Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
F = ma; (1)
em que m é a massa do objeto (medida em quilogramas - kg), a sua aceleração (em metros por
segundo ao quadrado - m/s2 ) e F é a força total agindo sobre o objeto (em Newtons - N).
Lembremo-nos que a aceleração e a velocidade são relacionadas por a = dv=dt, de modo que
a equação (1) pode ser reescrita na forma
dv
F = m : (2)
dt
O próximo passo é determinar todas as forças que agem sobre o objeto. A gravidade exerce
uma força igual peso do objeto, ou seja, mg , em que g é a aceleração devida à gravidade. Além
disso, existe uma força devido à resistência do ar, que supomos ser proporcional à velocidade,
isto é,
v , em que
é uma constante chamada de coeficiente de resistência do ar.
1
Figura 1: Forças agindo sobre um objeto em queda livre
Para escrever uma expressão para a força F , precisamos lembrar que a gravidade sempre age
para baixo (no sentido positivo do movimento), enquanto que a resistência do ar age para cima
(no sentido negativo), como ilustrado na Figura 1.
Logo,
F = mg
v; (3)
e a equação (2) fica reescrita como
dv
m = mg
v: (4)
dt
A equação (4) é um modelo matemático de um objeto caindo na atmosfera, próximo ao nível
do mar. Observemos que essa equação diferencial possui três constantes m, g e
. As constantes
m e
dependem bastante do objeto particular que está em queda e serão diferentes, em geral,
para objetos diferentes. É comum referir-se a essas constantes como parâmetros. Por outro lado,
o valor de g é o mesmo para qualquer objeto.
Para resolver a equação (4), precisamos encontrar uma função v = v (t) que satisfaça
a equação. Existem vários métodos que nos auxiliam na obtenção de uma solução para uma
equação diferencial e veremos alguns deles mais adiante.
Exemplo 2. Vamos verificar que a função v (t) = 49 + ce t=5 satisfaz a equação (4) com m=
10 kg, g = 9; 8 m/s ,
= 2 kg/s e c é uma constante.
2
dv v
=9 8 ; : (5)
dt 5
dv 1
= ce t=5
: (6)
dt 5
2
2 Classificação de Equações Diferenciais
As equações diferenciais são classificadas de acordo com o tipo, ordem e linearidade.
Uma das classificações mais imediatas de uma equação diferencial é baseada em se descobrir
se a função desconhecida (no Exemplo 2 a função desconhecida era v (t)) depende de uma
única variável independente ou de diversas variáveis independentes. No primeiro caso, aparecem
na equação diferencial apernas derivadas simples e elas são do tipo equações diferenciais
ordinárias. No segunda caso, as derivadas são derivadas parciais e a equação é chamada de
equação diferencial parcial.
As equações diferenciais que vimos nos exemplos anteriores são equações diferenciais ordi-
nárias. Outro exemplo de uma equação diferencial ordinária é
d2 Q(t) dQ(t) 1
L +R + Q(t) = E (t); (7)
dt2 dt C
para carga Q(t) em um capacitor em um circuito elétrico com capacitância C , resistência Re
indutância L.
Exemplos típicos de equações diferenciais parciais são a equação de calor
@ 2 u(x; t) @u(x; t)
2 = ; (8)
@x2 @t
e a equação da onda
@ 2 u(x; t) @u(x; t)
a2 = : (9)
@x2 @t
Nas equações (8) e (9), 2 e a2 são constantes físicas. A equação de calor (8) descreve a
condução de calor em um corpo sólido, e a equação da onda (9) aparece em uma variedade de
problemas envolvendo movimento ondulatório em sólidos ou fluidos.
A ordem de uma equação diferencial é a ordem da derivada de maior ordem que aparece na
equação. As equações (4) e (5) são de primeira ordem, enquanto que as equações (7), (8) e (9)
são de segunda ordem.
Mais geralmente, a equação
é uma equação diferencial ordinária de ordem n. A equação (10) expressa uma relação entre a
variável independente t e os valores da função u e de suas n primeiras derivadas, u0 ; u00 ; : : : ; u(n) .
É conveniente e usual substituir u(t) por y e u0 (t); u00 (t); : : : ; u(n) (t) por y 0 ; y 00 ; : : : ; y (n) . Assim,
a equação (10) fica
F (t; y; y0 ; : : : ; y(n) ) = 0: (11)
Por exemplo,
F (t; y; y0 ; y00 ; y000 ) = y000 + 2et y00 + yy0 t4 = 0 (12)
é uma equação diferencial ordinária de terceira ordem para y = u(t). Algumas vezes outras letras
serão usadas no lugar de t e de y para as variáveis independente e dependente. O significado
deve ficar claro pelo contexto.
Uma classificação muito importante de equações diferenciais é se elas são lineares ou não.
A equação diferencial
F (t; y; y0 ; : : : ; y(n) ) = 0
3
Figura 2: Um pêndulo oscilando
é dita linear se F é uma função linear das variáveis y; y 0 ; y 00 ; : : : ; y (n) (uma definição análoga se
aplica às equações diferenciais parciais.
Assim, a equação diferencial ordinária linear geral de ordem n é
a0 (t)y(n) + a1 (t)y(n 1)
+ + an(t)y = g(t): (13)
Uma equação que não é da forma (13) é uma equação diferencial não-linear. A equação (4)
é linear, enquanto que a equação (12) é não-linear por causa da expressão yy 0 . Veja que, em
(12), o termo t4 não interfere na linearidade da equação diferencial.
Exemplo 3. Vejamos um problema físico que resulta em uma equação diferencial não-linear:
o problema do pêndulo. O ângulo que um pêndulo de comprimento L oscilando faz com a
direção vertical (veja a Figura 3) satisfaz a equação
d2 g
F (t; ; 0 ; 00 ) = + sen = 0: (14)
dt2 L
A presença da parcela envolvendo sen faz com que a equação (14) seja não-linear.
A teoria matemática e os métodos para resolver equações diferenciais lineares são bastante
desenvolvidos. No entanto, a teoria para equações não-lineares é mais complicada e os métodos de
resolução são menos satisfatórios. Uma saída para a resolução de equações não-lineares é tentar
conseguir transformá-las, de certa forma, em equações lineares. Por exemplo, para o pêndulo,
se o ângulo for pequeno, então sen e a equação (14) pode ser aproximada pela equação
linear
d2 g
+ = 0: (15)
dt2 L
Esse processo de aproximar uma equação não-linear por uma linear é chamado de lineari-
zação e é extremamente útil para tratar equações não-lineares.
4
Uma solução da equação diferencial ordinária (16) no intervalo <t< é uma função
tal que 0 ; 00 ; : : : ; (n) existem e satisfazem
(n) = f [t; ; 0 ; 00 ; : : : ; (n 1)
;
] (17)
para todo t em < t < . A menos que digamos o contrário, supomos que a função f na equação
(16) toma valores reais e que estamos interessados em encontrar soluções reais y = (t).
No Exemplo 2, vimos que a função v (t) = 49 + ce t=5 satisfaz a equação (5) e, portanto, v (t)
é uma solução de (5) para todo t 2 R.
Devemos sempre ter em mente que uma equação diferencial geralmente possui um número
infinito de soluções. Por exemplo, para qualquer valor de c, a função y = ctet é uma solução da
equação y 00 2y 0 + y = 0. Dizemos que y = tcet é uma família de soluções para a equação.
Exemplo 4. É fácil verificar que as funções
y = et ; y = e t ; y = c1 et ; y = c2 e t
e y = c1 et + c2 e t
5
4 Equações diferenciais de primeira ordem
Nesta e nas demais aulas da Unidade I, vamos tratar especificamente de equações diferen-
ciais ordinárias de primeira ordem,
dy
= f (t; y); (18)
dt
em que f é uma função de duas variáveis dada. Qualquer função diferenciável y = (t) que
satisfaça essa equação para todo t em um determinado intervalo é dita uma solução. Nosso
objetivo é determinar se tais funções existem e, caso existam, desenvolver métodos para encontrá-
las.
Para uma função f arbitrária, não existe um método geral para resolver a equação diferencial
em termos de funções elementares. Em vez disso, estudaremos vários métodos, cada um aplicável
a uma determinada subclasse de equações de primeira ordem.
Estamos interessados em resolver uma equação diferencial de primeira ordem
dy
= f (t; y)
dt
sujeita à condição inicial y (t0 ) = y0 , em que t0 é um número em um intervalo I e y0 é um
número real arbitrário, obtido como imagem de t0 pela função y .
O problema 8
>
< dy = f (t; y);
> dt
:y(t0 ) = y0 ;
é chamado de problema de Cauchy ou problema de valor inicial (PVI). Em termos
geométricos, estamos procurando uma solução para a equação diferencial, definida em algum
intervalo I , tal que o gráfico da solução passe por um ponto (t0 ; y0 ) pré-determinado. Em outras
palavras, satisfazer uma condição inicial significa identificar a curva integral que contém o ponto
inicial dado.
Exemplo 7. Vimos que y = cet é uma família de soluções a um parâmetro para y 0 y = 0 no
intervalo ( 1; 1). Se especificarmos, por exemplo, y (0) = 3, então substituindo t = 0 e y = 3
na família, obteremos: 3 = ce0 = c 1 = c. Logo, a função y = 3et é uma solução para o PVI:
(0
y y = 0;
y(0) = 3:
Por outro lado, uma solução de y 0 y = 0 que passe pelo ponto (1; 3) é tal que y(1) = 3, que
implica c = 3e 1 . Logo, a função y = 3et 1 é solução do PVI:
(0
y y = 0;
y(1) = 3: