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Universidade Federal de Alagoas

Campus de Engenharia e Ciências Agrárias


Programa de Pós-Graduação em Proteção de Plantas

CLÍNICA FITOSSANITÁRIA – ENTOMOLOGIA


ATIVIDADE IV – INSETOS EM GRÃOS ARMAZENADOS

Aluna: Euzanyr Gomes da Silva

Sitophylus zeamais

Uma das principais pragas de grãos armazenados do milho Sitophylus zeamais


(Coleoptera: Curculionidae) popularmente conhecido como gorgulho do milho (Figura
1). Essa espécie é considerada praga primária, ou seja, o inseto adulto quebra o
revestimento duro dos grãos não danificados, pondo os seus ovos no seu interior e do
qual as larvas se vão alimentar.

Figura 1: Sitophylus zeamais

Os adultos medem 2,0 a 3,5 mm, de coloração castanho-escura com manchas


claras nos élitros (asas anteriores), bem visíveis após emergência (Figura 2). Possui a
cabeça projetada a frente na forma de rostro curvado.

Figura 2: Sitophylus zeamais adulto


Os machos apresentam rostro curto e grosso, as fêmeas apresentam rostro mais
longo e afilado (Figura 3).

Figura 3: Macho de Sitophilus zeamais (A); fêmea de Sitophilus zeamais (B).

A espécie S. zeamais apresenta elevado potencial de multiplicação. A postura é


feita individualmente nos grãos através de pequenos orifícios que as fêmeas cavam com
a mandíbula, com o rostro abrem no sulco médio do grão um pequeno furo e, com o
auxílio do oviscapto, introduzem o ovo no interior do grão, ao mesmo tempo que um
líquido mucilaginoso tapa o orifício e mantém o ovo no seu lugar, ficando os orifícios
de postura com difícil visualização (Figura 4).
É no interior do grão a larva completa o seu desenvolvimento (quatro instares) e
passa ao estágio de pupa, culminando com a emergência do adulto. Caso ocorra a
postura de mais de um ovo por grão a larva de mais forte irá se sobrepor às demais,
ocorrendo assim sempre apenas uma emergência de adulto por grão.
Em condições de 28 °C e 60% de umidade relativa esta espécie apresenta os
seguintes valores em média: 5,9 dias de período de pré-postura; 104,3 dias de período
de postura; 282,2 ovos por fêmea; 2,7 ovos por dia; longevidade dos machos de 142
dias e das fêmas de 140,5 dias; período de ovo a adulto de 34 dias; período de incubação
de três a seis dias; proporção de 48,1% de machos e 51,9% de fêmeas e 26,9% de ovos
que se desenvolvem até adulto. A fêmea tem sua postura inibida em grãos com umidade
inferior a 12,5%, isso ocorre devido ao fato de quanto mais seco estiver o grão maior é a
sua dureza e assim a resistência ao ataque do inseto.
De acordo com os seus hábitos alimentares, o Sitophilus zeamais é considerado
um consumidor interno, pois as larvas alimentam-se completamente dentro dos grãos
inteiros.
O ovo apresenta uma cor branca leitosa e o tamanho médio é de 0,76 x 0,27 mm.
A casca do ovo não apresenta forte resistência. As larvas são ápodas de coloração
amarelo-claro, do tipo curculioniforme com a cabeça de cor marrom-escura, apresentam
perfil dorsal semicircular, perfil ventral quase retilíneo e os três primeiros segmentos
abdominais com duas pregas ou sulcos transversais no dorso e as pupas são brancas. O
seu comprimento varia de 2 a 3 mm. A pupa apresenta uma cor branca leitosa (Figura
5).
Figura 5: Pupa de Sitophilus zeamais
Esta espécie de coleóptero possuí infestação cruzada, atacando grãos tanto no
campo quanto no armazenamento, elevado potencial de multiplicação. Seu maior
destaque é para a cultura do milho, mas ataca também o trigo, o arroz, a cevada, o
triticale e frutas também. Os grãos colhidos já infestados chegam aos armazéns
infestando também os grãos já existentes e que se encontram sadios, os danos decorrem
da redução de peso e da qualidade do grão, invalidando deste modo esses produtos para
o consumo humano (Figura 6). Neste caso, os grãos ficam apenas com a “casca”, tendo
no interior um pó constituído pelos excrementos das larvas. Quando apresentam
orifícios tal significa que os adultos já emergiram.
Figura 6: Grãos de milhos destruídos pelo

Nörnberg et al. (2018) estudaram o comportamento incomum de oviposição e


desenvolvimento de Sitophilus zeamais (Coleoptera: Curculionidae) em frutos de
pêssego e maçã. No entanto, não há informações relatadas sobre oviposição e
desenvolvimento larval de S. zeamais nos frutos. O estudo foi realizado em condições
de laboratório demonstrar a oviposição e o desenvolvimento larval de S. zeamais em
frutos de pêssego e maçã.
Uma colônia de S. zeamais foi mantida em laboratório, a 25 ± 1 ° C, UR 70 ±
10% umidade relativa e fotofase de 14 h, em grãos de milho amarelo orgânico em
caixas de vidro (2 litros). A colônia começou por gorgulhos coletados em frutos de
pêssego em pomares comerciais. A identificação de S. zeamais foi realizada com base
em Halstead (1963). Os gorgulhos usados neste estudo eram de 3ª geração realizada em
grãos de milho. Para avaliar a oviposição e o desenvolvimento do estádio imaturo de S.
zeamais, 100 frutos de pêssego (variedade Eldorado) e 100 frutas de maçã (variedade
Eva), que coletou em pomares orgânicos em Pelotas, Rio Estado do Grande do Sul, sul
do Brasil (31 ° 37′23 ^ S, 52 ° 36′16 ^ W). Grãos de milho foram usados como controle.
Observamos que S. zeamais fêmeas em contato com os frutos de pêssego e maçã
exibiram inicialmente um hábito alimentar usando mandíbulas fortes para mastigar
pequeno orifício no exocarpo do fruto. Neste bioensaio condições, a oviposição foi
observada somente após um período de três a cinco dias, ao contrário do grão de milho
onde a oviposição ocorreu no primeiro dia.
O dano causado por a oviposição de S. zeamais em frutos de pêssego e maçã foi
caracterizado pela formação de pequenos orifícios, correspondentes ao diâmetro do
rostro de uma fêmea, e botou dois ovos em média, que fechavam o buraco com
secreções mucilaginosas (Figura 7a e 8a). A características de oviposição observadas
nos frutos foram semelhantes aos observados em grãos de grão, para os quais as fêmeas
buscavam uma região adequada no grão para oviposição, fez um buraco com as
mandíbulas, colocou seus ovos e os cobriu com secreções mucilaginosas de seu
ovipositor.
Porém, após 48 h de oviposição no local onde o ovo foi depositado em frutas de
pêssego e maçã, foi observado a formação de um círculo (~ 0,25 mm em diâmetro) onde
o exocarpo do fruto foi necrosado (escuro cor castanha) (Figura. 7b e 8b). Esta
formação do círculo de células necróticas foi semelhante ao que ocorre em danos
causados pelo hábito alimentar, porém, os furos pois a oviposição era mais rasa, ou seja,
do tamanho de ovos (entre 0,8 a 1,0 mm) (Figura. 8c). Ovos do gênero Sitophilus têm
um tamanho médio de 0,76 × 0,27 mm.
Figura 7: Oviposição e desenvolvimento dos imaturos estágios de Sitophilus zeamais em pêssego: Oviposição (a, b); formação
de galeria na polpa de pêssego (c); larva (d); larvas no último instar (e, f); pupa (g, h). Temperatura 25 ± 1 ° C, UR 70 ± 10% e
fotofase de 14 h
Figura 8: Oviposição e desenvolvimento dos imaturos estágios de Sitophilus zeamais em maçã: Oviposição (a, b);
local de oviposição (c); ovos (d); larva (e); formação de galeria na maçã polpa (f, g); larva no último instar (h); pupa
(i, j). Temperatura 25 ± 1 ° C, UR 70 ± 10% e fotofase de 14 h
A formação de galerias por larvas de S. zeamais em pêssego (Figura 7c e d) e
em maçã (Figura 8e e f) apresentaram comportamento distinto. Algumas larvas
formaram galerias no centro da fruta, enquanto outras permaneceram em a região logo
abaixo do exocarpo do fruto. Isso mostra que as larvas não procuram por nenhuma parte
específica em a fruta (polpa ou sementes) para formar galerias.
A duração do estágio de pupa na maçã foi de 10,5 ± 0,05 d enquanto no pêssego
foi 12,7 ± 0,02 d, e no milho foi de 7,10 ± 0,30 d. No pêssego, observados insetos até
estágio adulto (Figuras. 7g, f, 8i e g), no entanto, houve um processo de desidratação
nas frutas (Figura 7f e g), que provavelmente afetou os estágios larval e pupal,
permitindo, assim, o surgimento de apenas um adulto (pelos dois últimos frutas). Na
maçã, foi observado a presença de adultos mortos, e essa mortalidade foi atribuída ao
apodrecimento dos frutos e subsequente acúmulo de fluido em locais onde as pupas e os
adultos ficaram. Da mesma forma, no pêssego, as pupas e adultos foram encontrados em
uma região interna do fruto, a aproximadamente 30 mm do exocarpo, dificultando a
saída imediata dos gorgulhos dos frutos. Em grãos, devido ao pequeno tamanho dos
grãos, a pupa foi encontrada próximo ao exocarpo, o que facilitou a saída de adultos
após emergência, no entanto, o comportamento observado nos grãos indica que os
adultos pós-emergência permanecem um período dentro dos grãos.
Os autores concluíram o seu estudado com uma novidade através dos resultados
obtidos onde foi demonstrado que S. zeamais pode completar um completo ciclo de vida
com frutas frescas. Além disso, é possível concluir que o dano na maçã e no pêssego faz
não apenas para a alimentação oportunista de adultos, mas também pode ser devido à
oviposição e ao desenvolvimento de estágios imaturos.

Referência
Nörnberg, S. D., Grützmacher, A. D., Bento, J. M. S., Adler, C., & Nava, D. E. (2018).
Unusual behavior of oviposition and development of Sitophilus zeamais (Coleoptera:
Curculionidae) in peach and apple fruits. Phytoparasitica, 46(1), 69-74.

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