Anais do II CoBICET - Trabalho completo

Congresso Brasileiro Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia

Evento online – 30 de agosto a 03 de setembro de 2021

BREVE PANORAMA DE TRABALHOS SOBRE RESÍDUOS DE

AGROTÓXICOS EM ALIMENTOS
Priscilla Moreira Curtis Peixoto1, Iulo Pessotti Moro2
1
Programa de Pós-graduação em Agroecologia e Sustentabilidade, Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, Campus de Alegre, Rua Principal s/n, Distrito de Rive –
CEP 29.500-000, Alegre – ES, Brasil, priscilla.mcpeixoto@gmail.com
2
Programa de Pós-graduação em Gestão Pública, Universidade Federal do Espírito Santo, Av.
Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, CEP 29075-910, Vitória – ES, Brasil.

Resumo: Informações sobre monitoramento e análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos são

essenciais para segurança alimentar. O objetivo deste estudo é realizar um levantamento bibliográfico
dos últimos dez anos, publicados em bases científicas, sobre os impactos dos resíduos de agrotóxicos
no ambiente e nos alimentos. Verificou-se que existem diversos trabalhos sobre o tema, com
recomendações de práticas sustentáveis e o constante monitoramento dos níveis de resíduos de
agrotóxicos em alimentos.

Palavras-chave: Agroquímicos; Resíduos; Contaminação de Alimentos; Saúde Pública.

INTRODUÇÃO de crescimento, desfolhantes (combate às folhas

O ser humano sempre procurou formas para eliminar
as pragas que infestavam as lavouras, desde cultos
religiosos no início da agricultura, até a criação de
agrotóxicos durante a segunda guerra mundial. A
adoção destes foi um dos grandes marcos que
promoveu a expansão da produção de alimentos
(Braibante e Zappe, 2012). Além disso, outro fato
marcante na história foi a Revolução Verde, que com
o objetivo de acabar com a fome no mundo, iniciou
um sistema de modernização da agricultura para
ampliar a produtividade dos alimentos, tanto na etapa
de plantio e irrigação quanto na colheita (Jesus e
Ommati, 2017).
São tidos como agrotóxicos, conforme a Food and
Agriculture Organization (FAO), qualquer substância
ou mistura de substâncias usadas para prevenir,
eliminar ou controlar qualquer praga – incluindo
vetores de doenças humanas e animais, espécies
indesejadas de plantas e animais, responsáveis por
danos durante (ou interferindo na) produção,
processamento, estocagem, transporte ou distribuição
de alimentos, produtos agrícolas, madeira e derivados
– ou que deva ser aplicada para o controle de insetos,
aracnídeos e outras pestes que atingem os corpos de
animais de criação (Peres e Moreira, 2003).
A palavra agrotóxico abrange inseticidas (controle de
insetos), fungicidas (controle de fungos), herbicidas
(combate às plantas invasoras), fumigantes (combate
às bactérias do solo), algicida (combate a algas),
avicidas (combate a aves), nematicidas (combate aos
nematoides), moluscicidas (combate aos moluscos),
acaricidas (combate aos ácaros), além de reguladores
indesejadas) e dissecantes (Baird, 2006; Silva e Fay,
2004).
O Brasil é uma das maiores potências da produção
agropecuária no mundo e lidera o ranking mundial na
utilização de insumos, fertilizantes e agrotóxicos
(Pignati et al., 2017). E com a ampliação das regiões
de agricultura sem o planejamento territorial
adequado, cresceram-se os impactos provocados pela
utilização dos agrotóxicos sobre o ambiente,
favorecendo a poluição do ar, do solo, das águas e a
intoxicação dos homens e animais (Ismael et al.,
2015).
A preocupação com a presença de agrotóxicos nos
ecossistemas e, consequentemente, na saúde pública
se deve especialmente, pela sua mobilidade e
persistência no meio ambiente. A maior parte dos
agrotóxicos usados em plantações conseguem
bioacumular-se em diversos organismos e podem
levar anos ou até mesmo décadas para serem
degradados, aumentando seu percentual tóxico e
colaborando para a contaminação de alimentos, das
águas e dos solos (Lima, 2010). O impacto da
utilização irracional de agrotóxicos sobre a saúde
preocupa cada vez mais a sociedade que muitas das
vezes, não tem conhecimento sobre a quantidade de
agrotóxicos que está consumindo (Ismael et al., 2015).
Neste contexto, este estudo busca apurar e fazer um
levantamento de trabalhos realizados nos últimos dez
anos (2010-2020) sobre resíduos de agrotóxicos em
alimentos para a partir disso, buscar medidas para
reduzir esse tipo de contaminação que afeta a saúde
humana e a qualidade do ambiente.
 MATERIAL E MÉTODOS Teixeira, 2017
Realizou-se uma consulta em ambiente virtual, como Cassal et al., 2014
nas plataformas Google Acadêmico e Periódicos Saúde pública
Rigotto et al., 2014
Capes, de artigos científicos, notas técnicas, trabalhos
acadêmicos e livros digitais relacionados com o tema Lopes e Albuquerque, 2018
resíduos de agrotóxicos em alimentos. As informações
foram analisadas e agrupadas por similaridade. Os A ocorrência de resíduos de agrotóxicos em alimentos
tópicos empregados na metodologia de pesquisa dos vegetais pode acontecer por meio de contaminação
trabalhos foram: alimentos, resíduos, agrotóxicos, direta, através da aplicação inapropriada de
agroquímicos, pesticidas, herbicidas e fungicidas. agrotóxicos nas plantas, ou indiretamente, pelo
Como critério de escolha dos trabalhos, baseou-se em contato de plantas com resíduos químicos já existentes
periódicos publicados entre os anos de 2010 e 2020, no solo, na água ou no ar (Tomita e Beyruth, 2002).
em âmbito nacional, sem especificar área de De qualquer forma, elevadas quantidades de resíduos
conhecimento. existentes em certas culturas podem influenciar na
qualidade do produto final e chegar na mesa do
RESULTADOS E DISCUSSÃO
consumidor, provocando determinadas consequências
Cerca de 47 trabalhos relacionados aos potenciais na saúde (Cruz, 2014).
efeitos, impactos e técnicas de quantificação de
A quantidade máxima de resíduo de determinado
resíduos de agrotóxicos em alimentos foram
agrotóxico aceitável em cada alimento qualificado ao
pesquisados e desse total, 26 trabalhos foram
consumo humano é conhecida como Limite Máximo
selecionados para a discussão do estudo, tendo como
de Resíduo (LMR). Estes limites são estabelecidos
critério a publicação mais recente. Dos artigos
pelo “Codex Alimentarius Commission”, um corpo
estudados, dividiu-se em cinco diferentes focos de
subsidiário da Food and Agriculture Organization
trabalhos – Panorama geral sobre o tema; Resíduos e
(FAO) e da World Health Organization (WHO, 1994).
contaminantes; Efeitos e impactos; Técnicas de
quantificação e/ou remoção de resíduos; e Saúde A utilização de pesticidas na agropecuária e a
pública, conforme a Tabela 1. resultante contaminação dos alimentos de origem
animal têm sido foco de frequente preocupação na
Tabela 1. Trabalhos relacionados a contaminação de
área da saúde pública. As intoxicações provocadas
alimentos por resíduos de agrotóxicos publicados
pela ingestão desses produtos podem acontecer
entre os anos de 2010 e 2020.
quando os limites de resíduos ou contaminantes estão
Foco do Trabalho Autoria / Ano superiores dos LMRs permitidos. A contaminação
Cruz, 2014 desses produtos pode acontecer através de diferentes
Carmo et al., 2015 formas, quando se tem aplicação direta dessas
Panorama geral
substâncias nos animais, quando há ingestão de
sobre o tema Vinha et al., 2013 alimentos contaminados pelos animais de produção,
Hupffer e Pol, 2017 quando os produtos se contaminam por acréscimo de
Ismael et al., 2015 ingredientes vegetais anteriormente contaminados ou
quando pesticidas aplicados no controle de pragas nos
Passos e Reis, 2013 ambientes industriais são usados de forma
Bastos et al., 2011 inapropriada e de alguma maneira contaminam os
Resíduos e alimentos (Mello e Silveira, 2012).
Mello e Silveira, 2012
contaminantes
Runtzel et al., 2016 Então, ainda que alguns dos ingredientes ativos de
agrotóxicos possam ser classificados como medianos
Balleste e Mantelli, 2020 ou pouco tóxicos, baseado em seus efeitos agudos, não
Milani et al., 2020 se devem ignorar alguns de seus efeitos crônicos, que
Xavier et al., 2018 podem ocorrer meses, anos ou até décadas após o
início da exposição mais prolongada a certas
Belchior et al., 2017 substâncias (Abrasco, 2012).
Efeitos e impactos
Dutra e Souza, 2017
Com a expansão do uso de agrotóxicos, as
Citta e Pandolfi, 2017 preocupações com o excesso de resíduos dessas
Meira, 2015 substâncias em alimentos ganham destaque e tornam-
se cada vez mais comuns. No Brasil algumas medidas
Técnicas de Gouvêa et al., 2015
são feitas no intuito de avaliar e proporcionar a
quantificação e/ou Bandeira et al., 2014 qualidade dos alimentos consumidos pela população
remoção de resíduos Vilca et al., 2017 oriundos de lavouras mantidas com estas substâncias.
Dentre essas, já são realizados programas de
Neves et al., 2019
monitoramento de resíduos de agrotóxicos em
alimentos com o objetivo de avaliar continuamente os
níveis de resíduos nos produtos (Embrapa, 2013).
Ferreira et al. (2018) estimaram a ingestão de resíduo
de agrotóxicos organofosforados por crianças e
adultos, considerando o consumo da população
brasileira e a recomendação diária de frutas e
hortaliças. E com base nessas estimativas, os autores
chegaram à conclusão de que o incentivo ao consumo
de frutas e hortaliças deve ser acompanhado de
programas de monitoramento da comercialização, da
utilização desses agentes químicos e dos seus resíduos
nos alimentos.
Vinha et al. (2013) realizaram um estudo a fim de
relatar os impactos da aplicação irracional de
agrotóxicos em frutas e hortaliças com base em
levantamento feito em literatura científica e em dados
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Os resultados mostraram alto percentual
de erros no uso de agrotóxicos. A ocorrência de
resíduos proibidos ou superior aos limites permitidos,
com consequentes efeitos nocivos ao ambiente e à
saúde pública, apontaram para a necessidade da
criação de políticas públicas mais eficazes para o
controle e monitoramento do uso de agrotóxicos.
Meira (2015) considerando a importância dos métodos
de análise de agrotóxicos em alimentos, elaborou um
estudo sobre os principais métodos de análise de
agrotóxicos em alimentos de origem vegetal. Ela
constatou bons resultados nos métodos Quechers
(Quick, Easy, Cheap, Effective, Ruged and Safe) para
tratamento da amostra e a cromatografia líquida ou
gasosa, acopladas ao espectrômetro de massas em
série para separação, identificação e quantificação. As
maiores dificuldades apontadas nos estudos
analisados referiram-se à complexidade da matriz
analisada, as diferenças físico-químicas dos
compostos a serem examinados e o alcance da
sensibilidade metodológica.
Carmo et al. (2015) determinaram resíduos de
agrotóxicos em pimentão, usando o método de
extração QuEChER S9 com detecção por
cromatografia gasosa acoplada a detector por micro
captura de elétrons - Ni63 (CG-DCE), na intenção de
avaliar o panorama do produto comercializado na
cidade do Rio de Janeiro. E a partir dos resultados
concluíram que a situação do pimentão era
preocupante, apesar dos esforços voltados para essa
cultura. Porém, considerando os resultados alcançados
nas amostras satisfatórias, é possível produzir a
cultura sem a presença dessas substâncias, ou pelo
menos de acordo com o que preconiza as boas práticas
agrícolas e a legislação brasileira vigente.
Vilca et al. (2017), tendo ciência de que as
propriedades físico-químicas dos agrotóxicos
organoclorados têm provocado contaminação do
ambiente e da cadeia alimentar, também constataram
a eficiência do método QuEChERS usando CG-DCE
para determinação de resíduos de pesticidas
organoclorados em morango, afirmando que o método
é sensível e não existe efeito matriz.
Bandeira et al. (2014) realizaram um trabalho que
visava desenvolver e validar um método multirresíduo
para a determinação de resíduos de agrotóxicos em
leite bovino, empregando método QuEChERS
modificado para o preparo de amostra e quantificação
por GC-MS/MS triploquadrupolo, assim como
demonstrar a aplicabilidade do método desenvolvido
na determinação de resíduos de agrotóxicos em
amostras de leite bovino. E eles concluíram que o
método de extração QuEChERS modificado aliado a
etapa de limpeza do extrato por D-SPE e a
determinação por GC-MS/MS triploquadrupolo é
eficiente, possibilitando a determinação simultânea de
45 resíduos de agrotóxicos em leite.
Strapasson (2016) propôs um estudo que buscava
analisar as informações oferecidas pelos laboratórios
nacionais que quantificam resíduos de agrotóxicos em
diferentes matrizes, dentre elas a matriz alimentar, e
dessa forma sugerir Programas e Rede de
monitoramento de tais resíduos, a partir da construção
e análise de um banco de dados em Programa Excel.
Sobre a matriz alimentar, a autora concluiu que é
possível aumentar a quantidade de agrotóxicos
analisados nas ações de monitoramento e desse modo,
atender a realidade de uso e presença desses resíduos.
Além disso, a autora afirma que a expansão e
consolidação dos Programas PARA (Programa de
Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos) e
PNCR (Plano Nacional de Controle de Resíduos em
Produtos de Origem Animal) podem ser
correlacionadas às informações sobre exposições a
agrotóxicos, notificações de intoxicação e consumo e
comercialização de alimentos, ajudando na tomada de
decisões por parte do governo.
Ismael et al. (2015) afirmaram que o monitoramento
de resíduos de agrotóxicos em alimentos assume uma
grande importância para a obtenção da segurança
alimentar dos consumidores. E a partir disso,
realizaram um trabalho que visava analisar os resíduos
de agrotóxicos em alimentos comercializados no
estado da Paraíba e seus impactos negativos a saúde
humana. Nesse trabalho eles verificaram que de 100
amostras de alimentos analisadas, 55 possuíam
resíduos de agrotóxicos, caracterizando possíveis
riscos à saúde humana e ao meio ambiente.
Balleste e Mantelli (2020) fizeram um trabalho que
teve como perspectiva central a realização da análise
das culturas agrícolas dos relatórios de atividades do
Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em
Alimentos (PARA), com enfoque para o pimentão e
pepino, produtos típicos da agricultura familiar, com
uma considerável participação da força de trabalho
humano em todas as etapas do processo produtivo. E
a partir dos resultados alcançados, eles perceberam
que o uso indiscriminado de agrotóxicos para essas
culturas apontou que a maior parte dos problemas das
irregularidades nas amostras devem-se aos
ingredientes ativos (IA) não autorizados, o que mostra
que os agricultores não estão fazendo uso de boas
práticas agrícolas.
Milani et al. (2020) ressaltaram a importância do
PARA (Programa de Avaliação de Resíduos de
Agrotóxicos em Alimentos), com a finalidade de
assegurar o trabalho no monitoramento dos níveis de
agrotóxicos em alimentos em nível nacional e sua
divulgação para a conscientização da população e para
suporte das políticas públicas.
A sociedade vem se preocupando cada vez mais com
o cuidado com a saúde e o bem-estar, e é por meio dos
alimentos que a preocupação se inicia, visto que,
constatado o elevado número de alimentos
contaminados por agrotóxicos, deve-se questionar em
como uma intoxicação pode ser evitada ou até mesmo
em como esse número pode ser diminuído (Citta e
Pandolfi, 2017).
Para minimizar esses impactos, há uma grande
necessidade de maiores incentivos à adoção de
práticas sustentáveis de cultivo, capacitação daqueles
que manuseiam os agrotóxicos, assim como a
proibição de princípios ativos já comprovadamente
nocivos ao ambiente e à saúde, somados à fiscalização
rígida por órgãos ambientais competentes (Belchior et
al., 2017).
CONCLUSÃO
Dados apresentados por vários autores mostraram que
os agrotóxicos, mesmo sendo autorizados em certos
limites, são encontrados em produtos de origem
vegetal e animal, o que ressalta a necessidade do
constante monitoramento de resíduos de agrotóxicos e
um maior controle da utilização dessas substâncias na
produção agrícola brasileira. Contudo, a presença de
resíduos de agrotóxicos não pode implicar em uma
redução do consumo de frutas, legumes e verduras,
que são alimentos fundamentais em uma alimentação
saudável e de grande importância para nossa nutrição.
Além disso, confirmou-se a importância de estudos de
técnicas eficientes para a determinação e
quantificação dessas substâncias nestes alimentos, a
fim de garantir o direito de segurança alimentar da
população.
Apesar das leis de fiscalização para venda dos
agrotóxicos, aplicação e quantidades a serem
aplicadas, evidenciou-se a dificuldade no manejo
adequado de cada agroquímico. Este é um fato que
pertence aos órgãos competentes e às políticas
públicas certificar que as fiscalizações sejam
eficientes, assegurando assim, o bem-estar e a saúde
não só do consumidor, mas também do produtor rural
e do meio ambiente que sofrem grandes impactos
devido a esta realidade.
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