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Capítulo 1

(Baseado no cap. 7 do livro de Fox e McDonald, 9ª ed.)

Análise Dimensional e Semelhança

Em geral, a solução de problemas reais envolve a combinação de análise e informação


experimental. Primeiro, a situação do escoamento real é aproximada por meio de modelo matemático
simples o suficiente para fornecer solução. Em seguida, medições experimentais são feitas para
verificar os resultados analíticos.
O objetivo é obter o máximo de informações com o mínimo de experiências. A análise
dimensional é importante ferramenta que em muitos casos auxilia na consecução desse objetivo. Os
parâmetros adimensionais também podem ser usados na correlação de dados para apresentação,
usando-se o menor número possível de gráficos.
Após a discussão sobre análise dimensional serão investigadas as condições necessárias
para se obter similaridade entre os escoamentos no modelo e no protótipo.

1.1 Equações Diferenciais Básicas Adimensionais


Como exemplo do processo de tornar adimensionais as equações diferenciais básicas,
𝜕( )
considere o escoamento permanente, = 0, incompressível , =cte, e bidimensional no plano xy .
𝜕𝑡

Admita que a gravidade atua no sentido negativo da direção y .


A equação da conservação da massa é:
u v
+ =0 (1.1)
x y
e as equações de Navier-Stokes (Eqs. 5.27) reduzem-se a

 u u  p   2u  2u 
 u +v  = − + 2 + 2  (1.2)
 x y  x   x y 

 v v  p   2v  2v 
 u + v  = − g − +   2 + 2  (1.3)
 x y  y   x y 
Como visto, as Eqs. (1.1), (1.2) e (1.3) formam formidável sistema de EDP´s não lineares e
acopladas. Para tornar as equações adimensionais, dividi-se todos os comprimentos pelo
comprimento de referência, L, e todas as velocidades pela velocidade de referência, V, que
usualmente é a velocidade da corrente livre do escoamento.
Denotando as quantidades adimensionais com asteriscos

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x y u v p
x* = ; y* = ; u* = ; v* = ; e p* = (1.4)
L L V V V2
As Eqs. (1.1) a (1.3) tornam-se:
u * v *
+ =0 (1.8)
x * y *

u * u * p *     2u *  2u * 
u* + v* =− +  +  (1.9)
x * y * x *  V L   x *2 y *2 

v * v *  gL  p *      2v *  2v * 
u* + v* = − 2  − +  + 2  (1.10)
x * y *  V  y *   V  L    x * y * 
2

As Eqs. (1.8), (1.9) e (1.10) são as formas adimensionais das equações originais, Eqs. (1.1),
(1.2) e (1.3). Nas próximas seções será mostrado que o número de Reynolds é: Re =  V L /  , e o

número de Froude é: Fr = V / ( gL) .


1/2

Importante observar que as equações representadas na forma adimensional podem auxiliar


na compreensão dos fundamentos do fenômeno físico e na identificação das forças dominantes do
problema em análise.

1.2 A Natureza da Análise Dimensional


A maioria dos fenômenos da Mecânica dos Fluidos depende, de maneira complexa, de
parâmetros de geometria e do escoamento. Que experiências devem ser conduzidas para determinar
a força de arrasto sobre a esfera lisa? Claramente, espera-se que a força de arrasto dependa do
tamanho da esfera (caracterizado pelo diâmetro, D), da velocidade do fluido, V , e da viscosidade do
fluido,  . Além disso, a massa específica do fluido,  , também pode ser importante. Representando

a força de arrasto por F , pode-se escrever a função caracterísica do problema como:


F = f ( D, V ,  ,  )

Embora seja possível ter ignorado parâmetros dos quais a força de arrasto depende, como a
rugosidade superficial da esfera, ou tenha-se incluído parâmetros dos quais ela não depende,
formula-se o problema na determinação da força de arrasto para a esfera estacionária em termos de
quantidades que são tanto controláveis quanto mensuráveis em laboratório.
Para obter a curva F versus V para valores fixos de  ,  e D , precisa-se de testes para

10 valores de V . Se o procedimento for repetido para 10 valores de  ,  e D , a aritmética simples


mostra que 104 testes individuais precisam ser realizados.
Felizmente, pode-se obter resultados significativos com esforço muito menor pelo emprego
da análise dimensional. Todos os dados para a força de arrasto sobre a esfera lisa podem ser

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traçados como relação funcional entre apenas dois parâmetros adimensionais denominada função
reduzida, na forma

F  V D 
= f1  
V D
2 2
  
A forma da função f1 , chamada de relação funcional, ainda deve ser determinada
experimentalmente. Entretanto, ao invés de precisar conduzir 104 experiências, pode-se estabelecer
a natureza da função com a mesma precisão com apenas 10 experiências. E mais importante é a
maior conveniência experimental.
O teorema dos Pi de Buckigham é o enunciado da relação entre a função expressa em termos
de parâmetros dimensionais e a função correlata expressa em termos de parâmetros adimensonais.
A Fig. 1.1 mostra alguns dados clássicos para escoamento sobre esfera lisa (os fatores 1/2 e
/4 foram incluídos no denominador do parâmetro à esquerda na equação apenas para colocá-lo na
forma de grupo adimensional muito usado, o coeficiente de arrasto, CD.)

Fig. 1.1 Relação deduzida experimentalmente entre os parâmetros adimensionais


para esfera lisa.

1.3 Teorema Pi de Buckingham


Mostrou-se na seção anterior que a força de arrasto sobre esfera lisa de diâmetro D, de massa
específica do fluido  , de viscosidade dinâmica do fluido  e com velocidade do escoamento V ,
pode ser expressa pela função característica
F = f ( D, V ,  ,  )

Testes experimentais são necessários para se determinar a natureza da função f. De maneira


formal
g ( F , D,  ,  ,V ) = 0

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sendo g função não especificada diferente de f. Com o teorema Pi de Buckingham pode-se
transformar a relação entre n parâmetros da forma
g ( q1 , q2 ,..., qn ) = 0

em relação correspondente, mas entre n − m parâmetros adimensionais  na forma funcional por

G ( 1 ,  2 ,...,  n − m ) = 0

ou
1 = G1 (  2 , 3 ....,  n − m )

O número m é usualmente, mas nem sempre, igual ao número mínimo, r , de dimensões


independentes necessárias para especificar as dimensões de todos os parâmetros q1 , q2 ,...qn .

(Algumas vezes m  r , Exemplo 1.3). Para a esfera do Exemplo 1.1

g ( F , D,  ,  , V ) = 0 ou F = F ( D,  ,  , V )

Resultando em

 F   F   
G , =0 ou = G1  
  V D  VD  V D   VD 
2 2 2 2

O teorema não prediz a forma funcional de G ou de G1 . A relação funcional entre os

parâmetros independentes adimensionais  deve ser determinada experimentalmente.

Os ( n − m ) parâmetros adimensionais  obtidos pelo procedimento são independentes. Um

parâmetro  não é independente se pode ser formado a partir de qualquer combinação de outros
parâmetros do problema. Por exemplo, se

2 1 13 4
5 = ou 6 =
 2 3  32

então,  5 e  6 não são independentes dos outros parâmetros adimensionais.

Existem diversos métodos para se determinar os parâmetros adimensionais. O procedimento


mais usual é apresentado na sequência.
Qualquer que seja o método empregado na determinação dos parâmetros adimensionais,
começa-se listando todos os parâmetros que sabidamente (ou supostamente) afetam o fenômeno
de escoamento investigado.
Os seis passos listados a seguir descrevem o procedimento recomendado para determinar
os parâmetros  ’s:
Passo 1. Liste todos os parâmetros dimensionais envolvidos;
Passo 2. Selecione o conjunto de dimensões fundamentais (primárias), MLt ou FLt;
Passo 3. Liste as dimensões de todos os parâmetros em termos das dimensões primárias;

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Passo 4. Selecione da lista o número r de parâmetros dimensionais que, em conjunto, incluam todas
as dimensões primárias;
Passo 5. Forme equações dimensionais combinando os parâmetros selecionados no passo 4 com
os outros parâmetros, para formar grupos dimensionais;
Passo 6. Verifique se cada grupo  obtido é realmente adimensional.
A relação funcional entre os parâmetros  ’s deve ser determinada experimentalmente.

Exemplo 1.1 – Força de Arrasto sobre Esfera Lisa


Conforme descrito na Seção 1.2, a força de arrasto, F, sobre esfera lisa depende da
velocidade relativa entre o escoamento e a esfera, V, do diâmetro da esfera, D, da massa específica
do fluido, ρ, e da viscosidade dinâmica do fluido, µ. Obtenha o conjunto de grupos adimensionais
que podem ser usados para correlacionar dados experimentais para o problema.

Exemplo 1.2 – Queda de Pressão no Escoamento em Tubo


A queda de pressão Δp, para escoamento em regime permanente, incompressível e viscoso,
através de tubo retilíneo horizontal, depende do comprimento do tubo, L, da velocidade média V , da
viscosidade do fluido, µ, do diâmetro do tubo, D, da massa específica do fluido, ρ, e da altura média
da “rugosidade”, e. Determine o conjunto de grupos adimensionais que possa ser usado para
correlacionar os dados experimentais.

Exemplo 1.3 – Efeito Capilar: Uso da Matriz Dimensional


Quando o pequeno tubo é imerso em líquido, a tensão superficial causa a formação de
menisco na superfície livre, para cima ou para baixo dependendo do ângulo de contato na interface
líquido-sólido-gás. Experiências indicam que o módulo do efeito capilar, Δh, é função do diâmetro do
tubo, D, do peso específico do líquido,  , e da tensão superficial, σ. Determine o número de
parâmetros  ’s independentes que podem ser formados.

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1.4 Grupos Adimensionais Importantes na Mecânica dos Fluidos
Para vários grupos adimensionais que são fundamentais e ocorrem com frequência na
Mecânica dos Fluidos, é necessário empregar tempo para aprender suas definições.
As forças encontradas nos fluidos em escoamento incluem as de: inércia, viscosidade,
pressão, gravidade, tensão superficial e compressibilidade. Pode-se comparar as intensidades de
diferentes tipos de força fluida em relação às forças de inércia. Lembrando que a força de inércia é
proporcional a V 2 L2 , e que é importante na maioria dos problemas de Mecânica dos Fluidos.
Todos os parâmetros adimensionais da tabela abaixo ocorrem frequentemente e podem
prever as intensidades relativas das forças no escoamento.

du
A= A
dy viscosa VL 
Força viscosa ~ assim =
V 2 inércia V L
2 2
VL
  L =  VL
L

pL2 p
Força de pressão ~ ( p ) A  ( p ) L2 assim
pressão
=
inércia V 2 L2 V 2

gravidade g  L3 gL
Força de gravidade ~ mg  g  L3 assim =
inércia V 2 L2 V 2

tensão superficial L 
Força de tensão superficial ~ L assim =
inércia V 2 L2 V 2 L

compressibilidade Ev L2 E
Força de compressibilidade ~ Ev A  Ev L2 assim = v
inércia V 2 L2 V 2
Observação:  → sinal de “proporcionalidade”

Os principais parâmetros adimensionais em Mecânica dos Fluidos são apresentados na


sequência.

Número de Reynolds (Re) - Estabelece o critério para determinar o regime de escoamento: laminar
ou turbulento.
 VD V D
Re = =
 v
Experiências posteriores mostraram que o número de Reynolds é o parâmetro chave para
outros casos de escoamento. Em geral
 V L V L forças de inércia
Re = = = (1.11)
 v forças viscosas
sendo L o comprimento característico, descritivo da geometria do campo de escoamento. O número
de Reynolds é então a razão entre as forças de inércia e as forças viscosas.

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Número de Euler (Eu) - Em ensaios com modelos aerodinâmicos e outros, é conveniente apresentar
os dados de pressão na forma adimensional.
p forças de pressão
Eu = =
1 forças de inércia (1.12)
V 2
2
sendo p = ( p − p ) a pressão local menos a pressão de corrente livre, e  e V a massa

específica e a velocidade da corrente livre do escoamento, respectivamente. O número de Euler é a


razão entre as forças de pressão e as forças de inércia. O número de Euler é frequentemente
chamado de coeficiente de pressão, C p

Número de Cavitação (Ca) - Parâmetro adimensional definido por


( p − pv )
Ca =
1 (1.13)
V 2
2
Nos estudos de fenômenos de cavitação, a diferença de pressão é p = p − pv , sendo p a

pressão da corrente livre e pv a pressão de vapor do líquido na temperatura de teste. Quanto menor

o valor de Ca, maior a probabilidade de ocorrer cavitação.

Número de Froude (Fr) - Esse parâmetro é significativo para escoamentos com efeitos de superfície
livre.
V
Fr = (1.14)
gL
Elevando o número de Froude ao quadrado

V2 V 2 L2 forças de inércia
Fr 2 = = =
gL  g L forças de gravidade
3

que pode ser interpretado com razão entre as forças de inércia e as forças de gravidade.

Número de Weber (We) - O número de Weber é a razão entre as forças de inércia e as forças de
tensão superficial. Pode ser escrito
V 2 L forças de inércia
We = = (1.15)
 forças de tensão superficial
Número de Mach (M) - Análises e experiências mostraram que o número de Mach é o parâmetro
chave que caracteriza os efeitos de compressibilidade no escoamento.
V
M= (1.16)
c

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sendo V a velocidade do escoamento e c a velocidade local do som.
Note que

V V V V 2 L2 forças de inércia
M= = = ou M2 = 2
=
c dp Ev Ev L forças de compressibilidade
d 
que pode ser interpretado como a razão entre as forças de inércia e de compressibilidade. Ev é
módulo de compressibilidade do fluido.

1.5 Semelhança de Escoamento e Estudo de Modelos


Para ser útil o teste com modelos deve prover dados que possam, por meio de transposição
de escalas, fornecer as forças, momentos e cargas dinâmicas, que devem ocorrer no protótipo em
tamanho real. Que condições devem ser atendidas para se assegurar a semelhança entre os
escoamentos de modelo e de protótipo?
A semelhança geométrica requer que modelo e protótipo tenham a mesma forma e que
todas as dimensões lineares do modelo sejam relacionadas às correspondentes dimensões do
protótipo por fator de escala constante.
A semelhança cinemática requer que os regimes de escoamentos sejam os mesmos para
o modelo e protótipo.
Dois escoamentos são cinematicamente semelhantes quando as velocidades em pontos
correspondentes estão no mesmo sentido e relacionam-se em magnitude por meio de fator de escala
constante.
A semelhança cinemática requer semelhança geométrica; a semelhança cinemática é
requisito necessário, mas não suficiente, para a semelhança dinâmica.
Quando dois escoamentos têm distribuições de forças tais que tipos idênticos de forças são
paralelas e relacionam-se em magnitude por fator de escala constante em todos os pontos
correspondentes, então os dois escoamentos são dinamicamente semelhantes.
Quais são, então, as condições que asseguram semelhança dinâmica entre os escoamentos
de modelo e de protótipo?
Na seção 1.4 mostrou-se que os parâmetros adimensionais podem ser vistos como razões
entre forças. Assim, ao considerar o escoamento no modelo e o escoamento no protótipo sobre a
esfera (os escoamentos são geometricamente semelhantes), os escoamentos são também
dinamicamente semelhantes se o parâmetro independente VD  for equivalente entre modelos e
protótipo, isto é
 VD   VD 
  = 
  modelo    protótipo
Além disso, se

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Remodelo = Reprotótipo

então o parâmetro dependente, F V 2 D2 é duplicado entre modelo e protótipo

 F   F 
 2 2 
= 2 2 
 V D modelo  V D  protótipo
e os resultados obtidos do estudo do modelo podem ser utilizados na predição do arrasto no protótipo
em tamanho real.
Observe que a força real sobre modelo e protótipo são diferentes, mas a magnitude dos
grupos adimensionais é análoga.

Exemplo 1.4 – Semelhança: Arrasto de Transdutor Sonar


O arrasto de transdutor de sonar deve ser previsto com base em testes em túnel de vento. O
protótipo, esfera de 0,3 m de diâmetro, deve ser rebocado a 2,57 m/s na água do mar a 4,5°C. O
modelo tem 152 mm de diâmetro. Determine a velocidade de teste requerida no ar. Se a força de
arrasto sobre o modelo nas condições de teste for 2,7 N, estime a força de arrasto sobre o protótipo.

Semelhança Incompleta
Enfatizou-se que, para obter semelhança dinâmica completa entre escoamentos
geometricamente semelhantes é necessário duplicar os valores dos grupos adimensionais
independentes, ou seja, igualar os adimensionais de modelo e protótipo.
Em muitos estudos com modelos, para conseguir semelhança dinâmica, é preciso duplicar
diversos grupos adimensionais. Em certos casos não é possível obter semelhança dinâmica
completa entre modelo e protótipo. A determinação da força de arrasto (resistência) sobre o casco
de navio é exemplo. A resistência sobre o navio surge do atrito de contato da água com o casco
(forças viscosas) e da resistência das ondas (forças de gravidade). A semelhança dinâmica completa
requer que os números de Froude e de Reynolds sejam ambos reproduzidos entre modelo e
protótipo.
Como em geral não se pode prever a resistência de ondas analiticamente, é necessário
modelá-la.

Vm Vp
Frm = Frp → Frm = 1/2
= Frp =
( gLm ) ( gLp )1/2

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Para igualar o número de Froude entre modelo e protótipo é necessário que a razão entre as
velocidades seja
1/ 2
Vm  Lm 
= 
V p  L p 

De forma a garantir configurações de ondas dinamicamente semelhantes.


Igualando o número de Reynolds entre modelo e protótipo, encontra-se a escala de
viscosidades

Vm Lm Vp Lp  m Vm Lm
Rem = = Re p = → =
m p  p Vp Lp
Substituindo a razão entre velocidades obtida da reprodução dos números de Froude, a razão
requerida entre as viscosidades cinemáticas para o experimento é
1/ 2 3/ 2
 m  Lm  Lm  Lm 
=  = 
 p  L p  L p  L p 

Considerando a escala geométrica típica para testes com navios, Lm / Lp = 1/100 , então a

razão entre viscosidades deve ser igual a 1/1000. A Fig. A.3 mostra que mercúrio é único líquido com
viscosidade menor que a da água. Nesse caso, é impossível satisfazer ambos os critérios dos
números de Re e de Fr. Mesmo nestas situações os estudos com modelos ainda fornecem
informações extremamente úteis para o projeto.

Exemplo 1.5 – Semelhança Incompleta: Arrasto Aerodinâmico sobre Ônibus


Os seguintes dados de teste em túnel de vento, de modelo em escala 1:16 de ônibus, estão
disponíveis:

Usando as propriedades do ar-padrão, calcule e trace o gráfico do coeficiente adimensional


de arrasto aerodinâmico,
FD
CD =
1
V 2 A
2
versus o número de Reynolds, Re = ρVw/µ, em que w é a largura do modelo. Determine a velocidade
mínima de teste acima da qual CD permanece constante. Estime a força de arrasto aerodinâmico e

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o requisito de potência para o veículo protótipo a 100 km/h. (A largura e a área frontal do protótipo
são respectivamente 2,44 m e 7,80 m2)

Transporte por Escala com Múltiplos Parâmetros Dependentes


Em situações práticas pode haver mais de um parâmetro dependente no problema, exigindo
formar os grupos adimensionais separadamente para cada parâmetro dependente.
Para uma bomba centrífuga, a configuração detalhada do escoamento no seu interior varia
com a vazão volumétrica e com a velocidade, mudanças que afetam o desempenho da bomba. Os
parâmetros de desempenho de interesse incluem o aumento de pressão (altura manométrica ou de
carga) desenvolvido, a potência de entrada requerida e a eficiência medida da máquina sob
condições específicas de operação. As curvas de desempenho são geradas, variando um parâmetro
independente tal como a vazão volumétrica. Desse modo, as variáveis independentes são: a vazão
volumétrica, a velocidade angular, o diâmetro do rotor e as propriedades do fluido. As variáveis
dependentes são os diversos parâmetros de desempenho de interesse.
A determinação dos parâmetros adimensionais começa com as equações simbólicas para a
dependência da altura de carga, h (energia por unidade de massa, L2/t2), e potência P, com relação
aos parâmetros independentes, dadas por
h = g1 (Q,  , , D,  )
e
P = g2 (Q,  , , D,  )
O emprego do teorema do Pi´s resulta no coeficiente adimensional de altura de carga e no coeficiente
adimensional de potência.

h  Q  D 2 
= f1 ,  (1.17)
 2 D2  D
3
 
e

P  Q  D 2 
= f1 ,  (1.18)
 3 D5  D
3
 

O parâmetro adimensional Q /  D3 é chamado de coeficiente de escoamento e

 D2 /  ( VD /  ) é uma derivação do número de Reynolds.


A altura de carga e a potência na bomba são desenvolvidas por forças de inércia. Tanto a
configuração do escoamento no interior da bomba quanto o desempenho da bomba variam com a
vazão volumétrica e a velocidade de rotação. É difícil prever analiticamente o desempenho da bomba,
exceto no ponto de projeto do equipamento. Por isso, o desempenho é medido experimentalmente.
Curvas características típicas, elaboradas a partir de dados experimentais para bomba centrífuga
testada a velocidade constante, são mostradas na Fig. 1.5 como funções da vazão volumétrica. As

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curvas de altura de carga e de potência na Fig. 1.5 estão ajustadas e suavizadas entre os pontos
experimentais obtidos. A eficiência máxima ocorre geralmente no ponto de projeto.
A semelhança completa nos testes de desempenho de bombas exigiria coeficientes de
escoamento e número de Reynolds idênticos. A prática tem mostrado que os efeitos viscosos são
relativamente sem importância, quando duas máquinas geometricamente semelhantes operam sob
condições “semelhantes” de escoamento. Assim, das Eqs. 1.17 e 1.18, quando
Q1 Q2
= (1.19)
1 D1 2 D23
3

segue
h1 h
= 22 2 (1.20)
 D1 2 D2
2
1
2

e
P1 P2
= (1.21)
1 D1 23 D25
3 5

As Eqs. (1.19) a (1.21) são denominadas de “leis das bombas” e, considerando os efeitos
viscosos desprezíveis sob condições similares de escoamento, pode-se utilizá-las para transportar
por escalas as características de desempenho de máquinas para diferentes condições de operação,
quando se varia o diâmetro ou a velocidade. Se as condições de operação de uma máquina forem
conhecidas, as condições de operação de qualquer outra máquina geometricamente semelhante
pode ser determinada, variando-se D e ω.

Fig. 1.5 Curvas características típicas para bomba centrífuga testada a velocidade constante.

Outro parâmetro adimensional muito útil, pois independe do diâmetro da máquina, é a


velocidade específica, NS, obtida como a razão: 1/2
1 / 2 .
3/4

 Q1/2
NS = (1.22a)
h3/4

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Se a altura de carga h é expressa como energia por unidade de massa, a velocidade
específica representa parâmetro adimensional. Pode-se interpretar a velocidade específica como a
velocidade requerida para a máquina produzir uma altura de carga unitária a uma taxa de volume
unitária. A velocidade específica constante descreve todas as condições de operação de máquinas
geometricamente semelhantes com condições semelhantes de escoamento.
Embora a velocidade específica seja parâmetro adimensional, é prática comum usar um
conjunto conveniente, porém inconsistente, de unidades na especificação das variáveis ω e Q, e usar
a energia por unidade de peso H em lugar da energia por unidade de massa h na Eq. 1.22a. Dessa
forma, a velocidade específica é expressa

 Q1/2
N Scu = 3/4 (1.22b)
H
que deixa de ser parâmetro sem unidades e seu módulo depende das unidades usadas para calculá-
lo. Unidades para bombas no SI são rpm para ω, m3/h para Q e metros (energia por unidade de peso)
para H. Nessas unidades, velocidade específica “baixa” significa 580 < NScu < 4645 e “alta” significa
11.615 < NScu < 17.420.

Exemplo 1.5 – Leis das Bombas


A bomba centrífuga tem eficiência de 80% na sua velocidade específica de projeto de
NScu=2323 (unidades: rpm, m3/h e metros). O diâmetro do rotor é de 200 mm. Nas condições de
escoamento do ponto de projeto, a vazão em volume é 68 m3/h de água a 1170 rpm. Para obter
vazão volumétrica maior, a bomba deve ser equipada com motor de 1750 rpm. Use as “leis” das
bombas para determinar as características de desempenho da bomba no ponto de projeto na
velocidade mais alta. Mostre que a velocidade específica permanece constante para a velocidade de
operação mais alta. Determine o tamanho (potência) requerido do motor.

Comentários sobre Testes com Modelos


Ao descrever os procedimentos adotados nos testes com modelos, procurou-se não sugerir
que a atividade seja tarefa simples e que forneça automaticamente resultados facilmente
interpretáveis, exatos e completos.
As instalações experimentais devem ser projetadas e construídas cuidadosamente. A
qualidade do escoamento em túnel de vento deve ser controlada. O escoamento na seção de teste
deve ser tão uniforme quanto possível.
Como em todo trabalho experimental, planejamento e execução criteriosos são requisitos
necessários para que os resultados obtidos sejam válidos e úteis.

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Projeto 1 - Análise dimensional aplicada à bombas.

Equações Úteis

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UTFPR - Curso de Engenharia Mecânica
Cap. 1 - Mecânica dos Fluidos 2

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