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6 Bibliograa 18
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1 Introdução
A maioria das cidades se localiza perto de rios, lagos ou estuários que são uti-
lizados como esgotos naturais e gratuitos. O ser humano busca, por instinto
e sobrevivência, xar-se próximo de um ecossistema aquático mas, na maio-
ria das vezes, não lhe ocorre medir a necessidade de afastar ou condicionar
adequadamente seus resíduos para proteger esses corpos d'água. Por possuí-
rem águas correntes, os rios e riachos geram um comodismo que possibilita
o descarte indesejável dos resíduos humanos. No Brasil, tais atitudes estão
comprometendo as condições sanitárias e estéticas de um grande número de
municípios. Visto que está escrito na Constituição do Brasil que as responsa-
bilidades com o saneamento e com a educação básica, inclusive a ambiental,
são deveres do poder governamental local, independente da ideologia política
adotada.
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das proteínas, como também o fósforo, o potássio, o carbono, o enxofre, o
ferro, o oxigênio e muitos outros. A sobrevivência desses seres depende de
todos os elementos (nutrientes) existirem em quantidades corretas e oriundas
das fontes naturais para o delicado equilíbrio do ecossistema. Por exemplo, o
fósforo e o potássio estão presentes em formações minerais (solos e rochas),
o nitrogênio pode ser xado por bactérias ou gerado por descargas elétricas
atmosféricas. Após os seres utilizarem estes elementos nutrientes eles têm
de ser devolvidos ao meio, mesmo que de outra forma, para entrar na cadeia
alimentar de todos novamente por meio da fotossíntese. Qualquer excesso,
ou carência, ou incrementos articiais desses elementos, pode ser fatal para a
sobrevivência.
Nos ecossistemas aquáticos os seres produtores são assim chamados por produ-
zirem seus próprios alimentos para sua sobrevivência ao realizar a fotossíntese,
por exemplo, as algas. Esses seres fabricam o alimento necessário para sua
sobrevivência e, inclusive, para os demais organismos. Os organismos consu-
midores são assim determinados por necessitarem direta, ou indiretamente,
ingerir nutrientes fabricados pelos seres fotossintetizantes (produtores). A
devolução ao meio ambiente ocorre por intermédio dos seres decompositores
a partir dos resíduos orgânicos e/ou da morte dos seres vivos. Eles oxidam
a matéria orgânica e completam a reciclagem natural dos nutrientes. Estes
seres decompositores são microrganismos que vivem no lodo do fundo da água,
como as bactérias.
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pode causar o que chamamos de poluição. A redução do oxigênio dissolvido
pelo excesso de consumo dos decompositores prejudica a sobrevivência dos
seres produtores e consumidores que coloca em risco todo o ecossistema aquá-
tico.
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A principal diferença entre um rio e um lago é que o primeiro é continuamente
lavado pelas águas. Entretanto, em rios e lagos poderão ocorrer o excesso
de nutrientes (matéria orgânica) que ocasionarão os crescimentos das algas.
Este processo é chamado de eutrozação. Embora a geração de algas seja
necessária para dar suporte à cadeia alimentar, a sua proliferação excessiva
acarreta a deterioração do corpo hídrico. Os rios são raramente eutrozados
por possuírem águas correntes. Com relação ao uxo da água, os rios e riachos
são chamados de ecossistemas lóticos. Lagos e tanques, que não possuem águas
correntes, ou até mesmo um riacho com uxo muito lento, são chamados de
ecossistemas lênticos.
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Figura 2: Fonte: Imagem adaptada de Vesilind e Morgan. Introdução à Engenharia
Ambiental. 2a ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014.
A
ln = −kt (4)
A0
A −kt
=e (5)
A0
−kt
A = A0 · e (6)
Onde,
A = quantidade qualquer de nutriente, normalmente necromassa,
A0 = quantidade qualquer logo após o lançamento.
dA/dT = taxa de reação,
k = constante da taxa de reação,
t = tempo.
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Num ecossistema aquático as reações causadas pelo uxo do pistão não param
de ocorrer. Além da reação de primeira ordem ocorrem reações de segunda
ordem e outras sucessivamente. Numa segunda reação, ou seja, reação de
segunda ordem, pode ser expressa como:
dA
= −kA2 (7)
dt
Z A1 Z t
dA
= −k dt (8)
A0 A2 t0
1 1
− = kt (9)
A A0
Onde,
k1 e k2 são constantes das taxas de reações das concentrações dos poluentes A,
B, C etc., que saem do euente e se misturam na água limpa formando plumas
que se movimentam no sentido da corrente, e se diluem à jusante dependendo
do volume de água do rio e da quantidade de poluente. Observa-se que k1 é
positivo porque as concentrações de oxigênio estão sendo formadas mas k2 é
negativo porque está sendo consumida pelos microrganismos decompositores.
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Esta equação foi utilizada por Streeter e Phelps para elaborar um modelo ma-
temático que mede a taxa de oxigênio dissolvido em um riacho. O décit de
oxigênio é B, sendo aumentado como resultado do consumo de oxigênio pelos
microorganismos e diminuido pela diluição (difusão) de oxigênio na água a
partir da atmosfera e da fotossíntese que atuam como um produto da autode-
puração do rio.
Este modelo foi proposto inicialmente em 1925 por Harold Warner Streeter
e Earle Bernard Phelps (1876-1953) a partir de um estudo do processo de
oxidação e aeracão no Río Ohio nos Estados Unidos com base em dados obtidos
desde maio de 1914 a abril de 1915.
3 Modelo de Streeter-Phelps
O modelo de Streeter-Phelps é um modelo matemático que possibilita avaliar
os mecanismos que denem a taxa de variação do oxigênio dissolvido em um
corpo hídrico quando recebe a descarga de águas residuais, com decomposição
de matéria orgânica, e a aeração de oxigênio por fotossíntese e por penetração
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do oxigênio atmosférico. Este modelo tem sido adaptado tanto para fontes
pontuais como para fontes difusas ou dispersas.
D =S−C (13)
Onde,
D = décit de oxigênio, mg/L,
S = nível de saturação de oxigênio na água (o máximo de oxigênio que pode
conter), mg/L,
C = concentração de oxigênio dissolvido na água, mg/L.
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constante de reoxigenação, D é o décit da concentração de oxigênio. A taxa
de variação do Décit (D) depende da concentração de matéria orgânica a ser
decomposta, ou da necessidade restante de oxigênio para os microrganismos
(z). Pode-se entender o Décit em qualquer tempo t. Considerando z como
a taxa proporcional de oxigênio para ocorrer a decomposição em uma reação
inicial de primeira ordem, podemos expressá-la por:
dz
= −kz (15)
dt
Z z1 Z t
dz
= −k dt (16)
z0 z t0
z
ln = −kt (18)
z0
z −kt
=e (19)
z0
−kt
z = z0 e (20)
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uma ETE tratar do esgoto de um determinado bairro se o rio em que ela
lançará seu euente está com um grande décit de oxigênio? Seria um gasto
desnecessário do dinheiro público. Neste caso, o correto seria investir primeiro
no tratamento do rio com técnicas de drenagem urbana para corrigir o décit
de oxigênio, depois se avaliaria onde e em que condições se construiriam as
estações, inclusive, na qualidade do euente do esgoto e no trecho do rio
receptor. Nesta etapa seria necessário sincronizar com os serviços nas ruas
como galerias para águas pluviais, boca de lobos e educação ambiental nos
locais de atuação.
Não adianta sanear uma rua se as pessoas moradoras do bairro não foram
avisadas e nem foram promovidas ações de educação ambiental pelo poder
público local. Elas deverão entender que seus esgotos serão conectados aos
trocos-coletores que passarão em suas portas, para que assim não façam mais
conexões clandestinas para sumidouros ou riachos que passam perto de suas
casas. Este fato é muito comum em comunidades na Baixada Fluminense e em
outras periferias de centros urbanos. As pessoas devem participar das ações
do governo sobre a construção de uma ETE no seu bairro. Assim, as condições
sanitárias seriam mais duradouras.
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vazão do rio. Esta hipótese, infelizmente, nem sempre é verdadeira, o grau
de poluição dos centros urbanos não está permitindo autodepuração. Mas se
fosse verdadeira, o primeiro décit no rio abaixo do ponto de descarga seria o
mesmo que no ponto antes da descarga do euente, autodepuração perfeita. O
balanço de cargas sobre o pistão no ponto de descarga do euente, em t=0 na
gura 3, apresenta uma mistura das vazões do rio e da descarga do poluente.
QM + QP = QJ (23)
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da descarga e da concentração de oxigênio na vazão do euente. Uma vez que
o décit é igual a D = S − C , o décit inicial D0 deve ser uma combinação do
décit na vazão à montante , DM e do décit do Poluente, DP .
Onde,
D = décit de oxigênio em qualquer tempo t,
D0 = décit de oxigênio da vazão imediatamente abaixo da localização do
euente de poluentes,
DM = décit de oxigênio da vazão à montante (décit de saturação DS ),
QM = uxo à montante,
CM = concentração de oxigênio à montante,
QP = uxo da fonte poluidora,
CP = concentração da fontee poluidora,
QJ = uxo à jusante,
CJ = concentração de oxigênio à jusante.
Onde,
ρ = massa especíca, kg/m3
M = massa, kg
V = volume m3 .
Então,
Qmássico = Qvolumétrico · C (26)
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Por isso chamamos de balanço de massa. As diferentes vazões na gura 4, ou
seja, o balanço no ponto de despejo do poluente será um balanço em termos
de vazão e concentração, que pode ser escrito como:
QM CM + QP CP = QJ CJ (27)
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temperatura da água à jusante pode ser calculada utilizando-se a seguinte
equação:
QM TM + QP TP
TJ = (29)
QM + QP
Onde,
LJ = demanda nal de oxigênio abaixo do despejo do euente,
LM = demanda nal de oxigênio da água antes do despejo do euente,
LP = demanda nal de oxigênio do poluente despejado,.
5 Exercícios
Os exercícios serão divididos em conceituais e problemas.
5.1 Conceituais
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6. Com a atual mudança climática global, os ecossistemas aquáticos são im-
pactados com os efeitos do aumento da temperatura média global em
alguns pontos do planeta e com o excesso de carbono na atmosfera.
Explique como estas alterações impactarão nas características físicas e
químicas dos corpos hídricos com relação aos organismos produtores,
consumidores e decompositores.
7. Faça um estudo da Portaria 2914, de 12 de dezembro de 2011, do Minis-
tério da Saúde, que trata da potabilidade da água no Brasil.
8. Faça um estudo da Resolução 430, de 13 de maio de 2011, do Ministério
do Meio Ambiente, CONAMA, que trata dos padrões de lançamento de
euentes no Brasil.
5.2 Problemas
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5. Os rios A e B encontram-se em Belford Roxo para formar o rio C. O rio
A, que corre para o sul através das cidades da Baixada Fluminense, ui
numa vazão média de 9, 63m3 /s e tem um baixo volume de particulados
suspensos, 250mg/l. O rio B, por sua vez. ui para o norte com uma vazão
de 13, 03m3 /s através de antigas cidades sem tratamento de esgoto e com
solos pobres e destruídos por agrotóxicos, transportando um volume de
materiais suspensos de 1500mg/l. A) Qual é a vazão média do rio C? B)
Qual é a concentração de materiais suspensos no rio C?
{Acumulado}={Entrada}-{Saída}+{Produzido}-{Consumido}
6. Logo abaixo da descarga do euente de uma ETE, um rio de 8, 6km tem
uma constante de reoxigenação de 0, 4dia−1 , a uma velocidade de 0, 15m/s,
com concentração de oxigênio dissolvido de 6mg/l, e uma demanda nal
de oxigênio (L) de 25mg/l. O rio está com 15 ◦ C. A constante de desoxige-
nação é estimada em 0, 25dia−1 . A) Haverá peixes nesse rio? B) Por que
deveríamos nos importar se há peixe nesse rio? Será que os peixes me-
recem considerações éticas? Que argumento você pode considerar para
apoiar este ponto de vista?
7. Em Nova Iguaçu, um rio com velocidade normal, recebe o esgoto de
uma ETE com capacidade de 0, 440m3 /s. Tem uma média de vazão no
verão de 0, 28m3 /s, temperatura de 24 ◦ C e velocidade de 0, 25m/s. As
características do euente de esgoto são: temperatura = 28 ◦ C; DBO
nal (L) = 40mg/l; k1 = 0, 23d−1 ; oxigênio dissolvido = 2mg/l. A extensão
total do rio é de 14km, Como este rio possui velocidade lenta, seu k2 é em
torno de 0, 4dia−1 . A) Nova Iguaçu precisa se preocupar com o efeito dessa
descarga sobre o seu rio? B) Se este rio e nem o rio que ele desemboca
são úteis, quais as implicações éticas? C) Há peixes nesse rio?
8. Um grande rio tem uma reoxigenação constante de 0, 4dia−1 e uma veloci-
dade de 0, 85m/s. No momento em que um poluente orgânico é descarre-
gado, está saturado com oxigênio a 10mg/l (D0 = 0). Abaixo do ponto de
descarga, a demanda nal por oxigênio se encontra em 20mg/l, e a cons-
tante de desoxigenação é de 0, 2dia−1 . Qual é a concentração de oxigênio
dissolvido em 48, 3km a jusante da descarga do poluente orgânico?
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9. Suponha que o uxo de poluentes orgânicos do problema 8 tenha uma
concentração de oxigênio dissolvido de 1, 5mg/l, um uxo de 0, 5m3 /s, com
uma temperatura de 26 ◦ C e uma DBO nal de 48mg/l. A vazão do rio
é de 2, 2m3 /s, a uma concentração de OD saturada, uma temperatura de
12 ◦ C e uma DBO nal de 13, 6mg/l. Calcule a concentração de oxigênio
dissolvido em 48, 3km a jusante.
6 Bibliograa
Referências
[1] VESILIND, P. Aarne. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Editora Cen-
gage Learnig, 2014
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