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GENOTIPOS DE TRIGO DE SEQUEIRO EM MINAS GERAIS, NOS ANOS DE

2005/2006.
Joaquim Soares Sobrinho1; Cleyton Batista de Alvarenga1; Vanoli Fronza2; Márcio Só e
Silva3; Celso Hideto Yamanaka4.

1
Embrapa Trigo/ENTM, Av. Getúlio Vargas, 1130, Uberlândia-MG; 2Embrapa soja, R.
Carlos João Strass, Distrito de Warta, C.P. 231, Londrina-PR; 3Embrapa Trigo, Rod. BR 285,
km 174, C.P. 451, Passo Fundo-RS; 4COOPADAP, Cx.P 37, São Gotardo-MG.

joaquim@netsite.com.br, cleytonbatista@yahoo.com.br, vanoli@cnpso.embrapa.br,


soesilva@cnpt.embrapa.br, Celso@coopadap.com.br,

Termos para indexação: Trigo, Triticum aestivum, Sequeiro, Cerrado, melhoramento


vegetal.

Introdução

Cerca de 760 mil hectares cultivadas com milho e soja em Minas Gerais estão
acima de 800 m de altitudes, o que sugere estarem aptos ao cultivo de trigo de sequeiro. No
entanto, a grande dificuldade é a retirada das culturas de verão para permitir a semeadura do
trigo até final de fevereiro.
Apesar da falta d'água ser a grande limitação do cultivo do trigo de sequeiro, ele
ainda desponta potencialmente como alternativa de rotação de culturas, já que
comercialmente, apresenta-se como ótima opção, pois ao ser colhido em junho/julho, coincide
com escassez completa de trigo no mercado.
Nos últimos anos com a intensificação do uso de Sistema de Plantio Direto (SPD),
os efeitos da escassez de água podem ser reduzidos. Porém, a adoção do SPD prevê rotação
eficiente de culturas, pois ela exerce papel importante na reciclagem de nutrientes (Mengel e
Kirby, 1981), na melhoria da taxa de infiltração de água (Derpsch et al., 1991), o que resulta
em maior estabilidade da produção e maiores rendimentos das culturas (Reis et al., 1991;
Santos et al., 1996).
Nos ensaios de linhagens e cultivares de trigo de 2004, Soares Sobrinho et al.
(2006), obtiveram maiores rendimentos em locais situados em altitudes mais elevadas (Rio
Paranaíba e Coromandel).
O trigo de sequeiro pode encaixar-se com sucesso no sistema de rotação de
culturas, pois oferece boa produção de palha de decomposição lenta, atua fortemente na
supressão de plantas daminhas e, além disso, contribui para redução dos custos das culturas de
primavera/verão.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar diferentes genótipos e identificar
aqueles que melhor se adaptam às condições de cultivo de sequeiro de Minas Gerais.

Material e Métodos

Os experimentos foram conduzidos em Coromandel e Rio Paranaíba, situados a


1000 e 1100 m de altitude, respectivamente, na região do Alto Paranaíba.
Os solos das áreas utilizadas são Latossolos típicos dos cerrados de Minas Gerais.
A diferença entre as duas situações reside no histórico de utilização. Em Rio Paranaíba é uma
área experimental, onde normalmente são conduzidas ensaios de soja no verão. Em
Coromandel, a área vinha sendo utilizada com a cultura do café, na qual, apesar das correções
realizadas, observou-se alguma desuniformidade do solo, manifestada através do
desenvolvimento das plantas.
O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, com três repetições. A
semeadura foi realizada em sete de março em Coromandel e, em Rio Paranaíba, na segunda
quinzena do mesmo mês, em parcelas de 6 linhas de 6,0 m de comprimento.
As adubações variam de 12 a 15 kg/ha de N, 45 a 60 kg/ha, de P2O5 e 40 a 50
kg/ha de K2O na semeadura, mais 30 a 40 kg/ha de N em cobertura, entre 20 e 25 dias após a
emergência.
O comportamento dos diversos genótipos foi avaliado pelo rendimento de grãos,
massa de mil grãos, peso do hectolitro, altura de plantas e incidência de doenças.

Resultados e Discussão

Os resultados obtidos encontram-se nas Tabelas 1 e 2. Na tabela 1 encontram-se


os resultados referentes ao rendimento de grãos. Observa-se que os rendimentos foram
maiores nos dois anos em Rio Paranaíba, isto se deve ás irrigações ocasionais na semeadura e
nos períodos prolongados de estiagem. No ano de 2006 destacaram os genótipos PF 026311
A, PF 89375, PF 020042, PF 020032, PF 020047, PF 023673, PF 023674 A, PF 020122, PF
020086, PF 020048 e IPF 79813 com rendimentos que superam a média das testemunhas
(2779 kg/ha) em 0,5; 1,3; 3,1; 4,3; 4,8; 5,1; 10,1; 11,0; 11,8; 15,6 e 21,5%, respectivamente.
Em 2005/2006 destacaram-se as linhagens PF 020115, PF 023161 A, que superaram a média
das testemunhas (2731,5 kg/ha), em 2,3; 2,5; 5,9; 6,5 e 9,8%, respectivamente.

Tabela 1 - Rendimento de grãos obtido no ensaio de VCU2, em Coromandel e Rio Paranaíba,


MG, nos anos de 2005 e 2006.
Rendimento de Grãos (kg/ha)
Genótipos
RP.05 Coro.05 RP.06 Coro.06 m.05/06 %05/06 m.06 % 06
Aliança 3866 2233 3757 1447 2826 100.8 2602 93.0
BR 18 3844 1758 4160 1614 2844 101.5 2887 103.1
Embrapa21 4030 1948 2989 106.6 2989 106.8
BRS 208 3763 2263 4358 1659 3011 107.4 3009 107.5
CD 105 3615 1904 4217 1221 2739 97.7 2719 97.1
IPF 79812 4448 2561 3935 1566 3128 111.6 2751 98.3
IPF79813 3426 1637 4480 2322 2966 105.8 3401 121.5
PF 89375 3431 1793 3685 1984 2723 97.2 2835 101.3
PF020032 3337 2190 4218 1621 2842 101.4 2920 104.3
PF020037 3145 2200 3581 1918 2711 96.7 2750 98.2
PF020042 3209 1922 3714 2061 2727 97.3 2888 103.2
PF020047 3693 2173 2933 104.6 2933 104.8
PF020048 3497 2047 3832 2643 3005 107.2 3238 115.7
PF020062 3225 2164 3362 1856 2652 94.6 2609 93.2
PF020086 3426 1637 4178 2084 2831 101.0 3131 111.9
PF020094 3822 1665 3324 1294 2526 90.1 2309 82.5
PF020096 3380 1602 3282 1401 2416 86.2 2342 83.6
PF020115 4156 2184 3741 1478 2890 103.1 2610 93.2
PF020122 4533 2174 4888 1326 3230 115.2 3107 111.0
PF020126 3931 1344 2638 94.1 2638 94.2
PF020127 4380 2201 3881 776 2810 100.2 2329 83.2
PF021006 3189 2240 3328 1380 2534 90.4 2354 84.1
PF020117 4856 2261 3949 1252 3080 109.9 2601 92.9
PF023161A 4332 2059 3874 1456 2930 104.5 2665 95.2
PF023201A 3304 1759 3456 1965 2621 93.5 2711 96.8
PF023611A 3740 1887 2814 100.4 2814 100.5
PF023673 3765 2176 4130 1754 2956 105.5 2942 105.1
PF023674A 4296 1868 3082 110.0 3082 110.1
PF023711 3533 1153 2343 83.6 2343 83.7
Média 3737 2027 3881 1671 2821 100.6 2776 99.2
CV % 10.27 10.3
RP-05 (Rio Paranaíba 2005); Coro-05 (Coromandel 2005); RP-06 (Rio Paranaíba 2006); m
05/06 (média dos rendimentos de 2005 e 2006); m06 (média dos rendimentos de 2006);
%05/06 (percentagem em relação à médias das cultivares Aliança, BR 18 e CD 105; %06
(Percentagem em relação à média das cultivares Aliança, BR 18, Embrapa 21 e CD 105).

Na tabela 2 encontram-se outras característica avaliadas. O desenvolvimento de grãos


em Rio Paranaíba foi superior ao de Coromandel, demonstrado através do peso do hectolitro,
o que reflete as melhores condições de solo e o efeito das irrigações ocasionais.
Os genótipos tiveram tendência de alongarem o ciclo em 2006, o que, possivelmente
esteja relacionado às temperaturas mais baixas.

Tabela 2 - Peso do hectolitro, massa de mil grãos, altura de planta e espigamento, obtidos no
ensaio de VCU2 de sequeiro, em Rio Paranaíba e Coromandel, MG, nos anos de 2005 e 2006.
2005 2006 Brusone %
1 2 3 4
Genótipos Valores médios PH MMG Alt. Esp. 2005 2006
PH PMS Alt. Esp. Coro5 Coro Coro RP Coro Coro Coro
Aliança 76,6 34,2 63 48 76,6 79,0 26,6 85 50 15 0
BR 18 76,9 37,9 59 52 77,0 80,3 38,3 65 48 1 1
BRS 208 75,8 34,2 68 55 72,8 79,9 31,6 90 60 3 0
CD 105 74,8 34,6 61 58 74,8 80,3 26,6 75 58 18 0
Embrapa21 77,4 77,7 35,0 90 56 0 0
IPF 79812 78,0 41,7 63 52 75,6 79,4 35,0 80 60 1 0
IPF 79813 79,0 82,2 35,0 75 49 0 0
PF 79375 77,7 28,7 58 58 77,5 81,3 25,0 80 50 11 0
PF 020032 78,9 36,6 66 50 75,4 79,9 35,0 90 48 21 5
PF 020037 76,2 40,0 77 48 77,2 79,0 34,0 100 50 4 1
PF 020042 78,0 32,5 57 44 78,8 80,4 30,0 75 48 6 6
PF 020047 73,4 80,8 30,0 90 50 0 0
PF 020048 77,4 37,1 67 54 73,4 80,8 35,0 90 48 6 0
PF 020062 76,2 32,9 64 45 77,2 79,9 30,0 80 50 3 13
PF 020086 75,8 33,7 55 50 70,7 79,2 35,0 65 50 13 3
PF 020094 78,7 36,2 77 44 75,3 77,9 31,6 90 48 2 0
PF 020096 78,7 34,6 77 48 76,8 79,2 25,0 100 47 0 0
PF 020115 76,1 34,2 69 51 74,6 77,7 30,0 85 53 6 0
PF 020117 77,1 32,7 63 48 75,8 79,0 28,3 80 52 5 0
PF 020122 78,2 32,9 64 48 75,6 79,7 25,0 100 52 14 0
PF 020126 77,3 80,6 35,0 75 53 0 1
PF 020127 77,1 38,4 62 52 77,2 77,7 33,0 75 62 1 0
PF 021006 75,0 78,2 25,0 90 58 0 0
PF023161A 78,8 36,7 65 50 76,6 80,2 30,0 85 53 11 0
PF023201A 75,5 30,4 61 52 76,6 77,0 25,0 100 50 18 2
PF023611A 79,0 82,0 36,6 90 59 0 0
PF 023673 75,8 31,7 62 53 75,6 78,8 25,0 90 64 4 0
PF023674A 75,6 78,6 25,0 95 62 3 0
PF 023711 77,7 78,6 25,0 75 48 0 1

1
Peso hectolítrico; 2Massa de mil grãos; 3Altura de planta (cm); 4Espigamento (dias);
5
Coromandel; 6Rio Paranaíba.

Conclusões

Os melhores resultados de Rio Paranaíba foram em função das irrigações ocasionais


oferecidas e das melhore condições de solo de 2006.
Destacaram-se em 2006 as linhagem PF 026311 A, PF 79375, PF 020086, PF 020048
e IPF 79813.
Em 2005/2006 destacaram-se PF 020115, PF 023161 A, PF 020117, IPF 79812 e PF
020122.

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(Documentos / Embrapa Trigo, 67)

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