O uso de agrotóxicos e seu impacto ao meio ambiente a saúde humana

REVISÃO

Olga Gabriela Santos de Araújo

Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas - Universidade Estadual de Santa Cruz

(UESC) - Rod. Ilhéus/Itabuna, Km 16 - Salobrinho - 45662-000 - Ilhéus-BA

Resumo: Este estudo, por meio de uma revisão, objetivou relatar os perigos da utilização
indiscriminada de agrotóxicos e suas consequências na saúde humana e no meio ambiente, a
classificação e a definição de agrotóxicos, sua toxicidade à saúde humana e ao meio
ambiente.    Objetivo inspirado justamente pelo fato do Brasil estar entre os maiores
consumidores de agrotóxicos do mundo e pelo impacto socioambiental causado pelo uso
desordenado destes. Assim, sabemos que os riscos não se limitam ao homem do campo,
atingem os mananciais de água, o solo, o ar, os animais, podendo também os alimentos
comercializados nas cidades apresentarem resíduos tóxicos. Parte dos agrotóxicos utilizados
tem a capacidade de se dispersar no ambiente, e outra parte pode se acumular no organismo
humano, trazendo diversos efeitos agudos e crônicos.

Palavras-chave: Agrotóxicos, saúde, meio ambiente.

ABSTRACT: This study, through a review, aimed to report the dangers of the indiscriminate
use of pesticides and their consequences on human health and the environment. Objective
inspired precisely by the fact that Brazil is among the largest consumers of pesticides in the
world and by the social and environmental impact caused by their disorderly use. Thus, we
know that the risks are not limited to the rural man, they affect the water sources, the soil, the
air, the animals, and the food sold in the cities can also present toxic residues. Part of the
pesticides used has the ability to disperse in the environment, and another part can accumulate
in the human body, bringing various acute and chronic effects. Finally, worldwide, the effects
of environmental impacts are being perceived. In relation to public health, the increasing use
of these compounds has caused severe effects, whether acute or chronic, in several workers,
mainly in rural areas, although other sectors are also affected.

KEY WORDS: Agrochemicals, health, environment.

1
INTRODUÇÃO
A agricultura é de grande importância para
humanidade, entre dez e doze mil anos
atrás foi esta atividade o divisor do período
da idade da pedra lascada para o período
da pedra polida, ou neolítico. Indivíduos
que participavam das caças e coletas
perceberam que alguns grãos poderiam ser
enterrados e assim produzir novas plantas
iguais as que originaram, permitindo assim
o aumento da oferta de alimentos e
diminuindo os perigos da procura de
alimentos. Com o tempo foram sidos
separados os grãos de maior interesse e
com objetivos de produzir mais alimentos,
surgindo novas técnicas de cultivo.
No entanto na história da humanidade
“pragas interferem na vida das pessoas há
milhares de anos, preocupando a
sociedade. Há registros na Bíblia de que
insetos e fungos devastaram plantações.
(...) Cerca de 90 julgamentos de pragas
ocorreram entre o século XII e XVIII.
Muitas vezes, estes pareciam ser eficazes
em decorrência do ciclo de vida das
pragas. Com o passar do tempo e por meio
de observações e experimentos baseados
no método de tentativa e erro, foram
identificados vários compostos químicos
eficazes no combate a insetos e fungos.
Não eram conhecidas ainda as fórmulas e a
composição dos compostos químicos
utilizados.” (BRAILBANTE e ZAPPE,
2012)
Muitos acreditam que a agricultura tenha
sido uma evolução para os seres humanos
pois aumentou a densidade populacional,
porém, há os que acreditam que tenha sido
o maior erro da história, isso devido ao
desmatamento para implantação da técnica
de monocultura que prioriza a maior
quantidade de um alimento tendo uma
menor variedade o que levou ao uso de
pesticidas para o controle de pragas e
outros elementos químicos que são de
grandes impactos para o solo, a água, a
fauna, flora e até mesmo para a população.
Os agrotóxicos foram desenvolvidos na
Primeira Guerra Mundial e muito
utilizados na Segunda Guerra com a
finalidade de ser uma arma química para
proteção aos soldados de pragas
transmissoras de doenças. O primeiro a ser
sintetizado foi o DDT por Othomar Zeidler
em 1874, mas foi em 1939 que Paul Muller
descobriu suas propriedades inseticidas,
recebendo um Prêmio Nobel em 1948 pela
aplicação do DDT ao combate de insetos.
“Antes da descoberta do DDT existiam
praticamente dois tipos de inseticidas:
aqueles produzidos com o arsênio, cujas
desvantagens eram a toxicidade elevada
para humanos e a persistência no meio
ambiente e, aqueles extraídos de plantas,
que perdiam rapidamente a sua eficiência
quando eram expostos a intempéries. Por
isso, quando o DDT foi descoberto, foi
tratado pela população como o primeiro
inseticida ideal, pois não se conheciam os
efeitos adversos, tanto à saúde humana
como ao meio ambiente, advindos da sua
utilização.” (ANDRADE e JARDIM,
2009)
Com o fim da Guerra e a expansão de
indústrias químicas e também a falta de
alimentos, surge o conceito de “Revolução
Verde” com o objetivo de promover a
agricultura gerando alimentos para as
sociedades famintas. “No Brasil, a
“Revolução Verde” principia-se na década
de 1960 e adquire impulso em meados da
década de 1970 com a criação do Programa
Nacional de Defensivos Agrícolas
(PNDA). O PNDA, dentre outras metas,
2
visava estimular a produção e o consumo
nacional de agrotóxicos na medida em que
condicionava a concessão do crédito rural
à utilização obrigatória de uma parte deste
recurso com a compra de agrotóxicos
(ALVES FILHO, 2002; COUTINHO;
FREITAS; SOARES, 2005 apud
AUGUSTO e PREZA, 2011).
Foi assim que houve uma elevada
contaminação ambiental que não erradicou
a fome, pelo contrário, os nutrientes
necessários a crianças e adultos foram
diminuídos resultando em doenças como
anemia, câncer e outros. “Designar os
agrotóxicos como defensivos agrícolas é o
artifício retórico mais elementar para
dissimular a natureza nociva desses
produtos. Por um lado, ele sugere que os
agrotóxicos supostamente protegem os
cultivos; por outro, oculta os efeitos
deletérios desses produtos sobre a saúde
humana e o meio ambiente.” (PETERSEN,
ABRASCO, 2015)
Atualmente, esses compostos químicos têm
sido utilizados em grande escala por várias
áreas produtivas, e com bastante
intensidade no setor agrícola. O Brasil, por
exemplo, se enquadra entre os maiores
consumidores mundiais de agrotóxicos,
apresentando um papel estratégico para a
produção de alimentos, tanto para o
mercado externo quanto interno. No
nordeste brasileiro, vários trabalhadores se
intoxicam com agrotóxicos todos os anos.
(BRASIL, 2009; CERQUEIRA et al., 2010
apud MARTINS et. Al, 2012)
Em 2002, foram disponibilizados para o
agricultor brasileiro 2.011 produtos
formulados com registro no Ministério da
Agricultura, dentre eles 655 herbicidas1,
556 inseticidas2, 259 acaricidas3 e 58
nematicidas4 para o controle de pragas,
doenças e ervas daninhas (SINDAG,
2005). Em 2010, de acordo com a Anvisa
(2013) o mercado nacional movimentou
cerca de U$ 7,3 bilhões e representou 19%
do mercado global de agrotóxicos. Em
2008, o Brasil ultrapassou os Estados
Unidos e assumiu o posto de maior
mercado mundial de agrotóxicos.
Os agrotóxicos como poluentes, podem
criar um problema ambiental, devido a sua
persistência, toxicidade e bioacumulação.
Enquanto países da Europa tentam reverter
a situação da degradação ambiental e de
contaminação, o Brasil desde 2008 veio
movimentando 6,62 bilhões de dólares,
para um consumo de 725,6 mil toneladas
de agrotóxicos – o que representaria 3,7
quilos de agrotóxicos por habitante. Em
2009 as vendas atingiram 789.974
toneladas. (FAY e SILVA, 2004)
(RIGOTTO, 2014)
“O consumo de agrotóxicos gera um
círculo vicioso: quanto mais se usa,
maiores são os desequilíbrios provocado e
maior a necessidade de uso, em doses mais
intensas, de formulações cada vez mais
tóxicas. Podem também provocar o
aumento das pragas ao invés de combatê-
las, pois na medida em que se usam
insumos químicos as pragas tornam-se
mais resistentes (...) contaminação de
alimentos, poluição de rios, erosão de solos
e desertificação, intoxicação e morte de
agricultores e extinção de espécies
animais, são algumas das mais graves
consequências da agricultura química
industrial e do uso indiscriminado de
agrotóxicos largamente estimulados nos
últimos anos.” (SILVA et. Al, 2017)
A degradação ambiental só aumenta e pode
chegar ao ponto de ser irreversível, além
de comprometer a vida das pessoas que
3
ingerem alimentos com resíduos de principalmente na agricultura.
agrotóxicos, os maiores perigos são (ANDRADE e JARDIM, 2009)
principalmente para os agricultores que
manuseiam os venenos sem nenhum tipo Essa definição demonstra a capacidade
de segurança adequada como o uso de
agressora desses agentes que podem
botas, máscaras, macacões, capacetes e
outros equipamentos, tendo ainda falta de destruir a vida animal ou vegetal,
conhecimento de como descartar as característica que fica completamente
embalagens e o que fazer com os resíduos.
subentendida quando usada uma
Definição e Classificação de Agrotóxicos denominação de caráter positivo como a de
“defensivos agrícolas”. Por isso, segundo o
Segundo o Decreto Federal Brasileiro no.
grupo de pós-graduação em Agroecologia
4.074, de 4 de janeiro de 2002, entendem-
da Universidade Federal Rural do Rio de
se por agrotóxicos: “produtos e agentes de
Janeiro, em reportagem publicada no jornal
processos físicos, químicos ou biológicos,
informativo do Conselho Regional de
destinados ao uso nos setores de produção,
Química, da Terceira Região: “O termo
no armazenamento e no beneficiamento de
defensivo agrícola carrega uma conotação
produtos agrícolas, nas pastagens, na
errônea de que as plantas são
proteção de florestas, nativas ou plantadas
completamente vulneráveis a pragas e
e de outros ecossistemas e de ambientes
doenças, e esconde os efeitos negativos à
urbanos, hídricos e industriais, cuja
saúde humana e ao meio ambiente. O
finalidade seja alterar a composição da
termo agrotóxico é mais ético, honesto e
flora ou da fauna, a fim de preservá-las da
esclarecedor, tanto para os agricultores
ação danosa de seres vivos considerados
como para os consumidores.” (Informativo
nocivos, bem como substâncias e produtos
CRQ III, 1997 apud PERES et. Al, 2003)
empregados como desfolhantes,
dessecantes, estimuladores e inibidores do Essas substâncias são classificadas de
crescimento das plantas”. Os agrotóxicos acordo com as pragas que controlam. Os
agem direta ou indiretamente, e interferem agrotóxicos também podem ser
no processo reprodutivo, tendo classificados em Orgânicos e Inorgânicos.
propriedades de bloquear rápida e Sendo mais detalhado na Tabela.1, em suas
eficientemente um processo metabólico categorias e aos grupos químicos que
vital dos organismos para os quais são pertencem e com exemplos de como são
tóxicos, por isso são bastante usados, encontrados

4
Tabela 1. Principais categorias de agrotóxicos quanto à natureza da praga combatida e ao
grupo químico a que pertencem e Exemplos.

Classificação quanto à Classificação quanto ao grupo Exemplos

Natureza da praga químico (produto/substâncias/agentes)
controlada
Calda Bordalesa, enxofre
Inorgânicos Ditiocarbamatos Mancozeb, Tiram, Metiram
Fungicidas (combate aos Dinitrofenóis Binapacril Acetato de
fungos) Organomercuriais fenilmercúrio
Antibióticos Trifenil estânico Estreptomicina,
Compostos Formilamina Ciclohexamida Duter,
Fentalamidas Captafol Brestam Triforina,
Cloraniformetam Captam
Arsenito de sódio, cloreto de
sódio Bromofenoxim,
Inorgânicos Dinitrofenóis Dinoseb, DNOC CMPP, 2,4-
Herbicidas (combate às Fenoxiacéticos Carbamatos D, 2,4,5-T Profam,
plantas invasoras) Dipiridilos Dinitroanilinas Cloroprofam, Bendiocarb
Benzonitrilas Glifosato Diquat, Paraquat,
Difenzoquat Nitralin,
Profluralin Bromoxinil,
Diclobenil Round-up
Desfoliantes (combate às Dipiridilos Dinitrofenóis Diquat, Paraquat Dinoseb,
folhas indesejadas DNOC
Fumigantes (combate às Hidrocarbonetos halogenados Brometo de metila, cloro
bactérias do solo) Geradores de Metilisocianato picrina Dazomet, Metam
Formaldeídos
Rodenticidas/Raticidas Hidroxicumarinas Indationas Cumatetralil, Difenacum
(combate aos Fenil-metil-pirozolona,
roedores/ratos) pindona
Moluscocidas (combate aos Inorgânicos (aquáticos) Sulfato de cobre Aminocarb,
moluscos) Carbamatos (terrestres) Metiocarb, Mexacarbato
Nematicidas (combate aos Hidrocarbonetos halogenados Dicloropropeno, DD
nematóideos) Organofosforados Diclofention, Fensulfotion
Fonte: WHO, 1990; OPS/WHO, 1996 – apud Peres, 1999.

“As formulações de agrotóxicos são ser vendido sob diferentes formulações e

constituídas de princípios ativos, que é o diversos nomes comerciais, e também
termo usado para descrever os compostos podemos encontrar produtos com mais de
responsáveis pela atividade biológica um princípio ativo. Dos cerca de 115
desejada. O mesmo princípio ativo pode elementos químicos conhecidos
5
atualmente, 11 podem estar presentes nas frutas e verduras durante os períodos de
formulações dos agrotóxicos, dentre eles: pré-colheita e, também, de pós-colheita.
Bromo (Br), Carbono (C), Cloro (Cl), Em consequência, resíduos de fungicidas
Enxofre (S), Fósforo (P), Hidrogênio (H), têm sido frequentemente encontrados
Nitrogênio (N) e Oxigênio (O), e são os nesses alimentos.” (ANDRADE e
mais frequentemente encontrados, JARDIM, 2009)
conferindo características específicas aos
Pesquisas do Instituto Brasileiro de
agrotóxicos.” (BRAILBANTE e ZAPPE,
Geografia e Estatística (IBGE) indicaram
2012)
que o consumo de agrotóxicos no Brasil
O uso dos Agrotóxicos e Impactos correspondeu em cerca de 307 mil
Ambientais toneladas de produtos comerciais (esses
produtos correspondem aos produtos
O uso de agrotóxicos estão se tornando
formulados, que contêm uma mistura de
cada vez mais dependentes para o processo
compostos em sua composição. Dentre
agrícola e tendo um consumo de larga
esses compostos, está presente algum tipo
escala, dentre os mais utilizados, “os
de agrotóxico, denominado ingrediente
herbicidas são os mais consumidos no
ativo (I.A.). Normalmente o I.A. ou
Brasil, seguidos dos inseticidas, fungicidas
princípio ativo, composto químico
e acaricidas. A utilização dos herbicidas
destinado a debelar a praga, isoladamente
representa mais de 50% do total de
não é apropriado para aplicação direta no
agrotóxicos e tem sido associada ao
ambiente. O agrotóxico necessita estar em
modelo de plantio direto (sem revolver a
formulação, forma conveniente para uso
terra), que favorece o crescimento de ervas
efetivo e seguro. A formulação permite
daninhas na área de plantio. Por exemplo,
mesclar o produto de grau analítico com
em 2001, para 50,7 milhões de ha de área
elementos inertes, sólidos ou líquidos, de
plantada, o Brasil utilizou 158,7 mil t de
modo que tenha a concentração adequada,
agrotóxicos, das quais 91,8 mil t foram de
facilitando, assim, a sua manipulação,
herbicidas. Outros agrotóxicos bastante
aplicação e transporte, bem como a
utilizados são os fungicidas, que
dispersão, para um melhor desempenho
representam cerca de 20% do total
sobre o vetor de doença ou praga a ser
aplicado. Os fungicidas têm sido
controlada. (ANDRADE e JARDIM,
largamente empregados para controlar
2009)
vários fungos patogênicos existentes em

6
“Cerca de 430 ingredientes ativos (IAs),
750 produtos técnicos e 1.400 formulações
de agrotóxicos estão autorizados pelo
Ministério da Saúde (MS) e pelo
Ministério do Meio Ambiente (MMA) e
registrados no MAPA. São permitidos no
Brasil de acordo com os critérios de uso e
indicação estabelecidos em
monografias. Porém, dos cinquentas mais
utilizados nas lavouras de nosso país, 22
são proibidos na União Europeia. Na
Anvisa estão em processo de revisão,
desde 2008, 14 agrotóxicos: dos quatro já
proibidos, dois (cihexati-na e tricloform)
foram retirados do mercado,
metamidofós será retirado a partir de junho
de 2012 e o endosulfan, a partir de junho
de 2013. O fosmete e o acefato tiveram
seus usos restringidos, apesar de os
achados toxicológicos constituírem
indicativo para banimento. Outros dois já
concluíram a consulta pública de revisão
(forato e parationametílica) e os demais já
tiveram suas notas técnicas de revisão
concluídas pela Fiocruz: lactofem, furano,
tiram, paraquat, glifosato, abamectina.”
(BRASIL. ANVISA, 2008, 2012a, 2012b
apud CARBEIRO et. Al, 2015).
“Essa difusão maciça de substâncias
químicas constitui um dos principais
desafios à preservação da qualidade
ambiental, sobretudo no que concerne ao
impacto ambiental causado por uma grande
quantidade de substâncias lançadas no
meio ambiente. Apesar dessas substâncias
serem desenvolvidas para atuar em um
conjunto de organismos, são
potencialmente danosas para todos os
organismos vivos expostos aos produtos.
Dependendo de sua toxicidade e do tempo
suas que permanece disponível no meio
ambiente (persistência), os agrotóxicos
podem interferir em processos básicos do
ecossistema, tais como a respiração do
solo, a ciclagem de nutrientes, a
mortandade de peixes ou aves, bem como a
redução de suas populações, entre outros
o efeitos.” (SILVA et. Al, 2017)
“Define-se como comportamento de
agrotóxicos a maneira de suas moléculas
agirem em determinado ambiente. Esse
comportamento no solo e na agua é
regulado pelas propriedades dos compostos
do meio e das condições climáticas. As
propriedades mais importantes incluem:
ionizabilidade (pKa), solubilidade em agua
(S), pressão de vapor (VP), retenção pelo
solo e longevidade (...) O destino de um
agrotóxico é o resultado final que é dado a
suas moléculas após a sua entrada e
atuação no ambiente, mediante os
processos de retenção, transformação e
transporte e a interação intima entre eles.”
(LAVORENTI, 1996; WEBER, 1994 apud
FAY e SILVA, 2004)
7
Persistência de Agrotóxicos Os maiores problemas ligados à
persistência de agrotóxicos no meio
A presença e a persistência dos agrotóxicos
ambiente estão relacionados à utilização
no meio ambiente variam em função de
dos agrotóxicos organoclorados. Nesses
diversos condicionantes: eles podem ser
compostos, a ligação carbono-cloro,
encontrados em diferentes compartimentos
presente na estrutura molecular, é difícil de
ambientais por tempos variados. No ar, tal
ser rompida e o cloro pode reduzir a
presença e persistência são originárias de
reatividade de outras ligações das
procedimentos de aplicação na
moléculas orgânicas. Em muitas aplicações
pulverização em forma de aerossóis. No
a falta de reatividade química é
solo, decorrem do derramamento ou do
considerada como sendo uma vantagem
descarte inadequado, que por percolação
importante, porém, também significa que,
podem atingir o lençol freático, e por
uma vez que os organoclorados tenham
carreamento das águas de chuva ou pela
sido lançados no meio ambiente, eles se
utilização em campanhas de saúde pública
degradam muito lentamente, tendendo,
podem atingir as águas superficiais
portanto, a se acumularem. Como
(KOMATZU; VAZ, 2004 apud
exemplo, pode-se citar o caso do composto
ABRASCO, 2015).
organoclorado hexaclorobenzeno (HCB),
Inicialmente a criação dos agrotóxicos C6Cl6, que foi utilizado durante várias
orgânicos tinha por finalidade serem décadas após a Segunda Guerra Mundial
biodegradáveis, no entanto, sabemos que como fungicida de uso agrícola nas
isso não ocorre em muitos casos de fato. colheitas de cereais. Devido a sua
estabilidade elevada, é considerado como
O uso de metais e semi-metais
sendo extremamente persistente no meio
(metalóides) tóxicos, como o arsênio, em
ambiente. O HCB pode ser gerado como
alguns agrotóxicos, não são
um subproduto indesejável na síntese de
biodegradáveis. E quando lançados no
outros compostos organoclorados, como o
meio-ambiente tendem a permanecer por
percloroetileno (PCE), o tricloroetileno
tempo indefinido em plantas, águas, solos
(TCE), o tetracloreto de carbono e o
ou sedimentos, podendo até integrar à
pentaclorofenol. Essa substância também
cadeia alimentar, caso sejam liberados
pode ser formada como subproduto da
nesses locais.
combustão incompleta, ocorrida durante a
incineração de materiais contendo cloro,

8
em processos como a incineração de lixo
urbano e a queima de carvão para a
produção de cimento. Em consequência, o
HCB permanece como um agente causador
de contaminação ambiental amplamente
difundida nos dias atuais e é um composto
considerado problemático perante
agências ambientais, pois pode causar
câncer de fígado em roedores
laboratório e, deste modo, também se
suspeita que o mesmo seja um agente
carcinogênico para os humanos.
De fato, em muitos países, vários seres
vivos sofreram ou ainda sofrem pela
contaminação por esses produtos químicos.
Por isso, muitos esforços dos órgãos
governamentais e de grupos ambientais são
realizados no sentido de documentar essa
contaminação e regulamentar o uso de
compostos organoclorados, impedindo, se
possível, que as suas concentrações
atinjam níveis perigosos, particularmente,
sobre a dieta alimentar humana.
(ANDRADE e JARDIM, 2009)
toxicidade aguda e crônica realizados com
diferentes organismos não-alvos
(microorganismos, minhoca, algas, peixes,
abelhas, aves e mamíferos), além dos
resultados dos estudos de bioconcentração
em peixes e do potencial mutagênico,
as teratogênico e carcinogênico do produto.
De acordo com esses parâmetros, os
de agrotóxicos são classificados, quanto à
periculosidade ambiental, em classes que
variam de I a IV: produtos impeditivos de
obtenção de registro, produtos altamente
perigosos ao meio ambiente (Classe I);
produto muito perigosos ao meio ambiente
(Classe II); produtos perigosos ao meio
ambiente (Classe III); e produtos pouco
perigosos ao meio ambiente (Classe IV).
(PERES et. Al, 2003)

Para a avaliação dos possíveis efeitos

ambientais, as empresas interessadas
devem apresentar ao Ibama informações
sobre as propriedades físico-químicas das
substâncias presentes naquele produto, os
resultados de testes ou estudos sobre
mobilidade e persistência em solos
brasileiros, fotólise, hidrólise, testes de

9
Tabela 2. Toxicidade e persistência ambiental de alguns agrotóxicos (em escala de 1 a 5)

Agrotóxicos Toxicidade Persistência ao

Mamíferos Peixes Aves Insetos ambiente
Permetrina (piretróide) 2 4 2 5 2

DDT (organoclorado) 3 4 2 2 5
Lindano (organoclorado)
Etil-paration 5 2 5 5 2
(organofosforado)
Malation (organofosforado) 2 2 1 4 1

Carbaril (carbamato) 2 1 1 4 1
Metoprene (regulador 1 1 1 2 2
crescimento)
Bacillus thuringensis 1 1 1 1 1
(microbial)
Fonte: WHO, 1990; OPS/WHO, 1996 – apud Peres,
2003.

“Em corpos aquáticos, como rios e lagos,

os organoclorados têm uma probabilidade
muito maior de estarem ligados à
é, com frequência, milhares ou milhões de
superfície do material orgânico particulado
vezes maior que a concentração dissolvida
em suspensão na água e aos sedimentos
em água. Como a maioria dos compostos
nas regiões mais profundas, que de estarem
organoclorados, no meio ambiente o HCB
dissolvidos na própria água. A partir dessas
é mais solúvel em meios orgânicos naturais
fontes de contaminação, os agrotóxicos se
que em águas.” (ANDRADE e JARDIM,
introduzem nos organismos vivos, como
2009)
nos peixes. Por estas razões, a
concentração desses compostos em peixes Solo e Água
10
Os recursos naturais mais importantes são e a solubilidade que determinam suas
o solo e a água, sendo indispensáveis para mobilidades na zona insaturada/saturada. A
a nossa existência do planeta e a produção partição entre a solução e a fase sólida é
de alimentos dependem destes também. E determinada pela solubilidade do composto
por esse motivo, com a utilização de e pelos processos de adsorção/dessorção. A
técnicas modernas para um aumento na partição entre a solução e a fase sólida ou
produção de alimentos que se inseriu gasosa é controlada pelo processo de
substâncias sintéticas no meio ambiente. O volatização. A capacidade adsortiva do
agrotóxico é uma dessas e manipulado de solo em relação ao agrotóxico é o fator
forma errônea e sem conhecimento, dominante no retardamento da lixiviação
provoca riscos alastrantes. desses para a água subterrânea. A
biodisponibilidade do agrotóxico pode
“As práticas agrícolas inadequadas levam à
diminuir com o aumento do tempo de
perda da camada fértil do solo, que depois
contato entre o sedimento e o
é corrigido com componentes químicos.
contaminante, fenômeno esse conhecido
Esse processo é intenso no Brasil. Assim,
como envelhecimento. Com o
sem a proteção das florestas e sem as
envelhecimento, há maior quantidade
matas ciliares e depois da aplicação dos
agrotóxicos sendo retida permanentemente
agrotóxicos, a primeira chuva leva a
pelo solo, havendo evidencias de que, com
descarga química para os rios, poluindo as
maior tempo de residência no solo, os
águas (...) De acordo com Carvalho (2000)
resíduos ligados tendem a perder suas
a avaliação do grau de contaminação do
atividades biológicas, inclusive tornando-
solo por agrotóxicos é de particular
se mais resistentes à degradação
importância devido à transferência destes
(LAVORENTI, 2002 apud FAY e SILVA,
contaminantes aos alimentos.” (SILVA,
2004). As moléculas não adsorvidas pelo
2017)
solo tendem a se movimentar com a água,
“O aspecto mais importante que governa o podendo contaminar a água subterrânea.”
destino dos agrotóxicos no sistema solo- (FAY e SILVA, 2004)
água é a natureza da partição entre o vapor,
O processo de degradação do solo
a solução e as partículas do solo. Essa
provocado pelos agrotóxicos inicia-se com
participação entre as fases do solo depende
a esterilização – eliminação de flora e
das propriedades físicoquímicas tanto do
fauna –, que, associada aos processos
agrotóxico quanto do solo, sendo a partição
erosivos, leva a maior demanda por
11
aplicação de produtos químicos. A região agrícola, onde se utiliza
deficiência de micronutrientes, ocasionada extensivamente uma grande quantidade ou
pela perda de atividade biológica no solo, variedade de agrotóxicos, estiver
afeta a qualidade das plantas, tornando-as localizada próxima a um manancial hídrico
suscetíveis às pragas. Tal suscetibilidade que abasteça uma cidade, a qualidade da
demanda doses cada vez maiores e/ou água ali consumida estará seriamente sob o
diversificadas de agrotóxicos, fechando risco de uma contaminação, embora a
assim o ciclo da contaminação do solo. mesma possa estar localizada bem distante
(ABRANTES; BARRETO; RIBEIRO, da região agrícola. Assim, não só a
2008; ROMEIRO, 1981 apud ABRASCO, população residente próxima à área
2015) agrícola estaria exposta aos agrotóxicos,
mas também toda a população da cidade
“Camargo (2007) relata que o solo é capaz
abastecida pela água contaminada (WRI,
de absorver grandes quantidades de
1999).” (SILVA, 2017)
contaminantes sem sofrer grandes
transformações. Entretanto, com o passar “No Estado de São Paulo, maior
do tempo, estas transformações são quase consumidor brasileiro de agrotóxicos,
sempre irreversíveis e os danos causados responsável por 18,64% do valor
ao meio ambiente são de difícil comercializado em 2003, estudos baseados
recuperação. Nos sistemas agrícolas, o solo principalmente em processos matemáticos
sofre influência direta da utilização de de estimação apontam para o risco de
agrotóxicos nas culturas, principalmente contaminação de águas subterrânea, além
em sistemas inadequados de cultivo de de alguns estudos que evidenciaram a
solo.” (SILVA, 2017) presença de algumas moléculas em corpos
hídricos superficiais e subterrâneos. A
“Os agrotóxicos presentes em corpos
bacia hidrográfica do Rio Piracicaba é uma
d’água podem penetrar nos organismos
das que apresenta maior grau de
aquáticos através de diversas portas de
comprometimento de qualidade de água,
entrada e seu grau de acumulação depende
sendo a pioneira no estabelecimento de
do tipo de cadeia alimentar, da
medidas para contornar esta situação. A
disponibilidade e persistência do
presença de compostos organoclorados
contaminante na água e especialmente de
como BHC, aldrim e endossulfam já foi
suas características físicas e químicas
evidenciada em sedimentos desta bacia,
(HAMELINK; SPACIE, 1985). Se uma
bem como γBHC, heptacloro e DDT.
12
Resíduos de PCP, HCB e quatro Toxicidade e saúde pública
congêneres de PCBs também foram
Toxicologia é a ciência que estuda os
determinados em água e principalmente em
efeitos nocivos decorrentes das interações
sedimentos, com níveis de HCB excedendo
químicas com o organismo e define os
o padrão de potabilidade da Organização
limites de segurança dos agentes químicos,
Mundial de Saúde, OMS, de 10 ng L-1 nos
entendendo-se como segurança a
municípios de Santa Bárbara d’Oeste,
probabilidade de uma substância não
Sumaré e Campinas. No entanto, há um
produzir danos em condições específicas.
completo desconhecimento sobre a
É uma ciência multidisciplinar, abrangendo
presença de outras moléculas nos corpos
uma vasta área do conhecimento, onde
hídricos desta bacia.” (ARMAS et. Al,
atuam profissionais de diversas formações:
2007)
Química Toxicológica, Toxicologia
Geralmente, dentre os diversos Farmacológica, Clínica, Forense,
compartimentos ambientais, os ambientes Ocupacional, Veterinária, Ambiental
aquáticos são bastante afetados pelo uso de (Ecotoxicologia), Aplicada a Alimentos,
agrotóxicos. Para os anfíbios, por exemplo, Genética, Analítica, Experimental e outras
esses compostos são comumente letais, áreas. A palavra tem sua origem
mesmo em concentrações da ordem de etimológica proveniente do grego
micrograma por litro. Os usos frequentes “Toxikon”, podendo ser definida como o
de agrotóxicos, muitas vezes incorretos, estudo dos agentes tóxicos que interagem
favorecem os riscos de contaminação de com os sistemas vivos por meio de
diversos compartimentos ambientais, como processos químicos. (ALVES, 2005 apud
a contaminação de solos agrícolas, de AQUINO e ROHLFS, 2012)
águas superficiais e subterrâneas e de
Os agrotóxicos são classificados também
alimentos, podendo, em episódios mais
pela sua toxicidade, é de suma importância
graves, inviabilizar o consumo destes. Isso
pois além de apresentar informações sobre
pode apresentar, consequentemente, riscos
o nível tóxico do produto nos avisa sobre
de efeitos negativos em organismos
seus efeitos colaterais. “As condições
terrestres e aquáticos, como intoxicação
técnicas necessárias para avaliar o risco de
pelo consumo de água e de alimentos
agrotóxicos são mais exigentes do que as
contaminados, além da intoxicação
utilizadas para avaliar o potencial de
ocupacional de trabalhadores e produtores
periculosidade ambiental. Para sua
rurais. (ANDRADE e JARDIM,2009)
13
implementação e execução no país, é substância por quilograma da massa
fundamental que os órgãos responsáveis e corporal.A toxicidade de uma substância
envolvidos no registro possuam equipes também pode variar de acordo com o modo
técnicas multidisciplinares, com de administração, e os rótulos dos produtos
conhecimento das características são identificados por meio de faixas
intrínsecas dos produtos e experiência na coloridas” (BRAILBANTE e ZAPPE,
realização e na interpretação dos testes e 2012) Demonstrado na Tabela 3.
estudo” (PERES et. Al., 2003) Por isso o
É preciso que os manipuladores de
registro do produto só deve ser feito se
agrotóxicos também sigam com uma boa
conter os rótulos e bulas da forma mais
conduta no momento em que vão utilizar
compreensível possível, comunicando sua
os produtos, pois apenas os avisos nas
aplicabilidade, advertências e
embalagens não são suficientes,
recomendações ao impacto ambiental e da
independente da classe de toxicologia,
saúde humana afim de minimizar os
estes devem aplicar com cautela e usando
acidentes causados.
os equipamentos de proteção individual
“Podem ser classificados em quatro classes (EPI), exemplo: Botas, macacões,
de acordo com os perigos que eles podem máscaras, luvas, calça, touca, etc.
representar para os seres humanos. A
classificação está de acordo com o
resultado dos testes e estudos feitos em
laboratórios, que objetivam estabelecer a
dosagem letal 50% (DL50), que é a
quantidade de substância necessária para
matar 50% dos animais testados nas
condições experimentais utilizadas.
Considerando que a capacidade de
determinada substância causar morte ou
algum efeito sobre os animais depende da
sua concentração no corpo do indivíduo, a
dose letal é expressa em miligrama da

14
Tabela 3. Classificação Toxicológica dos Agrotóxicos

Classe Toxicológica Toxicidade DL50 (mg/kg) Faixa Colorida

I Extremamente tóxico ≤5 Vermelho
II Altamente tóxico Entre 5 e 50 Amarelo
III Mediamente tóxico Entre 50 e 500 Azul
IV Pouco tóxico Entre 500 e 5.000 Verde

Casos de Toxicidade

“A precariedade dos sistemas de vigilância (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2010),

e a insuficiência dos sistemas de o número de casos registrados de
informação contribuem para a dificuldade intoxicação humana por agrotóxicos de uso
de estimar o número de intoxicados por agrícola em 2004, no Brasil, foi de 6.103,
agrotóxicos nos países em com 164 óbitos. Considerando-se que a
desenvolvimento (THUNDIYIL et al., quantidade de pessoas em ocupações
2008). Segundo a Organização agrícolas no meio rural era de 12.490.726
PanAmericana de Saúde – OPAS em 2004 (FERREIRA et al.,2006) e que a
(ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA estimativa conservadora de prevalência de
DA SAÚDE; ORGANIZAÇÃO intoxicações entre os expostos é de 3%
MUNDIAL DA SAÚDE, 2000), o Brasil (MOREIRA et al.,2002) ou que, para cada
não dispõe de dados que reflitam a caso de intoxicação, existiriam 50 casos
realidade das intoxicações por agrotóxicos, não notificados (SOBREIRA; ADISSI,
havendo uma evidente situação de 2003), teríamos a real situação de casos
subnotificação e, para o trabalhador rural, ocorridos no Brasil em 2004 girando em
uma constante exposição ocupacional. Este torno de 300.000 casos.” (AUGUSTO e
fato denunciado pela OPAS pode ser PREZA, 2011)
demonstrado por uma rápida análise do
“O SINITOX é atualmente o principal
ano 2004: de acordo como Sistema
registro de informações sobre intoxicações
Nacional de Informações
por agrotóxicos. Mesmo considerando a
TóxicoFarmacológicas – SINITOX
15
inexistência de dados precisos sobre
agrotóxicos, ao serem examinados os
dados do SINITOX em relação aos dados
do Sindicato Nacional da Indústria de
Produtos para Defesa Agrícola - SINDAG
sobre vendas de agrotóxicos, de 1992 a
2000, foi constatado que os registros das
intoxicações por agrotóxicos aumentaram
na mesma medida em que cresciam os
valores das vendas destes produtos
(ALVES FILHO,2002). Outra fonte oficial
é o Sistema de Informações Hospitalares
(SIH/SUS) que reflete os casos de maior
gravidade e que necessitaram
hospitalização. O SINAN, é outra fonte
oficial de registros de agrotóxicos onde
deveriam ser notificados todos os casos de
intoxicação identificados na rede pública,
embora o tema seja controverso e se
encontra muito fora da realidade. Ainda as
intoxicações por agrotóxicos de origem
ocupacional deveriam ser comunicadas
através da Comunicação de Acidentes de
Trabalho-CAT. Uma das maiores
limitações da CAT é o fato de ser restrita a
segurados do INSS. Por várias razões, a
utilização da CAT como fonte
informação em acidentes de trabalho rural
traz um importante sub-registro, que é
ainda mais grave nas intoxicações por
agrotóxicos, cujo diagnóstico muitas vezes
não é realizado.” (FARIA et. Al.,2007)
Infelizmente existem vários órgãos
destinados aos registros de problemas
causados pelo os agrotóxicos, porém,
quase nenhum corresponde adequadamente
como instrumento de vigilância. Na prática
registram-se mais os casos agudos e mais
graves, e os casos crônicos não são
captados por nenhum destes sistemas de
informação.
Principais Sintomas agudos e crônicos
causadas
“Embora o objetivo dos agrotóxicos seja o
de de destruir pragas nocivas, que danificam
plantações e transmitem doenças aos
animais e homem, outros seres vivos,
inclusive os humanos, têm funções
fisiológicas e bioquímicas semelhantes às
espécies nocivas e são suscetíveis em graus
variáveis aos efeitos tóxicos de
agrotóxicos." (CARVALHO, 2000 apud
SILVA, 2017)
“Os efeitos sobre a saúde podem ser de
dois tipos: 1) efeitos agudos, ou aqueles
resultantes da exposição a concentrações
de um ou mais agentes tóxicos capazes de
de
causarem dano efetivo aparente em um
período de 24 horas; 2) efeitos crônicos, ou
aqueles resultantes de uma exposição
continuada a doses relativamente baixas de
um ou mais produtos. Os efeitos agudos
são aqueles mais visíveis, que aparecem
durante ou após o contato da pessoa com o
16
produto e apresentam características bem com tais produtos, sendo, portanto, mais
marcantes. No caso dos agrotóxicos, essas difíceis de identificação. Em muitos casos
características podem ser espasmos podem até ser confundidos com outros
musculares, convulsões, náuseas, distúrbios, ou simplesmente não
desmaios, vômitos e dificuldades relacionados ao agente causador
respiratórias (OPS, 1996). Já os efeitos de (nexocausal).” (PERES et. Al., 2003)
uma exposição crônica podem parecer Demonstrado os tipos de substâncias e os
semanas, meses, anos ou até mesmo sintomas agudos e crônicos, na Tabela 4
gerações após o período de uso/contato

Tabela 4. Principais efeitos agudos e crônicos causados pela exposição aos principais
agrotóxicos, inseticidas e herbicidas de acordo com o grupo químico ao qual pertencem.

Classificação quanto Classificação quanto Sintomas de Sintomas de

à praga que controla ao grupo químico intoxicação aguda intoxicação crônica

Inseticidas Organofosforados e Fraqueza Efeitos neurotóxicos

carbamatos Cólicas abdominais retardados
Vômitos Alterações
Espasmos musculares cromossomiais
Convulsões Dermatites de
contato
Organoclorados Náuseas Lesões hepáticas
Vômitos Arritmias cardíacas
Contrações Lesões renais
musculares Neuropatias
involuntárias periféricas Alergias
Asma brônquica
Piretróides sintéticos
Irritações nas
Irritações das mucosas
conjuntivas Espirros Hipersensibilidade
Excitação Alergias respiratórias
Convulsões Tonteiras Dermatites
17
 Vômitos Doença de Parkinson
Tremores musculares C ânceres
Dor de cabeça
Herbicidas Dinitrofenóis e Dificuldade Cânceres (PCP –
pentaclorofenol respiratória formação de
Hipertermia dioxinas) Cloroacnes
Convulsões
Fenoxiacéticos Perda do apetite Indução da produção
Enjôo de enzimas hepáticas
Vômitos Cânceres
Fasciculação Teratogênese
muscular
Dipiridilos Sangramento nasal Lesões hepáticas
Fraqueza Dermatites de
Desmaios contato Fibrose
Conjuntivites pulmonar
Fonte: WHO, 1990; OPS/WHO, 1996 – apud Peres, 2003

“A saúde humana pode ser afetada pelos degradação da acetilcolina, um

agrotóxicos diretamente, através do contato neurotransmissor responsável pela
com estas substâncias – ou através do transmissão dos impulsos no sistema
contato com produtos e/ou ambientes por nervoso (central e periférico). Os
estes contaminados – e, indiretamente, inseticidas da classe dos organoclorados
através da contaminação da biota de áreas têm como uma de suas principais
próximas a plantações agrícolas, que acaba características a capacidade de acumular-se
por desequilibrar os ecossistemas locais, nas células gordurosas no organismo
trazendo uma série de injúrias aos humano e no dos animais.” (PERES, 2003)
habitantes dessas regiões.” (SILVA, 2017)
“Aldicab é um composto químico do grupo
“Os inseticidas da classe dos dos carbamatos com finalidade inseticida,
organofosforados, bem como os acaricida e nematicida, comercializado no
carbamatos atuam no organismo humano Brasil sob a forma exclusiva do agrotóxico
inibindo um grupo de enzimas denomina- Temik® 150, com autorização de uso
das colinesterases. Essas enzimas atuam na exclusivamente agrícola para culturas de

18
algodão, canade-açucar, café, batata, citrus “Nos últimos 10 anos a população
e feijão. Devido a sua coloração cinza- brasileira tem se defrontado com uma
chumbo é popularmente conhecido como situação paradoxal; por um lado, têm sido
“chumbinho”. É altamente tóxico por via apresenta dos por órgãos governamentais
oral e, qualquer que seja sua apresentação, competentes os resultados das safras
a absorção no estômago é rápida e agrícolas que alcançam patamares
praticamente completa, sendo que os sinais produtivos cada vez mais elevados. Por
clínicos da intoxicação podem se iniciar outro lado, parcela significativa da
cinco minutos após a ingestão. O Aldicarb população convive diariamente com uma
representa grande perigo, pois é situação de insegurança alimentar, ou seja,
comercializado ilegalmente como raticida sem o acesso regular e permanente a
e causa intoxicações que levam a morte de alimentação (IBGE, 2006 apud ALMEIDA
centenas de pessoas, incluindo acidentes et. Al., 2009)
em crianças e tentativas de suicídio
“A estratégia de justificar a necessidade
(ANVISA, 2006; XAVIER et al., 2007
dos agrotóxicos é exercida por meio da
apud AQUINO e ROHLFS, 2012). Esse
imposição da racionalidade tecnocrática
produto se torna especialmente perigoso
sobre a opinião pública. Esse artifício se
para crianças que não possuem
baseia na ideia implícita de que toda
conhecimento suficiente para distinguir o
técnica destinada a solucionar o desafio
produto que muito se assemelha com
alimentar no mundo é moralmente
doce.” (AQUINO e ROHLFS, 2012)
justificável e, portanto, deve ser aplicada.
“As formas de exposição responsáveis Valendo-se de argumentações mecanicistas
pelos impactos destes agentes sobre o nunca demonstradas, o imperativo
homem são razoavelmente conhecidas. Os tecnocrático apresenta como objetivamente
processos através dos quais as populações necessário aquilo que é econômica e
humanas estão expostas, entretanto, ideologicamente oportuno.” (ABRASCO,
constituem-se, ainda hoje, verdadeiros 2015)
mistérios, dada a multiplicidade de fatores
“Os agrotóxicos sintéticos constituem um
que estão envolvidos. (PERES et al 2005,
problema ambiental considerável,
apud SILVA, 2017)”
principalmente, devido ao impacto
Segurança dos alimentos potencial à saúde humana em virtude da
ingestão de alimentos contaminados com

19
esses produtos químicos. Pesquisas observada no Brasil, que se reflete no
mostram que cerca da metade dos baixo poder aquisitivo de milhões de
alimentos consumidos nos Estados Unidos cidadãos. No espaço rural essa realidade é
contém níveis mensuráveis de, no mínimo, agravada em função das dificuldades de
um tipo de agrotóxico. Não obstante, em acesso aos meios de produção, inclusive o
1993, uma publicação da Academia acesso à terra.”
Nacional de Ciências dos Estados Unidos
E no que tange os aspectos qualitativos os
(National Academy of Sciences – NAS)
mesmos autores afirmam ainda que “ii.
destacou que a regulamentação dos
existe um desafio enorme a ser enfrentado
agrotóxicos até a data dessa publicação não
pela sociedade brasileira e,
havia dado atenção suficiente à proteção da
particularmente, pelo poder público. Trata-
saúde humana, especialmente à dos bebês e
se de ampliar o debate acerca do modelo
das crianças, cujo crescimento e
produtivo agrícola adotado historicamente
desenvolvimento se apresentam ameaçados
neste país e, ao mesmo tempo, intensificar
quando postos em contato com essas
a divulgação de práticas produtivas
substâncias. Pesquisas indicaram que a
ecologicamente responsáveis que possam
exposição aos agrotóxicos está associada,
assegurar alimentos saudáveis aos
em curto e em longo prazo, com vários
brasileiros com a preservação do meio
sintomas de saúde, como dificuldades
ambiente”. (ALMEIDA et. Al., 2009)
respiratórias, problemas de memória e de
pele, câncer, de pressão entre outros.” No Brasil, a contaminação dos alimentos
(ANDRADE e JARDIM, 2009) com resíduos de agrotóxicos é fiscalizada
pelo o Ministério da Saúde, através da
Segundo Filho & Almeida (2007) o quadro
ANVISA, monitora a presença de 234
de insegurança alimentar no Brasil ainda
ingredientes ativos em 20 alimentos. Para o
consiste num grave problema social, pois
ano de 2009, os resultados mostram que
“i. a dimensão quantitativa da insegurança
29% deles apresentava resultados
alimentar no país não está associada a uma
insatisfatórios, seja por estarem acima do
pequena oferta de alimentos, visto que a
limite máximo de resíduos permitido (>
disponibilidade total dos mesmos tem
LMR), seja por apresentarem resíduos de
aumentado continuamente nas últimas
agrotóxicos não autorizados e não
décadas. O problema crucial diz respeito à
adequados para aquele cultivo (NA), ou
impossibilidade de acesso aos alimentos,
em razão da péssima distribuição de renda
20
pelos dois motivos associados (> LMR e Análise de Resíduos de Agrotóxicos de
NA). (RIGOTTO, 2014) Alimentos analisou quase 2.500 amostras
de 18 tipos de alimentos nos estados
Foi divulgado pela Anvisa (Agência
brasileiros. O resultado das análises é
Nacional de Vigilância Sanitária) uma lista
preocupante: cerca de 1/3 dos vegetais que
com alimentos considerados saudáveis por
o brasileiro mais consome apresentaram
todos, mas que em testes exibiram alto
resíduos de agrotóxicos acima dos níveis
nível de contaminação por agrotóxicos.
aceitáveis. Na tabela 5 é possível ver
Para fazer o levantamento, a Anvisa levou
alguns dos alimentos divulgados com
em consideração dois pontos
percentual de amostras inadequados para
fundamentais: 1) Teores de resíduos de
consumo.
agrotóxicos acima do permitido; 2)
Presença de agrotóxicos não autorizados
para o tipo de alimento. O Programa de

Tabela 5. Alimentos com os maiores teores de resíduos agrotóxicos, segundo ANVISA

Alimentos Teor (%)

Pimentão 91.8
Morango 63.4
Pepino 57,4
Alface 54,2
Cenoura 49,6
Abacaxi 32,8
Beterraba 32,6
Couve 31,9
Mamão 30,4
Tomate 16,3
Laranja 12,2
Maçã 8,9

21
A ingestão de alimentos com resíduos
de agrotóxicos pode ocasionar altos
riscos à saúde humana, pesquisas
mostram que afetam até a inteligência
de crianças e que levam a altos índices
de déficit de atenção, e ainda há ate
possibilidade de levar a óbitos. Por
isso é preciso tomar muitos cuidados
antes de se ingerir os alimentos,
mesmo que algumas plantas possam
absorver certos produtos, a lavagem é
essencial para retirar os resíduos da
superfície, é aconselhável lavar frutas
e verduras com sabão neutro e agua
corrente por no mínimo um minuto,
retirar folhas externas de verduras e
descascar frutas de cascas finas, pois
essas concentram mais agrotóxicos.
Conclusão
Creio que os produtos agrotóxicos não
têm a finalidade de prejudicar a nós e
a natureza, porém, o uso exagerado e
das pessoas de pouco conhecimento
que os manuseiam acabam que geram
fortes impactos que podem se tornar
irreversíveis. O descaso do governo
em não criar órgãos mais eficientes de
informação e de cuidados
consequências dos agrotóxicos
inadmissível. Sinto que muito dos
problemas seriam minimizados se
houvesse mais informação
instrumentação do uso correto dos
agrotóxicos. São esses fatores que
torna difícil de defender o uso dos
agrotóxicos para processos agrícolas,
fazendo levantar questionamentos
sobre se a maior quantidade supera a
qualidade e a segurança. Além do
nosso alimento, nossa natureza está
repleta de resíduos químicos também o
que nos fazer ficar expostos de várias
maneiras. Os métodos analíticos tem
sido um progresso nessa área
determinando a proporção de resíduos
em cada alimento, no entanto, só isso
não basta, é preciso informar a
população desses dados e de como
proceder com os alimentos antes de
ingeri-los. Existem soluções que
podem ser aderidas para minimizar o
uso de agrotóxicos, por exemplo há
formas naturais para controlar pragas e
o incentivo de hortas coletivas e
individuais seriam viáveis para a
população, porém, não seria lucrativo
para muitos, e acho que esse é
infelizmente o motivo do assunto ser
tão apagado no nosso dia-a-dia.
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