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EFEITO DA DENSIDADE DE PLANTAS SOBRE A PRODUÇÃO DE SOJA

Autores: BRUNO COELHO GUARIENTI (brunocoelhoguarienti@gmail.com), ANDRÉ FELIPE DE


CONTI (afdeconti@hotmail.com), GEOVANE MASSUDA CAVALI (massuda.geovane@gmail.com),
MARCOS CARAFFA (garrafa@setrem.com.br)

Orientadores:

Link: https://eventoscientificosapi.setrem.com.br/i/544413
EFEITO DA DENSIDADE DE PLANTAS SOBRE A PRODUÇÃO DE SOJA

RESUMO

A soja apresenta plasticidade sobre a densidade, a qual, quando baixa, tende a ser
compensada em alguns componentes de rendimento (VAZ BISNETA et al, 2015). Neste estudo
avaliou-se o desempenho de cultivares de soja (BRSMG 800A, BRS 257 e BRSMG 715 A),
submetidas a três densidades (20, 30 e 40 plantas m-2) nas condições edafoclimáticas de Novo
Machado, RS, ano safra 2021/2022. Utilizou-se abordagem quantitativa, procedimentos
estatístico e laboratorial, com os dados (caracteres agronômicos, componentes de rendimento e
rendimento de grãos) coletados por observação direta intensiva (observação) e analisados com
auxílio de médias, desvio padrão. ANOVA, teste de Tukey e coeficiente de correlação de
Pearson. O delineamento foi de blocos casualisados, com três repetições. Instalação ocorreu em
20/11/2021. As densidades de plantas testadas foram afetadas pelas condições de clima
ocorrentes no decorrer do ensaio, como o rendimento de grãos, muito aquém do rendimento
normal para a região do ensaio. O rendimento de grãos apresentou correlação significativa
apenas com a estatura de plantas, sendo positiva nas cultivares BRSMG 800A e BRS 257, e
negativa no genótipo BRSMG 715 A. Conclui-se que a densidade de plantas no âmbito do ensaio
não afetou significativamente o RG dos genótipos em análise.
Palavras-chave: Glycine max. Plantas por unidade de área. Componentes de rendimento e
rendimento de grãos.

INTRODUÇÃO
A soja (Glycine max L.) é a cultura que predomina em área dos cultivos
agrícolas no Brasil, sendo que no ano de 2020 foram cultivados mais de 37
milhões de hectares e a produção superou 121 milhões de tonelada, com um
rendimento médio de 3.275 kg ha-1 (IBGE, 2021). Estudos mostram que a soja é
fonte de proteína, fibras, minerais, vitaminas, energia, ácidos graxos (ZAKIR;
FREITAS, 2015). Vaz Bisneta et al., (2015) registram que a soja apresenta
plasticidade sobre a densidade, a qual, quando baixa, tende a ser compensada
em alguns componentes de rendimento, o que se relaciona também com o hábito
de crescimento.
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da densidade de semeadura
sobre as características fenotípicas e o rendimento de grãos de três cultivares
de soja, submetidos às condições edafoclimáticas do município de Novo
Machado, RS, ano safra de 2022. A problemática norteadora desta pesquisa
questionou se a densidade de semeadura afeta significativamente os caracteres
fenotípicos e os componentes de rendimento das cultivares de soja estudadas,
submetidas às condições edafoclimáticas do município de Novo Machado, RS?

MATERIAL E MÉTODOS
A condução deste estudo ocorreu no município de Novo Machado – RS,
onde foram avaliadas três densidades (20, 30 e 40 plantas por m²) em três
cultivares de soja (BRSMG 800A, BRS 257 e BRSMG 715 A). A semeadura
ocorreu em 20/11/2021, enquanto a adubação foi parametrizada pela análise de
solo, sendo interpretada em concordância com a CQFS RS/SC (2016), aplicando
os tratos culturais indicados para a cultura. A dimensão das parcelas contou com
5 linhas, espaçadas em 0,50 metros, tendo comprimento de 7 metros, totalizando
10,5 m² de área útil. O delineamento experimental foi blocos ao acaso, com três
repetições. Para a condução do estudo foi utilizado o método de abordagem
quantitativo, os procedimentos laboratorial e estatístico, o primeiro por garantir
como única variável do estudo fosse a densidade de plantas e o segundo para
efetuação da análise estatística do rendimento de grãos e dos componentes de
rendimento dos materiais em estudo. A coleta dos dados ocorreu por observação
direta intensiva, observação, com a análise dos dados efetuada utilizando desvio
padrão, média, análise de variância (ANOVA), teste de Tukey e coeficiente de
correlação de Pearson.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período do experimento a precipitação total foi de 887 mm, sendo de
42, 21, 73, 75, 343, 330 e 60 mm e temperaturas médias de 30,1, 33,2, 34,7, 34,
28,9, 25,6 23,5ºC, respectivamente para os meses de novembro, dezembro,
janeiro, fevereiro, março, abril e maio. Essa precipitação foi mal distribuída,
prejudicando o ciclo da cultura, em que as condições de clima foram
caracterizadas como La Niña. As cultivares BRSMG 800A, BRS 257 e BRSMG
715A apresentaram ciclos de 169, 146 e 120 dias, respectivamente.
A produtividade da soja pode ser afetada pela relação entre o
desenvolvimento das fases fenológicas com a interação entre a temperatura do
ar, o fotoperíodo e a sensibilidade da cultivar para com estes ambientes
(SENTELHAS et al., 2017).
A baixa disponibilidade de água, sobretudo durante a fase inicial da
cultura, afetou o estágio vegetativo da mesma, embora também tenha ocorrido
déficit hídrico no estádio reprodutivo, também com consequências danosas.
Esse fato afetou todas as cultivares, entretanto, a BRSMG 715A teve apenas
327 mm de chuva em todo seu ciclo, prejudicando muito o rendimento de grãos.
A tabela 1 apresenta os resultados relativos aos caracteres avaliados no
ensaio e, segundo se pode notar, a densidade de plantas não afetou
significativamente o rendimento de grãos dos genótipos em análise.
Tabela 1 - Resultados da análise de estatura de planta (EP); inserção do 1º
legume (INS_1_LEG); massa de mil grãos (MMG); densidade de legumes (DL);
grãos por legume (GL); densidade final de plantas (DFP) e rendimento de grãos
(RG) das cultivares BRS 257, BRSMG 800A e BRSMG 715A, submetidas a
diferentes densidades de semeadura, Novo Machado, RS, 2022.

Densidade EP INS_1_LEG MMG DL GL DFP RG


(pl m-²) (cm) (cm) (g) (m²) (un) (pl m-²) (Kg ha-¹)
20 56,8 a 16,3 a 100,60 a 503 a 1,95 a 19,3 b 602 a
BRSMG 715 A

30 51,7 a 18,2 a 93,76 a 394 a 1,97 a 21,1 ab 624 a


40 50,7 a 17,5 a 95,38 a 429 a 1,87 a 25,3 a 1010 a
Média 53,07 17,33 96,58 442,00 1,93 21,90 745
CV (%) 12,54 7,96 8,76 25,28 6,50 8,99 64,95
20 61,0 a 38,5 a 198,61 a 535 a 2,2 a 16,7 a 1663 a
BRSMG 800 A 30 63,1 a 30,5 a 206,29 a 509 a 2,2 a 17,6 a 1825 a
40 67,3 a 36,4 a 214,22 a 732 a 2,5 a 29,4 a 1706 a
Média 63,80 35,13 206,37 592,00 2,30 21,23 1731
CV (%) 12,91 42,59 6,50 36,76 6,61 25,54 16,90
20 32 a 12,9 a 104,34 a 523 a 2,1 a 19,8 a 1508 a
30 39,7 a 12,5 a 157,69 a 471 a 2,3 a 22,9 a 1821 a
BRS 257

40 31,7 a 9,9 b 149,64 a 518 a 2,2 a 28,83 a 1525 a


Média 34,47 11,77 137,22 504,00 2,20 23,84 1618
CV (%) 18,89 7,29 33,91 27,26 12,18 21,27 28,80
Médias seguidas da mesma letra na coluna não se diferem pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
Ao se observar a correlação de Pearson para as cultivares BRSMG 715A
e BRSMG 800A (Tabela 2), nota-se que houve interação significativa da
densidade de plantas projetada e a densidade final de plantas, atestando que a
variável sob controle teve condução satisfatória. No genótipo BRSMG 715 A
também ocorreram correlações significativas da estatura de planta com a
densidade de legumes (positiva) e com o rendimento de grãos (negativa). Essas
interações significativas corroboram com resultados aferidos por Zuffo et al.
(2018). O comportamento da cultivar, somado às correlações citadas e as
condições climáticas, resultou em um rendimento de grãos menor.
Tabela 2 - Resultados da análise de correlação de Pearson para estatura de
plantas (EP); inserção do 1º legume (INS_1_LEG); massa de mil grãos (MMG);
densidade de legumes (DL); grãos por legume (GL); densidade final de plantas
(DFP) e rendimento de grãos (RG) da cultivar BRSMG 715A (superior) e BRSMG
800A (inferior).
Densidade EP INS_1_LEG MMG DL GL DFP RG
(pl m-²) (cm) (cm) (g) (m²) (un) (pl m-²) (Kg ha-¹)
Dens. (pl m-²) 1 -0,392 0,303 -0,249 -0,255 -0,331 0,824* 0,390
EP (cm) 0,356 1 0,350 0,452 0,823* 0,086 -0,317 -0,692*
INS1LEG (cm) -0,069 0,470 1 0,249 0,141 0,092 0,217 -0,618
MMG (g) 0,503 0,396 0,465 1 0,304 0,032 0,123 -0,231
DL (m²) 0,395 0,629 0,773* 0,532 1 0,335 -0,095 -0,332
GL (un) 0,739* 0,588 -0,087 0,093 0,379 1 -0,372 -0,069
DFP (pl m-²) 0,711* 0,469 0,511 0,682* 0,795* 0,503 1 0,483
RG (Kg ha-¹) 0,071 0,769* 0,392 0,552 0,262 0,092 0,143 1
*Significância a 5% de probabilidade de erro conforme tabela de correlação de Pearson, r= 0,666.

Na cultivar BRSMG 800A, as outras correlações significativas ocorrentes,


todas positivas, foram da densidade projetada com o número de grãos por
legume, da inserção do primeiro legume com a densidade de legumes e da
densidade final de plantas com a massa de mil grãos e com a densidade de
legumes, o que está relacionado ao aproveitamento da radiação solar, sendo
que a massa de mil grãos tem relação com o acúmulo de fotoassimilados,
otimizando a produção dos mesmos em benefício da relação fonte-dreno
(MEIER, et al., 2019). Nesse genótipo também ocorreu interação significativa e
positiva da estatura de plantas com o rendimento de grãos, sendo que, nesse
caso, maior estatura gerou maior número de inserções reprodutivas, afetando
positivamente a produção.
Tabela 3 - Resultados da análise de correlação de Pearson para estatura de
plantas (EP); inserção do 1º legume (INS_1_LEG); massa de mil grãos (MMG);
densidade de legumes (DL); grãos por legume (GL); densidade final de plantas
(DFP) e rendimento de grãos (RG) da cultivar BRS 257.
Densidade EP INS_1_LEG MMG DL GL DFP RG
(pl/m²) (cm) (cm) (g) (m²) (há) (pl/m²) (Kg_ha-¹)
Dens. (pl/m²) 1 -0,017 -0,814* 0,414 -0,020 0,117 0,659 0,018
EP (cm) 1 0,503 0,427 0,125 0,357 0,268 0,839*
INS1LEG (cm) 1 -0,238 0,250 -0,029 -0,323 0,453
MMG (g) 1 -0,020 0,342 0,537 0,469
DL (m²) 1 -0,381 0,624 0,442
GL (un) 1 0,007 0,416
DFP (pl/m²) 1 0,555
RG (Kg_ha-¹) 1
Significância a 5% de probabilidade de erro conforme tabela de correlação de Pearson, r= 0,666

No genótipo BRS 257 (Tabela 3) a densidade de plantas que deveria ser


uma variável sob controle não o foi, decorrência do efeito do déficit hídrico, o
qual comprometeu a densidade final de plantas. Para ele, as únicas interações
significativas entre as variáveis em análise foram da densidade de plantas
pretendida e a inserção do primeiro legume (negativa) e da estatura de plantas
com o rendimento de grãos (positiva), novamente devendo se considerar que a
maior estatura propiciou maior número de inserções reprodutivas, afetando
positivamente a produção.

CONCLUSÕES
Conclui-se que as densidades de plantas testadas foram afetadas pelas
condições de clima ocorrentes no decorrer do ensaio, assim como o rendimento
de grãos, ficando os mesmos muito aquém do rendimento normal para a região
do ensaio. O rendimento de grãos apresentou correlação significativa apenas
com a estatura de plantas, sendo positiva nas cultivares BRSMG 800A e BRS
257, e negativa no genótipo BRSMG 715 A.

REFERÊNCIAS
COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO (CQFS RS/SC). 2016. Manual
de adubação e de calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Porto Alegre: SBCS/Núcleo Regional Sul.
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 2021.
Produção agrícola municipal. Rio de Janeiro, RJ: IBGE. [online]. [Acessado
em 17 fev. 2022]. Disponível em:
<https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9117-
producao-agricola-municipal-culturas-temporarias-e-
permanentes.html?=&t=destaques>.
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KLEIN, Luís A.; MORO, Ederson D.; LUNKES, Andrei; RIGATTI, Alexsander;
BELLO, Rodrigo F.; BUENO, Rayra B.; SOUZA, Velci Q. 2019. Performance
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em segunda safra. Ciências Agrárias. V. 42. n.4. Lisboa: Sociedade de Ciências
Agrárias de Portugal. Out/dez. pp. 933-941,
SENTELHAS, Paulo; BATTISTI, Rafael; SAKO, Henry; ZENI, Rafael;
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climática como fator controlador da produtividade. In: Boletim de Pesquisa da
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Soja e Mercosoja 2015, VII, Florianópolis, 2015. Florianópolis: EMBRAPA Soja.
ZAKIR, Mayara Miranda, FREITAS, Irene Rodrigues. 2015. Benefícios à saúde
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Correlações e análise de trilha em cultivares de soja cultivadas em
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