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Comportamento de fuga de Folsomia Candida expostos a solos contaminados com Ametrina 315

COMPORTAMENTO DE FUGA DE FOLSOMIA CANDIDA EXPOSTOS A SOLOS


CONTAMINADOS COM AMETRINA

Juliana Jacomini Oliveira1, Letícia de Jesus Ferreira², Cassiana Maria Reganhan Coneglian²

RESUMO – O Brasil está entre os países que mais consomem e utilizam agrotóxicos do mundo, entre
janeiro de 2019 a maio de 2021, 1.201 novos agrotóxicos foram registrados, o maior número de liberação
já ocorrido. Estudos que utilizam a fauna edáfica como bioindicadores da qualidade do solo são de grande
importância para entender os efeitos que esses agrotóxicos podem causar nos organismos, podendo alterar
a estabilidade dos ecossistemas, visto que a fauna edáfica mantém os processos ecológicos fundamentais.
Um dos agrotóxicos utilizados nas grandes monoculturas brasileira como de café e de cana-de-açúcar é
o herbicida ametrina, classificação toxicológica Classe III, medianamente tóxico e sem legislação que
regulamente as concentrações máximas permitidas no solo. O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito
da aplicação de diferentes doses de ametrina e avaliar o comportamento de fuga de colêmbolos da espécie
Folsomia candida. Foi utilizado 4 concentrações de ametrina e solo sem aplicação, denominado de controle
em triplicata, em Latossolo Vermelho. A distribuição dos indivíduos foi de 50 %, permanecendo na faixa de
40 a 60% no controle duplo, com mortalidade dos colêmbolos inferior a 20 %, validando o teste. A fuga dos
colêmbolos ocorreu já na primeira dose de ametrina (2,8 μl/Kg de solo seco) e na dose máxima (22,2 μl/Kg
de solo seco) obteve-se a maior porcentagem de fuga (46,6 %), porém para o contaminante ser considerado
tóxico, deve ocorrer fuga superior a 80 %. Neste estudo organismos tiveram preferência ao solo controle na
maioria das amostras (62,71 %), indicando um alerta de possível toxidade. De acordo com o teste de Fisher,
não foi encontrada diferença significativa mesmo tendo sido evidenciado o comportamento de fuga. Portanto,
presumisse-se que no presente estudo o herbicida não apresentou toxicidade para Folsomia candida, sendo
necessário mais estudos para fomentar resultados que evidenciem o impacto que esses ativos podem causar
na reprodução dessa e outras espécies não-alvos, a saúde do ambiente e consequentemente a saúde humana.

Palavras chave: Collembola, ecotoxicologia, herbicida.

ESCAPE BEHAVIOR OF FOLSOMIA CANDIDA EXPOSED TO SOILS CONTAMINATED


WITH AMETRYN

ABSTRACT – Brazil is among the countries that most consume and use pesticides in the world, from January
2019 to May 2021, 1,201 new pesticides were registered, the highest number of releases ever. Studies that
use the edaphic fauna as bioindicators of soil quality are of great importance to understand the effects that
these pesticides can have on organisms, which can alter the stability of ecosystems, since the edaphic fauna
maintains fundamental ecological processes. One of the pesticides used in large Brazilian monocultures such
as coffee and sugarcane is the herbicide ametryn, toxicological classification Class III, moderately toxic and
without legislation regulating the maximum concentrations allowed in the soil. The objective of this work
was to study the effect of the application of different doses of ametryn and to evaluate the escape behavior
of springtails of the Folsomia candida species. Four concentrations of ametrine and soil without application
were used, called control in triplicate, in Red Oxisol. The distribution of individuals was 50 %, remaining in
the range of 40 to 60 % in the double control, with springtail mortality lower than 20 %, validating the test.
The escape of springtails occurred in the first dose of ametrine (2.8 μl/kg of dry soil) and at the maximum
dose (22.2 μl/kg of dry soil) the highest percentage of escape was obtained (46.6 %), but for the contaminant
1, 2
Doutoranda em Tecnologia e Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP campus Limeira, Rua Paschoal Marmo,
1888- Jd. Nova Itália, CEP: 13484332, Limeira, SP. E-mail: juliana.biofv@hotmail.com. ² Professora Dr.ª na Faculdade de Tecnologia da
Universidade Estadual de Campinas –UNICAMP campus Limeira.

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to be considered toxic, more than 80% leakage must occur. In this study, organisms preferred the control soil
in most samples (62.71 %), indicating a warning of possible toxicity. According to Fisher’s test, no significant
difference was found even though the escape behavior was evidenced. Therefore, it was assumed that in this
study the herbicide did not show toxicity to Folsomia candida, further studies are needed to promote results
that show the impact that these actives can cause on the reproduction of this and other non-target species,
the health of the environment and consequently human health.

Keywords: Collembola, ecotoxicology, herbicide.

INTRODUÇÃO fundamentais como ciclagem de nutrientes, incorporação


de matéria orgânica nas diferentes camadas do solo e
O Brasil é um dos países que mais utilizam responsáveis por processos de umidificação e mineralização
agrotóxicos na produção agrícola, representando 30% são afetados pelo uso excessivo dos mesmos (Carneiro,
de todo o mercado global consumidor e sendo o maior 2015; Buch et al., 2016).
mercado consumidor individual (IBAMA, 2018; CONAB,
2019). Em 2019, segundo o Diário Oficial da União, o A espécie Folsomia candida utilizada nesse
Brasil aprovou 503 novos registros de agrotóxicos, batendo ensaio é um artrópode, ápteros da família isotomidae que
o recorde histórico no número de aprovações (BRASIL, vivem em todo o mundo, estando amplamente difundidos
2019), e em 2020 o Ministério da Agricultura, Pecuária e (Coleman & Crossley, 1995), sendo considerado bom
Abastecimento (MAPA, 2020) autorizou mais 493 novos indicador biológico pois desempenham funções vitais para
registros. Até maio de 2021 foram 205 novos agrotóxicos o solo, como a degradação da matéria orgânica, ciclagem de
registrados (FIOCRUZ, 2021), totalizando 1.201 novos nutrientes e são de fácil reprodução e cultivo em laboratório
registros desde 1º de janeiro de 2019. (Bianchi, 2010). A espécie foi amplamente adotada como
modelo de Collembola para uso em testes de ecologia
A ametrina (2-etilamina-4-isopropilamina- e ecotoxicologia do solo (Coyle et al., 2017), pois permite
6-metiltio-s-2,4,6-trazina) é um herbicida seletivo, de obter resposta em curto período de tempo, indicando
ação sistêmica, do grupo químico das triazinas, com condições desfavoráveis em um ambiente, apresentando
classificação toxicológica Classe III, medianamente tóxico, alta sensibilidade (Natal da Luz et al., 2004).
utilizada nas culturas de cana-de-açúcar, café, uva, banana
e cítricos para o controle de plantas espontâneas (ANVISA, Os ensaios ecotoxicológicos são fundamentais
2017). A ametrina tem amplo uso, pois é utilizada nas para avaliação da segurança ambiental dos agrotóxicos
maiores culturas brasileiras, com poucos estudos sobre seus (Niva, 2019; Oliveira, 2021; Triques et al., 2021). Alguns
efeitos em organismos não-alvos, sendo um herbicida sem produtos são reavaliados quanto à dosagem recomendada,
regulamentação de concentrações máximas permitidas no reforçado as quantidades determinadas pelo MAPA
solo (Oliveira, 2021). evitando ocasionar efeitos subletais aos organismos (Costa
et al., 2015).
Os agrotóxicos geram resíduos que tendem a
permanecer no ambiente por longos períodos, podendo Estudos envolvendo a avaliação dos vários efeitos
causar impactos nocivos a diferentes ecossistemas (Souza em diferentes organismos de diferentes níveis tróficos e
et al., 2020, Giordani et al., 2021). Embora o seu uso em diferentes tipos de solo, geram dados de ocorrências
seja comum e visto como importante para o controle no ambiente que reforçam os relatórios de alteração dos
de pragas na agricultura convencional, o uso exagerado Valores Máximos Permitidos, ou incluem novos compostos
e errado pode prejudicar outros organismos além das nos programas de monitoramento e fiscalização (Oliveira,
pragas, como colêmbolos, devido à não seletividade dessas 2021). Considerando a ocorrência de variados tipos de
substâncias químicas (Aktar et al., 2009, Souza et al., 2020, solo do Brasil, com diversidade de organismos em cada
Giordani et al., 2021). Portanto, monitorar regularmente a tipo de solo, é urgente avaliar a influência a toxicidade dos
quantidade desses compostos no ar, na água e no solo, é agrotóxicos sobre a fauna edáfica (Triques et al., 2021).
de grande importância para que problemas de saúde sejam Segundo Lewis et al. (2016) e Nunes et al. (2016)
minimizados e até evitados (Silva et al, 2011). os dados ecotoxicológicos sobre os efeitos dos agrotóxicos
Uma vez aplicados na cultura, os agrotóxicos em espécies de solo não-alvo em condições tropicais são
atingem o solo de forma direta ou indireta, e a fauna escassos. Novas pesquisas com a finalidade de buscar
edáfica que é responsável por manter processos ecológicos instrumentos que possibilitem avaliar a qualidade do
ambiente e minimizar os impactos da intervenção antrópica

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e ainda auxiliar no manejo adequado do solo para produção Tabela 1 - Características físico-químicas da amostra de so-
de alimentos, torna-se urgente e necessário e acrescentam lo natural tropical utilizados nos experimentos
especificações de risco dos agrotóxicos que são também
importantes instrumentos utilizados como referências Parâmetro Resultado Unidade
para políticas públicas, contribuindo para ações sociais, MO 100 g.dm- ³
econômicas e ambientais (Niva, 2019). pH (cal2) 5 -
Portanto, diante do cenário de aumento expressivo P 8 mg.dm- ³
de registros de agrotóxicos no Brasil e a enorme lacuna de
K 1 mmolc.dm- ³
conhecimento quanto aos indicadores de risco ambiental
de formulações comercializadas mundialmente para o Ca 21 mmolc.dm- ³
solo, metodologias e estudos sobre o uso correto desses Mg 9 mmolc.dm- ³
produtos se tornam indispensáveis para diminuir impactos CTC 111,1 mmolc.dm- ³
e acrescentar especificações de risco dos ingredientes ativos
registrados, isto justifica a necessidade de estabelecer CR 69,8 %
valores seguros para o uso desses produtos. CE 0,1 dS/m
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o Cu 3,2 mg.dm- ³
comportamento de fuga de colêmbolos da espécie Folsomia Fe 31 mg.dm- ³
candida mantidos em latossolo vermelho contaminados
Mn 16,4 mg.dm- ³
com diferentes concentrações de ametrina na composição
comercial Herbipak 500 BR®. Zn 0,5 mg.dm- ³
MO = matéria orgânica, CR = coeficiente de retenção hídrica,
CTC = capacidade de troca catiônica, CE = condutividade elétrica.
METODOLOGIA
Os ensaios de toxidade foram realizados em Ensaio ecotoxicológico
setembro de 2020 no Laboratório de Ecotoxicologia do Solo
De acordo com o protocolo da ISO 17512 -2
(LAECOS) na Faculdade de Tecnologia da Universidade
(ISO, 2011), foram utilizados recipientes plásticos de
Estadual de Campinas - UNICAMP, situado no campus de
380 g (diâmetro: 9 cm; altura: 8 cm) divididos em dois
Limeira-SP.
lados iguais por uma divisória de papelão introduzida
verticalmente (Figura 1A).
Amostra de solo natural - latossolo vermelho Um lado do recipiente foi preenchido com 30 g
Utilizou-se o latossolo natural vermelho coletado de solo controle e outro lado com 30 g de solo contaminado
no campus da Universidade de São Paulo (USP) localizado com ametrina (Figura 1B). Após a remoção da divisória, 10
no município de Itirapina/Broa, SP. A Tabela 1 apresenta a colêmbolos (com idade entre 10 e 12 dias de vida) foram
caracterização do solo natural utilizado. colocados no centro de cada réplica. As concentrações
de ametrina em triplicata foram de 0,0 (controle); 2,8;
A utilização de solos naturais em estudos 5,5; 11,1; 16,6 e 22,2 μl.kg-1 de solo seco, baseadas na
ecotoxicológicos oferecem uma dinâmica mais realista quantidade recomendada pela bula do produto Herbipak
dos possíveis efeitos que o contaminante pode causar ao 500 BR® que utiliza a ametrina como princípio ativo (Bula
ambiente, distinguindo o comportamento de organismos Herpipak, S/D).
não alvos, importantes para o equilíbrio do ecossistema
e mantem a qualidade do ambiente terrestre (Nunes; Os recipientes permaneceram em estufa, com
Espíndola, 2016). temperatura controlada de 20 ± 2°C. Durante o teste os
indivíduos não receberam alimentação. Após 48 horas a
divisória foi novamente inserida e o número de organismos
foi contabilizado em cada seção do recipiente, onde cada
porção foi transferida para outro recipiente, adicionando-se
água para melhor visualização e realização da quantificação
dos organismos.

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subletais para verificar os efeitos potenciais das condições


de risco no ambiente. Protocolos internacionais de testes
garantem o prognóstico do efeito biológico que medem:
a sobrevivência, a reprodução e a rejeição de organismos
como os colêmbolos Folsomia candida (Andréa, 2012).
Para determinar a validade do teste é necessário
que os controles duplos não apresentem diferença de
distribuição significativa entre os dois lados do recipiente
teste. Para os ensaios realizados neste trabalho as duas
seções do recipiente do controle duplo foram preenchidas
com solo sem adição de ametrina e a distribuição dos
indivíduos permaneceu na faixa de 40 a 60 %, faixa de
distribuição determinada pela ISO 17512-2 (2011)).
Os resultados obtidos no teste de fuga em solo
contaminado com ametrina, tendo como organismo teste
Folsomia candida estão dispostos na Tabela 2.
Figura 1 - O recipiente é dividido ao meio e em cada lado
é colocado 30 g de solo, sendo o lado A solo
Tabela 2 - Resultados do teste de fuga de colêmbolos
controle e lado B solo contaminado. Figura 1B:
Folsomia candida em solo natural tropical
Todos os recipientes já com os solos.
contaminado com ametrina durante o período
Fonte: autora. de 48 horas

Análise estatística Concentração


[µl/kg de solo Total Total Letalidade
Após a quantificação dos organismos no solo teste seco]
e no solo controle, realizou-se o cálculo para o teste de fuga
Controle duplo 14 14 2
de acordo com a equação 1
(C0)
A = ((C-T) /N)*100 (1) Controle Ametrina
A: porcentagem de fuga 2,8 (C1) 17 13 0
C: número de organismos no solo de referência 5,5 (C2) 15 14 1
T: número de organismos no solo contaminado 11,1 (C3) 20 9 1
N: número total de organismos. 22,2 (C4) 22 8 0

Equação 1: Equação utilizada para cálculo do teste de fuga


dos F. candida. Decorridos 48 horas da exposição de Folsomia
candida a ametrina em solo natural, quantificou-se 118
Avaliou-se a significância do teste usando o organismos, com a letalidade total de 4 organismos, sendo
programa STATISTICA 7, com Análises de Variância que 74 foram encontrados no solo controle, ou seja, sem
(ANOVA) por meio de teste do teste de Dunnett (P≤0,05) ametrina e 44 no solo contaminado. O teste apresentou
e do teste de Fisher. Antes da avaliação de significância, os critérios de validação determinados pela ISO 17512-
o número de indivíduos foi corrigido usando a taxa de 2 (2011), onde a distribuição dos indivíduos permaneceu
letalidade registrada nos testes (STATISTICA, 2004). dentro da faixa de 40 a 60 % no controle duplo, com 50 % e
com mortalidade dos colêmbolos inferior a 20 %.
Não foi encontrado percentual de fuga maior
RESULTADOS E DISCUSSÃO
ou igual a 80 % que demonstre toxicidade, porém os
A avaliação do risco ecotoxicológico de organismos preferiram o solo controle na maioria das
agrotóxicos com organismos bioindicadores deve ser feita amostras, (62,71 %) indicando alerta de possível toxidade
antes que o efeito seja a mortalidade, isto é, se utiliza doses (Figura 2). O percentual de fuga encontrado foi de 25,4 %.

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Não foi encontrada diferença significativa através do teste


de Fisher, com p = 0,32, mas o ensaio foi homogêneo e
considerado válido.

Figura 3 - Resultado do teste de fuga de F. candida em solo con-


taminado com ametrina – Número total de fuga
Figura 2 - Representação do número de F. candida dos organismos em cada concentração testada.
encontrados no solo controle (linha azul) e
o número de F. candida encontrados no solo Desta forma, ressalta-se a importância de avaliar
contaminado com ametrina (linha vermelha). a toxicidade de agrotóxicos, como a ametrina, utilizada
nas principais culturas agrárias do Brasil e a utilização
Os resultados obtidos neste estudo corroboram de organismos variados da mesofauna é de fundamental
com o resultado encontrado por De Santos et al. (2020), valor, para fomentar resultados que evidenciem o impacto
no qual avaliaram o comportamento de fuga do Folsomia que esses ingredientes ativos podem causar na reprodução
candida com o herbicida Isoxaflutole (IFT). Os autores não dessa e outras espécies não-alvos, assim como a saúde do
obtiveram resposta de fuga nas doses avaliadas, presumindo ambiente e consequentemente a saúde humana.
que o herbicida não apresenta toxicidade para colêmbolos.
Mesmo não sendo estatisticamente significativo, CONCLUSÃO
se observa (Figura 3) que a fuga dos colêmbolos ocorreu
já na primeira concentração de ametrina testada (0,5 μl/kg) As condições do teste ocorreram dentro das
e na dose máxima (6 μl/kg) obteve a maior porcentagem instruções de aplicação em campo, porém são desconhecidos
de fuga, 46,6 %, como demonstrado na figura 2, o que os efeitos que a aplicação desse composto junto com outros
demonstra um potencial de risco, um alerta sobre a toxidade utilizados nas culturas, ou até mesmo aplicações sucessivas
da ametrina sobre esses organismos. Segundo Hund-Rinke e misturas de produtos, possam causar a esses organismos
e Wiechering (2001) a habilidade dos organismos em já em situação de estresse, necessitando-se de estudos
perceber e evitar solos contaminados indica um estresse complementares. Pois esse conhecimento pode permitir a
potencial do solo. prevenção do risco do uso de agrotóxicos nos ecossistemas
terrestres brasileiros.
Os resultados encontrados nesse estudo
também corroboram com estudos já realizados de outros A partir dos resultados obtidos não houve
agrotóxicos, como a Cipermetrina, estudada por Zortéa toxicidade para os organismos-testes F. candida, porém o
et al. (2015), onde a fuga ocorreu desde a primeira dose fato dos organismos apresentarem preferência pelo solo
aplicada do produto, indicando que o mesmo afetou controle em todas as amostras, principalmente nas maiores
negativamente o comportamento dos colêmbolos, induzindo concentrações analisadas, indica alerta de possível toxidade
a fuga para o solo controle, presumindo que o agrotóxico no solo, podendo acarretar alterações no comportamento de
afetou negativamente o organismo testado, impactando organismos terrestres não-alvos mesmo quando a dosagem
diretamente nos serviços ecossistêmicos oferecidos por aplicada seja a recomendada, indicando o potencial risco
esse organismo. ecotoxicológico, demonstrando a importância desses tipos
de estudos para garantir a sobrevivência da mesofauna e
consequentemente a manutenção da qualidade do solo.

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Recebido para publicação em 18/05/2021, aprovado em 10/09/2021 e publicado em 30/10/2021.

Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS), v. 11, n. 1, p. 315-321, Outubro, 2021

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