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Introdução às Equações Diferenciais

Dalton Couto - Álgebra Linear e Equações Diferenciais Introdução às Equações Diferenciais
Equações Diferenciais

Antes de começar um estudo sério de equações diferenciais (ED’s), é importante ter alguma
ideia dos benefı́cios que isso pode lhe trazer. Veremos duas aplicações importantes.
Uma ED que descreve algum processo fı́sico é chamada, muitas vezes, de modelo matemático
do processo, e veremos alguns modelos durante o curso. Vale a pena observar que mesmo as
ED’s mais simples fornecem modelos úteis para processos fı́sicos importantes.

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Exemplo 1: Objeto em queda

Suponha que um objeto está caindo na atmosfera,


perto do nı́vel do mar. Como descrever o movimento
desse objeto, ou seja, “como eu posso obter uma
função que me diga onde o objeto está depois de um
certo perı́odo de tempo”?

Duas variáveis importantes nesse problema são o tempo t (medido em segundos) e a


velocidade do objeto v (medido em m/s), que depende de t. Vamos supor que a velocidade v
é positiva quando o sentido do movimento é para baixo, isto é, quando o objeto está caindo.
A lei fı́sica que governa o movimento de objetos é a segunda lei de Newton,
F = ma,
onde m é a massa do objeto, a é sua aceleração e F é a força resultante total agindo no objeto.
É claro que a e v estão relacionados, pois a = dv
dt
. Logo, voltando na equação acima, temos
dv
F =m . (1)
dt
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Exemplo 1: Objeto em queda
Agora, vamos analisar as forças que atuam no objeto:
A gravidade exerce uma força para baixo mg , en-
quanto a resistência do ar exerce uma força para
cima γv , onde γ é uma constante de resistência
do ar.

Logo, a força resultante total é dada pela seguinte equação, e juntando com a equação
anterior, obtemos:
dv
F = mg − γv . m = mg − γv
dt

Lembre-se que m, g e γ são constantes. Assim, para saber a velocidade e que o objeto está
caindo em cada tempo t, precisamos resolver essa equação.

O objetivo desse curso é estudar métodos para resolver equações como acima.

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Exemplo 2: Ratos e Corujas

Considere uma população de ratos que habitam


uma certa área rural. Vamos supor que, na
ausência de predadores, a população de ratos
cresce proporcionalmente à população atual.

Essa hipótese é uma lei fı́sica que não está muito bem estabelecida, mas é uma hipótese usual
em estudos de crescimento populacional. Denotando o tempo por t e a população de ratos por
p(t), então a hipótese sobre o crescimento populacional pode ser expressa por

dp
= rp, (1)
dt

onde r é o fator de proporcionalidade, chamado taxa de crescimento.

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Exemplo 2: Ratos e Corujas

Vamos aumentar o problema, tomando r = 0, 5 (medido em meses), supondo que corujas


moram na mesma região e que elas matam 15 ratos por dia. Assim, nossa equação (1) se torna

dp
= 0, 5p − 450.
dt

Observe que o termo correspondente à ação do predador é -450, em vez de -15, pois o tempo
está sendo medido em meses.
Resolvendo a equação acima, obtemos uma função p(t) que indica a população de ratos em
um determinado tempo t.

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EDs Ordinárias e Parciais

Uma equação diferencial onde aparecem apenas derivadas simples é chamada equação
diferencial ordinária (EDO). Quando aparecem apenas derivadas parciais, são chamadas
equações diferenciais parciais (EDPs).
Por exemplo,
dy d 2y dy dv v
= y + 3x; 2
+3 = 0; = 9, 8 −
dx dx dx dt 5
são exemplos de EDOs. Já

∂2u ∂2u ∂ 2 u ∂u
a2 = ; a2 =
∂x 2 ∂t 2 ∂x 2 ∂t
são exemplos de EDPs.
Nesse curso, vamos estudar métodos para resolver apenas EDOs.

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Ordem de uma EDO

A ordem de uma EDO é a ordem da derivada de maior ordem que aparece na equação.
Por exemplo,
dy
● = y + 3x é uma EDO de primeira ordem.
dx
● y ′′ − 3xy ′ = y é uma EDO de segunda ordem.
● (y ′ )3 − 3y = seny é uma EDO de primeira ordem.
● y ′′′ + 2e t y ′′ + yy ′ = t 4 é uma EDO de terceira ordem.
Em geral, para denotar uma EDO de ordem n, escrevemos

y (n) = f (t, y , y ′ , y ′′ , . . . , y (n−1) ).

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EDOs lineares e não lineares

Uma classificação crucial das EDOs diz respeito à linearidade. Uma EDO de ordem n é dita
linear se puder ser escrita da seguinte forma:

a0 (t)y (n) + a1 (t)y (n−1) + ⋅ ⋅ ⋅ + an−1 (t)y ′ + an (t)y = g (t).

Caso contrário, dizemos que a EDO é não linear.


Por exemplo,
● y ′ = y + 3x é uma EDO linear.
● y ′′ + 3y = 0 é uma EDO linear.
● (y ′ )3 − 3y = senx é uma EDO não linear, por conta do fator (y ′ )3 .
● y ′′′ + 2e t y ′′ + yy ′ = t 4 é uma EDO não linear, por conta do fator yy ′ .

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EDOs lineares e não lineares

d 4 y d 3 y d 2 y dy
● + 3 + 2 + + y = 1 é uma EDO linear.
dt 4 dt dt dt
1 1
● y ′ + = 3 é uma EDO não linear, por conta do fator .
y y
O estudo das equações lineares está muito mais desenvolvido. Já o estudo das não lineares é
mais complicado e menos completo. Neste curso, veremos métodos de resolução para ambos
os tipos.

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Soluções
Soluções de uma EDO
Dada uma EDO de ordem n
y (n) = f (t, y , y ′ , . . . , y (n−1) ),
uma função ϕ(t) é dita ser uma solução da EDO em um intervalo a < t < b se existem as
derivadas ϕ′ , ϕ′′ , . . . , ϕ(n) , e elas satisfazem a EDO

ϕ(n) (t) = f (t, ϕ(t), ϕ′ (t), . . . , ϕ(n−1) (t)).

Para verificar que uma função é solução de uma EDO dada, basta substituı́-la na equação.
Exemplo
a) Por exemplo, y1 (t) = cos t é uma solução da EDO y ′′ + y = 0, pois
y1′ (t) = −sent, y1′′ (t) = − cos t e

y1′′ + y1 = (− cos t) + (cos t) = 0.

De forma análoga, a função y2 (t) = sent também é uma solução para essa EDO.
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Exemplos
dp
b) Para a EDO = 0, 5p − 450, um exemplo de solução é a função p(t) = 900 − 50e t/2 , pois
dt
dp 1
= 0 − 50 e t/2 = −25e t/2 . Assim, do lado esquerdo da EDO temos −25e t/2 . Do lado direito:
dt 2

0.5(900 − 50e t/2 ) − 450 = 450 − 25e t/2 − 450 = −25e t/2 .

t
c) Para a EDO y ′′′′ + 4y ′′′ + 3y = t, a função y (t) = é uma solução, pois
3
1
y ′ (t) = , y ′′ (t) = 0 = y ′′′ (t) = y ′′′′ (t). Logo,
3
t
0 + 4.0 + 3 ( ) = t.
3

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Problemas de Valor Inicial

Muitas vezes, as EDOs são consequências de algum experimento da realidade, e nesses casos, é
natural conhecer alguma informação inicial do experimento. Assim, uma EDO pode vir
acompanhada de uma condição inicial y (t0 ) = y0 , e nesse caso, dizemos que temos um
problema de valor inicial (PVI).

Exemplo
A função y (t) = cos t é solução do PVI

⎪y ′′ + y = 0




⎪y (0) = 1

De fato, já vimos no exemplo anterior que y (t) = cos t é solução da EDO y ′′ + y = 0. Como
y (0) = cos(0) = 1, temos que a função dada também satisfaz a condição inicial, e portanto, é
uma solução do PVI.

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Duas questões importantes sobre EDOs:

1) Uma EDO qualquer sempre tem solução? A resposta é não. Existem EDOs que não
possuem soluções. E dada uma EDO, existem teoremas que garantem se haverá ou não
soluções, mas isso não será uma preocupação nessa disciplina.
2) Se uma EDO possui solução, ela é única? Em geral, uma EDO possui uma infinidade de
soluções, dependendo de algumas constantes, que podem ser arbitrárias. Uma forma de
especificar uma solução pode ser ao colocar uma condição inicial a ela.

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