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SEMINÁRIO LARP

TEMA: Determinação de resíduos de agrotóxicos organofosforados em amostras


biológicas

Juliana Diniz de Barros Kuntz

1 INTRODUÇÃO
Os agrotóxicos são produtos químicos utilizados na agricultura para o
controle de pragas e possuem ampla utilização, como herbicidas, inseticidas,
fungicidas, raticidas, acaricidas, nematicidas, bactericidas, entre outros (FAO,
2018).
A população em geral está exposta aos agrotóxicos principalmente por
meio da dieta (pela ingestão de água e alimentos contaminados), através da
inalação ou contato com a pele. Os efeitos potencialmente adversos causados
pela exposição humana aos agrotóxicos é uma preocupação de saúde pública.
Os agricultores rurais estão mais expostos devido à sua proximidade com os
locais de aplicação. A exposição potencial é ainda maior para os operadores que
estão diretamente envolvidos nas atividades de aplicação dos agrotóxicos
(BÉRANGER et al., 2018).
A determinação de resíduos de agrotóxicos em amostras biológicas é
importante para determinar uma possível causa de intoxicação aguda. Além
disso, é amplamente utilizada em estudos de biomonitoramento de populações
expostas aos agrotóxicos (ROCA et al., 2014). Os métodos de extração mais
empregados em amostras biológicas são a extração em fase sólida (SPE, do
inglês solid-phase extraction) e o método QuEChERS (acrônimo para rápido,
fácil, econômico, efetivo, robusto e seguro, do inglês quick, easy, cheap,
effective, rugged and safe) (SWEENEY et al., 2019).
As cromatografias líquida e gasosa acopladas à espectrometria de
massas em série (LC- MS/MS e GC-MS/MS), tornou-se as técnicas mais
utilizadas para determinação de resíduos de agrotóxicos em amostras
biológicas.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 AGROTÓXICOS

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento


(MAPA), os agrotóxicos são produtos e agentes de processos físicos, químicos
ou biológicos, que são destinados ao uso em setores como, de produção,
armazenamento, pastagens, beneficiamento de produtos agrícolas, entre outros,
tendo como finalidade a preservação da fauna e flora dos seres vivos
considerados nocivos (BRASIL, 2002). Segundo o Decreto Federal Brasileiro no
4.074, de 4 de janeiro de 2002, entendem-se por agrotóxicos: ―produtos e
agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos
setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos
agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de
outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja
finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las
da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias
e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e
inibidores do crescimento.

2.1.1 Classificação dos agrotóxicos

Os agrotóxicos podem ser classificados pelo seu modo de ação no


organismo vivo, ingrediente ativo e podem ser divididos em classes químicas
como, fungicidas, inseticidas, herbicidas, acaricidas e nematicidas, como
mostrado na Tabela 1 (YADAV; DEVI, 2017, p. 143).
Tabela 1 – Classificação dos agrotóxicos por espécie-alvo.

Tipo de Agrotóxico Espécies-alvo/função


Inseticida Causa a morte de insetos e artrópodes
Fungicidas Causa a morte de fungos
Bactericidas Causa a morte e age contra bactérias
Acaricidas Causa a morte de ácaros
Repelentes Repelem pragas através do seu sabor e cheiro
Dessecantes Age nas plantas secando seus tecidos
Causa a morte de nematódeos que atuam como
Nematicidas
parasitas em plantas
Termiticidas Causa a morte de cupins
Fonte: Adaptação de YADAV; DEVI, 2017, p. 143

Também, podem ser classificados quanto a sua composição química


como, carbamatos, piretróides, organoclorados, organofosforados, entre outros
(ANVISA, 2018). Outro modo de classificação dos agrotóxicos é quanto a sua
toxicidade, que considere a dose letal oral, cutânea e inalatória. A RDC n° 294,
de 29 de julho de 2019 (ANVISA, 2019), apresenta no art. 39 a classificação por
categorias como mostra a Tabela 2.

Tabela 2 - Classificação toxicológica dos agrotóxicos.

Categoria Toxicidade Cor


I Produto Extremamente tóxico Vermelha
II Produto Altamente Tóxico Vermelha
III Produto Moderadamente Tóxico Amarela
IV Produto Pouco Tóxico Azul
V Produto Improvável de Causar Dano Agudo Azul
Não Classificado Produto Não Classificado Verde
Fonte: (ANVISA 2019)

Não existe LMR permitido para amostras biológicas.


2.2 AGROTÓXICOS ORGANOFOSFORADOS

Os agrotóxicos organofosforados, de fórmula molecular C16H20O6P2S3,


são ésteres, amidas ou derivados tiol dos ácidos de fósforo, contendo várias
combinações de carbono, hidrogênio, oxigênio, fósforo, enxofre e nitrogênio.
Compostos orgânicos altamente lipossolúveis e biodegradáveis, eles são
rapidamente hidrolisados tanto nos meios biológicos quanto no ambiente, se
distribuindo de forma rápida pelos tecidos orgânicos e ultrapassando as barreiras
placentárias e hematoencefálicas.
Os organofosforados são um grupo de compostos químicos amplamente
utilizados em agropecuária como inseticidas, ocasionando intoxicações
acidentais em animais e humanos. São a classe de maior interesse comercial e
toxicológico e usualmente têm a estrutura geral descrita na Figura 1.

Figura 1: Estrutura básica de inseticida organofosforados.

No entanto, além de serem os mais utilizados, os organofosforados são


também os agrotóxicos que mais causam problemas à saúde humana. De
acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas
(Sinitox), eles são os maiores causadores de intoxicações, sendo responsáveis
por um grande número de mortes no Brasil devido à toxicidade aguda.

2.3 EXPOSIÇAO HUMANA AOS AGROTÓXICOS

A forma de exposição humana aos agrotóxicos ocorre por várias vias,


como por exemplo, o contato com o ambiente contaminado através do ar, água,
solo e através da ingestão de alimentos contaminados. Entretanto, se a
exposição ocorre pelo manuseio destes agentes químicos, em decorrência de
atividades realizadas no ambiente de trabalho, esta exposição é especialmente
denominada de ocupacional (ANAIA, 2014).
As principais exposições relacionadas a estes produtos ocorrem nos
setores agropecuário, saúde pública, empresas desinsetizadoras, transporte,
comercialização e produção de agrotóxicos. Além da exposição ocupacional, a
contaminação alimentar e ambiental, colocam em risco de intoxicação outros
grupos populacionais. Em destaque as famílias dos agricultores, a população
circunvizinha a uma unidade produtiva e a população em geral, que se alimenta
do que é produzido no campo. Portanto, pode-se dizer que os efeitos dos
agrotóxicos sobre a saúde não dizem respeito apenas aos trabalhadores
expostos, mas à população em geral (SILVA et al., 2005).

2.4 AMOSTRAS BIOLÓGICAS

A análise de amostras biológicas permite determinar a exposição humana


aos poluentes a partir de todas as vias de exposição, oferecendo a possibilidade
de obter avaliações de risco mais precisas (YUSA et al., 2015a). A exposição
aos agrotóxicos pode ocorrer através da dieta (pela ingestão de água e alimentos
contaminados), através da inalação, ingestão e via dérmica (LI et al., 2019). O
monitoramento biológico de intoxicações agudas ou crônicas causadas por
agrotóxicos é útil para identificar evidências de problemas de saúde (SHIN et al.,
2019).
Os biomarcadores de exposição (agrotóxicos) são compostos parentais
ou metabólitos presentem na forma livre ou conjugada. Dentre os agrotóxicos
mais frequentemente avaliados nos estudos de biomonitoramento pertencem às
classes químicas dos organofosforados, entre outras (YUSA et al., 2015a).
Sangue e urina são as amostras mais usadas nos estudos de avaliação
da exposição aos agrotóxicos. Outras amostras biológicas também podem ser
utilizadas, como soro, leite materno, saliva, entre outras.
2.4 TÉCNICAS CROMATOGRÁFICAS PARA DETERMINAÇÃO DE
AGROTÓXICOS EM AMOSTRAS BIOLÓGICAS

Dentre as técnicas para determinação de agrotóxicos destacam-se a


cromatografia gasosa e a cromatografia líquida. A cromatografia gasosa (GC, do
inglês gas chromatography) baseia-se na diferente distribuição de substâncias
da amostra entre uma fase estacionária e a fase móvel (um gás), sendo esta
aplicada a análise de compostos voláteis ou volatilizáveis, que sejam
termicamente estáveis (MASIÁ et al., 2016).
A cromatografia líquida baseia-se na diferente distribuição dos analitos e
componentes da matriz por polaridade entre uma fase estacionária e a fase
móvel. Pode ser classificada como tipo normal, onde a fase estacionária é mais
polar que a fase móvel, ou do tipo reversa, onde a fase estacionária é mais apolar
que a fase móvel.
A combinação entre a aplicabilidade da GC e LC aliada à grande
capacidade de detecção dos analisadores de massas possibilitou o
desenvolvimento de métodos que possuem maior seletividade e sensibilidade
(CALDAS et al., 2011). O princípio básico da espectrometria de massas é gerar
íons de compostos orgânicos ou inorgânicos, separar esses íons de acordo com
suas razões massa/carga (m/z) e detectá-los qualitativa e quantitativamente
(GROSS, 2004).
Atualmente, a cromatografia líquida e a cromatografia gasosa, acopladas
à espectrometria de massas em série que utiliza analisadores do tipo triplo
quadrupolo são as técnicas analíticas de escolha para a determinação de
resíduos de agrotóxicos.

2.5 TÉCNICAS DE PREPARO DE AMOSTRAS PARA DETERMINAÇÃO DE


AGROTÓXICOS EM AMOSTRAS BIOLOGICAS

A determinação de resíduos de agrotóxicos usualmente compreende uma


etapa de preparo da amostra, cujo objetivo é extrair o analito da amostra e
disponibilizá-lo para a separação cromatográfica. Com este intuito, podem ser
aplicadas técnicas de hidrólise química ou enzimática para desconjugar os
analitos das proteínas e posteriormente métodos de extração como a extração
em fase sólida (SPE) mediante a utilização de diferentes fases sólidas e também
o método QuEChERS, um método amplamente utilizado na análise multiclasse
de agrotóxicos.
Como métodos de preparo de amostra para análise de agrotóxicos em
amostras biológicas, como urina, sangue, leite materno, tem-se a extração
líquido-líquido (GALLO et al., 2021) utilizada por muitos anos como um método
de rotina em laboratórios. No entanto, outros tipos de métodos mais eficientes e
robustos como a extração em fase sólida (SPE, do inglês solid-phase extraction),
vem sendo amplamente aplicado em amostras biológicas (YUSA et al., 2015),
bem como o método QuEChERS (um acrônimo para rápido, fácil, econômico,
efetivo, robusto e seguro, do inglês quick, easy, cheap, effective, rugged and
safe) (SANTANA-MAYOR et al., 2019; PERESTRELO et al., 2019).

3 APLICAÇÕES (BASEADAS EM ARTIGOS DA LITERATURA)

Aplicação 1: Validação de um método simples para determinação de glifosato e


ácido aminometilfosfônico em urina humana por UPLC-MS/MS.
Artigo Base:

Aplicação 2: Determinação de glifosato, metábolitos de glifosato e glufosinato


em soro humano por GC-MS.
Artigo Base:

Aplicação 3: Determinação multiresíduo de agrotóxicos em urina empregando


método QuEChERS e LC-MS/MS

4 CONCLUSÕES
Para matrizes biológicas é possível empregar um preparo de amostra que
seja simples e de rápida extração.
Também, o uso de reagentes comuns de laboratório e métodos que possuem a
etapa de limpeza pode proporcionar um extrato mais adequado para análise.
Além disso, a análise por LC-MS/MS e GC-MS/MS demonstram alta
sensibilidade e seletividade, o que permitiu a análise simultânea de resíduos de
agrotóxicos.
REFERÊNCIAS

ANAIA, G. C., Determinação multirresidual de agrotóxicos por HPLC no contexto


de exposição ocupacional. Tese de Doutorado – Programa de Pós-Graduação
em Química Analítica. Instituto de Química. Universidade de São Paulo, São
Paulo, 104p, 2014.

ANVISA (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA). Programa de


Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimenta (PARA). Relatório das
amostras analisadas no período de 2017-2018. Brasília. 2019.

BÉRANGER, R.; HARDY, E. M.; DEXET, C.; GULDNER, L.; ZAROS, C.;
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no 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a
experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o
armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a
importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro,
a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, 11 de julho de 1989.

CALDAS, S. S. et al. Principais técnicas de preparo de amostra para a


determinação de resíduos de agrotóxicos em água por cromatografia líquida com
detecção por arranjo de diodos e por espectrometria de massas. Química Nova,
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