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XII Jornada de Iniciação Científica do PIBIC/INPNCNPq .09 a 11 de julho de 2003. Manaus-Am.

MACROFAUNA DO SOLO EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS E


FLORESTA NA AMAZÔNIA OCIDENTAL (RO).

Andréa Regina Leite do Nascimento (I), Eleusa Barros (2).

(I) Bolsista CNPqIINPA; (2) Pesquisadora INPA/CPCA.

Desde o final dos anos 70, a conversão da Floresta Amazônica em pastagens segue um
ritmo veloz, sustentado durante vários anos por uma legislação favorável Há necessidade de
se buscar sistemas alternativos de uso da terra, mais adequados às condi~ões edafo-climáticas
da Amazônia. Sistemas agroflorestais (Safs) preenchem este requisito, além de fixar o
produtor a terra e, assim, diminuir o ritmo de desmatamento. Mesmo sendo uma alternativa
promissora, os Safs são ainda pouco conhecidos. O sistema biológico de regulação do
ecossistema do solo, operado pelos macro-organismos (raízes vivas e macro invertebrados),
tem um papel chave na conservação da fertilidade do solo, afetando a estrutura e as
propriedades físicas do solo através da produção de bioporos como galerias, ninhos e
agregados (Lavelle et al., 1995; Chauvel et al., 1999). O objetivo deste estudo foi comparar a
densidade (ind.m') e biomassa (g.m- 2) da macrofauna do solo em Sistemas agroflorestais
(Safs) e florestas sobre Cambissolos álico como também estudar os grupos funcionais e a sua
distribuição vertical. O estudo foi realizado em áreas de pequenos produtores do Projeto
RECA. As parcelas têm aproximadamente 1 hectare e são compostas por três espécies básicas
de fruteiras perenes: o cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum), a pupunheira (Bactris
gasipaes) e a castanheira- do-Brasil iBertholletia excelsai. A macrofauna do solo foi estudada
durante a estação chuvosa, segundo o método de amostragem Tropical Soil Biology and
Fertility (TSBF, Anderson & Ingran, 1993). Foi realizado Teste-t para avaliar as diferenças
entre os tipos de sistemas. Foi encontrado um total de 10 grupos taxonômicos em floresta e
nove em sistemas agroflorestais. Os grupos mais comuns foram Isoptera, Hymenoptera e
Oligochaeta. A densidade dos macroinvertebrados foi maior na floresta (2055 ind.m") do que
no Saf (1516 ind.m"), porém a diferença não foi significativa (p>0,05). Lirberman e Dock
(1982) encontraram maiores densidades na floresta que em monoculturas. A densidade de
minhocas no Saf (197 ind.m") foi significativamente maior (p=O,O1) que na floresta (21
ind.m"). Juntos Isoptera e Hymenoptera representam cerca de 86% da densidade total da
macrofauna do solo na floresta. Bandeira e Harada (1998) obtiveram resultados semelhantes,
onde os grupos citados representam juntos 79% dos animais coletados. A biomassa da
macrofauna encontrada foi de 28,52 g.m" e 6,81 g.rn" no Saf e floresta respectivamente,
sendo essa diferença significativa (p=0,025). Barros et al (2003) encontrou maior biomassa
total em sistemas agrosilvopastoris (53,6g.m-2) que na capoeira (30,3g.m-2), na região de
Manaus. A biomassa de minhocas (Oligochaeta) foi maior no Saf (22,47 g.m-2)
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que na floresta (0,94 g.m"), sendo significativamente diferentes (p=0,04). No Saf,


Oligochaeta representou a maior parte da biomassa da macrofauna com 78,6% e na floresta
representou somente 13,8%. Isoptera apresentou maior biomassa na floresta (53,8%) que no
Saf (7,4%). Hymenoptera também apresentou maior biomassa na floresta (6,6%) que no Saf
(1 %). Bandeira e Torres (1985) encontraram maior biomassa de Hymenoptera em ambiente
de mata, representando 22% da macrofauna coletada. A macrofauna do solo foi também
identificada em grupos funcionais: Predadores (Aracnida e Chilopoda), Decompositores
(Diplopoda, Isopoda e Coleoptera), Herbívoros (Heteroptera, Homoptera e Orthoptera) e
Engenheiros do ecossistema (Hymenoptera, Isoptera e Oligochaeta). Na floresta 3% da fauna
é representada por predadores, 2% por decompositores e 87% por engenheiros do
ecossistema. No Saf esses valores são: 2% predadores, 2% decompositores, 1% herbívoros e
89% engenheiros do ecossistema. A análise da distribuição vertical indica que a macrofauna
da liteira na floresta (18%) é maior que no Saf (8%). Sendo que 89% e 71 % da macrofauna do
solo amostrada na floresta e no Saf, respectivamente, encontra-se nos estratos superficiais
(liteira + O-lOcm). Barros et al (2002) encontrou 29% da macrofauna na liteira e 54% na
camada O-lOcm, na floresta, em Rondônia. Os altos valores de biomassa de minhocas no Saf
podem ajudar a melhorar a ciclagem de nutrientes nesses sistemas. A introdução de minhocas
pelos produtores indica que um bom manejo do solo pode favorecer a sustentabilidade dos
sistemas agroflorestais.

Bibliografia:

ANDERSON, J.M. & INGRAM, J.S.l. 1993. Tropical Soil Biology and Fertility: a handbook
ofmethods,.Wallingford, UK, CAB International. 221 pp.
BANDEIRA, A. G. & TORRES, M. F. P. 1985. Abundância e distribuição de invertebrados
do solo em ecossistemas da Amazonia Oriental. O papel ecológico dos cupins. Boletim
Museu Paraense Emilio Goeldi, ser. Zoologia, Belém, 2(1): 13-38
BANDEIRA, A. G.; HARADA, A. Y. 1998. Densidade e Distribuição vertical de
macroinvertebrados em solos argilosos e arenosos na Amazônia Central. Acta
Amazônica, 28(2):191-204.
BARROS, E.; PASHANASI, B.; CONSTANTINO, R. & LAVELLE, P. 2002. Effects of
land-use system on soil macrofauna in western Brazilian Amazonia. Biol. Fertil. Soils,
35;338-347.
BARROS, E.; NEVES, A.; BLANCHART, E; FERNANDES, E.CM; WANDELLl, E;
LA VELLE, P. 2003. Development of the soil macrofauna community under
silvopastoral and agrosilvicultural systems in Amazonia. Pedobiologia, 47 (3); 267-274.
CHAUVEL, A.; GRIMALDI, M.; BARROS, E.; BLANCHART, E.; SARRAZIN, M. &
LA VELLE, P. 1999. An amazonian earthworm compacts more than a bulldozer.
Nature, 398: 32-33.
LAVELLE P, LATTAUD c, TRIGO, D. & BAROIS, l. 1995. Mutualism and biodiversity in
soils. Plant and Soil, 170: 23-33.

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