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Universidade Iguaçu - UNIG

Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas - Facet


Campus - Nova Iguaçu
Curso de Engenharia Civil
Disciplina de Saneamento

Apostila de Saneamento Ambiental - Parte 1

Prof .o Jose Gatto

Nova Iguaçu, 22 de Fevereiro de 2018


Conteúdo
1 Introdução 2
2 Mecanismos bioquímicos, autodepuração e inuência humana em ecos-
sistemas de águas correntes 3
3 Modelo de Streeter-Phelps 8
4 Balanço de Massa e Vazão 11
5 Exercícios 15
5.1 Conceituais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
5.2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

6 Bibliograa 18

1
1 Introdução
A maioria das cidades se localiza perto de rios, lagos ou estuários que são uti-
lizados como esgotos naturais e gratuitos. O ser humano busca, por instinto
e sobrevivência, xar-se próximo de um ecossistema aquático mas, na maio-
ria das vezes, não lhe ocorre medir a necessidade de afastar ou condicionar
adequadamente seus resíduos para proteger esses corpos d'água. Por possuí-
rem águas correntes, os rios e riachos geram um comodismo que possibilita
o descarte indesejável dos resíduos humanos. No Brasil, tais atitudes estão
comprometendo as condições sanitárias e estéticas de um grande número de
municípios. Visto que está escrito na Constituição do Brasil que as responsa-
bilidades com o saneamento e com a educação básica, inclusive a ambiental,
são deveres do poder governamental local, independente da ideologia política
adotada.

Em qualquer ecossistema a maior diferença entre os seres humanos e os outros


seres vivos é que os humanos são imprevisíveis. Todas as outras criaturas agem
de acordo com regras de sobrevivência bem estabelecidas. Por isso, os huma-
nos necessitam de uma escolaridade básica rigorosa que possa promover uma
capacitação para tornar a sobrevivência ética, sanitária e coletiva. Tal escola-
ridade deve ser promovida para o povo desde sua infância, para que o mesmo
não que sozinho com o compromisso de adquirir este ensinamento. Deixar
uma criança crescer sem envolvê-la em temas coletivos como saneamento e
saúde pública corre-se o risco de que em um futuro próximo suas atitudes
sejam mais egocêntricas do que ecocêntricas. O individualismo é inimigo do
ecossistema. É fácil culpar o povo da falta de educação por jogar um papel
no chão aqui, outro lixo ali etc.. Porém, esta culpa não é apenas do povo, a
promoção de uma educação ambiental deve fazer parte do conteúdo básico de
todo currículo escolar desde a infância. É uma questão de sobrevivência da
espécie humana o fato de promover a civilidade ético-sanitária desde criança.
A educação ambiental, assim como a educação básica, deve ser promovida via
escolaridade, e é um direito da pessoa recebê-la desde o início dos seus estu-
dos. Por outro lado, é dever do Estado promovê-la de forma contextualizada
com o local de moradia.

Dentro de um ecossistema aquático exitem três grupos de seres vivos - os


produtores, os consumidores e os decompositores. Esses organismos interagem
continuamente entre si. Essas interações são consequências direta ou indireta
das suas relações com a radiação solar, a fotossíntese e os diversos nutrientes
(Tabela Periódica dos Elementos), tais como o nitrogênio, que é formador

2
das proteínas, como também o fósforo, o potássio, o carbono, o enxofre, o
ferro, o oxigênio e muitos outros. A sobrevivência desses seres depende de
todos os elementos (nutrientes) existirem em quantidades corretas e oriundas
das fontes naturais para o delicado equilíbrio do ecossistema. Por exemplo, o
fósforo e o potássio estão presentes em formações minerais (solos e rochas),
o nitrogênio pode ser xado por bactérias ou gerado por descargas elétricas
atmosféricas. Após os seres utilizarem estes elementos nutrientes eles têm
de ser devolvidos ao meio, mesmo que de outra forma, para entrar na cadeia
alimentar de todos novamente por meio da fotossíntese. Qualquer excesso,
ou carência, ou incrementos articiais desses elementos, pode ser fatal para a
sobrevivência.

Nos ecossistemas aquáticos os seres produtores são assim chamados por produ-
zirem seus próprios alimentos para sua sobrevivência ao realizar a fotossíntese,
por exemplo, as algas. Esses seres fabricam o alimento necessário para sua
sobrevivência e, inclusive, para os demais organismos. Os organismos consu-
midores são assim determinados por necessitarem direta, ou indiretamente,
ingerir nutrientes fabricados pelos seres fotossintetizantes (produtores). A
devolução ao meio ambiente ocorre por intermédio dos seres decompositores
a partir dos resíduos orgânicos e/ou da morte dos seres vivos. Eles oxidam
a matéria orgânica e completam a reciclagem natural dos nutrientes. Estes
seres decompositores são microrganismos que vivem no lodo do fundo da água,
como as bactérias.

2 Mecanismos bioquímicos, autodepuração e inuência


humana em ecossistemas de águas correntes
Quando a matéria orgânica biodegradável é despejada no meio aquático, por
exemplo, via euente de esgoto, ela é digerida pelos decompositores por me-
canismos bioquímicos. Os decompositores chamados aeróbios respiram o oxi-
gênio dissolvido na água para oxidar os materiais orgânicos em suspensão na
água limpa e competem com os organismos dos outros dois grupos. Conforme
a matéria orgânica biodegradável formada por elementos nutrientes continua
a entrar por despejo e esses microrganismos decompositores possuem requi-
sitos de sobrevivência em termos de oxigênio bastante baixos, eles ganham
a competição. Com a falta de oxigênio para os outros grupos os peixes, por
exemplo, morrem formando mais matéria orgânica em suspensão e a popula-
ção dos decompositores cresce rapidamente e exige mais oxigênio para suas
decomposições. Dessa forma, a matéria orgânica biodegradável em excesso

3
pode causar o que chamamos de poluição. A redução do oxigênio dissolvido
pelo excesso de consumo dos decompositores prejudica a sobrevivência dos
seres produtores e consumidores que coloca em risco todo o ecossistema aquá-
tico.

Dessa forma, o oxigênio dissolvido (OD) na água é um dos principais indi-


cadores da qualidade da água pois sua demanda é requisitada por todos os
seres vivos desse ecossistema. Essa Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)
relaciona o tipo do organismo e a sua sobrevivência com o grau de poluição
de um corpo hídrico. Ao avaliar a DBO de rios, riachos e lagos saberemos
quais seres vivos estarão vivos ou mortos. Por outro lado, quando o oxigênio
dissolvido começa a car ausente, entram em cena outros microrganismos, os
chamados anaeróbios. Esses decompositores não necessitam de oxigênio e li-
beram substâncias que conferem odor, sabor e aspectos indesejáveis à água.
É o começo do m de um ecossistema aquático. Peixes e outros seres vivos de
um corpo hídrico necessitam uma concentração de oxigênio dissolvido entre
2mg/l e 4mg/l para existirem na forma de vida aeróbia superior.

A concentração de oxigênio dissolvido em rios e riachos depende de diversas


variáveis, dentre algumas, temos:
1. A característica dos despejos de diversos setores da sociedade, tais como a
concentração de resíduos suspensos nos euentes dos esgotos domésticos,
industriais e comerciais que podem conter misturas não biodegradáveis,
tais como, detergentes, produtos de higiene, produtos farmacêuticos en-
tre outros.
2. A característica do corpo d'água associada à facilidade com que as cargas
poluidoras são misturadas ao seu meio aquático, tais como a velocidade do
uido, a geometria do canal de escoamento, inclinação do canal, difusão
turbulenta etc.;
3. A produção de oxigênio dissolvido que pode ser originada pela fotos-
síntese dos organismos e pela reaeração, que é a passagem do oxigênio
atmosférico para dentro do corpo d'água (interface ar-água).

Um corpo hídrico poluído por lançamento de matéria orgânica biodegradável


pode sofrer um processo natural de recuperação chamado de autodepuração.
Esse fenômeno é realizado por meio de processos físicos como diluição e sedi-
mentação; químicos como oxidação e biológicos como decomposições aeróbias.

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A principal diferença entre um rio e um lago é que o primeiro é continuamente
lavado pelas águas. Entretanto, em rios e lagos poderão ocorrer o excesso
de nutrientes (matéria orgânica) que ocasionarão os crescimentos das algas.
Este processo é chamado de eutrozação. Embora a geração de algas seja
necessária para dar suporte à cadeia alimentar, a sua proliferação excessiva
acarreta a deterioração do corpo hídrico. Os rios são raramente eutrozados
por possuírem águas correntes. Com relação ao uxo da água, os rios e riachos
são chamados de ecossistemas lóticos. Lagos e tanques, que não possuem águas
correntes, ou até mesmo um riacho com uxo muito lento, são chamados de
ecossistemas lênticos.

Figura 1: Fonte: Imagem adaptada de Braga e outros. Introdução à Engenharia Ambi-


ental. 2a ed. São Paulo: Pearson, 2005.

No infográco da Figura 1 as regiões anterior e posterior ao lançamento de


matéria orgânica biodegradável por um euente estão associadas aos grácos
da concentração de OD e da DBO por tempo, ou distância percorrida pela
pluma de poluentes desde a fonte poluidora. Neste gráco é possível observar
a evolução das linhas que indicam o OD e a DBO por por zonas de impactos
à jusante.

As águas correntes de um rio podem ser caracterizadas hidraulicamente como


um reator de uxo de pistão. Esta estratégia de análise permite utilizar o
Cálculo Diferencial e Integral para aferir a taxa de crescimento, ou decres-
cimento, do oxigênio dissolvido, ou seja, o potencial poluidor da pluma de
esgoto que se desloca com a correnteza do rio. Esta pluma caminha para
jusante dependendo do tempo e da velocidade do uxo da correnteza (gura
2).

5
Figura 2: Fonte: Imagem adaptada de Vesilind e Morgan. Introdução à Engenharia
Ambiental. 2a ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014.

Se considerarmos que neste reator o uxo de pistão realiza uma reação de


primeira ordem e que a matéria orgânica biodegradável despejada reage com
a água a uma taxa de reação A, que caracteriza o consumo ou destruição do
oxigênio utilizado pelos organismos, essa taxa pode ser expressa como:
dA
= −kA (1)
dt

Essa equação pode ser integrada entre A0 e A1 , t0 e t, assim :


Z A1 Z t
dA
= −k dt (2)
A0 A t0

lnA − lnA0 = −kt (3)

A
ln = −kt (4)
A0

A −kt
=e (5)
A0

−kt
A = A0 · e (6)

Onde,
A = quantidade qualquer de nutriente, normalmente necromassa,
A0 = quantidade qualquer logo após o lançamento.
dA/dT = taxa de reação,
k = constante da taxa de reação,
t = tempo.

6
Num ecossistema aquático as reações causadas pelo uxo do pistão não param
de ocorrer. Além da reação de primeira ordem ocorrem reações de segunda
ordem e outras sucessivamente. Numa segunda reação, ou seja, reação de
segunda ordem, pode ser expressa como:
dA
= −kA2 (7)
dt

Z A1 Z t
dA
= −k dt (8)
A0 A2 t0

1 1
− = kt (9)
A A0

Finalmente, estas reações podem ser consecutivas e envolver diversos materi-


ais, de modo que:

Taxa de A → Taxa de B → Taxa de C → ...

A primeira reação é de primeira ordem, então:


dA
= −kA (10)
dt

A segunda reação é de primeira ordem com relação a B, a reação geral será:


dB
= k1 A − k2 B (11)
dt

Onde,
k1 e k2 são constantes das taxas de reações das concentrações dos poluentes A,
B, C etc., que saem do euente e se misturam na água limpa formando plumas
que se movimentam no sentido da corrente, e se diluem à jusante dependendo
do volume de água do rio e da quantidade de poluente. Observa-se que k1 é
positivo porque as concentrações de oxigênio estão sendo formadas mas k2 é
negativo porque está sendo consumida pelos microrganismos decompositores.

Para obter o valor de B na equação 11 devemos integrar a expressão dB/dt.


Esta integração deve ser trabalhada pois seu resultado é importante para
determinar o grau de poluição de um rio. O resultado da integração produz a
equação:
k1 · A0 −k1 t
− e−k2 t + B0 · e−k2 t (12)

B= e
k2 − k1

7
Esta equação foi utilizada por Streeter e Phelps para elaborar um modelo ma-
temático que mede a taxa de oxigênio dissolvido em um riacho. O décit de
oxigênio é B, sendo aumentado como resultado do consumo de oxigênio pelos
microorganismos e diminuido pela diluição (difusão) de oxigênio na água a
partir da atmosfera e da fotossíntese que atuam como um produto da autode-
puração do rio.

Este modelo foi proposto inicialmente em 1925 por Harold Warner Streeter
e Earle Bernard Phelps (1876-1953) a partir de um estudo do processo de
oxidação e aeracão no Río Ohio nos Estados Unidos com base em dados obtidos
desde maio de 1914 a abril de 1915.

Figura 3: Fonte: Imagem adaptada de Vesilind e Morgan. Introdução à Engenharia


Ambiental. 2a ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014.

Com este arcabouço matemático do Cálculo I pode-se entender que quando


um rio recebe euente de matéria orgânica biodegradável a ação simultânea
de reoxigenação e desoxigenação formam o que se denomina curva do oxigênio
dissolvido (Figura 3).

3 Modelo de Streeter-Phelps
O modelo de Streeter-Phelps é um modelo matemático que possibilita avaliar
os mecanismos que denem a taxa de variação do oxigênio dissolvido em um
corpo hídrico quando recebe a descarga de águas residuais, com decomposição
de matéria orgânica, e a aeração de oxigênio por fotossíntese e por penetração

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do oxigênio atmosférico. Este modelo tem sido adaptado tanto para fontes
pontuais como para fontes difusas ou dispersas.

A Figura 3 apresenta a forma da curva do oxigênio dissolvido como resultado


da soma da taxa de consumo do oxigênio pelos organismos, que é a desoxige-
nação, e a taxa de fornecimento por fotossíntese e por penetração atmosférica
através da interface ar-água, que é a reoxigenação. Se a taxa de utilização
for grande, como no trecho logo após a descarga da matéria orgânica biode-
gradável, compare a Figura 1 com a Figura 3, o nível de oxigênio dissolvido
cai porque a taxa de fornecimento não pode acompanhar o uso de oxigênio,
criando um décit. O Décit (D) é denido como a diferença entre a quanti-
dade total de oxigênio que a água poderia conter, ou seja, a Saturação (S), e
a concentração (C) de oxigênio nas águas do rio, assim:

D =S−C (13)

Onde,
D = décit de oxigênio, mg/L,
S = nível de saturação de oxigênio na água (o máximo de oxigênio que pode
conter), mg/L,
C = concentração de oxigênio dissolvido na água, mg/L.

Na Figura 3 pode-se observar que após a alta taxa inicial de decomposição,


quando a matéria orgânica é decomposta pelos microrganismos decomposito-
res, a taxa de utilização de oxigênio diminui porque os materiais que menos
se decompõem permanecem. Com o uso de tanto oxigênio, o décit é grande,
mas o fornecimento de oxigênio da atmosfera é alto e começa acompanhar a
utilização, que é uma situação favorável para a autodepuração. Portanto, o
décit começa a ser reduzido e, mais uma vez, atinge os níveis de saturação.
Quando o décit aumenta começa a poluição.

Este processo foi analisado por Streeter e Phelps e descrito em termos de


reações consecutivas conforme a base matemática do Cálculo I descrita acima.
A taxa de utilização do oxigênio e a taxa de reabastecimento de oxigênio foram
expressas, na notação de Streeter e Phelps, da seguinte forma:
dD
= k1 z − k2 D (14)
dt

Onde z é a quantidade de oxigênio necessária para os microrganismos que estão


decompondo a matéria orgânica. k1 é a constante de desoxigenação e k2 é a

9
constante de reoxigenação, D é o décit da concentração de oxigênio. A taxa
de variação do Décit (D) depende da concentração de matéria orgânica a ser
decomposta, ou da necessidade restante de oxigênio para os microrganismos
(z). Pode-se entender o Décit em qualquer tempo t. Considerando z como
a taxa proporcional de oxigênio para ocorrer a decomposição em uma reação
inicial de primeira ordem, podemos expressá-la por:
dz
= −kz (15)
dt

Z z1 Z t
dz
= −k dt (16)
z0 z t0

lnz − lnz0 = −kt (17)

z
ln = −kt (18)
z0

z −kt
=e (19)
z0

−kt
z = z0 e (20)

Se z0 é a demanda bioquímica de oxigênio e, trocando a letra desta variável,


fazendo z0 = L, e substituindo o valor de z após esta troca na equação 20, e
integrar esta equação, o resultado será:
k1 · L0 −k1 t
− e−k2 t + D0 · e−k2 t (21)

D= e
k2 − k1

Esta é a chamada equação de Décit de Streeter-Phelps, onde


D = décit de oxigênio em qualquer tempo t, mg/L
D0 = décit de oxigênio imediatamente abaixo da localização do euente de
poluentes, mg/L
L0 = demanda nal de oxigênio imediatamente abaixo da localização do eu-
ente do poluente.

A maior preocupação quanto à qualidade da água é o ponto na corrente em


que o décit é maior, ou seja, onde a concentração do oxigênio dissolvido é
mínima. Esta análise é utilizada para estabelecer o grau de poluição de um rio
ou riacho. Inclusive, é utilizada para saber o grau de eciência dos euentes
das Estações de Tratamento de Esgoto, ETE. Por exemplo, para que serve

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uma ETE tratar do esgoto de um determinado bairro se o rio em que ela
lançará seu euente está com um grande décit de oxigênio? Seria um gasto
desnecessário do dinheiro público. Neste caso, o correto seria investir primeiro
no tratamento do rio com técnicas de drenagem urbana para corrigir o décit
de oxigênio, depois se avaliaria onde e em que condições se construiriam as
estações, inclusive, na qualidade do euente do esgoto e no trecho do rio
receptor. Nesta etapa seria necessário sincronizar com os serviços nas ruas
como galerias para águas pluviais, boca de lobos e educação ambiental nos
locais de atuação.

Não adianta sanear uma rua se as pessoas moradoras do bairro não foram
avisadas e nem foram promovidas ações de educação ambiental pelo poder
público local. Elas deverão entender que seus esgotos serão conectados aos
trocos-coletores que passarão em suas portas, para que assim não façam mais
conexões clandestinas para sumidouros ou riachos que passam perto de suas
casas. Este fato é muito comum em comunidades na Baixada Fluminense e em
outras periferias de centros urbanos. As pessoas devem participar das ações
do governo sobre a construção de uma ETE no seu bairro. Assim, as condições
sanitárias seriam mais duradouras.

Além disso, a equação 21 de Streeter-Phelps permite também avaliar em que


condições estão as espécies vivas nos rios ou riachos. A existência de microrga-
nismos nos rios e riachos qualica sanitariamente a existência de outros seres
vivos, inclusive do humano, pois todos os organismos vivos fazem parte da
cadeia alimentar de todo o trecho urbano, ou rural, cortado por rios e riachos.
Deve-se observar que todo corpo hídrico faz parte da cadeia alimentar de sua
região.

Se na equação 21 for denido (dD/dt) = 0 e realizado o processo matemático


de integração, pode-se obter uma equação resultante que avalia o ponto em
que a curva do oxigênio dissolvido chega ao mínimo e, começa a subir. A
equação resultante dessa integração permite avaliar este momento crítico de
um rio à jusante, o resultado da integração será:
  
1 k2 D0 (k2 − k1 )
t= · ln 1− (22)
k2 − k1 k1 k1 · L 0

4 Balanço de Massa e Vazão


Uma hipótese baseada no modelo acima, equações 21 e 22, é que pode-se
considerar a vazão da descarga do poluente muito pequena comparada com a

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vazão do rio. Esta hipótese, infelizmente, nem sempre é verdadeira, o grau
de poluição dos centros urbanos não está permitindo autodepuração. Mas se
fosse verdadeira, o primeiro décit no rio abaixo do ponto de descarga seria o
mesmo que no ponto antes da descarga do euente, autodepuração perfeita. O
balanço de cargas sobre o pistão no ponto de descarga do euente, em t=0 na
gura 3, apresenta uma mistura das vazões do rio e da descarga do poluente.

Comparando a gura 3 com a gura 4, e denominando vazão como Q e con-


centração como C, observa-se que no ponto de descarga, ponto 0, a vazão da
corrente de água do rio à montante e a sua concentração de oxigênio dissolvido
à montante são QM e CM , respectivamente, e o euente de poluição tem vazão
e concentração de oxigênio dissolvido QP e CP . À jusante, denominam-se a
vazão como QJ e a concentração como CJ .

Figura 4: Fonte: Imagem adaptada de Vesilind e Morgan. Introdução à Engenharia


Ambiental. 2a ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014.

Será necessário realizar um balanço de massa, como a conservação de energia,


para entender o que ocorre com as vazões diferenciadas do rio, do euente e
da vazão misturada da água do rio com a do euente, no processo de diluição
do poluente, isto é:
[ENTRADA] = [SAÍDA]

QM + QP = QJ (23)

Em outras palavras, a concentração de oxigênio na vazão à jusante da fonte de


poluição é uma combinação da concentração de oxigênio na vazão à montante

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da descarga e da concentração de oxigênio na vazão do euente. Uma vez que
o décit é igual a D = S − C , o décit inicial D0 deve ser uma combinação do
décit na vazão à montante , DM e do décit do Poluente, DP .

Onde,
D = décit de oxigênio em qualquer tempo t,
D0 = décit de oxigênio da vazão imediatamente abaixo da localização do
euente de poluentes,
DM = décit de oxigênio da vazão à montante (décit de saturação DS ),
QM = uxo à montante,
CM = concentração de oxigênio à montante,
QP = uxo da fonte poluidora,
CP = concentração da fontee poluidora,
QJ = uxo à jusante,
CJ = concentração de oxigênio à jusante.

Antes de prosseguir com a interpretação do infográco apresentado na gura 4,


deve-se esclarecer algumas diferenças importantes no Brasil entre uxo, vazão
e carga. Em processos de engenharia o uxo pode ser gravimétric o (massa) ou
volumétrico (volume). O primeiro se expressa em kg/s e o segundo em m3/s.
No Brasil, o uxo gravimétrico é chamado de carga e o uxo volumétrico é
chamado de vazão.

Estes dois uxos são interdependentes. A massa de um material que passa


por um trecho de um rio durante um intervalo de tempo se relaciona com o
volume desse material pela equação:
M
ρ= (24)
V

Onde,
ρ = massa especíca, kg/m3
M = massa, kg
V = volume m3 .

Assim, no Brasil, a vazão seria Qvolumétrico e a carga seria Qmássico . A concentra-


ção pode ser denida como uma massa especíca, do seguinte modo:
M assa
C= (25)
V olume

Então,
Qmássico = Qvolumétrico · C (26)

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Por isso chamamos de balanço de massa. As diferentes vazões na gura 4, ou
seja, o balanço no ponto de despejo do poluente será um balanço em termos
de vazão e concentração, que pode ser escrito como:

QM CM + QP CP = QJ CJ (27)

Se QJ = QM + QP , temos para a concentração de oxigênio na mistura à jusante


entre a água do rio e o euente, a seguinte equação:
QM CM + QP CP
CJ = (28)
QM + QP

Observe que a equação 28 do balanço de massa indica que se a vazão do


poluente chegar a ser zero, QP = 0, conforme a hipótese não muito verdadeira
apresentada no início deste capítulo, a concentração de oxigênio à jusante será
igual a concentração de oxigênio do rio antes do despejo do poluente.

Por outro lado, o nível de oxigênio em água limpa depende da temperatura


da água. Vários estudos são realizados para determinar esta relação de forma
empírica. A tabela apresentada no infográco 5 mostra esta relação para
várias temperaturas.

Figura 5: Fonte: Imagem adaptada de Vesilind e Morgan. Introdução à Engenharia


Ambiental. 2a ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014.

Uma vez que a concentração de oxigênio dissolvido da mistura de água limpa


com águas residuárias à jusante foi determinada conforme a equação 28, a

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temperatura da água à jusante pode ser calculada utilizando-se a seguinte
equação:
QM TM + QP TP
TJ = (29)
QM + QP

O valor da saturação do oxigênio à jusante, S0 em um T0 , pode ser encontrada


na Tabela do gráco 5. O décit inicial, ver infográco 4, é então calculado
como:
D0 = S0 − C0 (30)

Entretanto, o rio também pode ter uma Demanda de Oxigênio dissolvido,


DBO, à jusante do ponto de despejo do euente. Supondo que a mistura que
completa, a DBO à jusante deve ser calculada por:
LM QM + LP QP
LJ = (31)
QM + QP

Onde,
LJ = demanda nal de oxigênio abaixo do despejo do euente,
LM = demanda nal de oxigênio da água antes do despejo do euente,
LP = demanda nal de oxigênio do poluente despejado,.

Obviamente, para aplicar corretamente todo este arcabouço matemático será


necessário uma série de exercícios numéricos e conceituais para a xação de
toda a teoria. As formas e as fórmulas que determinarão as diferenças entre
as vazões serão entendidas caso a caso nos problemas práticos. Esta será a
próxima etapa.

5 Exercícios
Os exercícios serão divididos em conceituais e problemas.

5.1 Conceituais

1. Explique o que são e como agem no corpo hídrico os organismos produ-


tores, consumidores e decompositores.
2. Explique a diferença entre os microrganismos aeróbios e anaeróbios.
3. Explique o que é autodepuração em ecossistemas de águas correntes.
4. Explique o que é eutrozação.
5. Explique a diferença entre ecossistemas lênticos e lóticos.

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6. Com a atual mudança climática global, os ecossistemas aquáticos são im-
pactados com os efeitos do aumento da temperatura média global em
alguns pontos do planeta e com o excesso de carbono na atmosfera.
Explique como estas alterações impactarão nas características físicas e
químicas dos corpos hídricos com relação aos organismos produtores,
consumidores e decompositores.
7. Faça um estudo da Portaria 2914, de 12 de dezembro de 2011, do Minis-
tério da Saúde, que trata da potabilidade da água no Brasil.
8. Faça um estudo da Resolução 430, de 13 de maio de 2011, do Ministério
do Meio Ambiente, CONAMA, que trata dos padrões de lançamento de
euentes no Brasil.

5.2 Problemas

1. Uma Estação de Tratamento de Águas Residuárias (ETE) descarrega uma


vazão de 1, 5m3 /s (água mais matéria orgânica) em uma concentração de
sólidos de 20mg/l. Qual o valor da concentração de matéria orgânica que
a estação descarrega por dia?.
2. Uma Estação de Tratamento de Água (ETA) adiciona úor a uma con-
centração de 1mg/l. A média diária de demanda da população atendida
é de 18 milhões de galões. Quanto úor o operador da estação precisa
comprar?
3. Uma ETA produz água que tem uma concentração de arsênio de 0, 05mg/l.
A) Se o consumo médio per capta de água for de 2 galões por dia, quanto
arsênico cada pessoa poderá ingerir? B) Se você for o operador desta
estação e o Conselho Municipal perguntar-lhe se existe ou não arsênico
na água potável da comunidade, o que responderá? (Consulte a legislação
brasileira para saber o valor correto permitido) C) Comente sua resposta
pelo ponto de vista ético.
4. Um coletor-tronco de esgoto numa rua da cidade tem uma capacidade de
vazão de 4, 0m3 /s. Se a vazão para o esgoto for excedida, o coletor não
será capaz de transmitir todo o esgoto através da tubulação e ocorrerão
acúmulos. Existem três bairros que contribuem para o esgoto neste co-
letor, e suas vazões máximas são de 1, 0,5 e 2,7 m3 /s. Um engenheiro
deseja construir um edifício que vai contribuir com uma vazão máxima
de 0, 7m3 /s no coletor-tronco. Será que isso levará o coletor de esgoto
exceder sua capacidade?

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5. Os rios A e B encontram-se em Belford Roxo para formar o rio C. O rio
A, que corre para o sul através das cidades da Baixada Fluminense, ui
numa vazão média de 9, 63m3 /s e tem um baixo volume de particulados
suspensos, 250mg/l. O rio B, por sua vez. ui para o norte com uma vazão
de 13, 03m3 /s através de antigas cidades sem tratamento de esgoto e com
solos pobres e destruídos por agrotóxicos, transportando um volume de
materiais suspensos de 1500mg/l. A) Qual é a vazão média do rio C? B)
Qual é a concentração de materiais suspensos no rio C?

Obs.: Neste tipo de problema está envolvido uma mistura de correntes


de vazão de materiais múltiplos. O balanço de massa respeita a regra da
caixa preta, do seguinte modo:

{Acumulado}={Entrada}-{Saída}+{Produzido}-{Consumido}
6. Logo abaixo da descarga do euente de uma ETE, um rio de 8, 6km tem
uma constante de reoxigenação de 0, 4dia−1 , a uma velocidade de 0, 15m/s,
com concentração de oxigênio dissolvido de 6mg/l, e uma demanda nal
de oxigênio (L) de 25mg/l. O rio está com 15 ◦ C. A constante de desoxige-
nação é estimada em 0, 25dia−1 . A) Haverá peixes nesse rio? B) Por que
deveríamos nos importar se há peixe nesse rio? Será que os peixes me-
recem considerações éticas? Que argumento você pode considerar para
apoiar este ponto de vista?
7. Em Nova Iguaçu, um rio com velocidade normal, recebe o esgoto de
uma ETE com capacidade de 0, 440m3 /s. Tem uma média de vazão no
verão de 0, 28m3 /s, temperatura de 24 ◦ C e velocidade de 0, 25m/s. As
características do euente de esgoto são: temperatura = 28 ◦ C; DBO
nal (L) = 40mg/l; k1 = 0, 23d−1 ; oxigênio dissolvido = 2mg/l. A extensão
total do rio é de 14km, Como este rio possui velocidade lenta, seu k2 é em
torno de 0, 4dia−1 . A) Nova Iguaçu precisa se preocupar com o efeito dessa
descarga sobre o seu rio? B) Se este rio e nem o rio que ele desemboca
são úteis, quais as implicações éticas? C) Há peixes nesse rio?
8. Um grande rio tem uma reoxigenação constante de 0, 4dia−1 e uma veloci-
dade de 0, 85m/s. No momento em que um poluente orgânico é descarre-
gado, está saturado com oxigênio a 10mg/l (D0 = 0). Abaixo do ponto de
descarga, a demanda nal por oxigênio se encontra em 20mg/l, e a cons-
tante de desoxigenação é de 0, 2dia−1 . Qual é a concentração de oxigênio
dissolvido em 48, 3km a jusante da descarga do poluente orgânico?

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9. Suponha que o uxo de poluentes orgânicos do problema 8 tenha uma
concentração de oxigênio dissolvido de 1, 5mg/l, um uxo de 0, 5m3 /s, com
uma temperatura de 26 ◦ C e uma DBO nal de 48mg/l. A vazão do rio
é de 2, 2m3 /s, a uma concentração de OD saturada, uma temperatura de
12 ◦ C e uma DBO nal de 13, 6mg/l. Calcule a concentração de oxigênio
dissolvido em 48, 3km a jusante.

6 Bibliograa
Referências
[1] VESILIND, P. Aarne. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Editora Cen-
gage Learnig, 2014

[2] MIHELCIC, James R. ; ZIMMERMAN, Julie B. Introdução à engenharia


ambiental: fundamentos, sustentabilidade e projetos. Tradução Ramira Maria Siqueira
da Silva. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2018.

[3] BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de Saneamento


/ Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde.  4. ed.  Brasília : Funasa, 2015.

[4] BRAGA, Benetido et al. Introdução à engenharia ambiental: o desao do desenvol-


vimento sustentável. 2a ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

[5] VON SPERLING, Marcos. Estudos e modelagem da qualidade da água de rios. 2a


ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014a

[6] VON SPERLING, Marcos. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de


esgotos. 4a ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014b.

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