisões de
classes de microrganismos dá-se em função do tipo de aceptor final de elétrons utilizado pelo
mesmo nas reações de obtenção de energia, que por sua vez, denomina os processos de
tratamento.
Processos aeróbios (respiração aeróbia): são aqueles que utilizam o oxigênio como
aceptor final de eletrons;
Processos anaeróbios:
- Porcessos fermentativos: são aqueles que utilizam compostos orgânicos que
participam do processo, como aceptores finais de elétrons (aceptores internos).
- Processos anóxicos (respiração anaeróbia): são aqueles que utilizam outros
compostos, orgânicos ou inorgânicos, como aceptores finais de elétrons, que não o
oxigênio ou nenhum composto orgânico que participam do processo (aceptores
externos: CO32-, NO3-, Fe3+, SO42-).
PROCESSOS
ANAERÓBIOS
FERMENTAÇÃO
Hidrólise
8 ATPs 6 ATPs
PROCESSOS
AERÓBIOS
RESPIRAÇÃO ANAERÓBIA
30 ATPs
Ciclo CO32-, NO3- CH4
de Crebes N2
Fe2+
Fe3+, SO42- S2-
RESPIRAÇÃO AERÓBIA
Como pode ser observado, nos processos aeróbios são gerados 38 ATPs por cada mol
de glicose degradado, enquanto que no anaeróbios esta geração de energia é muito inferior,
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podendo gerar até mesmo menos de 1 ATP por mol de glicose. Além disso, nem toda a
energia contida em 1 mol de glicose é armazenada na forma de ATP, ficando grande parte da
mesma dissipada no ambiente.
Respiração aeróbia: 38 ATPs/mol x 7 kcal/mol ATP = 266 kcal
Glicose 6 CO2 + 6 H2O (H = 688 kcal/mol) 266/688 = 39 %
Fermentação: 2 ATPs/mol x 7 kcal/mol ATP = 14 kcal
Glicose Etanol (H = 57 kcal/mol) 14/57 = 25 %
Este fato demonstra a capacidade de microrganismos aeróbios de extrair uma maior
quantidade de energia de um substrato comparativamente com os anaeróbios. Este fato tem
uma implicação direta na partição da quantidade de substrato que vai para geração de energia
e a que vai para a síntese de novas células. Processos aeróbios geram de 5 a 20 vezes mais
material celular a partir de uma quantidade determinada de substrato do que os processos
anaeróbios.
Esta diferença em termos energéticos está relacionada à termodinâmica das reações
envolvidas. A Figura abaixo apresenta um gráfico das relações entre doadores de elétrons
(substratos) e de aceptores de elétrons com a energia gerada pelas reações metabólicas.
Formiato
CO2 SO42- NO3- O2 NO2-
Glicose
Glicerol
Metanol
Piruvato
Glicina
Lactato
Etanol
Succinato
Benzoato
Acetato
0 -5 -10 -15 -20 -25 -
Metano 30 -35
Carbohidratos Acidogênese 1,33 – 70,6 22,5 – 630 7,2 – 30 0,14 – 0,17 6,1
Ácidos de Oxidação
cadeia longa anaeróbia 0,77 – 6,67 105 – 3180 0,085 – 0,55 0,04 -0,11 0,01 – 0,015
Ácidos de Oxidação
cadeia curta anaeróbia 6,2 – 17,1 12 – 500 0,13 – 1,20 0,025 – 0,047 0,01 – 0,027
Acetato Metanogênese
acetoclástica 2,6 – 11,6 11 – 421 0,08 – 0,7 0,01 – 0,054 0,004 – 0,037
H2 e CO2 Metanogênese 1,92 - 90 4,8x10-5 – 0,6 0,05 – 4,07 0,017 – 0,045 0,088
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4 8
Lodos ativados
No processo de Lodos Ativados participam uma série de microrganismos. Dentre os
principais tipos encontram-se: bactérias heterótrofas e quimioautrótofas (destacando-se as
filamentosas), protozoários e micrometazoários.
Nestes sistemas as bactérias são os consumidores primários, ou seja, são responsáveis
pela degradação da matéria orgânica. Os protozoários utilizam as bactérias como base
nutricional, que por sua vez irão constituir a base nutricional dos micrometazoários.
A principal característica deste processo e a formação de aglomerados de
microrganismos (flocos) que é importante para separação do lodo formado. A quantidade de
bactéria filamentosas tem um papel fundamental na floculação do lodo.
A floculação bacteriana é conseqüência direta da operação do bioreator, que promove
condições de estresse nutricional, conduzindo a menor atividade de parte das células no
sistema, ou induzindo o metabolismo endógeno celular. A baixa atividade das bactérias
favorece a floculação no bioreator, bem como a auto-oxidação das células, o que em certo
grau auxilia na diminuição da massa celular.
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Sistemas Anaeróbios
Nos processos anaeróbios ou, nos sistemas de biodigestão anaeróbia, a degradação da
matéria orgânica envolve a atuação de microrganismos procarióticos anaeróbios facultativos e
obrigatórios, cujas espécies pertencem ao grupo de bactérias hidrolíticas-fermentativas,
acetogênicas produtoras de hidrogênio e metanogênicas. A bioconversão da matéria orgânica
poluente com produção de metano requer a cooperação entre culturas bacterianas como
ilustrado no esquema da Figura abaixo. Na atividade microbiana anaeróbia em biodigestores,
como também em habitat naturais com formação de metano (sedimentos aquáticos, sistema
gastrintestinal de animais superiores, pântanos, etc.), o que se observa é a ocorrência da
oxidação de compostos complexos, resultando nos precursores do metano, acetato e
hidrogênio.
POLÍMEROS
(proteinas, lipídos, polisacarídeos)
I - Hidrólise e
MONOMEROS Y OLIGOMEROS fermentação
1 1
4 ÁC. GRAXOS 4
ALCOOiS
LACTATO, etc.
II – Acetogênese y
desidrogenacão
HH22++CO
CO2 2 5
Formiato,
FORMIATO etc. ACETATO
6 III – Metanogênese
2 3
CH4 + CO2
67
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G0’ G’
Reações
(kcal/reação) (kcal/reação)
1. Conversão da glicose em metano e dióxido de
carbono -96,5 -95,3
C6H12O6 + 3H2O 3CH4 + 3HCO3 + 3H - +
1,2
Relative Activity
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9
pH
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Nutrientes:
A concentração dos nutrientes disponíveis para os microrganismos interfere
diretamente nas suas atividades. Segundo a equação de Monod, quando não há limite de
substrato os microrganismos são capazes de crescer com a sua velocidade máxima.
= max. S
ks + S
Nos processos de tratamento de efluentes deseja-se minimizar a concentração dos
nutrientes (C, N, etc.) a níveis máximos estipulados pela legislação, de tal forma que a
situação de limitação de substrato é atingida. Como exemplo, a DBO5 de 60 mg/l é um
parâmetro comum a ser alcançado. Vejamos como estarão as atividades dos microrganismos
aeróbios e anaeróbios nesta condição:
Aeróbios: = max. 60 = 0,5 max.
60 + 60
Anaeróbios = max. 60 = 0,09 max.
600 + 60
Estes valores mostram que um processo aeróbio é capaz de atingir um efluente de
melhor qualidade muito mais fácilmente do que os processos anaeróbios. Isto pode ser
extrapolado para os outros nutrientes envolvidos, como é o caso do nitrogênio amoniacal
(fonte de nitrogênio). Em processos anaeróbios há necessidade de manter-se altos teores de
nitrogênio para que este não seja limitante.
Toxicidade:
Uma série de compostos pode causar inibição ao crescimento de microrganismos
aeróbios e anaeróbios. Porém, a intensidade da inibição irá depender de uma série de fatores,
mas principalmente do tipo de microrganismo e da concentração do composto tóxico. Há uma
série de formas que os compostos podem interferir nas funções metabólicas dos
microrganismos, envolvendo mecanismos muitas vezes complexos e pouco esclarecidos.
Como exemplo, a Figura abaixo apresenta o efeito inibitório de alguns cátions de metais leves
e de amônio sobre a velocidade de utilização de acetato em digestão anaeróbia.
Temperatura:
A temperatura altera as propriedades físicas do meio, interfere na cinética das reações,
altera a conformação da estrutura das enzimas e interfere nas funções básicas dos
microrganismos (mobilidade, transporte de íons, etc.). Cada microrganismo possui uma faixa
ótima de temperatura. A Figura abaixo apresenta a faixa de temperatura para alguns
microrganismos anaeróbios.
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1,2
Relative Activity
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Temperature
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Quantidade de biomassa
A quantidade de biomassa (X) é um parâmetro importante para verificar, em conjunto
com a atividade, a capacidade do sistema em degradar a carga orgânica aplicada ao reator. O
método mais utilizado é a concentração de sólidos suspensos voláteis(SSV), conforme
descrito anteriormente.
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Atividade específica:
A atividade específica mede a relação entre a quantidade de substrato consumido e a
quantidade de biomassa, por unidade de tempo (kg DQO/kg SSV dia). A unidade é a mesma
da carga orgânica específica, porém mede exatamente a capacidade daquele consórcio de
microrganismos em degradar um substrato específico. Este teste pode ser aplicado para várias
populações de microrganismos específicos, separadamente ou em conjunto, variando o
substrato que é adicionado e as condições ambientais aplicadas ao teste.
Sedimentabilidade
A sedimentabilidade do lodo do tanque de aeração é uma característica fundamental
para o bom funcionamento do processo, uma vez que o lodo sedimentado no decantador final
é retornado ao tanque para assegurar um alto tempo de retenção celular.
A sedimentabilidade é determinada em amostras coletadas perto da saída do tanque de
aeração. Nas mesmas amostras deve-se determinar o SSV, para poder calcular o índice
volumétrico de lodo.
Coloca-se a amostra em uma proveta de 1L e acompanha-se a sedimentação fazendo
leitura da altura do lodo em tempos de, por exemplo, 5, 10, 15, 20 e 30 minutos.
Após a leitura dos 30 minutos, o conteúdo é homogeneizado e daí é feita a
determinação de sólidos suspensos totais (SST).
Construi-se a curva de sedimentação, plotando o volume de lodo em função do tempo,
para comparar as características do lodo ao longo do tempo.
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Idade do lodo
Este parâmetro é uma estimativa do tempo de retenção celular médio. É
determinado dividindo a massa de SSV no tanque pela massa de SSV removida do
sistema.
Microscopia
Como já mencionado anteriormente, a microscopia é uma ferramenta muito útil
quando deseja-se avaliar as populações que predominam nos sistemas. As técnicas utilizadas
são várias, dependendo do objetivo da análise.
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dissolvido, que é agravado pela agitação. A perda contínua de CO2 dissolvido vai resultar no
aumento contínuo do pH.
Por essa razão, a medida de pH deve ser feita imediatamente após a coleta de amostra
do reator, misturando o conteúdo sem provocar uma agitação excessiva.
Alcalinidade
A medida da alcalinidade mostra o nível da capacidade tampão, sendo por isso
importante para a prevenção de quedas de pH.
Existem diversas espécies químicas que conferem alcalinidade ao meio: bicarbonato,
sais de ácidos voláteis e outros. Uma vez que cada espécie tem o seu pH de neutralização
completa, o significado do parâmetro depende do pH final de titulação. A alcalinidade total é
determinada por titulação até pH 4,0.
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Composição do biogás
É altamente desejável contar com um cromatógrafo simples, dotado só com um detetor
de condutividade térmica exclusivamente para analisar gases. De preferência o equipamento
deve ser configurado de tal forma que uma única injeção seja suficiente para obter os picos
dos principais componentes do biogás (metano, gás carbônico, ar contaminante, hidrogênio).
Para uma maior precisão de medida, é importante que o equipamento seja dotado de um
amostrador (loop). É fundamental que se tenha pelo menos um biogás padrão certificado para
a calibração do sistema a cada ocasião de análise.
Na falta de disponibilidade de um cromatógrafo, métodos mais simples podem ser
usados para ter uma avaliação da produção de metano.
LODOS ATIVADOS
Dentre os processos aeróbios, o processo de lodo ativado (PLA) é um dos mais
aplicados e também de maior eficiência. É o mais utilizado em localidades de grande
concentração urbana.
A primeira unidade, em escala real, para tratamento de esgotos foi instalada em
Manchester (UK em 1914). Desde então o processo de lodos ativados ganhou grande difusão
e incorporou modificações técnicas, mantendo-se ativo no mercado de processos de
tratamento de efluentes. A Figura abaixo mostra um esquema simplificado de tratamento por
lodo ativado.
Efluente final
Aeração
Reciclo de lodo
Descarte
de lodo
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Tanques de aeração
Afluente Efluente
Aeração
Dois são os maiores problemas deste tipo de reator: sendo a aeração uniforme ao longo
do reator, a concentração de oxigênio varia ao longo do mesmo, prejudicando as
características de sedimentabilidade do lodo; outro problema é com relação a não
permissividade de absorver cargas de choque orgânico ou de compostos tóxicos.
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2. AERAÇÃO DECRESCENTE
Para resolver o problema da aeração diferenciada, utiliza-se uma variação na aeração
do sistema através do espaçamento dos aeradores.
Tanques de aeração
Afluente Efluente
Aeração
3. AERAÇÃO ESCALONADA
Outra forma de contornar o problema da aeração e da sobrecarga, pode-se fazer a
alimentação em vários pontos do reator e manter a distribuição uniforme da aeração.
Tanques de aeração
Efluente
Afluente
Aeração
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4. AERÓBIO DE CONTATO
Observou-se que a matéria orgânica antes de ser metabolizada ela é adsorvida pela
matriz do floco microbiano. A velocidade de adsorção é muito superior a da biodegradação.
Como a matéria orgânica encontra-se de forma diluída, é interessante remove-la primeiro por
adsorção, separar os sólidos e depois degrada-la em um reator de sólidos separadamente. A
vantagem deste sistema é a diminuição do tempo de retenção hidráulico total do sistema.
Tanque de adsorção
Decantador secundário
Afluente
Efluente final
Descarte
Aeração de lodo
5. AERAÇÃO PROLONGADA
Esse processo de tratamento é também definido como um processo de oxidação total e
se constitui num modificação do processo de lodos ativados. A idéia básica do processo de
Aeração Prolongada é a de reduzir, o máximo possível, o excesso de lodo ativado produzido.
Essa redução da concentração de lodo é conseguida pelo simples aumento do tempo de
aeração, ou seja, pelo aumento do tempo de residência no reator. Dessa forma, o excesso de
lodo é consumido por respiração endógena. Se operada de forma adequada, a planta de
tratamento de despejos por Aeração Prolongada não produz efeitos deletérios ao meio
ambiente (odor) podendo, portanto, ser instalada em locais de grande concentração
populacional.
6. OXIGÊNIO PURO
O oxigênio puro pode ser usado no lugar do ar para obter a vantagem da maior
transferência de oxigênio para o meio. Este processo é utilizado quando o efluente é muito
concentrado ou a unidade está sobrecarregada. As desvantagens são os custos elevados e a
necessidade de um controle efetivo da quantidade de oxigênio podendo promover lodo de má
sedimentabilidade.
LAGOS AERADAS
Lagoas aeradas são bacias de grande volume nas quais, analogamente ao reator de
lodo ativado, a aeração do despejo é feita por meio de unidades mecânicas de aeração
(aeradores de superfície).
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A diferença fundamental entre a lagoa aerada e o reator de lodo ativado reside no fato
de que na lagoa aerada não há reciclo do lodo, ou seja, o lodo formado‚ juntamente com o
despejo tratado, é lançado diretamente no corpo receptor ou, se necessário, enviado para
unidades de tratamento de lodo. Os tempos de retenção são elevados e a carga mássica e
volumétrica são menores.
A concentração de sólidos na lagoa aerada será função das características do despejo e
do tempo de residência.
LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO
A diferença básica entre a lagoa de estabilização e a lagoa aerada é que na primeira, a
aeração não é feita por meios mecanicamente induzidos (aeradores de superfície) mas
somente por meios naturais (transferência do oxigênio atmosférico para a água e, em maior
parte, pela ação fotossintética dos vegetais clorofilados presentes na lagoa). O oxigênio
liberado na fotossíntese é utilizado pelos microrganismos aeróbios na degradação da matéria
orgânica e, por sua vez, os produtos dessa degradação aeróbia (CO2, NO3-, PO43-) são
utilizados pelas algas numa, por assim dizer, perfeita simbiose.
Luz
Algas
CO2
Sais Minerais O2
Respiração
Bacteriana
Esgoto
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FILTRO BIOLÓGICO
Neste tipo de reator se utiliza a biomassa imobilizada (aderida) em algum tipo de
suporte. O filtro biológico é um recheio coberto de limo biológico através do qual a água
residuária passa. Normalmente o efluente é distribuído por pulverização uniforme sobre o
recheio usando um distribuidor rotativo. O efluente passa de forma descendente através do
recheio e é coletado no fundo.
No filtro biológico (FB) há o contato direto do substrato com o ar atmosférico e com
os microrganismos que se desenvolvem aderidos à superfície do meio poroso. A figura 2 a
seguir mostra, de forma esquemática, a camada de limo, essencialmente constituída de
bactérias e algas, estas do gênero Zooglea, cuja espessura pode variar de 0,1 mm a 2 mm. Esta
camada se constitui de 2 sub-camadas: uma camada anaeróbia, aderida à superfície da do
meio poroso e uma outra aeróbia, externa àquela.
Dependendo da espessura dessa camada de limo, pode haver o desenvolvimento de
uma sub-camada anaeróbia junto à superfície do suporte e uma sub-camada aeróbia, externa
àquela. Segundo alguns autores, a espessura da sub-camada aeróbia seria da ordem de
algumas centenas de micra (100 a 200 ), sendo a maior parte da biomassa praticamente
isenta de oxigênio (pela grande resistência à difusão do oxigênio atmosférico ao longo de toda
a espessura da camada ). As bactérias heterotróficas predominam na película oxigenada
enquanto que as autotróficas - nitrificantes - predominam na película anóxica. Além das
bactérias e das algas há, embora em menor proporção, há a presença de protozoários, fungos
e, até mesmo, vermes e larvas.
Como já mencionado, a espessura da camada de limo pode variar entre 0,1 a 2 mm.
Espessuras maiores têm efeito adverso tanto na operação do filtro - maior probabilidade de
colmatação do leito - quanto na eficiência de remoção do substrato, decorrente de menores
taxas de transferência de substrato, oxigênio e dos metabólitos
A remoção da DQO no FB decorre por floculação da matéria orgânica em estado
coloidal e aglomeração da matéria orgânica em suspensão.
A matéria orgânica em solução contida no despejo bem como o oxigênio necessário
para a sua oxidação biológica difundem-se através da camada de limo (biofilme) e é por ele
metabolizada com a conseqüente redução da DBO e a evolução de gases e demais produtos do
metabolismo aeróbio e anaeróbio. A taxa global de remoção dependerá da natureza e da
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filtros clássicos
Os filtros clássicos são constituídos de um tanque de grandes dimensões - diâmetro
maior que a altura - recheados com uma material de preferência inerte, como brita, coque,
escória ou até mesmo bambu. Em geral, busca-se a utilização de material de recheio que alie
custos baixos e a maior área superficial. Para minimizar as interrupções de funcionamento da
unidade de tratamento decorrentes do entupimento do meio poroso - colmatação - e para
permitir o fluxos de liquido e de ar sua porosidade é moderada ( 40 a 60% ). A área elevada
permite uma maior taxa de colonização superficial da biomassa e, em conseqüência, maiores
taxas de transferência de massa - substrato, ar e metabólitos - No caso de despejos
domésticos, os filtros utilizados têm de 1,5 a 4 m de altura e “diâmetro” médio de partícula de
recheio variando na faixa de 4 a 12 cm. A eficiência de remoção de substrato depende de
vários fatores, entre eles: natureza do despejo, tipo de recheio e, principalmente, das
condições de operação.
COMPARAÇÃO ENTRE O FILTRO BIOLÓGICO E O LODOS ATIVADOS
1 - No FB convencional, a remoção de substrato é da ordem de 60 % enquanto que no PLA
esta remoção é da ordem de 80 %.
2 - Não há energia despendida na aeração.
3 - Os custos de instalação/manutenção/operação do FB constituem-se numa pequena fração
dos custos correspondentes do PLA, aí residindo sua maior atratividade com a restrição de
que são recomendados como opção de tratamento de baixas vazões de despejos.
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BIODISCOS
Os biodiscos são reatores que estão baseados no mesmo princípio de biofilmes
descrito para os filtros biológicos. Os biofilmes desenvolvem-se em discos de material inerte,
que são colocados paralelamente em um eixo central que gira, dentro de uma bacia. Os discos
são parcialmente submergidos no efluente dentro da bacia e a medida que vai girando uma
parte fica exposta ao ar e outra submergida. Quando a parte submergida é exposta ao ar, um
filme de líquido permanece percolado na superfície do biofilme, ocorrendo a oxidação pelos
microrganismos. A figura abaixo apresenta um desenho esquemático de um biodisco.
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DECANTO-DIGESTORES
A fossa Mouras, patenteado na França em 2 de setembro de 1881 por Jean Louis
Mouras, foi o primeiro sistema de tratamento de esgotos relatado na literatura. A partir de
então vários outras configurações de fossas foram desenvolvidas, se destacando os tanques
sépticos e os tanques Imhoff (tanques sépticos com câmara sobreposta).
TANQUES SÉPTICOS
Os tanques sépticos são reatores de fluxo horizontal e arbitrário. São empregados
como solução individual em áreas urbanas desprovidas de rede coletora pública de esgoto,
assim como para atender conjuntos residenciais, vilas, e comunidades com pequenas vazões
(ABNT-NBR 7229/93 e NBR 13969/97).
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favorece a mistura e contato entre biomassa e esgoto solúvel, a remoção global da DBO se dá
principalmente pela digestão da DBO particulada, sendo muito pequena a estabilização da
DBO solúvel.
Algumas características gerais dos tanque sépticos
Construção Construídos in loco (alvenaria ou concreto) ou em
unidades pré-moldadas (fibra de vidro).
Configuração Câmara única
Câmara em série (1a com 2/3 volume total e 2a com
1/3 do volume total)
Forma e dimensões Prismática retangulares
Relação comprimento/largura: de 2 a 4
Largura mínima: 0,80 m
Profundidade útil: 1,2 a 2,2 m para volumes <6 m3
1,5 a 2,5 m para volumes de 6 a 10 m3
1,8 a 2,8 m para volumes >10 m3
Cilíndricas
Profundidade útil mínima (h): 1,10 m
Diâmetro interno mínimo (d): 1,10 m e d<2h
Eficiência Remoção da DBO: 40 a 70 %
Remoção dos sólidos suspensos: 50 a 80%
Óleos e graxas: 70 a 90%
Tempo de detenção hidráulico 12 a 24 horas
Período entre limpeza Variável, recomendável pelo menos anual
TANQUE IMHOFF
Os tanques Imhoff, originalmente chamados de Emscher, é uma evolução dos tanques
sépticos, onde as fases de sedimentação e digestão dos sólidos em suspensão ocorrem em
câmaras separadas. Os esgotos fluem apenas pela câmara superior, onde ocorre a separação
dos sólidos sedimentáveis. Esta câmara funciona como um decantador primário. Os sólidos
sedimentáveis atravessam a abertura no fundo da câmara e atingem a câmara inferior, onde
ocorre a digestão anaeróbia e acumulação do lodo. Por possuírem câmaras superpostas eles
necessitam de uma maior profundidade que os tanques sépticos, devendo ser empregados para
população superiores a 50 habitantes. Atualmente os tanques Imhoff não são mais construídos
no Brasil devido ao seu alto custo de construção, especialmente quando comparado com
outras concepções de sistemas anaeróbios mais econômicas e eficientes.
Vantagens e desvantagens dos tanques sépticos
VANTAGENS DESVANTAGENS
Construção simples Baixa eficiência na remoção da
Baixo requisito de área matéria orgânica dissolvida
Baixo consumo de energia Dificuldade em satisfazer padrões de
Resistente a variação qualitativa e lançamento bem restritivos
quantitativa do efluente Possibilidade de efluentes com aspecto
Operação extremamente simples e desagradável
eventual A simplicidade operacional pode levar
Baixo custo de implantação e operação ao descaso
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DIGESTORES DE LODO
Os digestores anaeróbios de lodos são reatores utilizados para estabilizar os lodos
concentrados produzidos durante o tratamento de esgotos, bem como o tratamento de alguns
esgotos industriais. Os digestores de lodo foram desenvolvidos após a constatação de que a
digestão do lodo aquecido em tanque separado apresentava eficiência superior aos dos
tanques Imhoff. A partir de então muitos tipos de digestores foram desenvolvidos, com e sem
aquecimento, de baixa e alta carga, com estágios único ou múltiplo, etc.
Características gerais dos digestores anaeróbios de lodo
Construção Concreto armado, com cobertura fixa ou
flutuante
Remoção da DBO Redução de sólidos voláteis: 45 a 50%
pH 7,0 a 7,4
Temperatura Mesófila: 30 a 40 oC.
Termófila: 45 a 57 oC
Dimensões Diâmetro: 6 a 38 m
Profundidade: 7 a 14 m
Etapa limitante Hidrólise
Tempo de detenção hidráulico = Baixa carga (sem mistura): 30 a 60 d (QETE <
Tempo de detenção celular (d) 250 l/s
Alta carga: 15 a 20 d
Carga de sólidos Baixa carga 0,6 a 1,6 (kgSSV/m3 d)
Alta carga : 1,6 a 3,2 (kgSSV/m3 d)
Eficiência na remoção dos sólidos 45 a 50 %
Alimentação e retirada do lodo Semi-contínua
Limpeza De 10 a 15 anos para remover a areia acumulada
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LAGOAS ANAERÓBIAS
As lagoas anaeróbias são reatores de fluxo horizontal (arbitrário), onde ocorre a
sedimentação e digestão de sólidos sedimentáveis proveniente dos esgotos domésticos e/ou
industriais (frigoríficos, laticínios, etc.). Em geral são utilizadas em combinação com outros
tipos de lagoas, tais como facultativas e de maturação nos sistemas de lagoas de estabilização.
FILTROS ANAERÓBIOS
Existem relatos (McCarty, 1981) que já no fim do século passado um tipo de filtro
anaeróbio foi aplicado para o tratamento de esgotos sanitários na Inglaterra. Entretanto, foi a
partir do trabalho desenvolvido por Young & McCarty no final da década de 60, quando
aplicaram altas cargas orgânicas no tratamento de matéria orgânica solúvel, que os filtros
anaeróbios obtiveram um grande êxito. Este fato abriu amplas perspectivas para a aplicação
de processos anaeróbios no tratamento direto de vários tipos de águas residuárias, além de
desencadear o desenvolvimento de novas configurações de reatores anaeróbios de alta taxa.
Os filtros anaeróbios consistem de tanques preenchidos com um material de suporte
inerte (pedra, plástico, etc), também chamado de leito, que permanece estacionário, aos quais
os microrganismos crescem tanto nos espaços vazios quanto aderidos ao meio fixo, onde
formam uma película de biofilme na sua superfície, propiciando assim uma alta retenção de
biomassa no reator. Por esta razão é desejável que o material inerte tenha uma grande área
superficial por unidade de volume, favorecendo uma maior quantidade de biomassa aderida e
que resulte, consequentemente, numa maior capacidade de tratamento.
Os filtros anaeróbios são largamente utilizados como unidade de pós-tratamento de
decanto-digestores tratando os esgotos sanitários de pequenas populações. Entretanto podem
ser aplicados como uma única unidade de tratamento de esgotos concentrados ou diluídos
(indústria farmacêutica, laticínio, refrigerantes, etc.). Neste caso, são mais aplicáveis para
esgotos solúveis e com baixa concentração de sólidos suspensos, devido ao risco de
entupimento.
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em produtos mais simples, tais como metano e gás carbônico; como decantador secundário,
pois ocorre a separação da biomassa do esgoto tratado; como digestor de lodo, propriamente
dito, pois ocorre a digestão da parte sólida retida, seja o lodo dos esgotos, como de parte da
própria biomassa presente, produzindo um lodo já estabilizado, requerendo depois somente
secagem, quando do descarte do lodo de excesso, além da separação do biogás produzido.
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OUTRAS CONFIGURAÇÕES
Devido ao sucesso obtido com os reatores anaeróbio de alta taxa de aplicação
orgânica, em especial aos reatores de fluxo ascendentes (filtro anaeróbio e UASB), várias
outras configurações de reatores anaeróbios foram e continuam sendo desenvolvidas para o
tratamento dos mais diversos tipos e características de esgotos. Muitas destas novas
concepções apresentando similaridades, sendo muitas vezes consideradas variantes de
reatores de uso já consagrados. A, a maioria dessas novas configurações encontram-se em
estágio de desenvolvimento.
Longos períodos de posta em marcha dos sistemas para desenvolver uma biomassa ativa
Necessidade de manter alta a alcalinidade, aumentando os custos operacionais
Menor porcentual de remoçãoda matéria orgânica resultando em um efluente de pior
qualidade
Menores taxas de conversão a temperaturas mais baixas
Produção de compostos que causam mau cheiro como ácidos orgânicos e H2S
Nitrificação não é possível
Maior toxicidade das metanogênicas à compostos organoclorados alifáticos
Alta concentração de NH4 requerida para manter a biomassa ativa podendo comprometer
a qualidade do efluente final
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NITRIFICAÇÃO
A nitrificação é promovida por microrganismos autótrofos que usam o CO2 como
fonte de carbono e quimiossintetizantes (litótrofos) que obtém energia a partir da oxidação da
íon amônia, utilizando o oxigênio como aceptor final de elétrons. Este processo se dá em duas
etapas sucessivas: a primeira a amônia é transformada em nitrito pela ação de bactérias
denominadas Nitrozomonas; e na segunda o nitrito é transformado em nitrato pelas bactérias
Nitrobacter. As equações abaixo representam as duas etapas do processo.
Primeira etapa:
Segunda etapa:
NH4+ + 1,83 O2 + 1,98 HCO3- 0,021 C5H7O2N + 0,98 NO3- + 1,041 H2O 1,88 H2CO3
ser executados em etapa única ou separadas, podendo haver combinação entre eles. Caso haja
muita matéria orgânica no efluente, pode-se fazer um lodo ativado para remover a matéria
orgânica, seguido de um biofiltro para converter a amônia.
Os microrganismos nitrificantes encontram-se em quase todos os sistemas de
tratamento biológico aeróbios. No entanto, nestes sistemas onde há disponibilidade de matéria
orgânica, a massa de micorganismos nitrificantes (autótrofos) produzida por unidade de
substrato é inferior a dos microrganismos heterótrofos, promovendo um desequilíbrio na
distribuição destas populações, prejudicando a nitrificação. Um fator de importância nestes
sistemas é a relação DBO5/NTK, representada na Figura abaixo.
Quando a relação é maior que 5, o processo é dito combinado, e se for inferior a 3 o
processo pode ser considerado em etapas separadas.
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Algumas recomendações são feitas pela literatura para projeto e operação dos
processos de nitrificação em suspensão:
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DENITRIFICAÇÃO
A denitrificação é a conversão do íon nitrato a compostos gasosos, principalmente o
nitrogênio por microrganismos anaeróbios que utilizam o nitrato como aceptor final de
elétrons e necessitam de fonte de carbono orgânico (heterótrofos). Os principais
microrganismos conhecidos que realizam a denitrificação são: Achronobacter, Aerobacter,
Alcaligenes, Bacilus, Brevibacterium, Flavobacterium, Lactobacilus, Pseudomonas e
Spirilum. As reações são realizadas em etapas, convertendo primeiramente o nitrato a nitrito e
depois em compostos gasosos como o NO e o N2O, que por sua vez são transformados em
nitrogênio gasoso. As etapas metabólicas deste processo são pouco conhecidas.
Recirculação de líquido
Afluente Efluente
Anaeróbio Aeróbio
Recirculação de lodo
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O Fósforo presente nas águas residuárias, quer seja na forma iônica ou complexada,
encontra-se geralmente como fosfato. Em esgoto sanitário, o fósforo orgânico aparece
principalmente como fósforo orgânico, polifosfatos e ortofosfatos.
Durante a década de 60 foi observado que alguns sistemas de tratamento de esgotos
nos EUA apresentavam remoção de fósforo superior àquela requerida pelo metabolismos
bacteriano nos processos de lodo ativado.
Desde então, por décadas houve controvérsias sobre os mecanismos envolvidos na
remoção do excesso de fósforo. Após dois Congressos realizados, 1982/1984 África do
Sul/Paris, sobre a remoção de fósforo prevaleceu a idéia de remoção biológica.
Na década de 70 a África do Sul começa a experimentar o conceito de LUXURY
UPTAKE OF PHOSPHOROUS, que foi primeiramente demonstrado em Santo
Antonio/Texas (1967) quando o processo biológico mostrou a capacidade de remoção de
fósforo em grandes quantidades.
Esta capacidade dos microrganismos foi descoberta acidentalmente, quando em uma
planta de lodos ativados, os aeradores da 1a sessão estavam obstruídos de forma que os
microrganismos trabalharam primeiramente em condições com baixas concentrações de O2 e
em uma segunda etapa em um reator aerado e com isto observou-se uma grande remoção de
fósforo.
A microbiologia deste sistema está relacionada com a capacidade de adaptação de um
microrganismo. Este processo usa de uma etapa de fermentação anaeróbia, uma sessão
anóxica e uma seção aerada. No entanto, há mais de 25 variações deste processo para retirada
de nutrientes.
O efluente mais o lodo reciclado são misturados no reator de fermentação, onde dois
tipos de microrganismo tem atividade. Primeiro a bactéria anaeróbia fermenta a matéria
orgânica com a produção de moléculas orgânicas menores. Esses produtos são usualmente
produzidos no processo anaeróbio.
Há, então uma DBO presente no início da etapa anaeróbia. O 2o tipo de microrganismo
presente no reator anaeróbio é necessariamente uma bactéria aeróbia, que consegue
sobreviver por certos períodos de tempo em condições anóxicas. Esta bactéria específica
armazena energia na forma de polifosfato. Para tanto, elas obtém energia para manutenção da
sua vida pela quebra das ligações fosfato do polifosfato armazenado e liberam fosfato de
dentro da célula para a água (meio).
Estas bactérias (bactérias polifosfato) possuem esta capacidade e sobrevivem,
enquanto que outras bactérias, exclusivamente aeróbias, podem morrer.
A bactéria polifosfato se alimenta dos produtos formados na fermentação,
especificamente álccois e ácidos orgânicos pequenos, armazenando-os, e quebram o
polifosfato armazenado liberando o fosfato para a água para obter energia. Em ambientes não
aerados essa é a sua forma de sobrevivência. Estas bactérias armazenam a matéria orgânica
para uma utilização futura.
Enquanto tudo isso está acontecendo com as bactérias anaeróbias e as
obrigatoriamente aeróbias, uma bactéria facultativa está presente.
Se o efluente possuir também o nitrogênio para ser retirado, após a passagem pelo
reator anaeróbio há uma seção anóxica onde ocorre denitrificação, liberando N2. Nesta seção
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Q
Efluente
Descarte
Recirculação 0,5 Q
de lodo
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APHA, AWWA, WEF. (1995). Standard methods for the examination of water
and wastewater. 19th. edn. American Public Health Association, Washington, DC,.
Fonte: www.riolagos.com.br/calsj/ciclo-agua.htm
Mota, S. Introdução á engenharia ambiental. 1a ed. ABES, 1997. 286 p.
Resolução no 357, de 17/03/2005do CONAMA.
Von Sperling, E. Princípios do Tratamento Biológico de Águas Residuárias:
Introdução à Qualidade das Águas e ao Tratamento de Esgotos. vol 1, 2a ed. Universidade
Federal de Minas Gerais, 1996. 243 p.
CETESB. Guia de coleta e preservação de amostras de água. Agudo, E.G., São
Paulo: CETESB, 1987.
Vitoratto, E.. II Curso de Tratamento Biológico de Resíduos. São Paulo: IPT -
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, 1993.
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