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126 Introdução
junho e julho com temperaturas que variaram de 17oC de origem conhecida, assim, elas irão germinar melhor
a 28oC, em algodoal do Agreste Paraibano plantado no e as plantas vão crescer sadias. Neste caso é impor-
espaçamento de 0,80 X 0,20 m e umidade relativa tante obter de agricultores que têm a prática de
variando de 70% a 90%. Os autores verificaram que a produzir e guardar estas sementes.
dessecação, resultado da baixa umidade e alta tempe-
ratura, foi a principal causa da mortalidade natural do Agricultores familiares que produzem algodão
A. grandis em botões florais, confirmando a necessi- agroecológico no estado do Ceará têm cultivado o
algodão 7MH, variedade de ciclo semi-perene que
dade de adequar a época de plantio com alguns fatores
possibilita o cultivo por três anos, com a aplicação da
climáticos que interferem nas populações de pragas.
poda. Na Paraíba, todas as lavouras agroecológicas
têm sido cultivadas com as variedades herbáceas, de
Para as condições da Paraíba, recomenda-se para
ciclo anual, principalmente a BRS 8H, de fibra branca
regiões onde as chuvas se estenda para o meses de
(Figura 2), e BRS Rubi, BRS Safira e BRS Verde,
julho e início de agosto, como a Borborema, um período
naturalmente coloridas. Alguns novos pólos de produ-
de plantio mais tardio, ou seja, na segunda metade do
ção têm apostado em variedades com alto teor de óleo
período chuvoso, com colheita no período seco. Para
(26%), como a BRS Aroeira, também de fibra branca.
os locais onde o período chuvoso se concentra no
primeiro semestre do ano, como o Sertão e Cariri, é
prudente realizar o plantio no início das chuvas, ou
seja, de janeiro a março.
Plantio e Sementes
O plantio do algodão deve ser realizado em áreas com
solos de boa fertilidade natural para garantir um bom
rendimento no momento da colheita. Por essa razão,
no momento do plantio, deve-se escolher áreas de
baixio, onde os solos são melhores e armazenam água
por mais tempo; mas tendo o cuidado para não esco-
lher áreas que encharquem, pois o algodão não tolera.
Quando só existirem no terreno áreas acidentadas,
com declive de até vinte por cento, utilizar as seguin-
tes práticas: o plantio em curva de nível e o Fig. 2. Detalhe do algodão com BRS 8H com línter, após ser
enleiramento de garranchos e muretas de pedras. embebido em água. Remígio, 2007.
O algodoeiro é uma cultura amplamente utilizada pelos assim, melhorar as condições ambientais para o
agricultores em sistemas de consórcios, como a desenvolvimento da cultura (DORIGAN;
associação algodão-feijão tornando-se um sistema ideal SIMÕES,1987). De acordo com este mesmo autor a
de consórcio, pois combina uma leguminosa de ciclo planta ideal para quebra-ventos, deve apresentar porte
rápido com uma malvácea de ciclo longo. Inúmeros ereto, de rápido crescimento, pouco agressiva na
indicadores agroeconômicos tem sido utilizados para competição radicular e de copa não muito densa.
avaliar os sistemas consorciados (BELTRÃO et al., Segundo Dorigan e Simões (1987) a utilização de
2001). quebra-ventos promove uma redução nas perdas de
água do solo por evapotranspiração, aumento da
O sistema algodão + feijão macassar é mais eficiente temperatura do ar e do solo durante o dia, redução nos
quando os consórcios são plantados no mesmo dia danos causados pelo o vento às culturas e controle da
(SILVA et al., 2007a), além de possibilitar uma maior erosão eólica. As barreiras vegetais proporcionam uma
ocorrência de inimigos naturais (SILVA et al., 2007b) maior diversificação das áreas, podem atrair mais
insetos polinizadores, parasitóide e predadores, e
b) Sistema algodão + feijão + milho funcionando como impedimento natural à circulação de
Este sistema de consórcio é amplamente utilizada pelos pragas (Figura 7).
agricultores familiares do Ceará que desde 1993
cultivam algodão agroecológico. No arranjo, além
dessas cultivares são adicionados feijão guandu e
gergelim, além de espécies arbóreas como nim e
leucena (FERNANDES et al., 2004; SOUZA et al.,
2005)
Santos et al, (2007), verificaram efeito benéfico do Apesar dos avanços, enormes desafios precisam ser
sorgo forrageiro (Sorghum spp.) e feijão guandu encarados com mais afinco, entre eles pode-se desta-
(Cajanus cajan), usados como quebra-ventos, quando car o aumento da produtividade, a manutenção da
avaliados a altura de plantas e número de capulhos/ fertilidade dos solos, o expansão das áreas de cultivo,
planta, no entanto sem efeito sobre o rendimento de a certificação e a otimização do convívio com pragas.
fibras. No entanto, Santos et al. (2008) verificaram
que o rendimento do algodoeiro RBS Verde foi signifi- Os sistemas de plantio de algodão agroecológico com
cativamente superior em áreas com o uso de barreiras os diversos consórcios é uma importante estratégia de
vegetadas ou quebra ventos. O rendimento médio foi convivência no Semi-árido no que diz respeito a
de 1030,36 kg ha-1 na área com quebra-vento e produção de alimentos para as famílias agricultoras,
878,26 nos tratamento sem barreiras (Tabela 1). produção de forragem para os animais, diversificação
dos sistemas de cultivo aumentando a resistência ao
Além das vantagens para convivência com as pragas ataque de pragas e doenças e por fim dinamizando a
do algodoeiro, segurança alimentar da família e aumen- renda dos agricultores através das diversas culturas
to da renda, as barreiras vegetadas podem ser exce- produzidas.
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10 Manejo Cultural do Algodoeiro Agroecológico no Semiárido Brasileiro
Circular Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Carlos Alberto Domingues da Silva
Técnica, 126 Embrapa Algodão publicações Secretário-Executivo: Renato Wagner da Costa Rocha
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Fax: (83) 3182 4367 Maria da Conceição Santana Carvalho, Nair Helena
E-mail: sac@cnpa.embrapa.br Castro Arriel, Valdinei Sofiatti, Wirton Macêdo
Coutinho.
1a edição
1a impressão (2009): 500 Expediente Supervisão editorial: Renato Wagner da Costa Rocha.
Revisão de texto: Valter Freire de Castro.
Tratamento das ilustrações: Geraldo F. de S. Filho.
Editoração eletrônica: Geraldo Fernandes de S. Filho.
CGPE 8493