Você está na página 1de 37

UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA

ENGENHARIA QUÍMICA

EXTRAÇÃO, MANIPULAÇÃO E ANÁLISE DO EXTRATO


GLICÓLICO DA ALOE VERA PARA FINS FITOTERÁPICOS

Herbert Leite de Souza


Wellington Caetano Ferreira
Orientador: Profª. Dra. Valdirene Aparecida da Silva

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS


Novembro/2016
RESUMO
A extração por extrato é uma técnica muito difundida para a obtenção de compostos ativos
presentes em espécies vegetais, podendo ser efetuado por vários processos diferentes, o extrato
glicólico é um deles, que utiliza o processo de maceração, percolação ou infusão junto a um
solvente hidroglicólico para a obtenção do extrato. O extrato glicólico de plantas medicinais
possuem muitas substâncias ativas, dentre elas, os flavonóides, alcalóides, taninos e saponinas,
passíveis de extração. É imprescindível a realização de testes que confirmem a existência de
tais substâncias tanto para padronização quanto para a qualificação do extrato obtido, bem
como sua estabilidade em meio extrativo e na sua aplicação em fitoterápicos. A Aloe vera,
apesar de apresentar inúmeras substâncias já identificadas, ainda possuí substâncias
desconhecidas. Através da técnica de extração foi possível obter os ativos saponinas e taninos,
enquanto as outras substâncias testadas não se mostram passíveis de extração, os pHs das
amostras se mantiveram relativamente constantes, já o álcool em gel apresentou estabilidade
visual.
Palavra-chave: Babosa. Extrato glicólico. Substância medicinal. Fitoterápico.
ABSTRACT
The extraction by extract it’s a widespread technique to obtaining active compounds presents
in vegetable species, it may be made by several different process, the glycolic extract it’s one
of them, using a maceration, percolation or infusion with a solvent hydroglycolic to obtaining
the extract. The glycolic extract by medicinal plants have many actives substance, amoung
them flavonoids, alkaloids, tannins and saponins, amenable to extraction. It’s essential testing
to confirm the existence of substances both standardization and for the qualification of the
extract obtained and stability in middle extractive and it’s application in phytotherapy. The
Aloe vera, despite having numerous substances identified, but have unknown substances, it’s
important to run test that show the existence of new substances. Through the extraction
technique it was possible to obtain the active saponins and tannins, while the other substances
tested could not be extracted, the pHs of the samples remained relatively constant, and the gel
alcohol presented visual stability.
Keywords: Aloe. Glycolic extract. Medicinal substance. Phytothera
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 6

1.1. Plantas medicinais ..................................................................................................... 6

1.2. Fitoterápicos .............................................................................................................. 7

1.3. Substâncias químicas de espécies vegetais medicinais ............................................. 8

1.4. Principais classes de ativos ....................................................................................... 9

1.4.1. Saponinas ........................................................................................................... 10

1.4.2. Taninos ............................................................................................................... 11

1.4.3. Flavonóides ........................................................................................................ 12

1.4.4. Alcalóides ........................................................................................................... 13

1.5. Gênero Aloe............................................................................................................. 14

1.6. Aloe barbadensis Miller .......................................................................................... 15

1.6.1. Estrutura da folha de Aloe vera .......................................................................... 16

2. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 18

2.1. Coleta das folhas de Aloe barbadensis Miller ........................................................ 18

2.2. Extrato glicólico da Aloe vera 50% ........................................................................ 19

2.3. Filtração do extrato glicólico .................................................................................. 21

2.4. Medição do pH ........................................................................................................ 21

2.5. Teste para confirmação da existência de saponinas no extrato glicólico ................ 21

2.6. Teste para confirmação da existência de taninos no extrato glicólico .................... 22

2.6.1. Preparação de solução de FeCl31% em metanol ................................................ 22

2.6.2. Preparo da análise de taninos no extrato glicólico ............................................. 22

2.7. Teste para confirmação da existência de alcalóide no extrato glicólico ................. 22

2.7.1. Preparação da solução de RGA (reativo gerais de alcalóides), reação de


bouchardat/wagner .................................................................................................. 22

2.7.2. Preparação da solução de H2SO4 1% ................................................................. 23


2.7.3. Preparo da análise de alcalóides no extrato glicólico ......................................... 23

2.8. Teste para confirmação da existência de flavonóide no extrato glicólico .............. 23

2.9. Produtos fitoterápicos à base do extrato glicólico da Aloe vera ............................. 23

2.9.1. Álcool em gel com extrato glicólico da Aloe vera ............................................. 24

2.9.2. Pomada com extrato glicólico da Aloe vera ....................................................... 24

2.10.Metodologia para características organolépticas .................................................... 25

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 25

3.1. Teste para saponinas ............................................................................................... 27

3.2. Teste para taninos.................................................................................................... 28

3.3. Teste para alcalóides ............................................................................................... 28

3.4. Teste para flavonóides ............................................................................................ 28

3.5. Teste das características organolépticas .................................................................. 28

3.6. Teste de estabilidade dos produtos finais ................................................................ 29

3.7. Processo industrial .................................................................................................. 29

3.8. Fluxograma de processo.......................................................................................... 32

4. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 34

5. REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 36
1. INTRODUÇÃO

1.1. Plantas medicinais

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), planta medicinal é qualquer tipo de


espécie vegetal que possuem substâncias que possam ser utilizadas para fins terapêuticos ou
forneçam substâncias para fármacos artificiais. [1]
Os produtos naturais ainda são muito usados como matéria prima para síntese de
substâncias bioativas, principalmente os fármacos, que tem relatos que datam os primórdios da
civilização humana. [2]
Ignorar a cultura popular, com relação à utilização de plantas no alívio de doenças, foi
um erro histórico. [3]
Essa descrença na utilização de remédios naturais, por parte dos profissionais da saúde,
vem principalmente da falta de informação dos efeitos de cada planta medicinal, e de como a
mesma interage com as doenças, levando profissionais da área a acreditar que tais informações
sobre esses remédios naturais não serviam como ponto de início para o desenvolvimento de
novos medicamentos. [3]
Com o avanço da medicina, remédios vegetais culturalmente utilizados, perderam
espaço no mercado de fármacos para medicamento sintéticos ou até medicamentos derivados
das próprias plantas, devido à falta de comprovação da efetividade, ausência ou qualidade dos
princípios químicos constituintes, muito menos na toxidade que o seu consumo pode
apresentar. [1, 4]
Apesar da diminuição da utilização de medicamentos naturais oriundos de espécies
vegetais, atualmente os produtos naturais ainda representam grande parte do consumo de
fármacos no mundo (cerca de 40%). [1]
Um dado interessante prova que a utilização de medicamentos provindos de material
vegetal não caiu em desuso, visto que a Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que
80% da população mundial utilizam terapias alternativas principalmente com medicamentos
vindo de plantas medicinais. A utilização de plantas medicinais não restringe apenas a países
subdesenvolvidos. Um exemplo interessante verificou-se no Reino Unido, em que 20% da
população utilizam de tratamentos com medicamentos naturais regularmente. [1,5]

6
Um dos motivos da nova repopularização da utilização de plantas medicinais é a
descoberta de efeitos secundários preocupantes causados pelo uso em excesso de fármacos
sintéticos. [6]
O uso seguro de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos ainda é
comprometido, pois um número ínfimo de espécies vegetais, que apresentam características
medicinais, foi avaliado por novas metodologias mais modernas. [4]
No Brasil, o controle da comercialização e a pesquisa de medicamentos natural de
plantas medicinais ou medicamentos fitoterápicos, ainda são principiantes e assim necessita de
maior atenção de orgãos públicos e privados. [1]
Medicamentos fitoterápicos podem ser vistos como a evolução para o uso de plantas
medicinais, pois não se baseiam mais em conhecimentos antigos de populações, mais sim em
estudos para confirmações de eficácia e riscos apresentados pela droga vegetal, levando a um
produto padronizado que evita contaminações com microorganismos, permitindo um uso mais
seguro. [7]

1.2. Fitoterápicos

Segundo a Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), fitoterápicos tem como


definição medicamento obtido com princípios ativos exclusivamente extraídos de drogas
vegetais, sendo caracterizados pelo total conhecimento de sua eficiência, dos riscos em seu uso
e invariabilidade da qualidade. [7]
O mercado de fitoterápicos apresenta um ascendente crescimento nos últimos anos,
movimentando U$$ 22 bilhões anuais em todo mundo. [1]
No Brasil, totalizando o lucro das maiores empresas de fitoterápicos do ano de 2006,
obteve-se um lucro de aproximadamente R$ 460 milhões. [4]
Corroborando o interesse em produzir fitoterápicos, com os altos lucros obtidos por esse
mercado, vem em uma crescente procura desse tipo de medicamento, apresentando um
progressivo aumento nas vendas anuais, chegando a 20% em 2005. No mesmo ano os
medicamentos sintéticos apresentaram um aumento de apenas 5% nas vendas. [8]
Hoje a utilização de fitoterápicos na medicina não visa substituir medicamentos
registrados, tendo como objetivo principal oferecer opções terapêuticas de medicamentos de

7
valores inferiores, com efeitos mais adequados ou simplesmente como terapia complementar.
[4]

A pesquisa em volta de materiais vegetais para produção de fitoterápicos tem crescido


muito, objetivando principalmente o conhecimento e quantificação dos constituintes químicos
da espécie vegetal. A análise de químicos provenientes de vegetais pode indicar grupos
metabólicos secundários de grande importância. Estudos mais específicos visam à pesquisa de
classes características de constituintes ou substâncias indicadas para certo efeito farmacológico,
tendo a investigação voltada para o isolamento e exposição da estrutura das substâncias
fitoquímicas. [2]
No Brasil, o registro de fitoterápicos industrializados é feito pela ANVISA/Ministério
da Saúde, controlando a produção, distribuição do produto e fiscalização. [7]
No Brasil o registro de fitoterápicos são regulados por 5 resoluções específicas: a RDC
48 (complementação da RDC 17) e RE 88, 89, 90 e 91, [7]

1.3. Substâncias químicas de espécies vegetais medicinais

As substâncias ou grupo de substâncias químicas geradas por plantas, por motivos


distintos, quando ingeridos poder levar a reações ao organismo, sendo denominado princípio
ativo. Essas substâncias ou grupo de substâncias podem ser separados de acordo com suas
semelhanças químicas ou estruturais. [8]
Em geral as plantas apresentam uma gama diversificada de princípios ativos na sua
composição, em alguns casos pode apresentar vários princípios ativos na mesma planta. [8]
O perigo de ingerir princípios ativos de plantas vem da crença errônea de que toda e
qualquer substância vinda de plantas não representa nenhum risco a saúde. Muitas substâncias
provindas de material vegetal apresentam toxidades, que dependendo da dose ingerida, podem
causar uma série de problemas. [5,9]
Os princípios ativos são formados principalmente no metabolismo secundário das
espécies vegetais, que tem as funções de proteção, adequação ao meio e competição biológica.
Por depender o meio externo e da espécie da planta, o princípio ativo gerado é, uma
característica única da espécie vegetal. [5,8]
O metabolismo primário é responsável pelas substâncias com as funções básicas a

8
planta como crescimento, respiração e fotossíntese (como aminoácidos, proteínas e vitaminas).
[5,8]

A concentração e até mesmo o tipo de princípio ativo de plantas da mesma espécie


podem apresentar diferenças, dependendo do meio em que eles se desenvolveram. [1]
Situações de estresse, como excesso ou deficiência de algum fator de produção para a
espécie vegetal, causadas pelo meio (como variações climáticas ou ataque de pragas), pode
acarretar diferenciação na concentração de fármacos presentes em comparação de espécies que
não sofreram esse tipo de estresse. [8]
Um exemplo comum dessa influência do meio ambiente com a planta é sua interação
com temperatura. Espécies vegetais desadaptadas com clima de um determinado ambiente têm
dificuldades na geração dos princípios ativos. [8]
A luminosidade também é um fator determinante nas concentrações dos princípios
ativos. [8]

1.4. Principais classes de ativos

As substâncias que apresentam algum efeito medicinal podem ser usadas de formas
diferentes. Suas aplicações podem ser feitas de forma isolada, na forma de um extrato bruto ou
extrato purificado. [10]
Essas substâncias podem ser classificadas de acordo com suas estruturas químicas, seus
efeitos farmacológicos e seus comportamentos físico-químicos. [10]
A divisão mais comumente utilizada para ativos encontrados em plantas são:
 Glicosídeos
 Saponinas
 Cianogenéticos
 Cumarínicos
 Flavonóides
 Cardioativos
 Alcalóides
 Taninos

9
 Óleos essenciais
 Outros ativos (polissacarídeos, lipídeos, terpenos, peptídeos, antibióticos etc).
[10]

1.4.1. Saponinas

As saponinas são glicosídeos, ou seja, são substâncias que formadas por parcela de
açúcar (glicona) ligada a um grupo aglicona, que demonstra caráter terapêutico. [8]
Trata-se de um grupo de substância que apresenta características emulsificantes,
detergente e dulcificante. São usados diretamente pela ação laxativa, diurética, digestivas, anti-
inflamatórias e expectantes. [8,11]
O grupo saponinico ajuda na absorção de vários medicamentos, sendo utilizadas
também em combinações com outras plantas. [8]
Uma das suas propriedades mais marcantes é a de formação de espuma persistente em
solução aquosa quando agitada. Essa espuma formada se mantém inalterável pela adição de
ácidos minerais a solução. [10,11, 12]
Essa característica é explicada por sua estrutura, que contém uma parte hidrofóbica, e
uma parte hidrofílica ou lipofílica (afinidade com lipídeos), formada por um ou mais açúcares,
apresentando característica anfifílica (apresentam diminuição na tensão superficial da água e
suas ações detergentes e emulsificantes). [10]
Doses elevadas de saponinas na corrente sanguínea podem levar a hemólise, devido à
desorganização da membrana dos glóbulos vermelhos do sangue. [8,10]
As saponinas são classificadas quimicamente pela presença de dois tipos de núcleos
fundamentais da aglicona, a saponina esteroidal ou saponina triterpênico, como está ilustrado
na Figura 1 e Figura 2. Elas também podem ser classificadas de acordo com seu caráter ácido,
básico ou neutro. [10,12]

10
Figura 1: Estrutura molecular comum da saponina
esterioidal. O ciclohexano B pode variar com uma
dupla ligação

Fonte: Autor

Figura 2: Estrutura molecular comum das saponinas triterpênicas. A estrutura molecular a direita
representa saponina triterpênica lupeol, que diverge das estruturas moleculares comuns.

Fonte: Autor

1.4.2. Taninos

Os taninos abrangem um grupo de sustâncias complexas, amplamente distribuídas por


inúmeras espécies vegetais. Quimicamente são substâncias polifenólicas, de alto peso
molecular, capaz de precipitar proteínas em solução. [8,11,12]
Esses ativos são compostos por polifenóis, dificilmente separáveis por não
cristalizarem. Podem ser separados em duas classes distintas: Taninos hidrolisáveis e taninos
condensados (ou não hidrolisáveis), bem como exemplificado na Figura 3. [11]
As plantas que possuem esses ativos podem ser utilizadas em feridas, queimaduras,
cicatrizes, problemas gastrointestinais, quadros inflamatórios e diarreias. [12]
Taninos podem ser identificados por reação de precipitação de proteínas em solução ou
pela reação de complexos coloridos com sais de ferro. [11,12]

11
Figura 3: Estrutura molecular de taninos
condensados

Fonte: Autor

1.4.3. Flavonóides

Ativos flavonóides são substâncias que apresentam 15 carbonos em sua estrutura base.
Existem aproximadamente 200 flavonóides identificados. Podem se apresentar no estado livre
[8,11]
ou na forma heterosídica.
Por possuírem uma grande variação química, os flavonóides são subdivididos em
classes específicas de acordo com suas estruturas químicas com forme a Figura 4, Figura 5 e
Figura 6. Cada subgrupo apresenta propriedades físico-químicas levemente diferentes. São
elas:
 Flavonas: Apresenta um benzeno na posição orto
 Antocianidinas: Apresenta ressonância
 Isoflavonas: Possui um benzeno na ligação meta
 Catequinas: Dispõe de uma função éter no carbono 3
 Chalconas: É um grupo de substâncias muito oxigenadas e apresentam maior
reatividade

 Flavonóis: Contém mais de uma função química

 Flavononas: Tem uma dupla ligação no carbono dois [8,11,12]

Os flavonóides manifestam efeitos anti-inflamatórios, antialergicos, antiespasmódica,


antioxidante. Além desses efeitos, os flavonóides também apresentam ação protetora sobre os
capilares sanguíneos. [11,12]
12
Figura 4: Da esquerda para a direita, estrutura molecular das flavonas, isoflavonas e antocianidinas.

Fonte: Autor

Figura 5: Estrutura molecular das


flavononas.

Fonte: Autor

Figura 6: Da esquerda para a direita, estrutura molecular das catequinas, chalconas e flavonóis

Fonte: Autor

1.4.4. Alcalóides

Os alcalóides são substâncias orgânicas, complexas, que possuem ao menos um átomo


de nitrogênio em seu anel, apresentam caráter básico. [12]
13
Esse grupo de ativos representa uma quantidade muito significativa de substâncias, com
estruturas diversas. Para simplificar o entendimento dessas substâncias, a classificação destas é
feita de acordo com seu sistema de anéis, que também podem ser subdivididos de acordo com
seu aminoácido precursor. [12]
Por apresentarem muitas diferenças entre suas estruturas, os alcalóides podem
manifestar efeitos tóxicos ou curativos para o organismo humano, dependendo do seu tipo.
Em sua maioria, os alcaloides são sólidos cristalinos, pouco solúveis em água, solúveis
em ácidos e solventes orgânicos. [12]
Alguns dos alcalóides são popularmente conhecidos como a morfina, heroína, codeína e
cafeína, que está representada na Figura 7. Alguns alcalóides possuem efeitos no sistema
nervoso. [12]

Figura 7: Estrutura molecular da


cafeína

Fonte: Autor

1.5. Gênero Aloe

O termo “aloe” provavelmente foi derivado das três palavras ou de uma delas, do grego
“alóe”, do árabe “alloeh” e/ou do hebraico “halal” e em todas as palavras tem como definição
“substância amarga e brilhante”. [14]
As Aloes têm como característica folhas suculentas, mantendo um grande acúmulo de
água, fazendo delas adaptáveis a ambientes áridos. [9]
O gênero Aloe é formado por uma variedade de mais de 400 espécies vegetais distintas,
porém o uso medicinal dessas plantas como medicamentos é restrito há algumas espécies que
não causam danos à saúde humana. A exploração dessas espécies na indústria farmacêutica tem
crescido exponencialmente, principalmente as espécies: Aloe barbadensis Miller, Aloe ferox,
Aloe arborensis e a Aloe Perryi Baker. A mais utilizada na indústria de cosméticos e de
14
fitoterápicos é a espécie Aloe barbadensis Miller que apresenta uma maior quantia de
princípios ativos, tanto no parênquima de reserva, quanto no parênquima clorofiliano. [9,14]

1.6. Aloe barbadensis Miller

A Aloe vera (L.) Burm. F., Aloe barbadensis Miller, ou simplesmente babosa (como é
popularmente conhecida no Brasil), é uma espécie vegetal da família Asphodelaceae, que é
dividida em 785 espécies vegetais, distribuídos em 18 gêneros diferentes. [5]
Aloe vera do latim “Aloés verdadeiro”, é uma planta que apesar de ter alcançado uma
boa adaptação no Brasil, trata-se de uma espécie natural do continente africano, provavelmente
da África do Sul, tendo a sua introdução no período colonial. [9]
Essa espécie vegetal apresenta inúmeras propriedades medicinais distintas, encontradas
nos extratos, tanto do parênquima de reserva, quanto do parênquima clorofiliano, situadas nas
suas folhas. Por essa pluralidade de substâncias com efeitos benéficos a saúde, o uso dessa
planta em produtos apresenta um leque grande de aplicações na área da saúde, em mercados
como o farmacêutico, da beleza e alimentício (em alguns países como o Brasil, ainda não é
[5,15]
regularizado sua ingestão).
A comercialização de produtos derivados da babosa vem apresentando uma grande
evolução no mercado mundial, aumentando a necessidade de matéria vegetal, levando a uma
crescente nas áreas de cultivo dessa planta. [5]
No Brasil o uso da Aloe Barbadensis Miller ainda é limitado por órgãos reguladores,
(como a ANVISA), principalmente pela falta de uma total compreensão dos efeitos do seu
consumo. [15]
A babosa é uma planta de cor verde, ocasionalmente apresentam manchadas, com folhas
que apresentam uma face ventral plana, e uma fase dorsal convexa, com textura lisa, expondo
espinhos ao redor das suas bordas, com comprimentos que variam de 30 a 75 cm, relativamente
grossas, com formato de lança, distribuídas em formas de rosetas basais. Trata-se de uma planta
que se adapta a vários tipos de solo, adaptando-se melhor em solos arenosos e leves (drenado),
não exigindo muita irrigação. É uma planta que necessita de luz solar intensa e constante,
adaptando-se bem a regiões agressivas a maioria das plantas, como regiões desérticas ou
cerrado, como ocorreu no Brasil. [9,14,16]

15
Essa espécie perene, quando adulta apresenta por volta de 50 folhas que podem atingir
até 75 cm de altura e peso de 1,4 a 2,3 kg cada. No verão, o vegetal floresce, como
exemplificado na Figura 8, em uma haste floral de meio metro que sustenta uma espiga de
flores vistosas e densas com tonalidade avermelhada, alaranjada ou amarelada, em formato
tubular que produzem frutos com cápsulas contendo sementes. [14,16]
O período em que as flores desabrocham ocorre de agosto a setembro, sendo a
fecundação cruzada, através de insetos e pássaros, principalmente. [5]

Figura 8: Florescência da Aloe


vera

Fonte: Autor

1.6.1. Estrutura da folha de Aloe vera

As folhas da Aloe vera são a parte da espécie vegetal de mais importância para a
produção de fitoterápicos, pois as substâncias extraídas delas apresentam muitas propriedades
bioativas. A Aloe vera apresenta folhas com suculência característica que atua como
reservatório de água, adaptando-a a climas desérticos (característica xerófita). [14,17]
Fazendo um corte transversal na folha da babosa, ilustrado na Figura 9, é possível
separá-la em duas partes: uma camada externa de coloração esverdeada formada pelo
16
revestimento vegetal ou parênquima clorofiliano (de onde é extraído o látex), e revestido por
essa casca vegetal, encontra-se o parênquima mucilaginoso ou de reserva (conhecido como
polpa ou gel da folha). [14]
A parte mucilaginosa da babosa é uma substância pouco consistente, que exala um odor
desagradável. Possui aspecto vítreo e gelatinoso, não apresenta coloração. [1,6,14]
Identifica-se um sabor amargo, adstringente e muito forte, apresentando pH entre 4,0 e
5,0. [6]
O parênquima de reserva se conecta diretamente com a característica da planta de
resistir a ambientes quase inférteis, visto que o gel conserva a umidade do tecido por extensos
períodos, até a próxima aguagem. [5]
A mucilagem apresenta por volta 75 compostos identificados, tendo em mente que
substâncias bioativas, e principalmente suas porcentagens sofrem muita influência de
elementos externos, como época de coleta, plantio, formas extrativas, dentre outras. [6]
O gel da Aloe vera é amplamente utilizado em medicamentos fitoterápicos e no setor
alimentício. [6]
A superfície do vegetal é formada, externamente por um revestimento de células
epidérmicas que concedem característica impermeabilizante e elástica a folha. Esse
revestimento sustenta uma próxima camada, que tem a função de conduzir a seiva (látex) pelos
canais condutores. [6]
O látex obtido das camadas internas da folha é um líquido de aparência leitosa, com
tonalidade amarela ocre, com sabor amargo e aroma rançoso. [6]
Esse líquido, que é produzido por células excretoras da planta, é formado
essencialmente por derivados antraquinônicos como a aloína e emodina, pigmentos, substâncias
inseticidas e conservantes. [1,8]
O sabor amargo do extrato do parênquima de reserva se deve a abundante concentração
de substâncias encarregadas da proteção da espécie vegetal ameaças ambientais, como
radiações, frio, calor e pragas. [6]
A presença de substâncias antraquinônicas (presentes em níveis de 0,1 até 6,6% do peso
seco da folha), que reagem como laxantes muito intensos a ingestão, fazem com que sua
utilização no setor alimentício não seja recomendada. A utilização do parênquima clorofiliano
na indústria farmacêutica é restrita a poucas aplicações. [6]
17
O revestimento vegetal da Aloe vera possui cerca de 80 constituintes, muitos ainda não
identificados. [5]
Este trabalho tem como objetivo Extração do extrato glicólico da Aloe vera para
analises físico-químicas deste, confirmação da presença dos ativos taninos, saponinas,
flavonóides e alcalóides, processamento do extrato e aplicação em medicamentos
fitoterápicos. Criação de planta piloto para a manufatura do extrato glicólico.

Figura 9: Corte transversal da fola de Aloe vera

Fonte: Autor

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Os experimentos foram realizados no laboratório de Química Geral e Laboratório de


Extração e Corrosão de Materiais, alocados na FEAU, Faculdade de Engenharia, Arquitetura e
Urbanismo da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), campus Urbanova, no período de
fevereiro a outubro de 2016.

2.1. Coleta das folhas de Aloe barbadensis Miller

Coletou-se uma folha do ramo da Aloe barbadensis Miller, no herbário mantido pela
faculdade Univap campus Urbanova, com o auxílio de uma faca, bem como mostra a Figura 10.
Limpou-se as folhas de Aloe vera com água corrente. Para evitar alterações no produto vegetal,
coletou-se todas as folhas no mesmo horário (por volta de 13h30min), e iniciou-se processo de
extração imediatamente após a sua coleta e limpeza.

18
Figura 10: Folha da Aloe vera

Fonte: Autor

2.2. Extrato glicólico da Aloe vera 50%

A metodologia utilizada foi baseada na metodologia descrita no Formulário de


Fitoterápicos da Farmacopéia Brasileira, 1ª edição do ano de 2011. [18]
O extrato obtido é de 50%, ou seja, numa analogia simples, para preparar 100 mL de
extrato foi utilizado 50g do material vegetal.
Com o auxílio de um bisturi, cortou-se longitudinalmente as extremidades da folha,
removendo-se a parte espinha da folha.
Extraiu-se a parte mucilaginosa da Aloe vera com auxílio de um bisturi, separando o
parênquima de reserva e o parênquima clorofiliano. Pesou-se a mucilagem e, separadamente, o
revestimento vegetal, com o auxílio de uma balança analítica.
Pesou-se 1g de mucilagem. Mediu-se com auxílio de uma proveta, 1,9 mL de álcool de
cereais. Pesou-se 0,1mL de propilenoglicol (Densidade: 1,04 g/mL). Transferiu-se a solução
junto a mucilagem para um vidro âmbar. Manteve-se em repouso por 10 dias com agitação de 3
a 4 vezes por dia.
A Tabela 1 e a Tabela 2 mostram a data de preparação do extrato glicólico, a quantidade
de matéria vegetal utilizada (tanto mucilagem quanto o revestimento vegetal), e os volumes do
álcool de cereais e o propilenoglicol utilizado.
A Tabela 3 apresenta dados em porcentagem do conteúdo das amostras coletadas tanto
para a mucilagem presente quanto para o revestimento vegetal.

19
Tabela 1: Dados experimentais

Data Tipo Quantidade de Quantidade de Quantidade de


matéria (g) álcool de cereais propilenoglicol (mL)
(mL)
27/04/2016 Mucilagem 1 112 213 11,4
27/04/2016 Revestimento 1 98 186 9,8
25/05/2016 Mucilagem 2 26,131 50 2,6
25/05/2016 Revestimento 2 26,003 50 2,6
25/05/2016 Mucilagem 3 23,096 44 2,3
25/05/2016 Revestimento 3 25,549 49 2,6
06/06/2016 Mucilagem 4 30,991 93 3,0
06/06/2016 Revestimento 4 53,274 101 5,3
06/10/2016 Mucilagem 5 34,310 65 3,4
06/10/2016 Revestimento 5 49,932 95 5,0
Fonte: Autor

Tabela 2: Media das massas e da perda de material vegetal

Amostra Massa da folha Massa da Massa do % da perda


inteira (g) mucilagem (g) revestimento vegetal
(g)
1 115,584 56,274 49,648 8,36
2 116,629 51,762 52,013 11,02
3 132,648 63,479 53,274 11,98
4 91,083 34,310 49,932 7,51
Média 113,986 ± 17,150 51,456 ± 12,407 51,217 ± 1,729 9,72 ± 2,124
Fonte: Autor

20
Tabela 3: Porcentagens dos componentes da folha

Amostra % mucilagem na folha % revestimento vegetal na


folha
1 48,69 42,97
2 44,38 42,57
3 47,85 40,16
4 37,67 54,82
Média 44,65 ± 5,01 45,13 ± 6,58
Fonte: Autor

Acondicionou-se as amostras 1 e 2 em uma geladeira em resfriamento constante, já as


amostras 3, 4, 5 e 6 acondicionou-se em local seco, desprovido de umidade e a temperatura
ambiente.

2.3. Filtração do extrato glicólico

Após o prazo de 10 dias do processo de extração, filtrou-se o extrato para retirada de


sólidos presentes na mesma. A filtração ocorreu com auxílio de um funil e algodão (meio
filtrante).

2.4. Medição do pH

Calibrou-se o pHmetro QUIMIS, modelo Q400AS (número de registro 41424),


utilizando a metodologia padrão de calibração fornecida pelo fabricante do equipamento.
Mediu-se o pH de cada uma das amostras, uma alíquota do álcool de cereais e do
propilenoglicol. A cada extrato produzido mediu-se novamente o pH de cada amostra junto a
recém extraída.

2.5. Teste para confirmação da existência de saponinas no extrato glicólico

Esse teste foi realizado e adaptado para o extrato glicólico da Aloe vera seguindo a
metodologia (COSTA, 1995). [19]
21
Pesou-se 2g do extrato glicólico com auxílio de um béquer de 50 mL, uma pipeta
graduada de 5 mL, uma pera e uma balança analítica, adicionou-se 10 mL de água destilada
com auxílio de uma proveta. Ferveu-se a amostra com auxílio de uma chapa aquecedora e
agitou-se até a formação da espuma.

2.6. Teste para confirmação da existência de taninos no extrato glicólico

Esse teste foi realizado seguindo a metodologia (YOSHIDA, 2015). [22]

2.6.1. Preparação de solução de FeCl31% em metanol

Pesou-se 1g de FeCl3 com auxílio de um béquer de 50 mL, uma espátula e uma balança
analítica e dissolveu-se em metanol com auxílio de um bastão de vidro. Transferiu-se a solução
para um balão volumétrico de 100 mL, adicionou-se metanol até o menisco e homogeneizou-se
a solução.

2.6.2. Preparo da análise de taninos no extrato glicólico

Adicionou-se 2 mL de extrato glicólico, com auxílio de uma pipeta graduada de 5 mL


em um tubo de ensaio e adicionou-se 10 mL de água destilada com auxílio de uma proveta.
Adicionou-se cerca de 2 a 4 gotas da solução de FeCl3 1% em metanol. Verificou-se a
coloração.

2.7. Teste para confirmação da existência de alcalóide no extrato glicólico

Esse teste foi realizado e adaptado para o extrato glicólico da Aloe vera seguindo a
metodologia (SANTOS, 2004). [21]

2.7.1. Preparação da solução de RGA (reativo gerais de alcalóides), reação de


bouchardat/wagner

Pesou-se 1g de iodo com auxílio de um béquer de 50 mL, uma espátula e uma balança

22
analítica. Pesou-se também 2g de iodeto de potássio com auxílio de uma espátula e uma
balança analítica, dissolveu-se em água destilada com auxílio de um bastão de vidro e
transferiu-se a solução para um balão volumétrico de 100 mL e adicionou-se água destilada até
o menisco e homogeneizou-se a solução.

2.7.2. Preparação da solução de H2SO4 1%

Mediu-se 1 mL de H2SO4 P.A com auxílio de uma pipeta graduada de 1 mL e uma pera.
Transferiu-se para um balão volumétrico de 100 mL e completou-se com água destilada até o
menisco.

2.7.3. Preparo da análise de alcalóides no extrato glicólico

Pesou-se 2g do extrato glicólico com auxílio de um béquer de 50 mL, uma pipeta


graduada de 5 mL, uma pera e uma balança analítica, adicionou-se 20 mL de H2SO4 1% com
auxílio de uma proveta. Aqueceu-se a solução e deixou-se ferver por 3 minutos com auxílio de
uma chapa aquecedora e filtrou-se com auxílio de um funil e algodão.
Adicionou-se 2 gotas da solução de RGA no filtrado e verificou-se a sua coloração.

2.8. Teste para confirmação da existência de flavonóide no extrato glicólico

Esse teste foi realizado e adaptado para o extrato glicólico da Aloe vera seguindo a
metodologia (COSTA, 1995). [19]
Mediu-se 4 mL do extrato glicólico com auxílio de uma pipeta graduada de 5 mL, uma
pera e um tubo de ensaio. Adicionou-se uma pitada de magnésio granulado com auxílio de uma
espátula no tubo de ensaio. Mediu-se 0,5 mL de HCl com auxílio de uma pipeta de 1 mL e uma
pera, adicionou-se no tubo de ensaio e verificou-se a coloração.

2.9. Produtos fitoterápicos à base do extrato glicólico da Aloe vera

23
2.9.1. Álcool em gel com extrato glicólico da Aloe vera

A metodologia utilizada foi baseada na metodologia descrita no Formulário de


Fitoterápicos da Farmacopéia Brasileira, 1ª edição do ano de 2011. [18]
Pesou-se cerca de 100g de álcool em gel hidratante com auxílio de um béquer de 250
mL, espátula e balança analítica, em seguida mediu-se 10 mL do extrato glicólico da Aloe vera,
com auxílio de uma bureta de 100 mL e adicionou-se ao álcool em gel e homogeneizou-se a
solução com auxílio de um bastão de vidro. Transferiu-se o produto final para um recipiente.

2.9.2. Pomada com extrato glicólico da Aloe vera

A metodologia utilizada foi baseada na metodologia descrita no Formulário de


Fitoterápicos da Farmacopéia Brasileira, 1ª edição do ano de 2011. [18]

• Solução conservante

Para preparar a pomada a base de Aloe vera, primeiramente preparou-se uma solução de
conservantes a base de propilenoglicol, metilparabeno e propilparabeno.
Para preparação da solução de conservantes, adicionou-se 0,307g de nipazol
(propilparabeno), 0,605g de nipagim (metilparabeno) e 9,114g de propilenoglicol em um
béquer de 100 mL com auxílio de um vidro de relógio e espátula para pesar o nipazol e o
nipagim e pipeta de Pasteur para adicionar o propilenoglicol, todos pesados com auxílio de uma
balança analítica. Aqueceu-se a solução com auxílio de uma chapa aquecedora, misturando-se
com auxílio de um bastão de vidro até homogeneizar totalmente a solução.

• Preparação da pomada

Para preparação da pomada a base do extrato glicólico da Aloe vera, pesou-se 0,113g da
solução conservante com auxílio de uma pipeta de Pasteur; 5,000g do extrato glicólico da Aloe
vera com auxílio de uma pipeta de Pasteur e 50,077g de vaselina sólida com o auxílio de uma
espátula e bastão de vidro (todos os reagentes foram pesados com auxílio de uma balança

24
analítica). Homogeneizou-se com auxílio de um bastão de vidro. Transferiu-se a mistura para
um recipiente adequado.

2.10. Metodologia para características organolépticas

Esse teste foi realizado seguindo a metodologia (PEREIRA, 2007), que consiste na
observação da homogeneidade do extrato (não formação de precipitados), cheiro da amostra,
coloração e todas as características possíveis no âmbito visual.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando os dados de pH expostos na Tabela 4, Tabela 5, Tabela 6, Tabela 7 e Tabela


8 observou-se que a variação entre as medidas feitas é muito pequena, mesmo que as datas
sejam bem distintas. Não houve variação expressiva no pH das amostras que foram
acondicionadas sobre refrigeração e as amostras que foram acondicionadas em temperatura
ambiente.
É visto que o pH do extrato glicólico do revestimento vegetal é mais baixo (mais ácido)
em comparação ao extrato glicólico da mucilagem (menos ácido e mais próximo ao pH neutro),
segundo mostrado no Gráfico 1 e Gráfico 2.
A estabilidade do pH é um indicativo de estabilidade do extrato glicólico, sendo o pH
uma característica da matéria. Caso haja alteração no pH, sua alteração pode ser vista como um
indicativo de mudança na composição do extrato.

Tabela 4: Dados de pH da amostra 1

Data Extrato glicólico da mucilagem Extrato glicólico do


(pH) revestimento vegetal (pH)
25/05/2016 5,63 4,75
06/06/2016 5,64 4,76
16/06/2016 5,63 4,75
15/08/2016 5,72 4,78
08/09/2016 5,71 4,77
20/10/2016 5,76 4,81
Fonte: Autor

25
Tabela 5: Dados da amostra 2

Data Extrato glicólico da mucilagem Extrato glicólico do


(pH) revestimento vegetal (pH)
06/06/2016 5,44 4,52
16/06/2016 5,46 4,6
15/08/2016 5,43 4,49
08/09/2016 5,47 4,52
20/10/2016 5,45 4,59
Fonte: Autor

Tabela 6: Dados do pH da amostra 3

Data Extrato glicólico da mucilagem Extrato glicólico do


(pH) revestimento vegetal (pH)
06/06/2016 5,52 4,56
16/06/2016 5,55 4,58
15/08/2016 5,53 4,55
08/09/2016 5,50 4,56
20/10/2016 5,49 4,58
Fonte: Autor

Tabela 7: Dados do pH da amostra 4

Data Extrato glicólico da mucilagem Extrato glicólico do


(pH) revestimento vegetal (pH)
16/06/2016 5,33 5,21
15/08/2016 5,33 5,22
08/09/2016 5,35 5,21
20/10/2016 5,34 5,20
Fonte: Autor

Tabela 8: Dados da amostra 5

Data Extrato glicólico da mucilagem Extrato glicólico do


(pH) revestimento vegetal (pH)
20/10/2016 5,62 5,82

26
Gráfico 1: pHs das folhas
5,4

5,2

4,8 pH folha 1
pH folha 2
4,6
pH folha 3
4,4 pH folha 4

4,2

4
25/05/2016 25/06/2016 25/07/2016 25/08/2016 25/09/2016

Fonte: Autor

Gráfico 2: pHs das mucilagens

5,8

5,7

5,6
pH mucilagem 1
5,5
pH mucilagem 2
5,4 pH mucilagem 3
5,3 pH musilagem 4

5,2

5,1
25/05/2016 25/06/2016 25/07/2016 25/08/2016 25/09/2016
Fonte: Autor

3.1. Teste para saponinas

O teste para identificação de saponinas foi positivo de acordo com a metodologia


(COSTA, 1995), visto que o teste realizado (teste de espuma) apresentou a formação de espuma
e ela permaneceu durante 15 minutos com mesma quantidade e mesma intensidade e assim
comprovando a presença de saponinas na Aloe vera, extraída pelo extrato glicólico de Aloe

27
vera. [19]

3.2. Teste para taninos

O teste para identificação de taninos foi positivo de acordo com a metodologia


(YOSHIDA, 2015), visto que o teste realizado utilizando o extrato glicólico da Aloe vera e uma
solução preparada de FeCl3 (cloreto férrico) 1% em metanol, apresentou coloração esverdeada,
indicando a presença de taninos condensados, comprovando assim a existência de taninos na
Aloe vera, extraída pelo extrato glicólico de Aloe vera. [20]

3.3. Teste para alcalóides

O teste para identificação de alcaloides foi negativo de acordo com a metodologia


(SANTOS, 2004), visto que o teste realizado utilizando o extrato glicólico da Aloe vera,
solução preparada de H2SO4 (ácido sulfúrico) 1% em água e uma solução preparada com iodo,
KI (iodeto de potássio) e água destilada (solução de RGA, Reativos Gerais de Alcalóides),
apresentou coloração alaranjada e não marrom e assim comprova que não existe alcalóides na
Aloe vera e no extrato glicólico a base de álcool de cereais, propilenoglicol e Aloe vera. [21]

3.4. Teste para flavonóides

Como esperado, o teste para identificação de flavonóide foi negativo seguindo a


metodologia (COSTA, 1995), visto o teste realizado, que utiliza raspas de magnésio e HCl
(ácido clorídrico) concentrado não obteve a cor vermelha como dito na literatura, não houve
mudança na coloração e assim comprova a não existência de flavonóides na Aloe vera e no
extrato glicólico de Aloe vera. [19]
Muitos dos testes realizados foram adaptados ao extrato glicólico da Aloe vera, para
comprovação da sua eficácia para fins fitoterápicos.

3.5. Teste das características organolépticas

Todos os extratos glicólicos mantiveram sua respectiva cor (transparente para a


28
mucilagem e amarelo ocre para as folhas) e seus odores característicos, mesmo tendo amostras
acondicionadas sobre refrigeração constante ou não. Não houve mudanças aparentes nos
extratos obtidos como precipitados em meio a solução ou mudanças em seu odor característico.

3.6. Teste de estabilidade dos produtos finais

O álcool em gel à base do extrato glicólico da Aloe vera se mostrou eficiente, pois o
produto se manteve homogêneo (não ocorreu separação das fases), mesmo após meses da sua
fabricação.
A pomada à base do extrato glicólico da Aloe vera se mostrou ineficiente. O produto
não apresentou homogeneidade, expondo duas fases muito evidentes, que mesmo alterando a
metodologia (derretendo a vaselina sólida até ela se transformar em líquida e adicionando a
solução de conservantes e o extrato glicólico da Aloe vera), não houve homogeneização,
apresentando-se como um produto que necessita de maior aprimoramento.

3.7. Processo industrial

A seguir, é apresentada como sugestão uma metodologia de extração dentro de uma


planta industrial, representado pelo fluxograma de blocos expresso na Figura 11. Para que essa
metodologia fosse desenvolvida, foi dimensionado, teoricamente, todo processo de extração
realizado no laboratório.
Ao ser colhido, a Aloe vera é transportada por um caminhão, onde será coletada cerca
de 10 folhas da Aloe vera, que após limpeza, será feita análise gravimétrica, pesando a folha da
Aloe vera, sua mucilagem e seu revestimento vegetal, com objetivo do cálculo da proporção de
ambos (farmacopeia, 2011). É feito também cálculos de densidade da mucilagem das folhas
ajudaram a estimar por média da densidade, a altura do líquido no vaso agitado. Essas análises
são muito importantes para garantir a qualidade do material vegetal e estimar a quantidade do
produto final.
Após as análises, o caminhão é descarregado em uma esteira que conduzirá o material
vegetal até o tanque de lavagem com o objetivo de efetuar a limpeza externa das folhas com
água.

29
Após a lavagem o material vegetal passará por uma triagem, onde serão retirados todos
os espinhos e a ponta. Folhas que apresentarem alguma anormalidade também serão retiradas.
Após a limpeza, a folha da Aloe vera passará por um moinho de rolos, onde será
extraída a mucilagem do revestimento vegetal da folha. A mucilagem irá para uma calha
inclinada e o revestimento vegetal irá para um processo secundário, carregado por uma esteira
vazada, que tem como objetivo continuar separando os resquícios de mucilagem. A mucilagem
será triturada com auxílio de um moinho de facas e, posteriormente encaminhada para um vaso
agitado que sofrerá agitação a cada 8 horas, onde será adicionado o propilenoglicol e álcool de
cereais em proporções já calculadas de 1:1,19 de álcool de cereais e 1:0,1 de propilenoglicol.
Após a adição dos solventes, a amostra ficou sobre agitação intercalada de 8 em 8 horas,
no período de 10 dias. Passado esse período, a mistura é filtrada e o extrato glicólico é separado
por meio de um filtro manga para retirada dos sólidos presentes no extrato. Após esse processo
o extrato obtido é envasado em frascos âmbar de 1L e ficará em local escuro com temperaturas
amenas até ser vendido. Os resíduos do processo (folha da Aloe vera e mucilagem) são secados
por meio de um secador e depois são trituradas por meio de um moinho de impacto e são
armazenadas em um silo para posterior venda como adubo.

30
Figura 11: Fluxograma de blocos do processo industrial

Fonte: Autor

31
3.8. Fluxograma de processo

O fluxograma de processo representado na Figura 12 foi elaborado considerando um


vaso agitador de capacidade de 2000 L.
Dimensões do vaso agitador:
Altura: 1m
Raio: 0,8m
Vteórico= r2 * h * π
Vteórico = (0,80)2 * 1 * π
Vteórico = 2,0106 m3 ou 2010,6 dm3 ou 2010,6 L
A agitação será feita por turbina de pás retas, já que pode atuar em um grande intervalo
de viscosidade da mistura a ser homogeneizada, e é aplicável para agitação de fluídos viscosos.
As pás devem ser inclinadas para suspensão dos sólidos (mucilagem). A velocidade de agitação
irá variar de acordo com a viscosidade e volume final, previamente calculado nos testes prévios
na chegada do material vegetal.
O processo de extração é feito em batelada. Considerando a utilização de 1000 kg de
Aloe vera, pelos cálculos já realizados (Tabela 3 e Tabela 4), com a limpeza perde-se cerca de
97,2 kg e após o esmagamento, cerca de 446,5 kg (o peso que sobra, cerca de 456,3 kg é de
folha). No vaso agitador, adiciona-se a mucilagem da Aloe vera, álcool de cereais e
propilenoglicol, suas respectivas quantidades são 848,35 L de álcool de cereais e 44,65 L de
propilenoglicol, dando um volume de solvente de 893 L.
Levando em consideração que a adição da mucilagem elevara o nível da solução, já que
se trata de um sólido, então sua altura final irá variar dependendo da quantidade de mucilagem
a ser adicionada.
Levando em conta que a mucilagem também terá um acréscimo do volume dos
solventes, o vaso agitador ainda terá margem de segurança (já que o cálculo do volume do vaso
agitado, foi para 2000 L).
No tanque de agitação a mistura ficará por 10 dias em agitações intercalados e em
seguida será filtrado para retirada da mucilagem. Após a isso, o extrato glicólico ficará
armazenado até seu envase. Os resíduos retirados da filtragem e o revestimento vegetal sofrerão
um processo de retirada da umidade por secagem em secadores, triturada e armazenada em um

32
silo para serem vendidos como adubos.

Figura 12: fluxograma de processo

Fonte: Autor

33
A Tabela 9 Identifica os equipamentos utilizados na Figura 12, relacionando com a
numeração adotada para facilitar a identificação de cada equipamento.
Tabela 9: Equipamentos do fluxograma

Indicação Equipamento Indicação Equipamento


A-1 Tanque de água para lavagem G-2 Válvula borboleta
A-2 Tanque de propilenoglicol G-3 Válvula borboleta
A-3 Tanque de álcool de cereais G-4 Válvula borboleta
B Elevador G-5 Válvula borboleta
C-1 Esteira G-6 Válvula borboleta
C-2 Esteira G-7 Válvula borboleta
D Moinho de rolos G-8 Válvula borboleta
E Mixer H Agitador
F-1 Bomba em linha I Válvula de diafragma
F-2 Bomba em linha J Filtro
F-3 Bomba em linha K-1 Tanque de armazenamento de
extrato glicólico da Aloe vera
F-4 Bomba em linha K-2 Silo de resíduo gerado
F-5 Bomba em linha L-1 Secador
F-6 Bomba em linha L-2 Secador
F-7 Bomba em linha M-1 Moinho de impacto
F-8 Bomba em linha M-2 Moinho de impacto
F-9 Bomba em linha N Válvula de 3 vias
G-1 Válvula borboleta O Moinho de martelo
Fonte: Autor

4. CONCLUSÃO

A Aloe vera é uma planta muito versátil e pode ser processada de várias formas
diferentes. A escolha pelo extrato glicólico se mostrou interessante para a aplicação no álcool
gel, levando em consideração que não foi feito qualquer tipo de teste da sua interação com
tecidos animais. A metodologia utilizada para fabricação de pomadas a base de Aloe vera se
mostrou inviável como produto comercial, pois há necessidades de estudos específicos.
Com relação às medidas de pH, notou-se uma leve tendência de elevação no pH da
amostra de mucilagem 1, levando a crer em mudanças na estabilidade do extrato glicólico no
decorrer com tempo. [6]
Observou-se que o pH inicial de cada amostra possuí uma leve diferença,
provavelmente em decorrência de coletas feitas em épocas diferentes, um dos maiores fatores
que influenciam nas concentrações das substâncias presentes na folha de Aloe vera. [5]
Atípico aos dados anteriores, o pH do extrato glicólico do revestimento vegetal da
34
amostra 4 mostrou uma diferença visível, que tem como causador provável a época da coleta da
amostra. [6]
Nenhum dos pHs apresentou grandes discrepâncias já que todos os pHs estavam em
torno de 5,0 (o pH base do extrato glicólico da Aloe vera gira em torno de 5,0). [6]
Com relação aos testes de alcalóides, saponinas, taninos e flavonóides os resultados não
apresentaram surpresas, visto que taninos e saponinas são substâncias que conhecidamente
representam alguns dos ativos da Aloe vera. Os flavonóides nunca foram caracterizados na
Aloe vera e os alcalóides não são passíveis de extração por extrato glicólico. [5, 13, 20]

35
5. REFERÊNCIAS

[1]- MARANHÃO, H.M.L., Avaliação Toxicológica reprodutiva da Resina de Aloe ferox


Miller em ratas Wistar. 2010. 57p. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) –
Departamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010.
[2]- SIMÕES, C.M.O. et al. Farmafognosia: da planta ao medicamento. In: BARREIRO, E. J.,
FRAGA, C.A.M., ARAÚJO JUNIOR, J.X. O uso de produtos naturais vegetais como
matérias-primas vegetais para a síntese e planejamento de fármacos. 6. ed. Porto Alegre:
Editora da UFRGS. Florianópolis: Editora da UFSC, 2007. p. 147-210.
[3]- SIMÕES, C.M.O. et al. Farmafognosia: da planta ao medicamento. In: ELISABETSKY,
E., SOUZA, G.C. Etnofarmacologia como ferramenta na busca de substâncias ativas. 6.
ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS. Florianópolis: Editora da UFSC, 2007. p. 107-122.
[4]- SIMÕES, C.M.O. et al. Farmafognosia: da planta ao medicamento. In: LAPA, A.J. et al.
Farmacologia e toxicologia de produtos naturais. 6. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS.
Florianópolis: Editora da UFSC, 2007, p. 247-262.
[5]- CARPESTRINI, L.H., Aloe barbadensis Miller: Análise do perfil metabólico e estudo
dos efeitos vasculogênicos e angiogênicos do extrato do parênquima de reserva, da fração
polissacarídea (FP) e da acemanana. 2007. 208p. Dissertação (Mestrado em Biotecnologia) –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.
[6]- PEREIRA, D.C., Uso da Aloe Vera em produtos farmacêuticas e análise da
estabilidade físico-química de creme aniônico contendo extrato glicólico desta planta, v.6,
n.12, p.27-34, 2007.
[7]- ANVISA., Fitoterápicos, 2015
[8]- ESCOLA TÉCNICA “DR. GUALTER NUNES” (Fundação Educacional “Manoel
Guedes”). Produção de produtos fitoterápicos. 2016. 100p, 2016
[9]- BURATTO, A.P., Avaliação da atividade antibacteriana de extratos etanólicos de
babosa (Aloe Vera), 2013. 56p. Trabalho de Graduação (Licenciatura em Ciências Biológicas)
– Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013.
[10]- CASTEJON, F.V., Taninos e Saponinas. 2011, 29p. Seminário (Mestrado) –
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2011.
[11]- FONSÊNCA, S.G.D., Farmacotécnica de Fitoterápicos. 2005, 64p., Fortaleza, 2005.
[12]- JUNQUEIRA, S.C., Transposição didática das atividades experimentais em
abordagem fitoquimica preliminar: uma proposta teórico-experimental para o ensino
36
médio. 2014, 74p. Dissertação (Mestrado em Farmácia) – Universidade Anhanguera de São
Paulo, São Paulo, 2014.
[13]- SIMÕES, C.M.O. et al. Farmafognosia: da planta ao medicamento. In: FALKENBERG,
M.B., SANTOS, R.I., SIMÕES, C.M.O. Introdução a análise fitoquímica. 6. ed. Porto
Alegre: Editora da UFRGS. Florianópolis: Editora da UFSC, 2007. p. 229-245.
[14]- PARENTE, L.M.L., Aloe Vera: características botânicas, fitoquímicas e
terapêuticas. v.33, n.4, p. 160-164, 2013.
[15]- BRASIL, Agência Senado, Falta de pesquisas no Brasil dificulta utilização da babosa
como alimento e remédio, <http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2009/12/08/falta-
de-pesquisas-no-brasil-dificulta-utilizacao-da-babosa-como-alimento-e-remedio> Acessado
em: 09 mar. 2016.
[16]- FREITAS, V.S., Propriedades farmacológicas da Aloe Vera (L.) Burm. f. v.16, n.2, p.
299-307, 2014
[17]- SANTOS, R.M.F. et al Desenvolvimento de sabonete líquido de Aloe Vera: extração,
purificação do extrato ativo e manipulação de forma farmacêutica. v.10, n.2, p. 251-259,
2012.
[18]- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário de fitoterápicos:
Farmacopéia Brasileira. ANVISA, 126p. 2011.
[19]- COSTA, A.S.V., Identificação de substâncias secundárias presentes em leguminosas
utilizados como adubo verde, 1995. 15p. Tese (Master of Scientiae em Fitotecnia) –
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Serecopédica, 1995.
[20]- YOSHIDA, S.Y. et al. Extrato glicólico das folhas de Psidium guajava (goiabeira). v.1.
p. 110-120, 2015.
[21]- SANTOS, M.G., Triagem fitoquímica e atividade antiproliferativa do extrato
diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum (Kunth) G.Don (Leguminosae).
2004. 100p. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêutica) – Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhona e Mucuri, Diamantina, 2014.

37

Você também pode gostar