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INTRODUÇÃO

A busca por terapias integradas e complementares, é uma prática comum no


Brasil, como exemplo temos o uso de plantas medicinais, a fitoterapia (uso de
plantas medicinais administradas pelo homem, em forma de chá ou infusão à
frio exercendo ação farmacológica). Os fitoterápicos podem ser constituídos
por plantas industrializadas, onde passam por processos que evitam
contaminação com microorganismos, com doses e posologia definidos
garantindo maior segurança e eficácia no seu uso.
A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) foi
implantada no SUS pelo Ministério da Saúde em 2006, garantindo a sua
integralidade na atenção à saúde.
Nesse universo de plantas medicinais, existem várias espécies de Aloe e vera,
sendo a Barbadensis Miller o foco deste estudo. Popularmente conhecida como
Babosa, essa planta pertence a família das Liláceas e do gênero Aloe,
englobam mais de 300 espécies, utilizadas em muitos países, inclusive no
Brasil, com fins medicinais e de estética.
Apesar do seu uso já ser conhecido, faltam recursos e estudos que aprimorem
suas indicações. É preciso conhecer o vegetal, saber colhê-lo e prepará-lo.
Aloe vera
A história da Aloe vera é antiga e se encontra presente na literatura de
diversas culturas. Seu nome provavelmente se origina da palavra arábica
alloeh, que significa substância amarga e brilhante. O primeiro registro do uso
da Aloe vera foi feito em uma tabuleta de argila da Mesopotâmia datada de
2100 a.C. (Atherton, 1997). Conhecida no Egito antigo como a “planta da
imortalidade”, teria sido usada por Cleópatra nos cuidados da pele e do cabelo.
Menções existentes na Bíblia, de acordo com muitos historiadores, seriam na
verdade de outras plantas, a Excoecaria agalocha L. ou da Aquillaria agalocha
L. (Teske & Trentini, 1997; Alonso, 2007).
Citada na enciclopédia História Natural de Plínio, o Velho (23 – 79 d.C.) e na
Matéria Médica de Dioscórides, considerado o fundador da Farmacognosia,
que fez referência ao cheiro forte e gosto amargo da Aloe vera, e ao seu uso
no tratamento de irritações da pele e na cura de furúnculos e feridas (Haller,
1990). Foi trazida por comerciantes para o mercado londrino em 1693 e em
1843 quantias consideráveis eram importadas. Atualmente é plantada em
grande escala em diversos países, como México, EUA e China. Foi
reconhecida pela Farmacopeia Britânica como droga oficial em 1932 sendo
aceita também em diversas outras farmacopeias. É muito comum no Brasil
onde é popularmente utilizada na cicatrização de feridas, no tratamento de
queimaduras, conjuntivite, dores reumáticas dentre outros males (Haller, 1990;
Alonso, 2007; Lorenzi & Matos, 2008; Guerra et al., 2008).
A Aloe vera Barbadensis Miller é nativa do Norte da África, precisa de luz solar
direta e solo drenado, por esse motivo se adaptou com sucesso ao Cerrado
Brasileiro. Pesquisadores encontraram relatos do uso desta planta entre
civilizações antigas como os egípcios, gregos, chineses, macedônios,
japoneses. Ela apresenta viscosidade (gel) da mucilagem das folhas, que são
constituídas por um tecido parenquimático rico em polissacarídeos, a
caraguatá, como também é chamada, é carnosa, firme e quebradiça, possui
espinhos em suas folhas, as quais podem medir até 50 cm de comprimento.
Rica em lignina, minerais, cálcio, potássio, magnésio, zinco, sódio, cromo,
cobre, cloro, ferro, manganês, betacaroteno (pró-vitamina A), vitaminas B6
(piridoxina), B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B3, E (alfa tocoferol), C (ácido
ascórbico), ácido fólico e colina.
A esta planta são reconhecidas propriedades dermo-cosméticas como
bactericida, cicatrizante e principalmente a capacidade de re-hidratar o tecido
capilar, queda de cabelo e espinhas.  Sua polpa pode ser utilizada como
vermífugo e digestivo em uso interno e sua resina - resultado de mucilagem,
após secagem das folhas é utilizada como laxante.
Ela tem maiores indicações em aplicações tópicas, não possuindo
contraindicação em cosméticos, tem ação anti-inflamatória, portanto, essa
forma terapêutica estimula o fornecimento de oxigênio, aumentando assim, a
vascularização e o colágeno, favorecendo a cicatrização, ocorrendo o aumento
das células epiteliais e o tecido é remodelado. A combinação de ativos
existentes na Aloe vera faz com que essa planta tenha inúmeras atividades
biológicas, revelando sua eficácia no tratamento de queimaduras podendo inibir
a via da enzima Ciclooxigenase, reduzindo a produção de prostaglandina.
Demostra também atividade antineoplásica, antimicrobiana e imunomodulatória
em estudos in vitro e in vivo.
Observa-se que remédios botânicos muito simples e baratos e suplementos
naturais estão entre os mais amplamente reconhecidos como tendo benefícios.
Aloe vera pode ser ingerida para reduzir os altos níveis de glicose pós-refeição
associados a diabetes e pré-diabetes.
A Aloe vera demora de quatro a cinco anos para atingir a maturidade e suas
folhas podem ser divididas em duas partes. Da parte mais externa pode se
extrair um suco, que quando concentrado e seco recebe a denominação de
Aloé. Esse suco flui espontaneamente das folhas cortadas e possui cor marrom
escura, além de forte odor e sabor muito amargo. É composto principalmente
por derivados antracênicos sendo as aloínas (barbaloína e isobarbaloína) os
mais conhecidos (Atherton, 1997; WHO, 1999).
O gel é muito utilizado como matéria prima na indústria cosmética, alimentícia e
farmacêutica e diversas técnicas são empregadas para sua conservação
(Atherton, 1997; Eshun & He, 2004; Cunha, 2005;).
A pasteurização é a técnica de processamento mais utilizada pela indústria e
um dos métodos sugeridos é o HTST (temperatura alta, tempo curto, sigla em
inglês) onde o gel é aquecido à 65ºC por no máximo 15 minutos seguido por
rápido resfriamento à 5ºC ou menos. Rodríguez-González et al. (2011) relatam
diminuição significativa nos níveis de acemanana, um dos bioativos do gel,
além de outras alterações em amostras pasteurizadas a 85ºC, provavelmente
devido à degradação térmica. Outro método utilizado é a desidratação, que de
acordo com Femenia et al. (2003) provocou perda significativas de acemanana
e outros compostos quando as amostras foram tratadas com temperaturas
acima dos 60ºC. O emprego de técnicas de processamento que conservem os
ativos do gel de maneira adequada é essencial para que o mesmo apresente
os efeitos farmacológicos esperados (Eshun & He,2004).
Estudos experimentais relatam a atividade antineoplásica da A. vera frente a
diversas linhagens de câncer. Supõe-se que a aloína, aloe-emodina e a
acemanana sejam parcialmente responsáveis por essa atividade. Vários são os
mecanismos sugeridos para o efeito citotóxico provocado pela A. vera, e esses
parecem depender da dose utilizada e do tipo de tumor. Uma das hipóteses
levantadas é a de que há uma redução na proporção de células na fase
mitótica por indução de apoptose provocada pelas antraquinonas (Esmat et al.
2006). Perturbações no ciclo e na diferenciação celular, estimulação do sistema
imune, além de marcante atividade antioxidante também são sugeridas, o que
resultaria em efeito antiproliferativo. Estudo recente, utilizando uma solução
feita com mel de abelhas e Aloe vera em ratos, demonstrou diminuição
progressiva do tamanho do tumor quando comparado com grupo controle
(Niciforovic et al., 2007, Tomasin & Gomes-Marcondes, 2010).
Os resultados que temos disponíveis até o momento, apesar de escassos, são
encorajadores, porém, estudos clínicos bem conduzidos e com maior número
de pacientes ainda são necessários para verificar sua real efetividade.
No tratamento da psoríase a Aloe vera teve sua eficácia clínica demonstrada
em um estudo randomizado, duplo cego, placebo controlado de Syed et al.
(1996a) que contaram com 60 pacientes que sofriam de psoríase de grau leve
à moderado. Os pacientes foram divididos em grupo controle e placebo e
aplicaram nas lesões três vezes ao dia um creme hidrofílico contendo extrato
de A. vera a 0,5% ou um creme similar sem o ativo. No final das quatro
semanas de tratamento 83% dos pacientes que fizeram uso do creme com
Aloe vera foram considerados curados contra somente 6% do grupo placebo. O
tratamento com o creme de Aloe vera foi bem tolerado, sem efeitos adversos e
os pacientes puderam notar excelente melhora ou completa resolução das
lesões. Choonhakarn et al. (2010)
No tratamento da hiperglicemia e dislipidemia, a atividade hipoglicemiante da
A. vera foi verificada em animais por meio de estudos como o realizado por
Tanaka et al. (2006). Uma linhagem de ratos portadores de distúrbios
metabólicos similares aos causados pelo Diabetes tipo 2, como hiperglicemia,
obesidade e resistência insulínica foram tratados via oral com 25 µg/ animal/dia
de gel de A. vera ( nas concentrações de 20, 30 e 50 mg/ mL) e 1 ug/animal/dia
de 5 diferentes fitoesteróis isolados desta espécie (lofenol, 24-metil-lofenol, 24-
etil-lofenol, cicloartanol e 24-metileno-cliartanol). Os autores relataram que o
grupo teste, após 33 dias de tratamento, obteve redução significativa (p < 0,05
para as concentrações de 20 e 30 mg/ mL e p< 0,005 na dose de 50mg/mL)
nos níveis de glicose em jejum e também não perderam peso, sintoma
apresentado pelos animais controles, já que estes, devido a alta taxa de
glicemia perdem grande quantidade de glicose na urina. Outros estudos
também foram feitos em ratos com Diabetes tipo 1 induzida por
estreptozotocina. Os autores puderam verificar atividade antioxidante, redução
da glicose plasmática a níveis normais, além disso, exames histológicos feitos
no pâncreas, fígado, rim e intestinos puderam demonstrar efeito protetor do gel
de A. vera quando comparada ao grupo controle (Rajasekaran et al., 2005;
Noor et al., 2008). Em humanos, Ngo et al. (2010) publicaram recentemente
artigo de revisão sobre a utilização da A. vera para o tratamento do Diabetes e
da dislipidemia. Os autores verificaram a existência de 8 estudos clínicos com
5285 pacientes no total e chegaram a conclusão de que há indícios de
benefício do uso da Aloe vera na redução de glicose e colesterol.
O xarope contendo gel de Aloe vera na concentração de 50% ocasionou
melhora clínica e de indicadores respiratórios funcionais em pacientes
portadores de asma brônquica, sem que houvesse efeitos colaterais
significativos. Os pacientes do grupo controlem diminuiram a aplicação de
outros medicamentos antiasmáticos e pôde-se demonstrar também que a
nebulização do extrato de A. vera protegeu o paciente frente a hiperreatividade
bronquial provocada pela carbacolina.
A sua atividade frente ao Herpes genital foi verificada em dois estudos duplo
cego, placebo controlados. Os estudos dispuseram de cerca de 180 pacientes
no total e o creme hidrofílico contendo 0,5% de extrato de Aloe vera foi o que
apresentou maior taxa de cura quando comparado ao gel de Aloe vera ou com
o placebo. Uma solução oral preparada com gel de Aloe vera aumentou em
mais de três vezes a biodisponibilidade das vitaminas C e E em testes feitos
em humanos normais, abrindo margem para sua utilização em suplementos
vitamínicos (Vinson et al., 2005).

Contraindicações e efeitos colaterais


Devido à presença de antraquinonas, não é apropriada sua utilidade oral
durante a gravidez, já que seu efeito estimulatório no intestino grosso pode
provocar reflexos na musculatura uterina induzindo aborto. As antraquinonas
também causam, quando em excesso, forte diarréia, cólicas, náusea e por
conseguinte perda de eletrólitos o que resulta em disfunção cardíaca e
neuromuscular, principalmente se o paciente já fizer uso de glicosídeos
cardíacos, diuréticos ou antiarrítmicos. O uso crônico também pode causar
lesão do aparelho neuromuscular e formação de um “cólon de laxantes”, além
de provocar lesões renais crônicas.
Há relatos de dermatite de contato e sensação de queimação provocadas pelo
uso tópico de gel da Aloe vera. Provavelmente se devem a presença de
resíduos de antraquinonas no gel utilizado. A comercialização de sucos ou
outros alimentos contendo Aloe vera foi proibida recentemente pela ANVISA
(2011) devido a falta de comprovações científicas que certificasse sua
segurança e em virtude de relatos de reações adversas.
Conclusão

Os resultados encontrados na utilização da Alo vera Barbadensis Miller,


mostram que ela tem propriedades anti-inflamatória, antibacteriana e
cicatrizante.
O resgate do conhecimento popular ressalta a riqueza do saber e a
necessidade de terem esses conhecimentos valorizados pelos profissionais de
saúde através de ações educativas juntos a comunidade servindo de auxílio na
prática diária dos serviços de saúde, para que estes profissionais estejam
preparados para transmitirem as informações de forma correta. Contudo, as
limitações de recursos e estudos para que sejam aprimorados esses
conhecimentos, para verificar a parte da planta a ser utilizada, forma de
preparo, horário da colheita. Essas informações são imprescindíveis na
utilização desta terapia.
REFERÊNCIAS
UTILIZAÇÃO DA BABOSA NO COTIDIANO DE USUÁRIOS
PORTADORES DE CÂNCER
http://www.ojs.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewFile/6687/pdf
última visualização em 19/09/2018
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIGENOTÓXICO DO SUCO DE ALOE VERA
EM CAMUNDONGOS
http://www.periodicos.unesc.net/Inovasaude/article/view/849/803
última visualização em 19/09/2018
UC SAN DIEGO HEALTH – ESCOLA DE MEDICINA
https://health.ucsd.edu/news/features/Pages/2015-08-25-green-pharmacy.aspx
última visualização em 25/09/2018
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/saude-bem-estar/babosa.htm
última visualização em 25/09/2018
Propriedades farmacológicas da Aloe vera (L.) Burm. f.
http://www.scielo.br/pdf/rbpm/v16n2/20.pdf
última visualização em 25/09/2018
CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA – UNISUAM

NUTRIÇÃO

CRISTIANE LESSA DE ALBUQUERQUE - 18101953

ALOE VERA

Orientador(a) Kátia Alessandra M. da Silva

RIO DE JANEIRO – 2018


CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA – UNISUAM

NUTRIÇÃO

ALOE VERA

Trabalho apresentado ao Curso de

Nutrição, do Centro Universitário

Augusto Motta, a ser utilizado como

Atividade Prática Supervisionada da

Disciplina de Composição Vegetal

dos Alimentos

RIO DE JANEIRO - 2018

Sumário

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