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n.

365 - fevereiro 2022


Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
Departamento de Informação Tecnológica
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Cultivo do trigo tropical ̶ safra 2022: aprendizados e recomendações para a região


Sul de Minas Gerais e Campo das Vertentes1

José Maria Villela Pádua2


Aurinelza Batista Teixeira Condé3
Fábio Aurélio Dias Martins4
José Airton Rodrigues Nunes5
Alice Agostinetto6

INTRODUÇÃO alguns aprendizados técnicos com fatos e dados


gerados pela equipe de pesquisa da Universidade
A safra tritícola brasileira de 2021 foi marcada
por um incremento na produção nacional de, apro- Federal de Lavras (Ufla) e EPAMIG, que podem con-
ximadamente, 25%, atingindo quase 7,9 milhões de tribuir para produtores que pretendem cultivar o trigo
toneladas (CONAB, 2021). Porém, a região tropical, na safra de outono/inverno de 2022.
considerada como potencial de expansão da produção
nacional, teve uma safra desafiadora (tanto em siste- ESCOLHA DE CULTIVARES
ma irrigado quanto em sequeiro7), com produtividade
Como qualquer outra cultura, a escolha da cul-
média baixa (menores de 15 sc/ha). Esse fato pode ser
tivar é o ponto mais importante para o cultivo do trigo.
explicado, principalmente, pelo atraso na semeadura
Cultivares têm grande importância para determinar
(empurrados pelo atraso na safra de verão), pelas con-
os potenciais de rentabilidade do produtor. Muitas
dições climáticas, com chuvas abaixo da média (escas-
características devem ser consideradas, portanto é
sez hídrica), e até mesmo geadas em momentos críti-
preciso que alguns aspectos sejam atendidos quanto
cos da cultura. Dessa forma, a tendência de uso dos
cereais de inverno no sistema de produção na região à escolha de cultivares para a região Sul de Minas
tem sido instável, sendo a relação de troca (custo x re- Gerais e Campo das Vertentes, tais como:
torno), com os incrementos nos custos dos insumos, a) existência de um potencial genético (genó-
um ponto de grande atenção para a safra de 2022. tipo) de produtividade para cada cultivar.
Portanto, compreendendo a importância da re- Porém esse potencial produtivo é uma ca-
gião Sul de Minas Gerais e Campo das Vertentes, racterística impactada pelas condições am-
esta Circular Técnica tem como finalidade apontar bientais;

1
Circular Técnica produzida pela EPAMIG Sul, (35) 3821-6244, epamigsul@epamig.br.
2
Eng. Agrônomo, D.Sc., Prof. Adj. UFLA - Depto. de Agricultura, Lavras, MG, jose.padua@ufla.br.
3
Eng. Agrônoma, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul, Lavras, MG, aurinelza@epamig.br.
4
Eng. Agrônomo, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul, Lavras, MG, fabio.aurelio@epamig.br.
5
Eng. Agrônomo, D.Sc., Prof. Associado UFLA - Depto. de Biologia, Lavras, MG, jarnunes@ufla.br.
6
Eng. Agrônoma, Mestranda UFLA, Lavras, MG, alice@biotrigo.com.br.
7
O trigo tem restrições de locais de cultivo na região tropical, um dos quesitos é "Altitude". Consultar o Zoneamento Agrí-
cola de Risco Climático (Zarc) (BRASIL, 2021) para esclarecer mais dúvidas.
Pádua, J.M.V. et al. 2

b) adaptabilidade, que nada mais é do que Acrescenta-se a isso os custos de produção,


a capacidade potencial de genótipos para que, para a safra 2021/2022 estão elevados, incre-
assimilarem vantajosamente o estímulo mentando neste período riscos aos produtores de
ambiental, ou seja, para as condições da trigo.
região de interesse tem que unir o potencial Dessa forma, é necessário atentar-se a pa-
desempenho do genótipo (cultivar) com o drões básicos da qualidade de sementes, que são
ambiente (região em questão) para que a fisiológicos, sanitários, físicos e genéticos. Nos dife-
resposta (fenótipo) seja a melhor possível; rentes locais de cultivo do trigo pode-se ver o uso
c) resistência e/ou tolerância aos patógenos, de sementes denominadas “salvas”, ou seja, aquelas
em especial à brusone deve ser tida como que o produtor guarda para utilizar como sementes
uma das prioridades para a escolha de cul- na próxima safra. Na maioria das vezes, nessa re-
tivares nessa região, isso porque o contro- gião, isso acontece por falta de um mercado bem es-
le de patógenos é oneroso e a brusone de tabelecido de comercialização de sementes. Essas
modo particular é de difícil controle e, como sementes “salvas” em geral não apresentam a qua-
qualquer outra doença, muito influenciada lidade ideal para garantir os padrões de estabeleci-
pelo clima. Em condições favoráveis, mento da cultura, e isso faz com que os produtores
doenças podem levar a reduções drásticas elevem a densidade de semeadura a patamares aci-
de produtividade (casos com > 70%) se as ma de 550 sementes/m2, o que pode trazer prejuí-
medidas de controle não forem atendidas; zos se combinados às condições do ambiente, como:
d) qualidade, que é o fator mais importante maior suscetibilidade a danos por doenças, estiola-
para escolher a cultivar adequada para a mento e maior probabilidade de tombamento, entre
região Sul de Minas Gerais e Campo das outros. Portanto, deve-se usar de preferência semen-
Vertentes. No caso do trigo alguns parâme- tes certificadas, oriundas de sementeiras conhecidas
tros envolvem a qualidade requerida pela e que atendam a padrões de qualidade.
indústria e pelos consumidores, sendo as-
sim cada cultivar tem um potencial genético
SEMEADURA
de produzir determinada classe e tipo de
farinha. Produzir trigo que não alcance os Época de semeadura
parâmetros qualitativos mínimos exigidos
São muitos os aspectos que interferem na cul-
pelos moinhos, restringe a comercialização
tura do trigo em condições tropicais, porém é neces-
do produto para finalidades com menor po-
sário enfatizar que nenhum outro fator tem sido mais
tencial de rentabilidade.
importante do que a época de semeadura. Isso por-
Hoje as principais cultivares utilizadas na re-
que a janela de semeadura do trigo na região é res-
gião Sul de Minas Gerais e Campo das Vertentes,
trita em função da possibilidade de problemas bióti-
bem-aceitas pelos moinhos, são a ‘BRS 264’ e a
cos (infecção por brusone), quando das semeaduras
‘TBIO Sintonia’. Entretanto, existem inúmeras outras
antecipadas, e problemas abióticos (déficit hídrico e
cultivares sendo testadas e desenvolvidas na região,
geadas), quando as semeaduras são tardias. Inúme-
as quais devem estar disponíveis aos produtores nas
ros trabalhos já foram e vêm sendo realizados com
próximas safras (MARTINS et al., 2021). As informa-
intuito de definir a melhor época de semeadura para
ções das cultivares recomendadas para cada região
podem ser consultadas na Reunião... (2020). Porém cada local, até mesmo a Portaria no 4, de 11/1/2021
é sempre importante consultar um especialista para (BRASIL, 2021), do Ministério da Agricultura, Pecuá-
mais informações e ajuda na escolha da cultivar ade- ria e Abastecimento (MAPA) que define o Zoneamen-
quada para cada local. to Agrícola de Risco Climático (Zarc), tem padrões
que minimizam os riscos aqui mencionados e que,
consequentemente, podem mudar o cenário de um
QUALIDADE DE SEMENTES
resultado catastrófico ao produtor.
São vários os aspectos que afetam a qualida- Além da época, dois outros aspectos impor-
de de uma semente, alguns começam antes da se- tantes devem ser considerados, ou seja, a forma de
meadura no campo de produção dessas sementes. semeadura e a população de plantas.

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Forma de semeadura so de semeadura, é muito difícil conseguir obter uma


profundidade menor do que essa. Porém, em condi-
Quanto à forma de semeadura, tem-se o siste-
ções específicas de restrição hídrica (anteriores à se-
ma com a semeadora (plantadeira) de grãos peque-
nos e o sistema a lanço. Em diferentes comparativos meadura e previsão futura) uma maior profundidade
foi demonstrado que a qualidade de semeadura é de semeadura (4 a 5 cm) pode ser uma estratégia
melhor utilizando o sistema com semeadora de grãos para ajudar no melhor estabelecimento da cultura.
pequenos, pois garante mais uniformidade de germi- Esse procedimento é utilizado em algumas situações
nação e emergência e, com isso, traz mais facilidade semelhantes em outros países.
(homogeneidade) no manejo da lavoura. Por fim, a semeadura após milho de verão tem
maiores porcentuais de falha, em função das carac-
terísticas da palhada, que é mais densa (volume e
População de plantas
relação carbono/nitrogênio (C/N)), sendo este fator
Outro ponto importante é a população almejada decisivo na conta da densidade de semeadura, exi-
de plantas. Muitas pesquisas têm sido realizadas gindo aumento na quantidade de sementes.
testando o potencial de perfilhamento de algumas
cultivares de trigo e, consequentemente, o poder de
ADUBAÇÃO
plasticidade que a planta apresenta. Porém, nas con-
dições tropicais do Sul de Minas Gerais e Campo das Adubação e nutrição mineral do trigo é um as-
Vertentes, o caminho tem sido o oposto. A densidade sunto muito pesquisado no mundo. Porém, quando
de semeadura adotada tem sido muitas vezes eleva- se volta à realidade da região Sul de Minas Gerais
da (>500 sementes/m2), independentemente da cul- e Campo das Vertentes, vê-se que existe uma diver-
tivar utilizada. Algumas razões para isso decorrem sidade de recomendações muito grande. Pode-se
do baixo potencial de perfilhamento que a principal observar nas tabelas de necessidades (extração e
cultivar utilizada (BRS 264) possui. Também por rea- exportação) de nutrientes de trigo que a demanda de
lizar semeaduras mais “tardias”, ocorridas em abril e macro e micronutrientes é bem estabelecida. Nesse
maio, as quais conferem menor taxa de germinação e caso, tabelas de adubação para o trigo tropical foram
emergência e, por fim, pelo uso de sementes “salvas”, desenvolvidas e podem ser facilmente consultadas
o que apresenta qualidade muito inferior, na maioria (REUNIÃO..., 2020).
dos casos. Para o correto posicionamento e recomen- Porém, chamam atenção alguns pontos rela-
dação da densidade de semeadura são necessários cionados principalmente com o nitrogênio (N). Den-
conhecer os parâmetros da semente, como peso de tre esses pontos deve-se destacar, principalmente, a
mil sementes (PMS), germinação e vigor, além da re- dose, a fonte, a forma e a época de aplicação. Par-
comendação adequada para cada cultivar pelo seu tindo da premissa que são necessários, em média,
obtentor, lote de sementes, entre outros. Em caso de 30 kg de N para produzir 1 t de grãos de trigo. Se
dúvidas deve-se consultar a assistência técnica. considerar a produtividade média de 2.000 kg/ha,
Pontos como a velocidade e profundidade de são necessários próximos a 60 kg de N/ha. Porém,
semeadura também devem ser objeto de atenção no nas condições tropicais tem-se escassez hídrica e,
cultivo do trigo tropical. dessa forma, os outros três pontos mencionados
(fonte, forma e época de aplicação) são fatores de-
Velocidade terminantes da eficiência no uso do fertilizante. Para
a fonte de N, as formas nitrato (NO3) e amônio (NH4)
As velocidades praticadas na maioria das vezes
devem ser preferidas por sofrerem menores perdas
são superiores a 7 km/h, sendo que velocidades pró-
se comparadas à ureia convencional no ambiente de
ximas a 5 km/h têm garantido melhor taxa de germi-
nação, emergência e redução do porcentual de falha, cultivo do trigo nessa região. A ureia protegida pode
garantindo melhor distribuição da população final. também ser considerada uma fonte eficiente, desde
que armazenada e utilizada de forma adequada. Em
relação à forma de aplicação, se houver a opção de
Profundidade de semeadura
“enterrar” o adubo, isso proporcionará menores per-
A profundidade de semeadura de trigo ideal das se comparadas à aplicação superficial. Por fim,
fica entre 2 e 3 cm. Até porque, pelo próprio proces- a época de aplicação do N tem sido realizada desde

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a pré-semeadura até a fase de perfilhamento do tri- além das lagartas que causam danos, tem sido ob-
go, sendo preferida essa última fase por proporcionar servada nas últimas safras uma grande incidência de
maior segurança de disponibilidade na fase de enchi- percevejos (principalmente barriga-verde – Dichelops
mento de grãos da cultura. Lembrando que as condi- furcatus) causando problemas durante a elongação/
ções climáticas são preponderantes para a tomada espigamento das plantas. Nesse caso, o uso de pro-
de decisão de uma ou outra estratégia no uso do N. dutos químicos para o controle (nível de ação > 2 per-
Além dos fertilizantes de liberação lenta (ureia cevejos/m2) deve ser utilizado.
protegida), alguns novos fertilizantes de liberação Outro inseto observado nas lavouras de plan-
controlada têm sido testados e potencialmente po- tio tardio foram os pulgões Metopolophium dirhodum
dem ser uma tecnologia que venha agregar no ma- (pulgão-da-folha), Sitobionavenae (pulgão-da-es-
nejo da adubação e rentabilidade dos produtores. É piga), Schizaphis graminum (pulgão-verde-dos-ce-
preciso estar atento para a utilização destes produ- reais), Rhopalosi phumpadi (pulgão-da-aveia), R.
tos, que têm custo elevado, cabendo aqui a correta rufiabdominale (pulgão-da-raíz) e R. maidis (pulgão-
orientação técnica. -do-milho), estes podem causar danos diretos e indi-
A decisão da quantidade de nutrientes em fun- retos. Sendo danos diretos, o enfraquecimento das
ção da produtividade esperada deve sempre consi-
plantas pela sucção de seiva e a morte de tecido fo-
derar o histórico do produtor, previsões climáticas
liar pela injeção de toxinas salivares; e os indiretos
esperadas para o ciclo da cultura e dados históricos
pela transmissão de viroses, como o vírus-do-nanis-
da região em questão. Muitas vezes o trigo é utiliza-
mo-amarelo-da-cevada (VNAC), o qual ainda não foi
do para fazer “caixa” de alguns nutrientes, como o
observado em taxas significativas na região. Como
fósforo (P), no sistema de produção. Outro ponto de
medida de controle adota-se o controle biológico com
atenção é que o trigo não tolera acidez elevada (bai-
introdução na área de parasitoides e predadores,
xo pH) do solo. Com isso, a escolha de áreas para o
como micro-himenópteros e joaninhas; e o controle
cultivo do trigo tem de apresentar, tanto na camada
químico (nível de ação > 10 ou 5 de infestação das
superficial do solo quanto na subsuperfície, teores de
planta, dependendo do estádio de desenvolvimento),
pH e saturação de bases adequadas.
utilizando produtos registrados no MAPA.
Por fim, é necessário salientar que o trata-
MANEJO DE DOENÇAS E PRAGAS mento de sementes com produtos para controle de
Um dos fatores restritivos à expansão do cultivo insetos-praga do sistema, como lagartas, corós, en-
do trigo nas condições tropicais são as doenças. Den- tre outros, bem como para doenças, é uma medida
tre estas a brusone tem destaque por ser a principal eficiente, com baixos custos e sustentável, que deve
doença da espiga nessa região, com várias espécies e ser adotada.
inúmeros hospedeiros, características que tornam difí-
cil o controle. Entre as medidas de manejo podem-se USO DE HERBICIDAS
listar o uso de cultivares com maior nível de resistência
ou tolerância, a semeadura em épocas recomendadas O trigo apresenta-se como uma excelente op-
pelo zoneamento agrícola, o tratamento químico de ção num sistema de rotação de culturas, sendo um
sementes, o tratamento com fungicidas na parte aé- aliado na melhoria do controle de plantas invasoras.
rea e a eliminação de hospedeiros alternativos (espé- Porém, para usufruir desse benefício, é necessário
cies da família Poaceae). Mais informações sobre os estar atento para alguns pontos. O primeiro destes é
fungicidas podem ser encontradas em documentos a lista de herbicidas disponíveis em pré e pós-emer-
publicados pela Embrapa Trigo (2022). Atenção espe- gência da cultura do trigo (REUNIÃO..., 2020). Entre
cial deve ser dispensada às condições ambientais, ou os herbicidas chamam atenção os produtos do gru-
seja, temperatura e umidade relativa (UR) do ar que po químico das sulfonilureias, no qual se enquadra o
favorecem o desenvolvimento do patógeno para au- metsulfurom metílico. Esses produtos são eficientes
xiliar na tomada de decisão do momento de entrada no controle de plantas invasoras de folhas largas em
com fungicidas na lavoura, informações disponíveis na pós-emergência (até 2-6 folhas, dependendo da es-
plataforma Sisalert (2011). pécie) e também em pré-emergência. Este controle
Com relação às pragas no cultivo de trigo na de pré-emergência é justamente a preocupação que
região Sul de Minas Gerais e Campo das Vertentes, se tem com o produto. Nas doses recomendadas na

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bula, esse produto leva de 60-90 dias para se de- na oscilação térmica do solo possibilitando
gradar no solo, e, em muitos casos, são observados melhor desenvolvimento biológico do solo
efeitos nas culturas de verão (milho e soja) mesmo (há relatos de diferenças de até 10 °C quan-
após 180 dias dessa aplicação. Com isso, esse pro- do comparados ao solo com e sem cobertura
duto, mesmo com uma alta eficiência, em algumas morta), preservação da umidade (de acordo
oportunidades tem sido evitado. Sendo necessário com Andrade (2008), na presença da palha-
atentar para a seguinte observação: não exceder a da da aveia há redução de 40% na perda de
dose máxima e respeitar o período mínimo entre a água), barreira física que amortiza o impac-
semeadura da próxima cultura. Existem alternativas to da gota de chuva proporcionando maior
para o produto, sendo uma destas o ácido 2,4-diclo- infiltração de água no solo, maior quantida-
rofenoxiacético (2,4-D) que tem restrições de aplica- de de cobertura proporcionada pelo cultivo
ção tardias, ou seja, após o estádio de perfilhamento de trigo em comparação ao cultivo de milho
da cultura, além de tratar-se de um produto muito (FRANCHINI et al., 2011) permitindo, con-
volátil, que pode atingir por meio de deriva lavouras forme Costa et al. (2014), o acréscimo de
vizinhas com cultivos suscetíveis, exigindo portanto até 22 sacos na soja (cultura principal) em
atenção especial. função do aumento de palha no sistema;
d) proporciona aumento da matéria orgânica
(MO) do solo: 1% a mais de MO no solo
ROTAÇÃO DE CULTURAS E O SISTEMA DE
PRODUÇÃO representa aumento de 12 sc/ha na soja de
verão (DEBIASI et al., 2015);
Nas últimas décadas os cereais de inverno, e) melhora na estrutura do solo por meio do
como por exemplo o trigo, passaram a ser uma al- sistema de Plantio Direto (PD): presença de
ternativa adotada pelos agricultores da região Sul de palha associada à raiz da cultura anteces-
Minas Gerais e Campo das Vertentes. Além da ne- sora (inverno) possibilita ganho significativo
cessidade de incremento de produção na busca da de produtividade na cultura de verão (BAL-
autossuficiência, sabe-se ainda que a cultura do trigo BINOT JUNIOR et al., 2017), pois propicia
vem-se consolidando como excelente opção na com- melhora da estrutura, ajuda na infiltração
posição dos sistemas de produção agrícolas susten- para camadas subsuperficiais e proporcio-
táveis, sendo essa cultura, uma alternativa para su- na ciclagem de nutrientes;
cessão e rotação em sistemas de produção de grãos, f) maior diversidade biológica do solo, pois
hortaliças, entre outros. Nesses sistemas, existem cada planta apresenta sua microbiota pró-
inúmeros benefícios, com a adoção do trigo, que fa- pria que cria ambiente propício para a ati-
zem com que a rentabilidade do produtor rural seja vidade biológica benéfica para o sistema
maior, principalmente pensando na sustentabilidade solo-planta;
do negócio a médio e longo prazo. Como principais g) melhor estabelecimento da cultura de ve-
benefícios têm-se: rão, principalmente em períodos adversos
a) supressão de alguns patógenos, como (seca e calor), auxilia na melhor germina-
manchas foliares e podridões radiculares ção (auxilia na expressão do vigor das se-
(rhizoctonia) e nematoides que causam da- mentes) e estabelecimento inicial da cultura
nos não somente no trigo, mas também nas que estão diretamente ligados à produção
culturas subsequentes, como milho, soja e final;
feijão; h) aumento da produtividade na cultura de
b) supressão de plantas invasoras, sendo verão: há relatos de que a soja produz,
esse o aspecto de mais fácil visualização aproximadamente, 20 sc a mais quando na
e de maior eficácia no sistema por meio da cultura de outono/inverno tem-se trigo ao
cobertura vegetal (atenção especial ao con- invés de milho (BALBINOT JÚNIOR et al.,
trole de invasoras de difícil manejo, como o 2020), porém é válido salientar que além
capim-amargoso, etc.); da sucessão é preciso pensar em rotação
c) melhor cobertura vegetal morta (palhada), o e diversificação das culturas e também das
que proporciona redução na temperatura e cultivares.

EPAMIG. Circular Técnica, n.365, fev. 2022


Pádua, J.M.V. et al. 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS de sequeiro no Estado de Minas Gerais, ano-safra


2020/2021. Diário Oficial da União: seção 1, Bra-
No passado existia a crença de que o solo,
sília, DF, 14 jan. 2021. Disponível em: https://www.
para ser produtivo, deveria descansar. O avanço das
gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/riscos-seguro/
pesquisas permite entender que hoje a realidade é
programa-nacional-de-zoneamento-agricola-derisco-
completamente oposta, sendo que o sistema de pro-
climatico/portarias/safra-vigente/minas-gerais/word/
dução visa maximizar o cultivo do solo. Com isso, o
PORTN04TRIGODESEQUEIROMG.ret.pdf. Acesso
trigo é uma excelente escolha para compor o siste-
ma, pois traz sustentabilidade ao sistema de produ- em: 31 jan. 2022.
ção. Porém, no agronegócio brasileiro atual não exis- CONAB. Safra brasileira de grãos. Brasília, DF:
te espaço para “aventureiros” que querem arriscar no CONAB, 2021. Disponível em: https://www.conab.
trigo. É preciso ser muito eficiente nas decisões, ma- gov.br/info-agro/safras/graos. Acesso em: 31 jan.
nejo e execução das operações, que são os aspectos 2022.
controláveis dentro da agricultura. Pois sabe-se que DEBIASI, H. et al. Diversificação de espécies vege-
para o trigo tropical, especialmente de sequeiro, os tais como fundamento para a sustentabilidade da
desafios de produção são muitos, mas seguindo as cultura da soja. Londrina: Embrapa Soja, 2015. 60p.
estratégias adequadas de manejo, a perspectiva de (Embrapa Soja. Documentos, 366).
sucesso é certa.
EMBRAPA TRIGO (coord.). Redes de ensaios co-
operativos - trigo: fungicidas usados no manejo de
AGRADECIMENTO doenças. Passo Fundo: Embrapa Trigo, [2022]. Dis-
Aos parceiros Biotrigo, ICL (antiga Compass), ponível em: http://www.ensaioscooperativos.net/.
Biotrop e Biomip pela contribuição para que experi- Acesso em: 2 fev. 2022.
mentos e materiais como esse pudessem ser produ- FRANCHINI, J.C. et al. Importância da rotação
zidos. de culturas para a produção agrícola sustentá-
A elaboração desse material contou com a co- vel no Paraná. Londrina: Embrapa Soja, 2011. 50p.
laboração do Grupo de Extensão em Trigo e Cereais (Embrapa Soja. Documentos, 327)
de Inverno da Ufla – ProTrigo.
MARTINS, F.A.D. et al. Performance de cultivares
de trigo em diferentes condições edafoclimáti-
REFERÊNCIAS cas do Sul de Minas - safra 2020. Belo Horizonte:
EPAMIG, 2021. 6p. (EPAMIG. Circular Técnica, 350).
ANDRADE, J.G. Perdas de água por evaporação
Disponível em: http://www.epamig.br/download/circular-
de um solo cultivado com milho nos sistemas de
tecnica-350/. Acesso em: 31 jan. 2022.
plantio direto e convencional. 2008. 93f. Disserta-
ção (Mestrado em Ciência do Solo) – Universidade REUNIÃO DA COMISSÃO BRASILEIRA DE PES-
Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2008. QUISA DE TRIGO E TRITICALE, 13., 2020, Passo
Fundo. Informações técnicas para trigo e tritica-
BALBINOT JUNIOR, A.A. et al. Performance of soybe-
an grown in succession to black oat and wheat. Pes- le: safra 2020. Passo Fundo: Biotrigo Genética, 2020.
quisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v.55, 255p. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-
e01654, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ de-publicacoes/-/publicacao/1123960/informacoes-
pab/a/k6Ss4wztDFjJvGvgXJv5KZg/?format=pdf&lang= tecnicas-para-trigo-e-triticale-safra-2020. Acesso em:
en. Acesso em: 17 fev. 2022. 2 fev. 2022.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas- SISALERT. Trigo: monitoramento. [S.l.]: Grupo de
tecimento. Secretaria de Política Agrícola. Portaria no Pesquisa Mosaico, 2011. Disponível em: http://dev.
4, de 11 de janeiro de 2021. Aprova o Zoneamento sisalert.com.br/monitoramento/. Acesso em: 2 fev.
Agrícola de Risco Climático para a cultura de trigo 2022.

Disponível em: http://www.epamig.br, em Publicações/Publicações disponíveis.


Departamento de Informação Tecnológica
EPAMIG. Circular Técnica, n.365, fev. 2022

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