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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA – SAÚDE, MEIO AMBIENTE E SEGURANÇA (SMS)

Principais aspectos da poluição de rios brasileiros por pesticidas:


Priscila M. Dellamatrice;
Regina T. R. Monteiro.
OCDE e agricultura: meio ambiente e mudança climática:
Vera Helena Thorstensen;
Amanda Mitsue Zuchieri.
Uso de Agrotóxicos na Agricultura: Uma questão de Saúde Pública:
Stefano Dutra Vivenza ;
Sebastien Kiwonghi Bizawu.

AGRICULTURA COMO O PRINCIPAL VILÃO DAS MUDANÇAS


CLIMÁTICASACUSAÇÃO: AGRICULTURA

Ana Karolyne Borges;


Anna Karolina Santana;
Iadira Damacena;
Leticia do Nascimento;
Maria Clara Repplinger;
Maria Eduarda Freitas;
Stéphany Marize Nunes;
Thaila Luane Moura;
Thiago Menezes;
Viviane Santos.

BARREIRAS-BAHIA
2023
1. Introdução:
A agricultura é um sistema de produção e manejo de plantas, animais e outros recursos
naturais com o objetivo de obter alimentos, fibras, biomassa e outros produtos para atender às
necessidades humanas. A agricultura envolve uma variedade de práticas e técnicas que visam
maximizar a produtividade, a eficiência e a sustentabilidade dos sistemas de produção
agrícola. Ela abrange não apenas o cultivo de plantas, mas também a criação de animais, a
gestão do solo, o uso de recursos hídricos, a genética e a seleção de espécies, entre outros
aspectos.
A crescente demanda por alimentos, juntamente com a necessidade de aumentar a
produtividade agrícola, levou à adoção generalizada de fertilizantes químicos e agrotóxicos.
Esses insumos são projetados para melhorar o crescimento das culturas e protegê-las contra
pragas e doenças, contribuindo assim para aumentar a produção global de alimentos. O uso
intensivo e inadequado de agrotóxicos trouxe um processo de resistência de pragas, ervas
infestantes e doenças (AGRA ;E SANTOS, 2001).
Ao decorrer do trabalho, evidenciará o caráter mais doloroso da modernização que se
diz respeito aos impactos sociais no campo brasileiro. Apesar de serem grandes os impactos
ambientais advindas da modernização da agricultura, inadequada aos padrões brasileiros. Por
meio de uma abordagem crítica e baseada em evidências, busca-se fornecer insights que
permitam uma visão mais abrangente e informada sobre o impacto desses insumos essenciais
na agricultura contemporânea.

2. Desenvolvimento:
Os agrotóxicos e fertilizantes são insumos agrícolas amplamente utilizados na
produção de alimentos em larga escala, mas seus efeitos e impactos na agricultura, meio
ambiente e saúde humana merecem uma análise crítica e cuidadosa. Embora sejam utilizados
com o objetivo de aumentar a produtividade e a eficiência dos sistemas de produção agrícola,
eles também apresentam desafios significativos e complexos que precisam ser abordados de
forma equilibrada.
Em muitos casos, agrotóxicos e fertilizantes são usados em conjunto para otimizar a
produtividade das culturas. No entanto, a aplicação combinada desses insumos pode levar a
sinergias complexas e potencializar seus impactos negativos. Por exemplo, o uso excessivo de
fertilizantes pode aumentar a disponibilidade de nutrientes nas plantas, tornando-as mais
suscetíveis a pragas e doenças, o que pode aumentar a necessidade de agrotóxicos.
Tanto os agrotóxicos quanto os fertilizantes têm o potencial de causar impactos
negativos no meio ambiente. Agrotóxicos podem contaminar solos, água e ecossistemas
aquáticos, afetando organismos não-alvo e diminuindo a biodiversidade. Fertilizantes em
excesso podem causar a lixiviação de nutrientes para corpos d'água, contribuindo para a
eutrofização e a degradação da qualidade da água.
A exposição a agrotóxicos pode representar riscos para a saúde humana,
especialmente para trabalhadores rurais que estão em contato direto com esses produtos.
Estudos têm associado a exposição crônica a agrotóxicos a problemas de saúde, como câncer,
distúrbios neurológicos e desregulação hormonal. Além disso, a ingestão de alimentos
contaminados por resíduos de agrotóxicos também levanta preocupações sobre a segurança
alimentar.
O uso contínuo e intensivo de agrotóxicos pode levar ao desenvolvimento de
resistência por parte de pragas e doenças, diminuindo a eficácia desses produtos ao longo do
tempo. Da mesma forma, o uso excessivo de fertilizantes pode enfraquecer o solo e tornar as
plantas dependentes desses insumos, comprometendo a resiliência dos sistemas agrícolas.
A busca por alternativas e abordagens sustentáveis se tornou crucial para enfrentar os
desafios associados ao uso de agrotóxicos e fertilizantes. A adoção de práticas de manejo
integrado de pragas, rotação de culturas, uso de culturas de cobertura e técnicas
agroecológicas pode reduzir a dependência desses insumos químicos, promovendo sistemas
agrícolas mais equilibrados e resilientes.
Em resumo, a interação entre agrotóxicos e fertilizantes na agricultura é complexa e
multifacetada. Embora possam oferecer benefícios em termos de produtividade, eles também
apresentam desafios ambientais, de saúde e de sustentabilidade que requerem uma abordagem
integrada e responsável. A promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis, a
conscientização sobre os riscos envolvidos e o incentivo à pesquisa e inovação são essenciais
para encontrar o equilíbrio entre a produção agrícola e a preservação dos recursos naturais e
da saúde humana.
O uso desses fertilizantes resulta, ainda, em emissões diretas de GEE, emissões de
óxido nitroso (N2O) no processo de fabricação e na aplicação, no solo, além de outros
problemas causados pela deposição atmosférica de nitrogênio, onde esse elemento não é
desejado, acidificando o solo e alterando seu equilíbrio ecológico e sua produtividade.
Também pode contaminar a água subterrânea ou superficial, tornando-a inapta para o
consumo humano. Por outro lado, quando há manejo do solo com tecnologias inadequadas,
ocorre a perda do nitrogênio e dos seus fixadores naturais, tornando o solo inapto para a
agricultura pouco intensiva de insumos químicos (UNEP e WHRC, 2007).

2.1 Poluição por pesticidas e agrotóxicos na agricultura:


De forma simplificada, agrotóxicos podem ser entendidos como “um grupo de
substâncias químicas utilizadas no controle de pragas (animais e vegetais) e doença de
plantas” (PERES, 2004). De acordo com Carla Vanessa Alves Lopes (2018), o uso em massa
dos agrotóxicos na agricultura teve início na década de 1950, nos Estados Unidos da América.
Segundo a autora, o início foi marcado pela chamada Revolução Verde que teve como foco a
modernização da agricultura e o aumento da produtividade. Ao longo dos anos, o uso foi se
expandindo por todo o mundo.
Com o aumento demasiado da agricultura no mundo, o uso de pesticidas e agrotóxicos
cresceram significativos nessas áreas, com intuito de reduzir problemas na produção dessas
plantações. Entende-se que os pesticidas são um dos grupos mais representativos de poluentes
no ambiente devido ao seu uso intensivo na agricultura (Choudhury et al., 2008). O Ministério
do Desenvolvimento Agrário, MDA (2012) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
ANVISA (2013) mostram que o Brasil é o maior consumidor e produtor de agrotóxicos do
mundo, desde 2009. O mercado desses produtos cresceu aproximadamente 176% na última
década, sendo quatro vezes maior que a média mundial (ANVISA, 2013). (ANVISA, 2013;
CHOUDHURY et al., 2008 ; MDA, 2012)
Ademais, a biodiversidade e a qualidade dos recursos hídricos são impactadas por
essas práticas agrícolas corriqueiras. Sendo assim, resíduos de agroquímicos estão presentes
nos alimentos (ANVISA, 2013), na atmosfera (Moreira, et al., 2012), nas precipitações secas
e úmidas, como chuvas (Nogueira et al., 2012) e águas superficiais e subterrâneas (Dores et
al., 2008).
Para garantir a proteção ambiental é necessário manter no mínimo os parâmetros de
qualidade da água dentro dos limites estabelecidos. O Brasil tem, como alicerce, a Resolução
CONAMA n. 357/05 (Brasil, 2005) e a Portaria do Ministério da Saúde 518/04 (Brasil, 2004)
que dispõem sobre os limites máximos permissíveis (Lourençato, 2010). No entanto, com a
falta de instrução na aplicação desses produtos químicos e a busca pela maior eficiência, esses
produtos são aplicados em doses maiores que as recomendadas pelo fabricante, as quais são
determinadas baseadas em estudos eco toxicológicos sobre o comportamento dos produtos no
ambiente e efeitos em organismos. Embora o Brasil ainda esteja ocupando o lugar de maior
consumidor de agrotóxicos (BRASIL, 2004; BRASIL 2005 ; Gomes & Barizon, 2014;
LOURENÇATO, 2010).

2.2 Emissões de gases, mudanças climáticas, perda de biodiversidade e degradação dos


recursos hídricos:
As atividades relacionadas ao setor agropecuário são responsáveis, direta ou
indiretamente, pela maior parte das emissões de GEE no Brasil. O desmatamento e a
produção agropecuária geram emissões diretas no meio atmosférico. Na parte da agricultura,
essas emissões diretas são geradas principalmente pelo uso de fertilizantes e mineralização do
nitrogênio no solo, pelo cultivo do arroz irrigado em várzeas, pela queima da cana-de-açúcar e
pela queima de combustíveis fósseis utilizados no maquinário agrícola. As emissões diretas da
atividade pecuária são constituídas principalmente pela liberação de metano (CH4) resultante
do processo digestivo do gado de corte.
As emissões de GEE geradas pelo setor agropecuário agravam as mudanças
climáticas, podendo levar à maior desertificação em regiões semiáridas, aumento do período
de secas em regiões de maior pluviosidade, como na Amazônia, e aumento da frequência e
intensidade de eventos extremos de seca, chuva e ventos fortes em diversas regiões.
Os impactos sobre a biodiversidade decorrem principalmente do desmatamento e da
degradação dos remanescentes florestais. Os principais impactos diretos são causados pela
conversão de áreas de vegetação nativa para uso agropecuário e pelas perturbações causadas
às áreas remanescentes pelas queimadas, corte seletivo de madeira e caça. São também
importantes, embora menos evidentes, os impactos indiretos causados pelo tipo de cultivo
existente na região do entorno das áreas naturais protegidas. A prática da monocultura e do
uso excessivo de agrotóxicos impede o trânsito de animais, polinizadores e dispersores de
sementes, nas áreas de lavoura e pastagem e, em consequência, as populações animais e
vegetais ficam isoladas nos remanescentes de vegetação natural, causando perda de
diversidade genética e a extinção de espécies com o passar do tempo, fenômeno conhecido
como fragmentação.
2.3 Degradação do solo:
A ocupação desordenada do solo origina a supressão da vegetação compactando e
impermeabilizando o solo, o que impede a infiltração e a recarga dos cursos de água. A
remoção da mata ciliar e o manejo inadequado do solo e culturas, mesmo em áreas aptas para
desenvolvimento agrícola, potencializam o transporte de agrotóxicos do solo para corpos de
água em decorrência do escoamento superficial gerado pela ação da chuva ou irrigação da
cultura nesses locais.
A intensa exploração dos solos na agricultura vem causando diferentes tipos de
degradação, gerando problemas ambientais, econômicos e sociais. O uso do solo para
atividades agrícolas e o seu manejo inadequado têm criado ambientes antropogênicos que
influenciam na origem de diferentes tipos de degradação como, por exemplo, a erosão eólica
que se apresenta em forma de tempestades de areia e poeira. Em termos conceituais, a
degradação do solo é definida como um conjunto de processos pelos quais são perdidas as
qualidades químicas, físicas ou biológicas, cujas causas podem ser naturais ou devido ao seu
uso intenso que supera sua resiliência em relação às pressões externas.
Azevedo; Kaminski (1995) e Porta (2021), são grandes nomes de pesquisadores sobre
tais eventos no solo, e segundo suas pesquisas o processo de erosão pode vir por diversos
fatores de trocas que modificam o sistema e sua dinâmica. Avaliação Global da Degradação
do Solo (GLASOD) foi a primeira tentativa de um estudo voltado para desenvolvido entre os
anos de 1988 e 1991, e desde essa época foi possível notar modificações no solo.
No Brasil, desde a modernização agrícola vem ocorrendo a exploração intensa dos
solos, em geral, sem um manejo adequado e com uso de maquinários pesados, sem rotação de
pastagens e de plantio (Alves, Régia). As práticas inadequadas de manejo agrícola têm
interferido na degradação dos solos. A degradação do solo, devido à erosão hídrica, diminui
sua capacidade produtiva, causando mudanças físicas no solo, principalmente sua porosidade
(OLIVEIRA; VAZ; REICHARDT, 1995).

2.4 Degradação da água e do ar:


Os pesticidas utilizados na agricultura para combater pragas e doenças têm
causado contaminação dos recursos hídricos cujas consequências são alterações nos
ecossistemas e prejuízos à saúde, sobretudo quando as águas são utilizadas para consumo
humano. A contaminação ocorre principalmente em áreas próximas aos locais de aplicação
por deflúvio superficial ou contaminação do lençol freático. Alguns fatores que afetam o
transporte para o meio aquático são as propriedades do agente químico e variáveis ambientais,
como tipo de solo, declividade, presença de cobertura vegetal e clima; alguns desses fatores,
como relevo planáltico e solo quartzoso, estão presentes em grande parte do país fazendo com
que a poluição do meio aquático seja acentuada. (Dellamatrice e Monteiro, 2014)
Com isso, a adoção de práticas agrícolas mais racionais pelos agricultores e medidas
como proteção das matas ciliares, são essenciais para prevenir a contaminação por pesticidas
dos recursos hídricos, sendo a forma mais eficiente de controle da poluição agrícola nas
condições locais. Infelizmente, o mal uso desses produtos químicos são sobrepostos de
maneira errônea nas lavouras, fator que implica principalmente nos recursos hídricos e
posteriormente gerando um problema de saúde pública.
Entende-se que o clima é afetado por vários impactos diretamente ligados aos gases
emitidos pela agricultura, causando danos de várias formas, incluindo o efeito estufa,
responsável pela liberação de gases como Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4), Óxido
nitroso (N2O), Hidrofluorocarbonos, Perfluorocarbonos (CF4, C2F6) e Hexafluoruro de
enxofre (SF6) (FAO, 2014). Este estudo se concentra apenas em dois dos gases mencionados,
Dióxido de carbono (CO2) e Metano (CH4) (COLLADO, 2005).
O setor agrícola é o maior emissor de metano e óxido nitroso, e é uma fonte massiva
de emissões de CO2 a partir do uso da terra na produção agrícola e mudanças no uso da terra,
devido à devastação de sumidouros de CO2 (principalmente florestas) para o
desenvolvimento de atividades agrícolas. (COLLADO, 2005).
Em outras palavras, as emissões diretas e indiretas da agricultura podem ser associadas
com o uso excessivo do desmatamento de florestas constituídas por um elevado número de
fauna e flora de grande porte, após serem substituídas por plantas de pequenos portes como,
soja, milho e algodão, que obviamente, acarreta no meio ambiente. Por possuir um setor
agrícola pujante, o Brasil é um emissor de gases de efeito estufa da agricultura e, apesar de ter
avançado em alguns aspectos legais e regulatórios, ainda tem um longo caminho a percorrer
nas áreas de implementação e fiscalização para cumprir com as metas de emissões, diretrizes
e recomendações da OCDE.

2.5 Uso de Agrotóxicos na Agricultura: Uma questão de Saúde Pública:


Antes de mais nada, a Constituição Federal de 1988 prevê em seu artigo que a saúde é
um direito social fundamental do indivíduo, de modo que o Estado possui o dever de garantir
sua preservação. Se por um lado os agrotóxicos são vistos por muitos (até mesmo pelo
Estado) como algo benéfico para o desenvolvimento agrícola do país, por outro, pode
representar um sério risco à saúde dos brasileiros e a frouxidão da legislação e ausência de
políticas públicas sobre o tema podem configurar uma inconstitucionalidade do Estado por
não garantir de forma efetiva o direito do indivíduo à saúde.
Os principais problemas relacionados ao uso excessivo de agrotóxico nas lavouras e
pastagens são a ameaça à saúde dos agricultores e dos consumidores de produtos
agropecuários e a contaminação dos solos, do ar e dos corpos hídricos nos locais onde o
defensivo é aplicado. Apenas em 2008, foram notificados, no Sistema Único de Saúde (SUS),
5.295 casos de intoxicação por agrotóxico no Brasil, 2.136 decorrentes do uso agrícola e que
levaram a 107 óbitos (MS, 2009). Entre 2001 e 2004, o Programa de Análise de Resíduo de
Agrotóxico em Alimentos (Para), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
analisou 4 mil amostras de alimentos e detectou irregularidades no uso de agrotóxicos em
28% delas (Rodrigues, 2006). Além disso, estima-se que apenas 30% do total de agrotóxicos
aplicados fiquem na planta, sendo que o restante irá causar contaminação no ambiente. Os
efeitos negativos desses produtos nos ecossistemas naturais e cultivados incluem a morte de
polinizadores e de organismos que controlam as populações de pragas, além de afetar a
microbiologia do solo, causando também prejuízos às lavouras (Pinheiro e Freitas, 2010).
Desde o ano de 2009 o Brasil é considerado o país que mais utiliza agrotóxicos na
agricultura e, atualmente, é responsável pelo consumo de um quinto de todo o agrotóxico
produzido no mundo (BOMBARDI, 2012).
De modo geral, a saúde do ser humano pode ser prejudicada pelo uso de agrotóxicos
de três formas principais: no momento de sua fabricação, durante a aplicação e ao ingerir
produto contaminado (INCA, 2019). O uso indiscriminado de agrotóxicos vem resultando em
milhares de mortes na década passada e dezenas de milhares de intoxicações. No Brasil, entre
2007 e 2014, foram registradas quase 2 mil mortes por intoxicação agrícola, média de 148
óbitos por ano ou um caso a cada dois dias e meio. O campeão é o Paraná, com 231
falecimentos no período, seguido por Pernambuco (151) e o trio São Paulo, Minas Gerais e
Ceará (83 cada um). (RUSCHEL, 2019)
Segundo a autora, existem quatro graves consequências. A primeira é a chamada
neurotoxicidade e atua no sistema nervoso periférico do ser humano, tendo alteração no QI,
déficit de atenção, hiperatividade, autismo e transtornos psiquiátricos. Na vida adulta, é o
gatilho para uma série de doenças neurológicas. (RUSCHEL, 2019). A segunda, de acordo
com a autora é a toxicidade endócrina, responsável por descontrole hormonal, causando
doenças como obesidade e câncer em órgãos que dependem de hormônio – mama, próstata,
ovário e testículo. (RUSCHEL, 2019). A terceira é o câncer, de modo que o glifosato
(agrotóxico muito utilizado) é extremamente cancerígeno segundo inúmeros estudos
científicos, e a última diz respeito ao fato de que os agrotóxicos tendem a estimular a chamada
disbiose intestinal, ou seja, um desequilíbrio entre as bactérias benéficas e as causadoras de
doenças no intestino humano. Por fim, estimula-se a chamada disbiose intestinal, um
desequilíbrio causado pela diminuição do número de bactérias boas do intestino e o aumento
das bactérias capazes de causar doenças. (RUSCHEL, 2019)
Para o professor da Universidade Federal de Goiás (IESA/UFG) Adriano Rodrigues,
“Mais importante do que apenas dizer se somos ou não os maiores consumidores, é mostrar as
consequências desse uso tão grande. O Ministério da Saúde emite relatórios que quantificam o
número de intoxicações no Brasil por exposição a agrotóxicos, mais de 80 mil notificações”,
diz.
Os dados citados pelo pesquisador fazem parte última edição do Relatório Nacional de
Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos, publicado em 2018, que traz um
compilado de dados de 2007 a 2015. A publicação mostra que neste período foram notificados
84.206 casos de intoxicação no Brasil - em unidades de saúde pública e privada.
Embora A pulverização aérea de agrotóxicos é permitida no Brasil pelo Decreto-Lei nº
917, de 7 de outubro de 1969 (BRASIL, 1969), que dispõe sobre o emprego da aviação
agrícola no país, e pelo Decreto nº 86.765, de 22 de dezembro de 1981 (BRASIL, 1981), que
regulamenta o anterior.
Segundo o Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a
Agrotóxicos do ano de 2018 (Ministério da Saúde), em 2013, um avião pulverizador da
empresa Aerotex Aviação Agrícola despejou uma quantidade do inseticida Engeo Pleno, da
multinacional Syngenta, sobre uma escola rural do Assentamento Pontal do Buriti, do
município de Rio Verde, estado de Goiás, localizada a menos de 50 metros de uma plantação
de milho e soja. O fato causou a intoxicação aguda de 92 pessoas, sendo a maioria crianças e
adolescentes (casos estes notificados no Sinan), que relataram como sintomas náuseas,
vômitos, tonturas, cefaleias, convulsões e irritações na pele. Em 2006, derivas de
pulverizações aéreas de agrotóxicos ultrapassaram uma unidade produtiva rural e atingiram o
município de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, causando impactos sanitários, sociais e
ambientais (PIGNATI; MACHADO; CABRAL, 2007).

3. Conclusão:
A discussão em torno do uso de agrotóxicos e fertilizantes na agricultura como uma
questão de saúde pública ressalta a complexidade e a urgência desse debate na sociedade
contemporânea. A interação entre esses insumos agrícolas e seus impactos na saúde humana,
no meio ambiente e na segurança alimentar requer uma análise abrangente e responsável.
Os agrotóxicos, embora desempenhem um papel crucial no controle de pragas e no
aumento da produtividade agrícola, também apresentam riscos significativos para a saúde
humana e para os ecossistemas. A exposição a esses produtos químicos está associada a
problemas de saúde que vão desde distúrbios neurológicos até câncer, levantando
preocupações sobre a segurança dos trabalhadores rurais e dos consumidores finais.
Por sua vez, os fertilizantes desempenham um papel vital na suplementação de
nutrientes essenciais para o crescimento das plantas. No entanto, seu uso inadequado pode
resultar em impactos ambientais adversos, como a lixiviação de nutrientes para os corpos
d'água, levando à eutrofização e à contaminação da água potável. Além disso, a dependência
excessiva de fertilizantes pode comprometer a resiliência dos ecossistemas agrícolas.
As controvérsias em prol dos malefícios sobre o uso de agrotóxicos e fertilizantes na
agricultura reforçam a necessidade de uma abordagem equilibrada e sustentável. A
regulamentação rigorosa e a adoção de práticas de manejo responsável são fundamentais para
mitigar os riscos associados a esses insumos. A promoção de métodos alternativos, como o
manejo integrado de pragas, a agroecologia e a conservação do solo, pode reduzir a
dependência desses produtos químicos.
A conscientização pública desempenha um papel vital nesse contexto, uma vez que os
consumidores têm o poder de influenciar a demanda por práticas agrícolas mais sustentáveis e
seguras. Além disso, o investimento contínuo em pesquisa e inovação é crucial para
desenvolver soluções que equilibrem a produção agrícola com a saúde humana e a
preservação do meio ambiente.
Em síntese, a questão do uso de agrotóxicos e fertilizantes na agricultura transcende as
fronteiras da agronomia e da produção de alimentos. É uma questão intrinsecamente ligada à
saúde pública, à sustentabilidade e ao equilíbrio dos ecossistemas. A busca por soluções
eficazes requer a colaboração de produtores, cientistas, legisladores e consumidores, todos
comprometidos com a construção de um futuro onde a produção de alimentos coexista
harmoniosamente com a saúde humana e a integridade do planeta.
4. Referências:

DELLAMATRICE, Priscilla. Principais aspectos da poluição de rios brasileiros por


pesticidas. Scielo, 2014. Disponível em:
< http://dx.doi.org/10.1590/1807-1929/agriambi.v18n12p1296-1301>.
Acesso em: 20 de agosto de 2023.
DELLAMATRICE, P. Principais aspectos da poluição dos rios brasileiros por pesticidas.
Gestão e Controle Ambiental • Rev. bras. eng. agríc. ambient. Vol 18, nº12, 2014

ZUCHIERI, Amanda. OCDE e agricultura: meio ambiente e mudança climática. Biblioteca


digital, 2021. Disponível em:
< https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/31317>.
Acesso em: 20 de agosto de 2023.

VIVENZA, Stefano. Uso de Agrotóxicos na Agricultura: Uma questão de Saúde Pública.


Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia, 2022.
Disponível em:
< https://seer.ufu.br/index.php/revistafadir/article/download/62732/35259/303478>.
Acesso em: 20 de agosto de 2023.

SAÚDE. Ministério. Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a


Agrotóxicos. 1ª edição. Brasília-DF: 2018. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
relatorio_nacional_vigilancia_populacoes_expostas_agrotoxicos>.
Acesso em: 20 de agosto de 2023.

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