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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

UNIDADE EDUCACIONAL PENEDO

Resumo dos capítulos 24 e 25, livro Fundamentos de Limnologia, autor: Francisco de


Assis Esteves

A eutrofização dos corpos hídricos é um problema que vem sendo agravado desde o
século XIX, a partir do início da revolução industrial e utilização de produtos químicos
ricos em fosfato e nitrogênio. Entretanto é fundamental entender sobre o que é a
eutrofização e seus processos, causas, problemas e soluções. A eutrofização é
considerada como o processo de aumento nas concentrações de nutrientes (fósforo e
nitrogênio) nos ecossistemas aquáticos, gerando como consequência o aumento de sua
produtividade, passando assim de ambientes oligotróficos ou mesotróficos para
ambientes atróficos ou entronizados. O processo de eutrofização pode ser desencadeado
de maneira natural ou artificial. Quando sua origem é natural, esse processo é lento e
contínuo, resultante do aporte de nutrientes de maneira natural, porém a eutrofização
artificial é decorrente do acúmulo de nutrientes advindos da atividade humana e seus
produtos gerados com o processo industrialização e agropecuária. Esse processo de
eutrofização artificial é responsável pelo aporte em grandes quantidades de nutrientes
contendo fósforo e nitrogênio, causando a mudança do estado trófico rapidamente,
alterando os padrões físico e químicos da água se comparados com o processo natural.
As fontes de eutrofização artificial das águas continentais podem ser variadas, a
utilização de fertilizantes químicos e produtos de limpeza contento compostos como
polifosfatados resultam na liberação de nutrientes estimuladores da eutrofização e
comumente estão ligados a emissão de efluentes domésticos não tratados que utilizam
detergentes sintéticos para solubilizar gorduras ou impurezas. Esses detergentes
apresentam compostos químicos como polifosfatos, carbonatos e silicatos, sendo esse
um grande problema para o Brasil, que apresenta uma grade déficit em saneamento
básico e tratamento de efluentes domésticos. Os efluentes industriais ou
agrícola/pecuário também são grandes contribuidores para o processo de eutrofização
artificial das águas continentais. A atividade agrícola pode ser considerada como uma
das maiores contribuidoras para a eutrofização artificial, liberando grandes quantidades
de fosfato e nitrogênio no ambiente aquático. As chuvas também podem ser
consideradas como uma fonte significativa de aporte de fosfato e nitrogênio nos corpos
hídricos continentais, transportando os poluentes atmosféricos durante os momentos de
precipitação. Entretanto esse aporte alocado pelas chuvas pode variar de acordo com a
região, sendo mais concentrado em regiões com maiores indicies de contaminação
atmosférica.
Considerando que a eutrofização sendo uma reação em cadeia que apresenta causas e
efeitos bem evidentes e que gera a quebra da homeostasia as suas consequências são
variadas. Podendo impactar a comunidade planctônica e a atividade primária, uma vez
que o aporte excessivo de fosfatos e nitrogênio servem de “alimento” para a
comunidade primária, causando o surgimento ou aumento populacional de espécies em
detrimento de outras, podendo abrir espaço para espécies de cianofíceas ou de
fitoplâncton nocivo para o restante da fauna e flora natural do ambiente, ou até mesmo
gerando casos de “bloom” de microalgas tóxicas que geram grandes prejuízos para
quem necessita da pesca para sobreviver, também impossibilitando a utilização da água
para consumo ou atividades de lazer. Esse processo de eutrofização artificial também
impacta comunidades de zooplâncton, peixes e macrófitas aquáticas. As consequências
podem ser observadas também em regiões estratificadas do corpo hídrico, como o
hipolímnio (região mais profunda da coluna d’água), na qual o aumento das partículas
em suspensão na região hipolímnica é mais evidente, e a decomposição desses detritos
consome oxigênio, deixando assim essa região da coluna d’água com hipoxia,
dificultando o desenvolvimento e sobrevivência de organismos aeróbios. Em conjunto
com o processo de eutrofização artificial, também aparecem ou deixam de ser
observados organismos que podem servir como indicadores desse tipo de atividade.
Organismos fitoplanctônicos, zooplanctônicos ou as diversas formas de organismos
bentônicos podem ser levados em consideração como os primeiros sinais da
eutrofização artificial. São organismos pequenos, e que geralmente irão sentir e reagir
primeiro às mudanças dos parâmetros físico/químicos da água eutrofizada. O sedimento
também é um fator que pode demonstrar os níveis de eutrofização do ambiente aquático
ao analisar alguns componentes como matéria orgânica, pigmentos e outros compostos
constituintes do sedimento. Todo esse processo de eutrofização artificial pode gerar
problemas socioeconômicos, uma vez que este processo pode tornar a utilização da água
inapropriada para abastecimento, geração de energia, pesca industrial ou artesanal e
atividades de lazer, sendo necessário encontrar métodos para evitar ou minimizar esse
processo de eutrofização artificial. A construção de canais de desvio para efluentes é
uma alternativa que já vem sendo utilizada em regiões da América do Norte e Europa,
porém um outro método mais eficiente pode ser utilizado, que seria este o tratamento
adequado dos efluentes para a eliminação de fosfatos e nitrogênio, baseando-se na
retirada de matéria sólida por meio de decantação e do tratamento biológico como
objetivo de tornar a água apropriada para diversos usos da demanda industrial ou
doméstica.
Sabendo das diferentes formas de eutrofização e suas consequências para o ambiente
natural e atividades humanas, algumas formas de recuperação dos ecossistemas
lacustres límnicos são adotadas. Porém, tal recuperação de um ambiente eutrofizado
para seu estado de homeostase é demorado e de difícil emprego, tais medidas que
devem ser tomadas para recuperação terão que levar em consideração as especificidades
de cada ambiente que se deseja recuperar. A recuperação destes ecossistemas lacustres
eutrofizados podem ser motivadas por alguns fatores como a melhoria da paisagem,
utilização desses ambientes como área de lazer, obtenção de água potável ou atividades
aquícolas. Assim como a diversidade de fatores eutrofizantes, também são diversas as
formas de recuperação desses ambientes e alguns métodos podem ser empregados de
acordo com a necessidade do ambiente, podendo ser métodos físicos, químicos ou
biológicos a serem utilizados no processo de recuperação.
Os métodos físicos apresentam diversas formas de utilização, sendo elas a retirada
seletiva de água, sendo um dos processos mais antigos e de baixo custo, que consiste em
retirar grandes quantidades de água do hipolímnio. Aeração, que tem como princípio a
introdução de oxigênio na coluna d’água ou na região do hipolímnio, esse método
torna-se eficiente quando o aporte de oxigênio é maior do que o seu consumo. A retirada
de sedimento por meio de sucção também é outra forma utilizada nos meios de
recuperação, sabendo que o sedimento é o principal reservatório de nutrientes, liberando
fosfato e outros compostos a partir do sedimento. Esse método de dragagem/sucção é
mais eficiente em ambientes rasos, entretanto é um método de alto custo financeiro e
ambiental, uma vez que retirar sedimento de um corpo hídrico pode prejudicar a sua
comunidade bentônica, e acabar por perturbar ainda mais a tentativa de recuperar a
homeostase do ambiente. A retirada de macrófitas aquáticas e fitoplâncton são métodos
que também podem ser empregados no processo de recuperação uma vez que são
organismos primários, que se em grandes concentrações podem acabar retirando mais
oxigênio do ambiente do que o que é reposto, sendo um agravante para os processos de
eutrofização, assim como também o acúmulo de matéria orgânica gerado pela
decomposição da biomassa seja das macrófitas ou fitoplâncton. Para a retirada das
macrófitas é utilizado cortadores ou maquinário de remoção mecânica, enquanto para
remover o fitoplâncton é utilizado alguns métodos como o emprego de micropeneiras
ou centrifugação. O aumento no fluxo da água é outra forma de se buscar uma
recuperação dos ambientes lacustres, reduzindo a capacidade de estabelecimento de
comunidades de microalgas ou macrófitas, uma vez que a renovação da água contribui
para o escoamento do excesso de nutrientes poluentes. Os métodos químicos
empregados para o processo de recuperação da eutrofização podem ser a oxidação
química do sedimento, a utilização de herbicidas, porém seu emprego pode resultar em
mais problemas ambientais. A floculação é um processo utilizado na recuperação,
agindo diretamente nas matérias em suspensão na coluna d’água sendo muito utilizado
o sulfato de alumínio para realizar o processo de floculação, ou outros sais como ferro,
cálcio ou zinco, porém todos esses processos devem ser bastante estudados antes de seu
devido emprego, considerando que cada corpo hídrico eutrofizado apresenta
particularidades desde o fator contaminante da água, microbiota, comunidade faunística
do ambiente e das necessidades de utilização da água. Existe a possibilidade de
utilização de métodos biológicos como a introdução de espécies herbívoras que
teoricamente iriam reduzir a biomassa primária através do consumo, porém utilizar
espécies exóticas como a tilápia (Oreochromis noloticus), ou caramujos para tal função
pode desencadear outros problemas mais danosos e difíceis de se corrigir futuramente.
Sabendo das dificuldades que o Brasil enfrenta na questão de saneamento básico e
tratamento de efluentes industriais, agrícolas e pecuários, a compreensão dos processos
eutrofizantes e alguns métodos de recuperação abordados nos capítulos 24 e 25 deste
livro é fator vital para que se encontre soluções práticas adequadas à realidade dos
corpos hídricos continentais brasileiros, considerando que o Brasil tem papel importante
em tudo que se refere ao meio ambiente e suas diferentes formas de utilização.

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