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Visão Geral da Filogenia

das Plantas Verdes

A palavra planta é geralmente usada para designar qualquer


organismo eucarionte e autótrofo capaz de converter energia
luminosa em energia química mediante o processo da fotos-
síntese. Mais especificamente, plantas produzem carboidratos
a partir de dióxido de carbono (C0 2) e da água na presença
de clorofila, no interior de organelas chamadas cloroplastos.
As vezes, o termo planta é ampliado para acomodar as formas autótrofas proca-
riontes, especialmente a linhagem de bactérias conhecida como cianobactérias
(ou algas azul-verdes). Muitos textos clássicos de botânica incluem em plantas
até mesmo os fungos, os quais diferem enormemente das plantas verdes por
serem organismos eucariontes heterótrofos que quebram matéria orgânica viva
ou morta pela ação de enzimas e, então, absorvem os produtos dessa digestão.
Os fungos parecem ser, na verdade, mais relacionados com os animais, outra
linhagem de organismos heterótrofos caracterizada pela capacidade de movi-
mentação e por ingerir outros organismos, digerindo-os internamente.
Neste capítulo, discutimos sucintamente a origem e a evolução das diversas
linhagens evolutivas de plantas, tanto para familiarizar o leitor com estas impor-
tantes ramificações da árvore da vida como também para facilitar a caracteriza-
ção da linhagem das plantas verdes em uma ampla perspectiva filogenética. O
foco principal da discussão está na evolução das plantas verdes, enfatizando as
diversas transições críticas dentro desse grupo e, ma is especificamente, a origem
das plantas terrestres (embriófitas), das p lantas vasculares (traqueófitas), das plan-
tas com sementes (espermatófitas) e das plantas com flores (angiospermas).
Embora o conhecimento sobre as plantas fósseis seja crítico para um enten-
dimento mais completo sobre as mudanças evolutivas ocorridas nas plantas
verdes, e apesar de citarmos no texto importantes registros fósseis, o foco da
discussão está nos grupos atuais de plantas. No Capítulo 8, o leitor encontrará
descrições detalhadas dos principais grupos atuais de plantas vasculares e plan-
tas com sementes, bem como mais informações sobre a biologia dessas plantas.
De forma similar, o Capítulo 9 está focado na apresentação dos atributos das
principais linhagens de plantas com flores e nas suas relações filogenéticas.
154 JUDD, (AMPBELL, KELLOGG, STEVENS & DONOGHUE

Nosso objetivo neste capítulo é fazer um registro dos de plantas vasculares, saber se um táxon é considerado uma
even tos evolutivos que culminaram no surgimento das an- classe ou uma ordem por um autor em particular.
giospermas. Dessa forma, menor ênfase será dada a impor- No geral, a nossa escolha de nomes reflete nosso senso de
tantes linhagens como as clorófitas, os musgos, as licófitas quais destes são mais comumente usados na literatura, criando
e as samambaias e grupos relacionados. Em um contexto assim menos confusões para a compreensão do texto. Sempre
filogenético, poderíamos op tar por "contar" a evolução das que possível, optamos por nomes com terminações que não
plantas verdes, culminando na evolução dos musgos, das indicam categorias taxonômicas, especialmente a terminação
cavalinhas (Echisetum) ou de qualquer outro grupo (O'Hara -fitas, que significa simplesmente "plantas"*. Tentativas no
1992); porém, decidimos relatar o caminho evolutivo até as sentido de criar um novo sistema de nomes para os principais
angiospermas simplesmente porque a diversidade desse gru- clados de plantas vasculares estão em progresso atualmente
po é o foco desse livro. (Cantino et ai. 2007**), e algumas pequenas mudanças no-
Antes de prosseguirmos, é importante tecer um comen- menclaturais foram efetuadas nesta edição para adequar-se
tário sobre os nomes taxonômicos que serão utilizados nes- a esta nova proposta. Ao longo deste livro, nós evitamos usar
te capítulo. O conhecimento sobre as relações filogenéticas nomes que se refiram a grupos não-monofiléticos, mas sem-
en tre as principais linhagens de plantas ainda é incerto, e pre que usamos nomes assim (p. ex., para discutir o seu uso
tal incerteza se reflete na existência de diversos sistemas de histórico) eles são mencionados entre aspas.
classificação discordantes. Muitas vezes, o mesmo nome tem
sido usado para designar diferentes grupos. Por exemplo, o
nome ChJorophyta é utilizado por alguns para designar todo
o clado das plantas verdes, enquanto para outros esse nome
Eventos de endossimbiose
denomina um ramo dentro das plantas verdes que engloba Os cloroplastos encontrados nos eucariontes são organelas
a maioria das tradicionais "algas verdes" . Em outros casos, endossimbióticas derivadas de cianobactérias. Essa hipótese
diferentes nomes têm sido usados para designar um mesmo sobre a origem dos plastídios é hoje fortemente sustentada
grupo; por exemplo, as plantas verdes têm sido chamadas de com base tanto em evidência estrutura] (p. ex., a forma e o
Chlorophyta por alguns autores e de Viridiplantae por outros. número de suas membranas) quanto em estudos moleculares
De maneira geral, tais diferenças refletem as tentativas de vá- demonstrando que o DNA dos plastídios é mais intimamente
rios autores em atribuir categorias taxonômicas a grupos que relacionado ao encontrado em cianobactérias de vida livre do
eles acreditavam ser consistentes. Todavia, como já explicita- que o DNA nuclear da mesma célula vegetal.
do anteriormente (ver Capítulo 2), a atribuição de categorias A endossimbiose envolve reduções massivas no tamanho
taxonômicas é, em essência, arbitrária, e reflete tipicamente e no conteúdo genético do genoma plastidial a partir do ge-
a visão tradicional da comunidade de taxonomistas de maior noma de cianobactérias de vida livre (Delwiche et al. 2004).
relevância em uma determinada época. Assim, taxa incluídos Por exemplo, a cianobactéria de vida livre Nostoc possui um
em uma determinada categoria taxonômica (como classe, or- genoma total de 6.400 quilobases e mais de 6.500 genes, en-
dem ou família) não são necessariamente equivalentes quanto quanto o cloroplasto de algas vermelhas possui apenas 190
à idade, à diversidade de espécies ou à amplitude ecológica. quilobases e 250 genes. Os cloroplastos de algas verdes são
Outros problemas referem-se às mudanças em nosso co- ainda menores na maior parte dos casos conhecidos: cerca de
nhecimento sobre filogenia. Progressos no discernimento so- 120 quilobases e 120 genes. Essa redução envolveu a perda
bre relações entre taxa quase sempre têm resultado na com- completa de alguns genes e a transferência de outros para o
preensão de que grupos tradicionalmente reconhecidos não núcleo celular (p. ex., Martin et al. 2002). Existem muito mais
correspondem, na verdade, a clados. Por exemplo, o nome proteín as ativas no interior de um plastídio (de 500 a 5.000)
Bryophyta tem sido aplicado há muito tempo para designar do que genes, significando que algumas dessas proteínas são
um grupo que inclui as hepáticas, os antóceros e os musgos. produzidas por genes localizados fora dos plastídios.
No entanto, estudos recentes têm demonstrado que esses Quantos eventos endossimbióticos devem ter ocorrido?
grupos provavelmente não formam um clado, e o nome "bri- Evidências filogenéticas recentes são consistentes com a hi-
ófitas" refere-se a um grado, ou grupo parafilético, na base pótese de um evento endossimbiótico principal único (Pal-
das embriófitas (plantas terrestres). mer 2003; Delwiche et al. 2004; Keeling 2004). Por exemplo,
Como enfatizaremos neste capítulo, o mesmo é verdade análises recentes da filogenia dos eucariontes (ver Baldauf
para diversos outros grupos tradicionais, incluindo "algas ver- et ai. 2004) evidenciaram um clado contendo as viridófitas
des", "plantas vasculares sem sementes", "gimnospermas" e (plantas verdes), rodófitas (algas vermelhas) e glaucófitas, às
"dicotiledôneas". Em alguns casos, é possível abandonar in- vezes referido como o clado archaeplastida ou primoplantae
teiramente esses nomes, mas em outros é tentador retê-los, (Figura 7.1). Tal resultado, em combinação com a organiza-
tanto como nomes comuns para descrever algum tipo de in- ção e composição do genoma plastidial e a ocorrência de uma
formação (p. ex., o ciclo de vida das "briófitas") quanto para membrana dupla nos cloroplastos, sugere que um evento
referir-se a um clado (p. ex., usar o nome "gimnospermas" endossimbiótico primário ocorreu no ancestral comum des-
para nomear um clado hipotético contendo apenas as espé- se d ado. Nas glaucófitas, a parede celular das cianobactérias
cies atuais de "plantas com sementes nuas"). ainda envolve o plastídio, mas a parede foi perdida na linha-
Neste capítulo, optamos por não fazer referências a ca- gem que inclui as algas vermelhas e as plantas verdes.
tegorias taxonômicas. Em outras partes deste livro, os dados
principais de plantas vasculares são referidos como ordens
• N. de T. No entanto, o leitor deverá ter presente que os autores uti-
e famílias, e usaremos os mesmos nomes neste capítulo. De lizam outra nomenclatura nos Capítulos 8 e 9 (p. ex., gnetófitas no
forma similar, alguns nomes de gêneros e espécies são ado- Capítulo 8 aparece como gnetales).
tados neste capítulo, quando necessário. Todavia, não consi- •• N. de T. Cantina et ai. (2007) Towards a phylogenetic nomenclature of
deramos importante, em nossa discussão sobre a filogenia Tracheophytes. Taxon 56 (3): 822-846.
SISTEMÁTICA VEGETAL 155

Vida

Eucariontes

Cromalveolados
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-o~ Primoplantae
Unikonta
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u"'
Clorofila b, amido
2º como substância de
1+-----11---'2'-º- - - - - - > . . - - - - - --Ã reserva, estrutura
2º flagelar estrelada,
transferência
genética


Endossimbiose primária
(cianobactérias)

--Núcleo celular, organelas,


e tc., contidos por membranas

FIGURA 7,1 Arvore filogenética da vida, mostrando o posicionamento secundários ou terciários. Uma hipótese recente para os Eucariontes co-
das plantas verdes (viridófitas) e diversas "algas" dentro dos Eucarion- loca a sua raiz no ramo Unikonta, dessa forma separando um dado que
tes, assim como caracteres diagnósticos para vários dados importantes. possuía inicialmente um cílio de um dado que possuía inicialmente dois
As setas vermelhas representam eventos de endossimbiose primários, cílios. BAA, bilhões de anos atrás. (Adaptada de Baldauf et ai. 2004.)

Os plastídios das algas vermelhas e das plantas verdes mistura de diferentes tipos de plastídios, e o cloroplasto, em
apresentam diferenças significativas (p. ex., na estrutura e nos um de seus subgrupos, pode ter se originado a partir de um
mecanismos de captação de luz), o que permite supor com evento endossimbiótico terciário (Yoon et al. 2002).
alto grau de certeza a existência de uma linhagem com plas-
tídios vermelhos e outra com plastídios verdes (Delwiche et
al. 2004; Keeling 2004). Essa distinção auxilia na identifica-
ção de eventos nos quais os plastídios foram adquiridos pela
"Algas" diversas
incorporação permanente de eucarion tes ditos verdes ou O termo algas é aplicado a uma ampla variedade de organis-
vermelhos (ver Figura 7.1). As evidências indicam que os clo- mos aquáticos fotossin tetizantes pertencentes a diversas li-
roplastos de algas vermelhas foram adquiridos a partir da en- nhagens não diretamente relacionadas umas às outras. An tes
dossimbiose secundária na base do dado cromalveolado, que de apresentar uma breve descrição de alguns desses grupos
inclui uma linhagem de cromistas contendo as algas marrons principais de "algas", é importante discorrer rapidamente so-
e diatomáceas, e uma linhagem alveolada contendo os dino- bre a diversidade de ciclos de vida. Em humanos e outros ani-
flagelados e os apicomplexas (como Plasmodium, o parasita da mais, a fase diplóide do ciclo de vida é a dominante, sendo os
malária, que contém remanescentes de plastídios apigmen- gametas as únicas células haplóides (produzidas por meiose).
tados) . Eventos de endossimbiose secundária que envolvem Esse tipo de ciclo de vida ocorre também em plantas, mas
a incorporação de algas verdes como fonte de suprimento muito raramente. Algumas plantas possuem ciclos de vida
energético possivelmente explicam a presença de cloroplastos que são, em essência, o oposto do nosso: um organismo mul-
em euglenóides (dentro de Discicritados) e em cloraracniófi- ticelular haplóide é a fase dominante e dá origem a gametas
tas (dentro de Cercozoa). Os dinoflagelados apresentam uma por mitose; o processo de singamia (fusão dos gametas) dá
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origem a um zigoto diplóide que sofre meiose para gerar es- ceas são organismos unicelulares (embora por vezes possam
poros haplóides. A maioria dos ciclos de vida de organismos formar filamentos frouxos e aglomerados de células) encon-
autótrofos situa-se em uma conclição intermediária entre es- trados em ambientes marinhos e também em água doce. Da
tes dois extremos e apresenta o que é conhecido como alter- mesma forma que as algas pardas, às quais são relacionadas,
nância de gerações - ou seja, uma alternância entre uma fase as diatomáceas possuem clorofila a e e e carotenóides, sen-
multicelular haplóide (o gametófito) e uma fase multicelular do a sua característica mais clistintiva a presença de paredes
cliplóide (o esporófito). celulares formadas por duas valvas silicosas com diferentes
As algas vermelhas (rodófitas) incluem cerca de 6.000 es- graus de ornamentação constituindo uma espécie de peque-
pécies, a maioria das quais habita ambientes marinhos tropi- na caixa. Os flagelos estão ausentes, exceto em alguns game-
cais, incluindo recifes de coral (Saunders e Homersand 2004). tas masculinos.
Além da clorofila a, as algas vermelhas possuem pigmentos Os alveolados incluem os dinoflagelados, os ciliados e os
acessórios chamados ficobilinas, que permitem sua sobrevi- apicomplexas (ver Figura 7.1) e são caracterizados pela pre-
vência em águas profundas, bem abaixo da superfície. Algu - sença de pequenos sacos aderidos à membrana plasmática
mas poucas algas vermelhas são unicelulares, mas a maioria (alvéolos) abaixo da superfície celular. Os dinoflagelados
é filamentosa e se adere às rochas ou a outras algas (algumas (Hackett et al. 2004) incluem cerca de 3.000 espécies descritas,
são até mesmo parasitas). As células que compõem esses fi - encontradas tanto em água doce quanto salgada. Eles pos-
lamentos são conectadas entre si pelo citoplasma através de suem dois flagelos localizados em depressões características
pontoações conspícuas. As algas vermelhas não possuem cé- localizadas entre as placas de celulose embebidas na parede
lulas motoras em nenhum estágio de seu desenvolvimento celular, flagelos estes que fazem a célula girar rapidamente
e, com freqüência, apresentam ciclos de vida extremamente quando movimentados simultaneamente. Muitos dinoflage-
complexos nos quais duas fases diplóides morfológica e eco- lados vivem em simbiose com outros organismos como corais,
logicamente distintas podem existir. Como mencionado an- esponjas, lulas e bivalves gigantes. As formas simbióticas não
teriormente, esse grupo de algas pode ser o grupo-irmão das possuem placas de celulose e são comumente denominadas
plantas verdes, sendo os seus cloroplastos originados de um zooxantelas. Esses organismos apresentam grande importân-
evento de endossimbiose primária que antecedeu a clivergên- cia ecológica em recifes de corais; por exemplo, o fenômeno
cia entre essas duas linhagens. conhecido como branqueamento dos corais envolve a perda
Os cromalveolados incluem os cromistas, que por sua de zooxantelas. Outros clinoflagelados que produzem subs-
vez incluem os estramenópilas, e também os alveolados, que tâncias altamente tóxicas são responsáveis pelas "marés ver-
compreendem os dinoflagelados (ver Figura 7.1). Os estra- melhas" ou "florescimento explosivo de algas", que podem
menópilas incluem as algas pardas e diatomáceas (e diver- ter efeitos dramáticos em outros organismos.
sos outros grupos de algas), junto com os oomicetos, que já
foram considerados anteriormente como fungos (Andersen
2004). O dado dos estramenópilas (às vezes chamado de He- Viridófitas {plantas verdes)
terokonta) é caracterizado pela presença de células reprodu- Conforme representado na Figura 7.2, as tradicionais "algas
tivas com dois tipos de flagelo: um tipo liso e em forma de verdes" estão relacionadas com as plantas terrestres, e juntas
chicote, e o outro em forma de grinalda, com diversos pêlos formam um dado conhecido como plantas verdes (viridófi-
curtos ao longo de seu comprimento. tas). Esse dado inclui mais de 300.000 espécies descritas, ou
As algas pardas (feófitas) formam um dado contendo cerca de um sexto de todas as espécies atuais na Terra. Evi-
cerca de 2.000 espécies descritas de organismos predominan- dências moleculares, incluindo dados de seqüenciamento
temente marinhos, muitos dos quais são conspícuos em re- de DNA (nuclear e de organelas) e características estruturais
giões mais frias. Além das clorofilas a e e, possuem pigmentos (como a transferência de detern1inados genes do cloroplasto
carotenóides que dão a sua cor marrom característica. Todas para o núcleo), sustentam fortemente a monofilia das plantas
as algas pardas são multicelulares, mas tal conclição provavel- verdes. Esse dado também é sustentado por diversas caracte-
mente evoluiu nos estramenópilas a partir de formas unicelu- rísticas químicas e morfológicas, como a perda de ficobilinas
lares. Muitas são filamentosas, porém algumas são bem gran- (presentes em cianobactérias, glaucófitas e algas vermelhas)
des e apresentam uma diferenciação complexa do corpo em e a produção de clorofila b (em adição à clorofila a). Todas as
apressório, estipe, flutuadores e uma ou mais lâminas achata- plantas verdes estocam carboidratos na célula na forma de
das (estruturas fotossintetizantes). Algumas das maiores algas grãos de amido, e suas células motoras possuem uma carac-
apresentam uma considerável diferenciação anatômica, e al- terística estrutura estrelada na base de cada um dos dois fla-
gumas células são até mesmo especializadas para o transporte gelos anteriores em forma de chicote.
de nutrientes. Os ciclos de vida das algas pardas incluem um A maioria das análises filogenéticas (p. ex., Karol et ai.
amplo espectro de variação entre fases haplóides e cliplóides 2001) tem sustentado uma ramificação basal das plantas ver-
morfologicamente similares e fases extremamente cliferencia- des em duas linhagens, as dorófitas, contendo a maioria das
das (geralmente com uma fase cliplóide dominante). Em Fucus "algas verdes", e o dado das estreptófitas, que compreende
e outros gêneros relacionados, a fase haplóide multicelular foi as plantas terrestres e outras linhagens incluídas previamen-
completamente suprimida; nestes casos, a meiose gera game- te nas "algas verdes" (ver Figura 7.2) . Diversas linhagens de
tas diretamente, assim como acontece nos animais. organismos unicelulares com paredes celulares clistintamente
Existem cerca de 6.000 espécies atuais de diatomáce- escalonadas (chamadas de micromônades ou prasinófitas)
as (bacilariófitas), e muitas mais espécies fósseis (cerca de estão situadas na base da árvore filogenética das plantas ver-
40.000). Devido à sua enorme diversidade ainda pouco co- des, e uma destas, Mesostigma, parece ser o grupo-irmão das
nhecida (Norton et ai. 2006), as diatomáceas podem ser con- demais plantas verdes (Turrnel et ai. 2002) ou, mais freqüen -
sideradas os "insetos do mundo microbiano". As diatomá- temente, o grupo-irmão das estreptófitas (Kim et ai. 2006).
SISTEMÁTICA VEGETAL 157

Viridófitas (plantas verdes)

Clorófitas Estreptófitas

"Algas verdes"

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Esporófito multicelular, embrião,


gametângios, esporângio, cutícula
Revestimento do gameta feminino,
morfologia do gameta masculino,
numerosos cloroplastos por célula
Crescimento apical e ramificado, oogamia,
plasmodesmos, retenção do gameta feminino
Fragmoplasto
>470MAA
Crescimento filamentoso

Estrutura flagelar
multiestratificada
e citoesqueleto

Sistema de glicolato oxidase

Clorofila b, amido como substância


de reserva, estrutura flagelar estrelada,
transferência genética

FIGURA 7.2 Filogenia das plantas verdes, mostrando a separação entre clorófi-
tas e estreptófitas a relação entre algumas das tradicionais "algas verdes" com as
embriófitas e os caracteres d iagnósticos para os dados principais. MAA, milhões
de anos atrás. (Adaptada de Karol et ai. 2001 e Delwiche et ai. 2004.)

Clorófitas as do organismo modelo Chlamydomonas (Figura 7.3A,B) .


Dentro das clorófitas existem três clados fortemente susten- Estudos recentes indicam que a história é, na verdade, mais
tados (ver Figura 7.2): Chlorophyceae, U1vophyceae eTrebou- complexa, com a origem independente de diversas linhagens
xiophyceae (Lewis e McCourt 2004). As relações entre esses de fo rmas coloniais, talvez mesmo a partir de Chlamydomo-
clados permanecem incertas, porém a organização genética e nas, que possui centenas de espécies.
outros caracteres moleculares sugerem que as ulvofíceas e as As Ulvophyceae incluem diversas formas marinhas e
clorofíceas sejam grupos-irmãos (Pombet et al. 2005). são caracterizadas pela produção de células multinucleadas
As Chlorophyceae compartilham um conjunto de ca- (Figura 7.3D-F). Em algumas destas, o corpo não possui pa-
racterísticas ultra-estruturais de difícil observação, como a redes separando os núcleos, exceto nas células reprodutivas.
rotação dos corpúsculos basais dos flagelos no sentido horá- Desse grupo faz parte o organismo modeloAcetabu/aria (Fi-
rio, mas têm sido fortemente sustentadas como um dado em gura 7.3F) .
diversos estudos moleculares. Nesse grupo, está incluída a Por fim, as Trebouxiophyceae contêm formas com es-
linhagem de Volvox e gêneros relacionados, que compreende poros flagelados, porém a maior parte dos organismos é pe-
formas coloniais com progressivo grau de complexidade (des- quena e arredondada (forma esta que aparentemente evoluiu
de 4 células em Gonium até 500-50.000 células nas colônias diversas vezes independentemente) e sem células motoras
esféricas de Volvox) . Tradicionalmente, presume-se que tais em nenhum estágio de seu desenvolvimento. Muitas das
formas coloniais tenham derivado de células isoladas como formas sem capacidade motora vivem em hábitats terrestres,
158 JUDD, ( AMPBELL, KELLOGG, STEVENS & D ONOGHUE

(A)
~Flag,1~~
(C)

FIGURA 7.3 Morfologia das clo rófitas. (A-C) Chlorophyceae: (A) Chlamydomonas, evi-
denciando os flagelos. (B) Eudorina, uma forma colonial volvocínea. (C) Stigeoclonium,
uma forma filamentosa ramificada. (D-F) Ulvophyceae: (D) Uiva. (E) Codium, evidencian-
do o talo cenocítico diplóide. (F) Acetabularia. (Fonte: Scagel et ai. 1969.)

geralmente associadas a fungos formadores de líquens ou terrestres do que às demais "algas verdes". Desde então ficou
animais invertebrados. A associação simbiótica entre algas e claro que diversas outras linhagens tradicionalmente incl uí-
fungos formadores de líquens aparenta ser um fenômeno de das nas algas verdes pertenciam, na verdade, ao clado das es-
múl tipla ocorrência e que foi posteriormente perdida diversas treptófitas, incluindo Klebsormidiales e Zygnematales (Lewis
vezes (Lutzoni et al. 2001). e McCourt 2004). As Zygnematales são conhecidas como o
grupo que inclui Spirogt;ra e gêneros relacionados (Figura
Estreptófitas 7.4D-E). Os seus representantes são comwnente conhecidos
como as algas verdes conjugadas, em referência a um tipo de
A descoberta da linhagem das estreptófitas remonta ao final reprodução sexuada que envolve a fo rmação de uma conexão
da década de 1960, quando minuciosos estudos ultra-estrutu- tubular entre as células de filamentos adjacentes, a passagem
rais da divisão celular revelaram pela pri meira vez uma gran- do protoplasto de uma célula para a outra e a even tual fusão
de diferença na orientação dos microtúbulos do fuso entre dos núcleos formando um zigoto.
os organismos que eram tradicionalmen te classificados como As relações filogenéticas entre os grupos de estreptó-
"algas verdes" (Pickett-Heaps 1979; Mattox e Stewart 1984). fitas apresentadas na Figura 7.2 têm sido confirmadas por
Tais estudos mostraram que alguns desses organismos pos- dados moleculares (Karol et al. 2001; Delwiche et al. 2004),
suíam a mesma orientação do fragmoplasto encontrada nas incluindo caracteres estruturais como a transferência de ge-
plantas terrestres, na qual o fuso é orientado de forma per- nes do cloroplasta para o núcleo. Coleochaetales e Charales
pendicular à formação da parede celular. Observações meticu- possuem algumas características funcionais importantes que
losas revelaram que esse tipo de orien tação do fragmoplasto são compartilhadas apenas com as plantas terrestres, como
ocorria nas algas carofíceas (ou "carófitas"): Coleochaetales e a presença de flavonóides e os precursores químicos de uma
Charales. Esses organismos apresentam uma ampla variação cutícula. A retenção do ovo e, em alguns casos, até mesmo
quan to à forma de crescimento (incluindo fo rmas ramificadas do zigoto (depois da fertilização) no corpo da planta haplói-
e eretas, como em Chara e Nitella, e formas achatadas, como de em Coleochaetales e Charales (Graham 1993) é um fator
em Coleochaete) e habitam ambientes de água fresca próximo importante para compreender a evolução do ciclo de vida nas
às margens (Figura 7.4A-C). Como conseqüência dos estu- plantas terrestres.
dos mais detalhados sobre esses organismos, surgiu a idéia Esses resultados filogenéticos tiveram enormes implica-
de que eles eram mais proximamente relacionados às plan tas ções para o nosso en tendimento sobre a evolução das plantas
SISTEMÁTICA VEGETAL 159

FIGURA 7.4 Morfologia das estreptófitas basais. (A) Coleochaete, (D, E) Zygnematales: (D) Spirogyra, forma filamentosa evidenciando
evidenciando um talo haplóide em forma de disco, com setas. (B, C) os cloroplastos helicóides. (E) Staurastrum, um desmídeo unicelular
Charales: (B) Chara, evidenciando um nó com uma estrutura portado- formando duas hemicélulas que representam a imagem espelhada
ra de gametas femininos (acima) e de gametas masculinos (abaixo). uma da outra. (A extraída de Taylor e Taylor 1993; B-E extraídas de
(C) Hábito de Nitella, evidenciando a arquitetura de nós e entrenós. Scagel et ai. 1969.)

verdes. Primeiramente, eles sugerem que a multicelularidade lula diplóide no ciclo de vida é o zigoto, resultado da fertiliza-
surgiu de forma independente repetidas vezes. Como já foi ção de um gameta feminino grande e imóvel por um gameta
salien tado, a forma dos volvocíneos está relacionada a uma masculino menor e móvel.
estratégia de vida na qual as células agregam-se na forma de
colônias. As maiores colônias possuem conexões citoplasmá-
ticas e divisões de tarefas, com algumas células especializadas Embriófitas (plantas terrestres)
na reprodução. Outras clorófitas formam corpos filamento -
As plantas terrestres são ilustradas como oriundas de um
sos ou membranáceas e parenquimatosos de tamanho ainda
único ancestral comum na Figura 7.2, uma descoberta que é
maior (como a alface do mar, Uiva, e gêneros relacionados),
apresentando uma integração morfológica ainda mais com- fortemente sustentada por evidência molecular e morfológica
plexa e a diferenciação funcional de grupos celulares. As Ul- (Keruick e Crane 1997a,b; Karol et al. 2001; Wolf et al. 2005;
volphyceae seguiram um caminho evolutivo distinto com a Qiu et ai. 2006). As plantas terrestres também são denomi-
formação de células mulhnucleadas, às vezes formando fila- nadas embriófitas, porque possuem um embrião de duração
mentos, e outras (como Codium) formando um talo a partir variada, que constitui o esporófito jovem. É mais adequado
do enrolamento desses filamentos. Por fim, a multicelulari- usar o termo Embriophyta, ou embriófitas, do que plan tas ter-
dade evoluiu separadamente na linhagem das estreptófitas. restres para designar esse grupo, pois diversas linhagens de
Muitas Zygnematales são filamentosas, e formas parenqui- algas (p. ex., algumas Trebouxiophyceae) colonizaram inde-
matosas (com as células adjacen tes conectadas por plasmo - pendentemente (embora de forma menos conspícua) o am-
desmas) são encontradas nas linhagens de carofíceas e nas biente terrestre. Além do embrião, as embriófitas são carac-
plantas terrestres. terizadas pela produção de um esporófito multicelular, pelas
As primeiras linhagens a se diversificarem dentro das estruturas reprodutivas também multicelulares (gametângios
plantas verdes também apresentam diferenças significativas e esporângios), pela presença de uma cutícula e pelos esporos
quanto ao ciclo de vida. A alternância de gerações haplóides com paredes espessadas e com cicatrizes ou marcas triletes
(gametófitos) e diplóides (esporófitos) similares (como em características (ver Figura 7.7A).
Uiva) é um fenômeno bastante comum. Por outro lado, Co- Tradicionalmente, as embriófitas têm sido classificadas
dium apresenta um ciclo de vida como o dos seres humanos, em dois grandes grupos: briófitas e plantas vasculares. Exis-
no qual os gametas são as únicas células haplóides. Nas li - tem três linhagens principais de briófitas - hepáticas, musgos
nhagens de carofíceas, as plantas são haplóides, e a única cé- e antóceros - que serão apresentadas brevemente nos próxi-
160 JUDD, (AMPBELL, KELLOGG, STEVENS & D ONOGHUE

(G)

FIGURA 7.5 Morfologia das embriófitas basais ("briófitas"). (A, B) antes de sua abertura. (E) Ápice do esporângio deiscente de Fontina/is
Hepáticas: (A) Uma hepática foliácea, Lepidozia reptans, evidenciando antipyretica, evidenciando os dentes do peristômio. (F, G) Antóceros:
a deiscência dos esporângios por quatro valvas. (B) Porção de uma (F) Hábito de Phaeoceros laevis, evidenciando o gametófito taloso e
hepática talosa, Monoclea fo rsteri, evidenciando os esporângios com o esporófito com esporângios deiscentes. (G) Estômato com células-
deiscência longitudinal. (C-E) Musgos: (C) Hábito de Dawsonia superba, guarda, da parede do esporângio de Anthoceros. (A-B, 0-G extraídas de
evidenciando o gametófito fol hoso e ereto, e esporófito não ramifica- Scagel et ai. 1969; C extraída de Barnes 1998.)
do com esporâng io terminal. (D) Esporângio (cápsula) de um musgo

mos parágrafos (ver também Shaw e Goffinet 2000; Shaw e portando oosferas. A fase esporofítica, com o seu esporân-
Renzaglia 2004). Como veremos, as evidências indicam cada gio tem1inal, é consideravelmente pequena e inconspícua. A
vez mais a parafilia das "briófitas" em relação às plantas vas- cápsula do esporângio abre-se tipicamente por quatro valvas,
culares (ver Figura 7.6). e células estéreis e higroscópicas entre os esporos (elatérios)
podem ajudar na sua dispersão.
Hepáticas
Existem cerca de 8.000 espécies atuais de hepáticas, que Musgos
podem ter uma forma talosa ou, mais comumente, folhosa Os musgos são, provavelmente, o grupo de "briófitas" mais
(Figura 7.SA,B). Diferentemente dos musgos e dos antóce- conhecido e diversificado, com cerca de 10.000 espécies. O
ros, as hepáticas não possuem estômatos, embora algumas garnetófito folhoso e ereto é a fase dominante no ciclo de vida
espécies tenham poros na epiderme sem células-guarda dos musgos (Figura 7.SC) . O esporófito, por sua vez, forma
verdadeiras. As hepáticas também não possuem uma massa uma estrutura talosa simples e não-ramificada com um es-
colunar de tecido estéril (columela) no esporângio, que está porângio (ou cápsula) terminal (Figura 7.SD). Os esporos ha-
presente nos musgos, antóceros e nas primeiras linhagens a plóides, produzidos por meio da meiose, são liberados pelo
divergirem nas plantas vasculares. Esse conjunto de caracte- esporângio; tipicamente, a deiscência do esporângio ocorre
rísticas das hepáticas tem sido interpretado como ancestral pela abertura de uma tampa ou opérculo.
nas embriófitas. Quando um esporo germina, ele adquire uma forma cha-
A reprodução sexuada das hepáticas envolve a forma- mada protonema, que se assemelha a um filamento de alga
ção de anterídios produtores de anterozóides e arquegônios verde. O protonema produz um ou mais gametófitos folhosos
SISTEMÁTICA VEGETAL 161

e verticais, que por fim produzem os anterozóides e oosferas ca derivada desse grupo inteiramente taloso é a presença de
nos anterídios e arquegônios, respectivamente. A fusão dos um meristema na base da cápsula do esporófito. A atividade
gametas gera um zigoto que se desenvolve em um embrião a desse meristema explica o crescimento vertical e contínuo da
partir de divisões mitóticas sucessivas e, posteriormente, em cápsula, que é particularmente desenvolvida em alguns gru-
um esporófito maduro. pos (p. ex.,Anthoceros).
A análise das relações filogenéticas entre os musgos tem
freqüentemente sustentado a hipótese de que Sphagnum está Relações filogenéticas entre as embriófitas
posicionado próximo à base da árvore e que Andreaea e al-
Análises filogenéticas das plantas terrestres baseadas em uma
guns poucos gêneros relacionados também formam um dado
amostragem representativa de espécies têm demonstrado
de divergência precoce no grupo (ver Kenrick e Crane 1997a;
que as "briófitas" são parafiléticas. Todavia, as relações entre
Qiu et ai. 2006). O enigmático gênero Takakia, considerado
os seus grupos constituintes ainda são incertas. Análises mor-
uma hepática até a descoberta recente de sua geração espo-
fológicas que precederam os estudos filogenéticos baseados
rofítica, aparenta estar relacionado a Sphagnum. O esporângio
em dados moleculares sustentavam uma divergência inicial
de Andreaea se abre por quatro fendas longitudinais, e o de
das hepáticas em relação às demais "briófitas" (Figura 7.6A)
Takakia, por uma fenda helicoidal única, em con traste com
o opérculo em forma de tampa presente na grande maioria e posicionavam os musgos como o grupo-irmão das plantas
vasculares (Mishler e Churchill 1985). Sob essa óptica, os es-
dos musgos. O opérculo, na maior parte dos musgos, é geral-
tômatos são considerados uma novidade evolutiva ligando os
mente caracterizado pela presença de uma fileira distinta de
antóceros, os musgos e as plantas vasculares, excluindo as he-
estruturas dentiformes que, em conjunto, constituem o peris-
páticas. De forma complementar, os hidróides e os leptóides,
tômio (Figura 7.5E).
células especializadas presentes no caule dos musgos (tanto
no gametófito quanto no esporófito em algumas espécies),
Antóceros foram interpretados como precursores das células conduto-
Existem poucas espécies atuais de antóceros, cerca de 100 ras de água e nutrientes das plantas vasculares. Tanto musgos
(Figura 7.5F,G), encontradas em menor freqüência do que como plantas vasculares apresentam esporófitos que crescem
espécies de musgos e hepá ticas. Uma provável característi - em tamanho a partir de divisões celulares em um meristema

(B)
Embriófitas (plantas terrestres)

"Briófitas" Poliesporangiófitas

"'B
·. e
'"'
o..
:e
Q)

(A)
"Briófitas"
Tecido vascular, xilema
"'"'u "'8 com traqueídes
·.e
.~
Q)

'"'o.. >425MAA
:r: ~
Q)

Esporófito independente,
ramificado

Meristema apical
no esporófito

Esporófito multicelular, embrião,


gametângios, esporângios, cutícula

FIGURA 7,6 Relações filog e néticas na base das embriófitas (plantas briófitas (hepáticas, musgos e antóceros) estão relacionadas às plan-
terrestres), mostrando os caracteres que distinguem os principais tas vasculares. MAA, milhões d e anos atrás. (A, adaptada de Mishler e
clados, sob duas hipóteses alternativas sobre como as linhagens de Churchill 1985; B, adaptada de Qiu et ai. 2006.)
162 JUDD, (AMPBELL, KELLOGG, STEVENS & DONOGHUE

apical, e as primeiras plantas vasculares possuíam gametófi- Nas embriófitas, a oosfera - e, depois da fertilização, o em-
tos eretos, da mesma forma que os musgos. brião - é protegida por uma estrutura multicelular chamada
Diversos estudos moleculares recentes, no entanto - de arquegônio, enquanto o anterozóide é produzido e protegido
forma isolada ou combinados a uma variedade de caracteres por uma estrutura multicelular chan1ada anterídio. Inicial-
ultra-estruturais (especialmente da ultra-estrutura do ante- mente, a geração gametofítica era a dominante, como ainda
rozóide) - têm sugerido hipóteses alternativas. Em algumas pode ser observado nas hepáticas, nos antóceros e nos musgos
árvores filogenéticas, os antóceros aparecem como grupo-ir- atuais, enquanto o esporófito permanecia ligado e era nutricio-
mão das demais plantas terrestres atuais, e um dado conten- nalmente dependente do gametófito (embora tal dependência
do as hepáticas e musgos é sustentado como o grupo-irmão seja um pouco menor nos antóceros; Qiu et ai. 2006). Em plan-
das plantas vasculares (p. ex., Renzaglia et al. 2000). Análises tas vasculares, o esporófito torna-se dominante e nutricional-
mais recentes (p. ex., Qiu et ai. 2006) dão suporte à filoge- mente independente, processo este associado a uma redução
nia ilustrada na Figura 7.6B, na qual as hepáticas formam o no tamanho do gametófito (Kenrick e Crane 1997a,b).
giupo-irmão das demais embriófitas e os antóceros consti- Tais descobertas nos permitem estimar o tempo trans-
tuem o grupo-irmão das plantas vasculares. Tal hipótese é corrido entre os principais eventos evolutivos em embriófitas
consistente com a uma única origem dos estômatos, embora (ver Figuras 7.1, 7.2 e 7.6). As plantas verdes possivelmente
os rudróides e leptóides dos musgos sejam, por conseqüência, originaram-se há um bilhão de anos, talvez mais, e as suas
não homólogos com os traqueídes e as células crivadas das principais linhagens já existiam durante o Pré-Cambriano
plantas vasculares (Ligrone et ai. 2000) e a haste do esporófito (Heckman et ai. 2001). Uma variedade de clorófitas fósseis
dos musgos provavelmente não seja homóloga com o caule foi encontrada datando do Cambriano (cerca de 550 milhões
das plantas vasculares (Kato e Akiyama 2005). de anos atrás), assim como fósseis bem preservados de Ul-
vophyceae secretoras de muco, incluindo organismos rela-
Transição para o ambiente terrestre cionados à Acetabularia. As "carófitas" (na forma de Charales
calcificadas) não aparecem no registro fóssil até o Siluriano
O conhecimento filogenético permite compreender melhor a
médio, porém a disseminação das plantas terrestres no am-
origem de diversas adaptações cruciais para a sobrevivência
biente terrestre provavelmente iniciou -se no Ordoviciano
no ambiente terrestre (Graham 1993; Waters 2003).A cutícula
médio, há cerca de 470 milhões de anos (Wellman et al. 2003;
e a esporopolenina (presente na espessa parede dos esporos)
Sanderson 2003). Esporos dessa mesma época também fo-
aparentam ser respostas evolutivas para evitar a dessecação. ram encontrados (e possivelmente até de períodos anterio-
A troca gasosa é facilitada pela existência de pequenos poros res, no Cambriano), às vezes na forma de tétrades ou díades
na epiderme ou por estômatos genuínos, com células-guarda
(pacotes de quatro ou dois, respectivamente), similares aos
que podem abrir ou fechar de acordo com as condições do
encontrados em formas atuais de hepáticas. Pequenos frag-
ambiente e, dessa forma, regular a perda de água. Os flavo-
mentos de cutícula e estruturas tubulares de origem vegetal
nóides auxiliam na absorção dos raios ultravioleta, altan1ente
do Ordoviciano também são conhecidos, e esporos indivi-
danosos. Um sistema de glicolato carboxilase atua na inibi-
duais com as características marcas triletes das plantas vas-
ção da fixação do dióxido de carbono pelo oxigênio, presente
culares (Figura 7.7A) datados do Siluriano inferior já foram
em quantidades maiores no ar do que na água. As primeiras
coletados. Com base nessas evidências, é provável que he-
plantas terrestres provavelmente dependiam de relações sim-
páticas, musgos, antóceros e plantas vasculares já existissem
bióticas com fungos para obter nutrientes do solo, sendo que
no Ordoviciano superior. Em algum momento posterior, no
relações desse tipo têm sido documentadas nas principais li-
início do Siluriano médio, macrofósseis bem preservados
nhagens de "briófitas" e também de plantas vasculares (nas
representativos da linhagem de plantas vasculares têm sido
quais elas são onipresentes). Os precursores de várias dessas
achados. A ocupação do ambiente terrestre estava em pleno
adaptações podem ser encontrados entre as Coleochaetales e
andamento nesse período.
Charales, que assim aparentam ter sido pré-adaptadas para
fazer a transição para o ambiente terrestre (Graham 1993).
O conhecimento da parafilia das tradicionais "algas ver-
des" e das "briófitas" tem auxiliado sobremaneira na com- Traqueófitas {plantas vasculares)
preensão da origem do ciclo de vida característico das plantas As primeiras plantas terrestres eram pequenas e estrutural-
terrestres, ocorrendo a alternância das gerações gametofítica mente muito simples. No caso particular da linhagem das
e esporofítica, ambas multicelulares (Graham 1993). Em Co- plantas vasculares, o esporófito consistia basicamente em
leochaetales e Charales, a oosfera é retida na planta parental um caule dicotomicamente ramificado, inicialmente com o
haplóide, enquanto em Coleochaete o zigoto (o único estágio tamanho de uma caixa de fósforos, e com os esporângios (o
diplóide) também permanece na planta parental até sofrer a local de produção dos esporos haplóides via divisões meióti-
divisão meiótica que dará origem aos esporos haplóides. Uma cas) formados no ápice dos ramos (Figura 7.7B,C). Tais plan-
inovação-chave na linhagem que deu origem às carofíceas e tas não possuíam folhas ou raízes. Em alguns casos (p. ex.,
embriófitas foi o estabelecimento do transporte de nutrien- Aglaophyton, conhecido anteriormente como Rhynia, da re-
tes entre as fases haplóide e diplóide por um tecido placentar gião do "Rhyrue chert", na Escócia), o estado de preservação
de transferência (Graham e Wilcox 2000). O ciclo de vida das dessas plantas é espetacular, sendo possível discernir mui-
plantas terrestres é provavelmente derivado de uma condição tos detalhes anatômicos, como estômatos, esporos e tecido
ancestral similar a atualmente encontrada nas carofíceas, a vascular no interior do caul e. Esses fósseis revelaram que as
partir de um simples atraso na divisão meiótica e interpola- primeiras poliesporangiófitas - plantas com esporófitos ra-
ção de uma fase multicelular diplóide por uma série de divi- mificados - não possuíam células condutoras de água espe-
sões mitóticas do zigoto. cializadas (traqueídes) no tecido do xilema e, dessa forma,
SISTEMÁTICA V EGETAL 163

FIGURA 7,7 Fósseis das primeiras poliespo-


rang iófitas. (A) Esporos de Aglaophyton major
orga nizados em tétrades, e um esporo isolado
de paredes espessas com as marcas triletes ca-
racterísticas das p lant as vasculares. (B) Recons-
tituição de A. major, evidenciando o caule com
ramificações dicotõmicas (sem folhas ou raízes)
e esporãngios terminais. (C) Visão aumentada de
esporângio terminal de A. major, com esporos no
interior. (D) Reconstituição de Uskiella spargens,
evidenciando o caule d icotom icamente rami-
ficado e esporângios termina is com deiscência
d istal. (E) Reconst ituição de um gametófito do
Devoniano, Sciadophyton sp.; os gametângios es-
tão p resentes nas estruturas terminais em forma
de d isco. (A-C extraídas de Stewart 1983; D e E
extraídas de Kenrick e Crane 1997a.)

dependiam da pressão de turgor para permanecerem eretas Em anos recentes, meticulosos estudos paleobotânicos
(Kenrick e Crane 1997a). Células condutoras de água ver- revelaram que alguns fósseis antigos de plantas terrestres são
dadeiras evoluíram em algum momento posterior e caracte- na realidade gametófitos haplóides portando anterídios e ar-
rizam as plantas vasculares verdadeiras: as traqueófitas ou quegônios, aparentemente em plantas separadas (Remy et ai.
Tracheophyta. 1993; Taylor et ai. 2005). Esses organismos fósseis são notá-
Traqueídes são células alongadas com paredes espessa- veis devido a seu grande tamanho, porte ereto e presença de
das e mortas na maturidade. No ponto em que um traqueíde ramificações, que de certa forma assemelham-se à fase espo-
conecta com o seguinte, existem aberturas características, ou rofítica do ciclo de vida (Figura 7.7E) . Tal achado resultou na
pontuações; todavia, um campo primário de pontoação (pa- visão de que os primeiros membros da linhagem de plantas
rede celular primária) permanece intacto nessa área, e a água vasculares exibiam gerações haplóides e diplóides basta nte
deve atravessá -lo no seu movimento de passagem de uma similares. Assim, comparando com os grupos de "briófitas",
célula à outra. Os traqueídes das primeiras traqueófita s eram parece que tanto a geração gametofítica quanto a esporofítica
de um tipo distinto, no qual a parede celular apresentava ape- eram complexas no início.
nas uma camada bem fina, resistente à deterioração (proteção Esse conhecimento nos permite reconstruir, com algu-
conferida pela lignificação das fibras de celulose). Paredes ce- ma certeza, a seqüência de eventos que originou o ciclo de
lulares com uma maior resistência à deterioração caracterizam vida das plantas vasculares atuais. Tal ciclo inclui uma dramá-
um d ado mais interno, que comporta todas as plantas vascu- tica redução na fase gametofítica e um aumento notável de
lares atuais (Kenrick e Crane 1997a). Nessas espécies, traque- complexidade estrutural da fase esporofítica. Nas primeiras
ídes fortemente lignificados permitem uma condução de água plantas vasculares, o gametófito era nutricionalmente inde-
mais eficiente e fornecem sustentação interna, permitindo que pendente do esporófito, uma condição retida ainda hoje nas
as plantas cresçam consideravelmente em altura. linhagens das samambaias e licófitas. Confotme prosseguia a
164 JUDD, (AMPBELL, KELLOGG, STEVENS & DONOGHUE

evolução das plantas com sementes, no entanto, o gametófito lhor protegidos contra mutações deletérias do que os orga-
tornou-se mais e mais reduzido e, por fim, ficou completa- nismos haplóides. Todavia, uma hipótese alternativa defen-
mente dependente do esporófito. de que o esporófito não sofre restrições para aumentar em
Neste contexto, os grupos de "briófitas" (especialmente tamanho (o que era vantajoso na competição por luz e que
os musgos) e as plantas vasculares parecem ter explorado também pode ter aumentado o potencial de dispersão de es-
diferentes mecanismos para aumentar o número de esporos poros), enquanto o gametófito é dependente da água para a
produzidos por evento de fertilização (Mishler e ChurchiU fertilização, uma vez que o gameta masculino deve deslocar-
1985). Nos musgos, o acréscimo na produção de esporos se se em um meio líquido para alcançar a oosfera.
deve à existência de um estágio filamentoso (o protonema) As relações filogenéticas entre as principais linhagens de
com capacidade de produzir numerosos gametófitos folho - plantas vasculares atuais são ilustradas na Figura 7.8. A árvo-
sos e não ramificados, cada um destes portando um único re apresentada nessa figura é baseada em evidências tanto
esporófito não ramificado com um esporângio terminal. Na moleculares quanto morfológicas, sendo a maioria das linha-
linhagem das plantas vasculares, em contraste, o número de gens fortemente sustentada (Doyle 1998; Pryer et al. 2004a).
esporângios foi aumentado pela ramificação do esporófito, A divergência basal, que ocorreu do Devoniano inferior ao
sendo que cada ápice caulinar possui o potencial de originar médio (antes de 400 milhões de anos atrás), separou um
um esporângio terminal. clado contendo a linhagem das licófitas modernas de outro
Que fatores podem ter favorecido a elaboração da fasees - dado, denominado eufilófitas, que incluiu as demais linha-
porofftica em detrimento da fase gametofítica (que se tornou gens atuais de plantas vasculares. Essa divergência é marcada
progressivamente especializada para a reprodução sexuada)? por um número considerável de caracteósticas morfológicas.
Uma hipótese sugere que os organismos diplóides estão me- Uma característica notável é a presença de gametas masculi-

Traqueófitas (plantas vasculares)

Licófitas Eufilófitas

Isoetopsida Monilófitas Lignófitas


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Micrófilos

Esporângios laterais
e reniformes
Xilema secundário Qenho)

Deiscência transversal do Inversão no cloroplasto, gameta


esporângio dorsiventral masculino multiflagelado

FIGURA 7.8 Filogenia das traqueófitas (plantas


vasculares), evidenciando uma separação inicial Crescimento pseudomonopodial,
entre a linhagem das licófitas e a linhagem das esporângios no ápice de
ramos laterais
eufilófitas, a relação entre algumas das tradicio-
nais "p lantas vasculares sem sementes"(monilófi-
tas e as extintas "pró-gimnospermas'; aneurófitas
e Archaeopteris) com as espermatófitas (plantas
com sementes), e caracteres diagnósticos dos Traqueídes fortemente lignificados
p rincipais clados. MAA, mi lhões de anos atrás;
t , taxa extintos. (Adaptada de Pryer et ai. 2001, Tecido vascular, xilema
2004b; Qiu et ai. 2006.) com traqueídes
SISTEMÁTICA V EGETAL 165

nos multiflagelados nas eufilófitas, em oposição aos gametas dado que inclui as licófitas gigantes do Carbonífero, embora
biflagelados das linhagens de briófitas e licófitas (exceto em o gênero possa ter derivado de plantas dessa linhagem que
Isoetes e Phylloglossum, nos quais gametas multiflagelados nunca alcançaram o tamanho de Lepidodendron e outros gê-
evoluíram independentemente). Além disso, uma forte evi- neros com grandes árvores. Isoetes reteve o câmbio vascular e
dência molecular dessa divisão inicial é a presença de uma alguma atividade de crescimento secundário e possui raízes
inversão de 30 quilobases no DNA de cloroplasto exclusiva- adventícias que lembram as destas grandes árvores extintas
mente nas eufilófitas modernas (Raubeson e Jansen 1992; (Figura 7.9D.
Wolf et ai. 2005).
Eufilófitas
Licófitas A linhagem que inclui as e ufilófitas modernas, ou Eu-
A linhagem que inclui as licófitas atuais, ou Lycopodiophy ta phy llophyta (ver Figura 7.8), é caracterizada pela diferen-
(Lycophyta) (Figuras 7.8 e 7.9A-C; ver também as Figuras 8.1 ciação entre o eixo principal e os ramos laterais (crescimento
e 8.2), apareceram no registro fóssil logo após o surgimento pseudomonopodial), um importante padrão de crescimento
das primeiras plantas vasculares. As licófitas são caracteriza- observado pela primeira vez em uma variedade de fósseis do
das pela posição lateral, pelo formato reniforme e pela deis- Devoniano conhecidos como trimerófitas (Figura 7.10A; ver
cência transversal dos esporângios. Os m icrófilos (pequenas Donoghue 2005). De acordo com a "teoria do teloma" (Zim-
folhas com uma única nervura) são exclusivos dessa linhagem mermann 1965), os megáfilos (as folhas grandes caracte-
(possivelmente a partir de esporângios laterais modificados), rísticas das eufilófitas) são derivados de sistemas de ramos
assim como ramos dicotomicamente ramificados. Durante o laterais achatados. Essa derivação envolveu o achatamento
período Carbonífero, as Licófitas eram particularmente diver- dos ramos e sua posterior reticulação para formar a lâmina
sas e abundantes, dominando as margens de áreas brejosas foliar. Tudo leva a crer que as folhas evoluíram independen-
nas terras baixas tropicais (Bateman et ai. 1998). Os remanes- temente, e por diferentes processos, nas licófitas e nas eufiló-
centes dessas plantas são o principal componente dos depó- fitas. Mesmo dentro das eufilófitas, é possível que megáfilos
sitos de carvão. laminares tenham-se originado independentemente repeti -
Algumas licófitas, como Lepidodendron, eram árvores de das vezes (p. ex., nas samambaias, equisetófitas e nas plantas
grande porte, nas quais o crescimento secundário permitiu com sementes), em cada caso pela ação de um meristema
um aumento em circunferência (Figura 7.9D). Os caules des- localizado na margem do órgão em desenvolvimento (Boyce
sas plantas eram recobertos de rnicrófilos, que deixavam as e Knoll 2002).
bases foliares típicas observadas em fósseis (Figura 7.9E). As eufilófitas atuais estão organizadas em dois dados
Essas plantas também desenvolveram o assim denominado principais (ver Figura 7.8): o das plantas com sementes (es-
sistema radicular "stigmariano", um sistema provavelmente permatófitas ou Spermatophyta) e um dado que inclui
derivado de rizomas e no qual as raízes adventícias organi- diversas linhagens de "samambaias", as cavalinhas e as Psi-
zadas em espiral seriam folhas modificadas. Os padrões de lotales (monilófitas ou Monylophy ta). Essa nova visão das
crescimento dessas plantas de grande porte ainda são pouco relações entre as eufilófitas é sustentada tanto por caracteres
conhecidos, mas é provável que elas aumentassem lenta- morfológicos quanto por caracteres moleculares de genes nu-
mente em tamanho em um primeiro momento (durante o cleares e do cloroplasto (Pryer et ai. 2004b; Rothwell e Nixon
estabelecimento do sistema radicular), crescessem em segui- 2006). São reconhecidas cinco linhagens principais dentro
da de forma rápida e possivelmente morressem após a for- das monilófitas, cada uma discutida brevemente a seguir: (1)
mação dos estróbilos (estruturas cônicas) no ápice de todos samambaias leptosporangiadas (Leptosporangiatae), (2) Ma-
os ramos simultaneamente (Philips e DiMichele 1992; ver rattiales, (3) Ophioglossales, (4) Psilotales e (5) equisetófitas
também Donoghue 2005). (ver também Capítulo 8).
Existem atualmente cerca de 1.200 espécies de licófitas O nome samambaia tem sido tradicionalmente aplicado
pertencentes a diversas linhagens principais (ver Figuras 7.8 aos membros de três dessas linhagens: Leptosporangiatae,
e 7.9). Espécies rizomatosas de Huperzia e Lycopodium são Marattiales e Ophioglossales. As plantas desses grupos são
comumente encontradas nas florestas do Hemisfério Norte. superficialmente similares pela presença de folhas grandes
Essas plantas e seus parentes tropicais são homosporadas, (muitas vezes bastante divididas) e frondosas que se abrem
pois produzem apenas um tipo de esporo que dá origem a a partir de um báculo (vernação circinada). As três linhagens
um gametófito bissexuado capaz de produzir gametas mas- são tradicionalmente divididas em dois grupos com base na
culinos e femininos. estrutura e no desenvolvimento dos esporângios. As Marat-
As outras licófitas atuais (Selaginella, Isoetes) são heteros- tiales (Figura 7.10B,C) e as Ophioglossales são chamadas de
poradas, pois produzem tanto micrósporos, que dão origem samambaias eusporangiadas, pois parecem ter preservado
aos gametófitos masculinos, quanto macrósporos, que dão a condição ancestral em que o esporângio desenvolve-se
origem aos gametófitos femininos. Os taxa heterosporados a partir de muitas células iniciais e apresenta uma parede
formam um dado (Isoetopsida; ver Figura 7.8) que também é com mais de uma célula de espessura quando plenamente
sustentado pela associação entre uma prega ou tecido foliar desenvolvido. Esporângios desse tipo tendem a conter um
(a lígula) e o lado adaxial da base foliar. grande número de esporos haplóides na maturidade. Por
Selagine/la (ver Figura 7.9F-I), com aproximadamente outro lado, as samambaias leptosporangiadas possuem um
700 espécies, é um gênero bastante diversificado nos trópi- tipo derivado de desenvolvimento no qual o esporângio é
cos, onde muitas espécies crescem como epífitas. Isoetes, com formado a partir de uma única célula inicial e possui uma
cerca de 150 espécies, é o único remanescente atual de um parede com uma célula de espessura na maturidade. Esses
166 JUDD, (AMPBELL, KELLOGG, STEVENS & DONOGHUE

FIGURA 7.9 Morfologia das licófitas e taxa relacionados. (A) Recons- caule de Lepidodendron sp., evidenciando três micrófilos aderidos e as
tituição da espécie extinta Zosterophyflum deciduum, evidenciando o cicatrizes deixadas pela abscisão de cinco outros. (F) Ápice do ramo
rizoma prestado portando ápices eretos e sem folhas com esporângios de Selaginefla, evidenciando os micrófilos e um estróbilo terminal. (G)
reniformes laterais. (B) Reconstituição da espécie extinta Asteroxyfon Microsporângio de Sefaginefla na axila de um microsporófilo. (H) Me-
mackiei, evidenciando os caules eretos e dicotomicamente ramifica- gasporângio de Sefaginefla na axila de um megasporófilo. (1) Corte lon-
dos recobertos por micrófilos, assim como os eixos semelhantes a raí- gitudinal de um estróbilo de Sefaginefla harrisiana, evidenciando um
zes. (C) A. mackiei, evidenciando parte de eixo fértil com esporângios megasporângio (me) com quatro grandes megásporos, um microspo-
reniformes de deiscência transversal. (D) Reconstituição de uma espé- rângio (mi) com diversos micrósporos pequenos, e lígulas. (J) Hábito
cie extinta de Lepidodendron sp., evidenciando o sistema "radicular" de /soetes bolanderi, evidenciando as folhas e raízes. (A e J extraídas de
dicotomicamente ramificado, o tronco massivo com ramificação dico- Kenrick e Crane 1997a; B, C e I extraídas de Stewart 1983; D e E extraí-
tômica no ápice e os estróbilos terminais. (E) Porção da superfície do das de Gifford e Forster 1989; F-H extraídas de Sarnes 1998.)
SISTEMÁTICA V EGETAL 167

FIGURA 7.10 Morfologia de d iversas eufi lófitas. (A) A trimerófita um aglomerado de eusporângios. (D) Represent ação esquemática de
extinta Psilophyton forbesii, mostrando o crescimento pseudomono- uma equisetófita arbórea extinta, Calamites, mostrando o rizoma ro-
pod ial (diferenciação entre um tronco principal e ramos laterais). (B) b usto e os troncos altos, eretos e ramificados. (A extraída de Stewart
Folhas grandes e arqueadas de Angiopteris (Marattiales). (C) Superfí- 1983; B extraída de Barnes 1998; C e D extraídas de Gifford e Forster
cie abaxial (inferior) de um fo líolo fértil de Angiopteris, evidenciando 1989.)

leptosporângios nascem em um pedú nculo distinto e pos- de coração, com os arquegônios dispostos próximo ao sulco
suem uma estrutura característica chamada de ânulo, que desse "coração", e os anterídios, entre rizóides característi-
consiste em u ma fileira de células com as paredes internas cos. A estrutura do gametófito, no en tanto, apresenta uma
espessadas e as paredes externas mais finas (ver Figura considerável variação, e em algumas samambaias ele é até
8.13). Os lep tosporângios da maioria das espécies contêm mesmo filamentoso.
um número relativamente pequeno e constante de esporos Dentro da linhagem leptosporangiada, estudos morfo-
haplóides (p. ex., 16, 32, 64), que são ejetados do esporângio lógicos e moleculares recen tes iden tificaram diversos ela-
por um mecanismo acionado por mudanças no teor de umi- dos dignos de n ota (Pryer et al. 2004b; Smith et ai. 2006) .
dade das células do ânulo. Os mu ndaceae aparece como o grupo-i rmão das demais
Provavelmente as monilófitas mais comuns são as lep- leptospora ngiadas, corroborando as sugestões iniciais
tosporang iadas, das quais existem atualmente cerca de basead as no desenvolvimen to do esporângio (esporân -
12.000 espécies (ver Figuras 8.4 e 8.8-8.19). Muitas dessas gios não agrupad os em soros, ânulo rudimentar, esporos
plantas possuem folhas altamente fendidas, do tipo que co- numerosos). O utro clado inclui as sam ambaias arbóreas
mumente associamos às sa mambaias. Todavia, a forma da (Cya theaceae), e outro contém todas as samambaias hete-
folha é extremamente variável nesse grupo, sendo que al- rosporadas aquáticas (distribuídas em Marsileaceae e Sal-
gumas espécies possuem folhas simples e inteiras. Os espo- viniaceae). Embora as samambaias aquá ticas sejam consi-
rângios são tipicamente produzidos em peque nos aglom e- deravelm ente d ife rentes umas das outras (p. ex., Salvinia
rados chamados soros na face abaxial das folhas. Os soros e Azolla possuem pequenas folhas flutuantes e Marsilea
são freqüentemente cobertos por um tecido ou prega cha- possui folhas que lembram um trevo de qua tro folhas; ver
mado indúsio, em bora o mesmo não ocorra em algumas Figura 8.9), a existência de fósseis com características inter-
espécies. A estrutura e a posição dos soros e dos indúsios mediárias en tre estas duas form as reforça a monofilia do
variam consideravelmente entre os diferentes grupos de grupo (Rothwell 1999) .
samambaias, sendo tal variação normalmente considerada As Marattiales, plantas de distribuição predominante
em tratamentos taxonômicos (ver Capítulo 8). Os game tó- nos trópicos úmidos, tendem a apresentar frondes grandes e
fitos das samam baias são em geral pequenos e em forma pinadas, com eusporângios de paredes espessadas distribuí-
168 JUDD, (AMPBELL, KELLOGG, STEVENS & D ONOGHUE

dos em aglomerados característicos (às vezes fusionados) na


superfície abaxial (ver Figura 7.lOB,C). Existem cerca de 150
Espermatófitas (plantas com sementes)
espécies atuais nesse dado, a maioria destas pertencentes As espermatófitas, ou Spermatophyta, são indubitavelmen-
aos gêneros Angiopteris e Marattia, porém o grupo apresen- te a linhagem mais diversificada das plantas vasculares, com
ta amplo registro fóssil, e representantes extintos (especial- cerca de 270.000 espécies atuais. Grande parte dessa diver-
mente Psaronius) eram componentes importantes da flora sidade está concentrada em apenas um subclado: as plantas
de áreas pantanosas no Carbonífero. De forma consistente com flores, ou angiospermas. Evidências morfológicas sus-
com a sua relativa homogeneidade morfológica, as Marat- tentando a monofilia das espermatófitas incluem a presença
tiales parecem ter uma taxa de evolução molecular lenta de sementes, mas também o fato de que todas as grandes
(Sol tis et al. 2002). linhagens atuais do grupo compartilham (pelo menos ances-
As Ophioglossales (com cerca de 80 espécies) são ca- tralmente) a produção de lenho (xilema secundário) por meio
racterizadas pelas frondes divididas em uma porção vege - da atividade de um meristema secundário chamado câmbio
tativa achatada (ou segmento estéril) e um segmento fértil vascular. Outra característica vegetativa digna de nota deste
portador de esporângios (ver Figura 8.6). Essa organização dado é o padrão de ramificação axilar, em contraste com o
peculiar parece ter sido derivada de um sistema de ramifica- padrão de ramificação dicotômico desigual presente nas de-
ção dicotômica. Os gametófitos são estruturas subterrâneas, mais eufilófitas.
aclorofiladas e tuberosas associadas com um tipo de fungo
endofítico. Principais características das espermatófitas
As Psilotales, ou psilófitas, incluem cerca de 15 espécies Para compreender o que é a semente, é preciso entender
pertencentes aos gêneros Psi/atum (de ampla distribuição) e como esta estrutura evoluiu (ver Figura 7.llC-E). As plantas
Tmesipteris (restrito à Austrália e às ilhas do Pacífico Sul) (ver com sementes estão inseridas dentro de uma linhagem carac-
Figura 8.5). Devido ao padrão de caules dicotomicamente ra- terizada pela homosporia (apenas um tipo de esporo, game-
mificados de seu corpo vegetal, as psilófitas têm sido tradicio- tófitos bissexuados). Um passo crítico para o surgimento da
nalmente interpretadas como os últimos remanescentes das semente foi a evolução da heterosporia: a produção de dois
primeiras plantas vasculares. Uma teoria alternativa, baseada tipos de esporos (micrósporos e megásporos), que produzem
principalmente na forma de seus gametófitos subterrâneos dois tipos de gametófitos (masculino, ou microgametófito,
associados com fungos, sugere que as psilófitas são samam- que produz gametas masculinos; e feminino, ou megagame-
baias leptosporangiadas estruturalmente simplificadas (pos- tófito, que produz um ou mais gametas fem ininos).
sivelmente relacionadas à Gleicheniaceae; Bierhorst 1977). A heterosporia evoluiu várias vezes em diferentes linha-
Estudos moleculares recentes têm demonstrado, com relativo gens de plantas vasculares, incluindo as licófitas, as samam-
grau de certeza, que nenhuma dessas hipóteses está correta baias leptosporangiadas, as equisetófitas e a linhagem que
(Pryer et ai. 2001, 2004b). Segundo tais estudos, as Psilota- inclui as plantas com sementes (Bateman e DiMichele 1994).
les aparentam ser mais relacionadas às Ophioglossales, com Em vários desses casos, a evolução da heterosporia foi segui-
as quais compartilham similaridades quanto à estrutura dos da por uma redução no número de megásporos funcionais.
gametófitos, à redução (ou perda) de raízes e ao desenvolvi- Na linha evolutiva que levou às plantas com sementes, o nú-
mento e posição dos esporângios. Sob esse ponto de vista, mero de megásporos foi reduzido a apenas um pelo aborto
as folhas reduzidas e a ausência de raízes verdadeiras seriam de todas, com exceção de uma das quatro células haplóides
condições derivadas nas psilófitas. resultantes de uma única divisão meiótica. O megásporo so-
Existem hoje apenas 15 espécies de equisetófitas, ou brevivente ficou então retido no interior do megasporângio
cavalinhas, todas pertencentes ao gênero Equisetum (ver e prosseguiu seu desenvolvimento formando um gametófito
Figura 8. 7). As equisetófitas possuem caules articulados e dentro do esporo (desenvolvimento endospórico). Por fim, o
ocos, com projeções longitudinais conspícuas onde as cé - megasporângio é envolvido por um tecido estéril do esporófi-
lulas epidérmicas possuem sílica depositada em sua super- to chamado de tegumento (ver Figura 7.11D), exceto por uma
fície. As folhas são geralmente reduzidas a pequenas esca- pequena área que permanece aberta no ápice, denominada
mas e dispostas de forma verticilada em cada nó. Os esporos micrópila. Em outras plantas com sementes que não angios-
haplóides são produzidos em esporângios, ligados ao lado permas, a micrópila serve como área de entrada para um ou
inferior de esporangióforos peitados e agrupados em estró- mais grãos de pólen, que são por sua vez micrósporos dentro
bilos no ápice dos caules. Embora as equisetófitas modernas dos quais o gametófito masculino se desenvolveu.
sejam homosporadas, há controvérsias se os gametófitos Para facilitar a compreensão desse processo, é importan-
possuem ou não sexos separados. Alguns gametófitos pro- te analisar a seqüência de eventos que resultam na formação
duzem inicialmente apenas anteríd ios e outros apenas ar- de sementes maduras em uma planta como uma cicadácea
quegônios; no entanto, as formas femininas tomam -se bis- ou pinheiro. Dentro do óvulo (semente jovem) ocorre uma
sexuais posteriormente. As equisetófitas apresentam muitos divisão meiótica simples dentro do megasporângio gerando
fósseis, facilmente identificáveis pela arquitetura peculiar do quatro células haplóides, das quais três degeneram e uma se
caule. Da mesma forma que as licófitas, estavam presentes desenvolve em megásporo, dando origem a um gametófito
no Devoniano, mas tomaram -se pronunciadamente mais feminino no seu interior. Ao final de seu desenvolvimen to,
abundantes e diversificadas no Carbonífero, quando diver- o gametófito fem inino pode conter m ilhares de células, com
sas espécies possuíam folhas muito maiores, heterosporia e uma ou mais oosferas diferenciadas e próximas à extremida-
hábito arbóreo bem desenvolvido (Figura 7.10D). A posição de micropilar da semente. Os micrósporos são produzidos
das equisetófitas dentro das monilófitas permanece incerta em microsporângios, que podem estar presentes na mesma
(Pryer et al. 2004a). planta (monoicia) ou em indivíduos separados (dioicia).
SISTEMÁTICA VEGETAL 169

Um ou mais grãos de pólen são transportados para as de lenho em tais plantas era bastante limitada (p. ex., Cichan
proximidades da micrópila - provavelmente pelo vento nas e Taylor 1990). Os detalhes da função do câmbio nessas plan-
primeiras plantas com sementes. Em muitos casos, uma gota tas propiciaram uma variedade de formas de crescimento e
de líquido (gotícula de polinização) é exsudada para a su- estratégias de vida bastante incomuns quando comparadas
perfície externa da micrópila, que carrega consigo os grãos com as atuais plantas com sementes (Donoghue 2005).
de pólen a ela aderidos quando se retrai. Um grão de pólen
germina e libera um gametófito masculino tubular, que por Evolução inicial das espermatófitas
fim lança os gametas nas proximidades da oosfera. Nas Cyca-
dales e ginkgoáceas modernas (discutidas na página 171), o Após a apresentação de alguns dados sobre as sementes e o
tubo polínico é haustorial, ramificando-se lentamente através lenho, discutiremos brevemente a origem e evolução inicial
da parede do megasporângio, e dois anterozóides grandes e das plantas com sementes (Figura 7.11 e 7.12; ver também
multiflagelados são por fim produzidos. Nas demais linha- Figura 7.8). Nosso conhecimento sobre os eventos mais im-
gens de plantas com sementes, um par de gametas mascu- portantes neste processo está grandemente fundamentado
linos imóveis é liberado diretamente no gametófito femini - nos registros fósseis bem preservados de plantas denomina-
no pelo tubo polínico. Após a fertilização, o zigoto diplóide das "pró-gimnospermas" e "samambaias com sementes" do
desenvolve-se em um esporófito embrionário, e o gametófito Devoniano e começo do Carbonífero (Figura 7.llA,B).
feminino serve de tecido nutritivo para este. É importante relembrar que a diferenciação em um tronco
A segunda característica principal das plantas com semen- principal e ramos laterais é uma característica que já havia
tes é a produção de lenho, ou xilema secundário, que permi- surgido na linhagem das eufilófitas. A presença de plantas
te o desenvolvimento de um tronco substancial juntamente com troncos desenvolvidos, com lenho bastante similar em
com um mecanismo de regeneração da cobertura externa do detalhes estruturais ao encontrado nas coníferas modernas,
caule - a peridem1e. Compreender como o lenho é produzido já foi relatada paraArchaeopteris, uma "pró-gimnosperma"do
requer um conhecimento básico sobre o modo de desenvol- fim do Devoniano. O seu tronco era conectado a sistemas de
vimento das plantas vasculares. Elas crescem em tamanho a ran1ificação grandes e frondosos portando diversas folhas pe-
partir da atividade de meristemas primários apicais presentes quenas (Figura 7.llA). Descobriu-se também que Archaeopte-
nas terminações de cada ramo e raiz. Esses meristemas api- ris era heterosporada, embora não desenvolvesse sementes.
cais são providos de células indiferenciadas que sofrem divi- A reconstrução acurada e o posicionamento filogenético
sões mitóticas, deixando como produto células derivadas que de Archaeopteris e outras "pró-gimnospermas", como Aneuro-
se diferenciam em todos os tipos celulares que compõem o phyton (Beck 1981, 1988), foi fundamental no estabelecimento
corpo vegetal. Os meristemas apicais caulinares são também de que tanto a heterosporia quanto a produção de lenho pre-
locais de formação das novas gemas e folhas. cederam a evolução da semente. O dado contendo as plantas
Algumas das células produzidas pelo meristema apical se com sementes mais as "pró-gimnospermas" é chamado de
diferenciam, dentro do caule, em fileiras de tecidos distintos lignófitas (ou Lignophyta) (Doyle e Doyle 1986), em refe-
que funcionarão como tecido vascular. Dentro das fileiras, ou rência à produção de lenho (ver Figura 7.8).
feixes vasculares, ocorre a diferenciação do xi lema primário, O termo "samambaias com sementes" é aplicado a uma am-
voltado para o interior do caule, e do floema primário, vol- pla variedade das primeiras plantas com sementes com folhas
tado para a periferia do caule. Entre o xilema e o floema per- grandes e frondosas, similares às de samambaias modernas,
manece uma camada de células indiferenciadas chamada de mas portando sementes verdadeiras (Stewart e Rothwell
câmbio vascular. Este atua como um meristema secundário, 1993; Taylor e Taylor 1993) (Figura 7.llB). Sabe-se hoje que
produzindo novas células tanto para o interior quanto para a essas plantas não são proximamente relacionadas entre si e
periferia do caule, que então se diferenciam em novas células que uma série de grupos de samambaias com sementes do
do xilema (como os traqueídes) e do floema (como as células Paleozóico forma um grado parafilético na base da diversifica-
crivadas). ção inicial das plantas com sementes.
Os tecidos que são produzidos a partir da atividade do Análises meticulosas revelaram que as primeiras sementes
câmbio vascular são denominados xilema e floema secundá- estavam contidas em "cúpulas", e que cada semente possuía
rios, respectivamente. Novas camadas de xilema secundário um prolongamento da parede do esporângio que formava
são produzidas anualmente, formando o lenho, composta uma câmara polínica especializada (p. ex., Serbet e Rothwell
de células mortas e de paredes espessadas que são bastan- 1992). Presume-se que tal estrutura atuava na captação dos
te rígidas e resistentes à decomposição. O floema secundário grãos de pólen (Figura 7.llD). O tecido do tegumento pode
não aumenta significativamente em espessura porque suas ter derivado de uma série de esporângios estéreis, que inicial-
células não possuem paredes espessadas como as do xilema. mente formaram lobos no ápice em oposição a uma micrópila
Além disso, as células do floema devem permanecer vivas distinta (Figura 7.llE).
para desempenhar sua função de transportar carboidratos e Ao longo da maior parte do último século, as linhagens
nutrientes ao longo do corpo vegetal. atuais e extintas de plantas com sementes foram tradicional-
É interessante notar que, em contraste ao câmbio bifacial mente divididas em dois grandes grupos: as cicadófitas e as
das plantas com sementes, as licófitas gigantes e a maioria coniferófitas. As cicadófitas, incluindo as atuais Cycadales,
das equisetófitas do Carbonífero provavelmente possuíam eram distintas pela produção limitada de lenho com raios lar-
câmbio unifacial, produzindo xilema secundário para o in- gos Qenho manoxílico), pelas folhas grandes, como frondes e
terior do caule, mas nunca floema secundário. Elas também pelas sementes radialmente simétricas. Já as coniferófitas,
não possuíam a habilidade de aumentar substancialmente o que incluem os gingkos e coníferas, possuem lenho bem
tamanho do anel cambial, e, como conseqüência, a produção desenvolvido e denso (picnoxílico), folhas simples e muitas
170 JUDD, (AMPBELL, KE'::OGG, STEVENS
. ~~~~~&~D~O::N~OG~H'.'.:'.U.::_
E _ _ __

(0 Prováveis etapas na evoluçao


- das sementes

Mega

~ ~ ---

(D) Es•,rurauecep li
toras de pólen

(i) (ii) (iii)

E) Evolução do tegumento

i
·,
· , ·.
,'

(i)
SISTEMÁTICA VEGETAL 171

... FIGURA 7,11 Archaeopteris e outras das primeiras p lantas com se- a câmara polínica no interior; (iii) Eurystoma angulare, evidenciando a
mentes. (A) Reconstituição do hábito de Archaeopteris, uma "pró-gi- abertura em forma de taça. (E) Estágios na evolução do tegumento nas
mnosperma" extinta com um tronco bem desenvolvido e sistemas de primeiras plantas com sementes (todas extintas): (i) Genomosperma
ramos laterais achatados. (B) Reconstituição de uma "samambaia com kidstoni, (ii) G. /atens, (iii) Eurystoma angulare, (iv) Stamnostoma hutto-
semente" extinta, Medullosa noei (3,5-4,5 metros de altura), eviden- nense. (F) Porção de um macroblasto e de um braquiblasto da espécie
ciando as grandes fo lhas compostas. (C) Prováveis passos na evolução atual de ginkgófita, Ginkgo biloba, evidenciando os estróbilos micros-
da semente: (i) homosporia em um ancestral distante; (ii) heterospo- porangiados axilares; deta lhe do eixo e quatro estruturas portadoras
ria, com diferenciação entre esporângios produtores de micrósporos de microsporângios encontram-se à direita na mesma figura. (G) Por-
e megásporos; (iii) redução no número de megásporos funcionais para ção similar à mostrada em F de uma planta portadora de óvulos de G.
apenas um, e o seu desenvolvimento no interior do megasporângio biloba, evidenciando os pedúnculos axilares, com cada um destes por-
(endosporia); (iv) proteção do megasporângio pelo tegumento, dei- tando um par de óvulos; detalhe do ápice do pedúnculo encontra-se
xando uma micrópila no ápice. Espor, esporângio; Micro, micrósporos; à direita. (H) Corte longitudinal de semente de G. biloba com embrião
Mega, megásporos; f gam, gametófito feminino; te, tegumento; nuc, jovem (it, camada interna do tegumento; mt, camada intermediária do
nucelo ou parede do megasporângio. (D) Estruturas receptoras de pó- tegumento; et, camada externa do tegumento). (A, F e G extraídas de
len no ápice do óvulo nas primeiras plantas com sementes (já extintas); Boid 1967; B e D extraídas de Gifford e Forster 1989; C e H extraídas de
(i) Physostoma elegans; (ii) P. elegans, secção longitudinal evidenciando Scagel et ai. 1969; E extraída de Stweart 1983.)

vezes aciculares e sementes com simetria bilateral (platisper- linhagens fósseis que divergiram cedo na história das plantas
mas, ou achatadas). Essa proposta fez com que muitos au- com sementes Qá tratadas neste texto), bem como diversas
tores assumissem que as plantas com sementes na verdade outras linhagens de "samambaias com sementes"do Permia-
não eram fruto de uma origem única, mas sim de uma origem no superior e do Mesozóico, das quais algumas aparentam
dupla. Sob essa óptica, a linhagem das cicadófitas era deriva- ser parte da linha que deu origem às angiospermas modernas
da de um ancestral pró-gimnospérmico pela modificação dos (Doyle 2006). Retomaremos a discussão sobre essas relações
sistemas laterais de ramificação achatados em folhas largas após uma breve introdução sobre cada um dos principais gru-
e frondosas. Nas coniferófitas, por outro lado, as folhas indi- pos atuais de espermatófitas (ver também Capítulo 8).
viduais de um precursor similar a Archaeopteris poderiam ter
sido modificadas em folhas aciculares. A aceitação desse ce- Cycadales As Cycadales (ou Cycadophyta) foram mais
nário implica que a semente evoluiu duas vezes, cada evento abundantes e diversificadas durante o Mesozóico, sendo que
correspondendo a um dos tipos de simetria conhecidos. hoje existem cerca de 130 espécies no grupo. As Cycadales
A inclusão das linhagens atuais e alguns fósseis represen- possuem troncos geralmente pequenos, com pouco xile-
tativos das plantas com sementes em análises filogenéticas, ma secundário, e grandes fo lhas compostas similares às das
no entanto, têm, em grande parte, sustentado as relações samambaias e palmeiras (ver Figura 8.21). Elas são dióicas,
ilustradas nas Figuras 7.8 e 7.12 (p. ex., Doyle 1998, 2006). A ou seja, algumas plantas portam estróbilos que produzem
principal implicação desses resultados é que a semente evo- apenas sementes, enquanto outras possuem estróbilos que
luiu apenas uma vez e que as primeiras plantas com semente apenas produzem pólen. Ambos os tipos de estróbilos são
eram cicadófitas, ao menos se considerarmos a presença de tipicamente grandes e, em alguns casos, coloridos. De forma
folhas grandes e fendidas e sementes radialmente simétricas. similar, as sementes costumam ser grandes e com uma sar-
Mais especificamente, presume-se que várias "samambaias cotesta colorida, possivelmente para atrair vertebrados como
com sementes" do Devoniano-Carbonífero (Elkinsia, Lygnop- agentes dispersares.
teris e Medullosales) estejam situadas na base da filogenia das Diversas características das Cycadales podem ser an-
espermatófitas e que as coniferófitas constituam uma linha- cestrais para as plantas com sementes, como os gametófitos
gem mais derivada, em um dado platispérmico. Essa hipó- masculinos haustoriais e grandes anterozóides multiflage-
tese fi logenética implica uma mudança posterior para folhas lados. Todavia, as Cycadales compartilham uma série de ca-
pequenas e aciculares e para sementes menores e achatadas racterísticas morfológicas aparentemente derivadas, como a
- ambas prováveis adaptações para ambientes áridos. ausência de ramificação lateral, a presença de traços foliares
em forma de ômega (Q) e a produção de raízes coraliformes
Linhagens atuais de espermatófitas que hospedam cianobactérias fixadoras de nitrogênio.
Existem hoje cinco linhagens principais de plantas com se- Análises filogenéticas indicam que, dentro das Cycadales,
mentes: Cycadales, ginkgos, coníferas, gnetófitas e plantas o primeiro evento de ramificação segrega Cycas dos demais
com flores (angiospermas). Os quatro primeiros grupos são grupos (p. ex., Rai et ai. 2003). Cycas reteve a pressuposta con-
geralmente chamados de gimnospermas, devido às suas se- dição ancestral (observável em grupos fósseis relacionados,
mentes nuas, em oposição às angiospermas, nas quais as se- como Taniopteris) de possuir diversos óvulos ligados a megas-
mentes estão contidas dentro de um carpelo. Apesar dos re- porófilos foliáceos não condensados em estróbilos. A condi-
petidos esforços para elucidar as relações filogenéticas en tre ção derivada, observável em outra linha evolutiva de Cycada-
tais linhagens a partir de dados morfológicos e moleculares, les, é a redução para dois óvulos ligados a um megasporófilo
elas permanecem ainda bastante incertas (ver Figura 7.12). peitado, com os óvulos voltados para dentro em direção ao
Algumas análises moleculares recentes têm indicado que eixo do estróbilo.
os grupos atuais de "plantas com sementes nuas" formam
um dado que é o grupo-irmão das angiospermas. Mesmo Ginkgos Existe apenas uma espécie sobrevivente, Ginkgo
que essa hipótese prove-se verdadeira, no entanto, as gim- biloba, dentro das ginkgófitas (ou Ginkgoales; Figura 7.llF-
nospermas em seu senso amplo não constituiriam um grupo H) . Essa espécie é quase desconhecida em seu ambiente na-
monofilético. Elas são parafiléticas se levarmos em conta as tural, mas tem sido mantida por séculos ao redor de templos
172 J UDD, ( AMPBELL, K ELLOGG, STEVENS & D ONOGHUE

Espermatófitas (plantas com sementes)

"Gimnospennas"

Gnetófitas

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Carpelo,
endosperma,
gametófitos
reduzidos

Samambaias com

Sementes com simetria


birradial, micrópila selada
FIGURA 7.12 Relações fi logenéticas e ntre as
principais linhagens atuais d e pla ntas com se- Perda da cúpula, perda
me nte s, e d iversos grupos ext intos, com os ca- da câmara polínica colunar
racteres diagnósticos dos principais clados. MAA,
milhões d e a nos atrás; t ind ica taxa extintos. Sementes, ramificação axilar

na China e, nos tempos modernos, é largamente cultivada em pinheiros (Pinus) elas estão condensadas em pequenos ra-
regiões de clima temperado como árvore ornamental. Talvez mos. Cada folha acicular comumen te apresenta adaptações
a característica mais marcante do ginkgo moderno seja a pro- adicionais contra o dessecamento, como os estômatos dentro
dução de folhas decíduas, em forma de leque e com venação de criptas. Em algumas coníferas do Hemisfério Sul (p. ex.,
dicotômica. Esse grupo é bem representado no registro fós- Podocarpus, Agathis), no entanto, as folhas são largas e acha-
sil, no qual uma grande diversidade no formato das folhas é tadas, e em Phyllocladus os ramos achatados assemelham-se
perceptível. a folhas.
Como as Cycadales, o ginkgo também é dióico (Figura Muitas coníferas são monóicas, portando tanto estróbi-
7.11F,G). Os óvulos nascem aos pares em pedúnculos axila- los formadores de pólen como estróbilos formadores de se-
res, que aparentam ser estróbilos reduzidos. O tecido do te- mentes em uma mesma planta. A dioicia ocorre em alguns
gumento diferencia-se em uma camada externa carnosa com gêneros como Juniperus, Taxus e Podocarpus. Nos estróbilos ou
forte odor e uma camada interna rígida que recobre o game- cones masculinos, os microsporófilos abrigam microsporân-
tófito feminino (Figura 7.11H). De forma similar as Cycadales, gios em sua superfície abaxia.1. Os grãos de pólen geralmen te
o ginkgo retém uma série de características ancestrais, como possuem um par de estruturas saculiformes, mas estas pare-
os gametófitos masculinos haustoriais e gametas masculinos cem ter sido perdidas em diversas linhagens.
com habi.lidade motora. Nos estróbilos ou cones femininos, os óvu.los receptivos
estão situados na superfície adaxial de cada escama ovuli-
Coníferas Existem cerca de 600 espécies atua is de conífe- fera. A divisão meiótica ocorre no in terior de cada óvulo,
ras (Coniferae ou Coniferales) (ver Figuras 8.24-8.27). Essas e a célula haplóide sobrevivente desse processo dá origem
plantas são arbustos ou árvores com madeira bem desenvol- ao gametófito feminino, que por fim produz uma ou mais
vida e, em geral, com folhas aciculares. Na maioria dos casos, oosferas na região da micrópila. Um tubo polín ico cresce
as folhas nascem isoladamente ao longo do caule, mas nos através da parede do megasporângio para liberar dois ga-
SISTEMÁTICA V EGETAL 173

metas masculinos. O fenômeno da "poliembrionia" é bas- tropicais do Velho e do Novo Mundo) possui folhas largas
tante comum nas coníferas. Embriões múltiplos podem ser (Figura 7.13F-H), similares às que ocorrem na maioria das
produzidos em um óvulo por meio de eventos separados plantas com flores. We/twitschia (com apenas uma espécie, W
de fertilização (dependendo do número de oosferas e de mirabilis, que ocorre no sudoeste da África) produz apenas
tubos polínicos) ou, mais comumente, por uma subdivisão duas (raramente quatro) folhas funcionais durante sua vida,
característica de um único embrião no início de seu desen- que crescem a partir da base e gradualmente desfiam nas ex-
volvimento, originando diversos embriões geneticamente tremidades (Figura 7.13I).
idênticos. Embora as plantas dessas três linhagens pareçam muito
Nas coníferas atuais, os estróbilos masculinos são ditos diferentes umas das outras, elas compartilham algumas ca-
simples, enquanto os estróbilos femininos são ditos comple- racterísticas pouco usuais, como folhas opostas, gemas axi-
xos. Os estróbilos masculinos são interpretados como um lares múltiplas, elementos de vaso com aberturas circulares
ramo modificado, e os microsporófilos, como folhas modi- entre células adjacentes, estróbilos masculinos e femininos
ficadas. Já os estróbilos femininos são derivados via modifi- compostos e condição ancestral de pólen elipsóide com
cação de um ramo com ramificações laterais na axila de uma estrias longitudinais características. As sementes possuem
série de folhas. Tal hipótese é sustentada pela ocorrência de dois tegumentos: o interno forma um tubo micropilar que
fósseis apresentando uma série de etapas na redução de um libera a gotícula de polinização, e a camada externa é deriva-
ramo lateral portando certo número de sementes até esca- da de um par de brácteas fundidas (Figura 7.13H). Estudos
mas ovulíferas altamente modificadas, como as que ocorrem moleculares também sustentam fortemente a monofilia das
nos grupos atuais (Figura 7.13A-E) (Florin 1954). Evidência gnetófitas.
adicional a essa hipótese provém do fato de que cada escama Dentro de gnetófitas, Gnetum e Welwitschia formam um
ovulífera é subtendida por uma bráctea, que representa uma dado bem sustentado. Sinapomorfias morfológicas desse
folha modificada. Em algumas poucas coníferas, essas brác- grupo incluem venação foliar reticulada, maior redução do
teas são bem desenvolvidas e discerníveis entre as escamas gametófito masculino e aspectos da estrutura do gametófito
ovulíferas. É o caso, por exemplo, do gênero Pseudotsuga, no feminino (desenvolvimento tetraspórico, perda dos arquegô-
qual a escama ovulífera é protegida na axila de uma bráctea nios, núcleos livres atuando como oosferas). O pólen estria-
desenvolvida e trifurcada (Figura 7.13C). Em diversas co- do característico de Ephedra e Welwitschia foi aparentemente
níferas, no entanto, as brácteas são bastante reduzidas. Em perdido ao longo da linhagem que deu origem às espécies
Cupressaceae, como Taxodium e Cryptomeria, as brácteas são atuais de Gnetum (que possuem grãos de pólen espinescentes
fundidas às escamas ovulíferas, que ainda apresentam evi- sem aberturas).
dências de "folhas" (visíveis como pequenos dentes ou pro- Excluindo o pólen, o registro fóssil das gnetófitas é bas-
tuberâncias). tante reduzido (Crane 1996), com poucos macrofósseis des-
Estudos filogenéticos têm contribuído com importantes critos até recentemente (p. ex., Rydin et al. 2004; revisto em
evidências sobre a evolução das coníferas (p. ex., Stefanovic Won e Renner 2006). Embora os grãos de pólen das gnetó-
et al. 1998). Dados moleculares reportam uma divisão basal fitas sejam conhecidos desde o Triássico, parece que o dado
entre as Pinaceae e um dado incluindo as demais coníferas, contendo os grupos modernos diversificou-se mais signifi-
denominado Cupressophy ta (Cantino et al. 2007). As Pina- cativamente durante o Cretáceo médio, juntamente com as
ceae apresentam diversas características diagnósticas, como angiospermas.
a inversão dos óvulos (com a micrópila voltada para o eixo Assim como as angiospermas, as gnetófitas abreviaram o
do estróbilo; Figura 7.13D) e a derivação da asa da semente a ciclo de vida (e possivelmente tornaram-se herbáceas) e pas-
partir da escama ovulífera. Dentro das Cupressophyta, os dois saram a apresentar polinização mediada por insetos ao lon-
principais grupos do Hemisfério Sul - Podocarpaceae e Arau- go de sua evolução (presente em algumas espécies atuais).
cariaceae - formam um dado, talvez sustentado por uma mu- Em claro contraste com as plantas com flores, no entanto, as
dança para um óvulo por escama ovulífera. As Cupressaceae gnetófitas nunca se tornaram componentes significativos da
são caracterizadas por diversas apomorfias potenciais, como a flora em paleolatitudes médias ou altas, além de sofrer um
fusão da escama ovulífera com a bráctea que a subtende. Essa declínio drástico durante o Cretáceo superior (Crane et al.
família parece estar relacionada às Taxaceae, que possuem es- 1995; Crane 1996).
tróbilos muito reduzidos portando apenas uma semente ter-
minal circundada por um arilo carnoso e colorido. Conforme
relatado na página 176, diversas análises moleculares recen - Angiospermas (plantas com flores)
tes têm questionado a monofilia das Coniferae, posicionando Com cerca de 257.000 espécies atuais, as plantas com flo-
as gnetófitas dentro das coníferas como o grupo-irmão de res (Angiospermas) constituem grande parte da diversi-
Pinaceae (ver Figura 7.15C). dade das plantas verdes, das plantas vasculares e das plan-
tas com sementes. Estudos moleculares e a existência de
Gnetófitas A quarta maior linhagem atual das plantas com caracteres morfológicos compartilhados fornecem evidên-
sementes é formada pelas gnetófitas (Gnetophyta ou Gne- cias contundentes da monofilia das angiospermas. Dentre
tales) (Figura 7.13F-I; ver também Figura 8.28). Esse grupo estes caracteres, alguns dos mais óbvios e relacionados às
contém apenas cerca de 75 espécies atuais, que pertencem características reprodutivas são (1) sementes formadas no
a três linhagens bem distintas. Ephedra (com cerca de 40 es- interior de um carpelo com uma superfície estigmática para
pécies que ocorrem em desertos ao longo do mundo) pos- a germinação do pólen; (2) gametófito feminino muito re-
sui folhas escamiformes e muito reduzidas (ver Figura 8.28). duzido, consistindo, na maioria dos casos, em apenas oito
Gnetum (com cerca de 35 espécies distribuídas nas florestas núcleos contidos em sete células; e (3) dupla fecundação,
174
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M~PB~EL~L ~LOGG,
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DONOGHUE
-

(E) Prováveis estagios


, . evolutivos na ongem da escama ovulífera

(ii) (iii)
SISTEMÁTICA VEGETAL 175

... FIGURA 7.13 Morfologia das coníferas e gnetófitas. (A) Pseudotsuga, das a um braquiblasto (bs) na axila de uma bráctea (br); (ii) o gênero
evidenciando um ramo com um estróbilo de um ano de idade. (B) Es- extinto Lebachia, no qual o número de óvulos é reduzido; (iii) o gênero
cama ovulífera de Pseudotsuga, com dois óvulos em sua superfície. (C) atua l Pinus, com dois óvulos ligados à superfície da escama ovulífera.
Complexo bráctea-escama ovulífera em Pseudotsuga, evidenciando (F) Folhas e estróbilo masculino composto de Gnetum. (G) Sementes
uma bráctea exserta e trifurcada (b) abaixo da escama ovulífera (eo). maduras de Gnetum. (H) Corte longitudinal de semente jovem de Gne-
(D) Corte longitudinal de dois complexos bráctea-escama ovulífera de tum, evidenciando o tegumento interno (tin) expandido em um tubo
um estróbilo ovulado de Pinus strobus, evidenciando um óvulo (o) com micropilar (tm) e cercado por bractéolas internas e externas (bi, be). (1)
a micrópila direcionada para o eixo do cone, uma escama ovulífera (eo) Hábito geral da gnetófita Welwitschia mirabilis, evidenciando o caule
e a bráctea que a subtende (b). (E) Prováveis estágios evolutivos da curto e lenhoso com duas grandes folhas, a posição dos diversos estró-
origem da escama ovulífera dos estróbilos em coníferas: (i) o gênero bilos e a raiz principal. (A-D, extraídas de Stewart 1983; E-H, extraídas
extinto Cordaites, com vários óvulos (o) e escamas estéreis (ee) liga- de Scagel et ai. 1969; 1, extraída de Barnes 1998.)

com a formação de um tecido nutritivo triplóide chamado liberado. Um grão de pólen que cai em um estigma com-
de endosperma. patível desenvolve um tubo polínico que insere o gameta
Diversas ca racterísticas vegetativas derivadas também são masculino (núcleos espermáticos) diretamente no gam etó-
dignas de nota. Quase todas as angiospermas possuem ele- fito feminino, no interior do óvulo. Durante o desenvolvi-
mentos de vaso no tecido do xilema, embora tal característica men to de um ga me tófito feminino típico de angiosperma,
muito provavelmente tenha evoluído em um momento pos- a meiose é sucedida pelo aborto de três dos qua tro núcleos
terior à origem do grupo. Os elementos de vaso diferem dos haplóides produzidos, e o núcleo sobrevivente sofre uma sé-
traqueídes no fato de que a água pode fluir de um elemento rie de divisões mitóticas (ver Figura 4.42). Por fim, a oosfera
de vaso (uma célula individual, derivada evolutivamente de é posicionada junto à extremidade micropilar do gametófito
um traqueíde) para o elemento seguinte sem a necessidade feminino, no meio de duas outras células (sinérgides) que
de atravessar um campo primário de pontuação (ver Figu- parecem desem penhar um importante papel na orientação
ra 4.33). Os elementos de vaso são extremamen te eficientes do tubo polínico e no transporte dos núcleos espermáticos
no transporte de água, mas ao mesmo te mpo parecem ser para a oosfera. Existem geralmente três células (antípodas)
mais suscetíveis a danos (especialmente embolismo) quando no lado oposto e dois núcleos (núcleos polares) situados em
sujeitos a um estresse hídrico. O floema das angiospermas uma grande célula na porção central do gametófito. Um dos
difere do floema das demais plantas por conter elementos de núcleos espermáticos se funde à oosfera dando origem a um
tubo crivado (células vivas, porém anucleadas que atuam no zigoto diplóide, enquanto o outro se funde com os dois nú -
transporte de carboidratos) associados a uma ou mais células cleos polares do gametófito feminino. Esse processo é cha-
companheiras derivadas da mesma célula-mãe. mado de dupla fecundação. O zigoto diplóide desenvolve-se
em um embrião, e o n úcleo triplóide sofre uma série de di-
As flores e o ciclo de vida das angiospermas visões mitóticas para formar o endosperma, que serve como
tecido de nutrição da semente.
A produção de flores é geralmente considerada a característi-
ca diagnóstica das angiospermas, mas o termo flor é, de cer-
ta forma, dúbio. Se as flores represen tam eixos reprodutivos A origem das angiospermas
curtos com esporófilos agregados, então as gnetófitas, por Quando as plantas com fl ores se origin aram e se diversifi-
exemplo, também podem ser consideradas como portadoras caram? O registro fóssil (pólen, folhas, flores e fru tos) for-
de fl ores. Na realidade, a organização e o arranjo particular nece indícios de que as angiospermas tiveram uma grande
das partes componentes da flor é que distinguem as angios- diversificação a partir do Cretáceo Inferior (Friis et ai. 1987;
permas das demais plantas com sementes (ver Figura 4.16).A Doyle e Donoghue 1993; Crane et ai. 1995) . Os fósseis ine-
maioria dos estames de angiospermas possui uma porção pe- quívocos mais antigos conhecidos para angiospermas são
dunculada (filamento) e uma porção apical (antera) portando grãos de pólen da tados de cerca de 135 milhões de anos atrás.
dois pares de microsporângios (sacos polínicos). O carpelo Macrofósseis extraordinariamente completos da China foram
das an giospermas é tipicamente diferenciado em uma porção inicialmente descritos como pertencen tes ao Jurássico Supe-
inferior (ovário) que circunda os óvulos e uma porção alonga- rior (Sun et al. 2002), mas são atualmente interpretados como
da (estilete) que eleva a superfície receptiva ao pólen (estig- pertencen tes ao início do Cretáceo. Muitas das principais li-
ma). O óvulo das angiospermas é único por diversos fa tores nhagens de angiospermas podem ser reconhecidas desde o
(ver Figuras 4.41 e 4.42). Ele geralmente sofre uma rotação de Cretáceo Médio (Nymphaeaceae, ChJoranthaceae, Wintera-
180 graus durante o desenvolvimento (óvulo anátropo), de ceae e eudicotiledôneas já estavam presentes há 125 milhões
forma que a micrópila posiciona-se próxima ao funículo do de anos). Outros fósseis do Cretáceo, no entan to, são de difí-
óvulo (em contraste à condição ortótropa presente nas ou- cil comparação com as linhagens atuais (Friis et ai. 2005). De
tras plantas com sementes, na qual a micrópila está no lado qualquer forma, as angiospermas já haviam se diversificado
oposto do funículo). Além disso, as sementes das angiosper- consideravelmen te no final do Cretáceo e representavam o
mas geralmente possuem dois tegumentos distintos (óvulos grupo de plan tas dominante em muitos ambientes terrestres
bitégmicos), enquanto as sementes das demais plantas com (ver Magallón e Sanderson 2001; Bel! et ai. 2005) .
sementes apresentam invariavelmente um único tegumento Ao se discutir a idade das angiospermas (ou de qualquer
(às vezes diferenciado em camadas carnosas e rígidas). outro grupo), é importante distinguir claramente entre a ori-
O ciclo de vida das angiospermas também é notavelmen- gem da linhagem inicial - ou seja, a linhagem que deu origem
te derivado (ver Figura 4.17). O gametófito masculino possui ao grupo atual (p. ex., quando essa linhagem divergiu da sua
apenas dois a três núcleos no momento em que o pólen é linhagem irmã que também inclui representantes atuais) - e
176 JUDD, (AMPBELL, KELLOGG, STEVENS & DONOGHUE

a origem do dado principal, ou seja, o dado menos inclu- tade do século XX, com a reinterpretação desses caracteres.
sivo que contém todos os representantes atuais do grupo Por exemplo, os elementos de vaso foram interpretados como
em questão. O dado que inclui também a linhagem inicial é produto de evolução paralela em Gnetales (a partir de traque-
comumente referido como "angiófitas" (Doyle e Donoghue ídes com pontoações de borda circular) e em angiospermas
1993), mais recentemente como Pan-Angiospermae (Cantino (a partir de traqueídes com pontoações escalariformes). Esse
et al. 2007) para distingui-la do dado principal das angios- caráter, e diversos outros, sugeriam que as gnetófitas eram, na
permas (Angiospermae) . verdade, mais relacionadas às coníferas.
É possível que as angiófitas sejam bastante antigas, en- No meio da década de 1980, diversos estudos filogenéticos
quanto o dado principal das angiospermas tenha se ori- em plantas com sementes foram realizados com base em ca-
ginado bem mais recentemente, talvez não muito antes da racteres morfológicos (Crane 1985; Doyle e Donoghue 1986).
radiação observada no registro fóssil do Cretáceo. A antigüi- Tais análises concluíram que as angiospermas formam um ela-
dade das Pan-Angiospermae é sugerida pelo fato que todos do juntamente com as Bennettitales e as Gnetales - dado este
os prováveis grupos relacionados às angiospermas possuem referido como "antófitas"para enfatizar a presença de estrutu-
registro fóssil que remonta ao Triássico. Espera-se, assim, que ras reprodutivas estruturalmente similares às flores em todos
existam fósseis da linhagem inicial das angiospermas ante- os seus membros (Figura 7.15A). Outros estudos morfológicos
riores ao Cretáceo, embora estes talvez sejam bastante dife- independentes apontaram para o mesmo resultado, embora
rentes e pouco comparáveis com as angiospermas atuais. Até em alguns deles as gnetófitas aparecessem como parafiléticas
o momento, no entanto, fósseis de possíveis angiospermas do quanto às angiospermas (Taylor e Hickey 1992; Nixon et ai.
Triássico e do Jurássico provaram ser de espécies não relacio- 1994). Os caracteres que pareciam unir as antófitas variavam
nadas às angiospermas ou não puderam ser inequivocamente consideravelmente nessas análises, mas eram, em sua maio-
interpretados ante o pouco material disponível. ria, pouco claros e, em alguns casos, desconhecidos para de-
Estimativas baseadas em dados moleculares têm de lidar terminados grupos fósseis - como a composição da lignina, a
com as dificuldades impostas pelas mudanças na taxa de evo- disposição das células no meristema apical e características do
lução molecular, que parece ocorrer de forma independente pólen e do megásporo (Donoghue e Doyle 2000).
em diferentes linhagens. Estudos iniciais de relógio molecular De qualquer forma, a recorrente observação de um dado
resultaram em estimativas de idade para a origem do grupo das antófitas trouxe de volta a idéia da proximidade filogené-
principal das angiospermas incompatíveis com o registro fós - tica entre gnetófitas e angiospermas. Por sua vez, essa conclu-
sil. Progressos neste sentido têm sido feitos ao se "flexibilizar" são influenciou a interpretação da evolução morfológica nas
a hipótese de relógio molecular, permitindo uma variação nas plantas com sementes. De forma notável, a dupla fecundação
taxas de evolução molecular em diferentes pontos da filoge - (descrita pela primeira vez em Ephedra no início do século
nia, e estimativas recentes situam a origem do grupo princi- XX) foi interpretada como produto de um evento evolutivo
pal das angiospermas entre 140 e 190 milhões de anos atrás único no ancestral comum das gnetófitas e das angiospermas,
(Sanderson e Doyle 2001; Bell et ai. 2005), pouco antes do com o endosperma poliplóide evoluindo posteriormente na
surgimento inequívoco das angiospermas no registro fóssil. linhagem das angiospermas (ver Friedman e Floyd 2001).
Os primeiros estudos filogenéticos moleculares a abordar
essa questão geraram uma variedade de resultados e foram
Relações das angiospermas com outros grupos interpretados como ao menos consistentes com a hipótese
As relações das angiospermas com as demais plantas com se- das antófitas (ver Donoghue e Doyle 2000) . No final da déca-
mentes há muito têm intrigado os botânicos. O maior proble- da de 1990, no entanto, diversos estudos moleculares (espe-
ma na elucidação dessas relações está no fato de que, além dos cialmente aqueles baseados em genes mitocondriais ou em
demais grupos atuais de plantas com sementes (Cycadales, uma combinação de genes de diferentes genomas) levanta-
ginkgoáceas, gnetófitas e coníferas), diversos grupos extintos ram grandes dúvidas quanto à existência ou não de um dado
também estão potencialmente relacionados (ver Beck 1988; das antófitas (p. ex., Bowe et ai. 2000; Chaw et ai. 2000). Essas
Stewart e Rothwell 1993; Taylor e Taylor 1993). Em particular, análises, pelo contrário, sugeriam que os grupos atuais de gi-
uma hipótese há muito proposta é de que as angiospermas mnospermas formam um dado que é irmão ao das angios-
são mais proximamente relacionadas a um grupo de "samam- permas atuais e que as gnetófitas são mais relacionadas às
baias com sementes" do Mesozóico (p. ex., Caytonia, glossop- coníferas (hipótese gnetífera; Figura 7.15B) ou até mesmo es-
terídeas) ou talvez às Bennettitales (também conhecidas como tejam inseridas nas coníferas como grupo-irmão de Pinaceae
cicadeóides, devido a sua semelhança com as Cycadales; Figu- (hipótese "gnepine"*; Figura 7.15C). Análises meticulosas de
ra 7.14A). As Bennettitales são candidatas em potencial, por- diferentes conjuntos de dados moleculares (p. ex., Graham e
que algumas possuíam estruturas reprodutivas grandes e com Olmstead 2000; Sanderson et al. 2000; MagalJón e Sanderson
aspecto de flores, com órgãos produtores de pólen circundan- 2002; Burleigh e Matthews 2004) têm revelado diferentes ten-
do uma haste central portando sementes nuas (Figura 7.14B). dências, inclusive com alguns conjuntos de dados sugerindo
Em relação às cinco linhagens atuais de angiospermas, as o posicionamento das gnetófitas como grupo-irmão dos de-
hipóteses sobre o relacionamento entre elas têm mudado ao mais grupos atuais de plantas com sementes.
longo dos anos (ver Soltis et ai. 2005). No início do século XX Infelizmente, essas questões permanecem abertas e longe
(p. ex., Arber e Parkin 1907), as gnetófitas (juntamente com as de uma resposta definitiva, mas tornou-se claro que existem
extintas Bennettitales) foram largamente consideradas como diversos pontos que devem ser melhor analisados isolada-
próximas às angiospermas com base em diversas similarida- mente. Uma questão importante é se existe realmente um
des morfológicas, como a presença de elementos de vaso no
lenho, folhas com venação reticulada em Gnetum e órgãos • N. deT. O nome "gnepine"deriva da abreviação da palavra Gnetales
reprodutivos com aspecto de flores. Essa visão mudou na me- e "pine" (pi nus, em inglês).
SISTEMÁTICA VEGETAL 177

(A)

FIGURA 7.14 Reconstituições de fósseis de plantas do Mesozóico que thus kochi; (iii) megasporófilo de Caytonia nathorsi, com duas fileiras
podem estar proximamente re lacionadas às angiospermas. (A, B) Ben- de cú pulas; (iv) corte longitudi nal de uma cúpula de Caytonia thomasi,
nettitales: (A) Hábito de Wi/liamsonia sewardiana, evidenciando o tron- evidenciando os óvulos no seu interior. (D) Glossopteridales: (i) porção
co similar ao das Cycadales e folhas compostas. (B) Corte longitudinal ovulada de Denkania indica, evidenciando seis estruturas cupuliformes
de um estróbilo simi lar a uma flor de Wi/liamsoniella. B, brácteas; M, ligadas a uma folha; (ii) Lidettonia mucronata, evidenciando as semen-
microsporófilo com microsporângios; OP, óvulos pedunculados e esca- tes ligadas à superfície inferior de discos pedunculados originados de
mas estéreis ligadas a um eixo centra l. (C) Caytoniales: (i) folha palma- uma folha. (A extraída de Taylor e Taylor 1993; B, C: ii-iv e D extraídas de
da, Sagenopteris phillipsi; (i i) porção de um microsporófilo, Caytonan- Gifford e Forster 1989; C: i extraída de Stewart 1983.)

dado de antófitas ou, pelo contrário, as gnetófitas estão mais em relação às angiospermas. Para evitar confusões, parece
relacionadas às coníferas. Evidências atuais favorecem princi- melhor atribuir um nome diferente ao dado hipotético que
palmente a segunda hipótese. Outra questão é como enraizar inclui todas as linhagens atuais de plantas com sementes sem
corretamente a parte da árvore filogenética das plantas com carpelos; Cantina e colaboradores (2007) propuseram o nome
sementes que inclui as linhagens atuais. Uma possibilidade é Acrogymnospermae para designar este d ado.
a de que uma ramificação basal deu origem a duas linhagens, Existe também uma possibilidade distinta de que nenhum
uma contendo as angiospermas e outra contendo as gimnos- grupo atual de plantas com sementes seja de fato proxima-
permas atuais. Possibilidades alternativas, no entanto, não mente relacionado às angiospermas. Resultados recentes têm
podem ser imediatamente descartadas com base no conjunto demonstrado a importância de se incluir fósseis nessas análi-
de evidências atuais, como, por exemplo, o posicionamento ses de relações, o que dependerá grandemente da descober-
da raiz junto às Cycadales e ginkgos (Figura 7.15D). Seja qual ta de novos fósseis em melhores condições de preservação e
for a hipótese correta, é importante salientar que as "gimnos- de uma maior ênfase em análises filogenéticas baseadas em
permas" em seu senso amplo (incluindo também os fósseis caracteres morfológicos (Donoghue e Doyle 2000; Frohlich e
do Paleozóico e Mesozóico) mostram-se sempre parafiléticas Parker 2000; Doyle 2006).
178 JUDD, (AMPBELL, KELLOGG, STEVENS & DONOGHUE

Acrogymnospermae

E"' "'
e
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"'e E
~
'eo 'ºõí ~
'eo "'

õí
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u l? u l?

(A) Hipótese das antófitas (B) Hipótese gnetífera

Acrogymnospennae

FIGURA 7.15 Hipóteses alternati- "'


vas das relações entre as cinco prin- "'ê
"' "'
E "' "'o..
cipais linhagens de plantas com e <C "'
oàl) "'
ro
sementes atuais. (A) De acordo com ~
'ºõí -o "'o
'eo e
-><
e "'>-.
u '6l,
a hipótese das antófitas, as Gne- u l? G u ~
tófitas formam o grupo-irmão das
angiospermas. (B) De acordo com
a hipótese gnetífera, as Gnetófitas
formam o grupo-irmão das conífe-
ras. (C) De acordo com a hipótese
"gnepine", as Gnetófitas formam o
grupo- irmão de Pinaceae dentro
das coníferas. (D) Exemplo de uma
árvore filogenética alternativa que
não pode ser rejeitada com base no
conjunto de dados atuais. (C) Hipótese"gnepine" (D) Enraizamento alternativo

Relações entre as angiospermas as primeiras angiospermas eram plantas lenhosas com flores
Um enorme progresso foi alcançado recentemente na elu- grandes, enquanto outras sugeriam que eram plantas herbá-
cidação das relações filogenéticas entre as linhagens basais ceas com flores pequenas (ver Doyle e Donoghue 1993).
de angiospermas (Figura 7.16). Até pouco tempo atrás, a de- A partir de 1999, uma série de estudos filogenéticos mole-
terminação da raiz das angiospermas e das relações entre os culares demonstrou que o primeiro evento de divergência nas
seus grupos basais parecia ser um problema insolúvel. Toda- angiospermas modernas originou uma linhagem que inclui
via, as diferentes linhas de evidência obtidas na década passa- atualmente apenas urna espécie, Ambarella trichapada (e pos-
da convergiram para a mesma resposta. Esses novos achados sivelmente também as Nymphaeales), e outra que contém as
tiveram, e ainda têm, um grande impacto em nossa interpre- demais angiospermas (Mathews e Donoghue 1999; Qiu et ai.
tação sobre a evolução das primeiras linhagens de angiosper- 1999; Soltis et al. 1999; Parkinson et al. 1999; Barkman et ai.
mas e os fatores que de certa forma influenciaram no enorme 2000; Zanis et al. 2002). Essa hipótese tem sido confirmada
sucesso das plantas com flores (ver Soltis et ai. 2005). em todos os estudos baseados em uma ampla amostragem de
A maioria dos estudiosos da evolução das angiospermas taxa (p. ex., Leebens-Mack et ai. 2005). Ambarella trichapada é
tem sustentado que as primeiras angiospermas faziam par- uma planta arbustiva da ilha de Nova Caledônia, com flores
te das "Magnoliidae" (sensu Cronquist 1988; Takhtajan 1997) relativamente pequenas com um número pequeno de par-
- um grupo parafilético que inclui as magnólias, abacates, tes organizadas em arranjo espiralado (Endress e Igersheim
vitórias-régias e pimentas-do-reino, entre outros. Mesmo se 2000b). Alguns indivíduos formam apenas flores produtoras
verdadeira, no entanto, tal conclusão não era suficiente para de pólen (estarninadas), enquanto outros formam apenas
visualizar as hipotéticas primeiras angiospermas, porque as flores produtoras de sementes (carpeladas). A presença de
"Magnoliidae"apresentam uma notável diversidade de formas estaminódios nas flores carpeladas, no entanto, sugere que
morfológicas. Algumas são plantas lenhosas e outras são pe- a espécie evoluiu a partir de ancestrais com flores bissexuais
quenas ervas. Além disso, algumas, como as magnólias, pos- (perfeitas). Diferentemente da maioria das demais angiosper-
suem grandes flores com muitas partes florais (estames, carpe- mas, as células condutoras de água do xilema de Ambarella
los) dispostas em um arranjo espiralado em um eixo alongado, são traqueídes (Feild et al. 2000), dando suporte à hipótese
enquanto outras, como as pimentas-do-reino, possuem flores de que as primeiras angiospermas não possuíam elementos
diminutas com poucas partes organizadas em verticilos distin- de vaso (ver Figura 7.16) . Os gametófitos femininos de Am-
tos. Algumas análises filogenéticas mais antigas sugeriam que barella também são incomuns por possuírem três, e não duas,
SISTEMÁTICA VEGETAL 179

Angiospermas (plantas com flores)

Mesangiospermas (angiospermas-núcleo)

"Dicotiledôneas"

Magnolídeas
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1 cotilédone

Fusão pós-genital dos bordos do


carpelo (?), carpelos plicados (?)
FIGURA 7,16 Relações filogenéticas na base
da árvore das angiospermas e caracteres diag-
nósticos dos seus principais dados. O ponto
de interrogação (?) indica que o momento da
mudança de caráter é incerto. MAA, milhões Carpelo, endosperma,
de anos atrás. (Adaptada de Zanis et ai. 2002.) gametófitos reduzidos

sinérgides ladeando a oosfera na região micropilar (e, dessa primórruo carpelar inicialmente tem forma de U e então se
forma, apresenta um total de nove núcleos em oito células, desenvolve como um tubo. Na mruoria das Mesangiosper-
em oposição aos oito núcleos e sete células usuais encontra- mae, os carpelos são plicados, ou seja, com a aparência de
das na mruoria das angiospermas; Friedman 2006). uma folha dobrada ao meio e selada em suas extremidades.
As Nymphaeales formam outra linhagem basal da árvore Embora essas observações nos permitam visualizar a condi-
filogenética das angiospermas (Friis et ai. 2001), assim como ção basal dos carpelos em angiospermas, elas não fornecem
asAustrobruleyales (inclumdo as Illiciaceae). Notavelmente, os novos elementos para elucidar a controversa questão da ori-
gametófitos femmmos dessas duas linhagens possuem apenas gem carpelar, isto é, se estes são derivados de uma folha ou
quatro células e formam um endosperma diplóide (Friedman representa m uma estrutura composta derivada de um ramo
e Williams 2004). Juntamente com Amborel/a, essas duas linha- reduzido e a folha que o subtende (ver Doyle 2006).
gens são irmãs do dado que contém as angiospermas-núcleo, As relações dentro das angiospermas-núcleo a inda são
um grupo que inclui as demais plantas com flores e que Canti- pouco claras, com o posicionamento incerto de alguns grupos
na e colaboradores (2007) denommaram Mesangiospermae. enigmáticos, especialmente Chloranthaceae e Ceratophyllum
Enquanto os carpelos das linhagens basais de angiosper- (Qiu et ai. 2005). No en tanto, a maioria dos grupos principais
mas são selados por uma secreção, os carpelos dos membros é bem sustentada. Primeiro, um dado restrito das magnolí-
das angiospermas-núcleo são geralmente selados por fusão deas (Magnoliidae) inclui as Magnoliales e as Laurales, além
pós-genital do tecido da epiderme (Endress e Igersheim das Canellales e Piperales. Winteraceae, uma família que não
2000a). Nas três linhagens basrus, e também em Chloran - possui elementos de vaso no xilema, está dentro de Canella-
thaceae (que pode estar na base das angiospermas-núcleo; les, significando que os elementos de vaso foram perrudos em
Doyle e Endress 2000), os carpelos são ascidiados, ou seja, o alguns casos (ver também Trochodendraceae no Capítulo 9).
180 JUDD, (AMPBELL, KELLOGG, STEVENS & D ONOGHUE

Uma segunda linhagem importante das angiospermas- Polinização, dispersão e formas


núcleo contém os demais taxa pertencentes às tradicionais de vida das angiospermas
dicotiledôneas, sendo denominada eudicotiledôneas (ou
Eudycotiledonae). Essa linhagem foi inicialmente detecta- Muito da diversidade floral está relacionado à biologia da po-
da em análises morfológicas e chamada de dado das tricol - linização (ver Capítulo 4). A polinização por insetos (ento-
padas (Donoghue e Doyle 1989), em referência à principal mófila) é conhecida para diversas linhagens de plantas com
característica morfológica diagnóstica do grupo - a presença sementes que não as angiospermas: as Cycadales modernas
de grãos de pólen com três colpos, ou sulcos germinativos e as gnetófitas, assim como as Bennettitales fósseis e possi-
(e uma variedade de formas derivadas deste tipo; ver Figura velmente algumas "samambaias com sementes"do Mesozói-
4.48), que derivaram de formas monossulcadas (Doyle 2005). co. A polinização entomófila aparentemente se estabeleceu
Os sulcos germinativos adicionais da forma tricolpada po- durante o surgimento do dado principal das angiospermas.
dem aumentar a chance de contato de ao menos uma área Ela deve ter sido inicialmente desempenhada por insetos
de germinação com a superfície estigmática (Furness e Ru- comedores ou coletores de pólen, particularmente besouros
dall 2004). O aparecimento de grãos de pólen tricolpados no e moscas; flores polinizadas por insetos coletores de néctar
registro fóssil datados de 125 milhões de anos forneceu um evoluíram em um momento posterior. Essas conclusões são
ponto de calibração para a datação molecular e a estimativa sustentadas pela morfologia dos fósseis mais antigos de an-
do momento de diversificação das plantas com flores. Mui - giospermas, assim como pelo conhecimento sobre os meca-
tas eudicotiledôneas também possuem flores com partes em nismos de polinização em membros atuais das linhagens ba-
número de quatro ou cinco, ou múltiplos destes (Judd e 01- sais de angiospermas (Friis et al. 1987; Thien et al. 2000).
mstead 2004). Essa mudança importante na organização flo- Ainda é incerto o quanto a polinização entomófila in-
ral dentro das eudicotiledôneas parece estar correlacionada fluenciou a diversificação inicial das angiospermas, porém a
com duplicações de genes que codificam diversos fatores de evolução das plantas com flores parece não ter afetado de for-
transcrição que desempenham um papel crucial na expressão ma significativa a origem das principais linhagens de insetos,
da identidade dos órgãos e na simetria floral (Kramer e Hall que evoluíram muito antes. Todavia, é bastante claro que a
2005; Howarth e Donoghue 2006). diversificação em alguns grupos de angiospermas e linhagens
Estima-se que existam cerca de 160.000 espécies de eudico- de insetos está de certa forma conectada.
tiledôneas. Este enorme grupo contém um número significativo A variação na morfologia do fruto está grandemente re-
de linhagens com muitas espécies atuais, incluindo as legumi- lacionada aos diferentes agentes dispersores (ver Capítulo 4).
nosas (cerca de 16.000 espécies) e as compostas (cerca de 20.000 Frutos e sementes fósse is do Cretáceo são em geral peque-
espécies), assim como os carvalhos, as rosas, as laranjeiras, os nos, e não há evidência direta de especializações para a dis-
ipês e as perobas, para citar apenas alguns dos grupos familia- persão por mamíferos ou aves (ver Friis et ai. 1987). Adapta-
res dentre aqueles discutidos em detalhes no Capítulo 9. ções para a dispersão por animais frugívoros ou granívoros
Um terceiro grande dado, com cerca de 65.000 espécies, parecem não ter ocorrido antes do final do Cretáceo e, em di-
corresponde às tradicionais monocotiledôneas (ou Mono- versas linhagens, originaram-se provavelmente no Terciário.
cotyledonae). Cerca de metade das espécies de monocotile- Embora as florestas tropicais dominadas por angiospermas
dôneas são orquídeas (cerca de 20.000 espécies) ou gramíne- tenham surgido já no Cretáceo (Davis et al. 2005), evidência
as (cerca de 9.000 espécies), mas este grupo também inclui as fóssil indica que esse domínio não se disseminou para outros
palmeiras, as bromélias, as bananeiras, os antúrios, os lírios, ambientes até o Terciário inferior, momento este coincidente
as flores-de-lis e muitas outras plantas conhecidas e de varia- com a radiação dos pássaros e mamíferos modernos. A evo-
da importância (ver Capítulo 9). lução de frutos e sementes grandes e coloridas está ligada à
Muitas das características tradicionalmente citadas como evolução desses grupos de animais.
diagnósticas de monocotiledôneas - como as partes florais Por fim, é interessante observar a evolução das formas
em número de múltiplos de três e pólen monossulcado - pro- de vida dentro das angiospermas e de que modo ela pode
vavelmente antecederam ao surgimen to desse dado (Soltis et ter influenciado a diversificação do grupo. A maioria dos es-
al. 2005). Outras características, no entanto, parecem sustentar tudos recentes posiciona linhagens de plantas lenhosas na
as monocotiledôneas, como os feixes vasculares distribuídos base da árvore das angiospermas. Amborella e Austrobai-
esparsamente no caule, a perda do câmbio vascular, as folhas leyales são, em sua maioria, arbustos ou arvoretas, embora
com venação paralela e o desenvolvimento da lâmina foliar a também mostrem uma tendência à forma de crescimento
partir da porção basal do primórdio foliar, mas a confirmação volúvel. Seus representantes atuais habitam o sub-bosque
dessas sinapomorfias dependerá em determinar com maior de florestas úmidas e apresentam adaptações para a vida
grau de confidência quais são os seus grupos-irmãos e tam - em ambientes com baixa disponibilidade de luz. Uma das
bém as relações dentro do dado das monocotiledôneas. Inte- hipóteses em debate é a de que as primeiras angiospermas
ressantemente, a presença de uma folha embrionária, ou co- cresceram em hábitats perturbados de sub-bosque ou em
tilédone, parece ainda ser o caráter morfológico que melhor ambientes sombreados próximos à água, e que a sua saída
distingue as monocotiledôneas (ver Figura 4.44). para ambientes variados pode ter estimulado a diversifica-
É importante ressaltar que as relações filogenéticas que ção dentro das angiospermas- núcleo (Feild et al. 2004). Uma
acabamos de apresentar estão em discordância com os siste- importante exceção entre as linhagens basais é o dado das
mas de classificação tradicionais, nos quais as angiospermas Nymphaeales, cujos integrantes são herbáceos e habitam
estão divididas em dois grupos principais: as monocotiledô- ambientes aquáticos com grande exposição à luz. O táxon
neas e as dicotiledôneas. Ao invés disso, as monocotiledôneas extinto Archaefructus, cujas relações permanecem ainda in-
formam um dado que está inserido dentro das "dicotiledône- certas, também era uma provável planta aquática (Sun et al.
as", que são parafiléticas. 2002; Friis et al. 2003).
SISTEMÁTICA V EGETAL 181

O hábito herbáceo evoluiu cedo nas angiospermas e conhecimento sobre a evolução das plantas verdes. Análises
desenvolveu-se diversas vezes de forma independente - por filogenéticas recentes demonstraram que alguns grupos tra-
exemplo, em Nyrnphaeales, Chloranthaceae, Piperales e nas dicionalmente reconhecidos não são monofiléticos. As "plan-
monocotiledôneas. Em diversos casos, esse desenvolvimento tas" (eucariontes autotróficos), por exemplo, originaram-se
parece estar correlacionado à colonização do ambiente aquá- independentemente a partir de eventos de endossimbiose.
tico. Formas grandes e lenhosas reevoluíram a partir de plan- Dentro do dado das plantas verdes, as tradicionais "algas
tas herbáceas em algumas ocasiões, embora a evolução do verdes" são parafiléticas em relação às plantas terrestres, as-
lenho "normal" tenha sido impedida nas monocotiledôneas sim como as "briófitas" em relação às plantas vasculares, as
pela perda do câmbio vascular. Dentro das monocotiledône- "plantas vasculares sem sementes" em relação às plantas com
as, o crescimento em altura foi adquirido de diferentes formas sementes, as "gimnospermas" em relação às angiospermas e
alternativas - por exemplo, por meio de um mecanismo de as "dicotiledôneas" em relação às monocotiledôneas. Ao mes-
espessamento especializado no meristema apical das pal- mo tempo em que estes grupos tradicionais são reavaliados,
meiras; pelas bases foliares largas e rígidas das bananeiras e novos e importantes dados estão sendo identificados, como
grupos relacionados e pela formação de um câmbio vascular o das estreptófitas (parte das "algas verdes" mais as embri-
anômalo em Ruscaceae, Agavaceae e alguns poucos taxa pró- ófitas) e o das eufilófitas (parte das "plantas vasculares sem
ximos (ver Capítulo 9). sementes"mais as espermatófitas).
Dentro das eudicotiledôneas, é fácil observar uma enor- Um grande número de questões filogenéticas que há
me variação no hábito, mas novamente ocorreram diversas tempos intrigam os pesquisadores tem sido recentemen -
mudanças do hábito lenhoso para o herbáceo, alguns destes te solucionado com um alto grau de certeza. Por exemplo,
bastante cedo na evolução do grupo. Por exemplo, as formas as Psilotales não são remanescentes das primeiras plantas
herbáceas das papoulas (Papaveraceae) e das Ranunculaceae vasculares, mas sim parte do dado das moni lófitas. Além
parecem ter evoluído precocemente, e de forma independen- disso, a base da árvore filogenética das angiospermas está
te, em uma das primeiras linhagens de eudicotiledôneas, as finalmente sendo desvendada, com as linhagens de Ambo-
Ranunculales. Nelumbo, a planta da flor-de-lótus, representa rella e de Nyrnphaeales tendo divergido antes do dado das
outro exemplo de evolução precoce do hábito herbáceo rela- angiospermas-núcleo, que inclui as eudicotiledôneas e as
cionado a uma mudança para o ambiente aquático. monocotiledôneas.
Uma importante tendência nas eudicotiledôneas é a Embora o progresso no conhecimento filogenético tenha
derivação de linhagens herbáceas adaptadas a zonas climá- sido consideravelmente rápido, muitas questões cruciais ain-
ticas temperadas a partir de linhagens de plantas tropicais da permanecem em aberto. Por exemplo, há muito mais in-
lenhosas Qudd et ai. 1994). Essas transições com freqüência certezas hoje sobre as relações entre as principais linhagens
parecem estar correlacionadas com acréscimos na taxa de de plantas com sementes do que a dez anos atrás. Qual o po-
diversificação Qudd et a.l. 1994; Magallón e Sanderson 2001) sicionamento correto das gnetófitas, e qual é o grupo-irmão
e ligadas, ao menos em parte, à expansão geográfica de vá- das angiospermas? E, dentro das angiospermas-núcleo, quais
rias dessas linhagens (p. ex., ao longo do Hemisfério Norte são os grupos-irmãos das monocotiledôneas e das eudicoti-
durante o Terciário; ver Donoghue e Smith 2004). Analisados ledôneas?
conjuntamente, todos esses fatores parecem ter influenciado Essas importantes questões têm se mostrado difíceis de
de forma significativa a diversificação das angiospermas. solucionar, mas o sucesso alcançado nas últimas décadas su-
gere que as respostas virão em um momento futuro. A ex-
periência acumulada também demonstra que análises que
Resumo integram evidências de diferentes fontes - dados molecula-
O enorme progresso realizado nas últimas décadas na eluci- res, morfologia, ontogenia e registro fóssil - representam o
dação das relações filogenéticas teve um grande impacto no melhor caminho para o sucesso.

BIBLIOGRAFIA CITADA ELEITURAS RECOMENDADAS


As referências marcadas com um asterisco representam revisões recentes símbolo de ena representam textos sobre anatomia comparada de plantas,
focadas em relações filogenéticas e são especialmente recomendadas para obter morfologia e paleobotânica que podem ser consultados para a obtenção de
informações adicionais e pontos de vista. As referências marcadas com um infonnações importantes sobre caracteres específicos e grupos de organismos.

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