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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE GRÃOS

A produção brasileira de grãos, em 2015, atingiu 209,5 milhões de


toneladas, superando em 7,7% a produção de 2014. Os grãos ocupam a
base da alimentação em todas as regiões do Brasil, em que se destacam o
milho, a soja e o arroz (CONAB, 2015). Os produtos de origem vegetal,
como os grãos, são higroscópicos, ou seja, possuem a capacidade de trocar
massa de água na forma de vapor do ar ambiente, até que seja atingida a
condição de equilibrio.
O sentido e intensidade do fluxo de vapor de água entre a massa de
grãos e o ar intergranular dependerá da diferença de pressão de vapor na
superfície do produto e do ar. Caso a pressão de vapor do ar seja menor ou
maior ocorre, respectivamente, secagem (dessorção) ou umedecimento
(adsorção) e caso as pressões sejam iguais têm-se o equilíbrio higroscópico
(CORRÊA et al, 2005; SILVA et al, 2015). Durante o periodo de
armazenagem dos grãos, em que os produtos devem apresentar o teor de
água ideal e uniforme, é essencial o controle das condições do ar presente
no espaço intergranular. As condições psicrométricas do ar intergranular
podem ser alteradas em razão de processos, como:
(i) aumento da taxa de respiração dos grão,
(ii) presença de fungos e ou insetos,
(iii) migração de umidade,
(iv) desuniformidade do teor de água do produto.
Todos essas ocorrências podem levar a perda de matéria e o
estabelecimento de condições ideais à proliferação de pragas, como insetos
e fungos que podem metabolizar micotoxinas (OLIVEIRA;
KHATCHATOURIAN; BIHAIN, 2007). Para minimizar os efeitos das
ocorrências supracitadas é empregada a operação de aeração do produto
armazenado que pode estar acondicionado em silos ou graneleiros. A
operação de aeração consiste na passagem de um fluxo de ar ambiente
com os objetivos de renovar a massa de ar intergranular e uniformizar a

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temperatura e o teor de água da massa de grãos.


Os grãos armazenados dependem de fatores físicos, químicos e
biológicos que inter-relacionados condicionarão sua qualidade. A variedade,
o período, época e método de colheita, impurezas, método de secagem e
condições de armazenamento definirão a qualidade final do produto. A
variedade influencia na qualidade final pela sua composição química e pela
resistência à danificação mecânica e ao ataque de insetos. O período e
época de colheita são importantes, uma vez que grãos expostos a
condições adversas de clima, após sua maturação, estão sujeitos a uma
maior incidência de fungos.
Assim, a incidência de pragas aumenta com o tempo de permanência
do produto no campo, e o teor de umidade dos grãos na colheita relaciona-
se com a danificação mecânica. As impurezas do produto, fragmentos do
próprio grão e materiais estranhos, como restos culturais e insetos serão
sempre foco de infestação e desenvolvimento de microorganismos que
aceleram a deterioração do produto, além de dificultarem a secagem,
tornando-a desuniforme.
As temperaturas de secagem podem ter efeitos significativos na
qualidade dos grãos. Grãos de milho que atingem altas temperaturas
durante a secagem apresentam rachaduras, quebras, descoloração, além
de oferecerem dificuldades no processamento, baixa taxa de extração de
amido, de óleo e baixa qualidade de proteínas. As condições de
armazenamento definirão a paralisação continuação ou retardamento da
deterioração iniciada em qualquer das fases de processamento do grão,
devido a qualquer dos agentes descritos. As principais causas de perdas
qualitativas e quantitativas durante a armazenagem são fungos, insetos,
roedores e ácaros.

A conservação correta dos grãos e sementes é muito importante sob


o ponto de vista econômico e social. Conforme, Aguiar (1982) salienta que
a qualidade da semente não é melhorada sob condições ótimas de
armazenamento. As técnicas modernas de conservação permitem apenas

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prolongar a vida útil da semente durante o armazenamento; todavia, o


processo de deterioração será mais acelerado quando a semente
armazenada apresentar qualidade inicial baixa, explicado pelo fato das
sementes pertencerem à categoria de produtos deterioráveis, mas não
perecíveis.
Outro fator que governa a qualidade da semente armazenada é o seu
teor de umidade que, segundo Almeida et al. (1997) dado à sua
importância o mesmo deve ser acompanhado da colheita até a última etapa
da armazenagem. Os teores de umidade indicados para se reduzir ao
mínimo as perdas de matéria seca na colheita mecânica da soja e do milho
são, respectivamente, 18% b.u. e 26% b.u.; para o armazenamento, a
umidade deve ser de 11 a 13% b.u., ou menos, principalmente quando se
trata de oleaginosa (Delouche&Potts 1974; Puzzi,1986).
Assim, as condições climáticas sob as quais a semente vai
permanecer armazenada é fator decisivo na escolha do tipo de embalagem
(Carvalho &Nakagawa, 1988) que, quanto ao grau de permeabilidade,
podem ser: permeáveis, semi-permeáveis e impermeáveis. Desta forma, o
principal objetivo da armazenagem de grãos é manter a qualidade do
produto que veio do campo. As boas práticas agrícolas são preceitos
básicos para se iniciar um armazenamento de grãos com qualidade. Nos
países desenvolvidos, os problemas da colheita, armazenamento e
manuseio (secagem, limpeza, movimentação, etc.) de grãos, constituem
objeto de estudo permanente. Uma prioridade nos países desenvolvidos ou
em desenvolvimento deve ser a redução do desperdício por falta de silos
adequados, limpeza das instalações mal feita, secagem dos grãos mal
realizada, transporte inadequados e diversos outros fatores ligados à
armazenagem.
A recomendação da FAO é para que a capacidade estática de
armazenagem de um país seja igual a 1,2 vezes sua produção agrícola
anual. Seguindo essa linha de raciocínio, atualmente o déficit no Brasil
seria de cerca de 70 milhões de toneladas. Outro fator importante a relatar

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é que existe uma porcentagem da capacidade estática brasileira que não


atende os preceitos mínimos para uma boa armazenagem, fazendo com
que esse déficit seja ainda maior. As deficiências quantitativas e
qualitativas verificadas na armazenagem, nas propriedades rurais, e a
concentração da estrutura existente em locais afastados das principais
zonas produtoras (Figura 1), são pontos de estrangulamento na cadeia
agroindustrial dos grãos.

Figura 1 – Evolução da Produção de Grãos e da Capacidade Estática de


Armazenamento, Brasil, 2000-2011. Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados da
CONAB.

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Fonte: DOI: http://dx.doi.org/10.15536/thema.14.2017.55-64.452

Em 2000, foi aprovada uma lei que levou o número 9.973, que trata
da armazenagem no Brasil, e é considerado um avanço enorme para o
setor. Essa lei disciplina a atividade exigindo recursos tecnológicos como
termometria, aeração e outras providências, com o objetivo de eliminar
perdas e garantir a qualidade dos grãos armazenados. Assim sendo, para
prestar serviços renumerados de armazenagem de produtos a terceiros e
conseguir realizar financiamentos públicos, todas as Unidades
Armazenadoras de grãos, amparadas pela Lei nº 9.973 de maio de 2000,
devem estar certificadas conforme os prazos estabelecidos pela Instrução
Normativa Nº 24, de 9 de julho de 2013.
Assim, a certificação busca trazer mais qualidade para o setor de
armazenagem de grãos brasileiro. Uma alternativa temporária para esta
situação é a utilização dos silos bolsa, entretanto, essa tecnologia necessita
de uma secagem prévia dos grãos, a menos que os mesmos já estejam
secos. Os silos bolsa são baratos e atendem à demanda de armazenamento

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e logística emergenciais. Outros pontos que devem ser observados durante


essa armazenagem em silos bolsas são os ataques de animais (roedores e
pássaros) que podem furar a bolsa e afetar a qualidade desses grãos.

Nos últimos anos, as principais companhias brasileiras que fabricam


equipamentos para armazenagem vêem diversificando seus portfólios e
ofertando equipamentos para atender diferentes tamanhos de estruturas.
Isto vem ao encontro com o processo de segregação, onde a construção de
silos com menor capacidade e no esquema modular, passa a ser uma
alternativa de estrutura para proceder à segregação dos grãos,
aumentando em função da capacidade da empresa. As deficiências
quantitativas e qualitativas verificadas na armazenagem, nas propriedades
rurais, e a concentração da estrutura existente em locais afastados das
principais zonas produtoras (Figura 2), são pontos de estrangulamento na
cadeia agroindustrial dos grãos.

Fig. 2 - silo bolsa

Fonte: https://sfagro.uol.com.br/silos-qual-e-o-melhor-investimento-para-armazenar-graos-
na-fazenda/

Em um mercado globalizado e altamente competitivo, estratégia para


a diferenciação de produtos tem sido cada vez mais priorizada, visando
agregar valor, reduzir as perdas ao longo da cadeia produtiva e manter ou
ampliar a participação no mercado. O setor de grãos, tradicionalmente
caracterizado por commodities está cada vez mais orientado para a
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diferenciação de produtos e para a segmentação de mercado, com o


objetivo de preservar suas características e assegurar a homogeneidade

BENEFICIAMENTO

A operação de eliminação de materiais estranhos como palhas,


restolhos, sementes de outros vegetais, insetos, terra e pó de modo geral,
além de grãos quebrados ou estragados, é de grande importância antes da
secagem e/ou armazenamento. A limpeza promove a redução da
quantidade de umidade a ser removida, minimiza a contaminação por
material estranho e fornece um produto mais uniforme para a passagem do
ar de secagem e/ou aeração. Materiais estranhos finos e leves acumulam-
se sob o cano de descarga do elevador de carga em silos inibindo o fluxo
natural de ar ou obstruindo o fluxo de ar da aeração forçada.

SECAGEM E AERAÇÃO DE GRÃOS

As operações de secagem e aeração de grãos em unidades


armazenadoras são de extrema importância no "preparo" e na manutenção
da qualidade do produto durante a armazenagem. A secagem é uma
operação crítica que requer um cuidado especial para que se evite a
secagem excessiva, desuniforme ou incompleta. Além disso, danos físicos
(quebras e trincas) e fisiológicos (morte da semente) ocorrem em função
da temperatura excessiva e dos estresses térmicos e hídricos; gastos
excessivos de combustíveis; problemas com o meio ambiente; incêndios;
cheiro de fumaça no produto; além de outros.
A umidade de sementes logo após a colheita normalmente é elevada.
A manutenção por um período mais elevado desta umidade contribui para
acelerar o processo de deterioração das sementes em função das
atividades metabólicas, do consumo de reservas, liberação de energia e,
por conseguinte, diminuição da sanidade das mesmas.
Pode-se considerar que, desde o momento em que atinge a
maturidade fisiológica (máximo de qualidade), a semente está sendo
armazenada no campo, sujeita a condições potencialmente adversas de

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temperatura, umidade e ataque de pássaros, insetos e microrganismos que


podem provocar perdas qualitativas e quantitativas que alcançam, muitas
vezes, níveis bastante elevados. Assim, quando atingir de 11 a 13% de
umidade, a semente pode estar em avançado estado de deterioração,
ficando inutilizada para fins de semeadura.
A semente pode, também, atingir teores de água muito baixos (8-
10%), de modo que a danificação mecânica ocasionada pela colheita e
transporte se torne comprometedora. Por outro lado, a semente poderá
hidratar-se novamente devido à chuva, ao orvalho e às flutuações de UR,
sendo necessária uma espera para a colheita, o que, dependendo do
período de tempo, pode ser altamente prejudicial.
Por ocasião da colheita, a semente deve apresentar teor de água
compatível, variável de espécie para espécie e entre cultivares da mesma
espécie, que permita a colheita mecânica com danos mecânicos
restringidos ao mínimo. Algumas vantagens de se colher as sementes com
umidade alta e se proceder à secagem são:
a) possibilidade de planejar a colheita;
b) possibilidade de colher mais horas por dia e mais dias por safra;
c) menor perda de sementes por deiscência/degrane natural. Enfatiza-se
que, para muitas espécies recalcitrantes, as sementes não podem ser
secadas a baixos teores de água.
PRINCÍPIOS DA SECAGEM
O vapor d’água presente na semente tende a ocupar todos os
espaços intercelulares disponíveis, gerando pressões em todas as direções,
inclusive na interface entre a semente e o ar, denominada pressão parcial
de vapor d’água na superfície da semente. Assim, durante a secagem, a
retirada da umidade é obtida pela movimentação da água, decorrente de
uma diferença de pressão de vapor d’água entre a superfície do produto a
ser secado e o ar que envolve. A condição para que um produto seja
submedito ao processo de secagem é que a pressão de vapor sobre a

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superfície do produto (pg) seja maior que a pressão do vapor d’água no ar


de secagem (par). As podemos ter as seguintes observações.

Se pg › par ; ocorrerá secagem do produto

Se pg ˂ par ; ocorrerá umedecimento do produto

Se pg = par ; ocorrerá o equilíbrio higroscópico

Assim, o processo de secagem envolve a retirada parcial de água da


semente através da transferência simultânea de calor do ar para a semente
e de água, por meio de fluxo de vapor, da semente para o ar. A secagem
de sementes, mediante fornecimento forçado de ar aquecido, compreende,
essencialmente, dois processos simultâneos:
a) transferência (evaporação) da água superficial da semente para o ar
circundante, que ocorre motivado pelo gradiente de pressão parcial de
vapor entre a superfície da semente e o ar de secagem;
b) movimento de água do interior para a superfície da semente, em virtude
de gradiente hídrico e térmico entre essas duas regiões.
Uma teoria bastante aceita para explicar o transporte de água do
interior para a superfície da semente durante a secagem, é um
derramamento hidrodinâmico sob a ação da pressão total interna e/ou um
processo de difusão resultante de gradientes internos de temperatura e
teor de água. A forma mais utilizada para aumentar o diferencial entre as
pressões de vapor da superfície da semente e do ar de secagem é o
aquecimento desse último, diminuindo, em consequência, a sua umidade
relativa que, dessa forma, adquire maior capacidade de retirada de água.
Em termos práticos, a umidade relativa tem sido utilizada como
referência para inferir se a semente irá perder (secagem), ganhar
(umedecimento) ou manter sua umidade (equilíbrio higroscópico), sob
determinada condição atmosférica. Verifica-se que, à medida que se
aumenta a temperatura do ar, a sua umidade relativa diminui, elevando a
sua capacidade de retenção de água.

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MÉTODOS DE SECAGEM

Figura 1 - Esquema de métodos de secagem de sementes e grãos.

A secagem natural utiliza as energias solar e eólica para remover a


umidade da semente. É realizada na própria planta, no período
compreendido entre a maturidade fisiológica e a colheita, ou empregando
recursos complementares, como eiras, tabuleiros ou lonas, onde as
sementes são esparramadas. É um método de secagem utilizado para
pequenas quantidades de sementes, como é o caso de programas de
melhoramento, algumas sementes de hortaliças e por pequenos
produtores.
Na eira, as sementes são distribuídas formando uma camada, a qual
é posteriormente ondulada para aumentar a superfície de secagem e,
assim, possibilitar a passagem do ar por um maior número de sementes.
Cuidados especiais devem ser tomados para que a semente não sofra
aquecimento excessivo e a secagem seja a mais uniforme possível. Para
tanto, é recomendável o emprego de camadas não muito delgadas, o
revolvimento frequente, para que todas as sementes, bem como suas
faces, sejam expostas ao ar, e o encobrimento das sementes no período

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noturno.
No caso de sementes que são lavadas, essa movimentação é
essencial, caso contrário poderá haver um gradiente muito grande de
umidade na semente que pode ocasionar rupturas internas. No caso de
utilização de lonas plásticas, cuidados devem ser tomados com a umidade
proveniente do solo, apesar de constituir-se em meio bastante prático para
a movimentação da semente, inclusive o seu ensaque.
A secagem natural é, em geral, demorada, e uma maneira de
acelerar o processo é através do uso de telas de plástico ou arame
entrelaçado, formando-se uma peneira. As sementes são esparramadas em
forma ondulada sobre a peneira, a qual é posteriormente erguida a uma
altura de 0,5 a 1,0m do solo, possibilitando que o ar passe por cima e por
baixo das sementes, abreviando consideravelmente o tempo de secagem.
A secagem natural, apesar de não estar sujeita a riscos de
danificação mecânica e temperaturas excessivamente altas, é dependente
das condições psicrométricas do ar ambiente que, muitas vezes, não são
adequadas para a secagem das sementes. Devido aos riscos provenientes
da demora de secagem motivada por altas umidade relativa - URs, a
secagem natural, em muitas regiões, é pouco utilizada. Por outro lado, nas
regiões ou épocas onde a UR reinante no período da colheita é baixa e a
possibilidade de ocorrência de chuvas bastante reduzida, a secagem natural
é largamente utilizada.

SECAGEM ARTIFICIAL
Os métodos de secagem artificial são obtidos pela exposição da
massa de sementes a um fluxo de ar aquecido (ou não), sendo
caracterizados, conforme o fluxo no secador, em estacionário, de fluxo
contínuo e de fluxo intermitente.
SECAGEM ESTACIONÁRIA
Caracteriza-se pela passagem forçada do ar em fluxo axial ou radial
através da camada de sementes que permanecem paradas no
compartimento de secagem. O ar utilizado pode ser aquecido

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(desumidificado) ou não. Consiste em submeter uma massa de sementes


estática à passagem de um fluxo de ar forçado, constantemente até o final
do processo. O fluxo de ar tem as funções de criar as condições para haver
a evaporação da água contida nas sementes, pelo transporte do calor (ou
UR) conduzido até as sementes e, também, pelo transporte da umidade
removida das sementes para fora do secador.
Então, o fluxo de ar, ao transportar calor (ou UR) e água que migrou
do interior para a superfície das sementes, permite que mais água continue
evaporando. A secagem estacionária ou de leito fixo pode ser realizada em
silos com fundo de chapa perfurada (plenum) por onde insufla-se ar, sendo
o único sistema em que o ar pode ser aquecido ou não. Outra disposição é
insuflar o ar através de um duto central, e o ar de secagem atravessar a
massa radialmente.

Secador estacionário fundo plano

A secagem estacionária é caracterizada por ocorrer em camadas


sucessivas, chamada de frente de secagem, pois as sementes que se
encontram próximas à saída do ar são as primeiras a secar. Quando a

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primeira camada atinge o equilíbrio higroscópico com o ar de secagem, a


segunda camada começa a secar. Enquanto isso, a terceira camada
permanece úmida por estar adiante da frente de secagem, podendo haver
risco de aumentar seu teor de água, devido à condensação do ar úmido
trazido das camadas inferiores ou interiores.
No caso de secadores de distribuição radial, a frente de secagem
começa próxima ao duto de distribuição central de ar.
O gradiente do teor de água entre camadas de sementes, com diferentes
distâncias do ponto de entrada do ar no secador, depende da temperatura,
da umidade relativa, do fluxo do ar, do teor de água, da espessura da
camada de sementes e da transferência de água das sementes para o ar de
secagem. Este processo só se estabiliza quando há equilíbrio higroscópico
entre o ar e as sementes.

Figura 3 - Exemplo de secador estacionário radial

Assim, a secagem estacionária requer precauções especiais para o


seu adequado desempenho, sendo as mais importantes:
a) Fluxo de ar - O ar forma condições para que ocorra retirada de água da
semente por evaporação, através de transporte de calor desde a fonte até
o local de secagem das sementes ou câmara de secagem, além de
transportar a umidade retirada da semente para fora do sistema de
secagem, permitindo que continue a evaporação da umidade que migrou

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do interior para a superfície da semente. A secagem estacionária despende


um longo período de tempo, o suficiente para o ar entrar em contato com
as sementes, e não pode se utilizar grandes temperaturas devido à
isotérmica entre o ar e as sementes.
b) Umidade relativa do ar (UR) – A semente, como todo material
higroscópico, perde ou ganha umidade em função da UR. Para cada UR, a
uma determinada temperatura, a semente atinge um teor de água em
equilíbrio. Assim, a UR do ar de secagem inferior a 40%, pode haver sobre
secagem devido ao equilíbrio higroscópico entre a semente e o ar de
secagem, em que as sementes atingiriam uma umidade inferior a 10%,
tornando-se altamente susceptíveis ao dano mecânico.
c) Temperatura do ar de secagem - Em razão das sementes
permanecerem em contato com o ar aquecido por longo período de tempo,
deve-se tomar precauções quanto à temperatura do ar, pois as sementes
tendem a atingir a mesma temperatura do ar de secagem.

SECAGEM DE FLUXO CONTÍNUO

A secagem contínua, como o próprio nome sugere, é quando o


produto possui uma entrada contínua no secador, no entanto seu contato
com o fluxo de ar pode ser constante ou não. O ar poderá ser uma mistura
de ar ambiente e aquecido, dependendo das condições psicrométricas do ar
ambiente. Os secadores contínuos, geralmente, são com fluxos de ar
mistos, podendo estes possuir ou não reaproveitamento de ar. Este
reaproveitamento recircula o ar proveniente da câmara de secagem onde
as sementes estão mais secas. Esse ar, portanto, possui pouca alteração de
sua razão de mistura e, consequentemente, ainda está com muita
capacidade de carregar umidade. Desta forma, é misturado ao ar
proveniente da fornalha (fonte de calor ou desumidificador), diminuindo
ainda mais a razão de mistura e gerando mais eficiência ao secador.
Esse secador geralmente possui uma tulha de produto ou local
anterior a câmara de secagem, podendo possuir ou não uma câmara de

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resfriamento ou equalização, fornalha (desumidificador), sistema de


ventilação e descarga. O contato entre produto e ar ocorre na câmara de
secagem. Há modelos de equipamentos que possuem mais de uma câmara
de secagem, sendo estas intercaladas por câmaras de equalização. Quando
essa câmara é a última da coluna do secador, é chamada de câmara de
resfriamento. Os secadores devem ter design e projeto dimensionados
para secar o produto e não causar choque térmico ou dano mecânico às
sementes. Devido a isso, o estudo da localização das câmaras é
fundamental.

Figura 4 - Exemplo de secador de fluxo contínuo.

SECAGEM DE FLUXO INTERMITENTE

A secagem intermitente consiste no emprego de câmaras de


secagem, onde as sementes, por curtos períodos, ficam em contato com o
ar de secagem e câmaras de equalização, onde as sementes, por
prolongados períodos, permanecem sem contato com o ar de secagem,

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permitindo que a água mais interna da semente migre para a sua


superfície, predominantemente por difusão, facilitando o processo de
secagem. É um sistema bastante recomendado para secar sementes.
As relações câmara de secagem/câmara de equalização, chamadas de
relação de intermitência dos secadores, podem ser 1:6; 1:9; 1:13 ou outra
(significa um período de secagem para x períodos de equalização). Neste
sistema são utilizados secadores nos quais as sementes fluem
continuamente e a secagem se faz em mais de uma passagem. O elevador
das sementes é parte do processo.
A temperatura do ar de secagem para secadores intermitentes não é
tão crítica como para secadores contínuos ou estacionários, sendo mais
eficientes em relação à qualidade do produto X tempo. Possui taxas de
secagem para soja de 0,8 a 1,1 p.p por hora e para arroz de 1,4 a 1,8 p.p
por hora. Isso é devido a seu princípio, que tem como base a intermitência,
que faz com que o produto não esteja em contato constante com o fluxo de
ar forçado aquecido (desumidificado), mas somente em determinados
intervalos de tempo. Esse intervalo ou tempo de residência do produto é o
condicionante chamado de taxa de intermitência e a capacidade
operacional do secador. Assim, o produto fica parte do tempo na câmara de
secagem e parte na câmara de equalização.
O princípio da intermitência se baseia no tempo de migração da água
do centro da semente para sua periferia, o que torna a retirada da água um
processo mais eficiente e com a necessidade de menor tempo de exposição
a altas temperaturas. Com isso, esse sistema possui uma alta velocidade
de secagem. O secador intermitente possui uma câmara de secagem, outra
de equalização, sistema de ventilação e descarga, sendo obrigatório ter um
elevador para realizar a intermitência. A temperatura de secagem depende
do tempo de permanência do produto na câmara de secagem.
Para pequenos períodos de exposição das sementes ao ar de
secagem, temperaturas do ar de entrada na câmara de secagem entre 60 e
80oC para sementes são aceitáveis. O importante é medir a temperatura

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da massa de sementes, que não deve ultrapassar 43oC no final da


secagem. A temperatura do ar pode variar dependendo da localização do
termômetro no secador, mas a medida da temperatura da massa de
sementes é a referência mais correta para ser utilizada.

Figura 5 - Exemplo de secador de fluxo intermitente.


A intermitência permite que ocorra o transporte de água do interior
para a superfície da semente durante o período de equalização, diminuindo
a sua concentração dentro da semente. Conforme o tempo necessário para
as sementes passarem pela câmara de secagem, existem dois métodos:
a) Método intermitente lento - Esse método foi adaptado dos secadores
tipo contínuo. Quando não são utilizadas temperaturas altas do ar de
secagem, as sementes não chegam a secar em uma só passagem pelo
secador, tornando-se necessária a adaptação do método contínuo, fazendo
com que elas retornem para o corpo do secador, a fim de passarem mais
vezes pela câmara de secagem.
b) Método intermitente rápido - Assim denominado porque as sementes
passam através do ar aquecido a intervalos regulares e mais frequentes do

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que no intermitente lento. Existem disponíveis no mercado secadores


especialmente desenvolvidos para realizar a secagem intermitente.
Nos secadores que utilizam ar aquecido forçado, é recomendável que se
utilizem temperaturas crescentes no início e decrescentes no término da
secagem, para evitar choques térmicos que podem causar fissuras, de
ocorrência frequente em sementes de arroz e milho. Também, no fim da
secagem, recomenda-se a utilização do ar forçado sem aquecimento para
homogeneização da umidade das sementes.
Nos secadores contínuos e intermitentes, como envolvem transporte
da semente e passagem das mesmas através de estreitos canais (± 0,3m),
é aconselhável que as sementes palhentas passem por um bom processo
de pré-limpeza e, se possível, que o sistema de secagem não seja
interrompido enquanto as sementes não estiverem secas, para que sejam
evitadas aglomerações e, consequentemente, entupimentos.

AERAÇÃO, TRANSILAGEM E INTRASSILAGEM

Sob o ponto de vista operacional, a aeração pode ser definida como a


prática de se ventilar os grãos com fluxo de ar cientificamente
dimensionado, para promover a redução e a uniformização da temperatura
na massa de grãos armazenados, visando uma boa conservação, pela
redução das atividades metabólicas dos próprios grãos e dos organismos
associados.
A aeração consiste, basicamente, na circulação forçada do ar
ambiente ou condicionado através da massa de grãos armazenados com a
finalidade principal de estabelecer e manter uma temperatura
moderadamente baixa e uniforme em todo o volume de grãos (Hara e
Corrêa, 1981). A aeração se não for bem conduzida pode causar perda por
aquecimento e fermentação e perda excessiva de teor de umidade, e é
altamente dependente das condições climáticas locais. A automação não
resolve todos os problemas de aeração. A seca-aeração, de modo geral,
tem sido aplicada de modo equivocado, sem possibilitar usufruir as

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vantagens da referida operação.


Dentre as propriedades dos grãos, a porosidade, a higroscopicidade e
a condutibilidade térmica têm grande importância na aeração. O fato de os
grãos constituírem uma massa não compacta, porosa, possibilita a
passagem do ar entre eles com trocas constantes de umidade e calor, em
função também das propriedades do ar. Além da porosidade interna, na
massa de grãos há um percentual de poros entre eles, os intergranulares,
ou “vazios” intersticiais, por onde o ar circula.
Num silo e/ou armazém, os grãos são os principais componentes de
um ecossistema dinâmico, em constante transformação, cujas interações
químicas, físicas e biológicas promovem alterações quantitativas e
qualitativas, gerando deteriorações e outras perdas. Roedores, insetos,
ácaros e microrganismos, por exemplo, são fatores bióticos de
deterioração; esses, por sua vez, são influenciados por fatores abióticos,
como temperatura, umidade, pressão, entalpia, sistema de circulação do
ar, integridade dos grãos, entre outros. Tanto os fatores abióticos como os
bióticos interferem na ação enzimática no ecossistema de armazenagem,
influindo diretamente no metabolismo dos grãos e na sua conservação (fig.
5).

21
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CURSO ISOLADO

Figura 5. Ecossistema de armazenagem.

Fonte: adaptado de Sinha&Muir (1973).

Além da aeração, outras formas de se promover a ventilação dos


grãos são a transilagem e a intra-silagem. Na primeira, há transferência
total, sendo todos os grãos de um silo removidos para outro, ou de uma
célula para outra, no caso de armazéns graneleiros septados; na segunda
há movimentação parcial, através da passagem pelo elevador de parte dos
grãos, com retorno para o mesmo silo ou a mesma célula. Na aeração, o ar
passa, forçadamente, pela massa de grãos, com auxílio de ventilador ou

22
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

exaustor, dependendo do sistema, enquanto na transilagem e na intra-


silagem são os grãos que passam pela massa de ar, com auxílio do
elevador.
Assim, são objetivos essenciais da aeração o resfriamento e a
manutenção do grão a uma temperatura suficientemente baixa e uniforme
para assegurar uma boa conservação, através da redução das atividades
metabólicas dos próprios grãos e dos organismos associados. São aeramos
a massa de grãos para:

a) manter baixa e uniforme a temperatura dos grãos;

b) reduzir os riscos de perda;

c) evitar a migração da umidade, que ocorre pela formação de correntes


convectivas;

d) complementar a secagem;

e) corrigir pequenas variações de temperatura e/ou de umidade dos grãos.

Desta forma, vemos que a aeração é realizada pela circulação forçada


do ar ambiente através da massa de grãos. O ar é insuflado ou aspirado
por um ventilador ou exaustor, conduzido na massa de grãos através de
condutos, onde é convenientemente distribuído por sistema de canaletas
ou dutos de distribuição. A eficiência da aeração é devida em grande parte
à homogeneidade da distribuição do ar.
A insuflação e a sucção têm eficiências praticamente iguais, desde
que sejam corretamente dimensionadas. Por exemplo, se o ventilador for
subdimensionado, na insuflação ocorrerá condensação na cobertura ou
“chapéu” do silo e na sucção haverá o “embuchamento” do ventilador por
partículas menores que certamente serão arrastadas.
Na circulação forçada, que ocorre na aeração, o ar, nas condições
ambientais, ou parcialmente modificadas, é insuflado ou aspirado por
ventilador ou exaustor, que o distribui convenientemente através da massa

23
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

de grãos. A eficiência da aeração depende em grande parte da


homogeneidade da distribuição do ar.

Figura 6. Representação esquemática da aeração de grãos por insuflação e


aspiração ou sucção do ar. Fonte: Adaptado de Peres (2001).

A aeração por insuflação e aspiração (ou sucção) podem apresentar


eficiências equivalentes (Tabela 1), desde que sejam corretamente
dimensionadas. Exemplo clássico de problema operacional provocado por
incorreção é o subdimensionamento do ventilador: na insuflação provoca
condensação na parte interna da cobertura do silo e na sucção o
“embuchamento” do ventilador por partículas menores certamente
arrastadas.

Tabela 1. Características comparativas operacionais entre aspiração ou


exaustão e insuflação.

Operação Aspiração insuflação


Enchiment - Baixo rendimento, trabalho - Rendimento real, de acordo com o
o do silo triplicado projeto de aeração
- No silo - Ao entrar em contato com os - O ar insuflado que entra em
carregado grãos, o ar já está modificado, contato com os grãos tem ainda as
em função da irradiação e da condições ambientais e começa a
condutibilidade térmica, resfriá-los já desde o ingresso. Se os
transferindo calor para o interior grãos aquecidos estiverem na base,
do silo. Isso aumenta sua há o arrefecimento imediato; se eles

24
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CURSO ISOLADO

capacidade de transferência estiverem no topo, o ar não


interna de umidade. transportará calor pela massa
Inspeção - A inspeção pode ser - A inspeção pode ser mascarada,
por mascarada, porque se os porque se os problemas não
análise do problemas não estiveram na estiveram no topo do silo, o ar que
ar que base do silo, o ar que sai já sai já interagiu com os grãos em
sai do silo interagiu com os grãos em bom bom estado.
estado.
- Na - Aquece o que deveria resfriar e - Permite excelente taxa de ar no
aeração pode umedecer o que deveria momento do enchimento do silo ou
permanecer seco. Isso gasta do graneleiro, aumentando a
mais energia para ter menor segurança operacional, com
qualidade da massa de grãos. transferência uniforme de calor e
vapor.
Fonte: Adaptado de Peres (2001)

Tipos de aeração

Em geral, ao se promover a aeração de grãos, num silo ou num


armazém, busca-se:
a) manter baixa e uniforme a temperatura dos grãos;
b) reduzir os riscos de perda por deterioração;
c) evitar a migração da umidade, que ocorre pela formação de correntes
convectivas;
d) complementar a secagem;
e) corrigir pequenas variações de umidade e/ou temperatura dos grãos
e/ou decorrentes de odores indesejáveis.

São tipos mais comuns de aeração:

v de resfriamento ou manutenção,

v provisória,

v corretiva,

v secante

v transilagem.

Aeração provisória:
É utilizada em grãos recém-colhidos, que cheguem úmidos (com
umidade superior à recomendada para uma boa conservação) na unidade

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

de armazenamento. Neste caso, a aeração é utilizada como meio de


conservação temporária enquanto os grãos aguardam a secagem, para
controlar não apenas danos imediatos, como danos latentes, que se
manifestam durante o armazenamento, como a incidência de defeitos nos
grãos. Simultaneamente, se as condições do ar assim o permitirem, pode
haver remoção de alguns pontos percentuais de água, embora, nesse caso,
esse seja um objetivo secundário, complementar, pois o mais importante é
a manutenção dos grãos resfriados, para manter controlado o metabolismo
dos grãos e dos organismos que acompanham os grãos desde a lavoura,
como fungos e outros associados.

Aeração de resfriamento ou manutenção


Para grãos armazenados em condições de conservação, limpos e com
umidade entre 8 e 14%, dependendo da espécie e de outros fatores, a
ventilação é aplicada para corrigir um início de aquecimento ou para
resfriá-los, em ciclo único ou então progressivamente, em etapas
sucessivas, desde que assim o permita a temperatura exterior. Sua
finalidade maior, no entanto, é uniformizar a temperatura em toda a massa
de grãos, para evitar a formação de correntes convectivas e reduzir seus
efeitos.

Aeração corretiva

É utilizada, normalmente, em duas situações:


a) quando, por metabolismo, os grãos armazenados adquiriram odores
estranhos. Com a aeração se pode corrigir esse defeito;
b) quando, por interesse de conservação, os grãos forem armazenados com
umidade menor do que a de comercialização. A aeração, com ar úmido,
realizada um pouco antes da expedição, pode corrigir essa diferença, sem
afetar a qualidade do produto.

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

Aeração secante

Tem por objetivo manter os grãos a uma temperatura


suficientemente baixa, ocasionando uma lenta dessecação, no próprio silo.
Nesse caso, diferentemente da aeração de manutenção de grãos
armazenados secos, ao invés do uso de silo-aerador, com dutos de aeração
ou canais, cobertos por chapa perfurada, na aeração secante é
recomendável o uso de silo-secador, com fundo falso perfurado.
No caso de aeração secante, em que é insuflado o ar ambiente
quando a umidade relativa for baixa, menor do que a umidade de
equilíbrio, o fluxo de ar dever ser superdimensionado, maior do que o
usado para secagem também em silo-secador quando o ar for aquecido. O
fluxo de ar também deve ser maior do que o usado na aeração para
conservação de grãos armazenados secos.
É um processo lento, que pode ser melhorado pelo controle e/ou pela
correção das condições psicrométricas do ar, como aquecimento parcial
pela queima de gás liquefeito de petróleo, ou outra forma de aquecimento
do ar.Dependendo da espécie, da umidade e das condições sanitárias com
que os grãos entram no secador, das condições psicrométricas do ar
ambiente, das características técnicas das instalações e do tempo
disponível para secagem, os fluxos de ar na aeração de manutenção podem
variar de 4 a 18m3.min-1.t-1 (metros cúbicos de ar por minuto por tonelada
de grãos), na aeração secante com ar sem aquecimento, ou 3 a 12m 3.min-
1
.t-1 quando o ar for aquecido até 10ºC acima da temperatura ambiente.
Quando for aeração de manutenção, ar não se destina a remover água,
mas visa reduzir e uniformizar a temperatura dos grãos, os fluxos de ar
utilizados são menores, cerca de 0,1 a 3m 3.min-1.t-1.

Transilagem

Essa técnica também pode ser classificada como um tipo de aeração


de resfriamento. Deve ser realizada quando for constatada uma elevação
da temperatura do grão, se o silo não for dotado de um sistema eficiente

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CURSO ISOLADO

de ventilação. Este método consiste em se transferir o grão de um silo para


outro, fazendo com que haja redução e homogeneização da temperatura.
Na aeração propriamente dita, se faz passar uma massa de ar pelos grãos;
na transilagem, são os grãos que passam pela massa de ar. Por essa razão,
parece mais racional se realizar a aeração do que a transilagem, mas nem
sempre isso é possível.

Vamos exercitar!
1 - VUNESP - 2010 - CEAGESP - Engenheiro Agrônomo

Assinale a alternativa correta no que se refere ao processo de transilagem.


(A) A transilagem é um processo utilizado em larga escala na Europa e nos
Estados Unidos, ao contrário, no Brasil, usa-se a aeração.
(B) Na transilagem, o arejamento é realizado passando o produto pelo ar.
Já na aeração, o ar passa pelo produto.
(C) A aeração é um processo que deixou de ser utilizado devido aos altos
custos quando comparado com a transilagem.
(D) Na aeração, quem se movimenta é o grão, e na transilagem o grão fica
armazenado.
(E) A transilagem é um processo de alto custo utilizado em grande escala
nos Estados Unidos e no Brasil. A aeração é um processo de baixo custo
utilizado na América Central.
SOLUÇÃO

Na aeração propriamente dita, se faz passar uma massa de ar pelos grãos;


na transilagem, são os grãos que passam pela massa de ar. Por essa razão,
parece mais racional se realizar a aeração do que a transilagem, mas nem
sempre isso é possível.
RESPOSTA B

É necessário ter como primeiro princípio de conduta a redução da


temperatura do grão e, por conseguinte, intervir quando a temperatura do
ar for inferior em alguns graus à temperatura do grão. São levados em

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

conta dois fatores restritivos: a umidade relativa do ar e a diferença de


temperatura entre o ar e o grão. Quando os grãos estiverem ligeiramente
úmidos, a diferença de temperatura entre o ar e os grãos é mais
importante do que a umidade relativa do ar, mas quando a umidade dos
grãos estiver próxima das normas comerciais, são igualmente importantes
esses dois fatores, devendo ser evitada a ventilação quando a umidade
relativa estiver acima de 70-75%, se a diferença de temperatura entre o ar
e os grãos for menor do que 3 a 5ºC. Entretanto, se for necessário escolher
entre duas alternativas (risco de aquecimento ou perda de peso por perda
d’água) as condições de qualidade dos grãos no momento devem ser
priorizadas na decisão.
Outro importante princípio a ser observado na aeração é intervir
preventivamente, e não corretivamente, para remediar uma elevação de
temperatura pelo aquecimento natural do grão, pois só ocorre aumento de
temperatura quando há metabolismo e, aí, as perdas já são irreversíveis.
Assim como a umidade, o calor é, ao mesmo tempo, causa e consequência
do metabolismo. Assim, antes de optar pelo o uso de um sistema de
aeração, devem-se avaliar as condições climáticas para entender os
objetivos propostos, principalmente quando se trata da conservação dos
grãos durante a armazenagem. Um diagrama que relaciona temperatura,
umidade relativa e temperatura interna da massa de grãos são usados para
previsão das características de conservação da massa, durante o
armazenamento. Este diagrama possibilita prever a natureza dos riscos a
que o produto ficara sujeito durante a aeração.

29
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

A interpretação do diagrama de conservação de grãos é dada pela formula


abaixo.

DIFERENÇA DE TEMPERATURA = TEMPERATURA AMBIENTE –


TEMPERATURA INTERNA
DT = TA – TI
EXEMPLO:
A temperatura ambiente (externa) é de 33°C e a temperatura interna da
massa de grãos é de 28°C. Desta forma a diferença de temperatura é
calculada abaixo.
DT=33-28=5°C

v A diferença da temperatura ambiente (externa) e a interna da massa


de grão, neste exemplo citado foi de 5°C. Avaliando o diagrama de
conservação de grãos, observa-se que a aeração é recomendada para
umidade relativa (UR) entre 60 e 70%. Sendo possível em outras
faixas de umidade, porém sujeita a alguns riscos eminentes.
v Para a umidade relativa inferior ou igual a 60%, a aeração só é
recomendada e aplicável em grãos úmidos ou que estejam aquecidos
a temperatura muito superior á do ambiente, necessitando, portanto

30
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

do resfriamento. Em outra situação, que difere da relatada, poderá


haver supersecagem da massa.
v Resfriamento com gradiente de temperatura a 7°C torna a aeração
possível, porém pode provocar condensação do vapor de água na
superfície da massa e nas paredes do silo.
O diagrama na coloração roxa (A), apresenta dois fatores que podem
ocorrer quando a diferença de temperatura, relacionada com a umidade
relativa estiver nessa faixa, sendo condensação (+7) ou secagem excessiva
(-7). Por isso, a necessidade de fazer o cálculo da (DT), sempre
obedecendo à ordem da fórmula, sendo: Temperatura ambiente (externa),
menos a temperatura interna, onde a Diferença poderá ser positiva ou
negativa.
Contudo, pode afirmar que a aeração é um instrumento muito útil, se
não indispensável em muitos casos, para a conservação dos grãos
armazenados quando bem operada. Já quando operada erroneamente, sem
o devido conhecimento tecnológico, torna-se uma fonte de perdas
quantitativa e qualitativa dos grãos armazenados, assim como será uma
fonte de despesas intoleráveis para a unidade armazenadora de grãos.

BENEFICIAMENTO
O beneficiamento é um dos passos a serem seguidos para obtenção
de sementes de alta qualidade numa empresa de sementes. A máxima
qualidade de um lote de sementes é função direta das condições de
produção no campo, ou seja, semente se obtém no campo.
Entretanto, a semente, depois de colhida, contém materiais indesejáveis
que devem ser removidos a fim de facilitar a semeadura, a secagem e o
armazenamento, além de evitar que sejam levadas sementes de plantas
daninhas para outras áreas. Assim, a importância do beneficiamento
reside na obtenção de sementes de alta qualidade. O beneficiamento
consiste em todas as operações a que a semente é submetida, desde a
sua recepção na unidade de beneficiamento de sementes (UBS) até a

31
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

embalagem e distribuição.
Recepção
É o processo de caracterização e identificação dos lotes de sementes que
são recebidos na UBS. Conceitua-se um lote como "uma quantidade
limitada de sementes com atributos físicos e fisiológicos similares dentro
de certos limites toleráveis".
Amostragem
É o processo pelo qual obtém-se uma pequena fração de sementes que
irá representar o lote nos testes para avaliação da qualidade,
determinação da umidade, pureza e viabilidade.
Pré-limpeza

Figura 6 - Exemplo de máquinas de pré-limpeza.

A pré-limpeza consiste basicamente na remoção do material bem


maior, bem menor e bem mais leve do lote de semente. Para essa
operação, utiliza-se máquina de ar e peneiras com alta produção, pois
nessa etapa do beneficiamento é mais importante o rendimento do que a
qualidade, considerando-se a necessidade de passar na pré-limpeza toda a
semente recebida no dia.
Operações especiais
32
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

Algumas sementes necessitam de operações especiais


(desaristamento, debulha, descascamento e escarificação) para que
possam ser beneficiadas, como é o caso das sementes palhentas e
aristadas, milho em espiga, algodão, amendoim e de sementes duras e
múltiplas.
Limpeza das sementes
A remoção dos materiais indesejáveis do meio do lote de sementes só
é possível se houver diferença física entre os componentes. As
propriedades físicas usadas para a separação são largura, espessura,
comprimento, peso forma, peso específico, textura superficial, cor,
condutibilidade elétrica e afinidade por líquidos.

ARMAZENAGEM
A armazenagem de sementes inicia-se quando estas alcançam
o ponto de maturação fisiológica. O teor de água das sementes no ponto de
maturação fisiológica é muito alto para que se possa realizar a colheita e
debulha. As sementes têm que ficar no campo até que as condições
intrínsecas da semente e do ambiente permitam a colheita. Obviamente, as
condições nesse período não são as mais favoráveis para o
armazenamento, devendo as sementes serem retiradas do campo tão logo
quanto possível.

33
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

Por outro lado, todo o esforço humano e material gasto durante a


produção da semente podem ser perdidos se as condições de
armazenamento fornecidas às sementes, após serem embaladas forem
inadequadas. Isto porque, as sementes deverão apresentar uma
porcentagem de germinação razoável (mínimo 80%) após terem sido
mecanicamente colhidas, beneficiadas, manuseadas e armazenadas de uma
temporada de produção à outra.
Assim sendo, o objetivo principal do armazenamento das sementes é
manter sua qualidade desde que atingem o ponto de maturação fisiológica
até quando serão semeadas, considerando que, em todo esse período, esta
qualidade não poderá ser melhorada, nem mesmo sob condições ideais.
UNIDADES E SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO
Os métodos de armazenamento de grãos utilizam unidades
armazenadoras que podem ser agrupados em sistemas. Os principais
sistemas usados no Brasil são: convencional, a granel, hermético e
emergencial. O sistema convencional é o mais diversificado, tendo desde
unidades bastante rústicas, como os paióis, galpões ou celeiros, até
unidades maiores e mais tecnificadas, como os armazéns convencionais. Já
nas unidades de armazenamento a granel, há os silos, os armazéns
graneleiros e os armazéns granelizados, em geral dotados de sistemas de
termometria e aeração, para grandes volumes, assim como as caixas e
tulhas, por exemplo, para pequenas quantidades. No sistema hermético,

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

que não se aplica para grandes volumes, predominam os tonéis, as


bombonas e outros recipientes, para quantidades pequenas, e ―silos
plásticos‖ para aquelas um pouco maiores, enquanto nos emergenciais os
modelos mais utilizados são ―as piscinas de sacaria‖, as unidades infláveis
e estruturais, além de outras estruturas adaptadas.
CONVENCIONAL
Sistema convencional é aquele em que os grãos são armazenados
dentro de embalagens, em geral sacarias. As unidades armazenadoras
desse sistema são paióis, galpões ou celeiros e armazéns convencionais.
São unidades não herméticas, onde a conservação dos grãos, já secos,
ocorre por ventilação não forçada, através de convecção natural do ar
ambiente, não aquecido. Permitem individualização da carga. A inspeção e
a coleta de amostras podem ser feitas diretamente. Os paióis, destinados
ao armazenamento de milho em espigas, na palha, em geral utilizam
tecnologias muito rudimentares, com sistema de controle de qualidade
bastante deficiente.
São interessantes em regiões de invernos rigorosos e para quem
alimenta animais na própria propriedade com milho, sabugo e palha, por
exemplo. Mesmo em paiol-secador, as perdas costumam ser grandes, pelas
dificuldades que o ar encontra para atingir os grãos na intensidade e na
velocidade necessárias para que ocorra secagem rápida e até umidade
reduzida. Podem ser introduzidas melhorias nas unidades, como piso
suspenso dotado de proteção anti-rato e paredes que facilitem a aeração
natural. É o que ocorre nos paióis telados, nos ripados e mesmo nos de
paredes de bambu ou pau a pique‖, os quais terão sua eficiência melhorada
se forem dotados de lonas laterais presas em forma de cortina tipo
persiana, que possibilitem fechar em dias de chuva ou mesmo em períodos
muito úmido, mas se mantendo suspensas, para favorecer a ventilação,
quando em condições favoráveis.
Outra melhoria é a conjugação da facilidade de ventilação com a
possibilidade de realização de expurgo, conforme ocorre em paióis-

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

secadores e de expurgo, cujo exemplo mais conhecido é o modelo


Chapecó‖. Os galpões são micro armazéns ventilados. Embora sejam mais
versáteis do que os paióis, pela possibilidade que oferecem de
armazenamento de vários produtos na mesma unidade, apresentam
eficiência conservativa menor. Podem ser introduzidas melhorias nas
unidades, como piso suspenso dotado de proteção anti-rato, colocação da
porta na parte inferior da parede, do lado da maior incidência dos ventos
dominantes, e janela(s) na parte superior da parede oposta, para facilitar a
circulação do ar por convecção a partir das alterações de temperatura e
densidade do ar ambiente que ocorrem quando em contato com os grãos
mais aquecidos por metabolismos no interior do galpão.
Os armazéns convencionais são utilizados para armazenamento em
maior quantidade do que nos paióis e nos galpões. São mais empregados
em cerealistas e em cooperativas, que armazenam várias espécies de grãos
simultaneamente na mesma unidade. Suas principais características são:
- pé direito, com altura de 6 metros ou, em casos excepcionais, 7 metros;
- existência de lanternins para facilitar a circulação do ar e evitar o acúmulo
de calor no interior do armazém;
- a presença de dispositivos de combate ao incêndio deve ser
rigorosamente observada;
- a iluminação deve variar de 20 a 40 lux, sendo evitada a incidência direta
dos raios solares sobre a sacaria;
- rua principal, com largura 10 a 15% (espaço de segurança) maior do que
o equipamento mais largo que precise ser utilizado, como esteiras ou
empilhadeiras. As ruas secundárias, entre os blocos, servem para
movimentação de equipamentos, como empilhadeiras, e devem ter largura
compatível com sua movimentação;
- entre um bloco e a parede deve ser deixada distância de 0,5m, para
inspeção, amostragem e expurgo (cobrir com lona). A parede não é
construída para suportar peso de pilha;
- cada bloco deve ser formado por várias pilhas. Quando feita a

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

desocupação verticalmente (várias pilhas justapostas), podem ser retirados


25% dos sacos, por exemplo, e reocupar o espaço. Quando da
desocupação horizontal (base larga), só se pode reocupar o espaço após a
retirada de toda a pilha;
- o piso deve ser impermeabilizado. Mesmo assim, é importante a utilização
de estrados para facilitar a ventilação da parte inferior e dificultar a
condensação de umidade;
- a maior dimensão horizontal de uma pilha não deve ultrapassar 19m.
Mais do que isso dificulta o trabalho do carregador de sacos, cuja função é
denominada braçagista.
- a disposição dos sacos nas pilhas deve ser uniforme para evitar que a
pilha tombe e facilitar as posteriores contagens de conferência de estoques.
Se não houver boa disposição da sacaria, pode haver ruptura de algum um
saco e os grãos que se coloquem entre os sacos dificultem a circulação de
ar, pelo aumento da pressão estática, diminuindo a conservabilidade do
produto.
- a soma dos espaços não ocupados equivale a 20% da área do armazém,
sendo aproveitados 80% da área construída. Assim:

Sendo: S a superfície ou área do piso do armazém, h a altura da parede


(pé direito) e 1,5m a distância recomendada entre a parte mais alta da
pilha e o telhado. Por questões operacionais e de segurança, a altura
máxima da pilha deve ser de 4,5 ou 5,5m.

O pé direito dos armazéns convencionais geralmente é de 6m, ou


excepcionalmente, 7m. Assim, a pilha terá 4,5 ou 5,5m de altura. O
estrado pode ser simples (0,15m de altura), ou duplo (0,25m de altura).
Podem ser construídas pilhas contíguas, formando blocos. Entre as pilhas

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

ou os blocos e as paredes, deve ficar um espaço livre mínimo de 0,5m,


para evitar que o peso de uma pilha mal aprumada comprometa a
estrutura da parede, permitir a circulação do ar e das pessoas,
possibilitando também a cobertura das pilhas ou dos blocos quando da
operação de expurgo. Os demais espaços entre as pilhas e/ou os blocos são
necessários para circulação do ar, movimentação das pessoas, dos sacos,
das máquinas carregadoras, dos equipamentos, etc. Considerando-se como
pé direito‖ do armazém a altura de 6m (seis metros) e que a distância
entre a camada superior da pilha (em seu nível mais alto) e a altura do pé-
direito‖ seja de 1,5m (um metro e meio), conforme as razões já expostas,
fica prático o cálculo da capacidade armazenadora de um armazém
convencional, em função de suas dimensões, com a aplicação dos dados da
Tabela 1.

Para o manuseio da Tabela 1, podem ser considerados os exemplo a


seguir:
1) Calcular a capacidade armazenadora de um armazém convencional de
40m de comprimento e 20m de largura, com altura de ―pé direito‖ de 6m
e altura efetiva de pilha de 4,5m, destinado a armazenar feijão em sacaria
de juta.
Resolução:
Cálculo da área útil (Fórmula 1):

38
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

20 m
40 m

Área total do piso = 40m X 20m = 800m2


Área útil = 800m 2 X 0,8 = 640m 2
Cálculo da capacidade armazenadora:
Capacidade armazenadora = área útil X número de sacos por metro
quadrado (Tabela 1)

Capacidade armazenadora = 640m2 X 35,91 sacos.m -2 = 22.982 sacos

2) Calcular a capacidade armazenadora de um armazém convencional de


40m de comprimento e 20m de largura, com altura de pé direito‖ de 6,5m
e altura efetiva de pilha de 5m, destinado a armazenar feijão em sacaria de
juta.
Resolução:
Cálculo da área útil (Fórmula 1)

Área total = 40m X 20m = 800m 2

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

Área útil = 800m 2 X 0,8 = 640m 2


Cálculo do volume útil (Fórmula 2)

Volume útil = Área útil X (6,5 – 1,5)


Volume útil = 640m 2 X 5m = 3.200m 3
Cálculo da capacidade armazenadora:
Capacidade armazenadora = área útil X número de sacos por metro
quadrado (Tabela 1)

Capacidade armazenadora = 3.200m3 X 7,98 sacos.m -3 = 25.536 sacos


Sementes de vida longa e vida curta
Em geral, as sementes pertencem a espécies que são geneticamente
de vida longa, porém algumas são de vida curta. A maioria das espécies
consideradas de vida longa pertence à família das Fabáceas (leguminosas),
que se caracterizam por apresentar tegumento duro e impermeável
(sementes duras). Cereais, como cevada e aveia, são também
considerados de vida longa, enquanto que o centeio é de vida curta e milho
e trigo são intermediários. Outras classificações colocam a cevada e o trigo
num mesmo nível e a aveia como tendo o pior potencial de armazenagem.
O potencial de armazenagem das sementes varia consideravelmente
entre espécies em condições favoráveis idênticas. Esse potencial está
determinado pelo período de tempo em que certa proporção de sementes

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

morre ou, inversamente, permanecem vivas. Em um lote de sementes,


nem todas morrem ao mesmo tempo, já que, por ser uma característica
individual, o potencial de armazenagem afeta a porcentagem de viabilidade
do lote de sementes.
Assim sendo, em um mesmo grupo genético, nem todas as espécies,
variedades ou sementes individuais, sobrevivem ao mesmo período de
tempo. Para efeitos práticos, na armazenagem comercial de sementes, é
suficiente conhecer o potencial de cada da espécie em questão.
Sementes ortodoxas
São aquelas que alcançaram sua maturidade na planta mãe com
conteúdos de água relativamente baixos. Podem ser secadas artificialmente
até baixos teores de água sem sofrer dano e armazenadas por períodos
longos, especialmente quando a temperatura é baixa. Condições de
armazenagem com baixo teor de água e temperatura de - l8ºC podem
manter viáveis sementes por períodos de até um século ou mais. Quando
secas, essas sementes podem resistir às adversidades do ambiente e,
embora dormentes, quando fornecidas às condições para a germinação,
reassumirão sua atividade metabólica total e seu crescimento e
desenvolvimento.
As sementes ortodoxas incluem a maioria das espécies
agronomicamente importantes em zonas temperadas. Essas sementes não
requerem condições especiais de armazenagem em climas temperados e
frios, mas em regiões de clima quente e úmido, o controle das condições de
armazenagem (baixa temperatura e desumidificação) se faz necessário.
Sementes recalcitrantes
São aquelas que perdem rapidamente sua viabilidade se são secas
abaixo de um teor de água relativamente alto. Essas sementes não podem
ser secas por métodos tradicionais e não são bem armazenadas em
condições normais de armazenagem.
Tipos de armazenagem de sementes
As sementes são armazenadas, durante as diferentes etapas do

41
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

beneficiamento, de três maneiras:


Armazenamento a granel

Figura 7 - Exemplo de armazenagem a granel.

A armazenagem a granel facilita bastante o manejo das sementes,


em função da necessidade de secagem, já que atua como regulador de
fluxo antes e depois da secagem. É um tipo de armazenamento temporário
que se pode estender de poucos dias até vários meses, enquanto as
sementes aguardam para serem beneficiadas, sendo necessário que as
sementes estejam limpas (pré-limpeza) e secas.
Se as sementes são armazenadas a granel com elevado teor de água
(maior que 13%), a sua atividade metabólica produz calor, o qual aumenta
a temperatura da massa de sementes perigosamente, acelerando a
atividade biológica, podendo chegar a matar as sementes. Isso poderia ser
evitado se essa armazenagem fosse feito em silos secadores, com a
finalidade de fazer secagem através da aeração constante do silo e, por
consequência, da massa de sementes.
Outras características do armazenamento de sementes a granel são:
a) o local de armazenamento é fixo e pode ser em silos metálicos dotados
com sistemas de aeração;
b) sistema de transporte para encher e esvaziar os silos é completamente
mecanizado e rápido, devendo-se tomar cuidado com os danos mecânicos
às sementes e à mistura varietal;
c) pequeno desperdício de sementes;
d) alto custo inicial;
e) poucas perdas devido a roedores;

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

f) custos operacionais baixos.


b) Estruturas de armazenagem
A armazenagem de sementes a granel é feito, preferencialmente, em
silos cilíndricos metálicos. Essas unidades armazenadoras a granel devem
possuir ventiladores para resfriar a massa de sementes.
c) Migração de umidade
Um dos fenômenos que ocorre em uma massa de sementes
armazenada a granel é o de migração de umidade. Em regiões de clima
subtropical, onde há variações bruscas de temperatura, inclusive durante o
dia, as paredes do silo, no inverno, esfriam ou aquecem em função da
variação da temperatura ambiente. A diferença de temperatura entre a
massa de sementes e o meio ambiente externo produz correntes
convectivas dentro da massa, movimentando-se o ar nos espaços entre as
sementes.
Esse ar, ao chegar no topo da massa de sementes, encontra o ar
mais frio, condensando o vapor e criando zonas de alta umidade no alto da
massa de sementes. Isso poderá provocar a germinação das sementes,
estimular o ataque de insetos, que são atraídos pelo odor e calor
despendido pela acelerada respiração aeróbica da semente e, ainda, criar
condições favoráveis para o rápido desenvolvimento dos fungos de
armazenagem (Pennicillium e Aspergillus). Para evitar esse fenômeno da
migração de umidade, deve-se proceder à aeração periódica da massa de
sementes mediante o uso dos ventiladores do silo.
d) Aeração de sementes
A aeração consiste na movimentação forçada do ar ambiente através
da massa de sementes, sendo seu objetivo principal o resfriamento e a
manutenção das sementes a uma temperatura suficientemente baixa para
assegurar uma boa conservação. Ao se fazer aeração, o efeito inicial, num
período relativamente curto, é de equilíbrio da temperatura da semente
com a do ar ambiente; logo após, pode-se reduzir a temperatura com o
consequente resfriamento da massa e, após um longo período de aeração,

43
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

poderá haver um efeito secante.


Como regra geral, a aeração deve ser aplicada quando a diferença de
temperatura da massa de sementes e a temperatura do ar ambiente for em
torno de 5ºC. Ocorrendo essa diferença, e tendo por objetivo resfriar a
massa de semente, o ventilador deve ser ligado dia e noite, com ou sem
chuva, até que a massa seja resfriada. Isso é devido a que a aeração no
silo se dá na forma de uma frente de aeração que avança de baixo para
cima, devendo o ventilador permanecer ligado até que essa frente atinja o
topo da massa de sementes, tendo a resfriado totalmente,
homogeneizando sua temperatura.
Quando as sementes vêm diretamente da colheita e são armazenadas
a granel em silo-pulmão ou tulha de produto úmido, aguardando pela
secagem, não devem ficar por um período superior a 48 horas (a semente
está com aproximadamente 18% de água) e a aeração deve ser contínua
para conservação provisória das sementes até a secagem ser realizada.
Semente armazenada a granel em silos deve ser vistoriada regularmente.
O meio mais fácil de inspecionar as sementes no silo é retirando amostras
em vários pontos e registrar a temperatura e teor de umidade das
sementes. Esses registros devem ser feitos pelo menos duas vezes por dia,
de manhã e de tarde, para manter o controle da massa de sementes e
detectar, em tempo, possíveis problemas. Periodicamente, deve-se avaliar
também a qualidade da semente dentro do silo através de sua germinação
e vigor (teste de envelhecimento acelerado).
ARMAZENAMENTO EM SACOS
A comercialização de sementes é feita em sacos e, em latas ou
pacotes, no caso de sementes de espécies olerícolas. Após o
beneficiamento, as sementes devem ser embaladas para logo serem
armazenadas, esperando pela sua distribuição. A estrutura de
armazenagem é um armazém do tipo convencional em vez de um silo. Em
uma Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), o maior volume de
armazenamento é em sacos, portanto, o maior prédio da UBS é o

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

armazém. A embalagem de sementes atende a duas finalidades básicas:


1) quanto ao aspecto comercial, transporte e manuseio da semente;
2) a mais importante, proteção das sementes contra umidade, insetos,
roedores e danos mecânicos no manuseio.
B) TIPOS DE EMBALAGENS
Há três tipos de embalagens quanto à permeabilidade:
- Embalagens porosas ou permeáveis
As embalagens permeáveis constituem-se em saco de tecido
(algodão, aniagem, ou juta), de papel multifoliado e de plástico ou
polipropileno trançado, de amplo uso pelo seu baixo custo. Esses tipos
permitem trocas de umidade entre a semente e o ar ambiente do
armazém, logo, as sementes tendem ao Ponto de Equilíbrio Higroscópico
(PEH). São empregadas para períodos curtos de armazenamento e, de
preferência, em climas secos. Suas principais vantagens são a resistência à
ruptura e ao choque, facilidade de empilhamento e manuseio e boa
apresentação (facilidade de impressão). As principais desvantagens são: os
custos comparativos mais elevados e as flutuações de umidade dentro da
embalagem devido às sementes alcançarem o PEH.
- Embalagens resistente à penetração do vapor de água ou
semipermeáveis
As embalagens semipermeáveis oferecem certa resistência à
penetração de umidade, podendo ser utilizadas em regiões de umidade
relativa do ar mais altas, porém ainda por período limitado de tempo de
armazenamento. Têm maior resistência à umidade do que as embalagens
porosas, facilidade de imprimir marcas e boa apresentação. O maior
inconveniente é que nesse tipo de embalagem as sementes devem estar
com teor de água mais baixo do que o permitido naquelas acondicionadas
em embalagens totalmente porosas. Exemplos dessas embalagens são
sacos plásticos finos ou de polietileno, de 0,075 a 0,125 mm de espessura,
e sacos de papel multifoliado laminados com polietileno. Esses últimos,
normalmente possuem quatro dobras de papel Kraft, produzido da polpa de

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CURSO ISOLADO

pinho, com forro de polietileno de 0,075 mm no interior das dobras. Para


condições de clima temperado, essas embalagens são adequadas, mas,
para condições de clima tropical, são mais recomendáveis os sacos de
polietileno de mais de 0,125 mm de espessura, já que sob essas condições
é prejudicial que ocorra alguma penetração de umidade na embalagem.
- Embalagens impermeáveis ou à prova de umidade, ou
completamente vedadas
As embalagens impermeáveis oferecem completa resistência às
trocas de umidade com o ambiente. É importante salientar que a
impermeabilidade da embalagem depende da vedação da mesma. São as
de plástico, com mais de 0,125 mm de espessura selados ao calor, pacotes
de alumínio e latas de alumínio, quando bem vedados. Essas embalagens
não permitem o equilíbrio do teor de umidade da semente com o ar
exterior, nem flutuações de umidade dentro da embalagem. A umidade do
interior da embalagem é determinada pelo teor de água das sementes,
logo, esse último deve ser mais baixo do que para as sementes nos outros
tipos de embalagens. O teor de umidade das sementes armazenadas em
embalagens impermeáveis deve ser de 8 a 9%, para amiláceas, e de 4 a
7%, para as oleaginosas.
C) EMPILHAMENTO

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CURSO ISOLADO

Figura 8 - Emplilhamento de sacos em Unidade de Beneficiamento de Sementes


(UBS).
O prédio no qual as sementes permanecerão ensacadas durante seu
armazenamento em pilhas, conhecido como armazém (do tipo
convencional), deve preencher certos requisitos. O armazém deve ser bem
arejado, porém deve-se evitar janelas ou aberturas muito grandes que
permitam a penetração de raios solares por muitas horas atingindo as
pilhas. O ideal é que possua uma só porta. Se as paredes não são de tijolo,
pedra ou cimento, ou seja, são de ferro galvanizado ou de zinco, deveriam
possuir algum tipo de isolamento térmico, como, por exemplo, isopor (50
mm), que também deverá ser usado no teto.
O armazém deve ser pintado com cores mais claras possíveis
(branca, metálica), para facilitar a reflexão do calor. Para facilitar a
ventilação, podem ser instalados exaustores que podem ser ligados quando
o ar ambiente externo está mais frio e seco que o interior do armazém.
As sementes em sacos são armazenadas por lotes em pilhas
montadas dentro do armazém. As pilhas são montadas com a ajuda de
uma correia transportadora inclinada ou empilhadeira mecânica. O lastro é
constituído pelo número de sacos que servem de base para a formação e
sustentação da pilha. Os sacos de sementes devem ser empilhados sobre

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

lastros ou estrados de madeira (pallet) e nunca diretamente contra o chão


de cimento, em cima do piso, para evitar transmissão ou condensação de
umidade do solo, o que estragará os sacos de sementes em contato com o
chão. A madeira atua como isolante térmico. Se esses lastros são
construídos de 8 a 10 cm de altura, é facilitado o manuseio das pilhas com
a mula mecânica e possibilitada ainda uma razoável ventilação na base da
pilha.
As embalagens utilizadas para as sementes, além de conservá-las
adequadamente, devem ser de material que facilite o empilhamento,
evitando materiais muito lisos que provoquem o fácil deslizamento e,
consequentemente, queda da pilha. A altura das pilhas não afeta as
sementes nos sacos de baixo, devido ao peso, se as sementes estiverem
armazenadas com teor de umidade abaixo de 14%. Porém, recomenda-se
que a altura máxima seja de 5 m, para evitar danos mecânicos às
sementes, no caso de queda da pilha, facilitar a amostragem e facilitar o
expurgo ou aplicação de produtos químicos no caso de ataque de insetos.
Ainda, para facilitar o expurgo, é recomendável que a distância entre pilhas
seja, pelo menos, de dois metros.
Na produção de sementes fiscalizadas ou certificadas, a inspeção no
armazém deve ser rigorosa quanto ao cumprimento das normas. A
amostragem deve ser facilitada com um adequado empilhamento,
distribuição e identificação dos lotes a serem comercializados.
ARMAZENAGEM SOB CONDIÇÕES DE AMBIENTE CONTROLADO
O armazenamento de sementes em condições de ambiente
controlado (temperatura e/ou umidade relativa do ar) permite conservá-las
por longos períodos de tempo. As sementes são higroscópicas e, para
evitar que absorvam umidade do ar e o aumento do teor de água a limites
que afetariam sua qualidade, as condições ambientais podem ser
modificadas permitindo a conservação das sementes a baixas temperaturas
e/ou baixa umidade relativa do ar. Para isso, utiliza-se a refrigeração e/ou
a desumidificação.

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

A refrigeração pode ser utilizada em armazéns de sementes


estocadas em sacos, para resfriar o ar em ambientes quentes ou com
temperaturas acima de 20ºC.

CARACTERIZAÇÃO DE UNIDADES ARMAZENADORAS

A definição das características técnicas e a localização de uma


unidade armazenadora estão relacionadas à sua área de influência. No caso
específico de unidades na fazenda, a caracterização da área se faz pelo
levantamento da área plantada, da produtividade, dos tipos de produtos,
do tempo de armazenagem, das condições de transporte em diferentes
épocas do ano, do nível de desenvolvimento tecnológico da propriedade e
da capacidade de adoção de novas tecnologias pelo proprietário. Esses
fatores, além de úteis para a definição das características da unidade
armazenadora, têm importância sobre o treinamento que o agricultor deve
receber.
No entanto, independentemente do padrão tecnológico da unidade,
ela deverá apresentar condições básicas para a manutenção das qualidades
desejáveis ao produto e ser economicamente viável. Assim, uma unidade,
na fazenda, deverá ser simples e projetada conforme os princípios e os
conceitos básicos de armazenagem. A granelização consiste na conversão
das estruturas construídas para armazenar em sacaria, em estruturas para
armazenagem a granel. Pode contribuir para elevar o percentual de
armazenagem na fazenda, devido ao número de armazéns convencionais já
existentes. Por terem o fundo plano, os equipamentos utilizados para a
descarga são adaptados às características do fundo, dificultando a operação
de descarga. Em comparação à armazenagem convencional (em sacos), a
granelização apresenta algumas vantagens, como:
- redução do custo de operação devido à eliminação de sacaria;
- maior facilidade na operação de controle de pragas;
- manuseio facilitado e menor uso de mão-de-obra.

Unidades para Armazenagem a Granel

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

Silos

São células individualizadas, construídas de chapas metálicas, de


concreto ou de alvenaria. Geralmente possuem forma cilíndrica, podendo
ou não ser equipadas com sistema de aeração. Estas células apresentam
condições necessárias à preservação da qualidade do produto, durante
longos períodos de armazenagem. Quando os silos são agrupados em uma
unidade de recebimento e processamento, são denominados "bateria". A
disposição física de uma "bateria" deve permitir ampliação da capacidade
estática, com baixo custo adicional. Os silos podem ser classificados em
horizontais e verticais, dependendo da relação que apresentam entre a
altura e o diâmetro. Os verticais, se forem cilíndricos, podem, para facilitar
a descarga, possuir o fundo em forma de cone. De acordo com sua posição
em relação ao nível do solo, classificam-se em elevados ou semi-
enterrados. Os silos horizontais apresentam as dimensões da base maior
que a altura e, comparados aos verticais, exigem menor investimento por
tonelada armazenada.

Armazéns "graneleiros"

São unidades armazenadoras horizontais, de grande capacidade,


formados por um ou vários septos, que apresentam predominância do
comprimento sobre a largura. Por suas características e simplicidade de
construção, na maioria dos casos, representa menor investimento que o
silo, para a mesma capacidade de estocagem. Como os silos horizontais, os
graneleiros apresentam o fundo plano, em V ou septado. Essas unidades
armazenadoras são instaladas ao nível do solo ou semi-enterradas.

Unidades de armazenagem para sacaria

a) Galpões ou depósitos: são unidades armazenadoras adaptadas de


construções projetadas para outras finalidades; por isso não apresentam
características técnicas necessárias à armazenagem segura e são
utilizadas, em caráter de emergência, durante períodos curtos. Esses

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

depósitos recebem a denominação de paiol, quando construídos por ripas


de madeira, espaçadas entre si, o que favorece, muito, a aeração natural
do produto. Apesar de diversas desvantagens, o paiol é muito difundido,
principalmente pela facilidade de construção e pelo emprego de recursos da
fazenda. A maior desvantagem é a dificuldade de se fazer um eficiente
controle de pragas.

b) Armazéns convencionais: são de fundo plano, de compartimento único,


onde os produtos são armazenados em blocos individualizados, segundo a
sua origem e suas características. São construídos geralmente em
alvenaria, estruturas metálicas ou mistas e apresentam características
técnicas necessárias à boa armazenagem, como ventilação,
impermeabilização do piso, iluminação, pé-direito adequado e cobertura.
Uma derivação, de natureza emergencial, do armazém convencional são os
armazéns estruturais, muito empregados em fronteiras agrícolas. São
sustentados por estruturas metálicas ou de madeira, cobertos e revestidos
por chapas metálicas ou por polipropileno. São mais resistentes que os
infláveis e afeta menos o produto devido às condições de ventilação do
primeiro. Podem ter o piso construído de terra batida ou de concreto.
Prestam-se à armazenagem de produtos ensacados, durante pequeno
período.

ELABORAÇÃO DE PROJETOS

A realização de um projeto de unidades armazenadoras implica o


estabelecimento de conhecimentos técnicos e práticos que melhor utilizem
recursos disponíveis para obter o produto desejado. Como finalidade, o
projeto é o documento de análise que permite avaliar os elementos para a
tomada de decisão sobre sua execução ou sobre o apoio e a infraestrutura
necessários para a implantação da obra. No caso de unidades destinadas
ao pré-processamento e armazenagem de grãos, deve-se estabelecer
critérios que permitam estudos técnicos, básicos e complementares, no
sentido de dar transparência aos trabalhos de análise.

51
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

O estudo técnico compreende o agrupamento adequado de elementos


que reúnem as informações necessárias para obtenção de resultados sobre
tamanho, processo de produção, localização, características de máquinas e
equipamentos, descrição de obras físicas, organização para a execução,
necessidade de mão-de-obra, cronograma de realização, dentre outras.
Assim, o estudo técnico demonstrará a viabilidade do projeto e as
alternativas técnicas que melhor se ajustam aos critérios de otimização. O
estudo básico estabelece as principais características físicas e tecnológicas
do bem ou serviço a ser prestado, em função das exigências técnicas
aplicáveis ao processamento do produto e às características de mercado ou
normas técnicas, previamente, estabelecidas.

Localização e Dimensionamento

Para a localização, deve-se levar em consideração os aspectos


básicos que, sendo analisados, tornam-se indispensáveis para a
justificativa do local proposto e, ao mesmo tempo, contribuem para a
análise que permite a eliminação de outras alternativas. Os principais
parâmetros a serem considerados neste tipo de estudo são:

v o mapa geográfico do município que mostre, com clareza, o


perímetro urbano, suburbano e rural;
v local de construção;
v vias de transporte;
v área da ação do proponente;
v área de influência da unidade;
v vias de escoamento da produção;
v modalidades de transporte.

Vias de escoamento e meios de transporte

Neste estudo deve-se dar atenção ao sistema de transporte,


descrevendo as ferrovias, rodovias e hidrovias, além do estado de
conservação em que estas se encontram. Deve-se analisar as possíveis

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

mudanças no sistema de transporte que possibilitem futuras alterações na


direção do fluxo de produção agrícola para outras regiões, considerando a
área de influência da unidade. Deve-se avaliar o tipo de transporte,
considerando a distância da unidade a ser implantada, dos centros
consumidores, dos portos e de outras unidades armazenadoras. De modo
semelhante, considerando os períodos de safra e de entressafra, deve-se
avaliar o custo de transporte do centro de produção até a unidade a ser
implantada, e desta para os centros de consumo ou exportação.

Estudos de mercado

Deve-se verificar quais os agentes de comercialização, suas


influências e suas formas de atuação, bem como caracterizar quanto e qual
o tipo de influência que a unidade a ser implantada exercerá sobre o
município, evidenciando as quantidades produzidas, os tipos de produtos,
as quantidades a serem processadas por produto e a possibilidade de
atendimento à produção de outros municípios.

Infra-estrutura e aspectos agrícolas regionais

Devem ser analisados o sistema de comunicação, o fornecimento de


energia, os serviços bancários e atendimentos sociais, bem como:

v Levar em consideração os aspectos agrícolas, clima e solo,


considerando as diferentes lavouras implantadas.
v Estabelecer, com base nas características dos produtos, qual a
demanda por armazenagem a granel e por sacaria.
v Estimar, com base em pelo menos cinco anos e para cada
produto, a possibilidade de aumento da produtividade ou da
produção pelo aumento da área plantada.
v Analisar os períodos de colheita, estabelecendo o início e o final
de cada safra, com estimativas da quantidade colhida em cada
mês, além de quantificar as perdas, por produto, da colheita à
armazenagem. Avaliar as quantidades de produtos consumidas

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

nas indústrias, como sementes, como ração e nas propriedades


rurais, quantificando os estoques existentes e o comportamento
da movimentação de estoques, em relação a outras regiões. Se
possível, compilar o saldo mensal de armazenagem, por
produtos, no caso de existência de unidades armazenadoras
concorrentes.

Aspectos de Engenharia

Compreende os serviços de obras civis, eletromecânicas,


arquitetônicas, "layout", memoriais descritivos e fluxogramas. O local de
edificação deverá ser caracterizado por um levantamento topográfico plani-
altimétrico, sondagens de subsolo, observando, principalmente, a
resistência deste, o nível do lençol freático e a presença de plataformas
rochosas.

Memoriais descritivos

Deve-se discriminar as edificações a serem realizadas, descrevendo-


as quanto às suas características de posição, forma e detalhe, dentro do
projeto, assim como destacar as obras primárias, como fosso de balanças
rodoviárias ou rodo-ferroviárias, moegas de recepção, central para
processamento, fundações de silos metálicos, edificações de silos de
concreto e de graneleiros, armazéns para sacarias, e outras. São
consideradas obras complementares as instalações de escritórios,
laboratórios, cabina de balança, guarita, oficina de manutenção,
almoxarifado, sanitários, refeitórios, vias de circulação, jardinagem etc.
Os equipamentos devem ser caracterizados de modo a não permitir
ambigüidade por parte do fornecedor. O projetista deverá ter conhecimento
técnico e operacional sobre os sistemas, de custo e de mercado, a fim de
ampliar as possibilidades de análise do referido projeto. Para facilitar a
elaboração e análise, deve-se considerar as características da unidade e as
condições nas quais o produto se encontra durante o recebimento, isto é,
sujo e úmido, limpo e úmido, sujo e seco e limpo e seco.

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

Deve ser considerada, ainda, a possibilidade do recebimento


simultâneo de diferentes espécies, diferentes variedades dentro da mesma
espécie e diferentes teores de umidade para cada lote recebido. Estas
informações permitem estabelecer o fluxograma básico que irá caracterizar
a futura unidade, conforme o seguinte:

v pátio de amostragem;
v balança;
v moegas para recebimento;
v silos pulmões;
v equipamentos para movimentação;
v equipamentos para pré-limpeza;
v sistemas de secagem;
v equipamentos para limpeza;
v sistemas de movimentação e distribuição de produto;
v sistemas de armazenagem;
v sistemas de termometria, aeração e tratamentos
fitossanitários;
v sistemas de expedição;
v laboratórios.

Investimentos e Financiamentos
Devem ser considerados os investimentos fixos, os quais totalizam os
valores aplicados e distribuídos conforme o cronograma físico-financeiro
elaborado previamente, de acordo com os seguintes tópicos:

v construção civil;
v máquinas e equipamentos;
v instalações, montagens e fretes;
v elaboração de projetos;

Com base na quantificação e qualificação das variáveis que compõem


os tópicos anteriormente mencionados, pode-se estimar os investimentos e
o retorno financeiro, como:

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

a) Encargos financeiros durante o período de carência.

b) Fontes e uso do cronograma financeiro apresentado ao agente


financiador, como: parcela de recursos próprios, indicando a origem e os
meios empregados para a sua mobilização, e parcela financiada, indicando
o valor do empréstimo e o agente financiador, bem com a especificação de
outros recursos.
c) Rentabilidade e capacidade de pagamento:

- custos: indicar as estimativas de custo fixo e variável, justificando os


critérios adotados na sua elaboração, incluindo memorial de cálculo,
tabelas e tarifas utilizadas;

- receitas: especificar e quantificar as estimativas das receitas


operacionais, conforme o nível de utilização mensal e índice de rotatividade
anual;

- definir o esquema de reembolso, apresentando fluxo de caixa, taxa de


retorno, ponto de nivelamento e outros indicadores convenientes à análise
do projeto.
d) Responsabilidade técnica, com definição de nomes e registros no CREA.

PRINCÍPIOS E TÉCNICAS USADOS NA CUBAGEM DE GRÃOS


ARMAZENADOS
Vamos conhecer algumas definições sobre armazenamento:
1. Câmaras: área de um pavilhão.
2. Célula: local de depósito para a guarda de produtos agrícolas,
especialmente grãos e farelos, possuindo forma circular ou hexagonal, com
fundo plano ou cônico, fabricado em concreto armado, metal, alvenaria ou
madeira e coberta com um mesmo material.
3. Entre-célula: espaço aproveitável para armazenamento a granel,
formados pela união de cada conjunto de quatro células iguais e paralelas
se interligando nos seus tangenciamentos.

56
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

4. Cubagem: método matemático para estimar o volume de grãos


armazenados a granel.
5. Estoque Físico: quantidade real de produto existente na unidade e
aferido ou estimado por
pesagem ou cubagem.
6. Estoque Escriturado: quantidade verificada e escriturada conforme
documentos de entrada e saída de produtos.
O manual de cubagem tem como objetivo orientar o cálculo de
cubagem a partir de medidas realizadas em células, septos e lotes de
unidades armazenadoras da CEAGESP formada por silos verticais,
horizontais, por graneleiros e por armazéns convencionais. Esclarecemos
que nos limitaremos a orientar o cálculo da cubagem através da obtenção
de medidas realizadas nos locais com produtos agrícolas depositados e do
uso do programa desenvolvido em Excel pela CONAB que foi adequado às
medidas das estruturas armazenadoras da CEAGESP.
Cubagem é o calculo da relação peso x espaço que o produto ocupa.
O cálculo de cubagem é muito importante para quem precisa estimar o
volume e/ou peso de produtos a granel e não tem como pesá-los ou pesá-
los é muito oneroso.
Para calcularmos a cubagem aplicamos de modo geral a formula:

onde:
O cálculo do volume de grãos está baseado nas medidas de largura,
altura e comprimento das mesmas, obedecidas as diferentes fórmulas
existentes para cada tipo de figura geométrica. Como fator de cubagem
que deve ser utilizado é o peso hectolitro (PH) de cada produto que passa
por cubagem dividido por 100. Ex: Para um PH de 80 teremos um fator de
cubagem igual a 80 dividido por 100 que será 0,80.

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

O peso hectolitro (PH) é a massa de 100 litros de grãos, expressa em


quilogramas/100 litros.
O PH pode ser correlacionado com o peso específico, que é a massa de
1.000 litros de grãos expresso em quilogramas por 1000 litros ou
quilogramas por m3. Outra forma de calcular o fator de cubagem é pegar o
peso específico do grão (kg/1000 l ou Kg/1000 m 3) e dividir por 1000.
Então para um peso específica igual a 800 teremos um fator de cubagem
de 800 dividido por 1000 que é igual a 0,80.

Finalizamos mais um assunto Deixaremos para vocês dar uma lida na


lei de LEI No 9.973 . Vamos exercitar. Até a próxima aula.

LEI No 9.973, DE 29 DE MAIO DE 2000.

Dispõe sobre o sistema de


armazenagem dos produtos
agropecuários.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o As atividades de armazenagem de produtos agropecuários, seus


derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico ficam sujeitas às
disposições desta Lei.

Art. 2o O Ministério da Agricultura e do Abastecimento criará sistema de


certificação, estabelecendo condições técnicas e operacionais, assim como a

58
ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

documentação pertinente, para qualificação dos armazéns destinados à atividade


de guarda e conservação de produtos agropecuários.

Parágrafo único. Serão arquivados na Junta Comercial o termo de nomeação


de fiel e o regulamento interno do armazém.

Art. 3o O contrato de depósito conterá, obrigatoriamente, entre outras


cláusulas, o objeto, o prazo de armazenagem, o preço e a forma de remuneração
pelos serviços prestados, os direitos e as obrigações do depositante e do
depositário, a capacidade de expedição e a compensação financeira por diferença
de qualidade e quantidade.

§ 1o O prazo de armazenagem, o preço dos serviços prestados e as demais


condições contratuais serão fixados por livre acordo entre as partes.

§ 2o Durante o prazo de vigência de contrato com o Poder Público para fins da


política de estoques, bem como nos casos de contratos para a guarda de produtos
decorrentes de operações de comercialização que envolvam gastos do Tesouro
Nacional, a título de subvenções de preços, o Ministério da Agricultura e do
Abastecimento manterá disponível, na rede Internet, extratos dos contratos
correspondentes contendo as informações previstas no caput deste artigo.

Art. 5o Os critérios de preferência para a admissão de produtos e para a


prestação de outros serviços nas unidades armazenadoras deverão constar do
regulamento interno do armazém.

Art. 6o O depositário é responsável pela guarda, conservação, pronta e fiel


entrega dos produtos que tiver recebido em depósito.

§ 1o O depositário responderá por culpa ou dolo de seus empregados ou


prepostos, pelos furtos, roubos e sinistros ocorridos com os produtos depositados,
bem como pelos danos decorrentes de seu manuseio inadequado, na forma da
legislação específica.

§ 2o O presidente, o diretor e o sócio-gerente da empresa privada, ou o


equivalente, no caso de cooperativas, assim como o titular de firma individual,

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

assumirão solidariamente com o fiel responsabilidade integral pelas mercadorias


recebidas em depósito.

§ 3o O depositário e o depositante poderão definir, de comum acordo, a


constituição de garantias, as quais deverão estar registradas no contrato de
depósito ou no Certificado de Depósito Agropecuário - CDA. (Redação dada pela
Lei nº 11.076, de 2004)

§ 4o A indenização devida em decorrência dos casos previstos no § 1o será


definida na regulamentação desta Lei.

§ 5o O depositário não é obrigado a se responsabilizar pela natureza, pelo tipo,


pela qualidade e pelo estado de conservação dos produtos contidos em invólucros
que impossibilitem sua inspeção, ficando sob inteira responsabilidade do
depositante a autenticidade das especificações indicadas.

§ 6o Fica obrigado o depositário a celebrar contrato de seguro com a finalidade


de garantir, a favor do depositante, os produtos armazenados contra incêndio,
inundação e quaisquer intempéries que os destruam ou deteriorem.

§ 7o O disposto no § 3o deste artigo não se aplica à relação entre cooperativa e


seus associados de que trata o art. 83 da Lei no 5.764, de 16 de dezembro de
1971. (Incluído pela Lei nº 11.076, de 2004)

Art. 7o Poderão ser recebidos em depósito e guardados a granel no mesmo silo


ou célula produtos de diferentes depositantes, desde que sejam da mesma
espécie, classe comercial e qualidade.

Parágrafo único. Na hipótese de que trata este artigo, o depositário poderá


restituir o produto depositado ou outro, respeitadas as especificações previstas
no caput.

Art. 8o A prestação de serviços de armazenagem de que trata esta Lei não


impede o depositário da prática de comércio de produtos da mesma espécie
daqueles usualmente recebidos em depósito.

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

Art. 9o O depositário tem direito de retenção sobre os produtos depositados,


até o limite dos valores correspondentes, para garantia do pagamento de:

I – armazenagem e demais despesas tarifárias;

II – adiantamentos feitos com fretes, seguros e demais despesas e serviços,


desde que devidamente autorizados, por escrito, pelo depositante; e

III – comissões, custos de cobrança e outros encargos, relativos a operação


com mercadorias depositadas.

§ 1o O direito de retenção poderá ser oposto à massa falida do devedor.

§ 2o O direito de retenção não poderá ser exercido quando existir débito


perante o depositante, decorrente de contrato de depósito, em montante igual ou
superior ao dos créditos relativos aos serviços prestados.

Art. 10. O depositário é obrigado:

I – a prestar informações, quando autorizado pelo depositante, sobre a


emissão de títulos representativos do produto em fase de venda e sobre a
existência de débitos que possam onerar o produto; e

II – a encaminhar informações ao Ministério da Agricultura e do


Abastecimento, na forma e periodicidade que este regulamentar.

Art. 11. O Ministério da Agricultura e do Abastecimento, diretamente, ou por


intermédio dos seus conveniados, terá livre acesso aos armazéns para verificação
da existência do produto e suas condições de armazenagem.

Art. 12. (VETADO)

Art. 13. O depositário que praticar infração das disposições desta Lei ficará
sujeito às penas de suspensão temporária ou de exclusão do sistema de
certificação de armazéns, aplicáveis pelo Ministério da Agricultura e do
Abastecimento, conforme dispuser o regulamento, além das demais cominações
legais.

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ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE SEMENTES E GRÃOS

CURSO ISOLADO

Art. 14. O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta Lei no prazo de


noventa dias, contados da data de sua publicação.

Art. 15. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

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