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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO – CAMPUS SÃO VICENTE – CENTRO DE
REFERÊNCIA DE CAMPO VERDE
CURSO DE BACHARELADO EM AGRONOMIA NOTURNO

AERAÇÃO DE GRÃOS
ARMAZENADOS

MICHAEL DEYVID DA SILVA VIANA


PETERSON ROSSI
1. INTRODUÇÃO
• Os grãos, estão sujeitos a transformações de naturezas distintas, oriundas da
tecnologia aplicada ao sistema de pré-processamento.
• Os fatores que influenciam a boa conservação dos produtos armazenados são:
• a temperatura e a umidade relativa do ar entre os espaços existentes nos grãos
armazenados (intergranular); e
• a temperatura e o teor de água dos grãos.
• Durante o processo de carregamento da unidade armazenadora os grãos podem
variar:
• em temperatura e conteúdo de umidade;
• por causa de variações em maturidade, condições climáticas e variações na secagem.
• Porções de grãos quentes e deterioradas podem ser criadas dentro do silo,
mesmo que a condição possa ser considerada adequada;
• Em unidades armazenadoras antigas, quando é verificado problemas que possam
comprometer a qualidade do produto, é efetuado o movimento da massa de grãos
através do ar ambiente. Esse procedimento é denominado "transilagem".
• Esta operação, apesar de resolver os problemas, resulta em vários
inconvenientes, como:
• Eleva o índice de danos mecânicos no produto;
• Demanda tempo para a sua execução, considerando que com apenas uma circulação
do produto pelo ar ambiente o problema pode não ser totalmente solucionado;
• Apresenta elevado custo de instalação, pois o processo exige uma célula de
estocagem vazia na unidade armazenadora;
• Tem custo operacional mais elevado, não só pela demanda de tempo, mas também
por envolver maior número de equipamentos e consumo de energia;
• Durante a movimentação o atrito entre grãos e componentes do sistema de transporte
e entre os próprios grãos, provoca o aparecimento de pó orgânico, que é
potencialmente explosivo.
• Para solucionar alguns desses problemas, sugere-se o uso da técnica de aeração,
que consiste na passagem forçada do ar, com fluxo adequado, através da massa
de grãos, com o objetivo de prevenir ou solucionar problemas de conservação.
• A aeração apresenta vantagens, como a possibilidade de supervisionar tanto o
sistema quanto o produto durante a operação.
• É utilizada para melhorar a preservação da qualidade dos grãos, em sistemas de
armazenagem a granel, com o objetivo de:
• igualar a temperatura da massa;
• minimizar as atividades dos fungos;
• diminuir a taxa de respiração do produto armazenado; e
• quando possível, reduzir a temperatura dos grãos.
• É possível que sucessivas aplicações de aeração resultem na formação de blocos
compactados de grãos e na concentração de finos (poeiras) em pontos
localizados, dificultando a passagem do ar.
• Neste caso, deve-se corrigir o problema com uma movimentação ou transilagem
do produto e, se possível, passá-lo pelo sistema de limpeza.
• A armazenagem a granel sem o uso da aeração, torna-se praticamente inviável,
se for realizada por longo período, mesmo sabendo que o produto encontra-se
devidamente limpo e seco.
2. OBJETIVOS DA AERAÇÃO
2.1 Resfriar a massa de grãos:
• Constitui o principal objetivo e a principal utilidade da aeração;
• O microclima formado dentro da massa de grãos poderá trazer vários benefícios ao
processo de conservação. Esses benefícios estavam relacionados à supressão do
desenvolvimento de insetos, ácaros e fungos.
• Entretanto, grãos armazenados em temperaturas elevadas, 25 a 40 °C, têm a atividade
respiratória intensificada, o que propicia incremento na perda de matéria seca, aumenta a
umidade relativa do ar intergranular e produz calor.
• Por exemplo o milho armazenado em temperaturas variando entre 25 e 35 °C tiveram de
6 a 27 vezes mais perda de matéria seca, respectivamente, do que grãos refrigerados a
10 °C.
• Na faixa de temperatura de 25 a 40 °C a oxidação de lipídios pode ser
intensificada, o que contribui para a degradação da qualidade dos grãos, visto que
a mesma é acelerada pela ação do calor, luz, reações de ionização, dentre outros.

• Durante esse processo de degradação, várias reações de decomposição podem


ocorrer, levando à produção de hidrocarbonetos, aldeídos, álcoois e cetonas.

• A produção de ácidos graxos livres, resultante da degradação de lipídios, contribui


significativamente para o aumento do custo de produção de óleos vegetais,
causando significativos prejuízos às indústrias.
2.2 Inibir a Atividade de Insetos-praga e Ácaros:
• A maioria dos insetos-praga que infestam os grãos armazenados são de origem tropical e
subtropical;
• Faixa de temperatura adequada para o seu desenvolvimento está entre 27 e 34 °C, sendo
consideradas ideais entre 29 e 30 °C;
• Depois de alguns meses de armazenagem, ou em ambientes com temperaturas acima de
27 °C, a massa de grãos poderá ter elevado nível de infestação se ações preventivas não
forem tomadas.
• Os insetos-praga são sensíveis a baixas e a altas temperaturas, reduzindo seu
desenvolvimento em temperaturas inferiores a 16 °C e superiores a 42 °C.
• Podem-se estabelecer manejos adequados para o controle dos insetos-praga quando a
temperatura é mantida entre 17 e 22 °C, para aqueles cujo ciclo de vida é da ordem de
três meses ou mais. Isto porque a oviposição e fecundação dos mesmos é restrita em
baixa temperatura, com baixo crescimento da população, o que lava a danos menos
significativos aos grãos.
• A umidade relativa crítica para o seu desenvolvimento é da ordem de 30%. Entretanto,
são capazes de sobreviverem obtendo água metabólica, do ar ambiente ou do próprio
grão.
Exemplo de valores das temperaturas ótimas e favoráveis para o desenvolvimento de
insetos-praga em 100 dias e das umidades relativas mínimas.
Besouro do arroz (Trogoderma granarium)
Tolerância ao frio: Resistente
Tolerante à baixa Umidade Relativa (UR) - Mínima: 1 %
Temperatura - Ótima: 33 - 37 °C e Segura: 22 °C

Besouro castanho (Tribolium castaneum)


Tolerância ao frio: Susceptível
Tolerante à baixa Umidade Relativa (UR) - Mínima: 1 %
Temperatura - Ótima: 32 - 35 °C e Segura: 22 °C

Gorgulho dos cereais (Rhyzopertha dominica)


Tolerância ao frio: Moderado
Moderado à baixa Umidade Relativa (UR) - Mínima: 30 %
Temperatura - Ótima: 32 - 35 °C e Segura: 21 °C
• Os ácaros são pragas de grande importância econômica, principalmente nas em
regiões de clima tropical e temperado;
• Podem danificar o gérmen dos cereais, casca de leguminosas, contaminarem os produtos
com fezes e odores indesejáveis;
• O produto infestado por ácaros, se destinado para a alimentação animal, poderá causar
problemas nutricionais aos mesmos e alergia aos operadores durante o manuseio.
• A presença de ácaros está relacionada a fungos, uma fez que os mesmos, também, se
alimentam desses microrganismos.
Tyrophagus putrescentiae Carpoglyphus lactis
Temperaturas °C: Temperaturas °C:
• Mínima: 9 - 10 e • Mínima: 15 e
• Ótima: 23 - 28. • Ótima: 25 - 28.

Glycyphagus destructor Acarus siro


Temperaturas °C: Temperaturas °C:
• Mínima: 10 - 15 e • Mínima: 7 e
• Ótima: 15 - 25. • Ótima: 23 - 30.
2.3 Inibir o Desenvolvimento da Microflora:
• O teor de água do produto e a temperatura dos grãos e a temperatura e umidade relativa
do ar intergranular influenciam o desenvolvimento da microflora.
• Grãos com teor de água de até 15% (b.u.) podem ser armazenados durante mais tempo,
se a temperatura for baixa (8 a 10 °C) e a umidade relativa do ar intergranular, não
ultrapassar 70%.
• Em regiões de clima tropical e subtropical é difícil estabelecer estas condições por meio
de aeração com ar natural.
• Segundo Lazzari (1999), apesar de existir grande número de espécies de fungos
produtoras de micotoxinas, são poucos os que apresentam importância econômica, por
infectarem os grãos.
• Navarro et a. (2002) informam que para remover a umidade dos grãos com ar natural é
necessário mais ar do que para fazer resfriamento. Afirmaram que no processo de
aeração normal é utilizado entre 0,22 e 0,33 m3 de ar por min por tonelada para aerar,
temporariamente produtos úmidos;
• Enquanto que com o resfriamento será necessário aproximadamente 0,11 m3 de ar . min-
1. t-1 para resfriar ao ponto de inibir a atividade de fungos e ácaros.
2.4 Preservar a Qualidade dos Grãos:
• Além da germinação, outros atributos são utilizados para avaliar a qualidade dos
grãos armazenados, quais sejam:
• o teor de água;
• o índices de impurezas;
• o envelhecimento acelerado;
• a condutividade elétrica;
• a infecção por microrganismos;
• a contaminação por toxinas;
• a acidez de óleos e a formação de peróxidos;
• índices de quebrados;
• trincados e danificados;
• infestação por insetos-praga;
• massa específica aparente.
• Grãos que possuem baixa viabilidade são mais vulneráveis à infecção por fungos
e, portanto, susceptíveis ao processo de deterioração.
• As modificações químicas que ocorrem quando
mantidos em baixa temperatura durante a
armazenagem, são lentas e, às vezes, até
insignificantes. A velocidade das reações
químicas que ocorrem pode ser reduzida à
metade quando a temperatura decresce em 10
°C.
• Grãos armazenados a granel formam um
ecossistema característico, em estado quase
latente, em que todas as atividades bióticas são
imperceptíveis.
• Esta condição de deve ser mantida durante maior
tempo possível, desde que o processo não resulte
em perdas de qualidade do produto armazenado
• A introdução de uma massa de ar com
temperatura baixa é uma técnica benéfica à
conservação dos grãos, em estado de repouso,
por período de tempo mais prolongado.
2.5 Uniformizar a Temperatura:
• Nas regiões onde existem grandes amplitudes
térmicas durante o dia, esta técnica pode ser
utilizada para prevenir ou evitar a migração de
umidade.

• Não se busca o resfriamento efetivo da massa


de grãos, mas mantê-la sob temperatura
uniforme. Pelo fato de serem maus condutores
de calor, variações nas temperaturas da massa
de grãos, inferiores a 4 °C, são consideradas
uniformes.

• Gradientes elevados de temperatura poderão


intensificar as correntes de convecções naturais
do ar intergranular, resultando no fenômeno de
migração de umidade, por propiciar a difusão de
água.
• Por ocasião de tempo frio aparece uma
corrente convectiva com o ar descendo
pela camada de grãos mais frios, ao
longo e próximos das paredes do silo,
que sobe através das camadas de
grãos, mais quente, no centro do silo.
• À medida que o ar sobe pelo centro, irá
sendo aquecido e terá sua capacidade
de absorver umidade aumentada,
retirando água dos grãos.
• Entretanto, quando o ar estiver próximo
da superfície superior e fria ele resfriará,
perdendo capacidade de absorver
umidade e transferindo a umidade
adquirida anteriormente para a camada
superior de grãos.
• Isto criará uma região de grãos úmidos
no topo central do silo com grande
potencial para deterioração.
• Por ocasião da estação mais quente,
ocorrerá um fluxo de ar oposto por
causa das temperaturas ambientais
mais altas. A condensação com um
potencial para deteriorarão acontecerá
na região central no fundo do silo.
• Um dos maiores problemas
decorrentes da migração de umidade,
é criação de condições favoráveis para
o desenvolvimento de fungos e de
insetos;
• A mistura das camadas contaminadas
com as descontaminadas, quando
ocorrer a descarga parcial ou total do
produto armazenado.
• Dentre os danos causados, o mais
preocupante é a contaminação por
micotoxinas.
2.6 Prevenir o Aquecimento dos Grãos:
• Esta vantagem aplica-se à armazenagem em silo
pulmão, com grãos úmidos, recém colhidos.
• Nessas condições, o produto deve passar por uma
operação de pré-limpeza. Neste caso, a aeração
permite aumentar o fluxo de entrada de produto úmido
na unidade armazenadora, reduzindo nos investimentos
ou no super dimensionamento de secadores.
• Existem limites máximos para teores de água e
temperaturas dos produtos úmidos, em relação ao
tempo de espera para a secagem.
• O sistema de aeração deve ser projetado para fornecer
grandes volumes de ar, a fim de manter a qualidade
original do produto úmido até o início da operação de
secagem.
• Para as regiões tropicais, subtropicais e temperadas, o
fluxo de ar aplicado em produtos úmidos pode ser entre
10 e 15 vezes superior ao utilizado para fazer a
aeração de equalização ou de resfriamento.
2.7 Promover a Secagem Dentro de Certos Limites:
• Em geral, não se entende a aeração como processo de secagem;
• Porém, em condições favoráveis, grãos úmidos (abaixo de 20% b.u.) são secados
(secagem com ar natural) em silos com altas vazões de ar em operação contínua, desde
que a temperatura do ar não atinja valores próximos de 0 °C;
• O fluxo de ar mínimo recomendado para secagem, dependendo das condições ambientais
e, como dito anteriormente, o fluxo é 15 a 25 vezes maior que o fluxo para a aeração de
resfriamento.
2.8 Remover os odores:
• Em função da atividade biológica dos grãos e dos
organismos que constituem o ecossistema da massa,
odores não-desejáveis podem ocorrer.
• A aeração pode ser utilizada para remover, além
desses odores, os gases resultantes do combate às
pragas e devolver aos grãos o cheiro característico.
3. SISTEMA DE AERAÇÃO
Consiste no conjunto de equipamentos necessários à perfeita realização da
aeração. Basicamente, é composto por:
Ventilador com motor – devem fornecer a
quantidade de ar necessária ao
resfriamento do produto e ser capaz de
vencer a resistência oferecida à passagem
deste ar pela massa de grãos armazenada;
Silos - armazenam a massa de grãos; Dispositivos para monitoramento - indicam
as condições do ambiente interno e externo da
massa de grãos e, em alguns casos, podem
acionar ou ligar o sistema de ventilação em
função daquelas condições.
Dutos – permitem a insuflação ou a sucção de ar através da massa de grãos.
Podem ser divididos em:
• Duto principal ou de suprimento – tem a finalidade de conectar o ventilador a um
ou mais dutos secundários; e
• Duto secundário ou de aeração – distribuir, o mais uniformemente possível, o ar
através da massa de grãos.
A diferença básica está no fato de que o duto principal não possui perfurações.

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